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Análise de “Ser poeta”, de Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior


Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
 
É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
 
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
 
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

1. As três primeiras estrofes do poema apresentam uma série de definições conotativas do que
significa “ser poeta”.
1.1. Associa cada definição (coluna A) à sua possível interpretação (coluna B):

COLUNA A COLUNA B
Ser poeta é a. Aspirar a ir mais além
b. Experimentar desejos incontáveis e
intensos.
1. “ser mais alto” (v. 1) c. Não se contentar com as satisfações
2. “ser maior/ Do que os homens”(vv.1,2) do homem comum.
3. “Morder como quem beija”(v. 2) d. Não ter nada, exceto a riqueza das
4. “ser mendigo e dar como quem seja/ experiências por que passou (a “dor”),
Rei do reino de Aquém e de Além dor” que se dá aos outros através da
(vv.3,4) poesia.
5. “ter de mil desejos o esplendor/ E não e. Pretender alcançar o infinito.
saber sequer que se deseja” (vv.5,6) f. Saber suavizar a dor e a brutalidade.
6. “ter cá dentro um astro que flameja” g. Saber transformar as vivências e os
(v.7) sentimentos (o “mundo”) em poesia.
7. “É ter garras e asas de condor”(v. 8) h. Ser semelhante a um condor, que tem
8. “É ter fome, é ter sede de infinito”(v.9) como características o voo mais alto e
9. “[ter] Por elmo as manhãs de oiro e de a solidão.
cetim” (v. 10) i. Ter uma vida interior intensa,
10. “condensar o mundo num só grito”(v. irradiando luz própria.
11) j. Viver numa batalha constante (a da
escrita), defendendo-se com uma
arma valiosa (como o “oiro”) e suave
(como o “cetim”) – a imaginação.

1.2. Identifica os recursos expressivos usados para dar corpo às definições.

2. Tal como nas definições dos dicionários, também as definições de ser poeta apresentam um valor
genérico.
2.1. Identifica a forma verbal que transmite esse valor.
2.2. Identifica, justificando, a única definição que adquire um tom particular (ou seja, em que o
sujeito poético mostra que a definição também se aplica a si).
3. Na última estrofe, o sujeito poético interpela o ser amado.
3.1. Transcreve desta estrofe todas as palavras que se referem:
a. ao sujeito poético; b. ao ser amado.
3.2. Explica, por palavras tuas, o sentido destes últimos versos, relacionando o “ser poeta” com
a capacidade de amar.

4. Analisa o poema quanto à sua estrutura formal.

5. Imagina que na tua escola se estão a preparar duas antologias de textos poéticos, subordinadas a
temas distintos:
A. O poder transfigurador da poesia; B. O poder transfigurador do amor.

5.1. Em qual das duas antologias incluirias o poema de Florbela Espanca? Justifica o teu ponto
de vista.

Proposta de correção (ficha e correção retiradas do manual “(Para)textos, 8º ano”, da Porto Editora,
pp.218-9)-com ligeiras adaptações.

1.1.
1.a; 2.c; 3.f; 4.d; 5.b; 6.i; 7.h; 8.e, 9.j; 10g.
1.2. Os recursos expressivos usados para corporizar as definições são os seguintes : a metáfora (“É ter
garras e asas de condor”); a anáfora (repetição da forma verbal “É” no início de versos); a comparação
(“Morder como quem beija”); a antítese (“”mendigo”/ “Rei”); a exclamação (“Morder como quem beija!”); as
reticências (“Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…”).
2.1. A forma verbal que transmite esse valor é “É” (nota: trata-se do presente com valor genérico).
2.2. A definição que denota um tom particular é “É ter cá dentro um astro que flameja” (o advérbio de
predicado “cá” remete diretamente para o sujeito poético- trata-se de um deítico pessoal).
3.1. a. “a mim”; b. “te”, “seres”.
3.2. Na última estrofe, o sujeito poético pretende revelar toda a intensidade de sentimentos que o
avassalam relativamente à pessoa amada e que o definem enquanto poeta. O ser amado funde-se no
sujeito poético, realçando-se, assim, a plenitude do sentir e do viver, que depois é transformada em
poesia.
4. o poema é um soneto, estando dividido em duas quadras e dois tercetos decassilábicos. O esquema
rimático é ABBA/ABBA/CDC/EDE. A rima é emparelhada e interpolada nas quadras e cruzada nos
tercetos. O último terceto funciona como chave de ouro.
5.1. Resposta pessoal.

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