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MONITORIA EM ESTÁGIO SUPERVISIONADO II: PARA ALÉM DE UM ENSINO

JURÍDICO TECNICISTA E TEÓRICO1

SILVA, Andrielly Larissa Pereira2


OLIVEIRA, Lorena de3
QUINTINO, Cláudia Pereira (orientadora)

RESUMO

Este trabalho constitui o relato de experiência de monitoria acadêmica, realizada na


disciplina de Estágio Supervisionado II da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Goiás, no ano de 2018, para ser submetido ao V Seminário do Programa
de Monitoria dos Cursos de Graduação da UFG – Regional Goiânia. Com o relato de
experiência, objetiva analisar a importância da monitoria na formação do discente e
a relação de ensino-aprendizado do programa; ainda, refletir sobre os impactos da
disciplina monitorada no ensino dos discentes a partir do contato com o Núcleo de
Prática Jurídica (NPJ) da UFG. O trabalho se constitui enquanto pesquisa empírica
fruto do contato com a disciplina, com destaque às atividades desenvolvidas no NPJ,
e se embasa em referenciais teóricos que analisam a influência do programa de
monitoria no pleno desenvolvimento da Universidade. A partir dessa análise, foi
possível aferir a relevância da monitoria e a necessidade de valorização do
programa. Ainda, constata-se a importância da disciplina de Estágio Supervisionado
II, com destaque para o contato com o NPJ, para garantir uma formação completa
do ensino jurídico.

Palavras-chave: Monitoria, Ensino Jurídico, Núcleo de Prática Jurídica, Estágio


Supervisionado.

INTRODUÇÃO

Para garantir a plena educação dos discentes e, primordialmente, gerar


contribuições para a melhoria da sociedade com os conhecimentos desenvolvidos, a
Universidade deve obedecer a previsão constitucional (art. 207) de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Dentre os instrumentos que possibilitam tal desenvolvimento, está o programa
de monitoria, que possui como finalidade o aperfeiçoamento do processo de
1 Trabalho revisado pela orientadora Professora Ma. Cláudia Pereira Quintino, da Faculdade de
Direito da UFG. Email: claudiapquintino@gmail.com
2 Monitora voluntária e estudante do 10º período do curso de Direito, turno noturno, da Universidade
Federal de Goiás. Email: andriellylarissa17@gmail.com
3 Monitora voluntária e estudante do 10º período do curso de Direito, turno noturno, da Universidade
Federal de Goiás. Email: lorena-olv@hotmail.com
formação profissional e promoção da melhoria da qualidade de ensino, criando
condições para o aprofundamento teórico e o desenvolvimento de habilidades
relacionadas à atividade docente do monitor (NATÁRIO e SANTOS, 2010).
A monitoria exerce um importante papel no desenvolvimento educacional do
monitor, seja para o despertar de um interesse na docência ou mesmo no
aprofundamento de conhecimento na disciplina. A partir do relato de experiência,
será analisada essa influência da monitoria na formação acadêmica do monitor.
Além disso, o programa pode contribuir com o desenvolvimento daqueles que
frequentam a disciplina, assim como do próprio docente, na relação existente de
ensino-aprendizado. Por isso, a análise aqui perpassará também pela influência da
monitoria no desenvolvimento da própria disciplina.
A pesquisa empírica tem como local de análise a Faculdade de Direito da
UFG. Nesse ambiente, verifica-se o predomínio de distanciamento entre teoria e
prática. Nas aulas que são ministradas, há pouco contato com casos práticos e com
resolução de demandas que envolvem o conteúdo da disciplina ministrada. A grade
curricular prevê a disciplina de Estágio Supervisionado, que possibilita ao aluno um
contato direto com demandas jurídicas, através do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ).
O NPJ proporciona assessoria jurídica gratuita para pessoas de baixa renda,
visando realizar a integração entre comunidade e Universidade.
Nesse contexto, é fundamental que se analise quais são os impactos do
programa de monitoria na concretização de uma educação plena, em conformidade
com a indissociabilidade do tripé constitucional. Assim, o presente trabalho mostra-
se importante para compreender os alcances e resultados do programa de monitoria
na UFG, com enfoque nos impactos gerados na formação dos discentes da
Faculdade de Direito e, também, na influência que a disciplina Estágio
Supervisionado II exerce no ensino jurídico.

METODOLOGIA

A monitoria na disciplina de Estágio Supervisionado II é realizada sob


orientação da Profa. Ma. Cláudia Pereiro Quintino, neste segundo semestre de
2018, e teve a orientação da Profa. Ma. Adriana Andrade Miranda no primeiro
semestre. Além disso, a Profa. Ma. Carolina Chaves Soares, docente da disciplina,
também tem orientado nas atividades desenvolvidas desde o início do ano.
Ao longo da disciplina, o discente deve realizar atendimentos aos clientes do
Núcleo de Prática Jurídica (NPJ); elaborar petições de casos concretos, atendidos
pelo NPJ; realizar o acompanhamento de processos reais; e assistir audiências
previstas no Manual do Estagiário da unidade acadêmica.
As aulas práticas da disciplina ocorrem no NPJ da Faculdade de Direito da
UFG, nas quartas e quintas-feiras, das 17h00 às 18h50 e contam com o auxílio das
monitoras. Conquanto haja outras atividades, a ação principal das monitoras é na
contribuição para as atividades desenvolvidas no NPJ.
A rotina de Estágio Supervisionado II, planejada pela Profa. Ma. Carolina
Chaves Soares, consiste em atendimento ao cliente às 17h00; acompanhamento
processual às 17h30; e acompanhamento processual/correção de peças a partir das
18h00.
Conquanto os discentes recebam um material de instrução pelo SIGAA, as
atividades são diversas, desenvolvidas em grupos e são inéditas para a maioria dos
discentes. Assim, as monitoras contribuem com todas as atividades, sob supervisão
da professora, auxiliando na orientação para atendimento do cliente, no
acompanhamento processual e na observância à correta elaboração das peças.
O atendimento aos clientes é agendado e cada grupo deve realizar três
atendimentos. Os discentes, inicialmente, tomam conhecimento do problema e
analisam se o caso pode ser atendido pelo NPJ (o Núcleo só atende casos de
competência da Justiça Estadual de Goiânia e de pessoas de baixa renda).
Posteriormente, conferem os documentos do cliente e, caso estejam corretos,
preenchem o formulário para o desenvolvimento da peça, a procuração e a
declaração de carência.
Quanto ao acompanhamento processual, os discentes têm contato direto com
o Processo Judicial Digital (Projudi) e verificam o andamento dos processos do NPJ.
Dessa forma, podem se familiarizar com o sistema e com os procedimentos que
integram o processo civil. Caso tenham dificuldades em acessar o sistema ou
mesmo em compreender as diligências necessárias no processo, contam com o
auxílio das monitoras e da professora.
Por fim, os discentes devem elaborar peças de casos reais do NPJ. Para
a redação, o aluno deve estudar o caso concreto, assim como as disciplinas que o
envolvem. Dada a importância deste trabalho, já que se tratam de casos reais, as
peças são previamente corrigidas, antes de serem protocoladas.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A monitoria tem possibilitado o aprofundamento dos conhecimentos que


envolvem a disciplina, como Direito Civil e Direito Processual Civil. Além disso, o
grande ganho de conhecimento adquirido é pelo contato com a prática. A troca de
conhecimento com os discentes, a professora e com os clientes do NPJ é um dos
elementos que se destacam na experiência com a monitoria.
Esse contato, iniciado no primeiro semestre de 2018, fez com que houvesse
uma maior reflexão sobre seguir a carreira acadêmica, interesse que já vinha
carregando antes de ingressar no programa. Todavia, a experiência com a prática
da advocacia no NPJ despertou um interesse maior por essa carreira, o que antes
não era um interesse predominante.
A proximidade com a disciplina de Estágio Supervisionado II e, de
consequência, com o NPJ, fez com que houvesse uma maior reflexão sobre a
importância da prática e do contato com a comunidade para a formação dos
acadêmicos de direito.
Tem-se que a disciplina de Estágio Supervisionado visa justamente
possibilitar esse contato prático para os alunos, já que na grade curricular do curso
não há a exigência de realização de estágio fora da unidade acadêmica. Todavia, é
notável que a grande maioria dos discentes recorre a estágios fora da unidade para
adquirir conhecimentos que não são passados durante a graduação.
Do contato com a monitoria, percebe-se que muitos discentes não tratam
como muita importância a referida matéria, cumprindo as atividades por mera
obrigação e não com a consciência da importância da disciplina e do atendimento à
comunidade. Isso é fruto não apenas da conduta dos discentes, mas de um ensino
que divide as matérias em teóricas e práticas, dissociada também de uma reflexão
sobre a importância social do Direito.
Os momentos que demonstram mais descaso para a importância do NPJ são
os atendimentos realizados aos clientes. Os grupos que não estão realizando o
atendimento ficam conversando no local e, por vezes, os próprios membros do
grupo que está realizando atendimento não dão atenção ao caso que está sendo
relatado, porque ficam conversando ou mesmo mexendo no celular.
Apesar da falta de valorização, o NPJ visa exercer um importante papel na
Faculdade de Direito. Felix e Ferreira (2015, p. 2-3) indicam que:

O NPJ vem com a função de desempenhar um papel social perante essa


sociedade enquanto, concomitantemente, introduz e desenvolve o ensino da
prática forense para os discentes. Por se tratar de um local que desenvolve
assistência jurídica a uma população menos favorecida, os alunos devem
analisar de maneira critica não só a causa dos seus clientes, mas sim todos
os fatores englobados por trás disso, e aí entramos em um ponto
fundamental, que se trata da essência do NPJ, a aplicação da
interdisciplinaridade no processo de resolução de conflitos jurídicos e o
diálogo entre Universidade e comunidade que demanda uma visão social.

Dessa forma, vê-se que unidade deveria proporcionar um maior contato dos
alunos com o NPJ, estimulando o interesse dos discentes à disciplina de Estágio
Supervisionado e fazendo com que matérias que atualmente são tecnicistas e
meramente teóricas, mostrassem e trabalhassem casos práticos do Núcleo ou
trouxessem reflexões sobre o papel social do Direito.

CONCLUSÃO

A experiência de participar do programa de monitoria possibilitou


compreender a sua importância, tanto para a aquisição de conhecimentos teóricos
da matéria, quanto para aprofundar a troca de conhecimentos entre os discentes da
disciplina, a docente e os clientes do NPJ.
Conquanto o programa possibilite uma formação mais completa, verifica-se
que não há o necessário investimento na sua divulgação e, consequentemente, há
uma falta de incentivo para que os discentes se interessem em participar. Assim, é
preciso investir no programa, com uma ampliação de divulgação e até mesmo de
vagas.
Além disso, a monitoria em Estágio Supervisionado trouxe uma maior
consciência da importância da prática jurídica na formação dos acadêmicos de
direito. Ressalta-se, porém, que essa prática não pode estar dissociada dos casos
reais e do compromisso social que o Direito deve ter. Sem uma formação humanista
e ante a dissociação da teoria com a prática, irão se formar indivíduos
descompromissados com a sociedade.
Conclui-se, dessa forma, que o NPJ, assim como projetos voltados para
pesquisa e extensão, exercem um papel fundamental para a formação completa dos
futuros juristas. A busca por estágios em escritórios particulares ou mesmo em
órgãos públicos e a falta de contato com projetos acadêmicos, tem gerado uma
prática jurídica sem compromisso social.
Verifica-se que, apesar dos recentes avanços visíveis, a unidade acadêmica
precisa continuar investindo em uma formação jurídica completa através do
cumprimento da previsão constitucional de indissociabilidade entre pesquisa, ensino
e extensão.
Nesse sentido, urge a necessidade de continuidade de investimento no NPJ e
em projetos de extensão que pautem uma prática jurídica em sintonia com a própria
finalidade da Universidade Pública: garantir o desenvolvimento da sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (88). Constituição da República Federativa do Brasil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
Acesso em: 12 set. 2018.

NATÁRIO, E. G.; SANTOS, A. A. A. Programa de monitores para o ensino superior.


Revista Estudos de Psicologia, Campinas: PUC-Campinas, v. 27, n. 3, p. 355-364,
2010.

FERREIRA, J. V. B.; FELIX, L. P. M. NPJ: A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA


JURÍDICA NA FORMAÇÃO DO BACHAREL EM DIREITO DA FD/UnB, 2015.
Disponível em: <http://www.academia.edu/32986407/NPJ_A_IMPORT
%C3%82NCIA_DA_PR%C3%81TICA_JUR%C3%8DDICA_NA_FORMA
%C3%87%C3%83O_DO_BACHAREL_EM_DIREITO_DA_FD_UnB> Acesso em 12
set. 2018.

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