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Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos Do Serviço Social II
Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos Do Serviço Social II
HISTÓRICOS
E TEÓRICO-
METODOLÓGICOS DO
SERVIÇO SOCIAL II
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)! É um grande prazer poder trabalhar com você esta
disciplina tão relevante para sua formação profissional. Este material foi construído com
a finalidade de apresentar, por meio de uma linguagem clara e de fácil compreensão,
os temas relacionados aos Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço
Social II, caracterizados entre o período de 1980 até os dias atuais.
O objetivo da disciplina Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço
Social II é apresentar as mutações ocorridas no mundo econômico a partir de 1980 nos
contextos: mundial, latino-americano e brasileiro. Por conseguinte, seus reflexos na pro-
fissão de Serviço Social. Isto porque, as transformações ocorridas no cenário econômi-
co após o fim do Sistema Socialista, configurado através da queda do muro de Berlim
em 1989, caracterizaram a migração definitiva do modelo de economia nacional para
aquele de mercado. Tal transformação econômica ainda hoje influencia os projetos so-
cietários tanto do capital como da classe trabalhadora. E, consequentemente, é respon-
sável pelo agravamento dos problemas relacionados à luta de classes e à Questão Social.
Sendo esta de suma importância para a construção do projeto ético-político do Serviço
Social na contemporaneidade.
Sendo assim, a unidade I verificará o surgimento e o enfraquecimento do Modelo de
Produção Socialista e seus reflexos para os contextos mundial, latino-americano e brasi-
leiro, bem como suas implicações para o Serviço Social.
A unidade II, na mesma perspectiva histórica, verificará a constituição do processo ne-
oliberal e de internacionalização do capital, bem como seus reflexos na questão Social.
Vamos observar que as atuais manifestações sociais estão interligadas com o falimento
do modelo estatal de bem-estar social, mediante a ofensiva neoliberal de desmantela-
mento do Estado e de políticas públicas. Tal reflexão é necessária para aprofundarmos
o entendimento dos rumos que a profissão de Serviço Social deve afrontar no futuro
próximo, reforçando o papel de garantidor de acessibilidade de direitos.
Na unidade III iremos discutir como os anos 1990 foram importantes para o fortaleci-
mento da matriz teórico-metodológica marxista, ao mesmo tempo que concorrerão
perspectivas teórico-metodológicas relacionadas à crise sociocultural capitalista como
o pensamento pós-moderno.
Na unidade IV iremos compreender por que o projeto profissional do Serviço Social é
um projeto ético político, e por que o embate entre projetos societários antagônicos
exige a compreensão da profissão a fim de construir as competências profissionais para
alcançar uma nova ordem social sem exploração de classe, livre e emancipada.
Na unidade V discutiremos os desafios da contemporaneidade para o alcance do proje-
to ético político do Assistente Social e da intervenção destesprofissionais frente às de-
mandas emergentes da realidade brasileira.
Esperamos que este livro possibilite que você, futuro(a) assistente social, compreenda o
desenvolvimento da profissão, seus avanços e retrocessos, que tenha clareza que diante
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
34 Considerações Finais
UNIDADE II
41 Introdução
42 O Surgimento do Neoliberalismo
69 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
77 Introdução
98 Considerações Finais
UNIDADE IV
109 Introdução
UNIDADE V
143 Introdução
187 CONCLUSÃO
189 REFERÊNCIAS
Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues
I
O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E
UNIDADE
ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL,
LATINO-AMERICANO E BRASILEIRO
COM O FIM DO SOCIALISMO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar como ocorreu o processo de surgimento do Modelo de
Produção Socialista Europeu.
■■ Apresentar como ocorreu a queda do Modelo de Produção Socialista
Europeu.
■■ Apresentar os reflexos do fim do Modelo de Produção Socialista
Europeu para a América Latina e o Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu
■■ O Modelo de Produção Socialista Europeu e a Guerra Fria
■■ A queda do Modelo de Produção Socialista Europeu
■■ Os reflexos do fim do Modelo de Produção Socialista Europeu para a
América Latina e o Brasil
15
INTRODUÇÃO
Introdução
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O SURGIMENTO DO MODELO DE PRODUÇÃO
SOCIALISTA EUROPEU
Como resposta por parte da monarquia Russa, verificou-se uma severa repressão
contra os focos revolucionários, contudo, as ações de coerção do governo não
foram suficientes para impedir as manifestações por parte do proletariado russo,
culminando na derrubada do império (conhecida como Revolução Burguesa),
em fevereiro de 1917, e na instituição do Governo Provisório. Nas palavras de
Gorodetzky (1947, s/p):
Em fevereiro de 1917, o tzarismo foi derrotado. Triunfou a revolução
burguesa-democrática; porém depois disto o poder estatal na Rússia
caiu, como se sabe, nas mãos dos representantes da burguesia e dos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
latifundiários aburguesados. A revolução de fevereiro não mudou qua-
se em nada o regime social da Rússia. O estado de servidão não foi
destruído. A burguesia, chegando ao poder, conservou inteiramente a
essência da política interior e exterior do tzarismo.
Isso porque a formação desse novo governo não contava com representantes da
ala bolchevique. Como esperado, o Governo Provisório não foi capaz de resol-
ver os problemas sociais. Em 25 de outubro de 1917, liderados por Lênin, os
bolcheviques tomam o poder em Petrogrado, hoje San Petersburgo. Tal mani-
festação ficou conhecida historicamente como Revolução de Outubro, ou mais
comumente como Revolução Russa.
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o Órgão Estatal de Planificação GOSPLAN, presente na estrutura governamen-
tal até o fim do regime socialista (MIKHAILOVA, 2012).
Para superar a crise pós Guerra Civil, o governo soviético decide retornar
por tempo determinado e de forma parcial a economia de mercado, permitindo
atividades privadas em setores secundários da economia. Tal posicionamento
político ficou conhecido como Nova Política Econômica ou NEP, idealizada
por Kondratiev, que defendia como alternativa pensar uma economia mista, ou
seja, com elementos da economia de mercado juntamente com a planificação
centralizada. Nas palavras de Mikhailova (2012, p. 3):
No entanto, já em 1921, para retirar a economia do caos pós-revolucio-
nário e o da guerra civil, necessitaram-se medidas urgentes. Decidiu-se
voltar temporariamente e parcialmente aos mecanismos da economia
de mercado, permitindo a atividade de empresas privadas em setores
secundários e liberalizando o setor do comércio, entre outras medidas.
Esta política ficou conhecida como NEP (Nova Política Econômica).
O teórico e ideólogo principal da NEP foi Kondratiev. Ele e seus pro-
ponentes defenderam a ideia da economia mista, ou seja, de que ins-
trumentos da planificação centralizada e os de mercado poderiam ser
utilizados juntos na economia. A política da NEP permitiu reanimar a
economia em poucos anos. Conforme algumas estimativas, no período
da NEP, a economia cresceu em média 18% por ano.
Assim, caro(a) aluno(a), por meio da Revolução Russa, Guerra Civil e a cria-
ção da URSS. surge pela primeira vez, em cinco séculos de história econômica
capitalista, outra alternativa de mercado, o SOCIALISMO. O que essa alterna-
tiva provocou?
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do os defensores da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista.
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certa medida, a ideologização e a politização excessiva da planificação
econômica predeterminaram várias desproporções no desenvolvimen-
to socioeconômico em todo o período soviético.
O III Plano Quinquenal (1938-1943) foi marcado por uma nova prioridade
industrial soviética. Com a indústria de base concretizada, a URSS passa para um
segundo estágio de evolução. Superado o atraso tecnológico do período que ante-
cedeu a Revolução Russa, a URSS inicia o processo de militarização econômica.
Esse processo foi expressivo para a economia soviética, pois enquanto as taxas
de crescimento industrial entre 1938 a 1940 apresentavam crescimento de 13%
por ano, a indústria bélica festejava o percentual de crescimento anual de 39% no
mesmo período, chegando a 45% em 1941. Tal período de crescimento somente
Por isso, a URSS, peça central para derrota do nazismo na Segunda Guerra
Mundial e país pertencente ao bloco dos Aliados, passa a ser um perigo eminente
ao sistema capitalista. A partir de então, se inicia pelos dois lados a forma-
ção de diversos pactos econômicos e militares que culminaram na Guerra Fria
(PEREIRA, 2009).
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O MODELO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA EUROPEU E A
GUERRA FRIA
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vel ataque militar estivesse presente em ambos os regimes produtivos, isso não
significou que a disputa em torno do setor econômico tenha se tornado menos
acurada em relação ao bélico.
Diante do que discutimos sobre a Guerra fria, podemos estabelecer o seguinte
quadro:
Caro(a) aluno(a), agora que compreendemos o que foi a Guerra Fria, vamos
avançar nos estudos buscando analisar como ocorre a queda do modo de pro-
dução socialista na Europa.
Para falarmos sobre esse assunto, vamos nos apropriar das discussões do autor
Robert Kurz, que escreveu o livro “O Colapso da Modernização – Da derrocada
do Socialismo de Caserna à Crise da Economia Mundial” no início de 1990, apre-
sentando de uma forma inovadora a derrocada do Socialismo. Inovadora, porque
abordou o assunto de maneira diferente da maioria dos autores, que até então
escreviam sobre o tema e defendiam a ideia de o colapso do modelo socialista
ser resultado dos problemas de gestão, derivados da incapacidade do modelo
de planejamento, centralizado em dar conta de uma economia complexa como
estava se tornando o mercado mundial naquele período. Kurz, que vem de uma
escola de pensamento Marxista, avalia tal período afastando da discussão as
categorias mercado e planejamento/Estado, analisando o fenômeno apenas
em seu contexto por uma perspectiva de produção de mercadorias.
A chave do raciocínio de Kurz está no fato de que as economias socialistas
nunca deixaram de fazer parte do sistema mundial de produção de mercadorias,
sendo presentes no contexto da URSS todas as categorias que fundamentam o
Capital, ou seja: preço, salário e, com uma nova roupagem, o lucro. Uma nova
roupagem, porque, em relação ao modelo socialista, o lucro significava o ganho
das empresas estatais.
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economias capitalistas.
Caro(a) aluno(a), é de suma importância ressaltar que no mesmo período
ocorria uma
grande conturbação econômica e política nos países capitalistas. Su-
perada essa fase, a dinâmica do sistema de produtos de mercadorias se
impôs, apontando os limites da economia de comando estatal. O pa-
drão de produtividade que emerge de um sistema cada vez mais mun-
dial não permite a coexistência de economias que não privilegiem o
emprego de novas tecnologias (MARQUES, 1993).
Isso significou para a América Latina, caro(a) aluno(a), a entrada pela porta dos
fundos no contexto de globalização. Endividados e dependentes economicamente,
os países latino-americanos não tinham condições de combater diretamente os
preços dos produtos dos países industrializados, em especial o norte-americano.
Sendo assim, a economia latino-americana entra em crise.
Inicia-se um vasto processo de reforma estrutural, que se resumiu no des-
mantelamento do Estado em prol do aumento do poder de mercado, forçando
os países que compõem essa localização geográfica a abrirem seus mercados aos
grandes fluxos globais de mercadorias. Para as empresas latino-americanas, era
uma questão de sobrevivência: ou se abria o mercado, ou se declarava falência.
Segundo Albano e Costa (2005, p. 278):
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional - FMI propu-
seram os Programas de Ajustes Estruturais - PAEs em 1980, quando
muitos países em desenvolvimento atravessavam uma profunda reces-
são ocasionada, em parte, por fatores fora do seu controle, e estavam
com grande endividamento com os órgãos internacionais. Foi o caso
do Brasil e de vários países subdesenvolvidos, que em 1980 estava com
uma elevada dívida externa e precisava de ajuda do FMI e do Banco
Mundial para quitar os débitos. [...] Para receber a ajuda financeira os
países subdesenvolvidos tinham que por em prática, por pressão do
FMI e do Banco Mundial, os PAEs. Um PAE típico implicava na libe-
ralização do comércio, redução do gasto com programas sociais (saú-
de, educação), eliminação de subsídios à alimentação e aumento dos
preços pagos a produtores de culturas para o mercado externo. (Grifo
Nosso)
Os Reflexos do Fim do Modelo de Produção Socialista Europeu Para a América Latina e o Brasil
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nas relações entre os Estados Unidos e a América Latina. A indefini-
ção de uma política hemisférica clara se aliava à ênfase nos interesses
econômicos, à afirmação do modelo neoliberal e à perspectiva de um
multilateralismo limitado porém emergente. Depois de um período
dominado pelas expressões da Segunda Guerra Fria no continente,
as iniciativas da administração Bush concentraram-se em estreitar
os laços econômicos entre os EUA e a América Latina, negociando o
Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e lançando
a Iniciativa para as Américas. A mudança teve caráter paradigmático,
havendo um translado de uma política mais coerciva e ideológica para
uma perspectiva que enfatizava a cooperação, maiores investimentos e
comércio. As duas administrações seguintes, sob liderança de Bill Clin-
ton, mantiveram objetivos similares. A partir de janeiro de 1994 passou
a vigorar o Nafta, dando continuidade ao processo de integração das
economias dos Estados Unidos, Canadá e México, além de alguns paí-
ses da bacia do Caribe.
O problema para a América Latina com essa nova configuração política concen-
tra-se no fato de que o processo ocorre de forma unilateral. Isto é, os mercados
latinos abriram suas portas e alfândegas para os produtos norte-americanos,
todavia, as barreiras alfandegárias dos países industrializados se mantiveram
fechadas para os produtos latino-americanos.
Como exemplo, verifica-se o ocorrido no setor agrícola, um dos primeiros
segmentos latino-americanos a sofrer os reflexos da abertura de mercado, em
que os Programas de Ajustes Estruturais, nesse caso específico o Acordo sobre a
Agricultura de 1993, estipulavam a diminuição das tarifas aos produtos agríco-
las importados. Nesse sentido, Mandeley (2003, apud ALBANO; COSTA 2005,
p. 279) salienta que mediante esse acordo:
dores da saúde para a reforma do sistema sanitário, por exemplo, que na década
de 1980 era expressivas na América Latina, enfraqueceu.
O crescimento econômico nas décadas sucessivas está baseado na lógica do
consumo, não em questões voltadas à emancipação econômica, cultural ou inte-
lectual, surgindo assim novos contextos na luta de classes e no agravamento da
desigualdade social desencadeado pela emancipação. De acordo com Iamamoto
(2006, p. 4):
O resultado tem sido uma ampla radicalização da concentração de ren-
da, da propriedade e do poder, na contrapartida de um violento em-
pobrecimento da população; uma ampliação brutal do desemprego e
do subemprego; o desmonte dos direitos conquistados e das políticas
sociais universais, impondo um sacrifício forçado a toda a sociedade. À
reestruturação da produção e dos mercados apoiada mais em métodos
de consumo intensivo da força de trabalho do que em inovações cientí-
ficas e tecnológicas de última geração somam-se mudanças regressivas
na relação entre o Estado e sociedade quando a referência é a vida de
todos e os direitos conquistados pelas grandes maiorias.
Os Reflexos do Fim do Modelo de Produção Socialista Europeu Para a América Latina e o Brasil
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3. A partir da Revolução Russa, Guerra Civil e a criação da URSS, surge pela primei-
ra vez, em cinco séculos de história econômica capitalista, outra alternativa de
mercado, o SOCIALISMO. Aponte quais foram as mudanças provocadas pelo So-
cialismo.
TESES EQUIVOCADAS SOBRE A ORDEM MUNDIAL PÓS-GUERRA FRIA - CARACTE-
RÍSTICAS DA ORDEM PÓS-45
(...)
Retrospectivamente, quatro características parecem ter sido as mais significativas da or-
dem da Guerra Fria:
1. A bipolaridade estratégico-militar;
2. A primazia econômica dos Estados Unidos;
3. O “compromisso liberal”;
4. A importância do Terceiro Mundo enquanto ator político.
A bipolaridade estratégico-militar EUA-União Soviética e a dissuasão nuclear como
forma de controle do conflito entre as duas superpotências constituem as características
definidoras daquela ordem. A sua principal implicação foi dar certa medida de estabi-
lidade ao sistema mundial, com base em dois processos. Por um lado, o congelamento
dos conflitos locais e regionais anteriores à Segunda Guerra, resultado de sua vinculação
ao conflito político-ideológico bipolar, permitiu às duas superpotências administrá-los e
controlá-los, tendo em vista seus respectivos interesses político-estratégicos. Por outro,
a dissuasão nuclear controlava o conflito entre as duas superpotências, uma vez que ao
disporem, ambas, de second-strike capability, nenhuma delas tinha incentivo para usar
suas armas contra a outra. Ademais, o status na hierarquia internacional e a superiorida-
de estratégico-militar, conferidos pelas armas atômicas, proviam um incentivo especial
aos EUA e à União Soviética para controlar a proliferação dessas armas cuja posse asse-
guraria a condição de grande potência a quem a obtivesse, mesmo nos países de suas
respectivas esferas de influência.
Uma consequência relevante da emergência das armas atômicas na política mundial
foi quebrar o vínculo entre poder militar e poder econômico que tem caracterizado o
moderno sistema internacional. O ciclo de emergência e queda das grandes potências
evidencia uma correlação significativa, ao longo do tempo, entre capacidade econômi-
ca e força militar (Kennedy, 1989; Gilpin, 1981). A erosão desta combinação histórica é
fruto do paradoxo das armas nucleares: a escala da violência tornada possível pela capa-
cidade destrutiva das armas nucleares ultrapassou exponencialmente o espaço físico no
qual a violência poderia ser empregada, tornando essas armas inúteis do ponto de vista
de sua utilização em um conflito real. O teste de força entre as superpotências foi deslo-
cado para a periferia, não ocorrendo um enfrentamento direto entre elas. Entretanto, o
que mantinha a bipolaridade e o status de superpotência eram as armas nucleares, inde-
pendentemente de eventuais reduções de fato nas respectivas capacidades econômi-
cas. Ademais, ao atenuar o “dilema de segurança”, em especial dos membros da aliança
do Ocidente, o guarda-chuva nuclear acabou por permitir que alguns destes (Alemanha
e Japão) se tornassem potências econômicas, sem serem necessariamente potências
militares. Finalmente, a própria monopolização do jogo estratégico pelas duas superpo-
tências deslocou o espaço de manobra das demais para o campo econômico.
37
Um aspecto importante da Guerra Fria foi sua funcionalidade para as duas superpo-
tências. Desta forma, o sistema de Guerra Fria expressava e reforçava o domínio destas
na política mundial, pois não apenas ajudava a controlar os aliados mais rebeldes no
continente europeu, como provia uma justificativa para sua intervenção nos assuntos
domésticos dos países periféricos. De fato, a rivalidade estratégico-militar operava com
vantagem para as superpotências: permitia o controle do Leste Europeu pela União
Soviética, gerando estabilidade em uma região tradicionalmente instável; continha as
ambições alemãs na área; e, por último, assegurava a hegemonia dos EUA na Europa,
empurrando os países da Europa Ocidental para os braços norte-americanos (Cox, 1994;
Lynch, 1992; Waltz, 1964).
A primazia econômica dos Estados Unidos constitui outra característica relevante da
antiga ordem. Esta é incontestável nos primeiros vinte anos do pós-Segunda Guerra,
momento em que é mais acentuado o diferencial econômico entre os Estados Unidos
e os demais países capitalistas. Em 1950, o PIB americano era três vezes maior que o da
União Soviética, oito vezes o da Alemanha Ocidental e o da França e doze vezes o do
Japão (Kennedy, 1989, p. 353). Foram esta primazia econômica e a rivalidade bipolar os
responsáveis pela disposição norte-americana de investir recursos não apenas na re-
construção européia no pós-guerra, mas na montagem de um arcabouço institucional
multilateral nos planos político e econômico cuja importância para a normalização das
relações econômicas internacionais não foi desprezível. Essa combinação entre supe-
rioridade econômica e rivalidade estratégica também foi relevante para a reintegração
dos vencidos na Segunda Guerra em especial Alemanha e Japão à aliança do Ocidente,
patrocinada pelos EUA, muitas vezes contra a vontade dos demais parceiros da aliança
(Keohane, 1982).
Fonte: LIMA, Maria Regina Soares. Teses Equivocadas Sobre a Ordem Mundial Pós-Guerra Fria. Re-
vista SciELO, São Paulo, v. 39, n. 3, 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
t=sci_arttext&pid=S0011-52581996000300005>. Acesso em: 05 maio 2015.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Na web, você pode acessar o site da OTAN e entender melhor qual é a sua função em
relação aos países do bloco capitalista.
<http://www.nato.int/>.
Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues
II
O SURGIMENTO DO
UNIDADE
NEOLIBERALISMO E O
AGRAVAMENTO DA QUESTÃO
SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar como ocorreu o processo de reabsorção do modelo
liberal pelo mercado capitalista intitulado como neoliberalismo.
■■ Apresentar como ocorreu o processo de transição da economia
tradicional para economia de mercado e as repercussões desse
modelo para o agravamento dos problemas relacionados à Questão
Social.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O surgimento do Neoliberalismo
■■ A transição da economia nacional para a economia de mercado
■■ O conceito de Questão Social
■■ O agravamento da Questão Social
41
INTRODUÇÃO
Introdução
II
O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
foram: Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwing Von Mises,
Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi, Salvador de Madariaga, entre
outros. Estes se caracterizavam não somente por serem adversários do Estado
de Bem-Estar europeu, mas também inimigos do New Deal norte-americano
(ANDERSON, 1995). Os defensores do neoliberalismo se fundamentavam na
ideia de combater a qualquer preço o keynesianismo e o solidarismo e preparar
um novo modelo para o capitalismo, que se caracterizaria como livre de regras.
Argumentavam que a desigualdade era um valor positivo para o mercado, pois
através desta as possibilidades de crescimento e as vantagens competitivas eram
reforçadas, sendo úteis às sociedades ocidentais (ANDERSON, 1995).
A chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em
1973, quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e
profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de cres-
cimento com altas taxas de inflação, mudou tudo. A partir daí as idéias
neoliberais passaram a ganhar terreno. As raízes da crise, afirmavam
Hayek e seus companheiros, estavam localizadas no poder excessivo
e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento ope-
rário, que havia corroído as bases de acumulação capitalista com suas
pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária
para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. Esses
dois processos destruíram os níveis necessários de lucros das empresas
e desencadearam processos inflacionários que não podiam deixar de
terminar numa crise generalizada das economias de mercado. O remé-
dio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade
de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco
em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabili-
dade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para
isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos
1995, s/p.).
O texto que fundamentou a tese neoliberal foi escrito por Friedrich Hayek em
1944 e intitulado “O Caminho da Servidão”. Tal texto trata-se de um ataque apai-
xonado contra a limitação exercida pelo Estado contra a liberdade de mercado.
Caracterizava o Estado de Bem-estar como uma ameaça letal para a liberdade
econômica e política, igualando-o ao nazismo alemão. Embora a crítica se fun-
damentasse contra o modelo de bem-estar, na verdade, o alvo de Hayek era o
Partido Trabalhista inglês que estava disputando as eleições em 1945, o qual,
mesmo com a ofensiva por parte dos neoliberais, chegou ao poder com a maio-
ria dos votos dos ingleses (ANDERSON, 1995).
O Surgimento do Neoliberalismo
II
ANO ACONTECIMENTO
Iniciou no Chile sob a ditadura de Pinochet. Aquele regime tem a
honra de ter sido o verdadeiro pioneiro do ciclo neoliberal da história
contemporânea. O Chile de Pinochet começou seus programas de
maneira dura: desregulação, desemprego massivo, repressão sindi-
Início de 1970 cal, redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens
públicos. Tudo isso foi começado no Chile, quase um decênio antes
de Teatcher, na Inglaterra. No Chile, naturalmente, a inspiração teóri-
ca da experiência pinochetista era mais norte-americana do que aus-
tríaca. Friedman, e não Hayek, como era de se esperar nas Américas...
Na Inglaterra foi eleito o governo Teatcher, o primeiro regime de um
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1979 país capitalista avançado publicamente empenhado em por em prá-
tica o programa neoliberal.
1980 Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos...
Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na
1982
Alemanha...
A Dinamarca, Estado modelo do bem-estar Escandinavo, caiu sob o
controle de uma coalizão clara de direita, o governo de Schluter. Em
seguida, quase todos os países do norte da Europa Ocidental, com
exceção da Suécia e da Áustria, também viraram de direita...
O governo socialista na França se viu forçado pelos mercados finan-
ceiros internacionais a mudar seu curso dramaticamente e reorien-
tar-se para fazer uma política muito próxima à ortodoxia neoliberal,
com prioridade para a estabilidade monetária, a contenção do orça-
mento, concessões fiscais aos detentores de capital e abandono do
pleno emprego...
Na Espanha, o governo de Gonzáles jamais tratou de realizar uma
1983 política keynesiana ou redistributiva. Ao contrário, desde o início, o
regime do partido no poder se mostrou firmemente monetarista em
sua política econômica: grande amigo de capital financeiro, favorá-
vel ao princípio de privatização e sereno quando o desemprego na
Espanha rapidamente alcançou o recorde europeu de 20% da popu-
lação ativa...
Na Austrália e Nova Zelândia, o mesmo padrão assumiu proporções
verdadeiramente dramáticas. Sucessivos governos trabalhistas ul-
trapassaram os conservadores locais de direita com programas de
neoliberalismo radical - na Nova Zelândia, provavelmente o exemplo
mais extremo de todo o mundo capitalista avançado, desmontou-se
o Estado de bem-estar muito mais completa e ferozmente do que
Theacher na Inglaterra...
A hegemonia desse programa não aconteceu do dia para a noite, levou mais de
uma década, segundo Cerqueria (2008, p. 180-183):
O Surgimento do Neoliberalismo
II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
semprego, para enfraquecer o movimento sindical organizado, le-
vando no todo dessa proposição à perda de vantagens adquiridas e
acumuladas ao longo dos anos por parte dos trabalhadores, prin-
cipalmente, nas décadas 50 e 60 quando da pujança crescente do
capitalismo. Estas medidas são consideradas de suma importância,
pois contribuirão para a acumulação de capital das empresas, que
assim obterão poupança para novos investimentos;
Como visto na unidade I, os anos de 1980 foram cruciais para a criação do modelo
capitalista contemporâneo, pautado na mundialização/internacionalização/glo-
balização do capital. Isso ocorreu devido à crise do modelo socialista vivenciada
naquele período, verificou-se em âmbito mundial a efetivação da hegemonia do
modelo capitalista. Para se afirmar como força hegemônica, o sistema capitalista
“lança mão” de uma série de novos conceitos oriundos das escolas america-
nas de administração de empresas (Havard, Columbia e Stanford), publicados
mundialmente por meio de livros e artigos de marketing. Entre esses conceitos,
destacava-se a ideia de economia global, ou globalização (OLIVEIRA, 2012).
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A ideia central do con-
ceito caracterizava-se em
demonstrar aos dirigentes
industriais, políticos ameri-
canos e europeus o potencial
lucrativo mediante aliança/
cooperação entre os mes-
mos, em oposto à ideia
vigente de manutenção da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
disputa de poder baseada
em taxas de câmbio e na
manipulação da política industrial, desencadeando o processo de união dos
mais variados tipos de empresas da época, consolidando assim os oligopólios
internacionais ou empresas multinacionais (OLIVEIRA, 2012).
A novidade desse processo foi a criação de monopólios em países “subdesen-
volvidos”, o que significou a unificação de empresas monopolistas internacionais,
até então localizadas em países “desenvolvidos”, com empresas nacionais de países
“periféricos”, transformando ambas em empresas mundiais. O resultado disso,
por conseguinte, foi a unificação do capital nacional (valores relacionados à pro-
dução de bens de uma nação) perante o capital estrangeiro (valores relacionados
ao investimento financeiro internacional), a superação das contradições geradas
pela disputa de mercados e pelas fontes de matérias-primas entre as empresas
nacionais, em novas formas de relação política interna e na reorganização das
relações de trabalho (OLIVEIRA, 2012, p. 3).
O domínio e a consolidação desse processo se deram graças a três pro-
cedimentos inter-relacionados. O primeiro deles se refere à necessidade de
transferência de capital entre as multinacionais e suas filiais criadas princi-
palmente após a II Guerra Mundial para a reconstrução da Europa e depois o
Japão. Devido ao grande fluxo de capitais internacionais entre as empresas nesse
momento, ocorre a expansão de transações financeiras internacionalmente. Essas
transações originaram um novo filão para as empresas que capitalizavam seus
investimentos por meio da venda de títulos e ações aos investidores de forma
globalizada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nismos internacionais para
proteção dessas transações,
como a criação do Fundo
Monetário Internacional –
FMI e do Banco Mundial,
de organismos relacio-
nados aos Estados nação
como União Europeia— UE,
Tratado Americano de Livre
Comércio— NAFTA e o Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, onde se for-
mularam (e formulam) as normas para o funcionamento e manutenção desse
sistema em suas regiões. Um exemplo claro de como funcionam esses organis-
mos pode ser visto pelas regras estabelecidas pelo Washington Consesus para a
concessão de financiamento aos países endividados, as quais preveem primei-
ramente estabilização econômica através de ajustes e reformas estruturais, tais
como: privatizações e liberalização financeira/comercial para somente então con-
ceder os empréstimos, verificando-se a superioridade do mercado em relação às
economias nacionais (OLIVEIRA, 2012). Iamamoto (2006, p. 2) nos explica que:
O caráter conservador do projeto neoliberal se expressa, de um lado, na
naturalização do ordenamento capitalista e das desigualdades sociais
a ele inerentes tidas como inevitáveis, obscurecendo a presença viva
dos sujeitos sociais coletivos e suas lutas na construção da história; e,
de outro lado, em um retrocesso histórico condensado no desmonte
das conquistas sociais acumuladas, resultantes de embates históricos
das classes trabalhadoras, consubstanciadas nos direitos sociais univer-
Segundo Netto (2001), a expressão “questão social” tem história recente. Seu
emprego data de cerca de cento e setenta anos. Começou a ser utilizada na ter-
ceira década do século XIX e foi divulgada até a metade daquele centenário,
principalmente por críticos da sociedade e filantropos situados nos mais varia-
dos espaços do segmento político. Para Netto (2001, p. 42):
Desde um legitimista francês como Armand de Melun a um jovem re-
volucionário alemão como F. Engels, curiosamente a expressão “ques-
tão social” emerge praticamente ao mesmo tempo em que surge, no
vocabulário político, a palavra socialismo.
Dessa forma, a expressão surge para dar conta do fenômeno mais evidente da
história da Europa Ocidental que experimentava os impactos da primeira onda
industrializante, iniciada na Inglaterra nas quatro últimas décadas do século
XVIII, o pauperismo. Como efeito, a pauperização massiva da população tra-
balhadora constituiu o aspecto mais imediato da instauração do capitalismo em
seu primeiro estágio industrial-concorrencial e, não por acaso, engendrou uma
significativa base teórica. Consoante Paulo Netto (2001, p. 42):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
diferente apropriação dos bens sociais por aqueles que detinham o poder (clero,
nobreza) a aqueles que se subordinavam a ele (escravos, vassalos, artesãos), por
outro era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então se generalizava.
Isso porque, segundo Paulo Netto (2001), a pobreza crescia na razão direta
em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. Tanto mais a socie-
dade se revelava capaz de, progressivamente, produzir mais bens e serviços, mais
aumentava o contingente de seus membros que, além de não terem acesso efe-
tivo a tais bens, viam-se despossuídos das condições materiais de vida de que
dispunham anteriormente. Para Paulo Netto (2001, p. 43):
Isso significa que nas formas de sociedades precedentes à sociedade
burguesa, a pobreza estava ligada a um quadro geral de escassez, fenô-
meno este que se dissolve com o advento do capitalismo, devido aos
índices nunca antes visto de produção. A pobreza, ou pauperização,
aumentava na mesma proporção que a riqueza socialmente produzida.
O diferencial deste contexto estava no fato de que a classe operária, por um deter-
minado momento, se manteve dentro dos limites deste quadro, mas logo iniciou
a luta por melhorias. Luta essa que teve sua maior expressão nos acontecimen-
tos de 1848. De acordo com Paulo Netto (2001, p. 43):
O divisor de águas, também aqui, é a Revolução de 1848. O ano de 1848
marcou o continente europeu com movimentos revolucionários que,
a partir de Paris, tiveram rápida propagação nos grandes centros urba-
nos. A consolidação do poder político da burguesia e o surgimento do
proletariado industrial, enquanto força política, foram os reflexos mais
importantes daquele ano, que também foi marcado pela publicação do
“Manifesto Comunista” de Marx e Engels. De um lado, os eventos de
tendo sido cunhada por volta de 1830. Dessa forma, a questão social historica-
mente foi tratada sob o ângulo do poder, visto a ameaça que a luta de classes,
em especial o protagonismo da classe operária, representava à ordem instituída.
Segundo Iamamoto (2001, p. 11):
Isso porque, nessa tradição intelectual, o regime capitalista de produ-
ção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida
humana, quanto um processo que se desenvolve sob relações sociais-
-históricas-econômicas de produção específicas. Em sua dinâmica pro-
duz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de existência,
as relações sociais contraditórias e formas sociais através das quais se
expressam.
A autora Yazbek (2001, p. 33), no entanto, aponta que a questão social é o objeto
do Serviço Social, por estarem nela as condições de miserabilidade e exclusão
social, categorias latentes para o exercício profissional. Resgata a importância
de se ter, na definição de questão social, a concentração da luta entre a burgue-
sia e a classe trabalhadora.
Obviamente, parto do debate acumulado no âmbito do Serviço Social
que situa a “questão social” como referência para a ação profissional,
estou colocando a questão da divisão da sociedade em classes, cuja
apropriação da riqueza socialmente gerada é extremamente diferencia-
da. [...] Questão que se reforma e se redefine, mas permanece substan-
cialmente a mesma por se tratar de uma questão estrutural, que não
se resolve numa formação econômico social por natureza excludente.
Por fim, Pereira (2001) faz uma crítica à atualidade literária a respeito de uma
“nova questão social”, e se posiciona contrária a esse movimento, por acreditar que
os “novos reflexos” apenas atualizam as novas formas administrativas de acumu-
lação do capital. Assim, a questão social continua se manifestando por meio de
lutas de forças entre o capital e o trabalho. Nas palavras de Pereira (2001, p. 51):
[...] se partimos do princípio de que o conceito de questão social sem-
pre expressou a relação dialética entre estrutura e ação, na qual sujeitos
estrategicamente situados assumiram papéis políticos fundamentais na
transformação de necessidades sociais em questões – com vista a in-
corporá-las na agenda pública e nas arenas decisórias [...] não há nada
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de novo, somente uma nova roupagem para a contradição entre capital
e trabalho.
Dessa forma, é possível definir o conceito de questão social como sendo os reflexos
ocasionados pela exclusão da produção socialmente adquirida pelo estranha-
mento da classe trabalhadora e pela sua permanente luta contra a hegemonia da
classe burguesa. São reflexos da questão social: o aumento da violência; da misé-
ria/pobreza; os altos índices de desigualdade social e desemprego.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
São os países periféricos, todavia, os mais prejudicados com essa nova con-
juntura, chegando a índices alarmantes de desemprego, como: na África do Sul
44,2%, Argentina 38,2% e Brasil 17,9%, conforme apresenta a tabela 1.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
empregabilidade (POCHMANN et al., 2003).
Amazonas
Maranhão
Ceará Rio Grande
Pará do Norte
Paraíba
Piauí
Pernambuco
Acre
Alagoas
Goiás
Índice de Emprego Formal* Distrito
Federal
0.000 a 0.218
Minas Gerais
Paraná
N
Santa Catarina
O L
Rio Grande do Sul
Amazonas
Maranhão
Ceará Rio Grande
Pará do Norte
Paraíba
Piauí
Pernambuco
Acre
Alagoas
Goiás
Índice de Emprego Formal* Distrito
Federal
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
0.000 a 0.218
Minas Gerais
Paraná
N
Santa Catarina
O L
Rio Grande do Sul
vulnerabilidade, fragilidade,
dificuldade ou insegurança
(CASTEL, 2005).
Nessa mesma linha,
Pochmann et al. (2003, p.
103) apresentam que, com
o processo de minimiza-
ção do Estado e da abertura
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de mercado ocorrido nos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
anos de 1990, graças, prin-
cipalmente, ao aumento do
desemprego, precarização do trabalho assalariado, proliferação de terceirização,
subcontratação e flexibilização dos direitos trabalhistas, houve um salto em rela-
ção à pobreza e, consequentemente, em relação à desigualdade social no Brasil,
entre os anos de 1980 e 2000.
Nas palavras de Pochmann et al. (2003, p. 103), isso ocorre,
[...] principalmente após o processo de financeirização da economia,
ao gerar uma pressão suplementar sobre o processo de valorização do
capital. Implicou numa flexibilização do trabalho, do emprego e con-
sequentemente do salário, passando o sistema econômico em nome do
aumento da taxa média de lucro a exigir para sua produção e reprodu-
ção a precarização e a intensificação do trabalho.
Esses fatores podem ser visualizados nas figuras 3 e 4, nas quais se expõe que, na
década de 1980, apenas o Nordeste e o Estado do Acre encontravam-se em índi-
ces significativos de desigualdade, representados pelas cores vermelha, laranja e
amarela (figura 2), no ano de 2000, apenas a Região Sul e os Estados de São Paulo
e Rio de Janeiro apresentavam certo conforto em relação ao tema, representada
pela cor verde (figura 3). Nas outras regiões do país, agravou-se a distância entre
os 10% mais ricos e os 40% mais pobres.
Amazonas
Maranhão
Ceará Rio Grande
Pará do Norte
Paraíba
Piauí
Pernambuco
Acre
Alagoas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Goiás
Índice de Desigualdade Social* Distrito
Federal
0.000 a 0.068
Minas Gerais
Paraná
N
Santa Catarina
O L
Rio Grande do Sul
Amazonas
Maranhão
Ceará Rio Grande
Pará do Norte
Paraíba
Piauí
Pernambuco
Acre
Alagoas
Goiás
Índice de Desigualdade Social* Distrito
Federal
0.000 a 0.068
Minas Gerais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
São Paulo
0.229 a 1.000 Rio de Janeiro
Paraná
N
Santa Catarina
O L
Rio Grande do Sul
são das relações sociais, sendo condição inerente ao modelo capitalista, como
decorrência do chamado livre mercado (PAULO NETTO, 2001).
Paulo Netto (2001) salienta que no embate entre as propostas de combate à
pobreza, embora passíveis de crítica por serem vinculadas à legitimação do neo-
liberalismo, é possível identificar diversas tendências de amenização da exclusão
social, todas elas articuladas com políticas sociais públicas que, embora inci-
pientes perante a gravidade do problema, têm sua importância por revelar a
significância do Estado nesse processo.
■■ A primeira tendência diz respeito às “políticas sociais seletivas e focalizadas”,
a partir da identificação de bolsões de pobreza, segundo determinados
indicadores de desenvolvimento ou de exclusão social, como parte de
estratégia neoliberal de favorecimento de mercado, impondo-se condi-
ção secundária à ação social do Estado.
■■ A segunda, articulada à reforma do Estado, refere-se à revitalização da
“cultura da benemerência” que contempla o apelo às várias formas de soli-
dariedade, destacando-se o voluntariado.
■■ A terceira é a reedição, na “filantropia empresarial”, pelo apelo à respon-
sabilidade social, ao compromisso com a preservação ambiental, com a
“compatibilização economicamente correta” de lucro e ética empresa-
rial, à observância de princípios com “disclosure e social accountability”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do crescimento econômico” e consequentemente geração de emprego
e renda, a defesa de “estratégias redistributivas da renda nacional” por
meio de reforma tributária, revisão do salário mínimo, garantia de renda
mínima, provisão de meios para a segurança social.
■■ Uma sexta tendência é a “economia solidária”, terminologia que serve
para designar práticas econômicas populares que estão fora do assalaria-
mento formal, como comércio ambulante, pequenas oficinas, serviços
autônomos, as quais foram elevadas à categoria de políticas públicas em
2003 (BARBOSA, 2008), mas que também não respondem à questão
do desemprego. É apenas mais uma medida paliativa para amenizar os
reflexos da questão social aos trabalhadores excluídos e um novo mer-
cado para o capital.
A crítica em torno desse modelo de política pública está no fato de que, embora
importante, não tem o cunho emancipador, mas (mesmo que tenha ocorrido uma
progressiva evolução) resquícios de “clientelismo”, como é o caso do Programa
Bolsa Família, o qual tem a função de garantir redistribuição de renda, no entanto
não há medidas conjuntas que possam “libertar” o trabalhador dos ditames do
capital. Nesse contexto, Soares (1999) apresenta os aspectos administrativos e
políticos que fundamentam a ineficiência da política social no Brasil, conforme
apresenta o quadro 3.
Para Soares (1999), um projeto de Política Social que supere as condições
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS),
“O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de
renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobre-
za (com renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e extrema pobreza
(com renda mensal por pessoa de até R$ 70), de acordo com a Lei 10.836,
de 09 de janeiro de 2004 e o Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004”.
Para saber mais a respeito do programa, acesse: <http://www.mds.gov.br/
bolsafamilia>
Fonte: MDS. Bolsa Família. Brasília. Disponível em: <http://www.mds.gov.
br/bolsafamilia>. Acesso em: 20 maio 2015.
• Contribuições regressivas
• Opacidade ou transparência do gasto social – controle sobre
Aspectos o gasto
Financeiros
• Financiamento regressivo ou progressivo
• Cálculo de custos
• Não cumprimento da vocação de universalidade
• Polarização regional do gasto social
Problemas de
• Desatenção com setores pobres da população
impacto redis-
tributivo • Concentração de subsídios em grupos privilegiados (efeitos
regressivos)
• Filtrações do gasto com setores que não são o objeto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Efeitos negati-
vos da estrutu- • Excessiva concentração dos ativos com repercussões na
ra econômica pobreza estrutural
sobre a políti- • Estrutura concentrada da renda
ca social
Quadro 3: Problemas da Política Social no Brasil
Fonte: Soares (1999).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. A partir do quadro 03, “Problemas da Política Social no Brasil”, apresentado nesta
unidade, procure relacionar cada aspecto com a devida descrição:
( 01 ) Aspectos Financeiros
( 02 ) Problemas de Impacto Redistributivo
( 03 ) Aspectos Administrativos e Institucionais
( 04 ) Objetivos das Políticas
( 05 ) Aspectos Políticos
( 06 ) Qualidade dos Serviços
( 07 ) Eficácia dos Serviços e do Gasto Social
( 08 ) Efeitos Negativos da Política Econômica sobre a Social
( 09 ) Efeitos Negativos da Estrutura Econômica sobre a Política Social
( ) Mecanismos regressivos da política econômica / Redução inadequada do
gasto social / Redução da receita devido à contrações no emprego / Pressões
sobre o gasto para atender a setores que não podem satisfazer suas necessida-
des, devido a fatores de distribuição de renda / Efeitos regressivos da política
econômica na estrutura da receita / Inadequada participação de diversos grupos
sociais no financiamento do gasto social.
( ) Não cumprimento da vocação de universalidade / Polarização regional do
gasto social / Desatenção com setores pobres da população / Concentração de
subsídios em grupos privilegiados (efeitos regressivos) / Filtrações do gasto com
setores que não são o objeto.
( ) Participação da burocracia nas decisões / Clientelismo e privilégio versus
universalidade e seletividade progressiva / Corporativismo em diversos níveis /
Debilidade da base social de apoio às políticas devido ao conflito distributivo e à
crise fiscal / Regimes políticos não democráticos / Insatisfação dos usuários com
os serviços / Pressões externas para a redução do espaço de ação estatal.
( ) Contribuições regressivas / Opacidade ou transparência do gasto social –
controle sobre o gasto / Financiamento regressivo ou progressivo / Cálculo de
custos.
( ) Inadequação em face do crescimento da população / Baixa eficiência da
cobertura / Inadequação às necessidades / Baixos rendimentos / Segmentação
com acesso desigual e diversidade de prestações em detrimento dos politica-
mente mais fracos / Influências corporativas.
( ) Ausência de trajetória orgânica, coordenada e coerente das políticas / Tra-
dicionalismo, inércia e descontinuidade / Competição entre as diversas institui-
ções da política social / Fragmentação, superposição, duplicidade.
71
Dimensões da Globalização
Giovane Alves
Editora: Praxis
Sinopse: O livro Dimensões da Globalização é um resultado
teórico-prático de um percurso de reflexão intelectual buscando
compreender, numa perspectiva dialética, um tema maldito: o
problema da globalização. É um livro de ensaios, o que significa que
possui ainda um caráter iniciático e inacabado, sugerindo algumas
linhas de reflexões que procuram sair do lugar-comum sobre a
discussão da “globalização”. O livro procura estar organizado em três
partes: a primeira, que dá título ao livro, Dimensões da Globalização;
a segunda, Sociologia da Globalização; e a terceira, Globalização e
Trabalho.
Material Complementar
Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues Chiappetta
Professora Esp. Daniela Sikorski
III
A CONSTRUÇÃO DO
UNIDADE
PROJETO PROFISSIONAL
DO SERVIÇO SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar como ocorreram as mudanças estruturais dentro do
Serviço Social nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Breves considerações acerca das tendências históricas e
téorico-metodológicas do debate profissional
■■ O Serviço Social nos anos 80: as tendências históricas e
teórico-metodológicas do debate profissional
■■ O Serviço Social nos anos 90: as tendências históricas e
teórico-metodológicas do debate profissional
77
INTRODUÇÃO
Introdução
III
Caro(a) aluno(a), este tópico tem por finalidade introduzir as discussões que serão
apresentadas nos dois tópicos seguintes e fornecer elementos para a compreen-
são da próxima unidade de estudo. Aproveite esta síntese para se familiarizar um
pouco mais com a história da nossa profissão. Vamos lá? Boa leitura e sucesso!
O Serviço Social não pode ser desvinculado da dinâmica social. Ele é fruto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dessa dinâmica, aparecendo na sociedade como uma exigência da dinâmica capi-
tal/trabalho. A expansão de um mercado nacional de trabalho se dá em torno
da década de 50 e início da década de 60, guardando uma íntima relação com o
processo de redimensionamento do capital.
O Estado (que era e ainda é o principal empregador de assistentes sociais,
além das médias e grandes empresas privadas e estatais) reorganiza-se, racionali-
za-se, reequaciona-se, não só no sentido das políticas setoriais (prioritariamente
voltadas para favorecer o grande capital), mas, especialmente, em toda a malha
organizacional encarregada de planejá-las e executá-las.
Tal processo levará a se reclamar da profissão um novo tipo de formação pro-
fissional (não mais confessional, porém, mais técnica), necessitando um influxo
da sociologia, da psicologia social, da antropologia.
Um dos elementos caracterizadores da renovação do Serviço Social é sua
laicização, pois como ela vem sendo feita a diferenciação e a disputa pela hege-
monia (projetos de formação, órgãos de representação), por um lado implicará
um pluralismo profissional, por outro, sua proximidade com as disciplinas das
ciências sociais, das quais ele passa a ser um interlocutor e não meramente um
consumidor.
Esta requisição do Serviço Social, por parte do capital, faz com que cresçam
o número de empregos e de cursos de Serviço Social em todo o país.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o movimento estudantil, perturbando o próprio local de formação.
Esse processo erosivo, que se explicitou na América Latina a partir de 1965,
e que teve a sua curva ascendente por quase uma década, foi chamado movi-
mento de “Reconceituação ou Reconceptualização do Serviço Social”.
José Paulo Netto, estudando esse fenômeno no Brasil, identifica nele três
direções, denominadas de perspectiva modernizadora, perspectiva de reatuali-
zação do conservadorismo e perspectiva de intenção de ruptura.
A perspectiva modernizadora aceita como dado inquestionável a ordem
sociopolítica derivada de abril, que aborta de certa maneira lastros mais crí-
ticos que se gestavam então na profissão. Ela coloca a proposta de um Serviço
Social interveniente, dinamizador e integrador no processo de desenvolvimento.
O subdesenvolvimento é entendido como
uma etapa do processo cumulativo, que
submetido a intervenções racionais e plane-
jadas conduziria ao desenvolvimento, daí a
necessidade de induzir mudanças (a quase
identificação entre o processo de desenvol-
©istock
Você sabe o que quer dizer o termo autocracia? O termo apareceu algumas
vezes no texto. Segue uma definição que separei para você, e fica a dica,
sempre que tiver dúvida, pesquise, se informe e procure ampliar seus co-
nhecimentos.
“A autocracia trata-se de uma forma de governança com poder centraliza-
do, não permitindo a participação de outros indivíduos ou grupos sociais.
Esse modelo de governo foi característica em alguns instantes históricos
da humanidade, embora hoje o modelo mais aplicado no mundo seja a de-
mocracia, isto não impede que alguns personagens políticos coloquem-se
sobre os outros poderes para manter lugar por tempo indefinido. A palavra
autocracia deriva do termo grego “autos” que significa um só e “kratos” que
significa governo. Definindo assim que autocracia significa um só governo.
A autocracia é um tipo de governo que, mesmo sendo eleito diretamente ou
não, é a governança por somente uma pessoa, podendo ter origens diferen-
tes: militar, profissional, sindical etc. Sendo assim, não significa que seja um
elemento determinante, na história dos governos autocráticos contamos
com líderes de diferente estrato social. Entretanto, podemos dizer que o
elemento determinante desse governo é a personalidade e caráter do líder,
cujos planos ou decisões são impostos com firmeza. (...) ”
Fonte: QUECONCEITO. Conceito de Autocracia. Disponível em: <http://
queconceito.com.br/autocracia#ixzz3Xi1A92PB>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como já foi dito, a profissão só pode ser pensada dentro da dinâmica da
sociedade e não fora dela. Essa dinâmica precisa ser apreendida, e ela só o é pelo
processo da investigação, no qual se procure reproduzir idealmente o movi-
mento real (efetuado por um sujeito cognoscente), situado em um contexto
histórico e social.
Além dessa preocupação com o “como fazer”, no sentido de empreitada de
uma prática profissional, situada dentro de uma contradição, na qual, por um lado
se reitera o processo capitalista (que exige isto da profissão), e por outro, na busca
de formas (a partir do entendimento da existência de certo espaço de autonomia
relativa) que possibilitem uma reflexão de questões estruturais e conjunturais, a
partir do imediato que se apresenta como motivo de recorrência da população
ao Serviço Social ou de intervenção do profissional, a profissão deve respon-
der a novos desafios colocados pela dinâmica da ordem burguesa, tais como: a
ofensiva neoliberal sobre a falência do welfare state, a crise do chamado “socia-
lismo real” e o pretenso discurso de desqualificação da obra de Marx, movidos
por setores neoliberais e pós-modernos, bem como um quadro social e econô-
mico internacional, decorrente do processo do desenvolvimento capitalista, em
que a concentração de riquezas e o aumento da pobreza são cada vez maiores.
Caro(a) aluno(a), vamos dar início às discussões retomando que, por intermédio
do processo de reconceituação profissional, o Serviço Social perpassou por várias
vertentes teóricas, se destacando a fenomenológica e a marxista. No entanto, foi
a teoria marxista que apresentou maior teor de informação e sustentação teórica
para explicar as complexas transformações sociais ocasionadas pelo modelo de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Este referencial, a partir dos anos 80 e avançando nos anos 90, vai im-
primir direção ao pensamento e à ação do Serviço Social no país. Vai
permear as ações voltadas à formação de assistentes sociais na socieda-
de brasileira (o currículo de 1982 e as atuais diretrizes curriculares); os
eventos acadêmicos e aqueles resultantes da experiência associativa dos
profissionais, como suas Convenções, Congressos, Encontros e Semi-
nários; está presente na regulamentação legal do exercício profissional
e em seu Código de Ética. Sob sua influência ganha visibilidade um
novo momento e uma nova qualidade no processo de recriação da pro-
fissão na busca de sua ruptura com seu histórico conservadorismo (cf.
NETTO, 1996, p. 111) e no avanço da produção de conhecimentos, nos
quais a tradição marxista aparece hegemonicamente como uma das re-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ferências básicas. Nesta tradição o Serviço Social vai apropriar-se a par-
tir dos anos 80 do pensamento de Antonio Gramsci e particularmente
de suas abordagens acerca do Estado, da sociedade civil, do mundo dos
valores, da ideologia, da hegemonia, da subjetividade e da cultura das
classes subalternas. Vai chegar a Agnes Heller e à sua problematização
do cotidiano, à Georg Lukács e à sua ontologia do ser social fundada no
trabalho, à E.P. Thompson e à sua concepção acerca das “experiências
humanas”, à Eric Hobsbawm um dos mais importantes historiadores
marxistas da contemporaneidade e a tantos outros cujos pensamentos
começam a permear nossas produções teóricas, nossas reflexões e po-
sicionamentos ídeo-políticos.
Esse processo não foi consensual e simples, mas necessário para a criação de
um debate denso e plural, com o intuito de consolidar a base teórica do Serviço
Social brasileiro.
As teorias sociais auxiliam na explicação das relações entre os homens,
de forma geral ajudam a entender a interpretação dos homens com os outros
homens e com seu ambiente. As teorias sociais são formuladas por pensadores
que se preocupam com a situação da sociedade e tentam elaborar um conjunto
de ideias, analisando o processo histórico-social.
Para Yazbek (2009, p. 12):
Obviamente, este processo de construção da hegemonia de novos re-
ferenciais teórico-metodológicos e interventivos, a partir da tradição
marxista, para a profissão ocorre em um amplo debate em diferentes
fóruns de natureza acadêmica e/ou organizativa, além de permear a
produção intelectual da área. Trata-se de um debate plural, que implica
na convivência e no diálogo de diferentes tendências, mas que supõe
uma direção hegemônica. A questão do pluralismo, sem dúvida uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Neste momento, caro(a) aluno(a), façamos uma pequena pausa para uma refle-
xão. É importante frisar que o serviço social não é a junção de várias teorias
sociais, mas uma profissão de caráter interventivo na sociedade, a qual as teorias
sociais tentam explicar de acordo com o contexto social. Como o próprio nome
já lembra, nossa intervenção está ligada aos problemas sociais, às relações sociais
e humanas dos indivíduos. Desta maneira, para se conhecer as várias interpre-
tações que os cientistas sociais propõem para os diversos problemas, você deve
estar atento(a) para compreender que são interpretações, e não soluções, se não
são soluções, nenhuma teoria social fornece uma receita para a intervenção.
Também não se escolhe uma teoria social em função dos problemas que serão
encontrados, para obter a melhor solução e assim buscar a mudança do quadro
social. Devemos e podemos trabalhar para melhorar as condições de vida, mas
é impossível via qualquer profissão se alterar estruturalmente uma sociedade.
Voltando assim a Yazbek,
Cabe também assinalar que nos anos 80 começam a se colocar para o
Serviço Social brasileiro, demandas, em nível de pós-graduação, de ins-
tituições portuguesas, e latino americanas (Argentina, Uruguai, Chile),
o que vem permitindo ampliar a influência do pensamento profissional
brasileiro nestes países. Também no âmbito da organização e represen-
tação profissional o quadro que se observa no Serviço Social brasileiro
é de maturação (NETTO, 1996, p. 108-111). Maturação que expressa
na passagem dos anos 80 para os anos 90 rupturas com o seu tradicio-
nal conservadorismo, embora como bem lembre o autor “essa ruptura
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so de Washington, as reformas neoliberais e a redução da autonomia
nacional, a adoção de medidas econômicas e o ajuste fiscal vão se ex-
pressar no crescimento dos índices de pobreza e indigência. É sempre
oportuno lembrar que, nos anos 80 e 90 a somatória de extorsões que
configurou um novo perfil para a questão social brasileira, particular-
mente pela via da vulnerabilização do trabalho, conviveu com a erosão
do sistema público de proteção social, caracterizada por uma pers-
pectiva de retração dos investimentos públicos no campo social, seu
reordenamento e pela crescente subordinação das políticas sociais às
políticas de ajuste da economia, com suas restrições aos gastos públicos
e sua perspectiva privatizadora (cf. YAZBEK, 2004). É nesse contexto, e
na “contra mão” das transformações que ocorrem na ordem econômica
internacional mundializada que o Brasil vai instituir constitucional-
mente em 1988, seu sistema de Seguridade Social.
Paralelamente ao desmantelamento
do Estado, o neoliberalismo atacou
de forma intransigente o mundo do
trabalho. Facilitado pelo processo de
terceirização, a fragilização das orga-
nizações sindicais ou de representação
do trabalhador foi inevitável, e a classe
trabalhadora viu os seus direitos con-
quistados em décadas de luta ser
eliminados paulatinamente. Ainda em
Yazbek (2009, p. 15):
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ta contemporânea. Exemplos desta opção podem ser observados em
diversos países do Continente latino‐americano como no Chile e na
Argentina.
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à pobreza e exclusão social,
ocasionadas por esse pro-
cesso. Para Yazbek (2009,
p. 15):
Inserido neste processo contraditório o Serviço Social da década de
90, se vê confrontado com este conjunto de transformações societárias
no qual é desafiado a compreender e intervir nas novas configurações
e manifestações da “questão social”, que expressam a precarização do
trabalho e a penalização dos trabalhadores na sociedade capitalista
contemporânea. Trata-se de um contexto em que são apontadas alter-
nativas privatistas e refilantropizadas para questões relacionadas à po-
breza e à exclusão social. Cresce o denominado terceiro setor, amplo
conjunto de organizações e iniciativas privadas, não lucrativas, sem
clara definição, criadas e mantidas com o apoio do voluntariado e que
desenvolvem suas ações no campo social, no âmbito de um vastíssimo
conjunto de questões, em espaços de desestruturação (não de elimi-
nação) das políticas sociais, e de implementação de novas estratégias
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
movimentos da sociedade civil que envolveram fóruns políticos, enti-
dades assistenciais e representativas dos usuários de serviços assisten-
ciais.
Por fim, a autora sinaliza que as mudanças ocorridas no contexto social, eco-
nômico e político, após a implantação do neoliberalismo, também refletiram
no interior da profissão, especialmente, através da precarização do trabalho do
Assistente Social. Devido ao fato que embora o Assistente Social seja um profis-
sional liberal, este, pelas particularidades da profissão, está inserido no quadro
geral e mais amplo do mercado de trabalho e sujeito às mesmas condições de
mudança que perpassam o mundo do trabalho. Conforme Yazbek (2009, p. 17):
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Cabe ainda assinalar outra questão que permeou o debate dos assis-
tentes sociais nesta conjuntura: trata‐se do movimento de precarização
e de mudanças no mercado de trabalho dos profissionais brasileiros,
localizado no quadro mais amplo de desregulamentação dos mercados
de trabalho de modo geral, quadro em que se alteram as profissões, re-
definem‐se suas demandas, monopólios de competência e as próprias
relações de trabalho. Aqui situamos processos como a terceirização,
os contratos parciais, temporários, a redução de postos de trabalho, a
emergência de novos espaços de trabalho como o Terceiro Setor, a exi-
gência de novos conhecimentos técnico‐operativos, ao lado do declínio
da ética do trabalho e do restabelecimento exacerbado dos valores da
competitividade e do individualismo. Não podemos esquecer que a re-
estruturação dos mercados de trabalho no capitalismo contemporâneo
vem se fazendo via rupturas, apartheid e degradação humana.
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intuitivo, do efêmero e do microssocial (em si mesmos) restaurando
o pensamento conservador e antimoderno. Seus questionamentos são
também dirigidos à ciência que esteve mais a serviço da dominação do
que da felicidade dos homens. Assim ao afirmar a rejeição à ciência o
pensamento pós-moderno rejeita as categorias da razão (da Moderni-
dade) que transformaram os modos de pensar da sociedade, mas não
emanciparam o homem, não o fizeram mais feliz e não resolveram pro-
blemas de sociedades que se complexificam e se desagregam. O posi-
cionamento pós-moderno busca resgatar valores negados pela moder-
nidade e cria um universo descentrado, fragmentado relativo e fugaz.
Para Harvey (1992) as características da pós-modernidade são produ-
zidas historicamente e se relacionam com a emergência de modos mais
flexíveis de acumulação do capital. Observe-se que a complexidade da
questão não está na abordagem de questões micro sociais, locais ou
que envolvam dimensões dos valores, afetos e da subjetividade humana
(questões de necessário enfrentamento), mas está na recusa da Razão
e na descontextualização, na ausência de referentes históricos, estru-
turais no não reconhecimento de que os sujeitos históricos encarnam
processos sociais, expressam visões de mundo e tem suas identidades
sociais construídas na tessitura das relações sociais mais amplas. Rela-
ções que se explicam em teorias sociais abrangentes, que configuram
visões de mundo onde o particular ganha sentido referido ao genérico.
Cabe assinalar ainda que, todo este debate que é apresentado no âmbito
das ciências sociais contemporâneas como crise de paradigmas, em ter-
mos da capacidade explicativa das teorias recoloca a polêmica Razão/
Intuição que tem repercussões significativas na pesquisa, na constru-
ção de explicações sobre a realidade e na definição de caminhos para
a ação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Quais as principais tendências do Serviço Social, nos anos 80, do ponto de vista
da produção de conhecimentos e do exercício profissional?
2. Quais as principais tendências do Serviço Social, nos anos 90, do ponto de vista
da produção de conhecimentos e do exercício profissional?
3. A emergência de um debate teórico-metodológico, principalmente a partir dos
meados_________, está diretamente vinculada à inserção da profissão no cir-
cuito universitário: a pesquisa, a investigação, que subjazem àquele debate seria
impensável sem as condições próprias do trabalho acadêmico.
a) da década de 70.
b) da década de 60.
c) da década de 90.
d) de 2005.
e) de 1940.
101
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
IV
OS PROJETOS SOCIETÁRIOS, OS
UNIDADE
PROJETOS PROFISSIONAIS E O
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
DO SERVIÇO SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Discutir a natureza ontológica dos projetos societários.
■■ Compreender a relação entre projetos societários e projetos
profissionais.
■■ Relacionar o desenvolvimento do projeto ético político profissional
no marco de projetos societários concorrentes.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os projetos societários da classe trabalhadora e os projetos
societários do capital
■■ Projetos Profissionais e projeto ético-político
■■ O desenvolvimento dos projetos profissionais no marco do
movimento de reconceituação
■■ Projeto ético-político do serviço social
109
INTRODUÇÃO
Introdução
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS PROJETOS SOCIETÁRIOS DA CLASSE
TRABALHADORA E OS PROJETOS SOCIETÁRIOS DO
CAPITAL
Diante dessa questão, podemos perceber que é a partir do trabalho que os homens
conseguem materializar— objetivar – a sua consciência, vida, identidade, relações
sociais, cultura, valores morais, ética, educação e, no caso da nossa discussão,
idealizar um determinado tipo de sociedade, aliás, um determinado projeto
societário.
Agora que retomamos esses dois conceitos, podemos relacioná-los e estabe-
lecer a seguinte conclusão: conforme são desenvolvidas as relações sociais no
modo de produção capitalista, mediadas pelo trabalho, a burguesia e prole-
tariado idealizam um determinado tipo de sociedade que busca atender aos
seus interesses de classe, os quais visam, ou a manutenção dessa relação, ou
a sua superação, buscando uma sociedade livre, sem exploração de classe.
Os projetos societários exprimem a construção de uma sociedade ideal de
acordo com os interesses em disputa e partem da contradição existente na rela-
ção entre capital e trabalho. O conflito de classes nos apresenta diferentes projetos
societários que no seu desenvolvimento contraditório movimentam a história.
Segundo Marx e Engels (1998, p. 41), “a história da sociedade até os nossos dias
tem sido a história da luta de classes”.
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Dito isso, Netto (1999) apresenta algumas características sobre os proje-
tos societários que merecem destaque:
■■ A concorrência entre diferentes projetos societários é um fenômeno pró-
prio da democracia política; é quando se conquistam e se garantem as
liberdades políticas fundamentais que distintos projetos podem confron-
tar-se e disputar a adesão dos membros da sociedade.
■■ Os projetos societários que correspondem aos interesses da classe traba-
lhadora sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar
ou superar os projetos societários burgueses. Entretanto, isso não signi-
fica que não possam ser alcançados, mas dependem de crises estruturais
criadas pela própria incontrolabilidade de acumulação capitalista para que
haja a sua superação e a incorporação de um novo projeto de sociedade.
■■ São projetos que se constituem como macroscópicos e somente eles têm
essa característica. De acordo com Netto (1999, p. 2), “Trata-se daqueles
projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que
reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos
meios (materiais e culturais) para concretizá-la”.
■■ Nos projetos societários há necessariamente uma dimensão política que
envolve relações de poder; essa questão coloca o Estado como mediador
da relação entre capital e trabalho, e de acordo com um determinado pro-
jeto societário, manifesta no terreno político as relações de poder.
a pobreza.
Conforme as características
apresentadas anteriormente,
podemos compreender que
os projetos societários são
dimensões inerentes das
relações sociais dos sujeitos,
e que do mesmo modo que
são criados pela mão e pela
cabeça humana – mediados
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pelo trabalho e pela práxis
– também podem ser supe-
rados por eles. Essa questão demonstra a impossibilidade de conceber a história
como um fim pronto e acabado, como se o modo de produção capitalista fosse
algo natural da vida social, que não pode ser superado.
Embora o poder da classe dominante seja o poder dominante, a história já
demonstrou que este pode mudar de mãos, diante da própria contradição exis-
tente nas relações sociais, pois são nos conflitos e nos embates que os problemas
se agravam e exigem cada vez mais medidas radicais para serem superados.
Esse aspecto pode ser algo distante da nossa compreensão, mas sugerimos
que assista a filmes que retratam os séculos XVI, XVII e XVIII na Europa. Você
verá que a classe que detinha o poder não era a burguesia, mas a monarquia e
o clero, os quais sustentavam uma relação social feudal, concebida como algo
determinado por Deus e como tal não poderia ser contestado.
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poder junto do desenvolvi-
mento de um novo projeto
societário muito diverso do
anterior.
As discussões levan-
tadas nas unidades I e II
deste livro apresentam que
no século XX os projetos
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societários continuam em
constante disputa, de um
lado o bloco capitalista e do
outro a aliança socialista que demonstrou a sua força no Leste Europeu. Diante
das condições concretas, a classe que detém o poder político econômico, ideoló-
gico e bélico continua sendo o capital, porém isso não significa que não existam
resistências a esse projeto; Cuba é um exemplo disso.
Por isso, caro(a) aluno(a), devemos ter clareza que os projetos societá-
rios em disputa exigem que os projetos profissionais sejam projetos políticos,
pois o direcionamento do projeto profissional se relaciona com as idealiza-
ções dos projetos societários, e neste aspecto não cabe a existência de um
projeto profissional neutro.
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PROJETOS PROFISSIONAIS E PROJETO
ÉTICO-POLÍTICO
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momento em que o Serviço
Social assume certas inquie-
tações e questionamentos
que sua visão tradicional e
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conservadora sobre o modo
de produção capitalista
não conseguia responder.
Reformulações teóricas, políticas, metodológicas e operativas surgem no arca-
bouço do Serviço Social latino-americano, impondo a necessidade de construção
de um novo projeto profissional que se posicionasse frente ao conflito de classes.
Na década de 1960, os assistentes sociais organizaram vários encontros –
nacionais e regionais – para pôr em pauta assuntos de grande interesse para a
categoria, que de modo geral buscava questionar o posicionamento da profissão
em relação ao imperialismo norte-americano que impulsionava no Brasil a era
desenvolvimentista. Dentre esses encontros, destaca-se o II Congresso Brasileiro
realizado no Rio de Janeiro, em 1961, que discutiu o tema “Desenvolvimento
nacional para o bem-estar social”. No ano seguinte ocorreu a Conferência
Internacional Petrópolis que discutiu o tema “Desenvolvimento de comunida-
des urbanas e rurais” (NETTO, 2005).
A partir de 1965 começa a ocorrer uma profunda erosão do Serviço Social
tradicional em muitos países, que historicamente se explicava por uma crise do
capitalismo nesse período. Esse período compreendido entre as décadas de 1960
e 1970 foi marcado por uma forte crítica às práticas empíricas, burocratizadas,
funcionalistas da profissão, as quais visavam ajustar o indivíduo ao capitalismo,
dora, exploradora”.
A esse respeito, Netto (2005) e Faleiros
(2004) afirmam que durante as ditaduras
civis militares, patrocinadas pelos Estados
Unidos, o Serviço Social latino-americano
atentou para a urgência de se desvincu-
lar do conservadorismo e tradicionalismo
profissionais. Afinal, o momento era pro-
pício para o levantamento de temas que
defendiam a abertura democrática diante
de tamanha repressão militar alçada por
interesses burgueses.
Diante da repressão intensificada nos ©istock
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profissional, repercutiam as exigências políticas e sociais postas na or-
dem do dia pela ruptura do regime ditatorial.
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O processo de renovação do Serviço Social, expresso na vertente de ruptura
com o conservadorismo e tradicionalismo na profissão, desenvolve-se no
interior da autocracia burguesa em plena vigência do regime ditatorial, em
um contexto de espraiamento das lutas contra a ditadura e no processo de
democratização do país, aliadas à luta anti-imperialista, anticapitalista e no
horizonte socialista.
Fonte: ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. O Projeto Ético-Político Profissio-
nal do Serviço Social Brasileiro. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.
Por que a intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional teve sua
maior expressão a partir dos anos 1970?
Fonte: a autora.
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■■ Intenção de Ruptura – esta vertente buscava romper com a visão con-
servadora da profissão a partir das referências teórico-metodológicas
marxistas, remetendo a consciência da inserção da profissão na socie-
dade de classes, que no Brasil vai configurar-se, num primeiro momento,
na aproximação do Marxismo, mas um marxismo sem Marx. Segundo
Netto (2008), esse primeiro momento tem como referência o desenvolvi-
mento de um grupo de estudos da Universidade Católica de Minas Gerais,
conhecido como Método BH. Esse grupo tinha como ponto de partida
a análise crítica do marxismo de Louis Altusser que discutia ser as insti-
tuições o aparelho ideológico do Estado. Essa apropriação se caracteriza,
quer pelas abordagens reducionistas do marxismo, quer pela influência
do cientificismo e do formalismo metodológico com bases estruturalis-
tas presentes no marxismo althusseriano, que vai influenciar a proposta
marxista do Serviço Social nos anos 1970. Observamos que, em relação à
intenção de ruptura, o debate teórico marxista esvaziado de Marx trouxe
para a profissão a militância política, mas não ofereceu de fato a constru-
ção de um projeto profissional munido dos referenciais teórico-críticos
da teoria marxista em sua origem.
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volvimento econômico dentro das indústrias, na contramão, acabava por aumentar
o índice de desemprego criando um ‘mercado de substituição’ (BEHRING;
BOSCHETTI, 2006, p. 117).
A retomada da taxa de lucros no mercado econômico perpassou por uma
série de reformas tanto em seu contexto comércio-industrial como no seu projeto
societário, posteriormente com a incorporação da política neoliberal em substi-
tuição ao liberalismo econômico e social. Dentre as medidas tomadas pelo Estado,
Behring e Boschetti (2006, p. 41) pontuam as principais e mais significativas:
[...] a exemplo do Brasil [...] em situação de penúria e endividamento.
Mandel analisa os esforços do capital para uma retomada das taxas de
lucro nos anos de 1980, que passaram por: eliminação, absorção ou
redução da atividade de empresas menos rentáveis; introdução de téc-
nicas de produção mais avançadas; redução da produção de produtos
com demanda em estagnação e aumento daqueles com maior procura;
investimentos de racionalização de custos com matérias-primas, ener-
gia, força de trabalho e emprego de capital fixo; crescimento da veloci-
dade de circulação do capital; intensificação dos processos de trabalho,
no sentido de aumentar de maneira mais durável a taxa de mais valia
relativa; redistribuição de antigos mercados, dentre outros.
Para Behring e Boschetti (2006, p. 124), essas medidas implicaram em uma “ati-
tude defensiva e ainda mais corporativa dos trabalhadores formais e um intenso
processo de desorganização política de resistência operária e popular”, na qual
a defesa por um novo modelo de organização política e econômica surte efeito
com massificação das classes sociais na conquista da democracia e da extinção
da ditadura militar.
Desta forma, o Serviço Social incorpora esse processo de lutas, e nos dizeres
de Abramides (2006, p. 33), a “vinculação com o movimento social se torna
constitutivamente determinante na construção do Projeto Ético Político
Profissional, [...] que supõe o compromisso com os interesses imediatos e
históricos da classe trabalhadora”.
Sobre essa questão, a autora Teixeira salienta a principal razão de o projeto
profissional do Serviço Social ser um Projeto Ético-Político:
Assim, temos um pressuposto fundante do projeto ético-político:
a sua relação ineliminável com os projetos de transformação ou de
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diante dessa concepção sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social, o seu
desenvolvimento requer uma estrutura básica, apresentada por Netto (1999, p. 3):
Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão,
elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam
seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e
institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o com-
portamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações
com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as
organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Esta-
do, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais).
Sobre essa questão, já observamos que mesmo que um projeto não assuma
sua posição frente aos interesses concorrentes entre projetos coletivos e
societários, automaticamente está assumindo um posicionamento, seja
ele transformador ou conservador.
■■ Sobre o caráter político dos projetos, o autor Netto (1995, p. 5) explica:
É importante ressaltar que os projetos profissionais também têm ineli-
mináveis dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas
relações com os projetos societários), seja em sentido estrito (referido
às perspectivas particulares da profissão). Porém, nem sempre tais di-
mensões são explicitadas, especialmente quando apontam para dire-
ções conservadoras ou reacionárias. Um dos traços mais característi-
cos do conservadorismo consiste na negação das dimensões políticas
e ideológicas.
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da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, Lei Orgânica da
Saúde (LOS) (NETTO, 1995; TEIXEIRA, 2009).
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consciente e pautada na análise crítica, ancorada numa teoria que consiga expli-
car o movimento do real. Pode parecer utópico alcançar uma sociedade para
além do capital, mas a história nos dá provas constantes de que a classe que luta
é a classe que tem o futuro nas mãos. É importante trazer uma frase para finali-
zar esta unidade, que nos diz:
Cabe a nós, assistentes sociais, decidir a que projeto societário o projeto pro-
fissional atenderá, a transformação ou a manutenção!
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
zação de projetos de sociedade. Estes são os projetos societários que apresentam
de um lado a busca pela manutenção dessas relações sociais capitalistas, ou a sua
superação, almejando uma sociedade livre, justa, emancipada e igual para todos.
O posicionamento da categoria profissional frente a tais projetos de socie-
dade se modificou ao longo da história, apresentando que a visão tradicional
do Serviço Social, em relação à realidade social, demonstrava que o seu projeto
profissional não era um projeto ético-político, mas um projeto conservador e
incapaz de compreender de fato o que é a sociedade capitalista.
Na medida em que a história avança e se agravam os conflitos de classe,
principalmente com o fortalecimento da consciência da classe trabalhadora em
luta por direitos, o debate teórico-metodológico incorpora a teoria marxista e,
por intermédio de lentes que possibilitaram sair da aparência dos fenômenos e
compreender a essência desse modo de produção e de relações sociais, a cate-
goria busca, a partir do movimento de reconceituação e principalmente após a
queda do regime militar, construir o que denominamos de projeto ético-polí-
tico profissional.
Esse projeto ético-político profissional busca na sua essência construir um
projeto profissional articulado com os interesses societários da classe trabalha-
dora de transformação social, que diante da sua condição de exploração se alia
a projetos coletivos profissionais para buscar a superação dessas relações e subs-
titui-las por meios de produção e de vida que garantam a divisão da riqueza
socialmente produzida e com ela e emancipação humana dos sujeitos na sua
complexidade. Por essas questões devemos caminhar, mesmo que a passos len-
tos, para uma sociedade livre, justa e igual para todos.
Devemos salientar que essa posição ética e política não é construída sob bases
manipulatórias e argumentos vazios, muito pelo contrário, é produto teórico e
prático dessas mesmas relações sociais que, a partir do método de apreensão
do movimento do real e de teoria do real, nos permitiu e continua permitindo
elevar ao pensamento a essência do modo de produção capitalista, e a partir da
compreensão clara da sua estrutura e dinâmica é impossível conceber esta socie-
dade como a melhor possibilidade de vida social para todos.
Partindo desse pressuposto, uma sociedade livre não é a que pensa. “O meu
direito termina quando começa o do outro”, isso é uma concepção individualista
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Considerações Finais
1. De acordo com a unidade IV do livro, quais são os principais aspectos jurídicos
legais que materializam o projeto ético-político do Serviço Social?
2. No âmbito do Movimento de Reconceituação, quais foram as três vertentes que
apresentaram projetos profissionais diferentes?
3. Por que o projeto profissional hegemônico do Serviço Social é um projeto
Ético -Político?
137
Material Complementar
Professora Esp. Daniela Sikorski
V
O MOVIMENTO SÓCIO-HISTÓRICO E AS
UNIDADE
DEMANDAS TRADICIONAIS
E EMERGENTES NA SOCIEDADE
BRASILEIRA COLOCADAS À PROFISSÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar o Serviço Social na contemporaneidade.
■■ Proporcionar a articulação entre os conteúdos trabalhados na
disciplina.
■■ Contextualizar quanto à prática profissional do Assistente Social na
atualidade, analisando os movimentos sócio-históricos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Serviço Social na contemporaneidade
■■ Demandas tradicionais e emergentes na sociedade brasileira
colocadas à profissão e sua relação com a questão social
143
INTRODUÇÃO
Introdução
V
Para darmos seguimento nesta última unidade, é muito importante que você
tenha se dedicado ao estudo das unidades anteriores, pois elas trazem elemen-
tos significativos que contribuirão para entendermos as demandas do Serviço
Social na atualidade, bem como o papel do Serviço Social junto ao enfrenta-
mento das expressões sociais agravadas em nosso país.
Sugerimos que você realize as leituras complementares nos momentos indi-
cados para que possa ter maior compreensão da discussão proposta.
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Veremos alguns dos desafios postos para o Serviço Social e como a categoria
profissional vem se direcionando para sermos profissionais atualizados e ante-
nados com os tempos atuais. Teremos a contribuição de autores como Marilda
Vilela Iamamoto, José Paulo Neto, Vicente de Paula Faleiros, entre outros estudio-
sos que enquanto assistentes sociais também se dedicam a construir e apresentar
análises da nossa profissão.
Contamos com você, com a certeza de que juntos iremos construir uma
bonita história. Sua dedicação e empenho são imprescindíveis para enriquecer-
mos nosso estudo! Propomos uma pausa para leitura complementar: “Serviço
Social e Contemporaneidade: Afirmação de direitos e emancipação política?”,
inserida no final de nossa unidade, visto que ela irá lhe auxiliar ao longo desta
unidade de estudo, boa leitura!
Então, caro(a) aluno(a), a leitura vai te ajudar a contextualizar o Serviço
Social e a alguns dos desafios postos na atualidade? Espero que sim, logo, vamos
dar continuidade no nosso estudo, ok?
Muitos estudos e pesquisas trazem a discussão acerca do Serviço Social nos
dias atuais, e esse tema vem se renovando, pois as mudanças são constantes e
permanentes.
A autora Marilda Vilela Iamamoto é uma das autoras que realiza seus estudos
sobre o Serviço Social na contemporaneidade, o sistema capitalista, o mercado
de trabalho e afins.
Toda e qualquer análise sobre a nossa profissão não pode estar desconecta com
a realidade, não podemos simplesmente fazer um recorte que mais nos agrada,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
devemos ter um olhar crítico apurado e capacidade analítica aguçada, não fan-
tasiosa, romântica ou encantada.
É muito importante que você, enquanto futuro(a) assistente social, rompa
com a visão simplista da profissão, procure se conectar com os acontecimen-
tos da nossa sociedade e busque analisá-los relacionando os impactos em nossa
profissão, assim irá exercitando a sua criticidade, tornando-se um(a) profissio-
nal cada vez mais antenado(a) e capaz de propor soluções aptas a contribuir para
o enfrentamento das múlti-
plas expressões das questões
sociais.
Leia com calma e aten-
ção a citação a seguir, pois,
após tudo o que você estu-
dou ao longo das unidades
anteriores, irá compreender
como a história da profis-
são contribuiu para que hoje
possamos atuar enquanto
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assistentes sociais:
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de de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas
e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emer-
gentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só
executivo. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo
(IAMAMOTO, 2007, p. 20).
Você que está neste processo formativo profissional, deve estar aberto ao novo, a
descontruir e reconstruir conceitos, formar
a sua visão de ser humano e de mundo.
Hoje, o próprio mercado demanda,
além de um trabalho na esfera da execu-
ção, a formulação de políticas públicas
e a gestão de políticas sociais.
Não se trata de tornar-se um
“superman”, ou então “mulher mara-
vilha”, o assistente social não deve ser
encarado ou compreendido a partir de
uma proposta messiânica, heroica, e
sim colaborativa, formadora, educadora
e viabilizadora dos direitos e autono-
mia humana.
Caro(a) aluno(a), após essa explanação, pense consigo: o que o(a) levou a
optar pelo curso de Serviço Social? Quais foram as suas motivações? O que
você imaginava fazer um(a) assistente social?
Até o presente momento, alguma concepção inicial mudou? Qual? Por quê?
Fonte: a autora.
Interessante a observação da autora, uma vez que neste contexto podemos com-
preender que o Serviço Social enquanto profissão não é estático na sociedade,
influencia e também é influenciado por ela, acompanha o movimento histórico-
-social e se configura enquanto uma profissão contextualizada, isso não significa
que tais mudanças sejam pacíficas ou consensuais.
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do valor. A profissão passa a constituir-se como parte do trabalho so-
cial produzido pelo conjunto da sociedade, participando da criação e
prestação de serviços que atendem às necessidades sociais, isto é, têm
um valor de uso, uma utilidade social (IAMAMOTO, 2007, p. 23-24).
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e classes sociais. Essas rela-
ções sociais envolvem poder,
sendo relações de luta e con-
fronto entre as classes e segmentos sociais, que têm no Estado uma expressão
condensada da trama do poder vigente na sociedade.
A questão social (e suas múltiplas expressões, tais como a fome, o desem-
prego, a doença etc.) é a base da fundação do Serviço Social como especialização
do trabalho. É o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capi-
talista moderna, que tem como raiz comum: a produção social cada vez mais
coletiva e a apropriação dos seus frutos mantendo-se privada, monopolizada por
uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2007).
De acordo com Iamamoto (2007, p. 28), as bases da produção da riqueza na
sociedade capitalista fazem crescer a distância entre a concentração/acumula-
ção de capital e a produção crescente da miséria, da pauperização que atinge a
maioria da população nos vários países, inclusive naqueles mais desenvolvidos.
Nessa tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da
resistência, situadas nos terrenos movidos por interesses sociais distintos, aos
quais não é possível abstrair ou deles fugir, porque tecem a vida em sociedade,
é que trabalha o assistente social.
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de força de trabalho qualificada e com acesso
a direitos trabalhistas e sociais, e uma larga
parcela da população com trabalhos precá-
rios, temporários, subcontratados etc.
A autora chama a nossa atenção para o
fenômeno de uma nova pobreza de amplos
segmentos da população, cuja força de traba-
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lho não tem preço, porque não tem mais lugar
no mercado de trabalho. São estoques de força de trabalho descartáveis para o
mercado de trabalho, colocando em risco para esses segmentos a possibilidade
de defesa e reprodução da própria vida.
As lutas sindicais encontram-se fragilizadas e a defesa do trabalho é difi-
cultada diante do crescimento das taxas de desemprego. As transformações no
mundo do trabalho vêm acompanhadas de profundas mudanças na esfera do
Estado, consubstanciadas na reforma do Estado exigida pelas “políticas de ajuste”,
tal como recomendada pelo consenso de Washington. Em função da crise fiscal
do Estado em um contexto recessivo, são reduzidas as possibilidades de finan-
ciamento dos serviços públicos; ao mesmo tempo, preceitua-se o “enxugamento”
dos gastos governamentais, segundo os parâmetros neoliberais.
Logo,
O momento presente desafia os assistentes sociais a se qualificarem
para acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão
social nos níveis nacional, regional e municipal, diante das estratégias
de descentralização das políticas públicas, os assistentes sociais en-
contram-se em contato direto e cotidiano com as questões de saúde
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hipótese da autora é de que as reflexões sobre o fazer estão priorizando a
análise da intervenção do Estado via políticas sociais públicas, por isso são
extraídos os seus efeitos na sociedade. É imprescindível que olhemos para
a sociedade, para o movimento das classes sociais, que têm sido relegadas
a uma posição de relativa secundariedade no debate do Serviço Social.
■■ Tendência a uma análise politicista das demandas profissionais, ou seja,
uma análise da política que, muitas vezes, se descola das determinações
econômicas: ao resvalarmos para uma análise politicista dos direitos
sociais e das políticas sociais, absolveremos o capitalismo, caindo numa
perspectiva no máximo distributiva da riqueza social, reconhecendo a
sociedade capitalista e suas desigualdades como naturais.
■■ Tendência a considerar a sociedade brasileira numa ótica meramente
urbana: dificilmente em nossos debates os processos sociais agrários apa-
recem articulados à questão urbana, correndo o perigo de reincidirmos
no velho dualismo rural-urbano.
Coerente com tais premissas, a autora inicia uma reflexão sobre o processo de
pauperização em nossa sociedade, enraizada na órbita do trabalho.
Por um lado, temos a modernidade econômica para o grande capital, que
vem contando com o decisivo apoio do Estado via subsídios fiscais, de crédito
e outras formas protecionistas estimuladas com a expansão monopolista, sob a
égide do capitalismo financeiro. Por outro lado, a barbárie na reprodução das
condições de vida da população trabalhadora, com a qual nos defrontamos coti-
dianamente em nosso exercício profissional.
A minimização da ação estatal na garantia das condições básicas de vida
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■■ É preciso olhar além do que se apresenta em sua frente, pois nem tudo é o
que parece ser inicialmente (podemos nos enganar e sermos enganados).
■■ Qual então o desafio do Assistente Social hoje?
■■ Decifrar a realidade e então construir propostas de trabalhos criativos e
capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergen-
tes no cotidiano (IAMAMOTO, 2009).
■■ O Assistente Social tem que ter a
capacidade de propor de maneira
inteligente/capacitada, sendo um pro-
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fissional que entende e assume o que
fala e se impõe sem medo!
■■ Afinal, o profissional tem relação direta
com as pessoas.
■■ Não pode se manter e se contentar ape-
nas com o fato em si, tem que entender
o que envolve tal fato.
■■ Não se deter apenas ao burocrático à
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rotina, mas ser e agir como um pro-
fissional culto, pensante, consciente e
crítico, para não se fechar em sua redoma de vidro (profissional alienado).
■■ Competência para propor, negociar, defender, argumentar, criticar e assu-
mir seus enganos e limitações.
■■ Bola de cristal - Cartola mágica: não são daí que saem as alternativas, o
mercado não dá espaço (ou não deveria) para quem é preguiçoso mental
e as alternativas não caem prontas e acabadas do céu. Ser um constante
investigador, um curioso nato que se atualiza constantemente.
■■ Transformar as descobertas em propostas de ação.
■■ “Essa compreensão é muito importante para se evitar uma atitude fata-
lista do processo histórico...”, ou seja, se a realidade muda constantemente,
as leis mudam, a política muda, as relações mudam, onde e como fica o
assistente social?
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SUA RELAÇÃO COM A QUESTÃO SOCIAL
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não é preciso mudar o homem, mas a realidade na qual ele está inserido.
Ao olharmos para o Serviço Social enquanto profissão de relevância social,
notamos que ele se gesta e se desenvolve como profissão:
[...] tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial
e a expansão urbana [...] - a constituição e expansão do proletariado e
a burguesia industrial - as modificações verificadas na composição dos
grupos e frações de classes que compartilham o poder de Estado em
conjunturas históricas específicas (IAMAMOTO, 1997, p. 77).
Os assistentes sociais estão situados numa sociedade que é movida por inte-
resses distintos e contraditórios, e procuram diariamente buscar esclarecer
e servir de ponte para decifrar as mediações que na atualidade permeiam a
questão social desfazendo os seus nós.
Fonte: Iamamoto (2006).
A questão social sempre permeou o Serviço Social, desde seu surgimento enquanto
categoria profissional junto ao sistema capitalista, recebendo várias nomenclatu-
ras dentro do processo histórico da profissão, evoluindo de acordo com a época
e realidade social.
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No Serviço Social, a questão social é tema recorrente e objeto de sua inter-
venção desde o início da profissão. Como seu fundamento recebe interpretações
diferentes, nem sempre estas superam o “feitiço da ajuda” e da caridade, que,
por sinal, somente nos anos 90 do século XX começa a ser desmitificado. Tudo
tem um porquê, uma explicação. De acordo com Iamamoto (2003, p. 27), [...]
“a tarefa do assistente social é não só decifrar as formas e expressões da questão
social na contemporaneidade mas atribuir transparência às iniciativas voltadas
à sua reversão e/ou enfrentamento imediato”.
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mesma e seus efeitos sociais derivassem, exclu-
sivamente, da atuação profissional.
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O Assistente Social se situa na sua condição de intelectual, para tanto se utiliza de
Gramsci para subsidiar sua análise. Cada classe possui seus próprios intelectuais,
que têm o papel de contribuir na luta pela direção sociocultural dessas classes
na sociedade. O intelectual é o organizador, dirigente e técnico que coloca sua
capacidade a serviço da criação de condições favoráveis à organização da pró-
pria classe a que se encontra vinculado.
Quando falamos das relações sociais e do Serviço Social, temos que considerar a
contraditoriedade presente nas relações sociais. Ressalta-se, assim, a necessidade
de uma reflexão sobre o caráter político da prática profissional. Essa reflexão é
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ário, ao lado de outros de maior eficácia política e mais ampla abrangência, na
concretização do objeto supramencionado.
O modo capitalista de produzir supõe outro modo de pensar, ou seja, não é
a forma como pensa o capitalista, mas, antes de tudo, a forma necessária de toda
a sociedade pensar e agir, fundamental à reelaboração das bases de sustentação
- ideológicas e sociais - do capitalismo. Portanto,
...o controle social não se reduz ao controle governamental e institu-
cional; é exercido, também, através de relações diretas, expressando o
poder de influência de determinados agentes sociais sobre o cotidiano
de vida dos indivíduos, reforçando a internalização de normas e com-
portamentos legitimados socialmente. Entre esses agentes institucio-
nais encontra-se o profissional do Serviço Social. Importante ressaltar
que a ideologia dominante é um meio de obtenção do consentimento
dos dominados e oprimidos socialmente, adaptando-os à ordem vigen-
te. Em outros termos: a difusão e reprodução da ideologia dominante é
uma das formas de exercício do controle social (CARVALHO; IAMA-
MOTO, 1990, p. 1).
Vale ressaltar que o cotidiano não está apenas mergulhado no falso, mas referido
ao possível. A descoberta do cotidiano é também a descoberta das possibilida-
des de transformação da realidade. Por isso, a reflexão sobre o cotidiano acaba
sendo crítica e comprometida com o possível, visto que este é o “solo” da pro-
dução e reprodução das relações sociais.
A compreensão do cotidiano não se reduz aos aspectos mais aparen-
tes, triviais e rotineiros; se eles são parte da vida em sociedade, não a
esgotam. O cotidiano é expressão de um modo de vida, historicamente
circunscrito, onde se verifica não só a reprodução de suas bases, mas
onde são também gestados os fundamentos de uma prática inovadora
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O acesso que temos às histórias de vida dos sujeitos, muitas vezes, se caracteriza
por ser uma “invasão” de privacidade da “clientela”. Situa-se aqui a importância
do compromisso social do profissional, orientado no sentido de solidarizar-se
com o projeto de vida do trabalhador ou de usar esse acesso para objetivos que
lhe são estranhos.
Ao aprofundarmos nossa reflexão acerca da questão social e suas expressões/
manifestações (fome, desemprego, doença etc.), vemos que esta é o eixo que deu
origem ao nascimento da profissão. Toda profissão surge de uma necessidade
social, algo que precisa ser sanado na vida do ser humano.
A profissão está ligada às desigualdades oriundas do sistema capitalista de
produção, no qual o lucro se mantém na mão de poucos; esses poucos se apro-
priam dos frutos da produção, os quais são monopolizados por um pequeno
grupo. O ideal a ser feito é a partilha, uma vez que tudo o que é produzido resulta
da ação de vários atores, mas sabemos que não é assim que acontece.
Não podemos achar que essa exploração é característica apenas de países
subdesenvolvidos, pois isso também acontece nas sociedades tidas como de “pri-
meiro mundo”; lá também existem miséria, crescente pauperização, situações de
vulnerabilidade e desigualdade que afetam boa parte da população.
Logo, temos o trabalho do assistente social atuando nesse território tenso
e desigual, num contexto que apresenta interesses distintos e contraditórios da
classe dominante e dominada. Recebendo uma demanda muitas vezes desesperada
por algum tipo de auxílio para que supere assim as suas vulnerabilidades, essas
situações que se apresentam ao profissional devem ser entendidas e encaradas
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Temos ainda o ingresso no mundo das drogas, álcool, aumento significativo da
violência doméstica e até mesmo suicídio.
Você pode estar pensando que o profissional de Serviço Social está a postos
na sociedade somente para lidar com a tragédia humana e sucessivos proble-
mas, na verdade, estamos atuando no seu enfrentamento, na superação de tais
situações. Não é intenção do Serviço Social acabar com o sistema capitalista,
mas contribuir para uma sociedade capaz de ser muito mais justa e igualitária.
Atualmente temos uma diminuição do emprego formal/estável, como pude-
mos estudar anteriormente, vivenciamos o crescimento do trabalho informal,
por tempo determinado, temporário, sem contar que em nosso país ainda temos
registro de trabalho escravo e subumano. A necessidade do trabalho é inerente
ao ser humano, por meio dele o homem pretende garantir a sua subsistência e
de sua família. Cabe a cada um prover o mínimo/básico para si e seus depen-
dentes, e quando o homem não consegue, acaba ingressando nos programas de
assistência e políticas sociais.
Muitos indivíduos na situação de não emprego aceitam o fato como uma situ-
ação passageira, outros acabam por se acomodar com a providência de auxílio
por parte de instituições públicas e organizações governamentais, outros ainda
não aceitam a situação, tratam-na como degradante e vergonhosa. Independente
do caso, todos, de uma forma ou outra, tornam-se demanda em potencial para
o Serviço Social.
Sabemos que a situação de não emprego, quando prolongada por muito
tempo, acaba por desencadear muitas outras problemáticas. Com o neolibera-
lismo, uma das formas de redução do custo da força de trabalho é o contrato
quem vivencia essa realidade degradante opta pela ação ilegal a morrer de fome.
Os usuários do Serviço Social (mulheres, crianças, idosos, adolescentes, famí-
lia, desempregados, pessoas com deficiência, doentes, drogados, alcoólatras etc.)
são diretamente atingidos pelos resultados da questão social existente, e exigem
dos sujeitos responsáveis (o Estado, o mercado e a sociedade civil organizada)
um devido enfrentamento, pautado na análise e estratégia eficaz e eficiente.
Os usuários do Serviço Social dia a dia recorrem às devidas políticas, para
que consigam superar as necessidades não sanadas, porém ainda percebe-se
um ranço muito grande de assistencialismo, paternalismo, conservadorismo,
clientelismo. Hoje é objetivo das políticas o incentivo, mediante as ações dos
profissionais, a promoção e à construção/resgate de um cidadão autônomo, que
assume o papel de protagonista de sua história. Para isso, é necessário o desmonte
de ações/medidas parciais, focalizadas e fragmentadas.
Logo, chegamos à conclusão de que o Estado, mercado e sociedade civil
organizada devem tornar-se mais ativos e definirem políticas de inserção pelo
trabalho, contra exclusões sociais.
Constituem respostas do Estado: o apoio e o incentivo às microempresas,
geração de ocupação e renda, qualificação para o mercado de trabalho e econo-
mias solidárias.
A reforma previdenciária, como resposta às problemáticas do mundo
do trabalho, sob o argumento de eliminar privilégios, direitos conquis-
tados, tem de fato fragilizado a situação social do trabalhador emprega-
do, levando voluntariamente à aposentadoria expressivo contingente de
trabalhadores, sacramentando a exclusão ou a nunca inclusão de uma
minoria que esteve sempre fora de qualquer sistema de proteção social
(TELLES, 1996, p. 86).
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doações são estruturadas ou realizadas como investimento social, na contem-
poraneidade (KAMEYAMA, 1998).
Algumas empresas passam a desenvolver programas sociais nas áreas de
educação, promoção social, cultura, saúde, meio ambiente, agricultura, políti-
cas públicas, ciência e tecnologia, crianças e adolescentes, esportes. Para isso,
vem crescendo consideravelmente a presença do profissional de Serviço Social
em tais espaços.
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nos, conforme o local onde vivemos. Desta
maneira, devemos estar atentos à realidade na
qual estamos inseridos, pois saiba você que, como assistentes sociais, não possu-
ímos uma bola de cristal que nos possibilita descobrir quais os problemas mais
agravados e sua repercussão na vida do indivíduo. Isso se dá a partir de uma boa
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análise da realidade, embasada num referencial teórico consistente e utilização
correta dos instrumentos e técnicas da profissão.
Para tanto, no processo de formação profissio-
nal seguem-se as diretrizes previstas, pois toda
profissão possui seus objetos de intervenção e
objetivos de acordo com sua especificidade e
necessidade social. Com o Serviço Social não
acontece diferente, para atuarmos no enfrenta-
mento das questões sociais é necessário alguns conhecimentos
mínimos, nada é estudado por acaso, priorizando esta ou aquela
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parcela da população. Sabe-se bem que as expressões sociais, se manifes-
tam tanto no meio urbano quanto no meio rural, dessa maneira a compreensão
de todos os mecanismos operantes na sociedade é necessária.
Importante que você saiba quais as diretrizes da profissão que escolheu, a
qual está lotada na Resolução Nº 15, de 13 de março de 2002, que prevê o per-
fil dos formandos, ou seja, ao findar a graduação o aluno deve estar apto a ser
reconhecido como:
Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando
e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento,
com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inser-
ção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto
das relações sociais e no mercado de trabalho (BRASIL, 2002).
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A partir da leitura dos pressupostos para a formação profissional, citados
anteriormente, reflita os pontos que considerou importante.
Fonte: a autora.
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Dar conta da questão social, hoje, é não somente “[...] decifrar as desigualdades
sociais - de classes - em seus recortes de gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade,
meio ambiente etc., mas decifrar também as formas de resistência e rebeldia com
que são vivenciadas pelos sujeitos sociais” (IAMAMOTO, 1999, p. 114).
O problema da insegurança do trabalho ou da redução de postos de traba-
lho não é peculiar aos assistentes sociais, visto que o seu enfrentamento exige,
ao contrário, ações comuns que fortaleçam a capacidade de articulação e orga-
nização mais ampla de coletivos de trabalhadores.
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temos muito ainda a estudar sobre a nossa profissão, a qual possui uma história
muito interessante de reflexões e sobretudo de autorreflexão.
Você terá a seguir algumas atividades que lhe auxiliarão na síntese da uni-
dade, aproveite e faça as suas anotações e considerações, organizando assim as
suas ideias e novos conhecimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos chegando ao fim de mais uma etapa, então é hora de juntar as peças e
“montar o quebra-cabeça”, você é capaz de fazê-lo? Pense em tudo o que foi visto
e comece esse exercício. Lembre-se que não existem caixinhas no processo de
formação, tudo está muito bem articulado, e é falando em articulação que fecha-
mos esta unidade. Não se esqueça de que precisamos sempre olhar o todo, sem
perder de foco o específico.
A sociedade é complexa porque os homens também são. Ao lidarmos com o
usuário mais vulnerabilizado, não podemos deixar de analisar aquele indivíduo
que está na outra ponta da linha, uma vez que existe um ser dominado (exclu-
ído), porque há alguém que o domina (exclui), e não precisamos prever ações
de combate e enfreamento para tal processo.
Discutimos ao longo da unidade a relação estabelecida entre o Serviço
Considerações Finais
1. Qual a base da fundação do Serviço Social como especialização do trabalho?
a) A vontade do povo americano em auxiliar os mais necessitados na África do Sul.
b) A questão do aquecimento global no planeta.
c) A questão social (e suas múltiplas expressões, tais como a fome, o desemprego,
a doença etc.).
d) A diminuição do Imposto de Renda para as empresas que contratassem um pro-
fissional para tratar dos problemas de drogadição dos funcionários.
e) A vontade do Pe. João em auxiliar os seus paroquianos.
Se você quiser saber mais sobre os parâmetros de atuação de algumas das áreas de
trabalho do assistente social, você pode consultar o site do CFESS (Conselho Federal de
Serviço Social). Você pode ler online, ou fazer download dos livros.
Livros, brochuras e outros
<http://www.cfess.org.br/visualizar/livros>.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Chegamos ao final de mais uma etapa! Esperamos que você tenha aprendido um
pouco mais com os temas abordados neste material. Nossa preocupação foi ofere-
cer elementos históricos, teóricos e metodológicos que explicam o desenvolvimen-
to do Serviço Social e seu projeto ético-político profissional.
Nesta unidade, buscamos explicitar como os movimentos político, econômico e so-
cial internacional dos anos 1970 a 1990 impactaram, na realidade brasileira, o deba-
te no interior da categoria profissional.
Observamos que, no decorrer do desenvolvimento da profissão no Brasil, os inte-
resses societários, junto da incorporação de pressupostos teórico-metodológicos,
imprimiram ao Serviço Social projetos profissionais diferentes, e que, a partir da
apropriação da teoria marxista com a maturidade acadêmica e o movimento con-
traditório de conflito de classes dos anos 1990, a profissão incorporou ao seu proje-
to profissional essas lutas e construiu saberes e competências articulados aos proje-
tos societários para além do capital.
Discutimos também a relação entre neoliberalismo e questão social, bem como
seus impactos nas políticas sociais e na conformação de uma nova sociabilidade
que na sua essência busca fragmentar uma luta que é coletiva em prol de valores
capitalistas, em tempos de globalização e mundialização de mercados.
Diante de tais obstáculos, buscamos finalizar o livro discutindo os desafios para o
Serviço Social na contemporaneidade e a necessidade de apropriar a teoria marxis-
ta na relação entre teoria e prática, a fim de desvelar as contradições e buscar alter-
nativas de enfrentamento às demandas emergentes que estejam em consonância
com o atual projeto ético-político.
Conte sempre conosco!
Os Professores da Unicesumar estão sempre à disposição.
Um grande abraço e sucesso na sua vida acadêmica, pessoal e profissional.
189
REFERÊNCIAS
TEIXEIRA, Joaquina Barata Ivo. O projeto ético político do Serviço Social. Conselho
Federal de Serviço Social (Org.), Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009, p. 6.
VIANNA, H. História do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1966, v. 1,
p. 227.
WOLFF, Simone. O espectro da reificação em uma empresa de telecomuni-
cações: o processo de trabalho sob os novos parâmetros gerenciais e tecnológicos.
Campinas, SP: [s. n.], 2004. (Tese de Doutorado) - Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas/USP.
______. Informatização do trabalho e reificação: uma análise à luz dos programas
de qualidade total. Campinas, SP: Editora Unicamp, Eduel, 2005.
YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza e exclusão social: expressões da questão social no
Brasil. Temporalis, Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social, Rio de Janeiro, ano 2, n. 3, p. 33-40, jan./jun. 2001.
______. Os fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço Social bra-
sileiro na contemporaneidade. In: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências
Profissionais. CFESS, 2009.
195
GABARITO
UNIDADE I
1. Os mencheviques (do russo menshe, que significava “minoria”), liderados por
Georgy Plekanov e Yuly Martov, mantinham uma visão ortodoxa do marxismo
pautada na social democracia e defendiam a ideia de que a liderança da nova re-
pública deveria estar nas mãos da burguesia russa, a qual seria responsável pela
ampliação das forças produtivas com o intuito de que uma revolução socialista
acontecesse décadas mais tarde.
Bolcheviques (do russo bolshe, que significava “maioria”), sob a liderança de Vla-
dimir Lênin defendiam a ideia de que o governo deveria ser diretamente contro-
lado pelos trabalhadores, sendo a revolução proletária a responsável direta pelas
transformações que modernizariam a economia russa e daria fim aos contrates
sociais que marcavam o país.
2.
3. O novo governo russo administrado por políticos oriundos das classes popu-
lares dissolvem o conceito de propriedade privada, expropriando da nobreza,
capitalistas e latifundiários russos: fábricas, terras, bancos etc., transformando
esses bens em propriedade estatal. Tal transformação social de bens significou a
transferência da riqueza nacional para as mãos da população da URSS de forma
igualitária.
UNIDADE II
1.
08 02 05 01 06 03 09 04 07
UNIDADE III
1. O materialismo histórico enquanto método de apreensão da realidade e de teo-
ria do real é difundido no âmbito das pesquisas em Serviço Social.
UNIDADE IV
1. A Lei de Regulamentação da Profissão 8662/93, o Código de Ética Profissional de
1993 e as Diretrizes Curriculares de 1996.
2. Perspectiva Modernizadora, Reatualização do Conservadorismo e Intenção de
Ruptura.
197
GABARITO
UNIDADE V
1. Resposta Certa: “C”.
2. Resposta Certa: “E”.
3. Resposta Certa: “C”.
4. Resposta Certa: “D”.
5. Atividade livre que pode ser realizada como forma de autoestudo, com a devida
organização do aluno(a).