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Claro Enigma
(Carlos Drummond
de Andrade)
Leitura Obrigatória
Fuvest 2021
Sumário
Introdução ............................................................................................................... 3
Carlos Drummond na FUVEST ............................................................................................... 3
1. Contextos............................................................................................................. 4
1.1 Contexto Histórico ............................................................................................................ 4
1.2 Carlos Drummond de Andrade......................................................................................... 5
1.1 Claro Enigma na Produção de Drummond ...................................................................... 6
2. Pressupostos filosóficos para a interpretação da obra ......................................... 9
2.1 Tédio ................................................................................................................................ 9
2.2 Modernidade e Desencanto ........................................................................................... 11
2.3 O desafio do Super-Homem .......................................................................................... 13
2.4 O Sublime ....................................................................................................................... 14
2.5 O título: Claro Enigma .................................................................................................... 16
2.6 O eu lírico e Carlos Drummond de Andrade .................................................................. 18
2.7 A própria poesia ............................................................................................................. 20
2.8 Dois recursos poéticos bastante utilizados: paralelismo e anáfora .............................. 21
2.9 Resumo .......................................................................................................................... 22
3. Interpretação de um poema de Carlos Drummond............................................. 23
4. Resumo e indicação de leitura dos poemas ....................................................... 25
4.1 entre o lobo e o cão........................................................................................................ 26
4.2 notícias amorosas .......................................................................................................... 31
4.3 o menino e os homens ................................................................................................... 36
4.4 selo de minas.................................................................................................................. 38
4.5 os lábios cerrados .......................................................................................................... 42
4.6 a máquina do mundo ..................................................................................................... 45
5. Questões ............................................................................................................ 47
5.1 Gabarito ......................................................................................................................... 60
5.2. Questões comentadas ................................................................................................... 61
6. Considerações Finais ........................................................................................................ 81
Referências ............................................................................................................ 82
INTRODUÇÃO
Parceiro de jornada,
Já tendo enfrentado um livro de poesias, o de Gregório de Matos, chegou a hora do obscuro
Carlos Drummond.
Falando assim dá até um certo medo de enfrentar essa obra. No próprio título, o poeta já
deixa claro que teremos que desvendar alguns enigmas. Teremos alguns percalços pela frente. As
combinações de imagens muitas vezes são inesperadas e demandam bastante esforço para
entender razoavelmente o poema de Carlos Drummond. Relaxe!
A banca não pede algo impossível, e estamos aqui para ajudá-lo.
Nossa tarefa inclui contextualizar a produção poética de Carlos Drummond e explicar no geral
a lógica de sua obra, porque a obra tem lógica, embora não pareça.
Estudar os poemas por temáticas, interpretar alguns poemas e fazer muitas questões.
Na aula zero, eu indiquei um método de estudo de poesia e o repeti na aula sobre Gregório
de Matos. Acho que agora não é mais preciso, mas qualquer coisa dê uma olhada nas aulas
anteriores.
Então, bora para o enfrentamento com o enigma.
Interpretação textual 17
Estilo e linguagem 5
Contexto histórico 4
Contexto histórico 4
Crítica 1
De todas as obras literárias, os poemas de Carlos Drummond de Andrade são aqueles que
parecem proporcionar maiores possibilidades de questões intertextuais. Fique atento! O outro tipo
de questão bastante explorado, obviamente, são as questões que exigem interpretação. Você tem
que estar afiado em interpretação de poesia.
Fiquei espantado diante da quantidade de questões que fazem um vínculo entre texto e
crítica literária, apenas uma. A FUVEST é um dos poucos vestibulares que fazem essa relação, mas
no caso de Drummond isso não se verifica.
1. CONTEXTOS
A obra é escrita num momento bastante especial do século XX. Terminada a 2ª Guerra
Mundial em 1945, aos poucos o mundo caminha para a Guerra Fria. O final da guerra deveria ser
comemorado com grande entusiasmo, afinal, nunca a humanidade caminhara tão perto do abismo.
Contudo, não é bem assim que a esquerda vai encarar os eventos que marcam o fim dessa grande
batalha.
Os socialistas e comunistas ao redor do mundo observaram com grande decepção a forma
como a União Soviética, o grande modelo do socialismo, comportou-se durante a guerra. Antes de
iniciar o grande conflito, os soviéticos fizeram um pacto de não-agressão com os nazistas. Além
disso, logo depois da derrota da Alemanha, na mesa de negociação sentaram-se as potências
capitalistas e os soviéticos para decidirem os rumos do mundo, sem qualquer traço de preocupação
com os caminhos do Socialismo.
A esperança de uma sociedade diferente recebia um último golpe com a definição, em 1948,
de como a Alemanha seria dividida.
Carlos Drummond não foi exatamente um comunista, mas manteve alguma simpatia durante
algum tempo pelo partido. Os eventos mundiais assim como o contato que ele teve com a
organização partidária levaram-no à decepção com a possibilidade política.
Na verdade, sua vida fornece poucas pistas da poesia taciturna e, por vezes pessimista.
Quanto aos temas, o poeta expressa-se sobre sua angústia de viver em um mundo
incompreensível, sobre a família, a própria poesia, Minas Gerais e a própria poesia. O próprio livro
está dividido em partes:
I – Entre lobo e cão (18 poemas)
II – Notícias amorosas (7 poemas)
III – O menino e os homens (4 poemas)
IV – Selo de minas (5 poemas)
V – Os lábios cerrados (6 poemas)
VI – A máquina do mundo (2 poemas)
O poema abaixo deve servir de exemplo dessa sutil mudança que revelou um Carlos
Drummond de Andrade mais realista, menos esperançoso, além, é claro de revelar o retorno à
forma tradicional, o soneto (forma clássica usada por Camões e que consiste na organização do
tema a partir de 2 quartetos e dois tercetos). Seguiu os modelos mais consagrados, afinal, ele usa
o decassílabo e um esquema de rima regular, os dois quartetos obedece ao seguinte esquema ABAB.
Poesia
oficina irritada metalinguística
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Características do
Eu quero pintar um soneto escuro,
poema desejado: “duro”,
seco, abafado, difícil de ler. “escuro”, “seco”,
“abafado”, “difícil de ler”,
Quero que meu soneto, no futuro, “maligno”, ar imaturo”,
não desperte em ninguém nenhum prazer. “antipático”, “impuro”.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
O poeta deixa claro seu ideal de ofício: fazer um poema duro, um poema difícil, que deva
traduzir tanto essa realidade particular, mas também a realidade da poesia como um todo. Afinal, o
que é ser poeta no século XX, em plena modernidade? Talvez, conscientemente, o poeta quisesse
apenas exprimir sua decepção com sua época, mas na verdade o tipo de texto que ele produz,
adequa-se à grande Literatura que traz à tona as questões mais importantes da Literatura no século
XX.
2.1 TÉDIO
O livro de Drummond se abre com uma epígrafe, “Les événements m’ennuient”, de Paul
Valery (1871-1945), escritor, filósofo e poeta. A tradução livre seria “os acontecimentos me
entediam”. A frase, por outro lado, remete a Charles Baudelaire (1821-1867), o grande poeta que
reflete sobre a Modernidade e que escreveu um dos livros de poesia mais influentes no século XIX,
As flores do mal.
Em 1859, Baudelaire ao escrever para sua mãe, define com precisão o
que ele chama de tédio: “O que eu sinto é um imenso desânimo, uma
sensação de isolamento insuportável, o medo permanente de uma vaga
Figura2 : Pixabay
infelicidade, uma total falta confiança nas minhas forças, uma absoluta
ausência de desejo, uma incapacidade de encontrar qualquer
divertimento que seja.”
Em Claro Enigma podem-se observar esses mesmo traços: desânimo,
isolamento, medo de uma vaga infelicidade. Mas, deve-se destacar que o
tédio a que ele se refere está mais próximo de Valery, poeta que exprimiu toda uma teoria sobre o
que seria o fazer poético nos novos tempos. O teórico da poesia defende que, na arte, vontade e
entendimento devem ser conjugados na obra.
Nesse sentido, a poesia de Carlos Drummond não é aquela coisa chorosa, prenha de
autopiedade, como se o poeta tivesse a intenção de encontrar no leitor um ombro amigo sobre o
qual pretende despejar suas frustrações e, ao mesmo tempo, provocar a empatia profunda do
leitor.
O tédio sentimentalista já tinha sido experimentado à exaustão no Romantismo. Carlos
Drummond é duro e não auto condescendente. Desde sua primeira publicação Alguma poesia, o
poeta já se valia do impasse como forma de expressão, numa espécie de contra-romantismo.
É preciso lembrar que o Romantismo foi o primeiro movimento artístico que deu voz à cultura
burguesa. Uma cultura contraditória, marcada pela aceitação do mundo material e da riqueza como
valor supremo e, ao mesmo tempo, como a recusa do vazio que isso provocava. Tratava-se,
portanto, de um movimente de evasão. Os escritores elaboraram os grandes temas pelos quais o
burguês, cansado de sua vida esvaziada de sentido, poderia encontrar valores satisfatórios mesmo
que fossem ilusórios: o amor, a família, a nação e o engajamento social.
O poeta enfrenta cada um dos temas esvaziando-os de sentido, pelo deslocamento. Aquilo
que o eu lírico procura, ele não encontrará. Como exemplo clássico dessa postura, pode-se citar “E
agora, José?” publicado em 1942. Nele todas as saídas propostas para o eu lírico está fechadas.
Essa forma de encarar a realidade nunca abandonou Carlos Drummond. O tédio do livro
refere-se ao mundo externo que provocava desânimo no poeta. Sentimento que servia para uma
poesia “dura” em que o impasse poderia ser observado com mais intensidade. Observe o poema
que abre o livro, “dissolução”. O título assinala a decomposição do mundo. A metáfora da escuridão,
que aparece várias vezes em outros livros, comparece também no começo desse poema. Contudo,
diferentemente do que acontecia em A rosa do Povo, no qual o eu lírico tentava interferir nesse
processo, agora ele aceita que a noite desça e não procura sequer encontrar a luz. A palavra “aceito”
aparece duas vezes no espaço curto de alguns versos.
dissolução
Escurece, e não me seduz Nenhuma ação
tatear sequer uma lâmpada. seduz o poeta; ele
Pois que aprouve ao dia findar, aceita a noite
aceito a noite.
E com ela aceito que brote Aceita uma outra ordem das
coisas - resignação
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Não fazer nada
Braços cruzados.
Contudo, não se deve levar tanto a sério esse tédio. Em outras palavras, não é exatamente
na mensagem que o leitor deve se fixar, mas nos efeitos do texto e na construção poética de
imagens. Lembre-se, o tédio, em Carlos Drummond, está em constante tensão com a capacidade de
entendimento para a produção de um poema que seja capaz de expressar os novos tempos.
O segundo poema do livro dá a dimensão dessa proposta estética. O título “remissão” pode
significar perdoar ou mesmo resgatar. O poeta parece tentar resgatar algo desse vazio interior
provocado pelo vazio de sentido externo . Usa a melancolia decorrente da percepção da passagem
do tempo ( “enquanto o tempo.../se evapora no fundo do teu ser?”) como algo a ser fixado no seu
poema. Esse resgate de um indivíduo tão vazado do nada se dá pela palavra: o que lhe resta é o
contentamento de escrever.
No poema fica clara a referência ao outro canto. Para o eu lírico, sua poesia deve registrar “a
angústia dos cantares”, ou uma outra matéria poética. Um verdadeiro “desencanto”
Veja que “o agudo olfato, o agudo olhar, livre de encantos” retoma a ideia da maturidade,
“a terrível prenda”, contudo todos essas habilidades conseguidas pela experiência “se destroem”,
diz o poema, “no sonho da existência”. O espírito livre seria uma miragem mesmo na poesia. A
existência em si impõe como sonho. A madureza permite o entendimento que tira o encanto e
deixa perceber a realidade, mas somente para mergulhar num outro sonho.
2.4 O SUBLIME
Comentário perspicaz, corujinha esperta! Talvez tenhamos que atentar para outra
característica da obra e não só para o fato de que o poeta se vale da subjetividade, da angústia e
do cotidiano para avaliar sua obra. O que interessa nesse caso, é como ele articula esses elementos.
Immanuel Kant, um dos maiores filósofos do Iluminismo em um obra sore estética, tentou
definir o sublime. Para o filósofo, quando a mente humana se depara com alguma composição do
extremamente grande, intenso, o entendimento humano falha ao perceber o objeto e resta a
imaginação tentar reconfigurar a grandiosidade do fenômeno observado com a pequenez do
indivíduo que assiste ao espetáculo.
Ele dá como exemplo, a paisagem de um mar revolto em um dia de tempestade. O mar
batendo nas rochas violentamente provoca o terror do infinito. O que Kant diz para a composição
da natureza pode ser aplicado às artes mais impressionantes e para a própria poesia de Drummond.
O poeta, para expressar sua angústia existencial, elabora imagens ou contrapõe cenas em
que a distância entre o ilimitado e o finito se coloca produzindo uma sensação de desconforto e de
admiração ao mesmo tempo. No poema confissão, o poeta fazendo um balanço da própria vida
começa o soneto com a afirmação “não amei bastante meu semelhante”. Esse ideia será repetida
até a última estrofe, onde o eu lírico oferece uma imagem imprevisível: “Não amei ninguém/ Salvo
aquele pássaro – vinha azul e doido -/ que se esfacelou na asa do avião.”
A desproporção entre o pássaro e a asa do avião choca o leitor e imprime essa imagem na
imaginação que ao mesmo tempo que fornece o prazer de conciliar dois elementos díspares, deixa
circular a sensação amarga do tragédia que não tem qualquer importância para o cotidiano das
pessoas.
Figura4 : Pixabay
máquina do mundo”.
O poeta, retomando Camões, vale-se da referência
a tal máquina feita pelo eu lírico de Os Lusíadas. Já no
retorno da viagem às Índias, a deusa Tétis (deusa da
sabedoria) resolve recompensar os portugueses e mostra para Vasco da Gama a máquina do
mundo. Refere-se ao sistema imaginado por Aristóteles para explicar o movimento celeste.
No poema que dialoga intertextualmente com a literária camoniana, o eu lírico caminha
pelas estradas de Minas quando é abordado pelo Máquina.
“E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
A máquina oferece o sentido da vida. Mas, o eu lírico recusa e a máquina se fecha. Esse é o
drama da modernidade. A aceitação do fenômeno significa renunciar a
pretensão de entender o mundo até o eu interior. E aí, o mundo surge
Figura 5 : Pixabay
assim como um maquina fechada a qualquer compreensão. Alguns
versos dão a dimensão dessa percepção, o mundo é “um vácuo
atormentado , um sistema de erros em “campo de flores”; um “perene
trânsito”, em “dissolução; “não tem sentido” e “é fechado” em “cantiga
de enganar”.
No poema “opaco” o poeta figurativiza esse processo do indivíduo
sem capacidade de ir além dos fenômenos. Inicialmente há um
empecilho, o edifício que barra a vista do eu lírico. Ao final do da
reflexão ele percebe que, na verdade, é sua incapacidade de olhar que
Opaco: o que nem
barra a própria vista.
tem luz, escuro,
sombrio. Quem é
Opaco Observe o duplo sentido de
opaco?
vista: pode significar olhos;
Noite. Certo ou pode significa a
muitos são os astros. Noite, escuridão, paisagem. O prédio barra o
Mas o edifício angústia; mas há luz olhar do eu lírico ou barra o
dos astros: o prédio cenário que fica atrás dele.
barra-me a vista.
“barra a vista
No poema “convívio”, esse eu lírico que pensa, reflete e filosofa aparece antes da expressão
afetiva em relação àqueles que já morreram.
Análise argumentativa
convívio sobre as marcas que as
Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não pessoas próximas já
[vivem senão em nós mortas deixam em nós.
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado; tão débil. Vivem na nossa
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama lembrança, mas
[tempo. deixaram de viver no
E essa eternidade negativa não nos desola. tempo.
Pouco e mal que eles vivam, dentro de nós, é vida não obstante.
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco. Paradoxo: a morte
está dentro dos vivos
Mas, como estão longe, ao mesmo tempo que nossos atuais
[habitantes
Os mortos dentro
e nossos hóspedes e nossos tecidos e a circulação nossa! de nós, nossos habitantes e
A mais tênue forma exterior nos atinge. hóspedes são semelhantes às
O próximo existe. O pássaro existe. pessoas externas que também
E eles também existem, mas que oblíquos! e mesmo sorrindo, nos atingem, de forma tênue.
[que disfarçados…
O poema começa argumentativo e aos poucos adiciona reflexões e imagens que dão um ar
trágico a esses mortos dentro de nós. Não se trata de um saudosismo romântico, embora
percebamos um traço desse sentimento, mas a reflexão pura, contrapõe o fenômeno dentro dele,
que o transforma em simples objeto desse jogo incomensurável. Estamos diante do sublime
novamente.
ó criador de mitos que sufocam, Os mitos que o pintor cria, recuam, para o
desperdiçando a terra, e já recuam charco, para o subsolo
para a noite, e no charco se constelam,
por teus condutos flui um sangue vago, A beleza pura, esconde um sangue vago,
um suspiro de paixão. O que sobressai é
e nas tuas pupilas, sob o tédio,
esse tédio associado à pura beleza.
é a vida um suspiro sem paixão.
O tema é a própria arte. A imagem é hermética. O pintor que procura a solitude num
ambiente belo e vazio, também cria mitos que recuam até o charco. A arte nesse poema contempla
a forma que deve apagar através do branco, do mármore e das colunas as paixões mais quentes.
Resta essa arte sem paixão.
Esse traço é o que mais se verifica na poesia do autor: uma reflexão dolorida, bela e sublime
de uma angústia decorrente do sufocamento da paixão.
1
Passiva sintética é uma forma mais curta da passiva analítica e, nesse caso, o “se” é partícula apassivadora. A oração
“mudam-se os tempos” poderia ser escrita da seguinte forma “os tempos são mudados”.
Notou a repetição das palavras? Há anáfora quando o poeta repete uma mesma palavra no
começo de um trecho ou de um verso e catáfora quando isso ocorre no final. No caso desse poema,
observa-se o uso dos dois recursos.
Calma, corujinha ansiosa. Essas diferenciações não interessam a você. Não importa muito
saber o nome da figura, mas perceber que ela ocorre para poder explicar porque o texto é tão
expressivo. E Drummond se vale muitas vezes desses dois recursos poéticos.
2.9 RESUMO
O mundo como sem sentido, o enigma indecifrável
Poeta como ser isolado
A presença da morte;
O ser e o não ser, o efêmero e o duradouro.
Subjetividade refletida
Laços familiares/afetivos
O amor Ceticismo e questionamento
A própria insuficiência
Palavras-chave:
Sonho, morte, melancolia, amor não realizado, solidão, opacidade, obscuridade, fragmentos,
restos, familiares.
Observe o título
O título vale muito. Em alguns casos, fornece a chave de interpretação do poema. No caso
desse poema, trata-se de dois substantivos unidos pelo “e”, ou seja, de alguma forma o poema
deve explicar que tipo de relação existe entre o “rochedo” e “sombra”.
Considere a forma
Esse poema é um soneto. Isso significa que ele tem uma forma fixa bem estruturada. No
último terceto, o poeta finaliza dando sentido a todo o texto. Por isso, vale a pena prestar muita
atenção ao final.
De quem se fala
Sempre é importante saber de quem se fala, quem ou o quê é o tema principal de cada
estrofe. Para tanto, vale a pena observar os verbos, eles indicam o sujeito da ação. Esse sujeito
pode ser o tema principal, pode ser uma metáfora ou pode se associar a outros temas para criar o
sentido mais amplo.
Na primeira estrofe os sujeitos são a sombra e o sino. Qual a relação entre esses elementos?
Na segunda estrofe, a imagem se organiza a partir da espada (“alfange”). Há uma imagem e
uma metáfora. Leia com cuidado e imagine o que o poeta quis dizer. Será preciso colocar a frase na
ordem direta: o alfange que ceifa devagar sono e sonhos mal se desenha.
Na terceira estrofe, o eu lírico se vale do sujeito “nós”. Observe a importância de se descobrir
quem são os “dois” no começo da estrofe.
No último terceto, você deve observar o paradoxo, o “profundo instinto de existir” ao mesmo
tempo em que ocorre a “vontade de anular a criatura”.
Hipóteses Interpretativas
A partir dessa leitura preliminar para se reconhecer do que se fala e os mistérios do poema,
tente elaborar hipóteses de leitura e localize os grandes desafios.
Como o eu lírico fala de paisagem, pode ser que ele esteja querendo expressar a melancolia
do final de tarde, coisa bem evidente na primeira estrofe. O problema é que isso não explicaria muito
bem o paradoxo final.
A metáfora da espada parece juntar melancolia e morte. Mas o que isso tem a ver com o
penhasco?
Quem são “os dois”? A que criatura o poeta se refere no final do último terceto? Qual é o
papel desse nós? Qual a relação entre a espada e as nuvens?
Tente descobrir onde é o ponto sensível do texto, aquele que pode entregar o significado
maior. No caso desse poema, obviamente, você deve tentar encaixar a “sombra” e o “rochedo” na
intepretação do texto. O poeta fala dessa paisagem mesmo ou é uma metáfora, personificação,
metonímia ou ironia?
Você deve tentar substituir a palavra “dois” no começo da terceira estrofe por esses dois
elementos. Veja como agora começa a fazer sentido.
Os dois ( o rochedo e a sombra) apenas, (estão) entre céu e terra,
( E diante deles ) sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.
Na primeira estrofe, o poeta começa a falar de uma sombra que se mistura ao crepúsculo.
Essa imagem é reafirmada pelo sino que toca. Na segunda estrofe, o eu lírico se concentra no céu,
uma tropa de nuvens quase imóveis.
Diante desse cenário, o rochedo que deve ter sua sombra alongada pelo crepúsculo faz com
que esse “nós” sinta-se aniquilado diante dessa grandeza, embora não perca o instinto de
sobrevivência.
Observe os detalhes
Agora chegou a hora de ver como as figuras de linguagem tornam o texto mais impactante.
O sino é uma metonímia de Igreja e se refere ao hábito de, nas cidades do interior, badalarem os
sinos às 18 horas, hora da ave-maria, mas também, hora do crepúsculo. Ao falar que o sono parece
nascer do ar, o eu lírico traz uma sensação de isolamento para o espectador que contempla esse
rochedo e sua sombra, ouvindo um som longínquo de um sino.
Como ele falasse em som, agora se permite começar a segunda estrofe com a palavra música.
Mas aqui ele faz uma inversão. A oração “musica breve, noite longa” lembra a frase latina famosa
“ars longa vita brevis” (“a arte é duradoura, mas a vida é breve”). A inversão do poema nos leva a
entender que a arte é breve (música, ainda mais a dos sinos) diante da angústia da vida (a metáfora
da noite para Carlos Drummond). Nesse outro trecho, o tema do crepúsculo retorna, já que esses
fenômenos se referem ao findar de um dia.
A metáfora da falange é bela e complicada. Há uma espada que se opõe às nuvens
amontoadas no céu. Ela mal se desenha, como se fosse uma forma também de nuvem. Mas ela ceifa
sonhos. Ao tentar dar a grandiosidade da cena, agora ampliando para os céus, ele lembra sonhos
desfeitos. Além disso, a música parece contaminar essa estrofe. Observe a aliteração do do som
nasal “alfange”, “sono”, “sonho”, “desenha”, “fino”, “ante”, “falange”.
Na terceira estrofe, o poeta fala textualmente em “espetáculo do mundo” e num verso um
pouco enigmático diz “feito de mar ausente e abstrata serra”. Ele amplia o horizonte da imaginação.
Já mencionara o céu, o rochedo, agora menciona o mar com sua grandiosidade (embora ausente) e
a grande serra que suporta o rochedo.
Na última estrofe, o eu lírico deixa claro que a paisagem não é realmente o agente de nada.
O “nós” é que calca em si mesmo esse sentimento que fica entre o paradoxo.
Na medida do possível, vou fazer um resumo de cada poema e apontar algum recurso
linguístico usado pelo poeta. Use como guia de leitura.
Já analisado
Já analisado
Já analisado
Temas: relações afetivas, ser x não ser, as
Ser pessoas amadas que já morreram
(perspectiva subjetiva)
Já analisado
pena”, “o mundo não tem sentido”, “o mundo O eu lírico se vale de uma série de metáforas
é fechado”, mas devemos agir como se “tudo para dizer que o mundo não vale a pena.
fosse”. O conclusão indica o engano, “sejamos Faz uso frequente da anáfora, ele começa os
como se fôramos num mundo que fosse: o versos com a mesma palavra.
Mundo.”
Como cantiga dirige-se a um tu, estabelecendo
um diálogo ou uma canção.
Não é à toa, portanto, que o título dessa parte seja “notícias” sobre o amor. Não se trata de
expressar o que ele sente ou sentiu, mas de registrar o que lhe disseram, ou melhor, o que lhe diz
seu entendimento sobre o amor.
Sob esse tópico, Drummond vai dissecar o amor, no sentido de tornar seco o sentimento
que os românticos fizeram o favor de alimentar com uma seiva açucarada demais. Para quem já
conhece o poeta de outros livros, sabe que nesse tema, o poeta destaca o impasse, a não
correspondência. É conhecido até pelo mundo mineral o poema “Quadrilha”, no qual o amor não se
realiza, pois cada um aspira o desejo de um outro que ama outro. Resumo da ópera: resta pouco
sentimentalismo e muita negatividade, vazio, frustração e lucidez.
Apesar disso, vale lembrar que nenhuma resposta á fácil. Afinal, mesmo o amor não escapa
ao enigma do mundo e da vida. Sendo assim, numa atitude até incoerente ou paradoxal, em dois
poemas, percebe-se que o eu lírico deixa o amor se aproximar-se, mesmo que seja pela perspectiva
da não realização, como “campo de flores” e “canção para álbum de moça”.
O poeta reverte o senso comum sobre o amor, - o que o mar traz a praia
se é para amar, então vejamos qual o desafio - amar as palmas do deserto
que o amor impõe. Diante da exigência do eu - amar um vaso sem flor
lírico, o amor do cotidiano ou romântico
parece ser um grande simulacro, uma auto -amar uma ave de rapina
ilusão. Vale-se também da anáfora, repetição de uma
mesma palavra no começo de vários versos.
O título se refere ao amor que não muda (ser), Trata-se de um soneto e percebem-se ecos de
idealizado, e aquilo que encontramos no Camões, seja em relação ao uso de alguns
mundo real, das coisas. termos (fogo), seja em relação à discussão
Isso pode ser percebido logo na primeira entre o amor idealizado e o real.
estrofe do soneto. O poeta indaga sobre o Há uma metáfora forte e obscura, “N’água e na
amor, se arremessando a ele como uma onda pedra amor deixa gravados/seus hieróglifos e
se arremessa num rochedo. mensagens...”, mas que remete aos quatro
As almas (seres perfeitos e idealizados) elementos. Aliás, você pode perceber que ele
esquecem-se de que o amor é corrosivo e cita o ar, o fogo, a água e a terra.
transformam o amor (a desilusão amorosa) em
humor e em algo vago e brando. O primeiro verso é primoroso, “Onda e amor,
onde amor, ando indagando”. Primeiro, há
Mas esse amor que deixa marcas não se deixa uma paranomásia (trocadilho) entre “onda”,
saber nem aos elementos encantados (“E nem “onde” e “ando”. Segue-se uma aliteração do
os elementos encantados/ sabem do amor que som nasal e, por conta disso, há uma imagem
os punge...”). No final, o eu lírico retoma a metafórica, desenvolvida depois pelo poeta.
metáfora de Camões, esse amor é fogueira no Assim como as ondas assaltam o rochedo em
final do dia; mas também retoma, na filosofia, vagas, o poeta se arremessa contra esse
Heráclito, que elegia o fogo como elemento mistério rochoso do que é o amor.
supremo da mudança e da destruição criativa.
Esse poema é mais sentimental, quase Esse poema é composto por 4 estrofes de 9
choroso. O poeta começa comparando a tarde versos, sendo composto por versos livres
de maio com as relíquias que os primitivos O próprio título já se refere a uma metáfora e
levam para dar sorte. Ele carrega a tarde de uma metonímia.
maio, mas torcendo para que ela fique “no Maio é identificado como um dos meses que
tempo e fora dele”. compõem a primavera (no hemisfério norte), a
Resta saber o que é tarde de maio? No próprio primavera por sua vez é associada, na
poema, maio é associado à primavera e à literatura, a prazeres e amores.
possiblidade de amar , pois a tarde de maio
pode “converter-se em sinal de beleza no rosto Há ainda metáforas fúnebres.
de alguém/que, precisamente, volve o rosto, e A comparação inicial já anuncia isso, pois ele
passa…” compara sua ação de levar em si a tarde de
Mas vale observar, que se trata da tarde, maio ao fato de que os primitivos levam “o
portanto, quando o dia está acabando. Além maxilar inferior de seus mortos” como relíquia.
disso, na terceira estrofe, o eu lírico contamina
esse amor de imagens de morte e compara o
amor com algo que se esconde como a resina
fúnebre que corrói por debaixo da casca.
A última estrofe explica essas imagens: “Se
morro de amor, todos o ignoram/e negam. O
próprio amor se desconhece e maltrata.”
homossexual Pedro Nava. Apesar de não Uso da analogia greco-latina. O amor por uma
compreender essa outra forma de amor, ave que é o próprio Zeus deve significar o amor
Drummond percebe nesse desejo algo de por alguém do próprio sexo.
dramático e recobre tal relação com a imagem
dos deuses do Olimpo.
A águia que menciona o poema é o próprio
Zeus que se transforma na ave para raptar o
rapaz. O amigo aparece no poema como
“forma pura que é suspiro/ de terrenas delícias
combinadas”. Drummond, apesar de
manifestar um certo preconceito, tenta
entender esse amor incompreensível.
Para o eu lírico, essa outra orientação significa
a “recusa/o pasto natural “, ou seja, a recusa
do “sexo natural”. O comportamento descrito
é o de alguém que implora o alimento (o sexo)
até o extremo. Mas, apesar dessa descrição
que mistura o sublime dos deuses e o
cotidiano desse amor sexualizado, o eu lírico
faz uma avaliação resignada que ultrapassa a
reflexão que ele faz sobre um tipo de amor, o
que ele diz pode servir para qualquer ímpeto
sexual:
“baixemos nossos olhos ao desígnio
da natureza ambígua e reticente:
ela tece, dobrando-lhe o amargor,
outra forma de amar no acerbo amor.”
Tema: maturidade; amor confuso; amor de
campo de flores reconciliação com a vida
(perspectiva subjetiva)
Outro poema que não apresenta dificuldades
interpretativas, uma vez, que está mais
próximo da imagem que temos do amor. O Poema simples com 8 estrofes irregulares.
mote aparece no primeiro verso, “Deus me
deu um amor no tempo de madureza”. A partir
dessa confissão, o eu lírico vai falando das O título já é uma metáfora, “campo de flores”,
manifestações desse amor na época tardia. que se refere a esse momento em que o poeta,
Não descreve esse sentimento pela já maduro, ama novamente.
perspectiva da amargura, mas da descoberta Há uma outra estrofe metafórica muito
de uma renovação que ele achava não ser interessante e que retoma o título
possível. Há aqui uma reconciliação com o
“E o tempo que levou uma rosa indecisa
sentimento amoroso. A conclusão é
a tirar sua cor dessas chamas extintas
significativa:
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
Dirigindo-se para um outro que nada sabe da A relação entre o título e o poema é
vida, e muitas vezes usando o nós, para dar a contraditória e até irônica. A palavra “varão” é
ideia de um saber coletivo, o eu lírico faz usada na Bíblia para dar ênfase no nascimento
considerações sobre a vida, o tempo, o amor e de algum profeta ou rei. Nesse caso, esse
a morte. A perspectiva do enunciador é tratamento solene destoa da vida comum e
pessimista (“A terra anda morrendo sempre”). miserável que aguarda a criança. Destoa
Interessante como perto dos versos finais, ele também pelo fato de que o tratamento tão
resume a vida a partir de um tema sempre respeitoso não encontra paralelo na linguagem
presente: a dissolução do ser: simples do poema.
a do espinho arrancado.”
Tema: morte; amigos queridos; a poesia
o chamado
(perspectiva subjetiva)
Esse é um poema em homenagem a Manuel
Bandeira, por quem Carlos Drummond tinha O poema está dividido em 5 estrofes de 4
admiração e de quem foi amigo. versos. A métrica utilizada é a de 8 sílabas.
O eu lírico começa com uma cena hostil. O
poeta, já velho e exposto aos ventos, encontra- O poema é narrativo-descritivo. Constrói-se
se na rua escura de uma caótica noite urbana. uma cena sombria. O recurso mais significativo
O eu lírico pergunta para onde ele se é a letra maiúscula para “o Chamado”.
encaminha, ao que ele responde: “Ao meu
destino”. O final é ambíguo. O lugar para onde
ele vai é identificado no poema como “onde a
intuição,/ o amor, o risco desejado o
chamavam”, que pode ser a poesia ou a
própria morte. No final, há a identificação
desse lugar em letra maiúscula “o Chamado”.
lembra-se do negro. Ele passa em revista o Além das várias figuras de linguagem, a forma
lugar do negro na sociedade mineira. escolhida pelo poeta, a de dialogar como um
Relaciona a água a todas as possibilidades de negro, confere um caráter dramático e de
percepção do negro e sensações que foi confissão.
registrando nesse trato culpado e ao mesmo
tempo de reconhecimento dessas relações
assimétricas.
Ele considera a marginalização, os maus-tratos,
o desejo erótico, o rancor a ternura etc.
carta diria do tempo que faz por aqui, das lírico percebe a passagem do tempo é o traço
crianças que estudam e, por último, menciona estilístico mais marcante desse poema.
que espera rever o destinatário logo, depois
corrige essa informação “muito depressa,
não”. Fala de como o tempo corre rápido e das
notícias amorosas, necessárias quando só há
lembrança.
Carlos Drummond de Andrade”. (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Universidade de São Paulo,
2014.
Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-07112014-125945/pt-
br.php , acessado em 18.11.2019.
5. QUESTÕES
1. Q (FUVEST/2018)
Os bens e o sangue
VIII
(…)
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro… Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras,
para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais…
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude…
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
* “descorçoado”: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular da palavra
“desacoroçoado”, que significa “desanimado”.
** “pez”: piche.
Considere as seguintes afirmações:
I.Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta.
II.O passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue
se desvencilhar.
III.O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias, das quais
Drummond é tributário.
IV.A imagem de uma “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e
resíduos letais…” sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
2. Q(Autoral/2019)
Observe a estrofe abaixo.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
3. Q(FMABC/2017)
Sobre o livro Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade, pode-se afirmar que
a) é uma continuidade natural, tanto estilística quanto temática, das obras que o antecederam.
b) desenvolve temas sociais e se mostra como denúncia da condição humana no período de
opressão e de guerra.
c) aborda temas de sondagem filosófica e adentramento do mundo psíquico e existencial marcado
por profundo nihilismo.
d) apresenta uma visão otimista do mundo em que as formas de liberdade também se revelam no
uso de uma poesia sem o rigor de métrica e de rima.
4. Q(Pucsp/2017)
Entre o Ser e as Coisas
O poema acima é de Carlos Drummond de Andrade e integra a obra Claro Enigma. Da leitura
dele não se pode concluir que
a) é um poema de extração filosófica, pois se apoia em indagação sobre a existência e as
complicações do amor.
b) constrói-se com citações/referências tanto de obras da poesia brasileira quanto do que há de
melhor na poesia portuguesa.
c) afirma que o amor se manifesta em linguagem clara e objetiva e deixa suas marcas apenas sobre
os corpos líquidos de forma indelével e definitiva.
d) é um texto que se estrutura em forma fixa, com rimas e métrica convencionais, nos moldes da
poesia clássica.
5.Q(UFPR/2017)
“E não gostavas de festa… / Ó velho, que festa grande / hoje te faria a gente”. Esses são os versos
de abertura do poema “A Mesa”, parte integrante do livro Claro Enigma, de Carlos Drummond de
Andrade. Neles podem ser identificados alguns elementos do poema, entre os quais o destinatário,
um patriarca, a quem o eu lírico se dirige ao longo de centenas de versos. A respeito de “A Mesa” e
de sua integração com outros poemas do mesmo livro, assinale a alternativa correta.
a) Numa festa de aniversário, o eu lírico reapresenta ao velho pai as pessoas da família. Tristes e
nostálgicas, elas vão se dando conta de que o pai não as reconhece. É o que se observa nos versos:
“Aqui sentou-se o mais velho” e “Mais adiante vês aquele / que de ti herdou a dura / vontade, o
duro estoicismo”.
b) Na festa preparada para o pai, o eu lírico observa a conversa barulhenta em torno da comida e,
inutilmente, tenta calar seus parentes, que trazem à mesa assuntos triviais, perturbando a
solenidade do reencontro. É o que se observa na repetição do verso “(não convém lembrar
agora)”.
c) Por meio dos versos “Como pode nossa festa / ser de um só que não de dois? / Os dois ora
estais reunidos / numa aliança bem maior / que o simples elo da terra”, o eu lírico se dirige à mãe,
convidando-a para se sentar à cabeceira da mesa, provocando uma discussão entre o pai
autoritário e a mãe submissa.
d) Na memória do eu lírico, o pai se refere aos filhos cinquentões como se eles fossem meninos.
Embora sugira discordar do pai, o eu-lírico reconhece as contradições da condição de filho adulto
nos versos “e o desejo muito simples / de pedir à mãe que cosa, / mais do que nossa camisa, nossa
alma frouxa, rasgada”.
e) O soneto “Encontro” faz referência a um pai, mas, como o pai está morto (“Está morto, que
importa? / Inda madruga / e seu rosto, nem triste nem risonho, / é o rosto antigo, o mesmo. E não
enxuga / suor algum, na calma de meu sonho”), o filho só o encontra em sonho e na imaginação,
diferentemente de “A mesa”.
remissão
6. Q(Autoral/2019)
Em relação ao poema de Carlos Drummond de Andrade, são feitas as seguintes afirmações.
I. O tema metalinguístico é utilizado de forma existencial, pois, além de se debruçar sobre
a própria escrita, o eu lírico também tematiza sua angústia de viver.
II. Há desprezo pelos leitores e uma valorização do eu, algo que se observa no trecho “tua
poesia, pasto dos vulgares”.
III. A influência clássica, - observada no uso do soneto, na metrificação poética e a referência
à elegia -, é reforçada pelo tom descritivo que retoma o pressuposto de “arte pela arte”.
IV. O poeta, de forma bastante humilde, diminui sua própria escrita na metáfora expressa em
“pasto da poesia”.
7.Q(Autoral/2019)
As palavras sublinhadas, “engastando”, “travo” e “exílio”, poderiam ser substituídas, sem prejuízo
de sentido por
a) transformando, obstáculo, retiro
b) intercalando, amargor, isolamento
c) embutindo, acidez, deportação
d) enfeitando, entrave, expatriação
e) encaixando, dilema, solidão
8.Q(Autoral/2019)
No embate entre perspectivas poéticas entre Mário de Andrade e Carlos Drummond, o poeta
mineiro escreveu uma carta na qual expressava sua concepção da poesia. Qual dos trechos dessa
carta expressa melhor o sentido do poema?
9.Q(Autoral/2019)
Qual outro personagem das obras literárias apresenta uma sensação semelhante a do eu lírico?
a) João Romão (O Cortiço), pelo repúdio ao Brasil.
b) Bertoleza (O Cortiço) pela sensação de humilhação sofrida.
c) A protagonista de Minha vida de menina pela sensação de inferioridade diante dos outros.
d) Luís da Silva (Angústia) pela sua inadequação de quem não adapta ao espaço urbano.
e) Augusto Matraga (“A hora e a vez de Augusto Matraga) pela sua humildade após viver entre o
casal de negros que o acolhe.
10.Q(Autoral/2019)
Assinale a alternativa que comenta apropriadamente um recurso expressivo e seu efeito.
a) Uso da segunda pessoa como forma de chamar a atenção do leitor.
b) Uso de paralelismo linguístico nos dois primeiros versos como forma de chamar atenção
para os elementos necessários para “a vida, e seus pesares”.
c) Uso da interrogação no primeiro verso da segunda estrofe como forma de ressaltar as
hesitações do poeta em relação à vida.
d) Uso da hipérbole “em nada resta, mesmo, do que escreves” para exprimir o niilismo radical
do poeta.
e) Uso de ambiguidade no trecho “te forçou ao exílio das palavras” para expressar sua
indecisão diante do ofício da escrita.
11.Q(UFJF/2002)
Leia, com atenção, os fragmentos a seguir:
“Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem;
Verás então, que os sábios,
Bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração…, e basta,
Onde tu mesma cabes.”
(Tomás Antônio Gonzaga – “Lira II – 2ª parte”)
12.Q(Pucsp/2017)
Leia o poema para responder à(s) questão(ões).
A Ingaia Ciência
O poema, de Carlos Drummond de Andrade, está em Claro Enigma. Dele pode-se afirmar que
a) é um texto clássico cujo título remete ao sentido de um conhecimento vivaz, de uma arte alegre
retomada dos provençais e, por isso se estrutura em linguagem coloquial e de fácil entendimento.
b) é um soneto que não pode ser enquadrado no Modernismo porque retoma temas poéticos e
procedimentos estéticos próprios do Classicismo, em linguagem de elaboração sofisticada e
extremamente formal.
c) revela o vazio existencial do indivíduo, exacerbado pela maior clareza que a vida traz, e se
desenvolve em versos decassílabos, organizados em rima cruzada tanto nos quartetos quanto nos
tercetos e faz bom uso do enjambement como elemento de continuidade semântica e rítmica do
poema.
d) refere o tema da maturidade, enfocando-o como a experiência que anula os sentidos na
percepção do mundo, mas capaz de tornar o homem feliz ao entender racionalmente a realidade.
13.Q(FGV/2017)
Considerando-se o poema no contexto estético e ideológico de Claro enigma, ao qual pertence,
verifica-se que a posição do eu lírico, em relação à Inconfidência Mineira, é a de
a) encará-la como modelo de rebeldia, a ser oferecido às novas gerações de militantes políticos.
b) considerá-la exemplo privilegiado da violência com que as elites reprimem as insurreições no
Brasil.
c) tomá-la, distanciadamente, como ponto de partida para reflexões de caráter generalizante e
teor filosófico.
d) lamentar a precariedade da reconstituição histórica que lhe é oferecida pela posterioridade.
e) enfatizar o sentimento de culpa das elites brasileiras, contemporâneas do poeta, em face do
martírio de Tiradentes.
14.Q(FGV/2017)
É compatível com a síntese a que chega o poema sobretudo o pensamento (adaptado) que se
encontra em:
a) A história das sociedades, até os dias atuais, é a história da luta de classes. (K. Marx)
b) As épocas felizes são páginas em branco no livro da história. (G. W. F. Hegel)
c) A vida (…) é uma história cheia de som e de fúria, contada por um idiota, significando nada. (W.
Shakespeare)
d) O tempo é um tecido invisível, em que se pode bordar tudo (…). Também se pode bordar nada.
Nada em cima do tecido invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro. (Machado de
Assis)
e) O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida. (W. Benjamin)
15.Q(Autoral/2019)
sonho de um sonho
I. O poema reflete o próprio título da obra, Claro Enigma, pois o sonho aparece como
mistério que necessita de algum tipo de compreensão, mas que permanece obtuso para
o eu lírico, dado o jogo de sonho dentro do sonho.
II. A referência a “mitos organizados” permite entender que, apesar de sonhar, o eu lírico
sabia da falsidade de suas impressões, pois não eram espontâneas.
III. Esse poema, no conjunto da obra, representa um momento de evasão, no qual o poeta
se permite um pouco de idealização à moda romântica.
O texto acima é de Claro Enigma, obra de Carlos Drummond de Andrade. De sua leitura se
pode depreender que
a) é um poema que segue rigorosamente os procedimentos de construção do soneto clássico e
tradicional, particularmente quanto à disposição e ao valor das rimas e ao uso da chave de ouro
como fecho conclusivo do texto.
b) é um metapoema e revela que o soneto que o autor deseja fazer é o mesmo que o leitor está
lendo, como a evidenciar na prática a junção do querer e do fazer.
c) utiliza-se de expressões como “tiro no muro” e “cão mijando no caos”, que, além de provocar
mau gosto e o estranhamento do leitor, rigorosamente, nada têm a ver com a proposta de
elaboração do poema.
d) faz da repetição anafórica e do paralelismo dos versos, um recurso de composição do poema
que o torna enfadonho e antiestético e revela um poeta de produção duvidosa e menor.
17.Q(UFPR/2016)
Leia, atentamente, o seguinte poema:
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro Enigma, de
Carlos Drummond de Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.
a) As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor diante
de um mundo em que tudo é perecível.
b) O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo diferente da
intensidade do amor dispensado ao grotesco.
c) Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua concretude
e delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.
d) O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada e os
objetos a que essa ação se dirige.
e) A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante de um
mundo caótico e insensível.
18.Q(ITA/2005)
O livro “Claro Enigma“, uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, foi
editado em 1951. Desse livro consta o poema a seguir.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Claro Enigma”, Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Sobre esse texto, é correto dizer que
a) a passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças
humanas; quase nada permanece.
b) a memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto
emocional; tudo o mais se perde.
c) a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que
emocionalmente têm importância; essas permanecem.
d) a passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói
o mundo material; nada permanece.
e) o homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a
memória nada pode; tudo se perde.
19.Q(UEL/ 2001)
“Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,
Amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
Sempre e até de olhos vidrados, amar?”
A palavra ATÉ, no texto de Carlos Drummond de Andrade, tem o mesmo valor semântico que
em:
a) O marinheiro chegou ATÉ o porto ao amanhecer.
b) A polícia, ATÉ agora, não conseguiu capturar os fugitivos.
c) As apurações estaduais foram suspensas ATÉ segunda ordem.
d) Saveiro Geração III. Resiste a tudo, ATÉ a você.
e) 12 ATÉ 18 dias sem juros no cheque especial. Tarifas que podem chegar a zero.
https://www.shutterstock.com/image-photo/identity-absence-surreal-concept-man-front-767658412
20.Q(Autoral/2019)
Essa foto pode ser considerada uma releitura de quadros de René Magritte (1898-1967), artista
plástico surrealista. Os versos de Carlos Drummond de Andrade que mais adequadamente traduzem
a mensagem da figura acima são:
a)
“Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.”
b)
“A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,”
c)
“Que metro serve
para medir-nos?
Que forma é nossa
e que conteúdo?”
d)
“O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.”
e)
“Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.”
21.Q(Autoral/2019)
Considerando que a temática expressa na imagem e na estrofe do poema que você assinalou na
questão anterior está presente em Claro Enigma, assinale a alternativa que contenha a crítica mais
apropriada a essa temática em questão.
a) “[Em Carlos Drummond há]...um divórcio do poeta com o mundo, a sociedade, para confiná-lo a
uma certa passividade ou a um certo enrolamento sobre ele próprio (Antonio Candido).
b) “[Percebe-se um] hiato entre o parecer e o ser dos homens e dos fatos que acaba virando matéria
privilegiada de humor...” (Alfredo Bosi)
c)”A consciência social, e dela uma espécie de militância através da poesia, surgem para o poeta
como possibilidade de resgatar a consciência do estado de emparedamento e a existência da
situação de pavor”. (Antonio Candido)
d) “Comparado com o passado, no presente em que vive o poeta, “o espaço é pequeno” e o passado
se mostra “espaço reaberto”, por onde transcorrerá um fluxo de imagens representativas de sua
vida.” (Affonso Romano Sant’Anna).
e)“o Eu se reintegra depois de ter se apartado, na procura de si mesmo através do tempo” (Affonso
Romano Sant’Anna).
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. O comentário de Drummond se refere a relação de Drummond com
o mundo e não dele consigo mesmo.
Alternativa "B" está incorreta. Esse comentário seria perfeito se Alfredo Bosi não considerasse o
humor, traço dos primeiros livros de Drummond. Em Claro Enigma predomina uma análise grave e
não condescendente dele consigo mesmo.
Alternativa "C" está incorreta. O poema em questão não expressa preocupação social.
Alternativa "D" está incorreta. O tema do passado é uma constante em Claro Enigma, mas não na
estrofe citada.
Alternativa "E" está incorreta. O crítico versa sobre o eu que discute seu desencontro, ideia que
pode ser observada no quadro em que o homem vê no espelho suas costas e não a si mesmo.
Gabarito: E
5.1 GABARITO
1.E
2.B
3.C
4.C
5.D
6.C
7.B
8.E
9.D
10.B
11.A
12.C
13.C
14.B
15.E
16.B
17.D
18.C
19.D
20.C
21.E
VIII.A imagem de uma “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e
resíduos letais…” sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Comentário.
A afirmação I está correta. Nesse poema, a voz dos ancestrais parece dialogar com o eu lírico; no
início do poema percebe-se a menção à fragilidade do poeta, “Ó filho pobre, e descorçoado”.
A afirmação II está correta. Talvez a palavra “maldição” seja um pouco forte, mas dado que as
vozes do passado parecem condená-lo, pode até encarar o texto dessa forma; realmente fica claro
que o poeta está ligado a esse passado.
A afirmação III está correta. Há no poema uma estrofe que revela essa ruína material da família,
fato retomado pela expressão nessa estrofe que fecha o poema como um todo.
A afirmação IV está correta. As expressões “pez (piche)” e “resíduos letais” deixam claro o
pessimismo.
Gabarito: E
2. Q(Autoral/2019)
Observe a estrofe abaixo.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
O conectivo “pois” introduz uma relação de causa. O trecho “aprouve findar o dia” significa que o
dia se satisfaz em acabar. Ora, diante desse fenômeno natural, diante do qual o poeta nada pode
fazer, resta a ele simplesmente aceitar a situação. A última oração é uma consequência da primeira
(alternativa “b”).
A alternativa "A" está incorreta. A oração anterior é a causa, já que começa com “pois”.
Alternativa "C" está incorreta. Não há conectivo ou preposição que indique finalidade.
Alternativa "D" está incorreta. Não há conectivo ou mesmo verbo que indique condição,
circunstância ou hipótese.
Alternativa "E" está incorreta. Não há advérbio nem conector que indique relação temporal.
Gabarito: B
3. Q(FMABC/2017)
Sobre o livro Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade, pode-se afirmar que
a) é uma continuidade natural, tanto estilística quanto temática, das obras que o
antecederam.
b) desenvolve temas sociais e se mostra como denúncia da condição humana no período de
opressão e de guerra.
c) aborda temas de sondagem filosófica e adentramento do mundo psíquico e existencial
marcado por profundo nihilismo.
d) apresenta uma visão otimista do mundo em que as formas de liberdade também se
revelam no uso de uma poesia sem o rigor de métrica e de rima.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Até percebe-se uma continuidade, mas, nessa obra, Drummond
rompe com o otimismo possível em relação à comunhão social e faz experimentações com o verso
clássico, metrificado.
Alternativa "B" está incorreta. Esse foi o tema desenvolvido nos dois livros anteriores, A rosa do
povo e Sentimento do mundo.
Alternativa "C" está correta. Nesse livro, Drummond, tendo abandonado a esperança de uma saída
coletiva, entrega-se ao pessimismo (nihilismo) voltando-se para temas da subjetividade.
Alternativa "D" está incorreta. Drummond não é o poeta do otimismo, na verdade, ele é o melhor
antídoto para uma autoajuda enganadora, ilusória.
Gabarito: C
4. Q(Pucsp/2017)
Entre o Ser e as Coisas
O poema acima é de Carlos Drummond de Andrade e integra a obra Claro Enigma. Da leitura
dele não se pode concluir que
a) é um poema de extração filosófica, pois se apoia em indagação sobre a existência e as
complicações do amor.
b) constrói-se com citações/referências tanto de obras da poesia brasileira quanto do que há de
melhor na poesia portuguesa.
c) afirma que o amor se manifesta em linguagem clara e objetiva e deixa suas marcas apenas sobre
os corpos líquidos de forma indelével e definitiva.
d) é um texto que se estrutura em forma fixa, com rimas e métrica convencionais, nos moldes da
poesia clássica.
Comentário.
Observe que você dever assinalar a incorreta.
Alternativa "A" está correta. O próprio título já dá ideia de indagação filosófica, pois o ser das coisas
é o que anima a reflexão filosófica desde seu nascimento. O poema fala de amor, como fica claro
logo no primeiro verso.
Alternativa "B" está correta. Ao falar em indagar à rocha imperativa sobre seu amor, o poeta nos faz
lembrar a poesia de Claudio Manuel da Costa (1725-1789), poeta mineiro, árcade; já a referência
às almas com certeza manifesta influência da poesia camoniana.
Alternativa "C" está incorreta. A linguagem desse poema não é clara, e o amor deixa marcas
também nas almas e nos seres encantados.
Alternativa "D" está correta. O poema é um soneto, forma fixa reconhecida como clássica.
Gabarito: C
5.Q(UFPR/2017)
“E não gostavas de festa… / Ó velho, que festa grande / hoje te faria a gente”. Esses são os
versos de abertura do poema “A Mesa”, parte integrante do livro Claro Enigma, de Carlos
Drummond de Andrade. Neles podem ser identificados alguns elementos do poema, entre
os quais o destinatário, um patriarca, a quem o eu lírico se dirige ao longo de centenas de
versos. A respeito de “A Mesa” e de sua integração com outros poemas do mesmo livro,
assinale a alternativa correta.
a) Numa festa de aniversário, o eu lírico reapresenta ao velho pai as pessoas da família.
Tristes e nostálgicas, elas vão se dando conta de que o pai não as reconhece. É o que se
observa nos versos: “Aqui sentou-se o mais velho” e “Mais adiante vês aquele / que de ti
herdou a dura / vontade, o duro estoicismo”.
b) Na festa preparada para o pai, o eu lírico observa a conversa barulhenta em torno da
comida e, inutilmente, tenta calar seus parentes, que trazem à mesa assuntos triviais,
perturbando a solenidade do reencontro. É o que se observa na repetição do verso “(não
convém lembrar agora)”.
c) Por meio dos versos “Como pode nossa festa / ser de um só que não de dois? / Os dois
ora estais reunidos / numa aliança bem maior / que o simples elo da terra”, o eu lírico se
dirige à mãe, convidando-a para se sentar à cabeceira da mesa, provocando uma discussão
entre o pai autoritário e a mãe submissa.
d) Na memória do eu lírico, o pai se refere aos filhos cinquentões como se eles fossem
meninos. Embora sugira discordar do pai, o eu-lírico reconhece as contradições da condição
de filho adulto nos versos “e o desejo muito simples / de pedir à mãe que cosa, / mais do
que nossa camisa, nossa alma frouxa, rasgada”.
e) O soneto “Encontro” faz referência a um pai, mas, como o pai está morto (“Está morto,
que importa? / Inda madruga / e seu rosto, nem triste nem risonho, / é o rosto antigo, o
mesmo. E não enxuga / suor algum, na calma de meu sonho”), o filho só o encontra em
sonho e na imaginação, diferentemente de “A mesa”.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Nesse momento, o eu lírico descreve para o leitor a cena e não para
o pai.
Alternativa "B" está incorreta. Não se trata de um momento solene. Predomina um momento de
descontração em que os filhos se dispõem inclusive a falar de coisas que normalmente irritariam o
pai, mas que são desculpáveis naquela circunstância.
Alternativa "C" está incorreta. Não há discussão nesse jantar imaginado por um eu lírico que tenta
a reconciliação com seu passado através de sua memória e sua fantasia.
Alternativa "D" está correta. Trata-se de uma festa imaginária. O pai estaria com 90 anos e os
filhos entre 60 e 50. Apesar disso, a referência a “meninos” e a lembrança do eu lírico de que pedia
à mãe que costurasse uma roupa rasgada mostra a permanência de algo da infância nesse
encontro de pessoas maduras.
Alternativa "E" está incorreta. O poema “a mesa” retrata também um encontro imaginado, ou
seja, ele só encontra o pai na fantasia.
Gabarito: D
remissão
6. Q(Autoral/2019)
Em relação ao poema de Carlos Drummond de Andrade, são feitas as seguintes afirmações.
V. O tema metalinguístico é utilizado de forma existencial, pois, além de se debruçar sobre
a própria escrita, o eu lírico também tematiza sua angústia de viver.
VI. Há desprezo pelos leitores e uma valorização do eu, algo que se observa no trecho “tua
poesia, pasto dos vulgares”.
VII. A influência clássica, - observada no uso do soneto, na metrificação poética e a referência
à elegia -, é reforçada pelo tom descritivo que retoma o pressuposto de “arte pela arte”.
VIII. O poeta, de forma bastante humilde, diminui sua própria escrita na metáfora expressa em
“pasto da poesia”.
Comentário.
A afirmação I está correta. Logo no início, o poeta revela que sua vida de pesares é assunto de sua
poesia, portanto, discute a questão existencial e a própria poesia.
A afirmação II está incorreta. O trecho mencionado não está direcionado para o leitor, mas para o
próprio eu-lírico, trata-se de um poema em que o eu conversa consigo mesmo.
A afirmação III está incorreta. Apesar de ser um soneto, o poema não é descritivo, e, nele, o poeta
expressa suas angústias existenciais.
A afirmação IV está incorreta. Usar a expressão “pasto de poesia” é, obviamente, uma metáfora que
aponta para o mundo animal, mas isso não diminui o próprio texto, ele usa uma figura interessante,
assim como boi pasta no campo, a poesia do poeta se alimenta da memória.
Gabarito:C
7.Q(Autoral/2019)
As palavras sublinhadas, “engastando”, “travo” e “exílio”, poderiam ser substituídas, sem prejuízo
de sentido por
a) transformando, obstáculo, retiro
b) intercalando, amargor, isolamento
c) embutindo, acidez, deportação
d) enfeitando, entrave, expatriação
e) encaixando, dilema, solidão
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. A palavra “transformando” até faz sentido, mas a segunda
combinação não preserva a ideia, não se pode dizer “obstáculo de angústia”.
Alternativa "B" está correta. A palavra “exílio” pode ser traduzida pelo isolamento, já que o poeta é
levado para esse mundo que é só dele.
Alternativa "C" está incorreta. Até há algum sentido nas duas primeiras substituições, mas no caso
da última, vale lembrar que o poeta “não foi obrigado” por uma força externa a escolher a poesia
como opção existencial.
Alternativa "D" está incorreta. A palavra “enfeitando” não pode se relacionar com “numa coisa fria”.
Alternativa "E" está incorreta. A palavra “travo” acentua a “angústia”, já a palavra “dilema”
caracteriza “angústia”, ou seja, haveria mudança de sentido.
Gabarito: B
8.Q(Autoral/2019)
No embate entre perspectivas poéticas entre Mário de Andrade e Carlos Drummond, o poeta
mineiro escreveu uma carta na qual expressava sua concepção da poesia. Qual dos trechos dessa
carta expressa melhor o sentido do poema?
9.Q(Autoral/2019)
Qual outro personagem das obras literárias apresenta uma sensação semelhante a do eu lírico?
a) João Romão (O Cortiço), pelo repúdio ao Brasil.
b) Bertoleza (O Cortiço) pela sensação de humilhação sofrida.
c) A protagonista de Minha vida de menina pela sensação de inferioridade diante dos outros.
d) Luís da Silva (Angústia) pela sua inadequação de quem não adapta ao espaço urbano.
e) Augusto Matraga (“A hora e a vez de Augusto Matraga) pela sua humildade após viver entre o
casal de negros que o acolhe.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. João Romão não repudia o Brasil, e esse não é o tema do poema
citado.
Alternativa "B" está incorreta. Bertoleza realmente foi humilhada, mas no poema não aparece
qualquer traço semântico de humilhação.
Alternativa "C" está incorreta. E Minha Vida da Menina, há eventuais momentos em que a
narradora se sente inferior, mas isso não é algo tão relevante; no poema essa não é a causa de o eu
lírico se exilar nas palavras.
Alternativa "D" está correta. Luís da Silva, filho de proprietários falidos, nunca se acostumou ao
espaço urbano, sempre se achou inadequado tal qual o eu lírico de Drummond.
Alternativa "E" está incorreta. A humildade não é o tema central do poema.
Gabarito: D
10.Q(Autoral/2019)
Assinale a alternativa que comenta apropriadamente um recurso expressivo e seu efeito.
O poema, de Carlos Drummond de Andrade, está em Claro Enigma. Dele pode-se afirmar que
a) é um texto clássico cujo título remete ao sentido de um conhecimento vivaz, de uma arte alegre
retomada dos provençais e, por isso se estrutura em linguagem coloquial e de fácil entendimento.
b) é um soneto que não pode ser enquadrado no Modernismo porque retoma temas poéticos e
procedimentos estéticos próprios do Classicismo, em linguagem de elaboração sofisticada e
extremamente formal.
c) revela o vazio existencial do indivíduo, exacerbado pela maior clareza que a vida traz, e se
desenvolve em versos decassílabos, organizados em rima cruzada tanto nos quartetos quanto nos
tercetos e faz bom uso do enjambement como elemento de continuidade semântica e rítmica do
poema.
d) refere o tema da maturidade, enfocando-o como a experiência que anula os sentidos na
percepção do mundo, mas capaz de tornar o homem feliz ao entender racionalmente a realidade.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. “Gaia ciência” refere-se a uma arte vivaz típica dos provençais, mas
o título é “Ingaia”, ou seja, não é alegre.
Alternativa "B" está incorreta. O Modernismo representou a quebra das tradições, mas não
significou a criação de novas regras, tudo seria permitido, até mesmo voltar aos velhos modelos.
Alternativa "C" está correta. No poema, o eu lírico constata que a madureza lhe trouxe maior lucidez
diante do vazio da existência; o poeta se vale do soneto tradicional, ou seja, escrito em decassílabo;
há enjambement, que significa corte da oração em um verso, o complemento continua no verso
seguinte, como nos seguintes versos “A madureza sabe o preço exato /dos amores, em que o
complemento nominal “dos amores” está no outro verso (outra linha).
Alternativa "D" está incorreta. Realmente, trata-se do tema da maturidade, mas essa fase da vida
não torna o homem feliz.
Gabarito: C
Texto para as questões 13 e 14.
Museu da Inconfidência*
São palavras no chão
e memória nos autos.
as casas inda restam,
os amores, mais não.
E restam poucas roupas,
sobrepeliz de pároco,
a vara de um juiz,
anjos, púrpuras, ecos.
13.Q(FGV/2017)
Considerando-se o poema no contexto estético e ideológico de Claro enigma, ao qual pertence,
verifica-se que a posição do eu lírico, em relação à Inconfidência Mineira, é a de
a) encará-la como modelo de rebeldia, a ser oferecido às novas gerações de militantes
políticos.
b) considerá-la exemplo privilegiado da violência com que as elites reprimem as
insurreições no Brasil.
c) tomá-la, distanciadamente, como ponto de partida para reflexões de caráter
generalizante e teor filosófico.
d) lamentar a precariedade da reconstituição histórica que lhe é oferecida pela
posterioridade.
e) enfatizar o sentimento de culpa das elites brasileiras, contemporâneas do poeta, em face
do martírio de Tiradentes.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Logo no primeiro verso “são palavras no chão”, percebe-se que o
poeta não acredita que os ideais dos inconfidentes possam “ser oferecidos a novas gerações”,
Alternativa "B" está incorreta. Não há referência à repressão das elites.
Alternativa "C" está correta. O poeta vale-se do pouco que restou daquele momento histórico para
chegar a reflexão filosófica e ampla de que “Toda história é remorso.”
Alternativa "D" está incorreta. Ele vê com um certo desencanto a precariedade, mas sua finalidade
não é lamentar isso, mas valer-se dessa situação para ilustrar a conclusão final que tem a ver com
qualquer fenômeno histórico.
Alternativa "E" está incorreta. Não há referência, no poema, às elites contemporâneas ao poeta.
Gabarito: C.
14.Q(FGV/2017)
É compatível com a síntese a que chega o poema sobretudo o pensamento (adaptado) que se
encontra em:
a) A história das sociedades, até os dias atuais, é a história da luta de classes. (K. Marx)
IV. O poema reflete o próprio título da obra, Claro Enigma, pois o sonho aparece como
mistério que necessita de algum tipo de compreensão, mas que permanece obtuso para
o eu lírico, dado o jogo de sonho dentro do sonho.
V. A referência a “mitos organizados” permite entender que, apesar de sonhar, o eu lírico
sabia da falsidade de suas impressões, pois não eram espontâneas.
VI. Esse poema, no conjunto da obra, representa um momento de evasão, no qual o poeta
se permite um pouco de idealização à moda romântica.
17.Q(UFPR/2016)
Leia, atentamente, o seguinte poema:
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
Alternativa "D" está correta. Essa alternativa tem problemas, mas é a “menos pior”. É verdade que
o amor é elevado à condição universal, mas o objeto permanece reticente à ação do sujeito. É o
sujeito que tenta se fundir nos objetos.
Alternativa "E" está incorreta. O último verso não expressa ineficácia do amor, mas a nossa condição
de seres que devem amar, não há outra alternativa.
Gabarito. D
18.Q(ITA/2005)
O livro “Claro Enigma“, uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, foi
editado em 1951. Desse livro consta o poema a seguir.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Claro Enigma”, Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Sobre esse texto, é correto dizer que
a) a passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças
humanas; quase nada permanece.
b) a memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto
emocional; tudo o mais se perde.
c) a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que
emocionalmente têm importância; essas permanecem.
d) a passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói
o mundo material; nada permanece.
e) o homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a
memória nada pode; tudo se perde.
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. O poeta não menciona a proporção do que será apagado, ou seja,
ele não afirma que o “tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças” .
Alternativa "B" está incorreta. O eu lírico fala do esquecimento, mas não menciona se os eventos
que não são esquecidos são os de grande impacto; ele não define o que será lembrado.
Alternativa "C" está correta. O poema destaca que várias coisas sensíveis não serão lembradas (“a
passagem do tempo apaga muitas coisas), mas algumas que já são findas, já se foram,
provavelmente as mais importantes sob a perspectiva afetiva, ficarão na memória.
Alternativa "D" está incorreta. O tema da velhice não foi tematizado no poema.
Alternativa "E" está incorreta. O poema afirma que algo fica na memória, o tempo não apaga
tudo.
Gabarito: C
19.Q(UEL/ 2001)
“Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,
Amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
Sempre e até de olhos vidrados, amar?”
A palavra ATÉ, no texto de Carlos Drummond de Andrade, tem o mesmo valor semântico que
em:
a) O marinheiro chegou ATÉ o porto ao amanhecer.
b) A polícia, ATÉ agora, não conseguiu capturar os fugitivos.
c) As apurações estaduais foram suspensas ATÉ segunda ordem.
d) Saveiro Geração III. Resiste a tudo, ATÉ a você.
e) 12 ATÉ 18 dias sem juros no cheque especial. Tarifas que podem chegar a zero.
Comentário.
No poema o “até” está sendo usado como ênfase, mas ele pode ter o valor de limite.
Alternativa "A" está incorreta. Essa frase dá ideia de limite de espaço, ele foi até o porto, não
além.
Alternativa "B" está incorreta. Essa frase dá a ideia de limite de tempo, até esse momento.
Alternativa "C" está incorreta. Novamente, há ideia de limite, somente com uma segunda ordem
as investigações podem continuar.
Alternativa "D" está correta. Nessa propaganda, há intensificação. O “tudo” já inclui “você”, as
para que haja apelo é necessário enfatizar qual seria o seu comportamento.
Alternativa "E" está incorreta. Essa frase dá a ideia de intervalo de tempo.
Gabarito: D
https://www.shutterstock.com/image-photo/identity-absence-surreal-concept-man-front-767658412
20.Q(Autoral/2019)
Essa foto pode ser considerada uma releitura de quadros de René Magritte (1898-1967), artista
plástico surrealista. Os versos de Carlos Drummond de Andrade que mais adequadamente traduzem
a mensagem da figura acima são:
a)
“Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.”
b)
“A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,”
c)
“Que metro serve
para medir-nos?
Que forma é nossa
e que conteúdo?”
d)
“O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.”
e)
“Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.”
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. Na imagem, não se percebe elemento que figurativize a memória
tema central da estrofe da alternativa.
Alternativa "B" está incorreta. O tema do poema é a madureza, nada a ver com o espelho que
significa reflexão.
Alternativa "C" está correta. Um espelho serve para reflexão da imagem, para nos percebermos; no
poema é feita um pergunta que lembra o processo reflexivo que um espelho desencadeia: qual é a
nossa forma?
Alternativa "D" está incorreta. O poema é pessimista, condena o mundo, a imagem não passa essa
ideia.
Alternativa "E" está incorreta. Esse poema é metalinguístico, a imagem não.
Gabarito: C
21.Q(Autoral/2019)
Considerando que a temática expressa na imagem e na estrofe do poema que você assinalou na
questão anterior está presente em Claro Enigma, assinale a alternativa que contenha a crítica mais
apropriada a essa temática em questão.
a) “[Em Carlos Drummond há]...um divórcio do poeta com o mundo, a sociedade, para confiná-lo a
uma certa passividade ou a um certo enrolamento sobre ele próprio (Antonio Candido).
b) “[Percebe-se um] hiato entre o parecer e o ser dos homens e dos fatos que acaba virando matéria
privilegiada de humor...” (Alfredo Bosi)
c)”A consciência social, e dela uma espécie de militância através da poesia, surgem para o poeta
como possibilidade de resgatar a consciência do estado de emparedamento e a existência da
situação de pavor”. (Antonio Candido)
d) “Comparado com o passado, no presente em que vive o poeta, “o espaço é pequeno” e o passado
se mostra “espaço reaberto”, por onde transcorrerá um fluxo de imagens representativas de sua
vida.” (Affonso Romano Sant’Anna).
e)“o Eu se reintegra depois de ter se apartado, na procura de si mesmo através do tempo” (Affonso
Romano Sant’Anna).
Comentário.
Alternativa "A" está incorreta. O comentário de Drummond se refere à relação de Drummond com
o mundo e não dele consigo mesmo.
Alternativa "B" está incorreta. Esse comentário seria perfeito se Alfredo Bosi não considerasse o
humor, traço dos primeiros livros de Drummond. Em Claro Enigma predomina uma análise grave e
não condescendente dele consigo mesmo.
Alternativa "C" está incorreta. O poema em questão não expressa preocupação social.
Alternativa "D" está incorreta. O tema do passado é uma constante em Claro Enigma, mas não na
estrofe citada.
Alternativa "E" está incorreta. O crítico versa sobre o eu que discute seu desencontro, ideia que
pode ser observada no quadro em que o homem vê no espelho suas costas e não a si mesmo.
Gabarito: E
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Professor Fernando
Andrade
REFERÊNCIAS
Figura 1: Disponível em https://pixabay.com/pt/photos/flor-estrada-rachadura-amarelo-4346049/ ,
acessado em 09.10.2019.
Figura 2: Disponível em https://pixabay.com/pt/photos/cadela-o-t%C3%A9dio-
respira%C3%A7%C3%A3o-est%C3%A1tua-2674465/ , acessado em 09.10.2019.
Figura 3: Disponível em https://www.shutterstock.com/image-vector/businessman-superhero-shadow-
ambition-business-success-1043728078 , acessado em 13.11.2019.
Figura 4: Disponível em https://pixabay.com/pt/photos/ufo-espa%C3%A7o-estrelas-ci%C3%AAncia-
2144977/ , acessado em 09.10.2019.
Figura 5: Disponível em https://pixabay.com/pt/photos/edif%C3%ADcios-perspectiva-cidade-1149851/ ,
acessado em 13.11.2019.