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OBRA: Bons Dias! perspectiva individual. Por fim, a oitava é


um relato sarcástico do processo político
AUTORA: Machado de Assis
da abolição.
ANO DE PUBLICAÇÃO: crônicas escritas entre  CRÔNICA 9: por meio do humor, Machado
1888 e 1889 constrói uma alegoria política a respeito do
Bendegó, meteoro transportado da Bahia
GÊNERO LITERÁRIO: a obra é uma produção do para o RJ, em 1888.
gênero narrativo. Temos 49 crônicas num total.
INFORMAÇÕES EXTRAS
PERÍODO LITERÁRIO: Realismo (1881-1922)
 Para a investigação proposta, analisaremos
ESPAÇO: as crônicas têm como pano de fundo no três crônicas, da série “Bons Dias!”, que
Rio de Janeiro no período da implantação da apresentam como unidade temática a
República. Abolição da Escravatura e a República. Essa
série compreende 49 crônicas, 48 delas
A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO:
publicadas no jornal Gazeta de Notícias, entre
As primeiras nove crônicas do livro são, na 5 de abril de 1888 e 29 de agosto de 1889.
verdade, o seu cerne, e expõem os argumentos  Logo após sua morte, foi acusado, por
centrais do autor. Constituem um processo em Hemetério José dos Santos, na Gazeta de
que as questões mais importantes são retratadas, Notícias de 29 de novembro de 1908, “[…] de
desenvolvidas, e finalmente chegam ao clímax, haver renegado suas origens, […] ao manter-se
embora, claro, nunca sem ironia. Vamos à alheio ao problema da escravidão” (BROCA,
organização dessas crônicas: 1992, p.241).
 Essas crônicas pertencem à série “Bons Dias!”,
 CRÔNICAS 1 e 2: exposição confusa
que compreende 49 crônicas, 48 delas
(hermética) a respeito do paradoxo da
publicadas no jornal Gazeta de Notícias, entre
escolha de um governo conservador
5 de abril de 1888 e 29 de agosto de 1889,
aspirando ser liberal (abolição da
consideradas as melhores crônicas de
escravidão).
Machado de Assis.
 CRÔNICA 3: algumas leis acabaram com a
 Época em que ocorre a Abolição da
instituição da escravidão, mas os escravos
Escravatura, a queda do Império e o
viram fichas de um sistema econômico.
surgimento da República. Uma ordenação da
 CRÔNICA 4: o fim inevitável da escravidão
sociedade era, portanto, necessária.
sobre à cena.
 Era preciso redefinir a nação para que ela
 CRÔNICA 5: momento oficial para se falar
ocupasse um lugar no mundo ocidental
da escravidão no Parlamento. Machado
capitalista.
sugeri não se deixar seduzir pelas
 A ordenação da sociedade, necessária para o
audiências, talvez por isso, o humor do
progresso da nação, é sintetizada na fórmula
texto.
republicana positivista “ordem e progresso”,
 CRÔNICA 6, 7 e 8: concentram o ponto de
na qual o progresso é identificado como um
vista do autor sobre o tema da abolição e
“projeto de futuro”.
da escravidão. Cada uma apresenta os
 Machado de Assis, um observador sagaz, antes
temas sob uma perspectiva: a sexta fala da
mesmo da implantação da República, apontou
fuga em massa das fazendas em MG e RJ.
para muitas “mudanças” que se aproximavam
A sétima é uma alusão ao Pancrácio para
expressar a escravidão sob uma

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e para suas consequências, como veremos necessária em sua época por ainda não
adiante. apresentar um Machado de Assis enquanto
 Dentre esses artigos, o que passou a ser cronista seria um flâneur profeta. Não seria
denominado crônica, no final do século XIX, apenas, como nos diz o dicionário, o “[...]
tinha por característica misturar informação e passeante, o que passa o tempo passeando
ficção, utilizando como informação o sem destino pelas ruas e praças.”
circunstancial, o acontecimento do dia a dia.  Tal qual a Abolição, a República também é
 Essa concepção de crônica, que surgiu no relativizada. Nessa crônica, uma pista para
século XIX, não se sabe se em Portugal ou no essa interpretação encontra-se na citação em
Brasil (COUTINHO, 1971), designa um gênero alemão que significa: “Seria fácil provar que o
específico, ligado ao jornalismo, e diferencia- Brasil é mais uma oligarquia absoluta do que
se do significado tradicional de crônica: “relato uma monarquia constitucional.” (GLEDSON,
dos acontecimentos em ordem cronológica.” 1986, p.128). Com isso, John Gledson (1986)
(COUTINHO, 1971, p.108). Contudo, esse novo observa que a República nascerá da oligarquia,
gênero continuava preso à sua etimologia, do o que mostra que a mudança de regime será,
grego Khronos (tempo). Apesar de não mais simplesmente, uma mudança de rótulo: antes
seguir uma ordem cronológica, a crônica e depois, a oligarquia governará. Sem dúvida
possuía uma relação profunda com o tempo para um leitor que não lê alemão, a citação
vivido, pressupondo um leitor que partilhasse torna-se incompreensível, todavia há uma
esse tempo, sob pena de alguns ou muitos pista de seu significado nas expressões
comentários não serem entendidos. transparentes: konstitutionelle Monarchie e
 O anonimato pode ser interpretado como absolute Oligarchie.
sendo uma estratégia retórica, já que “[...] no
âmbito da retórica, a noção de autor importa
muito menos do que a de público receptor, o
verdadeiro centro de gravidade da retórica.”
(ROCHA, 1998,p.94). Certamente havia uma
razão para o sigilo. Segundo John Gledson
(1986), Machado tinha algo a dizer sobre a
Abolição, algo nada agradável, preferindo
assim a liberdade extra provocada pelo
anonimato.
 Podemos dizer então que “Bons Dias!”, apesar
de não chegar a ser uma série subversiva,
tocava em assuntos polêmicos de sua época,
segundo John Gledson com atitudes agressivas
muitas vezes. Para esse crítico, Machado ainda
procurava disfarçar suas atitudes agressivas
começando a série com um educado “Bons
Dias!” e terminando com “Boas Noites”,
mostrando assim cortesia e boas maneiras.
Acreditamos que esses cumprimentos fazem
parte da técnica de conquista do público pela
familiaridade, própria da crônica, e muito

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