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\ \ UM GUIA BÁSICO E PRÁTICO

P A R A I N I C I A N T E S N A P S I C O T E R A P I A

A N A L Í T I C A F U N C I O N A L ( F A P )

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I N S T I T U T O C O N T I N U U M
FAP
Psicoterapia Analítica Funcional. Quando a
relação terapêutica faz TODA a diferença.
Robert J. Kohlenberg, Mavis Tsai e J. Kanter começam o primeiro capítulo do livro
de 2008 sobre FAP- Psicoterapia Analítica Funcional, dizendo que ela é uma terapia
ideográfica e que cada pessoa a aprende, pratica, desenvolve, pesquisa,
experimenta ou mesmo a ensina de forma diferente. Contudo, todas as visões e
experiências possíveis tem em comum a forte ênfase na analise da relação
terapêutica.

Na essência da Functional Analytical Psichotherapy (FAP) está a promoção de


mudanças comportamentais de interesse do cliente diretamente, no contexto da
relação que ele desenvolve com o terapeuta. Tais mudanças se dão com o terapeuta
respondendo, de maneira contingente e apropriada, aos comportamentos
clinicamente relevantes apresentados pelo cliente em sessão. Ao agir dessa
maneira, o terapeuta pretende afetar respostas e comportamentos que fazem parte
de uma classe funcional de interesse, cujos exemplares ocorram em relações que o
cliente estabelece tanto dentro como fora do consultório. E, mais do que esperar
pela ocorrência em sessão ou a que generalização para o dia a dia ocorra, o
terapeuta procura criar condições para que isso se dê, de fato!

Sabe-se que muito do sofrimento humano “psicológico” decorre das relações


interpessoais e dela faz parte. A FAP tenta aproveitar todo o potencial de
similaridade que existe entre a relação “terapeuta-cliente” e as outras relações
sociais, através da aplicação do conhecimento sobre a Análise do Comportamento,
para tornar a relação terapêutica uma instancia de intervenção direta em tempo real.
A Psicoterapia Analítica Funcional é, portanto, uma terapia contextual e pragmática
(falaremos mais sobre isso em outro momento) que propõe intervenções
terapêuticas que tem se mostrado úteis e relevantes para diminuir o sofrimento
humano e facilitar aos indivíduos terem vidas plenas de significado, produtivas e
satisfatórias. Tais resultados têm se tornado cada vez mais claramente observáveis,
uma vez que a FAP tem se mostrado uma prática susceptível à pesquisa cientifica.
De fato, hoje, já existe um conjunto de dados significativos tanto sobre os
mecanismos que a compõe, como sobre os seus resultados. Exemplos podem ser
encontrados tanto em estudos realizados no exterior como no Brasil, que tem se
destacado na produção de conhecimento na área!

Bem, já foi dito aqui, que a Psicoterapia Analítica Funcional está embasada em
princípios e processos da Análise do Comportamento que são aplicados ao contexto
da relação terapêutica, transformando-a em um instrumento de mudança
comportamental direta, então vejamos como funciona uma sessão de FAP.
Em sessão, o terapeuta atua procurando evocar, eliciar e consequenciar
comportamentos clinicamente relevantes do cliente (Comportamentos Clinicamente
Relevantes ou CCRs ou CRBs), que são previamente definidos para cada caso.

Comportamentos Clinicamente Relevantes (CCRs)


ou Clinical Relevant Behaviors CRBs
A proposição da FAP é de que exemplares de padrões interpessoais de queixa dos
clientes que ocorrem fora do consultório poderão ocorrer na interação com o
terapeuta, e a esses dá-se o nome CCR1 ou CRB1 (quando ocorrem junto ao
terapeuta). Já, aos que fazem parte dos que representam melhoras ou avanços
comportamentais, dá-se o nome de Comportamentos Clinicamente Relevantes
(CRB2 ou CCR2).

Evidentemente, o terapeuta busca estabelecer contingencias para que esses CRB2s


possam ocorrer, serem modelados e fortalecidos. Sabe-se que, quanto mais próxima
em tempo e espaço for a resposta do terapeuta a eles, maior a probabilidade de
afeta-los. Há ainda um terceiro grupo de comportamentos clinicamente relevantes,
que são chamados de CRB3 (ou CCR3) e que são os comportamentos de análise do
cliente do seu próprio comportamento em sessão e bem como das relações que
existem entre os que ocorrem em sessão e os que ocorrem na vida diária. Acredita-
se que eles favoreçam a generalização comportamental e bem como ajudem os
clientes a enxergarem o mundo de forma “funcional”.
FAP implica em Forte Envolvimento do Terapeuta
com o Cliente

O conceito de aliança terapêutica pode ser traçado desde os primeiros escritos de


Freud (1912) e Rogers (1957). Nas últimas décadas, uma série de pesquisas tem se
aprofundado na demonstração da força da relação terapêutica, mesmo a despeito da
abordagem de tratamento utilizada. Há quem diga, inclusive, que a qualidade da
relação terapêutica às vezes é mais importante que o tipo de abordagem utilizada
para o tratamento.

E a FAP vai mais longe. Além de considerar todos os aspectos curativos


inespecíficos da relação terapeuta-cliente, ela identifica e descreve respostas do
cliente e do terapeuta que tornam a intervenção clinica altamente individualizada,
relacionando os aspectos específicos que cercam o problema do cliente e levando o
terapeuta a auto-observação dos efeitos que suas próprias respostas produzem
sobre os comportamentos relevantes do cliente. Com base nessas observações, o
terapeuta fica atento ao seu comportamento e ao do cliente durante todo o processo,
cuidando para que suas intervenções ajudem a evocar e fortalecer comportamentos
de melhora. Assim, o terapeuta estará sempre se questionando, por exemplo, sobre
como responder a um comportamento do cliente. Ao invés de simplesmente tentar
estabelecer uma “aliança com o paciente”, o terapeuta FAP se preocupa com as
funções que seus comportamentos terão na interação com aquele.

Mas a FAP não para por aí! Para que de fato as mudanças relevantes aconteçam, o
relacionamento precisa ser verdadeiro e emocionalmente envolvente, de maneira
terapêutica, com um terapeuta disposto a estar vulnerável junto ao cliente e que
aceite expressar sentimentos e pensamentos reais. Pode parecer confuso ou
aterrorizante quando descrito dessa forma, em uma primeira leitura, é verdade.
Contudo, com um bom preparo teórico e prático, pode se tornar enriquecedor para o
terapeuta também!
As 5 Regras da FAP
A FAP pode ser uma estratégia de intervenção usada de maneira combinada com
outras estratégias ou um processo psicoterápico total único. Se essa for a opção do
psicólogo, durante uma sessão, há algumas regras que devem ser seguidas pelo
terapeuta.

A primeira delas já foi debatida nesse texto e envolve observar a ocorrência de


CRBs (CCRs). As outras podem ser encontradas na lista abaixo:

O que requer Dica

Regra 1 - Observar Consciência e Atenção Utilize as suas próprias como


ocorrência de CRBs plena termômetro. O que o paciente me
está fazendo sentir?

Regra 2 - Evocar os CRBs Coragem Use metáforas, narrativas e


exercícios diversos.

Regra 3 - Responder aos Amor e Consciência O reforçamento leva à mudança,


CRBs, tentando reforçar mas esforços deliberados para
os CRBs que indicam reforçar correm o risco de produzir
melhora (CRB2 e CRB3) reforçamento artificial.

Regra 4 - Observar se o Consciência e Atenção Explore questões como “o que eu


seu próprio plena evito abordar com esse paciente”
comportamento ou “que comportamentos eu devo
“reforça”os CRBs desenvolver para ajudar esse
cliente”.

Regra 5 - Interpretar Ser um bom behaviorista Junto com o cliente, faça paralelos
(descrever relações entre o que acontece na sessão e
funcionais) os CRBs do o mundo lá fora.
cliente para o cliente e
favorecer a generalização
Para saber mais:
Darrow, S. M., Callaghan, G. M., Bonow, J. T., & Follette, W. C. (2014). The Functional Idiographic Assessment Template-
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Tsai, M., Kohlenberg, R. J., Kanter, J. W., Kohlenberg, B., Follete, W. C., & Callaghan, G. M. (2011). Um guia para a
Psicoterapia Analítica Functional (FAP): consciência, coragem, amor e behaviorismo (F. Conte, & M. Z. Brandão, trads.). Santo
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Comportamento e Cognição (Vol. 19, pp. 151-159). Santo André: ESETec.

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INSTITUTO CONTINUUM
www.institutocontinuum.com.br
(43) 3323-5500

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