Você está na página 1de 762

Capítulos 1 ao 8

Capítulo 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para a OAB. Preparamos todo esse material para você não só com
muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá

em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de
entender como a prova costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua

atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é

escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo


que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do

PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os

assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a

oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de

jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se

de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF Ad Verum!

Bons estudos 

Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Civil da seguinte forma:


CAPÍTULOS

Capítulo 1 - Direito Civil e Constituição. LINDB. Pessoa natural e Direitos da personalidade.

Pessoa jurídica.

Capítulo 2 - Bens. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos. Prescrição e Decadência.

Capítulo 3 - Teoria Geral das Obrigações. Atos Unilaterais.

Capítulo 4 - Teoria do Contrato. Contratos em espécie.

Capítulo 5 - Teoria da Responsabilidade civil.

Capítulo 6 - Posse. Direitos Reais.

Capítulo 7 - Casamento, União Estável e Monoparentalidade. Dissolução do Casamento e da

União Estável.

Capítulo 8 - Parentesco. Poder Familiar. Regimes de Bens e outros Direitos Patrimoniais nas

relações familiares. Alimentos.

Capítulo 9 - Sucessão legítima. Sucessão testamentária e disposições de última vontade.


SUMÁRIO
1. Direito Civil e Constituição .........................................................................................................................................5

1.1 Princípios basilares do Código Civil de 2002 ...........................................................................................6

1.2 A Evolução do Direito Civil .................................................................................................................................7

2. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro .......................................................................................8

2.1 Vigência das normas ..............................................................................................................................................8

2.2 Princípio da Continuidade das Normas .......................................................................................................8

2.3 Repristinação ..............................................................................................................................................................9

2.4 Revogação ...................................................................................................................................................................9

2.5 Princípio da Obrigatoriedade das Normas ................................................................................................9

2.6 Técnicas de Integração da Lei...........................................................................................................................9

2.7 Princípio da Irretroatividade da Lei ............................................................................................................. 10

2.8 Aplicação da Norma no Espaço .................................................................................................................... 11

3. Pessoa Natural e Direitos da Personalidade .................................................................................................. 13

3.1 Início da Personalidade da Pessoa Natural e Domicílio da Pessoa Natural.......................... 13

3.1.1 Momento aquisitivo da personalidade ............................................................................................. 13

3.2 Domicílio.................................................................................................................................................................... 15

3.3 Capacidade ............................................................................................................................................................... 15

3.4 Incapacidade............................................................................................................................................................ 18

3.4.1 Incapacidade Absoluta .............................................................................................................................. 19

3.4.2 Incapacidade Relativa ................................................................................................................................ 20

3.4.3 Cessação da Incapacidade ...................................................................................................................... 21

3.4.3.1 Voluntária/judicial................................................................................................................................ 22

3.4.3.2 Casamento .............................................................................................................................................. 22


3.4.3.3 Maioridade x Emancipação ............................................................................................................ 24

3.4.4 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural ............................................................................. 25

3.4.4.1 Comoriência ........................................................................................................................................... 29

3.5 Direitos da Personalidade ................................................................................................................................ 29

3.5.1 Características dos Direitos da Personalidade .............................................................................. 30

3.5.2 Tutela dos Direitos da Personalidade ............................................................................................... 30

3.5.3 Atos de Disposição Corporal ................................................................................................................. 32

3.5.4 Tratamento Médico de Risco................................................................................................................. 34

3.5.5 Direito ao Nome ........................................................................................................................................... 34

3.5.6 Divulgação de Escritos, Transmissão da Palavra e Utilização da Imagem..................... 36

3.5.7 Direito à Privacidade .................................................................................................................................. 38

4. Pessoa jurídica ................................................................................................................................................................ 39

4.1 Conceito de Pessoa Jurídica e Domicílio da Pessoa Jurídica ........................................................ 39

4.2 Classificação das Pessoas Jurídicas.............................................................................................................. 40

4.2.1 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno ................................................................................. 40

4.2.2 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo................................................................................. 40

4.2.3 Pessoas Jurídicas de Direito Privado.................................................................................................. 41

4.3 Criação (início) da Pessoa Jurídica ............................................................................................................... 42

4.4 Entes despersonalizados ................................................................................................................................... 42

4.5 Administração da Pessoa Jurídica ................................................................................................................ 42

4.6 Desconsideração da Personalidade jurídica ........................................................................................... 43

4.6.1 Hipóteses para a Desconsideração ..................................................................................................... 44

4.6.2 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica ............................................... 48

4.7 Dissolução da Pessoa Jurídica........................................................................................................................ 50

4.8 Associações .............................................................................................................................................................. 50


4.8.1 Conceito ............................................................................................................................................................ 50

4.8.2 Características................................................................................................................................................. 51

4.8.3 Constituição .................................................................................................................................................... 51

4.8.4 Exclusão dos associados........................................................................................................................... 52

4.9 Fundações ................................................................................................................................................................. 53

4.9.1 Conceito e Finalidades .............................................................................................................................. 53

4.9.2 Procedimentos para a Criação de uma Fundação ..................................................................... 54

4.9.3 Fiscalização ...................................................................................................................................................... 54

4.9.4 Requisitos para alteração do estatuto .............................................................................................. 55

4.9.5 Término das fundações............................................................................................................................. 55

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................................................. 56

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................................................ 64

GABARITO .................................................................................................................................................................................. 77

LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................................................. 78

JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................................................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................................................... 86
DIREITO CIVIL

Capítulo 1
O Direito Civil é conceituado como um complexo de normas, princípios e regras que

regulam as relações privadas das pessoas enquanto relacionadas com outras pessoas, por

fatos ou coisas comuns.

1. Direito Civil e Constituição

O fenômeno denominado “Constitucionalização do Direito Civil” é a interpretação,

estudo ou análise do Código Civil com base na Constituição Federal.

O Código civil de 1916 era bastante conservador, sobretudo nas regras sobre a família,

pois havia em seu conteúdo certa rejeição quanto aos aspectos sociais, abordava-se

principalmente sobre as relações privadas. Além disso, seus preceitos foram escritos com

excesso de abstração.

Com as mudanças nas relações sociais, na cultura, nos costumes, convivências e


experiências dos cidadãos em sociedade no decorrer dos anos, surgiu a Carta Magna de 1988.

A mesma definiu princípios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código

Civil e ao império da vontade, como a Função Social da Propriedade, os Limites da Atividade

Econômica, a Organização da Família, passando a integrar, assim, uma nova ordem pública

constitucional.

A Constituição de 1988 representou a afirmação da cidadania como elemento

essencial à sociedade brasileira. Os princípios da Dignidade da Pessoa Humana e da


Igualdade influenciaram o Direito Civil, resultando na dedução da importância de se possuir

um Código que estivesse de acordo com a sociedade vigente, que regulasse as relações

jurídicas entre as pessoas (naturais ou jurídicas) buscasse uma situação de equilíbrio de

condições, disciplinasse os negócios jurídicos, a família, obrigações e contratos, a propriedade

e demais direitos reais, cumprindo, portanto, sua função a luz dos princípios constitucionais.
5
Dessa forma, com o intuito de acompanhar as mudanças sociais e a influência dos

princípios constitucionais, foram realizadas adaptações para que o texto do Código Civil

pudesse ser compatibilizado com o texto constitucional, sem, contudo, alterar a substância
normativa de antes, surgindo o Código Civil de 2002.

Isto posto, podemos conceituar a “Constitucionalização do Direito Civil” como o


estudo geral e a interpretação do Código Civil com base nos princípios, fundamentos e

normas presentes na Constituição Federal. Um exemplo é a observação do Princípio da


Dignidade da Pessoa Humana, presente na Constituição Brasileira de 1988 e interpretado nas

normas que se referem à concessão de alimentos, dispostas no Código Civil.

1.1 Princípios basilares do Código Civil de 2002

O Código Civil de 2002 foi criado com o objetivo de superar o modelo trazido pelo

Código de 1916, baseado na “Era dos Direitos” e que buscava um direito que pudesse

solucionar cada situação jurídica possível, com preocupação de viés individualista.

Sendo assim, no sentido da constitucionalização do Direito Civil, com a influência direta

dos princípios expressos na CF/88, o Código de 2002 se baseou em três pilares básicos

(diretrizes):

 Eticidade: que tem como corolário o princípio da boa-fé objetiva, estabelece que

as relações jurídicas devem ser pautadas pela ética e pela lealdade. As partes devem

atuar de boa-fé em todas as fases da relação, desde a negociação até a fase de


execução. São 3 as funções desta diretriz: função de interpretação (art. 113, do

CC)1, função de controle (art. 187, do CC)2, função de integração/prestação (art.


422, do CC) 3.

1
Art. 113 do CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração”.
2
Art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
3
Art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

6
 Sociabilidade: superação do modelo individualista nas relações, de modo que todas

elas devem ser voltadas aos pilares do convívio comum, prevalecendo os valores

coletivos aos individuais e respeitando-se os direitos fundamentais dos seres


humanos.

 Operabilidade: é a simplificação do Direito Civil. Todas as situações devem possuir


uma solução e as normas devem ser viáveis, de fácil operabilidade, como as

cláusulas abertas, que possibilitam uma ampliação do conteúdo da norma, a fim de

serem aplicadas aos casos apresentados. O direito, pois, não é mais a norma

fechada, aplicada exatamente ao caso descrito pela lei, mas disciplina de

interpretação, que concede ao aplicador da lei o poder de interpretar a norma mais

adequada à situação concreta, mantendo-se a completude do sistema.

1.2 A Evolução do Direito Civil

 Code de France de 1804: Revolução Francesa, divisão entre Direito Público e

Privado, onde estava um, não poderia estar o outro. O Código Civil da Alemanha o

BGB, em 1896. Ambos individualistas e patrimonilistas (propriedade privada e pacta


sunt servanda). São as influências do Código Civil de 1916.
 Direito Civil – Constitucional: Constitucionalização do Direito Civil. Não há mais

aquela separação rígida entre o público e o privado. O Direito Civil passou por uma
releitura, à luz dos princípios constitucionais, valores fundamentais, como a

dignidade da pessoa humanda, a igualdade material (substancial), a solidariedade

social, ou seja, trata-se de uma releitura axiológica. É o que chamamos de filtragem

constitucional.
 Constitucionalização do Direito Civil x Publicização do Direito Civil: a

constitucionalização é o que falamos acima, isto é, a compreensão de qualquer

instituto do Direito Civil à luz da Constituição (eficácia irradiante). Já a Publicização


do Direito Civil, também chamada de Dirigismo Contratual, que é a presença do

Poder Público na relação privada, quando há algum desequilíbrio entre as partes,

como é o caso do Direito do Trabalho e das relações de consumo, para garantir a

isonomia na relação.

7
2. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro

A Lei n.º 12.376/2010 (LINDB) é uma regra de superdireito ou sobredireito, ou seja,

contém normas que definem a aplicação de outras normas.

A LINDB4 preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de

estudo. Assim, dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de

forma diferente na legislação específica.

É, ainda, o Estatuto do Direito Internacional Privado (conjunto de normas internas de

um país, instituídas especialmente para definir se a determinado caso se aplicará a lei local ou

a lei de um Estado estrangeiro).

Aqui vamos abordar os principais dispositivos cobrados em provas sobre a LINDB.

2.1 Vigência das normas

A lei passa a vigorar no território brasileiro, quando não possui vacatio legis

determinada, no prazo de 45 dias após a sua publicação.

Nos Estados estrangeiros, passa a vigorar após três meses depois de oficialmente

publicada, quando admitida.

Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em vigor, acontecer uma nova

publicação, para correção, o prazo começará a correr a partir desta publicação.

Se a lei já estiver em vigor, a correção será considerada como LEI NOVA.

2.2 Princípio da Continuidade das Normas

A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando seja com

ela incompatível, ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior.

4
Vide questões 3 e 6 do PDF
8
2.3 Repristinação

Fenômeno legislativo, pelo qual há a entrada novamente em vigor de uma norma


efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. De acordo com a LINDB,

tal efeito apenas é permitido se expressamente declarado. Não há a incidência automática

de repristinação.

Difere-se de Efeito Repristinatório, decorrente do controle de constitucionalidade das

leis, permitido pelo ordenamento brasileiro.

2.4 Revogação

A lei será revogada por outra, valendo, no direito brasileiro, o princípio da

continuidade, salvo no caso de leis temporárias, pois já são criadas para vigorarem em certo

período de tempo.

 Ab-rogação: revogação total (absoluta) da lei.

 Derrogação: revogação parcial da lei.

2.5 Princípio da Obrigatoriedade das Normas

Ninguém pode se escusar com cumprimento da lei alegando o seu desconhecimento,

mas esta é uma presunção relativa. A regra é a vedação à alegação do Erro de Direito, mais

comum no âmbito do Direito Penal.

No entanto, no Direito Civil, o art. 1561, do CC/2002, previu o casamento putativo.

Outro exemplo é o art. 139, III, do CC/2002, que prevê o erro de direito como um vício de

vontade.

2.6 Técnicas de Integração da Lei

São técnicas de integração da lei a Analogia, costumes e princípios gerais do direito.

9
 Integração significa colmatação, sendo esta uma ordem hierárquica, preferencial.

 Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de outra já

prevista.

 Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei com
outra tratada em lei específica.
 Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em lei, com o
sistema jurídico como um todo.

 Costumes: secundum legem (com previsão na lei, por isso não é integração), contra

legem, praeter legem (este é o mecanismo de integração da norma).


 Princípios gerais: não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver

honestamente.

Equidade: Apenas nos casos previstos em lei.

Interpretação da norma: Fins sociais e exigências do bem comum

2.7 Princípio da Irretroatividade da Lei

A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o

direito adquirido e a coisa julgada.

 Ato jurídico perfeito: já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se


efetuou o ato.

 Direito adquirido: consideram-se adquiridos os direitos que o titular, ou alguém


por ele, possa exercer imediatamente.

 Coisa julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso.

10
Regra de Direito Intertemporal (art. 2.035, do CC):

 Existência e validade de um negócio jurídico: lei em vigor à época da celebração.

 Eficácia: norma atual.

2.8 Aplicação da Norma no Espaço

Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos, admite-se a

aplicação da legislação estrangeira, ou a legislação brasileira em país estrangeiro.

Estatuto Pessoal: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu). Cuida da

personalidade, nome, capacidade e direito de família.

 Casamento: quando os nubentes tiverem domicílios diversos, as normas sobre

impedimentos matrimoniais e regime de bens, observarão a lei do primeiro


domicílio conjugal.

 As obrigações se qualificam e regem pela lei do país em que são constituídas.

 É competente a autoridade judiciária brasileira, quando o réu for domiciliado no


Brasil ou aqui tiver que ser cumprida a obrigação.

Situações específicas:

11
 Bens imóveis: lei do lugar onde estiverem situados.

 Bens móveis e penhor: lei do domicílio do titular.

 Contratos: o lugar do contrato é o de residência do proponente.


 Lei sucessória mais favorável: no caso de falecimento de estrangeiro que deixa

herdeiro brasileiro, aplica-se a lei sucessória mais favorável ao herdeiro brasileiro.

A Lei 13.655/2018 veio para adicionar alguns dispositivos legais à redação original da LINDB,

trazendo normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito

público.

A Lei nº 13.655/2018 5 incluiu na LINDB os arts. 20 a 30 prevendo regras sobre


segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. Vale ressaltar que

o art. 25 foi vetado.

A interpretação dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que eles se aplicam para

temas de direito público, mais especificamente para matérias de Direito Administrativo,

Financeiro, Orçamentário e Tributário.

Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito privado. Apesar disso,

importante ficar atento à tal alteração para fins de prova, para não ser pego de surpresa! ;)

5
NOVIDADE LEGISLATIVA: DECRETO Nº 9.830, DE 10 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta o disposto nos art. 20
ao art. 30 do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, que institui a Lei de Introdução às normas do
Direito brasileiro: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9830.htm
12
3. Pessoa Natural e Direitos da Personalidade

A personalidade é um atributo universal, consiste na aptidão de ser titular de direitos


e deveres. Para o Ministro Carlos Ayres Brito “Personalidade é a qualidade de ser pessoa”, ou

nas palavras de Orlando Gomes “é o pressuposto dos demais direitos”. Sendo assim, toda

pessoa (homem, mulher, idoso, criança, etc.) tem personalidade.

Portanto, trata-se de atributo conferido ao ser humano, pelo que se garante a

qualidade de sujeito de direitos, de onde provêm todos os direitos e obrigações a que se

submete o indivíduo. Essa é a perspectiva clássica sobre a personalidade.

Contudo, com o CC de 2002, houve uma releitura da personalidade, devido a essa

constitucionalização do Direito Civil e da despatrimonialização deste, ou ainda o que se


chama de repersonificação do Direito Civil. Neste sentido, a personalidade jurídica passou a

ser considerada uma proteção fundamental, através dos direitos da personalidade, que são

irrenunciáveis, inalienáveis e intransmissíveis.

Além disso, são: genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, indisponíveis irrenunciáveis,

imprescritíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

Nesse sentido, dispõe o artigo 1º do Código Civil: “Art. 1º. Toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil. ”

3.1 Início da Personalidade da Pessoa Natural e Domicílio da

Pessoa Natural

3.1.1 Momento aquisitivo da personalidade

Existem várias teorias que versam sobre o início da personalidade, dentre as quais a

natalista e a conceptualista.

A natalista diz que a personalidade se inicia no momento do nascimento com vida,

portanto o nascituro possui mera expectativa de direito. Já a Conceptualista afirma que a

personalidade se inicia desde a concepção, ou seja, o nascituro já seria sujeito de direitos.

13
Entretanto a teoria adotada pelo Código Civil é a Natalista, ou seja, a personalidade

começa do nascimento com vida, conforme preceitua o artigo 2º do Código Civil.

Existe, ainda, uma terceira corrente que é a Teoria Condicional, que defende que o

nascituro tem determinados direitos, sujeitos a uma condição suspensiva: o nascimento com

vida.

O nascituro teria apenas uma personalidade formal, o que lhe permitiria gozar de

direitos personalíssimos, enquanto os direitos patrimoniais só seriam adquiridos com o

nascimento com vida. Assim, a diferença quanto à teoria natalista, é que esta nega qualquer
direito ao nascituro, caso não haja nascimento com vida, sendo que a condicional garante os

direitos, mas desde que haja o nascimento com vida.

Perceba que a lei resguardou os direitos do nascituro (do feto, embrião que está
dentro do ventre da mãe e que ainda vai nascer). Ele não é pessoa, entretanto embora não

tenha personalidade jurídica material, o mesmo possui expectativa do direito da

personalidade (que estão em via de formação, que ainda não se aperfeiçoaram, que só irão

se formar após o nascimento com vida), ou o que se chama de personalidade jurídica formal.
Portanto, o nascituro tem direito de receber alimentos gravídicos, doação, herança.

Lembrando que para o direito civil nascer com vida é respirar. Ou seja, se ficar

comprovado que a criança respirou, nem que seja por um curto lapso temporal, houve

personalidade.

Natimorto é o feto que nasceu, mas não respirou. Logo ele nunca possuiu personalidade.

Enunciado n.º 1 da I Jornada de Direito Civil: “A proteção que o Código defere ao nascituro

alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome,

imagem e sepultura”.

14
Situações específicas sobre o nascituro:

 O nascituro tem direito à imagem;


 A morte culposa do nascituro (atropelamento da mãe) gera o direito à
indenização para os pais;
 No que tange a direitos existenciais, o nascituro já goza deles, mas as relações
patrimoniais ficam condicionadas;
 Os embriões de laboratório não têm direitos da personalidade, mas têm direito
à herança 6.
 Nascituro – alimentos gravídicos.

3.2 Domicílio

O domicílio é o local onde a pessoa estabelece a sua residência (elemento objetivo:


lugar onde a pessoa é habitualmente encontrada) com ânimo definitivo (elemento subjetivo:

é a intenção de permanência, de se estabelecer em um determinado local).

Domicílio é diferente de Residência, pois a última é o local de permanência da pessoa, onde


ela se encontra. Por exemplo, se uma pessoa viajar para o Rio de Janeiro e lá permanecer
durante o final de semana, nesse período o Rio de Janeiro será a sua residência.

3.3 Capacidade

A Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) trouxe uma inegável evolução
para a promoção da dignidade humana em diversos aspectos. Com relação à capacidade,

promoveu expressiva alteração ao conferir plena capacidade 7 aos sujeitos com deficiência,

6
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
7
Vide questão 9 do PDF
15
para que exerçam todos os atos da vida civil. Assim, apenas são considerados absolutamente

incapazes os menores de 16 anos, conforme previsão do artigo 3º. Com relação aos

relativamente incapazes, o artigo 4º manteve as seguintes hipóteses:

 Maiores de 16 e menores de 18 anos;


 Ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
 Aqueles que, por causa transitória ou permanente não puderem exprimir sua
vontade;
 Pródigos

Atenção ao dispõe o Estatuto da Pessoa com Deficiência, em seu art. 6º:

Art. 6º. A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I – casar-se e constituir união estável;
II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

A capacidade subdivide-se em: capacidade de direito (capacidade de gozo), que é a

capacidade jurídica que qualquer pessoa tem, de forma genérica; capacidade de fato

(capacidade de exercício), que é a capacidade de exercer, pessoalmente, os atos da vida civil.

CAPACIDADE DE DIREITO + CAPACIDADE DE FATO = CAPACIDADE PLENA.


16
Os entes despersonalizados não têm direitos da personalidade, porque não têm

personalidade, mas gozam de capacidade jurídica, que é a possibilidade de defender seus

direitos em juízo.

CURATELA X TOMADA DE DECISÃO APOIADA:

Art. 84, do Estatuto da PCD: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao
exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a
lei.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão
apoiada.
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao
Juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 1.783-A , do CC/02: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.
§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os
apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido
e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito
ã vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
§ 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada,
com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste
artigo.
§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz,
assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.

17
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que
os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua
função em relação ao apoiado.
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz,
ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as
obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar
denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa
apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado
em processo de tomada de decisão apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de
tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado ã manifestação do
juiz sobre a matéria.
§ 11. Aplicam-se ã tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições
referentes ã prestação de contas na curatela.”

A incapacidade só pode ser de fato, pois toda pessoa tem capacidade de direito.

3.4 Incapacidade

A incapacidade 8 consiste na restrição legal para determinados atos da vida civil.


Todas as incapacidades estão previstas em lei, sendo assim a capacidade da pessoa natural é
a regra, enquanto que a incapacidade é exceção.

A incapacidade pode ser absoluta (artigo 3º do CC) ou relativa (artigo 4º do CC).

8
Vide questão 2 do PDF
18
O Relativamente Incapaz é Assistido (Bizu: RIA), já o Absolutamente Incapaz é Representado

(Bizu: AIR - o contrário de RIA).

3.4.1 Incapacidade Absoluta

Ocorre quando uma pessoa fica totalmente proibida de exercer por si só o direito, ou
seja, a pessoa natural tem direitos, mas não possui a capacidade de fato ou de exercício,

porque sozinha não poderá praticar atos da vida civil, ela precisará para tanto estar
representada.

A incapacidade absoluta está prevista no artigo 3º do CC: “Art. 3º. São absolutamente
incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) ”.

Assim, com a nova redação do artigo 3º só serão considerados absolutamente

incapazes (ou seja, possuem ausência “total” de discernimento), perante a lei, os menores de
16 anos.

Será nulo qualquer ato praticado pelo absolutamente incapaz que não estiver devidamente

representado.

19
3.4.2 Incapacidade Relativa

Já os relativamente incapazes necessitam de assistência para poderem exercer os atos

da vida civil. Entretanto, existem alguns atos que estas pessoas podem praticar sozinhas,

por isso se entende que as mesmas possuem discernimento reduzido.

São relativamente incapazes, conforme prevê o artigo 4º do CC:

I. Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


II. Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;

IV. Os pródigos.

O pródigo é aquele que desordenadamente gasta, acaba com seu patrimônio, ficando na

miséria. Ele só é relativamente incapaz quando houver sentença que o reconheça como

pródigo. Sendo assim, com a sua interdição, ele será privado exclusivamente, dos atos que
possam comprometer seu patrimônio, não podendo, sem a assistência de seu curador (artigo

1.767, V do CC), alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar,

em geral, atos que não sejam de mera administração (artigo 1.782 do CC).

O parágrafo único do artigo 4º trata dos índios. A capacidade dos indígenas será
regulada por legislação especial. Ou seja, o índio tem seus direitos regulados pela FUNAI

(artigo 109 da CF).

20
Pode ser anulável o ato praticado pelo relativamente incapaz que não esteja devidamente

assistido.

A velhice não é causa de incapacidade, o senil é capaz. A demência é que pode gerar

incapacidade.

O surdo-mudo também é capaz, portanto ele pode fazer testamento, praticar atos da

vida civil. Se ele não compreender nada é que pode ser considerado incapaz e não o simples
fato de ser surdo-mudo.

O ausente também é capaz apesar de presumidamente morto.

3.4.3 Cessação da Incapacidade

As situações que ensejam o término da incapacidade absoluta encontram-se dispostas


no artigo 5º do CC.

A regra é que a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, quando a

pessoa fica habilitada a prática de todos os atos da vida civil.

Porém existem outras formas de cessação da incapacidade absoluta (Emancipação):

 Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos;

 Pelo casamento;
 Pelo exercício de emprego público efetivo;

 Pela colação de grau em curso de ensino superior;

21
 Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,

desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha

economia própria.

Vejamos detalhadamente as duas primeiras:

3.4.3.1 Voluntária/judicial

Concedida por ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro, desde que o menor

tenha 16 anos ou mais. Poderá ser autorizada por escritura pública, que independe de

homologação judicial. Também poderá ser concedida pelo juiz, quando houver discordância
dos pais acerca da autorização do ato, que é irrevogável. Assim, o magistrado analisará, no

caso concreto, qual é o maior benefício ao infante.

Quando o menor estiver sob tutela, a emancipação apenas poderá ser concedida por

autorização judicial. Na emancipação judicial, há um procedimento de jurisdição voluntária.

Enunciado nº 397/CJF: Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do

juiz está sujeita a desconstituição por vício de vontade.

A emancipação pelos pais não isenta da responsabilidade no caso de eventual

responsabilidade civil por ilícito do filho emancipado.

Contudo, o menor de 18 anos, ainda que emancipado, não pode ser responsabilizado

penalmente, não se antecipa a sua imputabilidade penal. No entanto, o menor emancipado

pode ser preso por dívida de alimentos.

3.4.3.2 Casamento

A idade núbil é de 16 anos, conforme artigo 1.517, do Código Civil, salvo no caso de

gravidez, hipótese excepcional em que o menor poderá casar antes de atingir a idade núbil
22
HOUVE ALTERAÇÃO LEGISLATIVA!

Mantivemos para fins de conhecimento em questões que exijam conhecimento sobre a

aplicação da lei no tempo.

A Lei nº 1.318/2018 alterou o CC/02 neste ponto. De modo que, atualmente, não
existe mais possibilidade de casamento entre menor de 16 anos. Vamos analisar com calma:

A redação anterior do art. 1.520 do CC era a seguinte:

Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou
a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou
em caso de gravidez.

Veja que, pela literalidade da lei, havia duas hipóteses excepcionais em que seria

permitido o casamento de pessoa menor de 16 anos:

 “Para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal”; ou

 “Em caso de gravidez”.

Contudo, prevalece o entendimento de que, desde a Lei nº 11.106/2005, a despeito da

literalidade do art. 1.520 do CC, somente havia uma hipótese na qual era permitido o
casamento de pessoa menor de 16 anos (abaixo da idade núbil): em caso de gravidez. Eis o

novo dispositivo legal:

Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a
idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
1.318/2018)

Fica superado, portanto, o enunciado 329 da Jornada de Direito Civil.

23
Assim, importante fixar:

IDADE NÚBIL: 16 anos


Existe exceção? Existe alguma hipótese na qual se possa casar antes dos 16 anos de
idade?
Antes da Lei 13.811/2019: SIM Atualmente: NÃO
Excepcionalmente, era permitido o A Lei nº 13.811/2019 alterou o art. 1.520 do
casamento da pessoa que ainda não havia CC e agora não é mais possível, em
alcançado a idade núbil (ou seja, o menor nenhuma hipótese, o casamento de pessoa
de 16 anos) em caso de gravidez. menor de 16 anos.

Dessa forma, o casamento produz efeitos emancipatórios ao menor, mesmo depois do

divórcio. Se o casamento for declarado nulo, não prevalece a emancipação, pois esta também

será invalidada, ressalvando-se a hipótese de casamento putativo, em que o menor estava de

boa-fé.

3.4.3.3 Maioridade x Emancipação

A maioridade é a aquisição da capacidade plena, aos 18 anos. Um de seus efeitos é a

incidência do Código Penal e a interrupção da aplicação do Estatuto da Criança do


Adolescente (ECA), por exemplo.

Já a emancipação é a cessação da incapacidade de fato, ou seja, o sujeito continua


menor de idade, porém já pode praticar sozinho os atos da vida civil.

24
A emancipação não gera a maioridade, portanto um jovem de 16 anos que foi emancipado

não pode, por exemplo, obter Carteira Nacional de Habilitação.

Depois que uma pessoa é emancipada ela não poderá voltar ao seu estado anterior de
incapacidade. A emancipação uma vez concedida é irrevogável, não volta atrás. É, também,

definitiva, a pessoa não pode desistir dela. Sendo assim, mesmo que haja viuvez, separação
ou divórcio, o emancipado não retorna à incapacidade.

Entretanto, se houver alguma falha na condição exigida por lei nos casos de

emancipação legal, estaremos diante de uma nulidade ou de uma anulabilidade

(dependendo do caso). Por exemplo: se no caso de emancipação pelo casamento


(emancipação legal) verificar-se, depois da cerimônia, que a autorização que a lei exige dos

pais era falsa, haverá nulidade do ato. O casamento não aconteceu para o direito, então, por
consequência, a emancipação também não.

3.4.4 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural

O término da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte, que deve ser

devidamente registrada em registro público. Porém, em alguns casos, é difícil precisar se a


morte de fato ocorreu, por exemplo, no caso de pessoas desaparecidas (ausentes).

Observe o que dispõe o artigo 6º do CC: “Art. 6º. A existência da pessoa natural

termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza

a abertura de sucessão definitiva”.

25
A morte pode ser:

 Real: quando existe um corpo, é declarada por médico ou duas testemunhas;

 Ficta ou presumida: quando não existe corpo.

Porém, será presumida a morte quando 9:

 Aos ausentes, quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;


 For extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação de
perigo;
 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada até dois
anos, após o término da guerra.

A sentença que reconhecer a morte presumida deve declarar a data provável do

falecimento, para fins de direitos sucessórios.

No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou

com processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).

 Sem processo de ausência:

o Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de

vida; Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em
alto mar, sem que se pudesse encontrar sobreviventes.

o Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for

encontrado até dois anos após o término da guerra.

9
art. 7º do CC – “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: (I) - se for extremamente
provável a morte de quem estava em perigo de vida; (II) - se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até 2 Anos após o término da guerra
26
A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de

esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

 Com processo de ausência 10: Ocorre quando uma pessoa desaparece sem

estar em risco de vida.

A ausência será declarada quando alguém desaparecer sem deixar notícias, se não

deixar representante ou procurador para administrar seus bens. Deixando mandatário, também

será decretada a ausência se este não quiser ou não puder continuar exercendo as funções.

A declaração será feita judicialmente, ouvido o Ministério Público, ato em que o juiz
nomeará curador.

São três as fases sobre os bens do ausente.

1ª: curadoria do ausente

2ª: sucessão provisória

3ª: sucessão definitiva

A curadoria dos bens do ausente se inicia a partir de uma petição inicial de qualquer
interessado ou do MP, na situação acima explicada.

Serão publicados, durante 1 ano, editais a cada 2 meses.

Esse processo possui 3 Fases:

10
Vide questão 5 do PDF
27
o 1ª FASE DE ARRECADAÇÃO E NOMEAÇÃO DE CURADOR: Configura-se

após decorrido 1 ano do desparecimento ou 3 anos, se o ausente tiver

deixado procurador representando-o.


o 2ª FASE DE DECLARAÇÃO DA SUCESSÃO PROVISÓRIA: abre-se

provisoriamente o inventário e o patrimônio arrecadado é dado aos


herdeiros com uma condição – que os herdeiros recebam o patrimônio

oferecendo uma garantia (essa fase dura 10 anos, a não ser que o

ausente tenha mais de 80 anos, nesse caso considera-se 5 anos).

A sentença que autoriza a sucessão provisória só produz efeitos 180 dias após sua
publicação, mas, com o seu trânsito em julgado, abre-se o testamento e o inventário, como se

o ausente fosse falecido. Se, após 30 dias do trânsito em julgados, não aparecerem
interessados ou herdeiro, para requer a abertura do inventário, os bens do ausente serão
considerados herança jacente.

Garantia pignoratícia ou hipotecária: deverão prestar os herdeiros que não foram

cônjuge, ascendente ou descente do ausente, para se imitirem na posse dos bens.

O cônjuge, ascendente ou descente sucessor provisório do ausente fará seus os frutos e


rendimentos dos bens que lhe cabe. Os demais sucessores deverão capitalizar metade desses

frutos e rendimentos, de acordo com o MP e prestando contas anuais ao juiz.

o 3ª FASE DE ABERTURA DA SUCESSÃO DEFINITIVA (art. 6º do CC, última

parte): a partir desse momento decreta-se a morte do ausente.

Será declarada após o lapso de 10 anos da abertura da sucessão provisória ou se

comprovado que o ausente tem oitenta anos e que suas últimas notícias datam mais de
cinco anos.

Com o trânsito em julgado da sentença da abertura da sucessão definitiva, declara-se a


morte presumida.

28
3.4.4.1 Comoriência

É a presunção de morte simultânea (falecimento em conjunto) quando não é possível


aferir quem morreu primeiro. Nesse caso, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma

ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-
se-ão simultaneamente mortos.

Assim, a comoriência ocorre quando há a morte de duas ou mais pessoas, na mesma


ocasião e por força do mesmo evento, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das

outras.

Só há interesse na comoriência se forem da mesma família, para fins de sucessão.

A morte tem que ocorrer no mesmo lugar?

Não. Apenas na mesma ocasião, não precisa nem que seja do mesmo modo. A comoriência é

compatível com a morte presumida, sem a decretação de ausência. Presunção relativa!

3.5 Direitos da Personalidade

Os Direitos fundamentais estão para a Constituição Federal assim como os Direitos da

Personalidade estão para o Direito Privado (Código Civil). Eles possuem conotação
extrapatrimonial, são direitos que integram a condição essencial da pessoa, como
pressupostos de sua existência e dignidade. Ex: direito à vida, à imagem, ao nome, à honra.

29
3.5.1 Características dos Direitos da Personalidade

Em regra, os Direitos da personalidade 11 são intransmissíveis (não podem ser

transmitidos a terceiros) e irrenunciáveis (o titular deles não pode abrir mão, não pode

renunciar), não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. É o que preceitua o
artigo 11 do CC.

Além disso, são genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, inalienáveis, indisponíveis,


imprescritíveis, intransmissíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

Exceção: doação de órgãos, transexual que muda de sexo, são situações excepcionais
autorizadas por lei.

3.5.2 Tutela dos Direitos da Personalidade

 Preventiva por tutela específica: visa prevenir a ocorrência de dano à


personalidade.

Quando a proteção destes direitos não é apenas patrimonial (despatrimonialização 12

dos direitos da personalidade, do dano moral).

A tutela específica pode ser: inibitória, com a aplicação de uma pena de multa no caso
de descumprimento da tutela específica; sub-rogatória, quando o juiz manda fazer uma coisa

específica; remoção do ilícito, quando se determina a retirada de alguma publicação

pejorativa em site, por exemplo. A tutela específica pode ser aplicada de ofício pelo juiz.

 Repressiva: busca interromper a lesão e conceder uma indenização pelos prejuízos

causados.

Para o STJ, basta a violação a um direito da personalidade, para que se configure o

dano moral, ou seja, caracterização objetiva, prova in re ipsa.

11
Vide questões 4 e 7 do PDF
12
ATENÇÃO: esse assunto foi cobrado na prova da 2ª fase da Defensoria do Paraná, em 2017.
30
Observe o que afirma o artigo 12 do CC: “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça,

ou a lesão, a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras

sanções previstas em lei.”

Súmula 37, do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano moral e dano material oriundos

do mesmo fato.

Súmula 387, do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

 Dano moral contratual: o STJ vem afirmando que, apesar de a violação de um


contrato, por si só, não gerar dano moral, ela pode refletir uma violação da
dignidade de uma das partes, como no caso do Plano de Saúde que nega
cobertura.
 Dano moral coletivo: é a violação dos direitos da personalidade de um grupo
massificado, sendo prescindível a demonstração de dor, sofrimento ou angústia,
para restar caracterizado este tipo de dano. Ex.: violação de direito ambiental, de
direito do consumidor.
 Danos sociais: são violações à tranquilidade e ao nível de vida da sociedade,
através de comportamentos exemplares negativos ou condutas socialmente

reprováveis, causando o rebaixamento de seu patrimônio moral, da segurança e da

qualidade de vida. Ex.: pedestre que joga lixo no chão.

31
 Dano Ricochete, Oblíquo ou Indireto: A tutela dos direitos da personalidade

envolvendo pessoa morta cabe aos familiares do morto (cônjuge, parentes em linha

reta ou colateral até o quarto grau). Portanto, o parágrafo único do art. 12 permite

que essas pessoas possam ingressar com medida judicial representando o morto.

O artigo 20 do CC trata do direito de palavra, imagem e escritos, e seu parágrafo único


estabelece que apenas os cônjuges, ascendentes e descendentes podem requer o dano

ricochete.

Sendo assim, observe quem pode requerer o dano contra morto:

•cônjuge
•ascendentes
•descendentes
P.U, ART. 12 •colaterais

•cônjuge
•ascendentes
P.U, ART. 20 •descendentes

3.5.3 Atos de Disposição Corporal

O Código Civil protege o corpo vivo (art. 13 do CC) e o corpo morto (art. 14 do CC).

O art. 13 do CC estabelece que salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato

de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade

física, ou contrariar os bons costumes.

32
Além disso, o parágrafo único do art. 13 do CC admite a disposição do próprio corpo

para fins de transplante de órgãos, desde que ocorra na forma estabelecida em lei

especial.

Esse transplante, de pessoa viva, só é permitido quando se tratar de órgãos duplos, de

partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do
doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave

comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou


deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente

indispensável à pessoa receptora.

 Hipóteses proibitivas

 Quando houver diminuição permanente da integridade física. Ex: uma pessoa


pede ao médico que ele ampute o seu braço sem o mesmo estar com

qualquer problema.

 Quando houver contrariedade aos bons costumes.

A cirurgia de mudança de sexo é autorizada, ela não ofende os bons costumes, pois visa

garantir a integridade físico-psíquica do transexual.

Já o artigo 14 do CC trata da tutela post mortem do corpo: “Art. 14. É válida, com
objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em

parte, para depois da morte.

 Hipóteses permissiva

 Para fins científicos. Ex: pesquisas.

 Para fins altruísticos, ou seja, para fazer o bem. EX: transplantes.

33
É importante salientar que o art. 14 consagra o princípio do consenso afirmativo, ou

seja, que cada pessoa deve manifestar sua vontade de ser um doador, com objetivos

científicos ou terapêuticos, tendo o direito de a qualquer momento, cancelar sua doação


(parágrafo único do artigo 14).

3.5.4 Tratamento Médico de Risco

Esse tema encontra-se previsto no artigo 15 do CC: “Art. 15. Ninguém pode ser
constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção

cirúrgica.”

A pessoa tem a faculdade de escolher se aceita ou não o tratamento ou intervenção

cirúrgica, sabendo de todos os riscos que estão envolvidos. No entanto, caso seja necessário o
tratamento médico ou cirúrgico, sob o risco de morte do paciente caso não seja feito,

prevalece à vontade do médico.

No que tange ao direito à vida x opção religiosa, os tribunais pátrios têm decidido que entre

salvar uma vida e respeitar suas escolhas, o bem da vida é muito maior, portanto ele deve

ser preservado. Só será considerada a opção religiosa da pessoa, se houver outros meios

viáveis para o tratamento, caso contrário será ela desconsiderada.

3.5.5 Direito ao Nome

Conforme preceitua o art. 16 do CC: “Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele

compreendidos o prenome e o sobrenome.”

O nome é o sinal que representa a pessoa perante a sociedade, sendo necessário

a proteção de todos os elementos do nome. Assim, é garantido a todo indivíduo o direito

34
ao nome e sobrenome, bem como o respeito ao pseudônimo, desde que utilizado para fins

lícitos.

A utilização do nome de qualquer pessoa, em propagandas comerciais, deve ser

autorizada, sob pena de responsabilidade, sendo vedada a utilização deste em publicação que

exponha o indivíduo ao desprezo público, ainda que não haja intenção difamadora.

Já os artigos 17 e 18 do CC estabelecem o dano “in re ipsa” (presumido), ou seja,

aquele onde não precisa provar o prejuízo, bastando provar o ilícito. Portanto, configurado o

dano, cabe direito à reparação do dano. Vejamos:

“Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.”

“Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.”

Por fim, é importante salientar que, em regra, o nome é inalterável (Princípio da

Imutabilidade relativa do nome). Porém existem algumas exceções:

 Nome que expõe a pessoa ao ridículo, inclusive e caso de homonímias (nomes

iguais). Ex. Jacinto Aquino Rego;

 Erro crasso de grafia. Ex. Cráudio;

 Tradução de nomes estrangeiros. Ex. John – João;

 Cirurgia de adequação de sexo;

 Introdução de alcunhas, apelidos sociais ou cognome. Ex.: Xuxa, Lula;

 Introdução de nome do cônjuge ou companheiro. Quando alguém incorpora o


nome do outro passa a ser um direito da personalidade do incorporador. Não pode

ser obrigado a retirar no divórcio;

 Reconhecimento de filho ou adoção;

 Proteção de testemunha (Lei 9807/99);

35
 Inclusão do nome de familiar remoto. Há divergência. Escolher sobrenome mais

antigo; e

 Inclusão de sobrenome por enteado por padrasto ou madrasta, havendo motivo

ponderável e desde que haja concordância do último (Lei Clodovil – n.º

11.924/2009).

Atualmente, confere-se aos transexuais o direito à alteração do prenome e do

sexo/gênero no registro civil, independentemente de realização de cirurgia de

transgenitalização (STJ REsp 1.626.739-RS Info 608), em atenção ao princípio da dignidade da


pessoa humana.

Sobre o tema, o STJ decidiu que:

Independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, é possível a


alteração do sexo constante no registro civil de transexual que comprove
judicialmente a mudança de gênero. Nesses casos, a averbação deve ser realizada
no assentamento de nascimento original com a indicação da determinação judicial,
proibida a inclusão, ainda que sigilosa, da expressão “transexual”, do sexo
biológico ou dos motivos das modificações registrais. 13

Ainda sobre o tema, preservando a filiação socioafetiva e reconhecendo o nome com

um elemento da personalidade que não pode remeter a pessoa a angústia, o STJ autorizou
que é possível a exclusão dos sobrenomes paternos em razão de abandono pelo genitor.
14

3.5.6 Divulgação de Escritos, Transmissão da Palavra e Utilização

da Imagem

Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da

ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a


exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu

13
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Transexuais-
t%C3%AAm-direito-%C3%A0-altera%C3%A7%C3%A3o-do-registro-civil-sem-realiza%C3%A7%C3%A3o-de-cirurgia
14
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718 SP, Rel. Min. Paulo Tarso Severino, julgado em 18/12/2014.
36
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa

fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Caso se trate de morto ou ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o

cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

 Proibição:

 Ofensa à honra, boa fama ou respeitabilidade;

 Destinação comercial.

 Exceções:

 Quando a pessoa autoriza;

 Se necessárias à administração da justiça. Ex: divulgar a foto de um foragido da


polícia;

 Manutenção da ordem pública;

O enunciado 275 da IV Jornada de Direito Civil inclui também o companheiro entre os

autorizados à defesa do morto: “O rol dos legitimados de que tratam os artigos 12, parágrafo

único, e 20, parágrafo único, do Código Civil, também compreende o companheiro”.

Ademais, importante registrar que por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal


Federal julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou

inexigível a autorização prévia para a publicação de biografias.

37
Sobre o tema, o STJ reconheceu, na súmula 403, que “Independe da comprovação do

prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins

econômicos ou empresariais. ”

3.5.7 Direito à Privacidade

O artigo 21 do CC protege a intimidade do indivíduo. Nela incluído o direito ao sigilo

de correspondência, telefônico, e também via internet. O direito ao sossego, ao silêncio, de


não ser visto, observado ou ouvido em sua intimidade.

Com o declarado objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de


privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, foi editada pelo

legislador pátrio a Lei Geral sobre a Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 13.709/2018),

disciplinando a proteção de dados pessoais (cuida do tratamento dos dados pessoais, da

forma como os dados pessoais dos indivíduos podem ser armazenados por pessoas físicas ou

jurídicas, empresárias ou não).

38
4. Pessoa jurídica

4.1 Conceito de Pessoa Jurídica e Domicílio da Pessoa Jurídica

É toda entidade dotada de personalidade, ou seja, assim como a pessoa física, pode

exercer direitos e deveres e participar da vida civil.

Pode ser entendida, ainda, como uma reunião de bens (patrimônio) afetados

(fundações), ou como uma reunião de pessoas sem fins econômicos (associações) ou com

fins econômicos (sociedades). Por sua vez, a reunião de pessoas com fins econômicos pode

ter fins lucrativos (sociedade empresária) ou fins não lucrativos (sociedade simples).

As pessoas jurídicas podem se constituir pelo agrupamento de pessoas (universitas

personarum) ou de um patrimônio com destinação específica (universitas bonorum).

Teoria adotada pelo CC/02: Teoria da realidade técnica (Saleilles): a pessoa jurídica teria

uma existência objetiva e dimensão social, mas a sua personificação seria fruto da técnica do

direito. Foi a teoria adotada pelo art. 45, do CC.

Os direitos da personalidade são aplicados às pessoas jurídicas no que couber (art. 52 do

CC). Além disso, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227 do STJ).

39
É considerado domicílio da pessoa jurídica o local onde se encontra a sua sede; onde

os credores podem demandar o cumprimento das obrigações; o local de suas atividades

habituais, de seu governo, administração ou direção, ou ainda, aquele determinado no ato


constitutivo.

O artigo 75 do CC estabelece o domicílio das pessoas jurídicas, sendo:

I. Da União, o Distrito Federal;

II. Dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III. Do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;


IV. Das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e

administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos

constitutivos.

4.2 Classificação das Pessoas Jurídicas

O artigo 40 do CC estabelece que as pessoas jurídicas podem ser de direito público,

interno ou externo, e de direito privado.

4.2.1 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno

Conforme prevê o art. 41 do CC, são pessoas jurídicas de direito público interno:

 A União;

 Os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;


 Os Municípios;

 As autarquias, inclusive as associações públicas;

 As demais entidades de caráter público criadas por lei.

4.2.2 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo

Já o art. 42 do CC é claro ao estabelecer que são pessoas jurídicas de direito público

externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito

internacional público.

40
Ou seja, são regulamentadas pelo Direito Internacional.

4.2.3 Pessoas Jurídicas de Direito Privado

São pessoas jurídicas de direito privado, conforme o art. 44 do CC:

I. As associações;

II. As sociedades;

III. As fundações.
IV. As organizações religiosas;

V. Os partidos políticos.

VI. As empresas individuais de responsabilidade limitada.

Os sindicatos embora não mencionados expressamente no art. 44, possuem natureza de

associação civil, portanto são consideradas pessoas jurídicas de direito privado.

As fundações, embora genericamente listadas entre as pessoas jurídicas de direito

privado, se tiverem atuação que, de certa forma, se assemelhem às Autarquias, terão

personalidade jurídica de direito público (Fundações Públicas).

As organizações religiosas (igrejas), que são PJ de Direito Privado, podem ser livremente

criadas, independentemente de qualquer autorização estatal, em virtude do Princípio

Constitucional da Liberdade Religiosa.

41
A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com a sua inscrição no

respectivo registro (Cartório de Pessoas Jurídicas ou Junta Comercial), precedida, quando

necessário, da autorização ou aprovação do poder executivo.

Decai em três anos o direito de anular constituição de pessoa jurídica de direito

privado.

4.3 Criação (início) da Pessoa Jurídica

O início da PJ de Direito Privado começa com a inscrição do ato constitutivo no

Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do
CC.

4.4 Entes despersonalizados

Existem no mundo dos fatos, porém não são pessoas físicas nem jurídicas. Ex: as
sociedades de fato, espólio, massa falida, condomínio, herança jacente ou vacante, família.

Os entes despersonalizados podem atuar em relações processuais (podem demandar e


serem demandados em ações judiciais).

4.5 Administração da Pessoa Jurídica

Todas as decisões tomadas pelo administrador dentro dos poderes estatutários serão

vinculantes para a Pessoa Jurídica.

Se a administração for coletiva (pluralidade de administradores) cabe ao estatuto


deliberar o quórum para que sejam tomadas as decisões. Se o estatuto for omisso, as
decisões serão tomadas por maioria simples (maioria dos votos dos presentes).

Decisões tomadas pelo administrador carregadas de vício, ilegalidades ou fraudes

serão anuláveis. Decai em três anos o direito de anular as decisões quando violarem a lei ou

estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

42
Caso ocorra destituição dos administradores (eles forem expulsos) o juiz, a

requerimento de qualquer interessado, nomeará um administrador provisório.

4.6 Desconsideração da Personalidade jurídica

A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine) é instituto, com


natureza constitutiva que visa a criar nova situação jurídica, com a finalidade de impedir que

os sócios, administradores, gerentes e/ou representantes legais, acobertados pela

independência pessoal e patrimonial entre pessoa jurídica e os entes que a compunham,

pratiquem abusos, atividades escusas e fraudulentas.

A regra é que o patrimônio da Pessoa Jurídica não se confunde com o patrimônio

do seu sócio. Porém a exceção é a desconsideração da pessoa jurídica.

Todas as vezes que a Pessoa Jurídica for utilizada para encobrir atividades ilícitas, sua

personalidade deve ser afastada (desconsiderada), com o objetivo de atacar os bens dos
sócios ou administradores. Eles respondem com seus bens particulares pelas dívidas

assumidas pela Pessoa Jurídica.

Diante do exposto, podemos conceituar a Desconsideração da Personalidade Jurídica

como sendo a suspensão temporária da autonomia da pessoa jurídica, de modo a


estender a execução aos bens particulares de seus sócios ou administradores.

Na desconsideração da personalidade jurídica clássica, prevista nos artigos 50 do


Código Civil e 28 do CDC, a sociedade empresarial figura no polo passivo da demanda

havendo a desconsideração de sua personalidade jurídica para abranger o patrimônio dos


sócios com o objetivo de saldar as dívidas da empresa.

Conforme citado, há dois dispositivos legais clássicos que abrangem o instituto, mas
ambos se distinguem quanto à teoria da desconsideração da personalidade jurídica que
adotam, notadamente quanto aos requisitos essenciais para a sua constituição.

43
4.6.1 Hipóteses para a Desconsideração

O Código Civil adota a teoria maior de desconsideração da personalidade jurídica,

sendo essencial o cumprimento dos requisitos para que seja declarada. Dessa maneira, será

desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade, sempre que


caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

Assim, a desconsideração se configura quando ocorre:

 Abuso da Personalidade da PJ, por força de um Desvio de Finalidade (por


exemplo, uma sociedade que serve como “fachada” para lavagem de dinheiro, uma
organização religiosa que desenvolve atividade empresarial, uma associação que
passa a ter finalidade econômica);
 Confusão Patrimonial (por exemplo, um sócio que utiliza o dinheiro da PJ para
pagar a conta do almoço dele e da família, que utiliza o carro da empresa para
viajar no final de semana com a família, que guarda em apenas uma conta bancária
o dinheiro que é dele e o dinheiro que é da empresa, ou seja, esses são casos onde
há uma mistura irregular do patrimônio da Pessoa Física com o patrimônio da
Pessoa Jurídica).

No Direito Civil não é possível a desconsideração da Pessoa Jurídica de ofício. Ela


pressupõe requerimento da parte interessada ou do Ministério Público nas causas em que

ele deva intervir. Esse requerimento irá atingir os sócios ou administradores.

O Artigo 50 foi alterado pela LEI Nº 13.874, DE 20 DE SETEMBRO DE 2019, antes MP

881/19, que Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.

Destacamos que, em abril de 2019, foi editada a medida provisória 881/19, que teve

por objetivo instituir a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, estabelecer garantias

44
de livre mercado, análise de impacto regulatório, além de dar outras providências. A MP visa

precipuamente trazer dinamismo no mundo das relações econômicas, sendo apresentada

como “Declaração de Direitos de Liberdade Econômica”.

No que tange à desconsideração da personalidade jurídica, para que a medida da

desconsideração seja implementada, a MP dispôs acerca de pressupostos que devem ser


preenchidos e comprovados.

Vejamos as alterações (em destaque) implementadas no Artigo 50 do Código Civil

Brasileiro:

Antes:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,
ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Depois:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da
pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de
valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
45
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.” (NR)

Dentre as alterações, destaca-se:

 O credor passa a ter que comprovar que o devedor se beneficiou do abuso na


utilização da personalidade jurídica a que integra;
 Passa a ser necessária a comprovação do dolo do devedor, ou seja, a sua intenção
de lesar o credor mediante a utilização de sua pessoa jurídica;
 A confusão patrimonial passa a ser caracterizada pela análise de critérios
objetivos;
 A existência de Grupo Econômico, por si só, não mais caracteriza a confusão
patrimonial, cabendo ao credor preencher os requisitos acima.

Para Flávio Tartuce 15, a lei passaria a possibilitar a desconsideração da personalidade

jurídica tão somente quanto ao sócio ou administrador que, direta ou indiretamente, for

beneficiado pelo abuso, o que há tempos defendo, para que o instituto não seja utilizado de

forma desproporcional e desmedida, atingindo pessoa natural que não tenha praticado o ato

tido como abusivo.

Os parágrafos propostos sugerem critérios para o preenchimento dos requisitos da


desconsideração da personalidade jurídica prevista para as relações civis em geral,

consagradora da chamada teoria maior da desconsideração, quais sejam o desvio de


finalidade ou a confusão patrimonial. Vale lembrar, contudo, que tais requisitos não são
cumulativos, mas alternativos para que a categoria seja aplicada, quebrando-se a autonomia

da pessoa jurídica perante seus sócios e administradores e responsabilizando-se os últimos

por dívidas da primeira.

Para o referido autor, quanto ao desvio de finalidade, a norma passaria a estabelecer

como requisito o elemento doloso ou intencional na prática da lesão ao direito de outrem ou

de atos ilícitos, para que o instituto seja aplicado.

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301612,41046-
15

A+MP+88119+liberdade+economica+e+as+alteracoes+do+Codigo+Civil
46
Sobre a confusão patrimonial, são parâmetros propostos pela MP para que fique

caracterizada a ausência de separação de fato entre os patrimônios da pessoa jurídica e de

seus membros: a) o cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do


administrador ou vice-versa; b) a transferência de ativos ou de passivos sem efetivas

contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e c) outros atos de


descumprimento da autonomia patrimonial. Sobre a primeira previsão, sugiro que seja retirada

a palavra “repetitivo”, pois a confusão patrimonial pode estar configurada por um único

cumprimento obrigacional da pessoa jurídica em relação aos seus membros, pois, por um ato

isolado, é possível realizar um total esvaziamento patrimonial com o intuito de prejudicar

credores.

Quanto ao § 4º do art. 50, “a mera existência de grupo econômico sem a presença dos
requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa

jurídica”.

Na verdade, trata-se de conteúdo que já era retirado do Enunciado n. 406, aprovado

na V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “a desconsideração da

personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade quando estiverem presentes os


pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo para os credores até o limite

transferido entre as sociedades”.

Não se pode negar que a norma proposta traz uma obviedade, qual seja a necessidade

de se observar os requisitos legais para a desconsideração da personalidade jurídica aplicada


entre empresas que mantêm alguma ligação, especialmente quanto a fraudes praticadas para

prejudicar seus credores.

Todavia, a sua grande vantagem é de positivar a possibilidade de ampliação de

responsabilidades de uma pessoa jurídica a outra, o que configura a desconsideração

econômica, indireta ou a sucessão entre empresas para as obrigações existentes no âmbito

civil.

Como última mudança constante da MP a respeito da desconsideração, quanto ao § 5º

do art. 50, nota-se, mais uma vez, uma valorização do elemento subjetivo para a

47
desconsideração, ao prever que não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a

alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

4.6.2 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica

Seguindo, o CDC adota a teoria menor, que não exige prova de fraude ou abuso de
direito para que desconsidere a personalidade jurídica da sociedade. Para referida teoria,

basta que o credor demonstre a inexistência de bens da pessoa jurídica para saldar a dívida
para a aplicação do instituto.

Outras modalidades foram criadas com o objetivo de ampliar o cumprimento das


obrigações.

Neste sentido, também são modalidades de desconsideração:

 Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a sua personalidade


para ampliar ao complexo patrimonial da pessoa jurídica a qual figura como sócio,
sempre que se constatar que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para a
sociedade com a finalidade de frustrar os direitos de seus credores.

O tema é tratado no Enunciado n. 283 CJF/STJ esclarece que: “ É cabível a

desconsideração da personalidade jurídica denominada inversa para alcançar bens de sócio


que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a
terceiros”.

É importante salientar que apesar da lei não regular expressamente, a doutrina e a

jurisprudência admitem a existência da Desconsideração Inversa (invertida, indireta, às

avessas).

Um exemplo disso é a situação em que muitos cônjuges ardilosos antecipando-se ao


divórcio, retiram do patrimônio do casal bens que deveriam ser objeto de partilha, alocando -

os na pessoa jurídica da qual é sócio. Em tais circunstâncias, pode o juiz desconsiderar a

autonomia patrimonial da pessoa jurídica, alcançando bens que estão em seu próprio nome,

entretanto, para responder por dívidas que não são suas e sim de um ou mais de seus sócios.

48
Com o advento do Novo Código de Processo Civil, tal hipótese passou a ser prevista no

seu art. 133, §2º.

 Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma empresa que é controladora,


por meio da controlada ou coligada. A empresa é utilizada como longa manus da
empresa controladora. Nestes casos, poderá ser determinada a desconsideração da
personalidade da empresa controlada com o objetivo de atingir o patrimônio da
controladora. A doutrina utiliza o termo “levantar o véu” da empresa controlada,
como forma de expor a fraude gerada pela empresa controladora.
 Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua
empresa em nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo
grupo econômico.

TEORIA DA APARÊNCIA: Trata-se da juridicização de uma situação fática, em virtude da

proteção da boa-fé.

Ex.: citação da pessoa jurídica na pessoa do gerente ou do empregado que aparente ter

poderes de receber a citação.

Ex2.: representação aparente.

Quando o juiz decreta a Desconsideração da Personalidade Jurídica os bens do sócio é que

irão responder, ou seja, ele transfere bens particulares dele para a Pessoa Jurídica.

49
4.7 Dissolução da Pessoa Jurídica

 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.

 Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução previstos em lei ou

no estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins para os quais foi
constituída. Ex: em caso de falência.

 Administrativa: por decisão do poder público que caça a autorização de


funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou contrários aos seus fins. Ex: o

MEC em relação a algumas faculdades.

 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.

 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC)

Alguns trâmites precisam ser seguidos para a extinção da PJ 16 (nesta ordem):

 Averbação da dissolução : os sócios se dirigem ao cartório e lá averbam (publicam)

a dissolução de sua PJ. O fato se torna público e notório.

 Liquidação: é a solução das questões patrimoniais pendentes ex: pagar impostos,

recolher dívidas trabalhistas, compensar cheques. A liquidação da pessoa jurídica,

segundo o art. 51 do CC (vide), ocorrerá nos casos de dissolução ou de cassação de

autorização para funcionamento.

 Cancelamento da Inscrição da PJ

4.8 Associações

4.8.1 Conceito

Consiste numa reunião de pessoas, sem fins econômicos, ou seja, não se pode

distribuir dividendos entre os associados, caso contrário existiria um desvio de finalidade,

deixando de ser uma associação para se tornar uma sociedade.

16
Vide questão 8 do PDF
50
A relação que se deve ter em uma associação não é entre os associados e sim entre o

associado e a associação (Pessoa Jurídica).

4.8.2 Características

 Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos;


 Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto pode estabelecer
categorias com vantagens especiais.
 A qualidade de associado é intransmissível, salvo disposição contrária do estatuto.
 Assembleia-Geral: destituição dos administradores e alteração do estatuto.
 Exclusão de associado: só havendo justa causa. Eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
 Patrimônio residual: entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou à
instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, por
deliberação dos associados, no caso de omissão do estatuto.

A associação até pode obter lucro, no entanto, este lucro deverá ser reinvestido na própria
entidade. A associação não pode ter o lucro como finalidade essencial e nem o distribuís

entre seus associados.

4.8.3 Constituição

A associação é constituída a partir de um estatuto que é levado à registro. Sendo

assim, no artigo 54 do CC (vide) estão enumerados os requisitos obrigatórios que devem

constar nos estatutos de toda e qualquer associação. Outras disposições podem ser

acrescentadas porém os requisitos dispostos na lei são essências, sob pena de nulidade.

O artigo 55 do CC diz que os associados devem ter iguais direitos, ou seja, eles estão,

a priori, em pé de igualdade para com a associação. Dessa forma, em regra, toda associação

51
deve garantir os direitos mínimos aos associados, sendo as vantagens medida excepcional a

algumas categorias.

Em regra, a qualidade de associado não se transmite nem entre vivos (cessão), nem

por causa morte (herança), salvo se o estatuto não dispuser o contrário. É o que nos informa o

artigo 56 do CC (vide).

4.8.4 Exclusão dos associados

Uma vez admitido o associado, a sua exclusão somente será possível por justa causa,

obedecido o estatuto.

Portanto, deve-se indicar o evento que culminou na exclusão do associado e

comprovar a existência da situação. Além disso, a exclusão de um associado deve ser


precedida, necessariamente, sob pena de nulidade, ilegalidade, reintegração do associado,

das garantias constitucionais (ampla defesa, contraditório, devido processo legal).

Além disso, o estatuto ou a lei estabelecerão os limites ao exercício de direito ou

função por parte do associado, nos termos do artigo 58 do CC.

O órgão máximo, soberano, de uma associação denomina-se Assembléia Geral. Sendo

assim, compete privativamente (exclusivamente) a ela:

 Destituir os administradores;
 Alterar o estatuto.

Por fim, cumpre mencionar o que ocorre com o patrimônio de uma associação quando

ela for dissolvida. O remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o
caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à

entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.

52
4.9 Fundações

4.9.1 Conceito e Finalidades

São pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um fim.

O candidato 17 deve atentar às hipóteses previstas no rol do parágrafo único, do artigo

62, que estabelece os fins pelo qual poderão ser constituídas fundações, pois é

recorrentemente cobrado em prova.

Observe o que nos diz o artigo 62 do CC: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu

instituidor fará (obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens

livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser (facultado), a maneira

de administrá-la.

As fundações possuem 9 finalidades, expostas no p.u do artigo 62 do CC. As hipóteses

são para fins de:

 Assistência social;
 Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
 Educação;
 Saúde;
 Segurança alimentar e nutricional;
 Defesa preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
 Pesquisa cientifica, desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de
gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos;
 Promoção da ética,
 Da cidadania, da democracia, e dos direitos humanos;
 Atividades religiosas.

17
Vide Questões 1 e 10 do PDF
53
4.9.2 Procedimentos para a Criação de uma Fundação

São 4 as fases de constituição da fundação:

 Dotação: é a separação de um patrimônio, que pode ser: por escritura pública (em
vida), por testamento (para depois da morte do fundador). A dotação deve trazer
uma relação de bens livres e desembaraçados; também deve trazer a especificação
do fim.
 Elaboração do Estatuto: serve para lançar as bases da fundação, sua organização,
estrutura. O estatuto pode ser realizado pelo fundador ou por pessoa que ele
credenciar para tanto. Toda vez que o fundador delegar a incumbência para outra
pessoa, o estatuto deve ser concluído no prazo assinado pelo fundador, pois se ele
não estabelecer prazo algum será de 180 dias. Se o prazo transcorrer sem o
aperfeiçoamento do estatuto, a incumbência passa para o Ministério Público.
 Aprovação por órgão do Ministério Público.

Se o Ministério Público não aprovar o estatuto, será cabível o suprimento judicial, ou seja, o

interessado vai à justiça e pede para o juiz suprir a denegação do Ministério Público.

 Registro da escritura de instituição em cartório .

É importante destacar, ainda, o que acontece quando os bens são insuficientes para

constituir a fundação:

“Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão,
se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se
proponha a fim igual ou semelhante.“

4.9.3 Fiscalização

É realizada pelo Ministério Público.

54
4.9.4 Requisitos para alteração do estatuto

 Que seja deliberado por dois terços dos competentes para gerir e representar a
entidade.
 Que não contrarie o fim.
 Aprovação do MP (em 45 dias).

Esses requisitos encontram-se dispostos no artigo 67 do CC.

Cumpre esclarecer que se a alteração não for aprovada por unanimidade, a minoria

vencida poderá requerer a impugnação no prazo de 10 dias, conforme estabelece o artigo 68


do CC.

4.9.5 Término das fundações

Ocorre quando seu fim se torna ilícito, impossível ou inútil, ou ainda, quando se vence

o prazo de sua duração.

Quem poderá extingui-la é qualquer interessado ou o MP.

Uma vez extinta a fundação, os bens remanescentes, se houver, salvo disposição em

contrário, passarão para outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

55
QUADRO SINÓTICO

PRINCÍPIOS BASILARES DO CÓDIGO CIVIL


Corolário o princípio da boa-fé objetiva, estabelece que as relações jurídicas
devem ser pautadas pela ética e pela lealdade. As partes devem atuar de boa-fé
ETICIDADE
em todas as fases da relação, desde a negociação até a fase de execução.
Superação do modelo individualista nas relações, de modo que todas elas
devem ser voltadas aos pilares do convívio comum, prevalecendo os valores
SOCIABILIDADE
coletivos aos individuais e respeitando-se os direitos fundamentais dos seres
humanos.

OPERABILIDADE É a simplificação do Direito Civil. Todas as situações devem possuir uma


solução e as normas devem ser viáveis, de fácil operabilidade.

EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL


Revolução Francesa, divisão entre Direito Público e Privado, onde estava
um, não poderia estar o outro. O Código Civil da Alemanha o BGB, em
1896. Ambos individualistas e patrimonilistas (propriedade privada e
CODE DE FRANCE DE 1804:
pacta sunt servanda). São as influências do Código Civil de 1916.
Constitucionalização do Direito Civil. Não há mais aquela separação
rígida entre o público e o privado. O Direito Civil passou por uma
releitura, à luz dos princípios constitucionais, valores fundamentais,
como a dignidade da pessoa humanda, a igualdade material
DIREITO CIVIL – (substancial), a solidariedade social, ou seja, trata-se de uma releitura
CONSTITUCIONAL: axiológica. É o que chamamos de filtragem constitucional.
A constitucionalização é o que falamos acima, isto é, a compreensão de
qualquer instituto do Direito Civil à luz da Constituição (eficácia
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
irradiante). Já a Publicização do Direito Civil, também chamada de
DIREITO CIVIL X
Dirigismo Contratual, que é a presença do Poder Público na relação
PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO privada, quando há algum desequilíbrio entre as partes, como é o caso
CIVIL: do Direito do Trabalho e das relações de consumo, para garantir a
isonomia na relação.

56
PRINCIPAIS DISPOSITIVOS COBRADOS SOBRE A LINDB

Território brasileiro: 45 dias após a sua publicação.


Estados estrangeiros: três meses depois de oficialmente publicada, quando
admitida.
Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em vigor, acontecer uma
VIGÊNCIA DAS NORMAS nova publicação, para correção, o prazo começará a correr a partir desta
publicação.
Se a lei já estiver em vigor, a correção será considerada como LEI NOVA.

A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando


seja com ela incompatível, ou quando regule inteiramente a matéria que
PRINCÍPIO DA
tratava a lei anterior.
CONTINUIDADE DAS
NORMAS
Fenômeno legislativo, pelo qual há a entrada novamente em vigor de uma
norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. De
acordo com a LINDB, tal efeito apenas é permitido se expressamente
REPRISTINAÇÃO
declarado. Não há a incidência automática de repristinação. ≠ EFEITO
REPRISTINATÓRIO!

A lei será revogada por outra, valendo, no direito brasileiro, o princípio da


continuidade, salvo no caso de leis temporárias, pois já são criadas para
vigorarem em certo período de tempo.
REVOGAÇÃO
Ab-rogação: revogação total (absoluta) da lei.
Derrogação: revogação parcial da lei.
Ninguém pode se escusar com cumprimento da lei alegando o seu
desconhecimento, mas esta é uma presunção relativa.
PRINCÍPIO DA
OBRIGATORIEDADE DAS
NORMAS

57
Analogia, costumes e princípios gerais do direito.
Integração = colmatação.
Essa é uma ordem hierárquica, preferencial.
1) Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de
outra já prevista.

a) Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei


com outra tratada em lei específica.
TÉCNICAS DE
b) Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em lei,
INTEGRAÇÃO DA LEI
com o sistema jurídico como um todo.

2) Costumes: secundum legem (com previsão na lei, por isso não é


integração), contra legem, praeter legem (este é o mecanismo de
integração da norma).

3) Princípios gerais: não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver
honestamente.

EQUIDADE Apenas nos casos previstos em lei

INTERPRETAÇÃO DA Fins sociais e exigências do bem comum

NORMA
A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Ato jurídico perfeito: já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se


efetuou o ato.

PRINCÍPIO DA Direito adquirido: consideram-se adquiridos os direitos que o titular, ou


alguém por ele, possa exercer imediatamente.
IRRETROATIVIDADE DA
Coisa julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso.
LEI
ATENÇÃO: Regra de Direito Intertemporal (art. 2.035, do CC). Existência e
validade de um negócio jurídico: lei em vigor à época da celebração.
Eficácia: norma atual.

58
Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos, admite-
se a aplicação da legislação estrangeira, ou a legislação brasileira em país
estrangeiro .
APLICAÇÃO DA NORMA
ATENÇÃO: Estatuto Pessoal: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu).
NO ESPAÇO Cuida da personalidade, nome, capacidade e direito de família.

CASAMENTO: quando os nubentes tiverem domicílios diversos, as normas


sobre impedimentos matrimoniais e regime de bens, observarão a lei do
ESTATUTO PESSOAL primeiro domicílio conjugal.

As obrigações se qualificam e regem pela lei do país em que são constituídas.


É competente a autoridade judiciária brasileira, quando o réu for domiciliado no
Brasil ou aqui tiver que ser cumprida a obrigação.
Situações específicas:
Bens imóveis: lei do lugar onde estiverem situados.
Bens móveis e penhor: lei do domicílio do titular.
Contratos: o lugar do contrato é o de residência do proponente.
Lei sucessória mais favorável: no caso de falecimento de estrangeiro que deixa
herdeiro brasileiro, aplica-se a lei sucessória mais favorável ao herdeiro
brasileiro.

PESSOA NATURAL
Teoria natalista: personalidade se inicia no momento do nascimento com vida,
portanto o nascituro possui mera expectativa de direito.

INÍCIO DA Teoria Conceptualista: personalidade se inicia desde a concepção, ou seja, o


PERSONALIDADE nascituro já seria sujeito de direitos.
Teoria Condicional: defende que o nascituro tem determinados direitos, sujeitos a
uma condição suspensiva: o nascimento com vida. O nascituro teria apenas uma
personalidade formal, o que lhe permitiria gozar de direitos personalíssimos,
enquanto os direitos patrimoniais só seriam adquiridos com o nascimento com vida.
Capacidade de direito (capacidade de gozo): capacidade jurídica que qualquer
pessoa tem, de forma genérica

CAPACIDADE Capacidade de fato (capacidade de exercício), que é a capacidade de exercer,


CAPACIDADE DE pessoalmente, os atos da vida civil.
DIREITO +
CAPACIDADE DE

59
FATO =
CAPACIDADE
PLENA

Absoluta (artigo 3º do CC): menores de 16 (dezesseis) anos.

Relativa (artigo 4º do CC): Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, Os


INCAPACIDADES
ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade; os pródigos.

A menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, quando a pessoa fica


habilitada a prática de todos os atos da vida civil.

Emancipação

• Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos;
CESSAÇÃO
• Pelo casamento;
• Pelo exercício de emprego público efetivo;
• Pela colação de grau em curso de ensino superior;
• Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha
economia própria.
Real: quando existe um corpo, é declarada por médico ou duas testemunhas;

60
Ficta ou presumida: quando não existe corpo.
Porém, será presumida a morte quando:
 Aos ausentes, quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;
 For extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação
de perigo;
 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada até
dois anos, após o término da guerra.

No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou
EXTINÇÃO DA
com processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).
PERSONALIDADE  Sem processo de ausência:
 Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em alto mar,
sem que se pudesse encontrar sobreviventes.
 Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.

 Com processo de ausência: Ocorre quando uma pessoa desaparece sem


estar em risco de vida.

DIREITOS DA PERSONALIDADE
Intransmissíveis (não podem ser transmitidos a terceiros) e irrenunciáveis
(o titular deles não pode abrir mão, não pode renunciar), não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.
Genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, inalienáveis, indisponíveis,
CARACTERÍSTICAS imprescritíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

Preventiva por tutela específica: visa prevenir a ocorrência de dano à


personalidade.
 Inibitória: aplicação de uma pena de multa no caso de
descumprimento da tutela específica;
 Sub-rogatória: quando o juiz manda fazer uma coisa específica;
 Remoção do ilícito: quando se determina a retirada de alguma

TUTELA DOS DIREITOS publicação pejorativa em site, por exemplo.

DA PERSONALIDADE
Repressiva: busca interromper a lesão e conceder uma indenização pelos
prejuízos causados.
Atos de disposição do próprio corpo

61
DIREITOS DA Tratamento médico
Direito ao nome
PERSONALIDADE
Direito à imagem
PREVISTOS NO CÓDIGO
Direito à privacidade
CIVIL

PESSOA JURÍDICA
Agrupamento de pessoas (universitas personarum) ou de um patrimônio com
destinação específica (universitas bonorum).

CONCEITO Teoria adotada pelo CC/02: Teoria da realidade técnica (Saleilles).


Pessoas jurídicas podem ser de direito público:
 Interno: União, Estados, o Distrito Federal e os Territórios, Municípios,
autarquias, inclusive as associações públicas, as demais entidades de caráter
público criadas por lei.
CLASSIFICAÇÃO  Externo: Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo
direito internacional público.

Direito privado: associações; sociedades; fundações, organizações religiosas; partidos


políticos, empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI).

INÍCIO DA PESSOA Começa com a inscrição do ato constitutivo no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do CC.
JURÍDICA
A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine) é instituto, com
natureza constitutiva que visa a criar nova situação jurídica, com a finalidade de
impedir que os sócios, administradores, gerentes e/ou representantes legais,
acobertados pela independência pessoal e patrimonial entre pessoa jurídica e os
entes que a compunham, pratiquem abusos, atividades escusas e fraudulentas.
DESCONSIDERAÇÃO
Direta: desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade,
DA sempre que caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
PERSONALIDADE Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a sua personalidade
JURÍDICA para ampliar ao complexo patrimonial da pessoa jurídica a qual figura como sócio,
sempre que se constatar que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para a
sociedade com a finalidade de frustrar os direitos de seus credores.

Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma empresa que é controladora,


por meio da controlada ou coligada.

62
Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua
empresa em nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo grupo
econômico.

 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.


 Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução previstos em
lei ou no estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins
para os quais foi constituída. Ex: em caso de falência.
 Administrativa: por decisão do poder público que caça a autorização de
funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou contrários aos seus fins.

DISSOLUÇÃO Ex: o MEC em relação a algumas faculdades.


 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.
 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC)
 Averbação da dissolução: os sócios se dirigem ao cartório e lá averbam
(publicam) a dissolução de sua PJ. O fato se torna público e notório.
 Liquidação: é a solução das questões patrimoniais pendentes
 Cancelamento da Inscrição da PJ
Consiste numa reunião de pessoas, sem fins econômicos, ou seja, não se pode
distribuir dividendos entre os associados, caso contrário existiria um desvio de
ASSOCIAÇÕES
finalidade, deixando de ser uma associação para se tornar uma sociedade.
São pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um fim.
Observe o que nos diz o artigo 62 do CC: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu
instituidor fará (obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação especial de
FUNDAÇÕES
bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser (facultado),
a maneira de administrá-la.

63
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: Segundo a lei civil brasileira, as fundações são consideradas

pessoas jurídicas de direito privado, pelas quais deverá velar o Ministério Público Estadual do

local onde situadas. Acerca de tal instituto, assinale a alternativa incorreta:

A) Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento,
dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser,

a maneira de administrá-la.

B) A fundação somente poderá constituir-se para fins de: I - assistência social; II - cultura,

defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III - educação; IV - saúde; V -


segurança alimentar e nutricional; VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e

promoção do desenvolvimento sustentável; VII - pesquisa científica, desenvolvimento de

tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de

informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII - promoção da ética, da cidadania, da

democracia e dos direitos humanos e; IX - atividades religiosas.

C) Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: 1 - seja

deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II - não
contrarie ou desvirtue o fim desta e; III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no

prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a

denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.

D) Tomando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o


prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe

64
promoverá a extinção, sendo vedada a incorporação do seu patrimônio em outra fundação

que se proponha a fim igual ou semelhante.

Comentário:

Para que se possa alterar o estatuto da fundação é imprescindível que a reforma seja

deliberada por 2/3 dos competentes para gerir e representar a fundação, não contrarie

ou desvirtue o fim desta e que seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo

máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público


a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.

Contudo, quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os

administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público,


requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.

Ademais, tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou

vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer

interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo


disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação,

designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

Questão 2
FCC – 2019 – TJ/AL: Alessandra, atualmente com 17 anos de idade, nasceu com deficiência

mental que a impede, de forma permanente, de exprimir sua vontade. Para o Código Civil, ela:

A) é absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil, e permanecerá

nessa condição mesmo depois de completar 18 anos.

B) não é incapaz, absoluta ou relativamente, de exercer pessoalmente os atos da vida civil.

C) é incapaz, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, e permanecerá nessa

condição mesmo depois de completar 18 anos.

65
D) é absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil, mas deixará de sê-

lo ao completar 18 anos.

E) é incapaz, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, mas deixará de sê-lo ao

completar 18 anos.

Comentário:

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação

dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) (...) III - aqueles que, por causa transitória ou

permanente, não puderem exprimir sua vontade;” (Redação dada pela Lei nº 13.146, de

2015) (Vigência)

A Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência), acaba por consolidar ideias
constantes na Convenção de Nova York, tratado internacional de direitos humanos do
qual o País é signatário e que entrou no sistema jurídico com efeitos de Emenda à

Constituição por força do art. 5.º, § 3.º, da CF/1988 e do Decreto 6.949/2009. O art. 114
do Estatuto da Pessoa com Deficiência alterou substancialmente os dispositivos,

revogando todos os incisos do art. 3.º e alterando os incisos II e III do art. 4.º do CC. No

inciso III havia a previsão dos que, mesmo por causa transitória, não pudessem exprimir

sua vontade. Com as mudanças, somente são absolutamente incapazes os menores de 16

anos, não mais havendo maiores absolutamente incapazes. Assim, considerando que
Alessandra, atualmente com 17 anos de idade, nasceu com deficiência mental que a

impede, de forma permanente, de exprimir sua vontade, para o CC ela é incapaz,


relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, e permanecerá nessa condição

mesmo depois de completar 18 anos.

Questão 3
INSTITUTO ACESSO – 2019 – DPC/ES: A atual Lei de Introdução às Normas do Direito

Brasileiro (Decreto-lei 4.657, de 4 de setembro de 1942 e suas alterações), antiga “Lei de

Introdução ao Código Civil, é composta de regras que incidem no campo da atuação dos

agentes públicos, bem como estabelece regras gerais de interpretação.

Tendo em vista as disposições deste Diploma Legal, assinale a seguir a alternativa correta:
66
A) Nas decisões emanadas das esferas administrativas, judicial e controladora, valores

abstratos podem ser utilizados desde que, em tais decisões, sejam consideradas as

consequências práticas de sua utilização no caso concreto.

B) Uma lei federal revogada por outra lei federal posterior tem sua vigência restaurada caso a
lei revogadora posterior perca sua vigência, como também tem sua eficácia jurídica

restabelecida para casos concretos para os quais era aplicada,

C) A lei do país em que a pessoa natural é domiciliada, seja ela brasileira nata ou naturalizada

após processo regular com decisão transitada em julgado, determina as regras especificas

sobre responsabilidade civil a serem aplicadas num caso concreto.

D) Na hipótese de lacuna legal, que consiste em não haver uma hipótese normativa especifica

e expressa a ser aplicada para um determinado caso concreto, o Juiz decidirá utilizando a

ponderação, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.

E) O agente público, em nível Federal, Estadual ou Municipal, no uso de suas atribuições

estabelecidas em regime jurídico próprio, responderá pessoalmente por suas decisões ou

opiniões técnicas em caso de Imprudência, negligência, imperícia ou erro grosseiro.

Comentário:

A resposta se trata de uma novidade legislativa prevista no Art. 20 da LINDB: “Nas

esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores

jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.


(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018).” Assim, vejam as importância de possuir um

material atualizado!

Sobre a letra B, não há repristinação automática, conforme dispõe o Art. 2° § 3: Salvo

disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido

a vigência. Atente-se para efeitos repristinatórios da ação direta de inconstitucionalidade:

caso de uma norma voltar a ter vida no ordenamento jurídico visto que o dispositivo que

a revogou foi declarado inconstitucional via ação concentrada (ADI, ADECON, ADPF).

67
Uma norma declarada inconstitucional é expurgada de tal modo da ordem jurídica que é

vista como se nunca tivesse existido, tendo a sentença efeito ex-tunc.

Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem e

a obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o


proponente. Atentem-se que o dispositivo está em conflito parcial com o art. 435 do CC.

Aplicando-se a especialidade, deve-se entender que a regra do art. 435 do CC serve para

os contratos nacionais; enquanto o dispositivo da LINDB é aplicado aos contratos

internacionais.

A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim

da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e

os princípios gerais de direito.

A letra E também trata de uma novidade legislativa prevista no art 28, ao dispor que:

O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em

caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Questão 4
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Considere as afirmações a seguir.

I. Os direitos da personalidade são extrapatrimoniais, imprescritíveis e vitalícios.

II. Comoriência é o estudo de como funciona a Ciência do Direito.

III. Os direitos da personalidade são absolutos porque não podem sofrer nenhum tipo de

limitação.

IV. A incapacidade relativa pode ser suprida com mera assistência, desde que haja autorização

judicial, dispensando a representação.

Dessas afirmações,

A) três são corretas.


68
B) duas são corretas.

C) todas são corretas.

D) apenas uma é correta.

E) nenhuma é correta.

Comentário:

Sobre o Item I, com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são

intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

O item II, por sua vez, está incorreto, tendo em vista que ocorre comoriência quando

duas ou mais pessoas morrem ao mesmo tempo, não sendo possível aferir qual delas

morreu primeiro, razão pela qual o direito trata como se elas tivessem morrido no

mesmo instante.

Ainda, o item III está incorreto, pois, o exercício dos direitos da personalidade, conforme

explicado alhures, pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente, nem

geral, e não ofenda a dignidade e os bons costumes.

Por fim, sobre o item IV, a assistência prescinde (dispensa) de autorização judicial.

Questão 5
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de

sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item

subsecutivo.

Na sucessão provisória, o ascendente, mesmo depois de provada a sua qualidade de herdeiro,

deverá dar garantia mediante penhor ou hipoteca para imitir-se na posse do bem do ausente.

Comentário:

69
Trata-se do instituto da Ausência, cuja resposta está prevista no art. 30 do CC: o s

herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição

deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.

Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a

administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa

garantia.

Porém, os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade

de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do

ausente.

Questão 6
FUNDEP – 2019 – DPE/MG: A Lei Federal nº 13.655/2018 acrescentou vários dispositivos à Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), inserindo normas de hermenêutica

afetas ao direito público para melhorar a qualidade da atividade jurídico-decisória na gestão

pública. Assegura, assim, máxima efetivação dos princípios da eficiência e, principalmente, da

segurança jurídica.

Nesse panorama, assinale a alternativa correta.

A) Embora a segurança jurídica seja uma preocupação da norma, as respostas a consultas

emitidas não terão caráter vinculante em relação ao órgão ou à entidade a que se destinam,

mas, sim, informativo.

B) Os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu

cargo são irrelevantes quando da interpretação de normas sobre gestão pública, haja vista a

indisponibilidade do interesse público.

C) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem

considerar as consequências práticas da medida imposta, que é atividade de competência

exclusiva da administração pública.

70
D) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização

interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados.

Comentário:

Novamente trata-se de uma questão abordando uma novidade legislativa, portanto,

fiquem ligados!

De acordo com o art. 30, as autoridades públicas devem atuar para aumentar a
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas

administrativas e respostas a consultas. Parágrafo único. Os instrumentos previstos no


caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se

destinam, até ulterior revisão.

Conforme dispõe o art. 22 da LINDB, na interpretação de normas sobre gestão pública,

serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das

políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.

Consoante o art. 20 da LINDB, nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se

decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as

consequências práticas da decisão.

O art. 29 da LINDB preconiza que: em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos

normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, PODERÁ

ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente

por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.

Questão 7
CESPE – 2019 – TJ/PR: Conforme os direitos da personalidade, a disposição do próprio corpo

é:

A) permitida, se por vontade pessoal e para fins científicos, ainda que implique em diminuição

da integridade física.

B) proibida para fins de transplante, ainda que a disposição seja parcial.


71
C) permitida, após a morte, para fins científicos e de forma gratuita.

D) proibida, após a morte, se parcial e com fins altruísticos.

Comentário:

Conforme dispõe art. 14 do CC, é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a

disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Ainda,

o ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Ademais, importante destacar o Enunciado 277 JDC: O art. 14 do Código Civil, ao


afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou

altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do DOADOR

de órgãos EM VIDA prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do

art. 4º da Lei n. 9.434/97 (autorização conjugal / parental) ficou restrita à hipótese de

silêncio do potencial doador; Trata-se de Princípio do CONSENSO AFIRMATIVO.

Questão 8
CESPE – 2019 – MPE/PI: Com relação a conceitos, formação, extinção e aspectos relacionados

à pessoa jurídica, é correto afirmar que

A) o registro competente é ato necessário para constituir as pessoas jurídicas de direito tanto

privado quanto público.

B) constituem-se, sem o registro competente, as pessoas jurídicas de fato, cujos sócios


respondem pessoal e limitadamente pelas obrigações assumidas, não se afastando a aplicação

do princípio da autonomia patrimonial.

C) os condomínios edilícios são exemplo de pessoa formal que, embora não caracterize

pessoa jurídica, tem sido reconhecida como sujeito de direito.

D) a teoria da aparência e a teoria ultra vires se confundem: por meio delas, a pessoa jurídica
se obriga por atos praticados por seus sócios administradores, mesmo que exercidos fora dos

limites de ação determinados no ato constitutivo da empresa.

72
E) a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica implica a desconstituição

do registro da pessoa jurídica, ou seja, a sua despersonalização.

Comentário:

A letra A encontra-se errada, pois há pessoas jurídicas de direito público, por exemplo,
que independem de registro em cartório, como as autarquias, que são criadas por lei

específica.

No mesmo sentido, a letra B também está errada, tendo em vista que a responsabilidade

dos sócios na pessoa jurídica de fato é ilimitada.

A letra D está errada, pois ambas as teorias se diferenciam. A teoria ultra vires

estabelece que a pessoa jurídica somente responde pelos atos de seus representantes

até o limite dos poderes que lhe foram outorgados, sendo nulo aquilo que o exceda.

Essa teoria busca proteger a pessoa jurídica. Já a teoria da aparência atribui a obrigação
decorrente do ato abusivo à sociedade, cabendo a esta ação regressiva em face do sócio

ou administrador que aja em excesso. Essa teoria busca defender a boa-fé objetiva do
terceiro, que estabeleceu relações com pessoa que agia em nome da sociedade, e

desconhecia os limites desses poderes.

A letra E também encontra-se errada já que a desconsideração da personalidade jurídica

não enseja a desconstituição da pessoa jurídica, apenas sua desconsideração em

determinado processo, para executar o patrimônio de seus sócios. Registre-se que essa
teoria, de acordo com o Código Civil (art. 50), atende aos requisitos da Teoria Maior,

segundo a qual deve ser demonstrado o abuso da personalidade jurídica ou a confusão

patrimonial.

Questão 9
CESPE – 2019 – MPE/PI: O Código Civil dispõe que “toda pessoa é capaz de direitos e

deveres na ordem civil” e que “a personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com

vida”. Considerando-se os conceitos de capacidade e personalidade, é correto afirmar que

73
A) a pessoa passa, a partir do nascimento com vida, a ser sujeito de direitos e de deveres, e a

ocorrência desse requisito determina consequências de alta relevância, incluindo aspectos

sucessórios.

B) não é certo considerar a pessoa relativamente incapaz no momento da lim itação quando a

causa de impossibilidade de expressão da vontade for transitória.

C) a forma prevista na legislação civil de declarar o fim da existência da pessoa natural é

somente pela morte, que será sempre natural ou física.

D) o prenome e o sobrenome servem para individualizar as pessoas naturais e, por isso, à luz
do princípio da sua imutabilidade, somente podem ser alterados se expuserem a pessoa ao

ridículo.

E) a atual legislação civil aproxima as características dos direitos de personalidade e dos

direitos patrimoniais ao afirmar que ambos têm conteúdo econômico imediato e podem ser

destacados do seu titular.

Comentário:

De acordo com o art. 2º do CC, a personalidade civil da pessoa começa do nascimento

com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. A

capacidade de direito adquire-se com o nascimento com vida, e é a aptidão para

titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de modo que toda pessoa (por

ter personalidade jurídica) tem capacidade de direito.

O art. 4º dispõe quem são incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os


exercer. Sendo aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir

sua vontade uma incapacidade RELATIVA.

A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos

ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Existe a
possibilidade de ser declarada a morte presumida, com ou sem decretação de ausência.

Neste último caso, será nas seguintes hipóteses: se for extremamente provável a morte

74
de quem estava em perigo de vida, e se alguém, desaparecido em campanha ou feito

prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Ademais, a

declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do

falecimento.

Sobre o direito ao nome, em regra, o mesmo é imutável, conforme dispõe o art. 58 da

LRP 6015/73. Porém, existem várias exceções em que ele poderá ser modificado, a

exemplo das seguintes:

a) Nome que expõe a pessoa ao ridículo, inclusive e caso de homonímias (nomes iguais).

b) Erro crasso de grafia;

c) Tradução de nomes estrangeiros.

d) Cirurgia de adequação de sexo;

e) Introdução de alcunhas, apelidos sociais ou cognome.

f) Introdução de nome do cônjuge ou companheiro. Quando alguém incorpora o nome

do outro passa a ser um direito da personalidade do incorporador. Não pode ser

obrigado a retirar no divórcio;

g) Reconhecimento de filho ou adoção;

h) Proteção de testemunha Lei 9807/99;

i) Inclusão do nome de familiar remoto (debate na jurisprudência).

j) Inclusão de sobrenome por enteado por padrasto ou madrasto, havendo motivo


ponderável e desde que haja concordância do último (Lei Clodovil – n.º 11.924/2009). Art.

57, §8º Lei n.º 6015/73.

Ainda, o art. 11 do CC informa que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos

da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício

75
sofrer limitação voluntária. Os direitos da personalidade, em regra, são indisponíveis. Há,

na verdade, uma indisponibilidade relativa. Os direitos da personalidade são

indisponíveis e irrenunciáveis. Contudo, existe uma fatia dos direitos da personalidade


que revelam aspectos patrimoniais e são disponíveis e renunciáveis, como, por exemplo,

os direitos morais do autor, porém, esta não é a regra.

Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: O pedido de aprovação de estatuto de fundação, assim como de

suas alterações, será deduzido em Juízo

A) independentemente de manifestação prévia do Ministério Público.

B) quando se tratar de fundação instituída para fins de pesquisa científica, desenvolvimento de

tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de

informações e conhecimentos técnicos e científicos.

C) quando se tratar de fundação instituída para fins de assistência social.

D) quando se tratar de fundação instituída pelo Poder Público.

E) quando o Ministério Público se manifestar contrariamente à aprovação do estatuto ou de

suas alterações.

Comentário:

Trata-se de questão que aborda o tema das Fundações, assunto importantíssimo para

carreira do MP. De acordo com o art. 67, do Código Civil, para que se possa alterar o
estatuto da fundação é importante que a reforma tenha, dentre outros requisitos, a
aprovação pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco)

dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público o denegar, poderá o juiz supri-la, a

requerimento do interessado.

76
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - D

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - D

Questão 7 - C

Questão 8 - C

Questão 9 - A

Questão 10 - E

77
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

 LINDB: integralmente;
 LC 95/1998: art. 8º;

 Decreto nº 9.830/2019: integralmente;

Pessoa Natural e Direitos da personalidade

 CC: Arts. 1 a 21;

 Súmulas: 403 do STJ;

Ausência

 CC: Arts. 22 a 39;

Pessoa Jurídica

 CC: Arts. 40 a 69;

 Súmulas: 227 do STJ;

Domicílio

 CC: Arts. 71 a 78;

Colacionamos, abaixo, o teor das súmulas mencionadas neste capítulo:

78
Direitos da personalidade

 Súmula 403, STJ

Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.

Pessoa Jurídica

 Súmula 227, STJ

A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

79
JURISPRUDÊNCIA

Pessoa Natural e Direitos da personalidade

 Tema 761 – RE 670422, STF:

O STF, que fixou a seguinte tese:

I) O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de
gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o
qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa;

II) Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo

'transgênero';

III) Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de
certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial;

IV) Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento
do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos
ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.

 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815:

O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, julgou procedente o pedido formulado na ação
direta para dar interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto,
para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação
artística, produção científica, declarar inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a
obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).

O STJ fixou o seguinte entendimento:

A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social.
80
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado,
inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia
autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na

reportagem, não se aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à indenização.

 Informativo 621, STJ:

A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário
que tem por objeto a história profissional de terceiro. Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em

virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem prévia autorização, em cenas
do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda
que de forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente de efetivo prejuízo.

O STJ não concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende
da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes.

O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem como desnecessária a autorização de pessoas
nelas retratadas como coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem de
pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história profissional de terceiro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.454.016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

12/12/2017

 Informativo 588, STJ:

O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso
não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por força da

apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta
em seus documentos brasileiros.

 Informativo 627, STJ:

É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo conjugal pelo


falecimento do cônjuge. Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela
incorporou o patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira. Alguns anos mais tarde, João
faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria Pimentel da Costa), excluindo o patronímico do
falecido marido? Sim. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em caso de

morte do marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de

81
solteiro (a) em caso de divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido.
A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do
vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas
situações. STJ. 3ª Turma. REsp 1724718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018

 Informativo 627, STJ:

É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor em juízo sem a
observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa finalidade. Ex: Sandro namorava
Letícia, que ficou grávida. Ao nascer a criança, Sandro a registrou como sua filha. Alguns anos depois, por meio

de um exame de DNA feito em uma clínica particular, descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade,
João. Diante disso, o pai registral, o pai biológico e a criança, representada por sua mãe, celebraram um acordo
extrajudicial de anulação de assento civil. Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que
haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral

pelo pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz homologasse esse acordo. O pedido deverá
ser negado. STJ. 3ª Turma. REsp 1698717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018

 Informativo 628, STJ:

Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há mais muitos anos, tendo sido inocentada das
acusações. Ocorre que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de busca,

os primeiros resultados que aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem reportagens sobre seu
suposto envolvimento com a fraude. Diante disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google
pedindo a desindexação, nos resultados das aplicações de busca mantida pela empresa, de notícias relacionadas
às suspeitas de fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento, o direito ao esquecimento. O STJ
afirmou o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm responsabilidade pelos
resultados de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode atribuir a eles a função de censor, obrigando
que eles filtrem os resultados das buscas, considerado que eles apenas espelham o conteúdo que existe na
internet. A pessoa prejudicada deverá direcionar sua pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de

notícia), responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet. Há, todavia, circunstâncias
excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo
criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre dados pessoais e resultados da busca, que não
guardam relevância para interesse público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo
decurso do tempo. Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a
proteção aos dados pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas
com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por
sistemas automatizados de busca. No caso concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da

pesquisa com base no nome completo da autora com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em
outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google não precisa retirar de seus resultados as notícias da

82
autorarelacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses resultados apareçam será necessário
que o usuário faça uma pesquisa específica com palavras-chaves que remetam à fraude. Por outro lado, se a
pessoa digitar unicamente o nome completo da autora, sem qualquer outro termo de pesquisa que remete à
suspeita de fraude, não se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato desabonador. Assim,

podemos dizer que é possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de
busca na internet entre o nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada
nos resultados. O rompimento do referido vínculo sem a exclusão da notícia compatibiliza também os interesses
individual do titular dos dados pessoais e coletivo de acesso à informação, na medida em que viabiliza a
localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa fornecendo argumentos de pesquisa relacionados
ao fato noticiado, mas não àqueles que buscam exclusivamente pelos dados pessoais do indivíduo protegido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
08/05/2018

 Informativo 892, STF:

Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização


de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do gênero (sexo)
diretamente no registro civil. STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 28/2 e 1º/3/2018

 Informativo 911, STF:

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no
registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser
averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do
registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro
teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. Efetuando-se o procedimento
pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição de

mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os
quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 15/8/2018 (repercussão geral)

 Informativo 634, STJ:

IMAGEM. Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz Giovanna Antonelli, sem a
sua autorização, em propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por
danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré
obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem

patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um

83
direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que
foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. A obrigação de
restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). A ação de
enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação

cumulando os pedidos de reparação dos danos (responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente


auferido (lucro da intervenção). Para a configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se faz
imprescindível a existência de deslocamento patrimonial, com o empobrecimento do titular do direito violado,
bastando a demonstração de que houve enriquecimento do interventor. O critério mais adequado para se fazer a
quantificação do lucro da intervenção é o do enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A quantificação do
lucro da intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de liquidação de sentença, devendo o
perito observar os seguintes critérios: a) apuração do quantum debeatur com base no denominado lucro
patrimonial; b) delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção no direito de

imagem da autora; c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e d) distribuição do lucro obtido
com a intervenção proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma.REsp
1.698.701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018

 Informativo 645, STJ:

Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última vontade do indivíduo sobre a
destinação de seu corpo após a morte, sendo possível a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em
atenção à vontade manifestada em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo
humano após a morte, em baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da
pessoa caso sobrevenha alguma importante descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras
palavras, a criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a finalidade de que,
com os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados. STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.718-RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/03/2019.

 Informativo 655, STJ:

É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher
durante a convivência matrimonial. O cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565, do
Código Civil). Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa
providência requerida no processo de habilitação do casamento. A despeito disso, não existe uma vedação legal
expressa para que, posteriormente, no curso do relacionamento, um dos cônjuges requeira o acréscimo do outro
patronímico do seu cônjuge por meio de ação de retificação de registro civil, especialmente se o cônjuge
apresenta uma justificativa. Vale ressaltar que o art. 1.565, §1º do CC não estabelece prazo para que o cônjuge
adote o apelido de família do outro, em se tratando, no caso, de mera complementação, e não alteração do

nome. Assim, é possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao
nome da mulher durante a convivência matrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.648.858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas

84
Bôas Cueva, julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Pessoa Jurídica

 Informativo 661, STJ:

Membros do conselho fiscal de uma cooperativa não podem ser atingidos pela desconsideração da

personalidade jurídica se não praticaram nenhum ato de administração. A desconsideração da personalidade


jurídica, ainda que com fundamento na Teoria Menor, não pode atingir o patrimônio pessoal de membros do
Conselho Fiscal sem que haja a mínima presença de indícios de que estes contribuíram, ao menos culposamente
e com desvio de função, para a prática de atos de administração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.093-SP, Rel. Min.

Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info 661).

85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São

Paulo: MÉTODO, 2018.

86
Capítulo 2
SUMÁRIO

5. Bens ................................................................................................................................................................................4

5.1 Conceito ................................................................................................................................................................4

5.2 Classificação Doutrinária ................................................................................................................................4

5.3 Classificação legal .............................................................................................................................................5

5.3.1 Bens considerados em si mesmos ....................................................................................................5

5.3.1.1 Bens quanto à mobilidade ...........................................................................................................5

5.3.1.2 Bens quanto à Fungibilidade ......................................................................................................8

5.3.1.3 Bens quanto à Consuntibilidade................................................................................................8

5.3.1.4 Bens quanto à sua Divisibilidade ..............................................................................................9

5.3.1.5 Bens quanto à individualidade ...................................................................................................9

5.3.2 Bens Reciprocamente Considerados ............................................................................................. 10

5.4 Bem de Família ............................................................................................................................................... 13

5.4.1 Bem de Família Voluntário (arts. 1711 do CC e ss) ................................................................ 13

5.4.2 Bem de Família Legal (Lei nº 8.009/90) ....................................................................................... 15

5.5 Bens Gravados com Cláusula de Inalienabilidade ........................................................................... 19

6. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos .................................................................................................................... 20

6.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico.............................................................................................................. 20

6.1.1 Fato Jurídico............................................................................................................................................. 20

6.1.2 Ato Jurídico .............................................................................................................................................. 21

6.2 Negócio Jurídico............................................................................................................................................. 22

6.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos ............................................................................................ 23

6.2.2 Elementos do Negócio Jurídico ...................................................................................................... 24

6.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico ....................................................... 27


6.2.3.1 Condição ........................................................................................................................................... 27

6.2.3.2 Termo ................................................................................................................................................. 29

6.2.3.3 Encargo ou Modo ......................................................................................................................... 30

6.2.4 Manifestação de vontade................................................................................................................... 30

6.2.5 Dos Defeitos do Negócio Jurídico ................................................................................................. 31

6.2.5.1 Erro substancial ou ignorância ................................................................................................ 31

6.2.5.2 Dolo ..................................................................................................................................................... 32

6.2.5.3 Coação ............................................................................................................................................... 33

6.2.5.4 Estado de perigo ........................................................................................................................... 33

6.2.5.5 Lesão ................................................................................................................................................... 33

6.2.5.6 Fraude contra credores............................................................................................................... 35

6.2.6 Invalidade do Negócio Jurídico....................................................................................................... 36

6.2.6.1 Inexistência dos Negócios Jurídicos...................................................................................... 36

6.2.6.2 Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta).................................................. 36

6.2.6.3 Anulabilidade dos Negócios Jurídicos (nulidade relativa) ........................................... 39

7. Prescrição e Decadência ..................................................................................................................................... 40

7.1 Prescrição........................................................................................................................................................... 40

7.1.1 Prazos da Prescrição............................................................................................................................. 42

7.1.2 Características .......................................................................................................................................... 43

7.1.3 Hipóteses que Impedem ou Suspendem a Prescrição: ........................................................ 44

7.2 Decadência........................................................................................................................................................ 47

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 48

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 52

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 63
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 64

JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 78


DIREITO CIVIL

Capítulo 2

5. Bens

5.1 Conceito

Bens1 são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de

direito. Assim, o objeto da relação jurídica é todo bem que possa ser submetido ao poder das
pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas.

5.2 Classificação Doutrinária

Existem diversas classificações para os bens. Explanaremos as consideradas mais


importantes. Comecemos pela doutrinária que os classifica em:

 Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem existência física;

podem ser tocados e são visíveis, ou seja, percebidos pelos sentidos. Ex: terrenos,
edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, etc.

 Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não existem


fisicamente (possuem uma existência abstrata) mas podem ser traduzidos em
dinheiro. Ex: programas de computador (software), propriedade literária e/ou
científica, direitos autorais, propriedade industrial (marcas de propaganda, logotipos,
patentes de fabricação), concessões obtidas para a exploração de serviços públicos,

fundo de comércio (ponto comercial), etc.

1
Vide questões 3 e 4;
4
Na prática, os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e venda, enquanto
os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão (transferência a outrem). Mas

ambos podem integrar o patrimônio de uma pessoa.

5.3 Classificação legal

Quanto à classificação legal temos:

5.3.1 Bens considerados em si mesmos

5.3.1.1 Bens quanto à mobilidade

 Bens Imóveis: São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de

um lugar para o outro sem a sua destruição ou alteração em sua substância.

Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu

parte de sua força. Atualmente há modalidades de imóveis que não se amoldam


perfeitamente a este conceito (ex: edificações que, separadas do solo, conservam sua unidade,

podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 83, CC).

Os bens imóveis podem ser divididos em:

 Por Natureza (ou por essência): É o solo (terreno) e tudo quanto se lhe
incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências

(espaço aéreo e subsolo).


 Por Acessão Física, industrial ou artificial: Trata-se de tudo quanto o homem

incorporar permanentemente (o que não significa eternamente) ao solo, não


podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano. Abrange os bens
móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do homem, passam a ser bens

imóveis. Ex: um caminhão de tijolos, cimento, caibros, etc. São bens móveis.
Quando se realiza uma construção, sendo incorporados ao solo pela aderência

física, passam a ser imóveis, pois não podem ser retirados se causar dano à

construção onde estão.

5
Enunciado 11 da I Jornada de Direito Civil: Não persiste no novo sistema legislativo a

categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão "tudo quanto se
lhe incorporar natural ou artificialmente", constante da parte final do art. 79 do Código Civil.

Não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis):

Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para
outro local (ex: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidade para outra).
Materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem (telhas
retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo reempregado posteriormente).

 Por Acessão Intelectual (destinação do proprietário): São os bens móveis

que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade
ao imóvel. Trata-se de uma ficção jurídica. Ex: um trator destinado a uma

melhor exploração de propriedade agrícola, máquinas de uma fábrica têxtil,


para aumentar a produtividade da empresa, veículos, animais e até objetos de

decoração de uma residência. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, o


Código qualifica esses bens como pertenças, onde a coisa deve ser colocada a

serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bens


acessórios.

6
 Por Disposição Legal: São bens que são considerados imóveis pois o
legislador assim resolveu enquadrá-los, possibilitando, como regra, receber

maior segurança e proteção jurídica nas relações que os envolve. Trata-se,


também, de uma ficção jurídica. São eles: Direito à sucessão aberta, Direitos

reais sobre os imóveis, Penhor agrícola e as ações que o asseguram, Jazidas e


as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são
consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts.20, inciso IX e

176, CF/88).
 Bens Móveis: São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar

para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da

destinação econômico-social.

Podemos classificá-los em:

 Móveis por Natureza: São os bens que podem ser transportados de um local

para outro sem a sua destruição por força alheia, ou que possuem movimento

próprio.

Força alheia são os bens móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, etc. Força própria

(suscetíveis de movimento próprio) – são os semoventes, ou seja, os animais de uma forma

geral (bois, cavalos, carneiros, etc.).

 Móveis por Antecipação: A vontade humana pode mobilizar bens imóveis em

função da sua finalidade econômica. Ex: uma árvore é um bem imóvel; no


entanto se ela pode ser plantada especialmente para corte futuro (fábrica de

papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora imóvel ela tem uma
finalidade última como bem móvel. Assim, mesmo que temporariamente
imóvel isto não lhe retira o seu caráter de bem móvel, em razão de sua

7
finalidade. Outros exemplos: Os frutos de um pomar que ainda estão no pé,
mas destinados à venda (safra futura); pedras e metais aderentes ao imóvel,

etc.
 Móveis por Determinação Legal: O art. 83, CC considera como bens móveis

para efeitos legais:

As energias que tenham valor econômico – a energia elétrica, embora não seja um bem
corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3°
do Código Penal também a equipara com um bem móvel, podendo ser objeto do crime de
furto.
Direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes - ex: direito de propriedade
e de usufruto sobre bens móveis, etc.
Direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações.

Direitos autorais, propriedade industrial (direitos oriundos do poder de criação e


invenção da pessoa), quotas e ações de capital em sociedades, etc.

5.3.1.2 Bens quanto à Fungibilidade

 Infungíveis: São os bens que possuem alguma característica especial, que os

tornam distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo que
da mesma espécie, qualidade e quantidade. São bens considerados em sua

específica individualidade, pois, de alguma forma, estão devidamente


personalizados. Ex: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso, etc.

 Fungíveis: São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ou se

pesam e não se consideram objetivamente como individualidades. Ex: uma saca de

arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, dinheiro.

5.3.1.3 Bens quanto à Consuntibilidade

 Consumíveis: São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata
da própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex: gêneros alimentícios, bebidas, lenha,
cigarro, giz, dinheiro, gasolina, etc.

8
 Inconsumíveis: São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire
toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex: roupas de uma forma geral,

automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência

do tempo.

5.3.1.4 Bens quanto à sua Divisibilidade

 Divisíveis: São os bens que podem se fracionar em porções reais e distintas,

formando cada qual um todo perfeito, sem alteração em sua substância, diminuição
considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Ex: uma folha de

papel, uma quantidade de arroz, milho, etc. Se repartirmos uma saca de arroz, cada
metade conservará as mesmas qualidades do produto.

 Indivisíveis: São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois
deixariam de formar um todo perfeito. Ex: uma joia, um anel, um par de sapatos,
etc. No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em:

 Por natureza: Ex: um cavalo, um relógio, um quadro, etc.


 Por determinação legal: Alguns bens poderiam ser divididos fisicamente. No

entanto é a lei que os torna indivisíveis. O exemplo clássico é o da herança


(artigo 1.791 do CC). Outros exemplos: o módulo rural (art. 65 do Estatuto da

Terra), os lotes urbanos, a hipoteca, etc.


 Por vontade das partes (convencional): Um bem fisicamente é divisível, mas

pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex: entregar 100 sacas de
café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e
50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade

da prestação: ou seja, todas as 100 sacas devem ser entregues hoje.

5.3.1.5 Bens quanto à individualidade

 Bens Singulares ou Individuais: Os bens que, embora possam estar reunidos, são

considerados de modo individual, independentemente dos demais. Ex: um cavalo,


uma casa, um carro, uma joia, um livro, etc.
 Bens Coletivos ou Universais: Universalidade é a pluralidade de bens singulares
autônomos que, embora ainda conservem sua identidade, são consideradas em seu
9
conjunto, formando um todo único (universitas rerum), passando a ter
individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Trata-se de um

gênero que tem como espécies:


 Universalidade de Fato: É a pluralidade de bens singulares, corpóreos e

homogêneos, ligados entre si pela vontade humana. Devem pertencer à


mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). Ex: biblioteca (livros),
pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, caprino, etc).

 Universalidade de Direito: É a pluralidade de bens singulares, corpóreos e


heterogêneos ou até incorpóreos, a que a norma jurídica, com a intenção de

produzir certos efeitos, dá unidade; é o complexo de relações jurídicas de uma


pessoa, dotadas de valor econômico. Exemplo: o patrimônio; a herança (ou

espólio), a massa falida, etc.

5.3.2 Bens Reciprocamente Considerados

Esta forma de classificação é feita a partir de uma comparação entre os bens.

 Principais: São os que existem por si, abstrata ou concretamente,


independentemente de outros; exercem função e finalidades autônomas. Ex: o solo,

um crédito, uma joia, etc.


 Acessórios: São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua
existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex: um fruto em relação à

árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros, etc.

Regra: o bem acessório segue o principal (salvo disposição especial em contrário) –


acessorium sequitur suum principale.

10
É interessante esclarecer que esta regra não está mais explícita no atual Código Civil.
No entanto a doutrina é unânime em considerar que a mesma ainda prevalece em nosso

direito. Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do
acessório.

Outro efeito: a natureza do principal será também a do acessório. Ex: se o solo é

imóvel, a árvore nele plantada também o será. Trata-se do princípio da gravitação jurídica (um
bem atrai o outro para a sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico: o principal

atrai acessório; o acessório segue o principal).

São Bens Acessórios:

 Frutos (naturais, industriais e civis): São as utilidades que a coisa principal

produz periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção


mantém intacta a substância do bem que as gera.

 Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua


substância, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. Ex: pedras

de uma pedreira, minerais de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc.

Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser objeto
de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex: posso vender uma possível safra de laranjas que ainda

estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato.

 Rendimentos: Na verdade eles são os próprios frutos civis ou prestações


periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de um bem

(ex: aluguel).
 Produtos orgânicos da superfície da terra: Ex: vegetais, animais, etc.

11
 Obras de aderência: Obras que são realizadas acima ou abaixo da superfície
da terra (ex: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, pontes, túneis,

viadutos, etc.).
 Pertenças: Segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo partes

integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de modo


duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Ex: a moldura
de um quadro; acessórios de um veículo; um trator destinado a uma melhor

exploração de propriedade agrícola, etc.


 Acessões (de modo implícito): Aumento do valor ou do volume da

propriedade devido a forças externas (fatos fortuitos, como: formação de ilhas,


aluvião, avulsão, abandono de álveo, construções e plantações). Em regra não

são indenizáveis.
 Benfeitorias: São obras ou despesas que se fazem em um bem móvel ou

imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. As benfeitorias são bens


acessórios, introduzidos no principal pelo homem. Se for realizado pela
natureza não é considerado como benfeitoria. O art. 97, CC prevê que não se

consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindo ao bem


sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. Dividem-se as

benfeitorias em (art. 96, CC):


o Necessárias: São as que têm por finalidade conservar ou evitar que o

bem se deteriore (art. 96, §3º, CC); se elas não forem feitas a coisa pode
perecer. Ex: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de

vigamento podre, desinfecção de pomar, etc.


o Úteis: São as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, §2º,

CC); elas não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior
aproveitamento à coisa. Ex: construção de uma garagem, de um lavabo
dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno, etc.

o Voluptuárias: São as de mero embelezamento, recreio ou deleite, que


não aumentam o uso habitual do bem, mas o torna mais agradável,
aumentando o seu valor comercial (art. 96, §1º, CC). Ex: construção de

12
uma piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com
flores exóticas, etc.

Esta classificação não é absoluta, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou
outra espécie, dependendo de uma circunstância concreta. Ex: uma pintura pode ser

necessária em uma casa de praia para evitar uma infiltração ou voluptuária se for apenas para
embelezá-la.

5.4 Bem de Família

Bem de família é um instituto do direito civil pelo qual se vincula o destino de um

prédio para ser domicílio ou residência de sua família.

No Brasil a regra é que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,


com todos os seus bens, presentes ou futuros, salvo as exceções previstas em lei. Portanto, o

Bem de Família é uma exceção.

Em nosso atual sistema coexistem duas espécies de bem de família: bem de família
voluntário (art. 1.711 e segs., CC) e bem de família legal (Lei n.º 8.009/90). Vejamos:

5.4.1 Bem de Família Voluntário (arts. 1711 do CC e ss)

Trata-se de instituto disciplinado no art. 1711 do CC, que é instituído por ato de
vontade, por meio de registro imobiliário.

Suas principais características serão elencadas a seguir, porém é importante fazer a


leitura dos artigos 1.711 a 1.722, CC. Vejamos:

 Ato voluntário – deve ser registrado.

13
 Deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da pessoa que está
registrando.

 Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem.


 Admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de condomínio e as

dívidas tributárias que recaem sobre o bem.

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou


testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que
não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição,
mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei
especial.

Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento
ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas
pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá
abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família.

Assim, gera dois efeitos principais: a impenhorabilidade por dívidas futuras (art. 1715,

CC), salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio, e


a inalienabilidade relativa do referido imóvel (art. 1716, CC).

Súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência

ou a moradia da sua família”.

O artigo 1720 trata da administração do bem de família voluntário, estabelecendo que a


administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso

14
de divergência. Ainda, com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao
filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

Por fim, os artigos 1721 e 1722 tratam da extinção do Bem de família voluntário,

dispondo o seguinte:

 A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.


 Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente
poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.
 Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a
maioridade dos filhos (capazes), desde que não sujeitos a curatela.

5.4.2 Bem de Família Legal (Lei nº 8.009/90)

É a segunda espécie de bem de família, prevista na Lei nº 8.009/90, que visa a

proteção ao patrimônio mínimo, conforme estabelecido em plano constitucional.

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável


e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou
de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a


construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,
desde que quitados.

Vejamos as diferenças entre o Bem de Família Voluntário e o Bem de Família Legal:

 Este independe de valor;


 Prescinde (dispensa) a individualização em escritura e registro cartorário;
 Ocorre uma impenhorabilidade do bem de família derivada automaticamente da
lei;
 Não há inalienabilidade.

15
Assim, observa-se que a proteção legal é extremamente ampla, sendo, inclusive,

considerado pela lei como residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade

familiar para moradia permanente. Veja-se:

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se


residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.

Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários


imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor
valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na
forma do art. 1711 do Código Civil.

Ainda, a lei protegerá apenas o bem de menor valor, caso o casal ou entidade familiar

possua mais de um imóvel utilizado como residência. Desta forma, em caso de diversos

imóveis residenciais, a proteção automática legal do art. 5º, da Lei nº 8.009/90 abrangerá

apenas o imóvel de menor valor, portanto, caso o indivíduo queira proteger o bem de maior

valor, será necessária a instituição do bem de família voluntário conforme os arts. 1711 do

CC e ss.

Súmula 205, STJ: a lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.

16
Ademais, o STJ2 admite a interpretação do parágrafo único do artigo 1º, que para evitar

abuso de direito, em situações justificadas, o desmembramento do imóvel para efeito de

penhora, desde que não haja prejuízo para a área residencial.

A própria lei prevê algumas exceções à impenhorabilidade do bem de família legal


(art. 3º):

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em
função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal
ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Vejamos cada hipótese individualmente:

 Titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à


aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato: exemplo, compra de apartamento financiado. Nesses casos, não
se pode arguir bem de família, já que a dívida foi contraída em prol da entidade
familiar;
 Credor de pensão alimentícia: a impenhorabilidade do bem de família não pode
ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia decorrente de indenização
por ato ilícito3. Também se aplica para dívidas de pensão alimentícia familiar;
 Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em
função do imóvel familiar: a cobrança da taxa condominial também pode levar à

2
REsp. 968.907/RS.
3
STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012
17
penhora do imóvel4. Contudo, o STJ tem entendido que contribuições criadas por
associação de moradores não se equiparam a despesas de condomínio, para efeito
de penhora5;
 Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar: nesse caso, o devedor não poderá, com base no princípio
da confiança e da regra proibitiva do venire contra factum proprium, pretender
voltar atrás posteriormente, alegando a proteção do bem de família, tendo que
provar que a família foi beneficiada6. Contudo, o próprio STJ invoca a
irrenunciabilidade da proteção legal, e admite que o devedor possa voltar atrás
invocando a proteção ao bem de família, caso haja apenas indicado o bem à
penhora7. Ademais, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser
utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família 8.

A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90, deve ser interpretada
restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas

em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ.

3ª Turma. REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012.)

 Ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens: o bem
adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção
da punibilidade pelo cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil
movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família

4
RE 439.003/SP
5
AgRg no REsp 137.4805/SP
6
AgRg no Ag 115.2734/SP, AgRg no AREsp 72.620/DF, REsp 988.915/SP.
7
AgRg no REsp 813.546/DF, REsp 875.687/RS.
8
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).
18
adquirido com produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido
extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão
condicional do processo9.
 Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação: de acordo
com STJ, é constitucional e possível a penhora do bem de família do fiador na
locação geral. Mesmo que o fiador renuncie ao benefício de ordem, sua obrigação
é subsidiária. Se a pessoa tem um imóvel familiar, ele é impenhorável, enquanto o
do fiador não.

Súmula 549 do STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato

de locação.

Ademais, de acordo com o art. 2º, estão excluídos, também, da impenhorabilidade os


veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.

Contudo, mais uma vez a lei traz uma exceção: no caso de imóvel locado, a

impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que
sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.

5.5 Bens Gravados com Cláusula de Inalienabilidade

São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio de uma
cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato inter vivos (ex: doação)

ou causa mortis (ex: testamento).

Ex: um pai, percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento,
com essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho,

9
Informativo 575, STJ
19
protegendo esses bens do próprio filho, impedindo que os atos de irresponsabilidade ou má
administração possam levar o filho à insolvência - dívidas superiores aos créditos.

O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por

ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade”. Atualmente essa


cláusula tem valor um pouco mais restrito, pois o testador deve apontar expressamente a

justa causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou seja, deverá
justificar o porquê desta medida.

Um caso justificável é a prodigalidade do filho.

6. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos

6.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico

6.1.1 Fato Jurídico

O Fato Jurídico é um acontecimento para o qual uma norma jurídica, atribui um

efeito jurídico. Ou seja, há repercussão no mundo jurídico, existe conexão entre o fato
ocorrido e a lei. Este efeito, decorrente do fato, poderá ser: a aquisição; a conservação; a
transferência; a modificação; e a extinção de direitos.

O fato jurídico (em sentido amplo) costuma ser dividido em:

 Fato Jurídico Natural (ou em sentido estrito): Independe da vontade humana. E


se subdivide em:
 Originário (exemplos: o nascimento, a morte, a maioridade, o decurso do
tempo);
 Extraordinário (a exemplo do caso fortuito, ou força maior, das tempestades e
dos terremotos que ocasionem danos às pessoas).
 Fato Jurídico Humano: Decorre de um ato humano (Ex: reconhecimento da
paternidade, um contrato, uma doação).

20
Ato Fato é um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento
humano em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração pelo ator.

Assim, a vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir efeitos normalmente.

6.1.2 Ato Jurídico

O ato é a ação humana e poderá ser lícito (aquele que cumpre o ordenamento
jurídico, sendo regido pelas regras do negócio jurídico) e ilícito (aquele que viole o

ordenamento jurídico, ou seja, todo aquele que viole direito e cause danos a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito).

O ATO LÍCITO subdivide-se:

 Ato jurídico em sentido estrito: O ato jurídico em sentido estrito (meramente


lícito) é não negocial. Seus efeitos estão previstos em lei, não importando a
vontade das partes, não há a chamada autonomia privada. Ou seja, há uma
manifestação de vontade, mas os efeitos são gerados independentemente de
serem perseguidos diretamente pelo agente.
 Negócio jurídico: é o ato que tem como consequência efeitos jurídicos desejados
pelas partes. É ato negocial. Estará presente a autonomia privada. O contrato é o
principal exemplo de um negócio jurídico.

Sendo assim, o negócio jurídico é fato humano, voluntário, que tende a provocar efeitos
jurídicos por meio de determinado ato. Os efeitos são desejados pelas partes (é ato negocial).

Por sua vez, ATO ILÍCITO é todo comportamento humano que viola o ordenamento
jurídico (lei, moral, ordem pública e bons costumes), podendo ser civil, administrativo ou

21
penal. É regido pelos arts. 186 a 188 e tem relação direta com o instituto da responsabilidade
civil.

Assim, o ato ilícito civil é caracterizado pela presença do dano ou abuso de direito,

conforme prevê o art. 186, caracterizando a regra da responsabilidade subjetiva. Sobre o


tema, trataremos de maneira mais aprofundada no Capítulo 5.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

O art. 188, por sua vez, dispõe sobre os Excludentes de Responsabilidade (vide

capítulo 5):

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.

6.2 Negócio Jurídico

Aprofundando o estudo sobre o negócio jurídico é preciso ter em mente que o mesmo
é uma declaração privada de vontade que visa a produzir determinado efeito jurídico,

relativo a direitos e obrigações. Assim, o negócio jurídico apresenta-se como uma norma
concreta estabelecida pelas partes. Sua característica primordial é que ele constitui um ato de

vontade que atua no sentido de obtenção de um fim pretendido.

Lembrando que a declaração de vontade é elemento essencial do negócio jurídico, ou


seja, é seu pressuposto. A declaração de vontade, além de condição de validade, constitui

elemento do próprio conceito e, portanto, da própria existência do negócio jurídico.


22
Além disso, a vontade obrigatoriamente precisa ser manifestada. Esta exteriorização
pode se dar de forma expressa, quando assume a forma escrita ou a falada; ou de forma

tácita quando a declaração de vontade resultar apenas do comportamento do agente. Ambas


as formas (expressa e tácita) são reconhecidas pelo ordenamento jurídico como válidas.

Há casos em que será necessária a forma expressa e, além disso, no modo escrito. Exemplos:
artigos. 108, 1806 do CC.

6.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos

Abordaremos as classificações consideradas mais importantes.

 Quanto ao número de partes e processos de formação:


 Unilaterais: O aperfeiçoamento do ato se dá com uma única manifestação de

vontade.
 Bilaterais: Há sempre a manifestação de duas vontades. Ex: os contratos.
Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em simples (há

vantagens para uma das partes e ônus para a outra, ex: o comodato e a
doação) e sinalagmáticos (haverá ônus e vantagens recíprocos, ex: o aluguel e

a compra e venda).

Se o número de partes envolvidas for superior a duas, o negócio será plurilateral.

 Quanto às partes e ao tempo em que produzem efeitos:

23
 Inter vivo: As consequências jurídicas ocorrem durante a vida dos interessados
(ex.: doação, troca, mandato, compra e venda, locação).

 Mortis causa: Regulam relações após a morte do sujeito, do declarante (ex.:


testamento, legado).

 Quanto ao seu conteúdo:


 Patrimoniais: Originam direitos e obrigações de conteúdo econômico,
suscetíveis de aferição econômica.

 Extrapatrimoniais ou pessoais: São aqueles relacionados aos direitos


personalíssimos e ao direito da família. Apresentam conteúdo não econômico.

 Quanto à forma:
 Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei (ex.: testamento;

negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou


renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o

maior salário mínimo vigente no País – artigo 108 do CC).


 Não formais (não solenes): Não exigem solenidades ou forma especial (a
forma é livre). Podem, por exemplo, ser efetivados de forma verbal. Para tanto,

observe:

6.2.2 Elementos do Negócio Jurídico

O negócio jurídico para ser válido requer (art. 104, do CC):

 Manifestação de vontade livre e de boa-fé;


 Agente capaz e legitimado,
 Objeto lícito, possível,
 Determinado ou determinável e
 Observada a forma para o cumprimento do ato, nos termos da lei (forma
prescrita ou não defesa em lei).

Assim, para a validade do ato, o Código Civil exige agente capaz. Tal capacidade deve
ser aferida no momento do ato, ou seja, a pessoa no momento do ato deve ser dotada de
consciência e vontade. Além disso deve ser reconhecida por lei como apta a exercer por si
mesma os atos da vida civil.

24
As pessoas absolutamente incapazes serão representadas pelos seus representantes

legais e as relativamente incapazes serão assistidas. Assim, será Nulo o ato praticado
diretamente por pessoa absolutamente incapaz e Anulável o realizado por pessoa
relativamente incapaz.

A parte não poderá se valer da incapacidade relativa do outro para se beneficiar,

salvo se for indivisível e se tratar de objeto do direito ou coisa comum.

Em segundo lugar o Código Civil estabelece que o objeto seja possível, afastando,

deste modo, os negócios que tiverem prestações tanto fisicamente quanto juridicamente
impossíveis.

A impossibilidade, a que se refere o legislador, pode ser absoluta, ou seja, comum a

todas as pessoas, e pode ser relativa, alcançando apenas o agente.

O objeto também deve ser determinado, ou ao menos determinável, e lícito.

A licitude do objeto é regulada pela forma negativa, ou seja, chegamos à compreensão

do objeto lícito pelo conceito que temos de ilicitude.

A lei impõe limitações ao objeto do negócio, que não gozará de proteção legal quando
for contrário às leis de ordem pública, ou aos bons costumes. A sanção quanto ao objeto

inidôneo, conforme art. 166, inciso II, é a nulidade do ato.

Por fim, é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à forma prescrita
ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A regra é que a forma seja livre, como

dispõe o artigo 107 do CC.

Ademais, importante observar que a manifestação de vontade é elemento essencial


do negócio jurídico e subsiste (mantém-se) mesmo que a pessoa que a manifestou tenha

25
feito reserva mental. Reserva mental é uma declaração não querida em seu conteúdo, tendo
por objetivo enganar o destinatário, sendo que a vontade declarada não coincide com a

vontade real do declarante. O declarante oculta a sua verdadeira intenção.

Superada essa análise, partiremos para o estudo de alguns pontos importantes:

 O silêncio importa anuência, ou seja, a concordância, mas são duas as condições


necessárias: as circunstâncias ou os usos assim devem autorizar; e a declaração de
vontade na forma expressa não pode ser necessária. (art. 11 do CC);
 Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do
que ao sentido literal da linguagem, ou seja, a intenção dos contratantes prevalece
sobre o sentido literal do texto (art. 112 do CC);
 Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração (art. 113 do CC);
 Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Os
Negócios jurídicos benéficos (ou gratuitos) são aqueles nos quais uma das partes
obtém benefícios sem qualquer contraprestação, apenas uma das partes aufere
benefício enquanto a outra parte assume a obrigação (exemplo: a doação pura).
Este tipo de negócio jurídico, assim como a renúncia, deve ser interpretado
estritamente, ou seja, no momento da interpretação o magistrado deve restringir-se
ao alcance da lei, portanto, sem ampliá-la. (art. 114 do CC).

O art. 108, do CC, dispõe sobre a necessidade de escritura pública para a validade de
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de

direitos reais sobre imóveis de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).

Mas a promessa de compra e venda não precisa de escritura pública, podendo ser
celebrada por instrumento particular.

26
Os negócios garantidos por alienação fiduciária de imóveis também não exigem
escritura pública, nem a aquisição de imóveis pelo SFH.

6.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico

Os elementos acidentais10 fazem parte do plano da eficácia, podendo ou não ocorrer.


Estes elementos são facultativos, porém uma vez inseridos no negócio, passam a integrá-lo,

tornando-se, de certa forma, essenciais. São chamados de facultativos (acidentais, acessórios),


porque tecnicamente o negócio pode sobreviver sem eles.

Em nosso Código Civil, temos três modalidades de elementos acidentais: condição,

termo e encargo (modo).

6.2.3.1 Condição

Seu conceito encontra-se no art. 121 do CC: “Art. 121 Considera-se condição a cláusula

que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico
a evento futuro e incerto.”

Da leitura desse artigo temos que a condição deve referir-se a fato futuro. Fato

passado ou presente não pode constituir-se em condição. Também deve relacionar-se a fato
incerto. A condição é elemento da vontade e somente opera porque os interessados no
negócio jurídico assim desejaram, deste modo, no negócio jurídico não há condição derivada
de lei. Sendo assim, enquanto a condição não se realizar, os efeitos do ato não podem ser
ainda exigidos.

A eficácia do negócio jurídico dependerá da condição. Porém, há certos atos que não
admitem condição (são denominados atos puros), como, por exemplo, no caso dos direitos de
família e direitos personalíssimos. Assim, o casamento, o reconhecimento de filho, a adoção,

dentre outros, não admitem condição.

Ademais, há determinadas condições que invalidam os negócios jurídicos. Elas


encontram-se previstas no art. 123 do CC:

10
Vide questões 1 e 9;
27
I. Condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
II. Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III. Condições incompreensíveis ou contraditórias.

É importante registrar, ainda, que a condição é classificada quanto ao modo de atuação

em: condição suspensiva e condição resolutiva.

 Condição suspensiva: É quando as partes protelam a eficácia do negócio jurídico.


Este só terá sua eficácia após o implemento de uma condição, um acontecimento

futuro e incerto. A condição suspensiva deverá atender ao art. 123, inciso I, ou seja,
ela não pode ser fisicamente ou juridicamente impossível, porque se o for o

negócio será nulo.


 Condição resolutiva: É quando se subordina a ineficácia do negócio jurídico a um

evento futuro e incerto. Enquanto este evento não ocorrer, vigorará o negócio
jurídico. Além disso, uma vez verificada a condição, se extingue o direito que a ela

se opõe.

Condição puramente potestativa – depende de mero capricho, sujeitando todo o efeito do

ato ao arbítrio exclusivo de uma das partes. Portanto, é ilícita, visto que se caracteriza como
abuso de poder econômico e/ou desrespeito ao princípio da boa-fé objetiva, acarretando o

desaparecimento de qualquer vínculo volitivo entre as partes.

Condição simplesmente potestativa – são admitidas pois não dependem apenas da


manifestação de vontade de uma das partes mas também de algum acontecimento ou

circunstancia exterior que escapa ao seu controle, não caracterizando qualquer forma de
abuso de poder.

28
6.2.3.2 Termo

O momento de início ou do fim da eficácia do negócio e que será determinado pelas

partes ou fixada pelo agente. Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do
qual se pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no qual se

encerra a produção de efeitos dos negócios jurídicos. Assim, o termo inicial suspende a
eficácia de um negócio até a sua ocorrência, enquanto o termo final resolve seus efeitos.

O termo se aproxima muito das condições suspensivas e resolutivas. A diferença entre

os dois institutos, é que o termo é modalidade do negócio jurídico que tem por escopo
suspender a execução ou o efeito de uma obrigação, até um momento determinado, ou o
advento de um evento futuro e certo. Já a condição se refere a evento futuro e incerto,

desse modo, o implemento da condição pode vir a falhar e o direito nunca vir a se consumar.

Apesar de o termo ser sempre certo, o momento de sua ocorrência pode ser
indeterminado (incerto). É por isso que surge a denominação de termo certo (determinado) e

termo incerto (indeterminado). A obrigação a termo certo constitui o devedor em mora,


enquanto que a de termo incerto necessita de interpelação do devedor.

No termo inicial, não se impede a aquisição de seu direito, apenas se retarda seu

exercício. O que se depreende é que a existência do termo inicial suspende o exercício, ou


seja, o exercício ficará suspenso até a ocorrência do termo (ele ainda não ocorreu). Lembrando

que a aquisição (parte final do artigo) é imediata. O direito que se adquire a termo surge no
momento do negócio jurídico, pois não há uma pendência (é diferente de condição), aqui o

evento é futuro e certo.

Existem atos que não admitem a colocação de termo, como nos casos de direitos de
personalidade, nas relações de família e nos direitos que, por sua própria natureza, requerem

execução imediata. Portanto, não se admite termo: a emancipação, o casamento, a adoção, o


reconhecimento de filho, a aceitação ou a renúncia

29
6.2.3.3 Encargo ou Modo

É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida. Por exemplo, quando uma mãe

dá um dinheiro de presente a um filho, mas diz que ele precisa usar parte dele para comprar
material escolar. Obs.: Geralmente o encargo é colocado em doações, mas nada impede que

se refira a qualquer ato de índole gratuita (liberalidades).

Desse modo, podemos perceber que o encargo apresenta–se como cláusula acessória
às liberalidades, quer estabelecendo uma finalidade ao objeto do negócio, quer impondo

uma obrigação ao favorecido, em benefício do instituidor, ou de terceiros, ou mesmo da


coletividade. Porém, não deve o encargo se configurar em contraprestação, ou seja, não
pode ser visto como contrapartida ao benefício concedido. Se o encargo não for cumprido a

liberalidade poderá ser revogada.

O encargo, assim como ocorre na condição, deve estar em obrigação lícita e possível.
De acordo com o art.137 do CC, a ilicitude ou impossibilidade do encargo torna-o não escrito,

exceto se for determinante da liberalidade e, neste caso, será inválido o negócio jurídico.
Também se o ato é fisicamente irrealizável, tem-se por não escrito.

Ademais, importante registrar que o não cumprimento do encargo poderá resolver a

liberalidade, mas a posteriori. O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do direito.

6.2.4 Manifestação de vontade

Levando-se em conta a boa-fé que deve reger os negócios jurídicos, a manifestação de

vontade deve também ser interpretada observando a finalidade a que se destina o


negócio. Assim, ela subsistirá ainda que o autor haja feito reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se o destinatário do ato tinha consciência disto.

O Código deixou claro que, quanto à manifestação de vontade, prevalecerá a vontade


real do agente, devendo a atenção ser voltada mais à intenção do agente, do que às palavras

literais expressas. No que diz respeito ao silêncio, ele será considerado como anuência se, as
circunstancias autorizarem e a anuência expressa não for necessária.

30
Serão interpretados de forma restritiva os negócios jurídicos benéficos e a renúncia.

6.2.5 Dos Defeitos do Negócio Jurídico

Agora, após estudarmos todos os elementos do negócio jurídico, é necessário

compreender os vícios11 que podem incidir nesta espécie de ato jurídico.

A validade é elemento essencial dos negócios jurídicos, de maneira que, para


produzirem os efeitos pretendidos, é essencial a manifestação livre, correspondente à intenção
do agente, desde que não contrarie a lei.

Os defeitos, também denominados de vícios dos negócios jurídicos, atingem a


vontade do agente, acarretando negócios passíveis de anulação ou nulidade. Neste sentido,
são anuláveis os negócios jurídicos, quando a declaração de vontade emanar erro

substancial, dolo, coação, lesão, estado de perigo ou fraude contra credores.

6.2.5.1 Erro substancial ou ignorância

Poderia ser percebido por qualquer pessoa de diligência normal. O erro é a falsa

representação positiva da vontade, enquanto a ignorância é o desconhecimento, um estado


negativo. O erro, para anular o negócio, deve ser essencial ou substancial, mas o Enunciado

12, da I Jornada de Direito Civil diz que “é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o
dispositivo adota o princípio da confiança”.

O falso motivo só vicia o negócio jurídico quando a declaração de vontade nele


expressa é determinante para a constituição do negócio.

Espécies de erro:

 Sobre o objeto: erro sobre as características e qualidades essenciais do bem


objeto.

 Sobre o negócio: a parte erra sobre a própria manifestação de vontade.


 Sobre a pessoa: sobre a identidade ou qualidade essencial da pessoa.

11
Vide questões 2, 5 e 10;
31
 Erro de direito: é possível a anulação, mas não pode implicar recusa à aplicação da
lei e deve ser o motivo único e principal do negócio.

O erro na indicação da pessoa ou coisa só viciará o negócio jurídico se, pelas

circunstâncias do ato, não se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

O erro não prejudicará a validade do ato se, a pessoa a quem a manifestação de


vontade se dirige, se oferecer para executar o ato em conformidade com a vontade real do

sujeito, ou seja, o erro pressupõe prejuízo.

6.2.5.2 Dolo

Ocorre quando uma das partes (ou um terceiro) age com intenção prejudicial, com
manifesta intenção dolosa para obter vantagem em relação ao outro. No dolo, aquele que

manifesta a vontade é conduzido à prática do ato com intenção dolosa. É um erro provocado.

Se o dolo for principal, anulará o negócio jurídico, pois, sem a manifestação de

vontade, este não existiria. Por outro lado, se acidental, ou seja, não é determinante do
negócio jurídico, não anula, mas a parte que agiu com dolo responderá pelo pagamento das
perdas e danos dele decorrentes.

Se ambas as partes agem com dolo, nenhuma delas poderá invocá-lo para anular o
negócio jurídico.

O dolo praticado por terceiro vicia o negócio jurídico em prejuízo do beneficiário


que tinha ciência do dolo empregado. Se o beneficiário não sabia, ou tinha condições de

saber do dolo de terceiro, apenas responderá por perdas e danos, subsistindo o negócio.

O dolo praticado pelo representante legal da parte só obriga o representado a

responder civilmente até a importância do proveito que teve. Contudo, se o representante for
convencional, o beneficiário responderá solidariamente pelos danos causados por este.

32
6.2.5.3 Coação

Deve ser moral (vis compulsiva), uma violência psicológica, que ocorre quando a

declaração de vontade foi praticada após séria ameaça da parte contrária (ou de terceiro), que
incuta no paciente o temor de dano iminente à sua pessoa, sua família ou a seus bens. Para

apreciar a coação, o juiz levará em conta as condições da vítima e das circunstâncias em


que ocorreram o caso, isto é, deve-se analisar o caso concreto, e não as condições do
homem médio.

O negócio jurídico será viciado pela coação exercida por terceiro, se dela tivesse
conhecimento ou devesse ter a parte a quem lhe aproveita, respondendo solidariamente por

perdas e danos.

O negócio jurídico subsistirá se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que

lhe aproveita tivesse ou devesse ter conhecimento. Porém, o autor da coação responderá por
todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

6.2.5.4 Estado de perigo

Configura-se o estado de perigo, quando alguém, premido da necessidade de salvar-


se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação

excessivamente onerosa. É o estado de necessidade aplicado ao Direito Civil. Exige-se o


DOLO DE APROVEITAMENTO, ou seja, o conhecimento da parte da situação da outra.

6.2.5.5 Lesão

Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,

assume prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Neste


caso, serão considerados os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio

jurídico. A lesão exsurge da necessidade econômica de uma das partes ou de sua


inexperiência.

São, portanto, 2 os elementos da lesão: objetivo, que é a desproporção entre as


prestações; subjetivo: abuso da necessidade ou inexperiência da outra parte.

33
No CDC, a lesão não é causa de anulabilidade, e sim de NULIDADE.

Segundo o Enunciado 290, da IV Jornada de Direito Civil: A lesão acarretará a

anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta


entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a

inexperiência do lesado.

Não será decretada a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou


se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

São causas de anulabilidade do negócio jurídico:

 A celebração por pessoa relativamente incapaz;

 Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.

O único que enseja NULIDADE é a SIMULAÇÃO!

Lesão x Teoria da Imprevisão: Na lesão, o negócio jurídico já nasce desequilibrado, enquanto


na Teoria da Imprevisão, o negócio jurídico nasce válido e, depois, se desequilibra, pois ocorre

34
em contratos de execução continuada ou diferida. Ademais, a lesão invalida o negócio jurídico,

já pela referida teoria, revisa-se ou resolve-se o contrato.

6.2.5.6 Fraude contra credores

É um vício social que se dá com a transmissão gratuita de bens ou remissão de dívidas,


quando o devedor já for insolvente, ou for reduzido à insolvência pela prática destes negócios.

É um ato negocial que reduz o patrimônio do devedor, prejudicando o credor anterior.

Os atos fraudulentos gratuitos dispensam a prova de má-fé, exigindo-se apenas o

prejuízo do credor, já os onerosos exigem o conluio fraudulento e o prejuízo do credor. O


conluio fraudulento é presumido se a insolvência for notória ou houvesse motivo para ser
conhecida pelo outro contratante.

A ação anulatória, neste caso, é chamada de Ação Pauliana, ou Ação Revocatória, que
deverá ser proposta contra o devedor, a pessoa que celebrou o negócio jurídico com ele e o

terceiro de má-fé. Trata-se de um litisconsórcio passivo necessário.

O negócio jurídico anulável poderá ser convalidado pelas partes, desde que respeitados

os direitos de terceiros. Se não for o caso de convalidação, a anulação poderá ser pleiteada no
prazo de quatro anos.

Prezando pela boa-fé, que deve regular os atos da vida civil, se o menor, entre
dezesseis e dezoito anos invocou dolosamente sua idade para celebrar negócio jurídico, não
poderá utilizar-se de sua incapacidade relativa, como forma de eximir-se de sua obrigação.

Estes vícios são os vícios de consentimento, porém, existe, também, os vícios sociais:

 Simulação (art. 167 do CC) - consiste em uma declaração de vontade distinta da


vontade real, com a concordância de ambas as partes e visando, geralmente, a fugir
de obrigações/imperativos legais e prejudicar terceiros;
 Fraude contra credores (art. 158 a 165 do CC) – ocorre quando há uma intenção
de prejudicar credores (consilium fraudis) e um evento danoso para eles (eventos
damni).

35
Existe, atualmente, debate doutrinário se a Simulação ainda se constitui como vício social,
porém, as bancas de concurso seguem o entendimento da doutrina majoritária, considerando

esse vício do negócio jurídico como vício social, conforme defendem Paulo Lôbo e Flávio
Tartuce.

6.2.6 Invalidade do Negócio Jurídico

Quando o negócio jurídico se apresenta de forma irregular, defeituosa, tal irregularidade

ou defeito pode ser mais ou menos grave, e o ordenamento jurídico pode atribuir reprovação
maior ou menor12. Existem três categorias de ineficácia dos negócios jurídicos: negócios

jurídicos inexistentes, nulos (nulidade absoluta) e anuláveis (nulidade relativa).

6.2.6.1 Inexistência dos Negócios Jurídicos

No ato ou negócio inexistente, pode haver uma aparência de ato ou negócio jurídico.

Ou seja, embora possua aparência material, o ato ou negócio jurídico não possui conteúdo
jurídico. Na verdade o ato não se formou para o direito.

6.2.6.2 Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta)

Trata-se de vício que impede o ato de ter existência legal e produzir efeito, em razão
de não ter obedecido qualquer requisito essencial.

A Nulidade pode atingir todo o ato, como regra, ou apenas parte dele se assim o

ordenamento e a própria natureza do negócio permitir.

12
Vide questão 8
36
A nulidade repousa sempre em causas de ordem pública.

Em regra, prova-se o ato nulo de forma objetiva, pelo próprio instrumento utilizado

para o ato ou por prova literal. Porém, existem casos em que a nulidade deverá ser provada
por outros meios, quando for contestada ou posta em dúvida. Assim, a nulidade é penalidade
que faz com que qualquer efeito do ato, desde o momento da sua formação, deixe de existir.

A sentença que decretar a nulidade vai retroagir (tem efeito ex tunc) até a data de
nascimento do ato viciado. Desde este momento desaparecem os efeitos do ato, ficando
como se o mesmo nunca tivesse ocorrido. Porém, muitas vezes, embora o ato seja tido como

nulo, dele decorre efeitos de ordem material.

As partes contratantes devem ser reconduzidas ao estado anterior, ocorre que nem
sempre, fisicamente, isto será possível. Por isso dispõe o artigo 182 do CC:

Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado, em que antes
dele se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

Além disso, o artigo 168 do CC nos informa que as nulidades dos artigos antecedentes

podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe
couber intervir. Complementa o ensinamento no seu parágrafo único ao dizer que as

nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda que a

requerimento das partes.

Sendo assim, também ao juiz é determinado que decrete a nulidade de ofício, se dela
tomar conhecimento, sem necessidade de qualquer provocação, no entanto não pode supri-la

mesmo que as partes assim tenham solicitado.

37
As partes só conseguirão obter os efeitos jurídicos derivados do ato ou negócio jurídico
se executarem (firmarem) o ato todo novamente e, desta vez, de acordo com a lei.

Ainda sobre este assunto temos o artigo 184 do CC. Da leitura deste artigo

apreendemos que a nulidade pode ser Total ou Parcial:

 Total quando afeta todo o negócio


 Parcial quando se limita a algumas de suas cláusulas. A nulidade parcial somente

será possível se o negócio for divisível.

Assim o negócio jurídico será nulo quando:

 Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;


 For ilícito, impossível ou indeterminável seu objeto;

 O motivo, comum a ambas as partes for ilícito;


 Não revestir das formas prescritas em lei;

 For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
 Tiver por objeto fraudar a lei imperativa;

 A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

 Simulação

Também é considerada causa de invalidade do negócio jurídico a sua simulação. Porém,


subsistirá o que se dissimulou, for válido em sua substância ou forma.

O negócio jurídico nulo não está sujeito à confirmação e nem convalesce com o
decurso do tempo. Porém, poderá ser reconhecida a fungibilidade do negócio jurídico, se este

contiver requisitos essenciais a outro, quando o fim a que visavam as partes permitir supor
que teriam o querido, se houvessem previsto a nulidade.

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO


38
Direito Civil. Direito Processual Civil.

Não existe ainda processo, só Já existe demanda contra o devedor


dívida. que aliena seu patrimônio

Ordem Privada: fraude contra a Ordem Pública: a fraude é contra o


outra parte, pessoa determinada. processo.

Plano da validade: os atos são Plano da eficácia: os atos


anuláveis. fraudulentos são ineficazes.

6.2.6.3 Anulabilidade dos Negócios Jurídicos (nulidade relativa)

A anulabilidade (nulidade relativa) é sanção mais branda ao negócio jurídico. Encontra-

se prevista no artigo 171 do CC:

“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente;
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.”

É importante registrar que a anulação é concedida a pedido do interessado.

O ato ou negócio anulável é imperfeito, mas seu vício não é tão grave para que haja
interesse público em sua declaração. Desse modo, a lei oferece alternativa ao interessado, que
pode conformar-se com o ato, tal como foi praticado, sendo certo que sob essa situação o
ato terá vida plena.

O negócio jurídico produz efeitos até ser anulado. Os efeitos da anulação passam a

correr a partir do decreto anulatório, não retroage (tem efeitos ex nunc). Além disso, a
anulação dependerá sempre de sentença e não poderá ser pronunciada de ofício.

Os negócios jurídicos anuláveis podem convalescer (ser sanados) por duas razões,

tornando-se assim eficazes: primeiramente, pelo decurso do tempo, pois os atos anuláveis
têm prazo de prescrição ou decadência mais ou menos longos; decorrido o lapso prescricional

ou decadencial, o ato ou negócio torna-se perfeitamente válido. Lembrando que há ratificação


presumida do ato, quando o interessado que podia impugná-lo não o faz. A segunda

39
possibilidade de convalescimento do negócio anulável é a ratificação (ou confirmação). Ao
contrário do que ocorre com o negócio nulo, o negócio anulável pode ser ratificado,

confirmado.

Ratificar ou confirmar é dar validade a ato ou negócio que poderia ser desfeito por
decisão judicial. Por meio da ratificação, há renúncia à faculdade de anulação. Essa

confirmação poderá ser expressa ou tácita.

Será Expressa quando houver declaração do interessado que estampe a substância do


ato, com intenção manifesta de torná-lo isento de causa de anulação. A confirmação Tácita é

permitida quando o negócio já foi cumprido em parte e o devedor estava ciente do vício.

7. Prescrição e Decadência

7.1 Prescrição

Quando um direito é violado, o titular deste direito pode agir juridicamente para

garanti-lo, isto é o que chamamos pretensão (a pretensão à ação). A prescrição é justamente


o que extingue esta pretensão, é o decurso do tempo hábil, que dispunha a pessoa, para
utilizar-se da pretensão à ação.

Prescrição é instituto de ordem pública e seus casos estão taxativamente elencados


nos arts. 205 e 206 do CC.

A prescrição pode ser extintiva ou aquisitiva. A prescrição extintiva conduz à perda do

direito de pretensão a ação por seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo.
Enquanto que a prescrição aquisitiva (usucapião) consiste na aquisição do direito real pelo
decurso de tempo, um modo de se adquirir a propriedade pela posse prolongada. Tal direito
40
é conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o exercício de fato das
faculdades inerentes ao domínio ou a outro direito real, no tocante a coisas móveis e imóveis,

pelo período de tempo que é fixado pelo legislador.

Portanto, a prescrição é a perda da ação atribuída a um direito e, também, de toda a


sua capacidade defensiva, em consequência do não uso, decorrido determinado período de

tempo. Os elementos comuns a prescrição extintiva e aquisitiva são o tempo e a inércia do


titular.

São requisitos da prescrição:

 Existência de ação exercitável é o objeto da prescrição. Tendo em vista a violação

de um direito, a ação tem por fim eliminar os efeitos dessa violação. A ação
prescreverá se o interessado não promovê-la. Logo que surge o direito de ação, já

começa a correr o prazo da prescrição.


 Inércia do titular da ação pelo seu não exercício, ou seja, o titular do direito nada

faz para proteger seu direito. A inércia é, pois, o não exercício da ação, logo após a
violação do direito. E esta cessa com a propositura da ação, ou com qualquer ato
que e lei admita e que demostre que a pessoa irá defender direito seu.

 Continuidade dessa inércia durante certo lapso de tempo é o fator principal da


prescrição. A inércia exigida para configurar a prescrição é aquela continuada, não a

momentânea.
 Ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da

prescrição. Existem casos que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

A regra geral é de que toda pretensão é prescritível, entretanto, não é absoluta, uma

vez que existem direitos que por sua natureza, são incompatíveis com o instituto da
prescrição.

Desse modo, não se acham sujeitos a limites de tempo e não se extinguem pela
prescrição, por exemplo, os direitos de personalidade; o estado da pessoa; as ações referentes
ao estado de família; os bens públicos (CC art.102); os direitos facultativos ou potestativos; a
exceção de nulidade.

41
7.1.1 Prazos da Prescrição

Os arts. 205 e 206 do CC estabelecem os prazos da prescrição13.

A regra geral é que ocorre a prescrição dez anos, quando a lei não lhe haja fixado
prazo menor.

 Em um ano:

 A pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a


consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou

dos alimentos;
 A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele.

 A pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais,


árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;

 A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da

assembléia que aprovar o laudo;


 A pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da

liquidação da sociedade.
 Em dois anos:

 A pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se


vencerem.

 Em três anos:
 A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

 A pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou


vitalícias;
A pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações

acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização


ou sem ela;

13
Vide questão 7
42
 A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
 A pretensão de reparação civil;

 A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,


correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

 A pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do


estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos
constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da

apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação


tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar

conhecimento; e c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral


posterior à violação;

 A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do


vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

 A pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado,


no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
 Em quatro anos:

 A pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.


 Em cinco anos:

 A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento


público ou particular;

 A pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,


curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da

conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

 A pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

7.1.2 Características

Nesse momento, faz-se necessário que continuemos com a análise de alguns artigos
referentes à prescrição:

43
 De acordo com o art. 190, a exceção prescreve no mesmo prazo em que a
pretensão. Ou seja, os prazos aplicados às pretensões são os mesmos aplicados as

defesas e exceções correspondentes.


 O art. 191, por sua vez, dispõe que a renúncia da prescrição pode ser expressa ou

tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se
consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,

incompatíveis com a prescrição.

Renúncia à prescrição nada mais é que a desistência, por parte do titular, de invocá-

la. Não pode ser antecipada, ou seja, não se pode renunciá-la antes de consumada. Além
disso, é ato pessoal do agente, afeta apenas o renunciante ou seus herdeiros. Não pode haver,

também, prejuízo a terceiro.

 De acordo com o art. 192, os prazos de prescrição não podem ser alterados por
acordo das partes.

 De acordo com o art. 193, a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
jurisdição, pela parte a quem aproveita.
 De acordo com o art. 195, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm

ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à


prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

 De acordo com o art. 196, a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a

correr contra o seu sucessor.

7.1.3 Hipóteses que Impedem ou Suspendem a Prescrição:

Não corre a prescrição:

 Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;


 Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
 Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela
ou curatela.

Também não corre a prescrição:

 Contra os incapazes de que trata o art. 3o; (absolutamente incapazes)


44
 Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
 Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de
guerra.

Não corre igualmente a prescrição:

 Pendendo condição suspensiva;


 Não estando vencido o prazo;
 Pendendo ação de evicção

Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os

outros se a obrigação for indivisível.

A interrupção14 da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

 Por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o


interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
 Por protesto, nas condições do inciso antecedente;
 Por protesto cambial;
 Pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
 Por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
 Por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.

A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou

do último ato do processo para a interromper (ou seja, retorna na integralidade). A


prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros;

semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica


aos demais coobrigados.

14
Vide questão 6
45
A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os

outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

O impedimento e a suspensão da prescrição fazem cessar, temporariamente, seu curso.

Nos casos de suspensão, nos quais a causa é superveniente, uma vez desaparecida
esta, o prazo prescricional retoma seu curso normal, computando-se o tempo verificado

antes da suspensão.

Na interrupção a situação é diversa, pois verificada alguma das causas interruptivas,


perde-se por completo o tempo decorrido. O lapso prescricional iniciar-se-á novamente

(passa a contar o prazo desde o início, recomeça). O tempo precedente decorrido fica

totalmente inutilizado.

O titular do direito é o maior interessado em interromper a prescrição, geralmente é ele


quem a promove. O representante legal também pode promover a interrupção, assim como o

assistente dos menores relativamente capazes (contra os absolutamente incapazes não corre a
prescrição).

Geralmente, os efeitos da prescrição são pessoais, de maneira que a interrupção da

prescrição feita por um credor não aproveita aos outros, assim como aquela promovida contra
um devedor não prejudica aos demais.

46
7.2 Decadência

A decadência é a extinção do direito, tendo em vista a inércia do seu titular. Ela dá-se

quando um direito potestativo não é exercido extrajudicialmente ou judicialmente dentro


do prazo. Seu objeto é o próprio direito.

Enquanto a prescrição atinge diretamente a ação e por via oblíqua faz desaparecer o

direito por ela tutelado, a decadência, ao contrário, atinge diretamente o direito material e
por via oblíqua acaba por atingir a ação.

Agora vejamos alguns dispositivos legais do Código Civil que trata da decadência.

 Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas


que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
 Seus prazos estão previstos ao longo de todo o código. Ex.: art. 178 do CC;
 É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
 Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.
 Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

O art. 2028 do CC/02 trouxe uma redução de inúmeros prazos, o que deve ser analisado

principalmente se prazo analisado já estiver em curso, ou seja, trata de Direito Intertemporal.


Assim, conforme dispõe o art. 2028, tendo transcorrido mais da metade do prazo, a lei velha

continua a ser aplicada; contudo, por outro lado, transcorrido menos da metade, será
aplicada a lei nova. Ainda, de acordo com o STJ15, este novo prazo deve ser contado a partir

da entrada em vigor do próprio CC, e não a partir da data do fato.

15
REsp 848 161/MT.
47
QUADRO SINÓTICO

BENS

CONCEITO Bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de
direito.
Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem
existência física;
DOUTRINÁRIA Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não
existem fisicamente (possuem uma existência abstrata);
BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
CLASSIFICAÇÃO LEGAL BENS QUANTO À MOBILIDADE

 BENS IMÓVEIS: por Natureza (ou por essência): é o solo (terreno)


e tudo quanto se lhe incorporar naturalmente; por Acessão Física,
industrial ou artificial: Trata-se de tudo quanto o homem
incorporar permanentemente; por Acessão Intelectual (destinação
do proprietário vontade do dono; por Disposição Legal
 BENS MÓVEIS: móveis por Natureza; móveis por Antecipação;
móveis por Determinação Legal

BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE

 INFUNGÍVEIS: possuem alguma característica especial


 FUNGÍVEIS: podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
BENS QUANTO À CONSUNTIBILIDADE

 CONSUMÍVEIS: cujo uso normal importa na destruição imediata


 INCONSUMÍVEIS: retire toda a sua utilidade, sem atingir sua
integridade
 DIVISÍVEIS: podem se fracionar em porções reais e distintas
 INDIVISÍVEIS: não podem ser fracionados em porções (por
natureza; por determinação legal; por vontade das partes
(convencional)

48
BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE

 BENS SINGULARES (ou individuais): independentemente dos


demais;
 BENS COLETIVOS OU UNIVERSAIS: consideradas em seu
conjunto:
 Universalidade de Fato - pela vontade humana;
 Universalidade de Direito - norma jurídica

BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS


Regra: o bem acessório segue o principal
 PRINCIPAIS: são os que existem por si,
 ACESSÓRIOS: existência pressupõe a existência de outro bem;
 Frutos (naturais, industriais e civis);
 Produtos;
 Rendimentos;
 Produtos orgânicos da superfície da terra;
 Obras de aderência;
 Pertenças;
 Acessões (de modo implícito);
 Benfeitorias:
o Necessárias: conservar ou evitar que o bem se deteriore
o Úteis: aumentam ou facilitam o uso
Voluptuárias: mero embelezamento, recreio ou deleite
Ato voluntário – deve ser registrado.
Deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da
pessoa que está registrando.
VOLUNTÁRIO Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem.
Admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de
BEM DE condomínio e as dívidas tributárias que recaem sobre o bem.
FAMÍLIA Este independe de valor;
Prescinde (dispensa) a individualização em escritura e registro
cartorário;
LEGAL Ocorre uma impenhorabilidade do bem de família derivada
automaticamente da lei;
Não há inalienabilidade.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE (ART. 3º):
 Titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e
acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
 Credor de pensão alimentícia;
 Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições

49
devidas em função do imóvel familiar;
 Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar;
 Adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens.
 Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

DOS FATOS JURÍDICOS

FATO NÃO JURÍDICO Qualquer ocorrência cotidiana que não produza efeitos jurídicos.

FATO JURÍDICO Qualquer ocorrência que tenha relevância jurídica. É o fato jurídico lato sensu.

FATO JURÍDICO É o fato natural que pode ser tanto um fato jurídico ordinário (prescrição) ou
extraordinário (catástrofe natural).
STRICTO SENSU
ATO JURÍDICO É uma espécie de fato jurídico que possui elemento volitivo e licitude do
conteúdo.

ATO JURÍDICO É a mera realização da vontade do titular do direito, sem criação, extinção ou
modificação de qualquer instituto jurídico.
STRICTO SENSU
É um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento
humano em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração
ATO FATO
pelo ator. Assim, a vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir
efeitos normalmente.
Espécie de ato jurídico que possui composição de interesses das partes com
um fim determinado.
 Manifestação de vontade livre e de boa-fé;
NEGÓCIO JURÍDICO
 Agente capaz e legitimado,
ELEMENTOS DO  Objeto lícito, possível, determinado ou
NEGÓCIO JURÍDICO determinável e
 Observada a forma para o cumprimento do
ato, nos termos da lei (forma prescrita ou não
defesa em lei).
Os elementos acidentais fazem parte do plano da
eficácia, podendo ou não ocorrer. Estes elementos
são facultativos.
ELEMENTOS  Condição: evento futuro e incerto
ACESSÓRIOS  Termo: evento futuro e certo
 Encargo ou Modo: restrição a certa
liberalidade que foi concedida

50
DEFEITOS DO São duas espécies de vício: consentimento (erro, dolo, coação, estado de
perigo e lesão) e social (simulação e fraude contra credores).
NEGÓCIO JURÍDICO
Inexistência dos Negócios Jurídicos: o ato não se formou para o direito.

Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta): vício que impede o ato de
ter existência legal e produzir efeito

 Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;


INVALIDADE DO
 For ilícito, impossível ou indeterminável seu objeto;
NEGÓCIO JURÍDICO  O motivo, comum a ambas as partes for ilícito;
 Não revestir das formas prescritas em lei;
 For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade;
 Tiver por objeto fraudar a lei imperativa;
 A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar
sanção.
 Simulação

Anulabilidade dos Negócios Jurídicos (nulidade relativa): por incapacidade


relativa do agente; por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Extingue a PRETENSÃO de um direito (ação), prazos legais (Geral: 10 anos, Especiais: 1, 2, 3,
4 e 5 anos – vide art. 205 c/c 206, CC), conhecimento ex officio, não cabe alegação pela
PRESCRIÇÃO
parte, possui causas interruptivas, impeditivas, suspensivas.
Extingue o DIREITO, prazos legais (decadência legal) ou por convenção das partes
(decadência convencional). Não há causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas, regra
geral.
DECADÊNCIA
Decadência legal: conhecida ex officio, irrenunciável. Não existe, pela doutrina, prazo geral
e os prazos especiais são estabelecidos em dias, meses e anos ao longo de todo o Código
Civil de 2002.
Decadência convencional: apenas reconhecida pelas partes e pode ser renunciada após a
sua consumação.

51
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, o negócio cujo objeto, ao tempo da
celebração, é impossível

A) é nulo de pleno de direito, ainda que se trate de impossibilidade relativa.

B) terá validade se a impossibilidade inicial do objeto cessar antes de realizada a condição a


que ele estiver subordinado.

C) é valido, ainda que se trate de impossibilidade absoluta, desde que ela não tenha sido

criada por nenhuma das partes.

D) é válido, porém ineficaz, ainda que se trate de impossibilidade absoluta.

E) é nulo de pleno direito, porém eficaz, desde que se trate de impossibilidade relativa.

Comentário:

De acordo com Código Civil, em seu Art. 106, a impossibilidade inicial do objeto não
invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a

que ele estiver subordinado. Sabe-se que os negócios jurídicos em geral são informados
pelo princípio da manutenção do negócio jurídico, como exteriorização da necessidade
de se preservar ao máximo a vontade dos pactuantes. Assim, podendo o negócio jurídico
ser “salvo”, deverá ser adotada a interpretação ou solução que assim permita. No caso do
objeto impossível, o negócio jurídico pode ser “salvo” se a impossibilidade não mais

subsistir no momento do cumprimento do contrato ou se ela for relativa (porquanto a


obrigação poderá ser cumprida por outrem). Portanto, para invalidar um contrato, é

necessário que a impossibilidade seja INICIAL + ABSOLUTA.

52
Questão 2
CESPE – 2019 – TJ/SC: A declaração enganosa de vontade que vise à produção, no negócio
jurídico, de efeito diverso do apontado como pretendido consiste em defeito denominado

A) simulação.

B) erro.

C) dolo.

D) lesão.

E) reserva mental.

Comentário:

A questão aborda os defeitos do negócio jurídico, de modo que, na simulação há um


descompasso entre ser e querer, pois a vontade do sujeito é velada, dando lugar a um

negócio jurídico que cria efeitos jurídicos não pretendidos (simulação) ou mascara fatos
verdadeiros (dissimulação). A vontade é sub-repticiamente omitida para que se forjem
efeitos jurídicos que, de outro modo, não surgiriam. O dolo, por sua vez, é

compreendido como a atuação da contraparte ou de terceiros, ambos de má-fé, que,


enganando o sujeito, o induz a celebrar determinado negócio jurídico. Não há declaração

enganosa de vontade; a declaração das partes é legítima, embora a declaração do lesado


tenha sido ilegitimamente induzida. A Lesão ocorre quando uma pessoa, sob premente

necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional


ao valor da prestação oposta. Por fim, é importante destacar que a reserva mental não é

defeito do negócio jurídico, não estando prevista como tal no Capítulo IV do Código
Civil, sendo, na verdade, aquilo que não se declara, existindo apenas na mente de quem

celebra um negócio jurídico. Trata-se, portanto, de uma reserva silenciosa e oculta.

Questão 3
CESPE – 2019 – MPE/PI: A respeito da classificação dos bens, é correto afirmar que:

53
A) são fungíveis os bens móveis ou imóveis que possam ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.

B) os bens podem ser divididos em consumíveis e não consumíveis; contudo, esses últimos,

quando sofrem deteriorações devido ao uso, passam a ser incluídos no conceito de bens
consumíveis.

C) os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis apenas por determinação legal,

não se admitindo, assim, que um negócio jurídico estabeleça a indivisibilidade da coisa.

D) a lei, ao tratar dos bens reciprocamente considerados, determina que os seus frutos e
produtos possam ser objeto de negócio jurídico desde que separados do bem principal.

E) a aquisição de bens móveis se dá por simples tradição, enquanto a de bens imóveis exige

escritura pública e registro em cartório, com exceção daqueles cujo valor atinja até trinta vezes

o maior salário mínimo do país.

Comentário:

Os bens fungíveis são aqueles que podem substituir-se por outros da mesma espécie,

qualidade e quantidade, contudo, são apenas os móveis. Os bens consumíveis não se


convertem em não consumíveis quando sofrerem deteriorações devido ao uso. Já os

bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por
vontade das partes. Os frutos e produtos, embora ainda não separados do bem
principal, podem ser objeto de negócio jurídico. Art. 108, CC. Exceto por previsão legal

em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem
à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de

valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País, assim, apenas os

bens móveis se transferem por meio da tradição.

Questão 4
CESPE – 2019 – TJ/BA: De acordo com o Código Civil, são bens móveis

A) os direitos à sucessão aberta.

54
B) os materiais que estejam separados provisoriamente de um prédio, para nele serem
reempregados.

C) os materiais provenientes da demolição de um prédio.

D) as edificações que, estando separadas do solo, puderem ser movimentadas para outro

local, conservando sua unidade.

E) os materiais empregados em alguma construção.

Comentário:

O Código Civil, em seu artigo 80, traz a categoria de bens imóveis por determinação
legal, sendo uma “ficção jurídica” com o objetivo de revestir alguns direitos com a

mesma segurança e solenidade que cercam os bens imóveis. De acordo com o art. 81 do
CC, não perdem o caráter de imóveis: “os materiais provisoriamente separados de um

prédio, para nele se reempregarem”, enquanto que, de acordo com o art. 84, os materiais
provenientes de demolição de um prédio readquirem a qualidade de bens móveis. Já no

seu inciso I do art. 81, considera bens imóveis as edificações que, mesmo separadas do
solo e puderem ser removidas para outro local, conservarem sua unidade. Ademais, os
materiais destinados a uma construção somente são considerados bens móveis enquanto

ainda não forem empregados na mesma.

Questão 5
CESPE – 2019 – TJ/BA: Dino, pai de três filhos e atualmente em seu segundo casamento,

resolveu adquirir um imóvel, em área nobre de Salvador, para com ele presentear o caçula,
único filho da sua atual união conjugal. A fim de evitar eventuais problemas com os outros

dois filhos, tidos em casamento anterior, Dino decidiu fazer a seguinte operação negocial:

• vendeu um dos seus cinco imóveis e, com o dinheiro obtido, adquiriu o imóvel para o filho
caçula; e

• colocou na escritura pública de venda e compra, de comum acordo com os vendedores do

referido imóvel, o filho caçula como comprador do bem.

55
Alguns meses depois, os outros dois filhos tomaram conhecimento das transações realizadas e
resolveram ajuizar ação judicial contra Dino, alegando que haviam sofrido prejuízos.

Nessa situação hipotética, conforme a sistemática legal dos defeitos e das invalidades dos

negócios jurídicos, os dois filhos prejudicados deverão alegar, como fundamento jurídico do
pedido, a ocorrência de

A) reserva mental, também conhecida como simulação unilateral, que deve ensejar a

declaração de inexistência do negócio jurídico de venda e compra e o retorno das partes ao


status quo ante.

B) causa de anulabilidade por dolo, vício de vontade consistente em artifício, artimanha,

astúcia tendente a viciar a vontade do destinatário ou de terceiros.

C) simulação relativa, devendo ser reconhecida a invalidade da venda e compra e declarada a


validade da doação, que importará adiantamento da legítima.

D) simulação absoluta, devendo ser reconhecida a invalidade da venda e compra e da doação,

com retorno ao status quo ante.

E) simulação relativa, devendo ser reconhecida a invalidade da compra e venda e declarada a

validade da doação, o que, contudo, não implicará adiantamento da legítima.

Comentário:

Notem que Defeitos do Negócio Jurídico é um assunto extremamente importante para

os concursos de carreira jurídica, sendo, precipuamente, o que é cobrado em sua prova.


Assim, de acordo com o art. 167 do Código Civil, é nulo o negócio jurídico simulado,

mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. Entende-se


por simulação uma declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito diverso

do ostensivamente indicado. A simulação pode ser absoluta, caso em que partes


realizam um negócio jurídico destinado a produzir efeito jurídico algum ou relativa, caso
em que as partes criam um negócio com finalidade de encobrir outro negócio jurídico

que produzirá efeitos proibidos na lei (doação de um bem para a amante, por exemplo).
Ainda, importante trazer o que dispõe o art. 544, já que se trata de uma questão com

56
intertextualidade: “A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro,

importa adiantamento do que lhes cabe por herança.”

Questão 6
VUNESP – 2018 – TJ/MT: Caio e Tício receberam em comodato um apartamento de
propriedade de Mélvio, pelo prazo de dois anos, em 31.12.2012. Após o término do contrato,

Caio e Tício devolveram o imóvel em 31.12.2014 e, em razão dos danos causados por estes no
imóvel, o mesmo ruiu completamente em 01.01.2015. O valor apurado para a reconstrução foi

de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Em 25.12.2017, Caio enviou uma carta de próprio punho
a Mélvio, se desculpando pela ruína ocasionada no imóvel, bem como requerendo um prazo
para o pagamento dos danos ocasionados. Em 01.06.2018, Mélvio ajuízou ação de reparação

civil, pretendendo a condenação de Caio e Tício ao pagamento do valor da reconstrução e


perdas e danos.

Assinale a alternativa correta.

A) A pretensão está prescrita, tendo em vista o decurso do prazo prescricional previsto em lei,
bem como ausência de qualquer causa de interrupção.

B) Mélvio poderá requerer o valor total de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), mais perdas e

danos, de Caio, de Tício, ou de ambos, isolada ou conjuntamente.

C) A pretensão está prescrita em relação a Tício, podendo Mélvio postular a condenação de


Caio no valor de até R$ 100.000,00 (cem mil reais), acrescida de metade do valor das perdas e

danos.

D) Mélvio poderá requerer apenas metade do valor da reconstrução do imóvel de Caio e


apenas a outra metade de Tício.

E) A pretensão está prescrita em relação a Tício, podendo Mélvio postular a condenação de

Caio no valor total da reconstrução, mais perdas e danos.

Comentário:

A carta enviada por Caio é hipótese de interrupção da prescrição, por ser ato
extrajudicial que importa em reconhecimento do direito pelo devedor (art. 202, VI,
57
Código Civil). Como se sabe, a interrupção da prescrição é, como regra, pessoal, não
afetando cocredores ou codevedores (art. 204, caput). Contudo, a interrupção prejudica

os codevedores quando houver solidariedade (art. 204, §1º) – e no caso do comodato a


solidariedade é legal (art. 585). Assim, havendo interrupção da prescrição quanto aos dois

comodatários em razão da missiva encaminhada por Caio, a pretensão pode ser exercida

contra os dois e não se encontra prescrita.

Questão 7
FEPESE – 2018 – PGE/SC: Nos termos do art. 189 do Código Civil, “violado o direito, nasce
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição”.

Assinale a alternativa em que todos os casos o prazo de prescrição é de três anos.

A) A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; a pretensão de reparação civil;

pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas; a pretensão dos
tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos pela percepção de

emolumentos, custas e honorários.

B) A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; a pretensão de reparação civil;


a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores

pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos
respectivos contratos ou mandato; a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou
rústicos.

C) A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo


da data em que foi deliberada a distribuição; a pretensão para haver juros, dividendos ou
quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com

capitalização ou sem ela; a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias
ou vitalícias; a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos.

D) A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; a pretensão de reparação civil;

a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem; a


pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular.

58
E) A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo
da data em que foi deliberada a distribuição; a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça,

serventuários judiciais, árbitros e peritos pela percepção de emolumentos, custas e honorários;


a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; a pretensão

relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos.

Comentário:

Trata-se de uma questão simples, já que, em um primeiro momento, pode até assustar o

candidato por ser “longa”, cobrando apenas a literalidade da lei, sendo necessário que
vocês decorem as hipóteses legais, infelizmente. Portanto, não custa relembrar os prazos

prescricionais trazidos no ponto 6.1.1 deste material. Não percam pontos por isso!!!!

Questão 8
CESPE – 2018 – TJ/CE: Maria decidiu alugar um imóvel de sua propriedade para Ana, que, no

momento da assinatura do contrato, tinha dezessete anos de idade.

Nessa situação hipotética, o contrato celebrado pelas partes é

A) nulo, uma vez que foi firmado por pessoa absolutamente incapaz, condição que pode servir
de argumento para Ana extinguir o contrato.

B) anulável, portanto passível de convalidação, ressalvado direito de terceiros.

C) válido, desde que tenha sido formalizado por escritura pública, visto que tem por objeto
um imóvel.

D) nulo, porque Ana deveria ter sido representada por um de seus genitores.

E) válido, ainda que Ana não possua capacidade de direito para celebrar o contrato de

aluguel.

Comentário:

Se o contrato tivesse sido celebrado por absolutamente incapaz, efetivamente seria nulo
(art. 166, I, CCB), porém, a questão informa que Ana possuía dezessete anos de idade,
sendo relativamente incapaz, de sorte que o contrato é anulável (art. 171, I, do CCB), e

59
não nulo. Lado outro, não pode Ana, menor de idade, alegar a própria menoridade para
se eximir de cumprir o contrato (art. 180, CCB), como decorrência do brocardo nemo

turpitudinem suam audire potest. Assim, por ser um negócio anulável, será passível de
convalidação, resguardando-se, sempre, direitos de terceiros (art. 172, CCB). Ademais, o

menor relativamente incapaz é assistido, e não representado (art. 1.690, CCB), e a


assistência não necessariamente será realizada pelos genitores. A representação e
assistência é realizada preferencialmente pelos genitores, mas pode ser realizada por

tutores ou curadores especiais (art. 71, CPC). Por outro lado, ainda que a locação tenha
por objeto bem imóvel, o contrato não será realizado por escritura pública, já que

escritura pública somente é exigida, não havendo disposição legal em contrário, para
negócios jurídicos relativos a direitos reais incidentes sobre imóveis com valor superior a

30 vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108, CCB). A locação, por ser direito
pessoal, não depende de escritura pública – embora seja de bom tom registrar o

contrato para que seja oponível a eventual terceiro adquirente do imóvel.

Questão 9
CESPE – 2018 – TJ/CE: Elemento acidental do negócio jurídico, a condição possui, entre

outras, as seguintes características:

A) impositividade e certeza.

B) acessoriedade e voluntariedade.

C) legalidade e futuridade.

D) involuntariedade e incerteza.

E) legalidade e brevidade.

Comentário:

Trata-se de questão interessantíssima, vejamos a explicação. Não se trata de


impositividade e certeza, já que, na forma do art. 121 do Código Civil, considera-se

condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o


efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Verifica-se, assim, que a condição

60
não é impositiva (cogente), posto que deriva da vontade das partes, não sendo cláusula
aplicável ex lege. Também não é certa a condição, posto que se refere a evento futuro e

incerto. Trata-se, assim, de acessoriedade e voluntariedade, já que embora a condição


não seja obrigatória, uma vez prevista passa a integrar o próprio negócio jurídico, sendo

a “acessoriedade” pode ser interpretado como “desnecessário à validade do principal”.


Não se trata legalidade e futuridade, já que as condições não estão previstas em lei, e
por dois motivos: (i) dependem da vontade das partes, (ii) não é possível que o legislador

preveja toda e qualquer condição possível de estabelecimento. Ainda, não se trata de


involuntariedade e incerteza, conforme já anteriormente explicado. Por fim, não se trata

legalidade e brevidade, já que a condição é breve (transitória) nas hipóteses em que ela
efetivamente se verifica; não havendo condição, ela se extingue junto com o próprio

negócio jurídico a qual integra.

Questão 10
VUNESP – 2018 – PGE/SP: O ato de assumir obrigação excessivamente onerosa, premido pela

necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, caracteriza:

A) lesão, sujeita ao prazo prescricional de 4 anos para declaração da sua nulidade, contado da

cessação do risco.

B) lesão, sujeita ao prazo decadencial de 4 anos para sua desconstituição, contado da data da
celebração do negócio jurídico.

C) lesão, que torna o negócio jurídico ineficaz enquanto não promovido o reequilíbrio

econômico do contrato em sede judicial.

D) estado de perigo, sujeito ao prazo decadencial de 4 anos para declaração da sua nulidade,
contado da cessação do risco.

E) estado de perigo, sujeito ao prazo decadencial de 4 anos para sua desconstituição, contado

da data da celebração do negócio jurídico.

Comentário:

61
De acordo com o art. 156, configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela

outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Ainda, de acordo com o art. 178,
é de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,

contado no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico.

62
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - A

Questão 3 - E

Questão 4 - C

Questão 5 - C

Questão 6 - B

Questão 7 - C

Questão 8 - B

Questão 9 - B

Questão 10 - E

63
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Bens

 CC: Arts. 79 a 103;

Fatos, Atos e Negócios Jurídicos

 CC: Arts. 104 a 188;

Prescrição e Decadência

 CC: Arts. 189 a 211;

Colacionamos, abaixo, o teor das súmulas mencionadas neste capítulo:

Bens

 Súmula 486 do STJ:

É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

 Súmula 549 do STJ:

É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.

 Súmula 364 STJ:

O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras,
separadas e viúvas.

64
Prescrição e Decadência

 Súmula 106 STJ:

Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo
de justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.

 Súmula 150 STF:

Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição.

 Súmula 547-STJ:

Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a título de participação financeira do
consumidor no custeio de construção de rede elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do
Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão
contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de transição
disciplinada em seu art. 2.028.

 Súmula 151-STF:

Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga
transportada por navio.

 Súmula 383, do STF:

A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo,
mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade
do prazo.

 Súmula 154, do STF:

Simples vistoria não interrompe a prescrição.

 Súmula 229, do STJ:

O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha
ciência da decisão.

 Súmula 573-STJ:

Nas ações de indenização decorrentes de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter permanente da
invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez
permanente notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução.

65
JURISPRUDÊNCIA

Bens

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016
(Info 585).

O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado. O inciso V
afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se ele foi dado como hipoteca
(garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o
bem de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.

Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis. Assim, a
ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.

Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como argumento
pelo devedor para evitar a penhora do bem de família.

 STJ - REsp: 439920 SP 2002/0061555-0

O art. 1712 do CC consagrou algo inovador: a possibilidade de se vincular rendimentos (valores mobiliários) à
instituição do bem de família voluntário, desde que a referida renda seja aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família. Os valores mobiliários não podem exceder ao valor do prédio instituído como bem de
família.

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios,
destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

Todavia, situação diversa é admita pelo STJ (REsp 439.920/SP, AgRg no REsp 975.858/SP), admissível até para o
bem de família legal, no sentido de se considerar impenhorável a renda de aluguel proveniente do único bem de
família locado.

BEM DE FAMÍLIA – IMÓVEL LOCADO – IMPENHORABILIDADE – INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DA LEI Nº


8.009/90. O fato de o único imóvel residencial vir a ser alugado não o desnatura como bem de família, quando
comprovado que a renda auferida destina-se à subsistência da família. Recurso especial provido. (STJ - REsp:
439920 SP 2002/0061555-0, Relator: Ministro CASTRO FILHO, Data de Julgamento: 10/11/2003, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJ 09.12.2003 p. 280LEXJTACSP vol. 206 p. 752)

66
 STJ. 4ª Turma. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo
cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade
do bem de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta
em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão condicional do processo. STJ. 4ª Turma.
REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

 STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
08/03/2016.

A exceção à impenhorabilidade prevista no art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 abrange o imóvel objeto do contrato de
promessa de compra e venda inadimplido. O art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 prevê que o bem de família poderá ser
penhorado para a cobrança de “crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato”. A exceção prevista
neste inciso II do art. 3º deve ser estendida também aos casos em que o proprietário firma contrato de promessa
de compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço ajustado, se recusa a adimplir com as obrigações
avençadas ou a restituir o numerário recebido, e não possui outro bem passível de assegurar o juízo da
execução. STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2016.

 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/10/2016.

A impenhorabilidade do bem de família é oponível às execuções de sentenças cíveis decorrentes de atos ilícitos,
salvo se decorrente de ilícito previamente reconhecido na esfera penal. Cabe a penhora do bem de família para
pagamento de dívidas de pensão decorrente de vínculo familiar ou de ato ilícito (art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90).

Por outro lado, não é cabível a penhora de bem de família para o pagamento de indenização por ato ilícito, salvo
se decorrente de ilícito previamente reconhecido como crime na esfera penal. Isso porque aí se enquadrará no
inciso VI do art. 3º. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
25/10/2016.

 STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.

Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu valor econômico, da
proteção conferida pela Lei nº 8.0009/90 aos bens de família. O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de
elevado valor, por si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal ao
bem de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da lei, a fim de
excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de elevado valor. STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018. STJ. 3ª Turma. REsp
1.482.724/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS, Rel.

67
Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018. STJ. 4ª Turma.
AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/09/2017.

A preclusão consumativa atinge a alegação de impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão
anterior acerca do tema. A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase
do processo, desde que não tenha havido pronunciamento judicial anterior. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp
1373654/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 06/03/2018. Opera-se a preclusão consumativa
quanto à discussão acerca da penhorabilidade ou impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão
definitiva anterior acerca do tema, mesmo em se tratando de matéria de ordem pública. STJ. 3ª Turma. AgInt nos
EDcl no AREsp 1039028/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/11/2017. A impenhorabilidade de
bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto, uma vez decidido o tema,
não pode ser reeditado, pois acobertado pela preclusão. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/09/2017.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018.

Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito de
propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução. A regra de impenhorabilidade do bem de família
trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em
todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. Assim, se
ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em evidente abuso de
direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver, tolerar e premiar a
atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018.

 Informativo 635, STJ:

Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia possuem a
proteção da impenhorabilidade do bem de família legal. Ex: João fez um contrato de alienação fiduciária para
aquisição de uma casa; ele está morando no imóvel enquanto paga as prestações; enquanto não terminar de
pagar, a casa pertence ao banco; apesar disso, ou seja, a despeito de possuir apenas a posse, os direitos de João
sobre o imóvel não podem ser penhorados porque incide a proteção do bem de família. STJ. 3ª Turma. REsp
1.677.079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/09/2018 (Info 635).

 REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.

68
Em regra, o imóvel comercial não se enquadra na hipótese de impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90, no entanto
há uma exceção expressamente mencionada pelo STJ em julgado recentíssimo: É impenhorável o único imóvel
comercial do devedor quando o aluguel daquele está destinado unicamente ao pagamento de locação
residencial por sua entidade familiar. Inicialmente, registre-se que o STJ pacificou a orientação de que não
descaracteriza automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei nº 8.009/1990, a constatação de
que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade (AgRg no REsp 404.742-RS, Segunda Turma,
DJe 19/12/2008; e AgRg no REsp 1.018.814-SP, Segunda Turma, DJe 28/11/2008). A Segunda Turma também
possui entendimento de que o aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de família (REsp
855.543-DF, Segunda Turma, DJ 3/10/2006). Ainda sobre o tema, há entendimento acerca da impossibilidade de
penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se verificar sua vinculação ao financiamento para aquisição de
imóvel residencial (REsp 707.623-RS, Segunda Turma, DJe 24/9/2009). REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.

 Informativo 591, STJ:

Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.".

A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel
COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento
de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 15/9/2016 (Info 591).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012

A impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia
decorrente de indenização por ato ilícito. (STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
04/09/2012.)

 Informativo 627, STJ

O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa
jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à entidade familiar. O bem de família
é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo
ônus dos proprietários a demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. Assim é possível a
penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos sócios
da pessoa jurídica devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/04/2018 (Info 627).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012

69
É possível a penhora do bem de família para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar (inciso V do art. 3º). A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90,
deve ser interpretada restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas
contraídas em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ. 3ª Turma.
REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012.)

 Informativo 631, STJ

É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se inexistente
patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros. STJ. 4ª Turma. REsp
1.473.484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info 631). #IMPORTANTE

 STJ. 4ª Turma. REsp 997261/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/03/2012

Segundo o STJ, as exceções à impenhorabilidade do bem de família, previstas no art. 3º da Lei 8.009/90, devem
ser interpretadas restritivamente. (STJ. 4ª Turma. REsp 997261/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
12/03/2012.)

 Informativo 549, STJ:

Desconsideração da personalidade jurídica e impenhorabilidade do bem de família dos sócios. A


desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária falida que tenha sido decretada em
decorrência de fraude contra a massa falida não implica, por si só, o afastamento da impenhorabilidade dos bens
de família dos sócios. Em outras palavras, o simples fato de ter sido decretada a desconsideração da
personalidade jurídica, por si só, não permite que seja penhorado o bem de família pertencente aos sócios, salvo
se os atos que ensejaram a desconsideração também se ajustarem às exceções legais previstas no art. 3º da Lei
8009/90. Tais exceções devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo, por analogia ou esforço
hermenêutico, apanhar situações não previstas em lei, de modo a superar a proteção conferida a entidade
familiar. (Info 549, STJ)

 Informativo 658, STJ

O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família. Ex: João comprou uma casa antiga para
reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a empresa FB Engenharia para fazer a reforma. A
empresa terminou o serviço e João passou a residir no local. Ocorre que ele não pagou as últimas parcelas do
contrato com a empresa e ficou devendo R$ 40 mil, materializado em notas promissórias. O imóvel onde
Joãoreside poderá ser penhorado para pagar a dívida, sendo essa uma exceção à impenhorabilidade do bem de
família. Fundamento: art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo
de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do
crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e

70
acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.372-RS, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658)

Fatos, Atos e Negócio Jurídico

 Informativo 600, STJ:

É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício de
consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado: Prazo para anulação da partilha do
direito sucessório (morte): 1 ano. Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união
estável: 4 anos

 Informativo 594, STJ:

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do
sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.

Prescrição e Decadência

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 20/02/2018 (Info 620).

A ação de indenização por danos materiais proposta por consumidor contra construtora em virtude de vícios de
qualidade e de quantidade do imóvel adquirido tem prazo prescricional de 10 anos, com fundamento no art.
205 do CC/2002. Não se aplica o prazo decadencial do art. 26 do CDC. O art. 26 trata do prazo que o
consumidor possui para exigir uma das alternativas previstas no art. 20 do CDC. Não se trata de prazo
prescricional. Não se aplica o prazo do art. 27 do CDC porque este se refere apenas a fato do produto.

A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal prejudica o fiador.

Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o promover
ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no
art. 204 do CC.

Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de consequência, estará
interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o
principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica
o fiador.

 STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. REsp 1.276.778-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
28/3/2017 (Info 602).

71
A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado, salvo nas
hipóteses em que os devedores sejam solidários.

Como regra, a interrupção operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado. Isso porque o principal
não segue a sorte do acessório.

Existe, no entanto, uma exceção: a interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar
prejudicando o devedor principal nas hipóteses em que a referida relação for reconhecida como de devedores
solidários, ou seja, caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou
devedor solidário.

 STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).

Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo doméstico? 5
anos, segundo entendimento do STJ, aplicando-se o CDC.

Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo internacional?
2 anos, com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.

Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.

 Informativo 586, STJ:

É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de


indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner. Aplica-se, neste caso, o art. 8º do
Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de
carga. Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não revogou
o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma especial. Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do
STF que, apesar de antiga, continua vigente: Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-
rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.

 Informativo 588, STJ:

É de 3 anos o prazo prescricional de ação proposta por entidade de previdência privada complementar contra
terceiro que se apropriou indevidamente de verbas relativas a benefício previdenciário. Não há previsão específica
para este caso na LC 109/2001, razão pela qual se aplica o art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (pretensão de
ressarcimento de enriquecimento sem causa).

 Informativo 592, STJ:

72
Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural? •
Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos. • Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. O
termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão).

 Informativo 600, STJ:

É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício de
consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado: Prazo para anulação da partilha do
direito sucessório (morte): 1 ano. Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união
estável: 4 anos.

 Informativo 605, STJ:

É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locação pleitear
o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data
em que houve o pagamento do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação.

 Resp. 1.273.639- SP. 2016:

O termo inicial para que o herdeiro do cônjuge prejudicado anule a fiança firmada sem a devida vênia conjugal é
de dois anos, contados a partir do falecimento do consorte que não concordou com a referida garantia.

 Resp. 1.546.114 - ES. 2015:

Prescreve em 10 anos (artigo 205 do CC) a pretensão de cobrar dívida decorrente de conserto de automóvel por
mecânico que não tenha conhecimento técnico e formação intelectual suficiente para ser qualificado como
profissional liberal.

 Resp. 1.408.861 – RJ. 2015:

A prescrição da pretensão de cobrança de dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la.

 Resp. 1.277.724-PR. 2015:

É quinquenal o prazo para a propositura da ação indenizatória ajuizada por vítima de acidente de trânsito contra
concessionária de serviço público de transporte coletivo.

 Resp. 805.151 - SP. 2015

O termo inicial do prazo de prescrição da pretensão de recebimento de honorários advocatícios contratados sob
a condição de êxito da demanda judicial, no caso em que o mandato foi revogado por ato unilateral do
mandante antes do término do litígio judicial, é a data do êxito da demanda, e não da revogação do mandato.

 Resp. 1.355.095 – SP. 2015:

73
Prescreve em um ano a pretensão de cobrar despesas de sobre-estadia de contêiner (demurrage), quer se trate
de transporte multimodal, quer se trate de transporte unimodal.

 Resp 1.504.969 – SP.2015:

Prescreve em dez anos a pretensão do advogado autônomo de cobrar de outro advogado o valor
correspondente à divisão de honorários advocatícios contratuais e de sucumbência referentes à ação judicial na
qual ambos trabalharam em parceria.

 AgRg no Resp 1.259.703-MS.2015:

O prazo decadencial de quatro anos estabelecido nos artigos 178, §9º, VI e 362 do CC/02 (correspondente ao
artigo 1.614 do CC/02) aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, desconstituir o
reconhecimento da filiação, não tendo incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação do
registro civil constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.

 Resp. 1.095.882-SP. 2015:

Quando um vício oculto, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde (artigo 445, §1º, CC), o adquirente
de bem móvel terá o prazo de trinta dias (artigo 445, caput, do CC), a partir da ciência desse defeito, para
exercer o direito de obter a redibição ou abatimento no preço, desde que o conhecimento do vício ocorra dentro
do prazo de cento e oitenta dias da aquisição do bem.

 Resp. 1.170.057 – MG. 2013:

Prescreve em um ano a pretensão da sociedade seguradora em face do ressegurados baseada em contrato de


resseguro.

 Resp. 1.306.175 – SP. 2013:

Prescreve em cinco anos, contados do vencimento de cada parcela, a pretensão, nascida sob a vigência do
CC/02, de cobrança de cotas condominiais.

 Informativo 589, STJ:

Prescreve em 3 anos a pretensão do promitente-comprador de restituição dos valores pagos a título de comissão
de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV,
CC). STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso
repetitivo)

 Informativo 592, STJ:

Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural? •
Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos. • Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. O

74
termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão). STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.730-RS, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo)

 Informativo 605, STJ:

É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locação pleitear
o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data
em que houve o pagamento do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e,
via de consequência, inaugura-se ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017.

 Informativo 609, STJ:

O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando o autor originário tem
comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua extensão, não servindo a data da publicação da
obra plagiária, por si só, como presunção de conhecimento do dano. STJ. 3ª Turma.REsp 1.645.746-BA, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/6/2017.

 Informativo 593, STJ:

Prazo prescricional para esta ação de indenização baseada na evicção? 3 anos. A pretensão deduzida em
demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de três anos (STJ. 3ª Turma. REsp
1.577.229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/11/2016.

 Informativo 596, STJ:

Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o condomínio geral ou edilício
(vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária,
constante em instrumento público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo)

 REsp 1595136, Relator Ministro Luís Felipe Salomão, julgado em 01/12/2017:

O exercício da pretensão de indenização do DPVAT, nos casos do absolutamente incapaz, fica postergado para o
momento do suprimento da incapacidade, assim reconhecido por sentença judicial de interdição e nomeação de
curador transitada em julgado, contando-se a partir de então a prescrição.

 Informativo 574, STJ:

Conserto de veículo por mecânico: 10 anos se não tiver conhecimento técnico e formação intelectual suficiente
para ser qualificado como profissional liberal.

 Informativo 535, STJ:

Seguradora em face de ressegurador baseada em contrato de resseguro: 1 ano.

75
 Informativo 513, STJ:

Cobrança de anuidades pela OAB: 5 anos.

 Informativo 515, STJ:

Honorários periciais em processo no qual a parte ré é beneficiária da gratuidade da justiça: 5 anos.

 Informativo 514, STJ:

Ressarcimento pelo paciente contra plano de saúde de valores pagos por tratamento cobertos pelo contrato: 10
anos

 STJ, 2013:

Danos morais decorrentes de tortura no regime militar: IMPRESCRITÍVEL

 Informativo 563, STJ:

Ação de indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo: 5 anos.

 Informativo 586, STJ:

Ação de indenização por dano de mercadoria em contêiner: 1 ano.

 Informativo 632, STJ:

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento


contratual. É adequada a distinção dos prazos prescricionais da pretensão de reparação civil advinda de
responsabilidades contratual e extracontratual. Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade CONTRATUAL,
aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de
responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos. Para
fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas
os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual. Resumindo. O prazo prescricional é
assim dividido: • Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art.206, § 3º, V, do CC). •
Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC). STJ. 2ª Seção. EREsp
1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018.

 Informativo 649, STJ:

A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao prazo prescricional decenal (art.
205 do Código Civil), se não houver previsão legal de prazo diferenciado. É adequada a distinção dos prazos
prescricionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual. Para fins
de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os
casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

76
 Informativo 651, STJ

A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados de
telefonia fixa tem prazo prescricional de 10 (dez) anos. STJ. Corte Especial. EAREsp 738.991-RS, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 20/02/2019

 Informativo 657, STJ:

É quinquenal o prazo prescricional aplicável à pretensão de cobrança, materializada em boleto bancário, ajuizada
por operadora do plano de saúde contra empresa que contratou o serviço de assistência médico-hospitalar para
seus empregados. Fundamento: art. 206, § 5º, I, do CC. Art. 206. Prescreve: (...) § 5º Em cinco anos: I - a pretensão
de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; STJ. 3ª Turma.REsp 1.763.160-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/09/2019 (Info 657).

 Informativo 660, STJ:

O art. 197, I, do Código Civil prevê que “não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade
conjugal”. Se os cônjuges estão separados há muitos anos, não se deve aplicar a regra do art. 197, I, do CC.
Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571 do CC, a separação de fato muito prolongada, ou por tempo
razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal e, em assim sendo, tem
o condão de impedir a fluência do prazo prescricional da pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. Caso
concreto: a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30 anos da separação de fato e da partilha
amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada pela prescrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.947-TO, Rel.
Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

78
Capítulo 3
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL, Capítulo 3 ..............................................................................................................................................4


8. Teoria Geral das Obrigações ...............................................................................................................................4

8.1 Conceito ................................................................................................................................................................4

8.2 Elementos Constitutivos .................................................................................................................................5

8.2.1 Elemento Subjetivo ..................................................................................................................................5

8.2.2 Elemento Objetivo (ou material) ........................................................................................................5

8.2.3 Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico ..........................................................................................6

8.3 Fontes das Obrigações ...................................................................................................................................6

8.4 Classificação das Obrigações .......................................................................................................................7

8.4.1 Obrigação de Dar .....................................................................................................................................7

8.4.1.1 Obrigação de Dar Coisa Certa....................................................................................................7

8.4.1.2 Obrigação de Dar Coisa Incerta ............................................................................................. 10

8.4.1.3 Obrigação Pecuniária................................................................................................................... 11

8.4.2 Obrigação de Fazer .............................................................................................................................. 12

8.4.2.1 Obrigação de Fazer Fungível ................................................................................................... 13

8.4.2.2 Obrigação de Fazer Infungível (personalíssima ou intuitu personae) .................... 13

8.4.3 Obrigação de Não Fazer .................................................................................................................... 13

8.4.4 Obrigações quanto a seus elementos .......................................................................................... 14

8.4.4.1 Solidariedade Ativa: ...................................................................................................................... 15

8.4.4.2 Solidariedade Passiva: ................................................................................................................. 17

8.4.5 Outras Modalidades de Obrigação:............................................................................................... 22

8.4.6 Outras Classificações ............................................................................................................................ 24

8.5 Espécies de Obrigações segundo a Doutrina.................................................................................... 26


8.5.1 Obrigações Propter Rem .................................................................................................................... 26

8.5.2 Obrigações Naturais ............................................................................................................................. 26

8.6 Da transmissão das obrigações ............................................................................................................... 27

8.6.1 Cessão de crédito (artigo 286 a 298) ........................................................................................... 27

8.6.2 Assunção de dívida (Artigos 299 a 303)...................................................................................... 29

8.7 Adimplemento das Obrigações ............................................................................................................... 32

8.7.1 Pagamento Direto ................................................................................................................................. 32

8.7.2 Formas Especiais de Pagamento .................................................................................................... 35

8.7.2.1 Pagamento em Consignação: .................................................................................................. 35

8.7.2.2 Pagamento com Sub-rogação:................................................................................................ 36

8.7.2.3 Imputação do Pagamento: ........................................................................................................ 36

8.7.3 Pagamento Indireto .............................................................................................................................. 37

8.7.3.1 Dação em Pagamento................................................................................................................. 37

8.7.3.2 Novação............................................................................................................................................. 37

8.7.3.3 Compensação.................................................................................................................................. 40

8.7.3.4 Confusão ........................................................................................................................................... 41

8.7.3.5 Remissão ........................................................................................................................................... 42

8.8 Inadimplemento das obrigações (Responsabilidade civil contratual) ..................................... 42

8.8.1 Cláusula penal ......................................................................................................................................... 45

8.8.1.1 Cláusula penal moratória ........................................................................................................... 45

8.8.1.2 Cláusula penal compensatória................................................................................................. 45

8.8.2 Arras ............................................................................................................................................................ 49

8.9 Extinção das Obrigações............................................................................................................................. 51

9. Da Representação e Atos Unilaterais ........................................................................................................... 52


9.1 Da representação ........................................................................................................................................... 52

9.1.1 Conceito..................................................................................................................................................... 52

9.1.2 Espécies ...................................................................................................................................................... 52

9.1.3 Dos representantes ............................................................................................................................... 53

9.1.4 Regras do Instituto da Representação ......................................................................................... 53

9.1.5 Contrato consigo mesmo (autocontrato – art. 117, CC) ...................................................... 54

9.2 Dos Atos Unilaterais ..................................................................................................................................... 55

9.2.1 Conceito..................................................................................................................................................... 55

9.2.2 Da promessa de recompensa........................................................................................................... 55

9.2.3 Da gestão de negócios ....................................................................................................................... 57

9.2.4 Do pagamento indevido .................................................................................................................... 58

9.2.5 Do enriquecimento sem causa ........................................................................................................ 59

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 61

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 68

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 79

LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 80

JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 85


DIREITO CIVIL

Capítulo 3

8. Teoria Geral das Obrigações

No âmbito do Direito Civil, as obrigações consistem no vínculo de direito, que

subordina determinada pessoa (devedor) em benefício de outra (credor) a dar-lhe alguma


coisa ou fazer ou, ainda, não fazer algo, com abordagem nos artigos 233 a 420 do Código

Civil.

Quanto ao tema, o alemão Alois Brinz desenvolveu a teoria dualista do vínculo dos
elementos que compõem a obrigação. De acordo com a teoria, a essência da obrigação está

na responsabilidade, de maneira que o devedor deve ser responsável, com o seu patrimônio,
pela realização da prestação obrigacional. Para o autor, os elementos que compõem a
obrigação são:

 Haftung: responsabilidade;
 Shuld: débito, dever.

Regra geral, a responsabilidade e o dever (haftung e shuld) estão ligados ao devedor,

o patrimônio do devedor responderá pelas dívidas que eventualmente contrair.

Excepcionalmente, a responsabilidade sobre o débito recai sobre outra pessoa, como


nos casos de fiadores, por exemplo. Os contratantes poderão firmar vínculo para exigir

obrigações de: dar (coisa certa ou incerta), fazer, não fazer e obrigações alternativas.

8.1 Conceito

Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e


credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa,
devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de

seu patrimônio.
4
Ou seja, obrigação nada mais é que o direito do credor contra o devedor; confere-se
ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de

determinada prestação, sendo que no caso de descumprimento poderá o credor satisfazer-se


no patrimônio do devedor (art. 391, CC).

8.2 Elementos Constitutivos

8.2.1 Elemento Subjetivo

São os sujeitos (ou as partes) da obrigação:

 Sujeito Ativo: É o credor, o beneficiário da obrigação; pessoa (física ou jurídica) a


quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo o direito de exigir o seu
cumprimento.
 Sujeito Passivo: é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, de efetuar a

prestação, sob pena de responder com seu patrimônio.

Em cada um desses polos (ativo ou passivo) pode haver mais de um credor ou devedor.
Além disso, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: em uma compra e venda ambos são

credores e devedores simultaneamente: o comprador é credor da coisa, mas é devedor do

dinheiro; já o vendedor é credor do dinheiro, mas devedor da coisa.

8.2.2 Elemento Objetivo (ou material)

É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a

prestação imediata, que é sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação:
obrigação de dar ou fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer).

5
Ainda, há o objeto mediato, que é o bem, propriamente dito. Ex.: “A” deve entregar um
quadro a “B”. O objeto imediato, que é a prestação, é a obrigação de dar. Já o quadro é o

bem sobre o qual recai o direito, sendo considerado como o objeto mediato.

O objeto (prestação), para ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente),
determinado ou determinável e economicamente apreciável.

É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja

digno de tutela o interesse das partes.

8.2.3 Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico

Trata-se do vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo que sujeita o

devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor (Ex: um acidente


de trânsito gera um ato ilícito; um acordo de vontades produz o contrato).

Abrange o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de

não cumprimento (obligatio).

8.3 Fontes das Obrigações

São três as fontes das obrigações:

 Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex: os

contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a principal e maior
fonte de obrigação.

 Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, apenas uma
pessoa se obriga. Ex: promessa de recompensa.

6
 Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a reparar o

dano (art. 927, CC) dele decorrente.

A doutrina ainda acrescenta a lei como fonte de obrigação, uma vez que em nosso direito

ela é a fonte primária ou imediata de qualquer obrigação (“Ninguém é obrigado a fazer ou

deixar de fazer senão em virtude de lei”).

8.4 Classificação das Obrigações

8.4.1 Obrigação de Dar

É aquela em que o devedor se compromete a entregar alguma coisa (certa ou


incerta). A obrigação de dar confere ao credor somente o direito pessoal e não o direito real.

Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, mas não opera a transferência da propriedade.
Esta somente se concretiza com a tradição (entrega - bens móveis) ou pelo registro (bens

imóveis).

Ela pode ser dividida em:

 Específica: Obrigação de dar coisa certa (ex: uma joia, um carro, um livro, etc.);
 Genérica: Obrigação de dar coisa incerta (ex: a obrigação de dar um boi, dentre

uma boiada).

8.4.1.1 Obrigação de Dar Coisa Certa

O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada, perfeitamente


individualizada1 (ex: a vaca Mimosa ou a camisa do Pelé), podendo ser móvel ou imóvel. A

regra básica é a de que o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa

1
Vide questão 4
7
(art. 313, CC). Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex: compra e venda), ou a de
entregar a posse (ex: locador ou comodante que deve entregar a coisa).

Se a coisa a ser entregue tiver um acessório, a obrigação abrange também os

acessórios (acessório segue o principal), salvo se as partes estipularem de modo diverso (art.
233, CC). Ex: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar todos os bens

móveis da chácara.

O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao credor, bem
como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. Mas mesmo assim a coisa pode se

perder. Até a entrega da coisa, essa ainda pertence ao devedor.

Assim, nas obrigações de dar coisa certa, o objeto é individualizado, sendo


caracterizado pelo seu gênero, qualidade e quantidade.

Por ser prestação específica, de conteúdo certo, o credor não se obriga a aceitar
prestação diversa da que lhe é devida (Princípio da identidade física da prestação), ainda

que de maior valor, sendo sua faculdade decidir se a aceita ou não.

O cumprimento da obrigação de dar coisa certa, por se tratar de direito pessoal, se

consuma com a tradição do bem. Diante disso, no caso de haver perda ou deterioração da
coisa antes da tradição, são possíveis duas soluções:

 SEM CULPA DO DEVEDOR: não sendo culpado o devedor, poderá o credor


resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatida do seu preço o valor que se

perdeu.

 COM CULPA DO DEVEDOR: se a coisa se perdeu por culpa do devedor, poderá o


credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com

direito de reclamar, indenização por perdas e danos.

8
Sempre que houver o descumprimento de uma obrigação por culpa do devedor, poderá ser

exigida indenização por perdas e danos. LEMBREM-SE: CULPA → PERDAS E DANOS

OBRIGAÇÃO DE DAR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS
RESOLVE A
OBRIGAÇÃO VALOR EQUIVALENTE
OU +
DETERIORAÇÃO ACEITA A COISA PERDAS E DANOS
COM
ABATIMENTO DO (Em qualquer dos casos)
PREÇO
OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS

9
VALOR EQUIVALENTE
CREDOR RECEBE A OU
COISA NO ACEITAR A COISA COM O ABATIMENTO
DETERIORAÇÃO
ESTADO EM QUE DO PREÇO
SE ENCONTRAR +
PERDAS E DANOS (em qualquer dos casos)

Assim, na responsabilidade de dar coisa certa se verifica a existência de dois princípios a

depender da situação:

 Res perit domino: o dono é o único a sofrer as perdas oriundas de caso fortuito,
pois neste caso não se constata a existência de culpa.
 Reparação integral: constatada a culpa ou dolo, deverá a parte causadora reparar
todo e qualquer prejuízo decorrente de sua atividade.

8.4.1.2 Obrigação de Dar Coisa Incerta

Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva, como na obrigação

de dar coisa certa. O objeto é indicado apenas de forma genérica no início da obrigação. No
entanto, o objeto deve ser determinável pelo gênero e quantidade, faltando determinar a

qualidade. Ex: entregar dez bois. A princípio parece ser uma obrigação de dar coisa certa. No
entanto se eu tenho uma boiada de mil bois e devo entregar dez, quais os dez bois que eu

irei entregar se eles ainda não foram individualizados? Por isso chamados de obrigação de dar
a coisa incerta (ou genérica).

Assim, coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”, mas sim coisa sujeita a

determinação futura. Observem que já há determinação quanto ao gênero (bois). E também


quanto à quantidade (dez). Falta individualizar quais os bois que serão entregues. A coisa está

indeterminada, porém será suscetível de determinação futura. O estado de indeterminação


é só transitório.

A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média qualidade. Trata-se
de um ato jurídico unilateral, também chamado de concentração, que se exterioriza pela
pesagem, medição, contagem, etc. A escolha cabe, em regra ao devedor, salvo se for
10
estabelecido de modo diverso no contrato (neste caso, por exceção, a escolha caberá ao
credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio).

Neste caso, vigora a teoria da concentração, pois, na escolha, deverá ser observada a

coisa média, ou seja, não deverá ser escolhida a melhor e nem a de pior qualidade. Realizada
a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, inicialmente de dar a coisa incerta, se

transforma em obrigação de dar a coisa certa, havendo a individualização da prestação,


aplicando-se todas as regras do art. 245, CC.

Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit - o
gênero nunca perece). Ex.: Se “A” deve cem laranjas a “B” não pode deixar de cumprir a

obrigação alegando que as laranjas se estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a
plantação de “A” se perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda. No entanto, após a

escolha, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no armazém) a obrigação se extingue,


voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir

perdas e danos.

Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior,

nem ser obrigado a prestar melhor (art. 244, CC).

8.4.1.3 Obrigação Pecuniária

Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de

obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de


juros.

Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente. Deve
ser realizado no lugar do cumprimento da obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em

11
real (que é nossa unidade monetária atual). São nulas as convenções de pagamento em ouro
ou em moeda estrangeira, salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação

(art. 318, CC).

Outras formas de pagamento (ex: cheque, cartão de crédito ou débito, etc.) são
facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não os receber.

8.4.2 Obrigação de Fazer

Obrigação de Fazer consiste na prestação de uma atividade (prestação de um serviço

ou execução de uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor (ex:


trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc.). Assim, enquanto que na obrigação de

dar o objeto da prestação é uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um


serviço (ex: professor ministrar uma aula, cantor fazer um show, pedreiro construir um muro,

etc.).

Imagine a seguinte situação: Se eu quero comprar um quadro e encomendo a um artista, a


obrigação será de fazer ou de dar? Se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar,

porém se ele ainda for ser confeccionado a obrigação será de fazer.

A impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa

em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (não cumprimento do contrato). Nos


termos do art. 248, CC, se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a
obrigação sem indenização. Ex: cantor que ficou afônico, mercadoria que deveria ser

entregue não é mais achada no mercado, etc. Repõem-se as partes no estado anterior da
obrigação. Por outro lado, se o próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por

perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa do devedor.

As espécies de obrigação de fazer são:

12
8.4.2.1 Obrigação de Fazer Fungível

Fungível quer dizer que a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por

terceira pessoa, sem prejuízo para o credor (ex: obrigação de pintar um muro – em tese
qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível).

Se houver recusa ou mora (que é o atraso, a demora) no cumprimento da obrigação,

sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar
executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade

do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço. Trata-se da
aplicação do art. 249 do Código Civil.

8.4.2.2 Obrigação de Fazer Infungível (personalíssima ou intuitu


personae)

A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza
(aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; não há a

possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa,
contratualmente falando, é insubstituível. Ex: contrato um artista famoso para pintar um

quadro; ou um cirurgião especialista para realizar uma operação, etc.

A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e


danos (art. 247, CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No

entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta
pelo Juiz (e somente pelo Juiz), uma multa periódica (chamada de astreinte).

8.4.3 Obrigação de Não Fazer

Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar

certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado. Seu conteúdo
é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex: proprietário se obriga a não construir um

muro acima de certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não
trazer animais domésticos para o cômodo alugado, etc. Estas obrigações podem ser bem

13
variadas, mas é evidente que as imorais e antissociais, ou que sacrifiquem a liberdade das
pessoas são proibidas.

Além disso, pode haver um limite temporal para a obrigação. Se a pessoa praticar o

ato que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente e o credor poderá exigir o
desfazimento do que foi realizado.

Entretanto há casos em que somente resta o caminho da indenização. Ex: pessoa se

obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer é sempre uma obrigação
pessoal e só pode ser cumprida pelo próprio devedor (personalíssima e indivisível). Por isso se

“A” se comprometer a não elevar o muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a
propriedade, quem comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo

contrato).

8.4.4 Obrigações quanto a seus elementos

 Obrigações Simples (ou Singulares): são as que se apresentam com um sujeito


ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único

efeito.
 Obrigações Compostas (Complexas ou Plurais): são as que apresentam uma

pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou uma


pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias – ativa ou passiva).
 Obrigações Cumulativas (ou Conjuntivas): São as compostas pela
multiplicidade de prestações; o devedor deve entregar dois ou mais objetos,
decorrentes da mesma causa ou do mesmo título (ex: obrigação de dar um
carro e um apartamento). O inadimplemento de uma prestação envolve o
descumprimento total da obrigação; o devedor só se desonera dela cumprindo
todas as prestações.
 Obrigações Alternativas (ou Disjuntivas): Também são compostas pela
multiplicidade de prestações, porém estas estão ligadas pela disjuntiva “ou”.
Assim, embora a obrigação tenha duas ou mais prestações, apenas uma delas
será cumprida como pagamento. O devedor se desonera com o cumprimento

14
de qualquer uma delas. Ex: obrigo me a entregar um touro ou dois cavalos;
vendo a casa por cem mil ou troco por dois terrenos na praia.
 Obrigações Facultativas: São variantes das obrigações alternativas, aceitas pela
doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é simples (há
apenas uma prestação), mas há a possibilidade para o devedor em substituir o
objeto. Exemplo: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se
reserva no direito de substituí-lo por outro.

Na obrigação facultativa (ao contrário da alternativa), o credor nunca terá a opção, só

podendo exigir a prestação principal; somente o devedor é pode optar pela prestação

facultativa.

 Obrigações Solidárias: Ocorrem quando há pluralidade de credores ou


devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos e/ou obrigações pelo
total da dívida.

Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um

único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas, se houver
vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único

credor (art. 264, CC). Nota-se, portanto, três espécies de obrigações solidárias:

8.4.4.1 Solidariedade Ativa:

Ocorre quando há pluralidade de credores. Ex.: mandato outorgado a vários

advogados, sendo que qualquer um deles poderá exigir os honorários integralmente do


cliente.

Nas obrigações solidárias ativa, cada um dos credores solidários tem o direito de
exigir do devedor comum o cumprimento da prestação por inteiro, assim, enquanto alguns

15
dos credores solidários não demandarem o devedor comum, o devedor poderá pagar a
qualquer um dos credores (artigos 267 e 268, do Código Civil).

Porém, importante destacar que tal regra aplica-se apenas antes de haver uma

demanda judicial, podendo, assim, o devedor pagar para quem quiser e como quiser.
Contudo, após o ingresso de demanda judicial por qualquer dos credores, o pagamento deve

ser feito àquele que demandou, afim de prevenir judicialmente a dívida.

Uma característica muito importante é que as condições da obrigação solidária são


divisíveis, sendo possível, portanto, estabelecer condições diferentes para um ou alguns dos

credores.

Segundo o art. 269, do Código Civil, o pagamento feito a um dos credores solidários
extingue a dívida até o montante do que foi pago. Porém, mesmo quem recebeu

parcialmente, pode cobrar o restante da dívida, já que a relação externa entre credores e
devedor é una.

Ainda, conforme dispõe o art. 272, do Código Civil, é possível que o credor que tiver

remita, ou seja, perdoe a dívida do devedor, e sendo assim, ou recebendo o pagamento, este
credor responderá perante os outros pelas quotas correspondentes. Isso ocorre porque a

relação interna entre os credores é fracionável (presunção de divisão igualitária).

Pelo que dispõe o art. 270 do Código Civil, se um dos credores solidários falecer
deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que

corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Assim, em caso
de falecimento, haverá o desaparecimento da solidariedade em relação àquele que faleceu
(refração do crédito), permanecendo, porém, entre os credores sobreviventes.

16
Não há transmissão da solidariedade por herança nas obrigações divisíveis, uma vez
que, nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando herdeiros, cada um deles só

poderá exigir e receber/pagar a quota do crédito correspondente ao seu quinhão


hereditário.

Essa regra, porém, não se aplica quando se tratar de obrigação indivisível, pois, em se

tratando de obrigação indivisível, lembre-se que não há como fracionar a prestação e,


portanto, deve-se cumpri-la de maneira integral. Ex.: a obrigação é de entregar um animal.
Nesse caso, não pode ser dividida em relação às quotas da herança, devendo qualquer um

deles cumprir a prestação na integralidade (entregar o animal).

Outra característica importante da solidariedade ativa, é que, conforme previsto no art.


271 do Código Civil, convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os

efeitos, a solidariedade, se diferenciando, assim, da indivisibilidade.

Nas obrigações solidárias ativas, não há oponibilidade das exceções pessoais, ou seja,
não é possível arguir defesas personalíssimas. Ademais, o julgamento contrário a um dos

credores solidários não atinge os demais, contudo o julgamento favorável aproveita-lhes, sem
prejuízo da exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer
deles (credores).

8.4.4.2 Solidariedade Passiva:

Ocorre quando há pluralidade de devedores. Ex.: art. 585, CC: “Se duas ou mais
pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente

responsáveis para com o comodante”.

17
Nas obrigações solidárias passiva, o credor tem direito a exigir e receber de um ou de
alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum, normalmente, ingressando a

cobrança contra quem tem mais patrimônio, para garantir a dívida.

Aqui, na mesma proporção que na solidariedade ativa, se o pagamento tiver sido


parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Ademais, não há renúncia da solidariedade no caso de propositura de ação pelo credor


contra um ou alguns dos devedores, visto que o mesmo tem a possibilidade de exigir de

qualquer um dos credores.

Portanto, mesmo aquele devedor que paga uma parte da dívida pode ser cobrado pelo
restante, pois, na solidariedade passiva, a relação externa é una, conforme dispõe o art. 275,

caput e parágrafo único, do Código Civil.

Enunciado 348, da IV Jornada de Direito Civil do STJ: O pagamento parcial não


implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar dos termos expressos da
quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da prestação pelo credor.

Enunciado 349, da IV Jornada de Direito Civil do STJ. Com a renúncia da

solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do


beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais

devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.

Assim, o credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos


os devedores, portanto, se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores,

subsistirá a dos demais, devendo abater a quota do beneficiado pela renúncia à


solidariedade. Ademais, o beneficiário não fica exonerado da sua obrigação junto ao credor,

18
podendo ser cobrado apenas nos limites da sua quota parte, transformando-se em devedor
fracionário.

Não confundir renúncia à solidariedade com remissão (perdão), porque, neste último
caso, o beneficiado com fica totalmente liberado do vínculo obrigacional, conforme dispõe o

art. 388, do Código Civil:

A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele


correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os
outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

No caso de solidariedade passiva, se um dos devedores solidários falecer deixando


herdeiros (refração do débito), cada um destes será obrigado a pagar a quota que
corresponder ao seu quinhão hereditário, neste caso, extingue-se a solidariedade, até os

limites da herança, conforme dispõe art. 1.792, do Código Civil.

Exceção (art. 276, CC): se a obrigação for indivisível, poderá ser exigida por inteiro; e
os herdeiros reunidos serão considerados um só devedor solidário em relação aos demais

devedores.

Em caso de pagamento parcial feito por um dos devedores e em caso de remissão


obtida por um deles, tal situação aproveita aos outros devedores, até à concorrência da
quantia paga ou perdoada.
19
Em caso de impossibilidade de cumprir a prestação por culpa de um dos devedores
solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente à prestação; mas pelas

perdas e danos só responde o culpado, diferenciando-se da indivisibilidade.

Por fim, o devedor que satisfaz a dívida por inteiro pode exigir dos outros
codevedores as suas quotas, já que há a presunção relativa de divisão igualitária. Assim, na

solidariedade passiva, a relação interna entre devedores é fracionável. Em sentido contrário,


caso a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, ele responderá por

toda a dívida para a quem pagar.

o Solidariedade Mista (ou recíproca): Neste caso há uma pluralidade de

devedores e de credores.

Regra básica: “A solidariedade não se presume, resultando da lei (solidariedade legal)

ou da vontade das partes (solidariedade convencional)” (art. 265, CC). Ex.: o fiador em
relação ao devedor principal quando convencionar a solidariedade com o afiançado, já que,

em regra o fiador é devedor subsidiário (benefício de ordem previsto no art. 827, do Código
Civil c/c art. 828, do Código Civil).

Vejamos, então, esquematicamente, as características das obrigações solidárias:

CARACTERÍTICAS
Qualquer um dos credores pode exigir a dívida por inteiro a
RESPONDEM COMO SE qualquer um dos devedores, que têm o dever de pagar a
FOSSEM UM SÓ SUJEITO dívida toda, a qualquer um dos credores, havendo
solidariedade em ambos os polos da relação.

20
NÃO PRESUNÇÃO DA A solidariedade só pode resultar da LEI (solidariedade legal)
SOLIDARIEDADE ou da AUTONOMIA DA VONTADE (solidariedade
convencional).
Se for realizado por qualquer um dos credores, extingue-se
PAGAMENTO INTEGRAL até o valor que foi pago. Assim, caso haja o pagamento
EXTINGUE A DÍVIDA parcial, o credor poderá cobrar o restante da dívida a
qualquer um dos devedores, inclusive do devedor já pagante.
NÃO TRANSMISSÃO DA Nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando
SOLIDARIEDADE POR herdeiros, cada um deles só poderá exigir e receber/pagar a
HERANÇA NAS quota do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário.
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS
CONVERSÃO EM PERDAS E Permanece a solidariedade para todos os efeitos, ao
DANOS contrário das obrigações indivisíveis, que perderão tal
característica, tornando-se divisíveis.
Aquele credor que perdoou ficará responsável em pagar, aos
demais credores, o valor de suas quotas correspondentes e
REMISSÃO DA DÍVIDA aquele que obteve o perdão não extingue aos demais, que
deverão pagar o valor restante, caso o pagamento tenha sido
parcial.
As defesas de mérito existentes contra determinado sujeito
NÃO OPONIBILIDADE DAS apenas vinculam a este, ou seja, são personalíssimas, não
EXCEÇÕES PESSOAIS podendo abranger os demais. Nesse sentido, as exceções que
podem abranger os demais são aquelas comuns a todos, a
exemplo da prescrição da dívida.
PRINCÍPIO DA Impossibilidade de agravar a posição dos credores/devedores
RELATIVIDADE DOS EFEITOS sem o consentimento dos demais, gerando efeitos apenas
CONTRATUAIS inter partes
CULPA NA Subsiste para todos os devedores solidários o encargo de
IMPOSSIBILIDADE DE pagar o equivalente, mas apenas o DEVEDOR CULPADO será
CUMPRIMENTO DA obrigado a pagar as perdas e danos.
OBRIGAÇÃO
A solidariedade pode ser renunciada de maneira parcial, em
RENÚNCIA À favor de apenas um devedor, por exemplo, subsistindo em
SOLIDARIEDADE relação às demais, ou total, de modo a exonera-los da

21
solidariedade.

8.4.5 Outras Modalidades de Obrigação:

 Obrigações quanto ao Conteúdo

 Obrigações de Resultado (ou de fim): quando só se considera cumprida


com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo próprio
devedor. Ex: contrato de transporte (levar o passageiro a seu destino são e
salvo); a doutrina costuma também citar o exemplo do médico especialista em
“cirurgia plástica-estética”. Na obrigação de resultado o devedor responde
independentemente de culpa (há, portanto, responsabilidade objetiva).
Porém, é possível a demonstração de que o resultado não foi alcançado por
fator alheio à atuação do devedor (ex: caso fortuito, força maior, culpa
exclusiva do credor, etc.).
 Obrigações de Meio (ou de diligência): quando o devedor só é obrigado a
empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja
alcançado. Ex: o advogado em relação ao cliente; ele não se obriga a vencer a
causa, mas trabalhar com empenho para ganhá-la. Se o resultado visado não
for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se
provar a sua falta de diligência (ou seja, a sua culpa – responsabilidade
subjetiva). O mesmo ocorre com um médico para salvar a vida de um
paciente.
 Obrigações de Garantia: seu objetivo é uma estipulação em um contrato de
uma garantia pessoal (ex: fiança).

 Obrigações quanto à Divisibilidade

 Obrigações Divisíveis: são as que comportam fracionamento, quer quanto à


prestação, quer quanto ao próprio objeto, sem prejuízo de sua substância ou
de seu valor. Havendo pluralidade de credores ou devedores será feito um
rateio (ou concurso) entre eles (“as partes se satisfazem pelo concurso”).
 Obrigações Indivisíveis: são aquelas em que a prestação é única. Devido à
convenção das partes (ex: pagamento à vista) ou, dada a natureza do objeto

22
(ex: um cavalo, um touro), não admitem cisão na prestação. Ainda que o
objeto seja divisível (ex: dinheiro), não pode o credor ser obrigado a receber
em partes, se assim não se ajustou.

Vejamos, esquematicamente, a diferença entre Solidariedade e Indivisibilidade:

SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE

A solidariedade se caracteriza quando, na A obrigação é indivisível quando uma coisa ou


mesma obrigação, concorrer mais de um um fato não seja suscetível de divisão.
credor ou mais de um devedor.
Solidariedade não se presume, sendo Havendo mais de um devedor, se a obrigação
decorrente da lei ou da vontade das partes. for indivisível, todos respondem por sua
integralidade.
Na solidariedade, cada um dos credores O devedor que paga a dívida sub-roga-se nos
solidários poderá exigir o cumprimento direitos do credor em relação aos outros
da prestação por inteiro. coobrigados.
Se um dos credores solidários falecer Havendo pluralidade de credores, cada um
deixando herdeiros, cada um destes só destes poderá exigir a dívida toda, se
terá direito de exigir a quota do quinhão responsabilizado quanto ao ressarcimento dos
correspondente ao seu quinhão outros.
hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível.
As exceções pessoais de um credor, não Se um dos credores extinguir a dívida, aos
podem ser opostas aos outros. outros remanesce o direito, mas deverá ser
abatida a quota do credor que desobrigou o
devedor.
Na solidariedade passiva, o credor poderá A obrigação indivisível não se converte em
exigir de qualquer dos devedores o perdas e danos. Assim, convertendo-se a
cumprimento da obrigação, não obrigação em perdas e danos ela perderá a

23
importando renúncia à solidariedade o qualidade de indivisível.
ajuizamento de ação em face de apenas
um ou alguns dos devedores solidários.
No caso de falecimento do devedor A indivisibilidade decorre da natureza da
solidário, os herdeiros só respondem pelo prestação, o que a distingue da solidariedade,
quinhão correspondente à dívida deste, que apenas é resultante de lei ou da vontade
nos limites da herança, salvo se a das partes.
obrigação for indivisível.
Todos os devedores solidários respondem
pelos prejuízos de mora, mas o culpado
será responsável pelo acréscimo do
aumento pago pelos outros.
Convertendo-se a obrigação em perdas e
danos, subsiste para todos os efeitos a
solidariedade.

8.4.6 Outras Classificações

 Quanto aos Elementos Acidentais


 Obrigações Puras e Simples: são as que não estão sujeitas a nenhum
elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo.
 Obrigações Condicionais: são as que contêm cláusula que subordina seu
efeito a evento futuro e incerto para atingir seus efeitos (ex: ganhar um
carro quando passar no vestibular).
 Obrigações a Termo: são aquelas que contêm cláusula que subordina seu
efeito a evento futuro e certo (ex: ganhar um carro quando completar 18
anos).
 Obrigações Modais: são as oneradas de um encargo, um ônus, à pessoa
contemplada pela relação jurídica (ex: dou-lhe dois terrenos, mas em um deles
deve ser construída uma escola).

 Quanto à Independência

 Obrigações Principais: são as que independem de qualquer outra para ter


validade (ex: compra e venda, locação, etc.).

24
 Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a outra
relação jurídica (ex: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao
contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em
relação a uma obrigação qualquer, etc).

A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição da obrigação principal reflete-se na

acessória. Lembre-se da regra segundo a qual o acessório segue a sorte do principal


(princípio da gravitação jurídica). O inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum

vício na obrigação acessória, em nada afetará a principal.

 Quanto à Liquidez
 Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e determinadas
quanto ao objeto. Ex: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, etc. Nelas se
acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a
natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida
constitui o devedor em mora.
 Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade;
dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda
é indeterminado.

 Quanto ao Momento Para o Cumprimento


 Obrigações Instantâneas: são as que são cumpridas no momento em que o
negócio é celebrado (ex: compra e venda à vista).
 Obrigações Fracionadas: quando o objeto do pagamento é fracionado em
prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a execução de cada
uma delas é feita ao longo do tempo (ex: compro um terreno por 10 mil,
pagando mil por mês, durante dez meses).

25
 Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada por um único ato, em
momento posterior ao surgimento da obrigação (ex: compra e venda com
pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias).
 Obrigações de trato sucessivo (ou periódicas ou execução continuada): são
as que se resolvem em intervalos de tempo (regulares ou não). Ex: compra e
venda a prazo ou em prestações periódicas; obrigação do inquilino em pagar
aluguel; do condômino em pagar as despesas condominiais. Quando uma
parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a
formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período.

8.5 Espécies de Obrigações segundo a Doutrina

8.5.1 Obrigações Propter Rem

São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito pessoal. Elas recaem
sobre uma pessoa (daí ser um direito pessoal), mas por força de um direito real (como por

exemplo, a propriedade). Ex: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança,


sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa

comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de


pagar o débito que o onera, etc.

O exemplo mais comum é o das taxas de condomínio. Segundo entendimento

sumulado do STJ, “as obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor” (Súm.

623 do STJ).

8.5.2 Obrigações Naturais

Também chamadas de imperfeitas ou incompletas, são aquelas em que o credor não


possui instrumento judicial para exigir a prestação do devedor. A dívida existe: há um

credor e um devedor, mas falta a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria
compelido a pagar. O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo
o credor.

26
No entanto, tais obrigações podem gerar efeitos, pois, se o devedor capaz pagar a
dívida, o pagamento é considerado válido e irretratável, não podendo pedir de volta o que foi

pago. Ex.: dívida prescrita; dívidas resultantes de jogo e apostas não permitidas legalmente
(arts. 814 e 815, CC: não é obrigatório o seu pagamento; mas se o devedor pagar é

considerado válido).

“A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente
no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a

soberania nacional”, segundo entendimento do STJ (REsp 1.628.974-SP, Info 610), por força
da aplicação do art. 9º da LINDB (aplica-se à obrigação constituída no exterior a legislação do

pais em que aquela se constituiu), em homenagem ao princípio da boa-fé e da vedação ao

enriquecimento ilícito.

8.6 Da transmissão das obrigações

8.6.1 Cessão de crédito (artigo 286 a 298)

O credor poderá ceder seu crédito a outro, se isso não opuser à natureza da obrigação,
à lei ou à convenção com o devedor, podendo configurar tanto alienação onerosa quanto

alienação gratuita.
Por se tratar de transferência de crédito, não se sujeita à anuência do devedor para se

consumar, mas este deverá ser comunicado, sob pena de adimplemento, pelo pagamento
putativo. O devedor poderá ser comunicado por escrito, público ou particular.

São sujeitos na cessão de crédito:


 Cessionário/Terceiro: a quem o credor transfere sua posição na relação
obrigacional, independentemente da anuência do devedor, é estranho ao
negócio original;

27
 Cedente: credor que transfere seus direitos;
 Devedor/Cedido: não participa necessariamente da cessão, que pode ser
realizada sem a sua anuência. Deve ser, no entanto, comunicado da cessão para
que possa solver a obrigação ao legítimo detentor do crédito. Só para esse fim
se lhe comunica a cessão, uma vez que sua anuência ou intervenção é
dispensável.

O contrato de cessão é simplesmente consensual, pois torna-se perfeito e acabado

com o acordo de vontades entre cedente e cessionário, não exigindo a tradição do


documento para se aperfeiçoar.

São espécies de cessão de crédito:

 Quanto à origem:
 Convencional: a cessão de crédito resulta, em regra, da declaração de vontade
entre cedente e cessionário.
o Título oneroso: hipótese em que o cedente garante a existência e
titularidade do crédito no momento da transferência;
o Título gratuito, em que o cedente só é responsável se houver procedido
de má-fé (CC, art. 295)11;
o Total, abrangendo a totalidade do crédito; e
o Parcial, em que o cedente retém parte do crédito, permanecendo na
relação obrigacional, salvo se ceder também a parte remanescente a
outrem. Caso o crédito seja cedido a mais de um cessionário, dividir-se-á
em dois, independentes um do outro.
 Legal: opera-se por força de lei, como no caso do devedor de obrigação
solidária que satisfez a dívida por inteiro, sub-rogando-se no crédito (CC, art.
283), ou do fiador que pagou integralmente a dívida, ficando sub-rogado nos
direitos do credor (CC, art. 831).
 Judicial: a transmissão do crédito é determinada pelo juiz, como sucede na
adjudicação, aos credores de um acervo, de sua dívida ativa e na prolação de
sentença destinada a suprir declaração de cessão por parte de quem era
obrigado a fazê-la. Ex.: art. 298 do Código Civil.

28
 Quanto à responsabilidade do cedente em relação ao cedido, a cessão de
crédito pode ser:
 Pro soluto: o cedente apenas garante a existência do crédito, sem responder,
todavia, pela solvência do devedor;
 Pro solvendo: o cedente obriga-se a pagar se o devedor cedido for insolvente.
Assim, o cedente assume o risco da insolvência do devedor.

Desta forma, o cedente será responsável pela existência e legalidade do crédito, mas

não será responsável pela solvência do devedor (cessão pro soluto), salvo estipulação em
contrário (cessão pro solvendo). Caso decidam pela responsabilidade do cedente, na hipótese

de insolvência do devedor, a responsabilidade será auferida apenas pelo quantum recebido no


momento da cessão, acrescidos das despesas que o cessionário houver feito com a cobrança.

Havendo diversas cessões de créditos, prevalecerá a que se consumar com a entrega

do título do crédito cedido.

8.6.2 Assunção de dívida (Artigos 299 a 303)

A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor, desde que haja

consentimento expresso do credor 2. Neste caso, o devedor primitivo será extinto da


obrigação, salvo se era insolvente à época da assunção e o credor ignorava.

Trata-se, conforme dispõe a doutrina, de um negócio jurídico bilateral, por meio do


qual o devedor, com anuência expressa do credor, transfere a um terceiro, que o substitui, os

encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional,
responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus acessórios.

Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se manifeste no prazo designado,
não importará aceitação. O silêncio é interpretado como recusa.

2
Vide questão 2
29
Há uma hipótese excepcional de consentimento tácito previsto no art. 303 do Código Civil,
em que se admite a aceitação tácita do credor: “O adquirente de imóvel hipotecado pode

tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar

em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.”

Com relação às garantias concedidas pelo devedor originário, após a assunção de

dívida, estas se consideram extintas, exceto no caso de acordo distinto com o credor.

O novo devedor não poderá opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao

devedor primitivo.

São espécies de assunção de dívida:

 Expromissão: contrato entre o terceiro e o credor, sem a participação ou anuência


do devedor;
 Delegação: mediante acordo entre terceiro e o devedor, com a concordância do
credor;

Por sua vez, tanto a expromissão e delegação podem ser:

 Liberatória: se houver integral sucessão no débito pela substituição do devedor


na relação obrigacional pelo expromitente/delegado, ficando exonerado o devedor
primitivo, exceto se o terceiro que assumiu sua dívida era insolvente e o credor o
ignorava.
 Cumulativa: quando o expromitente/delegado ingressar na obrigação como novo
devedor ao lado do devedor primitivo, passando a ser devedor solidário, mediante
declaração expressa nesse sentido (CC, art. 265), podendo o credor, nesse caso,
reclamar o pagamento de qualquer um deles.

São efeitos da assunção de dívida

30
 Substituição do devedor na relação obrigacional: o principal efeito da assunção
de dívida é a substituição do devedor na relação obrigacional, que permanece a
mesma. Há modificação apenas no polo passivo, com liberação, em regra, do
devedor originário.
 Extinção das garantias especiais: extinção das garantias especiais originariamente
dadas pelo devedor primitivo ao credor, salvo assentimento expresso daquele (CC,
art. 300). As garantias especiais, prestadas em atenção à pessoa do devedor, como
as dadas por terceiros sob a modalidade de fiança, aval e hipoteca, que não são da
essência da dívida, só subsistirão se houver concordância expressa do devedor
primitivo e dos referidos terceiros. No entanto, as garantias reais prestadas pelo
próprio devedor originário não são atingidas pela assunção e continuam válidas, a
não ser que o credor abra mão delas expressamente.
 Anulação da substituição do devedor: se a substituição do devedor vier a ser
anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação”.
 Não impugnação do credor hipotecário à transferência do débito: o adquirente
de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido;
se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito,
entender-se-á dado o assentimento”. Com efeito, se a assunção do débito pelo
terceiro adquirente do imóvel possibilita a permanência da garantia real, pouca ou
nenhuma diferença fará ao credor se o devedor será este ou aquele nos casos em
que o valor da hipoteca for superior ao débito. Se, no entanto, não for esta a
hipótese, ou seja, se o referido valor for inferior à dívida, haverá interesse do credor
em impugnar a transferência de crédito nos trinta dias de sua ciência para
manutenção do devedor primitivo na relação obrigacional

Enunciado 352 das Jornadas de Direito Civil: "352 – Art. 300: Salvo expressa concordância
dos terceiros, as garantias por eles prestadas se extinguem com a assunção da dívida; já as

31
garantias prestadas pelo devedor primitivo somente serão mantidas se este concordar com a
assunção."

8.7 Adimplemento das Obrigações

8.7.1 Pagamento Direto3

 Pessoas envolvidas: Solvens (é a pessoa que deve pagar) e accipiens (é a pessoa

que recebe).
 Objeto e Prova do pagamento: Quitação

 Lugar do pagamento: Regra é no domicílio do devedor. Exceção é no domicílio


do credor.

 Tempo: Vencimento fixado pelas partes.

Assim, qualquer interessado na extinção da dívida poderá pagá-la. Ao terceiro não

interessado também é garantida a faculdade de realizar o pagamento, contudo, se realizado,


não se sub-rogará nos direitos do credor.

A dívida paga pelo terceiro, antes do vencimento da obrigação, só se torna exigível

após o seu vencimento. Na eventualidade de terceiro realizar o pagamento de dívida, que o


devedor tinha possibilidade de elidir, não poderá cobrar deste pelo adimplemento que

realizou.

O pagamento feito a credor putativo é válido, mesmo que comprovado que depois
que o sujeito que recebeu não era credor.

3
Vide questão 3
32
Teoria da imprevisão (artigo 317): se, por motivo imprevisível, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação e do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo,

a pedido da parte, assegurando, na medida do possível, o valor real da prestação.

A teoria da imprevisão prevista no Código Civil difere-se da autorização prevista no


Código de Defesa do Consumidor sobre a revisão das cláusulas contratuais. O CDC, pois,

adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico. Assim, não exige que o fato seja

imprevisível para que haja a modificação do contrato.

O pagamento será feito no domicílio do devedor, salvo se outro local foi estabelecido

pelas partes ou se o contrário resultar da lei ou da natureza da obrigação. Sobre o tema, é


importante destacar que, quando o pagamento é realizado reiteradamente em determinado
lugar, diferente do estabelecido pelas partes, presume-se a renúncia do credor

relativamente ao local estabelecido no contrato.

Neste caso, configuram-se dois institutos que são muito cobrados em prova:

 Surrectio: amplia o negócio jurídico diante da expectativa criada na parte diante

do sentimento de direito expressamente não acordado. Assim, trata-se do


surgimento de um direito que não foi previamente acordado pelas partes.

 Supressio: que consiste na perda de um direito pelo decurso do prazo.

33
DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OBJETIVA4

 Venire contra factum proprium: consiste na vedação do comportamento


contraditório, uma vez que não é razoável admitir-se que uma pessoa pratica

determinado ato ou conjunto de atos e, sem seguida, realize conduta


diametralmente oposta.

 Supressio: consiste na perda (supressão) de um direito pela falta de seu exercício


por razoável lapso temporal. Assim, na tutela da confiança, um direito não exercido
durante determinado período, por conta desta inatividade, perderia sua eficácia, não

podendo mais ser exercitado. Nessa linha, à luz do princípio da boa-fé objetiva, o
comportamento de um dos sujeitos geraria no outro a convicção de que o direito

não seria mais exigido.


 Surrectio: é o outro lado da moeda da supressio. O instituto da surrectio se

configura no surgimento de um direito exigível, como decorrência lógica do


comportamento e uma das partes.

 Tu quoque: a aplicação do tu quoque se constata em situações em que se verifica


um comportamento que, rompendo com o valor da confiança, surpreende uma
das partes da relação negocial, colocando-a em situação de injusta desvantagem.
Um bom exemplo é a previsão do art. 180 do CC/2002, que estabelece que o
“menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou
se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.

4
Vide questão 10
34
8.7.2 Formas Especiais de Pagamento

8.7.2.1 Pagamento em Consignação5:

Devedor deposita a coisa devida, liberando-se de obrigação líquida e certa. Se a

dívida for em dinheiro o depósito pode ser extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art.
890, §1º, CPC).

Contudo, se, em sede de ação consignatória, for constatada a insuficiência do depósito

realizado pelo devedor, o pedido será julgado improcedente, pois o pagamento parcial da
dívida não extingue o vínculo obrigacional, segundo tese fixada em sede de julgamento de

repercussão geral pelo STJ (Tema 967 – Resp 1.108.058-DF). Ocorre nas seguintes hipóteses:

 Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
 Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;
 Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
 Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
 Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a
consignação)

Há possibilidade de levantamento do depósito pelo devedor, a depender do momento

em que ele pretender realizar tal ato, em busca de retornar ao status quo ante. Assim:

 Antes da aceitação ou impugnação do depósito: o devedor total liberdade para


levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu do seu patrimônio
jurídico.
 Depois da aceitação ou impugnação do depósito pelo credor: o depósito só
poderá ser levantado com a anuência do credor, que perderá a preferência e a

5
Vide questão 7
35
garantia que lhe competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e
co-devedores que não tenham anuído (art. 340).
 Julgado procedente o depósito: o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o
credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art. 339).

8.7.2.2 Pagamento com Sub-rogação:

Substituição na obrigação de uma pessoa por outra, com os mesmos ônus e


atributos (avalista que paga a dívida). A sub-rogação transfere ao novo credor todos os
direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor

principal e fiadores.

A sub-rogação acarreta, necessariamente, dois efeitos:

 Liberatório: pela extinção do débito em relação ao devedor original;


 Translativo: pela transferência da relação obrigacional para o novo credor.

São modalidades de sub-rogação:

 Sub-rogação legal/de pleno direito (pleno iure ou automática)


 É a sub-rogação do credor que paga a dívida do devedor comum (art. 346,
CC).
 Do adquirente do imóvel hipotecado que paga a dívida; bem como do terceiro
que paga a dívida para não perder o imóvel (afastar a evicção).
 Do pagamento por terceiro interessado na dívida. Ex.: fiador.
 Sub-rogação convencional (pagamento indireto) terceiro desinteressado
 Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere os seus direitos: aplicam-se as regras de cessão de crédito (art. 348,
CC). O devedor não precisa concordar, apenas ser notificado (eficácia).
 Quando terceira pessoa empresta dinheiro ao devedor para ele pagar a dívida
ficando convencionada a sub-rogação. Ex.: mútuo.

8.7.2.3 Imputação do Pagamento:

Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos, a
um só credor, tem o direito de escolher qual deles está pagando.

36
A indicação é realizada pelo devedor, pelo credor ou pela lei, sucessivamente nessa
ordem (favor in debitoris), sendo a ordem de imputação legal a seguinte:

 Juros precede capital.


 Dívida líquida e vencida primeiro.
 Dívida mais onerosa (maior custo de manutenção): de maior valor (em
regra).

Havendo igualdade total entre as dívidas, a imputação do pagamento será proporcional.

8.7.3 Pagamento Indireto

8.7.3.1 Dação em Pagamento

Acordo de vontades entre credor e devedor, com o objetivo de extinguir a obrigação,


no qual o credor consente em receber coisa (móvel ou imóvel) diversa da originalmente
devida.

Assim, e a entrega de uma coisa por outra, e não a substituição de uma obrigação por
outra. Em certas situações especiais, a dação é vedada pelo ordenamento, por se travestir em
cláusula comissória (art. 1428 do CC).

Trata-se, ainda, de datio pro solvendo, desta forma, não há que se confundir a dação
em pagamento com a dação pro solvendo, cujo fim precípuo não é solver imediatamente a
obrigação, mas sim facilitar o seu cumprimento.

8.7.3.2 Novação

Criação de obrigação nova e extinguindo a anterior, modificando o objeto (objetiva


ou real) ou substituindo uma das partes (subjetiva = ativa – substituição do credor; passiva –
substituição do devedor). Não podem ser objeto de novação as dívidas extintas ou nulas.

37
Trata-se de modo extintivo não satisfatório, tendo natureza jurídica negocial, não a
podendo ser imposta por lei.

Assim, ocorre quando:

 Devedor contrai com credor nova obrigação para substituir a anteriormente


estabelecida;
 Quando novo devedor sucede ao antigo ou quando há substituição do
credor por outro, decorrente de nova obrigação.

São requisitos da novação:

 Obrigação anterior (novada): existência da antiga obrigação;


 Obrigação nova (novadora): totalmente nova;
 Animus novandi: expresso ou tácito, mas sempre inequívoco (art. 361, CC).

São modalidades da novação:

 Novação objetiva ou real: substituição da prestação;


 Novação subjetiva ativa: substituição do credor;
 Novação subjetiva passiva: substituição do devedor;

São espécies da novação:

 Delegação: acontece com o consentimento do antigo devedor.


 Expromissão: ocorre sem o consentimento do antigo devedor (art. 362, CC).
Possível.

Caso ocorra a novação subjetiva por expromissão, mesmo sendo o novo devedor
insolvente, não tem o credor ação regressiva contra o primeiro devedor. Ocorrerá a novação
por expromissão (art. 362, do Código Civil) quando um terceiro assume a dívida do devedor

originário, substituindo-o no polo passivo da obrigação, sem o seu (do devedor)


consentimento, mas com a anuência do credor.

Na novação subjetiva, não basta a alteração dos personagens da relação jurídica,

devendo haver, ainda, a alteração simultânea da própria relação obrigacional, assim,


sempre exigirá a criação de uma nova relação obrigacional e extinção da originária.

38
São efeitos da novação:

 Liberatório: a extinção da primitiva obrigação, por meio de outra, criada para


substituí-la;
 Extinção dos acessórios e as garantias da dívida: exceto em caso de
aquiescência do terceiro fiador ou proprietário dos bens dados em garantia,
pois conforme o art. 366 do CC, importa exoneração do fiador a novação feita
sem seu consenso como devedor principal (art. 366);]

Súmula 214 do STJ: “o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de

aditamento ao qual não anuiu”

 Em caso de obrigação é solidária, a novação concluída entre o credor e um


dos devedores exonera os demais, subsistindo as preferências e garantias do
crédito novado sobre os bens do devedor;
 Em caso de solidariedade ativa, extingue-se a dívida perante os demais
credores, devendo estes se entenderem com o credor operante;
 Em caso de obrigação indivisível, por impossibilidade da prestação parcial, a
novação acaba beneficiando os demais devedores;
 Em caso de novação objetiva, o perecimento do objeto não dá ao credor o
direito de perseguir o da antiga;
 A anulabilidade oponível à antiga obrigação não cabe após a novação (na
verdade, um dos principais préstimos da novação é justamente confirmar
obrigações anuláveis).

39
A novação é nova obrigação! Assim, extingue os acessórios e garantias da dívida

primitiva, salvo estipulação em sentido contrário. O mesmo ocorrerá com a fiança, na hipótese

de o fiador não ter concordado com a nova obrigação.

8.7.3.3 Compensação

Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras;
somente se compensam coisas fungíveis entre si. O art. 373, CC afirma que as dívidas podem
ter causas diferentes, o que não impede a compensação, exceto se:

 Se provier de esbulho, furto ou roubo.


 Se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos.
 Se uma for de coisa não suscetível de penhora.

Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação,
ou seja, havendo prazo de moratória, não impedirá compensação. Outra impossibilidade de
compensação é quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia

prévia de uma delas.

O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

Modalidades de compensação:

 Quanto à extensão:

 Total: as duas dívidas são extintas.


 Parcial: uma dívida é extinta e a outra compensada.

 Quanto à origem:
40
 Legal: decorre da norma jurídica e ocorre ainda que uma das partes não
queira a extinção das dívidas. Ainda, não comporta compensação a obrigação

natural, retroage à data em que a situação de fato se configurou (eficácia ex


tunc). Assim, deve haver (art. 369 e 370, CC):
o Reciprocidade;
o Dívidas líquidas;
o Dívidas vencidas;

o Coisas fungíveis;
o Mesma qualidade).

 Convencional: decorre do acordo entre as partes, ou seja, não deve seguir os

rígidos requisitos da compensação legal, bastando a reciprocidade.

o Compensação judicial: decorre de decisão judicial constitutiva, pelo qual

o juiz estabelece que o crédito é liquidável, apesar de, originariamente,


ser ilíquido, contudo não é conhecível de ofício, possuindo, efeitos ex

tunc.

8.7.3.4 Confusão

Incidência em uma mesma pessoa das qualidades de credor e devedor. De acordo

com art. 383, a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a
obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto
ao demais a solidariedade. Assim, a lei afirma que ocorre confusão parcial na solidariedade

ativa ou passiva. Ainda, cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus
acessórios, a obrigação anterior.

Ocorre a confusão imprópria quando se reúnem na mesma pessoa as condições de

garante e de sujeito (ativo ou passivo). Assim, ocorre quando:

 Unidade da relação obrigacional;


 Reunião, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor;

41
 Ausência de separação de patrimônios. (Se o crédito e o débito, ainda que
atinentes a mesma pessoa, estão posicionados em patrimônios distintos, não há

confusão)

8.7.3.5 Remissão

A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo perdão do credor, que deve

ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa
ou tácita.

São características da remissão:

 Efeitos inter partes, não admitindo prejuízo de terceiros;

 Previsão legal, não se presume;


 Pode ser revogada unilateralmente, desde que não tenha ainda gerado um direito

contrário;
 Não pode ser acompanhado de prestação do devedor;

 Atinge somente as obrigações patrimoniais de caráter privado;


 Se concedido ao devedor principal, extingue a obrigação dos fiadores, libertando
as garantias reais;

 Havendo vários os devedores, a remissão concedida extingue a obrigação na parte


respectiva, contudo, sendo indivisível, os demais credores somente poderão exigir a

prestação com desconto da parte relativa ao remitente;

8.8 Inadimplemento das obrigações (Responsabilidade civil


contratual)

Não cumprida a obrigação, responderá o devedor pelas perdas e danos decorrentes do

inadimplemento, cumulado com juros e honorários advocatícios. Quando os juros não forem
estipulados pelas partes, serão estipulados segundo as taxas estabelecidas para os
pagamentos em mora de impostos devidos à Fazenda Pública (1% ao mês, nos termos do

artigo 161 do CTN).

42
O devedor será considerado em mora quando não efetuar o pagamento. Por outro
lado, se o credor se recusar a recebê-lo no tempo e forma estabelecidos no contrato,

constituir-se-á este em mora. Se depois de constituída a mora, a prestação se tornar inútil ao


credor, este poderá exigir a satisfação por perdas e danos.

Assim, a mora6 será:

 Mora do devedor (Solvendi, Debitoris)


 Ex re: é também denominada de mora automática, depende de um fato
previsto em lei ou no contrato. Trata-se, assim, de uma obrigação positiva e
líquida com data determinada, de modo que não precisa ser notificado para
se constituir em mora. Ex: dia do vencimento do aluguel.
 Ex persona: é também denominada de mora pendente, depende de uma
providência do credor. Assim, exige a notificação do devedor, judicial ou
extrajudicial, para constituição da mora, pois não há data/termo certo para o
cumprimento da obrigação. Está prevista no parágrafo único, do art. 397, CC.
Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou
extrajudicial.. Ex: comodato sem prazo – notificação com prazo de 30 dias.
 Mora do credor (Accipiendi, Creditoris): Recusa (do credor) em aceitar o

cumprimento da obrigação.

Os juros de mora são contados desde a citação inicial, devendo observar, quanto às

obrigações extracontratuais, a súmula 54 do STJ, que dispõe que “Os juros moratórios fluem
a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. ”

O devedor purgará a mora quando oferecer a importância cumulada com os

prejuízos causados. Por outro lado, será purgada pelo credor quando se oferecer a receber o
pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a data.

As perdas e danos7 serão apuradas pelo valor que compreendem além o que já era de
direito da parte, os que efetivamente deixou de ganhar.

6
Vide questão 10
7
Vide questão 5
43
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE: “Segundo esta teoria, se alguém, praticando um
ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter uma vantagem ou de

evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos causados. Em outras palavras,
o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a oportunidade de obter

uma situação futura melhor.” 8

De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, a teoria da perda de uma chance,


para ser reconhecida, deve fazer com que o sujeito perca um direito que tinha chances atuais,

sérias e reais de êxito na situação futura esperada. Logo, a mera expectativa não possibilita o
seu reconhecimento.

O quantum devido, quando do seu reconhecimento, será apurado levando-se em conta


não a integralidade do direito, mas a proporção de possíveis chances de ganho, pois, como

não ocorreu, por mais que as chances fossem reais e sérias, não há como se garantir a certeza
da obtenção.

Tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance, a criança

que, em razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para coletar o
material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco embrionárias. 9

O simples fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação ou a interposição


de um recurso não enseja a aplicação da teoria da perda de uma chance. É absolutamente

necessária a ponderação acerca da probabilidade – que se supõe legal – que a parte teria de
se sagrar vitoriosa. 10

8
http://www.dizerodireito.com.br/2013/07/teoria-da-perda-de-uma-chance.html
9
Resp. 1.291.247-RJ. 2014
10
Resp. 1.190.180 - RS
44
8.8.1 Cláusula penal

Trata-se de obrigação acessória11 que as partes poderão estipular pena ou multa


destinada a evitar o inadimplemento da obrigação principal ou o retardamento do seu

cumprimento. Há duas funções, portanto, para a cláusula penal: intimidação ou ressarcimento.

8.8.1.1 Cláusula penal moratória

É estipulada para sancionar o devedor quando houver mora no cumprimento da


obrigação. Neste caso, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação e o

adimplemento da obrigação e ainda, de acordo com o STJ, poderá requerer indenização


correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

8.8.1.2 Cláusula penal compensatória

As partes acordam que, no caso de inadimplemento total da obrigação, a parte


devedora será responsabilizada pelo pagamento da cláusula penal compensatória, que tem o

intuito exatamente de compensar o inadimplemento ou substituir o adimplemento quando


descumprida parcialmente a obrigação.

Neste caso, a cláusula não poderá ser exigida com a cumulação de indenização
suplementar decorrente da mora, pois esta já é a sua natureza, sendo enriquecimento ilícito a
“dupla cobrança”.

Em um contrato no qual foi estipulada uma CLÁUSULA PENAL, caso haja o

inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?12

11
Vide questão 6
45
 Se for cláusula penal MORATÓRIA: SIM.
 Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.

A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou
pena convencional.

 Natureza jurídica: trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação


principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista
em instrumento separado.

 Finalidades da cláusula penal: a cláusula penal possui duas finalidades:


 Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de

inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da


cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo,

a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no


momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do

contrato.
 Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a
cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente,

terá que pagar a multa convencional.


 Multa moratória = obrigação principal + multa.

 Multa compensatória = obrigação principal ou multa.

Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o

inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?

SIM. A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento


nem para substituir o adimplemento.

12
https://www.dizerodireito.com.br/2017/12/informativo-comentado-613-stj.html (STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.617-
SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/3/2014.)

46
Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interfere na
responsabilidade civil correlata que já deflui naturalmente do próprio sistema. Logo, não há

óbice a que se exija a cláusula penal moratória juntamente ao valor referente aos danos
emergentes e lucros cessantes (perdas e danos).

No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade


de requerer, cumulativamente:

 O cumprimento da obrigação;

 A multa contratualmente estipulada; e ainda


 Indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Exemplo: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem


direito a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula

penal moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela
não fruição do imóvel durante o período da mora13.

Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?

NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com
indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Enquanto a

cláusula penal moratória manifesta, com mais evidência, a característica de reforço do vínculo
obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como

punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e danos.

A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que

eventualmente decorram do inadimplemento total ou parcial da obrigação. Não é possível,

13
Foi o que decidiu a 3ª Turma do STJ no REsp 1.355.554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012 (Info
513).

47
pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos decorrentes de
inadimplemento contratual.

Com efeito, se as próprias partes já acordaram previamente o valor que entendem


suficiente para recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se

pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma
justificativa – a recomposição de prejuízos.

Assim, importante lembrar:

MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória) (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor a
incorrer em mora ou para evitar que deixe
Estipulada para servir como indenização no
de cumprir determinada cláusula especial da
caso de total inadimplemento da obrigação
obrigação principal. É a cominação
principal (adimplemento absoluto).
contratual de uma multa para o caso de
mora. (multa contratual)
Funciona como punição pelo retardamento
Funciona como uma prefixação das perdas e
no cumprimento da obrigação ou pelo
danos.
inadimplemento de determinada cláusula.
Ex1: em uma promessa de compra e venda
Ex: em um contrato para que um cantor faça
de um apartamento, é estipulada multa para
um show no réveillon, é estipulada uma
o caso de atraso na entrega. Ex2: multa para
multa de 100 mil reais caso ele não se
o caso de o produtor de soja fornecer uma
apresente.
safra de qualidade inferior ao tipo “X”.

A cláusula penal moratória é cumulativa,


A cláusula penal compensatória não é
ou seja, o credor poderá exigir o
cumulativa. Assim, haverá uma alternativa
cumprimento da obrigação principal mais o
para o credor: exigir o cumprimento da
valor da cláusula penal (poderá exigir a
obrigação principal ou apenas o valor da
substituição da soja inferior e ainda o valor
cláusula penal.
da cláusula penal).

48
Art. 411. Quando se estipular a cláusula
penal para o caso de mora, ou em
Art. 410. Quando se estipular a cláusula
segurança especial de outra cláusula
penal para o caso de total inadimplemento
determinada, terá o credor o arbítrio de
da obrigação, esta converter-se-á em
exigir a satisfação da pena cominada,
alternativa a benefício do credor.
juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

8.8.2 Arras

É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes

oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o
cumprimento do contrato.

As arras podem ser dividias em arras confirmatórias e arras penitenciais.

 Arras confirmatórias: possuem uma tríplice função: confirmar o contrato que


passa a ser obrigatório, antecipar o pagamento e fixar, previamente, eventuais
perdas e danos. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar
maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima.
 Arras penitenciais: ocorrem sempre que as partes, no contrato preliminar
concederam-se o direito de se arrepender. Assumem, portanto, uma função de
pena pelo arrependimento injustificado de uma das partes. Nestes casos, as arras
terão função unicamente indenizatória, assim, quem as deu perdê-las-á em
benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente.

Em ambos os casos, não haverá direito a indenização suplementar.

Quando o contrato é cumprido integralmente, as arras poderão ser devolvidas ou


compensadas do valor a ser pago pela execução da prestação. Por outro lado, se

descumprido o contrato por parte de quem ofereceu as arras, a parte prejudicada poderá
retê-la em seu benefício.

49
Na eventualidade de o contrato ser descumprido por quem recebeu as arras, a parte
inadimplente deverá restituí-la, em dobro, a quem as pagou.

O STJ entende que se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total
ajustado evidenciar que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode

declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras confirmatórias fosse, sendo
legítima a redução equitativa do valor a ser retido. 14

Teoria do adimplemento substancial (substantial performance) 15: a origem da teoria

está no direito anglo saxônico do Século XVIII. A doutrina do adimplemento substancial


sustenta que a atividade do devedor, embora não haja sido perfeita, aproximou-se

substancialmente do resultado final esperado16.

Aliás, este Superior Tribunal, à luz dos princípios da função social e da boa-fé objetiva,
tem aplicado a teoria (REsp 1051270-RS). Acontece quando o descumprimento é ínfimo ou de

menor monta, não cabendo a extinção contratual. Em outras palavras, a mora do devedor,
sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar contra o

princípio da boa-fé objetiva17.

 Requisitos para a aplicação da teoria do adimplemento substancial18


 Existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes;

 O pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do


negócio;

14
Resp. 1.1513.259 - MS
15
Vide questão 1
16
Vide enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil e o Noticiário STJ 09.09.2012
17
Info 500, STJ
18
STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 18/08/2016
50
 Deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao
direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.

 Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil: Arts. 421, 422 e 475. O


adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a

fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva,


balizando a aplicação do art. 475.

Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação

fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69.19 STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG,

Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017.

8.9 Extinção das Obrigações

 Sem Pagamento: acontece nos casos de remissão (perdão), prescrição ou

decadência, advento do termo.

 Judicial: por meio de execução forçada – Ações judiciais (Processo Civil).

19
Info 599 do STJ
51
9. Da Representação e Atos Unilaterais

9.1 Da representação

9.1.1 Conceito

Trata-se de uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante
terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um representante. Este instituto está

diretamente ligado com o direito das obrigações, já que uma pessoa passa poderes para um
terceiro perante uma relação obrigacional, e, também, com a teoria dos negócios jurídicos, já
que a pessoa em nome de quem ele atua e que fica vinculada ao negócio é o representado

Assim, trata-se de atuação jurídica em nome de outrem, podendo os direitos serem


adquiridos por ato do próprio interessado ou por intermédio de outrem.

9.1.2 Espécies

De acordo com o art. 115 do CC, existem duas formas de representação, a legal, de

modo que os seus requisitos e os efeitos da são os estabelecidos nas normas respectivas, e a
convencional/voluntária, regido pelas regras previstas na Parte Especial Código Civil.

 Representação legal: trata-se de um munus, visto que o representante exerce uma


atividade obrigatória, prevista em lei. Neste caso, a lei exige o suprimento da falta
de capacidade do representado, tendo caráter personalíssimo e indelegável o seu
exercício. Ex: como a deferida pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos,
administradores.
 Representação voluntária: objetiva auxiliar uma pessoa na defesa ou
administração de interesses alheios, mediante um acordo de vontades, intervindo
na conclusão de um negócio com outra pessoa que não o interessado direto e
imediato. Esta modalidade se relaciona diretamente com os contratos em espécie,
mediante a outorga de procuração (mandato). Pode ser revogada a qualquer
tempo pelo representado.

52
9.1.3 Dos representantes

Há três espécies de representantes:

 Legal: é o que decorre da lei, ou seja, aquele a quem a lei confere poderes para
administrar bens e interesses alheios. Ex.: como pais, em relação aos filhos menores,
tutores, no que concerne aos tutelados, e curadores, quanto aos curatelados;
 Judicial: é o nomeado pelo juiz para exercer poderes de representação no
processo. Ex.: inventariante, o administrador da empresa penhorada e o da massa
falida;
 Convencional: é o que recebe mandato outorgado pelo credor, expresso ou
tácito, verbal ou escrito, com poderes expressos, gerais ou especiais. Ex.: alienar,
receber, dar quitação etc. (art. 661).

9.1.4 Regras do Instituto da Representação

De acordo com o art. 116 do CC, a manifestação de vontade pelo representante

produz efeitos em relação ao representado, nos limites de seus poderes. Ou seja, significa
dizer que o representante atua em nome do representado, devendo agir, portanto, na

conformidade dos poderes recebidos pelo representado. Se por acaso o representante


ultrapassar tais poderes, haverá excesso de poder, podendo ser responsabilizado, conforme

dispõe o art. 118. Ademais, enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será
considerado mero gestor de negócios.

Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o
fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.

Assim, conforme dispõe o art. 119, é anulável o negócio concluído pelo representante

em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento
de quem com aquele tratou, de modo que tal anulação deve ser arguida no prazo
decadencial de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da

incapacidade.

53
Não se admite, assim, que, estando de boa-fé, seja ele prejudicado por ato danoso do
representante. Resta ao representado, portanto, valer-se do disposto no art. 118 para se

ressarcir dos danos eventualmente sofridos.

O conflito de interesses ocorre no seguintes casos:

 Abuso de direito: atuação do representante com falta de poderes (falso


procurador), quando a representação é exercida segundo os limites dos poderes,
mas de forma contrária à sua destinação;
 Excesso de poder: o representante ultrapassa os limites da atividade representativa.

Em ambos os casos, o negócio é celebrado sem poder de representação, podendo ser

anulado pelo representado se o conflito de interesses era ou devia ser do conhecimento de


quem com ele tratou

9.1.5 Contrato consigo mesmo (autocontrato – art. 117, CC)

De acordo com o art. 117 do Código Civil, é anulável o negócio jurídico que o

representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo, exceto se
previsto de forma diferente por lei ou o representado por meio de convenção. Para esse

efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem
os poderes houverem sido subestabelecidos.

Assim, trata-se de representação que o representante atua em nome de apenas uma

das partes do negócio jurídico no qual intervém. Ocorre de diversas formas:

 Dupla representação: hipótese de ambas as partes se manifestarem por meio do


mesmo representante, que não se envolve no negócio jurídico;
 Dupla qualidade: hipótese em que o representante seja a outra parte no negócio
jurídico celebrado, participando de sua formação como representante, ao atuar em
nome do dono do negócio, e como contratante, por si mesmo;

54
Assim, como dispõe o art. 117 do CC, trata-se de negócio anulável, inclusive, se ocorrer
de maneira indireta, ou seja, conforme explica Carlos Roberto Gonçalves20:

Quando o próprio representante atua sozinho declarando duas vontades, mas por meio
de terceira pessoa, subestabelecendo-a (ato pelo qual o representante transfere a
outrem os poderes concedidos pelo representado a terceira pessoa) para futuramente
celebrar negócio com o antigo representante. Ocorrendo esse fenômeno, tem-se como
celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em que os poderes
houverem sido subestabelecidos.

9.2 Dos Atos Unilaterais

9.2.1 Conceito

Os atos unilaterais são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito


obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de recompensa, da

gestão de negócios, do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa.

Nas declarações unilaterais de vontade ou atos unilaterais a obrigação nasce da


simples declaração de uma única parte, formando-se no instante em que o agente se

manifesta com a intenção de assumir um dever obrigacional. Sendo emitida a declaração de


vontade, esta se torna plenamente exigível ao chegar ao conhecimento a quem foi

direcionada.

O Código Civil em vigor consagra expressamente os seguintes atos unilaterais como


fontes obrigacionais:

9.2.2 Da promessa de recompensa

Enuncia o art. 854 do CC que:

“Art. 854. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou


gratificar a quem preencha certa condição ou desempenhe certo serviço, contrai
obrigação de cumprir o prometido”.

20
Carlos Roberto Gonçalves, p. 517
55
A pessoa que cumprir a tarefa prevista na declaração, executando o serviço ou
satisfazendo a condição, ainda que não esteja movida pelo interesse da promessa, poderá

exigir a recompensa estipulada. Esse dispositivo valoriza a eticidade e a boa-fé objetiva,


merecendo comentários a título de exemplo.

Imagine-se, para ilustrar, um caso em que alguém perdeu um animal de estimação, um

cachorro. Para recuperar o animal, o dono coloca uma faixa em uma avenida de grande
circulação, oferecendo uma recompensa. Alguém que conhece o cão e o seu dono, mas que

no momento desconhece a promessa, encontra o animal e o leva à casa do seu proprietário.


Essa pessoa terá direito à recompensa, pois agiu conforme os ditames da boa-fé. Também
terá direito aos valores gastos com o cumprimento da tarefa, como, por exemplo, as despesas

feitas para a alimentação do animal, cuidados veterinários e transporte.

A revogação da promessa de recompensa está prevista no art. 856 do CC, sendo


possível antes de prestado o serviço ou preenchida a condição e desde que seja feita com a

mesma publicidade da declaração. Se for fixado um prazo para a execução da tarefa haverá,
em regra, renúncia ao direito de revogação na vigência desse prazo. No caso de revogação da

promessa, se algum candidato de boa-fé tiver feito despesas, terá direito a reembolso
quanto a tais valores.

No caso da execução conjunta ou plúrima, sendo o ato contemplado na promessa

praticado por mais de um indivíduo, terá direito à recompensa o que primeiro o executou.
Entretanto, sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual na recompensa,

caso seja possível a divisão. Se a estipulação tiver como conteúdo um bem indivisível, deverá
ser realizado um sorteio. Aquele que obtiver a coisa (vencedor) dará ao outro o valor

correspondente ao seu quinhão. Esse sorteio deverá ser realizado dentro das regras legais, da
razoabilidade e do bom senso (mais uma aplicação da eticidade, da boa-fé objetiva).

No caso de concursos que se abrirem com promessa pública de recompensa, é

condição essencial, para valerem, a fixação de um prazo, observadas também as regras


analisadas anteriormente. Nesses concursos, é comum a nomeação de um juiz (ou árbitro),
que irá avaliar os trabalhos. A decisão dessa pessoa nomeada, nos anúncios, como juiz, obriga
os interessados. Na falta dessa pessoa designada para julgar o mérito dos trabalhos que se
56
apresentarem, entender-se-á que o promitente da recompensa reservou para si esta função.
Se os trabalhos tiverem mérito igual, proceder-se-á de acordo com as regras vistas para a

promessa de recompensa: anterioridade, divisão e sorteio.

Por fim, nos concursos públicos, as obras premiadas só ficarão pertencendo ao


promitente se assim for estipulado na publicação da promessa (ex. Em regra, nos concursos

de monografias jurídicas os trabalhos pertencem aos seus autores. Porém, é possível


convencionar que os direitos patrimoniais de exploração da obra premiada passarão a

pertencer àquele que idealizou o concurso).

9.2.3 Da gestão de negócios

Na gestão de negócios há uma atuação sem poderes, uma hipótese em que a parte
atua sem ter recebido expressamente a incumbência. Dessa forma, o gestor, que age sem

mandato, fica diretamente responsável perante o dono do negócio e terceiros com quem
contratou. A gestão, pela ausência de orientação dada pelo dono, não tem natureza

contratual, pois está ausente o prévio acordo de vontades. Dessa forma, poderá a gestão ser
provada de qualquer modo, eis que se trata de negócio jurídico informal.

A posição do gestor é delicada, pois, além de não ter direito a qualquer

remuneração pela atuação (negócio jurídico benévolo), deve agir conforme a vontade
presumível do dono do negócio, sob pena de responsabilização civil.

Deve-se lembrar que se a gestão for iniciada contra a vontade manifesta ou presumível

do dono, responderá o gestor por caso fortuito (evento totalmente imprevisível) e força maior
(evento previsível, mas inevitável), conforme a regra constante do art. 862 do CC. Se os
prejuízos da gestão excederem o seu proveito, poderá o dono do negócio exigir que o gestor

restitua as coisas ao estado anterior, ou que indenize o valor correspondente à diferença (art.
863 do CC).

Diante do princípio da boa-fé objetiva, que valoriza o dever anexo de informação,

deverá o gestor de negócio, assim que lhe for possível, comunicar ao dono a sua atuação,
aguardando a resposta se dessa espera não resultar perigo. Falecendo o dono do negócio, as

57
instruções devem ser prestadas aos seus herdeiros, devendo o gestor, mesmo assim, agir com
a máxima diligência, de acordo com as circunstâncias fáticas do caso concreto.

9.2.4 Do pagamento indevido21

De acordo com o art. 876 do CC: “Art. 876. Todo aquele que recebeu o que não lhe

era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida
condicional antes de cumprida a condição”.

Duas são as modalidades básicas de pagamento indevido:

 Pagamento objetivamente indevido: Quando a dívida paga não existe ou não é


justo o seu pagamento. Exemplo: a dívida foi paga a mais, com valor maior ao
pactuado.

 Pagamento subjetivamente indevido: Quando realizado à pessoa errada. Exemplo:

pagou-se quem não era o legítimo credor.

Desse modo, quem paga indevidamente pode pedir restituição àquele que recebeu,

desde que prove que pagou por erro. O último é obrigado a restituir, sendo cabível a ação
de repetição do indébito.

Enuncia o art. 878 do CC que aos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações

sobrevindas à coisa dada em pagamento indevido, aplica-se o disposto quanto ao


possuidor de boa e má-fé. Assim, se alguém recebe um imóvel alheio, de boa-fé, terá direito
aos frutos colhidos na vigência da permanência do imóvel. Também terá direito de retenção e

indenização quanto às benfeitorias necessárias e úteis. Já aquele que recebeu o imóvel,


estando de má-fé, não terá direito a frutos. Quanto às benfeitorias, terá somente direito de

indenização quanto às necessárias.

De acordo com o art. 879 do CC, se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o
tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida.

Agindo de má-fé, a culpa passa a ser induzida, respondendo a pessoa pelo valor da coisa e
por perdas e danos.

21
Vide questão 8
58
Em complemento, se o imóvel for alienado a título gratuito, em qualquer caso, ou a
título oneroso, agindo de má-fé o terceiro adquirente, caberá ao que pagou por erro o

direito de reivindicação por meio de ação petitória.

O art. 881 do CC expressa que se o pagamento indevido tiver consistido no


desempenho de obrigação de fazer ou para eximir-se da obrigação de não fazer, aquele que

recebeu a prestação fica obrigado a indenizar o sujeito que a cumpriu, na medida do lucro
obtido.

No caso de pagamento indevido não cabe repetição em dobro do valor pago. Na

realidade, por meio da actio in rem verso poderá o prejudicado, em regra, pleitear o valor
pago atualizado, acrescido de juros, custas, honorários advocatícios e despesas

processuais. Havendo má-fé da outra parte, essa induz a culpa, cabendo ainda reparação por
perdas e danos.

9.2.5 Do enriquecimento sem causa

Esse instituto está baseado no princípio da eticidade, visando ao equilíbrio

patrimonial e à pacificação social. Nesse sentido, determina o art. 884 do CC que “Art. 884.
Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o

indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários”. Em complemento,


prevê o seu parágrafo único “Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa
determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a

restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.”

O enriquecimento sem causa constitui fonte obrigacional, ao mesmo tempo em que a


sua vedação decorre dos princípios da função social das obrigações e da boa-fé objetiva.

Várias são as ações que têm como objetivo evitar o locupletamento sem razão, sendo a
principal a de repetição de indébito no caso de pagamento indevido, que é espécie de
enriquecimento sem causa. Consigne-se que toda situação em que alguém recebe algo

indevido visa ao enriquecimento sem causa. Mas, em algumas hipóteses, poderá haver
conduta visando ao enriquecimento sem causa, sem que tenha havido pagamento indevido

(ex: A invasão de um imóvel com finalidade de adquirir a sua propriedade).


59
São pressupostos da ação que visa afastar o enriquecimento sem causa, pela doutrina
clássica:

 O enriquecimento do accipiens (de quem recebe);

 O empobrecimento do solvens (de quem paga);


 A relação de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento;

 A inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes ou pela lei; e

 A inexistência de ação específica.

Categoricamente, o enriquecimento sem causa não se confunde com o


enriquecimento ilícito. Na primeira hipótese, falta uma causa jurídica para o

enriquecimento. Na segunda, o enriquecimento está fundado em um ilícito. Assim, todo


enriquecimento ilícito é sem causa, mas nem todo enriquecimento sem causa é ilícito. Um

contrato desproporcional pode não ser um ilícito e gerar enriquecimento sem causa.

Determina o art. 885 do CC que a restituição é cabível não só quando não existir
causa para o pagamento, mas também quando esta deixar de existir (ex: a lei revoga a

possibilidade de cobrança de uma taxa. A partir do momento desta revogação, o valor não
pode mais ser cobrado, pois, caso contrário, haverá conduta visando ao enriquecimento sem

causa, tornando possível a restituição).

Caso a lei forneça ao lesado outros meios para a satisfação (ressarcimento) do


prejuízo, não caberá a restituição por enriquecimento, segundo o art. 886 do CC. O

dispositivo realça o caráter subsidiário da ação de enriquecimento sem causa (ex: Sendo
possível a ação de reparação de danos, uma vez que alguém recebeu um imóvel
indevidamente e que veio a se perder, será esse o caminho a ser seguido).

60
QUADRO SINÓTICO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


É a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo
objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo
CONCEITO primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de seu
patrimônio.
ELEMENTO SUBJETIVO
SUJEITO ATIVO É o credor, o beneficiário da obrigação
SUJEITO PASSIVO É o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação
ELEMENTO OBJETIVO (OU MATERIAL)
É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a
prestação imediata, que é sempre uma conduta humana positiva ou negativa.
LEMENTOS  Objeto mediato, que é o bem, propriamente dito
CONSTITUTIVOS  Objeto imediato, que é a prestação, é a obrigação de dar. Já
 Objeto (prestação), para ser válido deve ser lícito, possível (física e
juridicamente), determinado ou determinável e economicamente apreciável.
ELEMENTO IMATERIAL OU VÍNCULO JURÍDICO
É o vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo. Abrange o dever da
pessoa obrigada (debitum) e responsabilidade em caso de não cumprimento
(obligatio).
São três fontes das obrigações:
 Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si.
FONTES
 Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade
 Ato ilícito fica obrigado a reparar o dano (art. 927, CC) dele decorrente
OBRIGAÇÃO DE DAR
OBRIGAÇÃO DE O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada,
DAR COISA CERTA perfeitamente individualizada
OBRIGAÇÃO DE O objeto é indicado apenas de forma genérica no início da
DAR COISA obrigação
CLASSIFICAÇÃO INCERTA
OBRIGAÇÃO Abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e
PECUNIÁRIA pagamento de juros.
OBRIGAÇÃO DE FAZER
Trata-se da prestação de uma atividade (prestação de um serviço ou execução de
uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor.

61
OBRIGAÇÃO DE Pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa, sem
FAZER FUNGÍVEL prejuízo para o credor
OBRIGAÇÃO DE
FAZER A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a
INFUNGÍVEL sua natureza (aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou
(PERSONALÍSSIMA disposição contratual
OU INTUITU
PERSONAE)
OBRIGAÇÃO DE O devedor se compromete a não praticar certo ato que até
NÃO FAZER poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado
OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS
OBRIGAÇÕES
SIMPLES (OU Um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto
SINGULARES)
OBRIGAÇÕES
COMPOSTAS Pluralidade de objetos, pluralidade de sujeitos
(COMPLEXAS OU
PLURAIS)
OBRIGAÇÕES
CUMULATIVAS Multiplicidade de prestações
(OU
CONJUNTIVAS)
OBRIGAÇÕES
ALTERNATIVAS Apenas uma delas será cumprida como pagamento.
(OU
CLASSIFICAÇÃO
DISJUNTIVAS)
OBRIGAÇÕES A obrigação inicialmente é simples, mas há a possibilidade para
FACULTATIVAS o devedor em substituir o objeto.
Pluralidade de credores e devedores, há direitos e/ou
obrigações pelo total da dívida.
SOLIDARIEDADE Ocorre quando há pluralidade de
ATIVA credores.
OBRIGAÇÕES SOLIDARIEDADE Ocorre quando há pluralidade de
SOLIDÁRIAS PASSIVA devedores
SOLIDARIEDADE Uma pluralidade de devedores e de
MISTA (OU credores
RECÍPROCA)
OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
OBRIGAÇÕES QUANTO AO CONTEÚDO

62
OBRIGAÇÕES DE Quando só se considera cumprida com a obtenção de um
RESULTADO (OU resultado
DE FIM)
OBRIGAÇÕES DE Quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para
MEIO (OU DE conseguir o resultado, mesmo que este não seja alcançado.
DILIGÊNCIA)
OBRIGAÇÕES DE Seu objetivo é uma estipulação em um contrato de uma
GARANTIA garantia pessoal
OBRIGAÇÕES QUANTO À DIVISIBILIDADE
OBRIGAÇÕES Comportam fracionamento
DIVISÍVEIS
OBRIGAÇÕES São aquelas em que a prestação é única
INDIVISÍVEIS
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS
OBRIGAÇÕES Não estão sujeitas a nenhum elemento acidental,
PURAS E SIMPLES
OBRIGAÇÕES
CONDICIONAIS Efeito a evento futuro e incerto para atingir seus efeitos

OBRIGAÇÕES A Efeito a evento futuro e certo


TERMO
OBRIGAÇÕES São as oneradas de um encargo
MODAIS
QUANTO À INDEPENDÊNCIA
OBRIGAÇÕES Independem de qualquer outra para ter validade
PRINCIPAIS
OBRIGAÇÕES Sua existência subordinada a outra relação jurídica
ACESSÓRIAS
QUANTO À LIQUIDEZ
OBRIGAÇÕES São aquelas certas quanto à existência e determinadas quanto
LÍQUIDAS ao objeto
OBRIGAÇÕES São aquelas incertas quanto à sua quantidade;
ILÍQUIDAS
QUANTO AO MOMENTO PARA O CUMPRIMENTO
OBRIGAÇÕES São as que são cumpridas no momento em que o negócio é
INSTANTÂNEAS celebrado

OBRIGAÇÕES Objeto do pagamento é fracionado em prestações.


FRACIONADAS

63
OBRIGAÇÕES Por um único ato, em momento posterior ao surgimento da
DIFERIDAS obrigação

OBRIGAÇÕES DE
TRATO
SUCESSIVO (OU São as que se resolvem em intervalos de tempo
PERIÓDICAS OU
EXECUÇÃO
CONTINUADA)
OBRIGAÇÕES São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito
PROPTER REM pessoal
ESPÉCIES
OBRIGAÇÕES Também chamadas de imperfeitas ou incompletas, são aquelas
(DOUTRINA)
NATURAIS em que o credor não possui instrumento judicial para exigir a
prestação do devedor.
O credor poderá ceder seu crédito a outro, se isso não opuser à
CESSÃO DE natureza da obrigação, à lei ou à convenção com o devedor,
CRÉDITO podendo configurar tanto alienação onerosa quanto alienação
gratuita.
TRANSMISSÃO
A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor,
desde que haja consentimento expresso do credor. Neste caso,
ASSUNÇÃO DE o devedor primitivo será extinto da obrigação, salvo se era
DÍVIDA insolvente à época da assunção e o credor ignorava.
Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se
manifeste no prazo designado, não importará aceitação. O
silêncio é interpretado como recusa.
PAGAMENTO DIRETO
 Pessoas envolvidas: Solvens (é a pessoa que deve pagar) e accipiens (é a
pessoa que recebe).
 Objeto e Prova do pagamento: Quitação
ADIMPLEMENTO
 Lugar do pagamento: Regra é no domicílio do devedor. Exceção é no
domicílio do credor.
 Tempo: Vencimento fixado pelas partes.
FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO
Devedor deposita a coisa devida, liberando-se de obrigação
PAGAMENTO EM líquida e certa. Se a dívida for em dinheiro o depósito pode ser
CONSIGNAÇÃO extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art. 890, §1º,
CPC).
PAGAMENTO Substituição na obrigação de uma pessoa por outra, com os
COM SUB- mesmos ônus e atributos (avalista que paga a dívida).
ROGAÇÃO
IMPUTAÇÃO DO Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza,

64
PAGAMENTO líquidos e vencidos, a um só credor, tem o direito de escolher
qual deles está pagando.
PAGAMENTO INDIRETO
Acordo de vontades entre credor e devedor, com o objetivo de
DAÇÃO EM extinguir a obrigação, no qual o credor consente em receber
PAGAMENTO coisa (móvel ou imóvel) diversa da originalmente devida.

Criação de obrigação nova e extinguindo a anterior,


modificando o objeto (objetiva ou real) ou substituindo uma
NOVAÇÃO das partes (subjetiva = ativa – substituição do credor; passiva –
substituição do devedor). Não podem ser objeto de novação as
dívidas extintas ou nulas.
Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo credoras e
COMPENSAÇÃO devedoras umas das outras; somente se compensam coisas
fungíveis entre si.

CONFUSÃO Incidência em uma mesma pessoa das qualidades de credor e


devedor.
A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo
REMISSÃO perdão do credor, que deve ser aceito pelo devedor (ato
bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa
ou tácita.
Não cumprida a obrigação, responderá o devedor pelas perdas e danos decorrentes
do inadimplemento, cumulado com juros e honorários advocatícios. O devedor será
considerado em mora quando não efetuar o pagamento. Por outro lado, se o credor se
recusar a recebê-lo no tempo e forma estabelecidos no contrato.
MORA DO DEVEDOR (SOLVENDI, DEBITORIS)
EX RE Também denominada de mora automática, depende de um fato
previsto em lei ou no contrato.
EX PERSONA Também denominada de mora pendente, depende de uma
providência do credor. Assim, exige a notificação do devedor,
INADIMPLEMENTO judicial ou extrajudicial
MORA DO
CREDOR Recusa (do credor) em aceitar o cumprimento da obrigação.
(ACCIPIENDI,
CREDITORIS)
CLÁUSULA PENAL
Trata-se de obrigação acessória que as partes poderão estipular pena ou multa
destinada a evitar o inadimplemento da obrigação principal ou o retardamento.
CLÁUSULA PENAL É estipulada para sancionar o devedor quando houver mora no
MORATÓRIA cumprimento da obrigação.

65
As partes acordam que, no caso de inadimplemento total da
CLÁUSULA PENAL obrigação, a parte devedora será responsabilizada pelo
COMPENSATÓRIA pagamento da cláusula penal compensatória, que tem o intuito
exatamente de compensar o inadimplemento ou substituir
ARRAS
É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes
oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o
cumprimento do contrato. Não haverá direito a indenização suplementar
ARRAS Possuem uma tríplice função: confirmar o contrato que passa a
CONFIRMATÓRIAS ser obrigatório, antecipar o pagamento e fixar, previamente,
eventuais perdas e danos.
ARRAS Ocorrem sempre que as partes, no contrato preliminar
PENITENCIAIS concederam-se o direito de se arrepender.

SEM Acontece nos casos de remissão (perdão), prescrição ou


EXTINÇÃO PAGAMENTO decadência, advento do termo
JUDICIAL Por meio de execução forçada

DA REPRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA
A representação se trata de uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga
CONCEITO diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um
representante.
REPRESENTAÇÃO Trata-se de um munus, visto que o representante exerce uma
LEGAL atividade obrigatória, prevista em lei, tendo caráter personalíssimo
e indelegável o seu exercício.
ESPÉCIES
REPRESENTAÇÃO Objetiva auxiliar uma pessoa na defesa ou administração de
VOLUNTÁRIA interesses alheios, mediante um acordo de vontades, por meio de
outorga de procuração (mandato).
 Manifestação de vontade pelo representante produz efeitos em relação ao
representado, nos limites de seus poderes
 Se por acaso o representante ultrapassar tais poderes, haverá excesso de
poder, enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será
considerado mero gestor de negócios.
REGRAS
 anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com
o representado,
 Prazo decadencial de cento e oitenta dias,
 O conflito de interesses ocorre no seguintes casos:
 Abuso de direito: falta de poderes (falso procurador),

66
 Excesso de poder: ultrapassa os limites da atividade representativa
É anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo, exceto se previsto de forma diferente por lei ou o
representado por meio de convenção.
 Dupla representação: hipótese de ambas as partes se manifestarem por meio do
AUTOCONTRATO mesmo representante, que não se envolve no negócio jurídico;
 Dupla qualidade: hipótese em que o representante seja a outra parte no negócio
jurídico celebrado, participando de sua formação como representante, ao atuar
em nome do dono do negócio, e como contratante, por si mesmo;

ATOS UNILATERAIS
Os atos unilaterais são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito
obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de recompensa, da
CONCEITO gestão de negócios, do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa.
DA PROMESSA DE Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a
RECOMPENSA recompensar, ou gratificar a quem preencha certa condição ou
desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o
prometido”.
Na gestão de negócios há uma atuação sem poderes, uma
hipótese em que a parte atua sem ter recebido expressamente a
DA GESTÃO DE incumbência. A gestão, pela ausência de orientação dada pelo
NEGÓCIOS dono, não tem natureza contratual, pois está ausente o prévio
acordo de vontades. Dessa forma, poderá a gestão ser provada de
qualquer modo, eis que se trata de negócio jurídico informal.
De acordo com o art. 876 do CC: “Art. 876. Todo aquele que
DO PAGAMENTO recebeu o que não lhe era devido fica obrigado a restituir;
ESPÉCIES INDEVIDO obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes
de cumprida a condição”.
PAGAMENTO Quando a dívida paga não existe ou não é
OBJETIVAMENTE justo o seu pagamento.
INDEVIDO
PAGAMENTO Quando realizado à pessoa errada. Exemplo:
SUBJETIVAMENTE pagou-se quem não era o legítimo credor.
INDEVIDO
DO Esse instituto está baseado no princípio da eticidade, visando ao
ENRIQUECIMENTO equilíbrio patrimonial e à pacificação social.
SEM CAUSA

67
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: De acordo com o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva,
adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que,

tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-lhe tão
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a

ferir o princípio da boa-fé (objetiva)”. (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português


in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56). De acordo com o
conceito doutrinário acima, assinale a alternativa correta:

A) Segundo jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça (STJ), não é possível


aplicar a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia

regidos pelo Decreto-Lei n. 911/69.

B) A teoria do adimplemento substancial está expressamente prevista no ordenamento jurídico


brasileiro.

C) O uso da teoria do adimplemento substancial pode ser estimulado a ponto de preservar os

interesses do credor e do devedor, pois, a longo prazo, seus efeitos colaterais podem auxiliar
na manutenção dos custos da contratação.

D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para

admitir a substantial performance: insignificância do inadimplemento e satisfação do interesse

creditório.

Comentário:

A teoria do adimplemento substancial se aplica a alienação fiduciária? Não. Mas,

primeiramente, impõe-se dizer que, embora não haja previsão material positiva no CC/02,
o STJ vem aplicando a teoria do adimplemento substancial, a partir de uma interpretação

68
sistemática que considera os princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato,
da vedação ao abuso de direito e ao enriquecimento sem causa. Por esta teoria, o credor

fica impedido de proceder à rescisão do contrato nos casos de cumprimento de parte


expressiva do contrato por parte do devedor. Porém, é importante ressaltar que aquele

não perde o direito de obter o restante do crédito, já que é perfeitamente viável o


manejo da ação de cobrança ou mesmo a convenção sobre outras formas de que a
obrigação seja cumprida, como o aumento dos prazos. Em recente julgado, fevereiro

deste ano, nos autos do REsp. nº 1622555 / MG, da segunda seção, sob a relatoria do
Min. Marco Buzzi, o STJ, por maioria, entendeu que, pelo fato de a teoria do

adimplemento substancial não estar prevista expressamente em lei, derivando de


interpretação extensiva de dispositivos do Código Civil, ela não pode prevalecer sobre o

texto expresso do Decreto-Lei 911/1969, que viabiliza a busca e apreensão do bem para
satisfazer o direito do credor. Ficou decidido que mesmo havendo o pagamento de mais

de 90% do débito, caso não haja a quitação, apesar do adimplemento substancial, o


“sistema da alienação fiduciária é microssistema específico e por isso não daria ensejo à

contaminação por essa teoria”.

Questão 2
FCC – 2019 – TJ/AL: Por conta de mútuo oneroso, João devia a Teresa a importância de cem
mil reais. No intuito de ajudar o amigo em dificuldade, Leopoldo assumiu para si a obrigação
de João, para o que houve expressa anuência de Teresa. Nesse caso,

A) João ficará exonerado da dívida, salvo se Leopoldo, ao tempo da assunção, fosse insolvente

e Teresa ignorasse essa sua condição.

B) Leopoldo poderá opor a Teresa as exceções pessoais que competiam a João.

C) se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito de João, sem


nenhuma garantia, independentemente de quem a tenha prestado.

D) preservam-se as garantias especiais originariamente dadas a Teresa por João,


independentemente do assentimento dele.

69
E) João responderá apenas pela metade da dívida, ainda que Leopoldo não cumpra a

obrigação assumida perante Teresa.

Comentário:

De acordo com o art. 299 do CC, é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,

com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo


se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único.
Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da

dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Questão 3
FCC – 2019 – MPE/MT: No tocante ao pagamento,

A) não é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, pela insegurança


patrimonial causada ao devedor.

B) o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, salvo se mais

valiosa, pois nesse caso faltará interesse econômico à rejeição.

C) quando feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era
credor.

D) em qualquer hipótese considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da

quitação, pela presunção legal absoluta daí decorrente.

E) o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de

vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

Comentário:

De acordo com o art. 305, o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio

nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do
credor. Ainda, se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no

vencimento.

70
Questão 4
FCC – 2019 – MPE/MT: Em relação às obrigações de dar coisa certa, é correto afirmar que,

A) como regra geral, a obrigação de dar coisa certa não abrange os acessórios, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

B) se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da

tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até
o dia da perda.

C) sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no


estado em que se acha, nesses casos sem direito a reclamar perdas e danos.

D) até a tradição, pertence a coisa ao credor, com seus acréscimos, pelos quais poderá exigir
aumento do preço, com ou sem anuência do devedor.

E) deteriorada a coisa, sem culpa do devedor, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar

a coisa, nesse caso sem abatimento do preço pela referida ausência de culpa do devedor.

Comentário:

Sobre o tema, é importante você retornar ao item 8.4 no qual colacionamos um quadro
sinótico acerca da responsabilidade no direito das obrigações. Assim, de acordo com o

art. 238, se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se
perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá,

ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Trata-se de tema bastante recorrente em

provas.

Questão 5
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de
sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item

subsecutivo.

71
As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, devem compreender as custas
e os honorários advocatícios e, além da atualização monetária, os juros de mora a partir do

descumprimento contratual.

Comentário:

Em caso de responsabilidade extracontratual, os juros moratórios, conforme Súmula


54/STJ, fluem a partir do evento danoso, enquanto que na responsabilidade contratual os
juros moratórios são contados a partir da citação (art. 405, CC). Do mesmo modo, em

caso de responsabilidade extracontratual, a correção monetária flue a partir do evento


danoso (Súmula 43/STJ), ao passo que, em caso de responsabilidade contratual, a

correção monetária flue a partir do evento danoso (art. 389 do CC). Portanto, como se
tratava de obrigação contratual, a atualização monetária deveria incidir desde o evento

danoso, enquanto que os juros de mora deveriam ser contados a partir do ato citatório.

Questão 6
CESPE – 2019 – TJ/SC: A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o

inadimplemento da obrigação principal é denominada

A) multa penitencial.

B) cláusula penal.

C) perdas e danos.

D) arras penitenciais.

E) multa pura e simples.

Comentário:

Vamos relembrar os conceitos:

Multa penitencial: “não se confunde com a cláusula penal, que pressupõe a inexecução

do contrato ou o inadimplemento de obrigações contratuais, correspondendo ao


ressarcimento dos danos respectivamente provenientes. [...] A multa penitencial nada tem
a ver com a execução do contrato, garantindo o poder de resilir, de sorte que o

72
contratante arrependido mais não tem a fazer do que pagar a multa, desvinculando-se
por seu próprio arbítrio” (Orlando Gomes, Contratos, 2007, p. 225).

Cláusula penal: "um pacto acessório de prefixação de perdas e danos para o caso de

descumprimento culposo, parcial ou integral, da obrigação principal (art. 409 do CC). É


um poderoso remédio de apoio ao pacta sunt servanda, pois desestimula o

inadimplemento e reforça o princípio da segurança jurídica". (Cristiano Chaves, Nelson


Rosenvald, Felipe Braga Netto, Manual de Direito Civil, 2019, p. 874)

Perdas e danos: "perdas e danos compreendem apenas os danos emergentes. Melhor

seria se seguíssemos o direito francês, no qual se consolidou a expressão domages et


intérêts, que poderia ser vertido como 'danos e interesses', abrangendo os danos

emergentes e os lucros cessantes. O dano representa uma lesão em qualquer bem


jurídico, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial. No direito das obrigações, o dano
equivale ao prejuízo suportado por uma das partes, em virtude do descumprimento do

dever especial de prestar". (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, Curso de Direito Civil v.
2, 2017, p. 595)

Arras penitenciais: "servem como correspondente ao direito de arrependimento de

qualquer das partes, para o caso de o contrato não ser concluído ou ser posteriormente
desfeito. Concedem uma espécie de autoexecutoriedade para que a parte não

adimplente possa resolver o contrato sem a necessidade de propositura de ação".


(Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, Felipe Braga Netto, Manual de Direito Civil, 2019, p.

881)

Multa pura e simples: "é constituída de determinada importância, que deve ser paga em
caso de infração de certos deveres, como a imposta pelo empregador ao empregado, ao

infrator das normas de trânsito, etc. A multa simples não tem a finalidade de promover o
ressarcimento de danos, nem tem relação com inadimplemento contratual, ao contrário

da cláusula penal, que constitui prefixação da responsabilidade pela indenização


decorrente da inexecução culposa da avença". (Carlos Roberto Gonçalves, Sinopses

Jurídicas v. 5)

73
Questão 7
CESPE – 2019 – TJ/PR: De acordo com o Código Civil, nas consignações em pagamento, o
ato de depósito efetuado pelo devedor faz cessar

A) os riscos, mas os juros da dívida continuam a correr até a declaração de aceitação do

credor.

B) os riscos e os juros da dívida, podendo o devedor requerer o levantamento do depósito


mesmo após a aceitação do credor.

C) os juros da dívida e impede o levantamento do valor depositado pelo devedor até que seja
aceito ou impugnado pelo credor.

D) os riscos e os juros da dívida; uma vez declarada a aceitação pelo credor, o depósito não

mais pode ser levantado pelo devedor.

Comentário:

De acordo com o art. 337 do CC, o depósito requerer-se-á no lugar do pagamento,

cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se
for julgado improcedente. E, de acordo com o art. 338, enquanto o credor não declarar

que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento,


pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências

de direito.

Questão 8
FCC – 2018 – DPE/AM: Em relação ao pagamento indevido,

A) se aquele que tiver recebido indevidamente um imóvel o tiver alienado em boa-fé,

gratuitamente, responde somente pela quantia recebida; mas, se o alienou onerosamente


ainda que de boa-fé, além do valor do imóvel responde por perdas e danos.

B) àquele que voluntariamente recebeu o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro ou

dolo.

74
C) não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral ou
proibido por lei; nesse caso, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de

beneficência a critério do juiz.

D) pode-se repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, mas não o valor pago para
cumprir obrigação judicialmente inexigível.

E) todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que

incumbe também àquele que recebe dívida condicional, antes ou após cumprida a condição.

Comentário:

De acordo com o art. 879 CC, se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver
alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se

agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos. O art. 877 CC
dispõe que àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito
por erro. Ainda, o art. 883 CC dispõe que não terá direito à repetição aquele que deu

alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei, e o que se deu reverterá
em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz. O art. 882 CC

dispõe que não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir
obrigação judicialmente inexigível. Por fim, o art. 876 CC aduz que “Todo aquele que

recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe

àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.”

Questão 9
FEPESE – 2018 – PGE/SC: Dispõe o art. 397 do Código Civil: “O inadimplemento da obrigação,
positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo

único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial”.

Considerando esse dispositivo legal, a respeito da mora, é correto afirmar:

A) o caput trata da mora ex persona, enquanto o parágrafo único trata da mora ex re.

B) pela disposição do parágrafo único, o próprio não pagamento no dia determinado (termo)
é fato constitutivo da mora.

75
C) o caput trata da mora ex persona, enquanto o parágrafo único trata da mora ex re, sendo
que a mora descrita no caput, também denominada de mora ex tempore, decorre do princípio

dies interpellat pro homine, que significa o dia interpela pelo homem.

D) o caput trata da mora ex re, enquanto o parágrafo único trata da mora ex persona, sendo
que a mora descrita no caput, também denominada de mora ex tempore, decorre do princípio

dies interpellat pro homine, que significa o dia interpela pelo homem.

E) o princípio dies interpellat pro homine significa que se faz necessária a interpelação judicial

ou extrajudicial, conforme estatuído no parágrafo único.

Comentário:

Mora ex re, tem aplicação nas obrigações com prazos (termo) preestabelecidos pelas

partes, diz-se, mora ex re, aquela que se opera automaticamente pelo inadimplemento
da obrigação, líquida, certa e exigível, prescindindo de qualquer
manifestação/interpelação da outra parte, se concretizando pelo simples escoamento do

seu termo, (dies interpellat pro homine), aplicação do caput do art. 397 do CCB/02. Já a
mora ex persona, tem aplicação para os casos em que as obrigações estabelecidas entre

as partes não contem prazo, termo fixado para seu cumprimento, havendo a necessidade
da iniciativa da parte para constituir a outra em mora, interpelação(notificação judicial ou

extrajudicial), é o que dispõe o Parágrafo único do art. 397 do código civil de 2002.

Questão 10
FCC – 2018 – DPE/MA: Lucas e Bruno realizaram um contrato de trato sucessivo em que se

estampava uma obrigação portável. Entretanto, reiteradamente, o pagamento era feito de


forma diversa da que fora pactuada, sem que os envolvidos apresentassem objeção. Neste

caso, os pagamentos realizados são:

A) inválidos, porque realizado de forma diversa daquela constante do instrumento da avença,


e o credor poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do

instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a renúncia ao
previsto no contrato nessas circunstâncias.

76
B) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma
constante do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao

previsto no contrato.

C) inválidos, porque realizado de forma diversa daquela constante do instrumento da avença,


mas o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante

do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao previsto no
contrato.

D) válidos, mas o credor poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma

constante do instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a
renúncia ao previsto no contrato nessas circunstâncias.

E) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma

constante do instrumento da avença, uma vez que, apesar de não existir fundamento para a

renúncia, é caso de duty to mitigate the loss.

Comentário:

Trata-se do instituto chamado supressio. Supressio: não se confunde com a prescrição,


resultando na perda de um direito pelo seu não exercício por tempo suficiente para

gerar na outra parte da relação jurídica a confiança de que o mesmo não mais será

exigido;

77
78
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - A

Questão 3 - E

Questão 4 - B

Questão 5 - CORRETO

Questão 6 - B

Questão 7 - D

Questão 8 - C

Questão 9 - D

Questão 10 - B

79
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Teoria Geral das Obrigações

 CC: Arts. 233 a 420;

 Súmula Vinculante: 7.
 Súmulas: 30, 54, 72, 380, 382, 472, 539, 541, STJ; 121, STF

Representação

 CC: Arts. 115 a 120;

Atos Unilaterais

 CC: Arts. 854 a 886;.

Teoria Geral das Obrigações

 Súmula Vinculante 7

A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a
taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.

 Súmula 30, STJ

A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.

 Súmula 54, STJ

Os juros moratorios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

 Súmula 72, STJ:

80
A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente .

 Súmula 380, STJ

A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.

 Súmula 382, STJ

A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade

 Súmula 472, STJ

A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios
e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.

 Súmula 539, STJ:

É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.

 Súmula 541, STJ:

A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança dataxa efetiva anual contratada.

 Súmula 121, STF.

É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada.

81
JURISPRUDÊNCIA

Teoria Geral das Obrigações

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/8/2015
(Info 566).

A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexigível, ainda que seu funcionamento tenha sido autorizado
pelo Poder Judiciário.

A lei exige mais do que uma aparência de licitude, exige autorização legal, o que não se verifica na hipótese em
tela. Ademais, as decisões liminares, como se sabe, têm caráter precário, correndo por conta e risco do
requerente os danos decorrentes da reversibilidade da medida, não havendo falar, portanto, em direito adquirido.

 Informativo 577, STJ:

Cálculo das arras confirmatórias e desproporção entre a quantia paga inicialmente e o preço ajustado: se a
proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total ajustado evidenciar que o pagamento inicial englo-
bava mais do que o sinal, não se pode declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras
confirmatórias fosse, sendo legítima a redução equitativa do valor a ser retido. STJ.

 Informativo 613, STJ:

Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula penal
compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem. Ex: João celebrou contrato de promessa de
compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a
pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a
pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal compensatória prevendo que, em caso
de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por
ele. Trata-se de cláusula penal compensatória. Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de
pagar as prestações. Neste caso, João perderá apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a
cláusula penal compensatória. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal
compensatória. Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas reter o valor das
arras, sem direito à cláusula penal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
26/09/2017.

82
 Informativo 619, STJ:

Pedido para analisar se existe mesmo o débito não pode ser considerado ato que interrompe a prescrição (art.
202, VI, do CC) O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de
débito não tem o condão de interromper a prescrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.895-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 06/02/2018

 Informativo 627, STJ:

Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula penal contratada, o magistrado deverá,


independentemente de requerimento do devedor, proceder à sua redução. Fundamento: CC/Art. 413. A
penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou
se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018

 Informativo 619, STJ:

O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de débito não tem
o condão de interromper a prescrição. STJ. 3ª Turma.REsp 1677895-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/02/2018

 Informativo 629, STJ:

A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens do réu, no cerne de outro
processo, com objeto e partes distintas, não possui o condão de interromper a incidência dos juros moratórios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.740.260-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/06/2018.

 Informativo 651, STJ:

A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. STJ. 2ª Seção. REsp
1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso repetitivo).

 Informativo 651, STJ:

Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de
reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.567.479-PR, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 11/06/2019.

 Informativo 653, STJ:

É válida a cláusula penal que prevê a perda integral dos valores pagos em contrato de compromisso de compra e
venda firmado entre particulares. Para a caracterização do vício de lesão, exige-se a presença simultânea de: a)
elemento objetivo (desproporção das prestações); e b) elemento subjetivo (a inexperiência ou a premente

83
necessidade). Os dois elementos devem ser aferidos no caso concreto. Tratando-se de negócio jurídico bilateral
celebrado de forma voluntária entre particulares, é imprescindível a comprovação dos elementos subjetivos,
sendo inadmissível a presunção nesse sentido. O mero interesse econômico em resguardar o patrimônio
investido em determinado negócio jurídico não configura premente necessidade para o fim do art. 157 do
Código Civil.

 Informativo 655, STJ:

Se o FIDC for cessionário de título de crédito de um banco, ele pode cobrar a mesma taxa de juros porque esse
fundo se amolda à definição legal de instituição financeira. Os Fundos de Investimento em Direito Creditório -
FIDCs amoldam-se à definição legal de instituição financeira e não se sujeitam à incidência da limitação de juros
da Lei da Usura.

84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

85
Capítulo 4
SUMÁRIO
10. Teoria do Contrato ...............................................................................................................................................4

10.1 Conceito ............................................................................................................................................................4

10.2 Elementos do Contrato ..............................................................................................................................4

10.3 Princípios Fundamentais ............................................................................................................................5

10.3.1 Autonomia da Vontade (ou Autonomia Privada) ...................................................................5

10.3.2 Observância (ou Supremacia) das Normas de Ordem Pública ........................................7

10.3.3 Obrigatoriedade das Convenções (Pacta Sunt Servanda) ..................................................7

10.3.4 Relatividade dos Efeitos do Contrato ..........................................................................................7

10.3.5 Função Social do Contrato ...............................................................................................................8

10.3.6 Boa-fé Objetiva................................................................................................................................... 11

10.4 Formação do Contrato ............................................................................................................................ 14

10.4.1 Fase da negociação preliminar (pontuação) ......................................................................... 14

10.4.2 Fase da proposta (policitação/oblação)................................................................................... 15

10.4.3 Fase do contrato preliminar ......................................................................................................... 17

10.4.4 Fase de contrato definitivo ou de conclusão do contrato .............................................. 19

10.5 Momento da Conclusão do Contrato............................................................................................... 19

10.6 Local da Celebração do Contrato ....................................................................................................... 20

10.7 Classificação dos Contratos ................................................................................................................... 20

10.7.1 Contratos Unilaterais ou Bilaterais ............................................................................................. 20

10.7.2 Contratos Onerosos ou Gratuitos .............................................................................................. 21

10.7.3 Contratos Comutativos ou Aleatórios ...................................................................................... 21

10.7.4 Contratos Nominados ou Inominados ..................................................................................... 21

10.7.5 Contratos Paritários ou de Adesão............................................................................................ 22


10.7.6 Contratos Consensuais ou Formais ........................................................................................... 23

10.7.7 Contratos Reais .................................................................................................................................. 23

10.7.8 Contratos Principais ou Acessórios............................................................................................ 23

10.7.9 Contratos Pessoais ou Impessoais ............................................................................................. 23

10.8 Efeitos do Contrato ................................................................................................................................... 24

10.8.1 Exceção de Contrato Não Cumprido ........................................................................................ 24

10.8.2 Direito de Retenção ......................................................................................................................... 24

10.8.3 Revisão dos Contratos .................................................................................................................... 25

10.8.4 Estipulação em Favor de Terceiro .............................................................................................. 26

10.8.5 Vício Redibitório ................................................................................................................................ 27

10.8.6 Evicção.................................................................................................................................................... 30

10.9 Extinção da Relação Contratual ........................................................................................................... 31

10.9.1 Causas Anteriores ou Contemporâneas .................................................................................. 32

10.9.2 Causas Supervenientes.................................................................................................................... 32

11. Contratos em Espécie....................................................................................................................................... 34

11.1 Compra e Venda ........................................................................................................................................ 34

11.1.1 Elementos.............................................................................................................................................. 34

11.1.2 Venda de coisa comum ou venda de bem indivisível em condomínio .................... 36

11.1.3 Venda por medida ou por extensão – venda ad mensuram ......................................... 37

11.1.4 Cláusulas especiais (pactos adjetos) ......................................................................................... 39

11.2 Doação............................................................................................................................................................ 40

11.2.1 Conceito................................................................................................................................................. 40

11.2.2 Elementos.............................................................................................................................................. 41

11.2.3 Natureza Jurídica ............................................................................................................................... 42

11.2.4 Espécies.................................................................................................................................................. 42
11.2.5 Revogação da doação (art. 551, CC)......................................................................................... 45

11.3 Locação .......................................................................................................................................................... 47

11.3.1 Conceito................................................................................................................................................. 47

11.3.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 47

11.3.3 Regras do contrato de locação ................................................................................................... 47

11.4 Empréstimo................................................................................................................................................... 49

11.4.1 Conceito................................................................................................................................................. 49

11.4.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 49

11.4.3 Modalidades ........................................................................................................................................ 49

11.4.4 Comodato ............................................................................................................................................. 50

11.4.5 Mútuo ..................................................................................................................................................... 51

11.5 Prestação de Serviço ................................................................................................................................ 53

11.5.1 Conceito................................................................................................................................................. 53

11.5.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 54

11.5.3 Elementos.............................................................................................................................................. 55

11.5.4 Tutela externa do crédito .............................................................................................................. 56

11.6 Empreitada .................................................................................................................................................... 57

11.6.1 Conceito................................................................................................................................................. 57

11.6.2 Natureza Jurídica ............................................................................................................................... 57

11.6.3 Modalidades de empreitada......................................................................................................... 58

11.6.4 Responsabilidade civil no contrato de Empreitada ............................................................ 58

11.7 Depósito......................................................................................................................................................... 59

11.7.1 Conceito................................................................................................................................................. 59

11.7.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 59

11.7.3 Modalidades ........................................................................................................................................ 60


11.7.4 Do depósito voluntário ou convencional ............................................................................... 60

11.7.5 Do depósito necessário .................................................................................................................. 61

11.8 Mandato......................................................................................................................................................... 62

11.8.1 Conceito................................................................................................................................................. 62

11.8.2 Natureza jurídica e regras do mandato .................................................................................. 62

11.9 Seguro ............................................................................................................................................................ 64

11.9.1 Conceito................................................................................................................................................. 64

11.9.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 64

11.9.3 Regras do contrato de seguro .................................................................................................... 64

11.9.4 Do seguro de dano .......................................................................................................................... 68

11.9.5 Do seguro de pessoa....................................................................................................................... 69

11.10 Fiança .............................................................................................................................................................. 70

11.10.1 Conceito................................................................................................................................................. 70

11.10.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................ 70

11.10.3 Regras da fiança ................................................................................................................................ 71

11.10.4 Extinção da fiança ............................................................................................................................. 73

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 75

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 91

GABARITO ........................................................................................................................................................................101

LEGISLAÇÃO COMPILADA.........................................................................................................................................102

JURISPRUDÊNCIA.............................................................................................................................................................105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................................................120


DIREITO CIVIL

Capítulo 4

10. Teoria do Contrato

10.1 Conceito

Os contratos têm previsão inicial no artigo 42, do Código Civil, e já traz, em sua
primeira disposição, a ideia de constitucionalização do Direito Civil. Isto porque, quando a lei

determina que nos contratos sejam observadas as funções sociais, como limite da autonomia
da vontade, conclui-se que a celebração destes velará pela aplicação dos direitos

fundamentais das partes, observada mesmo na relação entre particulares, de forma


horizontal.

Havia, antigamente, uma concepção individualista sobre os contratos, que eram regidos

pelo pacta sunt servanda, decorrente do liberalismo. No entanto, com o advento do


neoconstitucionalismo, houve um redimensionamento da autonomia provada e os princípios

passaram a ser observados como regras jurídicas.

Assim, contrato é o acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo,

transformação, modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. É um


negócio jurídico bilateral, decorrente de uma ação humana voluntária e lícita, praticada

com a intenção de obter um resultado jurídico.

10.2 Elementos do Contrato

Seus elementos são:

 Existência de duas ou mais pessoas: Essas pessoas podem ser físicas e/ou jurídicas.

4
 Capacidade plena das partes para contratar: Se as partes não forem capazes o
contrato poderá ser nulo (ex: absolutamente incapaz que não foi representado) ou

anulável (ex: relativamente incapaz que não foi assistido).


 Consentimento: Vontades livres e isentas de vícios (erro, dolo, coação, etc).

 Objeto do contrato é a prestação: O objeto é a atuação das partes no contrato. Ex:


no contrato de compra e venda de um relógio, o objeto não é o relógio. Este é a
coisa em que a prestação se especializa. O objeto de quem compra é pagar o preço

e de quem vende deve entregar a coisa. Portanto é a ação humana. O objeto deve
ser:

 Lícito: não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios da ordem pública e
aos bons costumes;

 Possível: física e juridicamente;


 Certo, determinado ou determinável: ou seja, deve conter os elementos

necessários para que possa ser determinado – gênero, espécie, quantidade e


características individuais;
 Economicamente apreciável: isto é, deverá versar sobre o interesse capaz de

se converter, direta ou indiretamente, em dinheiro.


 Forma prescrita ou não defesa em lei: A regra é que a forma é livre. No entanto

em algumas circunstâncias exige-se maior formalidade e solenidade (ex: escritura


de compra e venda de imóvel). Quando a lei exigir que um contrato tenha uma

determinada forma especial é desta forma que ele deve ser feito (não pode ser feito

de outra maneira). Qualquer vício referente à forma torna o contrato nulo.

10.3 Princípios Fundamentais

10.3.1 Autonomia da Vontade (ou Autonomia Privada)

Os contratantes têm liberdade para estipular o que lhes convier. Em tese, pode-se
contratar sobre o que quiser, mesmo que não previsto em lei (contrato inominado).

5
Trata-se de um dos princípios clássicos, juntamente com o princípio da força
obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos do contrato, demonstrando que os efeitos

estão limitados às partes.

No século XIX, a função principal do Estado era somente de assegurar a ampla


liberdade de contratação, de modo que as partes ajustavam as condições dos contratos como

bem lhe entendiam, conforme regia o Estado liberal. Contudo, com a mudança do século,
ficou demonstrado que a mera e ampla liberdade não era suficiente para haver o equilíbrio

contratual, sendo necessário, portanto, a igualdade material, fazendo com o Estado


abandonasse sua inércia, havendo, agora, a prevalência do Dirigismo Contratual.

Assim a Autonomia Privada traduz literalmente a liberdade contratual, necessária em

qualquer contrato, contudo, condicionada a outros princípios limitadores, como a função


social dos contratos e da boa-fé objetiva, que iremos analisar posteriormente. Esse princípio,
portanto, substituiu o modelo liberal da autonomia da vontade.

Dirigismo contratual é a intervenção do Estado e da lei nos contratos.

Nesse sentido, é importante fazer a diferenciação entre liberdade de contratar e liberdade


contratual. A liberdade de contratar se relaciona com a escolha da pessoa ou das pessoas

com quem o negócio jurídico será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena, já que
o direito à contratação inerente à própria concepção da pessoa humana, um direito existencial
da personalidade advindo do princípio da liberdade. Por sua vez, a liberdade contratual se

6
relaciona com o conteúdo do negócio jurídico, sendo uma liberdade bem mais restrita,
havendo, assim, limitações à carga volitiva das partes.

10.3.2 Observância (ou Supremacia) das Normas de Ordem


Pública

A liberdade de contratar encontra seus limites inicialmente na própria lei e também

na moral e nos bons costumes. Ex: proibição de contrato envolvendo herança de pessoa viva
(pacta corvina – art. 426, CC).

10.3.3 Obrigatoriedade das Convenções (Pacta Sunt Servanda)

Decorre da ideia de autonomia da vontade, onde a convenção de um contrato passa a


ter força de lei, constrangendo os contratantes ao cumprimento do conteúdo completo do
negócio jurídico. Atualmente, cada vez mais, vem se atenuando a força desse princípio, em

razão dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato.

Uma exceção a esse princípio, é a teoria da imprevisão, chamada cláusula rebus sic

stantibus (teoria da onerosidade excessiva) que mitiga o princípio ora estudado. Nesse
sentido, a teoria da imprevisão emerge no ordenamento jurídico para RESOLVER o contrato

(art. 478 do CC) se sobrevier fato imprevisível (superveniente que não poderia ser previsto no
momento da celebração contratual) que acarrete o desequilíbrio contratual, tornando-o
excessivamente oneroso para uma das partes e com extrema vantagem para a outra.

10.3.4 Relatividade dos Efeitos do Contrato

O contrato é um instituto de direito pessoal e por isso apenas produz efeitos inter
partes (vincula somente as partes que nele intervierem, ao contrário do que ocorre com os
institutos de direitos reais, que produzem efeitos erga omnes. Não obstante, o próprio

7
ordenamento civil traz algumas exceções a esse princípio: estipulação de um contrato em
favor de terceiro (arts. 426 a 438 do CC), promessa de fato de terceiro (arts. 439 a 440 do

CC), contrato com pessoa a declarar (art. 471 do CC) e a função social dos contratos e sua
eficácia externa (art. 421 do CC).

10.3.5 Função Social do Contrato

Trata-se de princípio expresso no artigo 421 do Código Civil, devendo ser observado

em toda e qualquer relação contratual e determina que a liberdade de contratar deva


observar a probidade e a boa-fé objetiva.

Os ditames do referido princípio são baseados na superação do modelo individualista

previsto no Código Civil de 1916, que se preocupava apenas com a relação individual gerada
no contrato. A nova ordem constitucional de 1988 passou a exigir que todo e qualquer ramo

do direito passe por uma “filtragem constitucional”, ou seja, deverão sempre ser observados
os princípios fundamentais expressos na Constituição. Assim, com a irradiação dos princípios

constitucionais, o Direito Civil passa a definir em suas disposições uma preocupação com o
coletivo, limitando a autonomia da vontade sempre que ela possa ferir algum direito
fundamental.

Assim, a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função


social do contrato. Na verdade, trata-se de um dispositivo genérico e que deve ser
preenchido pelo Juiz dependendo de uma hipótese concreta que lhe é apresentada. Leva-se

em consideração a presença de outros subprincípios tais como: a) Dignidade da Pessoa


Humana; b) na interpretação do contrato, deve-se atender mais à intenção que o sentido

literal das disposições escritas; c) Justiça Contratual (arts. 317 e 478, CC) – protegida por
institutos como o da onerosidade excessiva, para dar maior equilíbrio às partes e ao contrato,

estado de perigo, lesão, etc.

Esse princípio surge para limitar diretamente o Princípio da Autonomia Privada,


assim, o contrato não interessa apenas às partes contratantes, mas sim a toda a sociedade

pois esse negócio jurídico possui repercussões em âmbito social (sociabilidade do direito).

8
Não foi eliminada a autonomia contratual ou a sua obrigatoriedade, mas apenas se atenuou

ou reduziu o seu alcance quando presentes interesses individuais.

Enunciado n. 23 do CJF/STJ: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo


Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o

alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual

relativo à dignidade da pessoa humana”.

Nesse sentido, mesmo que um determinado contrato esteja de acordo com todos os

preceitos legais, ele pode vir a ser declarado nulo/anulável se repercutir negativamente para a
sociedade.

Desta forma, de acordo com Flávio Tartuce, é correto afirmar que este princípio possui

dupla eficácia: interna e externa.

 Quanto à eficácia interna: o Princípio da Função Social dos Contratos objetiva a


proteção da vulnerabilidade contratual (ex.: direitos do consumidor), a proteção
contra a onerosidade excessiva ou desequilíbrio contratual (efeito gangorra),
proteção da dignidade humana e direitos da personalidade, proteção contra
cláusulas antissociais ou abusivas (ex.: Súmula 302/STJ), e conservação contratual,
de modo que a extinção contratual deverá ser a última medida a ser tomada
(Enunciado n. 360 do CJF/STJ, IV Jornada de Direito Civil e Enunciado n. 22 do
CJF/STJ, I Jornada de Direito Civil).
 Quanto à eficácia externa: diz respeito à proteção dos direitos difusos e coletivos
(função socioambiental do contrato) da tutela externa do crédito, ou seja, a
possibilidade de gerar efeitos perante terceiros ou das condutas destes repercutirem
no contrato (Enunciado 21 do CJF/STJ, I Jornada de Direito Civil).

Ainda, o art. 2035, parágrafo único do CC, traz uma norma de grande valia para
compreensão desse princípio:
9
Art. 2.035. (…). Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos
de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função
social da propriedade e dos contratos.

Vamos analisar cada trecho grafado:

 Art. 2.035: esse artigo está disposto nas regras transitórias do CC/02, desta forma,
a partir de sua leitura, compreende-se que esse princípio é aplicável ao contrato
celebrado na vigência do CC/1916 (retroatividade motivada ou justificada).
 Ordem pública: ora, se esse princípio se caracteriza como um preceito de ordem
pública, como consequência, será imprescindível a intervenção do Ministério
Público e do conhecimento ex officio pelo juiz.
 Função social da propriedade: ao relacionar a função social dos contratos com a
função social do direito de propriedade, o legislador acabou por fundamentar,
constitucionalmente, o princípio ora estudado, equiparando-o ao previsto no art. 5,
XXII e XXIII da CF/88.

Assim, tal princípio tem como funções básicas:

 Abrandar a força obrigatória do contrato (Pacta Sunt Servanda);


 Coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade absoluta das mesmas (Súmula 302,
STJ);
 Possibilitar, sempre que possível, a conservação do contrato (Enunciado 22, I JDC),
e o seu equilíbrio;
 Possibilitar a revisão do contrato quando o mesmo contiver alguma
onerosidade excessiva (ex.: teoria da impressão).

Súmula 302, STJ – É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a
internação hospitalar do segurado.

10
Enunciado 22, I Jornada: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código
Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato,

assegurando trocas úteis e justas.

10.3.6 Boa-fé Objetiva

É expressamente previsto no art. 422, do CC/02 e preconiza a atuação correta das


partes, conforme um padrão normal de conduta, independentemente da boa-fé interior

(subjetiva) que o contratante acredita ser correto1.

E quais seriam essas condutas? Bom, dentre outras hipóteses, pode-se destacar: dever
de cuidado, respeito, informação, lealdade, confiança, colaboração ou cooperação

(expressamente constante do CPC/15), honestidade, razoabilidade, equidade, etc.

Assim, as partes devem agir com lealdade, probidade e confiança recíprocas (art.
422, CC), com o dever de cuidado, cooperação, informando o conteúdo do negócio e

agindo com equidade e razoabilidade (usam-se os termos transparência, veracidade,


diligência e assistência). Impede-se o exercício abusivo de direito por parte de algum dos

contratantes.

A violação de qualquer desses deveres (anexos/colaterais) implicará violação positiva do


contrato, que ensejará responsabilidade civil objetiva (sem culpa), conforme dispôs o

Enunciado n. 24 do CJF/STJ c/c Enunciado n. 363 do CJF/STJ da IV Jornada de Direito Civil: “Os
princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente

obrigada a demonstrar a existência da violação”.

1
Vide questão 4
11
A observância deste princípio deve estar presente não só no momento da elaboração,
como também na conclusão e execução do contrato, devendo ocorrer em TODAS as fases

do contrato, inclusive, pós-contratual), que além da função econômica de circulação de


riquezas, serve, também, de mecanismo para se atingir a justiça social, solidariedade,

dignidade da pessoa humana, que são objetivos primordiais de nossa sociedade, estabelecidos
na Constituição Federal.

Não se confunde com a boa-fé subjetiva, que se relaciona com as crenças internas do

sujeito e é irrelevante nas relações contratuais, pois, se respeitada a boa-fé objetiva, não há

que se interferir na crença subjetiva da parte.

Além disso, o Princípio da boa-fé objetiva possui algumas funções importantes para

regulação dos contratos:

 Interpretativa (art. 113, CC): Os contratos devem ser interpretados de maneira


mais favorável a quem está de boa-fé. Presume-se que o consumidor e o
aderente estão de boa-fé.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.

 De controle ou reativa (art. 187, CC): aquele que viola a boa-fé objetiva no
exercício de um direito comete abuso de direito, ou seja, um ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

 Integrativa (art. 422, CC): a boa-fé objetiva deve integrar todas as fases
contratuais – pré-contratual, contratual e pós.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

12
Enunciado 25 – Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador
do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual.

Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de

negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da

natureza do contrato.

O princípio da boa-fé objetiva possui alguns desdobramentos, vejamos:

 Venire Contra Factum Proprium: dispõe sobre a vedação de a parte agir com
comportamento contraditório ao previamente combinado.

 Requisitos:
o Comportamento anterior;

o Comportamento posterior;
o Ausência de justa causa; e

o Dano ou receio de dano.


 Supressio2 e Surrectio: são figuras correlacionadas, já que a supressio consiste na

perda de um direito pelo decurso do tempo, obstando o seu exercício, em razão


da boa-fé. Por outro lado, se uma parte perde o direito, a outra ganha, já que
depositou confiança na aceitação do outro quanto à forma de cumprimento da

obrigação, mesmo que diversa do que previamente estabelecido.


 Tu quoque: não se confunde com o venire contra factum propium e consiste na

vedação que a parte tem de exigir algo que ela também foi inadimplente. O
indivíduo não pode aplicar valoração distinta à obrigação decorrente do mesmo

ato. A aplicação deste princípio ocorre na exceptio non adimplementi (exceção do


contrato não cumprido), por exemplo.

2
Vide questão 3
13
 Duty to mitigaty the loss: conforme mencionado, a boa-fé deve ser observada por
todas as partes do contrato, mesmo pelo credor que se depara com uma obrigação

inadimplente. Neste caso, é necessário que o credor atue, levando-se em conta as


circunstâncias, para tomar medidas que diminuam as perdas decorrentes do

inadimplemento. Assim, se tiver ciência do descumprimento de um contrato e


mesmo assim não tomar as medidas cabíveis, com o intuito de receber mais juros
decorrentes da omissão, por exemplo, está agindo contra a boa-fé essencial nas

relações jurídicas.

10.4 Formação do Contrato

O contrato é fonte de obrigações, ele nasce da conjunção entre duas ou mais vontades
coincidentes. Sem este mútuo consenso, não haverá contrato. No entanto, antes de se

estabelecer o acordo final, é possível que ocorram algumas negociações preliminares (que
são as sondagens, as conversas prévias e debates, tendo em vista um contrato futuro), sem

que haja uma vinculação jurídica entre os participantes, não se criando ainda obrigações. É a
chamada fase das tratativas. Apenas no momento em que as partes manifestam a sua

concordância é que se formará o contrato, criando obrigações.

Os contratos possuem, portanto, quatro fases: fase de negociações preliminares ou de


pontuação; fase de proposta, policitação ou oblação; fase de contrato preliminar e fase de

contrato definitivo ou de conclusão do contrato.

10.4.1 Fase da negociação preliminar (pontuação)

É a fase de responsabilidade pré-contratual, em que ocorrem meras negociações


preliminares, antecedendo a proposta. Nesse momento, ocorrem acordos que implicam

propostas não formalizadas.

Contudo, conforme já estudado neste material, havendo quebra da boa-fé objetiva,


poderá surgir uma responsabilização pré-contratual de natureza extracontratual, conforme

entendimento majoritário.

14
Todavia, ao se dar início a um procedimento negocitório, é preciso observar sempre se,
a depender das circunstâncias do caso concreto, já não se formou uma legítima
expectativa de contratar. Dizer, portanto, que não há direito subjetivo de não contratar
não significa dizer que os danos daí decorrentes não devam ser indenizados, haja vista
que, como vimos, independentemente da imperfeição da norma positivada, o princípio
da boa-fé objetivatambém é aplicável a esta fase pré-contratual, notadamente os
deveres acessórios de lealdade e confiança recíprocas3.

10.4.2 Fase da proposta (policitação/oblação)

É quando a oferta se torna formalizada, havendo a manifestação expressa da


vontade de contratar, mas que depende da concordância (pura e simples) da outra parte.

Assim, é a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, solicitando a


concordância da outra.

Portanto, caracteriza-se essa fase como uma declaração unilateral de vontade

receptícia. Nesse momento, a proposta (séria, clara, precisa e definitiva) se vincula ao


proponente, pois, se a outra parte aceitar, o contrato está formado, assim, ela só produz

efeitos ao ser recebida pela outra parte.

Essa fase tem força vinculante, obrigando as partes, que são:

 Proponente, policitante ou solicitante: faz a proposta (vinculado).


 Oblato, policitado ou solicitado: recebe a proposta.

Se a proposta originária é subitamente alterada pelo oblato, há uma contraproposta e os

papeis se invertem.

3
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Teoria geral dos contratos. 1.
ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. IV, t. I, p. 96.
15
O art. 428 do CC traz hipóteses em que a proposta não se vinculará (exceção),
portanto, de imprescindível leitura, vejamos:

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:


I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se
também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a
resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a
retratação do proponente.

 Feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita: trata-se de
contrato com declaração consecutiva. Aqui, considera-se também como pessoa
presente aquela contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
 Feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para
chegar a resposta ao conhecimento do proponente: trata-se de contrato com
declarações intervaladas, imaginado em caso proposta enviada por carta;
 Feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo
dado;
 Se antes proposta, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra
parte, o oblato, da retratação do proponente. (direito de arrependimento)

Ademais, o art. 430 do CC dispõe que, se a aceitação, por circunstância imprevista,

chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicará o fato imediatamente ao


aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.

Feita a proposta, esta vincula o proponente ou policitante (art. 427, CC); caso a proposta
não seja mantida, obriga a perdas e danos.

16
10.4.3 Fase do contrato preliminar

Às vezes não é conveniente às partes celebrar, desde logo, o contrato definitivo; assim
podem firmar um contrato-promessa (pactum incontrahendo), sendo que as partes se

comprometem a celebrar o contrato definitivo posteriormente (o exemplo clássico é o


compromisso irretratável de compra e venda). Apesar disso ele deve ser registrado,

presumindo-se irretratável. Se uma das partes desistir do negócio, sem justa causa, a outra
poderá exigir-lhe, coercitivamente, o seu cumprimento, sob pena de multa diária, fixada no

contrato ou pelo Juiz.

As partes se denominam promitentes (na compra e venda: promitente-comprador e


promitente-vendedor). Assim, é um pré-contrato (pactum de contrahendo), em que as partes

assumem (vinculante) a obrigação de celebrar um contrato definitivo no futuro. Em razão


disso, deve possuir os mesmos requisitos essenciais do contrato definitivo, exceto quanto à
forma. Ex.: contrato de compra e venda de imóvel, no contrato definitivo, é obrigatória a

escritura pública, porém, caso seja um contrato preliminar, essa formalidade é dispensada.

A doutrina aduz que são 2 tipos de contrato preliminar previstos no Direito brasileiro,
intitulados como compromissos de contrato, vejamos:

 Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção (art. 466): as duas


partes assinam o instrumento, porém apenas uma das partes assume um dever de
fazer o contrato definitivo. Assim, dispõe o art. 466: “Se a promessa de contrato
for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se
no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado
pelo devedor”.
 Compromisso bilateral de contrato (art. 463): ocorre, ao contrário do
compromisso unilateral, quando as duas partes assinam o instrumento e, ao mesmo
tempo, assumem a obrigação de celebrar o contrato definitivo. Assim, dispõe o art.
463: “Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo
antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer
das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à

17
outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado
ao registro competente.”

O registro não é obrigatório, sendo apenas um fator de eficácia perante terceiros. Assim, na
verdade, a redação do parágrafo único do artigo deveria ser “o contrato preliminar poderá ser
levado ao registro competente”. Assim, se não registrar, os efeitos serão inter partes; se

registrar, serão erga omnes.

Enunciado 30: Art. 463: a disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil

deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros.

Enunciado 549: Art. 538: a promessa de doação no âmbito da transação constitui obrigação
positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código Civil.

 Se não registrado na matrícula: haverá um contrato preliminar com efeitos


obrigacionais “inter partes”, que gera uma obrigação de fazer o contrato
definitivo. Conforme dispõe os arts. 463, 464 e 465, do Código Civil,
compromissário comprador tem três opções se o promitente vendedor não
celebrar o contrato:
o Obrigação de fazer/exigir a celebração, desde que o preço seja pago (art.
463, do CC);
o Adjudicação compulsória inter partes, desde que o preço esteja pago (art.
464, do CC);
o Perdas e danos (art. 465, do CC).

18
Súmula 239, do STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do

compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.

 Se registrado na matrícula: deixará de ser um mero contrato preliminar,


passando a se Tratar de um direito real de aquisição do compromissário
comprador, que gera efeitos reais erga omnes. (art. 1.225, VIII, do CC), cabendo
ação de adjudicação compulsória erga omnes.

10.4.4 Fase de contrato definitivo ou de conclusão do contrato

Trata-se da última fase da formação dos contratos, momento em que ocorrerá o

aperfeiçoamento do contrato, de modo a gerar todos os efeitos jurídicos e fáticos de sua


avença de forma plena, ensejando a responsabilidade civil contrato em caso de

inadimplemento.

10.5 Momento da Conclusão do Contrato

Desta forma, entende-se que o contrato pode ser formado:

 Entre presentes (inter praesentes): quando o oblato aceita a proposta, havendo


um encontro de vontades, ocorrendo simultaneamente. Não havendo prazo
estipulado, a aceitação deverá ser manifestada imediatamente, contudo, se houver
prazo, deverá ocorrer no termo concedido, caso contrário não será considerada
aceita, salvo de forma tácita.
 Entre ausentes (inter absentes). o CC adota duas teorias:
 Regra: Teoria da agnição ou aceitação/informação, na subteoria da
expedição, ocorrendo com a expedição da aceitação, art. 434);
 Exceção: teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da recepção, quando
houver convenção das partes.
19
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é
expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente; (retratação).
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta.
III - se ela não chegar no prazo convencionado.

Conforme explica Flavio Tartuce, quanto à formação do contrato eletrônico celebrado entre
ausentes, a exemplo da contratação por e-mail, segundo o entendimento majoritário, aplica-se

a teoria da recepção, conforme dispõe o Enunciado n. 173 do CJF/STJ: “A formação dos


contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a
recepção da aceitação pelo proponente”.

10.6 Local da Celebração do Contrato

A regra é que o negócio jurídico se reputa celebrado no lugar em que foi proposto

(art. 435, CC). Esta é uma regra dispositiva, isto é, as partes podem dispor de modo diverso,
desde que expressa no contrato.

10.7 Classificação dos Contratos

10.7.1 Contratos Unilaterais ou Bilaterais

O contrato será unilateral quando apenas um dos contratantes assume obrigações


em face do outro. É o que ocorre na doação pura e simples. Outros exemplos: mútuo,

comodato, etc. Os contratos unilaterais, apesar de exigirem duas vontades, colocam só uma
delas na posição de devedora.

O contrato será bilateral quando os contratantes são simultânea e reciprocamente


credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e obrigações para ambos. O

20
contrato bilateral também é conhecido como sinalagmatico. A compra e venda é o exemplo
clássico: o vendedor deve entregar a coisa, mas por outro lado tem o direito ao preço; já o

comprador deve pagar o preço, mas, por outro lado tem o direito de receber o objeto que
comprou. Outros exemplos: troca, locação, etc.

10.7.2 Contratos Onerosos ou Gratuitos

Os contratos onerosos trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes

sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado (ex: locação –


locatário paga aluguel, mas tem o direito de usar o bem; já o locador recebe o dinheiro do

aluguel, mas deve entregar a coisa para que seja usada por outrem). Em outras palavras:
ambas as partes assumem ônus e obrigações recíprocas.

Os contratos gratuitos (ou benéficos) oneram somente uma das partes,

proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação (ex: doação pura e
simples, depósito, comodato, etc).

10.7.3 Contratos Comutativos ou Aleatórios

O contrato é comutativo (ou pré-estimado) quando as prestações de ambas as partes

são conhecidas e guardam relação de equivalência. Ex: compra e venda (como regra).

Já o contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das partes (ou de


ambas) não e conhecida com exatidão no momento da celebração do contrato. Depende de

uma alea (incerteza, risco). O contrato depende de um risco futuro e incerto, capaz de
provocar uma variação e consequentemente um desequilíbrio entre as prestações, não se

podendo antecipar exatamente o seu montante.

10.7.4 Contratos Nominados ou Inominados

Os contratos nominados (ou típicos) são os contratos que têm previsão e


denominação prevista na lei (Código Civil ou Leis especiais). Ex: compra e venda, locação,

comodato, etc.

21
Já os inominados (ou atípicos) são os contratos criados pelas partes, dentro do
princípio da liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo contratual

previsto na lei; não têm tipificação; não têm um nome com previsão legal. Ex: cessão de
clientela, factoring, etc. O art. 425 do CC permite às partes estipular contratos atípicos,

observadas as normas gerais fixadas no Código Civil.

10.7.5 Contratos Paritários ou de Adesão

Paritários são aqueles em que ambos os interessados são colocados em pé de


igualdade e podem discutir as cláusulas contratuais, uma a uma, eliminando os pontos

divergentes mediante transigência mútua.

De adesão (ou por adesão) são aqueles em que a manifestação de vontade de uma
das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra. Uma das partes elabora o

contrato e a outra parte apenas adere às cláusulas já estabelecidas, não sendo possível a
discussão ou modificação dessas cláusulas. Ex: contratos bancários, contrato de transporte,

convênio médico, seguro de vida ou de veículos, sistema financeiro de habitação, etc.

O contrato de adesão deve ser sempre escrito com letras grandes e legíveis. Ele não
pode ser impresso com redação confusa, utilizando terminologia vaga e ambígua, nem com

cláusulas desvantajosas para um dos contratantes.

A cláusula que implicar limitação ao direito do consumidor deverá ser redigida com
destaque (letras maiores), permitindo sua imediata e fácil compreensão. Na dúvida vigora a

interpretação mais favorável ao aderente.

Segundo o art. 424, CC são nulas as cláusulas que estipulam a renúncia antecipada do
aderente a algum direito resultante da natureza do negócio (ex: “caso o objeto adquirido

esteja com algum problema, o aderente abre mão de pedir a substituição do produto”).

22
10.7.6 Contratos Consensuais ou Formais

Consensuais ou não solenes são os contratos que independem de uma forma


especial; em geral se perfazem pelo simples acordo ou consenso das partes. Podem ser

celebrados inclusive de forma verbal.

Solenes ou formais são os contratos em que a lei exige uma forma especial. A falta
desta formalidade levará à nulidade do negócio. Ex: a compra e venda de bens imóveis exige

escritura pública e registro.

10.7.7 Contratos Reais

São os que se aperfeiçoam com a entrega da coisa. O depósito somente será


concretizado quando a coisa for realmente entregue, depositada. Outros exemplos: comodato,

mútuo, penhor, etc. Antes da entrega da coisa, tem-se apenas uma promessa de contratar e
não um contrato perfeito e acabado.

10.7.8 Contratos Principais ou Acessórios

Principais são os contratos que existem por si, exercendo sua função e finalidade

independente de outro. Ex: contrato de compra e venda, de locação, etc.

Acessórios são aqueles contratos cuja existência supõe a do principal, pois visam
assegurar sua execução. Ex: fiança.

10.7.9 Contratos Pessoais ou Impessoais

Contratos Pessoais (personalíssimos ou intuitu personae) são aqueles em que a pessoa

do contratante é considerada pelo outro como elemento determinante de sua conclusão.


Ex: Desejo que o advogado “Y” me defenda no Tribunal do Júri. Quero que o cirurgião “X” me

opere. Quero comprar um quadro do famoso pintor “Z”.

Contratos Impessoais são os que a pessoa do contratante é juridicamente


indiferente para a conclusão do negócio. Ex: Contrato uma empresa para pintar minha casa.
Tanto faz se o serviço for realizado pelo pintor “A” ou “B”.

23
10.8 Efeitos do Contrato

O contrato válido estabelece um vínculo jurídico entre as partes, sendo que, em

princípio, é irretratável unilateralmente. Ou seja, depois de celebrado, como regra, uma das
partes não pode simplesmente desistir do cumprimento do contrato.

Trata-se da aplicação do Pacta Sunt Servanda. Formado um contrato, assumidas as

obrigações, passamos ao cumprimento do seu conteúdo. Porém, um contrato pode produzir


diversos efeitos.

10.8.1 Exceção de Contrato Não Cumprido

Também é chamado de exceptio non adimpleti contractus. Nos contratos bilaterais (ou
sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir a sua
obrigação, exigir a do outro (art. 476, CC). Isso porque há uma dependência recíproca das

prestações que, por serem simultâneas, são exigíveis ao mesmo tempo.

Excepcionalmente será permitido, a quem incumbe cumprir a prestação em primeiro


lugar, recusar-se ao seu cumprimento, até que a outra parte satisfaça a prestação que lhe

compete ou dê alguma garantia de que ela será cumprida. No entanto, isso somente é
admissível quando, depois de concluído o contrato, sobrevier diminuição em seu patrimônio

que comprometa ou torne duvidosa a prestação a que se obrigou.

Em caso de rescisão, a parte lesada pelo inadimplemento (não cumprimento) da


obrigação pela outra parte pode pedir rescisão do contrato, acrescido de perdas e danos.

10.8.2 Direito de Retenção

É a permissão concedida pela norma ao credor de conservar em seu poder coisa

alheia, já que detém legitimamente, além do momento em que deveria restituir, até o
pagamento do que lhe é devido.

Digamos que uma pessoa foi possuidora de boa-fé de uma casa, durante quatro anos.
Nesse tempo realizou benfeitorias necessárias. No entanto o verdadeiro proprietário moveu
uma ação de reintegração de posse e acabou ganhando a ação. O possuidor, embora
24
estivesse de boa-fé, perdeu a ação; deve sair do imóvel. No entanto, tem o direito de ser
indenizado pelas benfeitorias necessárias que realizou no imóvel. E se a pessoa que ganhou a

ação não quiser indenizar? Ora, enquanto o possuidor não for indenizado pela benfeitoria
necessária que realizou, ele tem o direito de reter o imóvel até que seja ressarcido ou até o

tempo calculado sobre o valor da benfeitoria.

Devem estar presentes os seguintes requisitos:

 Detenção da coisa alheia;


 Conservação dessa detenção;

 Crédito líquido, certo e exigível do retentor, em relação de conexidade com a


coisa retida. Esse direito está assegurado a todo possuidor de boa-fé que tem

direito à indenização por benfeitorias necessárias ou úteis (art. 1.219, CC).

Segundo o STJ (Súm. 619), “A ocupação indevida de bem público configura mera detenção,
de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias”.

10.8.3 Revisão dos Contratos

Em princípio, os contratos devem ser cumpridos exatamente como foram estipulados


(pacta sunt servanda). No entanto, a obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-

se, excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de cumprimento a prazo ou em


prestações sucessivas, quando uma das partes vem a ser prejudicada sensivelmente por uma
alteração imprevista da conjuntura econômica.

A finalidade é restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro entre os contratantes,


lastreada na chamada Teoria da Imprevisão. Segundo ela, somente permanece o vínculo
obrigatório gerado pelo contrato enquanto ficar inalterado o estado de fato vigente à época
da estipulação. Se for alterado o estado de fato, permite-se também a alteração do contrato,

25
ficando a parte liberada dos encargos originários, sendo que o contrato pode ser revisto ou
rescindido.

Esta cláusula implícita é conhecida pela expressão rebus sic stantibus (tentando fazer

uma tradução literal teríamos: “o mesmo estado das coisas”; “as coisas ficam como estão”;
“pelas coisas como se acham”).

Para se tornar viável a extinção (ou revisão) do contrato por onerosidade excessiva, o

Juiz, em cada caso, sempre deve verificar a ocorrência dos seguintes elementos:

 Vigência de um contrato comutativo (as prestações são conhecidas e equivalentes


entre si).

 Ocorrência de alteração das condições econômicas após a celebração do contrato.


 A alteração da situação foi imprevisível e extraordinária.

 Onerosidade excessiva para uma das partes na execução do contrato nas

condições originalmente estabelecidas.

Como regra, a resolução por onerosidade excessiva cabe nos contratos bilaterais (ou
sinalagmáticos), como na compra e venda. Porém o art. 480, CC dispõe que se no contrato as

obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja
reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

10.8.4 Estipulação em Favor de Terceiro

Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar nem beneficiar a terceiros,

atingindo apenas as partes que nele intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse
princípio não é absoluto, podendo favorecer terceiros (nunca criando obrigações ou

prejudicando). Ex: A (estipulante) compra uma casa de B (promitente) para que este a
entregue para C (beneficiário). C não é parte do contrato, no entanto é o favorecido pelo

mesmo.

Neste caso, tanto o que estipula a cláusula (estipulante) como o terceiro (beneficiário)
tem o direito de exigir do promitente o cumprimento da obrigação.

26
10.8.5 Vício Redibitório

Nos contratos bilaterais em que há a transferência da posse, uma parte deve garantir a
outra que essa possa usufruir o bem conforme sua natureza e destinação (contratos de

compra e venda, locação, comodato, doação com encargos etc.).

Por seu turno, vícios redibitórios4 são falhas ou defeitos ocultos existentes na coisa
alienada, objeto de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destinam

ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se
esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente direito para redibir (devolver a coisa

defeituosa) ou para obter abatimento no preço.

O alienante (o vendedor) é o responsável, mesmo alegando que não conhecia o


defeito, trata-se da responsabilidade objetiva (respondendo independente de culpa), exceto se

o contrário estiver previsto no contrato.

Há responsabilidade do alienante mesmo que a coisa pereça apenas na posse do


adquirente, mas o vício oculto já existia antes da tradição (art. 444, CC).

Por outro lado, não há responsabilidade do alienante se o adquirente sabia que a

coisa era defeituosa e mesmo assim quis recebê-la. Também não há responsabilidade se o
vício se deu por causa posterior à entrega.

O bem adquirido em hasta pública não se pode redibir, nem pedir abatimento do

preço. No entanto, se a aquisição do bem aconteceu em um leilão de arte ou em uma


exposição de animais, a responsabilidade subsiste.

Os contratos objeto do vício redibitório são os comutativos (ex.: compra e venda) e

os de doação com encargo (doações em que o beneficiário, para receber o bem doado,
assume algum ônus).

 Decadência

4
Vide questão 5
27
Nos negócios regulados pelo Código Civil, o art. 445 do mesmo código estabelece que
o prazo de reclamação e propositura das ações acima citadas, contado da entrega efetiva

(tradição), são de:

PRAZO HIPÓTESES

30 (trinta) dias Bens móveis

01 (um) ano Bens imóveis

15 (quinze) dias ou Se o comprador já estava na posse do bem móvel

para imóveis quando foi realizada a venda

06 (seis) meses Se o comprador já estava na posse do bem imóvel


quando foi realizada a venda

Quando o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo conta-se a partir do instante em

que dele tiver ciência, até o máximo de 180 (cento e oitenta) dias, se tratar de móveis, ou
de 01 (um) ano, se tratar de imóveis.

 Código de Defesa do Consumidor

A Lei no 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor – CDC) possui normas de ordem

pública e de interesse social, atendendo disposições constitucionais que atribuem ao Estado


à defesa do consumidor.

A responsabilidade prevista no CDC é objetiva (independente de culpa) e solidária

(entre o fabricante e o comerciante). Vejam a diferença: se uma pessoa adquire um bem de


um particular, a reclamação rege-se pelo Código Civil; mas, se ela adquiriu de um

comerciante, rege-se pelo Código de Defesa do Consumidor.

Lembre-se que o CDC tem uma abrangência maior: considera como vícios tanto os
defeitos ocultos na coisa como também os aparentes ou de fácil constatação. Além disso, o

28
defeito pode estar na coisa ou no serviço prestado. Há também uma diferença na
nomenclatura: no CC chamamos de vícios redibitórios (arts. 441/446); no CDC (arts. 18 a 26)

chamamos de vícios do produto.

No entanto, a doutrina costuma afirmar que existe um “diálogo das fontes” entre o CC
e o CDC, pois há uma conexão entre ambos, sendo que um sistema complementa o outro,

especialmente no que diz respeito aos princípios contratuais, possibilitando maiores benefícios
e mecanismos de defesa para o consumidor.

Os prazos são decadenciais, contados a partir da data da entrega efetiva do produto

ou do término da execução dos serviços. Observem que também são diferentes dos prazos
estabelecidos no Código Civil.

Há uma crítica da doutrina quanto aos prazos, pois eles são menores do que no CC:

Prazo Hipóteses

30 (trinta) dias Produtos não-duráveis: desaparece facilmente com o

consumo (ex.: gêneros alimentícios)

Produtos duráveis: não desaparece facilmente com o


90 (noventa) dias consumo, possuindo um ciclo de vida ou de utilização

mais longo (ex.: eletrodomésticos, automóveis etc.)

O CDC também estabelece que fornecedores, quando efetuada a reclamação direta, têm

prazo máximo de trinta dias para sanar o vício. Não o fazendo pode o consumidor exigir
alternativamente:

 Substituição do produto.

 Resolução do contrato: restituição da quantia paga (e, dependendo do caso,


acrescido de perdas e danos); não há necessidade de se provar a má-fé do

alienante, pois presume-se a boa-fé do consumidor.

 Abatimento proporcional do preço.

29
10.8.6 Evicção

Como vimos, o alienante tem o dever de garantir ao adquirente a posse justa da coisa
transmitida, defendendo-a de eventuais pretensões de terceiros.

Por isso, a lei a protege de eventual evicção. Evicção é a perda da propriedade de

uma coisa para terceiro, em razão de ato jurídico anterior e em virtude de uma sentença
judicial (evincere = ser vencido).

A evicção supõe a perda total ou parcial da coisa, em mão do adquirente, por ordem

do Juiz, que a defere a outrem. Exemplo clássico: A vende para B uma fazenda. Quando B
toma posse do imóvel percebe que uma terceira pessoa (C) já detém a posse daquele imóvel

há muitos anos. B Tenta tirar C do imóvel. Mas este além de não sair ainda ingressa com uma
ação de usucapião. Caso C obtenha a sentença judicial de usucapião, B perderá o imóvel.

Vejam: B pagou pelo imóvel e o perdeu em uma ação judicial. Isto é a evicção. Na hipótese
concreta, A fica obrigado a indenizar B. Observem neste exemplo que:

 A → é o alienante, aquele que transferiu a coisa viciada, de forma onerosa. Em

regra, ele não tem conhecimento de que coisa era litigiosa.


 B → é o evicto (adquirente ou evencido), aquele que perdeu a coisa adquirida, em

virtude da sentença judicial.


 C → é o evictor (ou evencente), aquele que adquiriu a coisa porque ganhou a ação

judicial.

Toda pessoa, ao transferir o domínio, a posse, ou o uso a terceiro, nos contratos

onerosos, deve resguardar o adquirente contra os riscos de evicção. Trata-se de uma


obrigação de fazer, a cargo do alienante, que nasce com o próprio contrato. Se ocorrer a

evicção estamos diante de uma inexecução contratual, pois eu paguei pela coisa e não a
recebi; ou a recebi, mas perdi logo a seguir por determinação judicial.

 Direitos do Evicto

 Restituição integral do preço pago.


 Restituição das despesas com o contrato.

30
 Todos os prejuízos decorrentes da evicção (o evicto deve provar quais foram
as perdas e danos).

 Indenização dos frutos que for obrigado a restituir.


 Obter o valor das benfeitorias necessárias e úteis que não lhe forem pagas

pelo evictor.

 Custas judiciais, honorários advocatícios e demais despesas processuais.

A evicção pode ser total ou parcial. A parcial ocorre quando a perda é inferior a 100%
do valor da coisa. Já o art. 455, CC fala em evicção parcial considerável e não-considerável.

Mas não estabelece porcentagem para cada caso. Portanto, tudo vai depender do bom senso
do Juiz em um caso concreto.

O adquirente deve, assim que for instaurado contra si o processo judicial, chamar o

alienante para integrar o processo (art. 456, CC). Trata-se de um instituto de Direito Processual
Civil. É a chamada denunciação a lide. Ela é obrigatória para que o evicto (adquirente) possa

ao menos ser reembolsado daquilo que pagou pela propriedade, sem receber a coisa. Se
assim não proceder (não denunciar a lide) perderá os direitos decorrentes da evicção, não
mais dispondo de ação direta para exercitá-los. A denunciação se justifica posto que o

alienante precisa saber da pretensão do terceiro reivindicante, uma vez que irá suportar as
consequências da decisão judicial.

10.9 Extinção da Relação Contratual

Há uma grande divergência doutrinária sobre as terminologias referentes aos modos

extintivos dos contratos, pois não há sistematização legal. Adotamos o sistema da Professora
Maria Helena Diniz, pois é o que vem caindo nos concursos.

O adimplemento (também chamado de execução, cumprimento ou satisfação

obrigacional) do contrato é o modo normal de extinção do mesmo. O devedor executa a


prestação e o credor atesta o cumprimento através da quitação (prova de que houve o
pagamento). Se a quitação não lhe for entregue ou se lhe for oferecida de forma irregular, o
devedor poderá reter o pagamento (sem que se configure a mora) ou efetuar a consignação
em pagamento.

31
No entanto, um contrato pode ser extinto antes de seu cumprimento, ou no decurso
deste. São as chamadas causas anteriores ou contemporâneas ao nascimento do contrato ou

supervenientes à sua formação.

Costuma-se dizer então que Rescisão é o gênero. As demais nomenclaturas seriam as


espécies. Vejamos:

10.9.1 Causas Anteriores ou Contemporâneas

As causas anteriores são divididas em duas:

 Nulidades: trata-se da não-observância de normas jurídicas atinentes a seus


requisitos subjetivos, objetivos e formais (capacidade, objeto, consentimento, forma,
etc.). Ex: se uma pessoa menor de 16 anos realiza um contrato, ou este tem por

objeto algo ilícito, temos a nulidade do contrato (arts. 166 e 167, CC).
 Arrependimento: previsto no próprio contrato, quando os contraentes estipulam

que o mesmo será rescindido, mediante declaração unilateral de vontade, se

qualquer deles se arrepender.

10.9.2 Causas Supervenientes

As causas supervenientes são divididas em seis:

 Resolução por inexecução voluntária: a prestação não é cumprida por culpa do

devedor. Sujeita o inadimplente ao ressarcimento por todas as perdas e danos


materiais e morais.
 Resolução por inexecução involuntária: a prestação não é cumprida, sem que haja

culpa do devedor, nos casos de força maior ou caso fortuito. Não há indenização
por perdas e danos; tudo volta como era antes; se houve qualquer tipo de

pagamento, a quantia deve ser devolvida.


 Resolução por onerosidade excessiva: evento extraordinário e imprevisível, que

impossibilita ou dificulta extremamente o adimplemento do contrato. Trata-se da


aplicação da Teoria da Imprevisão (cláusula rebus sic stantibus). Provadas as
condições pode haver a rescisão contratual ou a revisão das prestações. Têm-se

32
entendido que, em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos,
deve-se conduzir, sempre que possível, à revisão dos contratos e não à resolução.

 Resilição bilateral ou distrato: trata-se de um novo contrato em que ambas as


partes, de forma consensual, acordam pôr fim ao contrato anterior que firmaram.

O distrato submete-se às mesmas normas e formas relativas ao contrato,


conforme o art. 472, CC.
 Resilição unilateral: há contratos que admitem dissolução pela simples declaração

de vontade de uma das partes (também chamada de denúncia vazia). Só ocorre


excepcionalmente. Os exemplos clássicos ocorrem no mandato, no comodato e no

depósito. Assume a feição de resgate, renúncia ou revogação. Quem revoga é o


mandante, comodante ou depositante. Quem renuncia é o mandatário, comodatário

ou depositário.
 Morte de um dos contraentes: como regra, morrendo um dos contratantes, a

obrigação se transmite aos seus herdeiros, até o limite das forças da herança. No
entanto, nas obrigações personalíssimas (intuitu personae) a morte é causa

extintiva do vínculo.

33
11. Contratos em Espécie

O tema “contratos em espécie” é um tema com bastante incidência no exame da ordem

e, portanto, deve ser estudado com bastante atenção.

11.1 Compra e Venda

Um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a

pagar-lhe o preço em dinheiro. O contrato não transfere a propriedade da coisa. A


propriedade é transferida pela tradição ou registro. O contrato somente cria a obrigação de

uma transferência da coisa5.

A compra e venda é contrato translativo, em que a parte se compromete a transferir o


bem. Logo, o contrato de compra e venda, por si só, não transmite a propriedade, que se dará

com o registro ou tradição.

A fixação do preço poderá ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo
designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem

efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes em designar outra pessoa.

É nulo o contrato de compra e venda quando se deixar o arbítrio do preço a apenas

uma das partes. Não sendo a venda a crédito, não é obrigado o credor a entregar a coisa
antes de receber o preço.

11.1.1 Elementos

Os elementos do contrato de compra e venda são a coisa, o preço e o consenso. Não


se transfere o domínio. Este é transferido pela tradição (bens móveis) ou pelo registro do

título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis).

 Coisa (res): é o bem corpóreo, material.

5
Vide questão 6
34
A coisa deve ser lícita, possível, determinada ou determinável, sob pena de nulidade
absoluta. Ainda, a compra e venda pode ter como objeto coisa atual ou futura (venda sob

encomenda).

Se a coisa vier a não existir, a compra e venda será ineficaz, não ser que se trate de
contrato aleatório (emptio spei, art. 483), que é exceção.

A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que

haja o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado


sob o regime de separação obrigatória (art. 496, CC), sob pena de anulação do ato. Essa

venda poderia simular uma doação em prejuízo dos demais herdeiros, que poderá ser
pleiteada no prazo de dois anos, a contar da data do ato.

 Consenso (consesus): as partes devem ser capazes, sob pena de invalidade da

compra e venda, devendo ser observadas as regras de legitimação para a compra e


venda.

 Outorga uxória: para a venda de imóvel, salvo no caso de separação absoluta


de bens (a convencional). A falta de outorga gera anulabilidade da compra e
venda, com prazo decadencial de 2 anos contados da dissolução da sociedade

conjugal.
 Venda de ascendente para descendente: há necessidade de autorização dos

demais descendentes e do cônjuge do vendedor.


 Preço (pretium): é a remuneração da compra e venda, devendo ser expressa em

moeda nacional corrente (reais) pelo valor nominal, em razão do princípio do


nominalismo, sob pena de nulidade.

 Preço injusto: indício de fraude;


 Preço fictício: descaracteriza o contrato para doação;
 Preço por cotação (art. 486 e 487): fixado conforme índices e parâmetros,
inclusive por taxa de mercado ou de bolsa, também se poderá deixar a fixação
do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar;
 Preço por arbitramento ou por avaliação: arbitrado por terceiro que tenha
confiança das partes, porém não pode confiado exclusivamente a uma das
partes;
35
 Preço tabelado e preço médio: tem que seguir uma ordem, se não houver
preço estipulado pelas partes:
o Preço tabelado;
o Vendas habituais;
o Preço médio (juiz);
 Preço unilateral (art. 489): é nulo o contrato quando se deixa ao arbítrio
exclusivo de uma das partes.

11.1.2 Venda de coisa comum ou venda de bem indivisível em


condomínio

Nesse caso, é um direito de preempção/preferência legal em favor do condômino, seja


móvel ou imóvel, devendo haver igualdade de condições ‘tanto por tanto’.

O condômino preterido pode entrar com ação adjudicatória ou anulatória, inclusive

contra terceiros, sendo uma ação de preferência de natureza real, tem que depositar o preço,
com prazo decadencial de 180 dias, a partir da ciência da venda.

Assim, dispõe o art. 504:

Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos,
se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der
conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de
maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais,
haverão a parte vendida os coproprietários, que a quiserem, depositando previamente o
preço.

Havendo pluralidade de condôminos com preferência, a ordem de preferência será:

 Quem tem benfeitorias de maior valor.


 Quem tenha quinhão maior.
 Quem depositar primeiro.

36
11.1.3 Venda por medida ou por extensão – venda ad mensuram

No caso de venda de imóveis, pode-se estabelecer que a área do imóvel não é


meramente enunciativa (venda ad corpus - a metragem não é considerada), tratando-se,

desta forma, de um fator determinante do negócio jurídico.

 Dimensões são imprecisas, simplesmente


enunciativas;
VENDA AD CORPUS
 Presunção enunciativa quando a diferença não
exceder a 1/20 (5%);

Trata-se venda especificada, detalhada por indicação


de preço e medida de extensão.
Proteção especial do comprador (artigo 500,
caput):
 Ação ex empto – complemento da área.
(Prioritária)
 Redibitória – Resolução do contrato.
 Estimatória – Abatimento no preço.
Como a ação ex empto é prioritária, a ações
VENDA AD MENSURAM
redibitória e estimatória somente em caso de não
ser possível a complementação da área.
Na venda ad mensuram, se houver uma variação
considerável na área, estará presente um vício
redibitório especial.
Por fim, o § 1o do artigo 500, traduz a ideia de que
se a margem de erro é apenas de 5%, o comprador
não poderá ingressar em juízo, salvo se provar que
sem esse percentual não teria realizado a compra.

Veja a integralidade do dispositivo legal:


37
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão – ad
mensuram –, ou se determinar a respectiva área – ad corpus –, e esta não
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito
de exigir o complemento – ação ex rempto – da área, e, não sendo isso possível, o de
reclamar a resolução – ação redibitória – do contrato ou abatimento proporcional ao
preço – ação estimatória.

§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa – ad


mensuram –, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo 1/20 (5%) da
área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais
circunstâncias, não teria realizado o negócio.

§ 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para
ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha,
completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso.

§ 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for


vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às
suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.

Vejamos as situações que podem ocorrer:

 Faltar área: o comprador prejudicado poderá pleitear:


 Complementação da área: ação ex empto;
 Abatimento no preç: ação quanti minoris;
 Resolução + devolução das quantias, com perdas e danos, se houver má-fé:
ação redibitória.
 Excesso de área: o vendedor comprovar que tinha motivos para ignorar a
variação dessa área, podendo ingressar em juízo. Assim, ocomprador terá duas
opções:
 Completar o preço;
 Devolver o excesso;

De acordo com o art. 501 estabelece o prazo decadencial para todas essas ações, sendo

de 1 ano a contar do registro do título, sendo o prazo de decadência é impedido ou


suspenso se houver invasão do imóvel.

Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o


vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do
título.

38
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante,
a partir dela fluirá o prazo de decadência.

11.1.4 Cláusulas especiais (pactos adjetos)

 Retrovenda: o vendedor de imóvel pode reservar-se o direito de recobra-la


(propriedade resolúvel), no prazo decadencial máximo de 3 anos, restituindo o

valor recebido, mais as despesas do comprador autorizadas por escrito pelo


vendedor e as realizadas com as benfeitorias necessárias;
 Do direito de preferência: estipulada a cláusula de preferência, ao comprador

compete oferecer ao vendedor a coisa, se decidir vendê-la, para que este, usando
do se direito de preferência, decida se a quer. PRAZO: 180 dias, sendo a coisa

móvel; dois anos, se imóvel.


De acordo com o STJ, o direito de preferência previsto no artigo 504 do CC aplica-se ao

contrato de compra e venda celebrado entre condômino e terceiro, e não àquele ajustado
entre condôminos (Resp. 1.137.176 – PR). Neste sentido, se a coisa for oferecida à condômino,

o outro não poderá exercer seu direito de preferência, pois este só é cabível se a venda é feita
a terceiro.

 Venda a contento: o negócio somente se perfaz se o comprador se declarar

satisfeito (condição suspensiva), ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não
se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.

Venda a contento X Venda sujeita a prova: na venda a contento a coisa ainda não é

conhecida, na venda sujeita à prova a coisa já é conhecida. Os efeitos são os mesmos (arts.
509, 510 e 511, CC). Antes da aprovação, o comprador equivale ao comodatário. A ação

cabível para reaver o bem é Reintegração de posse.

39
 Preempção: o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa móvel ou
imóvel, caso for vendê-la a terceiro, para que se exerça o direito de prelação

(preferência) em igualdade de condições.

Não pode o condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte
a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,

depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranho, se o requerer no prazo de 180

dias, sob pena de decadência.

 Reserva de domínio6: o vendedor reserva para si a propriedade do bem até que

se realize o pagamento integral do preço.

11.2 Doação

11.2.1 Conceito

O doador transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o donatário, sem a

presença de qualquer remuneração. Trata-se de ato de mera liberalidade, sendo um


contrato benévolo, unilateral e gratuito (exceções: doação remuneratória e a contemplativa
de casamento).

Além de ser um contrato gratuito e unilateral, a doação possui as seguintes


características:

 O contrato é consensual, pois tem aperfeiçoamento com a manifestação de

vontade das partes.


 A doação é contrato comutativo, pois as partes sabem de imediato quais são as
prestações.

6
Vide questão 8
40
 O contrato de doação é formal, podendo ser por escritura pública ou instrumento

particular, a depender do bem que for transferido.

11.2.2 Elementos

São 4 os elementos da doação: sujeitos (doador e donatário), objeto, mútuo


consentimento, forma.

 Sujeitos (doador e donatário):

Sobre o tema, a doação feita a descendente importa adiantamento de herança,

devendo este, no curso do inventário, colacionar o bem dado em doação, sob pena de
caracterizar sonegação (artigo 2.002 do CC/02).

 Doação inoficiosa: doação de bens que atingem a legítima dos herdeiros


necessários. Nestes casos, será nula a parte da doação que ultrapasse a
metade dos bens do de cujos, sendo possível o ajuizamento de ação de

redução, no prazo de 10 anos.


Importante frisar que, de acordo com o STJ, a análise sobre o excesso da doação é

apurada levando-se em conta o patrimônio do doador ao tempo da doação, e não na data


da abertura da sucessão. 7

Enunciado 119, jornada de direito civil: 119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem
causa, a colação será efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do caput

do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao
patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se

fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014

7
STJ. AR 3.493 - PE
41
do CPC, de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se
constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática do art. 2.004 e

seus parágrafos, juntamente com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).

 Doação à concubina (art. 550, CC): é causa de anulabilidade, contando-se o


prazo de 2 anos da data da dissolução do casamento, para o cônjuge ou os

herdeiros necessários.

 Objeto: lícito, possível, determinado e determinável


 Mútuo consentimento: Além da intenção do doador, de ceder o bem a outro, é
necessária a aceitação do donatário, podendo ser expressa ou tácita, no caso de
doação pura, e expressa no caso de doação onerosa. Por ser negócio jurídico
benéfico, nos termos do artigo 114 do CC, a interpretação do contrato é feita de
forma restritiva.
 Forma: o ato será feito por meio de escrito público ou particular, mas será
permitida a doação verbal, quando a coisa a ser doada se tratar de bem móvel de
pequeno valor.

11.2.3 Natureza Jurídica

 Unilateral;
 Bilateral, no caso de doação modal, pois ocorre uma imposição para aquele que
recebe bens ou vantagens de um ônus;
 Gratuito, em regra, pois, em caso de doação modal, será considerada onerosa;
 Consensual;
 Real, quando envolver bem de pequeno valor + tradição;
 Comutativo;
 Formal e solene quando a doação de bem imóvel for acima de 30 salários mínimos;
 Formal, mas não solene quando não for necessária a escritura pública.

11.2.4 Espécies

 Doação remuneratória: é aquela feita em caráter de retribuição por um serviço


prestado pelo donatário, mas cuja prestação não pode ser exigida pelo último.

42
Assim, não constitui ato de liberalidade, havendo remuneração por uma prestação
de serviços executada pelo donatário;
 Doação contemplativa ou meritória8: a doação contemplativa é aquela feita em
contemplação a um merecimento do donatário. O doador expressamente
determina quais são os motivos que o fizeram decidir pela celebração do contrato
de doação.
 Doação a nascituro: a doação feita ao nascituro valerá, devendo ser aceita pelo
seu representante legal (pais ou por aquele incumbido de cuidar dos seus
interesses, nesse último caso, com autorização judicial). Além disso, a eficácia do
contrato depende do nascimento com vida do donatário, havendo uma doação
condicional, já que se o donatário não nascer com vida, caduca a liberalidade;
 Doação sob forma de subvenção periódica: é doação de trato sucessivo, em que
o doador estipula rendas a favor do donatário (art. 545 do CC). Por regra, terá
como causa extintiva a morte do doador ou do donatário, contudo pode ultrapassar
a vida do doador, havendo previsão contratual nesse sentido, contudo em hipótese
alguma, poderá ultrapassar a vida do donatário, sendo eventual cláusula nesse
sentido revestida por nulidade virtual (art. 166, VII, do CC).
 Doação em contemplação de casamento futuro: é chamada de doação propter
nuptias é em contemplação de casamento futuro com pessoa certa e determinada.
Trata-se de uma doação condicional, com condição suspensiva, pois o contrato
não gera efeitos enquanto o casamento não se realizar.
 Doação com cláusula de reversão: é a doação com cláusula de reversão (ou
cláusula de retorno), em que o doador estipula que os bens doados voltem ao seu
patrimônio se sobreviver ao donatário (art. 547 do CC). Trata-se de uma condição
resolutiva expressa, com o intento do doador de beneficiar apenas o donatário
(cláusula intuitu personae) e não os seus sucessores, já que é vedado a doação
sucessiva;
 Doação conjuntiva: é aquela que conta com a presença de dois ou mais donatários
(art. 551 do CC), presente uma obrigação divisível. Em regra, incide uma presunção
relativa (iuris tantum) de divisão igualitária da coisa em quotas iguais entre os
donatários. Por regra, não há direito de acrescer entre os donatários na doação

8
Vide questão 9
43
conjuntiva, assim, havendo o falecimento um deles, sua quota será transmitida
diretamente a seus sucessores e não ao outro donatário;
 Doação manual: a doação de bem móvel de pequeno valor pode ser celebrada
verbalmente, desde que seguida da entrega imediata da coisa (tradição). A
doação é um contrato consensual em que se exige a forma escrita, por regra,
sendo a doação manual uma exceção a essa regra.
 Doação inoficiosa: é nula a doação quanto à parte que exceder o limite de que o
doador (correspondente a 50% do patrimônio do disponente), no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento;
 Doação universal: nula é a doação de todos os bens, sem a reserva do mínimo
para a sobrevivência do doador, sendo é vedada expressamente pela lei (nulidade
textual);
 Doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice: é anulável a doação do cônjuge
ao seu cúmplice, desde que proposta ação anulatória pelo outro cônjuge ou
pelos seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade
conjugal.
 Doação à entidade futura: A lei possibilita a doação a uma pessoa jurídica que
ainda não exista, condicionando a sua eficácia à regular constituição da entidade,
porém, se não estiver constituída no prazo de dois anos contados da efetuação da
doação, caducará essa doação.

PROMESSA DE DOAÇÃO: consoante a VI Jornada de Direito Civil (2013), aprovou-se o


Enunciado n. 459, o qual determina que: “a promessa de doação no âmbito da transação

constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código
Civil”. Assim, desde que válida e eficaz, observados os princípios gerais que regem o contrato

preliminar, o futuro beneficiário possui o direito de exigir o cumprimento da promessa de

doação da coisa, pois a intenção de praticar a liberalidade já ocorreu desde a celebração.

44
11.2.5 Revogação da doação (art. 551, CC)

Trata-se de um direito potestativo a favor do doador, podendo ocorrer de duas formas:


por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo/modo, quando o donatário

incorrer em mora.

 Inexecução do encargo: Legitimados: doador e herdeiros; prazo prescricional: 10


anos;
 Ingratidão do donatário: prazo decadencial de 1 ano. Os legitimados, no caso de
ingratidão, também são os herdeiros ou o doador. No entanto, não cabe revogação
por ingratidão, quando a doação for: onerosa com encargo já cumprido,
remuneratória, em cumprimento de obrigação natural e contemplativa de
casamento.

Trata-se de matéria de ordem pública e o art. 557 do CC traz um rol exemplificativo


(Enunciado n. 33 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil: “o Código Civil vigente

estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por ingratidão, pois o rol legal do
art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo outras hipóteses”). Ademais, o art. 558 do CC

também alude pode ocorrer a revogação por ingratidão quando ofendido for cônjuge,
ascendente, descente ou irmão (CADI) do doador.

 Ingratidão9 seria:
o Homicídio doloso (tentado ou consumado),

o Ofensa física,

o Injúria grave,

o Abandono material.

Assim, independentemente da causa, o ato de ingratidão ser de especial gravidade a

9
Enunciado 33 - Art. 557: o novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por
ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo, excepcionalmente, outras
hipóteses. (Trata-se da tipicidade finalística)

45
fim de fundamentar a revogação e consequente ineficácia da doação. Ainda, ocorrendo a
revogação, não haverá prejuízos aos direitos adquirido por terceiros, porém, deverá ser

pleiteada dentro de 1 ano a partir da ciência do ato de ingratidão ao doador.

Ainda sobre o tema, insta frisar que não estão sujeitas à revogação as doações
remuneratórias, as indenizatórias, as feitas para determinado casamento, bem como as que

tiveram objetivo de cumprir obrigação natural.

 É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento


procuratório concedido pelo proprietário do bem não mencionar o donatário, sendo
insuficiente a declaração de poderes gerais na procuração.
 A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou
testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a
morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido
bem, observada a ordem de vocação hereditária.
 Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilha da
integralidade de seus bens em favor de seus descendentes e herdeiros necessários,
por meio de escritura pública de doação nas quais ficou consignado o
consentimento de todos eles e, ainda, a dispensa de colação futura, a alegação de
eventual prejuízo à legítima em decorrência da referida partilha deve ser pleiteada
pela via anulatória apropriada.
 O filho do autor da herança tem direito de exigir de seu irmão a colação dos bens
que receberam via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer
tenha sido concebido ao tempo da liberalidade.
 O herdeiro que cede seus direitos hereditários possui legitimidade para pleitear a
declaração de nulidade inoficiosa (artigo 549 do Código Civil) realizada pelo autor
da herança em benefício de terceiro.
 No regime de comunhão parcial de bens, não integra a meação o valor recebido
por doação na constância do casamento – ainda que inexistente cláusula de
incomunicabilidade – e utilizado para a quitação de imóvel adquirido sem a
contribuição do cônjuge não donatário.

46
11.3 Locação

11.3.1 Conceito

É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra

(locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não
fungível, mediante certa remuneração (aluguel – art. 565, CC). Se houver mais de um locador

ou locatário, entende-se que são solidários, se o contrato não estipulou o contrário.

11.3.2 Natureza jurídica

 Bilateral/sinalagmático;
 Oneroso;
 Comutativo;
 Consensual;
 Informal;
 Não solene;
 Determinado/indeterminado;
 Execução continuada (ou de trato sucessivo);

Trata-se de contrato com obrigações recíprocas, há a presença de remuneração que é


o aluguel, as partes já sabem quais são as prestações, aperfeiçoa-se com a manifestação de

vontades, não é necessária escritura pública ou forma escrita, e ainda, o cumprimento do


contrato se protrai no tempo na maioria das hipóteses fáticas.

Ademais, como se trata de um contrato não solene, ele poderá ser celebrado de

qualquer forma, inclusive a verbal, pode ser por prazo determinado ou indeterminado, e no
silêncio das partes, deve-se concluir que o prazo é indeterminado.

11.3.3 Regras do contrato de locação

A locação de imóvel urbano é regulada pela Lei n° 8.245/91.

47
O locador só pode exigir uma das seguintes garantias sob pena de nulidade: a) caução
(máximo 03 meses); b) fiança; c) seguro-fiança locatícia; d) cessão fiduciária de quotas de

fundo de investimento.

No caso de alienação o locatário tem direito de preferência para adquirir o imóvel em


igualdade de condições com terceiros.

O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa, com todas as suas pertenças e

em condições de ser utilizada, manter o bem nesse estado na vigência da locação e garantir o
seu uso pacífico, nos termos do pactuado (art. 566, I e II, do CC).

Não cabe sua renúncia do contrato por força do instrumento contratual. Tratando-se

de contrato por prazo determinado, a locação cessará de pleno direito com o término do
prazo estipulado e independentemente de qualquer notificação ou aviso. Assim, em regra, a

possibilidade de denúncia vazia, ou seja, aquela sem fundamento sem qualquer motivo (art.
573 do CC). Trata-se de hipótese de resilição unilateral, já que a lei reconhece esse direito

potestativo de extinguir o contrato à parte contratual (art. 473, caput, do CC).

Em caso de término do prazo da locação, se o locatário continuar na posse da coisa


alugada, sem oposição do locador, será presumida a prorrogação da avença sem prazo

determinado, com o mesmo aluguel, conforme dispõe o art. 574 do CC.

Assim, a qualquer tempo e desde que vencido o prazo do contrato, poderá o locador
notificar o locatário para restituir a coisa, através da denúncia vazia, sendo uma resilição

unilateral.

Durante o prazo convencionado não poderá o locador reaver o imóvel alugado; o


locatário poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada. O locatário poderá denunciar a

locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência
mínima de trinta dias.

48
11.4 Empréstimo

11.4.1 Conceito

É o contrato por meio do qual alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente,

obrigando-se este a devolver a mesma coisa ou devolver outra da mesma espécie e


quantidade.

11.4.2 Natureza jurídica

 Unilateral
 Gratuito
 Real
 Comutativo
 Informal
 Não solene
 Personalíssimo (intuito personae)
 Temporário

Trata-se de um contrato em que há deveres para apenas uma das partes, sendo um

contrato, em regra, com prestação sem contraprestação, porém, de maneira excepcional, é


admitido o empréstimo oneroso.

As prestações são previamente conhecidas pelas partes, não se exigindo a forma escrita
nem mesmo escritura pública, já que se baseia na confiança (fidúcia). No contrato de

empréstimo, não há perpetuidade, já que o bem deve ser devolvido, o prazo pode ser
determinado pelas partes.

11.4.3 Modalidades

São duas modalidades:

 Comodato: empréstimo de uso em que o bem emprestado deverá ser restituído,


não podendo ser fungível ou consumível (infungível/inconsumível) (uma casa).

49
Não restituindo o bem, o comodante pode ingressar com ação de reintegração de
posse e cobrar aluguel.

 Mútuo: empréstimo de consumo em que o bem usado, sendo fungível ou


consumível, não poderá ser devolvido e a restituição será em seu equivalente, por

outra coisa da mesma espécie, qualidade e quantidade (um quilo de feijão). Pode

ser gratuito ou oneroso (feneratício).

11.4.4 Comodato

Trata-se do contrato pelo qual alguém entrega a outra pessoa uma coisa infungível
para ser utilizada por determinado tempo e devolvida findo o contrato. O comodato pode ter

como conteúdo bens imóveis ou móveis.

Os sujeitos do contrato são: comodante (empresta a coisa) e comodatário (recebe a


coisa). De acordo com o art. 580 do CC, os tutores, curadores e em geral todos os

administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial,
os bens confiados à sua guarda, o que acarreta a nulidade absoluta.

O Código Civil, no art. 581, determina sobre a retomada do bem que, se o comodato

não tiver prazo convencional, será presumido o necessário para o uso concedido; não
podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz,

suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que
se determine pelo uso outorgado.

Para que ocorra a retomada do bem, caberá Ação de Reintegração de Posse cujo prazo

dependerá se houver fixado um prazo ou não:

 Fixado prazo convencional: findo o prazo, a mora do comodatário será automática


ou ex re, não havendo a necessidade de notificação prévia do comodatário;

 Sem prazo convencional: a coisa será utilizada conforme sua natureza.


Diferentemente de quando haver fixação de prazo, quando findar a utilização da

coisa, o comodante deverá notificar o comodatário para que o mesmo a devolva,


constituindo-o em mora (ex persona), ingressando com a ação de reintegração de

posse apenas após esse prazo.


50
O art. 582 dispõe sobre as obrigações do comodatário, sendo o seguinte: o
comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não

podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder
por perdas e danos.

Trata-se, assim, de uma responsabilidade subjetiva do comodatário. Ainda, se

constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que
for arbitrado pelo comodante.

Aquele que ao invés de conservar o bem emprestado, resolve proteger o seu bem

próprio, responde por caso fortuito e força maior, é denominado de comodatário egoísta.
Ainda, de acordo com o art. 583, se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com

outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante,


responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior.

Ademais, o art. 584 dispõe que o comodatário não poderá jamais recobrar do

comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.

11.4.5 Mútuo

Trata-se do empréstimo de coisas fungíveis, sendo que o mutuário é obrigado a


restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, mesma qualidade e

mesma quantidade.

Assim, de acordo com o art. 586, o mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, sendo o

mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade.

Os sujeitos do contrato são: mutuante (aquele que cede) e mutuário (aquele que

recebe). Trata-se de um contrato translativo e real, transmitindo a propriedade da coisa, a


partir da tradição (entrega efetiva), assim, de acordo com o art. 587, o mútuo transfere o

domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a
tradição (res perit domino).

51
Conforme dispõe o art. 588, sem autorização dos responsáveis, o mútuo a menor gera

uma obrigação natural ou incompleta, já que a dívida existe, mas não pode ser exigida.
Porém, uma exceção é que não se tem uma obrigação natural/incompleta, mas uma
obrigação completa.

De acordo com o art. 589, cessa a regra anterior nos seguintes casos:

 Se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o


empréstimo, o ratificar posteriormente: Ratificação posterior dos responsáveis.
 Se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo

para os seus alimentos habituais: Para a proteção do patrimônio mínimo do menor.


 Se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do

credor não lhes poderá ultrapassar as forças: Para a proteção do patrimônio mínimo
do menor.
 Se o empréstimo reverteu em benefício do menor;

 Se o menor obteve o empréstimo maliciosamente: Há ocorrência de dolo.

Mútuo oneroso ou mútuo a fins econômicos ou mútuo feneratício ocorre, conforme

dispõe o art. 591, quando se destinando o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos
juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,

permitida a capitalização anual.

52
Súmula 596 do STF: As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às
taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições

públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.

Súmula 283 do STJ: As empresas administradoras de cartão de crédito são

instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as
limitações da lei de usura

Súmula 382 do STJ: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano,

por si só, não indica abusividade.

Prazos legais privilegiam a regra de que se trata de um contrato temporário. Assim,


conforme o art. 592, não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será:

 Até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o


consumo, como para semeadura;

 De trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;


 Do espaço de tempo que declarar o mutuante (ex: notificação), se for de qualquer

outra coisa fungível.

11.5 Prestação de Serviço

11.5.1 Conceito

Trata-se de negócio jurídico pelo qual alguém (prestador) compromete-se a realizar

uma determinada atividade com conteúdo lícito, no interesse de outrem (tomador),


mediante certa e determinada remuneração10.

O art. 593 do CC consagra a aplicação da codificação somente em relação à prestação

de serviço que não esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei especial.

10
Vide questão 2
53
11.5.2 Natureza jurídica

 Bilateral/sinalagmático
 Oneroso

 Consensual
 Informal

 Comutativo
 Pessoal

 Individual

 Execução continuada

Assim, trata-se de um contrato em que se estabelece obrigações para ambos os


contratantes, inclusive, é por este motivo que há a possibilidade de alegação de exceção de

contrato não cumprido pelas partes. Apenas se aperfeiçoa com a manifestação de vontade
das partes, não sendo exigido, contudo, qualquer formalidade para sua formação.

As partes, desta forma, sabem logo no momento da conclusão do contrato, quais as

prestações que terão que cumprir, sendo equivalentes entre si, assim, o prestador realiza o
serviço e só depois é que recebe a remuneração pelo tomador.

A prestação de serviço é um contrato personalíssimo (intuito personae), de modo

que, com a morte de qualquer um dos contratantes, acarretará a extinção do contrato, não
podendo haver substituição pelos herdeiros, nem ser cedido ou substituído a outra pessoa.

Importante destacar que o Código Civil 2002 tem caráter meramente residual em

relação à prestação de serviço, uma vez que só será aplicada quando inexistir norma especial
regendo a relação jurídica.

54
A Prestação de serviço, apesar de possuir continuidade não possui dependência econômica
e não eventualidade, pelo contrário, é um contrato eventual por prazo determinado,

diferenciando-se, assim, do contrato de trabalho.

11.5.3 Elementos

São elementos do contrato de prestação de serviços: o objetivo, remuneração e prazo,

além dos demais elementos de validade de qualquer negócio jurídico. Vejamos:

 Objeto do contrato: é uma obrigação de fazer lícita intelectual ou braçal.

Caso o contrato não estipule qual o serviço de forma específica, compreende-se que o
prestador se obrigou a todo e qualquer tipo de serviço, desde que compatível com a sua

atividade, condição, força e etc.

Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser
contratada mediante retribuição.

 Remuneração (preço ou salário civil): trata-se de elemento essencial do contrato

de prestação de serviço, pois sem a remuneração, não há prestação de serviço.

Caso o contrato seja omisso quanto a este elemento, a onerosidade será presumida, de
modo que, se não houver acordo entre as partes, será arbitrado pelo Juiz. Em regra, a

remuneração é dinheiro, mas não se proíbe remuneração in natura, ou seja, alimentação,


vestuário, hospedagem, etc. como já explicado anteriormente, primeiro realiza-se o serviço e

depois é paga a remuneração.

 Prazo contratual: pode ser celebrado por prazo determinado ou indeterminado.

Contudo, importante ressaltar que a lei estabelece que o contrato só pode ser
celebrado pelo prazo máximo de 04 anos a fim de transformar em serviços escravos, ou, até
mesmo, em uma relação de trabalho.

Porém, caso o contrato seja expressamente estipulado por prazo superior a 04 anos,
entende-se que não haverá qualquer nulidade, sendo o contrato será válido e eficaz, contudo,
após o prazo máximo legal (04 anos), o contrato será interpretado como fosse por prazo

55
indeterminado. Em contrapartida, há doutrina minoritária que entende que se trata de
extinção do contrato, em razão de vício no plano da eficácia.

Apesar de a lei determinar uma limitação máxima de 4 anos, não existe proibição para a
celebração de sucessivos contratos de 04 anos. Assim, contrata-se por 4 ano e é possível

renovar infinitas vezes pelo mesmo prazo

Ademais, de acordo com o art. art. 599, CC, se o contrato for omissivo quanto ao prazo,
havendo, assim, um prazo indeterminado, e não for possível deduzi-lo da natureza da
atividade e dos costumes, qualquer das partes poderá resolvê-lo mediante prévio-aviso,

tratando-se de uma resilição unilateral imotivada.

 Prazos para o aviso prévio:


o Aviso deve ter antecedência de 08 dias, se o salário for mensal ou por
período superior (bimestral, semestral, etc.).
o Aviso deve ter antecedência de 04 dias, se o salário for semanal ou
quinzenal.
o Aviso deve ter antecedência de 01 dia (véspera), se o salário for inferior a
07 dias.
 Suspensão da contagem do prazo contratual:
o Falta culposa: o prazo é suspenso
o Falta não culposa (art. 600): o prazo não é suspenso e o serviço é
considerada prestado

11.5.4 Tutela externa do crédito

O art. 608 do CC determina a eficácia externa do princípio da função social do contrato


ao estabelecer a proteção das partes do aliciamento de outras pessoas, trata-se, na verdade,
uma exceção ao princípio da relatividade dos efeitos.

56
Assim, há uma transformação da relação obrigacional relativa em absoluta, criando,
desta forma, um dever de abstração (não fazer) a fim de não prejudicar outrem.

Vejamos o dispositivo legal:

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a
outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito,
houvesse de caber durante dois anos.

11.6 Empreitada

11.6.1 Conceito

Por meio desse negócio jurídico, uma das partes (empreiteiro ou prestador) obriga-se
a fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada remuneração, a

favor de outrem (dono de obra ou tomador).

Mesmo sendo espécie de prestação de serviço, com esse contrato a empreitada não se
confunde, principalmente no tocante aos seus efeitos.

11.6.2 Natureza Jurídica

 Bilateral ou sinalagmático
 Oneroso
 Comutativo

 Consensual
 Informal

 Impessoal
 Indivisível

 Execução sucessiva ou execução continuada

Trata-se de um contrato impessoal, assim, neste contrato, é possível a cessão contratual

mediante a subempreitada, desta forma, o contrato não se extingue com a morte. Objetiva-se
a obra, de modo que o contrato não pode ser executado de forma fracionada, não podendo,
ainda, falar em cumprimento parcial do contrato.

57
Desta forma, a subempreitada apenas será proibida se houver disposição expressa no
contrato ou, independentemente de proibição expressa, se esta fizer menção às qualidades

pessoais do empreiteiro.

11.6.3 Modalidades de empreitada

Três são as modalidades de empreitada:

 Empreitada sob administração: é aquela em que o empreiteiro apenas administra


as pessoas contratadas pelo dono da obra, que também fornece os materiais. Todos

os riscos são de responsabilidade do dono da obra.


 Empreitada de mão de obra ou de lavor: é aquela em que o empreiteiro fornece a

mão de obra, contratando as pessoas que irão executar a obra. Os materiais,


contudo, são fornecidos pelo dono da obra. Nesse caso, todos os riscos em que

não tiver culpa correrão por conta do dono.


 Empreitada mista ou de lavor e materiais: é aquela em que o empreiteiro fornece

tanto a mão de obra quanto os materiais, comprometendo-se a executar a obra


inteira, salvo se o dono da obra não estiver em mora de receber. Nesse caso, o
empreiteiro assume obrigação de resultado perante o dono da obra. Conforme §1º

do art. 610 do CC, a obrigação de fornecer materiais não pode ser presumida,
resultando da lei ou da vontade das partes.

 Empreitada sob medida ou ad mensuram ou machésur devis: é aquela em que a

remuneração leva em conta o fracionamento da obra (partes ou medidas).

11.6.4 Responsabilidade civil no contrato de Empreitada

De acordo com o art. 618, nos contratos de empreitada de edifícios ou outras


construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo

irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.

58
Esse direito decairá nos 180 dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito (vício
redibitório) para exigir o conserto do direito assegurado neste artigo o dono da obra que

não propuser a ação contra o empreiteiro.

11.7 Depósito

11.7.1 Conceito

Uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) um objeto móvel para

guardá-lo, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame.

11.7.2 Natureza jurídica

 Unilateral e gratuito;
 Bilateral e oneroso;

 Sinalagmático;
 Comutativo;

 Personalíssimo (intuitu personae);


 Temporário;

 Real;
 Formal;

 Informal;

 Não solene;

Trata-se de um contrato em que, em regra, é unilateral e gratuito, conforme dispõe o


art. 628 do CC, contudo, é possível que o depósito seja bilateral e oneroso, desde que ocorra

diante de convenção das partes, atividade ou profissão do depositário.

Será oneroso nos casos em que haja guarda em cofres prestados por instituições
bancárias, ainda, haverá deveres entre ambas as partes e não constando da lei ou de

convenção o valor da remuneração do depositário, será essa determinada pelos costumes


do lugar ou, ainda, por arbitramento.

59
Ademais, trata-se de contrato fundado na confiança do depositante em relação ao
depositário, sendo ainda fixado por prazo determinado ou indeterminado. Aperfeiçoa-se com

a entrega da coisa a ser depositada, ou seja, pela tradição. Conforme dispõe o art. 646 do CC,
o depósito voluntário provar-se-á por escrito, assim, conclui-se que o contrato é informal e

não solene.

11.7.3 Modalidades

Quanto à manifestação da vontade, o depósito pode ser classificado como:

 Voluntário: resulta da vontade das partes


 Necessário: obrigatório

 Legal: resulta de lei;


 Miserável: calamidade pública;

Quanto ao objeto, o depósito também pode ser classificado em:

 Regular: coisa infungível;

 Irregular: coisa fungível;

11.7.4 Do depósito voluntário ou convencional

Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de um contrato de guarda, sendo o

depositário obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e


diligência que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os

frutos e acrescidos, quando o exija o depositante (art. 629 do CC).

Dispõe o art. 630 do CC, que se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou
lacrado, nesse mesmo estado se manterá, devendo ser respeitado o seu sigilo, assim, sendo

descumprido esse dever por parte do depositário, o depositante poderá ingressar com ação
de rescisão do contrato por resolução por inexecução voluntária, sem prejuízo da indenização

cabível.

Por outro lado, se a coisa houver sido depositada no interesse de terceiro, e o


depositário tiver sido cientificado deste fato pelo depositante, não poderá o depositário

60
exonerar-se, restituindo a coisa ao depositante, sem consentimento do terceiro, conforme
determina o art. 632 do CC, desta forma, se o terceiro não foi cientificado, terá direito a ser

indenizado.

O art. 635 do CC faculta ao depositário converter o depósito convencional em


judicial na em caso em que, por motivo justificável, não puder guardar a coisa e o

depositante não quiser recebê-la, assim pode-se aplicar as regras previstas tanto no Código
Civil quanto no Código Processo Civil para a consignação.

Pelo fato de ser um contrato personalíssimo, com a extinção do contrato por

cessação, resta aos herdeiros do depositário a obrigação de devolver a coisa. Contudo, se o


herdeiro do depositário vende de boa-fé a coisa depositada, será obrigado a assistir o

depositante na reivindicação, e a restituir ao comprador o preço recebido.

O contrato de depósito, ao contrário do contrato de comodato, não traz a


possibilidade de uso da coisa. Porém, excepcionalmente, com a autorização para uso da

coisa, se o depositário, confiar a coisa em depósito a terceiro, será responsável se tiver agido

com culpa na escolha deste (art. 640, parágrafo único, do CC).

11.7.5 Do depósito necessário

Conforme conceitua Maria Helena Diniz, “o depósito necessário é aquele que

independe da vontade das partes, por resultar de fatos imprevistos e irremovíveis, que
levam o depositante a efetuá-lo, entregando a guarda de um objeto à pessoa que

desconhece, a fim de subtraí-lo de uma ruína imediata”.

São três espécies de depósito necessário:

 Depósito legal: o desempenho de obrigação decorrente de lei. Essa espécie será


regida pela disposição da respectiva lei, em caso de silêncio, ou sendo deficiente a
61
norma, deverão ser aplicadas de forma residual as regras previstas para o
depósito voluntário (art. 648 do CC).

 Depósito miserável (depositum miserabile): calamidades, inundação, incêndio,


naufrágio ou saque, de modo que o depositário é obrigado a se socorrer da

primeira pessoa que aceitar o depósito salvador;


 Depósito do hospedeiro: bagagem dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias
onde eles estiverem, conforme dispõe o art. 649 do CC. Cessa a responsabilidade

dos hospedeiros, se estes provarem que os fatos prejudiciais aos viajantes ou

hóspedes não podiam ter sido evitados (art. 650 do CC).

A Súmula Vinculante no 25 do STF estabelece: “É ilícita a prisão civil do depositário infiel,

qualquer que seja a modalidade de depósito”.

11.8 Mandato

11.8.1 Conceito

Trata-se de contrato em que alguém (mandatário) recebe de outro (mandante),


poderes para, em seu nome (em nome do mandante), praticar atos ou administrar

interesses. O mandatário age sempre em nome do mandante, havendo um negócio jurídico


de representação.

11.8.2 Natureza jurídica e regras do mandato

 Unilateral;

 Bilateral;
 Imperfeito;
 Gratuito;

 Oneroso;
62
 Consensual;
 Comutativo;

 Informal;
 Não solene;

 Verbal;
 Escrito;
 Expressa;

 Tácita;

 Personalíssimo (intuitu personae);

Trata-se de contrato que somente atribui obrigações ao mandatário, salvo se disposto

de forma contrária, ainda, o mandante assume a posição de credor na relação obrigacional.


Pode ser gratuito, em caso de mandato civil, ou oneroso, em caso de mandato mercantil.
Ademais, aperfeiçoa-se com a mera manifestação de vontade das partes, de modo que as

partes já sabem desde o momento da celebração do negócio as cláusulas do contrato. O


mandato pode ser outorgado por instrumento público e poderá haver substabelecimento

mediante instrumento particular, assim sendo um contrato informal e não solene.

Enunciado n. 182 do CJF/STJ, III Jornada de Direito Civil, que “o mandato outorgado por
instrumento público previsto no art. 655 do CC somente admite substabelecimento por

instrumento particular quando a forma pública for facultativa e não integrar a substância

do ato”.

O mandato verbal não é admitido para os casos em que o ato deva ser celebrado por
escrito, ainda, haverá aceitação tácita se resultar do começo de cumprimento do contrato,

contudo, conforme dispõe o art. 111 do CC, o simples silêncio não indica aceitação do
mandato, pois quem cala não consente (art. 111 do CC).

63
O instrumento do mandato escrito é a procuração. O mandato pode ser legal, judicial
ou convencional (ad judicia ou ad negotia). Substabelecer uma procuração significa conferir a

terceira pessoa os poderes que recebeu do mandante.

11.9 Seguro

11.9.1 Conceito

Trata-se de contrato em que uma das partes (segurador) se obriga perante outra

(segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo


a pessoa ou coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previstos no

contrato.

Assim, dispõe o art. 757 do CC: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa

ou a coisa, contra riscos predeterminados”.

11.9.2 Natureza jurídica

 Bilateral
 Oneroso

 Consensual
 Aleatório

É um contrato bilateral, já que há direitos e deveres proporcionais, entre as partes,


sendo, assim, sinalagmático. Além disso, há a presenta de uma remuneração (prêmio,) que é

pago pelo segurado ao segurador. O contrato se celebra no momento da manifestação de


vontade das partes, ademais, o risco do contrato é um fator determinante do negócio, visto

que há possibilidade de ocorrência de um sinistro (evento futuro e incerto).

11.9.3 Regras do contrato de seguro

São sujeitos do contrato de seguro o segurado e a seguradora, apenas podendo ser,


neste caso, uma entidade legalmente autorizada para tal fim, conforme pressupõe o art. 757,

64
parágrafo único, do CC, sendo exercida pelas sociedades anônimas, mútuas ou cooperativas,
que terão como objeto os seguros agrícolas, com autorização do Governo Federal.

As sociedades de seguros mútuos (Decreto-lei 2.063/1940) não se confundem com as


seguradoras, pois nos seguro-mútuos os segurados contribuem por meio de quotas

necessárias para se protegerem prejuízos, enquanto que em contrato de seguro há


contribuição por meio do prêmio.

É o que prevê o Enunciado n. 185 do CJF/STJ: “a disciplina dos seguros do Código


Civil e as normas de previdência privada que impõem a contratação exclusivamente por
meio de entidades legalmente autorizadas não impedem a formação de grupos restritos de

ajuda mútua, caracterizados pela autogestão”.

A prova do contrato de seguro ocorre por meio da apresentação da apólice ou bilhete

do seguro, conforme dispõe o art. 758 do CC), contudo, em falta, o contrato pode ser provado
por comprovante de pagamento do respectivo prêmio.

Instrumento do contrato de seguro, contendo as regras gerais


APÓLICE do negócio celebrado e devendo a sua emissão ser precedida
de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais
do interesse a ser garantido e do risco (art. 759 do CC).
BILHETE Constitui um instrumento simplificado do negócio, pelo qual
se pode contratar o seguro.

65
Conforme dispõe o art. 760 do Código Civil: “a apólice ou o bilhete de seguro podem
ser nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim

de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do
segurado e o do beneficiário.”

Cosseguro, previsto no art. 761 do CC, ocorre quando os riscos de um seguro direto

são assumidos por várias seguradoras. Desta forma, a apólice indicará a seguradora que
administrará o contrato e representará os demais, não se confundindo com o resseguro, que,

por sua vez, ocorre a hipótese em que uma seguradora contrata outra seguradora
(resseguradora), temendo os riscos do contrato anterior, aplicando-se, porém, as mesmas
regras previstas para o contrato regular.

É expressamente vedado o golpe do seguro, ao prever, no art. 762 do CC que o


contrato será nulo para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do
beneficiário, ou de representante de um ou de outro. Este vício atinge a validade do

contrato, viciando, inclusive, todo o ato.

Quanto à mora, entende-se a doutrina, que “A mora do segurado, sendo de escassa


importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé

objetiva”11. Ainda, em relação ao art. 763, entendem que: “Para efeito do art. 763 do Código
Civil, a resolução do contrato depende de prévia interpelação”12, ou seja, do segurado

devedor. Desta forma, não há extinção automática do contrato de seguro pela simples mora,
devendo haver, previamente, interpelação judicial ou extrajudicial.

O art. 765 dispõe algumas obrigações das partes, de modo que tanto segurado quanto
o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita
boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele

concernentes.

11
Enunciado n. 371 do CJF/STJ
12
Enunciado n. 376, na IV Jornada de Direito Civil
66
Enunciado n. 543, da VI Jornada de Direito Civil, de 2013: “constitui abuso do direito a
modificação acentuada das condições do seguro de vida e de saúde pela seguradora

quando da renovação do contrato”.

Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir

circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o


direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Se a inexatidão ou omissão nas
declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato,
ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. Contudo, a jurisprudência 13

entende que há uma presunção de boa-fé objetiva do segurado consumidor, não se pode
concluir pela má-fé do segurado.

Enunciado n. 372 da IV Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal e do Superior

Tribunal de Justiça: “em caso de negativa de cobertura securitária por doença preexistente,

cabe à seguradora comprovar que o segurado tinha conhecimento inequívoco daquela.”

No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado quaisquer defesas

que tenha contra o estipulante, por descumprimento das normas de conclusão do contrato,
ou de pagamento do prêmio, conforme dispõe o art. 767 do CC.

13
STJ, AgRg no Ag 1.138.740/SC, 3.ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 09.06.2009, DJe 18.06.2009
67
De acordo com o art. 768 do CC, a boa-fé objetiva é evidente, de modo que “o
segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do

contrato”. Assim, dispõe Enunciado n. 374 do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil: “no
contrato de seguro, o juiz deve proceder com equidade, atentando às circunstâncias reais, e

não a probabilidades infundadas, quanto à agravação dos riscos”

Esse dispositivo trata da cláusula de reposição que não pode trazer situação de injustiça ao
segurado. Assim, ocorrendo o pagamento pela seguradora, é possível a sua ação regressiva

em face do culpado pelo evento danoso. É o que dispõe a Súmula 188 do STF: “O segurador
tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite

previsto no contrato de seguro”.

Por fim, conforme dispõe o art. 777, o as regras dispostas no contrato de seguro
aplica-se, no que couber, aos seguros regidos por leis próprias, como ocorre no caso dos
planos de saúde e seguros privados de assistência à saúde.

11.9.4 Do seguro de dano

Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de contrato de conteúdo indenizatório,


restrita a indenização ao valor de interesse do segurado no momento do sinistro,

relacionado a uma coisa14.

Conforme art. 778 do CC, a garantia prometida pelo contrato não pode ultrapassar o
valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena de perder o

segurado a garantia e ter de pagar o prêmio, sem prejuízo da imposição de medida penal
cabível.

14
Vide questão 1
68
Quanto ao risco do contrato, compreenderá todos os prejuízos resultantes ou
consequentes do seguro. Trata-se, assim, de um seguro de responsabilidade legalmente

obrigatórios, de modo que a indenização do sinistro será paga pelo segurador diretamente
ao terceiro prejudicado, conforme dispõe o art. 788 do CC. Ademais, prevê a Súmula 257 do

STJ que a falta de pagamento do prêmio desse seguro obrigatório não é motivo para a
recusa do pagamento da indenização por segurador privado.

Por fim, dispõe o art. 788, parágrafo único, do CC que o segurador não poderá opor a

exceção de contrato não cumprido pelo segurado em caso de demandar ação direta pela
vítima do dano, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.

11.9.5 Do seguro de pessoa

Trata-se de contrato de seguro que visa proteger a pessoa, contra os riscos de morte.

Assim, conforme dispõe o art. 789 do CC, nos seguros de pessoas, o capital segurado é
livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o

mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.

Pode-se instituir um terceiro beneficiário, que receberá a indenização em caso de


morte do segurado, sendo lícita a substituição do beneficiário por ato entre vivos ou de

última vontade, conforme determina o art. 791 do CC, contudo, o segurador deve ser
cientificado dessa substituição, caso contrário, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao
antigo beneficiário.

Nesse ponto, convém destacar o entendimento sumulado do STJ, segundo o qual “a


embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista
em contrato de seguro de vida” (Súm. 620 do STJ). Também em relação aos seguros de vida,

o STJ entende que “o suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do
contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução do montante da

reserva técnica formada” (Súm. 610 do STJ)15.

15
Vide questão 7
69
Assim, o beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado comete
suicídio nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois

de suspenso, exceção feita para a reserva técnica já formada, que deverá ser devolvida (art.
798 do CC). Ressalvada esta hipótese, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do

capital por suicídio do segurado.

11.10 Fiança

11.10.1 Conceito

Trata-se, assim, de uma promessa feita por uma ou mais pessoas de garantir ou

satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor seu


efetivo cumprimento16. Assim, a fiança, também denominada caução fidejussória, é o contrato

pelo qual alguém, o fiador, garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo
devedor, caso este não a cumpra.

11.10.2 Natureza jurídica

 Complexo

 Sui generis
 Unilateral

 Gratuito
 Consensual
 Comutativo

 Formal
 Não solene

 Acessório

Trata-se de contrato unilateral porque traz apenas deveres para o fiador, contudo,
excepcionalmente, a doação pode ser remunerada, a exemplo da fiança bancária e seguro
fiança. Ainda, trata-se de um contrato gratuito pois é um negócio benéfico, não admitindo,

16
Vide questão 10
70
conforme o art. 819, CC, portanto, interpretação extensiva. É formal, devendo ser escrito, mas
não há necessidade de escritura pública.

Por fim, é acessório de modo que o contrato de fiança depende de um contrato

principal, caso contrário não existirá, já que não é um contrato autônomo. Assim, aplica-se à
fiança todas as regras das obrigações acessórias e Princípio da Gravitação Jurídica.

A fiança é uma garantia pessoal, assim, todo o patrimônio do devedor responde, sendo uma

caução ou garantia fidejussória. Diferentemente é o penhor/hipoteca/anticrese, que são

garantias reais, relacionados aos direitos reais.

11.10.3 Regras da fiança

As dívidas atuais ou presentes e também as dívidas futuras podem ser objeto de fiança,
neste último caso, o fiador não será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a

dívida do devedor principal.

A fiança ainda pode ser total ou parcial, até mesmo em valor inferior ao da obrigação
principal ou em condições menos onerosa, porém, a fiança não poderá ser superior ao valor

do débito principal, caso em que o contrato será reduzido ao limite da dívida que foi
afiançada.

A regra é que a fiança seja total, ilimitada ou indefinida, garantindo a dívida com todos

os seus acessórios (juros, multa, cláusula penal, despesas judiciais, etc), contudo, é possível
que a fiança seja parcial (fiança limitada).

Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a aceitá-lo

se não for pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar a fiança, e não
possua bens suficientes para cumprir a obrigação.

71
O contrato de fiança pode ser celebrado contra a vontade do devedor, já que a

relação jurídica principal é entre fiador e credor, conforme dispõe o art. 820.

A relação jurídica entre fiador e devedor é apenas subsidiária, já que o fiador possui o
benefício de ordem ou de excussão. Assim, dispõe o art. 827, que o fiador demandado pelo

pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro
executados os bens do devedor, devendo o fiador nomear bens do devedor, situados no

mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito.

Contudo, é possível a renúncia deste benefício, conforme dispõe o art. 828, CC:

 Renúncia expressa: se demandado em conjunto;


 Está na obrigação como principal pagador ou devedor solidário;

 Devedor insolvente ou falido;

A renúncia ao benefício de ordem NÃO pode ocorrer em um contrato de adesão,


sendo considerada a cláusula é nula, conforme dispõe o art. 424: Nos contratos de adesão,

são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da
natureza do negócio.

72
Entre fiadores há solidariedade passiva legal, contudo, conforme dispõe o art. 829 e
art. 830 do CC, os fiadores podem convencionar o benefício de divisão, respondendo cada

fiador por uma parte da dívida (divisão pro rata),

Vejamos:

Art. 829. A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa
importa o compromisso de solidariedade entre elas, se declaradamente não se
reservarem o benefício de divisão.

Parágrafo único. Estipulado este benefício (leia-se: benefício de divisão), cada fiador
responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento (divisão
pro rata).

Art. 830. Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob sua
responsabilidade, caso em que não será por mais obrigado.

Conforme dispõe o art. 831, CC, o fiador que paga integralmente a dívida se sub-roga

nos direitos do credor, podendo cobrar dos outros fiadores as suas quotas na dívida e a parte
do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros.

De acordo com o art. 832, o devedor responde também perante o fiador por todas as

perdas e danos que este pagar, e pelos que sofrer em razão da fiança. Assim, o devedor
principal responde pelas perdas e danos pagos pelo fiador.

11.10.4 Extinção da fiança

 Exoneração unilateral pelo fiador: é uma forma de resilição unilateral, só cabendo

na fiança sem prazo determinado, demando prévia notificação judicial/extrajudicial

73
do credor, garantindo a dívida por mais sessenta dias após esta notificação,
conforme dispõe art. 835.

 Morte do fiador: já que a fiança é um contrato personalíssimo baseado na


confiança. Assim, conforme dispõe o art. 836, a obrigação do fiador passa aos

herdeiros, mas a responsabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a


morte do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança. Desta forma, o que
transmite é a obrigação.

 Nas hipóteses de vencimento ou extinção da obrigação principal: novação,


prescrição e dação em pagamento. Conforme dispõe o art. 837, o fiador pode

opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as extintivas da obrigação


que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de

incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor. Ademais,


conforme dispõe o art. 838, III, o fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se o

credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso


do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por evicção.
 Concessão de moratória ao devedor principal, sem a participação do fiador: a

fiança não admite interpretação extensiva, assim, conforme dispõe art. 838, I, o
fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se, sem consentimento seu, o credor

conceder moratória ao devedor


 Se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos ou

preferências
 Retardo da execução pelo credor contra o devedor e este último cair em

insolvência: conforme o art. 839, se for invocado o benefício da excussão e o


devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará exonerado o fiador

que o invocou, se provar que os bens por ele indicados eram, ao tempo da

penhora, suficientes para a solução da dívida afiançada.

74
QUADRO SINÓTICO

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

CONCEITO O acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo, transformação,
modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. É um negócio
jurídico bilateral, decorrente de uma ação humana voluntária e lícita, praticada com a
intenção de obter um resultado jurídico.

ELEMENTOS  Existência de duas ou mais pessoas


 Capacidade plena das partes para contratar
 Consentimento
 Objeto do contrato é a prestação
 Lícito
 Possível
 Certo, determinado ou determinável
 Economicamente apreciável
 Forma prescrita ou não defesa em lei:

PRINCÍPIOS AUTONOMIA DA Os contratantes têm liberdade para estipular o que lhes convier.
VONTADE Em tese, pode-se contratar sobre o que quiser, mesmo que não
(AUTONOMIA previsto em lei (contrato inominado)
PRIVADA)
OBSERVÂNCIA (OU
SUPREMACIA) DAS A liberdade de contratar encontra seus limites inicialmente na
NORMAS DE ORDEM própria lei e também na moral e nos bons costumes.
PÚBLICA
OBRIGATORIEDADE Decorre da ideia de autonomia da vontade, onde a convenção
DAS CONVENÇÕES de um contrato passa a ter força de lei, constrangendo os
(PACTA SUNT contratantes ao cumprimento do conteúdo completo do negócio
SERVANDA) jurídico.
O contrato é um instituto de direito pessoal e por isso apenas
produz efeitos inter partes (vincula somente as partes que nele
intervierem, ao contrário do que ocorre com os institutos de
RELATIVIDADE DOS direitos reais, que produzem efeitos erga omnes.
EFEITOS DO EXCEÇÕES
CONTRATO  Estipulação de um contrato em favor de terceiro (arts.
426 a 438 do CC),
 Promessa de fato de terceiro (arts. 439 a 440 do CC),
 Contrato com pessoa a declarar (art. 471 do CC)
 Função social dos contratos e sua eficácia externa (art.
421 do CC).

75
FUNÇÃO SOCIAL DO Trata-se de princípio expresso no artigo 421 do Código Civil,
CONTRATO devendo ser observado em toda e qualquer relação contratual e
determina que a liberdade de contratar deva observar a
probidade e a boa-fé objetiva.
DUPLA EFICÁCIA: INTERNA E EXTERNA.
 Proteção da vulnerabilidade contratual (ex.:
EFICÁCIA direitos do consumidor);
INTERNA  Proteção contra a onerosidade excessiva ou
desequilíbrio contratual (efeito gangorra);
 Proteção da dignidade humana e direitos da
personalidade, proteção contra cláusulas
antissociais ou abusivas (ex.: Súmula 302/STJ);
 Conservação contratual
Proteção dos direitos difusos e coletivos
(função socioambiental do contrato) da tutela
EFICÁCIA externa do crédito, ou seja, a possibilidade de
EXTERNA gerar efeitos perante terceiros ou das condutas
destes repercutirem no contrato (Enunciado 21
do CJF/STJ, I Jornada de Direito Civil).
FUNÇÕES BÁSICAS
 Abrandar a força obrigatória do contrato (Pacta Sunt
Servanda);
 Coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade absoluta das
mesmas (Súmula 302, STJ);
 Possibilitar, sempre que possível, a conservação do
contrato (Enunciado 22, I JDC), e o seu equilíbrio;
 Possibilitar a revisão do contrato quando o mesmo
contiver alguma onerosidade excessiva
É expressamente previsto no art. 422, do CC/02 e preconiza a
atuação correta das partes, conforme um padrão normal de
BOA-FÉ OBJETIVA conduta, independentemente da boa-fé interior (subjetiva) que
o contratante acredita ser correto.
FUNÇÕES
 Interpretativa (art. 113, CC): contratos devem ser
interpretados de maneira mais favorável a quem está de
boa-fé.
 De controle ou reativa (art. 187, CC): viola a boa-fé
objetiva no exercício de um direito comete abuso de
direito, ou seja, um ilícito
 Integrativa (art. 422, CC): boa-fé objetiva deve integrar
todas as fases contratuais

76
DESDOBRAMENTOS
 Venire Contra Factum Proprium: dispõe sobre a vedação
de a parte agir com comportamento contraditório ao
previamente combinado.
 Requisitos:
o Comportamento anterior;
o Comportamento posterior;
o Ausência de justa causa; e
o Dano ou receio de dano.
 Supressio e Surrectio: são figuras correlacionadas, já que
a supressio consiste na perda de um direito pelo
decurso do tempo, obstando o seu exercício, em razão da
boa-fé.
 Tu quoque: não se confunde com o venire contra factum
propium e consiste na vedação que a parte tem de exigir
algo que ela também foi inadimplente.
 Duty to mitigaty the loss: é necessário que o credor
atue, levando-se em conta as circunstâncias, para tomar
medidas que diminuam as perdas decorrentes do
inadimplemento.

FORMAÇÃO FASE DA É a fase de responsabilidade pré-contratual, em que ocorrem


NEGOCIAÇÃO meras negociações preliminares, antecedendo a proposta. Nesse
PRELIMINAR momento, ocorrem acordos que implicam propostas não
(PONTUAÇÃO) formalizadas.
FASE DA PROPOSTA É quando a oferta se torna formalizada, havendo a manifestação
(POLICITAÇÃO/OBLA expressa da vontade de contratar, mas que depende da
ÇÃO) concordância (pura e simples) da outra parte. Assim, é a
manifestação da vontade de contratar, por uma das partes,
solicitando a concordância da outra.
FASE DO CONTRATO Às vezes não é conveniente às partes celebrar, desde logo, o
PRELIMINAR contrato definitivo; assim podem firmar um contrato-promessa
(pactum incontrahendo), sendo que as partes se comprometem
a celebrar o contrato definitivo posteriormente
FASE DE CONTRATO Trata-se da última fase da formação dos contratos, momento
DEFINITIVO OU DE em que ocorrerá o aperfeiçoamento do contrato, de modo a
CONCLUSÃO DO gerar todos os efeitos jurídicos e fáticos de sua avença de
CONTRATO forma plena, ensejando a responsabilidade civil contrato em caso
de inadimplemento.

77
Quando o oblato aceita a proposta, havendo um encontro de
ENTRE PRESENTES vontades, ocorrendo simultaneamente. Não havendo prazo
(INTER PRAESENTES) estipulado, a aceitação deverá ser manifestada imediatamente,
contudo, se houver prazo, deverá ocorrer no termo concedido,
MOMENTO DA caso contrário não será considerada aceita, salvo de forma tácita.
CONCLUSÃO Teoria da agnição ou aceitação/informação, na
ENTRE AUSENTES REGRA subteoria da expedição, ocorrendo com a expedição
(INTER ABSENTES) da aceitação, art. 434);
EXCEÇÃO Teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da
recepção, quando houver convenção das partes.

LOCAL DE A regra é que o negócio jurídico se reputa celebrado no lugar em que foi proposto (art.
435, CC).
CELEBRAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO UNILATERAL Quando apenas um dos contratantes assume obrigações em
face do outro. É o que ocorre na doação pura e simples.
Quando os contratantes são simultânea e reciprocamente
BILATERAL credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e
obrigações para ambos. O contrato bilateral também é conhecido
como sinalagmatico.
Trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes
ONEROSOS sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito
desejado
GRATUITOS (OU Oneram somente uma das partes, proporcionando à outra uma
BENÉFICOS) vantagem, sem qualquer contraprestação
COMUTATIVO (OU Quando as prestações de ambas as partes são conhecidas e
PRÉ-ESTIMADO) guardam relação de equivalência
É aquele em que a prestação de uma das partes (ou de ambas)
ALEATÓRIO não e conhecida com exatidão no momento da celebração do
contrato. Depende de uma alea (incerteza, risco).
NOMINADOS (OU São os contratos que têm previsão e denominação prevista na
TÍPICOS) lei (Código Civil ou Leis especiais).
INOMINADOS (OU São os contratos criados pelas partes, dentro do princípio da
ATÍPICOS) liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo
contratual previsto na lei; não têm tipificação; não têm um nome
com previsão legal.
PARITÁRIOS São aqueles em que ambos os interessados são colocados em
pé de igualdade e podem discutir as cláusulas contratuais, uma a
uma, eliminando os pontos divergentes mediante transigência
mútua.
DE ADESÃO (OU POR São aqueles em que a manifestação de vontade de uma das
ADESÃO) partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra.

78
CONSENSUAIS OU São os contratos que independem de uma forma especial; em
NÃO SOLENES geral se perfazem pelo simples acordo ou consenso das partes.
Podem ser celebrados inclusive de forma verbal.
SOLENES OU São os contratos em que a lei exige uma forma especial. A falta
FORMAIS desta formalidade levará à nulidade do negócio.
REAIS São os que se aperfeiçoam com a entrega da coisa.
PRINCIPAIS São os contratos que existem por si, exercendo sua função e
finalidade independente de outro.
ACESSÓRIOS São aqueles contratos cuja existência supõe a do principal, pois
visam assegurar sua execução.
PESSOAIS
(PERSONALÍSSIMOS São aqueles em que a pessoa do contratante é considerada
OU INTUITU pelo outro como elemento determinante de sua conclusão.
PERSONAE)
IMPESSOAIS São os que a pessoa do contratante é juridicamente indiferente
para a conclusão do negócio.

EFEITOS Também é chamado de exceptio non adimpleti contractus. Nos


contratos bilaterais (ou sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos
EXCEÇÃO DE contratantes poderá, antes de cumprir a sua obrigação, exigir a
CONTRATO NÃO do outro (art. 476, CC).
CUMPRIDO Excepcionalmente será permitido, a quem incumbe cumprir a
prestação em primeiro lugar, recusar-se ao seu cumprimento,
até que a outra parte satisfaça a prestação que lhe compete ou
dê alguma garantia de que ela será cumprida.
É a permissão concedida pela norma ao credor de conservar em
DIREITO DE seu poder coisa alheia, já que detém legitimamente, além do
RETENÇÃO momento em que deveria restituir, até o pagamento do que lhe é
devido.
REQUISITOS:
 Detenção da coisa alheia;
 Conservação dessa detenção;
 Crédito líquido, certo e exigível do retentor

79
Em princípio, os contratos devem ser cumpridos exatamente
como foram estipulados (pacta sunt servanda). No entanto, a
obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-se,
REVISÃO DOS excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de
CONTRATOS cumprimento a prazo ou em prestações sucessivas, quando uma
das partes vem a ser prejudicada sensivelmente por uma
alteração imprevista da conjuntura econômica. A finalidade é
restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro entre os
contratantes, lastreada na chamada Teoria da Imprevisão.
Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar
ESTIPULAÇÃO EM nem beneficiar a terceiros, atingindo apenas as partes que nele
FAVOR DE TERCEIRO intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse princípio
não é absoluto, podendo favorecer terceiros (nunca criando
obrigações ou prejudicando).
Vícios redibitórios são falhas ou defeitos ocultos existentes na
coisa alienada, objeto de contrato comutativo, que a tornam
imprópria ao uso a que se destinam ou lhe diminuem
VÍCIO REDIBITÓRIO sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se
realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao
adquirente direito para redibir (devolver a coisa defeituosa) ou
para obter abatimento no preço.
É a perda da propriedade de uma coisa para terceiro, em razão
de ato jurídico anterior e em virtude de uma sentença judicial
EVICÇÃO (evincere = ser vencido). A evicção supõe a perda total ou
parcial da coisa, em mão do adquirente, por ordem do Juiz, que
a defere a outrem.
CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS

EXTINÇÃO Trata-se da não-observância de normas jurídicas atinentes a


NULIDADES seus requisitos subjetivos, objetivos e formais
Previsto no próprio contrato, quando os contraentes
ARREPENDIMENTO estipulam que o mesmo será rescindido, mediante declaração
unilateral de vontade, se qualquer deles se arrepender.
CAUSAS SUPERVENIENTES
RESOLUÇÃO POR
INEXECUÇÃO A prestação não é cumprida por culpa do devedor
VOLUNTÁRIA
RESOLUÇÃO POR A prestação não é cumprida, sem que haja culpa do devedor,
INEXECUÇÃO nos casos de força maior ou caso fortuito.
INVOLUNTÁRIA

80
RESOLUÇÃO POR Evento extraordinário e imprevisível, que impossibilita ou
ONEROSIDADE dificulta extremamente o adimplemento do contrato.
EXCESSIVA
RESILIÇÃO Trata-se de um novo contrato em que ambas as partes, de
BILATERAL OU forma consensual, acordam pôr fim ao contrato anterior que
DISTRATO firmaram.
RESILIÇÃO Há contratos que admitem dissolução pela simples declaração
UNILATERAL de vontade de uma das partes (também chamada de
denúncia vazia). Só ocorre excepcionalmente.
MORTE DE UM Como regra, morrendo um dos contratantes, a obrigação se
DOS transmite aos seus herdeiros, até o limite das forças da
CONTRAENTES herança.

CONTRATOS EM ESPÉCIE

COMPRA E CONCEITO

VENDA Um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
lhe o preço em dinheiro. O contrato não transfere a propriedade da coisa. A propriedade
é transferida pela tradição ou registro. O contrato somente cria a obrigação de uma
transferência da coisa.
ELEMENTOS
Os elementos do contrato de compra e venda são a coisa, o preço e o consenso. Não se
transfere o domínio. Este é transferido pela tradição (bens móveis) ou pelo registro do
título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis).
COISA (res) É o bem corpóreo, material.
CONSENSO As partes devem ser capazes
(consesus)  Outorga uxória
 Venda de ascendente para descendente
PREÇO É a remuneração da compra e venda, devendo ser expressa em
(pretium) moeda nacional corrente (reais) pelo valor nominal, em razão do
princípio do nominalismo, sob pena de nulidade.
 Preço injusto: indício de fraude;
 Preço fictício: descaracteriza o contrato para doação;
 Preço por cotação (art. 486 e 487):
 Preço por arbitramento ou por avaliação:
 Preço tabelado e preço médio:
 Preço tabelado
 Vendas habituais;
 Preço médio (juiz);
 Preço unilateral (art. 489): é nulo o contrato quando se

81
deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes
VENDA DE COISA COMUM OU VENDA DE BEM INDIVISÍVEL EM CONDOMÍNIO
É um direito de preempção/preferência legal em favor do condômino, seja móvel ou
imóvel, devendo haver igualdade de condições ‘tanto por tanto’. O condômino preterido
pode entrar com ação adjudicatória ou anulatória, inclusive contra terceiros, sendo uma
ação de preferência de natureza real, tem que depositar o preço, com prazo decadencial
de 180 dias, a partir da ciência da venda.
VENDA POR MEDIDA OU POR EXTENSÃO – VENDA AD MENSURAM
No caso de venda de imóveis, pode-se estabelecer que a área do imóvel não é
meramente enunciativa (venda ad corpus - a metragem não é considerada), tratando-se,
desta forma, de um fator determinante do negócio jurídico.
 Faltar área: o comprador prejudicado poderá pleitear:
 Complementação da área: ação ex empto;
 Abatimento no preço: ação quanti minoris;
 Resolução + devolução das quantias, com perdas e danos, se houver má-fé:
ação redibitória.
 Excesso de área: o vendedor comprovar que tinha motivos para ignorar a variação
dessa área, podendo ingressar em juízo. Assim, o comprador terá duas opções:
 Completar o preço;
 Devolver o excesso;
CLÁUSULAS ESPECIAIS (PACTOS ADJETOS)
O vendedor de imóvel pode reservar-se o direito de recobra-la
(propriedade resolúvel), no prazo decadencial máximo de 3 anos,
RETROVENDA restituindo o valor recebido, mais as despesas do comprador
autorizadas por escrito pelo vendedor e as realizadas com as
benfeitorias necessárias;
DO DIREITO DE Estipulada a cláusula de preferência, ao comprador compete oferecer
PREFERÊNCIA ao vendedor a coisa, se decidir vendê-la, para que este, usando do se
direito de preferência, decida se a quer. PRAZO: 180 dias, sendo a
coisa móvel; dois anos, se imóvel.
VENDA A O negócio somente se perfaz se o comprador se declarar satisfeito
CONTENTO (condição suspensiva), ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e
não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu
agrado.
O comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa móvel ou
PREEMPÇÃO imóvel, caso for vendê-la a terceiro, para que se exerça o direito de
prelação (preferência) em igualdade de condições.
RESERVA DE O vendedor reserva para si a propriedade do bem até que se realize
DOMÍNIO o pagamento integral do preço.

DOAÇÃO CONCEITO

82
O doador transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o donatário, sem a
presença de qualquer remuneração. Trata-se de ato de mera liberalidade, sendo um
contrato benévolo, unilateral e gratuito (exceções: doação remuneratória e a contemplativa
de casamento).
ELEMENTOS
SUJEITOS Doador e donatário
OBJETO Lícito, possível, determinado e determinável
MÚTUO Além da intenção do doador, de ceder o bem a outro, é necessária a
CONSENTIMENTO aceitação do donatário, podendo ser expressa ou tácita, no caso de
doação pura, e expressa no caso de doação onerosa
O ato será feito por meio de escrito público ou particular, mas
FORMA será permitida a doação verbal, quando a coisa a ser doada se
tratar de bem móvel de pequeno valor.
ESPÉCIES
DOAÇÃO É aquela feita em caráter de retribuição por um serviço prestado
REMUNERATÓRIA pelo donatário, mas cuja prestação não pode ser exigida pelo
último.
DOAÇÃO A doação contemplativa é aquela feita em contemplação a um
CONTEMPLATIVA merecimento do donatário.
OU MERITÓRIA
DOAÇÃO A A doação feita ao nascituro valerá, devendo ser aceita pelo seu
NASCITURO representante legal (pais ou por aquele incumbido de cuidar dos
seus interesses, nesse último caso, com autorização judicial).
DOAÇÃO SOB
FORMA DE É doação de trato sucessivo, em que o doador estipula rendas a
SUBVENÇÃO favor do donatário (art. 545 do CC).
PERIÓDICA
DOAÇÃO EM
CONTEMPLAÇÃO É chamada de doação propter nuptias é em contemplação de
DE CASAMENTO casamento futuro com pessoa certa e determinada.
FUTURO
DOAÇÃO COM É a doação com cláusula de reversão (ou cláusula de retorno), em
CLÁUSULA DE que o doador estipula que os bens doados voltem ao seu
REVERSÃO patrimônio se sobreviver ao donatário (art. 547 do CC).
DOAÇÃO É aquela que conta com a presença de dois ou mais donatários
CONJUNTIVA (art. 551 do CC), presente uma obrigação divisível.
DOAÇÃO A doação de bem móvel de pequeno valor pode ser celebrada
MANUAL verbalmente, desde que seguida da entrega imediata da coisa
(tradição).

83
DOAÇÃO É nula a doação quanto à parte que exceder o limite de que o
INOFICIOSA doador (correspondente a 50% do patrimônio do disponente), no
momento da liberalidade, poderia dispor em testamento;
DOAÇÃO Nula é a doação de todos os bens, sem a reserva do mínimo para
UNIVERSAL a sobrevivência do doador, sendo é vedada expressamente pela lei
(nulidade textual);
DOAÇÃO DO É anulável a doação do cônjuge ao seu cúmplice, desde que
CÔNJUGE proposta ação anulatória pelo outro cônjuge ou pelos seus
ADÚLTERO AO herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a
SEU CÚMPLICE sociedade conjugal.
DOAÇÃO À A lei possibilita a doação a uma pessoa jurídica que ainda não
ENTIDADE exista, condicionando a sua eficácia à regular constituição da
FUTURA entidade, porém, se não estiver constituída no prazo de dois anos
contados da efetuação da doação, caducará essa doação.
REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO (ART. 551, CC)
Trata-se de um direito potestativo a favor do doador, podendo ocorrer de duas formas:
por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo/modo, quando o donatário
incorrer em mora.
INEXECUÇÃO DO Legitimados: doador e herdeiros; prazo prescricional: 10 anos;
ENCARGO
Prazo decadencial de 1 ano. Os legitimados, no caso de ingratidão,
também são os herdeiros ou o doador. No entanto, não cabe
revogação por ingratidão, quando a doação for: onerosa com
encargo já cumprido, remuneratória, em cumprimento de obrigação
INGRATIDÃO DO natural e contemplativa de casamento.
DONATÁRIO  Ingratidão seria:
 Homicídio doloso (tentado ou consumado),
 Ofensa física,
 Injúria grave,
 Abandono material.

LOCAÇÃO CONCEITO
É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra
(locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não
fungível, mediante certa remuneração (aluguel – art. 565, CC).
REGRAS DO CONTRATO DE LOCAÇÃO

84
 O locador só pode exigir uma das seguintes garantias sob pena de nulidade: a)
caução (máximo 03 meses); b) fiança; c) seguro-fiança locatícia; d) cessão fiduciária
de quotas de fundo de investimento.
 O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa,
 Não cabe sua renúncia do contrato por força do instrumento contratual.
Tratando-se de contrato por prazo determinado, a locação cessará de pleno direito
com o término do prazo estipulado e independentemente de qualquer notificação
ou aviso. Assim, em regra, a possibilidade de denúncia vazia, ou seja, aquela sem
fundamento sem qualquer motivo (art. 573 do CC).
 Durante o prazo convencionado não poderá o locador reaver o imóvel alugado; o
locatário poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada.

EMPRÉSTIMO CONCEITO
É o contrato por meio do qual alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente,
obrigando-se este a devolver a mesma coisa ou devolver outra da mesma espécie e
quantidade.
MODALIDADES
Empréstimo de uso em que o bem emprestado deverá ser
COMODATO restituído, não podendo ser fungível ou consumível
(infungível/inconsumível) (uma casa). Não restituindo o bem, o
comodante pode ingressar com ação de reintegração de posse e
cobrar aluguel.
Empréstimo de consumo em que o bem usado, sendo fungível ou
consumível, não poderá ser devolvido e a restituição será em seu
MÚTUO equivalente, por outra coisa da mesma espécie, qualidade e
quantidade (um quilo de feijão). Pode ser gratuito ou oneroso
(feneratício).

PRESTAÇÃO DE CONCEITO

SERVIÇOS Trata-se de negócio jurídico pelo qual alguém (prestador) compromete-se a realizar
uma determinada atividade com conteúdo lícito, no interesse de outrem (tomador),
mediante certa e determinada remuneração.
ELEMENTOS
São elementos do contrato de prestação de serviços: o objetivo, remuneração e prazo,
além dos demais elementos de validade de qualquer negócio jurídico.
OBJETO DO É uma obrigação de fazer lícita intelectual ou braçal.
CONTRATO
REMUNERAÇÃO Trata-se de elemento essencial do contrato de prestação de
(PREÇO OU serviço, pois sem a remuneração, não há prestação de serviço.
SALÁRIO CIVIL)
PRAZO Pode ser celebrado por prazo determinado ou indeterminado.

85
CONTRATUAL  Prazos para o aviso prévio:
 Aviso deve ter antecedência de 08 dias, se o salário for
mensal ou por período superior (bimestral, semestral,
etc.).
 Aviso deve ter antecedência de 04 dias, se o salário for
semanal ou quinzenal.
 Aviso deve ter antecedência de 01 dia (véspera), se o
salário for inferior a 07 dias.
 Suspensão da contagem do prazo contratual:
 Falta culposa: o prazo é suspenso
 Falta não culposa (art. 600): o prazo não é suspenso e o
serviço é considerada prestado
TUTELA EXTERNA DO CRÉDITO
O art. 608 do CC determina a eficácia externa do princípio da função social do contrato ao
estabelecer a proteção das partes do aliciamento de outras pessoas, trata-se, na
verdade, uma exceção ao princípio da relatividade dos efeitos.

EMPREITADA CONCEITO
Por meio desse negócio jurídico, uma das partes (empreiteiro ou prestador) obriga-se a
fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada remuneração, a
favor de outrem (dono de obra ou tomador).
MODALIDADES DE EMPREITADA
EMPREITADA SOB É aquela em que o empreiteiro apenas administra as pessoas
ADMINISTRAÇÃO contratadas pelo dono da obra, que também fornece os materiais.
Todos os riscos são de responsabilidade do dono da obra.
EMPREITADA DE É aquela em que o empreiteiro fornece a mão de obra,
MÃO DE OBRA contratando as pessoas que irão executar a obra. Os materiais,
OU DE LAVOR contudo, são fornecidos pelo dono da obra. Nesse caso, todos os
riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono.
É aquela em que o empreiteiro fornece tanto a mão de obra
EMPREITADA quanto os materiais, comprometendo-se a executar a obra inteira,
MISTA OU DE salvo se o dono da obra não estiver em mora de receber. Nesse
LAVOR E caso, o empreiteiro assume obrigação de resultado perante o dono
MATERIAIS da obra. Conforme §1º do art. 610 do CC, a obrigação de fornecer
materiais não pode ser presumida, resultando da lei ou da vontade
das partes.
EMPREITADA SOB
MEDIDA OU AD É aquela em que a remuneração leva em conta o fracionamento
MENSURAM OU da obra (partes ou medidas).
MACHÉSUR DEVIS
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE EMPREITADA

86
De acordo com o art. 618, nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções
consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo
irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.

DEPÓSITO CONCEITO
Uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) um objeto móvel para guardá-
lo, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame.
MODALIDADES
VOLUNTÁRIO Resulta da vontade das partes
MANIFESTAÇÃO Obrigatório
DA VONTADE NECESSÁRIO LEGAL Resulta de lei;
MISERÁVEL Calamidade pública;
QUANTO AO REGULAR Coisa infungível;
OBJETO IRREGULAR Coisa fungível;
DO DEPÓSITO VOLUNTÁRIO OU CONVENCIONAL
Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de um contrato de guarda, sendo o
depositário obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e
diligência que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos
os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante (art. 629 do CC).

DO DEPÓSITO NECESSÁRIO
Conforme conceitua Maria Helena Diniz, “o depósito necessário é aquele que independe
da vontade das partes, por resultar de fatos imprevistos e irremovíveis, que levam o
depositante a efetuá-lo, entregando a guarda de um objeto à pessoa que desconhece, a
fim de subtraí-lo de uma ruína imediata”.
ESPÉCIES DE DEPÓSITO NECESSÁRIO
O desempenho de obrigação decorrente de lei. Essa espécie será
DEPÓSITO LEGAL regida pela disposição da respectiva lei, em caso de silêncio, ou
sendo deficiente a norma, deverão ser aplicadas de forma residual as
regras previstas para o depósito voluntário (art. 648 do CC).
DEPÓSITO Calamidades, inundação, incêndio, naufrágio ou saque, de modo
MISERÁVEL que o depositário é obrigado a se socorrer da primeira pessoa que
(DEPOSITUM aceitar o depósito salvador;
MISERABILE)
Bagagem dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde eles
DEPÓSITO DO estiverem, conforme dispõe o art. 649 do CC. Cessa a
HOSPEDEIRO responsabilidade dos hospedeiros, se estes provarem que os fatos
prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados
(art. 650 do CC).

MANDATO CONCEITO

87
Trata-se de contrato em que alguém (mandatário) recebe de outro (mandante), poderes
para, em seu nome (em nome do mandante), praticar atos ou administrar interesses. O
mandatário age sempre em nome do mandante, havendo um negócio jurídico de
representação.
REGRAS
 Trata-se de contrato que somente atribui obrigações ao mandatário, salvo se
disposto de forma contrária, ainda, o mandante assume a posição de credor na
relação obrigacional.
 Pode ser gratuito, em caso de mandato civil, ou oneroso, em caso de mandato
mercantil.
 O mandato verbal não é admitido para os casos em que o ato deva ser celebrado
por escrito,
 O instrumento do mandato escrito é a procuração.
 O mandato pode ser legal, judicial ou convencional (ad judicia ou ad negotia).
 Substabelecer uma procuração significa conferir a terceira pessoa os poderes que
recebeu do mandante.

SEGURO CONCEITO
Trata-se de contrato em que uma das partes (segurador) se obriga perante outra
(segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo
relativo a pessoa ou coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros,
previstos no contrato.
REGRAS DO CONTRATO DE SEGURO
 São sujeitos do contrato de seguro o segurado e a seguradora, apenas podendo
ser, neste caso, uma entidade legalmente autorizada para tal fim
 A prova do contrato de seguro ocorre por meio da apresentação da apólice ou
bilhete do seguro, conforme dispõe o art. 758 do CC), contudo, em falta, o
contrato pode ser provado por comprovante de pagamento do respectivo prêmio.
 Cosseguro, previsto no art. 761 do CC, ocorre quando os riscos de um seguro
direto são assumidos por várias seguradoras.
 É expressamente vedado o golpe do seguro, ao prever, no art. 762 do CC que o
contrato será nulo para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado,
do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.
 Quanto à mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a
resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva
 Que tanto segurado quanto o segurador são obrigados a guardar na conclusão e
na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade,
 Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do
prêmio, perderá o direito à garantia
 No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado quaisquer
defesas que tenha contra o estipulante, por descumprimento das normas de

88
conclusão do contrato, ou de pagamento do prêmio, conforme dispõe o art. 767
do CC.
ESPÉCIES
SEGURO DE Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de contrato de
DANO conteúdo indenizatório, restrita a indenização ao valor de
interesse do segurado no momento do sinistro, relacionado a uma
coisa.
Trata-se de contrato de seguro que visa proteger a pessoa, contra
SEGURO DE os riscos de morte. Assim, conforme dispõe o art. 789 do CC, nos
PESSOA seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo
proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo
interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.

FIANÇA CONCEITO
Trata-se, assim, de uma promessa feita por uma ou mais pessoas de garantir ou
satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor
seu efetivo cumprimento.
REGRAS DA FIANÇA
 As dívidas atuais ou presentes e também as dívidas futuras podem ser objeto de
fiança, neste último caso, o fiador não será demandado senão depois que se fizer
certa e líquida a dívida do devedor principal.
 A fiança ainda pode ser total ou parcial,
 A regra é que a fiança seja total, ilimitada ou indefinida,
 Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a
aceitá-lo se não for pessoa idônea,
 A relação jurídica entre fiador e devedor é apenas subsidiária, já que o fiador
possui o benefício de ordem ou de excussão.
 Renúncia deste benefício
 Renúncia expressa:
 Está na obrigação como principal pagador ou devedor solidário;
 Devedor insolvente ou falido;
 Entre fiadores há solidariedade passiva legal, contudo, conforme dispõe o art. 829
e art. 830 do CC, os fiadores podem convencionar o benefício de divisão,
respondendo cada fiador por uma parte da dívida (divisão pro rata)
EXTINÇÃO DA FIANÇA
EXONERAÇÃO É uma forma de resilição unilateral, só cabendo na fiança sem prazo
UNILATERAL PELO determinado, demando prévia notificação judicial/extrajudicial do
FIADOR credor,
MORTE DO Já que a fiança é um contrato personalíssimo baseado na
FIADOR confiança.

89
NAS HIPÓTESES
DE VENCIMENTO Novação, prescrição e dação em pagamento.
OU EXTINÇÃO DA
OBRIGAÇÃO
PRINCIPAL
CONCESSÃO DE
MORATÓRIA AO A fiança não admite interpretação extensiva
DEVEDOR
PRINCIPAL, SEM A
PARTICIPAÇÃO
DO FIADOR
FOR IMPOSSÍVEL
A SUB-ROGAÇÃO Se ocorrer por fato do credor
NOS SEUS
DIREITOS OU
PREFERÊNCIAS
RETARDO DA
EXECUÇÃO PELO Conforme o art. 839, se for invocado o benefício da excussão e o
CREDOR CONTRA devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará
O DEVEDOR E exonerado o fiador que o invocou
ESTE ÚLTIMO
CAIR EM
INSOLVÊNCIA

90
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
FCC – 2019 – TJ/PA: Considerando os entendimentos firmados em enunciados sumulares do
STJ acerca de contratos e responsabilidade civil, assinale a opção correta.

A) A propositura de ação de revisão de contrato é fato impeditivo para a caracterização da


mora do autor, obstando a sua inscrição imediata nos órgãos de proteção ao crédito.

B) Nos contratos de consórcio, é vedado às administradoras cobrar taxa de administração em

percentual superior a 10%.

C) Nos contratos de seguro de vida, a embriaguez do segurado é causa necessária e suficiente


para eximir a seguradora do pagamento da indenização.

D) A ausência do registro da transferência de veículo alienado, junto à repartição de trânsito,

implica a responsabilidade solidária do antigo proprietário por danos resultantes de acidentes


posteriores à tradição.

E) Em regra, os contratos de seguro por danos pessoais abrangem danos morais.

Comentário:

Súmula 380 do STJ – A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a
caracterização da mora do autor.

O STJ firmou no REsp n. 1.114.604/PR – representativo da controvérsia – a tese de que


“as administradoras de consórcio têm liberdade para fixar a respectiva taxa de

administração, nos termos do art. 33 da Lei nº 8.177/91 e da Circular nº 2.766/97 do


Banco Central, não havendo falar em ilegalidade ou abusividade da taxa contratada
superior a 10% (dez por cento)”.

91
Súmula 620 do STJ – A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento
da indenização prevista em contrato de seguro de vida.

Súmula 132 do STJ – A ausência de registro da transferência não implica a

responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o


veículo alienado.

Súmula 420 do STJ – O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos

morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

Questão 2
FCC – 2019 – TJ/PA: Diogo contratou Pedroza para a prestação de serviços de advocacia. No

decurso da execução do contrato, com diversas atividades já realizadas por Pedroza, Diogo
tomou conhecimento de que ele não era advogado e não possuía, portanto, licença para

exercer a referida profissão. Diante dessa situação hipotética, assinale a opção correta, nos
termos do Código Civil.

A) Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já

realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que ele desconhecia a necessidade de especial

habilitação para exercer serviços de advocacia.

B) Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já


realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as atividades

foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, no que se refere ao direito à


contraprestação, o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer
serviços de advocacia.

C) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que desconhecia a necessidade de especial

habilitação para exercer serviços de advocacia.

92
D) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades

foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, para fins de direito à compensação,
o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de

advocacia.

E) Pedroza não terá direito a receber contraprestação ou compensação financeira pela


prestação do serviço de advocacia, independentemente de as atividades terem sido cumpridas

de maneira escorreita e de ele ter conhecimento da necessidade de especial habilitação para o

exercício de serviços de advocacia.

Comentário:

“Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título de habilitação, ou não
satisfaça requisitos outros estabelecidos em lei, não poderá quem os prestou cobrar a

retribuição normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se deste resultar


benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem o prestou uma compensação

razoável, desde que tenha agido com boa-fé.

Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo, quando a proibição da

prestação de serviço resultar de lei de ordem pública.”.

Questão 3
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Uma loja de eletrodomésticos assinou um contrato, mediante
instrumento particular, com um posto de combustível para que este fornecesse, todo mês, por

prazo indeterminado, uma quantidade mínima de 50 litros de combustível para abastecer os


veículos de entrega de mercadorias. Em razão do aumento do preço dos combustíveis, a loja

de eletrodomésticos contratou entregadores de bicicleta para as entregas de menor porte e


começou a diminuir as compras de combustível do posto. Por mais de dois anos, o
fornecimento de combustível se deu em quantidades menores que as mínimas estabelecidas

no contrato, sem qualquer ressalva ou reclamação por parte do posto de combustível. Então,
o representante da loja de eletrodomésticos procurou o representante do posto de
combustível e eles, verbalmente, declararam que o contrato estaria desfeito. Entretanto, um

93
ano após o distrato verbal, o posto de combustível ajuizou uma demanda contra a loja de
eletrodomésticos, exigindo-lhe o ressarcimento dos valores proporcionais ao não cumprimento

de metas mínimas de aquisição de combustível, bem como do período após o distrato verbal,
sob o argumento de que o desfazimento do contrato somente poderia ser realizado por

escrito. Acerca do caso hipotético, pode-se corretamente afirmar que

A) como o contrato foi celebrado por escrito, somente poderia ser alterado ou desfeito pela
mesma forma, razão pela qual seriam devidos todos os valores, tendo em vista o

descumprimento do contrato por parte da loja de eletrodomésticos.

B) somente são devidos os valores posteriores ao distrato verbal que não é válido por não
atender à mesma forma do contrato; em relação ao período em que houve fornecimento de

combustível abaixo do previsto no contrato, configurou-se o denominado tu quoque.

C) não há que se falar na aplicação da supressio em razão da incidência do princípio do pacta


sunt servanta. Entretanto, aplicável no caso a surrectio.

D) somente são devidos os valores do período de aquisição abaixo dos mínimos previstos no

contrato, mas não os posteriores ao distrato verbal.

E) nenhum valor é devido, tendo em vista que incidiu a supressio em razão da concordância
tácita do posto em fornecer combustível em valores abaixo dos contratualmente previstos,

bem como ocorreu um distrato verbal válido.

Comentário:

O instituto da supressão (supressio), também conhecida como verwirkung, é uma


expressão (decorrência) do princípio da boa-fé objetiva e serve para limitar o exercício de
direitos subjetivos. A supressio significa que o credor de uma relação jurídica não exerceu

seu direito por longo tempo, de forma que isso gerou a justa expectativa no credor de
que ele continuaria sem exigir esse direito, podendo-se considerar, portanto, que aquela

obrigação contratual deixou de existir. Segundo já decidiu o STJ (AgInt no AREsp


296.214/SP), a supressio consiste na possibilidade de haver um redimensionamento da
obrigação pela inércia qualificada de uma das partes em exercer um direito ou uma
faculdade, durante o período da execução do contrato, criando para a outra parte a

94
legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. Assim, a supressio é
como se fosse a renúncia tácita a um direito pelo seu não-exercício ao longo do tempo.

Alguns autores apontam o art. 330 do CC como sendo um exemplo de supressio que foi
positivado na lei:

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do

credor relativamente ao previsto no contrato.

Questão 4
MPE/GO – 2019 – MPE/GO: De acordo com o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva,

adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que,


tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-lhe tão

somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a
ferir o princípio da boa-fé (objetiva)”. (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português
in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56). De acordo com o

conceito doutrinário acima, assinale a alternativa correta:

A) Segundo jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça (STJ), não é possível


aplicar a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia

regidos pelo Decreto-Lei n. 911/69.

B) A teoria do adimplemento substancial está expressamente prevista no ordenamento jurídico


brasileiro.

C) O uso da teoria do adimplemento substancial pode ser estimulado a ponto de preservar os


interesses do credor e do devedor, pois, a longo prazo, seus efeitos colaterais podem auxiliar
na manutenção dos custos da contratação.

D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para
admitir a substantial performance: insignificância do inadimplemento e satisfação do interesse

creditório.

Comentário:

95
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária
em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69. STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min.

Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info
599). Não há previsão, mas é aceita pela jurisprudência. No caso brasileiro, a despeito da

ausência de previsão expressa na codificação material privada, tem-se associado o


adimplemento substancial com os princípios contratuais contemporâneos, especialmente
com a boa-fé objetiva e a função social do contrato. A análise do adimplemento

substancial passa por dois filtros. O primeiro deles é objetivo, a partir da medida
econômica do descumprimento, dentro da relação jurídica existente entre os envolvidos.

O segundo é subjetivo, sob o foco dos comportamentos das partes no processo


contratual. Essa teoria, na Inglaterra, onde surgiu a teoria, “os autores ingleses

formularam três requisitos para admitir a substantial performance: (a) insignificância do


inadimplemento; (b) satisfação do interesse creditório; (c) diligência por parte do devedor

no desempenho de sua prestação, ainda que a mesma se tenha operado


imperfeitamente” (RODRIGUES JR., Otavio Luiz. Revisão judicial dos contratos: autonomia

da vontade e teoria da imprevisão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006).

Questão 5
FCC – 2019 – TJ/AL: Renato emprestou seu automóvel a Paulo. Quinze dias depois, ainda na
posse do veículo, Paulo o comprou de Renato, que realizou a venda sem revelar que o
automóvel possuía grave defeito mecânico, vício oculto que só foi constatado por Paulo na
própria data da alienação. Nesse caso, de acordo com o Código Civil, Paulo tem direito de

obter a redibição do contrato de compra e venda, que se sujeita a prazo

A) prescricional, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.

B) prescricional, de quinze dias, contado da data da alienação.

C) decadencial, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.

D) decadencial, de quinze dias, contado da data da alienação.

E) decadencial, de noventa dias, contado da data em que recebeu o automóvel.

96
Comentário:

A questão versa sobre Vícios Redibitórios, com previsão no Código Civil.

Nos termos do art. 441, CC, a coisa recebida em virtude de contrato comutativo
(aquisição de um veículo) pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos

(expressamente posto na questão – defeito mecânico, vício oculto), que a tornem


imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Por sua vez, o art. 445, CC dispõe que: “O adquirente decai do direito de obter a

redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um


ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da

alienação, reduzido à metade.

Dessa forma, pode-se concluir o seguinte: o prazo para obter a redibição do contrato é
de 30 dias, porque trata-se de um bem móvel (automóvel). Porém, na data da alienação,

Paulo (comprador) já se encontrava na posse do bem, o que implica na redução do

prazo pela metade. Portanto, o prazo é decadencial, contado da alienação e de 15 dias.

Questão 6
FCC – 2019 – MPE/MT: A compra e venda

A) é nula a de ascendente a descendente, salvo se os demais descendentes e o cônjuge do


alienante consentirem com o ato.

B) não admite a fixação do preço em função de índices ou parâmetros, ainda que suscetíveis

de determinação objetiva, pela insegurança jurídica que traria às partes contratantes.

C) já transfere de imediato o domínio, uma vez celebrado o contrato respectivo, em se


tratando de bem móvel.

D) é lícita entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.

E) só pode ter por objeto coisa atual, ficando sem efeito o contrato se tratar-se de coisa
futura, que poderá não existir.

Comentário:

97
De acordo com o art. 496, é anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Em

ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da

separação obrigatória.

Questão 7
MPE-SC – 2019 – MPE/SC: Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o suicídio
não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado

o direito do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada.

Comentário:

De acordo com a Súmula 610, STJ, o suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de

vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução

do montante da reserva técnica formada.

Questão 8
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de
sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item

subsecutivo. Cláusula de reserva de domínio em contrato de compra e venda só terá validade

contra terceiros se estiver estabelecida por escrito e registrada no domicílio do comprador.

Comentário:

De acordo com o art. 522, a cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e

depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros.

Questão 9
CESPE – 2019 – TJ/SC: A doação de determinado bem a mais de uma pessoa é denominada

A) contemplativa.

B) mista.

C) conjuntiva.

D) divisível.
98
E) híbrida.

Comentário:

Doação contemplativa / meritória: "realizada com espeque em alguma virtude do


beneficiário. É, pois, uma liberalidade pura e simples, sem condição, na qual o benfeitor

expressa a sua admiração pelo beneficiário. Desse modo, poderá o doador anunciar que
a doação decorre de um fato certo e específico [...] Não caracteriza uma contrapartida,
uma recompensa de serviço prestado". Prevista no art. 540, primeira parte, do CC. (p.

1232)

Doação mista / híbrida: "são hipóteses nas quais, malgrado a intenção de doar seja clara,
o declarante estabelece regras típicas dos negócios jurídicos onerosos. É o exemplo da

compra e venda de um bem a preço vil ou na aquisição de uma coisa por preço bastante
superior ao real. [...] Em casos tais [...] deve-se 'verificar a preponderância do negócio, se

oneroso ou gratuito, levando-se em conta o art. 112 do CC' - isto é, apreciando com
mais vigor a intenção do que o sentido literal da linguagem". (p. 1232)

Doação conjuntiva / em comum a mais de uma pessoa: "é estabelecida em benefício de

duas ou mais pessoas (naturais ou jurídicas), sem que o doador, expressamente, ressalve
a parcela do bem doado que incumbirá a cada donatário. Assim, presume-se,

supletivamente, na ausência de disposição contrária, que os beneficiários foram


agraciados em partes iguais". Prevista no art. 551 do CC. (p. 1232)

Doação híbrida é sinônimo de doação mista.

Questão 10
VUNESP – 2019 – TJ/SP: O contrato de fiança é celebrado entre o fiador e o

A) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal
demandado, poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

B) afiançado, sendo gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal demandado, não poderá

compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por terceiro uma
pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.

99
C) afiançado, sendo necessariamente gratuito, mas o fiador, se como tal demandado, não
poderá compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por

terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.

D) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, e o fiador, se como tal demandado,
não poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado, porque a compensação

exige que duas pessoas sejam, ao mesmo tempo, credoras e devedoras uma da outra.

Comentário:

O contrato de fiança é estabelecido sempre entre o fiador de o credor do afiançado,


inclusive podendo estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra
a sua vontade. Em regra, o contrato de fiança é gratuito, mas pode ser oneroso. Ex.:

fiança bancária e seguro fiança, assim, dispõe o art. 371 que “O devedor somente pode
compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida

com a de seu credor ao afiançado”.

100
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - E

Questão 3 - E

Questão 4 - A

Questão 5 - D

Questão 6 - D

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - CERTO

Questão 9 - C

Questão 10 - A

101
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Teoria do Contrato

 CC: Arts. 421 a 480;

Contratos em Espécie

 CC: Arts. 481 a 853.


 Súmulas: 214, 239, 268, 283, 293, 308, 335, 369, 382, 402, 465, 529, 549, 564, 596, 609,

610, 614, 616, 620 STJ

Contratos em Espécie

 Súmula 214, STJ:

O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

 Súmula 239, STJ:

O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no


cartório de imóveis.

 Súmula 268, STJ:

O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado

 Súmula 283, STJ:

As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios
por elas cobrados não sofrem as limitações da lei de usura.

 Súmula 293, STJ:

102
A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento
mercantil.

 Súmula 308, STJ:

A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

 Súmula 335, STJ:

Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.

 Súmula 369, STJ:

No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a
notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.

 Súmula 382, STJ:

A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

 Súmula 402, STJ:

O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

 Súmula 465, STJ:

Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de indenizar em
razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação.

 Súmula 529-STJ:

No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta
e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.

 Súmula 549, STJ:

É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.

 Súmula 564, STJ:

No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a soma da importância


antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG
previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se
estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.

 Súmula 596, STJ:

103
A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.

 Súmula 609, STJ:

A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente, é ilícita se não houve a exigência de
exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado.

 Súmula 610, STJ:

O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito
do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada.

 Súmula 614, STJ:

O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes
ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.

 Súmula 616, STJ:

A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no
pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.

 Súmula 620, STJ:

A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato de


seguro de vida.

104
JURISPRUDÊNCIA

Teoria do Contrato

 REsp 1086989/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 23/02/2010, DJe
05/03/2010).

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA


DE VEÍCULO COM ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO. OBJETO LÍCITO. VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO.
CONDUTA DE RESERVA MENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO. SÚMULA 7/STJ.INCIDÊNCIA. - Se o
acórdão recorrido estabeleceu que a recorrente “não perseguiu os fatos na busca da verdade real em flagrante
conduta de reserva mental”, sua irresignação, quanto à violação do art. 110 do CC/02, esbarra na Súmula 7/STJ,
pois a desconstituição desse entendimento implica o reexame dos elementos de prova constantes dos autos. –
Na estipulação em favor de terceiro, tanto o estipulante quanto o beneficiário podem exigir do devedor o
cumprimento da obrigação (art. 436, par. único, do CC/02 ou art. 1.098, par. único, do CC/1916). Com isso, o
terceiro, até então estranho à relação obrigacional originária, com ela consente e passa efetivamente a ter direito
material à prestação que lhe foi prometida. Nessas situações nem mesmo o estipulante pode lhe retirar o direito
de pleitear a execução do contrato (art. 437 do CC/02). - Na hipótese específica dos autos, entende-se que a
recorrente (promitente) não teria o direito de pleitear a resolução do contrato, mesmo que a empresa
(estipulante) não tenha cumprido a sua parte na convenção, pelas seguintes razões: a) a recorrida (beneficiário)
consentiu e aderiu de boa-fé à relação obrigacional; b) com a adesão, a recorrida adquiriu o direito material à
prestação prometida; c) a recorrida possui um direito de ação próprio, autônomo, podendo exigir diretamente do
promitente a prestação, sem a necessidade de interferência do estipulante; d) com a adesão da recorrida
(beneficiário), o promitente não tem a faculdade de privá-la do seu direito, o que ocorreria por via indireta se
admitida a resolução do contrato; e e) a resolução do contrato tornaria sem efeito o direito do beneficiário já
incorporado ao seu patrimônio jurídico – Não há de se confundir inadimplemento contratual com ilicitude do
objeto contratado. Como o acórdão recorrido confirmou tratar-se de um contrato cujo objeto seria a compra e
venda de veículo em favor de terceiro, sem levantar qualquer dúvida sobre sua validade, pode-se concluir que a
formação contratual não se deu com ofensa à lei e à moral. Ademais, considerando que a recorrente tem como
atividade comercial a importação e exportação de veículos, não seria inoportuno consignar que a celebração
desse tipo de contrato seria prática comum e rotineira. Recurso especial não provido.

 REsp 1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013. (Info. 507-STJ)

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL. A parte interessada em se tornar revendedora


autorizada de veículos tem direito de ser ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no

105
caso em que esta — após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois comunicar
àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive, a adiantar o
pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito,
abstendo-se de devolver as quantias adiantadas. A responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na
fase preliminar do contrato, é tema oriundo da teoria da culpa in contrahendo, formulada pioneiramente por
Jhering, que influenciou a legislação de diversos países. No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a
respeito do tema, tampouco sobre a cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava, com fundamento
no art. 159 daquele diploma, a importância da tutela da confiança e da necessidade de reparar o dano verificado
no âmbito das tratativas pré-contratuais. Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da
boa-fé (art. 422), da qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de proteção.
Com base nesse regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de danos originados na fase
pré-contratual caso verificadas a ocorrência de consentimento prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à
boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a
ruptura das tratativas e o dano sofrido. Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as
tratativas terem sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter
gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material.

Contratos em Espécie

 STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/8/2016 (Info 589).

É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da União quando
ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), ainda que
o pacto tenha sido registrado no Cartório competente.

Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de marinha, ele deverá obter
autorização da União, por meio da SPU, pagando o laudêmio e cumprindo outras formalidades exigidas. Somente
assim esta alienação será possível de ser feita validamente.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 3/11/2015 (Info 573).

Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato de compra e venda com reserva de domínio, o
vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador, pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel
objeto da avença.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.171-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info
593).

Não é possível a estipulação de multa no contrato de honorários para as hipóteses de renúncia ou revogação
unilateral do mandato do advogado, independentemente de motivação, respeitado o direito de recebimento dos

106
honorários proporcionais ao serviço prestado. É direito de o advogado renunciar ou da parte revogar o mandato
a qualquer momento e sem necessidade de declinar as razões. Isso porque a relação entre advogado e cliente é
pautada pela confiança, fidúcia, sendo um contrato personalíssimo (intuitu personae). Apesar de o advogado não
poder exigir multa pelo fato de o contratante ter revogado o mandato, ele poderá cobrar o valor dos honorários
advocatícios na proporção dos serviços que já foram prestados. Cláusula penal em contratos advocatícios: I. é
lícita para situações de mora e/ou inadimplemento (ex: multa pelo atraso no pagamento dos honorários). II. não
é permitida para as hipóteses de renúncia ou revogação do mandato (ex: multa pelo fato de o cliente ter
decidido revogar o mandato e constituir outro advogado).

 Informativo 804, STF:

Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD. Quando for realizada a
alienação fiduciária de um veículo, o contrato deverá ser registrado no DETRAN e esta informação constará no
CRV do automóvel. É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório. STF.
Plenário. RE 611639/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/10/2015 (repercussão geral). STF.

 Informativo 582, STJ:

O fato de o beneficiário de seguro de vida ter sido reformado pelo Exército em razão de incapacidade total para
sua atividade habitual (serviço militar) não implica, por si só, o direito à percepção de indenização securitária em
seu grau máximo quando a apólice de seguro estipula que esse grau máximo é devido no caso de invalidez total
permanente para qualquer atividade laboral.

 Informativo 580, STJ:

Em alienação fiduciária de bem imóvel (Lei nº 9.514/1997), é nula a intimação do devedor para oportunizar a
purgação de mora realizada por meio de carta com aviso de recebimento quando esta for recebida por pessoa
desconhecida e alheia à relação jurídica.

 Informativo 582, STJ:

É válida a chamada cláusula de “aluguel dúplice” (ou “13º aluguel”) nos contratos de locação de espaço em
shopping center. Fundamento: princípio da autonomia privada.

 Informativo 578, STJ:

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao
período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a
efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da
permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei nº 8.245/91).

 Informativo 578, STJ:

107
A Lei nº 8.245/91 prevê que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias
forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles: a) ações de despejo; b) ações de
consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação; c) ações revisionais de aluguel; d) ações
renovatórias de locação. A ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as
férias forenses? Não. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do
momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal
acima mencionado. Em suma, nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis,
os prazos processuais (inclusive para recursos) ficam suspensos durante o recesso forense.

 Informativo 577, STJ:

É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento procuratório concedido pelo proprietário
do bem não mencionar o donatário, sendo insuficiente a declaração de poderes gerais na procuração.

 Informativo 595, STJ:

A fiança limitada decorre da lei e do contrato, de modo que o fiador não pode ser compelido a pagar valor
superior ao que foi avençado, devendo responder tão somente até o limite da garantia por ele assumida, o que
afasta sua responsabilização em relação aos acessórios da dívida principal e aos honorários advocatícios, que
deverão ser cobrados apenas do devedor afiançado. Por se tratar de contrato benéfico, as disposições relativas à
fiança devem ser interpretadas de forma restritiva (art. 819 do CC), razão pela qual, nos casos em que ela é
limitada (art. 822), a responsabilidade do fiador não pode superar os limites nela indicados.

 Informativo 593, STJ:

A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de 3 anos.
Em outras palavras, é de 3 anos o prazo prescricional para que o evicto (que perdeu o bem por evicção)
proponha ação de indenização contra o alienante.

 Informativo 593, STJ:

Na ação de despejo por falta de pagamento, o locatário ou o fiador poderão evitar a rescisão da locação
efetuando, no prazo de 15 dias, contado da citação, o pagamento do débito atualizado mediante depósito
judicial (art. 62, II, da Lei nº 8.245/91). A partir de quando começa a ser contado este prazo que o requerido
possui para purgar a mora? O que o art. 62, II, da Lei quer dizer quando fala "contado da citação"? O prazo de
15 dias para purgação da mora deve ser contado a partir da juntada aos autos do mandado de citação ou aviso
de recebimento devidamente cumprido. Não cabimento de purgação complementar da mora caso os valores
tenham sido contestados pelo locatário A contestação de parte do débito na ação de despejo por falta de
pagamento é incompatível com a intimação do locatário para fins de complementação do depósito em relação
às parcelas tidas por ele como indevidas. Não se deve intimar o locatário para efetuar a purgação complementar
da mora (art. 62, III, da Lei nº 8.245/91) se houve manifestação contrária de sua parte, em contestação, quanto à

108
intenção de efetuar o pagamento das parcelas não depositadas. Em outras palavras, se o locatário, regularmente
citado, contesta parte da dívida, não cabe a sua intimação para complementar o depósito de emenda da mora e
pagar tais parcelas.

 Informativo 594, STJ:

Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por
deficiente físico. Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com
aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o
descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.

 Informativo 602, STJ:

Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o promover
ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no
art. 204 do CC. Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de
consequência, estará interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da gravitação jurídica (o
acessório segue o principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º A interrupção produzida contra o principal
devedor prejudica o fiador. A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor
afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários Como regra, a interrupção operada contra o
fiador não prejudica o devedor afiançado. Isso porque o principal não segue a sorte do acessório. Existe, no
entanto, uma exceção: a interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar prejudicando o
devedor principal nas hipóteses em que a referida relação for reconhecida como de devedores solidários, ou seja,
caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou devedor solidário. STJ. 4ª
Turma.

 Informativo 611, STJ:

O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato social com a transferência
de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a outro descendente.

 Informativo 614, STJ:

Se houve reconhecimento da culpa do segurado e pagamento de parte da indenização pela seguradora ao


terceiro, não se aplica a Súmula 529 do STJ. A vítima de acidente de trânsito pode ajuizar demanda direta e
exclusivamente contra a seguradora do causador do dano quando reconhecida, na esfera administrativa, a
responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e quando parte da indenização securitária já tiver sido paga.
Porque, mesmo não havendo relação contratual entre a seguradora e o terceiro, a sucessão dos fatos (apuração
administrativa e pagamento de parte da indenização) faz com que surja uma relação jurídica de direito material
envolvendo a vítima e a seguradora. Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o

109
ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado
causador do dano.

 Informativo 615, STJ:

Não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 (trinta) meses, exigido pelo art. 46 da Lei n. 8.245/1991, é
atingido com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano.

 Informativo 593, STJ:

É dever do alienante transmitir ao adquirente o direito sem vícios, de forma que se caracteriza a evicção se existir
um gravame que impede a transferência do bem. Caracteriza-se evicção a inclusão de gravame capaz de impedir
a transferência livre e desembaraçada de veículo objeto de negócio jurídico de compra e venda.

Caso concreto: foi vendido um carro, mas, antes que pudesse ser transferido à adquirente, houve um bloqueio
judicial sobre o veículo. Foi necessário o ajuizamento de embargos de terceiro para liberação do automóvel,
sendo, em seguida, desfeito o negócio. Neste caso, caracterizou-se a evicção, gerando o dever do alienante de
indenizar a adquirente pelos prejuízos sofridos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.713.096-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/02/2018 (Info 621). A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-
se ao prazo prescricional de três anos (STJ. 3ª Turma. REsp 1.577.229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
8/11/2016.

 Informativo 622, STJ:

O contratante do seguro de vida em grupo não tem direito à renovação da apólice sem a concordância da
seguradora nem pode exigir a restituição dos prêmios pagos. Não é abusiva a cláusula contratual que prevê a
possibilidade de não renovação automática do seguro de vida em grupo por qualquer dos contratantes, desde
que haja prévia notificação da outra parte.

À exceção dos contratos de seguro de vida individuais, contratados em caráter vitalício ou plurianual, nos quais
há a formação de reserva matemática de benefícios a conceder, as demais modalidades são geridas sob o regime
financeiro de repartição simples, de modo que os prêmios arrecadados do grupo de segurados ao longo do
período de vigência do contrato destinam-se ao pagamento dos sinistros ocorridos naquele período.

Dessa forma, nos contratos de seguro de vida em grupo não há direito à renovação da apólice sem a
concordância da seguradora ou à restituição dos prêmios pagos em contraprestação à cobertura do risco no
período delimitado no contrato.

Vale ressaltar que a seguradora pode decidir não mais renovar o contrato de seguro de vida, mesmo que não
comprove que houve desequilíbrio atuarial-financeiro. Trata-se de um verdadeiro direito potestativo. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.569.627-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/02/2018

110
 Informativo 625, STJ.

É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos
praticados pelo segurado em estado de embriaguez. Tal cláusula é abusiva, com base nos arts. 3º, § 2º, e 51, IV,
do CDC. STJ. 2ª Seção. EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª
Região), julgado em 25/04/2018

 Informativo 625, STJ:

É juridicamente possível o pedido de alienação judicial de bem imóvel objeto de compromisso de compra e
venda. STJ. 3ª Turma. REsp 1.501.549-Rs, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgado Em 08/05/2018

 Informativo 627, STJ:

O falecimento do consignante não extingue a dívida decorrente de contrato de crédito consignado em folha de
pagamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.498.200-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018

 Informativo 628, STJ:

Pessoa celebrou contrato de mútuo feneratício com instituição financeira. Por algum motivo (ex: nulidade, ato
ilícito, abusividade etc.) o mutuário ingressou com ação judicial pedindo a resolução do contrato e a restituição
das parcelas pagas. Se esta ação for julgada procedente, o mutuário terá direito de receber os valores pagos
acrescidos de juros remuneratórios no mesmo percentual que era previsto no contrato para ser cobrado pelo
banco mutuante? NÃO. O mutuário que celebrar contrato de mútuo feneratício com a instituição financeira
mutuante, não tem direito de pedir repetição do indébito com os mesmos índices e taxas de encargos previstos
no contrato. Tese aplicável a todo contrato de mútuo feneratício celebrado com instituição financeira mutuante:
“Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato”. STJ. 2ª Seção. REsp 1.552.434-
GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/06/2018 (recurso repetitivo)

 Informativo 616, STJ:

A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o direito automático de
receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo imprescindível a realização de perícia
médica para atestar o grau de incapacidade e o correto enquadramento na cobertura contratada. STJ. 2ª Seção.
EREsp 1.508.190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/11/2017

 Informativo 618, STJ:

O falecimento do parceiro outorgante não extingue o contrato de parceria rural. Os herdeiros somente poderão
exercer o direito de retomada ao término do contrato e desde que obedeçam às regras do Decreto nº
59.566/1966 quanto ao prazo para notificação e às causas para retomada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.668-MG, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/12/2017

111
 Informativo 629, STJ:

A certidão de parcelamento fiscal é suficiente para suprir a exigência prevista no inciso III do art. 71 da Lei nº
8.245/91 (Lei de Locações) para efeito do ajuizamento de ação renovatória de locação empresarial. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.698.814-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/06/2018

 Informativo 629, STJ:

É devida a condenação ao pagamento de taxa de ocupação (aluguéis) pelo período em que o comprador
permanece na posse do bem imóvel, no caso de rescisão do contrato de promessa de compra e venda,
independentemente de ter sido o vendedor quem deu causa ao desfazimento do negócio. Ex: João e Pedro
celebraram promessa de compra e venda de um apartamento. Pedro (promitente comprador) estava morando no
imóvel há 6 meses e pagando regularmente as prestações. Ocorre que o contrato foi desfeito por culpa de João.
Todo o valor pago por Pedro deverá ser devolvido, assim como ele terá que ser indenizado pelas benfeitorias
que realizou. Por outro lado, Pedro terá que pagar taxa de ocupação (aluguel) pelos meses em que morou no
apartamento. O fundamento para isso não está na culpa, mas sim na proibição do enriquecimento sem causa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.613.613-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/06/2018

 Informativo 632, STJ:

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação
possa ser oposta ao adquirente. É o que prevê a Lei nº 8.245/91: Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a
locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a
locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver
averbado junto à matrícula do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612- RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 07/08/2018

 Informativo 632, STJ:

É possível a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing) se o prazo de vigência do acordo


celebrado não respeitar a vigência mínima estabelecida de acordo com a vida útil do bem arrendado. Nos termos
do art. 8º do anexo da Resolução nº 2.309/96 e art. 23 da Lei nº 6.099/74, o prazo mínimo de vigência do
contrato de arrendamento mercantil financeiro é de (i) dois anos, quando se tratar de bem com vida útil igual ou
inferior a cinco anos, e (ii) de três anos, se o bem arrendado tiver vida útil superior a cinco anos. Caso concreto:
o bem arrendado (pá-escavadeira) possui vida útil superior a cinco anos. Apesar disso, o ajuste previa o
arrendamento pelo prazo de apenas dois anos. Logo, foi desrespeitada a Resolução, ficando descaracterizado o
contrato de arrendamento mercantil. Ficando descaracterizado o leasing, é possível cobrar ICMS sobre esta
operação. STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.840-MT, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/08/2018

 Informativo 639, STJ:

112
A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora. STJ. 2ª Seção. REsp 1.639.259-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018 (recurso repetitivo)

 Informativo 639, STJ:

ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! Ainda que contrato preveja a exclusão da cobertura em caso de
embriaguez do segurado e mesmo que o acidente tenha sido causado por essa embriaguez, a seguradora será
obrigada a indenizar a vítima, já que essa cláusula é ineficaz perante terceiros.

No contrato de seguro de automóvel, é lícita a cláusula que exclui a cobertura securitária para o caso de o
acidente de trânsito (sinistro) ter sido causado em decorrência da embriaguez do segurado. No entanto, esta
cláusula é ineficaz perante terceiros (garantia de responsabilidade civil). Isso significa que, mesmo que contrato
preveja a exclusão da cobertura em caso de embriaguez do segurado, a seguradora será obrigada a indenizar a
vítima (terceiro) caso o acidente tenha sido causado pelo segurado embriagado. Em outras palavras, não se pode
invocar essa cláusula contra a vítima. Depois de indenizar a vítima, a seguradora poderá exigir seu direito de
regresso contra o segurado (causador do dano). A garantia de responsabilidade civil não visa apenas proteger o
interesse econômico do segurado tendo, também como objetivo preservar o interesse dos terceiros prejudicados.
O seguro de responsabilidade civil se transmudou após a edição do Código Civil de 2002, de forma que deixou
de ser apenas uma forma de reembolsar as indenizações pagas pelo segurado e passou a ser também um meio
de proteção das vítimas, prestigiando, assim, a sua função social. É inidônea a exclusão da cobertura de
responsabilidade civil no seguro de automóvel quando o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que
somente prejudicaria a vítima já penalizada, o que esvaziaria a finalidade e a função social dessa garantia, de
proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à indenização, ao lado da proteção patrimonial do segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.247-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018

 Informativo 640, STJ:

O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD pode definir critérios diferenciados para distribuição de
valores de direitos autorais de acordo com os diversos tipos de exibição de músicas inseridos no contexto de
obras audiovisuais, como nas chamadas músicas de fundo (background). STJ. 3ª Turma. REsp 1331103/RJ, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2013. STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.227-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 27/11/2018

 Informativo 640, STJ:

A seguradora não pode recusar a contratação de seguro a quem se disponha a pronto pagamento se a
justificativa se basear unicamente na restrição financeira do consumidor junto a órgãos de proteção ao crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.594.024-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018

É abusiva a exclusão do seguro de acidentes pessoais em contrato de adesão para as hipóteses de:

113
a) gravidez, parto ou aborto e suas consequências;

b) perturbações e intoxicações alimentares de qualquer espécie; e

c) todas as intercorrências ou complicações consequentes da realização de exames, tratamentos clínicos ou


cirúrgicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.238-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).

 Informativo 640, STJ:

É devida a comissão de corretagem ainda que o resultado útil da intermediação imobiliária seja negócio de
natureza diversa da inicialmente contratada. Ex: corretor foi contratado para procurar um interessado em comprar
o terreno; encontrou um interessado em fazer um contrato de parceria para loteamento urbano; o contrato de
parceria foi celebrado; mesmo o terreno não tendo sido vendido, o corretor deverá receber a comissão por ter
aproximado as partes, gerando um ganho para o seu contratante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.765.004-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/11/2018

 Informativo 640, STJ:

A Lei nº 10.209/2001 estabelece que a empresa que contratar uma empresa de transporte rodoviário deverá
pagar, de forma antecipada e separada, os valores que o transportador terá que arcar com os pedágios nas
estradas. Esse pagamento é chamado de Vale-Pedágio. O art. 8º da Lei prevê que o embarcador/contratante que
não pagar ao transportador o valor do pedágio estará sujeito a uma multa equivalente ao dobro do valor do
frete. Essa multa é conhecida como “dobra do frete”. A obrigação de pagamento antecipado do Vale-Pedágio
previsto pela Lei nº 10.209/2001 é norma cogente que não admite o instituto da supressio. Isso significa que,
mesmo que o transportador não tenha cobrado o pagamento antecipado do pedágio durante longo período, ele
não perde o direito de exigir essa quantia. Além disso, a dobra do frete (art. 8º da Lei nº 10.209/2001) é uma
sanção legal, de caráter especial, razão pela qual não é possível a convenção das partes para lhe alterar o
conteúdo e também não é possível a sua redução com base no art. 412 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.694.324-SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/11/2018.

 Informativo 638, STJ:

O credor fiduciário, no contrato de alienação fiduciária de bem imóvel, tem responsabilidade pelo pagamento das
despesas condominiais deixadas pelo devedor fiduciante? NÃO. • A responsabilidade pelo pagamento das
despesas condominiais recai sobre o devedor fiduciante enquanto estiver na posse direta do imóvel. • O credor
fiduciário somente responde pelas dívidas condominiais incidentes sobre o imóvel se consolidar a propriedade
para si, tornando-se o possuidor direto do bem. Assim, a responsabilidade do credor fiduciário pelo pagamento
das despesas condominiais dá-se quando da consolidação de sua propriedade plena quanto ao bem dado em
garantia, ou seja, quando de sua imissão na posse do imóvel. É o que prevê o § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97:
§ 8º Responde o fiduciante pelo pagamento dos impostos, taxas, contribuições condominiais e quaisquer outros
encargos que recaiam ou venham a recair sobre o imóvel, cuja posse tenha sido transferida para o fiduciário, nos

114
termos deste artigo, até a data em que o fiduciário vier a ser imitido na posse. STJ. 3ª Turma. REsp 1696038/SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/08/2018. STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.735-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 13/11/2018.

 Informativo 633, STJ:

O incorporador só se acha habilitado a negociar unidades autônomas do empreendimento imobiliário depois que
registrar, no Registro de Imóveis, os documentos elencados no art. 32 da Lei nº 4.591/64. Descumprida essa
exigência legal, impõe-se a aplicação da multa do art. 35, § 5º, da mesma lei. É decenal o prazo prescricional
aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º, da
Lei nº 4.591/64. Fundamento: art. 205 do Código Civil. Não se aplica o art. 27 do CDC porque este dispositivo é
restrito às ações que busquem a reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço e essa situação
não se enquadra como fato do produto ou serviço (não se trata de acidente de consumo). STJ. 3ª Turma. REsp
1497254-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/09/2018

 Informativo 635, ST:

Uma fábrica e um banco celebraram dois contratos: • ajuste 1: contrato de abertura de crédito (no qual havia
uma cláusula compromissória). • ajuste 2: contrato de swap (no qual não havia cláusula compromissória). Foi
reconhecido que havia coligação contratual entre os dois ajustes, sendo o contrato de swap dependente do
contrato de abertura de crédito (ajuste principal). Nos contratos coligados, as partes celebram uma pluralidade de
negócios jurídicos tendo por desiderato um conjunto econômico, criando entre eles efetiva dependência. Tendo
sido reconhecida a coligação contratual, é possível que a cláusula compromissória prevista no contrato principal
(contrato de abertura de crédito) seja estendida ao contrato de swap (dependente). Isso porque ambos são
integrantes de uma operação econômica única. STJ. 3ª Turma. REsp 1.639.035-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 18/09/2018

 Informativo 637, STJ:

O art. 1.911 do Código Civil estabelece: Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de
liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. A interpretação deste art. 1.911 nos permite chegar
a quatro conclusões: a) há possibilidade de imposição autônoma das cláusulas de inalienabilidade,
impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério do doador/instituidor. Em outras palavras, o doador/instituidor
pode impor só uma, só duas ou as três cláusulas. b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-
se, ex vi lege (por força de lei), automaticamente, a impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Assim, se tiver
sido imposta cláusula de inalienabilidade ao imóvel, isso significa que ele, obrigatoriamente, será também
impenhorável e incomunicável. c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não
gera a presunção da inalienabilidade. A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em
ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade. d) a instituição autônoma da

115
impenhorabilidade, por si só, não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa. STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.547-
MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/11/2018

 Informativo 639, STJ:

A garantia de responsabilidade civil não visa apenas proteger o interesse econômico do segurado tendo, também
como objetivo preservar o interesse dos terceiros prejudicados. O seguro de responsabilidade civil se transmudou
após a edição do Código Civil de 2002, de forma que deixou de ser apenas uma forma de reembolsar as
indenizações pagas pelo segurado e passou a ser também um meio de proteção das vítimas, prestigiando, assim,
a sua função social. É inidônea a exclusão da cobertura de responsabilidade civil no seguro de automóvel quando
o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que somente prejudicaria a vítima já penalizada, o que
esvaziaria a finalidade e a função social dessa garantia, de proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à
indenização, ao lado da proteção patrimonial do segurado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.247-SC, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018

 Informativo 640, STJ:

É abusiva a exclusão do seguro de acidentes pessoais em contrato de adesão para as hipóteses de: a) gravidez,
parto ou aborto e suas consequências; b) perturbações e intoxicações alimentares de qualquer espécie; e c) todas
as intercorrências ou complicações consequentes da realização de exames, tratamentos clínicos ou cirúrgicos. STJ.
3ª Turma. REsp 1.635.238-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018

 Informativo 640, STJ:

SFH. Em ação de execução hipotecária, o credor hipotecário pode requerer a adjudicação do imóvel penhorado
pelo valor constante do laudo de avaliação, independentemente da realização de hasta pública. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.721.731-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/11/2018

 Informativo 644, STJ:

MANDATO. O advogado substabelecente somente irá responder por ato ilícito cometido pelo advogado
substabelecido se ficar evidenciado que, no momento da escolha, a despeito de possuir inequívoca ciência acerca
da inidoneidade do aludido causídico, ainda assim o elegeu para o desempenho do mandato. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.742.246-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/03/2019

 Informativo 596, STJ:

CONSÓRCIO. A beneficiária do consorciado falecido tem direito à liberação imediata da carta de crédito, em
razão da quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista contratado, independentemente da efetiva
contemplação ou do encerramento do grupo. João celebrou com a “Itaú Consórcios” contrato de participação em
grupo de consórcio destinado à aquisição de um automóvel. Neste contrato, havia uma cláusula prevendo seguro
de vida e proteção financeira, ou seja, um seguro prestamista com cobertura para o risco de morte. Isso significa

116
que havia uma espécie de seguro de vida como pacto acessório ao contrato de consórcio. Por meio deste seguro
prestamista, a administradora do consórcio afirmou o seguinte: se o contratante falecer antes de quitar todas as
parcelas do consórcio, a contratada (Itaú Consórcios) irá quitar o saldo devedor relativo à cota do consorciado
falecido. Antes do fim do consórcio, João faleceu. Ocorre que a administradora do consórcio recusou-se a fazer a
liberação imediata da carta de crédito dizendo que o herdeiro de João teria que aguardar ser sorteado ou
esperar terminar o consórcio. O STJ não concordou com a postura da administradora e disse que a liberação,
nestes casos, deve ser imediata, não havendo lógica em se aguardar, considerando que já houve a liquidação
antecipada da dívida pela seguradora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.358-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/03/2019 (Info 644). STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/11/2016.

 Informativo 648, STJ:

CONTRATO DE COMPRA E VENDA. LOTEAMENTO. É válida a estipulação, na escritura de compra e venda,


espelhada no contrato-padrão depositado no cartório, de cláusula que preveja a cobrança, pela administradora
do loteamento, das despesas com manutenção e infraestrutura do loteamento.

 Informativo 650, STJ:

CONTRATO DE LOCAÇÃO. Não são exigíveis aluguéis no período compreendido entre o incêndio que destruiu
imóvel objeto de locação comercial e a efetiva entrega das chaves pelo locatário. Assim, extinta a propriedade
pelo perecimento do bem, também se extingue, a partir desse momento, a possibilidade de usar, fruir e gozar
desse mesmo bem, o que inviabiliza, por conseguinte, a manutenção do contrato de locação, já que o locatório
não terá como realizar a exploração econômica dessas faculdades da propriedade.

 Informativo 650, STJ:

CONTRATO DE LOCAÇÃO. Notificado o locador ainda no período determinado da locação acerca da pretensão
de exoneração dos fiadores, os efeitos desta exoneração somente serão produzidos após o prazo de 120 dias da
data em que se tornou indeterminado o contrato de locação

 Informativo 648, STJ:

CONTRATO DE DOAÇÃO. A doação remuneratória deve respeitar a legítima dos herdeiros e não pode ser
universal. A doação remuneratória é aquela feita como uma forma de recompensa dada pelo doador pelo serviço
prestado pelo donatário e que, embora quantificável pecuniariamente, não é juridicamente exigível. A doação

remuneratória deve respeitar os limites impostos pelo legislador.

 Informativo 651, STJ:

A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza fundo de comércio de empresa de telefonia
móvel celular, a conferir-lhe o interesse processual no manejo de ação renovatória fundada no art. 51 da Lei nº
8.245/91. STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.074-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/06/2019.

117
 INFO 654, STJ:

O arbitramento do aluguel provisório na ação revisional faz nascer a obrigação do locatário de pagar esse novo
valor e, se não o fizer, tais quantias já poderão ser incluídas na execução que pedia o pagamento de aluguéis
atrasados Na execução de contrato locatício, é possível a inclusão dos aluguéis vencidos no curso do processo
com base em valor fixado provisoriamente em anterior ação revisional.

 Informativo 655, STJ:

Em um contrato de cessão de crédito tendo por cessionário Fundo de Investimento em Direitos Creditórios -
FIDC, é válida a previsão contratual de fiança, garantindo os riscos em caso de inadimplência dos devedores. É
válida a celebração de contrato acessório de fiança na cessão de crédito em operação de securitização de
recebíveis, tendo por cessionário um FIDC (Fundo de Investimento em Direito Creditório).

 Informativo 655, STJ:

Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de fazer cumulada com reparação de danos
materiais e morais ajuizada por motorista de aplicativo pretendendo a reativação de sua conta UBER para que
possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços. Compete à justiça comum estadual julgar ação de
obrigação de fazer, cumulada com reparação de danos materiais e morais, ajuizada por motorista de aplicativo,
pretendendo a reativação de sua conta UBER para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços. As
ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente permitiram criar uma nova modalidade de interação econômica,
fazendo surgir a economia compartilhada (sharing economy), em que a prestação de serviços por detentores de
veículos particulares é intermediada por aplicativos geridos por empresas de tecnologia. Nesse processo, os
motoristas, executores da atividade, atuam como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a
empresa proprietária da plataforma.

 Informativo 659, STJ:

A inércia do locador em exigir o reajuste dos aluguéis por longo período de tempo suprime o direito à cobrança
de valores pretéritos, mas não impede a atualização dos aluguéis a partir da notificação extrajudicial
encaminhada ao locatário. Exemplo: a Alamos Ltda. alugou um imóvel para a Havana Ltda. O valor do aluguel era
de R$ 10.000,00 e o contrato tinha prazo de duração de 20 anos. No pacto havia uma cláusula prevendo reajuste
automático no percentual de 5% a cada ano. Durante 5 anos, a Havana (locatária) pagou, todos os meses, o valor
de R$ 10.000,00, sem qualquer oposição da Alamos (locadora). Em outras palavras, a locadora nunca exigiu o
cumprimento dessa cláusula contratual de reajuste. No dia 02/02/2019, a Alamos enviou uma notificação
extrajudicial para a Havana dizendo que a locatária estava descumprindo o contrato porque estava pagando um
valor de aluguel menor do que deveria. A locadora afirmou que a locatária deveria ter aumentado o valor do
aluguel a cada ano e que, portanto, ela estaria inadimplente. Na notificação, a locadora exigiu que a locatária: 1)

118
pagasse os próximos meses já com o valor reajustado; e 2) pagasse também a diferença dos meses anteriores à
notificação. Em outros termos, a Alamos falou que as parcelas anteriores foram pagas a menor e exigiu a
diferença de todos esses meses. Os pedidos da locadora devem ser acolhidos, segundo o STJ? O pedido 1, sim.
O pedido 2, não. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.278-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/10/2019
(Info 659).

 Informativo 660, STJ:

O art. 12 da Lei nº 8.245/91 prevê que “em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução
da união estável, a locação residencial prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro que
permanecer no imóvel.” O § 1º do art. 12 afirma que o locatário sub-rogado deverá notificar o fiador, informando
sobre essa separação, a fim de que o fiador decida se deseja ou não continuar com este encargo. Segundo o §
2º do art. 12, o fiador, depois de ser notificado pelo sub-rogado, poderá, no prazo máximo de 30 dias, informar
ao locador que quer se exonerar das suas responsabilidades. Suponhamos que o locatário sub-rogado não
informou o fiador. O locador, contudo, assumiu esse papel e notificou o fiador, comunicando que houve a sub-
rogação. Mesmo assim o prazo do fiador já começou a correr? O prazo de 30 dias para que o fiador peça a sua
exoneração começou a ser contado a partir dessa notificação feita pelo locador? SIM. O prazo para o fiador
exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sublocação, ainda que a ciência não ocorra pela
comunicação do locatário sub-rogado. Apesar de o art. 12, § 2º, da Lei nº 8.245/91 afirmar que é o locatário
original que deverá fazer a notificação do fiador, é possível a relativização dessa formalidade por meio da
aplicação do princípio da instrumentalidade das formas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.503-ES, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

120
Capítulo 5
SUMÁRIO
DIREITO CIVIL, Capítulo 5..........................................................................................................................................3

12. Teoria da Responsabilidade Civil ..................................................................................................................3

12.1 Ato Ilícito e Abuso de Direito .................................................................................................................4

12.1.1 Ato ilícito ..................................................................................................................................................4

12.1.2 Abuso de direito ...................................................................................................................................4

12.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil .............................................................................................5

12.2.1 Conduta ....................................................................................................................................................6

12.2.2 Culpa ..........................................................................................................................................................6

12.2.3 Dano ...........................................................................................................................................................8

12.2.4 Nexo Causal ............................................................................................................................................8

12.3 Responsabilidade Civil X Responsabilidade Criminal ....................................................................9

12.4 Indenização................................................................................................................................................... 10

13. Modalidades de Responsabilidade Civil e Reparação ...................................................................... 11

13.1 Modalidade de Responsabilidade Civil ............................................................................................ 11

13.1.1 Quanto ao Fundamento ................................................................................................................. 11

13.1.2 Quanto ao Fato Gerador ................................................................................................................ 11

13.1.3 Quanto aos Sujeitos ......................................................................................................................... 12

13.1.4 Quanto ao Agente ............................................................................................................................ 12

13.1.4.1 Responsabilidade por Fato de Terceiro............................................................................... 12

13.1.4.2 Responsabilidade pelo Fato do Animal............................................................................... 15

13.1.4.3 Responsabilidade pelo Fato da Coisa .................................................................................. 16

13.2 Reparação...................................................................................................................................................... 18

13.2.1 Danos Patrimoniais ou Materiais ................................................................................................ 20


13.2.2 Danos Morais ...................................................................................................................................... 20

13.2.2.1 Danos Morais da Pessoa Jurídica ........................................................................................... 21

13.2.3 Danos Estéticos .................................................................................................................................. 21

13.2.4 Perda de uma Chance ..................................................................................................................... 22

13.2.5 Danos Morais Coletivos .................................................................................................................. 23

13.2.6 Dano Sociais ou Difusos................................................................................................................. 24

13.3 Excludente de Responsabilidade ......................................................................................................... 25

13.3.1 Legítima Defesa.................................................................................................................................. 25

13.3.2 Estado de Necessidade ou Remoção de Perigo Iminente .............................................. 25

13.3.3 Exercício Regular de Direito ou das Próprias Funções ..................................................... 26

13.3.4 Excludentes de Nexo de Causalidade ...................................................................................... 26

13.3.5 Cláusula de Não Indenizar ............................................................................................................ 26

14. Casos jurisprudenciais importantes........................................................................................................... 28

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 33

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 37

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 50

LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 51

JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 60


DIREITO CIVIL

Capítulo 5

12. Teoria da Responsabilidade Civil

O tema da responsabilidade civil encontra-se presente nos artigos 927 a 954 do Código

Civil e tem como consequência o dever de indenizar.

A responsabilidade civil é uma forma de contraprestação cujo objetivo é o de restaurar


um equilíbrio moral ou patrimonial desfeito. A perda ou a diminuição do patrimônio do

lesado ou o dano moral sofrido por este desencadeiam uma reação legal. Assim, todo aquele
que causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido. É o

que se infere da leitura do artigo 927 do CC: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

A responsabilidade civil consiste na obrigação que uma pessoa tem de reparar o dano

causado a outra, decorrente da violação de uma norma jurídica preexistente contratual ou


extracontratual. Neste sentido, os artigos 927 a 965 regulam as hipóteses causadoras de
responsabilidade civil, bem como a forma pela qual será feito o pagamento da indenização.

Sempre que alguém, mediante a prática de ato ilícito, causar dano a outrem, ficará
obrigado a repará-lo. O ato ilícito resulta da ação ou omissão voluntária, negligente ou
imprudente, que viola direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Aquele

que se excede manifestamente em seus direitos também pratica ato ilícito.

Não constituem atos ilícitos os danos causados em virtude de: legítima defesa e
exercício regular de um direito ou quando há destruição/deterioração de coisa ou lesão à

pessoa, com finalidade de remover perigo iminente.

Regra geral, a responsabilidade é subjetiva, ou seja, auferida mediante a comprovação


de culpa de quem praticou o ato. Porém, excepcionalmente, nos casos previstos em lei, a

3
responsabilidade será objetiva, sendo desnecessária a comprovação de culpa do agente para
ser devida a indenização.

12.1 Ato Ilícito e Abuso de Direito

12.1.1 Ato ilícito

Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e

causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de
reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato

ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz efeitos
jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles impostos pela lei.1

Logo, conforme se dispõe o art. 186 do CC, comete ato ilícito “Aquele que, por ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Desse modo, para o cometimento de ato lícito se faz necessário o preenchimento de

dois requisitos, vejamos:

Violação
Ato
de um Dano
Ilícito
direito

12.1.2 Abuso de direito

Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido fora dos

limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons
costumes, ou seja, é um ato praticado em exercício irregular ou imoderado de um direito.

1
Flávio Tartuce, p. 468.
4
É assim que prevê o art. 187 do CC. “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim

econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

A definição de abuso de direito está baseada em quatro conceitos legais indeterminados

, que devem estar presentes para o seu acontecimento, que são: fim social; fim

econômico; boa-fé; e bons costumes.

Para que o abuso de direito esteja configurado é importante que tal conduta seja
praticada quando a pessoa exceda um direito que possui, atuando em exercício irregular de

direito. Sendo assim, não há que se cogitar o elemento culpa na sua configuração, bastando
que a conduta exceda os parâmetros que constam do art. 187 do CC.

Como exemplos de abuso de direito, podemos apresentar:

 Publicidade abusiva, no âmbito do direito do consumidor;


 Greve abusiva e o abuso do direito do empregador, no âmbito do direito do
trabalho;

 O abuso no processo, a lide temerária e o assédio judicial, no âmbito do direito


processual;

 Abuso no exercício da propriedade, no âmbito do direito civil.

12.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil

Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente são necessários quatro

elementos: conduta, culpa, dano e nexo de causalidade.

5
12.2.1 Conduta

A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o agente, por ação ou

omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. O fato poderá estar
relacionado tanto a ato próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.

Essa conduta humana pode ser causada por uma ação (conduta positiva ou culpa in

comittendo) ou omissão (conduta negativa ou culpa in omittendo), voluntária ou por


negligência, imprudência ou imperícia, modelos jurídicos que caracterizam o dolo e a culpa,

respectivamente.

Para o ato omissão gerar o dever de indenizar, é necessário que exista o


dever jurídico de praticar determinado ato (omissão genérica), bem como a prova de que

a conduta não foi praticada (omissão específica). Além disso, é necessário ainda a
demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado.

12.2.2 Culpa

A culpabilidade no campo do direito civil envolve a culpa stricto sensu e o dolo.

A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito a um dever

preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. A culpa
stricto sensu no direito civil é relacionada com o modelo de culpa retirado do inciso II do art.
18 do Código penal, podendo acontecer por:

Imprudência Falta de cuidado + ação


Negligência Falta de cuidado + omissão
Imperícia Falta de qualificação ou treinamento para desempenhar uma
determinada função.

Já o dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever jurídico com o

objetivo de prejudicar outrem.

6
O art. 945 do CC estabelece a culpa concorrente, que se dá quando tanto o agente
quanto a vítima agem com culpa. Nesse caso, a culpa da vítima acaba por diminuir a culpa

do agente. Portanto, quando a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua
própria conduta, é comum a indenização ser concedida pela metade ou em fração diversa,

dependendo da contribuição da vítima. Pois como ambas as partes cooperaram para o evento,
não seria justo que uma só respondesse pelos prejuízos.

Quando se tem o dolo como elemento necessário para a caracterização do dever de

indenizar, estaremos diante da responsabilidade subjetiva – esta depende do dolo do agente


causador do dano.

No entanto existem várias situações para as quais o ordenamento dispensa o dolo no

que diz respeito ao dever de indenizar, bastando o dano, a autoria e o nexo causal. É o que se
denomina responsabilidade objetiva. Ela encontra-se prevista no art. 927 do CC: “Art. 927.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do


dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Pela leitura desse artigo podemos perceber que são duas as situações que dão ensejo à

chamada responsabilidade objetiva:

 Casos especificados em lei;


 Atividade que por sua natureza implique risco ao direito de outro.

A imputabilidade é o termo jurídico utilizado para aferir se alguém pode ser


responsabilizado por seu ato, ou seja, é elemento constitutivo da culpa, se refere a
condições pessoais daquele que praticou o ato lesivo, é a verificação se o ato é resultado de

uma vontade livre. Existem casos que afastam a imputabilidade:

 Menoridade: porém o ato ilícito por ele praticado acarretará a responsabilidade

objetiva do seus pais;


 Demência ou estado de grave desequilíbrio mental, acarretado pelo alcoolismo
ou pelo uso de drogas, ou de debilidade mental, que torne o agente incapaz de

7
controlar suas ações. Também neste caso haverá a responsabilidade objetiva do
responsável pelo incapaz;

 Anuência da vítima que por ato de vontade interna ou de simples escolha elege
um de seus interesses em detrimento de outro.

12.2.3 Dano

O dano pode ser material (patrimonial) ou moral (extrapatrimonial). Sendo assim, não
pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano. Além disso, também é

imprescindível que exista prova, real e concreta, desta lesão, pois sua comprovação é
necessária.

O dano patrimonial é lesão concreta a um interesse relativo ao patrimônio da vítima,

consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem,
sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável;

Já o dano moral é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa natural ou jurídica.

A indenização por dano moral encontra respaldo na Constituição Federal em seu art. 5, incisos
V e X.

12.2.4 Nexo Causal

É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. É uma ligação

virtual entre a ação e o dano resultante. A causa do dano deve ser o comportamento do
agente.

8
As principais excludentes de responsabilidade civil são: o estado de necessidade; a legítima
defesa; a culpa exclusiva da vítima; o fato de terceiro; o caso fortuito ou força maior e a

cláusula de não indenizar.

No momento da consumação do fato lesivo surge para o lesado a pretensão de

indenização, mas seu direito de crédito apenas se concretiza com a decisão judicial.

Em regra, a obrigação de reparar o dano será individual, mas nem sempre vai ser direta.

A responsabilidade direta, simples ou por fato próprio é a que decorre de um fato

pessoal do causador do dano, resultando, portanto, de uma ação direta de uma pessoa ligada
à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso.

Já a responsabilidade complexa ou indireta é aquela que só poderá ser vinculada


indiretamente ao responsável. Se compreende como responsabilidade indireta:

12.3 Responsabilidade Civil X Responsabilidade Criminal

A responsabilidade civil independe da criminal, é o que nos informa o artigo 935 do


CC:

Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar


mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões
se acharem decididas no juízo criminal.

Trata-se do princípio da independência relativa da responsabilidade civil em relação à

criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado e, no entanto, ser obrigado
a reparar o dano civil ou, vendo por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável,

sem ter que prestar contas de seu ato na esfera criminal.

No entanto, art. 935 estabelece duas exceções para esse princípio. No que diz respeito
à existência do fato ou de quem seja o seu autor, se estas questões já estiverem decididas

na esfera criminal, não se pode mais questioná-las na esfera civil.

9
12.4 Indenização

É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o

resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação do
quantum devido.

Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou

lhe diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na
proporção do prejuízo sofrido com a perda do ofício.

É possível que alguém seja responsabilizado pelo pagamento de indenização, mesmo

que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será
levada em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso do
condenado, em face do verdadeiro causador do dano.

10
13. Modalidades de Responsabilidade Civil e Reparação

13.1 Modalidade de Responsabilidade Civil

As modalidades de responsabilidade civil podem ser classificadas de algumas maneiras:

13.1.1 Quanto ao Fundamento

 Responsabilidade subjetiva que é a teoria clássica e pressupõe a culpa em sentido

amplo como elemento necessário, como fundamento, para a responsabilização civil;


 Responsabilidade objetiva que se fundamentada no risco, no dano, mesmo sem

culpa, sendo necessários apenas o dano e o nexo de causalidade.

A regra continua sendo a responsabilidade civil subjetiva (art. 927 do CC).

13.1.2 Quanto ao Fato Gerador

Poderá ser:

 Responsabilidade contratual ou negocial: quando oriunda de inexecução de

negócio jurídico bilateral ou unilateral. A responsabilidade contratual está


intimamente relacionada ao Inadimplemento de Obrigações.
 Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: a fonte dessa responsabilidade é a

inobservância da lei, é a lesão a um direito, sem que entre as partes exista qualquer
relação jurídica.

11
Quando se tratar de controvérsia que diga respeito à responsabilidade CONTRATUAL deve-se
aplicar o regramento previsto no artigo 205 do CC (10 anos de prazo prescricional), mas

quando envolver responsabilidade EXTRACONTRATUAL, o artigo 206, parágrafo terceiro, inciso


V, do CC/02, com prazo de 3 anos é que deve prevalecer.” STJ. 2 Seção. EREsp 1.280.825-RJ,

Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

13.1.3 Quanto aos Sujeitos

Os sujeitos responsáveis pele adimplemento podem ser:

 Responsabilidade solidária: quando em uma mesma obrigação houver mais de um

responsável pelo seu cumprimento.


 Responsabilidade subsidiária: a obrigação não é compartilhada entre dois ou mais
devedores. Há apenas um devedor principal; contudo, na hipótese do não

cumprimento da obrigação por parte deste, outro sujeito responderá


subsidiariamente pela obrigação (Ex. Fiador).

13.1.4 Quanto ao Agente

A responsabilidade do agente poderá ser:

 Direta: se proveniente da própria pessoa responsabilizada.

 Indireta ou complexa: se derivada de ato de terceiro na vigência de vínculo legal


de responsabilidade sobre animais (fato de animal) e objetos que estão sob sua

guarda.

13.1.4.1 Responsabilidade por Fato de Terceiro

O art. 932 do CC nos apresenta aqueles que são responsáveis por fato de terceiro.

12
I. Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;

II. O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições; (sob sua autoridade e em sua companhia)

III. O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no


exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV. Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue

por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos;

V. Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a


concorrente quantia.

Enunciado n. 558, da VI Jornada de Direito Civil: “São solidariamente responsáveis pela

reparação civil, juntamente com os agentes públicos que praticaram atos de improbidade
administrativa, as pessoas, inclusive as jurídicas, que para eles concorreram ou deles se

beneficiaram direta ou indiretamente”.

Complementando o artigo citado, o art. 933 do CC prevê a culpa objetiva dos

responsáveis pelos atos dos terceiros, ou seja, “ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros”. No entanto, para a configuração da

responsabilidade por atos dos terceiros, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são
responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva

impura2.

O fato de terceiro não exclui a sua responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano
causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz,

2
Vide questão 9 desse material.
13
poderá reaver o que pagou. Esse entendimento decorre do chamado direito de regresso do
responsável contra o culpado.

No caso de prática de ato ilícito por incapaz, se os seus pais não tiverem condições de

arcar com os prejuízos causados pela atividade danosa, este responderá subsidiariamente,
desde que tenha condições financeiras para tanto. Assim, a indenização a ser paga pelo

incapaz é subsidiária e equitativa, em respeito à dignidade humano e ao mínimo existencial,


pois não pode privá-lo do essencial à sua subsistência.

Importante destacar que a norma prevista no artigo 932, I, determina que os pais

respondam objetivamente pelos danos causados pelos filhos. Atenção à questão, pois, para
chegar ao resultado que conduz à responsabilidade, são dois aspectos a se analisar:

comprovação da culpa do incapaz na prática do ato e responsabilidade objetiva dos pais.

Assim, é correta a frase que diz: os pais respondem objetivamente pelos atos ilícitos
praticados por seus filhos menores, desde que comprovada a culpa no ato. A culpa não está

ligada à responsabilidade dos pais, que é objetiva, mas à comprovação do ato ilícito.
Comprovado este, os pais responderão independentemente de culpa.

Ainda, com relação ao que determina o inciso I, do artigo 932, há jurisprudência que

busca identificar o termo “sob sua autoridade e em sua companhia”. Assim, nas palavras de
Márcio André, segundo o STJ:

A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de
terceiro) é objetiva, nos termos do artigo 932, I do CC, devendo-se comprovar apenas a
culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual os pais são responsáveis legalmente.

Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua
autoridade e em sua companhia; assim, os pais ou responsáveis, que não exercem
autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não
respondem por ele.

Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade,
residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor – sobre
quem apenas o pai exercia autoridade de fato – não pode ser responsabilizada pela

14
reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter
o poder familiar.3

Diante do exposto, para que um dos pais compartilhe a responsabilidade com o outro,
não basta que detenha o poder familiar, sendo indispensável que tenha condições
permanentes de controle sob os atos do filho. O caso, todavia, merece atenção especial,

para que o candidato não se confunda na prova. No caso julgado, a mãe residia
permanentemente em município distinto do de seu filho, que morava com o pai.

Isto é importante, uma vez que a justificativa de não estar presente no momento do ato

não exime os pais de responsabilidade, pois a autoridade permanece, mesmo que o


responsável não conviva constantemente com o filho.

Por fim, sobre o incapaz, ainda vale apresentar decisão interessante do STJ sobre a

possibilidade de o absolutamente incapaz sofrer dano moral. De acordo com a Corte


Cidadã, é plenamente possível o dano moral praticado em face de incapaz, ainda que ele não

tenha detrimento anímico de entender o caráter ilícito da conduta. O dano moral é a ofensa
ao direito de personalidade, sendo o sofrimento, a dor, consequência deste ato, mas não

essencial à sua caracterização.4

13.1.4.2 Responsabilidade pelo Fato do Animal

O art. 936 do CC estabelece a responsabilidade pelo fato do animal: “Art. 936. O dono,
ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou

força maior”.

Nesse caso, o dono responderá de maneira objetiva.5

No entanto, pode ocorrer também a responsabilidade solidária entre

o dono e o adestrador, no caso do animal está na posse do preposto do dono e este atacar
um terceiro, pela aplicação conjunta dos arts. 932, III, 933, 936 e 942, parágrafo único, do CC.

3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017 -
Página: 238.
4
REsp. 1.245.550 - MG
5
Vide questão 6 desse material.
15
Esclareça-se que a responsabilidade do preposto é objetiva por fato do animal (art. 936),
enquanto a do dono é objetiva indireta, desde que comprovada a culpa do seu preposto (arts.

932, III, e 933 do CC).

13.1.4.3 Responsabilidade pelo Fato da Coisa

Já pelo fato da coisa, o código civil estabelece:

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos

postos em circulação. (responsabilidade objetiva).

O código de defesa do consumidor também prevê a responsabilidade objetiva pelo fato do

produto ou do serviço (art. 12).

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua

ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

A responsabilidade é considerada objetiva diante de um risco criado pela aplicação do CDC


(Enunciado 556, VI, JDC: A responsabilidade civil do dono do prédio ou construção por sua
ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva). Além do mais, a jurisprudência tem sido

rigorosa na responsabilização do dono, entendendo que se caiu é porque havia necessidade


manifesta de reparação, somente afastando o dever de indenização se a ruína ocorrer por fato

totalmente alheio a sua atuação. Por exemplo, o caso de abalo sísmico.


16
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

Este artigo funda-se na obrigação geral de não colocar em risco a coletividade.

Tal artigo é claro ao estabelecer que o responsável será o habitante, não o proprietário. Se

estiver locado a responsabilidade é do locatário.

A jurisprudência é pacifica no entendimento de que a vítima pode demandar o condomínio, e


que internamente pode-se buscar o regresso contra a unidade autônoma que efetivamente

causou o dano.

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e


suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente
da responsabilidade.

Súmula 161 do STF: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.

Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro


não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

17
Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito
gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Súmula 145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só

será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo
ou culpa grave”. Nesse caso, não é aplicável a responsabilidade objetiva do transportador

para aquele que deu carona, só respondendo no caso de dolo ou culpa grave. Trata-se de

responsabilidade subjetiva.

Se houver coautoria ou cumplicidade no fato lesivo, responderão estas pessoas


solidariamente, de acordo com o art. 942 do CC.

Assim, a solidariedade possibilita que qualquer um dos codevedores seja demandado

pelo total da dívida, ou seja, permite que o titular do crédito possa exigir de qualquer deles o
que lhe é devido e instaura o direito de reembolso do devedor, que, demandado pelo débito

solidário, satisfez a dívida por inteiro.

13.2 Reparação

O princípio que rege a profundidade de alcance da responsabilidade, ou seja, até onde

ela atingirá o patrimônio da pessoa que deve indenizar, é o Princípio da Responsabilidade


Patrimonial. Ou seja, a pessoa deverá responder com seu patrimônio pelos prejuízos causados

a terceiros. A responsabilidade deverá ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos,
de modo que todos os bens do devedor, com exceção dos inalienáveis, respondam pelo
ressarcimento.

Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou
dolo na conduta é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado

18
por alguém. Em regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova
ao autor da demanda, aplicação do art. 373, I, do CPC.

No entanto, em alguns casos, se admite a inversão do ônus da prova do dano ou

prejuízo, como nas hipóteses envolvendo as relações de consumo, presente a hipossuficiência


do consumidor ou a verossimilhança de suas alegações (art. 6.º, VIII, da Lei 8.078/1990).

Ademais, a obrigação de prestar a reparação transmite-se com a herança e o lesado

poderá demandar o espólio até onde este alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos
seus sucessores. Ou seja, os herdeiros responderão até os montantes deixados como herança.

Porém os herdeiros não responderão com seu patrimônio pessoal.

Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do
prejuízo, porém, atualmente, se tem admitido que a indenização possa ser reclamada pelos

que viviam sob a dependência econômica da vítima.

Havendo direito à reparação do dano, surge à liquidação, que é a operação de vai

concretizar a indenização, fixando o quanto e o modo do ressarcimento. Este ressarcimento


não poderá exceder o valor do dano causado por não se permitir enriquecimento
indevido. Ao credor se deve dar aquilo que baste para restaurar a situação ao status quo
ante, sem acréscimos nem reduções.

Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945 do CC deverá o

magistrado analisar o grau de culpa do lesante e se houve participação (culpa) do lesado. O


juiz deverá analisar também: a situação da vítima e do causador do dano; a influência de

acontecimentos exteriores ao fato prejudicial (visto que a responsabilidade civil requer nexo de
causalidade entre o dano e a ação que o produziu); a possibilidade de lucro obtido pela vítima
com a reparação do dano.

19
13.2.1 Danos Patrimoniais ou Materiais

Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou perdas que atingem o

patrimônio corpóreo de alguém. Pelo que consta dos arts. 186 e 403 do CC, não cabe
reparação de dano hipotético ou eventual, necessitando tais danos de prova efetiva, em regra.

Nos termos do art. 402 do CC, os danos materiais podem ser assim subclassificados:

 Danos emergentes ou danos positivos: o que efetivamente se perdeu. Como


exemplo típico, pode ser citado o estrago do automóvel, no caso de um acidente

de trânsito. Como outro exemplo, a regra do art. 948, I, do CC, para os casos de
homicídio, devendo os familiares da vítima serem reembolsados pelo pagamento
das despesas com o tratamento do morto, seu funeral e o luto da família.

 Lucros cessantes ou danos negativos: o que razoavelmente se deixou de lucrar.


No caso de acidente de trânsito, poderá pleitear lucros cessantes o taxista, que

deixou de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes
de acordo com a tabela fornecida pelo sindicato da classe e o tempo de

impossibilidade de trabalho. Como outro exemplo de lucros cessantes, cite-se, no


caso de homicídio, a prestação dos alimentos indenizatórios, ressarcitórios ou

indenitários, devidos à família do falecido, mencionada no art. 948, II, do CC.

13.2.2 Danos Morais

É a lesão a direitos da Personalidade. Alerte-se que para a sua reparação não se

requer a determinação de um preço para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para
atenuar, em parte, as consequências do prejuízo imaterial, o que traz o conceito de lenitivo,

derivativo ou sucedâneo. Por isso é que se utiliza a expressão reparação e não ressarcimento
para os danos morais.

Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo patrimonial

para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados.

20
Súmula 37 do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos

do mesmo fato.

13.2.2.1 Danos Morais da Pessoa Jurídica

É sim possível a ocorrência de dano moral para a pessoa jurídica, pois se aplica à
pessoa jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade,

o dano moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da
honra, sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade.

Pessoa jurídica tem de comprovar dano moral para receber indenização (ou seja, não é dano

in re ipsa, ao contrário do que se tem entendido para pessoas naturais): “1. A pessoa jurídica
pode sofrer dano moral desde que haja ferimento à sua honra objetiva, ao conceito de que

goza no meio social. 2. O mero corte no fornecimento de energia elétrica não é, a principio,
motivo para condenação da empresa concessionária em danos morais, exigindo-se, para tanto,

demonstração do comprometimento da reputação da empresa.” (STJ, REsp 1298689/RS, Rel.

Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/04/2013, DJe 15/04/2013).

13.2.3 Danos Estéticos

Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela
jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial. Basta à pessoa ter

21
sofrido uma “transformação” para que o referido dano esteja caracterizado. Tais danos, em
regra, estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou

profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões,
amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana. Esse dano,

nos casos em questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o dano moral
objetivo.

13.2.4 Perda de uma Chance

São os danos que tem origem francesa, segundo a qual são reparáveis os prejuízos
que decorrem da frustração de uma expectativa, que possivelmente se concretizaria em

circunstâncias normais. Não é qualquer chance que é reparável. A chance tem que ser séria e
real. 6Segundo, Sérgio Savi ela é assim considerada quando tem mais de 50% de chance de

acontecer.

Enunciado 444: Art. 927. A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à
categoria de danos extrapatrimoniais (CATEGORIA AUTÔNOMA), pois, conforme as

circunstâncias do caso concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza jurídica
de dano patrimonial. A chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais

apriorísticos.

Assim, ela é aplicada pelo STJ7, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano

potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável (REsp


1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009). Em outros julgados, fala-se que
a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione ao lesado efetivas condições

pessoais de concorrer à situação futura esperada. (AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma,
julgado em 17/03/2011).

 Natureza do dano: Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da


perda de uma chance visa à responsabilização do agente causador não de um dano

6
Vide questão 10 desse material.
7
https://www.dizerodireito.com.br/2013/07/teoria-da-perda-de-uma-chance.html
22
emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e
outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa
que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. (STJ. 4ª
Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010).
 Casos:
 A jurisprudência tem condenado advogados que perdem prazos de seus
clientes por perda da chance de uma vitória judicial. STJ. Crítica = isso
transforma a obrigação do advogado em obrigação de resultado.
 Atuação médica. STJ Resp. 1.254.141/PR.
 Show do milhão. STJ Resp 788.459/BA.
 Indenização: a indenização será medida pela extensão do dano causado, mas, se a
vítima tiver concorrido para o resultado causado, a medida de sua culpa será levada
em consideração para a fixação do quantum devido;

Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou lhe

diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na proporção
do prejuízo sofrido com a perda do ofício.

13.2.5 Danos Morais Coletivos

É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais homogêneos e coletivos em


sentido estrito, e as vítimas são determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve

ser destinada para elas, as vítimas.

Há previsão expressa no art. 6, VI do CDC.

O tema é bastante controverso na jurisprudência superior nacional. A 1.ª Turma do Superior

Tribunal de Justiça, competente para apreciar questões de Direito Público,


entendeu não ser indenizável o dano moral coletivo em situação envolvendo danos ao meio

23
ambiente. Já a 3º Turma Superior Tribunal de Justiça, admitiu a existência de danos morais
coletivos, prolatado no famoso caso das pílulas de farinha.

Diferentemente da responsabilidade civil do direito comum, a responsabilidade civil

ambiental, que é objetiva e deriva de previsão legal, fundada na teoria do risco, necessita
para sua caracterização apenas de dois elementos, que são a ocorrência de evento danoso e

do nexo de causalidade. Não importa para o Direito Ambiental que o dano tenha origem em
uma atividade lícita, ainda que esta tenha se constituído sob a égide da regulamentação
estatal, pois não seria justo para com a sociedade que a regulamentação da exploração da

atividade fosse entendida como uma licença para poluir e degradar livremente.8

13.2.6 Dano Sociais ou Difusos

São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio

moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de


vida.

O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais.

Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são
apenas extrapatrimoniais.

8
Vide questão 2 desse material.
24
13.3 Excludente de Responsabilidade

13.3.1 Legítima Defesa

De acordo com o art. 188, I, do CC, não constituem atos ilícitos os praticados em
legítima defesa. Trata-se de importante excludente do dever de indenizar, da ilicitude, com

relevância prática indiscutível.

Podemos utilizar o Código Penal, no seu art. 25, para conceituar a legítima defesa:
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,

repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

Para a configuração da legítima defesa cabe análise caso a caso, sendo certo que o
agente não pode atuar além do indispensável para afastar o dano ou a iminência de prejuízo

material ou imaterial. Se atinge um terceiro inocente, deverá indenizá-lo, cabendo a regressão


ao causador do dano, aplicando-se o art. 930, do CC.

Já legítima defesa putativa ocorre quando o agente imagina que está defendendo

um direito seu, o que não ocorre realmente no plano fático. A pessoa imagina um perigo
que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não exclui o dever de

indenizar.

13.3.2 Estado de Necessidade ou Remoção de Perigo Iminente

Prescreve o art. 188, II, do atual Código que não constitui ato ilícito a deterioração ou

destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes
a acontecer.

Em complemento, o parágrafo único do dispositivo disciplina que o ato será legítimo

somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os


limites do indispensável à remoção do perigo.

25
Se no atuar em estado de necessidade o agente atingir terceiro inocente (que não tiver
sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o causador do

dano, na forma dos arts. 929 e 930.9

13.3.3 Exercício Regular de Direito ou das Próprias Funções

O art. 188, I, do CC, enuncia que não constitui ato ilícito o praticado no exercício

regular de um direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a


responsabilização, desde que não haja abuso.

Como exemplos podemos utilizar o caso do policial, quanto ao combate ao crime, e no


caso do bombeiro, ao apagar um incêndio.

13.3.4 Excludentes de Nexo de Causalidade

São excludentes de nexo de causalidade:

 Culpa ou fato exclusivo da vítima: a culpa concorrente NÃO exclui a


responsabilidade, havendo apenas a fixação da culpa com base na conduta de

ambas as partes;
 Culpa ou fato exclusivo de terceiro;

 Caso fortuito: evento totalmente imprevisível;


 Força maior: evento previsível, mas inevitáve

13.3.5 Cláusula de Não Indenizar

A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela qual a parte exclui
totalmente a sua responsabilidade. Essa cláusula é também denominada cláusula de

irresponsabilidade ou cláusula excludente de responsabilidade.

Segundo Flávio Tartuce10, a malfadada cláusula de não indenizar tem aplicação bem
restrita, que são:

9
Vide questão 1 desse material.
10
Flávio Tartuce, p. 565-567.
26
A cláusula de não indenizar somente vale para os casos de responsabilidade contratual,
uma vez que a responsabilidade extracontratual, por ato ilícito, envolve ordem pública. A
título de exemplo, não tem qualquer validade jurídica uma placa colocada em condomínio
edilício, estabelecendo que “O condomínio não se responsabiliza pelos objetos lançados ou
que caírem das unidades”. Isso porque a responsabilidade civil prevista pelo art. 938 do
Código Civil, supostamente afastada pelo aviso, é extracontratual;
A cláusula também não incide nos casos em que houver conduta dolosa do agente ou na
presença de atos criminosos da parte, igualmente pela motivação na ordem pública;
Também fica em xeque a sua estipulação para a limitação ou exclusão de danos morais,
que envolvem lesões a direitos da personalidade, tidos como irrenunciáveis, em regra, pela
lei (art. 11 do CC);
A cláusula de irresponsabilidade é nula quando inserida em contrato de consumo, o que
está expresso no art. 25 e no art. 51, I, da Lei 8.078/1990;
A citada cláusula é nula nos contratos de adesão, aplicação do art. 424 do CC, “Nos
contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente
a direito resultante da natureza do negócio”;
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte (art. 734 do CC e Súmula 161
do STF);
A cláusula de não indenizar não tem validade e eficácia nos contratos de guarda em geral
em que a segurança é buscada pelo contratante, constituindo a causa contratual.

27
14. Casos jurisprudenciais importantes

Súmula 491 STF: é indenizável o acidente que cause morte do filho menor, ainda que

não exerça trabalho remunerado.

Nestes casos, de acordo com o STJ, os valores da pensão mensal indenizatória devida
aos pais pela morte do filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário

mínimo, dos 14 até os 25 anos de idade da vítima, reduzindo, então, para 1/3 até a data em
que o de cujos completaria 65 anos. 11

É possível que alguém seja responsabilizado pelo pagamento de indenização, mesmo

que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será
levada em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso do
condenado, em face do verdadeiro causador do dano. Sobre o tema:

O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no artigo 188, II


do CC. No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de
indenizar a vítima quando esta não tiver sido responsável pela criação do estado de
perigo (artigo 929).

Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade,


deverá indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo
que pagou (artigo 930).

Vale ressaltar, no entanto, que o valor desta indenização deverá ser fixado com
proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores abusivos (desproporcionais) para
alguém que estava agindo de forma lícita. 12

Importante colacionar as hipóteses de responsabilidade trazido pela jurisprudência 13:

11
REsp. 1.279.173 - SP
12
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017
Página 938.
28
ESTACIONAMENTO PRIVADO Responde pelo FURTO
ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE
FURTO E ROUBO
CONSUMO
VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO

FORNECEDOR
SITUAÇÃO EXPLICAÇÃO
RESPONDE?
O roubo ou furto praticado contra
instituição financeira e que atinge o cofre
Furto ou roubo no cofre do locado ao cliente constitui risco assumido
banco que estava locado pelo banco, sendo algo próprio da
SIM
para guardar bens de atividade empresarial, configurando, assim,
cliente. hipótese de fortuito interno, que não
exclui o dever de indenizar (REsp
1250997/SP, DJe 14/02/2013).
Há responsabilidade objetiva do banco em
Cliente roubado no interior razão do risco inerente à atividade
SIM
da agência bancária. bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14,
CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009).

Se o roubo ocorre em via pública, é do


Cliente roubado na rua, Estado (e não do banco), o dever de
após sacar dinheiro na NÃO garantir a segurança dos cidadãos e de
agência. evitar a atuação dos criminosos (REsp
1.284.962-MG, DJe 04/02/2013).

O estacionamento pode ser considerado


Cliente roubado no
SIM como uma extensão da própria agência
estacionamento do banco.
(REsp 1.045.775-ES, DJe 04/08/2009).

13
Ibidem.
29
Tanto o banco como a empresa de
estacionamento tem responsabilidade civil,
considerando que, ao oferecerem tal
serviço especificamente aos clientes do
Roubo ocorrido no
banco, assumiram o dever de segurança
estacionamento privado
em relação ao público em geral (Lei
que é oferecido pelo banco
SIM 7.102/1983), dever este que não pode ser
aos seus clientes e
afastado por fato doloso de terceiro. Logo,
administrado por uma
não se admite a alegação de caso fortuito
empresa privada.
ou força maior já que a ocorrência de tais
eventos são previsíveis na atividade
bancária (AgRg nos EDcl no REsp
844.186/RS, DJe 29/06/2012).

Não haverá responsabilidade civil nem do


banco nem da empresa privada de
Cliente, após sacar dinheiro
estacionamento.
na agência, é roubado à
A empresa de estacionamento se
mão armada em um
responsabiliza apenas pela guarda do
estacionamento privado NÃO
veículo, não sendo razoável lhe impor o
que fica ao lado, mas que
dever de garantir a segurança e
não tem qualquer relação
integridade física do usuário e a proteção
com o banco.
dos bens portados por ele (REsp
1.232.795-SP, DJe 10/04/2013).
Constitui causa excludente da
responsabilidade da empresa
Passageiro roubado no
transportadora o fato inteiramente
interior do transporte
NÃO estranho ao transporte em si, como é o
coletivo (ex.: ônibus, trem,
assalto ocorrido no interior do coletivo
etc.).
(AgRg no Ag 1389181/SP, DJe
29/06/2012).

30
Tratando-se de postos de combustíveis, a
ocorrência de roubo praticado contra
clientes não pode ser enquadrado, em
regra, como um evento que esteja no rol
Cliente roubado no posto
de responsabilidades do empresário para
de gasolina enquanto NÃO
com os clientes, sendo essa situação um
abastecia seu veículo.
exemplo de caso fortuito externo,
ensejando-se, por conseguinte, a exclusão
da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe
10/05/2012).

No serviço de manobrista em via pública


não existe exploração de estacionamento
cercado com grades, mas simples
Roubo ocorrido em veículo comodidade posta à disposição do cliente.
sob a guarda de vallet Logo, as exigências de garantia da
NÃO
parking que fica localizado segurança física e patrimonial do
em via pública. consumidor são menos contundentes do
que aquelas atinentes aos estacionamentos
de shopping centers e hipermercados
(REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013).

Nas hipóteses de furto, em que não há


Furto ocorrido em veículo violência, permanece a responsabilidade,
sob a guarda de vallet pois o serviço prestado mostra-se
SIM
parking que fica localizado defeituoso, por não apresentar a
em via pública. segurança legitimamente esperada pelo
consumidor.

31
A ocorrência de roubo não constitui causa
Furto ou roubo ocorrido em excludente de responsabilidade civil nos
veículo sob a guarda de casos em que a garantia de segurança
SIM
vallet parking localizado física e patrimonial do consumidor é
dentro do shopping center. inerente ao serviço prestado pelo
estabelecimento comercial.

A ocorrência de roubo não constitui causa


excludente de responsabilidade civil nos
Tentativa de roubo ocorrida
casos em que a garantia de segurança
na chancela do
SIM física e patrimonial do consumidor é
estacionamento do
inerente ao serviço prestado pelo
shopping center.
estabelecimento comercial (REsp
1269691/PB, DJe 05/03/2014).

32
QUADRO SINÓTICO

TEORIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua
ATO ILÍCITO X
ATO ILÍCITO ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o que
ABUSO DE
justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato
DIREITO ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que
produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente
aqueles impostos pela lei.
Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido
ABUSO DE fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
DIREITO fé objetiva ou pelos bons costumes, ou seja, é um ato praticado em
exercício irregular ou imoderado de um direito.
A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o
agente, por ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que
CONDUTA exclusivamente moral. O fato poderá estar relacionado tanto a ato
PRESSUSPOSTOS
próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito
a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
CULPA violar o dever jurídico (negligência, imprudência e imperícia). Já o
dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever
jurídico com o objetivo de prejudicar outrem.
DANO O dano pode ser material (patrimonial, lesão concreta a um
interesse relativo ao patrimônio da vítima) ou moral
(extrapatrimonial, é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa
natural ou jurídica).
NEXO É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
CAUSAL agente. É uma ligação virtual entre a ação e o dano resultante. A causa
do dano deve ser o comportamento do agente.

CIVIL Trata-se do princípio da independência relativa da responsabilidade civil em relação


à criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado e, no entanto, ser
X
obrigado a reparar o dano civil ou, vendo por outra ótica, a pessoa poderá ser
CRIMINAL
civilmente responsável, sem ter que prestar contas de seu ato na esfera criminal.

INDENIZAÇÃO É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o

33
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação
do quantum devido.

MODALIDADES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

MODALIDADES QUANTO AO FUNDAMENTO


SUBJETIVA Que é a teoria clássica e pressupõe a culpa em sentido amplo como
elemento necessário, como fundamento, para a responsabilização civil;
OBJETIVA Que se fundamentada no risco, no dano, mesmo sem culpa, sendo
necessários apenas o dano e o nexo de causalidade.
QUANTO AO FATO GERADOR
CONTRATUAL Quando oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou
OU NEGOCIAL unilateral.
EXTRACONTR A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, é a lesão a
ATUAL OU um direito, sem que entre as partes exista qualquer relação jurídica.
AQUILIANA
QUANTO AOS SUJEITOS
SOLIDÁRIA Quando em uma mesma obrigação houver mais de um responsável
pelo seu cumprimento
SUBSIDIÁRIA A obrigação não é compartilhada entre dois ou mais devedores.
QUANTO AO AGENTE
DIRETA Se proveniente da própria pessoa responsabilizada.
INDIRETA OU POR FATO DE  Os pais, pelos filhos menores que estiverem
COMPLEXA TERCEIRO sob sua autoridade e em sua companhia;
 IO tutor e o curador, pelos pupilos e
curatelados, que se acharem nas mesmas
condições; (sob sua autoridade e em sua
companhia)
 O empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício
do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;
 Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou
estabelecimentos onde se albergue por
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos
seus hóspedes, moradores e educandos;
 Os que gratuitamente houverem participado
nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.

34
PELO FATO O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano
DO ANIMAL por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior”. Nesse caso, o dono responderá de
maneira objetiva.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos
PELO FATO danos causados pelos produtos postos em
DA COISA circulação. (responsabilidade objetiva).
Art. 937. O dono de edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua ruína,
se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade
fosse manifesta.

REPARAÇÃO Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou perdas


que atingem o patrimônio corpóreo de alguém.
DANOS DANOS
PATRIMONI EMERGENTES OU O que efetivamente se perdeu.
AIS OU DANOS POSITIVOS
MATERIAIS LUCROS
CESSANTES OU O que razoavelmente se deixou de lucrar.
DANOS
NEGATIVOS
É a lesão a direitos da Personalidade.
DANOS DANOS MORAIS É sim possível a ocorrência de dano moral
MORAIS DA PESSOA para a pessoa jurídica, pois se aplica à
JURÍDICA pessoa jurídica, no que couber, o disposto
quanto aos direitos da personalidade.
Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina
quanto pela jurisprudência como uma modalidade separada de
dano extrapatrimonial. Estão presentes quando a pessoa sofre
DANOS feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos em sua pele,
ESTÉTICOS lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões,
amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade
humana. Esse dano, nos casos em questão, será também presumido
(in re ipsa), como ocorre com o dano moral objetivo.
PERDA DE São os danos que tem origem francesa, segundo a qual são
UMA reparáveis os prejuízos que decorrem da frustração de uma
CHANCE expectativa, que possivelmente se concretizaria em circunstâncias
normais. Assim, ela é aplicada pelo STJ , que exige, no entanto, que o
dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de
probabilidade, e não mera possibilidade.

35
DANOS É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais
MORAIS homogêneos e coletivos em sentido estrito, e as vítimas são
COLETIVOS determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser
destinada para elas, as vítimas.
DANO São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
SOCIAIS OU rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito
DIFUSOS da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.

EXCLUDENTES DE LEGÍTIMA “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


DEFESA meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
RESPONSABILIDADE
direito seu ou de outrem”.
ESTADO DE
NECESSIDA
DE OU Não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia,
REMOÇÃO ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a
DE PERIGO acontecer.
IMINENTE
EXERCÍCIO
REGULAR Não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um direito
DE DIREITO reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a
OU DAS responsabilização, desde que não haja abuso.
PRÓPRIAS
FUNÇÕES
CULPA OU FATO A culpa concorrente NÃO exclui a
EXCLUDENT EXCLUSIVO DA responsabilidade, havendo apenas a fixação da
ES DE NEXO VÍTIMA culpa com base na conduta de ambas as partes;
DE Culpa ou fato exclusivo de terceiro;
CAUSALIDA CASO FORTUITO Evento totalmente imprevisível;
DE
FORÇA MAIOR Evento previsível, mas inevitável
CLÁUSULA A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela qual
DE NÃO a parte exclui totalmente a sua responsabilidade. Essa cláusula é
INDENIZAR também denominada cláusula de irresponsabilidade ou cláusula
excludente de responsabilidade.

36
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça: Em uma pequena comunidade, Alírio, ali residente,
soltou, em plena época de festejos juninos, um balão que caiu sobre a casa de Antônio,

incendiando-a por completo. Entre as casas de Antônio e de João, ficava a de Pedro, que foi
alcançada pelo fogo. João, para evitar o alastramento das chamas e o eventual acometimento
da morada de sua família, derrubou, a machadadas, a porta da casa de Pedro e, ali dentro,

conseguiu debelar o incêndio e evitou maiores prejuízos, removendo perigo iminente. Restou
constatado que, pelas circunstancias, a conduta de João foi necessária e não excedeu os

limites do indispensável para a remoção do perigo. Diante de tal cenário, com relação aos
estragos ocasionados à porta da casa de Pedro, este:

A) poderá obter indenização de João, apesar de este não ter praticado ato ilícito, ou de Alírio,

cabendo a João ação regressiva contra este.

B) poderá obter indenização de Antônio, com fundamento no direito de vizinhança, ou de


Alírio, por culpa deste;

C) não fará jus à indenização de João, pois este agiu em estado de necessidade, nem à

indenização de Antônio;

D) poderá obter indenização de Alírio, Antônio e João, em virtude da responsabilidade civil


solidária.

Comentário:

O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do,
CC. No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a

vítima quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo (art.
929). Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade,

37
deverá indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo
que pagou (art. 930). Vale ressaltar, no entanto, que o valor desta indenização deverá ser

fixado com proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores abusivos


(desproporcionais) para alguém que estava agindo de forma lícita. (REsp 1292141/SP, Rel.

Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 12/12/2012).

Questão 2
FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - MPE-MG - Promotor de Justiça Substituto: O

atual Código Civil impõe a necessidade de reparação do dano causado por ato ilícito, inclusive
com a obrigação de reparação do prejuízo, independentemente de culpa, nos casos
especificados pela lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano

implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Trata-se da chamada teoria do
risco, criada, principalmente, por juristas franceses no final do século XX, que deu caráter

objetivo à responsabilidade civil, pelo qual “todo o prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido com culpa."

(CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2009. p. 136).

Em relação à responsabilidade civil, marque a alternativa incorreta:

A) A legitimidade para pleitear a reparação por danos morais é, em regra, do próprio


ofendido; no entanto, em certas situações, são colegitimadas também aquelas pessoas que,

sendo muito próximas afetivamente à vítima, são atingidas indiretamente pelo evento danoso,
reconhecendo-se, em tais casos, o chamado dano moral reflexo ou em ricochete.

B) O incapaz poderá ser demandado pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele

responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

C) A existência de licenciamento ambiental regular e a observância dos limites da atividade


legitimamente autorizada exime o causador de degradação ambiental, se o fez de boa-fé. Em

caso de má-fé, a reparação civil pode incluir a obrigação de fazer ou não fazer, cumulada com
a de indenizar.

38
D) A responsabilidade civil consumerista é, por via de regra, de caráter objetivo, ressalvada a
responsabilidade pessoal dos profissionais liberais, tendo o consumidor o direito de reclamar

por vícios aparentes ou de fácil constatação em prazos fatais, os quais são obstados pela
reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos

e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca, e pela instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

Comentário:

Letra A - Jurisprudência em teses, STJ - Ed. nº 125 - A legitimidade para pleitear a


reparação por danos morais é, em regra, do próprio ofendido, no entanto, em certas
situações, são colegitimadas também aquelas pessoas que, sendo muito próximas

afetivamente à vítima, são atingidas indiretamente pelo evento danoso, reconhecendo-se,


em tais casos, o chamado dano moral reflexo ou em ricochete.

Dano moral reflexo ou em ricochete é aquele que atinge além da vítima direta, uma

terceira pessoa. Ex: filho que sofre danos devido a morte do pai.

Letra B - Art. 928, CC - O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios

suficientes.

Letra C - A existência de uma atividade que possa gerar risco para a saúde e o meio
ambiente é suficiente para a configuração da responsabilidade, independentemente da

licitude de seu exercício. A existência de licenciamento ambiental válido ou o


desempenho de uma atividade legítima não exime o causador de degradação ambiental

do dever de reparação. A antijuridicidade é satisfeita com a verificação do risco.

Letra D - Art. 14, CDC - O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos

relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou


inadequadas sobre sua fruição e riscos.

39
Art.14, § 4° - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante

a verificação de culpa.

Questão 3
VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto: Maria, grávida de 9 meses, juntamente
com seu esposo José, estavam caminhando na rua, quando foram atropelados por Carlos. José

faleceu imediatamente em razão do atropelamento. Verificou-se que o atropelamento se deu


em razão de Carlos não ter realizado as devidas manutenções em seu veículo que estava com

defeitos no sistema de frenagem. O atropelamento ocorreu no dia 01.03.2003. Carlos foi


condenado por homicídio culposo e cumpriu pena. Em 02.03.2019, Joaquim, filho de Maria e
José, na época do acidente, nascituro, nascido um dia após a morte do pai, assistido por

aquela, ajuizou ação de indenização por danos morais contra Carlos. Acerca do caso
hipotético, é possível afirmar corretamente que

A) Joaquim não pode demandar alguém por um fato ocorrido antes de seu nascimento, tendo

em vista que a personalidade se inicia após o nascimento com vida.

B) Carlos não pode ser demandado, tendo em vista que já foi condenado criminalmente pelo
fato, em razão da vedação do bis in idem.

C) por não ter conhecido o pai, não pode Joaquim postular danos morais, podendo requerer,
apenas, o pagamento de eventuais danos materiais por não ter sido sustentado
financeiramente pelo pai.

D) é possível a postulação de danos morais em razão da morte do pai ocorrida antes do


nascimento do autor, independentemente de prova de dor e sofrimento.

E) a pretensão está prescrita, tendo em vista o decurso de prazo superior a três anos da data

do falecimento de José.

Comentário:

Em caso semelhante, o STJ assim decidiu:

40
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
DANOS MATERIAIS E MORAIS. NASCITURO. PERDA DO PAI.

(...)

2.- "O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a

circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum"


(REsp 399.028/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 15.4.2002).

3.- "A jurisprudência desta Corte é disposta no sentido de que o benefício previdenciário

é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, porquanto,


ambos têm origens distintas. Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela

Previdência; A indenização por ato ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício


previdenciário que a vítima receba" (AgRg no AgRg no REsp 1.292.983/AL, Rel. Min.

HUMBERTO MARTINS, DJe 7.3.2012).

(...)

(AgRg no AgRg no AREsp 150.297/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/02/2013, DJe 07/05/2013)

Quanto à prescrição, importa considerar que contra o menor começará a correr a partir

de ter completado 16 anos de idade, ou seja, em 02/03/19. Logo, é possível a ação


contra Carlos. Deve-se levar em consideração ainda que dor e sofrimento não impedem

o ajuizamento de ação por danos morais, consoante enunciado 445 das Jornadas de
Direito Civil do CJF. ( Enunciado: 445 - O dano moral indenizável não pressupõe

necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou

sofrimento).

Questão 4
VUNESP - 2019 - Prefeitura de Francisco Morato - SP - Procurador: Considerando as
Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, acerca do dano moral, é correto afirmar:

A) não é possível a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

41
B) a simples devolução indevida de cheque não caracteriza dano moral.

C) caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

D) da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, cabe indenização por dano


moral, mesmo quando preexistente legítima inscrição.

E) a pessoa jurídica não pode sofrer dano moral.

Comentário:

Alternativa A - Súmula 387 STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e

dano moral

Alternativa B - Súmula 388 STJ: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano
moral.

Alternativa C - Súmula 370 STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de

cheque pré-datado.

Alternativa D - Súmula 385 STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao


crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição,

ressalvado o direito ao cancelamento.

Alternativa E - Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Questão 5
MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça: Conforme entendimento do Superior

Tribunal de Justiça, o abandono afetivo de filho pode ensejar ao pai a responsabilidade por
dano moral desde o conhecimento da gravidez e o prazo prescricional da pretensão

reparatória começa a fluir a partir da maioridade do autor.

O Certo

O Errado

42
Comentário:

Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o abandono afetivo de filho


pode ensejar ao pai a responsabilidade por dano moral (excepcionalmente), mas não

desde o conhecimento da gravidez, e sim do reconhecimento da paternidade.

Já o prazo prescricional das ações de indenização por abandono afetivo começa a fluir
com a maioridade do interessado. Isso porque não corre a prescrição entre ascendentes

e descendentes até a cessação dos deveres inerentes ao poder familiar, nos termos do
art. 197, II, do CC:

Art. 197. Não corre a prescrição:

II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

Questão 6
CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público: De acordo com as disposições do Código Civil e
com a jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade civil, julgue o item a seguir.

A responsabilidade civil do dono de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato


exclusivo de terceiro.

O Certo

O Errado

Comentário:

Enunciado 452 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “A responsabilidade civil do dono ou


detentor de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato exclusivo de terceiro”.

Art. 936, CC: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não

provar culpa da vítima ou força maior.

Conclui-se que a responsabilidade é objetiva (independente do proprietário ou possuidor


ter agido com culpa e ainda que prove que guardava e vigiava o animal com diligência e
cuidado). No entanto, exige-se o nexo causal entre o dano sofrido e o fato do animal.

43
O guardião somente ficará isento de responsabilidade, se provar que além de guardar e
vigiar o animal com o cuidado necessário: a) o animal foi provocado (culpa exclusiva da

vítima); b) houve imprudência do ofendido (ex.: ingressou no interior da residência, de

forma indevida, onde estava o animal); c) o fato resultou de caso fortuito ou força maior.

Questão 7
FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público: Sobre a responsabilidade civil no direito brasileiro,

A) o risco do desenvolvimento depende da prova de culpa para gerar direito à indenização.

B) os filhos incapazes respondem solidariamente com seus pais pelos danos que causaram,
desde que tenham bens próprios.

C) a gradação da culpa como critério de equidade de indenização não foi adotada pelo
Código Civil.

D) a culpa contra a legalidade não afasta a necessidade de comprovação de dolo ou culpa do


agente causador do dano.

E) a cláusula penal equivale ao mínimo que o credor deverá receber em caso de


descumprimento total ou parcial do contrato.

Comentário:

Sobre a letra A: CC, Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial,
os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de
culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Obs.: Responsabilidade

Objetiva.

Sobre a letra B: CC, Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as
pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem

de meios suficientes.

Info 599 do STJ/17: responsabilidade civil do incapaz é subsidiária, condicional, mitigada


e equitativa.

44
Sobre a letra C: Enunciado 39 do CJF: “A impossibilidade de privação do necessário à
pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização equitativa, informado pelo

princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como


consequência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite

humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz


se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes
ao montante necessário à manutenção de sua dignidade”.

Complementando a letra D: Info 644 do STJ/19: Em ação destinada a apurar a


responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado o condutor
de veículo automotor que se encontra em estado de embriaguez, cabendo-lhe o ônus de

comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo de causalidade.

Tese da culpa contra a legalidade (culpa da legalidade):

Segundo a tese da culpa contra a legalidade (ou culpa da legalidade), deve-se

reconhecer a culpa presumida do agente que violar dever jurídico imposto em norma
jurídica regulamentar.

Assim, por exemplo, o condutor que tiver descumprido uma norma de trânsito será

considerado presumivelmente culpado pelo acidente, devendo indenizar a vítima, salvo


se comprovar uma causa excludente do nexo causal.

Vale ressaltar que se trata de uma presunção relativa (presunção iuris tantum). Há,

portanto, uma inversão do ônus da prova, considerando que ele (agente que descumpriu
a norma) é quem terá que comprovar a causa excludente. Se não conseguir isso, será
condenado a indenizar.

Sobre a letra E: CC, Art. 416, Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto
na cláusula penal, NÃO pode o credor exigir indenização suplementar se assim não

convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao

credor provar o prejuízo excedente.

Questão 8

45
CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto: Uma empresa contratou uma transportadora para a
prestação de serviço de transporte de carga altamente valiosa. A transportadora, por sua vez,

não contratou seguro contra perdas e danos que poderiam ser causados à carga transportada,
embora o contrato firmado pela transportadora tivesse estipulado a obrigatoriedade de

seguro com tal cobertura. A carga era transportada em trajeto conhecido e em horário com
intenso tráfego, quando o veículo que a transportava foi interceptado por assaltantes à mão
armada, que roubaram toda a carga. Em decorrência desse fato, a empresa contratante ajuizou

ação de reparação de danos em desfavor da transportadora.

À luz do entendimento jurisprudencial, nessa situação hipotética,

A) não há responsabilidade civil da transportadora, pois o roubo à mão armada constitui

motivo de força maior.

B) há responsabilidade civil da transportadora, desde que seja demonstrado que ela não
adotou medidas razoáveis de cautela, como a contratação do referido seguro.

C) não há responsabilidade civil da transportadora, pois, ao ter realizado o transporte em

trajeto conhecido e em horário com intenso tráfego, adotou medidas razoáveis de cautela.

D) há responsabilidade civil da transportadora, sendo suficiente para sua configuração a


previsibilidade abstrata de risco de roubo da carga transportada.

Comentário:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


TRANSPORTE DE CARGAS. OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INEXISTÊNCIA.

RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA AFASTADA. ROUBO. FORTUITO EXTERNO


CARACTERIZADO. CAUTELAS NECESSÁRIAS. COMPROVAÇÃO. REEXAME DO CONJUNTO

PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA


PROVIMENTO. O roubo de carga mediante grave ameaça e emprego de arma de fogo
constitui força maior e exclui a responsabilidade da transportadora, quando adotadas

todas as cautelas necessárias para o transporte da carga. Precedentes. O Tribunal de


origem, com fundamento nas provas produzidas nos autos, concluiu que a

46
transportadora adotou as cautelas necessárias para o transporte das mercadorias
mediante contratação de seguro de carga e de serviço de monitoramento e rastreamento

de veículo (AgInt no AREsp 1232877/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,

julgado em 27/11/2018, DJe 04/12/2018).

Questão 9
CESPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto: Em uma demanda judicial, menor
de dezesseis anos de idade foi condenado a reparar danos que havia causado a terceiro.

Nesse caso, para que os pais do menor sejam responsáveis pela reparação civil basta que seja

A) comprovada a culpa do menor.

B) confirmada a culpa in vigilando dos pais.

C) comprovado que o menor estava na companhia dos pais quando ocorreu o evento danoso.

D) confirmado que os pais não haviam empregado as diligências necessárias para evitar o
evento danoso.

E) confirmado que o dano é resultado de ato ilícito.

Comentário:

Enuncia o art. 933 do CC/2002 que a responsabilidade das pessoas antes elencadas
independe de culpa, tendo sido adotada a teoria do risco-criado. Dessa forma, as
pessoas arroladas, ainda que não haja culpa de sua parte (responsabilidade objetiva),
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Mas para que essas

pessoas respondam, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis.
Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva impura, conforme

a doutrina de Álvaro Vil laça Azevedo.

Esclarecendo, para que os pais respondam objetivamente, é preciso comprovar a culpa


dos filhos; para que os tutores ou curadores respondam, é preciso comprovar a culpa

dos tutelados ou curatelados; para que os empregadores respondam, é preciso


comprovar a culpa dos empregados; e assim sucessivamente. Desse modo, é

47
fundamental repetir que não se pode mais falar em culpa presumida (culpa in vigilando
ou culpa in eligendo) nesses casos, mas em responsabilidade sem culpa, de natureza

objetiva.

Questão 10
FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público: Joaquim, desempregado e sem atividade

remunerada, foi aprovado nas etapas preliminares de concurso público e, como requisito para
a posse, precisava passar por avaliação médica de caráter eliminatório. Entretanto, quando

estava indo até o local da perícia, foi atropelado e hospitalizado, perdendo o prazo para a
realização dos exames. Por esse motivo, foi eliminado do certame. Diante desta situação,
Joaquim faz jus

A) somente aos danos morais, mas não há falar-se em danos materiais, uma vez que estava
desempregado e sem atividade remunerada, de modo que não há falar-se em lucros
cessantes.

B) aos danos morais e materiais decorrentes do acidente, inclusive à integralidade dos


vencimentos a que faria jus se tivesse sido investido no cargo.

C) aos danos morais e materiais decorrentes do acidente, mas a possibilidade de aprovação

no certame não deve ser valorada na quantificação dos danos, por se tratar de mera
expectativa de direito.

D) somente aos danos materiais, mas não há falar-se em danos morais à espécie, por se tratar

de mero aborrecimento da vida em sociedade.

E) aos danos morais e materiais decorrentes do acidente, inclusive a uma indenização


proporcional à perda da chance de tomar posse no cargo.

Comentário:

A teoria de perda de uma chance (perte d’une chance) dá suporte à responsabilização do


agente causador, não de dano emergente ou lucros cessantes, mas sim de algo que
intermedeia um e outro: a perda da possibilidade de buscar posição jurídica mais
vantajosa que muito provavelmente alcançaria se não fosse o ato ilícito praticado. Dessa
48
forma, se razoável, séria e real, mas não fluida ou hipotética, a perda da chance é tida
por lesão às justas expectativas do indivíduo, então frustradas.

Nessa espécie, a responsabilidade é subjetiva e não objetiva, onde requer que o dano

seja real, atual e certo.

49
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - C

Questão 3 - D

Questão 4 - C

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - CERTO

Questão 7 - D

Questão 8 - B

Questão 9 - A

Questão 10 - E

50
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Responsabilidade Civil

 CC: Arts. 402-405 E 927 a 954.


 Súmulas: 37, 43, 54, 130, 132, 145, 221, 227, 246, 362, 370, 385, 387, 388, 403, 420, 479,

529, 572, 595, 620, 624, 629 e 638 STJ; 159, 261, 491, 492 e 562 STF.

Responsabilidade Civil

 Súmula 37 - STJ

São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

 Súmula 43 - STJ

Incide correção monetária sobre divida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

 Súmula 54 - STJ

Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

 Súmula 130 - STJ

A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorrido em seu
estacionamento.

 Súmula 132 - STJ

A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante
de acidente que envolva o veiculo alienado.

 Súmula 145 - STJ

51
No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

 Súmula 221 - STJ

São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.

 Súmula 227 - STJ

A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

 Súmula 246 - STJ

O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada.

 Súmula 362 - STJ

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

 Súmula 370 - STJ

Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.14

 Súmula 385 - STJ

Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

 Súmula 388 - STJ

A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.

 Súmula 403 - STJ

Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.

 Súmula 420 - STJ

Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.

 Súmula 479 - STJ

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

14
Vide questão 4 desse material.
52
 Súmula 529 - STJ

No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta
e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.

 Súmula 572 - STJ

O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação.

 Súmula 595 - STJ

As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação.

 Súmula 620 – STJ

A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato de


seguro de vida.

 Súmula 624 - STJ

É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n. 10.559/2002 (Lei da
Anistia Política).

 Súmula 629 - STJ

Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada
com a de indenizar.

 Súmula 638 - STJ

É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.

 Súmula 159 - STF

Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.

 Súmula 261 - STF

Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.

53
 Súmula 491 - STF

É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.

 Súmula 492 - STF

A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados
a terceiro, no uso do carro locado.

 Súmula 562 - STF

Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.

54
JURISPRUDÊNCIA

Responsabilidade Civil

 Informativo 580, STJ:

Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de pensionamento mensal, os juros moratórios


deverão ser contabilizados a partir do vencimento de cada prestação, e não da data do evento danoso ou da
citação.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).

A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais, passíveis de
compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando
danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do
Código Civil.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.971-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017
(Info 611).

A demora da pessoa em buscar a indenização por dano moral é um fator que, em conjunto com as demais
circunstâncias, pode influenciar na fixação do quantum indenizatório. Esse entendimento, contudo, não se aplica
quando os autores eram menores de idade no momento do ato ilícito e somente ajuizaram a ação quando
completaram a maioridade. Assim, a demora na busca da compensação por dano moral, quando justificada pela
interrupção prescricional da pretensão dos autores – menores à época do evento danoso – não configura desídia
apta a influenciar a fixação do valor indenizatório. Ex: João foi atropelado por um ônibus e faleceu, deixando dois
filhos: Beatriz (4 meses) e Pedro (1 ano). 17 anos após o acidente, Pedro e Beatriz ajuizaram ação de indenização
por danos morais contra a empresa de ônibus pela perda de seu pai. O fato de terem esperado completar a
maioridade para proporem a ação não é motivo para que a indenização seja reduzida.

 STJ, AgRg na Rcl 12.695/RJ, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, julgado em
12/06/2013, DJe 17/06/2013.

Assalto dentro de ônibus coletivo é considerado caso fortuito ou de força maior que afasta a responsabilidade da
empresa transportadora por danos eventualmente causados a passageiro. Jurisprudência consolidada do STJ.

55
 STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016
(Info 578).

O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa
média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão
mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de
sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos
fins, o gênero e a idade da vítima.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info
627).

Os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas não caracterizam dano moral in re ipsa.
Vale ressaltar que é possível a condenação de danos morais em casos de acidente de trânsito, no entanto, trata-
se de situação excepcional, sendo necessário que a parte demonstre circunstâncias peculiares que indiquem o
extrapolamento da esfera exclusivamente patrimonial.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015
(Info 575).

A mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em local
distinto daquele no qual morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato – NÃO pode ser
responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o
poder familiar sobre o filho.

 STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).

Em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional envolvendo consumidor, aplica-se o CDC
ou a indenização tarifada prevista nas Convenções de Varsóvia e de Montreal?

As Convenções internacionais. Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados
internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as
Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.

Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à
ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da
reciprocidade.

56
 Informativo 612, STJ:

A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com reconhecido excesso na conduta
caracteriza dano moral in re ipsa. Durante uma discussão no condomínio, um morador, que é policial, algemou e
prendeu seu vizinho, após ser por ele ofendido verbalmente.

 Informativo 614, STJ:

A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social. Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Caso concreto: a TV Record. assassinato da
atriz Daniela Perez, entrevista com Guilherme de Pádua, sem prévia autorização da família, fotos da vítima
Daniela.

 Informativo 619, STJ:

É possível que o juiz utilize presunções e regras de experiência para a comprovação do dano moral da pessoa
jurídica. Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária
a comprovação nos autos do prejuízo sofrido.

Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração do dano, mesmo
sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela parte ou de
reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há
uma presunção de que ela sofreu danos morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 06/02/2018 (Info 619). Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa
jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/11/2017

 Informativo 619, STJ:

Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária a
comprovação nos autos do prejuízo sofrido. Apesar disso é possível a utilização de presunções e regras de
experiência para a configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo o que sempre comportará a
possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido
vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela sofreu danos morais. STJ. 3ª Turma.
REsp 1564955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). Cuidado: existem julgados em
sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª
Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017.

57
 Informativo 921, STF:

Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública. Os familiares do
morto ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos
de imagem. O STF julgou a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de
censura, o que afronta a liberdade de informação jornalística. STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018.

 Informativo 637, STJ

Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa
de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual
punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva. Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o
jogador do Palmeiras, após ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale
ressaltar que a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida de futebol
que gerará indenização por danos morais. O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador
transbordou o mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as agressões
foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi
televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas
que assistiram o episódio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
23/10/2018.

 Informativo 638, STJ

Na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do dano moral in re ipsa. STJ. 3ª Turma. REsp
1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018.

 Informativo 642, STJ:

Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de acessibilidade de pessoa
cadeirante ao interior da aeronave. A sociedade empresária atuante no ramo da aviação civil possui a obrigação
de providenciar a acessibilidade do cadeirante no processo de embarque quando indisponível ponte de conexão
ao terminal aeroportuário (“finger”). Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o acesso
do cadeirante ao interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço, ensejando reparação por
danos morais. Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”) tenha que ser carregado pelos funcionários da
companhia aérea para entrar no avião, este fato configura defeito na prestação do serviço, gerando indenização
por danos morais. A companhia aérea não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de
fornecer o equipamento para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC. Isso porque a
companhia aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui responsabilidade solidária em caso de
fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais, tal alegação não se amolda à excludente de
responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC).

58
 Informativo 648, STJ:

Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no estacionamento externo e
gratuito do estabelecimento.

59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2018.

60
Capítulo 6
SUMÁRIO

Direito Civil, CAPÍTULO 6................................................................................................................................................3

15. Posse..........................................................................................................................................................................3

15.1 Conceito de Posse e Teorias....................................................................................................................3

15.2 Detenção...........................................................................................................................................................3

15.3 Elementos da Posse e Objeto da Posse .............................................................................................6

15.4 Classificação da Posse ................................................................................................................................6

15.4.1 Quanto ao Desdobramento .............................................................................................................6

15.4.2 Quanto aos Vícios Objetivos ...........................................................................................................7

15.4.3 Quanto aos Vícios Subjetivos ou Quanto à Boa-fé...............................................................8

15.4.4 Quanto ao Tempo................................................................................................................................9

15.4.5 Quanto à Presença do Título ..........................................................................................................9

15.4.6 Quanto aos Efeitos ........................................................................................................................... 10

15.4.7 Legítima Defesa da Posse e o Desforço Imediato .............................................................. 10

15.5 Formas de Aquisição da Posse ............................................................................................................ 11

15.6 Adquirente .................................................................................................................................................... 12

15.7 Efeitos ............................................................................................................................................................. 12

15.7.1 Invocar Interditos............................................................................................................................... 12

15.7.2 Percepção dos Frutos ...................................................................................................................... 13

15.7.3 Em Relação às Benfeitorias ........................................................................................................... 13

15.7.4 Quanto à responsabilidade ........................................................................................................... 15

15.8 Perda da Posse ........................................................................................................................................... 15

15.9 Composse ou Compossessão............................................................................................................... 15

16. Direitos Reais ...................................................................................................................................................... 17


16.1 Propriedade .................................................................................................................................................. 17

16.1.1 Conceito................................................................................................................................................. 17

16.1.2 Elementos.............................................................................................................................................. 18

16.1.3 Classificação da Propriedade........................................................................................................ 18

16.1.4 Principais Características do Direito de Propriedade ......................................................... 19

16.1.5 Formas de Aquisição da Propriedade Imóvel ....................................................................... 20

16.1.5.1 Acessão (Naturais ou Artificiais) ............................................................................................. 21

16.1.5.2 Usucapião ......................................................................................................................................... 28

16.1.5.3 Registro Imobiliário ...................................................................................................................... 34

16.1.5.4 Sucessão Hereditária.................................................................................................................... 35

16.1.6 Formas de Aquisição da Propriedade Móvel ........................................................................ 35

16.1.6.1 Ocupação .......................................................................................................................................... 35

16.1.6.2 Achado do Tesouro ...................................................................................................................... 36

16.1.6.3 Usucapião ......................................................................................................................................... 36

16.1.6.4 Especificação ................................................................................................................................... 38

16.1.6.5 Confusão, Comistão e Adjunção ............................................................................................ 39

16.1.6.6 Tradição ............................................................................................................................................. 40

16.1.6.7 Sucessão ............................................................................................................................................ 40

16.1.7 Perda da propriedade ..................................................................................................................... 40

16.1.8 Direitos de Vizinhança..................................................................................................................... 41

16.1.9 Condomínio ou Compropriedade .............................................................................................. 45

16.1.10 Propriedade Resolúvel..................................................................................................................... 48

16.2 Direitos Reais de Gozo ou Fruição..................................................................................................... 48

16.2.1 Enfiteuse ................................................................................................................................................ 48


16.2.2 Servidão Predial ................................................................................................................................. 49

16.2.3 Usufruto ................................................................................................................................................. 50

16.2.4 Uso ........................................................................................................................................................... 52

16.2.5 Habitação .............................................................................................................................................. 52

16.2.6 Superfície............................................................................................................................................... 53

16.3 Direitos Reais de Garantia ..................................................................................................................... 54

16.3.1 Penhor .................................................................................................................................................... 55

16.3.2 Hipoteca ................................................................................................................................................ 56

16.3.3 Anticrese ................................................................................................................................................ 58

16.4 Direitos Reais de Aquisição ................................................................................................................... 59

16.5 Direitos Reais de Interesse Social ....................................................................................................... 60

16.5.1 Concessão de uso Especial Para Fins de Moradia .............................................................. 60

16.5.2 Concessão de Direito Real de Uso ............................................................................................ 60

16.5.3 Laje........................................................................................................................................................... 61

QUADRO SINÓTICO ..................................................................................................................................................... 63

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 79

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 93

LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 94

JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................................................104
DIREITO CIVIL

Capítulo 6

15. Posse

15.1 Conceito de Posse e Teorias

O Código Civil trata da Posse em seus artigos 1.196 a 1.227. A posse é exercida por

todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de um dos poderes inerentes à
propriedade (usar, fruir, gozar e dispor).

Não é considerado um direito real, pois, conforme será explicado posteriormente, o

rol dos direitos reais, previsto no art. 1225, do CC, é taxativo. Inclusive, o Código Civil traz a
posse em um título à parte, demonstrando explicitamente que a posse não faz parte dos

direitos reais.

Duas teorias que buscam justificar a posse são cobradas pelos examinadores:

 Teoria Subjetiva de Savigny: para haver posse, é necessária a apreensão física da


coisa e a vontade de ser dono (corpus + animus domini). Diante desse segundo

elemento, o locatário, o comodatário, o depositário, entre outros, não são


possuidores, pois não há qualquer intenção de tornarem-se proprietários.

 Teoria Objetiva de Ihering: a posse se concretiza com a mera conduta do


possuidor, de agir como se dono fosse, pouco importando a sua vontade em

relação à propriedade (corpus). Teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro.

15.2 Detenção

Detenção, fâmulo de posse ou servidor de posse é aquele que tem a posse não em

nome próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e

3
instruções. É o que detém a coisa em virtude de dependência econômica ou vínculo de
subordinação (art. 1.198, CC). Ex.: caseiro, zelador de um prédio, etc.

Logo, não se confunde com a posse, pois aquela se caracteriza quando alguém,

achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em nome deste
e em cumprimento de ordens e instruções suas.

A detenção pode ser convertida em posse, desde que rompida a subordinação, nas hipóteses

de exercício em nome próprio dos atos possessórios (Enunciado 301 CJF).

Apesar de não ser possuidor do bem, o detentor pode é possível que o detentor defenda a

posse alheia por meio da autotutela, tratada pelo art. 1.210, § 1º, do CC, conforme reconhece
o seguinte enunciado doutrinário, da V Jornada de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do

Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”

(Enunciado n. 493).

Em relação a ocupação irregular de áreas públicas por particulares, induz também


ato de mera detenção. Essa posição é adotada pelo STJ que, recentemente, editou duas

súmulas tratando sobre o tema.

A primeira, súmula nº 619 do STJ aduz que “A ocupação indevida de bem público
configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por
acessões e benfeitorias”. Assim, no caso de um particular invadir um imóvel público, não será

4
possível exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera
detenção.

No entanto, parte da doutrina critica essa posição, inclusive Flávio Tartuce1, ao afirmar

que “O objetivo dessa forma de julgar era o de afastar qualquer pretensão de usucapião de
bens públicos, presente a citada ocupação irregular. Com o devido respeito, sempre

entendemos que o caso seria não de detenção, mas de uma posse precária que, por ser
injusta, não geraria a usucapião. Todavia, em havendo posse, o ocupante-invasor poderia

propor ações possessórias contra terceiros”.

Já a segunda, a súmula 637 do STJ, editada no final de 2019, é categórica ao afirmar


que: “O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação

possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o
caso, o domínio”. Isso porque, é possível que particulares exerçam proteção possessória para
garantir seu direito de utilizar bens de uso comum do povo.

Informativo 590, do STJ: Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como

servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está
invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores
locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra

a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de

passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016.

1
Flavio Tartuce, p. 879.
5
15.3 Elementos da Posse e Objeto da Posse

Os elementos da posse são:

 Sujeito capaz;

 Objeto lícito e possível;


 Forma livre;

 Relação dominante entre sujeito e coisa.

Já seu objeto são todas as coisas que puderem ser objeto de propriedade, móveis ou
imóveis, corpóreas ou incorpóreas.

15.4 Classificação da Posse

A classificação da posse pode ser dividida em várias espécies2, vejamos:

15.4.1 Quanto ao Desdobramento

 Direta ou imediata: é a exercida por quem detém materialmente a coisa, existindo

um poder físico imediato. Como exemplos podemos citar o locatário, o depositário,


o comodatário e o usufrutuário.

 Indireta ou mediata: é a posse exercida através de outra pessoa, existindo exercício


de direito decorrente da propriedade. Na locação o locatário (inquilino) tem a posse
direta (exerce a posse em nome próprio) e o locador (proprietário) tem a posse

indireta (ele a exerce através do inquilino).

Enunciado n. 76, da I Jornada de Direito Civil: “O possuidor direto tem direito de defender a
sua posse contra o indireto, e este contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil)”.

2
Vide questão 8
6
Em suma, tanto o possuidor direto quanto o indireto podem invocar a proteção possessória

um contra o outro, e também contra terceiros.

15.4.2 Quanto aos Vícios Objetivos

 Justa: é aquela adquirida sem vícios da violência, da clandestinidade ou da


precariedade, sendo uma posse limpa;

 Injusta: é a adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou de


precariedade, ou seja, apresenta algum dos vícios, nos seguintes termos:

 Posse violenta: obtida por meio de esbulho, for força física ou violência moral
(vis). A doutrina tem o costume de associá-la ao crime de roubo;
 Posse clandestina: obtida às escondidas, de forma oculta, à surdina, na

calada da noite (clam). É assemelhada ao crime de furto;


 Posse precária: obtida com abuso de confiança ou de direito (precario). Tem

forma assemelhada ao crime de estelionato ou à apropriação indébita, sendo


também denominada de esbulho pacífico.

Basta apenas um vício para ser considerada a posse injusta, não havendo exigência de

cumulação.

A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações do juízo

possessório em face de terceiros, mas não contra aquele de quem se tirou a coisa.

7
Segundo entendimento majoritário, levando em consideração o que consta do art. 1.208,
segunda parte, do CC, as posses injustas por violência ou clandestinidade podem ser

convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por precariedade. No entanto, apesar
desse entendimento tido como clássico e consolidado, filia-se à corrente contemporânea

(minoritária) que prega a análise dessa cessação caso a caso, de acordo com a finalidade
social da posse (função social da posse), prevendo, portanto, que a posse precária também

pode ser convalidada. Esse entendimento foi reconhecido na III Jornada de Direito Civil, com a
aprovação do Enunciado n. 237, in verbis: “É cabível a modificação do título da posse –

interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato
exterior inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a

caracterização do animus domini”.

15.4.3 Quanto aos Vícios Subjetivos ou Quanto à Boa-fé

 Boa-fé: possuidor ignora os vícios que impedem ou os obstáculos que lhe impedem
a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que fundamente a sua posse.

 Má-fé: o possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende
exercer o domínio fático sobre esta.

Não há coincidência necessária entre a posse justa e a posse de boa-fé. À primeira vista,

toda posse justa deveria ser de boa-fé e toda posse de boa-fé deveria ser justa. Mas a
transmissão dos vícios de aquisição permite que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta,

8
se a adquiriu de quem a obteve pela violência, pela clandestinidade ou pela precariedade,
ignorante da ocorrência. Também é possível que alguém possua de má-fé, embora não tenha

posse violenta, clandestina ou precária. O exemplo clássico de quem tem posse injusta, mas
de boa-fé, ocorre no caso de compra de um bem roubado, sem que se saiba que o bem foi

retirado de outrem com violência. Por outro lado, terá posse justa, mas de má-fé, o locatário

que pretende adquirir o bem por usucapião, na vigência do contrato.

15.4.4 Quanto ao Tempo

 Nova: Exercida a menos de um ano e um dia.


 Velha: Exercida a mais de um ano e um dia.

A classificação da posse quanto ao tempo é fundamental para a questão processual relativa às


ações possessórias. Vejamos o que diz o Enunciado n. 238, da III Jornada de Direito Civil:

“se a ameaça, turbação ou esbulho forem novos, a ação segue rito especial e cabe liminar; se
forem velhos, a ação é de força velha, o rito é ordinário, não cabe liminar, mas cabe tutela

antecipada”.

15.4.5 Quanto à Presença do Título

 Com título ou ius possidendi: quando há uma causa representativa da transmissão

da posse, fundado em um documento escrito (um contrato), como ocorre na


vigência de um contrato de locação ou de comodato;

 Sem título ou ius possessionis: quando não há uma causa representativa, pelo
menos aparente, da transmissão do domínio fático, como pode ocorrer no caso de
alguém achar um tesouro, sem a intenção de fazê-lo.

9
15.4.6 Quanto aos Efeitos

 Posse ad interdicta: é a regra geral. É a posse que pode ser defendida pelas

ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Essa posse não conduz à


usucapião;

 Posse ad usucapionem (usucapível): é a exceção. É a que se prolonga por


determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da

propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Deve ser
mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com

intenção de dono, e em regra, deve ter os requisitos do justo título e da boa-fé.

15.4.7 Legítima Defesa da Posse e o Desforço Imediato

O art. 1210, § 1º, do CC, aduz que “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-

se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse”.

A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela,

autodefesa ou de defesa direta, independentemente de ação judicial, cabíveis ao possuidor


direto ou indireto contra as agressões de terceiro.

Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a
legítima defesa.

Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à retomada do


bem esbulhado.

Para que a defesa ou o desforço imediato seja considerado lícito, se faz necessário a atuação

imediata, ou seja, incontinenti, conclusão a ser retirada da análise do caso concreto. Sobre tal

10
requisito do imediatismo, foi aprovado enunciado n. 495 na V Jornada de Direito Civil,
propondo uma interpretação restritiva do preceito: “No desforço possessório, a expressão

‘contanto que o faça logo’ deve ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata
ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas

demais hipóteses”.

O possuidor que toma as medidas de autotutela não pode ir além do indispensável para a

recuperação de sua posse. Deve agir nos limites do exercício regular desse direito. Além
disso, pode fazer uso de apoio de empregados ou prepostos para exercer a autotutela,

sendo responsável objetivamente pelos atos dos terceiros.

15.5 Formas de Aquisição da Posse

O atual código civil segue um sistema de princípios, de cláusulas gerais, de conceitos


legais indeterminados, não trazendo taxativamente as formas de aquisição. O art. 1204 do CC

apenas traz que “Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível
o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.

Nesse sentido, são exemplos de formas de aquisição da posse: apreensão da coisa,

exercício de direito, disposição da coisa, tradição e constituto possessório.

As formas de aquisição de posse podem ser classificadas como formas de aquisição


originárias, em que há um contato direto entre a pessoa e a coisa. Um exemplo acontece

quando no ato de apreensão de bem móvel, a coisa não tem dono (res nullius) ou for
abandonada (res derelictae).

Já as formas de aquisição derivadas, acontecem quando há uma intermediação


pessoal. O exemplo mais comum é a tradição, que vem a ser a entrega da coisa.

11
15.6 Adquirente

O art. 1.205, do CC, preconiza que a posse pode ser adquirida: pela própria pessoa que

a pretende ou por seu representante; ou por terceiro sem mandato, dependendo de


ratificação.

Em outras palavras, a posse pode ser adquirida pelo próprio sujeito que a apreende,

desde que capaz; por seu representante legal ou convencional (caso do herdeiro e do
mandatário); ou até por terceiro que não tenha mandato, desde que haja confirmação
posterior, com efeitos ex tunc ou retroativos.

15.7 Efeitos

15.7.1 Invocar Interditos

São as ações possessórias. Podem ser:

 Ameaça: risco de atentado à posse. Caberá interdito proibitório.


 Turbação: atentados fracionados à posse. Caberá manutenção de posse.
 Esbulho: atentado consolidado à posse. Caberá reintegração de posse.

O art. 554, do CPC, prevê a possibilidade de fungibilidade das 3 ações possessórias,


vejamos: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz

conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos

estejam provados”.

12
Se a ameaça, a turbação e o esbulho forem novos, ou seja, tiverem menos de um ano e um
dia, caberá a ação de força nova: o respectivo interdito possessório seguirá o rito especial,

cabendo liminar nessa ação. Já se a ameaça, a turbação e o esbulho forem velhos, com
pelo menos um ano e um dia, caberá ação de força velha, que segue o ora procedimento

comum, não cabendo a respectiva liminar. Todavia, será possível, no último caso, uma tutela

de urgência ou de evidência, nos termos dos arts. 300 a 311, do CPC.

15.7.2 Percepção dos Frutos

 Possuidor de boa-fé: tem direito aos frutos percebidos, ao uso e gozo da coisa,
às despesas de produção, não tem direito aos frutos pendentes quando cessa a
boa-fé, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio, e devem ser

restituídos os frutos colhidos com antecipação.


 Possuidor de má-fé: responde pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos

que, por culpa sua, deixou de colher desde o momento em que se constituiu a
má-fé. Só tendo direito a restituição pelas despesas de produção e de custeio.

15.7.3 Em Relação às Benfeitorias

As benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando


a sua conservação ou melhora da sua utilidade. As benfeitorias podem ser necessárias (as

essenciais, pois visam à conservação da coisa principal), úteis (aumentam ou facilitam o uso da
coisa principal) e voluptuárias (de mero luxo ou deleite, pois facilitam a utilidade da coisa

principal).

 Possuidor de boa-fé: tem direito à indenização das benfeitorias necessárias, úteis


e voluptuárias. Poderá exercer o direito de retenção (ius retentionis) pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis. No tocante às benfeitorias voluptuárias, o possuidor

13
de boa-fé tem direito ao seu levantamento, se não forem pagas, desde que isso não
gere prejuízo à coisa (ius tollendi).

Em relação à locação de imóvel urbano, há regras específicas relativas às benfeitorias


previstas nos arts. 35 e 36 da Lei 8.245/1991. Dispões o art. 35 da Lei de locação que “Salvo
expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo

locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas,
serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. Já o art. 36, da mesma lei,
trata das benfeitorias voluptuárias que “não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo
locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do

imóvel.

 Possuidor de má-fé: serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não

lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as


voluptuárias.

O reivindicante da coisa, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o

direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo, aquilo que lhe for mais interessante. Já

ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual da coisa (art. 1222, do CC).

14
15.7.4 Quanto à responsabilidade

 Possuidor de boa-fé: não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que

não der causa. Assim, para o possuidor ser responsabilizado pela perda ou
deterioração da coisa se faz necessário a comprovação da culpa em sentido amplo,

ou seja, responsabilidade é subjetiva.


 Possuidor de má-fé: responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que

acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na
posse do reivindicante. Nesse caso, a responsabilidade será objetiva, a não ser que

prove que a coisa se perderia mesmo se estivesse com o reivindicante.

15.8 Perda da Posse

Assim como as formas de aquisição da posse, o legislador não estabeleceu quais são as
formas de perda, utilizando expressões genéricas ao estabelecer no seu art. 1.223 do CC: “Art.

1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre
o bem, ao qual se refere o art. 1.196.” Em resumo, perde a posse aquele que vê cessar os

elementos da propriedade.

Assim, podemos trazer como exemplos de perda da posse:

 Pelo abandono da coisa;


 Pela tradição, ou seja, entrega da coisa;

 Pela perda ou destruição da coisa;


 Pela posse de outrem;

 Pelos constituto possessório.

15.9 Composse ou Compossessão

Ocorre quando uma coisa indivisa (mesma coisa) é partilhada por uma pluralidade

de sujeitos, havendo um condomínio de posses em relação ao bem. Pode ter origem inter
vivos ou mortis causa. Como exemplos, temos a herança de uma casa por duas pessoas, onde
ambas terão a posse sobre o imóvel.

15
Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Com isso, desde

que não haja exclusão do direito alheio, qualquer um dos possuidores poderá fazer uso das
ações possessórias, no caso de atentado praticado por terceiro, inclusive exercer a autotutela.

Podem ser divididas em:

 Pro indiviso ou indivisível: cada possuidor tem a parte ideal do bem, não sendo

possível determinar, no plano fático e corpóreo, qual a parte de cada um. O bem é
indivisível.

 Pro diviso ou divisível: há uma divisão de fato do bem entre os compossuidores,


determinável no plano fático e corpóreo. O bem é divisível.

16
16. Direitos Reais

Assim como a posse, faz parte do Direito das Coisas. No entanto, diferencia-se da

posse, já que Direitos Reais é o conjunto de categorias jurídicas relacionadas à propriedade.


Maria Helena Diniz3 aponta as seguintes características dos direitos reais:

 Oponibilidade erga omnes, ou seja, contra todos os membros da coletividade.

 Existência de um direito de sequela, que segue a coisa.


 Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real.
 Possibilidade de abandono dos direitos reais, de renúncia a tais direitos.

 Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse.


 Previsão da usucapião como um dos meios de sua aquisição.
 Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da
coisa ou tradição (no caso de bens móveis) e pelo registro (no caso de bens

imóveis).

Os Direitos Reais estão enumerados taxativamente (numerus clausus) no art. 1.225 do


CC, não se podendo aumentar ou diminuir a relação.

16.1 Propriedade4

16.1.1 Conceito

É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um

bem ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, CC). O tema da
propriedade em encontra-se previsto nos artigos 1.228 a 1.360 do Código Civil.

A propriedade deve ser exercida com base na função social e socioambiental a ela

destinada.

3
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito das Coisas. V. 5. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.
20.
4
Vide questão 9
17
16.1.2 Elementos

Seus elementos são:

 Usar: como o próprio nome já diz, é a faculdade de usar a coisa, dar destinação
como bem entender. Ex: morar.
 Fruir ou gozar: trata-se da faculdade de retirar os frutos da coisa, que podem ser

naturais, industriais ou civis. Ex: alugar.


 Dispor: é a possibilidade de transmissão gratuita ou onerosa do bem. Ex: vender ou

doar.
 Reivindicar: será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade,

sendo a mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio.
Ex: entrar com ação judicial contra quem detiver a posse de forma injusta.

16.1.3 Classificação da Propriedade 5

 Plena ou Alodial: o proprietário tem em sua mão todos os elementos da


propriedade (uso, fruição, disposição e reivindicação), sem que terceiros tenham

qualquer direito sobre a coisa.


 Limitada ou Restrita: quando recai sobre a propriedade algum ônus, caso da

hipoteca, servidão ou usufruto; ou quando a propriedade for resolúvel, dependente


de condição ou termo. Quando alguns desses elementos passam a ser de outrem,

temos o direito real sobre coisa alheia, fazendo com que o direito de propriedade
seja composto por duas partes:

 Nua propriedade: corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser


proprietário e de ter o bem em seu nome. O nu proprietário mantém os
atributos de dispor e reaver a coisa.

 Domínio útil: corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa.


Dependendo dos atributos que possui, a pessoa que o detém recebe uma

denominação diferente: superficiário, usufrutuário, usuário, habitante,

18
promitente comprador etc. Ex. o usufrutuário tem os atributos de usar e fruir
(gozar) da coisa

16.1.4 Principais Características do Direito de Propriedade

 Direito absoluto: pode ser considerado, em regra geral, o direito à propriedade


como um direito absoluto, pelo seu caráter erga omnes, ou pelo fato do

proprietário poder desfrutar da coisa como bem entender. No entanto, tal direito
pode ser relativizado em algumas situações, caso da função social e socioambiental

da propriedade. Pode também ser relativizado no caso de conflito de direitos de


mesma espécie.

 Direito exclusivo: a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e


simultaneidade a duas ou mais pessoas, em idêntico lapso temporal, salvo os

casos de condomínio ou copropriedade, hipótese que também não retira o seu


caráter de exclusividade.

Informativo 589 do STJ: É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao

regime de multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de


responsabilidade do organizador do compartilhamento. A multipropriedade imobiliária, mesmo
não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de DIREITO REAL, harmonizando-se com

os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp
1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de

Noronha, julgado em 26/4/2016.

19
A lei nº 13.777/2018 alterou o Código Civil e a Lei de Registros Públicos para dispor sobre o
regime jurídico da multipropriedade e seu registro. A multipropriedade ou time-sharing ocorre

quando um bem é dividido entre vários proprietários, sendo que cada um deles utilizará a
coisa, com exclusividade, em sua totalidade, durante certo (s) período(s) de tempo por ano,

em um sistema de rodízio.

 Direito perpétuo: o direito de propriedade permanece independentemente do


seu exercício, enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas
de origem legal ou convencional.

 Direito elástico: a propriedade pode ser distendida ou contraída quanto ao seu


exercício, conforme sejam adicionados ou retirados os atributos que são

destacáveis. Quando o direito de propriedade estiver sendo exercido de forma


plena, o direito se encontra no grau máximo de elasticidade, havendo uma redução

nos direitos reais de gozo ou fruição e nos direitos reais de garantia.


 Direito complexo: a propriedade é um direito por demais complexo,
particularmente pela relação com os quatro atributos (usar, gozar, dispor e

reivindicar).
 Direito fundamental: o direito de propriedade é um direito fundamental, pelo

que consta do art. 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal. Esse caráter faz que a
proteção do direito de propriedade e a correspondente função social sejam

aplicados de forma imediata nas relações entre particulares.

16.1.5 Formas de Aquisição da Propriedade Imóvel

Assim como na aquisição da posse, a aquisição da propriedade acontece de duas

formas, originárias e derivadas. Como foi explicado na aquisição da posse, na forma originária

20
há um contato direto entre pessoa e coisa, sem qualquer intermediação pessoal. Já a forma
derivada, há uma intermediação pessoal.

Agora vejamos o quadro que apresenta as formas de aquisição da propriedade imóvel:

FORMAS DE
AQUISIÇÃO DA
PROPRIEDADE
IMÓVEL

FORMAS FORMAS
ORIGINÁRIAS DERIVADAS

REGISTRO SUCESSÃO
ACESSÃO USUCAPIÃO
IMOBILIÁRIO HEREDITÁRIA

16.1.5.1 Acessão (Naturais ou Artificiais)

É o direito do qual o proprietário de um bem passa a adquirir a propriedade de tudo

aquilo foi incorporado de forma natural ou artificial. Como acessões naturais estão previstas
a formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo. Como acessões artificiais,
decorrentes da intervenção humana, o atual Código disciplina as plantações e as construções.

 Formação de ilhas

Ilha é uma faixa de terra cercada de água por todos os lados.

21
Somente pertencem aos particulares as ilhas formadas em rios não navegáveis ou
particulares, por pertencerem ao domínio particular, conforme consta do Código de Águas

(Decreto 24.643/1934). As ilhas fluviais e lacustres de zonas de fronteira, ilhas oceânicas ou


costeiras pertencem à União, aos Municípios (art. 20, IV, da CF) ou aos Estados Federados (art.

26, II e III, da CF).

Os incisos do art. 1249, do CC, estabelecem as 3 regras parra a aquisição de

propriedade das ilhas pelos ribeirinhos fronteiros, vejamos:

O inciso I estabelece que “as (ilhas) que se formarem no meio do rio consideram-se
acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na

proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais”. A primeira
regra prevê o caso de uma ilha formada no meio do rio com duas propriedades ribeirinhas

em ambos os lados, vejamos a imagem ilustrativa.

Como se observa pela ilustração, a ilha formou-se bem no meio do rio, tendo que ser

dividida em duas partes iguais, metade pertencendo a “X” e metade a “Y”.

A segunda regra, prevista no inciso II, aduz que “as (ilhas) que se formarem entre a
referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros

desse mesmo lado”. Assim, se a ilha se formar de um lado do meridiano do rio, pertencerá ao
proprietário daquela margem, conforme a figura:

6
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 934.
22
7

Nesse caso, como a ilha se formou mais próximo de uma margem do rio, a propriedade
só será adquirida por um ribeirinho. A primeira ilha será 100% de “X”, e a segunda será 100%

de “Y”.

Já a terceira regra, encontrada no inciso III, determina que “as (ilhas) que se formarem
pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos

terrenos à custa dos quais se constituíram”. Nesse caso, a ilha pode ser formada diante do
desdobramento de um braço de rio, ou seja, diante de um novo curso de água que se abre,

vejamos:

Assim, se isso ocorrer, a ilha pertencerá ao proprietário que margeia esse novo

desdobramento, que no caso é o proprietário “Y”.

 Aluvião

7
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 935.
23
Conforme determina o art. 1250, do CC, aluvião são “Os acréscimos formados,
sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das

correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais,
sem indenização”. Desse modo, aluvião é o acréscimo lento de terra formado pelo depósito

de sedimentos as margens do rio, gerando um acréscimo de propriedade ao ribeirinho.

A aluvião pode ser observada em duas modalidades:

 Aluvião própria: acréscimo paulatino de terra que o rio deixa naturalmente


nos terrenos ribeirinhos Esses acréscimos pertencem aos donos dos terrenos

marginais, seguindo a regra de que o acessório segue o principal.


Didaticamente, pode-se dizer que na aluvião própria a terra vem. Vejamos:

 Aluvião imprópria: acréscimo que se forma quando parte do álveo descobre-

se em razão do afastamento das águas correntes. Assim, pode-se dizer que a


água vai.

8
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 936.
24
9

 Avulsão

Nos termos do art. 1.251, do CC, há avulsão “Quando, por força natural violenta, uma

porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a


propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um
ano, ninguém houver reclamado”. Assim, a avulsão é o desprendimento, por força natural,

violenta e abrupta, de uma porção de terra que se junta ao terreno de outro proprietário,
vejamos:

10

Pelo que pode ser observado no exemplo da figura, em razão da força natural do rio, o

proprietário “A” ganhou um pedaço de terra que anteriormente pertencia a “B”. Nesse caso,
“B” poderá pleitear reparação de danos pela parte perdida, no prazo decadencial de um ano, a

9
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 936.
10
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 937.
25
contar da sua ocorrência. No entanto, “A” poderá optar entre indenizar “B” (regra) pelo
deslocamento da faixa avulsa ou remover a parte acrescida.

 Álveo abandonado

Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e

ordinariamente enxuto (art. 9º do Código de Águas). Nesse sentido, álveo abandonado é o


rio ou a corrente de água que seca.

Para sua aquisição, o art. 1252, do CC, prevê que “O álveo abandonado de corrente

pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os
donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios

marginais se estendem até o meio do álveo”. Nesse caso, será traçado um meridiano no rio,
verificando-se quais as distâncias das margens, para ser dividido entre os proprietários

ribeirinhos, vejamos:

11

Como pode ser observado, a distribuição será igual entre “A” e “B”, eis que a distância
de suas margens ao centro do rio é a mesma.

 Construções e Plantações

São as formas de acessões artificiais.

As construções e as plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens
imóveis por acessão física artificial, seguindo a sorte do principal. Tanto é assim, que o art.

11
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 938.
26
1253, do CC, dispõe que “Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se
feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário”.

Para estudar o tema, se faz importante a leitura dos artigos 1254 a 1259 do CC, já que

suas regras decorrem diretamente do texto legal:

Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-
lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.

Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.

Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do


terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo,
mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes,


plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.

Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou


lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.

Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as


sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.

Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do


proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou
construtor.

Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em
proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a
propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte,
e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente.

Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o


construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em
proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o

27
dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a
construção.

Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a


vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por
perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da
área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a
demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos
em dobro.

16.1.5.2 Usucapião

Pode ser conceituado como a forma de aquisição originária da propriedade pela


posse prolongada.

Para a decretação da usucapião é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos:

 Posse com intenção de dono (animus domini);

 Posse mansa e pacífica;


 Posse contínua e duradoura, em regra, e com determinado lapso temporal:

essa posse deve ser sem intervalos, sem interrupção;


 Posse de boa-fé e com justo título, em regra: na usucapião ordinária é
necessário; para outras modalidades de usucapião, é dispensável.

Agora vejamos as modalidades de usucapião12:

 Usucapião extraordinária

Dispõe o art. 1238, do CC: “Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de

título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”. Essa usucapião é denominada de

usucapião extraordinária regular ou comum.

12
Vide questões 1, 6, 7 e 10
28
No seu parágrafo único, encontra-se a hipótese de usucapião extraordinária por
posse-trabalho, em razão do cumprimento da função social da propriedade, que “reduzir-se-á

a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo”.

Logo, os requisitos essenciais da usucapião extraordinária são:

 Posse mansa e pacífica;

 Posse ininterrupta;
 Animus domini;

 Sem oposição por 15 anos, ou 10 anos se o possuidor estabelecer moradia


habitual ou houver realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Não há necessidade de se provar a boa-fé ou o justo título.

 Usucapião ordinária

O caput do art. 1242, do CC, trata sobre a usucapião ordinária regular ou comum:

“Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com


justo título e boa-fé, o possuir por dez anos”.

Já o parágrafo único prevê a usucapião ordinária por posse-trabalho, que “Será de

cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente,
com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que

os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de


interesse social e econômico”.

Como pode ser observado, o parágrafo único traz um requisito ao lado da posse-trabalho,
qual seja, a existência de um documento hábil que foi registrado e cancelado posteriormente,

29
caso de um compromisso de compra e venda. Tal requisito gera o que se convencionou

denominar como usucapião tabular.

Assim, os requisitos essenciais da usucapião ordinária são:

 Posse mansa, pacífica;

 Ininterrupta;
 Animus domini;
 Boa-fé e justo título;

 10 anos, se posse simples; ou 5 anos se posse qualificada.


 Usucapião especial urbana – pro misero

Prevista no art. 183, da CF, no art. 1240, do CC, e no art. 9º, da Lei 10.257/2001, dispõe

que “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua

moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural”.

Dessa maneira, os requisitos essenciais da usucapião especial urbana são:

 Área urbana não superior a 250 m²;

 Posse mansa e pacífica de cinco anos ininterruptos;


 Sem oposição;

 Animus domini;
 Função social (moradia);

 Não pode ser proprietário de outro imóvel, rural ou urbano;


 Não pode ser deferida mais de uma vez.

Também não há necessidade de se provar a boa-fé ou o justo título.

30
Informativo 630 do STJ: É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo
exigido por lei se complete no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493,

do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em março de 2017, João
ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art.
1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o

proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e


as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja,

quando o autor deu entrada na ação, ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro
de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença. O magistrado deverá julgar o

pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a usucapião se
completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas

Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018.

 Usucapião especial rural – pró-labore

Dispõe o art. 191, da CF, e o art. 1239, do CC: “Aquele que, não sendo proprietário de

imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área
de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu

trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”.

Sinteticamente, são os requisitos da usucapião especial rural:

 Área rural não superior a 50 hectares;


 Posse por 5 anos ininterruptos;

 Sem oposição;
 Animus domini;
 Função social (trabalho e moradia);

31
 Não pode ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano.

Também não há necessidade de se provar a boa-fé ou o justo título.

Com relação à usucapião por posse-trabalho, o candidato deve ter muita atenção a dois
aspectos:

Recentemente a Lei 13.465/17, alterou o texto do artigo 1.228, §º4, para retirar o antigo

requisito que exigia que a população ocupante do imóvel fosse de baixa renda.

ATENÇÃO: se a prova trouxer os exatos elementos acima citados, mas acrescentar a


baixa renda como caracterizadora da população que tem direito à usucapião, a questão está

errada.

Declarada a usucapião, os prejuízos serão ressarcidos ao proprietário, sendo que o juiz


fixará justa indenização para tanto. No caso de população de baixa renda, a indenização

deverá ser pago pelo Estado, em cumprimento ao direito social e fundamental à moradia
(artigo 6º CF/88).

 Usucapião conjugal ou por abandono do lar

Pode ser considerada uma usucapião especial urbana, regulamentada pelo art. 1240-A,
do CC, que dispõe: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem

oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dividia com ex-cônjuge ou ex-companheiro
que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.

32
Esses são os requisitos essenciais da usucapião conjugal:

 Abandono do lar pelo ex-cônjuge/companheiro;


 Imóvel urbano de até 250m²;

 2 anos ininterruptos;
 Sem qualquer oposição;

 Função social (moradia);


 Não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural;

 Não pode ser deferida mais de uma vez;


 Usucapião especial urbana coletiva

O art. 10, do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), dispões que: “Os núcleos urbanos

informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo
número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por
possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não

sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural”.

Além dos constantes no art. 10 do estatuto da cidade, são requisitos da usucapião


coletiva:

 Não precisa ser população de baixa renda;


 Pode ser alegada em Ação Autônoma ou em Defesa;
 Não tem indenização;

 Núcleos urbanos informais cuja área total dividida pelo número de possuidores
seja inferior a 250m² por possuidor;
 Prazo de mais de 5 anos;
 Núcleos urbanos informais;

 Não exige boa-fé;


 Não há usucapião de bem público;

 Representativo da Função Social da Posse;


 Usucapião especial indígena

33
Tratada pelo Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973), o art. 33 estabelece que “O índio,
integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra

inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena”.

Ademais, o parágrafo único prevê que a usucapião indígena “não se aplica às terras do
domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei,

nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal”.

Nesses termos, os requisitos da usucapião indígena são:

 Área de, no máximo, 50 hectares;


 Posse mansa e pacífica por dez anos, exercida por indígena;

 Não pode ser terras do domínio da União, nem propriedade de grupo tribal;

16.1.5.3 Registro Imobiliário

O registro imobiliário, que se situa no plano da eficácia do contrato, é que gera a

aquisição da propriedade imóvel. Esse entendimento está presente no art. 1245, do CC:
“Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro

de Imóveis”. Assim, o registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os
bens móveis.

Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como

dono do imóvel (art. 1.245, § 1º, do CC).

Enunciado n. 87 do CJF/STJ: Considera-se também título translativo, para fins do art. 1.245
do novo Código Civil, a promessa de compra e venda devidamente quitada (arts. 1.417 e

1.418 do CC e § 6.º do art. 26 da Lei 6.766/1979).

34
16.1.5.4 Sucessão Hereditária

Dá-se por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o

lugar do de cujus em todos os seus direitos e deveres. Ocorrendo a morte, a herança


transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, em razão do princípio da

saisine.

16.1.6 Formas de Aquisição da Propriedade Móvel

Assim como as formas de aquisição da propriedade imóvel, as formas de aquisição da

propriedade móvel também se dividem em formas originárias e derivadas.

OCUPAÇÃO

FORMAS ACHADO DO
ORIGINÁRIAS TESOURO

USUCAPIÃO

FORMAS DE AQUISIÇÃO DA ESPECIFICAÇÃO


PROPRIEDADE MÓVEL
CONFUSÃO

COMISTÃO
FORMAS
DERIVADAS
ADJUNÇÃO

TRADIÇÃO

SUCESSÃO

16.1.6.1 Ocupação

Aquele que se declarar proprietário de coisa sem dono, logo lhe adquire a propriedade,
não sendo essa ocupação proibida em lei. A ocupação pode ocorrer em razão da coisa nunca

35
ter pertencido a ninguém, que no caso seria res nullius, como pode acontecer no caso da
coisa ser abandonado, que seria res derelictae.

Ocupação só se realiza de coisa abandonada, nunca de coisa perdida. Na coisa perdida há

apenas um temporário afastamento do corpus, mas é mantido o status de proprietário.

16.1.6.2 Achado do Tesouro

O Código Civil define o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas preciosas,
oculto e de cujo dono é desconhecido.

Os arts. 1264 a 1266, do CC, estabelecem as regras de quem será/serão o(s)

proprietário(s) do tesouro achado, vejamos:

O art. 1264 prevê a regra de divisão igualitária entre o proprietário do prédio e o


que achar o tesouro de maneira casual (de boa-fé).

O art. 1265 aduz a regra do tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se
for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.

Desse modo, com a utilização dos dois artigos analisados, se o descobridor que

penetrar no prédio alheio, sem autorização, com o propósito de encontrar o tesouro, não terá
direito a nada, pois não se permite a obtenção de vantagem quando praticado o esbulho, já
que no caso estaria agindo de má-fé.

16.1.6.3 Usucapião

O Código Civil estabeleceu apenas duas formas de usucapião de bens móveis, quais
sejam:

 Usucapião ordinária (art. 1260, do CC)


36
Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante
três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.

Logo, são requisitos da usucapião ordinária de bens móveis:

 Posse mansa, pacífica;

 Animus domini;
 Três anos;

 Justo título e boa-fé;


 Usucapião extraordinária (art. 1261, do CC)

Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião,

independentemente de título ou boa-fé. Nesse caso, a diferenciação das duas formas é o


prazo mais dilatado, porém não é necessário a boa-fé, logo, os bens objeto de furto podem

ser adquiridos por usucapião extraordinária pelo próprio autor do furto.

Súmula 193, STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.

Informativo 656 do STJ: É possível a usucapião de bem móvel proveniente de crime após
cessada a clandestinidade ou a violência. Nos termos do art. 1.261 do CC/2002, aquele que

exercer a posse de bem móvel, interrupta e incontestadamente, por 5 anos, adquire a


propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer vício anterior. A apreensão
física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência (roubo) somente induz a posse

37
após cessado o vício (art. 1.208 do CC/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é
suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime.

Caso concreto: indivíduo adquiriu caminhão por meio de financiamento bancário, com emissão
de registro perante o órgão público competente, ao longo de mais de 20 anos. Depois se

descobriu que o veículo havia sido furtado antes da aquisição. Pode-se reconhecer que houve
a aquisição por usucapião, sendo irrelevante se analisar se houve a inércia do anterior
proprietário (vítima do furto) ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua

posse. STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.370-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em

10/09/2019.

16.1.6.4 Especificação

A especificação consiste na transformação da coisa em uma espécie nova, diante do


trabalho do especificador, não sendo mais possível o retorno à forma anterior. Existe uma
modificação da coisa, tornando-a uma nova coisa. Como exemplos, podemos falar em uma

pedra que se transforma em uma estátua, ou uma tela que vira um quadro.

As regras de especificação buscam evitar o enriquecimento ilícito.

A primeira é de que a espécie nova surgida será de propriedade do especificador,

mesmo que a matéria-prima fosse de um terceiro, se não for possível retornar à situação
anterior. Essa regra é uma regra geral, onde é possível verificar que o legislador previu que o
trabalho será considerado o principal, de maior importância, enquanto a matéria-prima é

acessória.

A segunda regra prevê que se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à
forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova. Entretanto, o escultor

deverá indenizar o dono da pedra pelo seu valor, o que veda o enriquecimento sem causa.

A terceira regra induz que sendo possível a redução ao estado anterior; ou quando

impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.


Nesse caso, a atuação de má-fé prejudica a aquisição da propriedade, inclusive não tendo
direito sequer qualquer indenização pelo trabalho realizado.

38
A última prevê que em qualquer caso de especificação da coisa, a espécie nova será
do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. Nesse

caso, o especificador que adquire a coisa nova deverá indenizar o dono da matéria-prima pelo
seu valor, mesmo que tenha agido de má-fé.

16.1.6.5 Confusão, Comistão e Adjunção

Apesar de serem três categorias diferentes, suas regras são as mesmas, por isso a
junção em um só tópico. Primeiro vamos às definições.

Confusão é a mistura entre coisas líquidas (ou mesmo de gases), em que não é

possível a separação. Exemplos: misturas de água e vinho; de álcool e gasolina.

Comistão é a mistura de coisas sólidas ou secas, não sendo possível a separação e


sem que se produza coisa nova. Exemplos: misturas de areia e cimento ou de cereais de safras

diferentes.

Adjunção é justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra, sendo


impossível a separação sem deterioração do bem formado. Exemplos: tinta em relação à

parede; selo valioso em álbum de colecionador.

As regras fundamentais são as seguintes.

As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o


consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem

deterioração, ou seja, sendo possível retornar ao estado anterior (status quo ante), as coisas
continuarão a pertencer aos seus proprietários.

A outra regra é na possibilidade não ser possível a separação das coisas, ou exigindo

dispêndio excessivo, permanece o estado de indivisão, cabendo a cada um dos donos


quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado. Nesses

casos, se uma das coisas puder ser considerada como principal, o dono desse principal será
o dono do todo, indenizando os demais pelos valores que corresponderem aos seus
quinhões.

39
A terceira regra aduz que se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à
outra parte que estiver de boa-fé caberá escolher entre: a) adquirir a propriedade do todo,

pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou b) renunciar ao que
lhe pertencer, caso em que será indenizado de forma integral.

A última prevê que se dá união de matérias de natureza diversa se formar espécie

nova, à confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1272 e 1273. No
entanto, como afirma a doutrina13 houve um erro de digitação dos dispositivos legais a serem

aplicados. Como há o surgimento de uma espécie nova, o caso é de especificação, devendo


ser aplicados os arts. 1270 e 1271 do CC.

16.1.6.6 Tradição

Como já foi exposto, a tradição é a entrega da coisa ao adquirente, com a intenção


de lhe transferir a sua propriedade ou a posse.

A tradição pode ser real (entrega material da coisa ao adquirente), simbólica (não será

necessariamente a entrega da coisa, mas alguma coisa que a ela representa, como a entrega
das chaves de um veículo) ou consensual (acordo de vontade dos interessados, por aposição
contratual, sem qualquer alteração do mundo dos fatos).

16.1.6.7 Sucessão

Assim como na aquisição da propriedade imóvel, a sucessão também transmite a


propriedade para as coisas móveis, seja a sucessão legítima ou testamentária em sentido

genérico.

Esse tema será melhora tratado quando abordarmos o direito de sucessões.

16.1.7 Perda da propriedade

Além dos casos de aquisição e perda de propriedade que ocorre de forma


concomitante, o art. 1275, do CC, estabelece outras hipóteses de perda da propriedade:

13
Flávio Tartuce, p. 979.
40
 Alienação: transmissão do direito de propriedade de um patrimônio a outro, como
ocorre nos contratos de compra e venda, de troca ou permuta e no de doação;

 Renúncia: ato unilateral pelo qual o proprietário declara, de forma expressa, a sua
vontade de abrir mão de seu direito sobre a coisa;

 Abandono: deixa a coisa com a intenção de não mais tê-la consigo;


 Perecimento da coisa: perda do objeto;
 Desapropriação: desapropriação para fins de necessidade e interesse público (art.

1.228, § 3.º), quanto daquela desapropriação no interesse privado diante da posse-


trabalho (art. 1.228, §§ 4º e 5º).

16.1.8 Direitos de Vizinhança

Os direitos de vizinhança constituem claras limitações ao direito de propriedade, em

prol do bem comum, da paz social. Suas regras impostas são consideradas propter rem, ou
seja, acompanham a coisa onde quer que ela esteja, independente da vontade do proprietário.

Os direitos de vizinhança são:

 Uso anormal da propriedade

Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as


interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam,
provocadas pela utilização de propriedade vizinha.

Como pode ser observada, a primeira norma do direito da vizinhança protege tanto o
proprietário, como o possuidor, buscando a ampla proteção relacionada com a segurança, o

sossego e a saúde dos habitantes do imóvel.

Enunciado n. 319 do CJF/STJ, aprovado na IV Jornada de Direito Civil: A condução e a


solução das causas envolvendo conflitos de vizinhança devem guardar estreita sintonia com os

41
princípios constitucionais da intimidade, da inviolabilidade da vida privada e da proteção ao

meio ambiente.

No entanto, o direito de alegar o uso anormal da propriedade não prevalece quando


as interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário, ou o

possuidor causador delas, pagará ao vizinho indenização cabível.

Como forma de segurança, o proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono


do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que

lhe preste caução pelo dano iminente.

 Árvores limítrofes

Árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois prédios,
presumindo-se de forma relativa pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.

Importante norma é a que estabelece que os frutos caídos de árvore do terreno


vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular (art.

1284, do CC). Mesmo sendo uma exceção à regra de que o assessório segue o principal, tal
regra privilegia a propriedade do solo onde caiu o fruto.

 Passagem forçada (servidão legal)

O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, nascente ou porto, pode,

mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo
rumo será judicialmente fixado, se necessário. Essa passagem será obrigatória diante da

função social da propriedade.

Para efetivação da passagem forçada, sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel


mais natural e facilmente se prestar à passagem.

Além disso, em caso de alienação parcial do prédio serviente, de modo que uma das

partes perca o acesso à via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a
passagem (obrigação propter rem). Do mesmo modo, ainda quando, antes da alienação,

42
existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido,
depois, a dar uma outra.

 Passagem de cabos e tubulações

A passagem de cabos e tubulações é tratada de forma semelhante da passagem

forçada.

Aduz o art. 1286, do CC: “Mediante recebimento de indenização que atenda, também,
à desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem,

através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de


utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for

impossível ou excessivamente onerosa”.

 Águas

Determina o art. 1288, do CC: “O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a


receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que

embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser
agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior”.

O art. 1.290 do CC trata das nascentes das águas e do escoamento das águas pluviais,

prevendo que o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as
necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar, o curso natural das águas

remanescentes pelos prédios inferiores, já que o curso de água do imóvel surge a água tem
importante finalidade social.

 Direito de tapagem e dos limites entre prédios

O direito de tapagem é o direito que o proprietário de um imóvel tem de cercar,

murar, valar e tapar de qualquer modo o seu prédio urbano ou rural.

A segunda parte do art. 1297, do CC, prevê a possibilidade da ação demarcatória,

assegurada ao proprietário.

43
O § 1.º do art. 1.297 do CC estabelece a existência de um condomínio necessário entre
os proprietários confinantes, relativo aos intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios,

sebes, vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas. Assim, devem concorrer, em
partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.

Sendo confusos os limites entre as propriedades, em falta de outro meio, se

determinarão de conformidade com a posse justa. Não sendo essa posse justa provada, o
terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a

divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro.

 Direito de construir 14

Ao proprietário é garantido amplo direito de construção, resguardados o direito dos


vizinhos e os regulamentos administrativos.

Entre algumas das restrições específicas ao direito de construir, nós temos a proibição

de construção de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio
vizinho. Além dessa, temos a proibição de abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a

menos de metro e meio do terreno vizinho, para respeitar o direito à privacidade (imóveis
urbanos). Nas áreas rurais, a limitação é de três metros.

Súmula 120 do STF: Parede de tijolos de vidro translúcido pode ser levantada a menos de

metro e meio do prédio vizinho, não importando a servidão sobre ele.

14
Vide questão 4
44
16.1.9 Condomínio ou Compropriedade

Condomínio é a propriedade em comum por mais de uma pessoa. Um mesmo bem

pode pertencer a várias pessoas, cabendo a cada uma, igual direito sobre o todo.

São espécies de condomínio:

 Convencional ou voluntário:

É o condomínio formado de acordo de vontade das pessoas, onde cada condômino

tem a propriedade plena e total sobre a coisa, apenas sendo limitado pelos direitos dos
demais. Sendo assim, não cabe reintegração de posse por um dos condôminos contra os

demais.

O parágrafo único do art. 1.314, do CC, prevê que nenhum dos condôminos pode
alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o

consenso dos outros.

Ademais, o condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as


despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita.

Preconiza o art. 1.323 do CC que, deliberando a maioria sobre a administração da coisa

comum, escolherá o administrador, que poderá ser estranho ao condomínio. Esse


administrador age com um mandato legal, representando todos os condôminos nos seus

interesses.

 Necessário ou legal

As situações típicas de condomínio legal ou necessário envolvem o direito de


vizinhança, quando existir as meações de paredes, cercas, muros e valas.

O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas

ou valados, tê-lo-á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado ou cerca do


vizinho, embolsando-lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por ela ocupado

(art. 1328, do CC). Em caso de não haver acordo sobre o preço da obra, este será a arbitrado
por peritos.

45
 Edilício:

No condomínio edilício (como o próprio nome já diz, de edifício, mas também aplica-se
aos clubes de campo e loteamentos) pode haver partes que são propriedade exclusiva, e

partes que são propriedade comum.

As partes que são propriedades exclusivas são as áreas autônomas, que são os
apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para veículos, com as respectivas

frações ideais no solo e nas outras partes.

Já as partes que são de propriedade comum dos condôminos são chamadas de áreas
comuns, que podem ser o solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição

de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, e as demais partes


comuns, inclusive o acesso ao logradouro público. Essas partes não podem ser alienadas

separadamente, ou divididos, pois pertencem a todos.

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE


DANO MORAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA

DO CONDOMÍNIO. PRETENSÃO EXERCIDA PARA DEFENDER INTERESSE PRÓPRIO. NATUREZA


JURÍDICA DO CONDOMÍNIO. ENTE DESPERSONALIZADO. VIOLAÇÃO DA HONRA OBJETIVA.

DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. JULGAMENTO: CPC/15. 1. Ação de indenização por


danos materiais e compensação de dano moral ajuizada em 07/12/2011, da qual foi extraído o

presente recurso especial, interposto em 09/09/2016 e atribuído ao gabinete em 09/10/2017.


2. O propósito recursal é decidir sobre a negativa de prestação jurisdicional; a legitimidade
ativa do condomínio para pleitear, em favor próprio, a compensação de dano moral; a

caracterização do dano moral do condomínio; o valor da condenação a título compensatório


do dano moral. 3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e

suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação

46
jurisdicional, não há falar em violação dos arts. 489, II, e 1.022 do CPC/15. 4. O condomínio
tem legitimidade ativa para pleitear, em favor próprio, indenização por dano moral, não

podendo fazê-lo em nome dos condôminos. 5. No âmbito das Turmas que compõem a
Segunda Seção do STJ, prevalece a corrente de que os condomínios são entes

despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco das partes
comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a
ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo

o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à
administração da propriedade comum. 6. Caracterizado o condomínio como uma massa

patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra objetiva, senão
admitir que qualquer ofensa ao conceito que possui perante a comunidade representa, em

verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de
reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este

endereçado. 7. Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão


econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios condôminos, a quem
incumbe contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários,

no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado imobiliário. 8. Hipótese em que


se afasta o dano moral do condomínio, ressaltando que, a par da possibilidade de cada

interessado ajuizar ação para a reparação dos danos que eventualmente tenha suportado, o
ordenamento jurídico autoriza o condomínio a impor sanções administrativas para o

condômino nocivo e/ou antissocial, defendendo a doutrina, inclusive, a possibilidade de


interdição temporária ou até definitiva do uso da unidade imobiliária. 9. Recurso especial

conhecido e provido. STJ – Resp: 1736.593 - SP 2017/0235980-8, Relatora : Ministra NANCY


ANDRIGHI, Data de Julgamento: 11/02/2020, T3 – Terceira Turma, Data de Publicação: DJe

13/02/2020.

 Multipropriedade ou time-sharing

Como já foi falado anteriormente, a multipropriedade é o regime de condomínio em

que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à

47
qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a
ser exercida pelos proprietários de forma alternada.

Esse tipo de condomínio é adotado por indivíduos que querem usufruir de um imóvel

apenas durante parte do ano, normalmente uma casa na praia, porém não precisam
desembolsar o preço total, nem terão que arcar sozinhos com os custos da manutenção.

O período correspondente a cada fração de tempo será de, no mínimo, 7 (sete) dias,

seguidos ou intercalados, podendo ser fixo e determinado, flutuante, ou misto.

16.1.10 Propriedade Resolúvel

A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição ou
pelo termo. Assim, a duração da propriedade se subordina a um acontecimento futuro certo
ou incerto, que será previsto no próprio título constitutivo.

Importante verificar que o proprietário resolúvel age como proprietário pleno, enquanto
não se verifica o evento que modificará o status da propriedade.

As espécies de propriedade resolúvel podem ser divididas em:

 Condição Resolutiva: Condição/cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico

a um evento futuro e incerto. Resolutiva: o implemento (realização) extingue os


efeitos do ato (resolver = extinguir).

 Termo Final: Termo: cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um


evento futuro e certo. Final: há uma data determinada para a cessação dos efeitos

do negócio jurídico.

16.2 Direitos Reais de Gozo ou Fruição

O titular tem autorização de usar e fruir a coisa em determinadas situações.

16.2.1 Enfiteuse

Conceitua-se enfiteuse como a atribuição a uma pessoa o domínio útil do imóvel,


ficando esta obrigada ao pagamento de foro e demais ônus. O atual Código proíbe a

48
constituição de novas enfiteuses, bem como a cobrança de laudêmios nas transmissões do
bem aforado. As atuais enfiteuses ficam mantidas, subordinando-se às disposições do antigo

Código (arts. 678 e seguintes) e leis especiais, até sua paulatina extinção (art. 2.038, CC).

16.2.2 Servidão Predial

Na servidão predial o proprietário de um prédio deve suportar o exercício de alguns

direitos em favor do proprietário de outro prédio. Como recai somente sobre bens imóveis,
necessita de registro.

As partes são denominadas de prédio dominante (a que tem direito à servidão) e


prédio serviente (que deve servir ao outro prédio).

A servidão pode ser constituída por meio de contrato, testamento, usucapião ou


sentença judicial.

Em relação às classificações, a servidão pode ser:

 Quanto à natureza: rústica (em áreas rurais) ou urbana (em áreas urbanas);
 Quanto às condutas das partes: positiva (exercida por ato positivo ou comissivo) ou

negativa (decorre de ato omissivo ou abstenção);


 Quanto ao modo de exercício: contínua (independe do ato humano) ou

descontínua (depende da atuação humana);


 Quanto à exteriorização: aparente (evidenciada no plano real e concreto) ou não
aparente (não havendo sinal exterior).

Súmula 415 do STF: Servidão de trânsito, não titulada, mas tornada permanente pela natureza

das obras, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória.

49
Quanto ao exercício das servidões, dispõe o art. 1380, do CC, que o dono de uma
servidão pode fazer todas as obras necessárias à sua conservação e uso. Pertencendo a mais

de um prédio, serão as despesas rateadas entre os respectivos donos.

O art. 1.384 do CC aduz que a servidão pode ser removida, de um local para outro,
pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio

dominante. Também pode ser removida pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável
incremento da utilidade e não prejudicar o prédio serviente. No entanto, tal mudança somente

é permitida se mantida a função social do direito real de fruição.

Não confundir com passagem forçada, que é instituto de direito de vizinhança, onde uma das
propriedades está encravada.

PASSAGEM FORÇADA SERVIDÃO

Direito de vizinhança Direito real de gozo ou fruição

Obrigatória Facultativa

Pagamento de indenização somente se as


Pagamento de indenização obrigatório
partes acordarem

Imóvel sem saída (não há outras opções) Há outras opções

Ação de passagem forçada Ação confessória

16.2.3 Usufruto

É o direito real que uma pessoa tem de usar (ex: morar) e fruir (ex.: alugar) a coisa
alheia, temporariamente, sem alterar-lhe a substância.

As partes são denominadas de usufrutuário (aquele que tem direito de usar ou fruir a

coisa) e nu proprietário (dono da coisa, possuindo o direito de reivindicar e dispor).

50
Nos termos do art. 1390, do CC, o usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis
ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em

parte, os frutos e utilidades. Se for bem imóvel, será mediante registro no Cartório de
Registro de Imóveis.

O usufruto pode ser constituído por meio da lei, convenção das partes (por meio de

testamento ou contrato), misto (é o que decorre da usucapião) ou judicial.

Já em relação à classificação, o usufruto pode ser:

 Quanto ao objeto: próprio (recai sobre bens infungíveis e inconsumíveis) ou


impróprio (recai sobre bens fungíveis e consumíveis);

 Quanto à extensão: total ou pleno (abrange todos os acessórios da coisa), ou


parcial ou restrito (não abranger todos os acessórios);

 Quanto à duração: temporário (com prazo de duração certo) ou vitalício.


(Estipulado a favor de pessoa natural, sem previsão de prazo ou termo final,

extinguindo só com a morte do usufrutuário).

Se for usufrutuária a pessoa jurídica, seu termo máximo de duração será de 30 anos.

O art. 1410 prevê as formas de extinção do usufruto, vejamos:

Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de


Imóveis:

I - pela renúncia ou morte do usufrutuário;

II - pelo termo de sua duração;

III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se
ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer;

51
IV - pela cessação do motivo de que se origina;

V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e
1.409;

VI - pela consolidação;

VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não
lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de
crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art.
1.395;

VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399).

Em todas as situações há necessidade de cancelamento do registro no Cartório de Registro


Imobiliário (CRI), quando se tratar de bem imóvel, já que inscrição também consta

registrado no Cartório.

16.2.4 Uso

O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa, havendo a

cessão apenas do atributo de utilizar a coisa, seja ela móvel ou imóvel.

As partes são denominadas de proprietário e usuário.

O usuário utilizará a coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as


necessidades suas e de sua família. Assim, a fruição somente é possível para atender às

necessidades básicas da família.

16.2.5 Habitação

O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de fruição, eis que
apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja o direito de habitar o imóvel.

52
As partes são denominadas de proprietário e habitante.

Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente, casa alheia, o titular deste
direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Se

descumprir essa norma, o imóvel poderá ser retomado por desvio de função.

16.2.6 Superfície

É um instituto novo que veio substituir a enfiteuse.

Nele o proprietário concede, por tempo determinado, gratuita ou onerosamente, a


outrem o direito de construir ou plantar em seu terreno 15. Tal garantia deve ser mediante

escritura pública, devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis.

As partes são denominadas de fundieiro (aquele que cede o uso do imóvel) e


superficiário (aquele que recebe o imóvel).

Não autoriza obra no subsolo, exceto se for inerente ao objeto da concessão.

O superficiário deve zelar pelo imóvel como se fosse seu, respondendo pelos encargos

e tributos que incidem sobre o bem.

Pode haver transferência da superfície a terceiros, bem como sua transmissão aos
herdeiros do superficiário, com falecimento deste. Não se permitindo, porém, a estipulação de

pagamento de qualquer quantia pela transferência.

Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, é devido direito de


preferência, em igualdade de condições, para ambas as partes.

A superfície pode extinguir-se antes do termo final se o superficiário der ao terreno


destinação diversa daquela para a qual lhe foi concedida. Com a extinção da superfície, o
proprietário passa a ter a propriedade plena sobre o terreno, a construção, ou a plantação, as

acessões e as benfeitorias, independentemente de indenização, se as partes não estipularem o


contrário.

15
Vide questão 3
53
16.3 Direitos Reais de Garantia

Têm por finalidade garantir ao credor recebimento de seu crédito, por vincular

determinado bem pertencente ao devedor. Se a dívida for assegurada por uma garantia real e
o devedor não pagá-la, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido
judicialmente.

Os direitos reais de garantia apresentam quatro características fundamentais:

 Preferência: Conforme o art. 1.422 do CC o credor hipotecário e o pignoratício têm


preferência no pagamento a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a

prioridade no registro;
 Indivisibilidade: O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
exoneração correspondente da garantia;

 Sequela: caráter propter rem, ou seja, acompanham a coisa onde quer que ela
esteja;

 Excussão: O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa


hipotecada ou empenhada.

Além dessas características, o art. 1424, do CC, consagra requisitos específicos para o

negócio jurídico constitutivo de penhor, anticrese ou hipoteca visando a sua especialização.


Tais elementos devem estar presentes, sob pena de ineficácia do negócio:

 O valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo;

 O prazo fixado para pagamento;


 A taxa dos juros, se houver;

 O bem dado em garantia com as suas especificações.

Por fim, o art. 1425, do CC, traz as hipóteses em que a dívida garantida torna-se
vencida:

 Se, deteriorando-se, ou depreciando-se o bem dado em segurança, desfalcar a

garantia, e o devedor, intimado, não a reforçar ou substituir;


 Se o devedor cair em insolvência ou falir;

54
 Se as prestações não forem pontualmente pagas, toda vez que deste modo se
achar estipulado o pagamento. Neste caso, o recebimento posterior da prestação

atrasada importa renúncia do credor ao seu direito de execução imediata;


 Se perecer o bem dado em garantia, e não for substituído;

 Se ocorrer a desapropriar o bem dado em garantia, hipótese na qual se depositará


a parte do preço que for necessária para o pagamento integral do credor.

16.3.1 Penhor

É transferência da posse de coisa móvel ou mobilizável realizada pelo devedor ao


credor, para garantir o pagamento de um débito.

As partes são denominadas de credor pignoratício (empresta o dinheiro e recebe a

coisa) ou devedor pignoratício (entrega o bem).

O penhor possui as seguintes modalidades:

 Legal: são credores pignoratícios, independentemente de convenção e por força

automática da lei;
 Convencional comum: forma ordinária de penhor, que tem por objeto bens móveis
ocorrendo a transmissão da posse do devedor ao credor

 Rural: Constitui-se mediante instrumento público ou particular, registrado no


Cartório de Registro de Imóveis de situação da coisa (art. 1.438 do CC). Duas são as

modalidades básicas de penhor rural: o penhor agrícola e o penhor pecuário.


 Industrial e Mercantil: têm por objeto máquinas, aparelhos, materiais, instrumentos,

instalados e em funcionamento, com os acessórios ou sem eles; animais, utilizados


na indústria; sal e bens destinados à exploração das salinas; produtos de

suinocultura, animais destinados à industrialização de carnes e derivados; matérias-


primas e produtos industrializados.
 Direitos e Títulos de Crédito: podem ser objeto de penhor direitos, suscetíveis de

cessão, sobre coisas móveis.


 Veículos: Podem ser objeto de penhor os veículos empregados em qualquer
espécie de transporte ou condução.

55
Súmula 638 do STJ: É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de
instituição financeira pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue

em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.

Já as hipóteses de extinção são:

 Extinguindo-se a obrigação principal, o que gera a extinção da obrigação


acessória;
 Perecendo a coisa objeto do penhor;

 Renunciando o credor;
 Confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa;

 Dando-se a adjudicação judicial, a remição (resgate pelo pagamento) ou a venda


da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada.

16.3.2 Hipoteca

É direito real de garantia que grava coisa imóvel pertencente ao devedor sem

transmissão de posse ao credor. Por se tratar de um bem imóvel, faz-se necessário o registro
no Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se
referir a mais de um bem.16

As partes da hipoteca são o credor hipotecário (o que empresta o dinheiro) e o


devedor hipotecante: (o que dá o bem em garantia).

De acordo com o art. 1473, do CC, podem ser objeto de hipoteca:

16
Vide questão 5
56
 Os bens imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles, caso dos
frutos, das benfeitorias e das pertenças que estão incorporados ao principal;

 O domínio direto;
 O domínio útil, como ocorre em relação ao direito do usufrutuário;

 As estradas de ferro;
 As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica
e os monumentos arqueológicos, independentemente do solo onde se acham;

 Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis, eis que podem ser
hipotecados;

 As aeronaves, do mesmo modo dos navios;


 O direito de uso especial para fins de moradia;

 O direito real de uso;


 A propriedade superficiária.

Informativo 618 do STJ: A hipoteca de navio registrada no país de nacionalidade da

embarcação tem eficácia extraterritorial, alcançando o âmbito interno nacional. Ex: navio de
nacionalidade liberiana foi hipotecado na Libéria; essa hipoteca produz efeitos aqui no Brasil,
inclusive nas execuções propostas contra a empresa proprietária do navio e que gerem a

penhora dessa embarcação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.222-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 16/11/2017.

Quanto à classificação das hipotecas, a doutrina dividiu-as em:

Hipoteca convencional: criada pela autonomia privada, ou por convenção das partes;

Hipoteca Legal: decorre da norma jurídica, nas hipóteses do art. 1.489 do CC;

57
Hipoteca cedular: podem o credor e o devedor, no ato constitutivo da hipoteca,
autorizar a emissão da correspondente cédula hipotecária, na forma e para os fins previstos

em lei especial.

Hipoteca judicial: a decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação


consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer

ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca


judiciária. (Art. 495 do CPC).

O art. 1499, do CC, aduz sobre as hipóteses de extinção da hipoteca, vejamos:

 Pela extinção da obrigação principal, pois se repise que a hipoteca não pode

existir sozinha, diante do seu caráter acessório;


 Pelo perecimento da coisa, o que gera a perda de sua finalidade;

 Pela resolução da propriedade do bem hipotecado;


 Pela renúncia do credor;

 Pela remição ou resgate;


 Pela arrematação ou adjudicação do bem hipotecado;

16.3.3 Anticrese

É o direito real de garantia pelo qual o credor retém o imóvel do devedor e recebe
seus frutos para pagamento da dívida.

As partes são denominadas de credor anticrético (aquele que recebe a posse do

imóvel com os seus frutos) e devedor anticrético (aquele que recebe o dinheiro e entrega a
posse do bem).

O grande problema apresentado pela anticrese, segundo a doutrina, encontra-se

previsto no art. 1507, do CC. Ele aduz que o credor anticrético pode administrar o imóvel
dado em anticrese e fruir seus frutos e utilidades. Para tanto, deverá o credor

administrador apresentar balanço anual, exato e fiel, de sua administração. Se o devedor


anticrético não concordar com o que se contém no balanço, por ser inexato, ou ruinosa a
administração, poderá impugná-lo, e, se o quiser, requerer a transformação em

58
arrendamento, fixando o juiz o valor mensal do aluguel, o qual poderá ser corrigido
anualmente.

Ademais, o credor anticrético responde pelas deteriorações que, por culpa sua, o

imóvel vier a sofrer, e pelos frutos e rendimentos que, por sua negligência, deixar de perceber.

16.4 Direitos Reais de Aquisição

Ocorre com o compromisso ou promessa irretratável de venda de imóvel. Esse

compromisso é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a vender a outro bem imóvel,
outorgando-lhe a escritura após o cumprimento das obrigações. Esses compromissos são

geralmente utilizados nas vendas financiadas a longo prazo.

Aduz o art. 1.417 do CC/2002 que mediante promessa de compra e venda, em que não
se pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no

Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do


imóvel. Esse direito real possibilita a reivindicação da coisa em face de qualquer terceiro
que eventualmente a adquiriu indevidamente.

As partes são denominadas de promitente-comprador e promitente-vendedor.

O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou


de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de

compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer


ao juiz a adjudicação do imóvel.

As formas de extinção do compromisso de compra e venda de imóvel podem ser:

 Execução voluntária do contrato;

 Execução compulsória (adjudicação no registro imobiliário);


 Distrato (mútuo consentimento);

 Resolução judicial;

59
16.5 Direitos Reais de Interesse Social

Voltada para a regularização fundiária de interesse social direcionada à população de

baixa renda, tais direitos reais referem-se a áreas públicas, geralmente invadidas e urbanizadas
por favelas. Existiu a vontade de regularização jurídica das áreas favelizadas para que a
situação de antidireito passe a ser tratada pelo Direito.

16.5.1 Concessão de uso Especial Para Fins de Moradia

Estabelece o art. 1º da Medida Provisória 2.220/2001: “Art. 1º Aquele que, até 22 de

dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com

características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família,
tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da
posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel

urbano ou rural.”

16.5.2 Concessão de Direito Real de Uso

O art. 7 do Decreto-Lei 271/1967 dispõe que “É instituída a concessão de uso de


terrenos públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado,

como direito real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse
social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento
sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de

subsistência ou outras modalidades de interesse social em áreas urbanas”.

Os dois institutos anteriormente estudados ainda não têm a efetiva concreção prática.

60
16.5.3 Laje

O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou

privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não


contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da construção-

base.17

Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática:
alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel

(a "laje") para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção
existente na parte de baixo.

É autônoma, pois, a cessão da laje autoriza a abertura de matrícula própria, podendo

os titulares ou cessionários da laje poderão dela usar, gozar e dispor. Também não há
existência de um condomínio entre as partes envolvidas (em relação ao imóvel construído na

laje.

No entanto, sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios
edilícios, para fins do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição

das partes, que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum
serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o titular da laje, na proporção

que venha a ser estipulada em contrato.

 Partes:
 Lajeiro: o cedente ou proprietário da construção-base.

 Lajeário: o titular do direito real de laje ou cessionário


 Direito de preferência: em caso de alienação de qualquer das unidades

sobrepostas, terão direito de preferência, em igualdade de condições com terceiros,


os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por
escrito para que se manifestem no prazo de trinta dias, salvo se o contrato dispuser

de modo diverso.

17
Vide questão 2
61
 Extinção: quando houver a ruína da construção-base. Exceções: instituído sobre o
subsolo, e, com isso, mesmo com a ruína, o subsolo continuar intacto; construção-

base for reconstruída no prazo decadencial de cinco anos.

62
QUADRO SINÓTICO

POSSE
Posse é exercida por todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de um dos
poderes inerentes à propriedade (usar, fruir, gozar e dispor). Não é considerado um
CONCEITO
direito real, pois, conforme será explicado posteriormente, o rol dos direitos reais, previsto
no art. 1225, do CC, é taxativo.
Para haver posse, é necessária a apreensão física da coisa e a vontade
TEORIA de ser dono (corpus + animus domini). Diante desse segundo
SUBJETIVA DE elemento, o locatário, o comodatário, o depositário, entre outros, não
SAVIGNY são possuidores, pois não há qualquer intenção de tornarem-se
TEORIAS proprietários.
TEORIA a posse se concretiza com a mera conduta do possuidor, de agir como
OBJETIVA DE se dono fosse, pouco importando a sua vontade em relação à
IHERING propriedade (corpus). Teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro.

DETENÇÃO Detenção, fâmulo de posse ou servidor de posse é aquele que tem a posse não em nome
próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e
instruções. É o que detém a coisa em virtude de dependência econômica ou vínculo de
subordinação (art. 1.198, CC). Ex.: caseiro, zelador de um prédio, etc

ELEMENTOS E  Sujeito capaz;


ELEMENTOS DA  Objeto lícito e possível;
OBJETO
POSSE  Forma livre;
 Relação dominante entre sujeito e coisa.
OBJETO São todas as coisas que puderem ser objeto de propriedade, móveis
ou imóveis, corpóreas ou incorpóreas.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO DESDOBRAMENTO

DIRETA OU É a exercida por quem detém materialmente a coisa, existindo um


IMEDIATA poder físico imediato. Como exemplos podemos citar o locatário, o
depositário, o comodatário e o usufrutuário.
É a posse exercida através de outra pessoa, existindo exercício de
INDIRETA OU direito decorrente da propriedade. Na locação o locatário (inquilino)
MEDIATA tem a posse direta (exerce a posse em nome próprio) e o locador
(proprietário) tem a posse indireta (ele a exerce através do inquilino).
QUANTO AOS VÍCIOS OBJETIVOS
É aquela adquirida sem vícios da violência, da clandestinidade ou da
JUSTA precariedade, sendo uma posse limpa;

63
É a adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou de
INJUSTA precariedade, ou seja, apresenta algum dos vícios, nos seguintes
termos
Obtida por meio de esbulho, for força física ou
POSSE VIOLENTA violência moral (vis). A doutrina tem o costume
de associá-la ao crime de roubo;
POSSE Obtida às escondidas, de forma oculta, à
CLANDESTINA surdina, na calada da noite (clam). É assemelhada
ao crime de furto;
Obtida com abuso de confiança ou de direito
POSSE PRECÁRIA (precario). Tem forma assemelhada ao crime de
estelionato ou à apropriação indébita, sendo
também denominada de esbulho pacífico
QUANTO AOS VÍCIOS SUBJETIVOS OU QUANTO À BOA-FÉ
Possuidor ignora os vícios que impedem ou os obstáculos que lhe
BOA-FÉ impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que
fundamente a sua posse.
O possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim
MÁ-FÉ pretende exercer o domínio fático sobre esta.

QUANTO AO TEMPO
NOVA Exercida a menos de um ano e um dia.
VELHA Exercida a mais de um ano e um dia
QUANTO À PRESENÇA DO TÍTULO
COM TÍTULO OU Quando há uma causa representativa da transmissão da posse,
IUS POSSIDENDI fundado em um documento escrito (um contrato), como ocorre na
vigência de um contrato de locação ou de comodato;
SEM TÍTULO OU Quando não há uma causa representativa, pelo menos aparente, da
IUS transmissão do domínio fático, como pode ocorrer no caso de alguém
POSSESSIONIS achar um tesouro, sem a intenção de fazê-lo.
QUANTO AOS EFEITOS
POSSE AD É a regra geral. É a posse que pode ser defendida pelas ações
INTERDICTA possessórias diretas ou interditos possessórios. Essa posse não
conduz à usucapião;
POSSE AD É a exceção. É a que se prolonga por determinado lapso de tempo
USUCAPIONEM previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela
(USUCAPÍVEL) usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Deve ser
mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei,
ininterrupta e com intenção de dono, e em regra, deve ter os
requisitos do justo título e da boa-fé.

64
LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E O DESFORÇO IMEDIATO
A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela,
autodefesa ou de defesa direta, independentemente de ação judicial, cabíveis ao possuidor
direto ou indireto contra as agressões de terceiro.
 Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi
definitivo, cabe a legítima defesa.
 Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à
retomada do bem esbulhado.

FORMAS DE As formas de aquisição de posse podem ser classificadas como formas de aquisição
originárias, em que há um contato direto entre a pessoa e a coisa. Já as formas de
AQUISIÇÃO DA
aquisição derivadas, acontecem quando há uma intermediação pessoal. O exemplo mais
POSSE
comum é a tradição, que vem a ser a entrega da coisa.

ADQUIRENTE O art. 1.205, do CC, preconiza que a posse pode ser adquirida: pela própria pessoa que a
pretende ou por seu representante; ou por terceiro sem mandato, dependendo de
ratificação.

EFEITOS São as ações possessórias. Podem ser:


 Ameaça: risco de atentado à posse. Caberá interdito
INVOCAR
proibitório.
INTERDITOS
 Turbação: atentados fracionados à posse. Caberá manutenção
de posse.
 Esbulho: atentado consolidado à posse. Caberá reintegração de
posse.
Tem direito aos frutos percebidos, ao uso e gozo
da coisa, às despesas de produção, não tem
POSSUIDOR DE direito aos frutos pendentes quando cessa a boa-
PERCEPÇÃO DOS BOA-FÉ fé, depois de deduzidas as despesas da produção e
FRUTOS custeio, e devem ser restituídos os frutos colhidos
com antecipação.
Responde pelos frutos colhidos e percebidos, bem
POSSUIDOR DE como pelos que, por culpa sua, deixou de colher
MÁ-FÉ desde o momento em que se constituiu a má-fé. Só
tendo direito a restituição pelas despesas de
produção e de custeio.
Tem direito à indenização das benfeitorias
necessárias, úteis e voluptuárias. Poderá exercer o
direito de retenção (ius retentionis) pelo valor das
EM RELAÇÃO ÀS POSSUIDOR DE benfeitorias necessárias e úteis. No tocante às
BENFEITORIAS BOA-FÉ benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem
direito ao seu levantamento, se não forem pagas,
desde que isso não gere prejuízo à coisa (ius
tollendi).

65
Serão ressarcidas somente as benfeitorias
POSSUIDOR DE necessárias; não lhe assiste o direito de retenção
MÁ-FÉ pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Não responde pela perda ou deterioração da
coisa, a que não der causa. Assim, para o
POSSUIDOR DE possuidor ser responsabilizado pela perda ou
QUANTO À BOA-FÉ deterioração da coisa se faz necessário a
RESPONSABILI- comprovação da culpa em sentido amplo, ou seja,
DADE responsabilidade é subjetiva.
Responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual
POSSUIDOR DE modo se teriam dado, estando ela na posse do
MÁ-FÉ reivindicante. Nesse caso, a responsabilidade será
objetiva, a não ser que prove que a coisa se
perderia mesmo se estivesse com o reivindicante

PERDA DA Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o
bem, ao qual se refere o art. 1.196.” Em resumo, perde a posse aquele que vê cessar os
POSSE
elementos da propriedade.
 Pelo abandono da coisa;
 Pela tradição, ou seja, entrega da coisa;
 Pela perda ou destruição da coisa;
 Pela posse de outrem;
 Pelo constituto possessório.

COMPOSSE Ocorre quando uma coisa indivisa (mesma coisa) é partilhada por uma pluralidade de
sujeitos, havendo um condomínio de posses em relação ao bem. Pode ter origem inter
vivos ou mortis causa. Podem ser divididas em:
PRO INDIVISO OU Cada possuidor tem a parte ideal do bem, não sendo possível
INDIVISÍVEL determinar, no plano fático e corpóreo, qual a parte de cada
um. O bem é indivisível.
PRO DIVISO OU Há uma divisão de fato do bem entre os compossuidores,
DIVISÍVEL determinável no plano fático e corpóreo. O bem é divisível.

DIREITOS REAIS

PROPRIEDADE CONCEITO
É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um bem
ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, CC). O tema da
propriedade em encontra-se previsto nos artigos 1.228 a 1.360 do Código Civil. A
propriedade deve ser exercida com base na função social e socioambiental a ela destinada.

66
ELEMENTOS
USAR Como o próprio nome já diz, é a faculdade de usar a coisa, dar destinação
como bem entender. Ex: morar.
FRUIR OU Trata-se da faculdade de retirar os frutos da coisa, que podem ser naturais,
GOZAR industriais ou civis. Ex: alugar.
DISPOR É a possibilidade de transmissão gratuita ou onerosa do bem. Ex: vender
ou doar.
REIVINDICAR Será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade, sendo a
mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio.
Ex: entrar com ação judicial contra quem detiver a posse de forma injusta.

CLASSIFICAÇÃO DA PROPRIEDADE
PLENA OU O proprietário tem em sua mão todos os elementos da propriedade (uso,
ALODIAL fruição, disposição e reivindicação), sem que terceiros tenham qualquer
direito sobre a coisa.
LIMITADA OU Quando recai sobre a propriedade algum ônus, caso da hipoteca,
RESTRITA servidão ou usufruto; ou quando a propriedade for resolúvel, dependente
de condição ou termo.
NUA Corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser
PROPRIEDADE proprietário e de ter o bem em seu nome.
DOMÍNIO ÚTIL Corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da
coisa.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE
DIREITO Pode ser considerado, em regra geral, o direito a propriedade como um
ABSOLUTO direito absoluto, pelo seu caráter erga omnes, ou pelo fato do proprietário
poder desfrutar da coisa como bem entender.
DIREITO A mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a
EXCLUSIVO duas ou mais pessoas, em idêntico lapso temporal, salvo os casos de
condomínio ou copropriedade, hipótese que também não retira o seu
caráter de exclusividade.
DIREITO O direito de propriedade permanece independentemente do seu exercício,
PERPÉTUO enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas de origem
legal ou convencional.
DIREITO A propriedade pode ser distendida ou contraída quanto ao seu exercício,
ELÁSTICO conforme sejam adicionados ou retirados os atributos que são destacáveis.
DIREITO A propriedade é um direito por demais complexo, particularmente pela
COMPLEXO relação com os quatro atributos (usar, gozar, dispor e reivindicar).
DIREITO O direito de propriedade é um direito fundamental, pelo que consta do art.
FUNDAMEN- 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal.
TAL

67
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
ACESSÃO (NATURAIS OU ARTIFICIAIS)
É o direito do qual o proprietário de um bem passa a adquirir a propriedade de tudo
aquilo foi incorporado de forma natural ou artificial.
FORMAÇÃO Ilha é uma faixa de terra cercada de água por todos os lados.
DE ILHAS
Conforme determina o art. 1250, do CC, aluvião são “Os acréscimos
formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros
naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas
destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização”.
ALUVIÃO ALUVIÃO Acréscimo paulatino de terra que o rio deixa
PRÓPRIA naturalmente nos terrenos ribeirinhos
ALUVIÃO Acréscimo que se forma quando parte do álveo
IMPRÓPRIA descobre-se em razão do afastamento das águas
correntes. Assim, pode-se dizer que a água vai.
Nos termos do art. 1.251, do CC, há avulsão “Quando, por força natural
violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a
AVULSÃO outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o
dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado”.

ÁLVEO Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo
ABANDONA- natural e ordinariamente enxuto (art. 9º do Código de Águas). Nesse
DO sentido, álveo abandonado é o rio ou a corrente de água que seca.
CONSTRU- São as formas de acessões artificiais.
ÇÕES E
PLANTAÇÕES
USUCAPIÃO
Pode ser conceituado como a forma de aquisição originária da propriedade pela
posse prolongada.
Para a decretação da usucapião é necessário o cumprimento dos seguintes
requisitos:
 Posse com intenção de dono (animus domini);
 Posse mansa e pacífica;
 Posse contínua e duradoura, em regra, e com determinado lapso temporal: essa
posse deve ser sem intervalos, sem interrupção;
 Posse de boa-fé e com justo título, em regra: na usucapião ordinária é
necessário; para outras modalidades de usucapião, é dispensável.

REGISTRO IMOBILIÁRIO

68
O registro imobiliário, que se situa no plano da eficácia do contrato, é que gera a aquisição
da propriedade imóvel. Esse entendimento está presente no art. 1245, do CC: “Transfere-se
entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis”.
Assim, o registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os bens
móveis.
SUCESSÃO HEREDITÁRIA
Dá-se por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o lugar
do de cujus em todos os seus direitos e deveres. Ocorrendo a morte, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, em razão do princípio
da saisine.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
Aquele que se declarar proprietário de coisa sem dono, logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação proibida em lei. A ocupação pode
OCUPAÇÃO
ocorrer em razão da coisa nunca ter pertencido a ninguém, que no caso
seria res nullius, como pode acontecer no caso da coisa ser abandonado,
que seria res derelictae.

ACHADO DO O Código Civil define o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas
TESOURO preciosas, oculto e de cujo dono é desconhecido

O Código Civil estabeleceu apenas duas formas de usucapião de bens


móveis, quais sejam:
São requisitos da usucapião ordinária de bens móveis:
USUCAPIÃO  Posse mansa, pacífica;
ORDINÁRIA  Animus domini;
USUCAPIÃO (ART. 1260, DO
 Três anos;
CC)
 Justo título e boa-fé;

USUCAPIÃO Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco


EXTRAORDINÁRI anos, produzirá usucapião, independentemente de
A (ART. 1261, título ou boa-fé.
DO CC)
ESPECIFI- A especificação consiste na transformação da coisa em uma espécie
CAÇÃO nova, diante do trabalho do especificador, não sendo mais possível o
retorno à forma anterior. Existe uma modificação da coisa, tornando-a uma
nova coisa.
É a mistura entre coisas líquidas (ou mesmo de
CONFUSÃO gases), em que não é possível a separação. Exemplos:
CONFUSÃO,
misturas de água e vinho; de álcool e gasolina.
COMISTÃO E
É a mistura de coisas sólidas ou secas, não sendo
ADJUNÇÃO
COMISTÃO possível a separação e sem que se produza coisa nova.
Exemplos: misturas de areia e cimento ou de cereais de

69
safras diferentes.
São justaposição ou sobreposição de uma coisa
sobre outra, sendo impossível a separação sem
ADJUNÇÃO deterioração do bem formado. Exemplos: tinta em
relação à parede; selo valioso em álbum de
colecionador.
TRADIÇÃO Como já foi exposto, a tradição é a entrega da coisa ao adquirente, com
a intenção de lhe transferir a sua propriedade ou a posse

Assim como na aquisição da propriedade imóvel, a sucessão também


SUCESSÃO transmite a propriedade para as coisas móveis, seja a sucessão legítima ou
testamentária em sentido genérico
PERDA DA PROPRIEDADE
Transmissão do direito de propriedade de um patrimônio a outro, como
ALIENAÇÃO ocorre nos contratos de compra e venda, de troca ou permuta e no de
doação;
RENÚNCIA Ato unilateral pelo qual o proprietário declara, de forma expressa, a sua
vontade de abrir mão de seu direito sobre a coisa;
ABANDONO Deixa a coisa com a intenção de não mais tê-la consigo;
PERECIMEN- Perda do objeto;
TO DA COISA

DESAPRO- Desapropriação para fins de necessidade e interesse público (art. 1.228, §


PRIAÇÃO 3.º), quanto daquela desapropriação no interesse privado diante da posse-
trabalho (art. 1.228, §§ 4º e 5º).

DIREITOS DE VIZINHANÇA
Os direitos de vizinhança constituem claras limitações ao direito de propriedade, em prol do
bem comum, da paz social. Suas regras impostas são consideradas propter rem, ou seja,
acompanham a coisa onde quer que ela esteja, independente da vontade do proprietário.
USO Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de
ANORMAL fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
DA saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade
PROPRIEDA- vizinha.
DE
ÁRVORES Árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois
LIMÍTROFES prédios, presumindo-se de forma relativa pertencer em comum aos
donos dos prédios confinantes.
PASSAGEM Aduz o art. 1286, do CC: “Mediante recebimento de indenização que
DE CABOS E atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o proprietário é
TUBULAÇÕES obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos,
tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade

70
pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for
impossível ou excessivamente onerosa”.
Determina o art. 1288, do CC: “O dono ou o possuidor do prédio inferior é
obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não
ÁGUAS podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição
natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas
pelo dono ou possuidor do prédio superior”.
DIREITO DE O direito de tapagem é o direito que o proprietário de um imóvel tem de
TAPAGEM E cercar, murar, valar e tapar de qualquer modo o seu prédio urbano ou
DOS LIMITES rural.
ENTRE
PRÉDIOS
DIREITO DE Ao proprietário é garantido amplo direito de construção, resguardados o
CONSTRUIR direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.

CONDOMÍNIO OU COMPROPRIEDADE
Condomínio é a propriedade em comum por mais de uma pessoa. Um mesmo bem pode
pertencer a várias pessoas, cabendo a cada uma, igual direito sobre o todo.
São espécies de condomínio:
CONVEN- É o condomínio formado de acordo de vontade das pessoas, onde cada
CIONAL OU condômino tem a propriedade plena e total sobre a coisa, apenas sendo
VOLUNTÁRIO limitado pelos direitos dos demais. Sendo assim, não cabe reintegração de
posse por um dos condôminos contra os demais.
NECESSÁRIO As situações típicas de condomínio legal ou necessário envolvem o direito
OU LEGAL de vizinhança, quando existir as meações de paredes, cercas, muros e
valas.
No condomínio edilício (como o próprio nome já diz, de edifício, mas
EDILÍCIO também aplica-se aos clubes de campo e loteamentos) pode haver partes
que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum.
MULTIPRO- Como já foi falado anteriormente, a multipropriedade é o regime de
PRIEDADE OU condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é
TIME- titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e
SHARING gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos
proprietários de forma alternada.

PROPRIEDADE RESOLÚVEL
A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição ou pelo
termo. Assim, a duração da propriedade se subordina a um acontecimento futuro certo ou
incerto, que será previsto no próprio título constitutivo.
As espécies de propriedade resolúvel podem ser divididas em:
CONDIÇÃO Condição/cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento

71
RESOLUTIVA futuro e incerto. Resolutiva: o implemento (realização) extingue os efeitos
do ato (resolver = extinguir).
TERMO Termo: cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento
FINAL futuro e certo. Final: há uma data determinada para a cessação dos efeitos
do negócio jurídico.

DIREITOS O titular tem autorização de usar e fruir a coisa em determinadas situações.

REAIS DE Conceitua-se enfiteuse como a atribuição a uma pessoa o domínio útil


do imóvel, ficando esta obrigada ao pagamento de foro e demais ônus.
GOZO E
O atual Código proíbe a constituição de novas enfiteuses, bem como a
FRUIÇÃO
ENFITEUSE cobrança de laudêmios nas transmissões do bem aforado. As atuais
enfiteuses ficam mantidas, subordinando-se às disposições do antigo
Código (arts. 678 e seguintes) e leis especiais, até sua paulatina extinção
(art. 2.038, CC).
Na servidão predial o proprietário de um prédio deve suportar o
exercício de alguns direitos em favor do proprietário de outro prédio.
Como recai somente sobre bens imóveis, necessita de registro. A servidão
pode ser constituída por meio de contrato, testamento, usucapião ou
sentença judicial.
EM RELAÇÃO ÀS CLASSIFICAÇÕES

SERVIDÃO QUANTO À Rústica (em áreas rurais) ou urbana (em áreas


PREDIAL NATUREZA urbanas);

QUANTO ÀS Positiva (exercida por ato positivo ou comissivo) ou


CONDUTAS DAS negativa (decorre de ato omissivo ou abstenção);
PARTES
QUANTO AO Contínua (independe do ato humano) ou
MODO DE descontínua (depende da atuação humana);
EXERCÍCIO
QUANTO À Aparente (evidenciada no plano real e concreto) ou
EXTERIORIZAÇÃO não aparente (não havendo sinal exterior).
É o direito real que uma pessoa tem de usar (ex: morar) e fruir (ex.:
alugar) a coisa alheia, temporariamente, sem alterar-lhe a substância. As
partes são denominadas de usufrutuário (aquele que tem direito de usar
ou fruir a coisa) e nu proprietário (dono da coisa, possuindo o direito de
reivindicar e dispor).
USUFRUTO
JÁ EM RELAÇÃO À CLASSIFICAÇÃO, O USUFRUTO PODE SER:

QUANTO AO Próprio (recai sobre bens infungíveis e inconsumíveis)


OBJETO ou impróprio (recai sobre bens fungíveis e
consumíveis);

QUANTO À Total ou pleno (abrange todos os acessórios da

72
EXTENSÃO coisa), ou parcial ou restrito (não abranger todos os
acessórios);

QUANTO À Temporário (com prazo de duração certo) ou


DURAÇÃO vitalício. (estipulado a favor de pessoa natural, sem
previsão de prazo ou termo final, extinguindo só com
a morte do usufrutuário)

USO O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa,
havendo a cessão apenas do atributo de utilizar a coisa, seja ela móvel
ou imóvel. As partes são denominadas de proprietário e usuário.
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de
fruição, eis que apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja
HABITAÇÃO
o direito de habitar o imóvel. As partes são denominadas de proprietário
e habitante.
É um instituto novo que veio substituir a enfiteuse. Nele o proprietário
concede, por tempo determinado, gratuita ou onerosamente, a outrem o
SUPERFÍCIE
direito de construir ou plantar em seu terreno. Tal garantia deve ser
mediante escritura pública, devidamente registrada no Cartório de Registro
de Imóveis.

DIREITOS Têm por finalidade garantir ao credor recebimento de seu crédito, por vincular
determinado bem pertencente ao devedor. Se a dívida for assegurada por uma garantia real
REAIS DE
e o devedor não pagá-la, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido
GARANTIA
judicialmente.
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
PREFERÊNCIA Conforme o art. 1.422 do CC o credor hipotecário e o pignoratício têm
preferência no pagamento a outros credores,
INDIVISIBILI- O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
DADE exoneração correspondente da garantia;

SEQUELA Caráter propter rem, ou seja, acompanham a coisa onde quer que ela
esteja;

EXCUSSÃO O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa


hipotecada ou empenhada.

REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA O NEGÓCIO JURÍDICO


 O valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo;
 O prazo fixado para pagamento;
 A taxa dos juros, se houver;
 O bem dado em garantia com as suas especificações.

ESPÉCIES

73
PENHOR É transferência da posse de coisa móvel ou mobilizável realizada
pelo devedor ao credor, para garantir o pagamento de um débito
O penhor possui as seguintes modalidades:
LEGAL São credores pignoratícios, independentemente
de convenção e por força automática da lei;

CONVENCIONAL Forma ordinária de penhor, que tem por objeto


COMUM bens móveis ocorrendo a transmissão da posse
do devedor ao credor
RURAL Constitui-se mediante instrumento público ou
particular, registrado no Cartório de Registro de
Imóveis de situação da coisa (art. 1.438 do CC).

Duas são as modalidades básicas de penhor


rural: o penhor agrícola e o penhor pecuário

INDUSTRIAL E Têm por objeto máquinas, aparelhos, materiais,


MERCANTIL instrumentos, instalados e em funcionamento,
com os acessórios ou sem eles; animais,
utilizados na indústria; sal e bens destinados à
exploração das salinas; produtos de suinocultura,
animais destinados à industrialização de carnes e
derivados; matérias-primas e produtos
industrializados.
DIREITOS E Podem ser objeto de penhor direitos, suscetíveis
TÍTULOS DE de cessão, sobre coisas móveis.
CRÉDITO

VEÍCULOS Podem ser objeto de penhor os veículos


empregados em qualquer espécie de transporte
ou condução.
HIPOTECA
É direito real de garantia que grava coisa imóvel pertencente ao devedor sem transmissão
de posse ao credor. Por se tratar de um bem imóvel, faz-se necessário o registro no
Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se
referir a mais de um bem.

74
 Os bens imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente
com eles, caso dos frutos, das benfeitorias e das pertenças que
estão incorporados ao principal;
 O domínio direto;
 O domínio útil, como ocorre em relação ao direito do
usufrutuário;
OBJETO  As estradas de ferro;
 As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais
de energia hidráulica e os monumentos arqueológicos,
independentemente do solo onde se acham;
 Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis,
eis que podem ser hipotecados;
 As aeronaves, do mesmo modo dos navios;
 O direito de uso especial para fins de moradia;
 O direito real de uso;
 A propriedade superficiária.
HIPOTECA Criada pela autonomia privada, ou por
CONVENCIONAL convenção das partes;
HIPOTECA Decorre da norma jurídica, nas hipóteses do art.
LEGAL 1.489 do CC
Podem o credor e o devedor, no ato
HIPOTECA constitutivo da hipoteca, autorizar a emissão da
CLASSIFICAÇÃO CEDULAR correspondente cédula hipotecária, na forma e
para os fins previstos em lei especial.
A decisão que condenar o réu ao pagamento
HIPOTECA de prestação consistente em dinheiro e a que
JUDICIAL determinar a conversão de prestação de fazer,
de não fazer ou de dar coisa em prestação
pecuniária valerão como título constitutivo de
hipoteca judiciária. (art. 495 do CPC).
ANTICRESE É o direito real de garantia pelo qual o credor retém o imóvel do
devedor e recebe seus frutos para pagamento da dívida.

DIREITOS Ocorre com o compromisso ou promessa irretratável de venda de imóvel. Esse


compromisso é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a vender a outro bem imóvel,
REAIS DE
outorgando-lhe a escritura após o cumprimento das obrigações. Esses compromissos são
AQUISIÇÃO
geralmente utilizados nas vendas financiadas a longo prazo.

Aduz o art. 1.417 do CC/2002 que mediante promessa de compra e venda, em que não se
pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição

75
do imóvel. Esse direito real possibilita a reivindicação da coisa em face de qualquer
terceiro que eventualmente a adquiriu indevidamente.
Estabelece o art. 1º da Medida Provisória 2.220/2001: “Art. 1º Aquele
que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco
DIREITOS CONCESSÃO DE
anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta
REAIS DE USO ESPECIAL
metros quadrados de imóvel público situado em área com
INTERESSE PARA FINS DE
características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua
MORADIA
SOCIAL moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso
especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse,
desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título,
de outro imóvel urbano ou rural.”
O art. 7 do Decreto-Lei 271/1967 dispõe que “É instituída a
concessão de uso de terrenos públicos ou particulares remunerada
CONCESSÃO DE
ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real
DIREITO REAL DE
resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de
USO
interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo
da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das
comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras
modalidades de interesse social em áreas urbanas”.
O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de
terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical,
LAJE
como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as
demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da
construção-base.

ESPÉCIES DE USUCAPIÃO

USUCAPIÃO  Animus domini;


EXTRAORDINÁRIA  Posse mansa, pacífica e ininterrupta;
(Sem limite de  Prazo de 15 anos (posse simples);
 Prazo de 10 anos (posse qualificada pelo cumprimento da função social).
metragem)

USUCAPIÃO  Animus domini;


 Posse contínua, mansa, pacífica e ininterrupta;
ORDINÁRIA
 Justo título e boa-fé;
(Sem limite de  10 anos se posse simples;
metragem)  5 anos se posse qualificada.
 Área urbana de até 250m²;
USUCAPIÃO
 Posse por 5 anos ininterruptos;
ESPECIAL
 Sem oposição;
URBANA  Função social (moradia);

76
ou  Não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural;

pro misero
USUCAPIÃO  Área rural não superior a 50 hectares;
ESPECIAL RURAL  Posse por 5 anos ininterruptos;
ou  Sem oposição;

pró-labore ou  Função social (trabalho e moradia);


 Não pode ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano.
rústico
 Não precisa ser população de baixa renda;
 Pode ser alegada em Ação Autônoma ou em Defesa;
 Não tem indenização;
 Núcleos urbanos informais cuja área total dividida pelo número de possuidores
USUCAPIÃO
seja inferior a 250m² por possuidor;
COLETIVA
 Prazo de mais de 5 anos;
URBANA  Núcleos urbanos informais;
 Não exige boa-fé;
 Não há usucapião de bem público;
 Representativo da Função Social da Posse;
 Abandono do lar pelo ex-cônjuge/companheiro;
 Imóvel urbano de até 250m²;
USUCAPIÃO  2 anos ininterruptos;
CONJUGAL  Sem qualquer oposição.
 Função social (moradia);
 Não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Lei 6.001/73, Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos
consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade
USUCAPIÃO
plena.
INDÍGENA
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União,
ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de
propriedade coletiva de grupo tribal.
A usucapião tabular nada mais é do que a usucapião ordinária (com justo título e
boa-fé) com prazo reduzido (5 anos), exigindo-se, para sua configuração (além dos
USUCAPIÃO
requisitos próprios à usucapião ordinária), que tenha havido aquisição onerosa com
TABULAR
base no registro constante do Cartório de Registro de Imóveis, depois cancelada, e
contanto que os possuidores tenham fixado moradia no imóvel ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.

77
A Lei nº 11.977/09, que disciplina o Programa Minha Casa Minha Vida, trouxe a
possibilidade de usucapião, sem a intervenção do Poder Judiciário, de imóveis
urbanos para fins de regularização fundiária de interesse social, cujos procedimentos
seriam feitos diretamente no Registro de Imóveis.
Esta lei instituiu a conversão da legitimação de posse em propriedade, instituto
conhecido doutrinariamente como “usucapião administrativa”, sendo um mecanismo
ágil, eficiente e menos oneroso para a regularização fundiária da ocupação do solo
urbano, visando o direito social à moradia (art. 6º da CF).
USUCAPIÃO
Com o advento da Lei 13.465/17 o instituto da usucapião administrativa ganhou força
ADMINISTRATIVA e maior praticidade e operabilidade.
A Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passou a vigorar com as seguintes
alterações:
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento
extrajudicial de usucapião – USUCAPIÃO ADMINISTRATIVA –, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver
situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por
advogado, instruído com:

78
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
VUNESP – 2019 – TJ/RJ: Foi registrado um loteamento que, entretanto, nunca foi implantado.

Judas e sua família construíram e começaram a morar numa área que seria destinada a ser um
logradouro público. Após 10 anos de ocupação mansa e pacífica, mediante moradia com sua

família, Judas ajuizou uma ação de usucapião.

É correto afirmar que a usucapião

A) não poderá ser reconhecida, tendo em vista que não decorreu o prazo de 15 anos da
usucapião extraordinária, quando então poderá ser reconhecida.

B) poderá ser reconhecida, independentemente da dimensão da área ocupada, tendo em vista

que se presume o justo título e boa-fé, em razão da longevidade da posse e da sua função
social.

C) poderá ser reconhecida, desde que o imóvel tenha dimensão inferior a 250 m2 e Judas não

seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

D) somente poderá ser reconhecida a usucapião se houver a citação de todos os


confrontantes e ausência de oposição do loteador e da Municipalidade.

E) não poderá ser reconhecida, pois os bens públicos são imprescritíveis.

Comentário:

A alternativa E está correta, porque uma das principais características dos bens públicos é

a sua imprescritibilidade, o que, ao fim e ao cabo, significa dizer que eles,


independentemente de sua natureza, não podem ser adquiridos por meio de usucapião.

É isso que, há muito, se extrai da Súmula 340 do STF: “Desde a vigência do Código Civil,
os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por

usucapião”.
79
Mais recentemente, o STJ editou a Súmula 619, segundo a qual “A ocupação indevida de
bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou

indenização por acessões e benfeitorias.”

Porém, a título de aprofundamento, é necessário saber que, se o litígio envolver apenas


particulares, será possível o ajuizamento dos interditos possessórios. Em outras palavras,

é possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem


PÚBLICO DOMINICAL. STJ. 4a Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Assim, há duas situações distintas:

1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER


PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer

interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.

2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro


PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de

interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois

entre ambos a disputa será relativa à posse.

Questão 2
VUNESP – 2018 – PGE/SP: Sobre o direito real de laje, é correto afirmar:

A) pressupõe a coexistência de unidades imobiliárias, autônomas ou não, de titularidades


distintas e situadas na mesma área, de modo a permitir que o proprietário ceda a superfície

de sua construção a outrem para que ali construa unidade distinta daquela originalmente
construída sobre o solo.

B) a ruína da construção-base não implica extinção do direito real de laje se houver sua

reconstrução no prazo de 10 anos.

C) as unidades autônomas constituídas em matrícula própria poderão ser alienadas por seu
titular sem necessidade de prévia anuência do proprietário da construção-base.

80
D) confere ao seu titular o direito de sobrelevações sucessivas, mediante autorização expressa
ou tácita do proprietário da construção-base, desde que observadas as posturas edilícias e

urbanísticas vigentes.

E) contempla espaço aéreo e subsolo, tomados em projeção vertical, atribuindo à sua titular
fração ideal de terreno que comporte construção.

Comentário:

Art. 1.510-A, § 3o Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em


matrícula própria, poderão dela usar, gozar e dispor.

Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito

de preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base


e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para que se manifestem no

prazo de trinta dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso.

Questão 3
CESPE – 2018 – PGE/PE: Por meio de escritura pública devidamente registrada, Pedro

concedeu a Rodolfo a propriedade, por prazo determinado, de construção que efetuar em


área de seu terreno.

Essa relação reflete o direito de

A) superfície.

B) servidão contínua contratual.

C) uso.

D) usufruto temporário.

E) habitação.

Comentário:

81
Direito de Superfície (gabarito da questão): Art. 1.369 a 1.377, CC. Concessão pelo
proprietário de terreno do direito de construir ou plantar ao superficiário, por prazo

determinado e mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de registro


de imóveis;

Direito de servidão contínua: Art. 1.378 a 1.389, CC. Por meio da servidão contínua

(classificação da servidão) um prédio proporciona utilidade a outro, gravando o último,


que é do domínio de outra pessoa, exercida independentemente do ato humano. Ex.:

Passagem de água, energia.

Direito de uso: Art. 1.412 a 1.413, CC. Por meio deste direito, o proprietário concede o
atributo de utilizar a coisa (móvel ou imóvel) ao usuário, o qual perceberá os seus frutos

quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família.

Direito de usufruto temporário: Art. 1.390 a 1.411, CC. Consiste na concessão ao


usufrutuário o uso e fruição de bens móveis e imóveis, sendo temporário quando da

instituição já se estabelece o prazo de duração (art. 1.410, II, CC).

Direito de habitação: Art. 1.414 a 1.416, CC. Quando o uso consiste no direito de habitar
gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas

simplesmente ocupá-la com sua família.

Questão 4
FCC – 2018 – PGE/TO: O proprietário de um imóvel onde foi edificado um galpão comercial

de grandes dimensões precisa otimizar as receitas decorrentes da exploração desse bem. Uma
das alternativas que lhe foram apresentadas foi a construção de um espaço para a realização
de feiras e eventos, atraindo, assim, mais interessados em utilizar também o galpão comercial.

Considerando que não há área livre de terreno suficiente para a edificação do espaço
pretendido, o proprietário

A) poderá transferir o direito de construir de seu terreno para que o adquirente o exerça em

outro imóvel, considerando a impossibilidade de aproveitamento do imóvel para a finalidade


pretendida.

82
B) poderá edificar a construção no espaço aéreo do galpão comercial, desde que
tecnicamente possível e que seja o responsável direto pela exploração, vedada a cessão a

terceiros.

C) poderá conceder onerosamente o direito de superfície de seu imóvel, sendo permitido ao


superficiário construir e explorar o espaço de eventos no espaço aéreo do galpão, revertendo

ao dono do terreno as acessões e benfeitorias ao fim do contrato.

D) deverá providenciar projeto de reforma do galpão comercial, para fins de ampliar a


dimensão de área construída e então viabilizar a destinação das acessões para o segmento de

feiras e eventos.

E) deverá outorgar a terceiros o direito de construir em seu terreno, de forma que não seja
responsável pelos investimentos necessários para implantação do projeto, remanescendo com

o direito de retomar o domínio pleno do imóvel quando da extinção do contrato.

Comentário:

Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar

em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente


registrada no Cartório de Registro de Imóveis (Direito de superfície).

Art. 21, § 1o O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o

espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato respectivo, atendida


a legislação urbanística (Lei 10.257/01 - como destacou o João Canelas).

E Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o

terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização, se as partes não


houverem estipulado o contrário.

No caso mencionado no enunciado, o proprietário pode constituir o chamado direito de

superfície, que é o direito que o proprietário cria em favor de alguém de construir no seu
imóvel (Art. 1369, "caput", do CC). Esse direito de construir compreende também o
espaço aéreo do imóvel (Art. 21, par. 1 do Estatuto da Cidade), o que possibilita que o
proprietário crie o direito de superfície, mesmo que toda a área do solo já esteja

83
edificada, como menciona a questão. É estipulado um prazo para fruição da construção
(acessão), ao final do qual a propriedade da construção se consolida na esfera jurídica do

proprietário do solo - ele passa a ser proprietário, não só do solo, mas também da

construção (Art. 1375, "caput, do CC").

Questão 5
CESPE – 2019 – TJ/PA: Teixeira firmou com Albérico contrato de compra e venda por meio
do qual adquiriu 50 vacas leiteiras para servir-lhe como fonte de renda familiar,

comprometendo-se a pagar pelos semoventes o valor de R$ 135 mil. Teixeira ofereceu como
garantia real hipotecária ao cumprimento da obrigação pactuada o único imóvel residencial de
sua propriedade, contudo a referida garantia não foi registrada no cartório de registro de

imóveis. Como houve o descumprimento do contrato, Albérico ajuizou ação de cobrança, que
foi julgada procedente, tendo Teixeira sido condenado ao pagamento da dívida acordada.

Após o trânsito em julgado, Albérico propôs o cumprimento de sentença, que foi impugnado.
A impugnação foi rejeitada, tendo o magistrado determinado o prosseguimento da

expropriação do bem imóvel oferecido como garantia no contrato de compra e venda


descumprido.

Conforme o entendimento do STJ, nessa situação hipotética, a decisão que rejeitou a

impugnação foi

A) equivocada, pois a cláusula que instituiu a garantia hipotecária, embora fosse válida, era
ineficaz, em razão da falta do registro da hipoteca no cartório de imóveis.

B) equivocada, pois a cláusula que instituiu a garantia hipotecária era inválida, uma vez que só

se daria a constituição do direito real após a sua inscrição no cartório de registro de imóveis.

C) equivocada, pois é vedada a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária na


hipótese de dívida constituída em favor da entidade familiar.

D) correta, pois se admite a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária na

hipótese de dívida constituída em favor da entidade familiar, não sendo a falta do registro da
hipoteca fator impeditivo para sua validade e eficácia entre as partes como crédito pessoal.

84
E) correta, pois se admite a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária, ainda
que a dívida não fosse constituída em favor da entidade familiar, não sendo a falta do registro

da hipoteca fator impeditivo para sua validade e eficácia entre as partes como crédito pessoal.

Comentário:

A impenhorabilidade do bem de família é instituída pela Lei 8.009/90, que dispõe sobre o

direito fundamental à moradia. Todavia, segundo o STJ, o artigo 3º da lei trata das
exceções à regra geral, estabelecendo ser possível a penhora do imóvel que tiver sido

oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.

O inciso V afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se
ele foi dado como hipoteca (garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e

esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o bem de família poderá ser alienado e
seu produto utilizado para satisfazer o credor.

Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de

Registro de Imóveis. Assim, a ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de


imóveis não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei
n. 8.009/1990, a qual autoriza a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária

na hipótese de dívida constituída em favor de entidade familiar (STJ. 3ª Turma. REsp


1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).

O cuidado com a preservação do bem de família não deve afastar valores como a boa-fé

objetiva. Existem vários julgados do STJ que entendem que a oneração do bem familiar,
mediante seu oferecimento como garantia hipotecária, faz parte da liberdade do

proprietário do imóvel.

Questão 6
CESPE – 2019 – TJ/PA: Paulo mora e detém a posse mansa e pacífica de imóvel, com animus

domni, justo título e boa-fé, há cinco anos e seis meses. O imóvel havia sido adquirido, de
forma onerosa, com base em registro constante em cartório, mas esse registro foi
posteriormente cancelado.

85
Nessa situação hipotética, Paulo cumpre os requisitos necessários para a usucapião

A) tabular.

B) especial urbana.

C) extraordinária.

D) especialíssima.

E) especial rural.

Comentário:

Art. 1.242. USUCAPIÃO ORDINÁRIA - Adquire também a propriedade do imóvel aquele


que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

USUCAPIÃO TABULAR - Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo

se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do


respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem

estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico

Questão 7
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Caio e Tício celebraram, em 01.01.2007, um compromisso de

compra e venda por meio do qual este promete àquele vender um imóvel urbano, de 1800
m2 de terreno. O compromisso previu uma entrada no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e

60 parcelas de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Caio pagou o valor da entrada, edificou
no terreno e mudou-se para o imóvel no final do ano de 2007, estabelecendo sua moradia

definitiva e ininterrupta, e então deixou de pagar as demais prestações. Em razão do


inadimplemento, Tício notificou Caio extrajudicialmente, em 01.01.2008, para que pagasse os
valores em atraso. Este, por sua vez, em 01.02.2008, contranotificou Tício, alegando que não

mais pagaria qualquer valor, em razão da edificação que realizou, afirmando textualmente que
já se considerava “dono” do terreno. Tício foi convidado para ser o Diretor Executivo de uma

empresa multinacional, mudando-se para a Alemanha em 01.05.2008, somente retornando ao

86
Brasil em 01.01.2019. Em 01.06.2019, Caio ajuizou uma ação de usucapião. Sobre o caso
relatado, pode-se afirmar corretamente:

Não houve a aquisição pela usucapião, tendo em vista que o prazo da prescrição estava

suspenso no período em que o proprietário do imóvel estava fora do Brasil, a trabalho.

B) Pode ser reconhecida a usucapião, tendo em vista que houve a interversio possessionis,
bem como o decurso do prazo e dos requisitos para o reconhecimento da usucapião

extraordinária decorrente da posse-trabalho.

C) Não pode ser reconhecida a usucapião, em razão da inexistência de posse com animus
dominis, tendo em vista que a posse decorrente do contrato de compra e venda não pode ser

reconhecida como posse ad usucapionem.

D) Não houve a aquisição da propriedade pela usucapião em razão da inexistência de posse


do ocupante por prazo superior a quinze anos, tendo em vista a inexistência de justo título e

boa-fé.

E) Pode ser reconhecida a usucapião ordinária, tendo em vista que o comprador tinha justo
título, decorrente do contrato de compra e venda, bem como a boa-fé presume-se da

moradia e cumprimento da função social da propriedade.

Comentário:

A usucapião extraordinária independe de justo título e boa-fé; além disso, se o possuir

estabelece no imóvel sua moradia habitual, ou realiza obras ou serviços de caráter


produtivo, o prazo para usucapião é reduzido para 10 anos, conforme segue:

USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como

seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé;


podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para

o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

87
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras

ou serviços de caráter produtivo.

Questão 8
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, a posse

A) adquire-se no momento da celebração do contrato, mesmo que não seja possível o

exercício, em nome próprio, de quaisquer dos poderes inerentes à propriedade.

B) justa é aquela adquirida de boa-fé.

C) pode ser adquirida por terceiro sem mandato, dependendo, nesse caso, de ratificação.

D) transmite-se aos herdeiros do possuidor com os mesmos caracteres, mas não aos seus

legatários.

E) do imóvel gera presunção absoluta da posse das coisas que nele estiverem.

Comentário:

Adquire-se no momento da celebração do contrato, mesmo que não seja possível o

exercício, em nome próprio, de quaisquer dos poderes inerentes à propriedade. ERRADA.


Nos termos do art. 1.204, CC, Adquire-se a posse desde o momento em que se torna
possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Justa é aquela adquirida de boa-fé. ERRADA. Conceitos distintos. Pelo art. 1.200, CC, a
posse Justa é a que não for violenta, clandestina ou precária. Já a posse de boa-fé, nos

termos do art. 1.201, CC, é aquela em que o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo
que impede a aquisição da coisa. Pelo parágrafo único, do art. 1.201, o possuidor com
justo título tem a presunção relativa de boa-fé.

Pode ser adquirida por terceiro sem mandato, dependendo, nesse caso, de ratificação.
CORRETA. Literalidade do art. 1.205, II, CC: “A posse pode ser adquirida por terceiro sem
mandato, dependendo de ratificação”.

88
Transmite-se aos herdeiros do possuidor com os mesmos caracteres, mas não aos seus
legatários. ERRADA. CC, art. 1.206, “A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do

possuidor com os mesmos caracteres”. Plus (dicionário informal): Legatário é aquele para
quem alguém deixou algum bem por meio de testamento; é diferente do herdeiro, o

qual recebe os bens da herança por força da lei. Legatário recebe legado e herdeiro
recebe herança.

Do imóvel gera presunção absoluta da posse das coisas que nele estiverem. ERRADA.

Presunção Relativa. CC, art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a

das coisas móveis que nele estiverem.

Questão 9
FCC – 2019 – MPE/MT: São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

Essa norma, prevista no Código Civil,

A) concerne ao direito à propriedade e defende a plena possibilidade de uso, fruição e

disponibilidade do bem, direito real que é.

B) tem a ver com a função social da propriedade, somente, vedando atos impregnados de
ilegalidade.

C) veda o abuso do direito, que embora lícito em sua literalidade desvia-se da finalidade social

da norma e gera a ineficácia do ato.

D) diz respeito à vedação do abuso do direito, considerado ato ilícito pela legislação civil, e
interpreta-se em harmonia com o princípio da função social da propriedade.

E) diz respeito ao abuso do direito como ato emulativo, mas não se harmoniza com a função

social da propriedade nem gera a invalidade do ato, somente possibilitando perdas e danos
ao ofendido.

Comentário:

89
CC/02, Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou

utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

DIREITO DE PROPRIEDADE X FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE X VEDAÇÃO AO ABUSO


DO DIREITO

A propriedade é direito de todos, e faz parte das necessidades inerentes ao ser humano.

Porém, é mister que o proprietário exerça esse direito sob a égide da função social da
propriedade. Os direitos só podem se justificar pela missão social para a qual devem
contribuir, ou seja, o proprietário não pode agir com abusividade e ao seu bel prazer,

pois assim poderia ferir direitos e interesses coletivos e difusos, interesses esses que
devem interagir com o seu direito subjetivo e não serem subjugados por ele.

Não pode o proprietário praticar conduta que não lhe traga proveito, vantagem ou

utilidade, tendo o condão de prejudicar outrem.

O CC proíbe o abuso do direito, devendo o direito de propriedade ser exercido nos

limites da função social da propriedade, sob pena de abuso do direito.

Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Considere as situações a seguir.

I. Joana Dantas é possuidora de um terreno na cidade de Nova Horizontina por quinze anos,

sem interrupção nem oposição, não possuindo título nem boa-fé.

II. Jaciara Ferreira exerce, por três anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre um apartamento de cento e cinquenta metros quadrados na cidade de

Porto Feliz, o qual utiliza como sua moradia e cuja propriedade dividia com seu ex-cônjuge,
Lindomar Silva, que abandonou o lar, não sendo ela proprietária de outro imóvel urbano ou
rural.

90
III. Jandira é possuidora de área de terra em zona rural com cem hectares, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, tornando-a produtiva pelo seu trabalho e tendo nela sua

moradia, não sendo proprietária de imóvel rural ou urbano.

De acordo com o Código Civil brasileiro, em regra, o domínio integral do respectivo imóvel
será adquirido apenas

A) nas situações II e III.

B) nas situações I e II.

C) nas situações I e III.

D) na situação I.

E) na situação III.

Comentário:

Situação I – Usucapião extraordinário: Art. 1.238, CCB. Aquele que, por quinze anos, sem

interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,


independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por

sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Situação II – Usucapião familiar: Art. 1.240-A, CCB. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos
ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano

de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dividia com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de

sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.

Situação III – Usucapião especial rural: Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário

de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

91
Percebe-se, assim, que apenas a terceira situação trazida pela questão não preenche os
requisitos legais, tendo em vista que Jandira é possuidora de área com metragem

superior à permitida pela Constituição e, via de regra, a jurisprudência não admite que o
possuidor de terreno com metragem superior à prevista em lei pretenda usucapir apenas

parte do imóvel.

92
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - A

Questão 7 - B

Questão 8 - C

Questão 9 - D

Questão 10 - B

93
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Posse

 CC: Arts. 1196 a 1224.

Direitos Reais

 CC: Arts. 1225 a 1510-A.

Direito das Coisas

 Súmula 263-STF:

O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião. Por esse enunciado podemos concluir que
mesmo que o indivíduo (autor da ação) não esteja mais na posse do imóvel, ainda assim ele poderá ter direito à
usucapião desde que, quando perdeu a posse, já tenha preenchido todos os requisitos para a constituição do
direito.

 Súmula 391-STF:

O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.

 Súmula 11-STJ:

A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do
foro da situação do imóvel.

 Súmula 237-STF:

O usucapião pode ser arguido em defesa.

 Súmula 340-STF:

Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos
por usucapião.

94
 Súmula 193-STJ:

O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.

 Súmula 308 STJ

A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

95
JURISPRUDÊNCIA

Direitos das Coisas

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017
(Info 610).

Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode reter o bem por
falta de pagamento do serviço.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589).

É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) em


decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento. A
multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real,
harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.094-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/10/2016
(Info 592).

A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas a menos de 1,5m do terreno
vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação
não tem por objetivo limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho de outras
espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física (ex: busca impedir que objetos caiam ou
sejam arremessados de uma propriedade a outra). Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua
configuração, a presença do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m do
terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à eventual atenuação do
devassamento visual.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info
616).

Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos vizinhos que
fazem fronteira com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá
nulidade absoluta do processo? Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes
não acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se
96
falar em nulidade absoluta, no caso. A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de
usucapião é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se
constate o efetivo prejuízo.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.861-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/10/2015
(Info 572).

A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la. A
hipoteca, no sistema brasileiro, é uma garantia acessória, seguindo, portanto, a sorte (o destino) da obrigação
principal. Assim, prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia hipotecária (art.
1.499 do CC).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).

É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros particulares. A
ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não pode ser confundida
com a mera detenção. Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome
alheio. Não há entre ele e o proprietário uma relação de dependência ou subordinação. Ainda que a posse não
possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do bem, ela pode ser oposta contra outros particulares,
tornando admissíveis as ações possessórias entre invasores. Realmente, existem acórdãos do STJ no sentido de
que a ocupação de área pública sem autorização expressa e legítima do titular do domínio constitui mera
detenção (STJ. 3ª Turma. REsp 998.409-DF, DJe 3/11/2009). Contudo, neste julgado, a 3ª Turma do STJ, mesmo
reconhecendo a existência desses precedentes, decidiu chegar a uma posição diferentes e entender que há sim
posse. - Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Ao ler esse artigo, percebe-se
que o invasor de uma terra pública não pode ser enquadrado neste conceito, ou seja, não pode ser considerado
detentor. O art. 1.198 fala em “relação de dependência”, de forma que a posse deve ser exercida em nome de
outrem que ostenta o jus possidendi ou o jus possessionis. É o caso, por exemplo, de um “caseiro” que mora no
sítio. Este, sim, é considerado “detentor” porque possui uma relação de dependência com o possuidor e conserva
a posse em nome deste e em cumprimento de suas ordens. - Por outro lado, em sentido contrário, não se pode
dizer que a pessoa que invade terra pública e nela constrói sua moradia esteja exercendo a posse em nome do
Poder Público. Não está. Além disso, não há entre ele e o ente público uma relação de dependência ou de
subordinação. Logo, não há que se falar que o invasor tenha mera detenção. - O invasor possui animus domni,
ou seja, age como se fosse o dono. Sabe-se que as terras públicas não estão sujeitas à usucapião, no entanto,
mesmo assim o invasor age como se fosse o dono. Isso é indiscutível. Na prática, o invasor, na maioria das vezes,
nem sabe quem é o proprietário da terra e também desconhece que não poderá adquiri-la. Ele simplesmente
age como se fosse o dono, de forma que isso caracteriza a posse. Diante desse contexto, é perfeitamente possí-
vel que o invasor de terras públicas proponha interditos possessórios caso um outro particular tente ou
efetivamente consiga tomar-lhe a posse. - Vale ressaltar que o tema é polêmico e, como se trata apenas de uma

97
decisão da 3ª Turma, não se pode afirmar, com convicção, que tenha havido uma mudança de entendimento do
STJ sobre o assunto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).

 Informativo 584, STJ:

Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel

ser inferior à correspondente ao “módulo urbano” (a área mínima a ser observada no


parcelamento de solo urbano por determinação infraconstitucional).
 Informativo 589, STJ:

É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) em


decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento. A
multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real,
harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil.

 Informativo 591, STJ:

O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do
consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de
passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado.
Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil.).

 Informativo 590, STJ:

Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem
público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma
indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de
moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a
empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de passagem.

 Informativo 592, STJ:

A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas a menos de 1,5m do terreno
vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação
não tem por objetivo limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho de outras
espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física (ex: busca impedir que objetos caiam ou
sejam arremessados de uma propriedade a outra). Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua
configuração, a presença do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m do
terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à eventual atenuação do
devassamento visual.

 Informativo 594, STJ:

98
Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião. O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao
Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como
bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).

 Informativo 599, STJ:

O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o autor terá os benefícios
da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis." Isso significa
que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da gratuidade da justiça? Há uma presunção
absoluta de que este autor não tem recursos suficientes para pagar as custas? NÃO. O art. 12, § 2º da Lei nº
10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de usucapião
especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da
comprovação inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado".

 Informativo 616, STJ:

Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos vizinhos que
fazem fronteira com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá
nulidade absoluta do processo? Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes
não acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se
falar em nulidade absoluta, no caso. A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de
usucapião é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se
constate o efetivo prejuízo. STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/10/2017

 Informativo 623, STJ:

Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se
incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp
1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018

 Informativo 624, STJ:

A ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.704.498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018

 Informativo 630, STJ:

É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do processo
judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em
março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art.
1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário

99
apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais
atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação,
ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a
usucapião se completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 05/06/2018

 Informativo 631, STJ:

É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se inexistente
patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos aterceiros. STJ. 4ª Turma. REsp
1.473.484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018

 Informativo 628, STJ:

O credor hipotecário tem interesse de agir para propor ação em face do mutuário visando ao cumprimento de
cláusula contratual que determina a observância dos padrões construtivos do loteamento. Ex: João celebrou
contrato de compra e venda de um imóvel (terreno) em um loteamento. O contrato de compra e venda foi
celebrado entre João e a sociedade empresária Constrói Ltda. Ocorre que neste contrato de compra e venda
havia ainda um pacto adjeto (contrato acessório) de mútuo feneratício com garantia hipotecária, que foi firmado
entre João e a sociedade empresária Habitac Crédito Imobiliário S.A. Por força deste pacto adjeto, João recebeu
da Habitac um empréstimo (mútuo) para adquirir o imóvel e, como garantia de que iria pagar a dívida, deu o
bem em hipoteca. A ideia deste loteamento era a de que todas as casas ali construídas fossem parecidas e
mantivessem uma qualidade mínima. Assim, no contrato havia cláusulas dizendo os padrões que deveriam ser
respeitados no momento da construção (ex: construção toda em alvenaria, fachada com mármore ou granito etc).
João construiu a sua casa no loteamento, mas não respeitou os padrões previstos no contrato. O estilo da
fachada não estava igual ao que determinava o projeto e os materiais empregados eram de menor qualidade
que o exigido. Diante disso, a empresa Habitac Crédito Imobiliário S.A. ajuizou ação de obrigação de fazer contra
João pedindo que ele fosse condenado a reformar a casa a fim de deixá-la dentro dos padrões previstos no
contrato. O STJ afirmou que a credora hipotecária tem interesse de agir para propor esta ação. Isso porque ela
tem interesse jurídico na valorização do bem dado em garantia. Se o devedor não pagar a dívida, o bem dado
em hipoteca será alienado. Logo, o credor hipotecário tem interesse em que o imóvel seja construído de acordo
com os padrões estabelecidos para o loteamento a fim de que ele se mantenha valioso e, em caso de
inadimplemento, possa ser vendido por um bom preço, pagando a dívida. STJ. 1ª Turma. REsp 1.400.607-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/05/2018

 Informativo 640, STJ:

100
Em ação de execução hipotecária, o credor hipotecário pode requerer a adjudicação do imóvel penhorado pelo
valor constante do laudo de avaliação, independentemente da realização de hasta pública. STJ. 3ª Turma. REsp
1.721.731-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/11/2018

 Informativo 642, STJ:

Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp
1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019

 Informativo 633, STJ

O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a
inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo
que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se
justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo
imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito constitucional à
moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar a existência de
vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de
sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018

 Informativo 637, STJ:

É juridicamente possível a usucapião de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira com capital majoritariamente
controlado por estrangeiros, desde que observadas as mesmas condicionantes para a aquisição originária de
terras rurais por pessoas estrangeiras - sejam naturais, jurídicas ou equiparadas. A Lei nº 5.709/71 impõe uma
série de condições para que estrangeiros adquiram terras rurais no Brasil. Uma pessoa jurídica nacional que tenha
seu capital social controlado por estrangeiros também está sujeita às mesmas restrições, por força do art. 1º, § 1º,
da Lei nº 5.709/71. Isso não significa que ela não possa adquirir imóveis rurais no Brasil. Podem sim, inclusive
mediante usucapião. No entanto, precisam cumprir as regras da Lei nº 5.709/71. STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.038-
CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/11/2018

 Informativo 642, STJ

Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp
1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019

 Informativo 645, STJ

PROPRIEDADE. O registro do título translativo no Cartório de Registro de Imóveis como condição imprescindível
à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos propugnada pela lei civil não se confunde, tampouco
pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial. O contrato social que

101
estabelece que a integralização do capital social será feita por meio da transferência de um imóvel pelo sócio,
depois de ser devidamente inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis (da Junta Comercial), torna-se um
título translativo, ou seja, um título que serve para transferir a propriedade imóvel, mas desde que seja levado a
registro no cartório de Registro de Imóveis, conforme determina o caput do art. 1.245 do CC. Enquanto não for
feito o registro do título translativo (contrato social) no Cartório de Registro de Imóveis, o bem com o qual se
deseja fazer a integralização não compõe ainda o patrimônio da sociedade empresarial. Ex: o contrato social
previu que um dos sócios integralizaria o capital social transferindo imóvel de sua propriedade para a sociedade
empresária; mesmo após esse contrato social ser registrado na Junta Comercial, o bem ainda não foi transferido;
exige-se ainda o registro desse contrato social no Cartório de Registro de Imóveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.743.088-
PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/03/2019.

 Informativo 649, STJ:

Não é necessária a outorga uxória para validade e eficácia de contrato de arrendamento rural. Nos termos do
Decreto nº 59.566/66, o arrendamento rural é, por definição legal, o contrato mediante o qual uma pessoa se
obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, mediante retribuição. Não
há exigência legal de forma especial para a sua plena validade e eficácia, sendo o arrendamento rural um
contrato não solene.

 Informativo 649, STJ:

É POSSÍVEL A CRIAÇÃO DE ANIMAIS NAS UNIDADES AUTÔNOMAS DO CONDOMÍNIO? É ilegítima a restrição


genérica contida em convenção condominial que proíbe a criação e guarda de animais de quaisquer espécies em
unidades autônomas.

 Informativo 651, STJ:

O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de


inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer. Assim, é
ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por condômino inadimplente
e seus familiares como medida coercitiva para obrigar o adimplemento das taxas condominiais. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588). STJ. 4ª Turma. REsp
1.699.022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019.

 Informativo 654, STJ:

CONTRATO DE INCORPORAÇÃO IMOBOLIÁRIA. Termo inicial dos juros de mora incidentes sobre a restituição das
parcelas pagas em caso de resolução judicial do contrato por iniciativa do promitente comprador de forma
diversa da cláusula penal convencionada. Nos compromissos de compra e venda de unidades imobiliárias
anteriores à Lei nº 13.786/2018, em que é pleiteada a resolução do contrato por iniciativa do promitente

102
comprador de forma diversa da cláusula penal convencionada, os juros de mora incidem a partir do trânsito em
julgado da decisão.

 Informativo 655, STJ:

AÇÃO POSSESSÓRIA. Em ação possessória ajuizada pelo fazendeiro que teve o imóvel invadido por indígenas,
não cabe a realização de laudo antropológico para examinar se são terras indígenas. É inadequada a discussão
acerca da tradicionalidade da ocupação indígena em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda antes
de completado o procedimento demarcatório. Assim, não cabe produção de laudo antropológico em ação
possessória ajuizada por proprietário de fazenda ocupada por grupo indígena.

 Informativo 656, STJ:

USUCAPIÃO. Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a clandestinidade ou a
violência. Nos termos do art. 1.261 do cc/2002, aquele que exercer a posse de bem móvel, interrupta e
incontestadamente, por 5 anos, adquire a propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer vício
anterior. A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência (roubo) somente induz a
posse após cessado o vício (art. 1.208 do cc/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente
para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime

 Informativo 659, STJ:

AÇÃO POSSESSÓRIA ENTRE PARTICULARES. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do
ente público.

103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito das Coisas. V. 5. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

104
Capítulo 7
SUMÁRIO

Direito civil, CAPÍTULO 7.................................................................................................................................................6

17. Casamento, União Estável e Monoparentalidade ..................................................................................6

17.1 A família na Constituição Federal de 1988 .......................................................................................6

17.1.1 Princípios Fundamentais ....................................................................................................................6

17.2 Conceito de Direito de Família ...............................................................................................................8

17.3 Direito Matrimonial (Entidades Familiares) ........................................................................................8

17.3.1 Casamento ...............................................................................................................................................9

17.3.1.1 Teorias e Princípios..........................................................................................................................9

17.3.1.2 Finalidade .......................................................................................................................................... 10

17.3.1.3 Direitos e Deveres ......................................................................................................................... 10

17.3.1.4 Igualdade de Direitos e Deveres ............................................................................................ 10

17.3.1.5 Proibições ......................................................................................................................................... 11

17.3.1.6 Princípios do Casamento ........................................................................................................... 11

17.3.1.7 Condições ......................................................................................................................................... 11

17.3.1.8 Formalidades para o Casamento............................................................................................ 12

17.3.1.9 Idade Núbil ...................................................................................................................................... 13

17.3.1.10 Impedimentos e Causas Suspensivas................................................................................. 14

17.3.1.11 Espécies de casamento: ........................................................................................................... 16

17.3.1.12 Prova e Efeitos do Casamento .............................................................................................. 18

17.3.2 União Estável ....................................................................................................................................... 19

17.3.2.1 Elementos ......................................................................................................................................... 19

17.3.2.2 Meação .............................................................................................................................................. 19

17.3.2.3 Sucessão ............................................................................................................................................ 20


17.3.2.4 Deveres .............................................................................................................................................. 20

17.3.2.5 Separação de Corpos .................................................................................................................. 21

17.3.2.6 Conversão em Casamento ........................................................................................................ 21

17.3.2.7 Nome do Companheiro ............................................................................................................. 22

17.3.2.8 Previdência Social.......................................................................................................................... 22

17.3.2.9 Responsabilidade Civil................................................................................................................. 22

17.3.3 Monoparentalidade .......................................................................................................................... 22

18. Dissolução do Casamento e da União Estável ..................................................................................... 23

18.1 Morte............................................................................................................................................................... 23

18.2 Divórcio .......................................................................................................................................................... 23

18.2.1 Divórcio Consensual (Amigável).................................................................................................. 24

18.2.2 Divórcio litigioso ................................................................................................................................ 25

18.3 Separação Judicial ..................................................................................................................................... 26

18.3.1 Separação de fato ............................................................................................................................. 27

18.4 Invalidade do Casamento....................................................................................................................... 28

18.4.1 Casamento inexistente .................................................................................................................... 28

18.4.2 Casamento Nulo (art. 1548 e 15499, CC) ............................................................................... 28

18.4.3 Anulável (art. 1550 a 1560, CC) ................................................................................................... 28

18.4.4 Casamento putativo (art. 1561, CC) .......................................................................................... 31

19. Regimes de Bens ............................................................................................................................................... 32

19.1 Conceito ......................................................................................................................................................... 32

19.2 Princípios ....................................................................................................................................................... 32

19.2.1 Variedade de regime de bens ..................................................................................................... 32

19.2.2 Princípio da Livre Estipulação ou Liberdade dos pactos antenupciais ...................... 32


19.2.3 Princípio da Indivisibilidade .......................................................................................................... 33

19.2.4 Princípio da Mutabilidade Justificada ....................................................................................... 33

19.3 Pacto Antenupcial (Art. 1653 a 1657 do CC) e o Regime Legal ........................................... 34

19.4 Espécies .......................................................................................................................................................... 35

19.4.1 Regime da Comunhão Parcial ..................................................................................................... 35

19.4.2 Regime da Comunhão Universal ................................................................................................ 37

19.4.3 Regime da Participação Final nos Aquestos ......................................................................... 38

19.4.4 Regime da Separação de Bens .................................................................................................... 40

20. Parentesco ............................................................................................................................................................ 41

20.1 Espécies de parentesco ........................................................................................................................... 42

20.1.1 Natural ou Consanguíneo.............................................................................................................. 42

20.1.2 Afinidade ............................................................................................................................................... 42

20.1.3 Civil .......................................................................................................................................................... 43

20.2 Filiação ............................................................................................................................................................ 44

20.2.1 Natureza Jurídica ............................................................................................................................... 44

20.2.1.1 Biológico ........................................................................................................................................... 44

20.2.1.2 Socioafetivo (critério não biológico) ..................................................................................... 45

20.2.1.3 Presunções jurídicas ..................................................................................................................... 46

20.2.2 Reconhecimento de filhos (arts. 1601 a 1617, CC)............................................................. 47

20.2.3 Pluriparentalidade ............................................................................................................................. 48

20.2.4 Adoção ................................................................................................................................................... 48

20.2.5 Ação Investigatória de Paternidade/Maternidade .............................................................. 52

20.2.6 Prova da Filiação................................................................................................................................ 53

21. Poder Familiar ..................................................................................................................................................... 55


21.1 Características .............................................................................................................................................. 55

21.2 Direitos e Deveres ..................................................................................................................................... 56

21.3 Administração .............................................................................................................................................. 56

21.3.1 Vedação (art. 1691, CC) .................................................................................................................. 57

21.3.2 Exclusão (art. 1693, CC) .................................................................................................................. 57

21.4 Usufruto ......................................................................................................................................................... 57

21.5 Extinção, Suspensão e Perda ................................................................................................................ 57

21.6 Guarda (arts. 1583 a 1590 do CC) ...................................................................................................... 61

21.6.1 Espécies de guarda ........................................................................................................................... 61

21.7 Direito assistencial de família ............................................................................................................... 62

21.7.1 Tutela (arts. 1728 a 1766 do CC) ................................................................................................ 63

21.7.2 Curatela (arts. 1767 a 1783 do CC) ........................................................................................... 66

21.7.3 Tomada de decisão apoiada (art. 1783-A do CC)............................................................... 66

22. Alimentos .............................................................................................................................................................. 69

22.1 Conceito e pressupostos ........................................................................................................................ 69

22.2 Características .............................................................................................................................................. 69

22.3 Classificação dos alimentos ................................................................................................................... 73

22.3.1 Quanto à fonte ................................................................................................................................... 73

22.3.2 Quanto à extensão............................................................................................................................ 73

22.3.3 Quanto ao tempo.............................................................................................................................. 74

22.3.4 Quanto à forma de pagamento .................................................................................................. 74

22.3.5 Quanto à finalidade .......................................................................................................................... 74

22.4 Exoneração.................................................................................................................................................... 76

22.5 Alimentos Gravídicos ................................................................................................................................ 77


22.6 Ações de alimentos................................................................................................................................... 78

22.6.1 Procedimento especial concentrado sumaríssimo (Lei n. 5.478/68) ........................... 79

22.6.2 Execução de alimentos.................................................................................................................... 80

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 83

QUESTÕES COMENTADAS .......................................................................................................................................106

GABARITO ........................................................................................................................................................................125

LEGISLAÇÃO COMPILADA.........................................................................................................................................126

JURISPRUDÊNCIA.............................................................................................................................................................129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................................................145


DIREITO CIVIL

Capítulo 7

17. Casamento, União Estável e Monoparentalidade

17.1 A família na Constituição Federal de 1988

Vamos trazer um enfoque constitucional nesse momento para que possamos

compreender alguns conceitos e princípios decorrentes da nossa Carta Magna.

Com a Constituição de 1988 e a superação da perspectiva individualista do Direito


Civil, a família deixou de ser um fim em si mesma e passou a ser instrumental, isto é, deve

servir ao desenvolvimento da personalidade, felicidade e dignidade de seus membros.

Por isso, a família deixou de ser casamentária e passou a ser plural; deixou de ser
patriarcal e passou a ser igualitária. A família é baseada no afeto, na ética, dignidade e

solidariedade. A família é eudemonista.

17.1.1 Princípios Fundamentais

 Proteção da dignidade da pessoa humana (art.1º, III, CF/88): deve ser analisada a
partir da realidade do ser humano em seu contexto social;

 Solidariedade familiar (art. 3º, I, CF/88): é objetivo fundamental prevista na CF/88,


assim, nas relações familiares, há a responsabilidade solidária, tanto em âmbito

afetivo, quanto social, moral, patrimonial, etc; ex.: alimentos necessários (art. 1694,
§2º, CC)
 Igualdade:

 Entre filhos (art. 227, §6º, CF/88 c/c art. 1596, CC): juridicamente, todos os
filhos são iguais perante a lei, mesmo que decorrentes de relações
matrimoniais ou não. Esse regramento se difere do previsto no ordenamento
anterior, que privilegiada aqueles havidos dentro do casamento;
6
 Entre cônjuges e companheiros (art. 226, §5º, CF/88 c/c art. 1511, CC): há
igualdade em relação à sociedade conjugal e à convivência. Assim, é

equivocado falar em pátrio poder, devendo ser chamado de poder familiar,


pois a chefia da família pode ser de qualquer uma das partes;

 Não intervenção ou liberdade familiar (art. 1513, CC): o planejamento familiar é


de livre decisão do casal, sendo vedado qualquer forma de coerção ou
interferência estatal nesse sentido;

 Maior interesse da criança/adolescente (art. 227, CF/88 c/c art; 1538 e 1584, CC):
deve-se haver a proteção integral dos menores, com vistas a favorecer o seu

melhor interesse. A exemplo disso, pode-se citar o instituto da guarda


compartilhada em que o filho convive com ambos os pais, sem qualquer restrição a

direito de visita, etc;


 Afetividade: sob a ótica contemporânea, e como bem explica Maria Berenice Dias,

deve-se ser levado, cada vez mais, o afeto nas relações familiares, em vez de
critérios biológicos ou patrimonialistas. Ex.: parentalidade socioafetiva, pela qual se
considerada existente o vínculo de filiação através do afeto de um indivíduo por

outro e não simplesmente por ser filho biológico;


 Função social da família (art. 226, CF/88): as relações familiares devem ser

analisadas em relação ao contexto social de cada região ou local. Assim, a família


deixou de ser um fim em si mesmo;

 Boa-fé objetiva: pois não basta a mera intenção das partes (boa-fé subjetiva),
devendo haver a lealdade entre as partes;

 Família plural: nas sociedades contemporâneas, é equivocado dizer que a família só


é constituída por homem e mulher através do casamento. Em razão da evolução

social, ao longo do tempo, foram surgindo novas concepções de família. Assim,


prevalece na doutrina e jurisprudência do STF e STJ que o rol constitucional
familiar é exemplificativo. Isso sugere que são admitidas outras formas de

manifestações familiares, a exemplo da união estável, concubinato, homoafetiva 1,


monoparental, anaparental (família sem pais, só entre irmãos, por exemplo),

1
Informativo n. 625, ADPF 132/RJ e AI 4277/DF.
7
pluriparental (decorrentes de vários casamentos, relacionamentos afetivos, uniões
estáveis), eudemonista, etc.

17.2 Conceito de Direito de Família

É o complexo de normas de ordem pública que regulam a celebração do casamento,


sua validade, seus efeitos, relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, união

estável, dissolução, relação entre pais e filhos, vínculo de parentesco, alimentos e os institutos
complementares da tutela, curatela e ausência.

17.3 Direito Matrimonial (Entidades Familiares)

A Constituição Federal de 1988 reconhece expressamente três modelos de entidades


familiares:

 Casamento (art. 226, §§1º e 2º): conjunto de pessoas unidas pelo casamento
(cônjuges e filhos).

 União estável entre o homem e a mulher (art. 226, §3º): trata-se da chamada
entidade familiar.

 Famílias monoparentais (art. 226, §4º): conjunto de pessoas formado por um só

dos pais e sua prole (descendentes), também chamadas de famílias unilineares.

Esse rol de entidades familiares trazidos pela CF é, segundo a doutrina e a


jurisprudência, inclusive do STF e STJ, é meramente exemplificativo. Desse modo, são

admitidas outras formas de manifestação das entidades familiares. Vejamos algumas delas:

 Família anaparental: quer dizer família sem pais. Ex: o STJ entendeu que o imóvel
em que residem duas irmãs solteiras constitui bem de família, pelo fato delas

formarem uma família.


 Família homoafetiva: constituída por pessoas do mesmo sexo.

 Família mosaico ou pluriparental: aquela decorrente de vários casamentos, uniões

estáveis ou mesmo simples relacionamentos afetivos de seus membros.

8
17.3.1 Casamento

É a união legal, o vínculo jurídico, entre homem e mulher que visa o auxílio mútuo,

material e espiritual, criando a família legítima.

Trata-se de um negócio jurídico gerador de direitos e deveres entre o homem e a


mulher. É vinculado a normas de ordem pública e a observância das formalidades legais.

Trata-se de um ato complexo (depende de celebração e inúmeras formalidades previstas na


lei, como o processo de habilitação, publicidade, etc.), intuitu personae, dissolúvel, realizado

entre duas pessoas exigindo a livre manifestação de vontade. É um ato privativo do


representante do Estado (Juiz de casamento), sendo que a falta de competência da

autoridade celebrante pode ser causa de anulação (art. 1.550, VI, CC).

Assim, o casamento é o ato que estabelece entre as partes comunhão plena de vida,
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (teoria contratualista).

Apesar do conceito clássico de casamento trazer que o casamento se dará apenas entre
pessoas de sexos distintos, o Brasil admite, na atualidade, o casamento entre pessoas do

mesmo sexo.

17.3.1.1 Teorias e Princípios

 Teoria Contratualista: o casamento tem natureza de contrato, um negócio jurídico


entre as partes, fundado na vontade (natureza negocial).
 Teoria Institucionalista: o casamento não seria negocial, pois não é de interesse
privado, e sim de interesse público. Para essa teoria o casamento é uma instituição
jurídica e social.
 Teoria Mista ou Eclética: para essa teoria o casamento seria a um só tempo
contrato e instituição. Contrato na sua formação, mas os efeitos do casamento
seriam institucionais.

O casamento é celebrado e desfeito com base única e exclusivamente pela vontade das

partes. Assim, adota-se a Teoria Mista ou Eclética pela qual o casamento é uma instituição
quando ao conteúdo e um contrato especial quanto à formação, com regras e princípios
próprios.

9
Desse modo, o casamento está baseado no princípio da monogamia (art. 1521, VI, CC),
liberdade de escolha (exceto em caso de impedimento matrimoniais que veremos a seguir) e

comunhão plena de vida.

17.3.1.2 Finalidade

Dentre os fins principais do casamento temos:

 Instituição da família matrimonial.


 Satisfação do desejo sexual: integração fisiopsíquica.

 Legalização das relações sexuais (ligado também ao dever de fidelidade) ou do


estado de fato.

 Procriação (não é essencial), proteção e educação dos filhos.


 Prestação de auxílio mútuo.

 Estabelecimento de deveres entre os cônjuges.

17.3.1.3 Direitos e Deveres

 Fidelidade recíproca.
 Coabitação (relativa): o que caracteriza o abandono é a intenção de não mais
retornar ao lar. E não um afastamento temporário por motivo de serviço.

 Mútua assistência (material, moral e espiritual), respeito e consideração.

 Proteção da prole: sustento, guarda e educação dos filhos.

17.3.1.4 Igualdade de Direitos e Deveres

Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo

homem e pela mulher (art. 226, 5°, CF). O art. 1.511, CC prevê que: “O casamento estabelece
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

 Ambos podem exercer a direção da sociedade conjugal, fixando o domicílio,

representando a família, etc.


 Qualquer um pode adotar, se quiser, o sobrenome do consorte, bem como

conservar seu nome de solteiro, consignando-se na certidão de casamento.


 Ambos devem proteger o consorte física e moralmente.

10
 Ambos devem colaborar nos encargos da família.

 Ambos podem exercer livremente profissão lucrativa.

17.3.1.5 Proibições

Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização (escrita e expressa) do outro, exceto no

regime da separação total de bens (art. 1.647, CC):

 Alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens imóveis, ou direitos reais


sobre imóveis alheios: trata-se de falta de legitimação (e não de incapacidade);

Concedida a anuência o cônjuge fica legitimado a praticar tais atos.


 Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens e direitos.
 Prestar fiança ou aval: procura-se evitar o comprometimento dos bens do casal.

 Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens ou rendimentos comuns ou dos

que possam integrar futura meação.

17.3.1.6 Princípios do Casamento

 Liberdade de escolha: decorre da autonomia privada, onde, salvo os impedimentos

matrimoniais, as pessoas são livres para escolher os futuros cônjuges.


 Monogamia: não podem casar as pessoas ainda casadas.

 Comunhão plena da vida: trata-se da igualdade entre os cônjuges.


 Solenidade do ato nupcial: normas de ordem pública.

17.3.1.7 Condições

Há duas espécies de condições: de existência do casamento e de sua validade.


Vejamos:

 Existência jurídica do casamento: além da celebração na forma da lei (não há

casamento por instrumento particular) e do consentimento (não há casamento na


ausência absoluta de consenso). Havendo transgressões a estas exigências mínimas,

o casamento é considerado inexistente; ou seja, simplesmente não houve


matrimônio algum.

11
 Validade do ato nupcial: exige-se a aptidão física (puberdade e sanidade) e

intelectual (grau de maturidade e consentimento íntegro).

17.3.1.8 Formalidades para o Casamento

O casamento é cercado de um ritual, exigindo diversas formalidades. 2

 Habilitação

O primeiro passo é requerer a instauração do processo de habilitação no Cartório de


Registro Civil para constatar a existência ou não de impedimentos matrimonias e dar

publicidade ao ato. Trata-se de uma atitude preventiva, a fim de se evitar que pessoas
impedidas se casem.

A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência

do Ministério Público. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiros,


a habilitação será submetida ao Juiz.

 Edital de proclamas

Os proclamas (edital que comunica ao público em geral a intenção dos noivos de

contrair núpcias) são afixados nos Cartórios de ambos os nubentes. Decorridos 15 dias, o
oficial entrega aos nubentes uma certidão de que estão habilitados a se casar dentro de 90

dias, sob pena de decadência. Se não houver casamento neste prazo, deve-se renovar todo o
processo de habilitação. Em casos excepcionais pode haver dispensa da publicação (art.
1.527, parágrafo único, CC). Ex: grave enfermidade, parto iminente, viagem inadiável, etc. Na

verdade é o Juiz quem irá apreciar o “motivo urgente”.

 Celebração do casamento

A celebração do casamento ocorrerá no dia, hora e lugar previamente designados pelo


Juiz de paz, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão de

habilitação.

2
Vide questão 6
12
Será realizado na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes
pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes. Se as partes quiserem, e

consentindo a autoridade celebrante, o casamento poderá ser celebrado em outro edifício,


público ou particular.

Após ouvir dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea

vontade, declarará efetuado o casamento. Após a celebração do casamento, será lavrado o


assento no livro de registro.

 Aperfeiçoamento

O momento de aperfeiçoamento do casamento se dará no momento em que os


cônjuges manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz

os declara casados. O registro do ato está no plano da eficácia do casamento.

17.3.1.9 Idade Núbil

Tanto o homem como a mulher atingem a idade núbil aos 16 anos. Todavia os

menores púberes (maiores de 16 e menores de 18 anos), para casar, devem ser


autorizados por seus pais ou representantes legais. Caso os pais não consintam com o
casamento ou em havendo divergência entre eles, quando a razão para a denegação for

injusta, poderá a autorização ser suprida pelo Juiz (art. 1.631, parágrafo único, CC).

Importante destacar que, antes da Lei n.º 13.811/2019 permitia-se, excepcionalmente, o

casamento de pessoa que ainda não houvesse alcançado a idade núbil, em caso de gravidez.
Atualmente, contudo, com a alteração da redação do art. 1.520 do CC, “não será permitido,

em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil”. Na hipótese de


realização de casamento de pessoa menor de 16 (dezesseis) anos, tem-se, então, casamento

anulável, nos termos do art. 1.550, I, do CC.

13
17.3.1.10 Impedimentos e Causas Suspensivas

 Impedimentos dirimentes absolutos (ou públicos).

Trata-se de rol taxativo que impossibilita a realização de casamento, acarretando, em


caso de sua ocorrência, a NULIDADE do matrimônio. Ainda, são questões de interesse

público e, em razão disso, podem ser arguidos por qualquer pessoa interessada ou pelo
Ministério Público, sendo uma ação imprescritível;

 Impedimentos de Parentesco: consanguinidade, afinidade, adoção.

 Impedimento de Vínculo: pessoas casadas.

 Impedimento de Crime: homicídio ou tentativa de homicídio.

No caso dos impedimentos, eles podem ser opostos, até o momento da celebração do

casamento, por qualquer pessoa capaz.

Assim, são causas impeditivas:

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte.

 Causas Suspensivas ou Impedimentos Impedientes

São situações em que, apesar de a lei apenas recomenda a não realização do

casamento, porém, se assim o fizer, acarretará mero ônus legal: adoção do regime legal

14
obrigatório, o Regime de Separação Legal/Obrigatória (art. 1641, I, CC). Diferentemente do
que ocorre nos impedimentos matrimoniais, por não se tratarem de questões de interesse

público, os legitimados para arguir a existência de causas suspensivas são apenas os parentes
em linha reta de um dos cônjuges, consanguíneos ou afins, e colaterais em segundo grau,

consanguíneos ou afins;

 O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário.

 A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal.

 O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha


dos bens.

 O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados


ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a

tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

As causas suspensivas só podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos

nubentes e pelos colaterais em segundo grau.

São considerados nulo de pleno de direito.

15
Importante alteração, trazida com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, se refere ao

direito de casar. Não há qualquer impedimento de se realizar casamento com pessoas com
deficiência, tendo em vista que são absolutamente capazes de exercer os atos da vida civil,
salvo incapacidade relativa, excepcionalmente decretada, que também não impede o

casamento.

17.3.1.11 Espécies de casamento:

Quanto à celebração, as regras estão previstas nos arts. 1533 a 1542 do CC. Porém, há

casos em que ocorre formas especiais de celebração em razão de alguma situação específica
dos nubentes.

Vejamos:

 Moléstia grave (art. 1539, CC):

O casamento será celebrado onde se encontrar a pessoa impedida perante duas


testemunhas. Assim, um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o

impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e
escrever.

A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-

á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc,
nomeado pelo presidente do ato.

O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro

dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

 Nuncupativo (art. 1540, CC):

16
Também denominado de em viva voz, in extremis vitae momentis ou in articulo mortis
(do latim nuncupare = “dizer de viva voz”), trata-se de situação em que um dos nubentes se

encontra em iminente risco de vida ou à beira da morte (art. 1.540, CC), não havendo,
portanto, tempo para a celebração do casamento conforme as solenidades, não estando

presente a autoridade competente para presidir o ato.

Dispensam-se as formalidades legais para o ato (processo de habilitação, proclamas e


até mesmo a presença da autoridade competente, pois os contraentes não a localizaram).

Basta que os contraentes manifestem o propósito de se casar e, de viva voz,

recebam um ao outro. É necessária a presença de seis testemunhas sem parentesco (na


linha reta e colateral até 2° grau) e posterior habilitação e homologação judicial.

Após a morte do enfermo devem comparecer diante da autoridade judicial competente,

declarando por termo que foram convocadas pela pessoa que corria perigo de morte, mas
estava consciente da sua vontade e que os contraentes, de forma livre e espontânea,

aceitaram o casamento.

Se a pessoa convalescer antes do casamento bastará ratificar o casamento na presença


da autoridade competente (não é necessário um novo casamento). Se não ratificar, o

casamento não terá valor algum.

 Por procuração (art. 1542, CC):

Deve ser realizada por instrumento público com poderes especiais, possuindo, a

procuração, eficácia de 90 dias, sendo revogável até o momento da celebração. Embora seja
imprescindível a presença real e simultânea dos contraentes, o Código Civil permite o

casamento por procuração, desde que um dos nubentes não possa estar presente.

A procuração deve ser por instrumento público, com poderes especiais para contrair
casamento, mencionando o regime de bens. Se ambos não puderem comparecer, deverão

nomear procuradores diversos. O prazo do mandato não poderá exceder a 90 dias.

17
A procuração pode ser revogada a qualquer tempo antes da celebração do
casamento, mas também será exigido o instrumento público para a revogação (princípio da

atração das formas – a mesma forma exigida para o ato deverá ser usada para a revogação).

 Diplomático ou consular (art. 7º, §2º, LINDB):

O casamento dos estrangeiros poderá ser celebrado perante autoridades diplomáticas


ou consulares do país de ambos os nubentes.

 Religioso com efeitos civis (art. 1515 e 1516, CC):

Se precedido de processo de habilitação, deve ser registrado em 90 dias, após esse


prazo, necessitará de nova habilitação. Em contrapartida, se não foi precedido de habilitação,

terá efeitos civis apenas se for registrado no registro civil a requerimento do casal por meio
de prévia habilitação à autoridade competente, respeitando-se, também, o prazo de 90 dias

(efeito ex tunc),

17.3.1.12 Prova e Efeitos do Casamento

 Prova do casamento (art. 1543 a 1547, CC):


 Direta:
o No Brasil: certidão do registro;
o Exterior: registro em 180 dias no cartório do respectivo domicílio ou no 1º
ofício da capital do Estado que forem residir;
 Complementares/supletórios: quando ocorrer a falta ou perda do registro
civil, sendo admissível qualquer outro tipo de prova;
 Indireta: posse do estado de casado, demonstrando a efetiva situação de
casados no mundo dos fatos. Nesse sentido, aplica-se sempre o princípio in
dubio pro matrimonio;
 Efeitos do casamento:
 Pessoais: é a comunhão plena de vida, adotar o sobrenome do outro,
planejamento familiar e os deveres matrimoniais previstos no art. 1566, CC;
 Patrimoniais: são os direitos patrimoniais dos nubentes que se
consubstanciam no regime de bens deles. Sobre esse tema, trataremos
especificamente no tópico específico.

18
17.3.2 União Estável

É uma união duradoura de pessoas livres e que não estão ligadas entre si por

casamento. O Código Civil permite a união estável entre pessoas solteiras, viúvas, divorciadas,
separadas judicialmente ou separadas de fato.

17.3.2.1 Elementos

 Dualidade de pessoas
 Publicidade

 Durabilidade
 Continuidade
 Constituição de família

 Não haver impedimentos matrimoniais: exceto quanto aos separados

(judicialmente ou de fato).

O Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo. A partir

daí os casais homossexuais terão os mesmos direitos e deveres que a legislação estabelece
para os casais heterossexuais, sendo tratados como um novo tipo familiar. A decisão compara

a união homoafetiva à união estável, para todos os fins jurídicos, tendo efeito vinculante e

erga omnes.

17.3.2.2 Meação

Se não houver pacto entre os conviventes o regime da comunhão parcial prevalecerá e

o convivente terá direito à metade dos bens por ocasião da dissolução da união estável
(separação ou morte) se adquiridos onerosamente na vigência da união estável. Não se

comunicam os bens advindos de herança, legado ou doação.

19
17.3.2.3 Sucessão

O companheiro supérstite, além da meação participará da sucessão do outro, nas


mesmas condições que o cônjuge sobrevivente.

O STF reconheceu, em regime de repercussão geral, a inconstitucionalidade do art. 1.790 do


CC (que disciplinava a participação do companheiro supérstite na sucessão do outro), devendo

ser aplicado ao regime sucessório entre companheiros as mesmas regras estabelecidas no art.
1.829 do CC para os cônjuges (STF RE 646.721/RS e RE 878.694/MG). No mesmo sentido

entende o STJ (REsp 1.332.773/MS).

17.3.2.4 Deveres

 Em relação ao companheiro, lealdade, respeito e assistência.


 Em relação aos filhos: guarda, sustento e educação.

Nota-se que o legislador não colocou os mesmos deveres para o casamento. A lei é
omissa em relação: ao dever de fidelidade e ao da coabitação.

No entanto a doutrina aponta que a fidelidade seria uma espécie de lealdade (esta seria

o gênero). Portanto é evidente que a “traição” pode causar repulsa de tal ordem que torne
insuportável a convivência ao companheiro inocente.

Já em relação à coabitação entende-se que a vida em comum sob o mesmo teto não é

imprescindível para a caracterização da união estável. A propósito, diz a Súmula 382 do


Supremo Tribunal Federal: “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é
indispensável à caracterização do concubinato”.

20
17.3.2.5 Separação de Corpos

Esta medida cautelar é manejável tanto na hipótese do casamento como na de união


estável (nesta hipótese, antes de se promover a ação de reconhecimento e extinção da própria

união estável - art. 1.562, CC), porque nos dois casos há conflitos de interesses que merecem
tutela jurídica.

Trata-se de medida prudente, uma vez que evita ocorrência de danos irreparáveis ou de

difícil reparação, regularizando uma situação de fato, quando as partes já se encontram


separadas.

17.3.2.6 Conversão em Casamento

Determina o art. 1.726, CC que a união estável poderá converter-se em casamento,

mediante pedido dos conviventes ao Juiz e assento no Registro Civil (a conversão de união
estável em casamento pode se operar pela via judicial ou extrajudicial, à escolha do casal –

STJ REsp 1.685.937-RJ, Info 609).

O art. 8º da Lei nº 9.278/96 prevê a possibilidade de que a conversão da união estável em


casamento seja feita pela via extrajudicial. No entanto, este dispositivo não impõe a
obrigatoriedade de que se formule o pedido de conversão na via administrativa antes de
se ingressar com a ação judicial. O art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado como

sendo uma faculdade das partes. Dessa forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções
ao casal: a) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou b)
pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.685.937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/8/2017 (Info 609).

21
17.3.2.7 Nome do Companheiro

A lei permite que se utilize o patronímico do companheiro, se houver a concordância


deste, vida em comum por mais de cinco anos ou filho da união. Não podem ser casados em

núpcias anteriores.

17.3.2.8 Previdência Social

Havendo união estável, os conviventes são beneficiários do segurado. Também têm


direito à pensão deixada pelo servidor civil ou militar. Permite-se o abatimento no Imposto de

Renda como encargo de família (dependente).

17.3.2.9 Responsabilidade Civil

Assim como o cônjuge, a companheira ou companheiro pode pleitear indenização por


morte do companheiro motivada por ato ilícito.

NAMORO QUALIFICADO: O fato de namorados projetarem constituir família no futuro não


caracteriza união estável, ainda que haja coabitação, visto que a União Estável exige a
vontade de constituição de família naquele momento.

EFEITOS EX-NUNC DA UNIÃO ESTÁVEL: O contrato de União Estável não possui efeitos

retroativos à data de sua celebração, para prestigiar período anterior à sua assinatura.

17.3.3 Monoparentalidade

São as famílias formadas por um só dos pais e sua prole (descendentes). Também
chamadas de famílias unilineares.

22
18. Dissolução do Casamento e da União Estável

Em razão da EC 66/2010, em tese, não é mais viável juridicamente a separação de

direito (judicial ou extrajudicial), apesar de os dispositivos legais respectivos no Código Civil


não terem sido expressamente revogados.

Assim, de acordo com o art. 1571 do CC, o casamento poderá ser dissolvido: morte,

invalidade do casamento e pelo divórcio (Lei nº 6515/77), que pode ser consensual ou
litigioso ou, ainda, extrajudicial por meio de cartório.

Porém, apesar do entendimento acima, conforme Informativo 604 do STJ, a sua 4ª

Turma decidiu que a EC 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da
separação judicial, assim, define que separação judicial ainda é opção à disposição dos

cônjuges.

Portanto, fique atento à pergunta de sua prova, se for uma questão objetiva que
pergunte se houve revogação expressa de tais dispositivos, a resposta é NÃO! Se a pergunta

for relativa ao entendimento do STJ, siga o explicado alhures e se for em uma prova
discursiva, trata-se de divergência interessante para agregar à sua resposta.

18.1 Morte

A morte pode ser real ou presumida com ou sem decretação de ausência.

18.2 Divórcio

O divórcio pode ser consensual ou litigioso.3

Quais os efeitos da sentença do divórcio? Ela dissolve definitivamente o vínculo


matrimonial, põe fim aos deveres conjugais, extingue o regime de bens, acarretando sua

partilha, faz cessar o direito sucessório, não admite reconciliação (devendo casar

3
Vide questão 10
23
novamente, se for o caso), novo casamento dos divorciados e mantém inalterados os direitos
e deveres dos pais em relação aos seus filhos (guarda), possibilidade de alimentos,

possibilidade de manter o nome de casado ou não, inexistindo qualquer necessidade de


comprovação de culpa.

18.2.1 Divórcio Consensual (Amigável)

Pode ser obtido em cartório (procedimento administrativo) ou em juízo


(procedimento de jurisdição voluntária);

O CPC no divórcio consensual judicial exige um requisito objetivo: consenso, vontade


das partes, independentemente da existência de filhos menores incapazes. Se as partes
chegaram a um consenso sobre as cláusulas do divórcio, mesmo que exista interesse de

incapazes, o procedimento de jurisdição voluntária poderá ser utilizado. Havendo a


possibilidade de existência de incapazes e cláusulas obrigatórias da petição inicial

 As disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;


 As disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
 O acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
 O valor da contribuição para criar e educar os filhos.

Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de
homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.

Por sua vez, a Lei nº 11.441/07 concebeu a possibilidade de divórcio consensual em

cartório, através de um procedimento administrativo, sendo decretado por meio de escritura


pública e não por sentença. Essa escritura pública independe de intervenção do MP e

homologação judicial. O próprio tabelião lavrará a escritura pública quando presentes os


requisitos do art. 1.124-A.

O uso da via cartorária é facultativo e não obrigatório, porém não pode haver

interesse de incapaz. O casal sempre pode optar pelo uso da via judicial. Havendo interesse
de incapaz o uso da via judicial é obrigatório.

24
18.2.2 Divórcio litigioso

Sempre será em juízo e, no CPC/73 tratava-se de um procedimento comum ordinário,

contudo, atualmente, trata-se de um procedimento especial previsto nos artigos 693 a 699
do CPC/15.

Assim, de acordo com o art. 693 do CPC, as normas previstas no capítulo das Ações de

Família, aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e


extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.

Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução


consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas
de conhecimento para a mediação e conciliação.

A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do processo enquanto


os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar.

Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela

provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e


conciliação, observado o disposto no art. 694.

O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar

desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu


conteúdo a qualquer tempo.

A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data designada

para a audiência, sendo realizada na pessoa do réu. Na audiência, as partes deverão


(obrigatório) estar acompanhadas de seus advogados ou de defensores públicos.

A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas sessões quantas

sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências


jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.

Não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas do


procedimento comum, observado o art. 335. Nas ações de família, o Ministério Público

25
somente intervirá quando houver interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à
homologação de acordo.

Quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado a abuso ou a alienação

parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado por


especialista.

Assim, é possível a cumulação de pedidos (guarda; alimentos, visitas de filhos,

indenização; partilha de bens, etc.) Assim, o juiz julga o pedido de divórcio, de imediato, e o
processo continua para decidir os demais pedidos. O divórcio é direito potestativo, não

pode ser contestado.

COMUNICABILIDADE DOS BENS: Diante do divórcio, não deve ser reconhecida a meação
dos valores depositadas em conta vinculada ao FGTS em datas anteriores à constância do

casamento, se realizado no regime de separação parcial de bens, e que tenham sido utilizados

para a aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação conjugal.

18.3 Separação Judicial

A separação apenas desconstitui o casamento, mas não dissolve. Assim, a separação

seria causa terminativa, não dissolutiva. A maioria da doutrina entende que com o advento
da EC 66 não mais existe separação.

Assim, é majoritário que a separação judicial não dissolve o casamento, apenas põe fim

a determinados deveres, contudo, em entendimento contrário a doutrina, a jurisprudência do

26
STJ4 entende que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária
que trata da separação judicial.

18.3.1 Separação de fato

A separação de fato acarreta uma ruptura da convivência entre os consortes, havendo


bastante relevância para o sistema jurídico brasileiro, acarretando a cessação da base afetiva

da relação.

Apesar de não constar no CC como causa terminativa nem como causa dissolutiva, não

afetando o casamento a princípio, o STJ equipara a separação de fato à separação judicial,


de modo a por fim aos deveres conjugais.

Assim, os efeitos da separação de fato são:

 Possibilidade de caracterização de união estável por conta da cessação dos


deveres de fidelidade e coabitação;
 Cessação do regime de bens 5

Para o CC/02, cessará o regime de bens após a separação de fato por mais de 5 anos. O STJ
ignora essa disposição do CC ao considerar que o regime de bens cessa com a separação de
fato (2 anos), harmonizando o sistema. Ora, se a pessoa está separada de fato, pode
constituir união estável e essa união estará submetida à comunhão parcial. Se for aplicado o
art. 1642, V, ele já tem companheira em regime de comunhão parcial e o regime de bens do

casamento.

 Cessação do direito à herança;

4
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ. 4ª
Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).
5
Posição do STJ, REsp. 555.771/SP
27
 Sub-rogação locatícia (Lei n.8.245/91, art. 12);
 Permissão para a contagem do prazo para o usucapião conjugal (CC, art. 1.240-A).

18.4 Invalidade do Casamento

As causas de invalidade do casamento são causas desconstitutivas e não dissolutivas (as


pessoas voltam ao estado anterior). Podem ser divididas em casamento inexistente,

casamento nulo, casamento anulável e casamento putativo

18.4.1 Casamento inexistente

São os casamentos que não deveriam ter acontecidos. A doutrina traz duas hipóteses:
ausência de vontade e celebrado por autoridade totalmente incompetente.

18.4.2 Casamento Nulo (art. 1548 e 15499, CC)

Após o advento do Estatuto da Deficiência, o único caso em que implicará a nulidade,


de acordo com a lei, será com o infringência das regras de impedimento. A decretação de

nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida
mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

18.4.3 Anulável (art. 1550 a 1560, CC)

São hipóteses taxativas em que acarretará a nulidade relativa do casamento,


dependendo da arguição dentro dos prazos decadenciais legais. São elas:

 Quem não completou a idade mínima para casar;

A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair

matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou


curador. Assim, como já explicado anteriormente, não há qualquer nulidade nesses casos.

Ademais, não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez e

a anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será requerida:

28
pelo próprio cônjuge menor

por seus representantes legais

por seus ascendentes

O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu
casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com

suprimento judicial.

 Menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;

O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu

representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias,
por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus

herdeiros necessários.

O prazo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir
do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz. Não se anulará o

casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz,


ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação.

 Por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;

O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos
nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.

Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

 O que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao
cônjuge enganado;
 A ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne
insuportável a vida conjugal;
 A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não
caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio

29
ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência;

É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de


ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e

iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.

Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação
do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as

hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

 Incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;


 Realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
 Por incompetência da autoridade celebrante.

Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na
lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado

o ato no Registro Civil.

O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração,
é de:

 Cento e oitenta dias, no caso de o incapaz de consentir ou manifestar, de modo

inequívoco, o consentimento;
 Dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;

 Três anos, nos casos de erro essencial

 Quatro anos, se houver coação.

30
Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores
de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da

data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. Na hipótese de


casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da

revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges, o prazo para


anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver

conhecimento da celebração.

18.4.4 Casamento putativo (art. 1561, CC)

Embora nulo/anulável, foi contraído de boa-fé por ambos os cônjuges ou só um deles,


reconhecendo-lhes efeitos legais. Porém, ainda que de má-fé, se por apenas um dos

cônjuges, o de boa-fé e os filhos estarão sujeitos aos efeitos legais, e, inclusive, se ambos
estiverem de má-fé, os efeitos recairão apenas nos filhos;

31
19. Regimes de Bens

19.1 Conceito

Trata-se do estatuto patrimonial dos cônjuges, aplicável a outras entidades familiares,

a exemplo da união estável. É regido pela autonomia privada, pela indivisibilidade (regime
único para ambos), pela variedade de regimes e mutabilidade justificada (é possível a

alteração de regime de bens, desde que por meio judicial, de forma motivada por ambos os
cônjuges, ressalvado direito de terceiros).6

Existem três formas de incidência do regime de bens: em primeiro lugar, em razão da

autonomia privada, os cônjuges estão livres para escolher o regime que lhe bem entenderem,
porém, caso são haja escolha, que deve ocorrer através do pacto antenupcial, estarão sujeitos

ao regime legal (comunhão parcial de bens). Ainda, caso estejam sujeitos a uma das regras de
causas suspensivas ou entre outras hipóteses, serão submetidos ao regime obrigatório legal,
o da separação total de bens obrigatória.

19.2 Princípios

19.2.1 Variedade de regime de bens

A lei oferece quatro espécies de regimes: comunhão universal, comunhão parcial,


separação e participação final dos aquestos.

19.2.2 Princípio da Livre Estipulação ou Liberdade dos pactos


antenupciais

Pacto antenupcial é um contrato solene, realizado antes do casamento, por meio do qual
os nubentes escolhem o regime de bens que vigorará durante o matrimônio. Os nubentes

podem estipular cláusulas, atinentes às relações econômicas, desde que respeitados os


princípios da ordem pública; devem ser feitos por escritura pública (sob pena de nulidade) e

seguido do casamento (sob pena de ineficácia).

6
Vide questão 7, 11 e 13
32
Se os nubentes nada convencionarem ou sendo nula a convenção, vigorará o regime
da comunhão parcial (art. 1.640, CC). Se optarem por qualquer outro regime, será obrigatório

o pacto antenupcial por escritura pública, sob pena de nulidade.

É também conhecido como princípio da autonomia privada (autonomia da vontade), é a


regra que permite a livre escolha do regime de bens pelos nubentes. Está prevista no caput

do art. 1639, CC. A liberdade de pactuar o regime de bens não é absoluta, pois o pacto não
pode conter cláusulas que violem as normas de ordem pública a respeito da matéria.

Regime legal (ou supletório) é aquele que será aplicado ao casamento na hipótese de

omissão de vontade dos nubentes. Também deve ser aplicado nos casos de vícios que
conduzam à nulidade do pacto. Antes do advento da Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), o

regime legal era o da comunhão universal de bens. Com a entrada em vigor do referido
diploma, o regime legal passou a ser o da comunhão parcial, regra mantida pelo CC/2002.

19.2.3 Princípio da Indivisibilidade

É o princípio que proíbe a celebração de casamento com regimes distintos para cada
um dos cônjuges, visto que o regime é uno. Contudo, isso não impede disposições especiais

no pacto antenupcial de doação de bens de um cônjuge ao outro. O princípio da


indivisibilidade é excepcionado na hipótese de casamento nulo ou anulável em que apenas

um dos cônjuges agiu de boa-fé.

19.2.4 Princípio da Mutabilidade Justificada

Atualmente a lei permite a mutabilidade do regime adotado, desde que haja uma

autorização judicial, atendendo a pedido motivado de ambos os cônjuges, após apuração de


procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros (art. 1639, §2º, CC).

Assim, o entendimento pacificado na jurisprudência do STJ é no sentido de que é

possível (atualmente) a alteração do regime de bens nos casamentos celebrados na vigência


do CC/1916. O art. 2.039, do CC/2002, não impede a mudança.

 Requisitos para alteração do regime

33
 Ação judicial: a alteração só é possível mediante ação de alteração do regime
de bens, assim, em regra, esta ação deve ser distribuída na Vara de Família, ou
na sua ausência, deve ser distribuída na Vara Cível.
 Absoluto consenso entre os cônjuges;
 Justo motivo: o pedido de alteração do regime de bens deverá ser motivado e
o juiz analisará a procedência das razões invocadas.
 Ressalva de direitos de terceiros;

Assim, de acordo com o art. 734 do CPC, a alteração do regime de bens do casamento,
observados os requisitos legais, poderá ser requerida, motivadamente, em petição assinada

por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a alteração,
ressalvados os direitos de terceiros.

Ao receber a petição inicial, o juiz determinará a intimação do Ministério Público e a

publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir
depois de decorrido o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital.

Os cônjuges, na petição inicial ou em petição avulsa, podem propor ao juiz meio

alternativo de divulgação da alteração do regime de bens, a fim de resguardar direitos de


terceiros.

Após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos

cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

19.3 Pacto Antenupcial (Art. 1653 a 1657 do CC) e o Regime


Legal

É um negócio jurídico pessoal, solene (escritura pública), nominado e típico, que

regulamenta as questões patrimoniais do matrimonio7.

Assim, deve existir sempre que os nubentes adotarem regime de bens diversos do
regime legal e desde que não seja o obrigatório, visto que, nesse caso, não se leva em

7
Vide questão 2
34
consideração a vontade deles. A sua nulidade de alguma cláusula não atinge o todo o pacto,
em razão princípio da conservação dos negócios jurídicos.

O regime legal de bens, é aquele estabelecido sem pacto antenupcial, assim, se não

houver disposição em sentido contrário, o casamento e a união estável serão realizados sobre
o regime de comunhão parcial de bens.

19.4 Espécies

19.4.1 Regime da Comunhão Parcial

Trata-se do regime legal aplicado sempre que os cônjuges não escolherem outro por

meio do pacto antenupcial, assim, é o que vigora no silêncio das partes ou nulidade do
pacto antenupcial. Nesse regime, regra geral, comunicam-se todos os bens (bens comuns)

havidos durante o casamento, exceto se forem incomunicáveis. Assim, forma-se duas massas
patrimoniais: bens comuns e bens particulares.8

Após o casamento, os bens adquiridos se comunicam. Ficam excluídos da comunhão

de bens que cada cônjuge possuía antes de casar, bem como os que vierem depois, por
doação ou sucessão (e os sub-rogados em seu lugar). Por outro lado, cada consorte

responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento.

Em caso de divórcio, cada um ficará com sua parte e será repartida apenas a parte
comum. Já em caso de morte, o cônjuge ou companheiro sobrevivente também ficará com

sua parte exclusiva, herdará a parte exclusiva do de cujus, e será meeiro da parte em
conjunto.

8
Vide questão 4
35
Não confundir meação com herança. Isso sempre é um tema de prova e possui um altíssimo

índice de erro por conta dessa confusão.

BENS COMUNS (art. 1658, 1660, 1662, CC) BENS PARTICULARES (art. 1659 e 1661,
CC)
 Durante o casamento  Os bens particulares que já possuíam
 Constituídos durante o casamento, à ao casar e aqueles recebidos por
título oneroso, ainda que em nome doação ou herança ou sub-rogados
de um dos cônjuges; em seu lugar;
 Bens adquiridos por fato eventual  Bens adquiridos com valores
mesmo que sem a colaboração do exclusivos de um dos cônjuges ou
outro; ex.: loteria sub-rogados de bens particulares;
 Doação, herança ou legado em favor  Obrigações anteriores ao casamento,
de ambos os cônjuges; ou seja, dívidas que não foram
 Benfeitorias necessárias, úteis e constituídas para pagar encargos
voluptuárias dos bens particulares; familiares;
 Frutos civis (rendimentos) ou  Bens de uso pessoal de casa
naturais de bens comuns ou cônjuge, inclusive instrumento de
particulares, desde que recebidos profissão;
durante o casamento ou, se  Proventos do trabalho pessoal;
pendentes, quando cessar;  Pensões, meios-soldos e montepios;
 Os bens móveis (presunção relativa);  Bens adquiridos por causa anterior
ao casamento;

36
A administração dos bens cabe a qualquer dos cônjuges, exceto se houver
malversação dos bens, caso em que o juiz irá determinar a administração à apenas um deles.
Ademais, as dívidas contraídas em relação aos bens particulares em benefício destes, não

obrigam os bens comuns. Por fim, deve-se ressaltar o teor do Enunciado n. 340 do CJF/STJ:
“No regime da comunhão parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge,

ou seu suprimento judicial, para atos de disposição sobre bens imóveis”.

19.4.2 Regime da Comunhão Universal

Nesse regime, comunicam-se todos os bens do casal, independentemente da


aquisição anterior à celebração do casamento. Assim, forma-se uma única massa patrimonial.
Contudo, apesar de tal regra geral, o Código Civil elencou hipóteses em que tal
comunicabilidade não é absoluta, havendo bens que não se comunicam.

Assim, é aquele em que todos os bens dos cônjuges, presentes ou futuros,

adquiridos antes ou depois do casamento (ainda que em nome de um só deles), tornam-se


comuns, constituindo uma só massa, tendo cada cônjuge o direito à metade ideal do
patrimônio comum (são meeiros), havendo comunicação do ativo e do passivo. Em princípio

só há um só patrimônio, instaurando-se o estado de indivisão. É necessário o pacto


antenupcial.

BENS COMUNS
 Todos os bens do casal, inclusive recebidos por doação ou herança;
 Frutos, ainda que de bens incomunicáveis;
BENS INCOMUNICÁVEIS
 Doados/herdados com cláusula de incomunicabilidade ou sub-rogados;
 Gravados com fideicomisso;

37
 Dívidas anteriores ao casamento, salvo se com este relacionadas ou de proveito
comum;
 Doações antenupciais com cláusula de incomunicabilidade;
 Bens de uso pessoal, livros, profissão, pensão;

Em caso de divórcio, será repartida a parte comum, ficando cada um com metade do

patrimônio. Já em caso de morte, o cônjuge ou companheiro sobrevivente será apenas


meeiro do patrimônio total do casal, já que não existe parte exclusiva do de cujos.

Quanto à administração, aplica-se as regras do regime legal, cabendo a ambos e,

findo a comunhão, encerra-se a responsabilidade solidária.

19.4.3 Regime da Participação Final nos Aquestos

Trata-se de regime inspirado em ordenamento jurídico de outros países e bastante

complexo, que possibilita a formação de até 5 massas patrimoniais, em dois momentos


distintos do regime: na constância do casamento e na sua dissolução, cada um possuindo

seu regramento específico.

Assim, é um misto de dois regimes: durante a constância do casamento vigoram as


regras semelhantes ao regime da separação total de bens; dissolvida a sociedade conjugal,

em tese, vigoram as regras da comunhão parcial.

Aquestos são os bens adquiridos a título oneroso pelos cônjuges na constância do


casamento. Há dois patrimônios:

 Inicial: conjunto de bens que cada cônjuge possuía antes de se casar e os que

foram por ele adquiridos, a qualquer título, durante o casamento. A administração


dos bens é exclusiva de cada cônjuge, podendo aliená-los livremente se forem

móveis. Em se tratando de bens imóveis um não poderá sem a autorização do


outro realizar os atos previstos no art. 1.647, CC (alienar, hipotecar, prestar fiança,

etc.) No entanto, no pacto antenupcial pode-se convencionar a livre disposição dos


bens imóveis, desde que particulares.

38
 Final: com a dissolução da sociedade conjugal apura-se o montante dos
aquestos, excluindo-se da soma o patrimônio próprio (ex: bens anteriores ao

casamento e os sub-rogados em seu lugar, obtidos por herança, legado ou doação,


etc.), efetuando-se a partilha e conferindo a cada consorte, metade dos bens

amealhados pelo casal. Se os bens forem adquiridos pelo trabalho conjunto, cada
um dos cônjuges terá direito a uma quota igual no condomínio. Como se percebe,
trata-se mais de uma compensação dos bens adquiridos e não propriamente de

uma divisão. Repetindo, se assemelha com o regime de comunhão parcial.

BENS
PARTICULARES BENS COMUNS
antes dissolução

durante
BENS
PARTICULARES

Assim, durante o casamento, haverá uma separação convencional dos bens, com bens

particulares de cada cônjuge, e no momento da sua dissolução, uma comunhão parcial de


bens em que se extrairá os aquestos (participação/esforço) da colaboração de cada um dos

cônjuges nos bens onerosos adquiridos durante a união.

Nesse sentido, os aquestos não se confundem com a meação, pois este independe da
comprovação do esforço comum. Ora, na dissolução, os bens adquiridos durante o casamento,
que eram considerados particulares, se tornarão comuns, fazendo cada cônjuge jus aos bens

39
particulares + aquestos daqueles bens, excluindo aqueles anteriores ao casamento ou sub-
rogados, herdados ou doados ou as dívidas destes.

19.4.4 Regime da Separação de Bens

O regime de separação de bens pode ser tanto convencional quanto legal. No primeiro
caso, os nubentes escolhem por adotar tal regime e, no segundo caso, é obrigatório por

determinação legal. Nesse regime, só há bens particulares, pois não ocorre comunicabilidade
dos bens.

Cada cônjuge conserva, com exclusividade, o domínio, posse e administração de


seus bens, presentes e futuros, havendo incomunicabilidade dos mesmos, não só dos que
cada um possuía ao se casar, mas também dos que vierem a adquirir na constância do

casamento. Existem dois patrimônios distintos: o do marido e o da mulher.

Assim, mantém-se a responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao


casamento. Qualquer dos consortes poderá, sem autorização do outro, prestar fiança ou aval

e fazer doação, etc.

O regime de separação de bens pode ser dividido em:

 Convencional: nubentes adotam, por convenção antenupcial; podem estipular a

comunicabilidade de alguns bens, normas sobre a administração, colaboração da


mulher, etc.; É o único regime em que existe verdadeira separação absoluta de bens.
Neste caso não se aplica a Súmula 377, STF.

 Legal ou Obrigatório: a lei impõe, por razões de ordem pública ou como sanção,
não havendo comunhão de aquestos (art. 1.641, CC), nem necessidade de pacto (ex.:

pessoa maior de 70 anos – redação dada pela Lei no 12.344/10) ou que contraiu
casamento com inobservância das causas de suspensão, ou dependerem de

suprimento judicial para casar).

40
Ainda, incide o teor da Súmula 377 do STF a qual determina que “No regime de
separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”,

formando, assim, duas massas patrimoniais no mesmo sentido que no regime de comunhão
parcial.

A partir desse entendimento, conclui-se que só existe um regime de separação absoluta:

o regime de separação convencional. Na separação legal não há separação absoluta, pois a


Súmula n. 377 determina a comunicação dos bens.

20. Parentesco

Devido à evolução social, atualmente, fala-se em multiparentalidade, ou seja, admite-se

o estabelecimento simultâneo de dois vínculos de parentesco: biológico e o socioafetivo.

Assim, parentesco é a relação que existente entre pessoas que descendem uma das
outras ou de um mesmo tronco comum, entre um dos cônjuges e os parentes do outro, e

entre pessoas que possuem algum vínculo civil.

Assim, a relação por parentesco pode ser:

 Consanguíneo ou natural;
 Por afinidade;

 Civil;

41
20.1 Espécies de parentesco

20.1.1 Natural ou Consanguíneo

Pessoas ligadas por um mesmo tronco ancestral. Possuem um vínculo biológico ou de


sangue, originados de um mesmo tronco comum.

GRAUS DE PARENTESCO: inicialmente, a contagem dos graus de parentesco é imprescindível


para o conhecimento das relações delas decorrentes e para fins sucessórios. E como é feita
essa contagem? Bom, os parentes em linha reta sempre serão os ascendentes seus ou
descentes, não havendo limites, ou seja: 1º, 2º, 3º, etc. Enquanto que os colaterais sempre
serão os irmãos, tios, sobrinhos e por aí em diante, assim, deverá subir ao ancestral comum e

depois descer até a pessoa com a qual grau de parentesco quer-se descobrir. Em relação ao
cônjuge, entre eles não há parentesco, mas sim sociedade conjugal, aplicando-se, portanto,

estas regras nas relações de afinidade.

20.1.2 Afinidade

É o que se estabelece entre cada cônjuge e os parentes do outro (CC, 1.595), na linha

reta ou colateral. Assim, é o resultante do casamento ou união estável, gerando a relação


entre um cônjuge/companheiro e os parentes do outro, comportando a linha reta (infinita e

permanente) e a colateral, que se extingue com o término do casamento;

42
O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, descendentes e aos irmãos. Apenas!

Não há parentesco por afinidade, por exemplo, de tios ou sobrinhos do cônjuge ou

companheiro.

O parentesco por afinidade na linha reta não dissolve nunca, nem pelo divórcio, nem
pela morte (o impedimento matrimonial se mantém sempre). Na linha colateral se dissolve,

sendo possível o casamento com “ex-cunhado/a”. O parentesco por afinidade também é


aplicável para a união estável.

20.1.3 Civil

É aquele resultante de outra origem que não seja as anteriores, sendo, normalmente,
decorrente do processo de adoção. Atualmente, em razão da evolução tecnológica, a

jurisprudência vem admitindo mais duas espécies desse tipo de parentesco: reprodução
heteróloga (material genético de terceiro) e a socioafetiva.

Tradicionalmente, esse parentesco civil ocorrerá pela adoção. No entanto, a doutrina e

a jurisprudência trazem duas outras formas de parentesco civil:

 Uma por força da reprodução assistida heteróloga, onde é feito uma reprodução
com material genético de um terceiro, sem qualquer vínculo com a pessoa.
 A segunda forma é admitida por força da parentalidade socioafetiva. Inclusive esse
foi o entendimento do STF: “a paternidade socioafetiva declarada ou não em
registro, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante,
baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios” (STF. Plenário. RE
898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840).

43
Enunciado n. 256 do CJF/STJ, III Jornada de Direito Civil: “A posse do estado de filho

(parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil”;

20.2 Filiação

Conforme preceitua Tartuce, trata-se de “relação jurídica existente entre ascendentes e


descendentes de primeiro grau, ou seja, entre pais e filhos”. Ademais, como já tratamos

anteriormente, rege-se pelo Princípio da igualdade de filiação.9

A filiação pode decorrer de dois laços: biológico e afetivo. O reconhecimento da


filiação socioafetiva vem ganhando grande incentivo da doutrina e jurisprudência, tendo em

vista a preservação do princípio da felicidade e da reciprocidade. Não há hierarquia entre


esses vínculos e a jurisprudência tem reconhecido a possibilidade de multiparentalidade.

20.2.1 Natureza Jurídica

20.2.1.1 Biológico

É a genética ou por consanguinidade

 Reprodução humana natural: ocorre pela fecundação;


 Reprodução humana assistida: substitui a concepção natural por métodos clínicos;
 Concepção homóloga: manipulação de gametas masculinos e femininos do
próprio casal, sem necessidade de autorização pelos genitores, exceto se
falecidos;
 Concepção heteróloga: doação de sêmen de um terceiro, desde que tenha
concordância do cônjuge, de modo que o doador é anônimo e se afasta da
paternidade. Assim, gera uma presunção iure et de iure de filiação.

9
Vide questão 8
44
CESSÃO DE ÓVULO X CESSÃO DE ÚTERO – no primeiro caso, ocorre uma doação de óvulo,

regendo-se nos mesmos moldes da doação de sêmen, porém, no segundo caso, ocorre a
gestação sub-rogada, caso em que não haverá o anonimato, contudo, de acordo com o
Conselho Regional de Medicina e pelo Provimento 52 do CNJ deve ser temporária e sem

fins lucrativos, desde que a cedente seja parente até o segundo grau da mãe genética.

EMBRIÃO CRIOPRESERVADO X EXCEDENTÁRIO – no primeiro caso, é considerado, de


acordo com a jurisprudência no julgamento da ADI 3510 que declarou constitucional o art. 5º

da Lei de Biossegurança, como coisa; no segundo caso, são aqueles embriões concebidos por
manipulação genética e que não foram implantados no ventre da mulher, permanecendo

armazenados e sem ser sujeitos de direitos.

20.2.1.2 Socioafetivo (critério não biológico)

Corresponde à verdade aparente decorre do próprio direito de filiação;

 Posse do Estado de filiação: a aparência faz com que todos acreditem na existência
de uma filiação, assim, independe do critério biológico, de modo que é necessário a
verificação de alguns requisitos:
 Estado (tractatus): quando o filho é tratado como tal pelos pais;
 Nome (nominativo): usa o nome de família e assim se apresenta perante a
sociedade;
 Fama (respeitatio): é assim conhecido notoriamente
 Adoção: é uma relação de parentesco civil que decorre da socioafetividade visto
que, por ser um ato jurídico em sentido estrito, se constitui como um parentesco
eletivo mediante um ato de vontade. Sobre a adoção, em razão de sua importância,
vamos tratar detalhadamente em tópico próprio;

45
20.2.1.3 Presunções jurídicas

Têm por finalidade de atribuir a paternidade ou maternidade a alguém em razão de


alguns indícios determinados pela lei;

 Concebidos na constância do casamento (art. 1597, CC): cabem prova em


contrário (regra: juris tantum)
 180 dias após o início da convivência;
 300 dias após a dissolução da sociedade conjugal
 Fecundação artificial homóloga (RHA);
 Embriões excedentários decorrentes de RHA;
 Inseminação artificial heteróloga – presunção iure et de iure
 Impotência para gerar (art. 1599, CC): à época da concepção, afasta a presunção
de paternidade;
 Presunção de paternidade e adultério da mulher (art. 1600, CC): a quebra do
dever de fidelidade não é suficiente para impedir o vínculo de paternidade;
 Imprescritibilidade da ação negatória de paternidade ( pater es est) pelo marido
(art. 1601, CC): despreza a teoria da socioafetividade e conforme o Enunciado n.
339 do CJF/STJ, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, deve ser vedado o
rompimento da paternidade socioafetiva em detrimento do melhor interesse do
filho. Ainda, conforme o art. 1602, não basta a confissão da mulher para excluir a
paternidade;

A ação negatória de paternidade é personalíssima, sendo imprescritível o direito. Contudo, é


imprescritível o pedido de reconhecimento de paternidade, mas não o é o de petição de

herança (prescritível). Neste sentido, por não haver expressa previsão legal sobre o prazo
prescricional, aplica-se a regra geral de 10 anos, para a petição de herança. O prazo de um

46
ano para o pedido de anulação de partilha, começa a contar da data do trânsito em julgado

da decisão que reconheceu a filiação, e não da decisão que resolveu a partilha.

 Mater in jure semper certa est (art. 1608, CC): a mãe registral tem legitimidade
para impugnar a maternidade desde que comprovado a falsidade da declaração
registral;

20.2.2 Reconhecimento de filhos (arts. 1601 a 1617, CC)

O filho havido fora do casamento (filiação extramatrimonial) poderá ser reconhecido


pelos pais, antes do nascimento ou post mortem, de forma conjunta ou separada,

inexistindo a expressão filho ilegítimo/legítimo. Ademais, é irrevogável, podendo ser realizado


por:10

 Registro de nascimento;
 Escritura pública ou particular;
 Testamento, legado ou codicilo, ainda que incidentalmente;
 Manifestação direta e expressa em processo judicial, podendo ser ação
investigatória de paternidade/maternidade, ou então, em qualquer outro tipo de
processo judicial, mesmo que sem a intenção de constituir estado de filiação;

O reconhecimento de filho não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em

testamento. Mas, importante destacar que, excepcionalmente será permitida a revogação ao


reconhecimento de filho se o registro resultou de erro, ou seja, o pai registral de fato

acreditava que registrava seu filho.

10
Vide questão 15
47
Neste caso, de acordo com o STJ, será autorizada a desconstituição do registro, desde que
seja imediatamente após a descoberta da fraude e que haja o rompimento instantâneo do

vínculo afetivo com o filho putativo.

20.2.3 Pluriparentalidade

É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de

nascimento na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que foi registrado conforme
prática conhecida como “adoção à brasileira”. O reconhecimento da paternidade socioafetiva

não exime o pai biológico da obrigação decorrente dos alimentos.

A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o


reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com efeitos
jurídicos próprios. Neste caso, materializa-se o reconhecimento da multiparentalidade. É
possível, ainda, o reconhecimento de paternidade socioafetiva pós-mortem.

20.2.4 Adoção

Trata-se de forma tradicional de parentesco civil cujos regramentos estão dispostos


no ECA, que se constitui como um ato jurídico em sentido estrito, de natureza complexa,

dependendo de homologação judicial, independentemente se for adoção de menores ou de


maiores.

Ademais, trata-se de medida excepcional, irrevogável e definitiva, pois se deve adotar

apenas quando estiverem esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente


na família natural (comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes)

ou extensa (se estende para além da unidade pais e filhos/casal, formada por parentes
próximos com os quais a criança ou adolescente conviva e mantém vínculos de afinidade e
afetividade).

Aos adotados, estão assegurados os mesmos direitos e qualificações dos filhos


havidos ou não durante o matrimônio, pois a origem da filiação é única e se apaga quando
do processo de adoção. Desse modo, desliga-se de qualquer vínculo com os pais

biológicos, salvo quanto aos impedimentos para casamento.

48
 Quanto aos requisitos para a adoção, existem:
 Idade: maior de 18 anos;
 Diferença de idade entre o adotante e o adotado: 16 anos;
 Oitiva do menor: a partir dos 12 anos, sendo obrigatória;
 Irmãos: devem ser colocados para adoção na mesma família, priorizando a
manutenção do convívio familiar pré-estabelecido.
 Tipos de adoção:
 Unilateral: feita pelo cônjuge ou companheiro com relação ao filho de seu
par. (padrasto/madrasta);
 Conjunta: realizada por duas pessoas, casadas civilmente ou que mantenham
união estável, comprovando a estabilidade familiar e podendo ser, inclusive,
decorrente de relação homoafetiva conforme o Informativo n. 432 do STJ;
 Divorciados: é excepcional, desde que o processo de adoção já tenha sido
instaurado antes do divórcio, assim, o adotado já se encontrava integrado à
convivência familiar. Portanto, a lei é clara ao determinar que já tenha tido
estágio de convivência prévio ou já houver criado vínculos afetivos e de
afinidade;
 Póstuma: por ser concebida desde que o adotante venha a falecer no curso
do processo de adoção, desde que tenha manifestado inequívoca vontade,
assim, o efeito da sentença retroagirá à data do óbito, excepcionalmente, já
que a regra é que a sentença produza efeitos a partir do seu trânsito em
julgado (ex nunc). O adotado, nesse caso, deverá ser totalmente integrado à
família do de cujus.

Adoção post mortem mesmo que não iniciado o procedimento formal enquanto vivo. Pelo
texto do ECA, a adoção post mortem (após a morte do adotante) somente poderá ocorrer se
o adotante, em vida, manifestou inequivocamente a vontade de adotar e iniciou o

49
procedimento de adoção, vindo a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a
sentença. Se o adotante, ainda em vida, manifestou inequivocamente a vontade de adotar

o menor, poderá ocorrer a adoção post mortem mesmo que não tenha iniciado o
procedimento de adoção quando vivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1217415-RS, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 19/6/2012.

Veda-se a adoção por procuração, pois se trata de ato de caráter personalíssimo, e,

também, adoção por irmãos ou por ascendentes. Sobre esse último aspecto, vide Informativo
n. 551 do STJ/14 que, por situações excepcionais do caso concreto, permitiu a adoção de

descendentes por ascendentes (ex.: avó que quer adotar o neto).

Adoção à brasileira: trata-se da situação em que uma pessoa registra filho alheio como
próprio. Não é uma modalidade legítima de adoção, pelo contrário, configura o crime do at.

242 do Código Penal. De acordo com o STJ11, é possível a desconstituição da paternidade


registral, se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de
registrar a criança e que não é pai biológico do seu filho registral, ele poderá contestar a

paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604 do CC). Não se pode obrigar
o pai registral, induzido a erro substancial, a manter uma relação de afeto, igualmente calcada

no vício de consentimento originário, impondo-lhe os deveres daí advindos, sem que,


voluntária e conscientemente, o queira. Vale ressaltar, no entanto, que, para que o pai registral

enganado consiga desconstituir a paternidade, é indispensável que tão logo ele tenha sabido
da verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo imediatamente

o vínculo afetivo. Se o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda
manteve vínculos afetivos com o filho registral, neste caso ele não mais poderá desconstituir a

11
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
50
paternidade. A situação acima descrita é diferente da chamada “adoção à brasileira”, que
ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como

sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade. No caso de adoção à brasileira, o pai
sabe que não é genitor biológico (ele não foi enganado). Caso o pai registral se arrependa

da “adoção à brasileira” realizada, ele NÃO poderá pleitear a sua anulação. O pai que
questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que ele próprio registrou
conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais especificamente a regra da "venire

contra factum proprium" (proibição de comportamento contraditório). Para que seja possível a
anulação do registro, é indispensável que fique provado que o pai registrou o filho

enganado (induzido em erro), ou seja, é imprescindível que tenha havido vício de


consentimento. Em contrapartida, o STJ12 já decidiu que é possível o reconhecimento da

paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento na hipótese em que isso for


pleiteado pelo filho que foi registrado conforme prática conhecida como “adoção à

brasileira”. Caracteriza violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito


de conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade
psicológica de se conhecer a verdade biológica. Se o exame de DNA provar que o adotado

não é filho biológico do pai registral, o juiz NÃO terá que, obrigatoriamente, julgar
procedente o pedido, declarar/desconstituir a paternidade e anular o registro, pois, segundo já

decidiu o STJ13, o êxito em ação negatória de paternidade, consoante os princípios do


CC/2002 e da CF/1988, depende da demonstração, a um só tempo, de dois requisitos: a)

Inexistência da origem biológica; b) Não ter sido construída uma relação socioafetiva
entre pai e filho registrais. Assim, para que a ação negatória de paternidade seja julgada

procedente, não basta apenas que o DNA prove que o “pai registral” não é o “pai biológico”.
É necessário também que fique provado que o “pai registral” não é “pai socioafetivo”, ou

seja, que não existe relação socioafetiva entre pai e filho.

12
STJ. 4ª Turma. REsp 1.167.993-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.
13
STJ. 4ª Turma. REsp 1059214-RS, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/2/2012.
51
20.2.5 Ação Investigatória de Paternidade/Maternidade

A ação investigatória de paternidade ou maternidade é uma forma de reconhecimento

judicial de filhos, cujo procedimento, de acordo com o NCPC é comum. Visa-se, mediante
tal processo, a comprovação da verdade real ou biológica da parentalidade.

Possui natureza declaratória e envolve o estado de pessoas e a dignidade humana,

assim, é imprescritível (art. 27, ECA c/c Súmula 149, STF). O foro competente dependerá se foi
proposta isoladamente ou cumulada com outros pedidos, devendo ser observado o

regramento de competências do NCPC.

Quanto à legitimidade ativa para a ação, ela é personalíssima do filho, em regra,


porém, se ele for menor de idade, poderá haver o instituto da representação, se menor de 16

anos, ou, assistência, se possuir entre 16 e 18 anos.

Ademais, o Ministério Público possui legitimidade extraordinária e pode atuar como


substituto processual. Quanto à legitimidade passiva, em regra, será contra o suposto

pai/mãe, porém, em caso de falecimento destes, poderá ser proposta contra os herdeiros (não
é contra o espólio, pois é uma ação de caráter pessoal) ou, caso não existam, contra o Estado

que receberá os bens vagos, ou, ainda, contra o avô/avó, caso em que a ação se denominará
ação avoenga.

Sobre essa ação, duas súmulas são muito importantes: Súmula 301 do STJ: “Em ação

investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção


juris tantum de paternidade” e Súmula 277 do STJ que “Julgada procedente a investigação

de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação”.

52
O adotado não possui legitimidade para ingressar com a ação de investigação, visto que a

ação tem o condão de constituir o estado de filiação através do critério biológico. Assim,
caso o adotado tenha a necessidade de conhecer suma origem genética, deve-se pretendê-la
por meio de outra ação ordinária. Essa situação se aplica, também, àquele que possui pai

registral, pois, como sabemos, havendo o registro e ciência de que não é seu filho, presume-
se a parentalidade e, mesmo que não tivesse esse conhecimento, aplicar-se-ia a parentalidade

socioafetiva no caso concreto.

Assim, o direito ao reconhecimento de paternidade é personalíssimo. Neste sentido, o


filho não tem legitimidade para pedir pessoalmente que seja reconhecida a filiação de sua
mãe. Porém, poderá, em nome próprio, pedir o reconhecimento do vínculo ascendente, em

ação proposta em face de seus avós.

20.2.6 Prova da Filiação

Ocorre através do registro de nascimento, que, em regra, não cabe quebra, exceto
quando o registro tiver sido realizado por meio de erro ou falsidade. Contudo, não poderá

afastar a parentalidade socioafetiva, incluindo-se, inclusive, o pai biológico no registro de


nascimento, para todos os fins jurídicos, em virtude da possibilidade da multiparentalidade.

53
O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui

elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável.14

14
REsp 1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012.
54
21. Poder Familiar

Anteriormente, o poder familiar era denominado de pátrio poder, o que remonta à era

da família patriarcal, hoje, totalmente superada. Nesse sentido, o poder familiar decorre do
vínculo jurídico de filiação, sendo exercido por ambos os pais quanto aos filhos

(colaboração familiar).

Assim, é o conjunto de direitos e deveres instituído para a proteção do filho menor


não emancipado. Trata-se de um múnus público, ou seja, um encargo, um dever. É um

poder-dever irrenunciável, intransferível (delegável para terceiros), inalienável, imprescritível


de obrigações personalíssimas.

Ademais, é exercido em igualdade de condições pelo pai ou pela mãe. Devem os pais

cuidar da educação e bem-estar dos filhos e zelar por seus bens. Apenas na falta ou
impedimento de um dos pais (morte, declaração de ausência, incapacidade, etc.) é que ele
será exercido de forma exclusiva por um deles.

Assegura-se a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à


autoridade judiciária competente para a solução da divergência. A separação judicial, o
divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder familiar. No entanto, o
exercício de ambos fica prejudicado, havendo um lógico enfraquecimento dos poderes de
quem ficou privado da guarda dos filhos.

21.1 Características

 Sujeitos (art. 1630, CC): se submetem ao poder familiar todos filhos menores e
incapazes (0-18 anos);

 Exercício (art. 1634, CC), extinção (art. 1635, CC), suspensão (art. 1636, CC) e
destituição (art. 1638, CC);

 Efeitos patrimoniais (arts. 1689 a 1693, CC);

55
O poder familiar é incompatível com a tutela, pois esta só ocorre quando há uma ausência

do poder familiar (morte, destituição, etc.).

21.2 Direitos e Deveres

O art. 1.634, CC enumera os direitos e deveres:

 Dirigir-lhes a criação e educação;


 Tê-los em sua companhia e guarda;
 Conceder-lhes, ou negar-lhes consentimento para casarem;

 Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais


lhe não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercitar o poder familiar;

 Representá-los, até aos 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los,
após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
 Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

 Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição.

21.3 Administração

Trata-se de efeito patrimonial do poder familiar, determinando o CC que cabem aos


pais o uso e administração dos bens do menor, sendo desnecessária a prestação de

contas. Os pais, em igualdade de condições, são os administradores legais dos bens dos
filhos. Para alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis dos filhos (ex: hipotecar) precisam
obter autorização judicial, mediante a demonstração da necessidade. Deve sempre se levar

em conta os interesses dos menores. Se a venda se efetivar sem a autorização judicial,


padecerá de nulidade.

56
Porém, apesar disso, não poderão se apropriar de todos os rendimentos do filho, a
não ser que necessária para despesas comuns da família em prol do melhor interesse do

filho. Ainda, é um direito concedido a ambos os pais, em conjunto, e, em caso de


divergência de vontade, será possível o suprimento judicial.

Ressalta-se que os valores recebidos e os bens adquiridos pelo filho maior de 16

anos são reservados, ou seja, caso tenham sido obtidos por meio de atividade laboral
adequada, não se sujeitarão à administração dos genitores. Dessa forma, atingindo a

maioridade, os bens lhe serão entregues, juntamente com os acréscimos respectivos, não
sendo exigida qualquer prestação de contas ou remuneração.

21.3.1 Vedação (art. 1691, CC)

Os pais não poderão alienar ou gravar ônus os imóveis dos filhos, nem contrair, em
nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo se

interesse da prole através de autorização judicial.

21.3.2 Exclusão (art. 1693, CC)

Os bens adquiridos pelos filhos extramatrimoniais antes do reconhecimento, valores


aferidos pelos filhos maiores de 16 anos, no exercício da atividade profissional e bens deles
decorrentes, os bens que foram deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem
usufruídos ou administrados pelos pais e os bens que cabem aos filhos por herança, quando
os pais tiverem sido excluídos (atos de indignação ou deserdação) da sucessão.

21.4 Usufruto

Enquanto estiverem no exercício do poder familiar cabe aos pais a administração dos
bens dos filhos menores, bem como o direito ao usufruto e as rendas desses bens. Trata-se

do chamado usufruto legal. No entanto, caso ocorra alguma divergência na administração,


caberá ao Juiz resolver a situação.

21.5 Extinção, Suspensão e Perda

O art. 1.635, CC menciona as causas de extinção do poder familiar:


57
 Morte dos pais ou do filho;
 Emancipação;

 Maioridade;
 Adoção;

 Decisão judicial.

O caput do art. 1.637, CC e seu parágrafo único mencionam as causas de suspensão do


poder familiar. A suspenção ocorre quando os pais são afastados temporariamente do

exercício, podendo posteriormente retomá-lo:

 Se o pai, ou mãe, abusar da sua autoridade, faltando aos seus deveres ou


arruinando os bens dos filhos;

 Se o pai ou a mãe forem condenados por sentença irrecorrível, em crime cuja


pena exceda a dois anos de prisão.

Se a suspensão for de apenas um dos pais, subsiste a do outro.

Já o art. 1.638, CC menciona as causas de perda ou destituição do poder familiar, por


ato judicial, do pai, ou da mãe, por infrações graves:

 Castigar imoderadamente o filho;

 Deixá-lo em abandono;
 Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
 Incidir reiteradamente nas faltas previstas no artigo 1.367 do CC;

 Entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.

58
A lei 13.715/18 trouxe o parágrafo único do art. 1.638 do CC, acrescentando mais algumas

formas de perda do poder familiar.

 Praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: a) homicídio,

feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se


tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo

ou discriminação à condição de mulher; b) estupro ou outro crime contra a


dignidade sexual sujeito à pena de reclusão;

 Praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio, feminicídio ou lesão


corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à

condição de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a


dignidade sexual sujeito à pena de reclusão.

A perda é definitiva, embora em alguns casos seja possível o restabelecimento, se for

provada a regeneração do genitor ou desaparecida a causa da perda. Além disso, a falta ou a


carência de recursos não é motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

Em casos de suspensão ou perda do poder familiar de ambos os pais, será nomeado

um tutor para o menor. A suspensão ou a perda do poder familiar não desobriga o genitor
de continuar sustentando o filho.

A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder

familiar (com exceção da guarda, que representa parte desse poder e enfraquece o poder
familiar de quem não ficou com os filhos).

CONTEÚDO E EXERCÍCIO
 Criação e a educação;
 Guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;

59
 Conceder ou negar consentimento para casarem;
 Conceder ou negar consentimento para viajarem ao exterior;
 Conceder ou negar consentimento para mudarem sua residência permanente para outro
Município;
 Nomear tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
 Representação dos absolutamente incapazes e assistência dos relativamente incapazes,
judicial e extrajudicialmente;
 Reclamá-los de daquele que o tem poder posse ilegal (sem guarda);
 Obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição;
EXTINÇÃO
Tem caráter efetivo e não quebra o vínculo de parentesco:
 Morte dos pais ou do filho;
 Emancipação;
 Maioridade;
 Adoção (poder familiar derivado);
 Decisão judicial, na forma do artigo 1.638 (destituição do poder familiar);
SUSPENSÃO
Trata-se de medida menos grave e, inclusive, facultativa, podendo o juiz deixar de aplicá-las
ou, se superadas as caudas que a provocaram, cancelá-las, sempre observando o melhor
interesse da criança. São legitimados qualquer parente ou o próprio Ministério Público.
Assim, se:
 Abusar de autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos
filhos,
 Condenação por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
de prisão;
DESTITUIÇÃO/PERDA
Tem caráter temporário e não tem o condão de, por si só, quebrar a relação de parentesco.
É imposta por sentença judicial de forma imperativa:
 Castigar imoderadamente o filho;
 Deixar o filho em abandono;
 Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
 Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas nos casos de suspensão do poder familiar;
 Entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção;

60
 Praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: a) homicídio,
feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar
de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher; b) estupro ou outro crime contra a dignidade
sexual sujeito à pena de reclusão;
 Praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio, feminicídio ou lesão
corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição
de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual
sujeito à pena de reclusão.

21.6 Guarda (arts. 1583 a 1590 do CC)

Trata-se de direito-dever dos pais de terem consigo seus filhos a fim de garantir-lhes
pleno desenvolvimento. Ela poderá ser deferida a ambos, a um deles ou a alguém que os
substituam, verificando, sempre, o melhor interesse do menor.

21.6.1 Espécies de guarda

 Unilateral: apenas um dos genitores exerce a guarda, enquanto que ao outro,

permanece o direito de visita, a ser acordado por meio do processo judicial, sem
perder o poder familiar em razão disso;

 Alternada: o tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando a


viver alternadamente, de acordo com o que for ajustado, residindo juntamente com
um e com o outro (residências alternadas). Nesse caso, a melhor doutrina afirma

que deve ser excepcional, pois não preenche os requisitos essenciais da guarda
compartilhada, que deve ser fomentada;

 Compartilhada: é a guarda conjunta por meio da convivência simultânea,


corresponsabilidade do exercício do poder familiar e com definição da residência

preferencial do filho, sendo a regra no ordenamento jurídico. Nesse caso, ocorre


a participação plena no processo de desenvolvimento dos filhos, visando minorar os

61
efeitos do divórcio. Assim, deve ser preferencial às demais, mesmo que não tiver
acordo entre os pais sobre isso, exceto em alguns casos legais.15

 De fato: consolidada pela convivência e cuidado do responsável para com o


menor.

Ademais, outro aspecto a ser ressaltado é que quando a guarda for deferida a terceiros,

ou enquanto a criança for colocada em família substituta, não se extingue o poder familiar dos
pais, que não ficam livres de outras responsabilidades, a exemplo da prestação de alimentos.

Assim, a espécie de guarda que será aplicada é definida da seguinte forma:

 A guarda será definida por consenso entre o pai e a mãe; ou

 Se não houver acordo, será decretada pelo juiz.

Quando o magistrado for fixar a guarda, deverá levar em consideração as necessidades


específicas do filho e a distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e a

mãe, e sempre que possível, deve ser tentada a conciliação.

Caso não tenha havido acordo, a espécie de guarda que o juiz deverá
preferencialmente determinar aplicar a guarda compartilhada. Contudo, não será aplicada a

guarda compartilhada se: um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar; ou
um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.

21.7 Direito assistencial de família

Visa-se, através dos institutos da tutela e curatela, a defesa dos interesses dos
incapazes, possibilitando a realização de atos civis em seu nome.

A tutela objetiva resguardar interesses de menores não emancipados, não sujeitos ao

poder familiar e a curatela, por sua vez, dá assistência nos interesses de maiores incapazes,
interditados. Ambos possuem dever de prestação de contas, ao contrário do que ocorre com

os pais no uso e administração dos bens do filho.

15
Vide questão 5
62
21.7.1 Tutela (arts. 1728 a 1766 do CC)

A tutela pode ser realizada através da representação ou da assistência, desde que não

estejam submetidos ao poder familiar, premissa principal desse instituto 16.

Ela pode ser:

 Testamentária: por testamento ou codicilo;

 Legítima: na falta de tutor nomeado pelos pais; ou


 Dativa: na falta das anteriores, aos ascendentes, preferindo o de grau mais

próximo ao mais remoto ou aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais
próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços;
em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela

em benefício do menor, por meio de nomeação do juiz.

Quando houver irmãos órfãos, apenas um tutor será nomeado, em razão do Princípio
da unicidade da tutela. Quanto aos demais regramentos, é imprescindível a leitura da

legislação civilista.

O Relativamente Incapaz é Assistido (Bizu: RIA), já o Absolutamente Incapaz é Representado

(Bizu: AIR - o contrário de RIA).

 São incapazes de exercer a tutela (art. 1.735), não podendo ser tutores e sendo
exonerados da tutela, caso a exerçam:
 Aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;

 Aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem


constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer

16
Vide questão 14
63
direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem
demanda contra o menor;

 Os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes


expressamente excluídos da tutela;

 Os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a


família ou os costumes, tenham ou não cumprido pena;
 As pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas de

abuso em tutorias anteriores;


 Aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa

administração da tutela.
 Podem escusar-se da tutela (art. 1.736 e 1737):

 Mulheres casadas;
 Maiores de sessenta anos;

 Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;


 Os impossibilitados por enfermidade;
 Aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;

 Aqueles que já exercerem tutela ou curatela;


 Militares em serviço;

 Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela,
se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de

exercê-la.

A escusa deverá ser apresentada nos dez dias subsequentes à designação, sob pena

de entender-se renunciado o direito de alegá-la, contudo, se o motivo escusatório ocorrer


depois de aceita a tutela, os dez dias serão contados do em que ele sobrevier.

Se o juiz não admitir a escusa, exercerá o nomeado a tutela, enquanto o recurso


interposto não tiver provimento, e responderá desde logo pelas perdas e danos que o
menor venha a sofrer.

Os tutores são obrigações a realizar prestação de contas, ainda que ao contrário


tivessem disposto os pais dos tutelados. No fim de cada ano de administração, os tutores

64
submeterão ao juiz o balanço respectivo, que, depois de aprovado, se anexará aos autos do
inventário.

Os tutores prestarão contas de dois em dois anos, e também quando, por qualquer

motivo, deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o juiz achar conveniente. As contas
serão prestadas em juízo, e julgadas depois da audiência dos interessados, recolhendo o

tutor imediatamente a estabelecimento bancário oficial os saldos, ou adquirindo bens imóveis,


ou títulos, obrigações ou letras.

Caso a tutela seja finalizada pela emancipação ou maioridade, a quitação do menor

não produzirá efeito antes de aprovadas as contas pelo juiz, subsistindo inteira, até então, a
responsabilidade do tutor. Ainda, nos casos de morte, ausência, ou interdição do tutor, as

contas serão prestadas por seus herdeiros ou representantes.

Serão levadas a crédito do tutor todas as despesas justificadas e reconhecidamente


proveitosas ao menor e as despesas com a prestação das contas serão pagas pelo tutelado. O

alcance do tutor, bem como o saldo contra o tutelado, são dívidas de valor e vencem juros
desde o julgamento definitivo das contas.

 Cessa a condição de tutelado (art. 1.763):

 Com a maioridade ou a emancipação do menor;


 Ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.
 Cessam as funções do tutor (art. 1.764):

 Ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;


 Ao sobrevir escusa legítima;

 Ao ser removido.

O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos, podendo continuar no exercício
da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar conveniente ao

menor.

Será destituído o tutor, de acordo com o art. 1.766, quando negligente, prevaricador
ou incurso em incapacidade.

65
21.7.2 Curatela (arts. 1767 a 1783 do CC)

Com o advento do Estado da Pessoa com Deficiência, não existe mais absolutamente

incapazes maiores, assim, esse instituto incide apenas em relação aos maiores relativamente
incapazes, sendo esse rol taxativo17 (art. 1767, CC):

 Ébrios habituais;

 Viciados em tóxicos;
 As pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir vontade;

 Os pródigos: a interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar,


transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e

praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. (Atos


patrimoniais)

A incapacidade não se presume, portanto, deve ser declarada judicialmente e assim, o

curador, em ordem de preferência, serão o cônjuge/companheiro, pai/mãe, descendente


mais apto ou, então, curador dativo.

É possível, ainda, determinar curador ao nascituro, quando o pai falecer e a mulher

estiver grávida, mas não tiver mais o poder familiar e, ainda, se ela já estiver interditada, o
curador dela será o mesmo para o nascituro.

Quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do casamento for de comunhão

universal, não será obrigado à prestação de contas, salvo determinação judicial.

21.7.3 Tomada de decisão apoiada (art. 1783-A do CC)

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, marco no Brasil por ter sido junto ao seu
protocolo facultativo, o primeiro tratado internacional de Direitos Humanos, a ter status de
Emenda Constitucional, trouxe uma inegável evolução para a promoção da dignidade humana,

inerente a todos os cidadãos, sem discriminação.

17
Vide questão 1
66
Neste sentido, ao alterar os artigos 3º e 4º, do Código Civil, foi conferida plena
capacidade aos portadores de deficiência, para o desenvolvimento de todos os atos da vida

civil. Assim, a deficiência não afeta a plena capacidade civil, tendo o indivíduo direito de
casar, exercer os direitos sexuais e reprodutivos, ter filhos e conservar sua fertilidade, usufruir

do convício familiar, bem como exercer guarda, tutela, curatela e adoção.

Como medida de proteção e preservação dos direitos, foi criado o instituto da tomada
de decisão apoiada (artigo 1.783 – A CC), que consiste em ato unilateral de vontade da

pessoa com deficiência que nomeia, ao menos, duas outras pessoas idôneas para apoiá-lo
nas decisões sobre a vida civil.

O pedido será feito ao juiz, que, junto com medida multidisciplinar, após a oitiva do
Ministério Público, e das pessoas que serão apoiadoras, decidirá sobre a pretensão.

Após a autorização, em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo discordância de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores,

deverá o juiz, ouvindo o Ministério Público, decidir sobre a questão.

A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar ao juiz sua exclusão de sua
participação em processo de tomada de decisão apoiada, sendo o desligamento

condicionado a autorização judicial.

Diante da evolução do ordenamento jurídico, o instituto da curatela (artigos 1.767 e

seguintes do CC) passou a ser medida excepcional, aplicada em último caso, porém,
desvinculada da deficiência em si, sendo o procedimento hoje mais aplicado aos idosos em

idade avançada, que demandam apoio especial.

Em que pese o erro no termo trazido pelo novo Código de Processo Civil (artigos 747

a 758), há entendimento é que o antigo instituto da interdição não existe mais, sendo que o
título deveria ser “curatela”, já que as limitações estão ligadas a questões patrimoniais, de

forma que o curatelado exerce todos os outros direitos de forma livre. No entanto, existe forte
corrente no sentido de ainda existir a interdição.

67
Sobre o tema, importante verificar o seguinte julgado:

O motivo que levou o juiz a decretar a curatela pode deixar de existir. Neste caso, deverá ser

ajuizada uma ação para levantamento da curatela. É o que prevê o art. 756 do Código Civil:
Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. § 1º O pedido de

levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério
Público e será apensado aos autos da interdição. O rol de legitimados para propor a ação de

levantamento de curatela, previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015, não é taxativo. Exemplo:


João foi atropelado por um veículo conduzido por funcionário da empresa “X”. Em razão das

sequelas sofridas, João foi interditado. Em ação de indenização movida por João contra a
empresa, a ré foi condenada a pagar pensão mensal vitalícia em virtude de, supostamente, o
autor não poder mais trabalhar. Passados alguns anos, a empresa “X” ajuizou ação de

levantamento da curatela em face de João ao fundamento de que há prova, posterior à


sentença de interdição, que atestaria que o interdito não possui mais a enfermidade que

justificou a sua interdição. Por entender que existem elementos probatórios suficientes para
demonstrar que o interdito não possui mais a patologia que resultou em sua interdição, o que

poderia gerar também a cessação da pensão vitalícia, o STJ concluiu que a empresa, mesmo
não estando no rol do art. 756, § 1º do CPC/2015, possui legitimidade para o ajuizamento da

ação de levantamento da curatela. STJ. 3ª Turma. REsp 1.735.668-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi,

julgado em 11/12/2018 (Info 640).

68
22. Alimentos

22.1 Conceito e pressupostos

São prestações devidas pelo alimentante para a satisfação das necessidades pessoais

daquele alimentado, que não pode provê-las por meio do trabalho próprio, em razão do
dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo com a sua

dissolução.

Nesse sentido, são pressupostos da prestação de alimentos:

 Vínculo de parentesco, casamento/união estável;


 Necessidade do alimentando;
 Possibilidade do alimentante;

Assim, são prestações para a satisfação das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si, de modo a propiciar-lhe uma vida digna18.

22.2 Características

 Personalíssimo: em razão do caráter intuito personae, não se transmitindo aos


herdeiros do credor;
 Reciprocidade: entre cônjuges e companheiros, pais e filhos, estendendo-se a todos
os ascendentes. Nesse sentido, há uma ordem sucessória: ascendente do grau mais
próximo que exclui o mais remoto, os descendentes nesse mesmo sentido e os
irmãos, com preferência aos bilaterais e, depois, unilaterais;
 Irrenunciabilidade: veda-se a renúncia de alimentos, porém, a doutrina e
jurisprudência majoritárias entendem possível a renunciá-los em caso de
separação/divórcio (Enunciado n. 263 do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil);

18
Questão 3
69
Preceitua o art. 1.707, CC que: “Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é
vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,

compensação ou penhora.”

A não postulação em juízo é interpretada como falta de exercício e não significa


renúncia. A Súmula 379 do Supremo Tribunal Federal prevê, no tocante à mulher, que “no

acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados
ulteriormente, verificados os pressupostos legais”.

No entanto, atualmente a jurisprudência vem se posicionando no sentido de ser

possível a renúncia por não se tratar de alimentos em razão de parentesco (estes sim
irrenunciáveis). Como marido e mulher não são parentes, há quem sustente que o princípio da

irrenunciabilidade não se aplica aos cônjuges (o tema ainda é muito controvertido – para
provas objetivas aconselhamos continuar afirmando a irrenunciabilidade).

 Obrigação divisível (complementariedade/responsabilidade subsidiária): sendo


várias pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção
de seus recursos. Ex.: alimentos avoengos. Como exceção, há a solidariedade em
caso do idoso, em razão do que dispõe o Estatuto do Idoso, em seu art 12.

Assim, a obrigação alimentar é divisível e não solidária. Havendo quatro filhos em

condições de pensionar o ascendente, não se pode exigir de um só deles o cumprimento da


obrigação por inteiro. O ascendente deve acionar todos os filhos.

É possível, desta forma, exigir os alimentos, simultaneamente de parentes de classes

diferentes, quando verificada a impossibilidade dos mais próximos suportarem totalmente o


encargo.

 Imprescritibilidade: pois envolve estado de pessoas e dignidade humana, porém, se


foi fixada em sentença ou em ato voluntário, prescreverá a execução em 2 anos a
partir da data de vencimento, conforme regra específica de prescrição prevista no
art. 206, § 2º do CC;
 Inalienabilidade: não pode ser objeto de cessão gratuita ou onerosa, nem de
crédito, não podendo, também, alienados de qualquer forma;
 Incompensáveis: veda-se que os alimentos sejam objetos de compensação;
70
 Impenhoráveis: em razão de ser personalíssima e inalienável;
 Irrepetível: é uma obrigação moral, assim não é passível de repetição. Isso significa
dizer que se trata de obrigação satisfativa pela qual não cabe pedir a devolução
do que se prestou caso não sejam mais devidas. Assim, a exemplo dos alimentos
provisórios, caso, ao final do processo o juiz determine que os alimentos não são
mais cabíveis, não podem ser devolvidos, pois, à época, eram legítimos. Contudo,
em se tratando de má-fé do credor, evitar-se-á o enriquecimento ilícito, podendo
haver a sua devolução;
 Não admite transação: pois não se trata de um direito patrimonial de caráter
privado, não podendo ser objeto de compromisso ou arbitragem;
 Transmissível: aos herdeiros do devedor, prevalecendo o entendimento de que
ocorre nos limites da herança (Enunciado n. 343 do CJF/STJ, da IV Jornada de
Direito Civil);
 Mutabilidade: é a principal característica dos alimentos, pois pode ser alterado a
qualquer tempo em razão da alteração fática do binômio necessidade x
disponibilidade, fazendo apenas coisa julgada formal.

O direito se transforma em obrigação legal diante do binômio


necessidade/possibilidade: necessidade de quem pede e possibilidade de quem deverá

pagar. Ou seja, quando quem os pretende não tens bens suficientes, nem pode prover, pelo
seu trabalho, a própria subsistência e aquele de quem se reclamam pode fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento. Há uma relação de proporcionalidade (art. 1.694,
§1º, CC).

O dever de prestar alimentos é imposto por lei para que se possam garantir as

necessidades vitais do alimentado. Trata-se de uma norma de ordem pública, cogente e que
não pode ser alterada pela vontade das partes.

O direito aos alimentos é um direito personalíssimo; portanto não pode ser cedido a

outrem. Além disso, é imprescritível e impenhorável. O credor até pode abrir mão do seu
exercício, mas nunca do direito aos alimentos em si.

71
A expressão “alimentos” compreende: alimentação propriamente dita, vestuário,
habitação, tratamento médico etc. Se o alimentando for menor, incluem-se as verbas de

educação.

A obrigação de prestar alimentos abrange, reciprocamente, descendentes,


ascendentes e irmãos germanos (bilaterais) ou unilaterais, conforme os arts. 1.694, 1.696 e

1.697, CC, além do art. 229, CF/88. O direito brasileiro só admite os alimentos atuais e
futuros, visto que os referentes ao período anterior à propositura da ação não são devidos.

Quanto aos alimentos avoengos (obrigação alimentar dos avós em relação aos netos), esses
têm natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de

impossibilidade de cumprimento, total ou parcial, pelos pais (Súmula n.º 596 do STJ).

A obrigação alimentar entre cônjuges decorre do dever de ambos à mútua


assistência, que permanece mesmo após a separação e mesmo que seja em ação judicial
litigiosa. Não é fruto da relação de parentesco, mas sim da mútua assistência em decorrência
da dissolução da sociedade conjugal.

Assim, o ex-cônjuge ou o ex-convivente também pode ser beneficiário de alimentos.

Observe o rigor da atual legislação quanto ao tema: o art. 1.704, parágrafo único, CC,
estabelece que “Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver
parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será

obrigado a assegurá-los, fixando o Juiz o valor indispensável à sobrevivência”.

Assim, os alimentos podem ser supridos:

 Por meio de pensão ao alimentando (geralmente mensais, mas nada impede que

sejam fixados de outra forma); ou

72
 Por meio de hospedagem e sustento (sem prejuízo ao necessário à educação, se
for menor).

O dever de prestar alimentos cessa se a pessoa que recebe os alimentos passar a viver

maritalmente com outra pessoa (novo casamento, união estável ou concubinato), bem como
no caso de procedimento indigno para com o devedor. Os alimentos fixados ou acordados

podem ser revistos (exoneração, redução ou majoração) sempre que sobrevier mudança na
situação econômica do alimentando ou do alimentante.

O não cumprimento da obrigação sujeita o alimentante a sanções civis e penais.

22.3 Classificação dos alimentos

22.3.1 Quanto à fonte

 Legais: também denominados de familiares, são aqueles que decorrem da

disposição legal, relativamente ao casamento, união estável ou das relações de


parentesco. Em caso de não pagamento, cabe prisão civil do devedor (art. 5º, LXVII,

CF/88) nos moldes do NCPC;


 Convencionais: decorrem de norma contratual, testamento ou legado;

 Indenizatórios: são devidos em razão da prática de um ato ilícito que acarretou

dano para o credor;

22.3.2 Quanto à extensão

 Civis (regra): destinados a manter a qualidade de vida do credor, de modo a

preservar o mesmo padrão e status social do alimentante. Assim, afirma-se que os


alimentos devem, na verdade, ter o condão de manter o padrão de vida (art. 1694,

CC);
 Naturais (exceção): visa a mera subsistência (art. 1694, § 2º c/c art. 1695, CC) e

ocorre quando o cônjuge por culpado da própria penúria ou em caso de separação


judicial quando houver o binômio legal, não houver nenhum outro parente para

prestar e tiver inaptidão para o trabalho;

73
22.3.3 Quanto ao tempo

 Pretéritos: já prestados, não podendo ser mais pleiteados em razão do princípio da

atualidade que rege o instituto dos alimentos


 Presentes: estabelecido naquele momento e que podem ser pleiteados;

 Futuros: estão pendentes mas poderão, em momento oportuno, ser pleiteados;

22.3.4 Quanto à forma de pagamento

 Próprios: também conhecido como in natura, são pagos em espécie através de

alimentos, sustento, hospedagem, entre outros.

De acordo com a premissa 7, publicada na Edição 65 da ferramenta Jurisprudência em


Teses do STJ: “é possível a modificação da forma da prestação alimentar (em espécie ou in

natura), desde que demonstrada a razão pela qual a modalidade anterior não mais atende à
finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na condição financeira das partes nem

pretensão de modificação do valor da pensão;

 Impróprios: decorrentes da pensão alimentícia, que vai ser determinada de acordo

com o caso concreto, pelo juiz, variante entre 10-40% com base no salário do

devedor ou então em salários mínimos;

22.3.5 Quanto à finalidade

 Definitivos: por meio de acordo das partes ou por sentença judicial transitada
em julgado. Contudo, conforme visto anteriormente, não formam coisa julgada

material, mas sim formal, podendo ser alterado a qualquer tempo, a depender do
binômio legal;
 Provisórios: são aqueles fixados antes da sentença de alimentos, conforme Lei.
5478/68 (Lei de Alimentos). Assim, exige prova pré-constituída do parentesco
74
(certidão de nascimento) ou casamento e tem natureza de tutela de urgência
satisfativa, pois antecipada os efeitos da sentença;

 Provisionais: decorrem de outras ações que não sejam regidas pela Lei de
Alimentos, com objetivo de manutenção do padrão de vida da parte que os

pleiteia. Ocorre por meio de tutela antecipada, antecipando os efeitos finais do


processo, ou liminar, em caso de medida cautelar de separação de corpos, e, ao
contrário da anterior, não precisa ser através de prova pré-constituída;

 Compensatórios: é a divisão dos frutos e rendimentos dos bens do casal, a título


de ressarcimento pela não imissão imediata dos bens da meação a que o cônjuge

faz jus, com fim de restabelecer uma igualdade na relação familiar em razão do
desequilíbrio no momento da partilha dos bens;

 Transitórios: de acordo com recente entendimento jurisprudencial do STJ, são os


fixados por determinado período de tempo, a favor de ex-cônjuge/companheiro,

antes do termo final (até que obtenha autonomia financeira).

Sobre o tema, vide premissa 14, edição 65 da ferramenta Jurisprudência em Teses do STJ: “os
alimentos devidos entre ex cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem ser

fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua mais condições
de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira” e
Informativo 444, STJ.

75
SÚMULA 309, STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem

no curso do processo”.

Premissa 6, Jurisprudência em Teses do STJ/16: “o atraso de uma só prestação alimentícia,


compreendida entre as três últimas atuais devidas, já é hábil a autorizar o pedido de prisão

do devedor, nos termos do art. 528, §3º do NCPC”, e, em caso de devedor contumaz, também

não há necessidade de completar os três meses de inadimplemento.

22.4 Exoneração

 Morte do credor: pois, como anteriormente visto, trata-se de obrigação intuito

personae;
 Alteração substancial ou desaparecimento do binômio legal: nesse caso, deve-se

ingressar com ação revisional ou exoneração de alimentos a depender do caso;


 Atingimento da maioridade, se for menor: contudo, não ocorre de forma
automática, sendo necessário o ingresso da ação de exoneração de alimentos,

pois, acaba o poder familiar mas permanece o dever de mútua assistência.

Assim, conforme preceitua a Súmula 358 do STJ “o cancelamento de pensão alimentícia de


filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda
que nos próprios atos”. Ainda sobre o tema, conforme entendimento consolidado deste

mesmo Tribunal, caso seja filho universitário, os alimentos se estendem até o término dos
estudos (Informativo n. 484; STJ/11, premissa 4 da Edição 65, Jurisprudência em teses;

Enunciado n.344 do CJF/STJ)

 Dissolução do casamento/união estável: porém, de acordo com o art. 1709, CC,


admite-se que haja a fixação de alimentos após o divórcio e, portanto, o novo
76
casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação estabelecida por
sentença. Porém, poderá haver alteração do binômio legal, caso em que ensejará

ação de alteração de alimentos. No mesmo sentido, caso o devedor obtenha novo


casamento, união estável ou concubinato, dar-se-á por encerrada a obrigação,

desde que, neste último caso, se demonstre a possibilidade de assistência


material pelo concubino (Enunciado n.256, CJF/STJ);
 Comportamento indigno do credor: conforme o Enunciado n.264, CJF/STJ, aplica-

se as mesmas regras do art. 1814, incisos I e II do CC. Em contrapartida, ressalte-se


o Enunciado n.345 do CJF/STJ que estabeleceu que pode ensejar exoneração ou

mera redução se, nesse último caso, permanecer a necessidade do devedor em


receber os alimentos, que serão reduzidos à quantidade indispensável à

sobrevivência dele.

22.5 Alimentos Gravídicos

É previsto na Lei nº 11.804/08, tratando-se do direito concedido à gestante de buscar


alimentos durante a gravidez, tratando-se de subsídios gestacionais. A lei enumerada as

despesas que precisam ser atendidas pelo devedor, porém, não se trata de um rol taxativo,
devendo ser considerada toda e qualquer despesa com a gravidez ensejadora de alimentos

gravídicos19.

Assim, presume-se a paternidade e determina-se o pagamento dos alimentos em favor


da gestante, que pode perdurar até após o nascimento, momento em que a verba se

transformará em alimentos em favor do filho. Por fim, o indeferimento de tais alimentos ou


em caso de nascimento durante a demanda não leva à extinção do processo, diversamente se
ocorrer a interrupção da gravidez.

Portanto, são devidos ao nascituro, e, percebidos pela gestante, ao longo da


gravidez, abrangendo os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período
de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a

alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações,

19
Vide questão 12
77
parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do
médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.

De acordo com o art. 1o, o sujeito ativo seria a gestante. Porém, segundo o art. 6o,

sobrevindo nascimento com vida, sem impugnação de sua paternidade, os gravídicos se


convertem, automaticamente, em pensão alimentícia. A jurisprudência, desta forma, vem

admitindo a legitimidade de ambos.

São devidos desde a concepção e são irrepetíveis, sendo concedidos com base em
meros indícios. Não se exige prova efetiva do parentesco, assim:

 Fixação com base em meros indícios;

 Devidos desde a concepção;


 Irrepetíveis;

 Conversão automática em pensão alimentícia, se não houver impugnação quando

do nascimento;

22.6 Ações de alimentos

A ação de alimentos é imprescritível. Na verdade, o que não prescreve é o direito de

postular em juízo, o pagamento de pensões alimentícias. Mas as parcelas devidas, o direito


de cobrar as pensões já fixadas em sentença ou estabelecidas em acordo e não pagas

prescrevem em dois anos (art. 206, §2o, CC). A prescrição dessas parcelas ocorre
mensalmente.

O devedor de alimentos que não fizer o seu pagamento estará sujeito à chamada

prisão civil. Determina a Constituição Federal (art. 5º, inciso LXVII) que “não haverá prisão civil
por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia (...)”.

Existem diversos ritos para a ação de alimentos, vejamos.

78
22.6.1 Procedimento especial concentrado sumaríssimo (Lei n.
5.478/68)

É aquela prevista na Lei de Alimentos, constituída a partir de prova pré-constituída,


ademais, outras ações submetidas ao mesmo rito é de oferta de alimentos (art. 24) e revisão
(art. 13). Por sua vez, a exoneração de alimentos não se submete a este procedimento, pois

trata-se de procedimento comum do CPC.

É necessário que haja a petição inicial com seus requisitos, havendo possibilidade de
ajuizamento sem advogado, excepcionalmente. Ainda, a o MP possui legitimidade

envolvendo criança e adolescente conforme dispõe o ECA, em seu art. 201.

Ao despachar a inicial, o juiz fixará os alimentos provisórios mesmo que a parte não
tenha requerido. O juiz só deixará de fixar se a parte expressamente disser que deles não

necessita. A citação para audiência para conciliação instrução e julgamento é pela via postal.

O Ministério Público apresentará parecer, de modo que o STJ vem entendendo que o
MP não está obrigado a patrocinar os interesses do incapaz, sendo de atuação livre, podendo

interpor recursos contra o incapaz.

Será prolatada uma sentença cujos efeitos retroagem à citação, cabendo recurso que
será recebido no efeito meramente devolutivo, permitindo a execução imediata desses
alimentos. Aqui, forma-se coisa julgada material com cláusula rebus sic stantibus, não
sendo, portanto, coisa julgada formal.

Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos
em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar

dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no artigo 98
do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da

79
existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.STJ. 2ª Seção. Aprovada em

25/10/2017, DJe 06/11/2017.

22.6.2 Execução de alimentos

Trata-se de procedimento especial previsto art. 16 da Lei nº 5.478/68 e CPC. Assim, no


cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de

decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará


intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez

ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

Caso o executado, no prazo referido não efetue o pagamento, não prove que o
efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará
protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517.
Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o
inadimplemento.

Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além
de mandar protestar o pronunciamento judicial, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um)
a 3 (três) meses. A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado

dos presos comuns. O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas.

Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão.

O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3
(três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do

processo.

O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde


logo, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em

dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente


levante mensalmente a importância da prestação.

80
Este procedimento se aplica aos alimentos definitivos ou provisórios. A execução dos
alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada

em julgado, se processa em autos apartados. O cumprimento definitivo da obrigação de


prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida a

sentença. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar
ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.

Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao

executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento


do valor mensal da pensão. O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do
exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a

requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de
imediato pelo juiz. A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-

mínimo.

Assim, pode ser executado por:

 Desconto em folha ou em outros rendimentos (apenas para os vincendos);


 Patrimonial (penhora);

 Pessoal (prisão civil).

Vejam as características da execução de alimentos com prisão:

 Possibilidade de prisão civil com natureza coercitiva (não punitiva),


decorrente de acordo extrajudicial, mesmo que não homologado

judicialmente20;
 Atualidade da dívida21 (prazo de três meses): sendo possível apenas para os

alimentos que se vencerem a 3 meses e os que vencerem dentro do processo.


Não é cabível prisão civil para alimentos pretéritos;

20
STJ, RESP 1.117.639/MG
21
STJ, S. 309
81
 Prazo máximo (60 dias): há entendimento jurisprudencial sobre o prazo
máximo de 60 dias, apesar da controvérsia legislativa22 do NCPC prever o

prazo de 1 a 3 meses;
 Não exoneração da dívida alimentícia e possibilidade de repetição da

medida prisional23;

 Prisão especial em casos excepcionais24: não cabe prisão especial, em regra.

22
STJ, RHC 17.541/RJ
23
STJ, HC 39.902/MG
24
STJ, AGRGHC 272.034/SC
82
QUADRO SINÓTICO

CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E MONOPARENTALIDADE


Com a Constituição de 1988 e a superação da perspectiva individualista do Direito Civil, a
família deixou de ser um fim em si mesma e passou a ser instrumental, isto é, deve servir
FAMÍLIA NA
ao desenvolvimento da personalidade, felicidade e dignidade de seus membros. Por isso,
CF/88
a família deixou de ser casamentária e passou a ser plural; deixou de ser patriarcal e
passou a ser igualitária. A família é baseada no afeto, na ética, dignidade e solidariedade.
A família é eudemonista.
 Proteção da dignidade da pessoa humana (art.1º, III, CF/88)
 Solidariedade familiar (art. 3º, I, CF/88)
 Igualdade: Entre filhos (art. 227, §6º, CF/88 c/c art. 1596, CC); e entre cônjuges e
PRINCÍPIOS
companheiros (art. 226, §5º, CF/88 c/c art. 1511, CC)
FUNDAMENTAIS  Não intervenção ou liberdade familiar (art. 1513, CC)
 Maior interesse da criança/adolescente (art. 227, CF/88 c/c art; 1538 e 1584, CC)
 Afetividade
 Função social da família (art. 226, CF/88)
 Boa-fé objetiva
 Família plural

CONCEITO DE É o complexo de normas de ordem pública que regulam a celebração do casamento,


sua validade, seus efeitos, relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, união
DIREITO DE
estável, dissolução, relação entre pais e filhos, vínculo de parentesco, alimentos e os
FAMÍLIA
institutos complementares da tutela, curatela e ausência.
A Constituição Federal de 1988 reconhece expressamente três modelos de entidades
familiares: casamento (art. 226, §§1º e 2º), união estável e famílias monoparentais. Esse rol
DIREITO
de entidades familiares trazidos pela CF é, segundo a doutrina e a jurisprudência, inclusive
MATRIMONIAL
do STF e STJ, é meramente exemplificativo, havendo outras espécies, tais quais: família
anaparental, família homoafetiva e família mosaico ou pluriparental.
CASAMENTO
É a união legal, o vínculo jurídico, entre homem e mulher que visa o auxílio
mútuo, material e espiritual, criando a família legítima. Assim, o casamento
CONCEITO é o ato que estabelece entre as partes comunhão plena de vida, com base
E TEORIA na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (teoria contratualista). O
ADOTADA casamento é celebrado e desfeito com base única e exclusivamente pela
vontade das partes. Assim, adota-se a Teoria Mista ou Eclética pela qual o
casamento é uma instituição quando ao conteúdo e um contrato especial
quanto à formação, com regras e princípios próprios.

83
 Instituição da família
 Satisfação do desejo sexual:
FINALIDA-  Legalização das relações sexuais
DE  Procriação (não é essencial), proteção e educação dos filhos.
 Prestação de auxílio mútuo.
 Estabelecimento de deveres entre os cônjuges.
 Fidelidade recíproca.
 Coabitação (relativa):
 Mútua assistência (material, moral e espiritual), respeito e
DIREITOS E consideração
DEVERES  Proteção da prole:
 Igualdade de Direitos e Deveres: Os direitos e deveres referentes
à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher (art. 226, 5°, CF).
Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização (escrita e expressa) do
outro, exceto no regime da separação total de bens:
PROIBI-  Alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens imóveis, ou
ÇÕES direitos reais sobre imóveis alheios
 Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens e direitos.
 Prestar fiança ou aval:
 Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens ou rendimentos
comuns ou dos que possam integrar futura meação.
PRINCÍPIOS  Liberdade de escolha:
DO  Monogamia:
CASAMEN-  Comunhão plena da vida
TO  Solenidade do ato nupcial
FORMALI- O primeiro passo é requerer a instauração do processo de
DADES HABILITA- habilitação no Cartório de Registro Civil para constatar a
PARA O ÇÃO existência ou não de impedimentos matrimonias e dar
CASAMEN- publicidade ao ato. Trata-se de uma atitude preventiva, a
TO fim de se evitar que pessoas impedidas se casem.
EDITAL DE Os proclamas (edital que comunica ao público em geral a
PROCLAMAS intenção dos noivos de contrair núpcias) são afixados nos
Cartórios de ambos os nubentes. Decorridos 15 dias, o
oficial entrega aos nubentes uma certidão de que estão
habilitados a se casar dentro de 90 dias, sob pena de
decadência. Se não houver casamento neste prazo, deve-
se renovar todo o processo de habilitação. Em casos
excepcionais pode haver dispensa da publicação (art.
1.527, parágrafo único, CC).

84
CELEBRAÇÃO A celebração do casamento ocorrerá no dia, hora e lugar
DO previamente designados pelo Juiz de paz, mediante
CASAMENTO petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com
a certidão de habilitação.
O momento de aperfeiçoamento do casamento se dará
APERFEIÇOA- no momento em que os cônjuges manifestam, perante o
MENTO juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o
juiz os declara casados. O registro do ato está no plano
da eficácia do casamento
Tanto o homem como a mulher atingem a idade núbil aos 16 anos.
IDADE Todavia os menores púberes (maiores de 16 e menores de 18 anos),
NÚBIL para casar, devem ser autorizados por seus pais ou representantes
legais. Com a alteração da redação do art. 1.520 do CC, “não será
permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade
núbil”.
IMPEDI- IMPEDIMENTOS DIRIMENTES ABSOLUTOS (OU PÚBLICOS)
MENTOS E Trata-se de rol taxativo que impossibilita a realização de casamento,
CAUSAS acarretando, em caso de sua ocorrência, a NULIDADE do matrimônio.
SUSPENSI- Ainda, são questões de interesse público e, em razão disso, podem ser
VAS arguidos por qualquer pessoa interessada ou pelo Ministério Público,
sendo uma ação imprescritível. No caso dos impedimentos, eles podem
ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer
pessoa capaz.
São causas impeditivas:
 Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou
civil;
 Os afins em linha reta;
 O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com
quem o foi do adotante;
 Os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o
terceiro grau inclusive;
 O adotado com o filho do adotante;
 as pessoas casadas;
 O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.
CAUSAS SUSPENSIVAS OU IMPEDIMENTOS IMPEDIENTES

85
São situações em que, apesar de a lei apenas recomenda a não realização
do casamento, porém, se assim o fizer, acarretará mero ônus legal: adoção
do regime legal obrigatório, o Regime de Separação Legal/Obrigatória
(art. 1641, I, CC). Os legitimados para arguir a existência de causas
suspensivas são apenas os parentes em linha reta de um dos cônjuges,
consanguíneos ou afins, e colaterais em segundo grau, consanguíneos ou
afins.
 O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário.
 A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal.
 O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida
a partilha dos bens.
 O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas
as respectivas contas.
As causas suspensivas só podem ser arguidas pelos parentes em linha
reta de um dos nubentes e pelos colaterais em segundo grau
O casamento será celebrado onde se encontrar a pessoa
impedida perante duas testemunhas. Assim, um dos
nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se
ESPÉCIES MOLÉSTIA encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite,
DE GRAVE (ART. perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. A
CASAMEN- 1539, CC) falta ou impedimento da autoridade competente para
TO presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus
substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro
ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.
Também denominado de em viva voz, in extremis vitae
momentis ou in articulo mortis (do latim nuncupare =
“dizer de viva voz”), trata-se de situação em que um dos
nubentes se encontra em iminente risco de vida ou à
NUNCUPA- beira da morte (art. 1.540, CC), não havendo, portanto,
TIVO (ART. tempo para a celebração do casamento conforme as
1540, CC) solenidades, não estando presente a autoridade
competente para presidir o ato. Dispensam-se as
formalidades legais para o ato (processo de habilitação,
proclamas e até mesmo a presença da autoridade
competente, pois os contraentes não a localizaram).
Basta que os contraentes manifestem o propósito de se

86
casar e, de viva voz, recebam um ao outro. É necessária a
presença de seis testemunhas sem parentesco (na linha
reta e colateral até 2° grau) e posterior habilitação e
homologação judicial.
Deve ser realizada por instrumento público com poderes
especiais, possuindo, a procuração, eficácia de 90 dias,
POR sendo revogável até o momento da celebração. Embora
PROCURA- seja imprescindível a presença real e simultânea dos
ÇÃO (ART. contraentes, o Código Civil permite o casamento por
1542, CC) procuração, desde que um dos nubentes não possa estar
presente. A procuração deve ser por instrumento público,
com poderes especiais para contrair casamento,
mencionando o regime de bens. Se ambos não puderem
comparecer, deverão nomear procuradores diversos
DIPLOMÁTI-
CO OU O casamento dos estrangeiros poderá ser celebrado
CONSULAR perante autoridades diplomáticas ou consulares do país
(ART. 7º, §2º, de ambos os nubentes.
LINDB)
RELIGIOSO Se precedido de processo de habilitação, deve ser
COM registrado em 90 dias, após esse prazo, necessitará de
EFEITOS nova habilitação. Em contrapartida, se não foi precedido
CIVIS (ART. de habilitação, terá efeitos civis apenas se for registrado
1515 E 1516, no registro civil a requerimento do casal por meio de
CC) prévia habilitação à autoridade competente, respeitando-
se, também, o prazo de 90 dias (efeito ex tunc),
PROVA E PROVA DO CASAMENTO (ART. 1543 A 1547, CC)
EFEITOS  No Brasil: certidão do registro;
DO DIRETA  Exterior: registro em 180 dias no cartório do
CASAMEN- respectivo domicílio ou no 1º ofício da capital do
TO Estado que forem residir;
COMPLEMEN Quando ocorrer a falta ou perda do registro civil, sendo
TARES/SUPLE admissível qualquer outro tipo de prova;
-TÓRIOS

Posse do estado de casado, demonstrando a efetiva


INDIRETA situação de casados no mundo dos fatos. Nesse sentido,
aplica-se sempre o princípio in dubio pro matrimonio;
EFEITOS DO CASAMENTO
É a comunhão plena de vida, adotar o sobrenome do
PESSOAIS outro, planejamento familiar e os deveres matrimoniais

87
previstos no art. 1566, CC;
PATRIMO- São os direitos patrimoniais dos nubentes que se
NIAIS consubstanciam no regime de bens deles. Sobre esse
tema, trataremos especificamente no tópico específico
UNIÃO ESTÁVEL
ELEMENTOS  Dualidade de pessoas
 Publicidade
 Durabilidade
 Continuidade
 Constituição de família
 Não haver impedimentos matrimoniais: exceto quanto aos
separados (judicialmente ou de fato).
MEAÇÃO Se não houver pacto entre os conviventes o regime da comunhão parcial
prevalecerá e o convivente terá direito à metade dos bens por ocasião da
dissolução da união estável (separação ou morte) se adquiridos
onerosamente na vigência da união estável. Não se comunicam os bens
advindos de herança, legado ou doação.
SUCESSÃO O companheiro supérstite, além da meação participará da sucessão do
outro, nas mesmas condições que o cônjuge sobrevivente.
DEVERES  Em relação ao companheiro, lealdade, respeito e assistência.
 Em relação aos filhos: guarda, sustento e educação.
SEPARA- Esta medida cautelar é manejável tanto na hipótese do casamento como
ÇÃO DE na de união estável (nesta hipótese, antes de se promover a ação de
CORPOS reconhecimento e extinção da própria união estável - art. 1.562, CC),
porque nos dois casos há conflitos de interesses que merecem tutela
jurídica.
CONVER- Determina o art. 1.726, CC que a união estável poderá converter-se em
SÃO EM casamento, mediante pedido dos conviventes ao Juiz e assento no
CASAMEN- Registro Civil (a conversão de união estável em casamento pode se operar
TO pela via judicial ou extrajudicial, à escolha do casal – STJ REsp 1.685.937-RJ,
Info 609).
NOME DO A lei permite que se utilize o patronímico do companheiro, se houver a
COMPA- concordância deste, vida em comum por mais de cinco anos ou filho da
NHEIRO união. Não podem ser casados em núpcias anteriores.
Havendo união estável, os conviventes são beneficiários do segurado.
PREVIDÊN- Também têm direito à pensão deixada pelo servidor civil ou militar.
CIA SOCIAL Permite-se o abatimento no Imposto de Renda como encargo de família
(dependente).
RESPONSA- Assim como o cônjuge, a companheira ou companheiro pode pleitear
BILIDADE indenização por morte do companheiro motivada por ato ilícito.

88
CIVIL
MONOPARENTALIDADE
São as famílias formadas por um só dos pais e sua prole (descendentes). Também
chamadas de famílias unilineares.

DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL

MORTE A morte pode ser real ou presumida com ou sem decretação de ausência.

DIVÓRCIO Dissolve definitivamente o vínculo matrimonial, põe fim aos deveres conjugais, extingue o
regime de bens, acarretando sua partilha, faz cessar o direito sucessório, não admite
reconciliação (devendo casar novamente, se for o caso), novo casamento dos divorciados e
mantém inalterados os direitos e deveres dos pais em relação aos seus filhos (guarda),
possibilidade de alimentos, possibilidade de manter o nome de casado ou não, inexistindo
qualquer necessidade de comprovação de culpa.
ESPÉCIES
Pode ser obtido em cartório (procedimento administrativo) ou em juízo
DIVÓRCIO (procedimento de jurisdição voluntária);
CONSENSUAL No divórcio consensual judicial exige um requisito
(AMIGÁVEL) objetivo: consenso, vontade das partes,
independentemente da existência de filhos menores
incapazes. Havendo a possibilidade de existência de
DIVÓRCIO incapazes e cláusulas obrigatórias da petição inicial:
CONSENSUAL  As disposições relativas à descrição e à partilha
JUDICIAL dos bens comuns;
 As disposições relativas à pensão alimentícia
entre os cônjuges;
 O acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e
ao regime de visitas; e
 O valor da contribuição para criar e educar os
filhos.
Por sua vez, a Lei nº 11.441/07 concebeu a possibilidade
de divórcio consensual em cartório, através de um
procedimento administrativo, sendo decretado por meio
DIVÓRCIO de escritura pública e não por sentença. Essa escritura
CONSENSUAL pública independe de intervenção do MP e
ADMINISTRA- homologação judicial. O próprio tabelião lavrará a
TIVO escritura pública quando presentes os requisitos do art.
1.124-A. O uso da via cartorária é facultativo e não
obrigatório, porém não pode haver interesse de incapaz.
O casal sempre pode optar pelo uso da via judicial.

89
Havendo interesse de incapaz o uso da via judicial é
obrigatório.
Sempre será em juízo e, no CPC/73 tratava-se de um procedimento
comum ordinário, contudo, atualmente, trata-se de um procedimento
especial previsto nos artigos 693 a 699 do CPC/15. Recebida a petição
inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela
provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência
DIVÓRCIO de mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694. O mandado
LITIGIOSO de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar
desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito
de examinar seu conteúdo a qualquer tempo. Assim, é possível a cumulação
de pedidos (guarda; alimentos, visitas de filhos, indenização; partilha de
bens, etc.). Assim, o juiz julga o pedido de divórcio, de imediato, e o
processo continua para decidir os demais pedidos. O divórcio é direito
potestativo, não pode ser contestado.

SEPARAÇÃO A separação apenas desconstitui o casamento, mas não dissolve. Assim, a separação seria
causa terminativa, não dissolutiva. A maioria da doutrina entende que com o advento da EC
JUDICIAL
66 não mais existe separação. Assim, é majoritário que a separação judicial não dissolve o
casamento, apenas põe fim a determinados deveres, contudo, em entendimento contrário a
doutrina, a jurisprudência do STJ25 entende que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou
tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação judicial.
SEPARAÇÃO DE A separação de fato acarreta uma ruptura da convivência entre os
FATO consortes, havendo bastante relevância para o sistema jurídico brasileiro,
acarretando a cessação da base afetiva da relação. Apesar de não constar
no CC como causa terminativa nem como causa dissolutiva, não afetando o
casamento a princípio, o STJ equipara a separação de fato à separação
judicial, de modo a por fim aos deveres conjugais.
Assim, os efeitos da separação de fato são:
 Possibilidade de caracterização de união estável por conta da
cessação dos deveres de fidelidade e coabitação;
 Cessação do regime de bens
 Cessação do direito à herança;
 Sub-rogação locatícia (Lei n.8.245/91, art. 12);
 Permissão para a contagem do prazo para o usucapião conjugal
(CC, art. 1.240-A).
São os casamentos que não deveriam ter acontecidos. A doutrina traz
INEXISTENTE duas hipóteses: ausência de vontade e celebrado por autoridade
INVALIDADE
totalmente incompetente.

25
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ. 4ª
Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).
90
DO Após o advento do Estatuto da Deficiência, o único caso em que implicará
a nulidade, de acordo com a lei, será com o infringência das regras de
CASAMENTO
NULO impedimento. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos
previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta,
por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
ANULÁVEL São hipóteses taxativas em que acarretará a nulidade relativa do
casamento, dependendo da arguição dentro dos prazos decadenciais
legais. São elas:
 Quem não completou a idade mínima para casar: A pessoa com
deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair
matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de
seu responsável ou curador. Assim, como já explicado
anteriormente, não há qualquer nulidade nesses casos.
O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-
la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes
legais, se necessária, ou com suprimento judicial.
 Menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal: O casamento do menor em idade núbil,
quando não autorizado por seu representante legal, só poderá
ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por
iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes
legais ou de seus herdeiros necessários.
 Por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558: O
casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por
parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à
pessoa do outro.
É anulável o casamento em virtude de coação, quando o
consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado
mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a
saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
 Incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
 Realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges;
 Por incompetência da autoridade celebrante: Subsiste o
casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência
exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de
casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro
Civil.
CASAMENTO Embora nulo/anulável, foi contraído de boa-fé por ambos os cônjuges ou

91
PUTATIVO só um deles, reconhecendo-lhes efeitos legais. Porém, ainda que de má-
(ART. 1561, CC) fé, se por apenas um dos cônjuges, o de boa-fé e os filhos estarão
sujeitos aos efeitos legais, e, inclusive, se ambos estiverem de má-fé, os
efeitos recairão apenas nos filhos.

REGIME DE BENS
Trata-se do estatuto patrimonial dos cônjuges, aplicável a outras entidades familiares, a
exemplo da união estável. É regido pela autonomia privada, pela indivisibilidade (regime
CONCEITO
único para ambos), pela variedade de regimes e mutabilidade justificada (é possível a
alteração de regime de bens, desde que por meio judicial, de forma motivada por ambos
os cônjuges, ressalvado direito de terceiros).

PRINCÍPIOS VARIEDADE DE A lei oferece quatro espécies de regimes: comunhão universal,


REGIME DE BENS comunhão parcial, separação e participação final dos aquestos.
PRINCÍPIO DA Pacto antenupcial é um contrato solene, realizado antes do casamento,
LIVRE por meio do qual os nubentes escolhem o regime de bens que
ESTIPULAÇÃO vigorará durante o matrimônio. Os nubentes podem estipular cláusulas,
OU LIBERDADE atinentes às relações econômicas, desde que respeitados os princípios
DOS PACTOS da ordem pública; devem ser feitos por escritura pública (sob pena de
ANTENUPCIAIS nulidade) e seguido do casamento (sob pena de ineficácia).
É o princípio que proíbe a celebração de casamento com regimes
distintos para cada um dos cônjuges, visto que o o regime é uno.
PRINCÍPIO DA Contudo, isso não impede disposições especiais no pacto antenupcial
INDIVISIBILIDADE de doação de bens de um cônjuge ao outro. O princípio da
indivisibilidade é excepcionado na hipótese de casamento nulo ou
anulável em que apenas um dos cônjuges agiu de boa-fé.
PRINCÍPIO DA Atualmente a lei permite a mutabilidade do regime adotado, desde que
MUTABILIDADE haja uma autorização judicial, atendendo a pedido motivado de ambos
JUSTIFICADA os cônjuges, após apuração de procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros (art. 1639, §2º, CC).

 Requisitos para alteração do regime


 Ação judicial: a alteração só é possível mediante ação de
alteração do regime de bens, assim, em regra, esta ação
deve ser distribuída na Vara de Família, ou na sua ausência,
deve ser distribuída na Vara Cível.
 Absoluto consenso entre os cônjuges;
 Justo motivo: o pedido de alteração do regime de bens
deverá ser motivado e o juiz analisará a procedência das
razões invocadas.
 Ressalva de direitos de terceiros;

92
PACTO É um negócio jurídico pessoal, solene (escritura pública), nominado e típico, que
regulamenta as questões patrimoniais do matrimonio. Assim, deve existir sempre que os
ANTENUPCIAL
nubentes adotarem regime de bens diversos do regime legal e desde que não seja o
obrigatório, visto que, nesse caso, não se leva em consideração a vontade deles. A sua
nulidade de alguma cláusula não atinge o todo o pacto, em razão princípio da
conservação dos negócios jurídicos.

ESPÉCIES Trata-se do regime legal aplicado sempre que os cônjuges não


escolherem outro por meio do pacto antenupcial, assim, é o que vigora
no silêncio das partes ou nulidade do pacto antenupcial. Nesse regime,
REGIME DA regra geral, comunicam-se todos os bens (bens comuns) havidos
COMUNHÃO durante o casamento, exceto se forem incomunicáveis. Assim, forma-se
PARCIAL duas massas patrimoniais: bens comuns e bens particulares.
Após o casamento, os bens adquiridos se comunicam. Ficam excluídos
da comunhão de bens que cada cônjuge possuía antes de casar, bem
como os que vierem depois, por doação ou sucessão (e os sub-
rogados em seu lugar). Por outro lado, cada consorte responde pelos
próprios débitos anteriores ao casamento.
Nesse regime, comunicam-se todos os bens do casal,
REGIME DA independentemente da aquisição anterior à celebração do casamento.
COMUNHÃO Assim, forma-se uma única massa patrimonial. Contudo, apesar de tal
UNIVERSAL regra geral, o Código Civil elencou hipóteses em que tal
comunicabilidade não é absoluta, havendo bens que não se
comunicam.
Trata-se de regime inspirado em ordenamento jurídico de outros países
e bastante complexo, que possibilita a formação de até 5 massas
REGIME DA patrimoniais, em dois momentos distintos do regime: na constância
PARTICIPAÇÃO do casamento e na sua dissolução, cada um possuindo seu
FINAL NOS regramento específico.
AQUESTOS
Aquestos são os bens adquiridos a título oneroso pelos cônjuges
na constância do casamento. Há dois patrimônios:
 Inicial: conjunto de bens que cada cônjuge possuía antes de
se casar e os que foram por ele adquiridos, a qualquer título,
durante o casamento.
 Final: com a dissolução da sociedade conjugal apura-se o
montante dos aquestos, excluindo-se da soma o patrimônio
próprio
REGIME DA O regime de separação de bens pode ser tanto convencional quanto
SEPARAÇÃO DE legal. No primeiro caso, os nubentes escolhem por adotar tal regime
BENS e, no segundo caso, é obrigatório por determinação legal. Nesse
regime, só há bens particulares, pois não ocorre comunicabilidade dos

93
bens.
O regime de separação de bens pode ser dividido em:
 Convencional: nubentes adotam, por convenção antenupcial;
podem estipular a comunicabilidade de alguns bens, normas
sobre a administração, colaboração da mulher, etc.; É o único
regime em que existe verdadeira separação absoluta de bens.
Neste caso não se aplica a Súmula 377, STF.
 Legal ou Obrigatório: a lei impõe, por razões de ordem pública
ou como sanção, não havendo comunhão de aquestos (art.
1.641, CC), nem necessidade de pacto (ex.: pessoa maior de 70
anos – redação dada pela Lei no 12.344/10) ou que contraiu
casamento com inobservância das causas de suspensão, ou
dependerem de suprimento judicial para casar).

PARENTESCO

CONCEITO Conforme preceitua Tartuce, trata-se de “relação jurídica existente entre ascendentes e
descendentes de primeiro grau, ou seja, entre pais e filhos”. Ademais, como já tratamos
anteriormente, rege-se pelo Princípio da igualdade de filiação. Não há hierarquia entre
esses vínculos e a jurisprudência tem reconhecido a possibilidade de multiparentalidade.

ESPÉCIES NATURAL OU Pessoas ligadas por um mesmo tronco ancestral. Possuem um vínculo
CONSANGUÍ- biológico ou de sangue, originados de um mesmo tronco comum.
NEO
É o que se estabelece entre cada cônjuge e os parentes do outro (CC,
1.595), na linha reta ou colateral. Assim, é o resultante do casamento ou
AFINIDADE união estável, gerando a relação entre um cônjuge/companheiro e os
parentes do outro, comportando a linha reta (infinita e permanente) e a
colateral, que se extingue com o término do casamento
É aquele resultante de outra origem que não seja as anteriores, sendo,
normalmente, decorrente do processo de adoção. Atualmente, em razão
CIVIL da evolução tecnológica, a jurisprudência vem admitindo mais duas
espécies desse tipo de parentesco: reprodução heteróloga (material
genético de terceiro) e a socioafetiva.

94
FILIAÇÃO É a genética ou por consanguinidade
Reprodução humana natural:
Reprodução humana assistida:
Concepção homóloga:
BIOLÓGICO manipulação de gametas masculinos e femininos do próprio casal, sem
necessidade de autorização pelos genitores, exceto se falecidos;
Concepção heteróloga:
doação de sêmen de um terceiro, desde que tenha concordância do
cônjuge, de modo que o doador é anônimo e se afasta da paternidade.
Assim, gera uma presunção iure et de iure de filiação.
Corresponde à verdade aparente decorre do próprio direito de filiação;
POSSE DO A aparência faz com que todos acreditem na existência de
ESTADO uma filiação, assim, independe do critério biológico
DE
SOCIOAFETIVO FILIAÇÃO
(CRITÉRIO NÃO É uma relação de parentesco civil que decorre da
BIOLÓGICO) socioafetividade visto que, por ser um ato jurídico em
ADOÇÃO sentido estrito, se constitui como um parentesco eletivo
mediante um ato de vontade. Sobre a adoção, em razão
de sua importância, vamos tratar detalhadamente em
tópico próprio;
Têm por finalidade de atribuir a paternidade ou maternidade a alguém
em razão de alguns indícios determinados pela lei;
PRESUNÇÕES  Concebidos na constância do casamento (art. 1597, CC):
JURÍDICAS cabem prova em contrário (regra: juris tantum)
 180 dias após o início da convivência;
 300 dias após a dissolução da sociedade conjugal
 Fecundação artificial homóloga (RHA);
 Embriões excedentários decorrentes de RHA;
 Inseminação artificial heteróloga – presunção iure et de iure
 Impotência para gerar (art. 1599, CC): à época da concepção,
afasta a presunção de paternidade;
 Presunção de paternidade e adultério da mulher (art. 1600,
CC): a quebra do dever de fidelidade não é suficiente para
impedir o vínculo de paternidade;
 Imprescritibilidade da ação negatória de paternidade (pater
es est) pelo marido (art. 1601, CC):
 Mater in jure semper certa est (art. 1608, CC): a mãe registral
tem legitimidade para impugnar a maternidade desde que
comprovado a falsidade da declaração registral;

95
RECONHECIME O filho havido fora do casamento (filiação extramatrimonial) poderá ser reconhecido pelos
pais, antes do nascimento ou post mortem, de forma conjunta ou separada, inexistindo a
NTO DE
expressão filho ilegítimo/legítimo.
FILHOS
Ademais, é irrevogável, podendo ser realizado por:
 Registro de nascimento;
 Escritura pública ou particular;
 Testamento, legado ou codicilo, ainda que incidentalmente;
 Manifestação direta e expressa em processo judicial

PLURIPAREN- É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de


nascimento na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que foi registrado conforme
TALIDADE
prática conhecida como “adoção à brasileira”. O reconhecimento da paternidade
socioafetiva não exime o pai biológico da obrigação decorrente dos alimentos.

ADOÇÃO Trata-se de forma tradicional de parentesco civil cujos regramentos estão dispostos
no ECA, que se constitui como um ato jurídico em sentido estrito, de natureza complexa,
dependendo de homologação judicial, independentemente se for adoção de menores ou
de maiores.
Ademais, trata-se de medida excepcional, irrevogável e definitiva, pois se deve adotar
apenas quando estiverem esgotados os recursos de manutenção da criança ou
adolescente na família natural (comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes) ou extensa (se estende para além da unidade pais e filhos/casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente conviva e mantém vínculos de
afinidade e afetividade).
TIPOS DE ADOÇÃO
UNILATERAL Feita pelo cônjuge ou companheiro com relação ao filho de seu par.
(padrasto/madrasta);
CONJUNTA Realizada por duas pessoas, casadas civilmente ou que mantenham união
estável, comprovando a estabilidade familiar
É excepcional, desde que o processo de adoção já tenha sido instaurado
DIVORCIADOS antes do divórcio, assim, o adotado já se encontrava integrado à
convivência familiar.
Por ser concebida desde que o adotante venha a falecer no curso do
processo de adoção, desde que tenha manifestado inequívoca vontade,
PÓSTUMA assim, o efeito da sentença retroagirá à data do óbito,
excepcionalmente, já que a regra é que a sentença produza efeitos a
partir do seu trânsito em julgado (ex nunc).
ADOÇÃO À Trata-se da situação em que uma pessoa registra filho alheio como
BRASILEIRA próprio. Não é uma modalidade legítima de adoção, pelo contrário,
configura o crime do at. 242 do Código Penal.

AÇÃO A ação investigatória de paternidade ou maternidade é uma forma de


reconhecimento judicial de filhos, cujo procedimento, de acordo com o NCPC é comum.
INVESTIGATÓ-

96
RIA DE Visa-se, mediante tal processo, a comprovação da verdade real ou biológica da
parentalidade. Possui natureza declaratória e envolve o estado de pessoas e a dignidade
PATERNIDADE
humana, assim, é imprescritível (art. 27, ECA c/c Súmula 149, STF).
/MATERNIDA-
Quanto à legitimidade ativa para a ação, ela é personalíssima do filho, em regra,
DE porém, se ele for menor de idade, poderá haver o instituto da representação, se menor de
16 anos, ou, assistência, se possuir entre 16 e 18 anos.
Ademais, o Ministério Público possui legitimidade extraordinária e pode atuar como
substituto processual. Quanto à legitimidade passiva, em regra, será contra o suposto
pai/mãe.

PROVA DA Ocorre através do registro de nascimento, que, em regra, não cabe quebra, exceto quando
o registro tiver sido realizado por meio de erro ou falsidade. Contudo, não poderá afastar a
FILIAÇÃO
parentalidade socioafetiva, incluindo-se, inclusive, o pai biológico no registro de nascimento,
para todos os fins jurídicos, em virtude da possibilidade da multiparentalidade.

PODER FAMILIAR
é o conjunto de direitos e deveres instituído para a proteção do filho menor não
emancipado. Trata-se de um múnus público, ou seja, um encargo, um dever. São um
CONCEITO
poder-dever irrenunciável, intransferível (delegável para terceiros), inalienável,
imprescritível de obrigações personalíssimas. Ademais, é exercido em igualdade de
condições pelo pai ou pela mãe.
 Sujeitos (art. 1630, CC): se submetem ao poder familiar todos filhos menores
e incapazes (0-18 anos);
CARACTERÍSTICAS
 Exercício (art. 1634, CC), extinção (art. 1635, CC), suspensão (art. 1636, CC) e
destituição (art. 1638, CC);
 Efeitos patrimoniais (arts. 1689 a 1693, CC);
O art. 1.634, CC enumera os direitos e deveres:
 Dirigir-lhes a criação e educação;
 Tê-los em sua companhia e guarda;
 Conceder-lhes, ou negar-lhes consentimento para casarem;
DIREITOS E  Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêntico, se o outro dos
DEVERES pais lhe não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercitar o poder familiar;
 Representá-los, até aos 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-
los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento;
 Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
 Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade
e condição.

97
ADMINISTRAÇÃO Trata-se de efeito patrimonial do poder familiar, determinando o CC que cabem aos
pais o uso e administração dos bens do menor, sendo desnecessária a prestação de
contas. Os pais, em igualdade de condições, são os administradores legais dos bens
dos filhos. Para alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis dos filhos (ex: hipotecar)
precisam obter autorização judicial, mediante a demonstração da necessidade. Deve
sempre se levar em conta os interesses dos menores. Se a venda se efetivar sem a
autorização judicial, padecerá de nulidade.
Os pais não poderão alienar ou gravar ônus os imóveis dos filhos,
VEDAÇÃO nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da
(ART. 1691, simples administração, salvo se interesse da prole através de autorização
CC) judicial.
Os bens adquiridos pelos filhos extramatrimoniais antes do
reconhecimento, valores aferidos pelos filhos maiores de 16 anos, no
EXCLUSÃO exercício da atividade profissional e bens deles decorrentes, os bens que
(ART. 1693, foram deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem
CC) usufruídos ou administrados pelos pais e os bens que cabem aos filhos
por herança, quando os pais tiverem sido excluídos (atos de indignação
ou deserdação) da sucessão.

USUFRUTO Enquanto estiverem no exercício do poder familiar cabe aos pais a administração dos
bens dos filhos menores, bem como o direito ao usufruto e as rendas desses bens.
Trata-se do chamado usufruto legal. No entanto, caso ocorra alguma divergência na
administração, caberá ao Juiz resolver a situação.

EXTINÇÃO, O art. 1.635, CC menciona as causas de extinção do poder familiar:


 Morte dos pais ou do filho;
SUSPENSÃO E
EXTINÇÃO  Emancipação;
PERDA DO
 Maioridade;
PODER FAMILIAR  Adoção;
 Decisão judicial.
A suspenção ocorre quando os pais são afastados temporariamente
SUSPENÇÃO do exercício, podendo posteriormente retomá-lo:
 Se o pai, ou mãe, abusar da sua autoridade, faltando aos seus
deveres ou arruinando os bens dos filhos;
 Se o pai ou a mãe forem condenados por sentença
irrecorrível, em crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.

PERDA OU Já o art. 1.638, CC menciona as causas de perda ou destituição do


DESTITUI- poder familiar, por ato judicial, do pai, ou da mãe, por infrações
ÇÃO graves:
 Castigar imoderadamente o filho;
 Deixá-lo em abandono;
 Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

98
 Incidir reiteradamente nas faltas previstas no artigo 1.367 do CC;
 Entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de
adoção.
 Praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder
familiar: a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de
natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime
doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou
menosprezo ou discriminação à condição de mulher; b) estupro
ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão;
 Praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio,
feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de
morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à
condição de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou
outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão.
A perda é definitiva, embora em alguns casos seja possível o
restabelecimento, se for provada a regeneração do genitor ou
desaparecida a causa da perda.

GUARDA Trata-se de direito-dever dos pais de terem consigo seus filhos a fim de garantir-lhes
pleno desenvolvimento. Ela poderá ser deferida a ambos, a um deles ou a alguém que
os substituam, verificando, sempre, o melhor interesse do menor.
ESPÉCIES DE GUARDA
Apenas um dos genitores exerce a guarda, enquanto que ao outro,
UNILATERAL permanece o direito de visita, a ser acordado por meio do processo
judicial, sem perder o poder familiar em razão disso;
O tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando a
viver alternadamente, de acordo com o que for ajustado, residindo
juntamente com um e com o outro (residências alternadas). Nesse
ALTERNADA caso, a melhor doutrina afirma que deve ser excepcional, pois não
preenche os requisitos essenciais da guarda compartilhada, que deve
ser fomentada;
É a guarda conjunta por meio da convivência simultânea,
COMPARTI- corresponsabilidade do exercício do poder familiar e com definição da
LHADA residência preferencial do filho, sendo a regra no ordenamento
jurídico. Nesse caso, ocorre a participação plena no processo de
desenvolvimento dos filhos, visando minorar os efeitos do divórcio.
Assim, deve ser preferencial às demais, mesmo que não tiver acordo
entre os pais sobre isso, exceto em alguns casos legais.
DE FATO Consolidada pela convivência e cuidado do responsável para com o

99
menor.

DIREITO Visa-se, através dos institutos da tutela e curatela, a defesa dos interesses dos
incapazes, possibilitando a realização de atos civis em seu nome. A tutela objetiva
ASSISTENCIAL DE
resguardar interesses de menores não emancipados, não sujeitos ao poder familiar e a
FAMÍLIA
curatela, por sua vez, dá assistência nos interesses de maiores incapazes, interditados.
Ambos possuem dever de prestação de contas, ao contrário do que ocorre com os pais
no uso e administração dos bens do filho.
TUTELA (ARTS. 1728 A 1766 DO CC)
A tutela pode ser realizada através da representação ou da assistência, desde que não
estejam submetidos ao poder familiar, premissa principal desse instituto.
Ela pode ser:
 Testamentária: por testamento ou codicilo;
 Legítima: na falta de tutor nomeado pelos pais; ou
 Dativa: na falta das anteriores, aos ascendentes, preferindo o de grau mais
próximo ao mais remoto ou aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os
mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais
moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer
a tutela em benefício do menor, por meio de nomeação do juiz.
INCAPAZES Não podendo ser tutores e sendo exonerados da tutela, caso a exerçam:
DE EXERCER  Aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
A TUTELA  Aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se
(ART. 1.735), acharem constituídos em obrigação para com o menor, ou
tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos
pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda contra o menor;
 Os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido
por estes expressamente excluídos da tutela;
 Os condenados por crime de furto, roubo, estelionato,
falsidade, contra a família ou os costumes, tenham ou não
cumprido pena;
 As pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e
as culpadas de abuso em tutorias anteriores;
 Aqueles que exercerem função pública incompatível com a
boa administração da tutela.

100
 Mulheres casadas;
 Maiores de sessenta anos;
 Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
ESCUSAR-SE  Os impossibilitados por enfermidade;
DA TUTELA  Aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer
(ART. 1.736 a tutela;
E 1737)  Aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
 Militares em serviço;
 Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a
aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo,
consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la.
 Cessa a condição de tutelado (art. 1.763):
 Com a maioridade ou a emancipação do menor;
CESSAÇÃO E  Ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de
EXTINÇÃO reconhecimento ou adoção.
 Cessam as funções do tutor (art. 1.764):
 Ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
 Ao sobrevir escusa legítima;
 Ao ser removido.

O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos, podendo


continuar no exercício da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se
o quiser e o juiz julgar conveniente ao menor.

 Será destituído o tutor, de acordo com o art. 1.766, quando


negligente, prevaricador ou incurso em incapacidade.
CURATELA (ARTS. 1767 A 1783 DO CC)
Com o advento do Estado da Pessoa com Deficiência, não existe mais absolutamente
incapazes maiores, assim, esse instituto incide apenas em relação aos maiores
relativamente incapazes, sendo esse rol taxativo (art. 1767, CC):
 Ébrios habituais;
 Viciados em tóxicos;
 As pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir
vontade;
 Os pródigos: a interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar,
transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e
praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. (atos
patrimoniais)
 A incapacidade não se presume, portanto, deve ser declarada judicialmente e
assim, o curador, em ordem de preferência, serão o cônjuge/companheiro,
pai/mãe, descendente mais apto ou, então, curador dativo.

101
TOMADA DE DECISÃO APOIADA (ART. 1783-A DO CC)
Ao alterar os artigos 3º e 4º, do Código Civil, foi conferida plena capacidade aos
portadores de deficiência, para o desenvolvimento de todos os atos da vida civil.
Assim, a deficiência não afeta a plena capacidade civil, tendo o indivíduo direito de
casar, exercer os direitos sexuais e reprodutivos, ter filhos e conservar sua fertilidade,
usufruir do convício familiar, bem como exercer guarda, tutela, curatela e adoção.
Como medida de proteção e preservação dos direitos, foi criado o instituto da tomada
de decisão apoiada (artigo 1.783 – A CC), que consiste em ato unilateral de vontade
da pessoa com deficiência que nomeia, ao menos, duas outras pessoas idôneas para
apoiá-lo nas decisões sobre a vida civil.

ALIMENTOS
São prestações devidas pelo alimentante para a satisfação das necessidades pessoais
daquele alimentado, que não pode provê-las por meio do trabalho próprio, em razão
CONCEITO
do dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo com
a sua dissolução.

PRESSUPOSTOS  Vínculo de parentesco, casamento/união estável;


 Necessidade do alimentando;
 Possibilidade do alimentante;
PERSONALÍSSIMO Em razão do caráter intuito personae, não se transmitindo aos
herdeiros do credor;
Entre cônjuges e companheiros, pais e filhos, estendendo-se a
CARACTERÍSTICAS
todos os ascendentes. Nesse sentido, há uma ordem sucessória:
RECIPROCIDADE ascendente do grau mais próximo que exclui o mais remoto, os
descendentes nesse mesmo sentido e os irmãos, com preferência
aos bilaterais e, depois, unilaterais;
IRRENUNCIABILI- Veda-se a renúncia de alimentos, porém, a doutrina e
DADE jurisprudência majoritárias entendem possível a renunciá-los em
caso de separação/divórcio
OBRIGAÇÃO
DIVISÍVEL Sendo várias pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem
(COMPLEMENTA- concorrer na proporção de seus recursos. Ex.: alimentos
RIEDADE/RESPON- avoengos. Como exceção, há a solidariedade em caso do idoso,
SABILIDADE em razão do que dispõe o Estatuto do Idoso, em seu art 12.
SUBSIDIÁRIA)
Pois envolve estado de pessoas e dignidade humana, porém, se
IMPRESCRITIBILI- foi fixada em sentença ou em ato voluntário, prescreverá a
DADE execução em 2 anos a partir da data de vencimento, conforme
regra específica de prescrição prevista no art. 206, § 2º do CC;

102
INALIENABILIDA- Não pode ser objeto de cessão gratuita ou onerosa, nem de
DE crédito, não podendo, também, alienados de qualquer forma;
INCOMPENSÁVEIS Veda-se que os alimentos sejam objetos de compensação;
IMPENHORÁVEIS Em razão de ser personalíssima e inalienável;
É uma obrigação moral, assim não é passível de repetição. Isso
significa dizer que se trata de obrigação satisfativa pela qual não
cabe pedir a devolução que se prestou caso não sejam mais
IRREPETÍVEL devidas. Assim, a exemplo dos alimentos provisórios, caso, ao final
do processo o juiz determine que os alimentos não são mais
cabíveis, não podem ser devolvidos, pois, à época, eram legítimos.
Contudo, em se tratando de má-fé do credor, evitar-se-á o
enriquecimento ilícito, podendo haver a sua devolução;
NÃO ADMITE Pois não se trata de um direito patrimonial de caráter privado,
TRANSAÇÃO não podendo ser objeto de compromisso ou arbitragem;
Aos herdeiros do devedor, prevalecendo o entendimento de que
TRANSMISSÍVEL ocorre nos limites da herança (Enunciado n. 343 do CJF/STJ, da
IV Jornada de Direito Civil)

É a principal característica dos alimentos, pois pode ser alterado a


qualquer tempo em razão da alteração fática do binômio
necessidade x disponibilidade, fazendo apenas coisa julgada
formal. O direito se transforma em obrigação legal diante do
MUTABILIDADE binômio necessidade/possibilidade: necessidade de quem pede
e possibilidade de quem deverá pagar. Ou seja, quando quem
os pretende não tens bens suficientes, nem pode prover, pelo seu
trabalho, a própria subsistência e aquele de quem se reclamam
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.
Há uma relação de proporcionalidade (art. 1.694, §1º, CC).
QUANTO À FONTE
Também denominados de familiares, são aqueles que decorrem
da disposição legal, relativamente ao casamento, união estável
CLASSIFICAÇÃO
LEGAIS ou das relações de parentesco. Em caso de não pagamento, cabe
prisão civil do devedor (art. 5º, LXVII, CF/88) nos moldes do
NCPC;
CONVENCIONAIS Decorrem de norma contratual, testamento ou legado;
INDENIZATÓRIOS São devidos em razão da prática de um ato ilícito que acarretou
dano para o credor;
QUANTO À EXTENSÃO
Destinados a manter a qualidade de vida do credor, de modo a
CIVIS (REGRA) preservar o mesmo padrão e status social do alimentante.

103
Visa a mera subsistência (art. 1694, § 2º c/c art. 1695, CC) e
NATURAIS ocorre quando o cônjuge por culpado da própria penúria ou em
(EXCEÇÃO) caso de separação judicial quando houver o binômio legal, não
houver nenhum outro parente para prestar e tiver inaptidão para
o trabalho;
QUANTO AO TEMPO
PRETÉRITOS Já prestados, não podendo ser mais pleiteados em razão do
princípio da atualidade que rege o instituto dos alimentos
PRESENTES Estabelecido naquele momento e que podem ser pleiteados;
FUTUROS Estão pendentes mas poderão, em momento oportuno, ser
pleiteados;
QUANTO À FORMA DE PAGAMENTO
PRÓPRIOS Também conhecido como in natura, são pagos em espécie
através de alimentos, sustento, hospedagem, entre outros.
Decorrentes da pensão alimentícia, que vai ser determinada de
IMPRÓPRIOS acordo com o caso concreto, pelo juiz, variante entre 10-40%
com base no salário do devedor ou então em salários mínimos;
QUANTO À FINALIDADE
Por meio de acordo das partes ou por sentença judicial
DEFINITIVOS transitada em julgado. Contudo, conforme visto anteriormente,
não formam coisa julgada material, mas sim formal, podendo ser
alterado a qualquer tempo, a depender do binômio legal;
São aqueles fixados antes da sentença de alimentos, conforme
Lei. 5478/68 (Lei de Alimentos). Assim, exige prova pré-
PROVISÓRIOS constituída do parentesco (certidão de nascimento) ou
casamento e tem natureza de tutela de urgência satisfativa, pois
antecipada os efeitos da sentença;
Decorrem de outras ações que não sejam regidas pela Lei de
Alimentos, com objetivo de manutenção do padrão de vida da
PROVISIONAIS parte que os pleiteia. Ocorre por meio de tutela antecipada,
antecipando os efeitos finais do processo, ou liminar, em caso de
medida cautelar de separação de corpos, e, ao contrário da
anterior, não precisa ser através de prova pré-constituída;
É a divisão dos frutos e rendimentos dos bens do casal, a título
COMPENSATÓ- de ressarcimento pela não imissão imediata dos bens da meação
RIOS a que o cônjuge faz jus, com fim de restabelecer uma igualdade
na relação familiar em razão do desequilíbrio no momento da
partilha dos bens;

104
De acordo com recente entendimento jurisprudencial do STJ, são
TRANSITÓRIOS os fixados por determinado período de tempo, a favor de ex-
cônjuge/companheiro, antes do termo final (até que obtenha
autonomia financeira).

EXONERAÇÃO  Morte do credor


 Alteração substancial ou desaparecimento do binômio legal
 Atingimento da maioridade, se for menor
 Dissolução do casamento/união estável
 Comportamento indigno do credor
É previsto na Lei nº 11.804/08, tratando-se do direito concedido à gestante de buscar
alimentos durante a gravidez, tratando-se de subsídios gestacionais. A lei enumerada
as despesas que precisam ser atendidas pelo devedor, porém, não se trata de um rol
taxativo, devendo ser considerada toda e qualquer despesa com a gravidez
ALIMENTOS ensejadora de alimentos gravídicos. São devidos desde a concepção e são irrepetíveis,
GRAVÍDICOS sendo concedidos com base em meros indícios. Não se exige prova efetiva do
parentesco, assim:
 Fixação com base em meros indícios;
 Devidos desde a concepção;
 Irrepetíveis;
 Conversão automática em pensão alimentícia, se não houver impugnação
quando do nascimento;

AÇÕES DE A ação de alimentos é imprescritível. Na verdade, o que não prescreve é o direito de


postular em juízo, o pagamento de pensões alimentícias. Mas as parcelas devidas, o
ALIMENTOS
direito de cobrar as pensões já fixadas em sentença ou estabelecidas em acordo e não
pagas prescrevem em dois anos (art. 206, §2o, CC). A prescrição dessas parcelas ocorre
mensalmente. O devedor de alimentos que não fizer o seu pagamento estará sujeito à
chamada prisão civil. Determina a Constituição Federal (art. 5º, inciso LXVII) que “não
haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia (...)”.
PROCEDIMENTO É aquela prevista na Lei de Alimentos, constituída a partir de
ESPECIAL prova pré-constituída, ademais, outras ações submetidas ao
CONCENTRADO mesmo rito é de oferta de alimentos (art. 24) e revisão (art. 13).
SUMARÍSSIMO Por sua vez, a exoneração de alimentos não se submete a este
(LEI N. 5.478/68) procedimento, pois trata-se de procedimento comum do CPC.
Trata-se de procedimento especial previsto art. 16 da Lei nº
5.478/68 e CPC. Assim, no cumprimento de sentença que
EXECUÇÃO DE condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
ALIMENTOS interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em
3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo

105
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: A curatela é o encargo imposto a alguém para reger e proteger
a pessoa que, por causa transitória ou permanente, não possa exprimir a sua vontade,

administrando os seus bens (STJ - Resp: 1515701/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJu.
02/10/2018, T4 - Quarta Turma, Data de Publicação: DJe 31/10/2018). Acerca do instituto da

curatela, assinale a alternativa incorreta:

A) Não existem mais absolutamente incapazes maiores, por força das alterações que foram
feitas no art. 3º do Código Civil pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).

Sendo assim, a curatela somente incide para os maiores relativamente incapazes, que são os
ébrios habituais, os viciados em tóxicos, as pessoas que por causa transitória ou definitiva não

puderem exprimir vontade e os pródigos.

B) De acordo com posição dominante no STJ, o rol de legitimados para propor a ação de
levantamento da curatela previsto no art. 756, ß 1º do CPC/2015 é taxativo, somente podendo

ser ajuizada pelas pessoas arroladas expressamente no mencionado dispositivo.

C) O Ministério Público detém legitimidade expressa para propor a ação de levantamento de


curatela.

D) O Estatuto da Pessoa com Deficiência incluiu disposição expressa no Código Civil segundo

a qual, na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer a

curatela compartilhada a mais de uma pessoa.

Comentário:

Na verdade, o STJ entende que não se trata de um rol taxativo. “4- O art. 756, §1º, do

CPC/15, ampliou o rol de legitimados para o ajuizamento da ação de levantamento da


curatela previsto no art. 1.186, §1º, do CPC/73, a fim de expressamente permitir que,

106
além do próprio interdito, também o curador e o Ministério Público sejam legitimados
para o ajuizamento dessa ação, acompanhando a tendência doutrinária que se

estabeleceu ao tempo do código revogado. 5- Além daqueles expressamente legitimados


em lei, é admissível a propositura da ação por pessoas qualificáveis como terceiros

juridicamente interessados em levantar ou modificar a curatela, especialmente àqueles


que possuam relação jurídica com o interdito, devendo o art. 756, §1º, do CPC/15, ser
interpretado como uma indicação do legislador, de natureza não exaustiva, acerca dos

possíveis legitimados”. (REsp /MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 11/12/2018, DJe 14/12/2018)

Questão 2
MPE-GO – 2019 – MPE-GO: De acordo com as regras de direito intertemporal dispostas no
Código Civil e na jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa

correta:

A) O atual Código Civil permite a alteração de regime de bens casamento, sendo tal regra
inaplicável aos matrimônios contraídos na vigência do Código Civil de 1916, tendo em vista a

ausência de previsão legal.

B) O Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre


cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido

para os cônjuges. Tal entendimento, por contemplar inconstitucionalidade, que tem efeito ex
tunc, é aplicável aos inventários judiciais mesmo com o trânsito em julgado da sentença de

partilha.

C) Se o curador, na vigência do Código Civil de 1916, tinha inscrito hipoteca por força de
sentença judicial em procedimento de interdição, com a entrada em vigor do atual Código

Civil, teve o prazo decadencial de dois anos para pleitear o seu cancelamento.

D) O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil de 1916 é o por
ele estabelecido, para fins de aferição da divisão patrimonial dos bens adquiridos pelo casal,

ainda que o divórcio ocorra sob a égide do atual Código Civil.

Comentário:

107
De acordo com o art. 2.039, o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do
Código Civil anterior, é o por ele estabelecido. Ambas as Turmas de Direito Privado desta

Corte assentaram que o art. 2.039 do Código Civil não impede o pleito de autorização
judicial para mudança de regime de bens no casamento celebrado na vigência do Código

de 1916, conforme a previsão do art. 1.639, § 2º, do Código de 2002, respeitados os


direitos de terceiros26. 4. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha

havido trânsito em julgado da sentença de partilha, e às partilhas extrajudiciais em que


ainda não haja escritura pública. 5. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em

repercussão geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional


a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado,

em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”27. De acordo com o


art. 2.040/CC, a hipoteca legal dos bens do tutor ou curador, inscrita em conformidade

com o inciso IV do art. 827 do CC anterior, poderá ser cancelada (NÃO TEM PRAZO),

obedecido o disposto no parágrafo único do art. 1.745 deste Código.

Questão 3
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Acerca dos alimentos, pode-se afirmar corretamente que

A) a constituição de nova família pelo alimentante acarreta a revisão automática da quantia


estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior, devendo ser reduzido o valor, em

decorrência do dever de sustento que se estende a todos os filhos.

B) os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem
ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possui mais

condições de reinserção no mercado de trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira.

26
REsp 812.012/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe
02/02/2009
27
RE 878694, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-02-2018
108
C) são devidos alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso
universitário, por força da obrigação parental de promover adequada formação profissional,

mas não em caso de frequência a cursos técnicos.

D) os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação, mesmo quando


configurado o enriquecimento sem causa do alimentando.

E) a responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta natureza

complementar e subsidiária, configurando-se sempre que não for cumprida adequadamente,

independentemente da demonstração da insuficiência de recursos do genitor.

Comentário:

Conforme Jurisprudência em teses do STJ, Edição n. 65 (Alimentos) e Edição 77: A

constituição de nova família pelo alimentante não acarreta a revisão automática da


quantia estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior.

Os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e

devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua
mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia
financeira.

É devido alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso


universitário ou técnico, por força da obrigação parental de promover adequada
formação profissional.

Os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação, salvo quando


configurado o enriquecimento sem causa do alimentando.

A responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta natureza

complementar e subsidiária, somente se configurando quando demonstrada a

insuficiência de recursos do genitor.

Questão 4
VUNESP – 2019 – TJ/RO: No regime da comunhão parcial de bens, pode-se afirmar
corretamente:
109
A) Não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS auferidos durante a constância da união

estável ou do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens, salvo se


utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação.

B) Os valores investidos em previdência privada fechada não se inserem na previsão legal que

excepciona da comunicabilidade as pensões, os meios-soldos, os montepios e outras rendas


semelhantes e, dessa forma, integram o patrimônio comum do casal, devendo ser objeto da

partilha.

C) As obrigações provenientes de atos ilícitos, mesmo que não revertam em proveito do casal,
bem como os bens que sobrevierem ao cônjuge, na constância do casamento, por doação ou

sucessão, e os sub-rogados em seu lugar, integram o patrimônio comum do casal e, portanto,


devem ser objeto de partilha.

D) A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada,

adquiridos antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio comum a
ser partilhado quando do término do relacionamento, visto que essa valorização é decorrência
de um fenômeno econômico que dispensa a comunhão de esforços do casal.

E) As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância da união estável ou


do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens não integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha no momento da

separação.

Comentário:

Conforme Jurisprudência em teses do STJ, Edição n. 113: da dissolução da sociedade


conjugal e da união estável:

3) As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância da união estável

ou do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial ou universal de bens


integram o patrimônio comum do casal e, portanto, devem ser objeto da partilha no
momento da separação.

110
4) Deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - FGTS auferidos durante a constância da

união estável ou do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial ou


universal de bens, ainda que não sejam sacados imediatamente após a separação do

casal ou que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a
vigência da relação.

5) A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada,

adquiridos antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio


comum a ser partilhado quando do término do relacionamento, visto que essa
valorização é decorrência de um fenômeno econômico que dispensa a comunhão de

esforços do casal.

6) Os valores investidos em previdência privada fechada se inserem, por analogia, na


exceção prevista no art. 1.659, VII, do Código Civil de 2002, consequentemente, não

integram o patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha.
(Art. 1.659, VII - as pensões, os meios-soldos, os montepios e outras rendas semelhantes).

Art. 1.659, I e IV do CC: “Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada

cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por


doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; (...) IV - as obrigações provenientes

de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;”

Questão 5
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: Acerca do instituto da guarda compartilhada no Código Civil,

assinale a alternativa incorreta:

A guarda compartilhada encontra suas origens na “Common Law” do Direito Inglês, com a
denominação de “joint custody”. A partir da década de 1960, se difundiu tal conceito pela

Europa, porém, foi nos Estados Unidos da América que a denominada guarda conjunta
avançou em virtude de intensas pesquisas em decorrência da transformação das famílias. Daí,

é possível concluir que a adoção de previsão legal da guarda compartilhada no Brasil retrata

111
uma crescente tendência mundial, fortalecida pela Convenção de Nova Iorque sobre Direitos
da Criança (ONU, 1989).

B) A guarda compartilhada define os dois genitores como detentores da autoridade parental

para tomar todas as decisões que afetem os filhos, visando manter os laços de afetividade e
abrandar os efeitos que o fim da sociedade conjugal pode trazer à prole, ao passo que tenta

manter de forma igualitária a função parental, consagrando os direitos da criança e de seus


genitores. Em face disso, a guarda compartilhada, como regra, é recomendável, não se

aplicando, porém, quando um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda
do menor ou um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar.

C) Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de medida cautelar de

guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão sobre guarda de filhos, salvo
se provisória, será proferida preferencialmente após a oitiva de ambas as partes perante o juiz.

D) A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe. Se o juiz

verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a
pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o

grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.

Comentário:

Art. 1.585. Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de medida

cautelar de guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão sobre


guarda de filhos, mesmo que provisória, será proferida preferencialmente após a oitiva

de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos interesses dos filhos exigir a
concessão de liminar sem a oitiva da outra parte, aplicando-se as disposições do art.

1.584.

Questão 6
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, o casamento

A) dispensa habilitação se ambos os cônjuges forem maiores e capazes.

B) é civil e sua celebração gratuita.

112
C) religioso não produz efeitos civis, em nenhuma hipótese.

D) pode ser contraído entre colaterais, a partir do terceiro grau.

E) pode ser celebrado mediante procuração, por instrumento público ou particular.

Comentário:

De acordo com o art. 1.525, o requerimento de habilitação para o casamento será


firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador. De

acordo com o art. 1.512, o casamento é civil e gratuita a sua celebração, por sua vez, o
art. 1.516, § 2, aduz que o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas

neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer
tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e

observado o prazo do art. 1532. O art. 1.521 traz hipóteses em que não podem se casar,
dentre eles, os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau
inclusive. Por fim, o art. 1.542 aduz que o casamento pode celebrar-se mediante

procuração, por instrumento público, com poderes especiais.

Questão 7
FCC – 2019 – MPE/MT: Ana Lúcia e Heitor, ela com sessenta e cinco, ele com sessenta e sete

anos, casam-se pelo regime de comunhão universal, tendo antes estipulado pacto antenupcial
por escritura pública para adoção desse regime; dois anos depois arrependem-se e requerem

judicialmente alteração do regime para o de comunhão parcial de bens. Em relação a ambas


as situações,

A) era possível a estipulação do pacto antenupcial, pois ambos não haviam atingido setenta

anos de idade; é possível também a alteração do regime de bens, mediante autorização


judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões

invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

B) embora possível o pacto antenupcial, a alteração do regime de bens escolhido só é possível


após três anos de casamento, mediante autorização judicial, explicitação de motivos e
ressalvados direitos de terceiros.

113
C) era possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido de
ambos os cônjuges, sem especificação de razões, por se tratar de questões privadas do casal;

era possível o pacto antenupcial, mas por serem maiores de 65 anos somente para o regime
de separação de bens.

D) não era possível o pacto antenupcial porque Ana Lúcia já tinha 65 anos de idade, o que

tornava obrigatório o regime de separação de bens; a alteração do regime de bens era no


caso necessária, para o citado regime de separação de bens, prescindindo de autorização

judicial.

E) era possível o pacto antenupcial, escolhendo qualquer regime, pois não haviam atingido
setenta anos; era possível alterar o regime de bens, a qualquer tempo, prescindindo de

autorização judicial, mas ressalvados direitos de terceiros.

Comentário:

Conforme o art. 1.641, ll, do CC, é obrigatório o regime da separação de bens no

casamento da pessoa maior de 70 anos, ou seja, Ana Lúcia e Heitor, por não atingirem
ainda essa idade, podem escolher livremente o seu regime de bens. Além disso, não há

óbice de tempo para a mudança do regime, bastando, apenas, a observância do art.


1.639 do CC em seu parágrafo 2º que estabelece que "é admissível alteração do regime

de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges,

apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros."

Questão 8
FCC – 2019 – MPE/MT: No que tange às relações de parentesco e à filiação, é correto afirmar:

A) Em nenhuma hipótese pode alguém vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento.

B) Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral,

também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.

114
C) É suficiente o adultério da mulher, desde que por ela confessado, para ilidir a presunção
legal da paternidade.

D) Na linha colateral, a afinidade entre parentes não se extingue com a dissolução do

casamento ou da união estável.

E) Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos havidos por fecundação

artificial homóloga, salvo se falecido o marido.

Comentário:

De acordo om o art. 1.604, ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do

registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro. O art. 1.594


dispõe que contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e,

na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente
comum, e descendo até encontrar o outro parente. O art. 1.600 aduz que não basta o
adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da paternidade.

Ademais, somente na linha reta o parentesco não se extingue com a dissolução do


casamento ou da união estável. São presunções previstas no art. 1.597: Presumem-se

concebidos na constância do casamento os filhos:

I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência


conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por
morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes
de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do
marido.

Questão 9
MPE-SC – 2019 – MPE/SC: Assinale como V ou F:

( ) De acordo com o Código Civil, cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do
outro pelo vínculo da afinidade. Na linha reta, a afinidade se extingue com a dissolução do

casamento ou da união estável.


115
( ) Quanto à sua natureza, os alimentos naturais são aqueles destinados à manutenção da
condição social do credor de alimentos. Já os alimentos civis dizem respeito ao estritamente

necessário à sobrevivência do alimentando.

( ) As causas suspensivas de celebração do casamento podem ser arguidas, até o momento


da sua celebração, por qualquer pessoa capaz.

( ) A Súmula n. 596 do STJ enuncia que “A obrigação alimentar dos avós tem natureza

complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total de seu


cumprimento pelos pais”.

( ) Segundo estabelece o Código Civil, a sentença que decretar a nulidade do casamento

retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso,
por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado.

Comentário:

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da

afinidade.

§ 1 O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos
do cônjuge ou companheiro.

§ 2 Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da

união estável.

Alimentos naturais são os indispensáveis para garantir a subsistência. Os alimentos civis


são aqueles necessários para manter a qualidade de vida do credor, preservando o

mesmo padrão e status social do alimentante. O Código Civil de 2002 diferencia


nitidamente com caráter punitivo. Assim, segundo a Professora Maria Berenice Dias, pelo

art. 1.694 , do CC parentes, cônjuges e companheiros podem pedir alimentos uns aos
outros para viver de modo compatível com sua condição social, assegurando o mesmo
padrão de vida de que sempre desfrutaram, sendo nesses casos os alimentos de natureza

civis. Já a lei limita o valor, se ficar caracterizada a culpa (artigos 1.694 , § 2º , 1.702 e
1.704 , CC); assim, quem, culposamente, dá origem à situação de necessidade receberá

116
alimentos naturais, ou seja, apenas o necessário para manter a sua subsistência. Fonte:
SAVI"28

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do

casamento, por qualquer pessoa capaz.

Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas pelos
parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos

colaterais em segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins.

SÚMULA Nº 596: A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e


subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu

cumprimento pelos pais.

Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua
celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-

fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado.

Questão 10
FCC – 2019 – DPE/SP: Rubens separou-se de fato de Betina em 2007. Casados desde 2004,

não ajuizaram ação de divórcio, e Betina, em 2016, faleceu. Por ocasião do casamento, Rubens
adotou o sobrenome de Betina. Diante de seu falecimento, Rubens:

A) não poderá retirar o sobrenome de Betina administrativamente se vier a contrair novo

casamento.

B) poderá requerer administrativamente o retorno ao nome de solteiro.

C) não poderá requerer judicialmente o retorno ao nome de solteiro porque tal pedido
deveria ser feito em ação de divórcio.

D) não poderá requerer judicialmente o retorno ao nome de solteiro porque dependia de


anuência do outro cônjuge.

28
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/41429/qual-a-diferenca-entre-alimentos-naturais-e-civis-ciara-bertocco-
zaqueo
117
E) poderá requerer judicialmente o retorno ao nome de solteiro.

Comentário:

EXCEÇÕES EM QUE A ALTERAÇÃO DO NOME É PERMITIDA

11) Morte do cônjuge29

Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela
incorporou o patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira.

Alguns anos mais tarde, João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira
(Maria Pimentel da Costa), excluindo o patronímico do falecido marido?

SIM. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em

caso de morte do marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher


voltarem a usar o nome de solteiro (a) em caso de divórcio.

Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido.

A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de

ser: a dissolução do vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate
de modo diferenciado as referidas situações. Assim, o dispositivo que apenas autoriza a

retomada do nome de solteiro na hipótese de divórcio deverá ser estendido também às


hipóteses de dissolução do casamento pela morte de um dos cônjuges.

É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do

vínculo conjugal pelo falecimento do cônjuge. STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.718-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627)

Impedir a retomada do nome de solteiro na hipótese de falecimento do cônjuge

implicaria em grave violação aos direitos da personalidade e à dignidade da pessoa


humana após a viuvez, especialmente no momento em que a substituição do

patronímico é cada vez menos relevante no âmbito social, quando a questão está, cada
dia mais, no âmbito da autonomia da vontade e da liberdade e, ainda, quando a

29
Fonte: Dizer o Direito
118
manutenção do nome pode, em tese, acarretar ao cônjuge sobrevivente abalo de
natureza emocional, psicológica ou profissional, em descompasso, inclusive, com o que

preveem as mais contemporâneas legislações civis.

Questão 11
FCC – 2019 – DPE/SP: Ana e Joaquim, casados pelo regime da comunhão parcial de bens,

decidem constituir empresa limitada para comércio de bebidas. Para obter o capital inicial
necessário à abertura do negócio, recorrem à instituição financeira e dão seu único

apartamento como garantia do empréstimo. O negócio não prospera e, diante da falta de


pagamento, o banco executa a garantia. Nesse caso, considerando-se a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, consolidada no EAResp 848.498, o apartamento será expropriado

presumindo-se

A) que o dinheiro reverteu em favor da família.

B) que cônjuges não podem ser sócios.

C) tratar de dívida de pessoa jurídica.

D) tratar de bem de família previsto no Código Civil.

E) constituir bem de família de acordo com a Lei nº 8.009/90.

Comentário:

Sobre o tema, prevalece no STJ o entendimento de que o proveito à família é presumido

quando, em razão da atividade exercida por empresa familiar, o imóvel onde reside o
casal (únicos sócios daquela) é onerado com garantia real hipotecária para o bem do

negócio empresarial. Nesse sentido, constitui-se ônus dos prestadores da garantia real
hipotecária, portanto, comprovar a não ocorrência do benefício direto à família,

mormente tendo em vista que a imposição de tal encargo ao credor contrariaria a


própria organicidade hermenêutica, inferindo-se flagrante também a excessiva dificuldade
de produção probatória. Deste modo, pode-se assim sintetizar o tema: a) o bem de

família é impenhorável quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da
pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à

119
entidade familiar; e b) o bem de família é penhorável quando os únicos sócios da
empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a

demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. STJ, EAREsp 848.498-PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe 07/06/2018

(Info 627).

Questão 12
VUNESP – 2019 – TJ/AC: Assinale a alternativa correta sobre os alimentos.

A) Os alimentos gravídicos são devidos pelo suposto pai, à mulher gestante, bastando a

existência de indícios de paternidade para sua fixação.

B) Sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, a obrigação é, em regra, solidária.

C) É nula de pleno direito a renúncia aos alimentos, realizada por um dos cônjuges, em ação
de divórcio.

D) Fixados os alimentos judicialmente, sua redução ou majoração somente poderá ser

pleiteada após decorridos 6 (seis) meses da fixação.

Comentário:

De acordo com a Lei 11.804/2008 “Art. 6o Convencido da existência de indícios da


paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da

criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.”

De acordo com o art. 1.698, do CC, se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar,
não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer

os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas,

poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Conforme leciona Sílvio de Salvo Venosa, a renúncia aos alimentos pelo cônjuge é
manifestação de vontade válida, pois apenas os alimentos derivados do parentesco são,
em princípio, irrenunciáveis. O dever de mútua assistência entre os cônjuges rompe-se
quando é desfeito o casamento. Ademais, o acordo firmado na separação por mútuo
120
consentimento é negócio jurídico bilateral com plenitude de efeitos. Se as vontades se
manifestaram livremente, não há aspecto de ordem pública a ser preservado na renúncia

aos alimentos.

De acordo com o art. 1.699, se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar

ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

Assim, não existe prazo mínimo.

Questão 13
VUNESP – 2019 – TJ/AC: Sobre o regime de bens entre os cônjuges, assinale a alternativa
correta.

A) É obrigatório o regime da comunhão parcial de bens para as pessoas que contraírem

casamento com inobservância das causas suspensivas de sua celebração.

B) No regime da comunhão parcial de bens, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal,


na constância do casamento, incluindo os recebidos por um dos cônjuges via doação.

C) No regime da separação convencional de bens, é válida e eficaz a fiança prestada por um

dos cônjuges sem a autorização do outro.

D) O pacto antenupcial poderá ser celebrado por escritura pública ou instrumento particular,

desde que registrado em cartório.

Comentário:

O art. 1.647 do Código Civil fala em “separação absoluta” – compreendendo, portanto, as

separações convencional e obrigatória. Quanto à convencional, há consenso: não é


necessária a outorga conjugal para os atos elencados nos incisos do art. 1.647. Contudo,

há certa controvérsia quanto à separação obrigatória. Como decorrência do enunciado


377 da súmula do STF, é possível a comunicação de bens no referido regime. E, nesse
sentido, eventual dispensa de outorga para os atos poderia ocasionar prejuízo à meação,

razão pela qual parte da doutrina e da jurisprudência entende ser necessária a outorga
conjugal no regime de separação obrigatória. A questão se refere expressamente à

121
“separação convencional”, recaindo, portanto, sobre a parte da matéria em que há

consenso.

Questão 14
CESPE – 2019 – TJ/PR: Após o falecimento dos pais, uma criança de dez anos de idade foi
colocada sob tutela de sua avó, de sessenta e cinco anos de idade, já que constitui parente de

grau mais próximo. Em relação à tutela dessa criança, considerando-se as disposições legais, é
correto afirmar que a avó

A) poderá se escusar da tutela, sob a alegação de ser aposentada.

B) poderá se escusar da tutela, sob o fundamento de ser maior de sessenta anos.

C) não poderá se escusar da tutela, já que é o parente de grau mais próximo da criança.

D) não poderá se escusar da tutela, uma vez que tal ato é vedado pela legislação vigente.

Comentário:

De acordo com o art. 1.736, podem escusar-se da tutela:

I - mulheres casadas;

II - maiores de sessenta anos;

III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;

IV - os impossibilitados por enfermidade;

V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;

VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;

VII - militares em serviço.

Questão 15
CESPE – 2019 – TJ/BA: Com relação ao reconhecimento voluntário de filhos tidos fora do
casamento, julgue os seguintes itens.

122
I O Código Civil admite o reconhecimento voluntário de paternidade por declaração direta e
expressa perante o juiz, desde que manifestada em ação própria, denominada ação

declaratória de paternidade. Nesse caso, o ato jurídico é irrevogável.

II De acordo com o Código Civil, o reconhecimento voluntário de paternidade por meio do


testamento é revogável pelo testador, por constituir ato de última vontade, mutável a

qualquer tempo antes do falecimento do testador.

III O reconhecimento de filiação pode preceder o nascimento do filho e, até mesmo, ser
posterior ao falecimento deste. Nesse último caso, admite-se o reconhecimento post mortem

se o filho deixar descendentes.

Assinale a opção correta.

A) Apenas o item II está certo.

B) Apenas o item III está certo.

C) Apenas os itens I e II estão certos.

D) Apenas os itens I e III estão certos.

E) Todos os itens estão certos.

Comentário:

O Item I está incorreto, pois, de acordo com o art. 1609 IV admite o reconhecimento

voluntário de paternidade por declaração direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido objeto único e principal do ato que o contém. Portanto,

não precisa ser manifestada em ação própria, como diz a assertiva, pode ser pedido de
uma outra ação e, não necessariamente o principal.

O Item II está incorreto, pois a assertiva diz que o reconhecimento voluntário de

paternidade por meio de testamento é revogável pelo testador. Tal afirmação é contrária
ao que está expresso no art. 1610 do CC: “o reconhecimento não pode ser revogado,
nem mesmo quando feito em testamento”.

123
O item III está correto, pois expressa a literalidade do art. 1609, pu, do CC, em que o
reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu

falecimento, se ele deixar descendentes.

124
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - D

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 - C

Questão 6 - B

Questão 7 - A

Questão 8 - B

Questão 9 – F, F, F, F, V

Questão 10 - E

Questão 11 - A

Questão 12 - A

Questão 13 - C

Questão 14 - B

Questão 15 - B

125
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Casamento, União Estável e Monoparentalidade

 CC: Arts. 1511 a 1547 e 1723 a 1727;

Dissolução do Casamento e da União Estável

 CC: Arts. 1548 a 1582;

Regimes de Bens

 CC: Arts. 1639 a 1688;

Parentesco

 CC: Arts. 1591 a 1629;

Poder Familiar

 CC: Arts. 1630 a 1638 e 1728 a 1783;

Alimentos

 CC: Arts. 1694 a 1710.

Casamento e Divórcio

 Súmula 377 do STF

No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

 Súmula 197 do STJ

O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.

126
 Súmula 305 do STF

Acordo de desquite ratificado por ambos os cônjuges não é retratável unilateralmente.

União estável

 Súmula 38 do STF

A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato .

Ação de investigação de paternidade

 Súmula 1 do STJ

O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de


paternidade, quando cumulada com a de alimentos.

 Súmula 149 do STF

É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.

 Súmula 301 do STJ

Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum
de paternidade.

 Súmula 277 STJ

Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação.

Alimentos

 Súmula 594 do STJ

O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações
de risco descritas no artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.

 Súmula 596 do STJ

A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.

 Súmula 226 do STF

127
Na ação de desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da decisão que os concede.

 Súmula 379, STF

No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados ulteriormente,
verificados os pressupostos legais.

 Súmula 336 do STJ

A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do
ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.

 Súmula 358 do STJ

O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos.

 Súmula 309 do STJ

O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores
ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

 Súmula 621 do STJ

Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à data da citação,
vedadas a compensação e a repetibilidade.

128
JURISPRUDÊNCIA

Casamento, União Estável e Monoparentalidade

 Info 625, STF

A norma constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar a união estável
entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família”) não obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida
como entidade familiar apta a merecer proteção estatal.

 STJ, REsp 1.183.378/RS, 2011

O Supremo Tribunal Federal entendeu que todas as regras previstas para a união estável são aplicáveis, por
analogia, à união homoafetiva. Resolução nº 175/2013 do CNJ: os registradores são obrigados a fazer a
conversão da união estável em casamento das relações homoafetivas. Se é possível converter a união estável
homoafetiva em casamento homoafetivo, também é possível o casamento homoafetivo diretamente no Cartório
de Registro Civil

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/6/2017 (Info
609).

No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e


companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil.
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). O STJ acompanhou o entendimento
do Supremo e também decidiu de forma similar: É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do
CC/2002.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.624-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).

Não é lícito aos conviventes atribuírem efeitos retroativos ao contrato de união estável, a fim de eleger o regime
de bens aplicável ao período de convivência anterior à sua assinatura.

 Informativo 581, STJ:

O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por morte de titular de plano de saúde na hipótese
em que a referida disposição contratual faça referência a cônjuge, sendo omissa quanto a companheiro.

129
 Informativo 595, STJ:

Contrato de convivência não exige escritura pública. É válido, desde que escrito, o pacto de convivência
formulado pelo casal no qual se opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil (igual)
ao regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura pública. Em outras
palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar contrato de convivência dizendo que
aquela relação será regida por um regime de bens igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para
ser válido, precisa ser feito por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública.

 Informativo 609, STJ:

O STF fixou a seguinte tese: No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no
art. 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). O STJ
acompanhou o entendimento do Supremo e também decidiu de forma similar: É inconstitucional a distinção de
regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime
estabelecido no art. 1.829 do CC/2002.

Dissolução do Casamento e da União Estável

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.494.302-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/6/2017 (Info
609)

Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de uso para moradia de imóvel
público. Ex: João e Maria viviam em união estável. No curso dessa união eles passaram a residir em uma casa
pertencente ao Governo do Distrito Federal sobre o qual receberam a concessão de uso para fins de moradia.
Depois de algum tempo decidem por fim à relação. Deverá haver uma partilha sobre os direitos relacionados
com a concessão de uso.

 Informativo 597, STJ:

É possível, em processo de dissolução de casamento em curso no país, que se disponha sobre direitos
patrimoniais decorrentes do regime de bens da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha
reflexos sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha.

 Informativo 604, STJ:

A EC 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da separação judicial.

 Informativo 631, STJ:

130
A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do
casamento não significa concordância tácita com a modificação do nome civil. Ex: João da Silva Maier casou-se
com Gabriela Ferreira. Gabriela adotou o patronímico de João e passou a se chamar Gabriela Ferreira Maier. O
relacionamento chegou ao fim e João ajuizou ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a) que fosse decretado o
divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o patronímico “Maier” de seu nome. Gabriela foi devidamente
citada, mas não respondeu a ação. Correta a decisão do juiz que julga o pedido parcialmente procedente
decretando o divórcio, mas mantendo o sobrenome da ré. Principais argumentos: • o fato de o réu ter sido revel
não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor; • o nome é considerado direito
indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade; • para que houvesse a retirada do sobrenome, seria
necessária a manifestação expressa da vontade da mulher; • a utilização do sobrenome do ex-marido por mais
de 30 trinta anos pela ex-mulher demonstra que há tempo ele está incorporado ao nome dela, de modo que não
mais se pode retirá-lo, sem que cause evidente prejuízo para a sua identificação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.732.807-
RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2018

 Informativo 637, STJ:

Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo que o legitimado ativo
para o seu ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge. Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja
proposto pelo curador, na qualidade de representante processual do cônjuge. Justamente por ser excepcional o
ajuizamento da ação de dissolução de vínculo conjugal por terceiro em representação do cônjuge, deve ser
restritiva a interpretação da norma jurídica que indica os representantes processuais habilitados a fazê-lo, não se
admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui apenas a curatela provisória. Assim, em
regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser admitido em situações
excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério Público. STJ. 3ª Turma. REsp
1.645.612-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018

 Informativo 634, STJ:

UNIÃO ESTÁVEL. Na dissolução de entidade familiar, é possível o reconhecimento do direito de visita a animal de
estimação adquirido na constância da união, demonstrada a relação de afeto com o animal. Na dissolução da
entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao animal de estimação, independentemente da
qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender do caso em concreto,
aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser humano e do seu
vínculo afetivo com o animal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.713.167-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/06/2018

 Informativo 643, STJ:

A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o condão de alterar a
competência funcional do juízo prevento. Assim, a ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo

131
que decretou o divórcio, mesmo que um dos ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz. Não
se aplica, no caso a regra do art. 50 do CPC/2015, que prevê a competência do domicílio do incapaz
(competência territorial especial). Isso porque a competência funcional, decorrente da acessoriedade entre as
ações de divórcio e partilha, possui natureza absoluta. Por outro lado, a competência territorial especial conferida
ao autor incapaz, apesar de ter como efeito o afastamento das normas gerais previstas no diploma processual,
possui natureza relativa. As regras de competência absoluta preponderam em relação às das de competência
relativa. STJ. 2ª Seção. CC 160.329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019

 Informativo 656, STJ:

PROVA DOCUMENTAL. A prova documental é o único meio apto a demonstrar a existência da sociedade de fato
entre os sócios. A prova escrita constitui requisito indispensável para a configuração da sociedade de fato
perante os sócios entre si.

Regimes de Bens

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/4/2017 (Info 603).

O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo estatuto da comunhão
parcial, mas recebido individualmente por um dos companheiros, através de doação pura e simples realizada pelo
outro, deve ser excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002: Art. 1.659. Excluem-se da
comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; Ex: João e Maria vivem em união estável.
Durante este relacionamento, João comprou um apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal,
na constância da união estável, o imóvel foi doado por João, de forma graciosa, à Maria. Isso significa que, no
momento que for feita a dissolução da união estável, este bem não irá integrar o montante partilhável. João,
quando doou o imóvel, o fez quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos.

 STJ. 2ª Seção. REsp 1.399.199-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 9/3/2016 (Info 581).

Diante do divórcio de cônjuges que viviam sob o regime da comunhão parcial de bens, não deve ser
reconhecido o direito à meação dos valores que foram depositados em conta vinculada ao FGTS em datas
anteriores à constância do casamento e que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a
vigência da relação conjugal.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.477.937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/4/2017
(Info 606).

O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável regida pela
comunhão parcial de bens.

132
 STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães, julgado em 23/05/2018 (Info
628).

No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser
comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil.

 Informativo 588, STJ:

Algumas vezes, uma empresa apura lucro, mas decide que não irá distribuí-los aos acionistas, retendo esses
lucros com o objetivo de incrementar o seu capital social. O lucro destinado à conta de reserva, ou seja, que não
é distribuído aos sócios, continua pertencendo à sociedade empresária (e não ao sócio). Em razão disso, essa
quantia não será partilhada caso um dos sócios termine a união estável que mantinha. Em outras palavras, os
lucros de sociedade empresária destinados a sua própria conta de reserva não são partilháveis entre o casal no
caso de dissolução de união estável de sócio.

 Informativo 591, STJ:

Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, “é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.” A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é
impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado
unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar.

 Informativo 594, STJ:

Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha.
Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-
cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido
acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial.

 Informativo 606, STJ:

A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido beneficiada por suposta
transferência fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade passiva para integrar a ação de
divórcio cumulada com partilha de bens, no bojo da qual se requereu a declaração de ineficácia do negócio
jurídico que teve por propósito transferir a participação do sócio/ex-marido à sócia remanescente, dias antes da
consecução da separação de fato.

 Informativo 606, STJ:

133
O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável regida pela
comunhão parcial de bens.

 Informativo 616, STJ:

Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trate de relacionamento regulado pelo regime da separação
obrigatória (art. 1.641, II, do CC). Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime
patrimonial é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC). Apesar disso, se um dos companheiros
ganhar na loteria, o valor do prêmio integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC). Assim,
havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado igualmente entre os consortes.
(Info 616). Art. 1.660. Entram na comunhão: (...) II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso
de trabalho ou despesa anterior; Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime
patrimonial que irá regular essa relação é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC). Apesar disso,
se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na loteria, o valor do prêmio integra a massa de bens
comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de forma que pertence a ambos. Assim, havendo dissolução da união
estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado igualmente entre os consortes. Em suma, o prêmio de loteria,
recebido por excompanheiro septuagenário durante a relação de união estável, deve ser objeto de meação entre
o casal em caso de dissolução do relacionamento. STJ. 4ª Turma. REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 24/10/2017

 Informativo 628, STJ:

No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser
comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães
(Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018 (recurso repetitivo)

 Informativo 624, STJ:

A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando sobre a
partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião de divórcio
consensual, não impede que haja um novo acordo sobre o destino dos referidos bens. STJ. 3ª Turma. REsp
1623475-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018

Parentesco

 STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840).

O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a
constância do casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de

134
paternidade contra o suposto pai biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento
são filhos do marido não pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira
paternidade.

 Informativo 581, STJ:

É possível o reconhecimento da paternidade socioafetiva post mortem, ou seja, mesmo após a morte do suposto
pai socioafetivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.999-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016

 Informativo 578, STJ:

Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação
de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.466.423- GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016

 Informativo 577, STJ:

O filho tem direito de desconstituir a denominada “adoção à brasileira” para fazer constar o nome de seu pai
biológico em seu registro de nascimento, ainda que preexista vínculo socioafetivo de filiação com o pai registral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.598-CE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/12/2015

 Informativo 588, STJ:

O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória de filiação
socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da ação, pré-morta (já falecida) -
e os supostos pais socioafetivos dela. Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento
de sua relação de parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, seria outra ação, na qual se
buscaria um direito próprio (e não de sua mãe). STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 2/8/2016

 Informativo 840, STF:

A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de
filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. Ex: Lucas foi registrado e
criado como filho por João; vários anos depois, Lucas descobre que seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá
buscar o reconhecimento da paternidade biológica de Pedro sem que tenha que perder a filiação socioafetiva
que construiu com João; ele terá dois pais; será um caso de pluriparentalidade; o filho terá direitos decorrentes
de ambos os vínculos, inclusive no campo sucessório. STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
21 e 22/09/2016

 Informativo 840, STF:

135
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a
constância do casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de
paternidade contra o suposto pai biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento
são filhos do marido não pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira pater-
nidade. STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016

 Informativo 604, STJ:

A coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade deve ser relativizada nos casos em que, no
processo, não houve a realização de exame de DNA e, portanto, não foi possível ter-se certeza sobre o vínculo
genético (STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011. Repercussão geral). O STJ
entendeu, contudo, que essa relativização da coisa julgada não se aplica às hipóteses em que o magistrado
reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou seus herdeiros) terem se recusado a comparecer ao
laboratório para a coleta do material biológico. Ex: Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra
João; este se recusou a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu que
Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de DNA induz presunção juris tantum de paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João
ingressou com ação negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a realização de exame
de DNA. Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC). Em suma,
a relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade – em que não foi possível
determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o
reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em comparecer
ao laboratório para a coleta do material biológico.

 Informativo 623, STJ:

É imprescindível o consentimento de pessoa maior para o reconhecimento de filiação post mortem. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.688.470-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/04/2018

 Informativo 649, STJ:

É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas
de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao instituto da
adoção unilateral. Vale ressaltar que não se trata de adoção, pois não se pretende o desligamento do vínculo
com o pai biológico, que reconheceu a paternidade no registro civil de nascimento da criança.

 Informativo 656, STJ:

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. Determinada pessoa ajuizou ação de investigação de paternidade contra o


suposto pai e esta foi julgada improcedente; transitou em julgado; o suposto pai morreu; eventual ação rescisória
contra esta sentença deve ser proposta contra os herdeiros (e não contra o espólio). A ação rescisória de

136
sentença proferida em ação de investigação de paternidade cujo genitor é pré-morto deve ser ajuizada em face
dos herdeiros, e não do espólio

Poder Familiar

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016 (Info 595).

Aplicação obrigatória da guarda compartilhada. A guarda compartilhada somente deixará de ser aplicada quando
houver inaptidão de um dos ascendentes para o exercício do poder familiar, fato que deverá ser declarado,
prévia ou incidentalmente à ação de guarda, por meio de decisão judicial.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).

A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho gera danos morais, passíveis de
compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando
danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do
Código Civil.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018
(Info 622)

O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos (usufruto legal),
bem como têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, nos termos do art. 1.689,
incisos I e II, do Código Civil. Por essa razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores
recebidos pelos pais em nome do menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de
que as verbas recebidas tenham sido utilizadas para a manutenção da comunidade familiar, abrangendo o
custeio de alimentação, saúde, vestuário, educação, lazer, entre outros. Excepcionalmente, admite-se o
ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre que a causa de pedir estiver fundada na suspeita
de abuso de direito no exercício desse poder. Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em
desfavor dos pais é possível quando a causa de pedir estiver relacionada com suposto abuso do direito ao
usufruto legal e à administração dos bens dos filhos.

 Informativo 637, STJ:

PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO CÔNJUGE CURADOR. O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do
curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à
prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a
prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas. Assim, o
magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse
prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de

137
malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens
comuns; e b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.

 Informativo 640, STJ:

ROL DE LEGITIMADOS. EXEMPLIFICATIVO. O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela,
previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015, não é taxativo. (INTERDIÇÃO É DIFERENTE DE SEU LEVANTAMENTO)

Alimentos

 REsp 997.515/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
18/10/2011, DJe 26/10/2011.

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. RECURSO ESPECIAL. DÉBITO VENCIDO NO CURSO DA AÇÃO DE ALIMENTOS. VERBA
QUE MANTÉM O CARÁTER ALIMENTAR. DESCONTO EM FOLHA. POSSIBILIDADE. 1. Os alimentos decorrem da
solidariedade que deve haver entre os membros da família ou parentes, visando garantir a subsistência do
alimentando, observadas sua necessidade e a possibilidade do alimentante. Desse modo, a obrigação alimentar
tem a finalidade de preservar a vida humana, provendo-a dos meios materiais necessários à sua digna
manutenção, ressaindo nítido o evidente interesse público no seu regular adimplemento. 2. Por um lado, a
Súmula 309/STJ, ao orientar que "o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo", deixa límpido que os alimentos vencidos no curso da ação de alimentos ostentam também a natureza
de crédito alimentar. 3. Por outro lado, os artigos 16 da Lei 5.478/1968 e 734 do Código de Processo Civil
prevêem, preferencialmente, o desconto em folha para satisfação do crédito alimentar. Destarte, não havendo
ressalva quanto ao tempo em que perdura o débito para a efetivação da medida, não é razoável restringir-se o
alcance dos comandos normativos para conferir proteção ao devedor de alimentos. Precedente do STJ. 4. É
possível, portanto, o desconto em folha de pagamento do devedor de alimentos, inclusive quanto a débito
pretérito, contanto que o seja em montante razoável e que não impeça sua própria subsistência. 5. Recurso
especial parcialmente provido.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1501992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/03/2018
(Info 624).

É possível, em sede de execução de alimentos, a dedução na pensão alimentícia fixada exclusivamente em


pecúnia das despesas pagas "in natura" com o consentimento do credor, referentes a aluguel, condomínio e IPTU
do imóvel onde residia o exequente. Vale ressaltar que a regra geral é a incompensabilidade da dívida alimentar
(art. 1.707 do CC e eventual compensação deve ser analisada caso a caso, devendo-se examinar se houve o
consentimento, ainda que tácito do credor, e se o pagamento in natura foi destinado, efetivamente, ao
atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se configurou como mera liberalidade do
alimentante.

138
 STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.063-AC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/6/2017 (Info 607).

O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao pagamento de verba alimentícia
retroativa se inicia tão somente com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601)

É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser
suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da
maioridade civil do alimentado.

 Informativo 579, STJ:

Em execução de alimentos devidos a filho menor de idade, é possível o protesto e a inscrição do nome do
devedor em cadastros de proteção ao crédito. Mostra-se juridicamente possível o pedido do credor para que seja
realizado protesto e inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito (SPC e
Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para garantir a efetivação dos direitos funda-
mentais da criança e do adolescente. No CPC 2015 existe previsão expressa nesse sentido (art. 528, § 1º e art.
782, §§ 3º e 4º). STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/3/2016 (Info
579). STJ. 4ª Turma. REsp 1.533.206-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17⁄11⁄2015.

 Informativo 587, STJ:

A obrigação dos avós de prestar alimentos tem natureza complementar e subsidiária e somente exsurge se
ficar demonstrada a impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos dos filhos, ou de os prove-
rem de forma suficiente. Assim, morrendo o pai que pagava os alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos
avós se ficar demonstrado que nem a mãe nem o espólio do falecido têm condições de sustentar o filho.
Não tendo ficado demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do cumprimento da obrigação alimentar
pela mãe, como também pelo espólio do pai falecido, não há como reconhecer a obrigação do avô de
prestar alimentos. O falecimento do pai do alimentante não implica a automática transmissão do dever
alimentar aos avós.

 Informativo 607, STJ:

O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao pagamento de verba alimentícia
retroativa se inicia tão somente com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade.

 Informativo 621, STJ:

O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros e resultados deve ser incorporado
à prestação alimentar devida? Os valores recebidos a título de “participação nos lucros e resultados” são incluídos
no percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor receber
participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais?

139
1ª corrente: NÃO. Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados não se incorporam à verba
alimentar devida ao menor. É a posição da 3ª Turma do STJ. REsp 1.465.679-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 09/11/2017 (Info 615).

2ª corrente: SIM. As parcelas percebidas a título de participação nos lucros configuram rendimento, devendo
integrar a base de cálculo da pensão fixada em percentual, uma vez que o conceito de rendimentos é amplo,
especialmente para fins de cálculo de alimentos. É a corrente adotada pela 4ª Turma do STJ. AgInt no AREsp
1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/09/2017. STJ. 4ª Turma. REsp 1.561.097-RJ, Rel. Min.
Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em
06/02/2018 (Info 620). Lei 5.478/68, Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios
a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. (alimentos
provisórios de ofício).

É possível a aplicação imediata do art. 528, § 7º, do CPC/2015 em execução de alimentos iniciada e processada,
em parte, na vigência do CPC/1973. A regra do art. 528, §7º, do CPC/2015, apenas incorpora ao direito positivo o
conteúdo da pré-existente Súmula 309/STJ, editada na vigência do CPC/1973, tratando-se assim, de
pseudonovidade normativa que não impede a aplicação imediata da nova legislação processual como
determinam os arts. 14 e 1.046 do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. RHC 92.211-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi julgado em
27/02/2018

 Informativo 622, STJ:

Discussão sobre a possibilidade de o filho ajuizar ação de exigir contas em relação aos valores recebidos pelos
pais em nome do menor O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos
filhos (usufruto legal), bem como têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, nos
termos do art. 1.689, incisos I e II, do Código Civil.

Por essa razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores recebidos pelos pais em nome
do menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de que as verbas recebidas tenham
sido utilizadas para a manutenção da comunidade familiar, abrangendo o custeio de alimentação, saúde,
vestuário, educação, lazer, entre outros.

Excepcionalmente, admite-se o ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre que a causa de
pedir estiver fundada na suspeita de abuso de direito no exercício desse poder.

Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em desfavor dos pais é possível quando a causa de
pedir estiver relacionada com suposto abuso do direito ao usufruto legal e à administração dos bens dos filhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018

 Informativo 617, STJ:

140
Havendo meios executivos mais adequados e igualmente eficazes para a satisfação da dívida alimentar dos avós,
é admissível a conversão da execução para o rito da penhora e da expropriação, a fim de afastar o decreto
prisional em desfavor dos executados. STJ. 3ª Turma. HC 416.886-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
12/12/2017

 Informativo 624, STJ:

É possível, em sede de execução de alimentos, a dedução na pensão alimentícia fixada exclusivamente em


pecúnia das despesas pagas "in natura" com o consentimento do credor, referentes a aluguel, condomínio e IPTU
do imóvel onde residia o exequente. Vale ressaltar que a regra geral é a incompensabilidade da dívida alimentar
(art. 1.707 do CC e eventual compensação deve ser analisada caso a caso, devendo-se examinar se houve o
consentimento, ainda que tácito do credor, e se o pagamento in natura foi destinado, efetivamente, ao
atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se configurou como mera liberalidade do
alimentante. STJ. 3ª Turma. REsp 1501992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/03/2018

 Informativo 628, STJ:

Em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a prole pois se
presume que, em tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas
condições dignas de sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana. A
igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, de modo que é admissível a fixação de
alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de necessidades
diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores Exemplo: João possui
dois filhos, com mulheres diferentes. Para o filho 1, paga 20% de seu salário e para o filho 2, 15%. O STJ admitiu
que essas pensões sejam em valores diferentes porque a capacidade financeira da mãe do filho 2 é muito maior
do que a genitora do filho 1. STJ. 3ª Turma. REsp 1.624.050/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/06/2018

 Informativo 632, STJ:

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos amiliares, revelando-se
inadequada para solver controvérsias relacionadas a obrigações de natureza alimentar. STJ. 4ª Turma. HC
439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018

 Informativo 634, STJ:

Os embargos de terceiro não são cabíveis para o fim de declarar, em sede de ação de exoneração de alimentos,
a natureza familiar da prestação alimentícia, de forma a alterar a relação jurídica posta e discutida na demanda
principal. Ex: João e Maria, ao se divorciarem, firmaram um acordo por meio do qual João iria pagar 30% de seu
salário, a título de alimentos, para Maria e o filho do casal (Vitor). Quando Vitor completou a maioridade, João
propôs ação de exoneração de alimentos contra ele. O juiz deferiu o pedido e determinou que os descontos

141
fossem reduzidos pela metade (15%), já que Vitor não seria mais credor de alimentos. Maria opôs embargos de
terceiro contra essa decisão, tendo o STJ considerado um instrumento jurídico inadequado. STJ. 4ª Turma. REsp
1.560.093-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/09/2018

 Informativo 638, STJ:

O Código Civil prevê o seguinte: Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em
condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide. Neste julgado, o STJ
entendeu que este artigo possui natureza jurídica de “litisconsórcio facultativo ulterior simples”. Trata-se, contudo,
de litisconsórcio com uma particularidade: em regra, a sua formação pode ocorrer não apenas por iniciativa do
autor, mas também por provocação do réu ou do Ministério Público. Vale ressaltar, contudo, uma exceção: se o
credor dos alimentos (autor da ação) for menor emancipado, possuir capacidade processual plena e optar
livremente por ajuizar a demanda somente em face do genitor, não pode o réu provocar o chamamento ao
processo da genitora do autor (codevedora). Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena
capacidade processual, cabe exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018

 Informativo 640, STJ:

É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que haja
anterior penhora de bens do devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.733.697-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
11/12/2018

 Informativo 642, STJ:

O acordo que estabelece a obrigação alimentar entre ex-cônjuges possui natureza consensual e, portanto, a
incidência de correção monetária para atualização da obrigação ao longo do tempo deve estar expressamente
prevista no contrato. Os alimentos acordados voluntariamente entre ex-cônjuges, por se encontrarem na esfera
de sua estrita disponibilidade, devem ser considerados como verdadeiro contrato, cuja validade e eficácia
dependem exclusivamente da higidez da manifestação de vontade das partes apostas no acordo.

Não confundir:

• acordo de alimentos entre ex-cônjuges não prevê atualização monetária da pensão alimentícia ao longo do
tempo: o valor da obrigação se mantém pelo valor histórico (valor original).

• decisão judicial não prevê atualização monetária da pensão alimentícia: mesmo assim a prestação deverá ser
corrigida, atualizando-se o valor historicamente fixado.

142
Observação: a correção monetária explicada acima diz respeito à atualização da obrigação original fixada no
contrato e paga na data do vencimento. Não se estava tratando sobre correção monetária de parcelas pagas em
atraso. Mesmo que o contrato não preveja, haveráincidência de correção monetária caso o alimentante pague a
pensão alimentícia após a data do vencimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.669-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019.

 Informativo 646, STJ:

RECURSO ORDINÁRIO. HABEAS CORPUS. O prazo para interposição de recurso ordinário em


habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal, continua sendo de 5 dias, nos

termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V,
do CPC/2015.

 Informativo 654, STJ:

SURRECTIO. No acordo ficou ajustado que o devedor pagaria a pensão durante certo tempo; passado esse
período, o indivíduo, por mera liberalidade, continuou pagando; isso não significa, contudo, que ele passou a ter
o dever de pagar para sempre a pensão. Obrigação alimentar extinta, mas mantida por longo período de tempo
por mera liberalidade do alimentante, não pode ser perpetuada com fundamento no instituto da surrectio.

 Informativo 654, STJ:

LEGITIMIDADE DA GENITORA PARA CONTINUAR NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS APÓS


TRANSGERÊNCIA DE GUARDA DA CRIANÇA. A mãe tem legitimidade para prosseguir na execução de pensão
alimentícia proposta à época em que era guardiã do filho menor, ainda que depois disso a guarda tenha sido
transferida ao pai executado? 4ª Turma do STJ: SIM. A genitora que, ao tempo em que exercia a guarda judicial
do filho, representou-o em ação de execução de débitos alimentares possui legitimidade para prosseguir no
processo executivo com intuito de ser ressarcida, ainda que, no curso da cobrança judicial, a guarda tenha sido
transferida ao genitor (executado). STJ. 4ª Turma. REsp 1.410.815-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 9/8/2016
(Info 590). 3ª Turma do STJ: NÃO. A genitora do alimentando não pode prosseguir na execução de alimentos, em
nome próprio, a fim de perceber os valores referentes aos débitos alimentares vencidos, após a transferência da
titularidade da guarda do menor ao executado. Não se pode falar em sub-rogação no caso, considerando que o
direito aos alimentos possui caráter personalíssimo.

143
144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

145
Capítulo 8
SUMÁRIO
Direito Civil, CAPÍTULO 8................................................................................................................................................3

23. Direito das Sucessões ........................................................................................................................................3

23.1 Conceitos Básicos e Princípios ................................................................................................................3

23.1.1 Meação X Sucessão .............................................................................................................................3

23.1.2 Modo de Receber a Herança ..........................................................................................................3

23.1.3 Modalidades de Herdeiros ...............................................................................................................3

23.1.4 Princípio de Saisine e Vedação ao Pacta de Corvina ...........................................................4

23.2 Conceito de Direito das Sucessões.......................................................................................................4

23.3 Sucessão em Geral .......................................................................................................................................5

23.3.1 Fonte ..........................................................................................................................................................5

23.3.2 Abertura da sucessão .........................................................................................................................5

23.3.3 Herança .....................................................................................................................................................6

23.3.4 Capacidade Sucessória .......................................................................................................................7

23.3.5 Direito de Representação .................................................................................................................8

23.3.5.1 Sucessão por estirpe .......................................................................................................................8

23.3.5.2 Sucessão por cabeça ......................................................................................................................8

23.3.6 Aceitação ..................................................................................................................................................8

23.3.7 Renúncia ...................................................................................................................................................9

23.3.8 Cessão .................................................................................................................................................... 10

23.3.9 Impedidos de herdar/legar (art. 1801, CC) ............................................................................ 12

23.3.10 Excluídos da sucessão (art. 1814, 1961 e 1963, CC) .......................................................... 12

23.3.10.1 Indignidade (art. 1814, CC) ..................................................................................................... 12

23.3.10.2 Deserdação (art. 1961 e 1963, CC)...................................................................................... 13


23.3.11 Herança jacente e Herança vacante .......................................................................................... 15

23.3.12 Ação de petição de herança......................................................................................................... 16

24. Sucessão Legítima ............................................................................................................................................ 18

24.1 Descendentes (Filhos, Netos, Bisnetos, etc.) .................................................................................. 18

24.2 Ascendentes (Pais, Avós, Bisavós, etc.) ............................................................................................. 20

24.3 Cônjuge Sobrevivente (ou Supérstite) .............................................................................................. 21

24.3.1.1 Sucessão Exclusiva ........................................................................................................................ 21

24.3.1.2 Sucessão Concorrente ................................................................................................................. 22

24.4 Sucessão do companheiro..................................................................................................................... 24

24.5 Colaterais até 4° Grau .............................................................................................................................. 25

24.6 Direito real de habitação ........................................................................................................................ 26

25. Sucessão Testamentária e Disposições de Última Vontade ........................................................... 28

25.1 Sucessão Testamentária .......................................................................................................................... 28

25.1.1 Testamento........................................................................................................................................... 28

25.1.2 Formas de Testamento ................................................................................................................... 29

25.1.3 Inexecução do Testamento ........................................................................................................... 31

25.1.4 Codicilo .................................................................................................................................................. 31

25.1.5 Legado.................................................................................................................................................... 31

25.1.6 Direito de Acrescer ........................................................................................................................... 32

25.1.7 Substituição .......................................................................................................................................... 32

25.2 Disposições testamentárias ................................................................................................................... 33

25.2.1 Características...................................................................................................................................... 33

25.2.2 Vicissitudes ........................................................................................................................................... 33

25.3 Inventário....................................................................................................................................................... 34

25.3.1 Inventariança ....................................................................................................................................... 34


25.3.2 Arrolamento ......................................................................................................................................... 34

25.3.3 Sonegados ............................................................................................................................................ 35

25.3.4 Colação .................................................................................................................................................. 35

25.3.5 Pagamento de Dívidas .................................................................................................................... 35

25.4 Deserdação ................................................................................................................................................... 36

25.5 Partilha ............................................................................................................................................................ 36

25.5.1 Formal de Partilha ............................................................................................................................. 37

25.5.2 Sobrepartilha ....................................................................................................................................... 37

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 38

QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................................................... 51

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 65

LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 66

JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 71


DIREITO CIVIL

Capítulo 8

23. Direito das Sucessões

23.1 Conceitos Básicos e Princípios

A sucessão é a transferência total ou parcial de herança, em razão morte de alguém,


a um ou mais herdeiros. Assim, quando ocorre a morte, não só o patrimônio, mas também os

direitos e obrigações do falecido se transmite a outrem.

23.1.1 Meação X Sucessão

A meação é a divisão do patrimônio dos bens comuns, que ocorrerá entre


cônjuges/companheiros em razão da dissolução da sociedade conjugal, a depender do

regime de bens escolhido. Ao contrário da meação, a sucessão é a transmissão de


titularidade da parte disponível e da metade da meação do falecido (legítima). Assim,

percebe-se que onde o cônjuge meia, ele não sucede.

23.1.2 Modo de Receber a Herança

 Por cabeça: partes iguais


 Por estirpe (direito de representação): se houver mais de uma representação para
um representado, receberão, cada um, metades iguais do que o este receberia.
Porém, se apenas um for representante, receberá o valor igual ao que o
representado receberia;
 Por linhas: ascendência materna ou paterna;

23.1.3 Modalidades de Herdeiros

3
 Necessários: são aqueles que tem direito à legítima, ou seja, metade do
patrimônio do autor da herança. Esse valor é obtido através do montante dos
bens existentes na abertura da sucessão, abatido das dívidas e despesas com
funeral e, esse resultado é somado aos valores sujeitos à colação. Assim, são os
descendentes, ascendentes, cônjuges e companheiros, conforme equiparação
sucessória realizada pelo STF por meio do Rext 878.694/MG, Rel. Min. Luís Roberto
Barroso, j. 31.08.2016;
 Facultativos: são aqueles diversos dos necessários: colaterais (irmãos, tios,
sobrinhos, primos);
 Legítimos: irão dispor da herança de acordo com o que for estabelecido em lei.
Assim, parentes em linha reta, colaterais até o 4º grau, cônjuge e companheiro
dispõem de legitimidade para suceder;
 Testamentários: o falecido/testador deixou a parte disponível do seu patrimônio
ou uma fração desta;

23.1.4 Princípio de Saisine e Vedação ao Pacta de Corvina

Com primeiro princípio, visa evitar que o patrimônio do de cujus fique sem titular por
muito tempo, assim, estabelece a imediata transferência ficta de pleno direito dos bens do
falecido, para seus herdeiros com capacidade sucessória, quando da abertura da sucessão.

Nota-se, portanto, que dispensa qualquer manifestação de vontade acerca da aceitação da


herança.

Conforme visto anteriormente em capítulo próprio, o Código Civil veda o Pacta de

Corvina, contrato realizado com objeto herança de pessoa viva.

23.2 Conceito de Direito das Sucessões

É o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém


(bens, direitos e obrigações), depois de sua morte, em virtude de lei ou testamento. Refere-se
apenas às pessoas naturais (a extinção da pessoa jurídica não está em seu âmbito). A sucessão

é uma forma de aquisição da propriedade.

4
23.3 Sucessão em Geral

23.3.1 Fonte

A lei é a sua única fonte. O testamento pode até indicar o destinatário da sucessão.

Mas ele não é pleno (há muitas restrições ao direito de testar) e também não é causa
geradora de novas disposições sucessórias.

23.3.2 Abertura da sucessão

É o momento em que ocorre a transferência da titularidade do acervo patrimonial do

falecido, de forma automática, em razão do Princípio de saisine, abrangendo o domínio e a


posse da herança. Porém, não existindo herdeiros, não ocorre a abertura da sucessão,
assim, se transformará em herança jacente (sem dono) e, após determinado período de
tempo, vacante, momento em que os bens passarão ao domínio do ente público do

município onde se encontram situados.

Assim, ocorre com a morte do de cujus (real ou presumida). Os de cujus é a pessoa de


cuja sucessão se trata. Consiste, portanto, na manifestação de vontade do herdeiro de

perceber o quinhão que lhe é de direito, podendo ser expressa ou tácita. Não se admite que
seja aceita a herança por partes, ou seja, ou o herdeiro aceita todo o quinhão que lhe é de

direito, ou renuncia à herança.

O lugar da abertura da sucessão será último domicílio do falecido, com base ao que
estabelece o art. 1.785, CC, assim, o foro competente seguirá as regras de competência do art.

48 do NCPC.

A lei material aplicável para regular a sucessão será lei vigente no momento do
óbito do falecido, e a lei que regula a capacidade sucessória será a lei vigente no momento

do óbito.

A administração da herança, por ser considerada como conjunto de bens do de


cujus, ela forma o espólio, se constitui um ente despersonalizado, havendo, portanto, uma
universalidade de direito. Desse modo, com a morte, deve-se abrir inventário cuja

5
administração cabe ao inventariante, porém, até que ele realize seu compromisso, a
administração da herança caberá ao administrador ad hoc que deverão ser escolhidos,

sucessivamente e taxativamente, entre:

 Cônjuge/companheiro, desde que convivam juntos ao tempo da abertura da


sucessão;
 Herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, ou então, o mais velho
destes;
 Testamenteiro ou pessoa de confiança do juiz, se faltarem ou escusarem ou,
ainda, quando afastados por motivo grave de conhecimento do magistrado.

Herança negativa – ocorre quando as dívidas deixadas pelo falecido são maiores do que a

própria herança, assim, não haverá sobras, acarretando a herança negativa, o que não obriga

o inventário mas, se for feito, será inventário negativo.

23.3.3 Herança

É o patrimônio do de cujus. Trata-se de uma universalidade de direito, não suscetível

de divisão em partes materiais (indivisível até a partilha) e é equiparada a um bem imóvel,


enquanto permanecer como tal. Compreende todos os direitos que não se extinguem com a
morte. Integram a mesma bens móveis e imóveis, direitos, obrigações e ações. Abrange coisas

futuras. Excluem-se as coisas que se não se desligam da pessoa (direito à personalidade,


tutela, curatela, obrigações intuitu personae, etc.).

6
Sucessão X Herança. Sucessão mortis causa é o modo de transmitir a herança. Herança é o

conjunto de bens, direitos e obrigações que se transmitem aos herdeiros e legatários. É

considerada pelo Direito brasileiro (em virtude de ficção legal) como um bem imóvel.

23.3.4 Capacidade Sucessória

A capacidade sucessória será analisada com base nas leis vigentes no momento da

abertura da sucessão, ou seja, no momento da morte, conforme exposto acima. São


pressupostos para suceder: existência e vocação hereditária.

Assim, de acordo com o art. 1798 do CC, aquelas pessoas nascidas ou já concebidas,
desde que assim estejam no momento da abertura da sucessão (delação). No caso de
nascituro, apesar de a personalidade civil iniciar apenas com o nascimento com vida, a lei

resguarda dos direitos do nascituro desde a concepção.

Nesse sentido, ele tem capacidade sucessória, de modo que, quando vier a receber os

bens, deverá ser nomeado um administrador (curador) de seus bens. Porém, a aquisição está
relacionada com a ocorrência da condição suspensiva “nascimento com vida”, assim, caso

não ocorra tal evento, não adquirirá a condição de herdeiro, retornando a herança ao acervo
para nova divisão.

A sucessão testamentária decorre da disposição de última vontade (autonomia privada).


Nesse caso, teremos os herdeiros testamentários, também chamados de herdeiros instituídos,

que são indicados como beneficiários da herança por disposição de última vontade. Não se

7
pode confundir herdeiro com legatário. O legatário é o sucessor instituído por testamento
para receber um determinado bem, certo e individualizado, a título singular. O legatário não é

herdeiro!

Assim, a capacidade testamentária (art. 1799, CC) é a apuração se faz ao momento da

morte do autor da herança, sem retroagir à data em que fora lavrado o testamento. Assim,
terão capacidade: prole eventual, pessoas jurídicas pré-constituídas ou então, sob forma de

fundação;

23.3.5 Direito de Representação

Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a


suceder-lhe em todos os direitos, em que ele sucederia se vivo fosse.

23.3.5.1 Sucessão por estirpe

Ocorre quando a sucessão se dá por herdeiros que tenham graus diferentes, de modo
que determinado grupo representa o herdeiro de mesmo grau aos outros herdeiros, porém já

falecido. Neste caso, os representantes terão direito a uma quota igual a dos outros herdeiros
e, dessa quota, será feita a partilha aos que representa. A sucessão por estirpe dá-se em linha

reta descendente, sendo exceção, na linha transversal, quanto aos sobrinhos e tios.

23.3.5.2 Sucessão por cabeça

A sucessão por cabeça ocorre quando todos os herdeiros são do mesmo grau. Cada
herdeiro do mesmo grau corresponde uma quota igual na herança. A herança é dividida entre

todos os herdeiros aos quais é deferida.

23.3.6 Aceitação

A aceitação é o ato do herdeiro mediante o qual confirma a transmissão da herança,


assim, não é através da aceitação que ocorrerá a transferência dos bens do de cujus, pois isso

8
ocorre devido ao Princípio de saisine. Quando assim se manifestar, torna-se definitiva a
transmissão.1

Assim, trata-se um ato unilateral, indivisível, incondicional, não havendo retratação.

Pode ser expressa (declaração escrita) ou tácita (herdeiro pratica atos compatíveis com a sua
condição hereditária). A aceitação apenas consolida a aquisição, retroagindo ao tempo da

abertura da sucessão.

São tipos de aceitação:

 Expressa: declaração escrita por meio de instrumento público ou particular;


 Tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro;
 Presumida: o interessado pode declarar se aceita ou não aceita e, em 20 dias
após a abertura da sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não superior a este,
para se pronunciar. Caso não se pronuncie, presume-se aceita.

Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os

meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. Não importa


igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros.

23.3.7 Renúncia

Renúncia da herança é o ato de transferência realizada por um herdeiro a todos os


demais, sendo ele excluído da sucessão, acarretando retorno dos bens ao acervo hereditário

(efeito ex tunc). A capacidade para renunciar é do agente capaz, não podendo ocorrer por
representante legal do herdeiro.2

Assim, trata-se de um ato unilateral, indivisível e solene (não se presume; é expresso:

por escritura pública ou por termo nos autos) pelo qual o herdeiro declara não aceitar a
herança. Deve respeitar eventuais direitos de credores. É irretratável, em regra, mas se admite

a retração em casos de violência, erro ou dolo. Só pode ocorrer após a abertura da sucessão.

1
Vide questão 3
2
Questão 3
9
Tem efeito retroativo, pois é como se o renunciante jamais fosse chamado à sucessão. A
renúncia válida é a abdicativa: cessão pura, simples e gratuita.

Deve ser pura e simples, não podendo comportar termo ou condições. Uma vez

formalizada retroage à abertura da sucessão e o herdeiro é tratado como se nunca tivesse


existido.

Assim:

 Características: negócio unilateral abdicativa, não está sujeita ao pagamento de


tributos, não é condicionada à concordância dos demais, não pode ser sujeita à
condição/termo, deve ser sempre expressa em instrumento público ou termo
judicial, atinge direito de representação de seus herdeiros, exceto se ele for o único
herdeiro;
 Espécies abdicativa e translativa, pela qual o herdeiro cede seus direitos em favor
de determinada pessoa, incidindo, nesse caso, importo de transmissão inter vivos;

Realizada a renúncia, a parte do renunciante passa aos outros herdeiros. Se o


renunciante falecer, seus sucessores nada recebem, a não ser que ele seja o único de sua

classe, sucedendo, neste ato, por direito próprio. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de
renúncia da herança.

23.3.8 Cessão

Trata-se de uma transferência de parte ideal da herança a outrem (e não de um bem


determinado). Assim, a cessão pode ser feita por escritura pública. De acordo com o §2º do

art. 1.793, há opção do legislador pela ineficácia da disposição do coerdeiro de bem da


herança considerado singularmente.

O herdeiro, desta forma, não pode dispor do seu quinhão, de um bem da sucessão,

sem a autorização do juiz da sucessão (alvará) e a anuência dos demais herdeiros.

Assim, de acordo com o art. 1.793, o direito à sucessão aberta, bem como o quinhão
de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. Os direitos,

10
conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer,
presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.

É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da

herança considerado singularmente, ainda será ineficaz é a disposição, sem prévia


autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo

hereditário, pendente a indivisibilidade.

O coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão,
se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento

da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer
até cento e oitenta dias após a transmissão.

O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe,

porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor
dos bens herdados.

Como os herdeiros respondem dentro das forças da herança, eventual penhora de bens

não pode recair sobre a meação dos cônjuges dos herdeiros casados pela comunhão parcial
de bens, eis que excluídos da comunhão os bens recebidos por herança3

A condição de fiador do de cujus não se transmite aos seus herdeiros. Porém, são

transmitidas aos herdeiros as obrigações vencidas enquanto era vivo o fiador, até os limites da
herança.

No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á inventário do

patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da sucessão, para fins de


liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança.

De acordo com o art. 1.797, até o compromisso do inventariante, a administração da

herança caberá, sucessivamente: (trata-se de rol exemplificativo)

3
TJSP, Agravo de Instrumento 804.500.5/2, Acórdão 2.236.489, Itapeva, 8.ª Câmara de Direito Público, Rel. Des.
Carvalho Viana, j. 03.09.2008, DJESP 15.10.2008
11
 Ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da
sucessão;
 Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de
um nessas condições, ao mais velho;
 Ao testamenteiro;
 A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

23.3.9 Impedidos de herdar/legar (art. 1801, CC)

É aquele que escreveu o testamento, a mando do testador, abarcando, também, o

cônjuge/companheiro, ascendentes e irmãos daquele; testemunhas do testamento, em


razão da necessidade de sua imparcialidade; o concubino do testador casado, exceto se
estiver separado de fato por 5 anos, não se estendendo à união estável (Enunciado n. 269

CJF/STJ) e nem ao filho decorrente desse relacionamento, e o aquele que realizar o


testamento (tabelião civil ou militar, comandante ou o escrivão). Assim, em qualquer dos

casos, serão nulas as disposições testamentárias.

23.3.10 Excluídos da sucessão (art. 1814, 1961 e 1963, CC)

Pode ser por meio da vontade do falecido ou então por imposição judicial, podendo
atingir tanto os herdeiros quanto os legatários, constituindo-se como normas de natureza

punitiva.

23.3.10.1 Indignidade (art. 1814, CC)

É a incapacidade sucessória que priva alguém de receber a herança (arts. 1.814 a

1.818, CC). Herdeiro que comete atos ofensivos à pessoa ou à honra do de cujus ou de
seus familiares, ou, ainda, atentou contra sua liberdade de testar, reconhecida em sentença

judicial. Encontra fundamento na presumida vontade do de cujus que excluiria o herdeiro se


houvesse feito declaração de última vontade.

12
Desta forma, tem caráter punitivo individual, que pode atingir todas as classes de
herdeiros, sem excluir os descendentes do indigno (direito de representação) os quais não

poderão transmiti-lo os bens recebidos por herança.

Está condicionada à iniciativa de qualquer dos herdeiros (direito potestativo) ou pelo


Ministério Público, devendo ocorrer dentro do prazo decadencial de 4 anos a partir da

abertura da sucessão, por ação judicial própria.

Assim, só perderá sua condição de herdeiro após o trânsito e julgado da sentença, que
possui efeitos ex tunc, como se a transmissão nunca tivesse ocorrido.

O rol previsto no artigo respectivo é taxativo e que servem, também, em caso de

deserdação. Ademais, pode haver a reabilitação do indigno, por meio do perdão


(personalíssimo e irretratável) mediante testamento ou ato autêntico subscrito por duas

testemunhas.

23.3.10.2 Deserdação (art. 1961 e 1963, CC)

São atos de indignidade e ingratidão, ocorrendo, unicamente, na sucessão

testamentária. Assim, é o afastamento do direito sucessório, restrita aos herdeiros


necessários, de forma motivada, apenas podendo ocorrer se tais atos tiverem ocorrido antes

de sua morte, estando sujeita à análise pelo juiz no processo de inventário.

A indignidade pode ser em relação a qualquer sucessor, herdeiro ou legatário. Já a


deserdação só pode ser de herdeiros necessários. O reconhecimento da indignidade se dá

através de uma ação ordinário de indignidade, já a deserdação, por testamento homologado


pelo juiz. Na deserdação, sobre o autor da herança é o ofendido e não há prazo. A ação de

indignidade pode ser promovida por qualquer interessado, no prazo decadencial de 4 anos.

13
Atenção para a Lei 13.532/2017, que modificou o art. 1815, do CC.

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem
em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de


indignidade, será declarada por sentença.
Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se
em quatro anos, contados da abertura da sucessão.
§ 1o O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro
anos, contados da abertura da sucessão;
§ 2o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para
demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído


sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração
dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses
bens.

Assim, a Lei nº 13.532/2017 passou a conferir legitimidade ao Ministério Público para

promover ação visando a declaração de indignidade de herdeiro ou legatário, incluindo o §2º


no artigo 1.815: §2o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem

legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.

14
INDIGNIDADE SUCESSÓRIA DESERDAÇÃO
Matéria de sucessão legítima e
Matéria de sucessão testamentária.
testamentária.
Somente atinge os herdeiros necessários
Alcança qualquer classe de herdeiro.
(ascendentes, descendentes e cônjuge).
Existem hipóteses de deserdação que não
As hipóteses de indignidade servem para a
alcançam a indignidade (arts. 1.962 e
deserdação.
1.963).
Há pedido de terceiros interessados ou do Realizada por testamento, com declaração
MP, com confirmação em sentença de causa e posterior confirmação por
transitada em julgado. sentença.

23.3.11 Herança jacente e Herança vacante

A transferência da titularidade do acervo patrimonial do falecido é realizada de

forma automática, em razão do Princípio de saisine, contudo, não existindo herdeiros, não
ocorre a abertura da sucessão, a herança se transformará em jacente (sem dono) e, após

determinado período de tempo, vacante, momento em que os bens passarão ao domínio do


ente público do município onde se encontram situados.

Desta forma, de acordo com o art. 1.819, falecendo alguém sem deixar testamento

nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados,


ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor
devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância. (herança jacente)

Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais


na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja
herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.

É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas,


nos limites das forças da herança.

15
A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se
habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados

passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas


circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal.

Contudo, não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão excluídos da


sucessão.

Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo

declarada vacante.

Frise-se que, ao final do processo, o Estado não é herdeiro4, mas um sucessor


irregular, não estando sujeito ao direito de saisine. Com a declaração da vacância o Estado

tem apenas a propriedade resolúvel dos bens. A propriedade passa a ser definitiva apenas
cinco anos após a abertura da sucessão.

23.3.12 Ação de petição de herança

A Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser

reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter direito à herança
(no todo ou em parte), logo a petição de herança significa pedir a herança.

De acordo com o art. 1.824, o herdeiro pode, em ação de petição de herança,

demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança,


ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

Assim, conforme com a súmula 149 STF, o prazo prescricional para o ingresso desta

ação é de 10 anos. Ainda, a ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos
herdeiros, poderá compreender todos os bens hereditários.

O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo, sendo lhe

fixado a responsabilidade segundo a sua posse. A partir da citação, a responsabilidade do


possuidor se há de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.

4
STJ, AgRg no Ag 851 .228/Ri, Rei. Mm. Sidnei Beneti, 3. Turma, j. 23.09.2008, DJe 13.10.2008
16
O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de terceiros, sem
prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados. Caráter

real da ação de petição. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparentem a terceiro de boa-fé.

Nota-se, assim, que a boa-fé do terceiro e a teoria da aparência têm a força de vencer

a ação de petição de herança. Desse modo, só resta ao herdeiro reconhecido posteriormente


pleitear perdas e danos do suposto herdeiro aparente, que realizou a alienação5.

De acordo com o art. 1.828, o herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um

legado, não está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o
direito de proceder contra quem o recebeu.

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no
polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação,
ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio "pro indiviso" com

os bens pertencentes ao quinhão hereditário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min.

Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

5
TJSC, Agravo de Instrumento 2004.028002-6, São João Batista, 4ª Câmara de Direito Civil, Rei. Des. José
Trindade dos Santos, DJSC 28.01.2008, p. 191
17
24. Sucessão Legítima

Ocorre quando alguém morre sem deixar testamento (ab intestato). A divisão dos

bens acontece de acordo com a determinação legal. A ordem de vocação hereditária é a


seguinte6:

24.1 Descendentes (Filhos, Netos, Bisnetos, etc.)

Os descendentes herdarão em concorrência com o cônjuge (ou companheiro)


sobrevivente, salvo se este for casado com o falecido no regime da comunhão universal, ou

no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da


herança não houver deixado bens particulares.

Para facilitar, vejamos a seguinte tabela:

REGIMES EM QUE O CÔNJUGE HERDA EM REGIME EM QUE O CÔNJUGE NÃO HERDA


CONCORRÊNCIA SUCESSÓRIA EM CONCORRÊNCIA SUCESSÓRIA
Comunhão parcial de bens, havendo bens Comunhão parcial de bens, não havendo bens
particulares. particulares.
Participação final nos aquestos Comunhão universal de bens
Separação convencional de bens (pacto
Separação obrigatória de bens (art. 1.641, CC)
antenupcial)

6
Vide questão 4
18
Não confundir meação da herança. Meação é instituto de Direito de Família, que depende

do regime de bens adotado. Herança é instituto de Direito das Sucessões, que decorre da
morte do falecido. A herança pode distribuir-se por cabeça ou por estirpe.

Regra geral: os filhos sucedem por direito próprio e por cabeça. O grau mais próximo exclui o

mais remoto.

Vejamos as regras da sucessão dos descendentes:

 Proximidade entre os graus: o mais próximo exclui os mais remotos. Ex.: os filhos
excluem os netos na sucessão;
 Divisão por cabeça: todos que se encontram no mesmo grau de parentesco recebe
por partes iguais. Ex.: o falecido deixou dois filhos, ambos recebem o mesmo valor;
 Exceção: caso o descendente for pré-morto, cabe direito de representação,
assim, a divisão será por estirpe;
 Cabe direito de representação: é uma exceção à regra da proximidade dos graus,
que só ocorre na linha de parentesco descendente ou então na relação de
colateralidade até o 3º grau (sobrinhos).

Assim, ocorre quando são convocados herdeiros de graus diferentes, uns herdando por
cabeça, e outros, por estirpe, nos casos de pré-morto ou excluído da sucessão. Ex.: João falece

deixando 2 filhos, um deles, Pedro, é pré-morto e deixou 2 filhos, Artur e Bruno (netos de
João), assim, incidirá o direito de representação, pelo qual o valor que Pedro receberia por

19
cabeça será novamente divido igualmente entre Artur e Bruno, e a outra metade que sobrou,
será do outro filho de João.

 Concorrência com o cônjuge sobrevivente: apenas ocorrerá a concorrência se o


sobrevivente tiver casado com o falecido sob o regime da comunhão parcial de
bens, se existir bens particulares, participação final nos aquestos e separação
convencional de bens.

A respeito do montante a que tem direito o cônjuge ou companheiro quando concorre


com os descendentes, o art. 1.832 do CC estabelece: “Art. 1.832. Em concorrência com os

descendentes caberá ao cônjuge (ou companheiro) quinhão igual ao dos que sucederem por
cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente
dos herdeiros com que concorrer”.

24.2 Ascendentes (Pais, Avós, Bisavós, etc.)

Não havendo ninguém na classe dos descendentes, herdam os ascendentes, em

concorrência com o cônjuge (companheiro) sobrevivente, independente do regime de bem


atribuído ao casamento. Assim como os descendentes, o grau mais próximo exclui o mais
remoto.

Vejamos características dessa forma de sucessão:

 Proximidade entre os graus;


 Divisão por linhas: os pais herdam em partes iguais, excluindo todos os demais
em graus superiores porventura existentes, ou seja, linha paterna herda a metade,
cabendo à outra a linha materna.

Ademais, havendo igualdade de graus e diversidade de linha (materna ou paterna), cada


linha receberá metade do valor total. Contudo, sobrevivendo apenas um ascendente (pai, por

exemplo), este receberá por inteiro. Ex.: se deixou pai e mãe, não havendo descendente,
receberão na mesma proporção em razão da linha de ascendência; não deixou pais, mas

deixou avós paternos e maternos, assim, a herança será dividida inicialmente em duas partes,
uma para cada linha e, posteriormente, será dividida entre os avós de cada grupo em quotas

iguais.
20
 Não cabe direito de representação;
 Multiparentalidade: nesse caso, a divisão da herança será proporcional ao número
de linhas ascendentes existentes. Ex.: dois pais e uma mãe, a linha paterna receberá
metade do valor, na mesma proporção da linha materna, porém, dentro da linha,
um pai receberá metade do que fora recebido por linha e outro pai, a outra
metade;
 Concorrência com o cônjuge sobrevivente: não há qualquer interferência o regime
de bens adotado, conforme Enunciado n. 609 da VII Jornada de Direito Civil de 105,
havendo concorrência sempre que existir cônjuge sobrevivente.

São duas as regras que estabelecem a quota em que o cônjuge ou companheiro

herdarão em concorrência com os ascendentes (art. 1.837 do CC), vejamos:

 Concorrendo o cônjuge ou companheiro com dois ascendentes de primeiro


grau (pai ou mãe), terá direito a um terço da herança.
 Concorrendo o cônjuge ou companheiro somente com um ascendente de
primeiro grau ou com outros ascendentes de graus diversos, terá direito a
metade da herança.

24.3 Cônjuge Sobrevivente (ou Supérstite)

O cônjuge é o terceiro na ordem de sucessão e poderá suceder de forma concorrente


com os descendentes e ascendentes ou, então, isoladamente e, nesse último caso, esse

direito é reconhecido independentemente do regime de bens adotado no casamento com o


de cujus.

24.3.1.1 Sucessão Exclusiva

Ocorrerá quando não houver descendentes ou ascendentes e independe da existência


de colaterais. Ademais, será necessário que a sociedade conjugal tenha persistido até o

falecimento do de cujus, ou seja, isso significa dizer que a separação de fato subtrai, ao viúvo,
a condição de herdeiro.

21
Assim, herdará isoladamente e por inteiro o cônjuge ou companheiro na falta de
descendentes e ascendentes. Assim como quando herda em conjunto com os ascendentes, o

cônjuge herdará não importando o regime de bens adotado no casamento.

Não se aplica se estiver separado judicialmente ou de fato há mais de dois anos.


Além disso, possui direito real de habitação, desde que se trate do único bem daquela

natureza a inventariar.

24.3.1.2 Sucessão Concorrente

A sucessão concorrente vai ocorrer juntamente com a sucessão dos descendentes ou

dos ascendentes. Nesses casos, o cônjuge terá direito de concorrência com os demais
herdeiros no valor da herança em razão do montante dos bens particulares do falecido, pois,

conforme já explicado anteriormente, se houver bens comuns, ele será meeiro e onde há
meação, não há sucessão.

Vejamos as regras de acordo com cada regime de bens e concorrência:

 Com os descendentes: onde há meação, não há sucessão

 Comunhão universal: inexiste direito de concorrência, de modo que o


cônjuge sobrevivente terá direito à meação de todo o acervo patrimonial, pois

só há bens comuns. Assim, a meação ora pertencente ao de cujus será dividia


entre seus descendentes, não havendo sucessão do sobrevivente sob esses

valores. Contudo, cabível cláusula de incomunicabilidade dos vens, caso em


que sequer meação ocorrerá;
 Comunhão parcial: haverá direito de concorrência apenas se existirem bens

comuns, pois, nesse caso, o cônjuge sobrevivente será meeiro dos bens
adquiridos na constância do casamento e a outra metade será dividida

igualmente entre os descendentes. Ademais, havendo bens particulares, estes


serão divididos por cabeça entre o cônjuge e descendente. Assim, há meação
quanto aos bens comuns e sucessão quanto aos bens particulares. Ex.: Jorge e
Carla casaram pelo regime legal possuem dois filhos, Ana e Paulo, e Jorge,

22
com sua morte, deixou R$ 1.800.000,00 de bens comuns e R$ 600.000,00 de
bens particulares. Nesse caso, Carla terá direito a R$ 900.000,00 à título de

meação e R$ 200.000,00 a título de sucessão, pois os 600 mil foram divididos


igualmente entre ela, Ana e Paulo, totalizando R$ 900.000,00. Assim, Ana e

Paulo receberão, cada um, R$ 450.000,00 da meação que Jorge teria direito e
R$ 200.000,00 a título de sucessão, totalizando R$ 650.000,00.
o Concorrência com filho apenas do falecido: nesse caso, o cônjuge terá

direito à metade do total do valor recebido à título de sucessão pelos


descendentes. Ex.: Jorge e Carla casaram pelo regime legal possuem dois

filhos, Ana e Paulo, e Jorge, com sua morte, deixou R$ 1.800.000,00 de


bens comuns e R$ 500.000,00 de bens particulares. Nesse caso, Carla terá

direito a R$ 900.000,00 à título de meação e Ana e Paulo receberão, cada


um, R$ 450.000,00. Assim, quanto aos bens particulares, Ana e Paulo

receberão, cada um, R$ 200.000,00, enquanto que Carla, R$ 100.000,00


(metade), totalizando R$ 1.000.000,00 para Carla e R$ 650.000,00 para
cada filho.

o Concorrência com vários filhos que sejam comuns: haverá uma quota
mínima para divisão, que será de ¼ do valor da herança, enquanto que

os descendentes, receberão o restante, valor este a ser divido entre eles


por cabeça.

 Separação de bens: nesse caso, não existe meação, uma vez que só há bens
particulares, assim divide-se por cabeça todo o patrimônio do de cujus.

o Separação Obrigatória de bens: atenção à Súmula 377 do STF que no


regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na

constância do casamento. Assim, produz efeito da sucessão com base no


regime de comunhão parcial de bens.
 Participação final dos aquestos: se assemelha à comunhão parcial, de modo

que haverá a meação dos bens comuns e sucessão dos bens particulares.

23
 Com os ascendentes: se for de 1º grau (pai ou mãe), o cônjuge terá direito a 1/3,
porém, se for apenas um ascendente ou de maior grau (ex.: bisavô), terá direito à

metade da herança;

24.4 Sucessão do companheiro

A união estável é reconhecida como entidade familiar desde a promulgação da

Constituição de 1988 (artigo 227, §3º), mas, mesmo com amparo constitucional, quando da
elaboração do Código Civil de 2002, não houve a observância dos princípios da igualdade e
da não discriminação.

Isto porque a sucessão do companheiro foi disposta no artigo 1790, do Código Civil,
em sessão distinta da sucessão do cônjuge, sendo tratada de maneira diferente e prejudicial,

já que, mesmo sendo considerado herdeiros necessários, nos termos do artigo 1845, do
Código Civil, eram conferidos quinhões menores aos companheiros se comparados com os

dos cônjuges.

Buscando sanar tais inconstitucionalidades, o Supremo Tribunal Federal, em

julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade, reconheceu pela inconstitucionalidade


do artigo 1790, do Código Civil, determinando que a sucessão dos companheiros deva
seguir as mesmas regras aplicadas às sucessões dos cônjuges7.

Companheiro sobrevivente: a esse aplicam-se as mesmas regras aplicáveis ao cônjuge


sobrevivente (segundo entendimento do STF e do STJ, é inconstitucional a diferenciação de

regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os

7
Vide questão 1 e 5
24
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC – STF RE 646721/RS, Info 864; STJ REsp

1.332.773-MS, Info 609).

24.5 Colaterais até 4° Grau

Estão na última classe na ordem de vocação hereditária, apenas tendo direito quando
não possuir os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não há concorrência

entre cônjuge e colateral. Assim, serão herdeiros os irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-avós e
sobrinhos-netos (4º grau).

Vejamos características:

 Proximidade entre os graus, ressalvado o direito de representação;


 Sucessão entre irmãos8 (art. 1841, CC): se forem irmãos bilaterais, receberão
igualmente, porém, há um tratamento desigual quando se tratar de irmão bilateral
e unilateral, de modo que o primeiro receberá o dobro que caberá ao segundo.
Ex.: Ana, Luiz, Hugo e José são irmãos, sendo que Luiz é fruto de outro
relacionamento, enquanto que Ana, Hugo e José são frutos do casamento de sua
mãe com Jorge. Assim, Ana falece e deixa R$ 500.00,00 à título de herança, que será
dividida da seguinte forma: Luiz, por ser irmão bilateral, receberá R$ 100.000,00 e os
demais, R$ 200.000,00 cada.

Assim, os irmãos unilaterais (só por parte de mãe ou de pai), concorrendo com
bilaterais (irmãos por parte de pai e de mãe) herdam a metade do que couber a estes.

 Sucessão entre colaterais em terceiro grau (art. 1843, CC): na falta de irmãos,
herdará os sobrinhos (filhos deles) e, na falta destes, os tios. Os sobrinhos têm
preferência sobre os tios, apesar de serem do mesmo grau de parentesco. Nesse
caso, se aplica a regra anterior da bilateralidade de parentesco.
 Sucessão entre colaterais em quarto grau: entre eles não existe ordem de
preferência, recebendo todos em igual valor por cabeça, sempre em direito próprio.
Assim, se o morto deixou um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto, apenas, todos
receberão herança por cabeça.

8
Vide questão 6
25
Assim, há ordem preferencial: irmão (2º grau); sobrinho (3º grau); tio (3º grau);
sobrinho-neto (4º grau); tio-avô (4º grau) e primo (4º grau). O grau mais próximo exclui o

mais remoto, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos (sobrinhos).
Nesse caso, se o falecido deixou um irmão e um sobrinho, filho de outro irmão premorto, o

último terá direito sucessório junto ao irmão do falecido vivo, por força do direito de
representação.

Caso especial: existência de um tio e de um sobrinho. Neste caso, todos dois são

parentes de 3º grau, mas apenas o sobrinho herdará. Os sobrinhos têm prioridade sobre os
tios, por opção legislativa, apesar de serem parentes de mesmo grau (3º grau).

Direito de Representação (ou estirpe): A lei chama certos parentes do falecido a suceder em

todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse (art. 1.851, CC). Ocorre apenas na sucessão
legítima. Ocorre na linha reta descendente, excepcionalmente na transversal ou colateral, mas

nunca na ascendente.

24.6 Direito real de habitação

Ao cônjuge e ao companheiro sobrevivente é garantido o direito real de habitação

relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar.

O artigo 1831 do Código Civil apenas mencionou o cônjuge como detentor do direito real de
habitação no texto legal, mas tanto a doutrina quanto a jurisprudência estendem os efeitos ao
26
companheiro. Porém, em algumas provas já cobraram a literalidade do artigo, não englobando

o companheiro, devendo o candidato ter atenção ao texto da questão para respondê-la.

27
25. Sucessão Testamentária e Disposições de Última
Vontade

25.1 Sucessão Testamentária

A sucessão testamentária visa preservar o patrimônio de uma pessoa aos seus familiares
e por isso é fundada na autonomia da vontade, através de um ato unilateral realizado em vida

(ato de última vontade).

Desta forma, a transmissão hereditária se opera por ato de última vontade, revestido
da solenidade requerida por lei. O testamento é o instrumento da vontade, destinado a

produzir as consequências jurídicas com a morte de testador.

Essa sucessão é limitada, pois deve-se respeitar a legítima dos herdeiros necessários,
ou seja, 50% do património do de cujus.

25.1.1 Testamento

De acordo com Maria Helena Diniz, trata-se de ato personalíssimo e revogável pelo

qual alguém, em conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo
ou em parte, do seu patrimônio, mas também faz outras estipulações”. Assim, poderá ter

disposições patrimoniais ou extrapatrimonais.

Assim, é o negócio jurídico personalíssimo, unilateral, solene e revogável pelo qual


alguém dispõe no todo ou em parte de seu patrimônio para depois de sua morte. Permite a

instituição de herdeiro (sucessor a título universal) ou legatário (sucessor a título singular).

Nesse sentido, o testamento possui alguns requisitos:

 Pessoa capaz de dispor de seus bens para depois da morte: o maior de 16 anos
possui capacidade para testar e a superveniência da capacidade não torna o

testamento válido.

28
Assim, a capacidade para testar só é possível para os maiores de 16 anos. Não podem
testar os incapazes e os que não tiverem o pleno discernimento. A capacidade é avaliada no

momento em que o testamento é elaborado (se o testador ficar incapaz posteriormente, não
se invalida o testamento). Exceções: filhos ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo

testador, desde que vivas estas ao abrir a sucessão; fundações cuja criação foi determinada
pelo de cujus em testamento.

 Pessoa capaz de receber os bens testados;

 Declaração de vontade na forma exigida em lei;


 Observância dos limites ao poder de testar: havendo herdeiros necessários, o
testador só poderá testar sobre a parte disponível (metade dos seus bens),

podendo determinar de forma individualizada o valor dos quinhões;

25.1.2 Formas de Testamento

A lei determina formas possíveis para testar, admitindo formas ordinárias e especiais,
de modo que, entre eles, não existe qualquer hierarquia, possuindo, portanto, igual valor,

porém, havendo sua coexistência, são revogáveis entre si. Sobre essas espécies, é
imprescindível a leitura da legislação, vejamos 9:

 Ordinários (art. 1862, CC): é de livre escolha do testador, devendo ser observadas

as solenidades para tanto:


 Público (art. 1864 a 1867, CC): é sigiloso, pois somente é aberto com o
falecimento do testador, possui fé-pública e só pode ser revogado por outro
testamento. Ainda, com o falecimento do testador, o juiz notificará todos os
cartórios da circunscrição para se manifestarem acerca da existência ou não do
instrumento. Assim, é solene, devendo preencher os seguintes requisitos:
o Escrito por tabelião ou seu substituto legal no livro de notas;
o Lavado instrumento, que deve ser lido em voz alta pelo tabelião ao
testador e duas testemunhas, de uma só vez, ou então pelo testador, se
o quiser, na presença das testemunhas e do oficial do tabelionato;

9
Vide questões 7, 8 e 9
29
o Assinatura do instrumento por todos os envolvidos na lavratura do
testamento;
 Cerrado (místico) (art. 1868 a 1875, CC): é secreto, pois não se sabe qual o
seu conteúdo, que permanece em segredo até a morte do testador. Ele
permanece na posse deste, cabendo ao tabelião, unicamente, declarar sua
autenticidade. Pode ser escrito ou à rogo, desde que assinado, possuindo,
inclusive, forma híbrida. É aberto perante o juiz que irá verificar as cláusulas e
divisão de bens;
 Particular (hológrafo/ológrafo) (art. 1876 a 1888, CC): trata-se da forma mais
simples e acessível para testar, sendo realizado pelo próprio testador de
manifestação de próprio punho ou mediante processo mecânico. Quando do
seu falecimento, deve-se publicar em juízo com a citação dos herdeiros
legítimos;
 Especiais (art. 1886, CC): são casos especificados em lei que dizem respeito a
acontecimentos emergenciais, que sujeitam pessoas a situações de perigo. Trata-se

de rol taxativo, conforme preceitua o art. 1887 do CC e estão sujeitos aos prazos de
caducidade, findo os quais perderão sua eficácia.

 Marítimo (art. 1888 a 1892, CC): qualquer pessoa (tripulante, passageiro e


comandante) poderá testar desde que se encontrem em navio nacional, de
guerra ou mercante, podendo ser realizado tanto nos moldes do testamento
cerrado quanto do público e, em ambos os casos, será realizado pelo
comandante no próprio diário de bordo. Independentemente de o testador
falecer ou não durante a viagem, o comandante deve entregar o documento
no primeiro porto nacional que atracar. Possui validade de 90 dias;
 Aeronáutico (art. 1888 a 1892, CC): se submete às mesmas regras do
testamento marítimo;
 Militar (art. 1893 a 1896, CC): é uma faculdade concedida não só aos
militares, mas também a todas as pessoas que estejam à serviço das Forças
Armadas. Pode ser levado nos moldes do testamento público, cerrado ou
nuncupativo, desde que não beneficie aquele que realiza o testamento
(superior direto). Possui validade de 90 dias, deve ser realizado em caso de
guerra, interrompidas as comunicações e se não houver tabelião ou afim.

30
25.1.3 Inexecução do Testamento

 Revogação: é o ato pelo qual o testador manifesta sua vontade de modificar total
ou parcialmente o testamento anterior.

 Rompimento: quando sobrevêm descendentes ao testador que não os tinha ou não


os conhecia; quando o testador descobre a existência de herdeiros necessários até

então ignorados; no caso de reconhecimento de filho (voluntária ou judicialmente).


 Caducidade.

 Nulidade e anulabilidade.

25.1.4 Codicilo

Ato de última vontade, com menos solenidades (basta ser escrito e assinado) pelo qual

o disponente traça diretrizes sobre assuntos de pequeno valor (pequenas doações, roupas,
forma de enterro, etc.). Desta forma, é um escrito que abrange recomendações sobre o

funeral, esmolas e doações de bens pessoais e de pequeno valor (pouca monta) de até
10x o salário mínimo, possuindo, portanto, valor afetivo. Nesse sentido, observa-se que os

imóveis não podem ser objeto de codicilo.10

25.1.5 Legado

Disposição testamentária a título singular em que o testador deixa a pessoa estranha


ou não à sucessão legítima um ou mais objetos individualizados ou certa quantia em

dinheiro integrantes da herança.

O legatário precisa pedir ao herdeiro a entrega da coisa legada e não responde pelas
dívidas da herança. Nada impede que o testador, ao atribuir o legado, estabeleça algumas

condições. Ademais, é personalíssimo e se difere da herança, pois nessa os herdeiros recebem


fração a título universal.

10
Vide questão 2
31
25.1.6 Direito de Acrescer

Vários herdeiros ou legatários, pela mesma disposição testamentária, forem


conjuntamente chamados à herança em quinhões determinados, e qualquer deles não puder

(faleceu) ou não quiser aceitá-la (renunciou), sua parte acrescerá à dos outros coerdeiros
ou colegatários (salvo se o testador nomear um substituto: neste caso não haverá direito de

acrescer).

25.1.7 Substituição

É o direito que o testador tem de escolher substituto para o herdeiro ou o legatário de


primeiro grau. Espécies:

 Vulgar ou Ordinária: o testador indica outra pessoa no lugar do herdeiro ou do

legatário nomeado, caso um ou outro não possa ou não queira receber a herança
ou o legado. Espécies:

 Singular: quando se nomeia um só substituto ao herdeiro ou legatário.


 Plural: quando são vários os substitutos simultâneos.

 Recíproca: quando o testador ao instituir uma pluralidade de herdeiros, os


declara substitutos uns dos outros.
 Fideicomissária: o testador impõe a um herdeiro ou legatário (chamado fiduciário)
a obrigação de, por sua morte, a certo tempo ou sob certa condição, transmitir a
outro (chamado fideicomissário), a herança ou o legado. Há dois beneficiários:

inicialmente o fiduciário; depois, por algum motivo previsto, há a transmissão ao


fideicomissário.

 Compendiosa: é um misto de substituição vulgar com a fideicomissária. O testador


dá substituto ao fiduciário ou ao fideicomissário, prevendo que um ou outro não

queira ou não possa aceitar a herança.

32
25.2 Disposições testamentárias

25.2.1 Características

 Personalíssimo (art. 1858, CC) e unilateral: apenas poderá ser realizado por ele ou

a seu rogo e basta sua mera manifestação de vontade;


 Revogável (art. 1858, CC): a qualquer tempo, devendo-se, contudo, respeitar as

disposições de caráter não patrimonial (Ex.: reconhecimento de filho);


 Unipessoal: a lei não permite o testamento conjuntivo em qualquer de suas

modalidades, assim, deve ser realizado por apenas uma pessoa. Difere-se do
simultâneo, pois em único ato os testadores contemplam um ao outro; recíproco,

pois os testadores se constituem herdeiro do outro; correspectivo, pois institui o


herdeiro por ter sido contemplado pelo mesmo;
 Formal e solene

 Gratuito: a disposição com encargo não retira o caráter de gratuito visto que
decorre da liberalidade do testador;

 Imprescritível: apenas os ordinários, pois os especiais estão sujeitos a prazo


decadencial;

 Causa mortis

25.2.2 Vicissitudes

 Revogação (art. 1969, CC): o testamento pode ser revogado, porém, as

disposições sem conteúdo patrimonial, não. Assim, nesse caso, deverá haver outro
testamento para desconstituí-lo.

 Caducidade: decorre de fato superveniente que afeta a eficácia do testamento,


inibindo a produção de efeitos, se forma alheia a vontade do testador. Ex.:

Rompimento, que ocorre quando surge um herdeiro necessário que o testador


desconhecia ao tempo da manifestação de vontade

 Invalidade: será nulo quando faltar algum de seus elementos essenciais, e, será
anulável, quando estiver presente vício de consentimento (erro, dolo e coação);

33
 Interpretação do testamento: em regra, em favor do testamento, mas a lei traz
regras proibitivas (art. 1898, art. 1900, incisos I e II, art. 1801 e 1802 do CC) em que

serão nulas quando ocorrerem, pois visam preservar o testamento; causas


permissivas (art. 1897 e 1911, CC) e demais regras interpretativas/integrativas (art.

1902, 1903, 1904, 1905, 1907 e 1908, CC).

25.3 Inventário

É um processo judicial, de caráter contencioso, que visa relacionar, descrever, avaliar


todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus

sucessores. Se houver um testamento ou algum interessado incapaz deve-se proceder ao


inventário judicial.

No entanto, se todos forem capazes e houver consenso entre eles, pode-se fazer o

inventário e a partilha por escritura pública. Esta será o documento hábil para o registro
imobiliário posterior. Todos os interessados devem comparecer no Tabelionato,

acompanhados de advogado (um para todos ou cada um com o seu).

25.3.1 Inventariança

Juiz nomeia um inventariante, a quem caberá a administração e representação


(ativa e passiva) do espólio. Só pode haver um inventariante; é um encargo pessoal, sujeito,
entretanto, à fiscalização dos herdeiros, do Juiz e do Ministério Público. Há uma ordem
preferencial para sua escolha.

25.3.2 Arrolamento

É um processo de inventário simplificado, caracterizado pela redução de atos formais

ou de solenidades. É possível a sua realização quando os herdeiros forem maiores e capazes


e for conveniente fazer uma partilha amigável, que é homologada pelo Juiz, mediante prova

de quitação de tributos.

34
25.3.3 Sonegados

É a ocultação dolosa de bens que devem ser inventariados ou levados à colação. Pode
ser praticada pelo inventariante (quando omite intencionalmente bens e valores ao prestar as

primeiras e as últimas declarações) ou pelos herdeiros (que não indicam bens em seu poder).
Pena: perda do direito sobre o bem sonegado, que é devolvido ao monte e partilhado aos

outros herdeiros, como se o sonegador nunca tivesse existido. Prescrição – 10 anos e deve
ser ajuizada no foro do inventário; pode ser proposta pelos herdeiros legítimos, testamentários

e credores.

25.3.4 Colação

Os herdeiros que foram agraciados com doações em vida, deverão, no prazo de 10


dias, apresentar esses bens, a fim de que se verifique se não houve prejuízo à legítima dos

herdeiros necessários.

Dá-se o nome de colação ao ato de retorno ao monte a ser partilhado das


liberalidades feitas pelo de cujus, antes de sua morte, a seus descendentes. Seu fim é

igualar a legítima destes herdeiros, havendo uma conferência dos bens.

É dever imposto ao herdeiro, pois, segundo a lei, a doação dos pais aos filhos importa
em adiantamento de legítima.

25.3.5 Pagamento de Dívidas

Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do inventário o

pagamento de dívidas. Só serão partilhados os bens e valores que restarem depois de pagas
as dívidas. A cobrança das dívidas faz-se, em regra, pela habilitação do credor ao inventário.

Não sendo impugnada a dívida vencida e exigível, o Juiz declarará habilitado o credor e
mandará que se faça a separação do dinheiro ou bens, para o seu pagamento.

35
25.4 Deserdação

Ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão, mediante testamento com

expressa declaração de causa, herdeiro necessário, privando-o de sua legítima, por ter
praticado alguma conduta prevista na lei como causa para deserdação. Além do testamento

é necessária a propositura de ação judicial.

Deserdação X Indignidade. Deserdação: motivo ocorrido em vida do testador; refere-se


somente a herdeiros necessários; feita por testamento, pela própria pessoa de cuja sucessão
se trata. Indignidade: pode ser declarada com fundamento em atos posteriores ao

falecimento do autor da herança; refere-se a qualquer herdeiro legítimo ou testamentário,


bem como ao legatário; ação proposta por um interessado mediante ação ordinária. Em

ambas as situações se exige uma sentença judicial.

25.5 Partilha

A herança, até à partilha, é uma universalidade, legalmente indivisível. A partilha é a

divisão oficial do apurado durante o inventário entre os sucessores do de cujus. Tem


natureza meramente declaratória.

A partilha pode ser judicial (realizada no processo de inventário quando não houver

acordo ou sempre que um dos herdeiros seja menor ou incapaz) ou amigável (acordo entre
os interessados, desde que maiores e capazes). A partilha amigável é homologada e a
judicial julgada por sentença.

A partilha pode ser feita também por escritura pública (se todos os interessados forem
capazes e estiverem de acordo).

36
25.5.1 Formal de Partilha

Passada em julgado a sentença, receberão os herdeiros os bens que lhe tocarem e um


formal de partilha que é um documento para ser levado a registro, composto por diversas

peças.

25.5.2 Sobrepartilha

É uma nova partilha (partilha adicional) de bens que por determinadas razões não
puderam ser divididos entre os herdeiros, como exemplo: quando parte da herança consistir

em bens remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil; ou


quando houver bens sonegados e quaisquer outros bens da herança que se descobrirem

depois da partilha.

37
QUADRO SINÓTICO

DIREITO DAS SUCESSÕES

CONCEITOS A sucessão é a transferência total ou parcial de herança, em razão morte de alguém, a um


ou mais herdeiros. Assim, quando ocorre a morte, não só o patrimônio, mas também os
BÁSICOS
direitos e obrigações do falecido se transmite a outrem.
A meação é a divisão do patrimônio dos bens comuns, que ocorrerá
MEAÇÃO X entre cônjuges/companheiros em razão da dissolução da sociedade
SUCESSÃO conjugal, a depender do regime de bens escolhido. Ao contrário da
meação, a sucessão é a transmissão de titularidade da parte disponível
e da metade da meação do falecido (legítima). Assim, percebe-se que
onde o cônjuge meia, ele não sucede.
NECESSÁRIOS São aqueles que tem direito à legítima, ou seja,
metade do patrimônio do autor da herança.
FACULTATIVOS São aqueles diversos dos necessários: colaterais
MODALIDADES (irmãos, tios, sobrinhos, primos);
DE HERDEIROS LEGÍTIMOS Irão dispor da herança de acordo com o que for
estabelecido em lei.
TESTAMENTÁRIOS O falecido/testador deixou a parte disponível do
seu patrimônio ou uma fração desta;
Com primeiro princípio, visa evitar que o
patrimônio do de cujus fique sem titular por muito
tempo, assim, estabelece a imediata transferência
PRINCÍPIO DE ficta de pleno direito dos bens do falecido, para
PRINCÍPIOS SAISINE seus herdeiros com capacidade sucessória, quando
da abertura da sucessão. Nota-se, portanto, que
dispensa qualquer manifestação de vontade acerca
da aceitação da herança.
VEDAÇÃO AO Conforme visto anteriormente em capítulo próprio,
PACTA DE o Código Civil veda o Pacta de Corvina, contrato
CORVINA realizado com objeto herança de pessoa viva.

CONCEITO É o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém (bens,


direitos e obrigações), depois de sua morte, em virtude de lei ou testamento. Refere-se
DO DIREITO
apenas às pessoas naturais (a extinção da pessoa jurídica não está em seu âmbito). A sucessão
DAS
é uma forma de aquisição da propriedade.
SUCESSÕES
38
SUCESSÃO FONTE A lei é a sua única fonte. O testamento pode até indicar o destinatário da
sucessão. Mas ele não é pleno (há muitas restrições ao direito de testar) e
EM GERAL
também não é causa geradora de novas disposições sucessórias.
ABERTURA DA É o momento em que ocorre a transferência da titularidade do acervo
SUCESSÃO patrimonial do falecido, de forma automática, em razão do Princípio de
saisine, abrangendo o domínio e a posse da herança. Porém, não
existindo herdeiros, não ocorre a abertura da sucessão, assim, se
transformará em herança jacente (sem dono) e, após determinado
período de tempo, vacante, momento em que os bens passarão ao
domínio do ente público do município onde se encontram situados.

LUGAR DA Último domicílio do falecido, com base ao que


ABERTURA DA estabelece o art. 1.785, CC, assim, o foro
SUCESSÃO competente seguirá as regras de competência do
art. 48 do NCPC.
Para regular a sucessão será lei vigente no
LEI MATERIAL momento do óbito do falecido, e a lei que
APLICÁVEL regula a capacidade sucessória será a lei vigente
no momento do óbito.
Por ser considerada como conjunto de bens do
ADMINISTRAÇÃO de cujus, ela forma o espólio, se constitui um
DA HERANÇA ente despersonalizado, havendo, portanto, uma
universalidade de direito.
É o patrimônio do de cujus. Trata-se de uma universalidade de direito,
HERANÇA não suscetível de divisão em partes materiais (indivisível até a partilha) e
é equiparada a um bem imóvel, enquanto permanecer como tal.
Compreende todos os direitos que não se extinguem com a morte.
A capacidade sucessória será analisada com base nas leis vigentes no
momento da abertura da sucessão, ou seja, no momento da morte,
conforme exposto acima. São pressupostos para suceder: existência e
CAPACIDADE vocação hereditária.
SUCESSÓRIA Assim, de acordo com o art. 1798 do CC, aquelas pessoas nascidas ou já
concebidas, desde que assim estejam no momento da abertura da
sucessão (delação). No caso de nascituro, apesar de a personalidade
civil iniciar apenas com o nascimento com vida, a lei resguarda dos
direitos do nascituro desde a concepção.
Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes
do falecido a suceder-lhe em todos os direitos, em que ele sucederia se
vivo fosse.

39
Ocorre quando a sucessão se dá por herdeiros
que tenham graus diferentes, de modo que
DIREITO DE SUCESSÃO POR determinado grupo representa o herdeiro de
REPRESENTAÇÃO ESTIRPE mesmo grau aos outros herdeiros, porém já
falecido. A sucessão por estirpe dá-se em linha
reta descendente, sendo exceção, na linha
transversal, quanto aos sobrinhos e tios.
A sucessão por cabeça ocorre quando todos os
SUCESSÃO POR herdeiros são do mesmo grau. Cada herdeiro do
CABEÇA mesmo grau corresponde uma quota igual na
herança. A herança é dividida entre todos os
herdeiros aos quais é deferida.
ACEITAÇÃO A aceitação é o ato do herdeiro mediante o qual confirma a
transmissão da herança, assim, não é através da aceitação que ocorrerá
a transferência dos bens do de cujus, pois isso ocorre devido ao Princípio
de saisine. Quando assim se manifestar, torna-se definitiva a transmissão.
Assim, trata-se um ato unilateral, indivisível, incondicional, não
havendo retratação. Pode ser expressa (declaração escrita) ou tácita
(herdeiro pratica atos compatíveis com a sua condição hereditária).
TIPOS DE ACEITAÇÃO:
 Expressa: declaração escrita por meio de instrumento público ou
particular;
 Tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro;
 Presumida: o interessado pode declarar se aceita ou não aceita
e, em 20 dias após a abertura da sucessão, requerer ao juiz prazo
razoável, não superior a este, para se pronunciar.
Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral
do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda provisória.
RENÚNCIA Renúncia da herança é o ato de transferência realizada por um
herdeiro a todos os demais, sendo ele excluído da sucessão, acarretando
retorno dos bens ao acervo hereditário (efeito ex tunc). A capacidade
para renunciar é do agente capaz, não podendo ocorrer por
representante legal do herdeiro. Assim, trata-se de um ato unilateral,
indivisível e solene (não se presume; é expresso: por escritura pública ou
por termo nos autos) pelo qual o herdeiro declara não aceitar a herança.
É irretratável, em regra, Só pode ocorrer após a abertura da sucessão.
Tem efeito retroativo. Espécies abdicativa e translativa, pela qual o
herdeiro cede seus direitos em favor de determinada pessoa, incidindo,
nesse caso, importo de transmissão inter vivos;

40
CESSÃO Trata-se de uma transferência de parte ideal da herança a outrem (e
não de um bem determinado). Assim, a cessão pode ser feita por
escritura pública. De acordo com o §2º do art. 1.793, há opção do
legislador pela ineficácia da disposição do coerdeiro de bem da herança
considerado singularmente.
De acordo com o art. 1.797, até o compromisso do inventariante, a
administração da herança caberá, sucessivamente: (trata-se de rol
exemplificativo:
 Ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo
da abertura da sucessão;
 Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e,
se houver mais de um nessas condições, ao mais velho;
 Ao testamenteiro;
 A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas
nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por
motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
É aquele que escreveu o testamento, a mando do testador, abarcando,
também, o cônjuge/companheiro, ascendentes e irmãos daquele;
IMPEDIDOS DE testemunhas do testamento, em razão da necessidade de sua
HERDAR/LEGAR imparcialidade; o concubino do testador casado, exceto se estiver
(ART. 1801, CC) separado de fato por 5 anos, não se estendendo à união estável
(Enunciado n. 269 CJF/STJ) e nem ao filho decorrente desse
relacionamento, e o aquele que realizar o testamento (tabelião civil ou
militar, comandante ou o escrivão). Assim, em qualquer dos casos, serão
nulas as disposições testamentárias.
EXCLUÍDOS DA Pode ser por meio da vontade do falecido ou então por imposição
SUCESSÃO (ART. judicial, podendo atingir tanto os herdeiros quanto os legatários,
1814, 1961 E constituindo-se como normas de natureza punitiva.
1963, CC) Herdeiro que comete atos ofensivos à pessoa ou
à honra do de cujus ou de seus familiares, ou,
ainda, atentou contra sua liberdade de testar,
reconhecida em sentença judicial.
INDIGNIDADE Desta forma, tem caráter punitivo individual, que
(ART. 1814, CC) pode atingir todas as classes de herdeiros, sem
excluir os descendentes do indigno (direito de
representação) os quais não poderão transmiti-lo
os bens recebidos por herança.

41
São atos de indignidade e ingratidão, ocorrendo,
unicamente, na sucessão testamentária. Assim, é
DESERDAÇÃO (ART. o afastamento do direito sucessório, restrita aos
1961 E 1963, CC) herdeiros necessários, de forma motivada, apenas
podendo ocorrer se tais atos tiverem ocorrido
antes de sua morte, estando sujeita à análise pelo
juiz no processo de inventário.
A transferência da titularidade do acervo patrimonial do falecido é
HERANÇA realizada de forma automática, em razão do Princípio de saisine,
JACENTE E contudo, não existindo herdeiros, não ocorre a abertura da sucessão, a
HERANÇA herança se transformará em jacente (sem dono) e, após determinado
VACANTE período de tempo, vacante, momento em que os bens passarão ao
domínio do ente público do município onde se encontram situados.
A Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer
ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de
consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte), logo a
petição de herança significa pedir a herança.
AÇÃO DE De acordo com o art. 1.824, o herdeiro pode, em ação de petição de
PETIÇÃO DE herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para
HERANÇA obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na
qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.
Assim, conforme com a súmula 149 STF, o prazo prescricional para o
ingresso desta ação é de 10 anos. Ainda, a ação de petição de herança,
ainda que exercida por um só dos herdeiros, poderá compreender todos
os bens hereditários.

SUCESSÃO LEGÍTIMA
Ocorre quando alguém morre sem deixar testamento (ab intestato). A divisão dos bens
acontece de acordo com a determinação legal. A ordem de vocação hereditária é a
CONCEITO
seguinte: descendentes, ascendentes, cônjuges em concorrência ou de forma exclusiva e
colaterais até 4º grau.

DESCENDENTES Os descendentes herdarão em concorrência com o cônjuge (ou companheiro)


sobrevivente, salvo se este for casado com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares.
CARACTERÍSTICAS

42
 Proximidade entre os graus: o mais próximo exclui os mais remotos. Ex.: os filhos
excluem os netos na sucessão;
 Divisão por cabeça: todos que se encontram no mesmo grau de parentesco
recebe por partes iguais. Ex.: o falecido deixou dois filhos, ambos recebem o
mesmo valor;
 Exceção: caso o descendente for pré-morto, cabe direito de representação,
assim, a divisão será por estirpe;
 Cabe direito de representação: é uma exceção à regra da proximidade dos graus,
que só ocorre na linha de parentesco descendente ou então na relação de
colateralidade até o 3º grau (sobrinhos).
 Concorrência com o cônjuge sobrevivente: apenas ocorrerá a concorrência se o
sobrevivente tiver casado com o falecido sob o regime da comunhão parcial de
bens, se existir bens particulares, participação final nos aquestos e separação
convencional de bens.

ASCENDENTES Não havendo ninguém na classe dos descendentes, herdam os ascendentes, em


concorrência com o cônjuge (companheiro) sobrevivente, independente do regime de
bem atribuído ao casamento. Assim como os descendentes, o grau mais próximo exclui o
mais remoto.
CARACTERÍSTICAS
 Proximidade entre os graus;
 Divisão por linhas: os pais herdam em partes iguais, excluindo todos os demais
em graus superiores porventura existentes, ou seja, linha paterna herda a metade,
cabendo à outra a linha materna.
 Não cabe direito de representação;
 Multiparentalidade: nesse caso, a divisão da herança será proporcional ao número
de linhas ascendentes existentes.
 Concorrência com o cônjuge sobrevivente: não há qualquer interferência o
regime de bens adotado
 Concorrendo o cônjuge ou companheiro com dois ascendentes de primeiro
grau (pai ou mãe), terá direito a um terço da herança.
 Concorrendo o cônjuge ou companheiro somente com um ascendente de
primeiro grau ou com outros ascendentes de graus diversos, terá direito a
metade da herança.

CONJUGE O cônjuge é o terceiro na ordem de sucessão e poderá suceder de forma concorrente


com os descendentes e ascendentes ou, então, isoladamente e, nesse último caso, esse
direito é reconhecido independentemente do regime de bens adotado no casamento com
o de cujus.
SUCESSÃO Ocorrerá quando não houver descendentes ou ascendentes e
EXCLUSIVA independe da existência de colaterais.
Não se aplica se estiver separado judicialmente ou de fato há mais de
dois anos. Além disso, possui direito real de habitação, desde que se

43
trate do único bem daquela natureza a inventariar.
SUCESSÃO A sucessão concorrente vai ocorrer juntamente com a sucessão dos
CONCORRENTE descendentes ou dos ascendentes.
Nesses casos, o cônjuge terá direito de concorrência com os demais
herdeiros no valor da herança em razão do montante dos bens
particulares do falecido.
CONFORME CADA REGIME DE BENS
 Com os descendentes: onde há meação, não há sucessão
 Comunhão universal: inexiste direito de concorrência, de
modo que o cônjuge sobrevivente terá direito à meação de
todo o acervo patrimonial, pois só há bens comuns.
 Comunhão parcial: haverá direito de concorrência apenas se
existirem bens comuns, pois, nesse caso, o cônjuge sobrevivente
será meeiro dos bens adquiridos na constância do casamento e
a outra metade será dividida igualmente entre os descendentes.
o Concorrência com filho apenas do falecido: nesse caso, o
cônjuge terá direito à metade do total do valor recebido à
título de sucessão pelos descendentes.
o Concorrência com vários filhos que sejam comuns: haverá
uma quota mínima para divisão, que será de ¼ do valor da
herança, enquanto que os descendentes, receberão o
restante, valor este a ser divido entre eles por cabeça.
 Separação de bens: nesse caso, não existe meação, uma vez
que só há bens particulares, assim divide-se por cabeça todo o
patrimônio do de cujus.
o Separação Obrigatória de bens: atenção à Súmula 377 do
STF que no regime de separação legal de bens, comunicam-
se os adquiridos na constância do casamento.
 Participação final dos aquestos: se assemelha à comunhão
parcial, de modo que haverá a meação dos bens comuns e
sucessão dos bens particulares.
 Com os ascendentes: se for de 1º grau (pai ou mãe), o cônjuge
terá direito a 1/3, porém, se for apenas um ascendente ou de
maior grau (ex.: bisavô), terá direito à metade da herança;

COMPANHEIRO Aplicam-se as mesmas regras aplicáveis ao cônjuge sobrevivente (segundo


entendimento do STF e do STJ, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios
entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime
estabelecido no art. 1.829 do CC – STF RE 646721/RS, Info 864; STJ REsp 1.332.773-MS, Info
609).

44
COLATERAIS Estão na última classe na ordem de vocação hereditária, apenas tendo direito quando
não possuir os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não há concorrência
ATÉ 4º GRAU
entre cônjuge e colateral. Assim, serão herdeiros os irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-
avós e sobrinhos-netos (4º grau).
CARACTERÍSTICAS
 Proximidade entre os graus, ressalvado o direito de representação;
 Sucessão entre irmãos (art. 1841, CC): se forem irmãos bilaterais, receberão
igualmente, porém, há um tratamento desigual quando se tratar de irmão bilateral
e unilateral, de modo que o primeiro receberá o dobro que caberá ao segundo.
 Sucessão entre colaterais em terceiro grau (art. 1843, CC): na falta de irmãos,
herdará os sobrinhos (filhos deles) e, na falta destes, os tios. Os sobrinhos têm
preferência sobre os tios, apesar de serem do mesmo grau de parentesco. Nesse
caso, se aplica a regra anterior da bilateralidade de parentesco.
 Sucessão entre colaterais em quarto grau: entre eles não existe ordem de
preferência, recebendo todos em igual valor por cabeça, sempre em direito
próprio. Assim, se o morto deixou um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto,
apenas, todos receberão herança por cabeça.

DIREITO REAL Ao cônjuge e ao companheiro sobrevivente é garantido o direito real de habitação


relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
DE HABITAÇÃO
daquela natureza a inventariar.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

SUCESSÃO A sucessão testamentária visa preservar o patrimônio de uma pessoa


CONCEITO aos seus familiares e por isso é fundada na autonomia da vontade,
TESTAMENTÁRIA
através de um ato unilateral realizado em vida (ato de última
vontade).
De acordo com Maria Helena Diniz, trata-se de ato personalíssimo e
revogável pelo qual alguém, em conformidade com a lei, não só
TESTAMENTO dispõe, para depois de sua morte, no todo ou em parte, do seu
patrimônio, mas também faz outras estipulações”. Assim, poderá ter
disposições patrimoniais ou extrapatrimonais.
O testamento possui alguns requisitos:
 Pessoa capaz de dispor de seus bens para depois da morte:
o maior de 16 anos possui capacidade para testar e a
superveniência da capacidade não torna o testamento válido.
 Pessoa capaz de receber os bens testados;
 Declaração de vontade na forma exigida em lei;
 Observância dos limites ao poder de testar: havendo
herdeiros necessários, o testador só poderá testar sobre a
parte disponível (metade dos seus bens), podendo

45
determinar de forma individualizada o valor dos quinhões;
FORMAS DE A lei determina formas possíveis para testar, admitindo formas
TESTAMENTO ordinárias e especiais, de modo que, entre eles, não existe
qualquer hierarquia, possuindo, portanto, igual valor, porém,
havendo sua coexistência, são revogáveis entre si.
ORDINÁRIOS (ART. 1862, CC)
É de livre escolha do testador, devendo ser observadas as
solenidades para tanto:
É sigiloso, pois somente é aberto com o falecimento
do testador, possui fé-pública e só pode ser
revogado por outro testamento.
PÚBLICO  Escrito por tabelião ou seu substituto legal
(ART. 1864 no livro de notas;
A 1867, CC)  Lavado instrumento, que deve ser lido em
voz alta pelo tabelião ao testador e duas
testemunhas,
 Assinatura do instrumento por todos os
envolvidos na lavratura do testamento;
CERRADO
(MÍSTICO) É secreto, pois não se sabe qual o seu conteúdo, que
(ART. 1868 permanece em segredo até a morte do testador.
A 1875, CC)
PARTICULA Trata-se da forma mais simples e acessível para
R testar, sendo realizado pelo próprio testador de
(HOLÓGRA- manifestação de próprio punho ou mediante
FO/OLÓGRA processo mecânico.
-FO) (ART.
1876 A
1888, CC)
ESPECIAIS (ART. 1886, CC)
São casos especificados em lei que dizem respeito a
acontecimentos emergenciais, que sujeitam pessoas à situações de
perigo. Trata-se de rol taxativo.
Qualquer pessoa (tripulante, passageiro e
MARÍTIMO comandante) poderá testar desde que se encontrem
(ART. 1888 em navio nacional, de guerra ou mercante,
A 1892, CC) podendo ser realizado tanto nos moldes do
testamento cerrado quanto do público e, em ambos
os casos, será realizado pelo comandante no próprio
diário de bordo.

46
AERONÁUTI
-CO (ART. Se submete às mesmas regras do testamento
1888 A marítimo;
1892, CC)
São uma faculdade concedida não só aos militares,
MILITAR mas também a todas as pessoas que estejam a
(ART. 1893 serviço das Forças Armadas.
A 1896, CC) Possui validade de 90 dias, deve ser realizado em
caso de guerra, interrompidas as comunicações e se
não houver tabelião ou afim.
 Revogação: é o ato pelo qual o testador manifesta sua
vontade de modificar total ou parcialmente o testamento
INEXECUÇÃO anterior.
DO  Rompimento: quando sobrevêm descendentes ao testador
TESTAMENTO que não os tinha ou não os conhecia; quando o testador
descobre a existência de herdeiros necessários até então
ignorados; no caso de reconhecimento de filho (voluntária ou
judicialmente).
 Caducidade.
 Nulidade e anulabilidade.
Desta forma, é um escrito que abrange recomendações sobre o
funeral, esmolas e doações de bens pessoais e de pequeno valor
CODICILO (pouca monta) de até 10x o salário mínimo, possuindo, portanto,
valor afetivo. Nesse sentido, observa-se que os imóveis não podem
ser objeto de codicilo.
Disposição testamentária a título singular em que o testador deixa a
LEGADO pessoa estranha ou não à sucessão legítima um ou mais objetos
individualizados ou certa quantia em dinheiro integrantes da
herança.
Vários herdeiros ou legatários, pela mesma disposição testamentária,
DIREITO DE forem conjuntamente chamados à herança em quinhões
ACRESCER determinados, e qualquer deles não puder (faleceu) ou não quiser
aceitá-la (renunciou), sua parte acrescerá à dos outros coerdeiros
ou colegatários (salvo se o testador nomear um substituto: neste
caso não haverá direito de acrescer).
É o direito que o testador tem de escolher substituto para o herdeiro
SUBSTITUIÇÃO ou o legatário de primeiro grau.
Espécies:

47
O testador indica outra pessoa no lugar do herdeiro
VULGAR OU ou do legatário nomeado, caso um ou outro não
ORDINÁRIA possa ou não queira receber a herança ou o legado.
Espécies:
SINGULAR Quando se nomeia um só substituto
ao herdeiro ou legatário.
PLURAL Quando são vários os substitutos
simultâneos.
Quando o testador ao instituir uma
RECÍPROCA pluralidade de herdeiros, os declara
substitutos uns dos outros
O testador impõe a um herdeiro ou legatário
FIDEICOMIS (chamado fiduciário) a obrigação de, por sua morte, a
-SÁRIA certo tempo ou sob certa condição, transmitir a outro
(chamado fideicomissário), a herança ou o legado.
É um misto de substituição vulgar com a
COMPEN- fideicomissária. O testador dá substituto ao fiduciário
DIOSA ou ao fideicomissário, prevendo que um ou outro
não queira ou não possa aceitar a herança.
 Personalíssimo (art. 1858, CC) e unilateral: apenas poderá
ser realizado por ele ou a seu rogo e basta sua mera
CARACTERÍSTI- manifestação de vontade;
DISPOSIÇÕES
CAS  Revogável (art. 1858, CC): a qualquer tempo, devendo-se,
TESTAMENTÁRIAS contudo, respeitar as disposições de caráter não patrimonial
(Ex.: reconhecimento de filho);
 Unipessoal: a lei não permite o testamento conjuntivo em
qualquer de suas modalidades, assim, deve ser realizado por
apenas uma pessoa. Difere-se do simultâneo, pois em único
ato os testadores contemplam um ao outro; recíproco, pois
os testadores se constituem herdeiro do outro;
correspectivo, pois institui o herdeiro por ter sido
contemplado pelo mesmo;
 Formal e solene
 Gratuito: a disposição com encargo não retira o caráter de
gratuito visto que decorre da liberalidade do testador;
 Imprescritível: apenas os ordinários, pois os especiais estão
sujeitos a prazo decadencial;
 Causa mortis
 Revogação (art. 1969, CC): o testamento pode ser
VICISSITUDES revogado, porém, as disposições sem conteúdo
patrimonial, não.

48
 Caducidade: decorre de fato superveniente que afeta a
eficácia do testamento, inibindo a produção de efeitos, se
forma alheia a vontade do testador
 Invalidade: será nulo quando faltar algum de seus
elementos essenciais, e, será anulável, quando estiver
presente vício de consentimento (erro, dolo e coação);
 Interpretação do testamento: em regra, em favor do
testamento, mas a lei traz regras proibitivas (art. 1898, art.
1900, incisos I e II, art. 1801 e 1802 do CC) em que serão
nulas quando ocorrerem, pois visam preservar o testamento;
causas permissivas (art. 1897 e 1911, CC) e demais regras
interpretativas/integrativas (art. 1902, 1903, 1904, 1905, 1907
e 1908, CC).
Juiz nomeia um inventariante, a quem caberá a administração e
INVENTARIAN- representação (ativa e passiva) do espólio. Só pode haver um
ÇA inventariante; é um encargo pessoal, sujeito, entretanto, à fiscalização
INVENTÁRIO
dos herdeiros, do Juiz e do Ministério Público. Há uma ordem
preferencial para sua escolha.
É um processo de inventário simplificado, caracterizado pela
ARROLAMENTO redução de atos formais ou de solenidades. É possível a sua
realização quando os herdeiros forem maiores e capazes e for
conveniente fazer uma partilha amigável, que é homologada pelo
Juiz, mediante prova de quitação de tributos.
É a ocultação dolosa de bens que devem ser inventariados ou
levados à colação. Pode ser praticada pelo inventariante (quando
omite intencionalmente bens e valores ao prestar as primeiras e as
SONEGADOS últimas declarações) ou pelos herdeiros (que não indicam bens em
seu poder). Pena: perda do direito sobre o bem sonegado, que é
devolvido ao monte e partilhado aos outros herdeiros, como se o
sonegador nunca tivesse existido. Prescrição – 10 anos e deve ser
ajuizada no foro do inventário; pode ser proposta pelos herdeiros
legítimos, testamentários e credores.
Dá-se o nome de colação ao ato de retorno ao monte a ser
COLAÇÃO partilhado das liberalidades feitas pelo de cujus, antes de sua
morte, a seus descendentes. Seu fim é igualar a legítima destes
herdeiros, havendo uma conferência dos bens

49
Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo
do inventário o pagamento de dívidas. Só serão partilhados os
PAGAMENTO bens e valores que restarem depois de pagas as dívidas. A cobrança
DE DÍVIDAS das dívidas faz-se, em regra, pela habilitação do credor ao inventário.
Não sendo impugnada a dívida vencida e exigível, o Juiz declarará
habilitado o credor e mandará que se faça a separação do dinheiro
ou bens, para o seu pagamento.
Ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão, mediante testamento com
expressa declaração de causa, herdeiro necessário, privando-o de sua legítima, por ter
DESERDAÇÃO
praticado alguma conduta prevista na lei como causa para deserdação. Além do
testamento é necessária a propositura de ação judicial.

PARTILHA A herança, até à partilha, é uma universalidade, legalmente indivisível. A partilha é a


divisão oficial do apurado durante o inventário entre os sucessores do de cujus.
Tem natureza meramente declaratória. A partilha pode ser judicial (realizada no
processo de inventário quando não houver acordo ou sempre que um dos herdeiros
seja menor ou incapaz) ou amigável (acordo entre os interessados, desde que maiores
e capazes). A partilha amigável é homologada e a judicial julgada por sentença. A
partilha pode ser feita também por escritura pública (se todos os interessados forem
capazes e estiverem de acordo).
FORMAL DE Passada em julgado a sentença, receberão os herdeiros os bens que
PARTILHA lhe tocarem e um formal de partilha que é um documento para
ser levado a registro composto de diversas peças.
É uma nova partilha (partilha adicional) de bens que por
SOBREPARTI- determinadas razões não puderam ser divididos entre os
LHA herdeiros, como exemplo: quando parte da herança consistir em
bens remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de liquidação
morosa ou difícil; ou quando houver bens sonegados e quaisquer
outros bens da herança que se descobrirem depois da partilha.

50
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
VUNESP – 2019 – TJ/RJ: João e Maria viviam em união estável, formalizada mediante
escritura pública, em que elegeram o regime da comunhão parcial de bens. Da relação entre

João e Maria, resultaram duas filhas, Madalena e Sara. João também tinha outros dois filhos,
Mateus e Paulo, decorrentes de relações eventuais que manteve. João faleceu. Na data da sua

morte, João possuía um patrimônio adquirido totalmente antes da constituição da união


estável com Maria.

É correto afirmar que o patrimônio de João será dividido da seguinte forma:

A) um quarto (1/4) para cada um dos filhos de João.

B) um quarto (1/4) da herança para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os
filhos de João.

C) Maria e todos os filhos de João receberão, cada um, um quinto (1/5) da herança.

D) um terço (1/3) para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos de João.

E) 10% para Maria e 15% para cada um dos filhos de João.

Comentário:

Em primeiro lugar, importa observar que Maria não é meeira no caso, já que os bens

foram constituídos antes da união.

Outro ponto que deve ser observado é que, no sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,

devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do


Código Civil. Com base nesse entendimento, o Plenário, ao apreciar o Tema 498 da
repercussão geral, por maioria, deu provimento ao recurso extraordinário para
reconhecer, de forma incidental, a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil de

51
2002 e declarar o direito do recorrente de participar da herança de seu companheiro, em
conformidade com o regime jurídico estabelecido no art. 1.829 do referido código. STF.

Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info

864).

Além disso, é necessário saber que estamos diante de uma sucessão híbrida. Ela ocorre
quando o cônjuge concorre com descendentes comuns (de ambos) e com descendentes

exclusivos do autor da herança, como no caso em exame.

Recentemente, o STJ entendeu que a reserva da quarta parte da herança, prevista no art.
1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de concorrência sucessória híbrida.

Isto porque, para aquele Tribunal, a interpretação mais razoável do enunciado normativo

é a de que a reserva de 1/4 da herança restringe-se à hipótese em que o cônjuge ou


companheiro concorrem com os descendentes comuns, conforme Enunciado 527 da V

Jornada de Direito Civil. STJ, REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 11/06/2019, DJe 01/07/2019 (Info 651).

Assim, Maria concorrerá igualmente com os demais herdeiros de João, já que não é

ascendente de todos eles, não tendo direito a um quarto da herança, conforme o art.
1.832. “Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à

quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer”.

Questão 2
CESPE – 2019 – TJ/PA: O testamento vital consiste em

A) ato de disposição de última vontade utilizado para bens de pouca monta que sejam
essenciais para a subsistência do beneficiário.

B) ato de disposição de última vontade escrito de próprio punho ou mediante processo

mecânico, assinado pelo testador e lido por três testemunhas.

52
C) ato de disposição de última vontade sobre questões que envolvam o uso ou não de
terapias para prolongar, de forma artificial, o processo natural de morte, em casos de doenças

terminais.

D) ato de disposição de última vontade de quem estiver em viagem, em alto mar, a bordo de
navio nacional, de guerra ou mercante, feito perante o comandante e registrado no diário de

bordo.

E) ato de disposição de última vontade de militares e demais membros das Forças Armadas
em campanha, assim como em praça sitiada, ou que estejam com comunicações

interrompidas, sem acesso a tabelião ou substituto legal.

Comentário:

O Codicilo é que é o ato de última vontade pelo qual o disponente traça diretrizes sobre
assuntos pouco importantes, despesas e dádivas de pequeno valor.

Conforme dispõe o CC: “Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio

punho ou mediante processo mecânico. § 1 Se escrito de próprio punho, são requisitos


essenciais à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo
menos três testemunhas, que o devem subscrever. § 2 Se elaborado por processo

mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o

subscreverão.”

Podemos conceituar testamento vital (testamento em vida ou “living will”), como sendo
“o documento em que a pessoa determina, de forma escrita, que tipo de tratamento ou

não-tratamento deseja para a ocasião em que se encontrar doente, em estado incurável


ou terminal, e incapaz de manifestar sua vontade” (Roxana Cardoso Brasileiro Borges,

professora da UFBA). Por meio do testamento vital, visa a influir sobre os profissionais da
área de saúde, no sentido do não-tratamento, como vontade do paciente, que pode vir a

estar impedido de manifestar sua vontade, em razão da doença.

De acordo com o art. 1.888, o testamento marítimo ocorre quando quem estiver em
viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o

53
comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao
testamento público ou ao cerrado. Parágrafo único. O registro do testamento será feito

no diário de bordo.”

Trata-se do testamento militar. CC: “Art. 1.893. O testamento dos militares e demais
pessoas a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim

como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá fazer-se,


não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o

testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas.

Questão 3
CESPE – 2019 – TJ/PA: A respeito de aceitação e renúncia de herança, julgue os itens

seguintes.

I Aceitando a herança, o herdeiro passa a responder por todo o passivo deixado pelo de cujus,
ainda que isso supere os limites das forças da herança.

II Conforme entendimento do STJ, é possível a constituição de mandatário com poderes

expressos para renunciar a herança, admitindo-se que a outorga dos referidos poderes seja
conferida por instrumento público ou particular.

III Os credores prejudicados pelo devedor que renuncia a herança poderão aceitá-la em nome

do renunciante, desde que habilitem seus créditos no juízo do inventário e solicitem


autorização judicial para aceitação no prazo de 180 dias seguintes ao conhecimento do fato.

Assinale a opção correta.

A) Nenhum item está certo.

B) Apenas o item II está certo.

C) Apenas o item III está certo.

D) Apenas os itens I e II estão certos.

E) Apenas os itens I e III estão certos.

54
Comentário:

I: Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,

demostrando o valor dos bens herdados.

II: A renúncia da herança é ato solene, exigindo o art. 1.806 do CC – para o seu
reconhecimento – que conste “expressamente de instrumento público ou termo judicial”,

sob pena de nulidade (CC, art. 166, IV), não produzindo qualquer efeito, sendo que “a
constituição de mandatário para a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma,

não tendo validade a outorga por instrumento particular” (REsp 1.236.671⁄SP).

III: CC: Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança,
poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. § 1o A

habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do


fato. § 2 o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao

remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.

Questão 4
FUNDEP – 2019 – MPE/MG: Há, no Município de Tutu Caramujo, uma casa antiga, sede de

fazenda, construída no século XIX. Alguns herdeiros mobilizaram-se e o casarão foi tombado.
Há recursos disponíveis, no orçamento municipal, para as obras de recuperação do imóvel, os
quais, todavia, não foram liberados devido à falta de um projeto técnico cuja elaboração,

conforme a legislação municipal, cabe aos proprietários. A falta de consenso entre os titulares
do domínio, herdeiros netos e bisnetos do construtor, deu causa à propositura de Ação Civil

Pública, visando a imposição da obrigação de fazer consistente na apresentação de projeto


técnico de revitalização da sede do imóvel, no prazo de 90 dias.

Aplicam-se ao caso as teses seguintes, exceto:

A) A aprovação do tombamento impõe aos proprietários uma série de encargos para a

conservação e preservação do bem e para a manutenção das características que motivaram o


ato que lhe confere proteção como patrimônio histórico e cultural.

55
B) O tombamento é uma das formas de intervenção do poder público na propriedade privada
e se justifica pela necessidade de proteção do patrimônio histórico cultural, razão pela qual

aos proprietários incumbe o dever de conservação do bem.

C) A legitimidade passiva dos herdeiros decorre do princípio da saisine (artigo 1.784 do


Código Civil), bem como do negócio jurídico pelo qual alguns receberam seus direitos por

meio de contrato de doação.

D) O herdeiro que mantém a posse sobre a casa sede da fazenda é o único responsável pelo
custeio do projeto de recuperação - responsabilidade aquiliana - porque a solidariedade não

se presume, resulta da lei ou da vontade das partes.

Comentário:

O ato de tombamento tem por finalidade preservar o bem identificado como de valor
cultural, não só limitando o exercício dos direitos de propriedade inerentes ao bem, mas
também obrigando o proprietário às medidas necessárias à sua conservação. No caso,

temos um claro exemplo de condomínio sobre coisa indivisa, decorrente da sucessão


causa mortis. Enquanto não extinto o condomínio, referida responsabilidade “propter

rem” recai sobre todos, em caráter solidário. O erro da letra D é justamente a


solidariedade, pois trata-se de um bem que até o presente momento é indivisível, logo,

há uma responsabilidade indivisível e solidária para a manutenção do bem, concorrendo

assim todos os herdeiros.

Questão 5
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Maria, divorciada e com três filhos de seu casamento anterior,
iniciou uma convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de

família, com Daniela. Elas firmaram uma escritura pública de união estável, onde adotaram o
regime da comunhão parcial de bens. Maria faleceu e deixou os seguintes bens: i) um
apartamento adquirido antes do início da união estável; ii) uma casa adquirida após a união

estável, onde residia com sua companheira Daniela. Pode-se afirmar corretamente que Daniela

A) em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo quinhão igual ao recebido por cada filho de Maria.

56
B) não terá qualquer direito à herança relativamente ao apartamento e terá direito à metade
da casa, se provar o esforço comum na aquisição do imóvel.

C) sucederá exclusivamente em relação à casa, recebendo metade do quinhão atribuído a cada

um dos filhos de Maria.

D) em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo metade do valor atribuído aos filhos de Maria.

E) receberá um quarto da casa e do apartamento, tendo em vista que, por ter formalizado a

união estável por meio de escritura pública, é herdeira de pleno direito.

Comentário:

Regime aplicado comunhão parcial de bens. O apartamento adquirido antes da


constância da união estável (bem particular), Daniela será herdeira, em virtude da

existência do bem particular de Maria (art. 1829, I, CC). Com relação a casa adquirida na
constância da união estável (não é bem particular), será apenas meeira, uma vez que não

concorrerá com os filhos, conforme teor do artigo 1829, I, do CC.

1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de

bens (); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança NÃO houver deixado
bens particulares;

Com relação ao quinhão, por concorrer somente com os filhos do falecido, herdará em

partes iguais, sem reserva de 1/4.

Lembrando que, no caso de filiação híbrida ou concorrendo somente com os filhos do


falecido (caso da questão), o cônjuge herda quinhão igual aos filhos sem reserva de 1/4.

Caso concorra com filhos comuns, o quinhão será igual, contudo não poderá ser inferior

a quarta parte, conforme artigo 1832 do CC.

Questão 6

57
FCC – 2019 – TJ/AL: André, solteiro, não teve filhos e morreu sem deixar ascendentes vivos.
Por testamento, deixou todos os seus bens para o seu melhor amigo, Antônio, com quem não

tinha nenhum grau de parentesco. Sentindo-se injustamente preteridos, os três únicos irmãos
de André ajuizaram ação visando à declaração da nulidade total do testamento,

argumentando que, devido ao parentesco, não poderiam ter sido excluídos da sucessão. O
pedido deduzido nessa ação é

A) procedente, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser declarada a

nulidade total do testamento.

B) procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a três quartos dos bens.

C) procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser

declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a metade dos bens.

D) improcedente, pois os irmãos de André não são herdeiros necessários.

E) improcedente, pois os irmãos de André, embora sejam herdeiros necessários, podem ser

excluídos da sucessão mediante testamento.

Comentário:

Os Irmãos são parentes em segundo grau em linha colateral.

Nos termos do art. 1.845, CC, “São herdeiros necessários os descendentes, os

ascendentes e o cônjuge (+ companheiro)”.

Já o art. 1.850, CC, determina que “Para excluir da sucessão os herdeiros COLATERAIS,
basta que o testador disponha de seu patrimônio SEM OS CONTEMPLAR”.

O art. 1.857, § 1º dispõe que “a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser

incluída no testamento”.

Questão 7
FCC – 2019 – TJ/AL: Nos testamentos,

58
A) é válida a disposição que deixe ao arbítrio de terceiro, desde que suficientemente
identificado, fixar o valor do legado.

B) é ilícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.

C) pode ser nomeada herdeira, mas não legatária, a pessoa que nele figurou como

testemunha instrumentária.

D) presume-se o prazo em favor do herdeiro.

E) são inválidas as disposições de caráter não patrimonial, se o testador tiver se limitado

somente a elas.

Comentário:

Conforme consta no Art. 1.900 do CC: É nula a disposição: (...) IV - que deixe a arbítrio do

herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;

Art. 1.803 do CC: É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do
testador.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo,
escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e
irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se

este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o
tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim

como o que fizer ou aprovar o testamento.

Art. 133 do CC: Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos
contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou

das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os


contratantes.

CC - Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus

bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. (...) § 2° São válidas as disposições

59
testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha

limitado.”

Questão 8
FCC – 2019 – MPE/MT: Em relação ao testamento, considere os enunciados:

I. Podem testar os maiores de dezesseis anos; não podem fazê-lo os incapazes e o surdo-
mudo, permitindo-se ao cego o testamento público.

II. A incapacidade superveniente do testador invalida o testamento, mas o testamento do

incapaz convalida-se com a superveniência da capacidade.

III. É defeso o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.

IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

V. São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador

somente a elas se tenha limitado.

Está correto o que se afirma APENAS em

A) I, II e IV.

B) III, IV e V.

C) I, II, IV e V.

D) I, III e V.

E) II, III, IV e V.

Comentário:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem

pleno discernimento.

Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e
o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas,
60
escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja
aprovação lhe pede.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta,

duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das
testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no

testamento.

Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o


testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou

correspectivo. IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento. CERTO.

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens,

ou de parte deles, para depois de sua morte.

§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

Art. 1.857. (...) § 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,

ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.

Questão 9
FCC – 2019 – MPE/MT: Um avô dispõe por testamento público em favor de seu neto, já
concebido mas ainda não nascido. Tendo esse neto nascido morto, esse testamento, de

acordo com o Código Civil,

A) inicialmente válido, será tido por ocasião da morte do nascituro como ineficaz mas não
nulo, pois era juridicamente possível que o avô beneficiasse o neto concebido, dentro da

teoria adotada pela legislação civil.

B) será tido por válido de início, mas ato jurídico inexistente quando do nascimento sem vida,
desaparecendo todos os efeitos jurídicos pelo não implemento da condição prevista em
relação ao neto concebido.

61
C) inicialmente válido, será tido por ocasião da morte do nascituro como nulo, pelo não
implemento da condição prevista no testamento, ou seja, o nascimento com vida do neto

concebido.

D) será tido por ineficaz desde a disposição testamentária, pela impossibilidade de beneficiar
por testamento quem ainda não possui personalidade jurídica.

E) será válido e eficaz apesar do nascimento sem vida do neto beneficiado pelo testamento,

pois a teoria adotada pelas normas civis, concepcionista, prescinde do nascimento com vida

para gerar efeitos jurídicos permanentes e incondicionados.

Comentário:

Art. 1.798, CC - Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no

momento da abertura da sucessão.

Art. 1.799, CC - Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:

I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;

"Conforme o seu primeiro inciso, reconhece-se a legitimação para os filhos, ainda não

concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas últimas ao abrir-se
a sucessão. A norma trata da prole eventual ou concepturo, não se confundindo com o

nascituro. Como bem pontua a doutrina, se a pessoa que teria o filho premorrer ao
testador, a disposição de última vontade será ineficaz (VELOSO, Zeno. Código Civil...,

2016, p. 1.901)".

Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Assinale a alternativa correta.

A) Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da

sucessão, sendo que a transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança ou se retrata da aceitação antes da partilha.

62
B) Aberta a sucessão e se ainda não estiver concebido o herdeiro esperado, os bens
reservados em testamento, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros

legítimos.

C) O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu


direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na

qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

D) A responsabilidade do possuidor da herança afere-se pelas regras concernentes à posse de


má-fé e a mora, no momento em que o ato foi praticado.

E) Não são eficazes as alienações feitas, ainda que a título oneroso, pelo herdeiro aparente a

terceiro de boa-fé.

Comentário:

A alternativa A conjuga três dispositivos, sendo que apenas o final dela, referente à
terceira norma, está incorreta. (i) A aceitação da herança torna definitiva a transmissão da

herança desde a abertura da sucessão (art. 1.804, caput, do CCB), bem como (ii) a
transmissão não se tem por verificada em caso de renúncia (art. 1.084, p.u., do CCB).
Contudo, (iii) tanto a aceitação quanto a renúncia à herança são irrevogáveis (art. 1.812,

CCB).

Art. 1.800, §4º, do Código Civil. Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão,
não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em

contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos

De acordo com o art. 1.824 do Código Civil, o herdeiro pode, em ação de petição de
herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição

da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem


título, a possua.

De acordo com o parágrafo único do art. 1.826 do Código Civil, a responsabilidade só

seguirá as regras da posse de má-fé e mora a partir da citação. A alternativa não é


exatamente clara, porque é absolutamente possível que o ato seja praticado depois da

63
citação – e, nesta hipótese, haveria incidência das regras de má-fé e mora a partir da
prática do ato. De qualquer forma, imagino que a alternativa buscasse simplesmente a

literalidade do dispositivo.

De acordo com o artigo 1.827, parágrafo único, do Código Civil, são eficazes as
alienações feitas nestas circunstâncias. Conforme aponta a doutrina, ainda, a alienação

feita por herdeiro aparente tem o condão de se sobrepor à petição de herança, por força
da teoria da aparência. Caberia ao “herdeiro superveniente”, então, pleitear perdas e

danos.

64
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - D

Questão 5 - A

Questão 6 - D

Questão 7 - D

Questão 8 - B

Questão 9 - A

Questão 10 - C

65
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, se faz de extrema importância a leitura de

Direito das Sucessões e Sucessão em Geral

 CC: Arts. 1784 a 1828;

Sucessão Legítima

 CC: Arts. 1829 a 1856;

Sucessão Testamentária e Disposições de Última Vontade

 CC: Arts. 1857 a 2027;

Sucessões

 Súmula 49 do STF

A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos bens.

 Súmula 542 do STF

Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da
ultimação do inventário.

66
JURISPRUDÊNCIA

Sucessão em Geral e Sucessão Legítima

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.357.117-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018
(Info 622).

Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro
sobrevivente, não concorrendo com parentes colaterais do de cujus.

 RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e


companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.
STF. Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou companheiro(a)” Como
consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser considerado herdeiro necessário.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.523.552-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/11/2015 (Info
573).

Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilha da integralidade de seus bens em
favor de todos seus descendentes e herdeiros necessários, por meio de escrituras públicas de doação nas quais
ficou consignado o consentimento de todos eles e, ainda, a dispensa de colação futura, a alegação de eventual
prejuízo à legítima em decorrência da referida partilha deve ser pleiteada pela via anulatória apropriada, e não
por meio de ação de inventário.

 Informativo 578, STJ:

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de
petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração
se encontrem em condomínio «pro indiviso» com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.

 Informativo 592, STJ:

Ocorrido o falecimento do autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade da partilha
antes da prolação da sentença, sem deixar herdeiros necessários, detém o herdeiro testamentário, que o sucedeu

67
a título universal, legitimidade e interesse para prosseguir com o feito, notadamente, pela repercussão
patrimonial advinda do potencial reconhecimento do vínculo biológico do testador.

 Informativo 864, STF:

No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e


companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.
STF. Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou companheiro(a)” Como
consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser considerado herdeiro necessário. Plenário. RE 646721/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados
em 10/5/2017 (repercussão geral)

 Informativo 611, STJ:

Parentes colaterais (exs: irmão, tios, sobrinhos) não possuem legitimidade ativa para ajuizar ação pedindo que se
anule a adoção realizada pelo seu parente já falecido, no caso em que o de cujus deixou cônjuge ou
companheira viva. Isso porque tais parentes colaterais não terão direito à herança mesmo que se exclua o filho
adotivo. Não terão direito à herança porque o art. 1.790 do Código Civil, que autoriza os colaterais a herdarem
em conjunto com a companheira sobrevivente, foi declarado inconstitucional pelo STF. Logo, em caso de
sucessão causa mortis do companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do
cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. Em outras palavras, se o indivíduo faleceu
deixando uma companheira (união estável), esta herdará exatamente como se fosse esposa (casamento). Pelas
regras do art. 1.829, se o falecido morreu sem deixar descendentes (filhos, netos etc.) ou ascendentes (pais, avós
etc.), a sua companheira terá direito à totalidade da herança, sem ter que repartir nada com os demais parentes
colaterais (como irmãos, tios, sobrinhos etc.). Ex: João e Maria viviam em união estável. Decidiram adotar uma
criança (Lucas). Logo em seguida, João faleceu. Seus únicos herdeiros eram Maria e Lucas. Pedro, irmão de João,
de olho nos bens deixados pelo falecido, ingressou com ação pedindo a anulação da adoção de Lucas. Como o
art. 1.790 do CC não vale mais, para Pedro, nada muda juridicamente se conseguir anular a adoção feita por seu
irmão. Ele não terá nenhum ganho jurídico com essa decisão. Dessa forma, se ele não possui interesse jurídico no
resultado do processo, ele não tem legitimidade para propor esta ação de anulação. STJ. 4ª Turma. REsp
1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/8/2017

 Informativo 622, STJ:

Possibilidade de a parte já ingressar direto na via ordinária por entender que o juízo do inventário não é
competente para a demanda O art. 612 do CPC/2015 prevê o seguinte:

Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes estejam provados por
documento, só remetendo para as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.

68
A parte, antevendo que o pedido que será formulado não se enquadra na competência do juízo do inventário, já
pode ajuizar a ação autônoma no juízo competente, aplicando-se o art. 612.

Assim, é cabível o ajuizamento de ação autônoma perante o juízo cível quando se constatar, desde logo, a
necessidade de dilação probatória incompatível com o rito especial do inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.480.810-
ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/03/2018

 Informativo 622, STJ:

Se o falecido deixou apenas companheira (sem ascendentes ou descendentes), ela herdará a totalidade da
herança. Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou
companheiro sobrevivente, não concorrendo com parentes colaterais do de cujus. STJ. 3ª Turma. REsp 1.357.117-
MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018

 Informativo 626, STJ:

Tendo sido declinados na petição inicial todos os dados pessoais indispensáveis à correta identificação dos
herdeiros, inclusive os seus respectivos endereços, devem ser eles citados pessoalmente por carta com aviso de
recebimento, vedada a citação por oficial de justiça (porque comprometeria a duração razoável do processo). STJ.
3ª Turma. REsp 1.584.088-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018.

 Informativo 644, STJ:

É prescindível (dispensável) que o herdeiro necessário traga à colação o valor correspondente à ocupação e ao
uso a título gratuito de imóvel que pertencia ao autor da herança. Ex: Pedro possuía três filhos (Alberto, Rodrigo
e Vanessa). Enquanto estava vivo, Pedro permitiu que sua filha ficasse morando, gratuitamente, em um
apartamento que estava em seu nome. Pedro faleceu. Vanessa (herdeira necessária) não precisa trazer à colação
o valor dos “alugueis” que ela deixou de pagar pelo fato de ter morado gratuitamente no imóvel. O art. 2.002 do
CC, ao tratar sobre a colação, fala em “doação”, o que não se confunde com comodato. Da mesma forma, o
empréstimo gratuito não pode ser considerado gasto, para os fins do art. 2.010 do CC, na medida em que o
autor da herança nada despendeu em favor da herdeira a fim de justificar a necessidade de colação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.722.691-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/03/2019.

 Informativo 651, STJ:

A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de
concorrência sucessória híbrida. Concorrência sucessória híbrida ocorre quando o cônjuge/companheiro estiver
concorrendo com descendentes comuns e com descendentes exclusivos do falecido. Ex: José faleceu e deixou
como herdeiros Paula (cônjuge) e 5 filhos, sendo 3 filhos também de Paula e 2 de um outro casamento anterior
de José. Paula e cada um dos demais herdeiros receberá 1/6 da herança. Art. 1.832. Em concorrência com os
descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não
podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

69
Assim, essa reserva de um quarto da herança, prevista no art. 1.832 do CC, não se aplica em caso de
concorrência sucessória híbrida. A reserva de, no mínimo, 1/4 da herança em favor do consorte do falecido
ocorrerá apenas quando concorra com seus próprios descendentes (e eles superem o número de 3). STJ. 3ª
Turma. REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/06/2019.

Sucessão Testamentária

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610).

O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega.
Exige-se: a) que o testamento seja público; a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego,
basta uma); b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso
concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. O testamento foi
produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença
do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da
condição de cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. O descumprimento de
exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do
documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do
testador.

 Informativo 654, STJ:

O indivíduo que recebeu um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade pode transferir esse imóvel por
meio de testamento, considerando que a cláusula de inalienabilidade vitalícia dura apenas enquanto o
beneficiário estiver vivo. As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade não tornam
nulo o testamento, que dispõe sobre transmissão causa mortis do bem gravado.

70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

71

Você também pode gostar