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TAVARES, Juarez. CASARA, Rubens. Prova e Verdade.
TAVARES, Juarez. CASARA, Rubens. Prova e Verdade.
E
RUBENS CASARA
JUAREZ TAVARES
RUBENS CASARA
PROVA E
PROVA EVERDADE
VERDADE
2020
Copyright© Tirant lo Blanch
Editor Responsável: Aline Gostinski
Capa e Diagramação: Renata Milan
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/
ou editoriais.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art.184 e §§, Lei n° 10.695, de 01/07/2003), sujeitando-se
à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei n°9.610/98).
Todos os direitos desta edição reservados à Tirant Empório do Direito Editoral Ltda.
PROVA E VERDADE
2020
Aos amigos e mestres incomparáveis:
Eugenio Rául Zaffaroni e Geraldo Prado
NOTA EXPLICATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1. O CONCEITO DE PROVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3. OS MEIOS DE PROVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
6. MOMENTOS DA PROVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
7. A VALORAÇÃO DA PROVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
8. A PROVA ILÍCITA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
NOTA EXPLICATIVA
11 PINKER, Steven. Como a mente funciona, São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 231.
30 PROVA E VERDADE
14 SHAW, Julia. The Memory Illusion. Remembering, Forgetting and the Science of False
Memory, London: Random House Books, 2016, p. 199.
15 SHAW, Julia. Nota 14, p. 236.
32 PROVA E VERDADE
sistema da prova livre só terá lugar mais tarde. Isso pode ser deduzido
da análise do próprio Código de Hamurabi, que, embora confira à
prova testemunhal o efeito de afirmar o direito sobre determinada
relação, não a condiciona a que seja prestada por uma ou por várias
pessoas, mas, de certa forma, ainda considera que essa prova só pode
ser feita por testemunhas. Caso não se possa encontrar uma testemu-
nha do fato, a alegação do autor carece de validade e poderá levá-lo a
responder pela falsa denunciação.25 Há, pois, uma conjugação entre
um sistema livre e um sistema legal de provas. A contar do Código
de Hamurabi pode-se dizer que, com a instituição do Estado e com
a quebra dos vínculos de solidariedade primitiva, o sistema de prova
livre coexistiu, juridicamente, com o sistema de provas legais.
O sistema de provas legais aparece de modo relevante na Idade
Média com a Ley de Siete Partidas, redigida entre 1252 a 1284, e a
Constitutio Criminalis Carolina de 1532. Ambas apresentam uma
relação de como deveriam valer as provas. Iniciavam com a proibição
das provas testemunhais em relação aos menores de 20 anos nos casos
criminais e de 14 anos nas causas cíveis, aos familiares nas causas que
lhe interessassem, aos inimigos, aos vendedores no que toca à coisa
vendida, aos juízes em processos que deveriam julgar ou tivessem
julgado. Também se proibia a prova apenas por presunção, salvo no
adultério, bem como a prova por referência.
Basicamente, além das vedações, que constituíam uma nega-
ção da prova, podem ser enumeradas as seguintes espécies de prova
legal: a confissão, o testemunho de duas pessoas e os documentos.
Essas provas eram quase incontestáveis, mas as leis admitiam algu-
mas exceções. No que toca à confissão, na Ley de Siete Partidas, essa
poderia ser declarada inválida quando a declaração não fosse certa ou
contra natura. Para que a confissão adquirisse um valor inexpugnável
deveria vir acompanhada do juramento.
Em face das próprias exceções ao valor das provas legais, po-
25 § 11. Se o proprietário da coisa perdida não apresenta testemunhas que prestem depoimento
sobre tal objeto é um farsante e porque denunciou falsamente será punido com a morte.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 41
26 FENOLL, Jordi Nieva. La valoración de la prueba, Madrid, Barcelona, Buenos Aires, 2010,
p. 65.
42 PROVA E VERDADE
28 TARUFFO, Michele. Uma simples verdade. O juiz e a construção dos fatos. São Paulo:
Marcial Pons, 2012.
29 MAIER, Julio B. J. El proceso penal contemporáneo. Lima: Palestra Editores, 2008, p. 511.
6. MOMENTOS DA PROVA
procedimento discursivo, ainda que possa ser exercido com certa li-
berdade pelo julgador, não pode ser concluído de forma arbitrária,
sem estar relacionado ao que se demonstrou na fase cognitiva. A
avaliação da prova guarda, assim, uma correspondência, em ambas
as fases, com o próprio procedimento de interpretação das normas,
que fundamentam a decisão judicial. Assim, o procedimento dis-
cursivo deve estar ajustado à configuração típica do fato. Se o fato
disser respeito a um furto, por exemplo, a argumentação discursiva
não pode se orientar pelos elementos do estelionato, ou do uso de
documento falso.40
Quando se trata de procedimento de cognição entra em jogo
a oportunidade de escolha de um critério que possa aproximar as
alegações aos fatos. Nesse sentido, vários critérios foram propos-
tos, desde aqueles fundados empiricamente até os que se inferem
de proposições lógicas e valorativas. Os critérios empíricos são cri-
térios probabilísticos e estão associados, geralmente, à determinação
da suficiência ou insuficiência das afirmações; os critérios lógicos e
valorativos se referem mais à relevância da prova em face de sua re-
lação com as alegações. Os critérios da suficiência e insuficiência são
critérios de preponderância; os critérios de relevância são critérios de
admissão ou descarte da prova.
Demonstrando a diferenciação de ambos os enfoques, assim
diz PARDO, professor da Universidade do Alabama:
“Os dois princípios básicos do direito probatório moderno são: 1) que
a prova irrelevante deva ser excluída; 2) que a prova relevante deva ser
admitida, salvo se houver uma boa razão para excluí-la. Uma teoria
satisfatória sobre a prova deveria ser capaz de explicar se a prova é rele-
vante ou não, e por quê.”41
(...)
40 ANDROULAKIS, Nikolaos K. “Das Wesen des strafrechtlichen Beweises und seine Bes-
tandteile, unter Einschluss seiner revisionsrechtlichen Kontrolle – die Falzifizierung durch
den vernünftigen Zweifel”, in Festschrift für Roxin, Berlin; De Gruyter, 2011, p. 1359 e ss.
41 PARDO, Michael. Estándares de prueba y teoría de la prueba, in Estándares de prueba y
prueba científica, 2013, p. 101.
58 PROVA E VERDADE
46 BUSCH, Vannevar. Science, the endless frontier. Washington: National Science Founda-
tion, 1990, p. 18.
47 http://escoladeredes.net/group/openscience/page/formas-de-autonomia-da-ciencia.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 65
48 http://escoladeredes.net/group/openscience/page/formas-de-autonomia-da-ciencia.
66 PROVA E VERDADE
peitos, nada têm a ver com a investigação e, o que é pior, por não
saberem que estão sendo gravados, não têm instrumentos adequados
à defesa de seus direitos.50
Nos termos da legislação brasileira, admite-se, ademais, a apli-
cação analógica da legislação que regula a interceptação telefônica
e telemática (artigo 8-A, SS 5., da Lei nº 9.296/96). Assim, dian-
te da realidade normativa brasileira, descabe acolher a tese de que
a captação ambiental em local aberto ou público pode ser dar sem
autorização judicial, isso porque o caput do artigo 8º-A da Lei nº
9.296/96 tem for finalidade permitir o controle judicial não só dos
requisitos legais como também da existência e da legitimidade de
atos de investigação que coloquem em risco algum dos direitos e
garantias fundamentais.
Impõe-se, então, analisar a validade da prova que se origina
da interceptação ambiental. De início, pode-se afirmar que o arti-
go 5º, inciso XII, da Constituição da República, apenas admitiu o
afastamento dos direitos constitucionais à intimidade e à vida priva-
da nas hipóteses de comunicações telefônicas, mediante autorização
judicial, para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. Portanto, uma lei infraconstitucional não poderia criar outras
exceções ao sigilo das comunicações, em especial porque, quando
da promulgação da Constituição da República em 1988, já existiam
tecnologias de “interceptação ambiental”. Ao admitir a ampliação
das hipóteses de afastamento do sigilo das comunicações, o intérpre-
te afasta-se do princípio da legalidade estrita que regula a persecução
penal democrática.
50 BARONA VILAR, Silvia. Proceso penal des la historia, Valencia: Tirant lo Blanch, 2017,
p. 592.
10. O AGENTE INFILTRADO
caso concreto), sempre que um ato estatal for posto à sua apreciação.
Busca-se, dessa forma, atender à “essência e destinação do princípio
da proporcionalidade: preservar os direitos fundamentais”.55
A Corte Constitucional da Alemanha enfrentou a discussão
em torno das limitações à intervenção punitiva do Estado, delibe-
rando que o princípio da proporcionalidade é constituído por três
princípios parciais: o princípio da adequação ou idoneidade (Geeig-
netheit), o princípio da necessidade (Erforderlichkeit) e o princípio
da proporcionalidade em sentido estrito, também chamado de prin-
cípio da avaliação (Abwägungsgebote)56. Tratando-se de uma única
exigência (proporcionalidade), a aplicação, portanto, desses princí-
pios parciais (subprincípios) se dará de forma sucessiva e cumulativa.
No campo estritamente penal, porém, é preciso “observar que
o princípio da proporcionalidade não deve ser confundido com os
princípios da idoneidade e necessidade, como se costuma fazer, prin-
cipalmente no âmbito do direito constitucional. O princípio da ido-
neidade diz respeito aos efeitos de política criminal perseguidos com
a incriminação, enquanto o da necessidade se refere à intervenção
estatal no sentido de proteção da própria pessoa em seus direitos
fundamentais”.57
Portanto, os princípios da idoneidade e da necessidade fun-
cionam como uma etapa prévia ao exame da proporcionalidade.
Caso a proposta de incriminação não possa alcançar o fim per-
seguido, ou a intervenção estatal se mostre desnecessária porque
uma solução menos gravosa sobre a pessoa é capaz de solucionar
o conflito, carece de legitimidade a norma incriminadora. Nesse
aspecto, mesclam-se também a proporcionalidade e a intervenção
mínima, as quais operam empírica e juridicamente no sentido de
64 SOUZA NETTO, José Laurindo. Processo penal: sistemas e princípios; nota 163. Curitiba:
Juruá, 2006, p. 71.
13. A PROVA EMPRESTADA OU PRODUZIDA
FORA DO PROCESSO
66 PICARDI, Nicola. Il principio del contraddittorio. In Rivista di diritto processuale, Ano III.
Padova: Cedam, 1998, p. 674.
96 PROVA E VERDADE
67 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Introdução aos princípios gerais do direito pro-
cessual penal brasileiro. Revista de Estudos Criminais do ITEC n.º 1. Sapucaí do Sul: No-
tadez Informações, 2001, p. 43.
68 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Nota 67, p. 44.
69 GRECO, Leonardo. O princípio do contraditório. In Estudos de direito processual. Campos
dos Goytacazes: Editora Faculdade de Direito de Campos, 541-556.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 97
71 DIAS, Jorge de Figueiredo. Sobre os sujeitos processuais no novo código de processo pe-
nal, in O novo código de processo penal. Coimbra: Almedina, 1991, p. 29.
72 DIAS, Jorge de Figueiredo. Nota 71.
73 Cf. SANCHEZ SUÁREZ, Alberto. El debido proceso penal. Bogotá: Universidad Externa-
do de Colombia, 1998, pp.62-63.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 99
80 Nesse sentido: JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal – Estudos e pareceres. Rio
de Janeiro: Forense, 2001.
81 SILVA, Germano Marques da. Curso de processo penal, Volume II, Lisboa: Editorial Ver-
bo, 2000, p. 107.
82 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O ônus da prova na jurisdição de liberdades. In Estu-
dos sobre direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p. 174.
83 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Nota 82, p. 174.
16. OS SISTEMAS PROCESSUAIS E A QUESTÃO
PROBATÓRIA
te, até porque ele mesmo faz parte do grupo daquelas pessoas, que
integram os objetos analisados e que serão submetidas aos mesmos
juízos e valores.85 Da mesma forma, argumenta FRANKFURTER
que os juízos axiológicos são sempre fortemente influenciados pelas
relações pessoais e concepções humanas que lhe correspondem, de
tal modo a não se poder esperar dos valores sociais e históricos uma
extrema objetividade e imparcialidade.86
Dessa forma, os sistemas não são neutros. Se por um lado,
um sistema serve à simplificação dos fenômenos, à simplificação da
linguagem, por outro, revela as opções políticas adotadas no momen-
to de sua formação. Um sistema, para ser tido como democrático,
exige a existência de “regras do jogo” claras, equitativas e racionais.
O sistema processual penal, por sua vez, pode ser encarado como
um subsistema do sistema penal, que, por sua vez, deriva do sistema
constitucional. Ou, como leciona GERALDO PRADO, “o sistema
processual está contido no sistema judiciário, por sua vez espécie do siste-
ma constitucional, derivado do sistema político, implementando-se deste
modo um complexo de relações sistêmicas que metaforicamente pode ser
desenhado como de círculos concêntricos”.87
Em resumo, por sistema processual penal entende-se o con-
junto de normas (regras e princípios), agências estatais e práticas rela-
cionadas ao poder punitivo estatal, que forma um todo coerente (ou
propositalmente não incoerente), em razão de um princípio unifica-
dor, de um mandamento nuclear do qual emanam os efeitos sobre o
todo. Este princípio pode ser o inquisitivo ou o acusatório e, em con-
sequência, o sistema processual pode ser inquisitivo ou acusatório.
Com FERRAJOLI, atenta-se para o fato de que tanto as garantias
orgânicas (relacionadas com a definição do papel exercido pelos ato-
res processuais e, em especial, com a colocação institucional do juiz)
85 BALZER, Wolfgang. Die Wissenschaft und ihre Methoden, Freiburg-München: Karl Alber,
1997, p. 11 e ss.
86 FRANKFURTER, Harry. Über die Wahrheit, München: DTV, 2009, p. 28.
87 PRADO, Geraldo. Sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais
penais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 54.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 107
93 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, trad. Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1988,
p.36.
94 GUERRERO PALOMARES, Salvador. El princípio acusatório. Navarra: Editorial Aran-
zandi, 2005, p. 81.
112 PROVA E VERDADE
agrada “por ser uma disputa entre duas partes, uma espécie de due-
lo judiciário entre acusação e defesa, disciplinado por um terceiro,
o juiz ou o tribunal, que, ocupando uma situação de supremacia e
de independência relativamente ao acusador e ao acusado, não pode
promover o processo (ne procedat judex ex officio), nem condenar
para além da acusação (sententia debet esse conformis libello)”.95 Ex-
plica-se: a “situação de supremacia” (supra partes) retrata, na verdade,
o afastamento da Agência Judicial em relação aos interesses sustenta-
dos pelas partes.
A distribuição/separação das funções processuais (acusar, de-
fender e julgar) entre os sujeitos processuais (as três funções entre-
gues a três atores processuais distintos), o reconhecimento de di-
reitos fundamentais ao réu (frise-se que o réu, nesse modelo, passa
a ser percebido como sujeito processual e não como mero objeto
de investigação) e a construção dialética da solução do caso penal
pelas partes, em igualdade de condições (gestão da prova nas mãos
das partes; a prova dos fatos cabe às partes) são as principais carac-
terísticas desse modelo. A oralidade, identidade física do juiz e a
publicidade também costumam ser apontadas como características
típicas do sistema acusatório.
A ideia de “disputa entre as partes” acompanha o modelo acu-
satório desde a antiguidade: no Estado de Direito, as regras dessa dis-
puta parcial e da atuação do juiz do confronto (em suma: a disciplina
da relação processual, o estatuto das partes e o do juiz) encontram-se
previamente estabelecidas. Diz-se acusatório o sistema porque a acu-
sação é a pedra de toque dessa construção teórica. Assim, nemo in
iudicium tradetur sine accusatione.
95 SILVA, Germano Marques. Curso de processo penal, vol. I. Lisboa: Editorial Verbo, 2000,
p. 59.
17. O CONCEITO DE VERDADE
96 FREGE, Friedrich Ludwig Gottlob. Über Sinn und Bedeutung, in Zeitschrift für Philoso-
phie und philosophische Kritik, Tübingen, 1892, p. 100.
114 PROVA E VERDADE
101 Segue-se, em linhas gerais, a classificação proposta por Nicolás e Frápolli: NICOLÁS, Juan
Antonio; FRÁPOLLI, Maria José. Teorías de la verdad em el siglo XX. Madrid: Tecnos,
1997, p. 15.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 119
102 KIRKHAM, Richard L. Teorias da verdade, São Leopoldo: Unisinos, 2003, p. 39.
120 PROVA E VERDADE
106 TARSKI, Alfred. A concepção semântica da verdade, tradução de Cezar Augusto Mortari e
Luiz Henrique de Araújo Dutra, São Paulo, 2007, p. 163.
122 PROVA E VERDADE
110 AUSTIN John. How to do things with words, Boston, 1975, p. 145.
111 ARISTOTELES. Metaphysik, tradução para o alemão de Hermann Bonitz, Hamburg, 1999,
p. 284.
124 PROVA E VERDADE
116 AUSTIN, John L. Truth, in Philosophical Papers, Oxford, 1961, p. 90: “A statement is said
to be true when the historic state of affairs to which it is correlated by the demonstrative
conventions the one to which it is of a with which the sentence 'refers' type
used in making
it is correlated by the descriptive conventions.” (Diz-se que uma afirmação é verdadeira
quando o estado histórico a que está correlacionada pelas convenções demonstrativas é
aquele ao qual se refere a sentença do tipo "referencial", utilizada para a sua elaboração em
face das convenções descritivas).
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 127
117 RUSSELL, Bertrand. The problems of Philosophy, 1912, reeditado pelo Projeto Gutenberg,
2013, p. 184 e ss; p. 200: “It will be seen that minds do not create truth or falsehood. They
create beliefs, but when once the beliefs are created, the mind cannot make them true or fal-
se, except in the special case where they concern future things which are within the power
of the person believing, such as catching trains. What makes a belief true is a fact, and this
fact does not (except in exceptional cases) in any way involve the mind of the person who
has the belief.” (Deve-se ver que as mentes não criam verdade ou falsidade. Elas criam
crenças, mas quando as crenças são criadas, a mente não as pode tornar verdadeiras ou
falsas, exceto no caso especial em que digam respeito a coisas futuras que estão dentro do
poder da pessoa que acredita, tais como pegar trens. O que torna uma crença verdadeira é
um fato, e este fato não envolve (exceto em casos excepcionais) de forma alguma a mente
da pessoa que detém a crença).
128 PROVA E VERDADE
118 BLANSHARD, Brand. Reason and Analysis, London-N. York: Routledge, 1962, p. 189 e
ss.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 129
119 HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Phänomenologie des Geistes, Projeto Gutenberg, 2004,
p. 60.
120 HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Nota 119, p. 61.
130 PROVA E VERDADE
121 BRADLEY, Francis Herbert. Essays on Truth and Reality, 1914, Projeto Gutenberg, p. 470.
122 KIRKHAM, Richard L. Nota 102, p. 305.
123 SCHÖNDORF, Harald. Nota 99, p. 263.
124 SCHÖNDORF, Harald. Nota 99, p. 264.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 131
125 SCHLICK, Moritz. Tatsachen und Aussagen, Frankfurt am Main, 1986, p. 223 e ss.
132 PROVA E VERDADE
128 GLOY, Karen. Nota 126, p. 20; HABERMAS, Jürgen, Wahrheitstheorien, in Philosophis-
che Texte, tomo 2, Frankfurt am Main, 2009, p. 217.
129 HABERMAS, Jürgen. Nota 128, p. 288.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 135
lidade será o que se submeter a essas regras. Por regras triviais devem
ser compreendidas as que se dirigem diretamente à participação dos
sujeitos do ato: que todos os autores dos enunciados ou das opiniões
tenham as mesmas chances de exercer participação no discurso e
também chances iguais de formular críticas a esse discurso. Por regras
não triviais devem ser tidas as que se referem ao poder de expressão:
que todos os falantes devam ter chances iguais para exprimir suas
atitudes, sentimentos e intenções e, finalmente, que só possam ser
admitidos ao discurso aqueles que tenham as mesmas chances como
atores para dar ordens e contestar, permitir e proibir.
Essas regras servem de elementos para legitimar o ato de todos
os que emitiram suas opiniões, pareceres ou decisões. Um perito que
tenha que obedecer às ordens do juiz não poderá emitir um laudo
legítimo, porque violada a regra de livre manifestação crítica. Um
laudo elaborado com a vedação de seu controle pelas partes ou de
participação de assistentes técnicos não será legítimo porque violada
a regra trivial da liberdade de participação e de crítica ao próprio
discurso nele contido.
Uma vez legitimado o discurso, cumpre estabelecer um critério
que possa orientar a elaboração de seu conteúdo, ou seja, o critério
que possa indicar, por exemplo, que o enunciado de que X matou
Y é verdadeiro porque corresponde aos fatos. A escolha desse critério
sempre foi uma pedra de toque da ciência, porque nenhum critério
é totalmente capaz de afirmar, de modo absoluto, a verdade de um
enunciado. A afirmação de verdade será sempre relativa,137 mas, como
dizia ARISTÓTELES, é necessário determiná-la. Isso como condição
da própria existência social, que deve se pautar por atos ilocucionários
legítimos, e da responsabilidade individual, que dela não prescinde.
Nesse sentido, coordena RUSSELL a busca da verdade em re-
lação a duas séries de ocorrência: de fatos simples e de fatos comple-
137 RUSSELL, Bertrand. Problems of Philosophy, p. 239: “all our knowledge of truths is in-
fected with some degree of doubt, and a theory which ignored this fact would be plainly
wrong.”
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 145
parte deve ser dada vista à parte contrária (CPC, art. 437, § 1º). Isso
implica que a produção da prova da verdade deve ser aberta a todos
os interessados. Uma prova produzida sem o conhecimento da parte
contrária será ilegítima por violar a regra trivial de que a todos deve
ser assegurada a participação no discurso, sem qualquer forma de
induzimento ou de obtenção fraudulenta do consenso. Em segundo
lugar, como consequência dessa forma de publicidade, tem-se que
admitir a contestação à prova (contraditório). É condição essencial
da pretensão de validade que todos os participantes possam criticar
o discurso e não apenas tomar dele conhecimento. O contraditório,
por isso mesmo, constitui um princípio fundamental do processo
democrático (CF, art. 5º, LV; CPP, art. 155). Em terceiro lugar, a
prova deve ser adequada e idônea ao que se pretende provar. Nos
crimes que deixam vestígio, o Código de Processo Penal exige a reali-
zação de perícia, não a suprindo a confissão do acusado e só em casos
excepcionais admite sua substituição por outro meio, como a pro-
va testemunhal (CPP, art. 158, 67). Nesse ponto, será importante a
análise da coerência e consistência dos depoimentos. Ademais, se um
fato só puder ser provado com determinado meio, qualquer outro
será ilegítimo para fazê-lo. Do mesmo modo, se o fato puder ser pro-
vado, de igual modo, por vários meios, todos serão idôneos. A análise
da idoneidade da prova, por sua vez, não pode ficar restrita aos seus
componentes empíricos ou funcionais. Deverá submeter-se também
aos preceitos globais da ordem jurídica. Embora idônea, uma prova
só deve ser admitida quando, em face de outras de mesma categoria,
implicar menor intervenção no círculo jurídico da pessoa que irá
recepcioná-la. Assim, será ilegítima a prova que determine compul-
soriamente a extração de sangue do acusado para a comprovação de
embriaguez ao volante. Finalmente, a prova não pode ser obtida por
meios ilícitos (CF, art. 5º, LVI; CPP, art. 157).
Uma vez atendidas essas exigências relacionadas à pretensão
de validade, a prova da verdade será admitida no procedimento
investigatório.
21. NEOLIBERALISMO E VERDADE
141 Não existe, em concreto, um exemplo histórico “puro” de Estado Democrático de Direito.
Trata-se de um modelo ideal que se caracteriza pela justificação do poder a partir do respei-
to a limites. No Brasil, o Estado Democrático de Direito sempre foi precário, com os direi-
tos e garantias fundamentais respeitados de forma seletiva, mas até pouco tempo os agentes
estatais ainda tentavam justificar suas atuações a partir do respeito aos limites democráticos.
Hoje, naturalizou-se a violação dos limites éticos e legais, como se observa, por exemplo,
das recentes decisões do Supremo Tribunal Federal que relativizaram o princípio da presun-
ção de inocência e os direitos sociais titularizados pelos trabalhadores e respeitados desde a
criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
142 Democracia em sentido material é, para além da participação popular na tomada das deci-
sões políticas, a concretização dos direitos e garantias fundamentais.
150 PROVA E VERDADE
144 A essa figura, que funde as funções de acusar e julgar pode-se chamar “inquisidor”.
145 Sobre o tema: GARAPON, Antoine/ SERVAN-SCHREIBER, Pierre. Deals de justice. Pa-
ris: Puf, 2020.
152 PROVA E VERDADE
146 Nesse sentido: FLEIG, Mario. Apresentação, in LEBRUN, Jean-Pierre. O mal-estar na sub-
jetivação. Porto Alegre: CMC, 2010, p. 6.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 153
154 Por todos: LEBRUN, Jean-Pierre. Um mundo sem limites, Rio de Janeiro: Companhia de
Freud, 1995.
JUAREZ TAVARES & RUBENS CASARA 157
155 Nesse sentido: MELMAN, Charles; LEBRUN, Jean-Pierre. O homem sem gravidade: go-
zar a qualquer preço, Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004.
22. CONCLUSÕES
V
Valoração da prova 49, 51, 53, 56, 60,
161
VANNEVAR BUSH 64
VEGAS TORRES 102
Voz das ruas 46
W
WEICHBRODT 54, 173
Z
ZAFFARONI 89, 173
BIBLIOGRAFIA
ANDROULAKIS, Nikolaos K. “Das Wesen des strafrechtlichen Beweises und seine Bes-
tandteile, unter Einschluss seiner revisionsrechtlichen Kontrolle – die Falzifizierung durch den
vernünftigen Zweifel”, in Festschrift für Roxin, Berlin; De Gruyter, 2011.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
ARISTOTELES. Metaphysik, tradução para o alemão de Hermann Bonitz, Hamburg: Felix
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