ECG Leia Um Trecho Manual de ECG

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ECG Completo.

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© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qual- quer parte deste
livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou
outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas,
sem permissão expressa da Editora.

Título | Manual de ECG


Editor | Diana Cruz
Projeto gráfico e Diagramação | Ativa Comunicação & Design
Capa | Fabrício Sawczen
Edição de Texto | Thaís Alvarenga
Conselho Editorial | Caio Vinicius Menezes Nunes
Paulo Costa Lima
Sandra de Quadros Uzêda
Sheila de Quadros Uzêda
Silvio José Albergaria da Silva
Ilustrador | Flávio Conceição

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Alencar Neto, José Nunes de


A368m Manual de ECG / José Nunes de
Alencar Neto, autoria e coordenação. –
Salvador : SANAR, 2019.
718 p. : il. ; 17x24 cm.

ISBN 978-85-5462-166-7

1. Eletrocardiograma - Manuais,
guias, etc. 2. Cardiologia. I. Título.
CDU: 616.12-073.97(035)

Elaboração: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513

Editora Sanar Ltda.


Rua Alceu Amoroso Lima, 172
Caminho das Árvores,
Edf. Salvador Office & Pool, 3º andar.
CEP: 41820-770, Salvador - BA.
Telefone: 71.3052-4831
www.editorasanar.com.br
atendimento@editorasanar.com.br

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CAPÍTULO 1

Como ler este livro?

Este livro foi pensado para ser, ao mesmo tempo, um guia para aqueles com
pouca experiência em eletrocardiograma e um manual de atualização e con-
sulta para aqueles que já possuem experiência e trabalham com o método.
São 1328 referências bibliográficas citadas, fato que evidencia a vasta pesquisa
realizada pelo editor e pelos colaboradores durante a produção deste livro.
O livro possui quatro seções:
(a) “Básica”, dos capítulos 1 ao 13 onde estão os fundamentos do método;
(b) “Arritmias”, dos capítulos 14 a 25;
(c) “Avançada”, dos capítulos 24 a 31, onde trazemos capítulos de interesse
para cardiologistas experientes;
(d) “Resumo: ECG em uma página”, onde o leitor pode encontrar informa-
ções valiosas sobre os principais capítulos do livro em uma página apenas.
Já que há capítulos básicos e avançados, como o leitor deve ler este livro?
Nos próximos parágrafos você pode encontrar uma sugestão, de acordo com
seu grau de formação ou conhecimento no assunto.

Acadêmicos de Medicina

Para acadêmicos, é interessante conhecer o básico sobre o método. Sendo


assim, a sugestão é ler em sequência os capítulos 1 a 10, 12 e 13. Na seção
“Arritmias”, a leitura dos capítulos 15, 20 e 23 é crucial. Como curiosidade, os
capítulos 24 e 25 podem ser lidos. Na seção “Avançada”, a leitura de qualquer
capítulo fica como curiosidade. A seção “Resumo: ECG em uma página” foi fei-
ta especialmente para vocês, na tentativa de facilitar seu acesso ao conteúdo
para eventuais revisões.

Enfermeiros e outros profissionais de saúde

Em muitos centros, esses profissionais de saúde são os responsáveis por


realizar o método, portanto, a técnica deve ser bem conhecida. Os capítulos
básicos 1 a 5 são indicados. O capítulo 12 é extremamente importante devi-
do à importância dos diagnósticos lá discutidos (isquemia e infarto agudo do
miocárdio). Na seção “Arritmias”, os capítulos 15, 20 e 23 são indicados.

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INTRODUÇÃO AO ECG

Médicos não cardiologistas

Para estes, a identificação rápida de patologias com risco de vida é funda-


mental. Todos os capítulos são indicados, mas aqueles com maior importância
prática são o 12 e o 13 na seção “Básica”, o 15, 20 e 23 na seção “Arritmias” e
talvez o 28 na seção “Avançada”. A seção “Resumo: ECG em uma página” pode
servir como material de consulta.

 esidentes de Cardiologia e Cardiologistas com moderada experiência no


R
método

Médicos residentes de Cardiologia devem procurar aprender o método em


sua totalidade e, ao mesmo tempo, buscar o material mais atualizado possível.
A leitura de todos os capítulos do módulo “Básico” é recomendada. Na seção
“Arritmias”, os capítulos 19 e 21 são mais complexos e possuem menor aplica-
bilidade prática na rotina do cardiologista geral, podendo ser lidos a título de
curiosidade. Na seção “Avançada”, a leitura dos capítulos 29 e 30 também fica
como curiosidade. A seção “Resumo: ECG em uma página” pode servir como
material de consulta.

 ardiologistas com muita experiência no método e Arritmologistas/Ele-


C
trofisiologistas

Para estes, o importante deste livro é a atualização e consulta rápida. Na


parte “Básica”, trouxemos muitas novidades nos capítulos 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12.
Toda a seção “Arritmias” está completa o bastante para servir de atualização e
consulta para estes profissionais. A seção “Avançada” foi feita especialmente
para vocês, trazendo um compêndio de interpretação de exames em ergome-
tria, marca-passo, pediatria, uma revisão sobre ECG de alta resolução e varia-
bilidade de frequência cardíaca e vetorcardiografia e um capítulo sobre o que
esperar das próximas edições dos livros de eletrocardiograma.

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INTRODUÇÃO AO ECG

SUMÁRIO

SEÇÃO 1. BASES DO ECG


1. Introdução ao ECG ......................................................................................................... 17
2. Anatomia e eletrofisiologia cardíacas ...................................................................... 31
3. O eletrocardiógrafo e os sistemas de derivações ................................................. 47
4. O ECG Normal ................................................................................................................. 65
5. Artefatos ........................................................................................................................... 89
6. Anormalidades atriais ................................................................................................ 107
7. Sobrecargas ventriculares ......................................................................................... 123
8. Bloqueio de ramo direito truncal, periférico e zonal ......................................... 143
9. Bloqueio de ramo esquerdo ..................................................................................... 161
10. Bloqueios divisionais ................................................................................................ 175
11. Alterações da Repolarização Ventricular ............................................................ 199
12. O ECG nas síndromes coronarianas agudas ...................................................... 215
13. ECG em Clínica Médica e situações diversas ..................................................... 287

SEÇÃO 2. ARRITMIAS
14. Extrassístoles atriais, juncionais e ventriculares ........................................ 335
15. Introdução às taquicardias supraventriculares ............................................... 345
16. Taquicardias atriais focais e taquicardia atrial multifocal ............................. 365
17. Fibrilação atrial e flutter atrial típico e atípico ................................................... 387
18. Taquicardias relacionadas ao nó atrioventricular ........................................... 409
19. Vias acessórias típicas, atípicas e Taquicardia por reentrada atrioven-
tricular ........................................................................................................................ 423
20. Taquicardia ventricular: diagnóstico diferencial com as taquicardias supra-
ventriculares .............................................................................................................. 451
21. Arritmias ventriculares ............................................................................................ 473
22. Arritmias passivas I: Doenças do nó sinusal ...................................................... 503
23. Arritmias passivas II: Bloqueios atrioventriculares .......................................... 517
24. Canalopatias ............................................................................................................... 531
25. Cardiomiopatias arritmogênicas ......................................................................... 567

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SEÇÃO 3. AVANÇADO
26. ECG em Ergometria .................................................................................................. 605
27. ECG em Marca-passo ................................................................................................ 623
28. ECG em pediatria e cardiopatias congênitas .................................................... 655
29. Eletrocardiograma de alta resolução e variabilidade de frequência cardíaca ... 675
30. Vetorcardiograma: passado, presente e futuro ................................................ 691
31. O futuro do Eletrocardiograma ............................................................................. 699

SEÇÃO 4. ECG EM UMA PÁGINA


1. O ECG normal ................................................................................................................ 709
2. Artefatos ......................................................................................................................... 710
3. Bloqueios ....................................................................................................................... 711
4. Sobrecargas ................................................................................................................... 712
5. Síndrome coronariana ............................................................................................... 713
6. História natural da SCA .............................................................................................. 714
7. Bradi-arritmias .............................................................................................................. 715
8. Taqui-arritmias ............................................................................................................. 716
9. Clínica Médica .............................................................................................................. 717
10. Cardiomiopatias/Canalopatias ............................................................................. 718

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Introdução ao ECG
CAPÍTULO

José Nunes de Alencar Neto 1


INTRODUÇÃO
Figura 1 - Várias câmeras capturando a
beleza da “Dama del paraguas”, um ponto
O eletrocardiograma (ECG) é um
turístico de Barcelona.
exame simples e barato, obrigatório
em emergências. Ele registra traça-
dos que, ao serem analisados, possi-
bilitam identificar e intervir precoce-
mente em patologias potencialmente
fatais como o infarto agudo do mio-
cárdio e arritmias.
O funcionamento do aparelho é
simples, vamos ver. O profissional res-
ponsável posiciona eletrodos que irão
registrar as atividades elétricas (di-
ferenças de potencial) a partir de um
“ponto de vista” específico, portanto,
saibam desde já que é importante
posicionar corretamente os eletrodos
e iremos falar disso logo mais. O ECG Para a melhor visualização de todos os pontos de vista desse monumento,
funciona como se “câmeras” fossem várias câmeras são usadas. Desenho de Pilarín Bayés de Luna, irmã do pro-
posicionadas em volta do coração em fessor Bayés de Luna.
locais pré-determinados e estas regis-
tram os impulsos elétricos que se apro- Se esse potencial está ocorrendo no sen-
ximam ou se afastam de cada eletrodo tido da câmera, então a seta do vetor
(Figura 1). apontará para ela. Simples assim.
A atividade elétrica cardíaca gera Essas “câmeras”, de que falo, pos-
uma diferença de potencial (voltagem) suem um nome especial no ECG: de-
que é registrada pelo aparelho de ECG. rivações. Elas são compostas sempre
O pré-requisito para que haja uma dife- por dois polos (bipolares, portanto). As
rença de potencial é a existência de dois derivações dos membros, que chama-
pontos com potenciais diferentes. Uma mos de periféricas, registram a dife-
derivação, portanto, é uma câmera que rença de potencial dos próprios polos
registra a atividade em dois pontos. entre si; e as derivações do precórdio,

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CAPÍTULO 1

chamadas de derivações horizontais, o bem-estar do animal, saiba que a Ro-


registram a diferença de potencial do yal Society of London também ficou, e
eletrodo no tórax até um ponto central o que se sabe da época é que nenhum
virtual criado matematicamente pelas maltrato foi registrado no simpático
quatro derivações periféricas. Como animal (5) (Figura 2).
no caso das derivações dos membros,
um vetor parte de um polo para outro, Figura 2 - Uma demonstração da captura de
e no caso das derivações precordiais, um eletrocardiograma do bulldog Jimmie,
o vetor parte deste polo virtual para animal de estimação de Augustus Waller.

o eletrodo no tórax, os livros didáticos


erroneamente chamam os eletrodos
periféricos como “bipolares”, e os pre-
cordiais como “unipolares” (1).

HISTÓRICO

No fim do século XIX, era senso


comum entre cientistas o fato de que
nervos e músculos podiam ser estimu-
lados artificialmente. Fisiologistas se
deram ao trabalho de procurar ativi-
dade elétrica em animais, até que em
1856, Koelliker e Muller conseguiram
Essa demonstração causou certo estranhamento no público presente,
demonstrar biopotencial elétrico no
causando debate se o Ato de Crueldade aos Animais fora contravertido.
coração de um sapo. E foram além, no
A resposta do secretário de estado foi: “Mr. Gladstone, eu entendo que o
mesmo experimento, ao posicionar a
cachorro ficou em pé por algum tempo em água com sal. Se meu honra-
pata de um sapo na mesma solução do amigo já tivesse remado no mar, saberia a sensação” (5).
em que estava contido o coração, per-
ceberam que a atividade elétrica que
contraía a pata precedia a sístole car- Nos seus experimentos, Waller
díaca – a descoberta de que a ativida- usava uma cinta no tórax conten-
de elétrica precedia a sístole e poderia do dois eletrodos: o primeiro na
ser a razão pela qual os corações ba- parte frontal do tórax, conectado
tem (2,3). a uma coluna de mercúrio de um
Esses avanços levaram ao primei- eletrômetro capilar; e o segundo
ro registro de um eletrocardiograma no dorso conectado a ácido sulfúri-
humano, em 1887, por Waller (4), que co (Figura 3). A coluna de mercúrio
fez também vários experimentos em se movia para cima e para baixo de
seu cachorro de estimação, o bulldog acordo a atividade elétrica e o que
Jimmie. Se você está preocupado com movia a placa onde se desenhava

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INTRODUÇÃO AO ECG

Figura 3 - Traçado do primeiro eletrocardiograma humano realizado em Waller.

A marcação “t” é a representação de um segundo, a marcação “h” é a movimentação da parede do tórax, e a representação “e” representa o eletro-
cardiograma através da movimentação da coluna de mercúrio no eletrômetro (4).

essa atividade para que um registro de – 25 milímetros por segundo e


temporal fosse adquirido era um um fotoquimiógrafo projetava uma
trem de brinquedo. linha vertical mais grossa após 4 li-
É lamentável que o papel de Waller nhas mais finas. O galvanômetro se
seja negligenciado na história da ele- moveria 1mm caso uma diferença de
trocardiografia, mas o próprio parece potencial de 0,1mV fosse registrada.
ter subestimado seus achados que, Também nesse artigo foram alcunha-
sim, eram de má qualidade (mas eram das as deflexões do eletrocardiogra-
os primeiros!) e inadequados para pro- ma: PQRST (6,7). Nesse momento, o
pósitos clínicos e chegou a afirmar que leitor já percebe que Einthoven não
não imaginava que a eletrocardiogra- apenas criou o primeiro eletrocardió-
fia encontraria papel extenso em hos- grafo passível de utilização na práti-
pitais. ca clínica, como definiu seus funda-
O médico holandês Willem Ein- mentos, tudo em duas publicações
thoven, insatisfeito com o eletrôme- – isso lhe rendeu o prêmio Nobel e
tro capilar usado nos experimentos 40 mil dólares em prêmio em 1924
de Waller, desenvolveu em 1901 um (8). As letras escolhidas (PQRST),
novo galvanômetro de corda, supe- aliás, são fruto de discussão até hoje:
rior ao capilar usado até então com uns afirmam que Einthoven escolheu
sensibilidade e metodologia aplicá- letras no meio do alfabeto para dei-
veis em Medicina. Ele desenvolveu xar espaço para outras deflexões que
um método em que a placa fotográ- poderiam ser (e foram) descobertas;
fica onde seria registrada caía numa outros – e esta é também a opinião
frequência constante pela gravida- do autor – afirmam que teve influên-

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CAPÍTULO 1

cia dos trabalhos geométricos e médi- esquerda (13). E a lei de Einthoven


cos (de fisiologia ótica) de Descartes postula que D1 + D3 = D2, de acordo
(9–11). com a lei de Kirchoff (1).
Em 1908, em um extenso artigo,
Einthoven descreve seus aprendizados Figura 4 - Triângulo de Eithoven, como

com a observação de 5 mil eletrocar- desenhado em seu trabalho original (8).

diogramas já realizados. Definiu que a


onda P representava a ativação do átrio
e onda Q fazia parte do ventrículo (12).

TEORIA DAS DERIVAÇÕES

Para que se uniformizasse o exa-


me no mundo inteiro, era necessário
saber em que ângulos essas “câme-
ras” iriam olhar para o coração. Esfor-
ços se iniciaram para criar derivações
que pudessem ter importância práti- Burger, no entanto, levou em con-
ca na avaliação da atividade elétrica sideração que o corpo humano é tri-
cardíaca. dimensional, tem formato irregular e
A teoria clássica das derivações foi volumes condutores não homogêneos
proposta por Einthoven. Essa teoria e corrigiu o triângulo de Einthoven
assume que o corpo humano é parte imaginando um triângulo não equilá-
de um condutor homogêneo e infini- tero (Figura 5), mas permaneceu com
to em que as fontes elétricas cardía- a ideia de dipolo fixo (14,15).
cas são representadas por uma única
Figura 5 - Triângulo de Burger.
corrente de dipolo que varia com o
tempo, mas preso a uma localiza-
ção fixa. Resumindo: um único vetor
a cada batimento. As derivações de
Einthoven usam derivações em três
membros: braços (direito e esquerdo)
e perna esquerda.
O triângulo de Einthoven (Figura 4)
foi, então, criado a partir dessas deri-
vações: a derivação D1, por exemplo,
grava o potencial de ação entre o bra-
ço direito e o braço esquerdo, D2 entre
Perceba que não é equilátero. Leva em consideração diferenças de campo
o braço direito e a perna esquerda e
elétrico de diferentes órgãos do corpo humano (15).
D3 entre o braço esquerdo e a perna

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INTRODUÇÃO AO ECG

Em 1934, Wilson uniu os três tencial do braço direito, da perna


vértices do triângulo de Eintho- esquerda e do braço esquerdo, res-
ven a resistências de 5 mil ohms, petivamente (17). Para entender a
introduziu esse tal ponto virtual razão de eu ter falado isso tudo,
do qual já falamos na introdução introduzo agora o famoso “Círculo
deste capítulo: o “terminal central de Cabrera”, na Figura 6. Não dei-
de Wilson”. Esse ponto virtual foi xe de ler a legenda.
inicialmente criado com o intuito
de calcular a diferença de poten- O ELETROCARDIOGRAMA
cial do braço direito, por exem- HUMANO E SUAS ONDAS
plo, até o centro do triângulo de
Einthoven, o que foi chamado na Se você não entendeu muita coisa
época de VR (16). Por fim, em 1942, do que foi escrito acima, não tem pro-
Goldberger, introduziu um aumen- blema. Esta é uma introdução teórica,
to na sensibilidade dessas últimas mas com pouco papel na prática. A
derivações, que agora teriam um partir de agora, vamos focar no que in-
“a” em frente a seus nomes, surgin- teressa na vida de um profissional que
do, então, aVR, aVF e aVL – o po- lida com eletrocardiograma.

Figura 6

No painel A, observamos o triângulo de Einthoven e o terminal central de Wilson criado pelas três resistências de 5000ohms colocadas em cada
vértice do triângulo. No painel B, observamos o triângulo de Cabrera, em que temos as derivações clássicas D1, D2, D3, mais as criadas por Wilson e
aumentadas por Goldberg: aVR, aVL e aVF, todas dispostas de acordo com seus ângulos.

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Anatomia e CAPÍTULO

eletrofisiologia cardíacas
José Nunes de Alencar Neto
2
INTRODUÇÃO faremos considerações breves sobre
anatomia e fisiologia, mas, quando for
Não me leve a mal, mas para o uso necessário, daremos a sugestão que o
prático básico de eletrocardiograma, autor retorne aqui.
isto é, detectar sobrecargas, bloqueios, Em resumo, este capítulo pode ser
isquemia e arritmias, o conhecimento “pulado”, caso você esteja procurando
da anatomia e da eletrofisiologia car- por um conteúdo mais prático, mas o
díaca pode ficar em segundo plano. autor não aconselha.
Com “segundo plano”, no entanto, não
quer dizer que esse conhecimento é NOÇÕES DE ANATOMIA DO
desnecessário. Não. Tanto para um SISTEMA ELÉTRICO CARDÍACO
interno de Medicina que irá prestar
prova de Residência, como para um O sistema elétrico é composto de
médico que quer se aprofundar no co- células musculares cardíacas especia-
nhecimento dessa arte, esses concei- lizadas que formam nós (ou nodos) e
tos precisam ser conhecidos. feixes que possuem a capacidade de
Neste capítulo traremos informa- gerar o impulso (potencial de ação) e
ções básicas sobre tudo o que é im- de conduzir o mesmo com uma maior
portante para a ciência do eletrocar- velocidade (Figura 1).
diograma. Nos capítulos que sucedem

Figura 1 - Sistema de condução cardíaco.

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CAPÍTULO 2

Todo o sistema elétrico cardíaco chmann, por exemplo (1,2). Sua ativa-
possui a capacidade de geração do ção é incapaz de ser capturada pelos
impulso, porém cada estrutura im- eletrocardiógrafos.
prime velocidades diferentes para Nessa fase do ciclo cardíaco, a des-
executar o processo de geração de polarização ocorre apenas nas células
despolarização de membrana que atriais. Até aqui, falando em termos
detalharemos mais à frente. Desse elétricos, o que temos é a geração da
modo, a estrutura que mais rápido onda P (pois os átrios foram despolari-
conseguir executar todo o passo a zados). Concomitante a isso, o estímu-
passo necessário para que sua mem- lo que desceu pelos feixes internodais
brana tenha um salto em voltagem em direção a outro nó na fronteira
interrompe o mesmo processo que entre os átrios e os ventrículos que é
vinha ocorrendo nas demais células o nó atrioventricular, nó de Aschoff-
elétricas que estavam ainda tentan- -Tawara (carinhosamente chamado de
do despolarizar-se, e estas passarão nó AV). O nó AV foi caracterizado por
apenas a conduzir o impulso gerado. Sunao Tawara em 1906 (3). É uma es-
Por esse motivo, em condições fisio- trutura ovaloide com 1 x 3 x 5 mm de
lógicas, o nó sinusal, que é localiza- área localizada dentro do triângulo
do no teto do átrio direito, em sua de Koch, uma região endocárdica de
parede posterolateral, é considerado interesse para arritmologia delimitada
o maestro do coração. Este impulso anteriormente pelo folheto septal da
não é capturado pelos eletrocardió- valva tricúspide, posteriormente pelo
grafos, portanto, nessa fase ainda tendão de Todaro, tendo no ápice o
existe um silêncio elétrico no ECG. corpo fibroso central e na base o óstio
Dura pouco tempo, porque em ques- do seio coronariano (4) (Figura 2).
tão de 50 ms o impulso sai do nó si- Em situações normais, só há uma
nusal e começa a despolarizar a mus- forma de o estímulo elétrico passar
culatura dos átrios. do átrio para o ventrículo: é através do
Esse potencial de ação gerado é nó AV. O esqueleto fibroso cardíaco é
transmitido pelo átrio direito por cé- um complexo de tecido fibroso que
lulas miocárdicas atriais dispostas pa- sustenta as valvas cardíacas à base do
ralelamente e erroneamente chama- coração e é o responsável por isolar
das de feixes internodais (espere um eletricamente as câmaras atriais das
pouco para compreender a razão do ventriculares (5) (Figura 3). Dessa for-
erro) e também para o átrio esquerdo ma, a propagação do impulso atinge
através de células miocárdicas atriais as células transicionais do nó AV (cé-
não especializadas e não insuladas, lulas que não possuem características
portanto, erroneamente chamadas de histológicas de condução nem de con-
feixe de Bachmann - o melhor seria tração), onde há reduzidas junções co-
chamar esse local de “região” de Ba- municantes, propiciando de maneira

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ANATOMIA E ELETROFISIOLOGIA CARDÍACAS

Figura 2 - Região do triângulo de Koch fisiológica um atraso na condução do


delimitada por triângulo vermelho. impulso nervoso. Esse atraso que o nó
AV imprime à condução do estímulo
elétrico é o responsável pelo silêncio
elétrico que existe entre a onda P (des-
polarização dos átrios) e o complexo
QRS (despolarização dos ventrículos).
O intervalo PR (ou mais corre-
tamente “PQ”) é a expressão eletro-
cardiográfica da baixa velocidade da
condução do impulso pelo nó AV –
atenção, existe atividade elétrica, mas
Na sua porção anterior está o folheto septal da valva tricúspide, na
esta é imperceptível aos eletrocardió-
porção posterior o tendão de Todaro, no ápice está o corpo fibroso central grafos. Aliás, se pararmos para pensar,
onde se localiza o feixe de His e a base do triângulo é o óstio do seio ainda bem que isso ocorre. Se não fos-
coronariano (4). se por essa pausa, os átrios e os ventrí-
culos iriam despolarizar praticamente
juntos, com todas as válvulas abertas.
Para onde o sangue iria?
Figura 3 - Esqueleto fibroso cardíaco que dá O nó AV compacto mergulha no
sustentação às suas valvas. esqueleto fibroso do coração e, na re-
gião do corpo fibroso central, as fibras
do feixe de His nascem (esse sim um
“feixe” de fato com 5-10 mm de com-
primento). Esse feixe é importante na
prática clínica porque, marca o início
do território elétrico ventricular, mas
em eletrocardiografia é irrelevante,
porque sua atividade não consegue
ser capturada pelos galvanômetros
dos eletrocardiógrafos. Portanto, não
vemos a atividade de His no ECG.
Em eletrofisiologia invasiva, no
entanto, podemos posicionar um ca-
teter próximo ao feixe para capturar
Também serve como isolante elétrico, não permitindo a passagem sua atividade e assim definir o nível de
do estímulo elétrico dos átrios para os ventrículos, a não ser pelo nó
bloqueio atrioventricular de um pa-
atrioventricular ou algum feixe acessório que por ventura o paciente
ciente. Em um bloqueio de condução
tenha (5).
atrioventricular que não chegou a des-
polarizar o feixe de His, por exemplo,

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