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PRECIOSA

O filme Preciosa perpassa pelo Harlem, em Nova York, EUA, em 1987. Foi
dirigido por Lee Daniels e tem como seus autores Gabriela de Guzzi Bagnato e
Flávia Monize Barbosa. A história de uma menina de apenas 16 (dezesseis)
anos, por nome Clarice Preciosa Jones, é contada no filme. Preciosa é uma
menina pobre, gorda, negra, analfabeta e que tem dois filhos apesar da idade.

Logo no início do filme, alguém pode ter a impressão que esta jovem é mais
uma inconsequente e irresponsável que apesar dos conselhos de quem está
ao seu redor, acaba cometendo vários erros na vida, inclusive o de ter filhos
sem ter condições suficientes, no mais amplo aspecto, psicológico, moral,
financeiro etc., para cuidar. Porém, no desenrolar da película, observa-se que
esta menina é mais uma vítima da opressão, do preconceito, da negligência, da
resiliência, da violência, do total descaso e repulsa de uma sociedade hipócrita
que seleciona alguns, os adequados às suas exigências, para serem os
bonitos, dignos, honestos, e outros para serem escarnecidos, tratados com
indiferença, como lixo.

Isso é o que acontece com Preciosa. No seio familiar, ela é tida em conta só
para limpar a casa, fazer a comida e levá-la para a sua mãe. Como
recompensa, sua mãe lhe trata com total descaso com relação à sua saúde,
educação etc., enche-lhe de desaforos, menosprezos e coloca a culpa de todas
as suas desgraças sobre os ombros da jovem. Além disso, diz que a menina
não serve para nada, que é burra etc. e age com total negligência e
resiliência[1] com relação às violências perpetradas pelo pai. Este, por sua vez,
só apareceu em tela para proporcionar violências físicas, psicológicas e
sexuais à sua filha.

Além de morar em um lar (se é que pode ser chamado aquilo assim) totalmente
hostil, repleto de violências, mentiras, falsidades, enganações, estupidezes, o
meio social que ela vivia a tratava com inúmeros tipos de preconceitos e
discriminação. No bairro, ela era chamada de baleia orca, pesada, gorda, feia
etc.. Na escola, os seus colegas também não a respeitavam, tratava-lhe da
mesma forma que no seu bairro.

A sociedade que lhe rodeava, inclusive na escola que ela frequentava já há


alguns anos, os seus professores, colegas, diretores, não se importavam com o
porquê de Preciosa não conversar, não aprender, não se relacionar
normalmente em sua vida social. Porém, quando a direção da escola tomou
conhecimento de sua segunda gravidez, soube expulsá-la da instituição de
ensino. Nem mesmo assim procuraram averiguar como era a sua vida em
casa, como foi a sua gravidez, nada. Apenas apareceram, por intermédio da
diretora, em sua casa para avisá-la da sua transferência.

Só depois que Preciosa fala a verdade para assistente social, sua mãe briga
com ela por ter perdido o benefício, ela sai de casa, é que a jovem vê que o
amor existe, Pessoas que ela não conhecia a trata melhor que seus parentes,
vizinhos e colegas, do bairro e da escola anterior. Ao sair de casa, a jovem
procura pela professora Rain, da nova escola, a alternativa, um ensina um.
Através da professora e suas colegas de turma, da nova escola, ela encontra
carinho, afeto, respeito e proteção.

Nesta parte do filme, vislumbra-se o contraste entre uma sociedade tradicional,


que se intitula perfeita e coloca defeitos e discrimina as formas alternativas de
vida em sociedade, taxando-as de ruins, como o homossexualismo, por
exemplo, mas, que vive de aparências, cometendo os mais diversos tipos de
atrocidades, não amando o próximo, totalmente egoísta.

Apesar de o filme relatar a história de uma jovem pobre, negra, gorda,


analfabeta, mãe adolescente e moradora de um bairro pobre da cidade grande
dos Estados Unidos, esta é uma realidade bastante presente no Brasil.

Não muito difícil se tem notícias de descasos de pais, autoridades, escolas,


sociedade, com relação aos direitos das crianças e dos adolescentes. Apesar
da criminalização e penalização estipuladas no Código Penal brasileiro contra
tais atitudes, nos artigos 213, §1º, 217-A, bem como do Estatuto da Criança e
do Adolescente-ECA preceituar em seu artigo 5º que:

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de


qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.

Constantemente, jovens são vítimas de estupros e abusos, na maioria das


vezes por pessoas próximas, pais, mães, padrastos, madrastas, tios, tias e
amigos (as) deles ou da família.

Segundo o Jornal do Brasil, de 01/12/2013, 51,4% das vítimas de estupro no


Brasil são menores de até 14 anos, 51,1% tem como agressores pessoas
próximas da família e 29,7% são parentes.

Outro dado impressionante é o exposto pelo site ptnosenado.org.br, o qual


dispõe que:

De acordo com dados do Ministério da Justiça, a cada oito


minutos uma criança com idade entre dois anos e dez
anos é vítima de abuso sexual no Brasil. Os abusos são
praticados em geral por um membro da própria família: é
o pai biológico, é um tio, é um parente, um irmão e até
mesmo os avós. 

Mas não só, a desigualdade social no Brasil tem gerado uma população
imensa de crianças e de adolescentes sem nenhuma perspectiva de vida,
vivendo em situações precárias de educação e de saúde. Segundo pesquisa
do IBGE, mais de 32 milhões de pessoas entre 0 e 17 anos vivem na pobreza,
sem acesso à saúde e à educação. Apesar do acesso à educação e à saúde
ter avançado nos últimos anos, observa-se que são apenas quantitativos, não
vêm acompanhados de qualidade e que ainda falta muito.

Outrossim, é a postura da sociedade com relação a essas situações. Ela se


coloca, na maioria das vezes, de forma omissa, como a mãe da jovem no filme.
Em algumas ocasiões porque o Estado não proporciona a segurança devida
para que a pessoa se sinta à vontade para denunciar os tipos de violência
contra a criança e o adolescente. Outras, porque a própria sociedade possui a
cultura de se isentar dos problemas alheios, não se importar com os problemas
do próximo, em ajudá-lo, prefere agir de forma indiferente, mesmo que em
algumas ocasiões até se emocione com alguns casos passados pela mídia.

Por isso, assim como aconteceu com Preciosa, a vida da maioria desses
brasileiros acaba sem solução para os seus problemas, com vários insucessos.
Apesar de imaginarem e sonharem com uma vida de fama, de serem amados
por muitos, acabam terminando suas vidas sem nenhuma perspectiva.

O filme Preciosa acaba justamente assim, a jovem com os dois filhos nos
braços, contaminada pelo vírus HIV, não se sabe se os filhos também estavam
doentes, se ela vai poder se tratar, nada, nenhuma perspectiva, apenas
acabou, refletindo assim a mesma importância que se dá para a vida dessas
pessoas no dia-a-dia, na prática, apesar da teoria ser linda com o ECA, CF/88
e Cia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Penal. Vade Mecum Rideel. Ed. Rideel, 2010.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Vade Mecum Rideel. Ed.


Rideel, 2010.

Aluna: Louanda Julia Dantas Batista

Turma: direito/Noite

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