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Direito Civil Cap 1 À 8
Direito Civil Cap 1 À 8
Capítulo 1
Olá, aluno!
Bem-vindo ao estudo para a OAB. Preparamos todo esse material para você não só com
muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de
entender como a prova costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua
atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é
escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre!
PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os
assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a
jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se
de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Bons estudos
Pessoa jurídica.
União Estável.
Capítulo 8 - Parentesco. Poder Familiar. Regimes de Bens e outros Direitos Patrimoniais nas
3.2 Domicílio.................................................................................................................................................................... 15
3.4 Incapacidade............................................................................................................................................................ 18
3.4.3.1 Voluntária/judicial................................................................................................................................ 22
4.8.2 Características................................................................................................................................................. 51
GABARITO .................................................................................................................................................................................. 77
JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................................................... 86
DIREITO CIVIL
Capítulo 1
O Direito Civil é conceituado como um complexo de normas, princípios e regras que
regulam as relações privadas das pessoas enquanto relacionadas com outras pessoas, por
O Código civil de 1916 era bastante conservador, sobretudo nas regras sobre a família,
pois havia em seu conteúdo certa rejeição quanto aos aspectos sociais, abordava-se
principalmente sobre as relações privadas. Além disso, seus preceitos foram escritos com
excesso de abstração.
Econômica, a Organização da Família, passando a integrar, assim, uma nova ordem pública
constitucional.
um Código que estivesse de acordo com a sociedade vigente, que regulasse as relações
e demais direitos reais, cumprindo, portanto, sua função a luz dos princípios constitucionais.
5
Dessa forma, com o intuito de acompanhar as mudanças sociais e a influência dos
princípios constitucionais, foram realizadas adaptações para que o texto do Código Civil
pudesse ser compatibilizado com o texto constitucional, sem, contudo, alterar a substância
normativa de antes, surgindo o Código Civil de 2002.
O Código Civil de 2002 foi criado com o objetivo de superar o modelo trazido pelo
Código de 1916, baseado na “Era dos Direitos” e que buscava um direito que pudesse
dos princípios expressos na CF/88, o Código de 2002 se baseou em três pilares básicos
(diretrizes):
Eticidade: que tem como corolário o princípio da boa-fé objetiva, estabelece que
as relações jurídicas devem ser pautadas pela ética e pela lealdade. As partes devem
1
Art. 113 do CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração”.
2
Art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
3
Art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
6
Sociabilidade: superação do modelo individualista nas relações, de modo que todas
elas devem ser voltadas aos pilares do convívio comum, prevalecendo os valores
serem aplicadas aos casos apresentados. O direito, pois, não é mais a norma
Privado, onde estava um, não poderia estar o outro. O Código Civil da Alemanha o
aquela separação rígida entre o público e o privado. O Direito Civil passou por uma
releitura, à luz dos princípios constitucionais, valores fundamentais, como a
constitucional.
Constitucionalização do Direito Civil x Publicização do Direito Civil: a
isonomia na relação.
7
2. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro
A LINDB4 preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de
estudo. Assim, dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de
um país, instituídas especialmente para definir se a determinado caso se aplicará a lei local ou
A lei passa a vigorar no território brasileiro, quando não possui vacatio legis
Nos Estados estrangeiros, passa a vigorar após três meses depois de oficialmente
Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em vigor, acontecer uma nova
A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando seja com
ela incompatível, ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior.
4
Vide questões 3 e 6 do PDF
8
2.3 Repristinação
de repristinação.
2.4 Revogação
continuidade, salvo no caso de leis temporárias, pois já são criadas para vigorarem em certo
período de tempo.
mas esta é uma presunção relativa. A regra é a vedação à alegação do Erro de Direito, mais
Outro exemplo é o art. 139, III, do CC/2002, que prevê o erro de direito como um vício de
vontade.
9
Integração significa colmatação, sendo esta uma ordem hierárquica, preferencial.
prevista.
Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei com
outra tratada em lei específica.
Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em lei, com o
sistema jurídico como um todo.
Costumes: secundum legem (com previsão na lei, por isso não é integração), contra
honestamente.
A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o
10
Regra de Direito Intertemporal (art. 2.035, do CC):
Situações específicas:
11
Bens imóveis: lei do lugar onde estiverem situados.
A Lei 13.655/2018 veio para adicionar alguns dispositivos legais à redação original da LINDB,
público.
A interpretação dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que eles se aplicam para
Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito privado. Apesar disso,
importante ficar atento à tal alteração para fins de prova, para não ser pego de surpresa! ;)
5
NOVIDADE LEGISLATIVA: DECRETO Nº 9.830, DE 10 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta o disposto nos art. 20
ao art. 30 do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, que institui a Lei de Introdução às normas do
Direito brasileiro: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9830.htm
12
3. Pessoa Natural e Direitos da Personalidade
nas palavras de Orlando Gomes “é o pressuposto dos demais direitos”. Sendo assim, toda
ser considerada uma proteção fundamental, através dos direitos da personalidade, que são
Nesse sentido, dispõe o artigo 1º do Código Civil: “Art. 1º. Toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil. ”
Pessoa Natural
Existem várias teorias que versam sobre o início da personalidade, dentre as quais a
natalista e a conceptualista.
13
Entretanto a teoria adotada pelo Código Civil é a Natalista, ou seja, a personalidade
Existe, ainda, uma terceira corrente que é a Teoria Condicional, que defende que o
nascituro tem determinados direitos, sujeitos a uma condição suspensiva: o nascimento com
vida.
O nascituro teria apenas uma personalidade formal, o que lhe permitiria gozar de
nascimento com vida. Assim, a diferença quanto à teoria natalista, é que esta nega qualquer
direito ao nascituro, caso não haja nascimento com vida, sendo que a condicional garante os
Perceba que a lei resguardou os direitos do nascituro (do feto, embrião que está
dentro do ventre da mãe e que ainda vai nascer). Ele não é pessoa, entretanto embora não
personalidade (que estão em via de formação, que ainda não se aperfeiçoaram, que só irão
se formar após o nascimento com vida), ou o que se chama de personalidade jurídica formal.
Portanto, o nascituro tem direito de receber alimentos gravídicos, doação, herança.
Lembrando que para o direito civil nascer com vida é respirar. Ou seja, se ficar
comprovado que a criança respirou, nem que seja por um curto lapso temporal, houve
personalidade.
Natimorto é o feto que nasceu, mas não respirou. Logo ele nunca possuiu personalidade.
Enunciado n.º 1 da I Jornada de Direito Civil: “A proteção que o Código defere ao nascituro
alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome,
imagem e sepultura”.
14
Situações específicas sobre o nascituro:
3.2 Domicílio
3.3 Capacidade
A Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) trouxe uma inegável evolução
para a promoção da dignidade humana em diversos aspectos. Com relação à capacidade,
promoveu expressiva alteração ao conferir plena capacidade 7 aos sujeitos com deficiência,
6
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
7
Vide questão 9 do PDF
15
para que exerçam todos os atos da vida civil. Assim, apenas são considerados absolutamente
incapazes os menores de 16 anos, conforme previsão do artigo 3º. Com relação aos
Art. 6º. A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I – casar-se e constituir união estável;
II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
capacidade jurídica que qualquer pessoa tem, de forma genérica; capacidade de fato
direitos em juízo.
Art. 84, do Estatuto da PCD: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao
exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a
lei.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão
apoiada.
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao
Juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.
Art. 1.783-A , do CC/02: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.
§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os
apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido
e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito
ã vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
§ 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada,
com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste
artigo.
§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz,
assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
17
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que
os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua
função em relação ao apoiado.
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz,
ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as
obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar
denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa
apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado
em processo de tomada de decisão apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de
tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado ã manifestação do
juiz sobre a matéria.
§ 11. Aplicam-se ã tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições
referentes ã prestação de contas na curatela.”
A incapacidade só pode ser de fato, pois toda pessoa tem capacidade de direito.
3.4 Incapacidade
8
Vide questão 2 do PDF
18
O Relativamente Incapaz é Assistido (Bizu: RIA), já o Absolutamente Incapaz é Representado
Ocorre quando uma pessoa fica totalmente proibida de exercer por si só o direito, ou
seja, a pessoa natural tem direitos, mas não possui a capacidade de fato ou de exercício,
porque sozinha não poderá praticar atos da vida civil, ela precisará para tanto estar
representada.
A incapacidade absoluta está prevista no artigo 3º do CC: “Art. 3º. São absolutamente
incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
incapazes (ou seja, possuem ausência “total” de discernimento), perante a lei, os menores de
16 anos.
Será nulo qualquer ato praticado pelo absolutamente incapaz que não estiver devidamente
representado.
19
3.4.2 Incapacidade Relativa
da vida civil. Entretanto, existem alguns atos que estas pessoas podem praticar sozinhas,
III. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV. Os pródigos.
O pródigo é aquele que desordenadamente gasta, acaba com seu patrimônio, ficando na
miséria. Ele só é relativamente incapaz quando houver sentença que o reconheça como
pródigo. Sendo assim, com a sua interdição, ele será privado exclusivamente, dos atos que
possam comprometer seu patrimônio, não podendo, sem a assistência de seu curador (artigo
1.767, V do CC), alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar,
em geral, atos que não sejam de mera administração (artigo 1.782 do CC).
O parágrafo único do artigo 4º trata dos índios. A capacidade dos indígenas será
regulada por legislação especial. Ou seja, o índio tem seus direitos regulados pela FUNAI
20
Pode ser anulável o ato praticado pelo relativamente incapaz que não esteja devidamente
assistido.
A velhice não é causa de incapacidade, o senil é capaz. A demência é que pode gerar
incapacidade.
O surdo-mudo também é capaz, portanto ele pode fazer testamento, praticar atos da
vida civil. Se ele não compreender nada é que pode ser considerado incapaz e não o simples
fato de ser surdo-mudo.
Pelo casamento;
Pelo exercício de emprego público efetivo;
21
Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha
economia própria.
3.4.3.1 Voluntária/judicial
Concedida por ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro, desde que o menor
tenha 16 anos ou mais. Poderá ser autorizada por escritura pública, que independe de
homologação judicial. Também poderá ser concedida pelo juiz, quando houver discordância
dos pais acerca da autorização do ato, que é irrevogável. Assim, o magistrado analisará, no
Quando o menor estiver sob tutela, a emancipação apenas poderá ser concedida por
Enunciado nº 397/CJF: Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do
Contudo, o menor de 18 anos, ainda que emancipado, não pode ser responsabilizado
3.4.3.2 Casamento
A idade núbil é de 16 anos, conforme artigo 1.517, do Código Civil, salvo no caso de
gravidez, hipótese excepcional em que o menor poderá casar antes de atingir a idade núbil
22
HOUVE ALTERAÇÃO LEGISLATIVA!
A Lei nº 1.318/2018 alterou o CC/02 neste ponto. De modo que, atualmente, não
existe mais possibilidade de casamento entre menor de 16 anos. Vamos analisar com calma:
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou
a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou
em caso de gravidez.
Veja que, pela literalidade da lei, havia duas hipóteses excepcionais em que seria
literalidade do art. 1.520 do CC, somente havia uma hipótese na qual era permitido o
casamento de pessoa menor de 16 anos (abaixo da idade núbil): em caso de gravidez. Eis o
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a
idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
1.318/2018)
23
Assim, importante fixar:
divórcio. Se o casamento for declarado nulo, não prevalece a emancipação, pois esta também
boa-fé.
24
A emancipação não gera a maioridade, portanto um jovem de 16 anos que foi emancipado
Depois que uma pessoa é emancipada ela não poderá voltar ao seu estado anterior de
incapacidade. A emancipação uma vez concedida é irrevogável, não volta atrás. É, também,
definitiva, a pessoa não pode desistir dela. Sendo assim, mesmo que haja viuvez, separação
ou divórcio, o emancipado não retorna à incapacidade.
Entretanto, se houver alguma falha na condição exigida por lei nos casos de
pais era falsa, haverá nulidade do ato. O casamento não aconteceu para o direito, então, por
consequência, a emancipação também não.
O término da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte, que deve ser
Observe o que dispõe o artigo 6º do CC: “Art. 6º. A existência da pessoa natural
termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza
25
A morte pode ser:
No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou
vida; Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em
alto mar, sem que se pudesse encontrar sobreviventes.
9
art. 7º do CC – “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: (I) - se for extremamente
provável a morte de quem estava em perigo de vida; (II) - se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até 2 Anos após o término da guerra
26
A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
Com processo de ausência 10: Ocorre quando uma pessoa desaparece sem
A ausência será declarada quando alguém desaparecer sem deixar notícias, se não
deixar representante ou procurador para administrar seus bens. Deixando mandatário, também
será decretada a ausência se este não quiser ou não puder continuar exercendo as funções.
A declaração será feita judicialmente, ouvido o Ministério Público, ato em que o juiz
nomeará curador.
A curadoria dos bens do ausente se inicia a partir de uma petição inicial de qualquer
interessado ou do MP, na situação acima explicada.
10
Vide questão 5 do PDF
27
o 1ª FASE DE ARRECADAÇÃO E NOMEAÇÃO DE CURADOR: Configura-se
oferecendo uma garantia (essa fase dura 10 anos, a não ser que o
A sentença que autoriza a sucessão provisória só produz efeitos 180 dias após sua
publicação, mas, com o seu trânsito em julgado, abre-se o testamento e o inventário, como se
o ausente fosse falecido. Se, após 30 dias do trânsito em julgados, não aparecerem
interessados ou herdeiro, para requer a abertura do inventário, os bens do ausente serão
considerados herança jacente.
comprovado que o ausente tem oitenta anos e que suas últimas notícias datam mais de
cinco anos.
28
3.4.4.1 Comoriência
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-
se-ão simultaneamente mortos.
outras.
Não. Apenas na mesma ocasião, não precisa nem que seja do mesmo modo. A comoriência é
Personalidade estão para o Direito Privado (Código Civil). Eles possuem conotação
extrapatrimonial, são direitos que integram a condição essencial da pessoa, como
pressupostos de sua existência e dignidade. Ex: direito à vida, à imagem, ao nome, à honra.
29
3.5.1 Características dos Direitos da Personalidade
transmitidos a terceiros) e irrenunciáveis (o titular deles não pode abrir mão, não pode
renunciar), não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. É o que preceitua o
artigo 11 do CC.
Exceção: doação de órgãos, transexual que muda de sexo, são situações excepcionais
autorizadas por lei.
A tutela específica pode ser: inibitória, com a aplicação de uma pena de multa no caso
de descumprimento da tutela específica; sub-rogatória, quando o juiz manda fazer uma coisa
pejorativa em site, por exemplo. A tutela específica pode ser aplicada de ofício pelo juiz.
causados.
11
Vide questões 4 e 7 do PDF
12
ATENÇÃO: esse assunto foi cobrado na prova da 2ª fase da Defensoria do Paraná, em 2017.
30
Observe o que afirma o artigo 12 do CC: “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça,
Súmula 37, do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano moral e dano material oriundos
do mesmo fato.
Súmula 387, do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
31
Dano Ricochete, Oblíquo ou Indireto: A tutela dos direitos da personalidade
envolvendo pessoa morta cabe aos familiares do morto (cônjuge, parentes em linha
reta ou colateral até o quarto grau). Portanto, o parágrafo único do art. 12 permite
que essas pessoas possam ingressar com medida judicial representando o morto.
ricochete.
•cônjuge
•ascendentes
•descendentes
P.U, ART. 12 •colaterais
•cônjuge
•ascendentes
P.U, ART. 20 •descendentes
O Código Civil protege o corpo vivo (art. 13 do CC) e o corpo morto (art. 14 do CC).
O art. 13 do CC estabelece que salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato
32
Além disso, o parágrafo único do art. 13 do CC admite a disposição do próprio corpo
para fins de transplante de órgãos, desde que ocorra na forma estabelecida em lei
especial.
partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do
doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave
Hipóteses proibitivas
qualquer problema.
A cirurgia de mudança de sexo é autorizada, ela não ofende os bons costumes, pois visa
Já o artigo 14 do CC trata da tutela post mortem do corpo: “Art. 14. É válida, com
objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em
Hipóteses permissiva
33
É importante salientar que o art. 14 consagra o princípio do consenso afirmativo, ou
seja, que cada pessoa deve manifestar sua vontade de ser um doador, com objetivos
Esse tema encontra-se previsto no artigo 15 do CC: “Art. 15. Ninguém pode ser
constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção
cirúrgica.”
cirúrgica, sabendo de todos os riscos que estão envolvidos. No entanto, caso seja necessário o
tratamento médico ou cirúrgico, sob o risco de morte do paciente caso não seja feito,
No que tange ao direito à vida x opção religiosa, os tribunais pátrios têm decidido que entre
salvar uma vida e respeitar suas escolhas, o bem da vida é muito maior, portanto ele deve
ser preservado. Só será considerada a opção religiosa da pessoa, se houver outros meios
Conforme preceitua o art. 16 do CC: “Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele
34
ao nome e sobrenome, bem como o respeito ao pseudônimo, desde que utilizado para fins
lícitos.
autorizada, sob pena de responsabilidade, sendo vedada a utilização deste em publicação que
exponha o indivíduo ao desprezo público, ainda que não haja intenção difamadora.
aquele onde não precisa provar o prejuízo, bastando provar o ilícito. Portanto, configurado o
“Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.”
“Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.”
35
Inclusão do nome de familiar remoto. Há divergência. Escolher sobrenome mais
antigo; e
11.924/2009).
um elemento da personalidade que não pode remeter a pessoa a angústia, o STJ autorizou
que é possível a exclusão dos sobrenomes paternos em razão de abandono pelo genitor.
14
da Imagem
13
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Transexuais-
t%C3%AAm-direito-%C3%A0-altera%C3%A7%C3%A3o-do-registro-civil-sem-realiza%C3%A7%C3%A3o-de-cirurgia
14
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718 SP, Rel. Min. Paulo Tarso Severino, julgado em 18/12/2014.
36
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
Caso se trate de morto ou ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o
Proibição:
Destinação comercial.
Exceções:
autorizados à defesa do morto: “O rol dos legitimados de que tratam os artigos 12, parágrafo
37
Sobre o tema, o STJ reconheceu, na súmula 403, que “Independe da comprovação do
prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins
econômicos ou empresariais. ”
legislador pátrio a Lei Geral sobre a Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 13.709/2018),
forma como os dados pessoais dos indivíduos podem ser armazenados por pessoas físicas ou
38
4. Pessoa jurídica
É toda entidade dotada de personalidade, ou seja, assim como a pessoa física, pode
Pode ser entendida, ainda, como uma reunião de bens (patrimônio) afetados
(fundações), ou como uma reunião de pessoas sem fins econômicos (associações) ou com
fins econômicos (sociedades). Por sua vez, a reunião de pessoas com fins econômicos pode
ter fins lucrativos (sociedade empresária) ou fins não lucrativos (sociedade simples).
Teoria adotada pelo CC/02: Teoria da realidade técnica (Saleilles): a pessoa jurídica teria
uma existência objetiva e dimensão social, mas a sua personificação seria fruto da técnica do
CC). Além disso, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227 do STJ).
39
É considerado domicílio da pessoa jurídica o local onde se encontra a sua sede; onde
constitutivos.
Conforme prevê o art. 41 do CC, são pessoas jurídicas de direito público interno:
A União;
externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.
40
Ou seja, são regulamentadas pelo Direito Internacional.
I. As associações;
II. As sociedades;
III. As fundações.
IV. As organizações religiosas;
V. Os partidos políticos.
As organizações religiosas (igrejas), que são PJ de Direito Privado, podem ser livremente
41
A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com a sua inscrição no
privado.
Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do
CC.
Existem no mundo dos fatos, porém não são pessoas físicas nem jurídicas. Ex: as
sociedades de fato, espólio, massa falida, condomínio, herança jacente ou vacante, família.
Todas as decisões tomadas pelo administrador dentro dos poderes estatutários serão
serão anuláveis. Decai em três anos o direito de anular as decisões quando violarem a lei ou
42
Caso ocorra destituição dos administradores (eles forem expulsos) o juiz, a
Todas as vezes que a Pessoa Jurídica for utilizada para encobrir atividades ilícitas, sua
personalidade deve ser afastada (desconsiderada), com o objetivo de atacar os bens dos
sócios ou administradores. Eles respondem com seus bens particulares pelas dívidas
Conforme citado, há dois dispositivos legais clássicos que abrangem o instituto, mas
ambos se distinguem quanto à teoria da desconsideração da personalidade jurídica que
adotam, notadamente quanto aos requisitos essenciais para a sua constituição.
43
4.6.1 Hipóteses para a Desconsideração
sendo essencial o cumprimento dos requisitos para que seja declarada. Dessa maneira, será
Destacamos que, em abril de 2019, foi editada a medida provisória 881/19, que teve
44
de livre mercado, análise de impacto regulatório, além de dar outras providências. A MP visa
Brasileiro:
Antes:
Depois:
jurídica tão somente quanto ao sócio ou administrador que, direta ou indiretamente, for
beneficiado pelo abuso, o que há tempos defendo, para que o instituto não seja utilizado de
forma desproporcional e desmedida, atingindo pessoa natural que não tenha praticado o ato
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301612,41046-
15
A+MP+88119+liberdade+economica+e+as+alteracoes+do+Codigo+Civil
46
Sobre a confusão patrimonial, são parâmetros propostos pela MP para que fique
a palavra “repetitivo”, pois a confusão patrimonial pode estar configurada por um único
cumprimento obrigacional da pessoa jurídica em relação aos seus membros, pois, por um ato
credores.
Quanto ao § 4º do art. 50, “a mera existência de grupo econômico sem a presença dos
requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa
jurídica”.
Não se pode negar que a norma proposta traz uma obviedade, qual seja a necessidade
civil.
do art. 50, nota-se, mais uma vez, uma valorização do elemento subjetivo para a
47
desconsideração, ao prever que não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a
Seguindo, o CDC adota a teoria menor, que não exige prova de fraude ou abuso de
direito para que desconsidere a personalidade jurídica da sociedade. Para referida teoria,
basta que o credor demonstre a inexistência de bens da pessoa jurídica para saldar a dívida
para a aplicação do instituto.
avessas).
autonomia patrimonial da pessoa jurídica, alcançando bens que estão em seu próprio nome,
entretanto, para responder por dívidas que não são suas e sim de um ou mais de seus sócios.
48
Com o advento do Novo Código de Processo Civil, tal hipótese passou a ser prevista no
proteção da boa-fé.
Ex.: citação da pessoa jurídica na pessoa do gerente ou do empregado que aparente ter
irão responder, ou seja, ele transfere bens particulares dele para a Pessoa Jurídica.
49
4.7 Dissolução da Pessoa Jurídica
Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução previstos em lei ou
no estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins para os quais foi
constituída. Ex: em caso de falência.
Cancelamento da Inscrição da PJ
4.8 Associações
4.8.1 Conceito
Consiste numa reunião de pessoas, sem fins econômicos, ou seja, não se pode
16
Vide questão 8 do PDF
50
A relação que se deve ter em uma associação não é entre os associados e sim entre o
4.8.2 Características
A associação até pode obter lucro, no entanto, este lucro deverá ser reinvestido na própria
entidade. A associação não pode ter o lucro como finalidade essencial e nem o distribuís
4.8.3 Constituição
constar nos estatutos de toda e qualquer associação. Outras disposições podem ser
acrescentadas porém os requisitos dispostos na lei são essências, sob pena de nulidade.
O artigo 55 do CC diz que os associados devem ter iguais direitos, ou seja, eles estão,
a priori, em pé de igualdade para com a associação. Dessa forma, em regra, toda associação
51
deve garantir os direitos mínimos aos associados, sendo as vantagens medida excepcional a
algumas categorias.
Em regra, a qualidade de associado não se transmite nem entre vivos (cessão), nem
por causa morte (herança), salvo se o estatuto não dispuser o contrário. É o que nos informa o
artigo 56 do CC (vide).
Uma vez admitido o associado, a sua exclusão somente será possível por justa causa,
obedecido o estatuto.
Destituir os administradores;
Alterar o estatuto.
Por fim, cumpre mencionar o que ocorre com o patrimônio de uma associação quando
ela for dissolvida. O remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o
caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à
entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
52
4.9 Fundações
62, que estabelece os fins pelo qual poderão ser constituídas fundações, pois é
Observe o que nos diz o artigo 62 do CC: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu
instituidor fará (obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens
de administrá-la.
Assistência social;
Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
Educação;
Saúde;
Segurança alimentar e nutricional;
Defesa preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
Pesquisa cientifica, desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de
gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos;
Promoção da ética,
Da cidadania, da democracia, e dos direitos humanos;
Atividades religiosas.
17
Vide Questões 1 e 10 do PDF
53
4.9.2 Procedimentos para a Criação de uma Fundação
Dotação: é a separação de um patrimônio, que pode ser: por escritura pública (em
vida), por testamento (para depois da morte do fundador). A dotação deve trazer
uma relação de bens livres e desembaraçados; também deve trazer a especificação
do fim.
Elaboração do Estatuto: serve para lançar as bases da fundação, sua organização,
estrutura. O estatuto pode ser realizado pelo fundador ou por pessoa que ele
credenciar para tanto. Toda vez que o fundador delegar a incumbência para outra
pessoa, o estatuto deve ser concluído no prazo assinado pelo fundador, pois se ele
não estabelecer prazo algum será de 180 dias. Se o prazo transcorrer sem o
aperfeiçoamento do estatuto, a incumbência passa para o Ministério Público.
Aprovação por órgão do Ministério Público.
Se o Ministério Público não aprovar o estatuto, será cabível o suprimento judicial, ou seja, o
interessado vai à justiça e pede para o juiz suprir a denegação do Ministério Público.
É importante destacar, ainda, o que acontece quando os bens são insuficientes para
constituir a fundação:
“Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão,
se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se
proponha a fim igual ou semelhante.“
4.9.3 Fiscalização
54
4.9.4 Requisitos para alteração do estatuto
Que seja deliberado por dois terços dos competentes para gerir e representar a
entidade.
Que não contrarie o fim.
Aprovação do MP (em 45 dias).
Cumpre esclarecer que se a alteração não for aprovada por unanimidade, a minoria
Ocorre quando seu fim se torna ilícito, impossível ou inútil, ou ainda, quando se vence
contrário, passarão para outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.
55
QUADRO SINÓTICO
56
PRINCIPAIS DISPOSITIVOS COBRADOS SOBRE A LINDB
57
Analogia, costumes e princípios gerais do direito.
Integração = colmatação.
Essa é uma ordem hierárquica, preferencial.
1) Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de
outra já prevista.
3) Princípios gerais: não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver
honestamente.
NORMA
A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
58
Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos, admite-
se a aplicação da legislação estrangeira, ou a legislação brasileira em país
estrangeiro .
APLICAÇÃO DA NORMA
ATENÇÃO: Estatuto Pessoal: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu).
NO ESPAÇO Cuida da personalidade, nome, capacidade e direito de família.
PESSOA NATURAL
Teoria natalista: personalidade se inicia no momento do nascimento com vida,
portanto o nascituro possui mera expectativa de direito.
59
FATO =
CAPACIDADE
PLENA
Emancipação
60
Ficta ou presumida: quando não existe corpo.
Porém, será presumida a morte quando:
Aos ausentes, quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;
For extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação
de perigo;
No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada até
dois anos, após o término da guerra.
No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou
EXTINÇÃO DA
com processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).
PERSONALIDADE Sem processo de ausência:
Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em alto mar,
sem que se pudesse encontrar sobreviventes.
Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Intransmissíveis (não podem ser transmitidos a terceiros) e irrenunciáveis
(o titular deles não pode abrir mão, não pode renunciar), não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.
Genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, inalienáveis, indisponíveis,
CARACTERÍSTICAS imprescritíveis, necessários, essenciais e preeminentes.
DA PERSONALIDADE
Repressiva: busca interromper a lesão e conceder uma indenização pelos
prejuízos causados.
Atos de disposição do próprio corpo
61
DIREITOS DA Tratamento médico
Direito ao nome
PERSONALIDADE
Direito à imagem
PREVISTOS NO CÓDIGO
Direito à privacidade
CIVIL
PESSOA JURÍDICA
Agrupamento de pessoas (universitas personarum) ou de um patrimônio com
destinação específica (universitas bonorum).
INÍCIO DA PESSOA Começa com a inscrição do ato constitutivo no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do CC.
JURÍDICA
A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine) é instituto, com
natureza constitutiva que visa a criar nova situação jurídica, com a finalidade de
impedir que os sócios, administradores, gerentes e/ou representantes legais,
acobertados pela independência pessoal e patrimonial entre pessoa jurídica e os
entes que a compunham, pratiquem abusos, atividades escusas e fraudulentas.
DESCONSIDERAÇÃO
Direta: desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade,
DA sempre que caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
PERSONALIDADE Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a sua personalidade
JURÍDICA para ampliar ao complexo patrimonial da pessoa jurídica a qual figura como sócio,
sempre que se constatar que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para a
sociedade com a finalidade de frustrar os direitos de seus credores.
62
Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua
empresa em nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo grupo
econômico.
63
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: Segundo a lei civil brasileira, as fundações são consideradas
pessoas jurídicas de direito privado, pelas quais deverá velar o Ministério Público Estadual do
A) Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento,
dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser,
a maneira de administrá-la.
B) A fundação somente poderá constituir-se para fins de: I - assistência social; II - cultura,
C) Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: 1 - seja
deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II - não
contrarie ou desvirtue o fim desta e; III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no
prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a
64
promoverá a extinção, sendo vedada a incorporação do seu patrimônio em outra fundação
Comentário:
Para que se possa alterar o estatuto da fundação é imprescindível que a reforma seja
deliberada por 2/3 dos competentes para gerir e representar a fundação, não contrarie
ou desvirtue o fim desta e que seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo
Contudo, quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os
Questão 2
FCC – 2019 – TJ/AL: Alessandra, atualmente com 17 anos de idade, nasceu com deficiência
mental que a impede, de forma permanente, de exprimir sua vontade. Para o Código Civil, ela:
65
D) é absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil, mas deixará de sê-
lo ao completar 18 anos.
completar 18 anos.
Comentário:
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) (...) III - aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade;” (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
A Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência), acaba por consolidar ideias
constantes na Convenção de Nova York, tratado internacional de direitos humanos do
qual o País é signatário e que entrou no sistema jurídico com efeitos de Emenda à
Constituição por força do art. 5.º, § 3.º, da CF/1988 e do Decreto 6.949/2009. O art. 114
do Estatuto da Pessoa com Deficiência alterou substancialmente os dispositivos,
revogando todos os incisos do art. 3.º e alterando os incisos II e III do art. 4.º do CC. No
inciso III havia a previsão dos que, mesmo por causa transitória, não pudessem exprimir
anos, não mais havendo maiores absolutamente incapazes. Assim, considerando que
Alessandra, atualmente com 17 anos de idade, nasceu com deficiência mental que a
Questão 3
INSTITUTO ACESSO – 2019 – DPC/ES: A atual Lei de Introdução às Normas do Direito
Introdução ao Código Civil, é composta de regras que incidem no campo da atuação dos
Tendo em vista as disposições deste Diploma Legal, assinale a seguir a alternativa correta:
66
A) Nas decisões emanadas das esferas administrativas, judicial e controladora, valores
abstratos podem ser utilizados desde que, em tais decisões, sejam consideradas as
B) Uma lei federal revogada por outra lei federal posterior tem sua vigência restaurada caso a
lei revogadora posterior perca sua vigência, como também tem sua eficácia jurídica
C) A lei do país em que a pessoa natural é domiciliada, seja ela brasileira nata ou naturalizada
após processo regular com decisão transitada em julgado, determina as regras especificas
D) Na hipótese de lacuna legal, que consiste em não haver uma hipótese normativa especifica
e expressa a ser aplicada para um determinado caso concreto, o Juiz decidirá utilizando a
Comentário:
material atualizado!
disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido
caso de uma norma voltar a ter vida no ordenamento jurídico visto que o dispositivo que
a revogou foi declarado inconstitucional via ação concentrada (ADI, ADECON, ADPF).
67
Uma norma declarada inconstitucional é expurgada de tal modo da ordem jurídica que é
Aplicando-se a especialidade, deve-se entender que a regra do art. 435 do CC serve para
internacionais.
A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim
Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
A letra E também trata de uma novidade legislativa prevista no art 28, ao dispor que:
Questão 4
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Considere as afirmações a seguir.
III. Os direitos da personalidade são absolutos porque não podem sofrer nenhum tipo de
limitação.
IV. A incapacidade relativa pode ser suprida com mera assistência, desde que haja autorização
Dessas afirmações,
E) nenhuma é correta.
Comentário:
Sobre o Item I, com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
O item II, por sua vez, está incorreto, tendo em vista que ocorre comoriência quando
duas ou mais pessoas morrem ao mesmo tempo, não sendo possível aferir qual delas
morreu primeiro, razão pela qual o direito trata como se elas tivessem morrido no
mesmo instante.
Ainda, o item III está incorreto, pois, o exercício dos direitos da personalidade, conforme
explicado alhures, pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente, nem
Por fim, sobre o item IV, a assistência prescinde (dispensa) de autorização judicial.
Questão 5
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de
sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item
subsecutivo.
deverá dar garantia mediante penhor ou hipoteca para imitir-se na posse do bem do ausente.
Comentário:
69
Trata-se do instituto da Ausência, cuja resposta está prevista no art. 30 do CC: o s
herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição
Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa
garantia.
ausente.
Questão 6
FUNDEP – 2019 – DPE/MG: A Lei Federal nº 13.655/2018 acrescentou vários dispositivos à Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), inserindo normas de hermenêutica
segurança jurídica.
emitidas não terão caráter vinculante em relação ao órgão ou à entidade a que se destinam,
cargo são irrelevantes quando da interpretação de normas sobre gestão pública, haja vista a
C) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem
70
D) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização
Comentário:
fiquem ligados!
De acordo com o art. 30, as autoridades públicas devem atuar para aumentar a
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
Questão 7
CESPE – 2019 – TJ/PR: Conforme os direitos da personalidade, a disposição do próprio corpo
é:
A) permitida, se por vontade pessoal e para fins científicos, ainda que implique em diminuição
da integridade física.
Comentário:
disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Ainda,
Questão 8
CESPE – 2019 – MPE/PI: Com relação a conceitos, formação, extinção e aspectos relacionados
A) o registro competente é ato necessário para constituir as pessoas jurídicas de direito tanto
C) os condomínios edilícios são exemplo de pessoa formal que, embora não caracterize
D) a teoria da aparência e a teoria ultra vires se confundem: por meio delas, a pessoa jurídica
se obriga por atos praticados por seus sócios administradores, mesmo que exercidos fora dos
72
E) a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica implica a desconstituição
Comentário:
A letra A encontra-se errada, pois há pessoas jurídicas de direito público, por exemplo,
que independem de registro em cartório, como as autarquias, que são criadas por lei
específica.
No mesmo sentido, a letra B também está errada, tendo em vista que a responsabilidade
A letra D está errada, pois ambas as teorias se diferenciam. A teoria ultra vires
estabelece que a pessoa jurídica somente responde pelos atos de seus representantes
até o limite dos poderes que lhe foram outorgados, sendo nulo aquilo que o exceda.
Essa teoria busca proteger a pessoa jurídica. Já a teoria da aparência atribui a obrigação
decorrente do ato abusivo à sociedade, cabendo a esta ação regressiva em face do sócio
ou administrador que aja em excesso. Essa teoria busca defender a boa-fé objetiva do
terceiro, que estabeleceu relações com pessoa que agia em nome da sociedade, e
determinado processo, para executar o patrimônio de seus sócios. Registre-se que essa
teoria, de acordo com o Código Civil (art. 50), atende aos requisitos da Teoria Maior,
patrimonial.
Questão 9
CESPE – 2019 – MPE/PI: O Código Civil dispõe que “toda pessoa é capaz de direitos e
deveres na ordem civil” e que “a personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com
73
A) a pessoa passa, a partir do nascimento com vida, a ser sujeito de direitos e de deveres, e a
sucessórios.
B) não é certo considerar a pessoa relativamente incapaz no momento da lim itação quando a
D) o prenome e o sobrenome servem para individualizar as pessoas naturais e, por isso, à luz
do princípio da sua imutabilidade, somente podem ser alterados se expuserem a pessoa ao
ridículo.
direitos patrimoniais ao afirmar que ambos têm conteúdo econômico imediato e podem ser
Comentário:
com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. A
titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de modo que toda pessoa (por
A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Existe a
possibilidade de ser declarada a morte presumida, com ou sem decretação de ausência.
Neste último caso, será nas seguintes hipóteses: se for extremamente provável a morte
74
de quem estava em perigo de vida, e se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Ademais, a
declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento.
LRP 6015/73. Porém, existem várias exceções em que ele poderá ser modificado, a
a) Nome que expõe a pessoa ao ridículo, inclusive e caso de homonímias (nomes iguais).
Ainda, o art. 11 do CC informa que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos
75
sofrer limitação voluntária. Os direitos da personalidade, em regra, são indisponíveis. Há,
Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: O pedido de aprovação de estatuto de fundação, assim como de
suas alterações.
Comentário:
Trata-se de questão que aborda o tema das Fundações, assunto importantíssimo para
carreira do MP. De acordo com o art. 67, do Código Civil, para que se possa alterar o
estatuto da fundação é importante que a reforma tenha, dentre outros requisitos, a
aprovação pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco)
dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público o denegar, poderá o juiz supri-la, a
requerimento do interessado.
76
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - D
Questão 5 - ERRADO
Questão 6 - D
Questão 7 - C
Questão 8 - C
Questão 9 - A
Questão 10 - E
77
LEGISLAÇÃO COMPILADA
LINDB: integralmente;
LC 95/1998: art. 8º;
Ausência
Pessoa Jurídica
Domicílio
78
Direitos da personalidade
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.
Pessoa Jurídica
79
JURISPRUDÊNCIA
I) O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de
gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o
qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa;
II) Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo
'transgênero';
III) Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de
certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial;
IV) Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento
do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos
ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.
O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, julgou procedente o pedido formulado na ação
direta para dar interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto,
para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação
artística, produção científica, declarar inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a
obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social.
80
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado,
inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia
autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na
reportagem, não se aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à indenização.
A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário
que tem por objeto a história profissional de terceiro. Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em
virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem prévia autorização, em cenas
do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda
que de forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente de efetivo prejuízo.
O STJ não concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende
da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes.
O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem como desnecessária a autorização de pessoas
nelas retratadas como coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem de
pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história profissional de terceiro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.454.016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
12/12/2017
O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso
não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por força da
apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta
em seus documentos brasileiros.
morte do marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de
81
solteiro (a) em caso de divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido.
A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do
vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas
situações. STJ. 3ª Turma. REsp 1724718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018
É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor em juízo sem a
observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa finalidade. Ex: Sandro namorava
Letícia, que ficou grávida. Ao nascer a criança, Sandro a registrou como sua filha. Alguns anos depois, por meio
de um exame de DNA feito em uma clínica particular, descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade,
João. Diante disso, o pai registral, o pai biológico e a criança, representada por sua mãe, celebraram um acordo
extrajudicial de anulação de assento civil. Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que
haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral
pelo pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz homologasse esse acordo. O pedido deverá
ser negado. STJ. 3ª Turma. REsp 1698717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018
Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há mais muitos anos, tendo sido inocentada das
acusações. Ocorre que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de busca,
os primeiros resultados que aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem reportagens sobre seu
suposto envolvimento com a fraude. Diante disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google
pedindo a desindexação, nos resultados das aplicações de busca mantida pela empresa, de notícias relacionadas
às suspeitas de fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento, o direito ao esquecimento. O STJ
afirmou o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm responsabilidade pelos
resultados de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode atribuir a eles a função de censor, obrigando
que eles filtrem os resultados das buscas, considerado que eles apenas espelham o conteúdo que existe na
internet. A pessoa prejudicada deverá direcionar sua pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de
notícia), responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet. Há, todavia, circunstâncias
excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo
criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre dados pessoais e resultados da busca, que não
guardam relevância para interesse público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo
decurso do tempo. Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a
proteção aos dados pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas
com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por
sistemas automatizados de busca. No caso concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da
pesquisa com base no nome completo da autora com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em
outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google não precisa retirar de seus resultados as notícias da
82
autorarelacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses resultados apareçam será necessário
que o usuário faça uma pesquisa específica com palavras-chaves que remetam à fraude. Por outro lado, se a
pessoa digitar unicamente o nome completo da autora, sem qualquer outro termo de pesquisa que remete à
suspeita de fraude, não se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato desabonador. Assim,
podemos dizer que é possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de
busca na internet entre o nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada
nos resultados. O rompimento do referido vínculo sem a exclusão da notícia compatibiliza também os interesses
individual do titular dos dados pessoais e coletivo de acesso à informação, na medida em que viabiliza a
localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa fornecendo argumentos de pesquisa relacionados
ao fato noticiado, mas não àqueles que buscam exclusivamente pelos dados pessoais do indivíduo protegido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
08/05/2018
O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no
registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser
averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do
registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro
teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. Efetuando-se o procedimento
pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição de
mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os
quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 15/8/2018 (repercussão geral)
IMAGEM. Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz Giovanna Antonelli, sem a
sua autorização, em propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por
danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré
obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem
patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um
83
direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que
foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. A obrigação de
restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). A ação de
enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação
imagem da autora; c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e d) distribuição do lucro obtido
com a intervenção proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma.REsp
1.698.701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018
Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última vontade do indivíduo sobre a
destinação de seu corpo após a morte, sendo possível a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em
atenção à vontade manifestada em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo
humano após a morte, em baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da
pessoa caso sobrevenha alguma importante descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras
palavras, a criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a finalidade de que,
com os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados. STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.718-RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/03/2019.
É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher
durante a convivência matrimonial. O cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565, do
Código Civil). Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa
providência requerida no processo de habilitação do casamento. A despeito disso, não existe uma vedação legal
expressa para que, posteriormente, no curso do relacionamento, um dos cônjuges requeira o acréscimo do outro
patronímico do seu cônjuge por meio de ação de retificação de registro civil, especialmente se o cônjuge
apresenta uma justificativa. Vale ressaltar que o art. 1.565, §1º do CC não estabelece prazo para que o cônjuge
adote o apelido de família do outro, em se tratando, no caso, de mera complementação, e não alteração do
nome. Assim, é possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao
nome da mulher durante a convivência matrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.648.858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
84
Bôas Cueva, julgado em 20/08/2019 (Info 655).
Pessoa Jurídica
Membros do conselho fiscal de uma cooperativa não podem ser atingidos pela desconsideração da
Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info 661).
85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
86
Capítulo 2
SUMÁRIO
5. Bens ................................................................................................................................................................................4
7.1 Prescrição........................................................................................................................................................... 40
7.2 Decadência........................................................................................................................................................ 47
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 63
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 64
JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 66
Capítulo 2
5. Bens
5.1 Conceito
Bens1 são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de
direito. Assim, o objeto da relação jurídica é todo bem que possa ser submetido ao poder das
pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas.
podem ser tocados e são visíveis, ou seja, percebidos pelos sentidos. Ex: terrenos,
edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, etc.
1
Vide questões 3 e 4;
4
Na prática, os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e venda, enquanto
os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão (transferência a outrem). Mas
Bens Imóveis: São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de
Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu
podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 83, CC).
Por Natureza (ou por essência): É o solo (terreno) e tudo quanto se lhe
incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências
imóveis. Ex: um caminhão de tijolos, cimento, caibros, etc. São bens móveis.
Quando se realiza uma construção, sendo incorporados ao solo pela aderência
física, passam a ser imóveis, pois não podem ser retirados se causar dano à
5
Enunciado 11 da I Jornada de Direito Civil: Não persiste no novo sistema legislativo a
categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão "tudo quanto se
lhe incorporar natural ou artificialmente", constante da parte final do art. 79 do Código Civil.
Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para
outro local (ex: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidade para outra).
Materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem (telhas
retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo reempregado posteriormente).
que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade
ao imóvel. Trata-se de uma ficção jurídica. Ex: um trator destinado a uma
6
Por Disposição Legal: São bens que são considerados imóveis pois o
legislador assim resolveu enquadrá-los, possibilitando, como regra, receber
176, CF/88).
Bens Móveis: São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar
destinação econômico-social.
Móveis por Natureza: São os bens que podem ser transportados de um local
para outro sem a sua destruição por força alheia, ou que possuem movimento
próprio.
Força alheia são os bens móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, etc. Força própria
papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora imóvel ela tem uma
finalidade última como bem móvel. Assim, mesmo que temporariamente
imóvel isto não lhe retira o seu caráter de bem móvel, em razão de sua
7
finalidade. Outros exemplos: Os frutos de um pomar que ainda estão no pé,
mas destinados à venda (safra futura); pedras e metais aderentes ao imóvel,
etc.
Móveis por Determinação Legal: O art. 83, CC considera como bens móveis
As energias que tenham valor econômico – a energia elétrica, embora não seja um bem
corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3°
do Código Penal também a equipara com um bem móvel, podendo ser objeto do crime de
furto.
Direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes - ex: direito de propriedade
e de usufruto sobre bens móveis, etc.
Direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações.
tornam distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo que
da mesma espécie, qualidade e quantidade. São bens considerados em sua
Fungíveis: São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ou se
arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, dinheiro.
Consumíveis: São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata
da própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex: gêneros alimentícios, bebidas, lenha,
cigarro, giz, dinheiro, gasolina, etc.
8
Inconsumíveis: São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire
toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex: roupas de uma forma geral,
automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência
do tempo.
formando cada qual um todo perfeito, sem alteração em sua substância, diminuição
considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Ex: uma folha de
papel, uma quantidade de arroz, milho, etc. Se repartirmos uma saca de arroz, cada
metade conservará as mesmas qualidades do produto.
Indivisíveis: São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois
deixariam de formar um todo perfeito. Ex: uma joia, um anel, um par de sapatos,
etc. No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em:
pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex: entregar 100 sacas de
café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e
50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade
Bens Singulares ou Individuais: Os bens que, embora possam estar reunidos, são
árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros, etc.
10
É interessante esclarecer que esta regra não está mais explícita no atual Código Civil.
No entanto a doutrina é unânime em considerar que a mesma ainda prevalece em nosso
direito. Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do
acessório.
imóvel, a árvore nele plantada também o será. Trata-se do princípio da gravitação jurídica (um
bem atrai o outro para a sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico: o principal
de uma pedreira, minerais de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc.
Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser objeto
de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex: posso vender uma possível safra de laranjas que ainda
estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato.
(ex: aluguel).
Produtos orgânicos da superfície da terra: Ex: vegetais, animais, etc.
11
Obras de aderência: Obras que são realizadas acima ou abaixo da superfície
da terra (ex: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, pontes, túneis,
viadutos, etc.).
Pertenças: Segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo partes
são indenizáveis.
Benfeitorias: São obras ou despesas que se fazem em um bem móvel ou
bem se deteriore (art. 96, §3º, CC); se elas não forem feitas a coisa pode
perecer. Ex: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de
CC); elas não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior
aproveitamento à coisa. Ex: construção de uma garagem, de um lavabo
dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno, etc.
12
uma piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com
flores exóticas, etc.
Esta classificação não é absoluta, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou
outra espécie, dependendo de uma circunstância concreta. Ex: uma pintura pode ser
necessária em uma casa de praia para evitar uma infiltração ou voluptuária se for apenas para
embelezá-la.
Em nosso atual sistema coexistem duas espécies de bem de família: bem de família
voluntário (art. 1.711 e segs., CC) e bem de família legal (Lei n.º 8.009/90). Vejamos:
Trata-se de instituto disciplinado no art. 1711 do CC, que é instituído por ato de
vontade, por meio de registro imobiliário.
13
Deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da pessoa que está
registrando.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento
ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas
pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá
abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família.
Assim, gera dois efeitos principais: a impenhorabilidade por dívidas futuras (art. 1715,
Súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
14
de divergência. Ainda, com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao
filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.
Por fim, os artigos 1721 e 1722 tratam da extinção do Bem de família voluntário,
dispondo o seguinte:
15
Assim, observa-se que a proteção legal é extremamente ampla, sendo, inclusive,
considerado pela lei como residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade
Ainda, a lei protegerá apenas o bem de menor valor, caso o casal ou entidade familiar
possua mais de um imóvel utilizado como residência. Desta forma, em caso de diversos
imóveis residenciais, a proteção automática legal do art. 5º, da Lei nº 8.009/90 abrangerá
apenas o imóvel de menor valor, portanto, caso o indivíduo queira proteger o bem de maior
valor, será necessária a instituição do bem de família voluntário conforme os arts. 1711 do
CC e ss.
Súmula 205, STJ: a lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.
16
Ademais, o STJ2 admite a interpretação do parágrafo único do artigo 1º, que para evitar
2
REsp. 968.907/RS.
3
STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012
17
penhora do imóvel4. Contudo, o STJ tem entendido que contribuições criadas por
associação de moradores não se equiparam a despesas de condomínio, para efeito
de penhora5;
Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar: nesse caso, o devedor não poderá, com base no princípio
da confiança e da regra proibitiva do venire contra factum proprium, pretender
voltar atrás posteriormente, alegando a proteção do bem de família, tendo que
provar que a família foi beneficiada6. Contudo, o próprio STJ invoca a
irrenunciabilidade da proteção legal, e admite que o devedor possa voltar atrás
invocando a proteção ao bem de família, caso haja apenas indicado o bem à
penhora7. Ademais, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser
utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família 8.
A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90, deve ser interpretada
restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas
em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ.
Ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens: o bem
adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção
da punibilidade pelo cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil
movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família
4
RE 439.003/SP
5
AgRg no REsp 137.4805/SP
6
AgRg no Ag 115.2734/SP, AgRg no AREsp 72.620/DF, REsp 988.915/SP.
7
AgRg no REsp 813.546/DF, REsp 875.687/RS.
8
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).
18
adquirido com produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido
extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão
condicional do processo9.
Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação: de acordo
com STJ, é constitucional e possível a penhora do bem de família do fiador na
locação geral. Mesmo que o fiador renuncie ao benefício de ordem, sua obrigação
é subsidiária. Se a pessoa tem um imóvel familiar, ele é impenhorável, enquanto o
do fiador não.
Súmula 549 do STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato
de locação.
Contudo, mais uma vez a lei traz uma exceção: no caso de imóvel locado, a
impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que
sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.
São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio de uma
cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato inter vivos (ex: doação)
Ex: um pai, percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento,
com essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho,
9
Informativo 575, STJ
19
protegendo esses bens do próprio filho, impedindo que os atos de irresponsabilidade ou má
administração possam levar o filho à insolvência - dívidas superiores aos créditos.
O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por
justa causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou seja, deverá
justificar o porquê desta medida.
efeito jurídico. Ou seja, há repercussão no mundo jurídico, existe conexão entre o fato
ocorrido e a lei. Este efeito, decorrente do fato, poderá ser: a aquisição; a conservação; a
transferência; a modificação; e a extinção de direitos.
20
Ato Fato é um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento
humano em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração pelo ator.
Assim, a vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir efeitos normalmente.
O ato é a ação humana e poderá ser lícito (aquele que cumpre o ordenamento
jurídico, sendo regido pelas regras do negócio jurídico) e ilícito (aquele que viole o
ordenamento jurídico, ou seja, todo aquele que viole direito e cause danos a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito).
Sendo assim, o negócio jurídico é fato humano, voluntário, que tende a provocar efeitos
jurídicos por meio de determinado ato. Os efeitos são desejados pelas partes (é ato negocial).
Por sua vez, ATO ILÍCITO é todo comportamento humano que viola o ordenamento
jurídico (lei, moral, ordem pública e bons costumes), podendo ser civil, administrativo ou
21
penal. É regido pelos arts. 186 a 188 e tem relação direta com o instituto da responsabilidade
civil.
Assim, o ato ilícito civil é caracterizado pela presença do dano ou abuso de direito,
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
O art. 188, por sua vez, dispõe sobre os Excludentes de Responsabilidade (vide
capítulo 5):
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.
Aprofundando o estudo sobre o negócio jurídico é preciso ter em mente que o mesmo
é uma declaração privada de vontade que visa a produzir determinado efeito jurídico,
relativo a direitos e obrigações. Assim, o negócio jurídico apresenta-se como uma norma
concreta estabelecida pelas partes. Sua característica primordial é que ele constitui um ato de
Há casos em que será necessária a forma expressa e, além disso, no modo escrito. Exemplos:
artigos. 108, 1806 do CC.
vontade.
Bilaterais: Há sempre a manifestação de duas vontades. Ex: os contratos.
Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em simples (há
vantagens para uma das partes e ônus para a outra, ex: o comodato e a
doação) e sinalagmáticos (haverá ônus e vantagens recíprocos, ex: o aluguel e
a compra e venda).
23
Inter vivo: As consequências jurídicas ocorrem durante a vida dos interessados
(ex.: doação, troca, mandato, compra e venda, locação).
Quanto à forma:
Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei (ex.: testamento;
observe:
Assim, para a validade do ato, o Código Civil exige agente capaz. Tal capacidade deve
ser aferida no momento do ato, ou seja, a pessoa no momento do ato deve ser dotada de
consciência e vontade. Além disso deve ser reconhecida por lei como apta a exercer por si
mesma os atos da vida civil.
24
As pessoas absolutamente incapazes serão representadas pelos seus representantes
legais e as relativamente incapazes serão assistidas. Assim, será Nulo o ato praticado
diretamente por pessoa absolutamente incapaz e Anulável o realizado por pessoa
relativamente incapaz.
Em segundo lugar o Código Civil estabelece que o objeto seja possível, afastando,
deste modo, os negócios que tiverem prestações tanto fisicamente quanto juridicamente
impossíveis.
A lei impõe limitações ao objeto do negócio, que não gozará de proteção legal quando
for contrário às leis de ordem pública, ou aos bons costumes. A sanção quanto ao objeto
Por fim, é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à forma prescrita
ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A regra é que a forma seja livre, como
25
feito reserva mental. Reserva mental é uma declaração não querida em seu conteúdo, tendo
por objetivo enganar o destinatário, sendo que a vontade declarada não coincide com a
O art. 108, do CC, dispõe sobre a necessidade de escritura pública para a validade de
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).
Mas a promessa de compra e venda não precisa de escritura pública, podendo ser
celebrada por instrumento particular.
26
Os negócios garantidos por alienação fiduciária de imóveis também não exigem
escritura pública, nem a aquisição de imóveis pelo SFH.
6.2.3.1 Condição
Seu conceito encontra-se no art. 121 do CC: “Art. 121 Considera-se condição a cláusula
que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico
a evento futuro e incerto.”
Da leitura desse artigo temos que a condição deve referir-se a fato futuro. Fato
passado ou presente não pode constituir-se em condição. Também deve relacionar-se a fato
incerto. A condição é elemento da vontade e somente opera porque os interessados no
negócio jurídico assim desejaram, deste modo, no negócio jurídico não há condição derivada
de lei. Sendo assim, enquanto a condição não se realizar, os efeitos do ato não podem ser
ainda exigidos.
A eficácia do negócio jurídico dependerá da condição. Porém, há certos atos que não
admitem condição (são denominados atos puros), como, por exemplo, no caso dos direitos de
família e direitos personalíssimos. Assim, o casamento, o reconhecimento de filho, a adoção,
10
Vide questões 1 e 9;
27
I. Condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
II. Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
futuro e incerto. A condição suspensiva deverá atender ao art. 123, inciso I, ou seja,
ela não pode ser fisicamente ou juridicamente impossível, porque se o for o
evento futuro e incerto. Enquanto este evento não ocorrer, vigorará o negócio
jurídico. Além disso, uma vez verificada a condição, se extingue o direito que a ela
se opõe.
ato ao arbítrio exclusivo de uma das partes. Portanto, é ilícita, visto que se caracteriza como
abuso de poder econômico e/ou desrespeito ao princípio da boa-fé objetiva, acarretando o
circunstancia exterior que escapa ao seu controle, não caracterizando qualquer forma de
abuso de poder.
28
6.2.3.2 Termo
partes ou fixada pelo agente. Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do
qual se pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no qual se
encerra a produção de efeitos dos negócios jurídicos. Assim, o termo inicial suspende a
eficácia de um negócio até a sua ocorrência, enquanto o termo final resolve seus efeitos.
os dois institutos, é que o termo é modalidade do negócio jurídico que tem por escopo
suspender a execução ou o efeito de uma obrigação, até um momento determinado, ou o
advento de um evento futuro e certo. Já a condição se refere a evento futuro e incerto,
desse modo, o implemento da condição pode vir a falhar e o direito nunca vir a se consumar.
Apesar de o termo ser sempre certo, o momento de sua ocorrência pode ser
indeterminado (incerto). É por isso que surge a denominação de termo certo (determinado) e
No termo inicial, não se impede a aquisição de seu direito, apenas se retarda seu
que a aquisição (parte final do artigo) é imediata. O direito que se adquire a termo surge no
momento do negócio jurídico, pois não há uma pendência (é diferente de condição), aqui o
Existem atos que não admitem a colocação de termo, como nos casos de direitos de
personalidade, nas relações de família e nos direitos que, por sua própria natureza, requerem
29
6.2.3.3 Encargo ou Modo
É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida. Por exemplo, quando uma mãe
dá um dinheiro de presente a um filho, mas diz que ele precisa usar parte dele para comprar
material escolar. Obs.: Geralmente o encargo é colocado em doações, mas nada impede que
Desse modo, podemos perceber que o encargo apresenta–se como cláusula acessória
às liberalidades, quer estabelecendo uma finalidade ao objeto do negócio, quer impondo
O encargo, assim como ocorre na condição, deve estar em obrigação lícita e possível.
De acordo com o art.137 do CC, a ilicitude ou impossibilidade do encargo torna-o não escrito,
exceto se for determinante da liberalidade e, neste caso, será inválido o negócio jurídico.
Também se o ato é fisicamente irrealizável, tem-se por não escrito.
liberalidade, mas a posteriori. O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do direito.
literais expressas. No que diz respeito ao silêncio, ele será considerado como anuência se, as
circunstancias autorizarem e a anuência expressa não for necessária.
30
Serão interpretados de forma restritiva os negócios jurídicos benéficos e a renúncia.
Poderia ser percebido por qualquer pessoa de diligência normal. O erro é a falsa
12, da I Jornada de Direito Civil diz que “é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o
dispositivo adota o princípio da confiança”.
Espécies de erro:
11
Vide questões 2, 5 e 10;
31
Erro de direito: é possível a anulação, mas não pode implicar recusa à aplicação da
lei e deve ser o motivo único e principal do negócio.
6.2.5.2 Dolo
Ocorre quando uma das partes (ou um terceiro) age com intenção prejudicial, com
manifesta intenção dolosa para obter vantagem em relação ao outro. No dolo, aquele que
manifesta a vontade é conduzido à prática do ato com intenção dolosa. É um erro provocado.
vontade, este não existiria. Por outro lado, se acidental, ou seja, não é determinante do
negócio jurídico, não anula, mas a parte que agiu com dolo responderá pelo pagamento das
perdas e danos dele decorrentes.
Se ambas as partes agem com dolo, nenhuma delas poderá invocá-lo para anular o
negócio jurídico.
saber do dolo de terceiro, apenas responderá por perdas e danos, subsistindo o negócio.
responder civilmente até a importância do proveito que teve. Contudo, se o representante for
convencional, o beneficiário responderá solidariamente pelos danos causados por este.
32
6.2.5.3 Coação
Deve ser moral (vis compulsiva), uma violência psicológica, que ocorre quando a
declaração de vontade foi praticada após séria ameaça da parte contrária (ou de terceiro), que
incuta no paciente o temor de dano iminente à sua pessoa, sua família ou a seus bens. Para
O negócio jurídico será viciado pela coação exercida por terceiro, se dela tivesse
conhecimento ou devesse ter a parte a quem lhe aproveita, respondendo solidariamente por
perdas e danos.
O negócio jurídico subsistirá se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que
lhe aproveita tivesse ou devesse ter conhecimento. Porém, o autor da coação responderá por
todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
6.2.5.5 Lesão
Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,
33
No CDC, a lesão não é causa de anulabilidade, e sim de NULIDADE.
inexperiência do lesado.
Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.
34
em contratos de execução continuada ou diferida. Ademais, a lesão invalida o negócio jurídico,
A ação anulatória, neste caso, é chamada de Ação Pauliana, ou Ação Revocatória, que
deverá ser proposta contra o devedor, a pessoa que celebrou o negócio jurídico com ele e o
O negócio jurídico anulável poderá ser convalidado pelas partes, desde que respeitados
os direitos de terceiros. Se não for o caso de convalidação, a anulação poderá ser pleiteada no
prazo de quatro anos.
Prezando pela boa-fé, que deve regular os atos da vida civil, se o menor, entre
dezesseis e dezoito anos invocou dolosamente sua idade para celebrar negócio jurídico, não
poderá utilizar-se de sua incapacidade relativa, como forma de eximir-se de sua obrigação.
Estes vícios são os vícios de consentimento, porém, existe, também, os vícios sociais:
35
Existe, atualmente, debate doutrinário se a Simulação ainda se constitui como vício social,
porém, as bancas de concurso seguem o entendimento da doutrina majoritária, considerando
esse vício do negócio jurídico como vício social, conforme defendem Paulo Lôbo e Flávio
Tartuce.
ou defeito pode ser mais ou menos grave, e o ordenamento jurídico pode atribuir reprovação
maior ou menor12. Existem três categorias de ineficácia dos negócios jurídicos: negócios
No ato ou negócio inexistente, pode haver uma aparência de ato ou negócio jurídico.
Ou seja, embora possua aparência material, o ato ou negócio jurídico não possui conteúdo
jurídico. Na verdade o ato não se formou para o direito.
Trata-se de vício que impede o ato de ter existência legal e produzir efeito, em razão
de não ter obedecido qualquer requisito essencial.
A Nulidade pode atingir todo o ato, como regra, ou apenas parte dele se assim o
12
Vide questão 8
36
A nulidade repousa sempre em causas de ordem pública.
Em regra, prova-se o ato nulo de forma objetiva, pelo próprio instrumento utilizado
para o ato ou por prova literal. Porém, existem casos em que a nulidade deverá ser provada
por outros meios, quando for contestada ou posta em dúvida. Assim, a nulidade é penalidade
que faz com que qualquer efeito do ato, desde o momento da sua formação, deixe de existir.
A sentença que decretar a nulidade vai retroagir (tem efeito ex tunc) até a data de
nascimento do ato viciado. Desde este momento desaparecem os efeitos do ato, ficando
como se o mesmo nunca tivesse ocorrido. Porém, muitas vezes, embora o ato seja tido como
As partes contratantes devem ser reconduzidas ao estado anterior, ocorre que nem
sempre, fisicamente, isto será possível. Por isso dispõe o artigo 182 do CC:
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado, em que antes
dele se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
Além disso, o artigo 168 do CC nos informa que as nulidades dos artigos antecedentes
podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe
couber intervir. Complementa o ensinamento no seu parágrafo único ao dizer que as
nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda que a
Sendo assim, também ao juiz é determinado que decrete a nulidade de ofício, se dela
tomar conhecimento, sem necessidade de qualquer provocação, no entanto não pode supri-la
37
As partes só conseguirão obter os efeitos jurídicos derivados do ato ou negócio jurídico
se executarem (firmarem) o ato todo novamente e, desta vez, de acordo com a lei.
Ainda sobre este assunto temos o artigo 184 do CC. Da leitura deste artigo
For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
Tiver por objeto fraudar a lei imperativa;
Simulação
O negócio jurídico nulo não está sujeito à confirmação e nem convalesce com o
decurso do tempo. Porém, poderá ser reconhecida a fungibilidade do negócio jurídico, se este
contiver requisitos essenciais a outro, quando o fim a que visavam as partes permitir supor
que teriam o querido, se houvessem previsto a nulidade.
“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente;
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.”
O ato ou negócio anulável é imperfeito, mas seu vício não é tão grave para que haja
interesse público em sua declaração. Desse modo, a lei oferece alternativa ao interessado, que
pode conformar-se com o ato, tal como foi praticado, sendo certo que sob essa situação o
ato terá vida plena.
O negócio jurídico produz efeitos até ser anulado. Os efeitos da anulação passam a
correr a partir do decreto anulatório, não retroage (tem efeitos ex nunc). Além disso, a
anulação dependerá sempre de sentença e não poderá ser pronunciada de ofício.
Os negócios jurídicos anuláveis podem convalescer (ser sanados) por duas razões,
tornando-se assim eficazes: primeiramente, pelo decurso do tempo, pois os atos anuláveis
têm prazo de prescrição ou decadência mais ou menos longos; decorrido o lapso prescricional
39
possibilidade de convalescimento do negócio anulável é a ratificação (ou confirmação). Ao
contrário do que ocorre com o negócio nulo, o negócio anulável pode ser ratificado,
confirmado.
Ratificar ou confirmar é dar validade a ato ou negócio que poderia ser desfeito por
decisão judicial. Por meio da ratificação, há renúncia à faculdade de anulação. Essa
permitida quando o negócio já foi cumprido em parte e o devedor estava ciente do vício.
7. Prescrição e Decadência
7.1 Prescrição
Quando um direito é violado, o titular deste direito pode agir juridicamente para
direito de pretensão a ação por seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo.
Enquanto que a prescrição aquisitiva (usucapião) consiste na aquisição do direito real pelo
decurso de tempo, um modo de se adquirir a propriedade pela posse prolongada. Tal direito
40
é conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o exercício de fato das
faculdades inerentes ao domínio ou a outro direito real, no tocante a coisas móveis e imóveis,
de um direito, a ação tem por fim eliminar os efeitos dessa violação. A ação
prescreverá se o interessado não promovê-la. Logo que surge o direito de ação, já
faz para proteger seu direito. A inércia é, pois, o não exercício da ação, logo após a
violação do direito. E esta cessa com a propositura da ação, ou com qualquer ato
que e lei admita e que demostre que a pessoa irá defender direito seu.
momentânea.
Ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da
A regra geral é de que toda pretensão é prescritível, entretanto, não é absoluta, uma
vez que existem direitos que por sua natureza, são incompatíveis com o instituto da
prescrição.
Desse modo, não se acham sujeitos a limites de tempo e não se extinguem pela
prescrição, por exemplo, os direitos de personalidade; o estado da pessoa; as ações referentes
ao estado de família; os bens públicos (CC art.102); os direitos facultativos ou potestativos; a
exceção de nulidade.
41
7.1.1 Prazos da Prescrição
A regra geral é que ocorre a prescrição dez anos, quando a lei não lhe haja fixado
prazo menor.
Em um ano:
dos alimentos;
A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele.
A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da
liquidação da sociedade.
Em dois anos:
Em três anos:
A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
13
Vide questão 7
42
A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
A pretensão de reparação civil;
7.1.2 Características
Nesse momento, faz-se necessário que continuemos com a análise de alguns artigos
referentes à prescrição:
43
De acordo com o art. 190, a exceção prescreve no mesmo prazo em que a
pretensão. Ou seja, os prazos aplicados às pretensões são os mesmos aplicados as
tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se
consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,
Renúncia à prescrição nada mais é que a desistência, por parte do titular, de invocá-
la. Não pode ser antecipada, ou seja, não se pode renunciá-la antes de consumada. Além
disso, é ato pessoal do agente, afeta apenas o renunciante ou seus herdeiros. Não pode haver,
De acordo com o art. 192, os prazos de prescrição não podem ser alterados por
acordo das partes.
De acordo com o art. 193, a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
jurisdição, pela parte a quem aproveita.
De acordo com o art. 195, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm
De acordo com o art. 196, a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a
14
Vide questão 6
45
A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
Nos casos de suspensão, nos quais a causa é superveniente, uma vez desaparecida
esta, o prazo prescricional retoma seu curso normal, computando-se o tempo verificado
antes da suspensão.
(passa a contar o prazo desde o início, recomeça). O tempo precedente decorrido fica
totalmente inutilizado.
assistente dos menores relativamente capazes (contra os absolutamente incapazes não corre a
prescrição).
prescrição feita por um credor não aproveita aos outros, assim como aquela promovida contra
um devedor não prejudica aos demais.
46
7.2 Decadência
A decadência é a extinção do direito, tendo em vista a inércia do seu titular. Ela dá-se
Enquanto a prescrição atinge diretamente a ação e por via oblíqua faz desaparecer o
direito por ela tutelado, a decadência, ao contrário, atinge diretamente o direito material e
por via oblíqua acaba por atingir a ação.
Agora vejamos alguns dispositivos legais do Código Civil que trata da decadência.
O art. 2028 do CC/02 trouxe uma redução de inúmeros prazos, o que deve ser analisado
continua a ser aplicada; contudo, por outro lado, transcorrido menos da metade, será
aplicada a lei nova. Ainda, de acordo com o STJ15, este novo prazo deve ser contado a partir
15
REsp 848 161/MT.
47
QUADRO SINÓTICO
BENS
CONCEITO Bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de
direito.
Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem
existência física;
DOUTRINÁRIA Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não
existem fisicamente (possuem uma existência abstrata);
BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
CLASSIFICAÇÃO LEGAL BENS QUANTO À MOBILIDADE
48
BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE
49
devidas em função do imóvel familiar;
Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar;
Adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens.
Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
FATO NÃO JURÍDICO Qualquer ocorrência cotidiana que não produza efeitos jurídicos.
FATO JURÍDICO Qualquer ocorrência que tenha relevância jurídica. É o fato jurídico lato sensu.
FATO JURÍDICO É o fato natural que pode ser tanto um fato jurídico ordinário (prescrição) ou
extraordinário (catástrofe natural).
STRICTO SENSU
ATO JURÍDICO É uma espécie de fato jurídico que possui elemento volitivo e licitude do
conteúdo.
ATO JURÍDICO É a mera realização da vontade do titular do direito, sem criação, extinção ou
modificação de qualquer instituto jurídico.
STRICTO SENSU
É um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento
humano em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração
ATO FATO
pelo ator. Assim, a vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir
efeitos normalmente.
Espécie de ato jurídico que possui composição de interesses das partes com
um fim determinado.
Manifestação de vontade livre e de boa-fé;
NEGÓCIO JURÍDICO
Agente capaz e legitimado,
ELEMENTOS DO Objeto lícito, possível, determinado ou
NEGÓCIO JURÍDICO determinável e
Observada a forma para o cumprimento do
ato, nos termos da lei (forma prescrita ou não
defesa em lei).
Os elementos acidentais fazem parte do plano da
eficácia, podendo ou não ocorrer. Estes elementos
são facultativos.
ELEMENTOS Condição: evento futuro e incerto
ACESSÓRIOS Termo: evento futuro e certo
Encargo ou Modo: restrição a certa
liberalidade que foi concedida
50
DEFEITOS DO São duas espécies de vício: consentimento (erro, dolo, coação, estado de
perigo e lesão) e social (simulação e fraude contra credores).
NEGÓCIO JURÍDICO
Inexistência dos Negócios Jurídicos: o ato não se formou para o direito.
Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta): vício que impede o ato de
ter existência legal e produzir efeito
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Extingue a PRETENSÃO de um direito (ação), prazos legais (Geral: 10 anos, Especiais: 1, 2, 3,
4 e 5 anos – vide art. 205 c/c 206, CC), conhecimento ex officio, não cabe alegação pela
PRESCRIÇÃO
parte, possui causas interruptivas, impeditivas, suspensivas.
Extingue o DIREITO, prazos legais (decadência legal) ou por convenção das partes
(decadência convencional). Não há causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas, regra
geral.
DECADÊNCIA
Decadência legal: conhecida ex officio, irrenunciável. Não existe, pela doutrina, prazo geral
e os prazos especiais são estabelecidos em dias, meses e anos ao longo de todo o Código
Civil de 2002.
Decadência convencional: apenas reconhecida pelas partes e pode ser renunciada após a
sua consumação.
51
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, o negócio cujo objeto, ao tempo da
celebração, é impossível
C) é valido, ainda que se trate de impossibilidade absoluta, desde que ela não tenha sido
E) é nulo de pleno direito, porém eficaz, desde que se trate de impossibilidade relativa.
Comentário:
De acordo com Código Civil, em seu Art. 106, a impossibilidade inicial do objeto não
invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a
que ele estiver subordinado. Sabe-se que os negócios jurídicos em geral são informados
pelo princípio da manutenção do negócio jurídico, como exteriorização da necessidade
de se preservar ao máximo a vontade dos pactuantes. Assim, podendo o negócio jurídico
ser “salvo”, deverá ser adotada a interpretação ou solução que assim permita. No caso do
objeto impossível, o negócio jurídico pode ser “salvo” se a impossibilidade não mais
52
Questão 2
CESPE – 2019 – TJ/SC: A declaração enganosa de vontade que vise à produção, no negócio
jurídico, de efeito diverso do apontado como pretendido consiste em defeito denominado
A) simulação.
B) erro.
C) dolo.
D) lesão.
E) reserva mental.
Comentário:
negócio jurídico que cria efeitos jurídicos não pretendidos (simulação) ou mascara fatos
verdadeiros (dissimulação). A vontade é sub-repticiamente omitida para que se forjem
efeitos jurídicos que, de outro modo, não surgiriam. O dolo, por sua vez, é
defeito do negócio jurídico, não estando prevista como tal no Capítulo IV do Código
Civil, sendo, na verdade, aquilo que não se declara, existindo apenas na mente de quem
Questão 3
CESPE – 2019 – MPE/PI: A respeito da classificação dos bens, é correto afirmar que:
53
A) são fungíveis os bens móveis ou imóveis que possam ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
B) os bens podem ser divididos em consumíveis e não consumíveis; contudo, esses últimos,
quando sofrem deteriorações devido ao uso, passam a ser incluídos no conceito de bens
consumíveis.
C) os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis apenas por determinação legal,
D) a lei, ao tratar dos bens reciprocamente considerados, determina que os seus frutos e
produtos possam ser objeto de negócio jurídico desde que separados do bem principal.
E) a aquisição de bens móveis se dá por simples tradição, enquanto a de bens imóveis exige
escritura pública e registro em cartório, com exceção daqueles cujo valor atinja até trinta vezes
Comentário:
Os bens fungíveis são aqueles que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por
vontade das partes. Os frutos e produtos, embora ainda não separados do bem
principal, podem ser objeto de negócio jurídico. Art. 108, CC. Exceto por previsão legal
em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem
à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de
valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País, assim, apenas os
Questão 4
CESPE – 2019 – TJ/BA: De acordo com o Código Civil, são bens móveis
54
B) os materiais que estejam separados provisoriamente de um prédio, para nele serem
reempregados.
D) as edificações que, estando separadas do solo, puderem ser movimentadas para outro
Comentário:
O Código Civil, em seu artigo 80, traz a categoria de bens imóveis por determinação
legal, sendo uma “ficção jurídica” com o objetivo de revestir alguns direitos com a
mesma segurança e solenidade que cercam os bens imóveis. De acordo com o art. 81 do
CC, não perdem o caráter de imóveis: “os materiais provisoriamente separados de um
prédio, para nele se reempregarem”, enquanto que, de acordo com o art. 84, os materiais
provenientes de demolição de um prédio readquirem a qualidade de bens móveis. Já no
seu inciso I do art. 81, considera bens imóveis as edificações que, mesmo separadas do
solo e puderem ser removidas para outro local, conservarem sua unidade. Ademais, os
materiais destinados a uma construção somente são considerados bens móveis enquanto
Questão 5
CESPE – 2019 – TJ/BA: Dino, pai de três filhos e atualmente em seu segundo casamento,
resolveu adquirir um imóvel, em área nobre de Salvador, para com ele presentear o caçula,
único filho da sua atual união conjugal. A fim de evitar eventuais problemas com os outros
dois filhos, tidos em casamento anterior, Dino decidiu fazer a seguinte operação negocial:
• vendeu um dos seus cinco imóveis e, com o dinheiro obtido, adquiriu o imóvel para o filho
caçula; e
55
Alguns meses depois, os outros dois filhos tomaram conhecimento das transações realizadas e
resolveram ajuizar ação judicial contra Dino, alegando que haviam sofrido prejuízos.
Nessa situação hipotética, conforme a sistemática legal dos defeitos e das invalidades dos
negócios jurídicos, os dois filhos prejudicados deverão alegar, como fundamento jurídico do
pedido, a ocorrência de
A) reserva mental, também conhecida como simulação unilateral, que deve ensejar a
Comentário:
que produzirá efeitos proibidos na lei (doação de um bem para a amante, por exemplo).
Ainda, importante trazer o que dispõe o art. 544, já que se trata de uma questão com
56
intertextualidade: “A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro,
Questão 6
VUNESP – 2018 – TJ/MT: Caio e Tício receberam em comodato um apartamento de
propriedade de Mélvio, pelo prazo de dois anos, em 31.12.2012. Após o término do contrato,
Caio e Tício devolveram o imóvel em 31.12.2014 e, em razão dos danos causados por estes no
imóvel, o mesmo ruiu completamente em 01.01.2015. O valor apurado para a reconstrução foi
de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Em 25.12.2017, Caio enviou uma carta de próprio punho
a Mélvio, se desculpando pela ruína ocasionada no imóvel, bem como requerendo um prazo
para o pagamento dos danos ocasionados. Em 01.06.2018, Mélvio ajuízou ação de reparação
A) A pretensão está prescrita, tendo em vista o decurso do prazo prescricional previsto em lei,
bem como ausência de qualquer causa de interrupção.
B) Mélvio poderá requerer o valor total de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), mais perdas e
danos.
Comentário:
A carta enviada por Caio é hipótese de interrupção da prescrição, por ser ato
extrajudicial que importa em reconhecimento do direito pelo devedor (art. 202, VI,
57
Código Civil). Como se sabe, a interrupção da prescrição é, como regra, pessoal, não
afetando cocredores ou codevedores (art. 204, caput). Contudo, a interrupção prejudica
comodatários em razão da missiva encaminhada por Caio, a pretensão pode ser exercida
Questão 7
FEPESE – 2018 – PGE/SC: Nos termos do art. 189 do Código Civil, “violado o direito, nasce
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição”.
pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas; a pretensão dos
tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos pela percepção de
pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos
respectivos contratos ou mandato; a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou
rústicos.
capitalização ou sem ela; a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias
ou vitalícias; a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos.
58
E) A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo
da data em que foi deliberada a distribuição; a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça,
Comentário:
Trata-se de uma questão simples, já que, em um primeiro momento, pode até assustar o
candidato por ser “longa”, cobrando apenas a literalidade da lei, sendo necessário que
vocês decorem as hipóteses legais, infelizmente. Portanto, não custa relembrar os prazos
prescricionais trazidos no ponto 6.1.1 deste material. Não percam pontos por isso!!!!
Questão 8
CESPE – 2018 – TJ/CE: Maria decidiu alugar um imóvel de sua propriedade para Ana, que, no
A) nulo, uma vez que foi firmado por pessoa absolutamente incapaz, condição que pode servir
de argumento para Ana extinguir o contrato.
C) válido, desde que tenha sido formalizado por escritura pública, visto que tem por objeto
um imóvel.
D) nulo, porque Ana deveria ter sido representada por um de seus genitores.
E) válido, ainda que Ana não possua capacidade de direito para celebrar o contrato de
aluguel.
Comentário:
Se o contrato tivesse sido celebrado por absolutamente incapaz, efetivamente seria nulo
(art. 166, I, CCB), porém, a questão informa que Ana possuía dezessete anos de idade,
sendo relativamente incapaz, de sorte que o contrato é anulável (art. 171, I, do CCB), e
59
não nulo. Lado outro, não pode Ana, menor de idade, alegar a própria menoridade para
se eximir de cumprir o contrato (art. 180, CCB), como decorrência do brocardo nemo
turpitudinem suam audire potest. Assim, por ser um negócio anulável, será passível de
convalidação, resguardando-se, sempre, direitos de terceiros (art. 172, CCB). Ademais, o
tutores ou curadores especiais (art. 71, CPC). Por outro lado, ainda que a locação tenha
por objeto bem imóvel, o contrato não será realizado por escritura pública, já que
escritura pública somente é exigida, não havendo disposição legal em contrário, para
negócios jurídicos relativos a direitos reais incidentes sobre imóveis com valor superior a
30 vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108, CCB). A locação, por ser direito
pessoal, não depende de escritura pública – embora seja de bom tom registrar o
Questão 9
CESPE – 2018 – TJ/CE: Elemento acidental do negócio jurídico, a condição possui, entre
A) impositividade e certeza.
B) acessoriedade e voluntariedade.
C) legalidade e futuridade.
D) involuntariedade e incerteza.
E) legalidade e brevidade.
Comentário:
60
não é impositiva (cogente), posto que deriva da vontade das partes, não sendo cláusula
aplicável ex lege. Também não é certa a condição, posto que se refere a evento futuro e
legalidade e brevidade, já que a condição é breve (transitória) nas hipóteses em que ela
efetivamente se verifica; não havendo condição, ela se extingue junto com o próprio
Questão 10
VUNESP – 2018 – PGE/SP: O ato de assumir obrigação excessivamente onerosa, premido pela
necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, caracteriza:
A) lesão, sujeita ao prazo prescricional de 4 anos para declaração da sua nulidade, contado da
cessação do risco.
B) lesão, sujeita ao prazo decadencial de 4 anos para sua desconstituição, contado da data da
celebração do negócio jurídico.
C) lesão, que torna o negócio jurídico ineficaz enquanto não promovido o reequilíbrio
D) estado de perigo, sujeito ao prazo decadencial de 4 anos para declaração da sua nulidade,
contado da cessação do risco.
E) estado de perigo, sujeito ao prazo decadencial de 4 anos para sua desconstituição, contado
Comentário:
61
De acordo com o art. 156, configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela
outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Ainda, de acordo com o art. 178,
é de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
contado no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico.
62
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - A
Questão 3 - E
Questão 4 - C
Questão 5 - C
Questão 6 - B
Questão 7 - C
Questão 8 - B
Questão 9 - B
Questão 10 - E
63
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Bens
Prescrição e Decadência
Bens
É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.
O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras,
separadas e viúvas.
64
Prescrição e Decadência
Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo
de justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.
Súmula 547-STJ:
Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a título de participação financeira do
consumidor no custeio de construção de rede elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do
Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão
contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de transição
disciplinada em seu art. 2.028.
Súmula 151-STF:
Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga
transportada por navio.
A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo,
mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade
do prazo.
O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha
ciência da decisão.
Súmula 573-STJ:
Nas ações de indenização decorrentes de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter permanente da
invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez
permanente notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução.
65
JURISPRUDÊNCIA
Bens
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016
(Info 585).
O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado. O inciso V
afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se ele foi dado como hipoteca
(garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o
bem de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.
Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis. Assim, a
ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.
Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como argumento
pelo devedor para evitar a penhora do bem de família.
O art. 1712 do CC consagrou algo inovador: a possibilidade de se vincular rendimentos (valores mobiliários) à
instituição do bem de família voluntário, desde que a referida renda seja aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família. Os valores mobiliários não podem exceder ao valor do prédio instituído como bem de
família.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios,
destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Todavia, situação diversa é admita pelo STJ (REsp 439.920/SP, AgRg no REsp 975.858/SP), admissível até para o
bem de família legal, no sentido de se considerar impenhorável a renda de aluguel proveniente do único bem de
família locado.
66
STJ. 4ª Turma. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).
Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo
cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade
do bem de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta
em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão condicional do processo. STJ. 4ª Turma.
REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
08/03/2016.
A exceção à impenhorabilidade prevista no art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 abrange o imóvel objeto do contrato de
promessa de compra e venda inadimplido. O art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 prevê que o bem de família poderá ser
penhorado para a cobrança de “crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato”. A exceção prevista
neste inciso II do art. 3º deve ser estendida também aos casos em que o proprietário firma contrato de promessa
de compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço ajustado, se recusa a adimplir com as obrigações
avençadas ou a restituir o numerário recebido, e não possui outro bem passível de assegurar o juízo da
execução. STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2016.
3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/10/2016.
A impenhorabilidade do bem de família é oponível às execuções de sentenças cíveis decorrentes de atos ilícitos,
salvo se decorrente de ilícito previamente reconhecido na esfera penal. Cabe a penhora do bem de família para
pagamento de dívidas de pensão decorrente de vínculo familiar ou de ato ilícito (art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90).
Por outro lado, não é cabível a penhora de bem de família para o pagamento de indenização por ato ilícito, salvo
se decorrente de ilícito previamente reconhecido como crime na esfera penal. Isso porque aí se enquadrará no
inciso VI do art. 3º. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
25/10/2016.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.
Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu valor econômico, da
proteção conferida pela Lei nº 8.0009/90 aos bens de família. O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de
elevado valor, por si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal ao
bem de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da lei, a fim de
excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de elevado valor. STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018. STJ. 3ª Turma. REsp
1.482.724/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS, Rel.
67
Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018. STJ. 4ª Turma.
AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/09/2017.
A preclusão consumativa atinge a alegação de impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão
anterior acerca do tema. A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase
do processo, desde que não tenha havido pronunciamento judicial anterior. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp
1373654/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 06/03/2018. Opera-se a preclusão consumativa
quanto à discussão acerca da penhorabilidade ou impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão
definitiva anterior acerca do tema, mesmo em se tratando de matéria de ordem pública. STJ. 3ª Turma. AgInt nos
EDcl no AREsp 1039028/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/11/2017. A impenhorabilidade de
bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto, uma vez decidido o tema,
não pode ser reeditado, pois acobertado pela preclusão. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/09/2017.
STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018.
Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito de
propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução. A regra de impenhorabilidade do bem de família
trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em
todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. Assim, se
ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em evidente abuso de
direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver, tolerar e premiar a
atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018.
Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia possuem a
proteção da impenhorabilidade do bem de família legal. Ex: João fez um contrato de alienação fiduciária para
aquisição de uma casa; ele está morando no imóvel enquanto paga as prestações; enquanto não terminar de
pagar, a casa pertence ao banco; apesar disso, ou seja, a despeito de possuir apenas a posse, os direitos de João
sobre o imóvel não podem ser penhorados porque incide a proteção do bem de família. STJ. 3ª Turma. REsp
1.677.079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.
68
Em regra, o imóvel comercial não se enquadra na hipótese de impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90, no entanto
há uma exceção expressamente mencionada pelo STJ em julgado recentíssimo: É impenhorável o único imóvel
comercial do devedor quando o aluguel daquele está destinado unicamente ao pagamento de locação
residencial por sua entidade familiar. Inicialmente, registre-se que o STJ pacificou a orientação de que não
descaracteriza automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei nº 8.009/1990, a constatação de
que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade (AgRg no REsp 404.742-RS, Segunda Turma,
DJe 19/12/2008; e AgRg no REsp 1.018.814-SP, Segunda Turma, DJe 28/11/2008). A Segunda Turma também
possui entendimento de que o aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de família (REsp
855.543-DF, Segunda Turma, DJ 3/10/2006). Ainda sobre o tema, há entendimento acerca da impossibilidade de
penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se verificar sua vinculação ao financiamento para aquisição de
imóvel residencial (REsp 707.623-RS, Segunda Turma, DJe 24/9/2009). REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.
Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.".
A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel
COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento
de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 15/9/2016 (Info 591).
STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012
A impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia
decorrente de indenização por ato ilícito. (STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
04/09/2012.)
O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa
jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à entidade familiar. O bem de família
é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo
ônus dos proprietários a demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. Assim é possível a
penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos sócios
da pessoa jurídica devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/04/2018 (Info 627).
STJ. 3ª Turma. REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012
69
É possível a penhora do bem de família para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar (inciso V do art. 3º). A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90,
deve ser interpretada restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas
contraídas em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ. 3ª Turma.
REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012.)
É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se inexistente
patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros. STJ. 4ª Turma. REsp
1.473.484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info 631). #IMPORTANTE
STJ. 4ª Turma. REsp 997261/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/03/2012
Segundo o STJ, as exceções à impenhorabilidade do bem de família, previstas no art. 3º da Lei 8.009/90, devem
ser interpretadas restritivamente. (STJ. 4ª Turma. REsp 997261/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
12/03/2012.)
O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família. Ex: João comprou uma casa antiga para
reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a empresa FB Engenharia para fazer a reforma. A
empresa terminou o serviço e João passou a residir no local. Ocorre que ele não pagou as últimas parcelas do
contrato com a empresa e ficou devendo R$ 40 mil, materializado em notas promissórias. O imóvel onde
Joãoreside poderá ser penhorado para pagar a dívida, sendo essa uma exceção à impenhorabilidade do bem de
família. Fundamento: art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo
de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do
crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e
70
acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.372-RS, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658)
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício de
consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado: Prazo para anulação da partilha do
direito sucessório (morte): 1 ano. Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união
estável: 4 anos
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do
sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.
Prescrição e Decadência
STJ. 3ª Turma. REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 20/02/2018 (Info 620).
A ação de indenização por danos materiais proposta por consumidor contra construtora em virtude de vícios de
qualidade e de quantidade do imóvel adquirido tem prazo prescricional de 10 anos, com fundamento no art.
205 do CC/2002. Não se aplica o prazo decadencial do art. 26 do CDC. O art. 26 trata do prazo que o
consumidor possui para exigir uma das alternativas previstas no art. 20 do CDC. Não se trata de prazo
prescricional. Não se aplica o prazo do art. 27 do CDC porque este se refere apenas a fato do produto.
Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o promover
ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no
art. 204 do CC.
Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de consequência, estará
interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o
principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica
o fiador.
STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. REsp 1.276.778-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
28/3/2017 (Info 602).
71
A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado, salvo nas
hipóteses em que os devedores sejam solidários.
Como regra, a interrupção operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado. Isso porque o principal
não segue a sorte do acessório.
Existe, no entanto, uma exceção: a interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar
prejudicando o devedor principal nas hipóteses em que a referida relação for reconhecida como de devedores
solidários, ou seja, caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou
devedor solidário.
STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo doméstico? 5
anos, segundo entendimento do STJ, aplicando-se o CDC.
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo internacional?
2 anos, com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.
Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.
É de 3 anos o prazo prescricional de ação proposta por entidade de previdência privada complementar contra
terceiro que se apropriou indevidamente de verbas relativas a benefício previdenciário. Não há previsão específica
para este caso na LC 109/2001, razão pela qual se aplica o art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (pretensão de
ressarcimento de enriquecimento sem causa).
72
Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural? •
Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos. • Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. O
termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão).
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício de
consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado: Prazo para anulação da partilha do
direito sucessório (morte): 1 ano. Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união
estável: 4 anos.
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locação pleitear
o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data
em que houve o pagamento do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação.
O termo inicial para que o herdeiro do cônjuge prejudicado anule a fiança firmada sem a devida vênia conjugal é
de dois anos, contados a partir do falecimento do consorte que não concordou com a referida garantia.
Prescreve em 10 anos (artigo 205 do CC) a pretensão de cobrar dívida decorrente de conserto de automóvel por
mecânico que não tenha conhecimento técnico e formação intelectual suficiente para ser qualificado como
profissional liberal.
A prescrição da pretensão de cobrança de dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la.
É quinquenal o prazo para a propositura da ação indenizatória ajuizada por vítima de acidente de trânsito contra
concessionária de serviço público de transporte coletivo.
O termo inicial do prazo de prescrição da pretensão de recebimento de honorários advocatícios contratados sob
a condição de êxito da demanda judicial, no caso em que o mandato foi revogado por ato unilateral do
mandante antes do término do litígio judicial, é a data do êxito da demanda, e não da revogação do mandato.
73
Prescreve em um ano a pretensão de cobrar despesas de sobre-estadia de contêiner (demurrage), quer se trate
de transporte multimodal, quer se trate de transporte unimodal.
Prescreve em dez anos a pretensão do advogado autônomo de cobrar de outro advogado o valor
correspondente à divisão de honorários advocatícios contratuais e de sucumbência referentes à ação judicial na
qual ambos trabalharam em parceria.
O prazo decadencial de quatro anos estabelecido nos artigos 178, §9º, VI e 362 do CC/02 (correspondente ao
artigo 1.614 do CC/02) aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, desconstituir o
reconhecimento da filiação, não tendo incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação do
registro civil constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.
Quando um vício oculto, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde (artigo 445, §1º, CC), o adquirente
de bem móvel terá o prazo de trinta dias (artigo 445, caput, do CC), a partir da ciência desse defeito, para
exercer o direito de obter a redibição ou abatimento no preço, desde que o conhecimento do vício ocorra dentro
do prazo de cento e oitenta dias da aquisição do bem.
Prescreve em cinco anos, contados do vencimento de cada parcela, a pretensão, nascida sob a vigência do
CC/02, de cobrança de cotas condominiais.
Prescreve em 3 anos a pretensão do promitente-comprador de restituição dos valores pagos a título de comissão
de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV,
CC). STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso
repetitivo)
Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural? •
Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos. • Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. O
74
termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão). STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.730-RS, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo)
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locação pleitear
o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data
em que houve o pagamento do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e,
via de consequência, inaugura-se ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017.
O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando o autor originário tem
comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua extensão, não servindo a data da publicação da
obra plagiária, por si só, como presunção de conhecimento do dano. STJ. 3ª Turma.REsp 1.645.746-BA, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/6/2017.
Prazo prescricional para esta ação de indenização baseada na evicção? 3 anos. A pretensão deduzida em
demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de três anos (STJ. 3ª Turma. REsp
1.577.229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/11/2016.
Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o condomínio geral ou edilício
(vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária,
constante em instrumento público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo)
O exercício da pretensão de indenização do DPVAT, nos casos do absolutamente incapaz, fica postergado para o
momento do suprimento da incapacidade, assim reconhecido por sentença judicial de interdição e nomeação de
curador transitada em julgado, contando-se a partir de então a prescrição.
Conserto de veículo por mecânico: 10 anos se não tiver conhecimento técnico e formação intelectual suficiente
para ser qualificado como profissional liberal.
75
Informativo 513, STJ:
Ressarcimento pelo paciente contra plano de saúde de valores pagos por tratamento cobertos pelo contrato: 10
anos
STJ, 2013:
A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao prazo prescricional decenal (art.
205 do Código Civil), se não houver previsão legal de prazo diferenciado. É adequada a distinção dos prazos
prescricionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual. Para fins
de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os
casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.
76
Informativo 651, STJ
A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados de
telefonia fixa tem prazo prescricional de 10 (dez) anos. STJ. Corte Especial. EAREsp 738.991-RS, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 20/02/2019
É quinquenal o prazo prescricional aplicável à pretensão de cobrança, materializada em boleto bancário, ajuizada
por operadora do plano de saúde contra empresa que contratou o serviço de assistência médico-hospitalar para
seus empregados. Fundamento: art. 206, § 5º, I, do CC. Art. 206. Prescreve: (...) § 5º Em cinco anos: I - a pretensão
de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; STJ. 3ª Turma.REsp 1.763.160-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/09/2019 (Info 657).
O art. 197, I, do Código Civil prevê que “não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade
conjugal”. Se os cônjuges estão separados há muitos anos, não se deve aplicar a regra do art. 197, I, do CC.
Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571 do CC, a separação de fato muito prolongada, ou por tempo
razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal e, em assim sendo, tem
o condão de impedir a fluência do prazo prescricional da pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. Caso
concreto: a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30 anos da separação de fato e da partilha
amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada pela prescrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.947-TO, Rel.
Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660).
77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
78
Capítulo 3
SUMÁRIO
8.7.3.2 Novação............................................................................................................................................. 37
8.7.3.3 Compensação.................................................................................................................................. 40
9.1.1 Conceito..................................................................................................................................................... 52
9.2.1 Conceito..................................................................................................................................................... 55
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 79
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 80
JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 82
Capítulo 3
Civil.
Quanto ao tema, o alemão Alois Brinz desenvolveu a teoria dualista do vínculo dos
elementos que compõem a obrigação. De acordo com a teoria, a essência da obrigação está
na responsabilidade, de maneira que o devedor deve ser responsável, com o seu patrimônio,
pela realização da prestação obrigacional. Para o autor, os elementos que compõem a
obrigação são:
Haftung: responsabilidade;
Shuld: débito, dever.
obrigações de: dar (coisa certa ou incerta), fazer, não fazer e obrigações alternativas.
8.1 Conceito
seu patrimônio.
4
Ou seja, obrigação nada mais é que o direito do credor contra o devedor; confere-se
ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de
Em cada um desses polos (ativo ou passivo) pode haver mais de um credor ou devedor.
Além disso, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: em uma compra e venda ambos são
prestação imediata, que é sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação:
obrigação de dar ou fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer).
5
Ainda, há o objeto mediato, que é o bem, propriamente dito. Ex.: “A” deve entregar um
quadro a “B”. O objeto imediato, que é a prestação, é a obrigação de dar. Já o quadro é o
bem sobre o qual recai o direito, sendo considerado como o objeto mediato.
O objeto (prestação), para ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente),
determinado ou determinável e economicamente apreciável.
É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja
Trata-se do vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo que sujeita o
Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex: os
contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a principal e maior
fonte de obrigação.
Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, apenas uma
pessoa se obriga. Ex: promessa de recompensa.
6
Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a reparar o
A doutrina ainda acrescenta a lei como fonte de obrigação, uma vez que em nosso direito
Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, mas não opera a transferência da propriedade.
Esta somente se concretiza com a tradição (entrega - bens móveis) ou pelo registro (bens
imóveis).
Específica: Obrigação de dar coisa certa (ex: uma joia, um carro, um livro, etc.);
Genérica: Obrigação de dar coisa incerta (ex: a obrigação de dar um boi, dentre
uma boiada).
regra básica é a de que o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa
1
Vide questão 4
7
(art. 313, CC). Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex: compra e venda), ou a de
entregar a posse (ex: locador ou comodante que deve entregar a coisa).
acessórios (acessório segue o principal), salvo se as partes estipularem de modo diverso (art.
233, CC). Ex: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar todos os bens
móveis da chácara.
O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao credor, bem
como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. Mas mesmo assim a coisa pode se
Por ser prestação específica, de conteúdo certo, o credor não se obriga a aceitar
prestação diversa da que lhe é devida (Princípio da identidade física da prestação), ainda
consuma com a tradição do bem. Diante disso, no caso de haver perda ou deterioração da
coisa antes da tradição, são possíveis duas soluções:
perdeu.
8
Sempre que houver o descumprimento de uma obrigação por culpa do devedor, poderá ser
OBRIGAÇÃO DE DAR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS
RESOLVE A
OBRIGAÇÃO VALOR EQUIVALENTE
OU +
DETERIORAÇÃO ACEITA A COISA PERDAS E DANOS
COM
ABATIMENTO DO (Em qualquer dos casos)
PREÇO
OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS
9
VALOR EQUIVALENTE
CREDOR RECEBE A OU
COISA NO ACEITAR A COISA COM O ABATIMENTO
DETERIORAÇÃO
ESTADO EM QUE DO PREÇO
SE ENCONTRAR +
PERDAS E DANOS (em qualquer dos casos)
depender da situação:
Res perit domino: o dono é o único a sofrer as perdas oriundas de caso fortuito,
pois neste caso não se constata a existência de culpa.
Reparação integral: constatada a culpa ou dolo, deverá a parte causadora reparar
todo e qualquer prejuízo decorrente de sua atividade.
Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva, como na obrigação
de dar coisa certa. O objeto é indicado apenas de forma genérica no início da obrigação. No
entanto, o objeto deve ser determinável pelo gênero e quantidade, faltando determinar a
qualidade. Ex: entregar dez bois. A princípio parece ser uma obrigação de dar coisa certa. No
entanto se eu tenho uma boiada de mil bois e devo entregar dez, quais os dez bois que eu
irei entregar se eles ainda não foram individualizados? Por isso chamados de obrigação de dar
a coisa incerta (ou genérica).
Assim, coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”, mas sim coisa sujeita a
A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média qualidade. Trata-se
de um ato jurídico unilateral, também chamado de concentração, que se exterioriza pela
pesagem, medição, contagem, etc. A escolha cabe, em regra ao devedor, salvo se for
10
estabelecido de modo diverso no contrato (neste caso, por exceção, a escolha caberá ao
credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio).
Neste caso, vigora a teoria da concentração, pois, na escolha, deverá ser observada a
coisa média, ou seja, não deverá ser escolhida a melhor e nem a de pior qualidade. Realizada
a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, inicialmente de dar a coisa incerta, se
Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit - o
gênero nunca perece). Ex.: Se “A” deve cem laranjas a “B” não pode deixar de cumprir a
obrigação alegando que as laranjas se estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a
plantação de “A” se perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda. No entanto, após a
perdas e danos.
Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior,
Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente. Deve
ser realizado no lugar do cumprimento da obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em
11
real (que é nossa unidade monetária atual). São nulas as convenções de pagamento em ouro
ou em moeda estrangeira, salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação
Outras formas de pagamento (ex: cheque, cartão de crédito ou débito, etc.) são
facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não os receber.
etc.).
entregue não é mais achada no mercado, etc. Repõem-se as partes no estado anterior da
obrigação. Por outro lado, se o próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por
12
8.4.2.1 Obrigação de Fazer Fungível
Fungível quer dizer que a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por
terceira pessoa, sem prejuízo para o credor (ex: obrigação de pintar um muro – em tese
qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível).
sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar
executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade
do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço. Trata-se da
aplicação do art. 249 do Código Civil.
A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza
(aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; não há a
possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa,
contratualmente falando, é insubstituível. Ex: contrato um artista famoso para pintar um
entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta
pelo Juiz (e somente pelo Juiz), uma multa periódica (chamada de astreinte).
Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar
certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado. Seu conteúdo
é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex: proprietário se obriga a não construir um
muro acima de certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não
trazer animais domésticos para o cômodo alugado, etc. Estas obrigações podem ser bem
13
variadas, mas é evidente que as imorais e antissociais, ou que sacrifiquem a liberdade das
pessoas são proibidas.
Além disso, pode haver um limite temporal para a obrigação. Se a pessoa praticar o
ato que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente e o credor poderá exigir o
desfazimento do que foi realizado.
obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer é sempre uma obrigação
pessoal e só pode ser cumprida pelo próprio devedor (personalíssima e indivisível). Por isso se
“A” se comprometer a não elevar o muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a
propriedade, quem comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo
contrato).
efeito.
Obrigações Compostas (Complexas ou Plurais): são as que apresentam uma
14
de qualquer uma delas. Ex: obrigo me a entregar um touro ou dois cavalos;
vendo a casa por cem mil ou troco por dois terrenos na praia.
Obrigações Facultativas: São variantes das obrigações alternativas, aceitas pela
doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é simples (há
apenas uma prestação), mas há a possibilidade para o devedor em substituir o
objeto. Exemplo: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se
reserva no direito de substituí-lo por outro.
podendo exigir a prestação principal; somente o devedor é pode optar pela prestação
facultativa.
Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um
único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas, se houver
vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único
credor (art. 264, CC). Nota-se, portanto, três espécies de obrigações solidárias:
Nas obrigações solidárias ativa, cada um dos credores solidários tem o direito de
exigir do devedor comum o cumprimento da prestação por inteiro, assim, enquanto alguns
15
dos credores solidários não demandarem o devedor comum, o devedor poderá pagar a
qualquer um dos credores (artigos 267 e 268, do Código Civil).
Porém, importante destacar que tal regra aplica-se apenas antes de haver uma
demanda judicial, podendo, assim, o devedor pagar para quem quiser e como quiser.
Contudo, após o ingresso de demanda judicial por qualquer dos credores, o pagamento deve
credores.
Segundo o art. 269, do Código Civil, o pagamento feito a um dos credores solidários
extingue a dívida até o montante do que foi pago. Porém, mesmo quem recebeu
parcialmente, pode cobrar o restante da dívida, já que a relação externa entre credores e
devedor é una.
Ainda, conforme dispõe o art. 272, do Código Civil, é possível que o credor que tiver
remita, ou seja, perdoe a dívida do devedor, e sendo assim, ou recebendo o pagamento, este
credor responderá perante os outros pelas quotas correspondentes. Isso ocorre porque a
Pelo que dispõe o art. 270 do Código Civil, se um dos credores solidários falecer
deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que
corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Assim, em caso
de falecimento, haverá o desaparecimento da solidariedade em relação àquele que faleceu
(refração do crédito), permanecendo, porém, entre os credores sobreviventes.
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Não há transmissão da solidariedade por herança nas obrigações divisíveis, uma vez
que, nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando herdeiros, cada um deles só
Essa regra, porém, não se aplica quando se tratar de obrigação indivisível, pois, em se
Nas obrigações solidárias ativas, não há oponibilidade das exceções pessoais, ou seja,
não é possível arguir defesas personalíssimas. Ademais, o julgamento contrário a um dos
credores solidários não atinge os demais, contudo o julgamento favorável aproveita-lhes, sem
prejuízo da exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer
deles (credores).
Ocorre quando há pluralidade de devedores. Ex.: art. 585, CC: “Se duas ou mais
pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente
17
Nas obrigações solidárias passiva, o credor tem direito a exigir e receber de um ou de
alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum, normalmente, ingressando a
Portanto, mesmo aquele devedor que paga uma parte da dívida pode ser cobrado pelo
restante, pois, na solidariedade passiva, a relação externa é una, conforme dispõe o art. 275,
18
podendo ser cobrado apenas nos limites da sua quota parte, transformando-se em devedor
fracionário.
Não confundir renúncia à solidariedade com remissão (perdão), porque, neste último
caso, o beneficiado com fica totalmente liberado do vínculo obrigacional, conforme dispõe o
Exceção (art. 276, CC): se a obrigação for indivisível, poderá ser exigida por inteiro; e
os herdeiros reunidos serão considerados um só devedor solidário em relação aos demais
devedores.
Por fim, o devedor que satisfaz a dívida por inteiro pode exigir dos outros
codevedores as suas quotas, já que há a presunção relativa de divisão igualitária. Assim, na
devedores e de credores.
ou da vontade das partes (solidariedade convencional)” (art. 265, CC). Ex.: o fiador em
relação ao devedor principal quando convencionar a solidariedade com o afiançado, já que,
em regra o fiador é devedor subsidiário (benefício de ordem previsto no art. 827, do Código
Civil c/c art. 828, do Código Civil).
CARACTERÍTICAS
Qualquer um dos credores pode exigir a dívida por inteiro a
RESPONDEM COMO SE qualquer um dos devedores, que têm o dever de pagar a
FOSSEM UM SÓ SUJEITO dívida toda, a qualquer um dos credores, havendo
solidariedade em ambos os polos da relação.
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NÃO PRESUNÇÃO DA A solidariedade só pode resultar da LEI (solidariedade legal)
SOLIDARIEDADE ou da AUTONOMIA DA VONTADE (solidariedade
convencional).
Se for realizado por qualquer um dos credores, extingue-se
PAGAMENTO INTEGRAL até o valor que foi pago. Assim, caso haja o pagamento
EXTINGUE A DÍVIDA parcial, o credor poderá cobrar o restante da dívida a
qualquer um dos devedores, inclusive do devedor já pagante.
NÃO TRANSMISSÃO DA Nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando
SOLIDARIEDADE POR herdeiros, cada um deles só poderá exigir e receber/pagar a
HERANÇA NAS quota do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário.
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS
CONVERSÃO EM PERDAS E Permanece a solidariedade para todos os efeitos, ao
DANOS contrário das obrigações indivisíveis, que perderão tal
característica, tornando-se divisíveis.
Aquele credor que perdoou ficará responsável em pagar, aos
demais credores, o valor de suas quotas correspondentes e
REMISSÃO DA DÍVIDA aquele que obteve o perdão não extingue aos demais, que
deverão pagar o valor restante, caso o pagamento tenha sido
parcial.
As defesas de mérito existentes contra determinado sujeito
NÃO OPONIBILIDADE DAS apenas vinculam a este, ou seja, são personalíssimas, não
EXCEÇÕES PESSOAIS podendo abranger os demais. Nesse sentido, as exceções que
podem abranger os demais são aquelas comuns a todos, a
exemplo da prescrição da dívida.
PRINCÍPIO DA Impossibilidade de agravar a posição dos credores/devedores
RELATIVIDADE DOS EFEITOS sem o consentimento dos demais, gerando efeitos apenas
CONTRATUAIS inter partes
CULPA NA Subsiste para todos os devedores solidários o encargo de
IMPOSSIBILIDADE DE pagar o equivalente, mas apenas o DEVEDOR CULPADO será
CUMPRIMENTO DA obrigado a pagar as perdas e danos.
OBRIGAÇÃO
A solidariedade pode ser renunciada de maneira parcial, em
RENÚNCIA À favor de apenas um devedor, por exemplo, subsistindo em
SOLIDARIEDADE relação às demais, ou total, de modo a exonera-los da
21
solidariedade.
22
(ex: um cavalo, um touro), não admitem cisão na prestação. Ainda que o
objeto seja divisível (ex: dinheiro), não pode o credor ser obrigado a receber
em partes, se assim não se ajustou.
SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE
23
importando renúncia à solidariedade o qualidade de indivisível.
ajuizamento de ação em face de apenas
um ou alguns dos devedores solidários.
No caso de falecimento do devedor A indivisibilidade decorre da natureza da
solidário, os herdeiros só respondem pelo prestação, o que a distingue da solidariedade,
quinhão correspondente à dívida deste, que apenas é resultante de lei ou da vontade
nos limites da herança, salvo se a das partes.
obrigação for indivisível.
Todos os devedores solidários respondem
pelos prejuízos de mora, mas o culpado
será responsável pelo acréscimo do
aumento pago pelos outros.
Convertendo-se a obrigação em perdas e
danos, subsiste para todos os efeitos a
solidariedade.
Quanto à Independência
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Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a outra
relação jurídica (ex: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao
contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em
relação a uma obrigação qualquer, etc).
Quanto à Liquidez
Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e determinadas
quanto ao objeto. Ex: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, etc. Nelas se
acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a
natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida
constitui o devedor em mora.
Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade;
dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda
é indeterminado.
25
Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada por um único ato, em
momento posterior ao surgimento da obrigação (ex: compra e venda com
pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias).
Obrigações de trato sucessivo (ou periódicas ou execução continuada): são
as que se resolvem em intervalos de tempo (regulares ou não). Ex: compra e
venda a prazo ou em prestações periódicas; obrigação do inquilino em pagar
aluguel; do condômino em pagar as despesas condominiais. Quando uma
parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a
formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período.
São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito pessoal. Elas recaem
sobre uma pessoa (daí ser um direito pessoal), mas por força de um direito real (como por
sumulado do STJ, “as obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor” (Súm.
623 do STJ).
credor e um devedor, mas falta a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria
compelido a pagar. O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo
o credor.
26
No entanto, tais obrigações podem gerar efeitos, pois, se o devedor capaz pagar a
dívida, o pagamento é considerado válido e irretratável, não podendo pedir de volta o que foi
pago. Ex.: dívida prescrita; dívidas resultantes de jogo e apostas não permitidas legalmente
(arts. 814 e 815, CC: não é obrigatório o seu pagamento; mas se o devedor pagar é
considerado válido).
“A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente
no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a
soberania nacional”, segundo entendimento do STJ (REsp 1.628.974-SP, Info 610), por força
da aplicação do art. 9º da LINDB (aplica-se à obrigação constituída no exterior a legislação do
enriquecimento ilícito.
O credor poderá ceder seu crédito a outro, se isso não opuser à natureza da obrigação,
à lei ou à convenção com o devedor, podendo configurar tanto alienação onerosa quanto
alienação gratuita.
Por se tratar de transferência de crédito, não se sujeita à anuência do devedor para se
consumar, mas este deverá ser comunicado, sob pena de adimplemento, pelo pagamento
putativo. O devedor poderá ser comunicado por escrito, público ou particular.
27
Cedente: credor que transfere seus direitos;
Devedor/Cedido: não participa necessariamente da cessão, que pode ser
realizada sem a sua anuência. Deve ser, no entanto, comunicado da cessão para
que possa solver a obrigação ao legítimo detentor do crédito. Só para esse fim
se lhe comunica a cessão, uma vez que sua anuência ou intervenção é
dispensável.
Quanto à origem:
Convencional: a cessão de crédito resulta, em regra, da declaração de vontade
entre cedente e cessionário.
o Título oneroso: hipótese em que o cedente garante a existência e
titularidade do crédito no momento da transferência;
o Título gratuito, em que o cedente só é responsável se houver procedido
de má-fé (CC, art. 295)11;
o Total, abrangendo a totalidade do crédito; e
o Parcial, em que o cedente retém parte do crédito, permanecendo na
relação obrigacional, salvo se ceder também a parte remanescente a
outrem. Caso o crédito seja cedido a mais de um cessionário, dividir-se-á
em dois, independentes um do outro.
Legal: opera-se por força de lei, como no caso do devedor de obrigação
solidária que satisfez a dívida por inteiro, sub-rogando-se no crédito (CC, art.
283), ou do fiador que pagou integralmente a dívida, ficando sub-rogado nos
direitos do credor (CC, art. 831).
Judicial: a transmissão do crédito é determinada pelo juiz, como sucede na
adjudicação, aos credores de um acervo, de sua dívida ativa e na prolação de
sentença destinada a suprir declaração de cessão por parte de quem era
obrigado a fazê-la. Ex.: art. 298 do Código Civil.
28
Quanto à responsabilidade do cedente em relação ao cedido, a cessão de
crédito pode ser:
Pro soluto: o cedente apenas garante a existência do crédito, sem responder,
todavia, pela solvência do devedor;
Pro solvendo: o cedente obriga-se a pagar se o devedor cedido for insolvente.
Assim, o cedente assume o risco da insolvência do devedor.
Desta forma, o cedente será responsável pela existência e legalidade do crédito, mas
não será responsável pela solvência do devedor (cessão pro soluto), salvo estipulação em
contrário (cessão pro solvendo). Caso decidam pela responsabilidade do cedente, na hipótese
A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor, desde que haja
encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional,
responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus acessórios.
Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se manifeste no prazo designado,
não importará aceitação. O silêncio é interpretado como recusa.
2
Vide questão 2
29
Há uma hipótese excepcional de consentimento tácito previsto no art. 303 do Código Civil,
em que se admite a aceitação tácita do credor: “O adquirente de imóvel hipotecado pode
tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar
dívida, estas se consideram extintas, exceto no caso de acordo distinto com o credor.
O novo devedor não poderá opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao
devedor primitivo.
30
Substituição do devedor na relação obrigacional: o principal efeito da assunção
de dívida é a substituição do devedor na relação obrigacional, que permanece a
mesma. Há modificação apenas no polo passivo, com liberação, em regra, do
devedor originário.
Extinção das garantias especiais: extinção das garantias especiais originariamente
dadas pelo devedor primitivo ao credor, salvo assentimento expresso daquele (CC,
art. 300). As garantias especiais, prestadas em atenção à pessoa do devedor, como
as dadas por terceiros sob a modalidade de fiança, aval e hipoteca, que não são da
essência da dívida, só subsistirão se houver concordância expressa do devedor
primitivo e dos referidos terceiros. No entanto, as garantias reais prestadas pelo
próprio devedor originário não são atingidas pela assunção e continuam válidas, a
não ser que o credor abra mão delas expressamente.
Anulação da substituição do devedor: se a substituição do devedor vier a ser
anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação”.
Não impugnação do credor hipotecário à transferência do débito: o adquirente
de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido;
se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito,
entender-se-á dado o assentimento”. Com efeito, se a assunção do débito pelo
terceiro adquirente do imóvel possibilita a permanência da garantia real, pouca ou
nenhuma diferença fará ao credor se o devedor será este ou aquele nos casos em
que o valor da hipoteca for superior ao débito. Se, no entanto, não for esta a
hipótese, ou seja, se o referido valor for inferior à dívida, haverá interesse do credor
em impugnar a transferência de crédito nos trinta dias de sua ciência para
manutenção do devedor primitivo na relação obrigacional
Enunciado 352 das Jornadas de Direito Civil: "352 – Art. 300: Salvo expressa concordância
dos terceiros, as garantias por eles prestadas se extinguem com a assunção da dívida; já as
31
garantias prestadas pelo devedor primitivo somente serão mantidas se este concordar com a
assunção."
que recebe).
Objeto e Prova do pagamento: Quitação
realizou.
O pagamento feito a credor putativo é válido, mesmo que comprovado que depois
que o sujeito que recebeu não era credor.
3
Vide questão 3
32
Teoria da imprevisão (artigo 317): se, por motivo imprevisível, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação e do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo,
adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico. Assim, não exige que o fato seja
O pagamento será feito no domicílio do devedor, salvo se outro local foi estabelecido
Neste caso, configuram-se dois institutos que são muito cobrados em prova:
33
DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OBJETIVA4
podendo mais ser exercitado. Nessa linha, à luz do princípio da boa-fé objetiva, o
comportamento de um dos sujeitos geraria no outro a convicção de que o direito
4
Vide questão 10
34
8.7.2 Formas Especiais de Pagamento
dívida for em dinheiro o depósito pode ser extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art.
890, §1º, CPC).
realizado pelo devedor, o pedido será julgado improcedente, pois o pagamento parcial da
dívida não extingue o vínculo obrigacional, segundo tese fixada em sede de julgamento de
repercussão geral pelo STJ (Tema 967 – Resp 1.108.058-DF). Ocorre nas seguintes hipóteses:
Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;
Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a
consignação)
em que ele pretender realizar tal ato, em busca de retornar ao status quo ante. Assim:
5
Vide questão 7
35
garantia que lhe competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e
co-devedores que não tenham anuído (art. 340).
Julgado procedente o depósito: o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o
credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art. 339).
principal e fiadores.
Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos, a
um só credor, tem o direito de escolher qual deles está pagando.
36
A indicação é realizada pelo devedor, pelo credor ou pela lei, sucessivamente nessa
ordem (favor in debitoris), sendo a ordem de imputação legal a seguinte:
Assim, e a entrega de uma coisa por outra, e não a substituição de uma obrigação por
outra. Em certas situações especiais, a dação é vedada pelo ordenamento, por se travestir em
cláusula comissória (art. 1428 do CC).
Trata-se, ainda, de datio pro solvendo, desta forma, não há que se confundir a dação
em pagamento com a dação pro solvendo, cujo fim precípuo não é solver imediatamente a
obrigação, mas sim facilitar o seu cumprimento.
8.7.3.2 Novação
37
Trata-se de modo extintivo não satisfatório, tendo natureza jurídica negocial, não a
podendo ser imposta por lei.
Caso ocorra a novação subjetiva por expromissão, mesmo sendo o novo devedor
insolvente, não tem o credor ação regressiva contra o primeiro devedor. Ocorrerá a novação
por expromissão (art. 362, do Código Civil) quando um terceiro assume a dívida do devedor
38
São efeitos da novação:
Súmula 214 do STJ: “o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
39
A novação é nova obrigação! Assim, extingue os acessórios e garantias da dívida
primitiva, salvo estipulação em sentido contrário. O mesmo ocorrerá com a fiança, na hipótese
8.7.3.3 Compensação
Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras;
somente se compensam coisas fungíveis entre si. O art. 373, CC afirma que as dívidas podem
ter causas diferentes, o que não impede a compensação, exceto se:
Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação,
ou seja, havendo prazo de moratória, não impedirá compensação. Outra impossibilidade de
compensação é quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia
O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Modalidades de compensação:
Quanto à extensão:
Quanto à origem:
40
Legal: decorre da norma jurídica e ocorre ainda que uma das partes não
queira a extinção das dívidas. Ainda, não comporta compensação a obrigação
o Coisas fungíveis;
o Mesma qualidade).
tunc.
8.7.3.4 Confusão
com art. 383, a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a
obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto
ao demais a solidariedade. Assim, a lei afirma que ocorre confusão parcial na solidariedade
ativa ou passiva. Ainda, cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus
acessórios, a obrigação anterior.
41
Ausência de separação de patrimônios. (Se o crédito e o débito, ainda que
atinentes a mesma pessoa, estão posicionados em patrimônios distintos, não há
confusão)
8.7.3.5 Remissão
A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo perdão do credor, que deve
ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa
ou tácita.
contrário;
Não pode ser acompanhado de prestação do devedor;
inadimplemento, cumulado com juros e honorários advocatícios. Quando os juros não forem
estipulados pelas partes, serão estipulados segundo as taxas estabelecidas para os
pagamentos em mora de impostos devidos à Fazenda Pública (1% ao mês, nos termos do
42
O devedor será considerado em mora quando não efetuar o pagamento. Por outro
lado, se o credor se recusar a recebê-lo no tempo e forma estabelecidos no contrato,
cumprimento da obrigação.
Os juros de mora são contados desde a citação inicial, devendo observar, quanto às
obrigações extracontratuais, a súmula 54 do STJ, que dispõe que “Os juros moratórios fluem
a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. ”
prejuízos causados. Por outro lado, será purgada pelo credor quando se oferecer a receber o
pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a data.
As perdas e danos7 serão apuradas pelo valor que compreendem além o que já era de
direito da parte, os que efetivamente deixou de ganhar.
6
Vide questão 10
7
Vide questão 5
43
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE: “Segundo esta teoria, se alguém, praticando um
ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter uma vantagem ou de
evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos causados. Em outras palavras,
o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a oportunidade de obter
sérias e reais de êxito na situação futura esperada. Logo, a mera expectativa não possibilita o
seu reconhecimento.
não ocorreu, por mais que as chances fossem reais e sérias, não há como se garantir a certeza
da obtenção.
Tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance, a criança
que, em razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para coletar o
material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco embrionárias. 9
necessária a ponderação acerca da probabilidade – que se supõe legal – que a parte teria de
se sagrar vitoriosa. 10
8
http://www.dizerodireito.com.br/2013/07/teoria-da-perda-de-uma-chance.html
9
Resp. 1.291.247-RJ. 2014
10
Resp. 1.190.180 - RS
44
8.8.1 Cláusula penal
Neste caso, a cláusula não poderá ser exigida com a cumulação de indenização
suplementar decorrente da mora, pois esta já é a sua natureza, sendo enriquecimento ilícito a
“dupla cobrança”.
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?12
11
Vide questão 6
45
Se for cláusula penal MORATÓRIA: SIM.
Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou
pena convencional.
contrato.
Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a
cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente,
Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?
12
https://www.dizerodireito.com.br/2017/12/informativo-comentado-613-stj.html (STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.617-
SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/3/2014.)
46
Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interfere na
responsabilidade civil correlata que já deflui naturalmente do próprio sistema. Logo, não há
óbice a que se exija a cláusula penal moratória juntamente ao valor referente aos danos
emergentes e lucros cessantes (perdas e danos).
O cumprimento da obrigação;
penal moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela
não fruição do imóvel durante o período da mora13.
Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?
NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com
indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Enquanto a
cláusula penal moratória manifesta, com mais evidência, a característica de reforço do vínculo
obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como
13
Foi o que decidiu a 3ª Turma do STJ no REsp 1.355.554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012 (Info
513).
47
pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos decorrentes de
inadimplemento contratual.
pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma
justificativa – a recomposição de prejuízos.
MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória) (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor a
incorrer em mora ou para evitar que deixe
Estipulada para servir como indenização no
de cumprir determinada cláusula especial da
caso de total inadimplemento da obrigação
obrigação principal. É a cominação
principal (adimplemento absoluto).
contratual de uma multa para o caso de
mora. (multa contratual)
Funciona como punição pelo retardamento
Funciona como uma prefixação das perdas e
no cumprimento da obrigação ou pelo
danos.
inadimplemento de determinada cláusula.
Ex1: em uma promessa de compra e venda
Ex: em um contrato para que um cantor faça
de um apartamento, é estipulada multa para
um show no réveillon, é estipulada uma
o caso de atraso na entrega. Ex2: multa para
multa de 100 mil reais caso ele não se
o caso de o produtor de soja fornecer uma
apresente.
safra de qualidade inferior ao tipo “X”.
48
Art. 411. Quando se estipular a cláusula
penal para o caso de mora, ou em
Art. 410. Quando se estipular a cláusula
segurança especial de outra cláusula
penal para o caso de total inadimplemento
determinada, terá o credor o arbítrio de
da obrigação, esta converter-se-á em
exigir a satisfação da pena cominada,
alternativa a benefício do credor.
juntamente com o desempenho da
obrigação principal.
8.8.2 Arras
É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes
oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o
cumprimento do contrato.
descumprido o contrato por parte de quem ofereceu as arras, a parte prejudicada poderá
retê-la em seu benefício.
49
Na eventualidade de o contrato ser descumprido por quem recebeu as arras, a parte
inadimplente deverá restituí-la, em dobro, a quem as pagou.
O STJ entende que se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total
ajustado evidenciar que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode
declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras confirmatórias fosse, sendo
legítima a redução equitativa do valor a ser retido. 14
Aliás, este Superior Tribunal, à luz dos princípios da função social e da boa-fé objetiva,
tem aplicado a teoria (REsp 1051270-RS). Acontece quando o descumprimento é ínfimo ou de
menor monta, não cabendo a extinção contratual. Em outras palavras, a mora do devedor,
sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar contra o
14
Resp. 1.1513.259 - MS
15
Vide questão 1
16
Vide enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil e o Noticiário STJ 09.09.2012
17
Info 500, STJ
18
STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 18/08/2016
50
Deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao
direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.
fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69.19 STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG,
Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017.
19
Info 599 do STJ
51
9. Da Representação e Atos Unilaterais
9.1 Da representação
9.1.1 Conceito
Trata-se de uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante
terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um representante. Este instituto está
diretamente ligado com o direito das obrigações, já que uma pessoa passa poderes para um
terceiro perante uma relação obrigacional, e, também, com a teoria dos negócios jurídicos, já
que a pessoa em nome de quem ele atua e que fica vinculada ao negócio é o representado
9.1.2 Espécies
De acordo com o art. 115 do CC, existem duas formas de representação, a legal, de
modo que os seus requisitos e os efeitos da são os estabelecidos nas normas respectivas, e a
convencional/voluntária, regido pelas regras previstas na Parte Especial Código Civil.
52
9.1.3 Dos representantes
Legal: é o que decorre da lei, ou seja, aquele a quem a lei confere poderes para
administrar bens e interesses alheios. Ex.: como pais, em relação aos filhos menores,
tutores, no que concerne aos tutelados, e curadores, quanto aos curatelados;
Judicial: é o nomeado pelo juiz para exercer poderes de representação no
processo. Ex.: inventariante, o administrador da empresa penhorada e o da massa
falida;
Convencional: é o que recebe mandato outorgado pelo credor, expresso ou
tácito, verbal ou escrito, com poderes expressos, gerais ou especiais. Ex.: alienar,
receber, dar quitação etc. (art. 661).
produz efeitos em relação ao representado, nos limites de seus poderes. Ou seja, significa
dizer que o representante atua em nome do representado, devendo agir, portanto, na
dispõe o art. 118. Ademais, enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será
considerado mero gestor de negócios.
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o
fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
Assim, conforme dispõe o art. 119, é anulável o negócio concluído pelo representante
em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento
de quem com aquele tratou, de modo que tal anulação deve ser arguida no prazo
decadencial de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da
incapacidade.
53
Não se admite, assim, que, estando de boa-fé, seja ele prejudicado por ato danoso do
representante. Resta ao representado, portanto, valer-se do disposto no art. 118 para se
De acordo com o art. 117 do Código Civil, é anulável o negócio jurídico que o
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo, exceto se
previsto de forma diferente por lei ou o representado por meio de convenção. Para esse
efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem
os poderes houverem sido subestabelecidos.
54
Assim, como dispõe o art. 117 do CC, trata-se de negócio anulável, inclusive, se ocorrer
de maneira indireta, ou seja, conforme explica Carlos Roberto Gonçalves20:
Quando o próprio representante atua sozinho declarando duas vontades, mas por meio
de terceira pessoa, subestabelecendo-a (ato pelo qual o representante transfere a
outrem os poderes concedidos pelo representado a terceira pessoa) para futuramente
celebrar negócio com o antigo representante. Ocorrendo esse fenômeno, tem-se como
celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em que os poderes
houverem sido subestabelecidos.
9.2.1 Conceito
direcionada.
20
Carlos Roberto Gonçalves, p. 517
55
A pessoa que cumprir a tarefa prevista na declaração, executando o serviço ou
satisfazendo a condição, ainda que não esteja movida pelo interesse da promessa, poderá
cachorro. Para recuperar o animal, o dono coloca uma faixa em uma avenida de grande
circulação, oferecendo uma recompensa. Alguém que conhece o cão e o seu dono, mas que
mesma publicidade da declaração. Se for fixado um prazo para a execução da tarefa haverá,
em regra, renúncia ao direito de revogação na vigência desse prazo. No caso de revogação da
promessa, se algum candidato de boa-fé tiver feito despesas, terá direito a reembolso
quanto a tais valores.
praticado por mais de um indivíduo, terá direito à recompensa o que primeiro o executou.
Entretanto, sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual na recompensa,
caso seja possível a divisão. Se a estipulação tiver como conteúdo um bem indivisível, deverá
ser realizado um sorteio. Aquele que obtiver a coisa (vencedor) dará ao outro o valor
correspondente ao seu quinhão. Esse sorteio deverá ser realizado dentro das regras legais, da
razoabilidade e do bom senso (mais uma aplicação da eticidade, da boa-fé objetiva).
Na gestão de negócios há uma atuação sem poderes, uma hipótese em que a parte
atua sem ter recebido expressamente a incumbência. Dessa forma, o gestor, que age sem
mandato, fica diretamente responsável perante o dono do negócio e terceiros com quem
contratou. A gestão, pela ausência de orientação dada pelo dono, não tem natureza
contratual, pois está ausente o prévio acordo de vontades. Dessa forma, poderá a gestão ser
provada de qualquer modo, eis que se trata de negócio jurídico informal.
remuneração pela atuação (negócio jurídico benévolo), deve agir conforme a vontade
presumível do dono do negócio, sob pena de responsabilização civil.
Deve-se lembrar que se a gestão for iniciada contra a vontade manifesta ou presumível
do dono, responderá o gestor por caso fortuito (evento totalmente imprevisível) e força maior
(evento previsível, mas inevitável), conforme a regra constante do art. 862 do CC. Se os
prejuízos da gestão excederem o seu proveito, poderá o dono do negócio exigir que o gestor
restitua as coisas ao estado anterior, ou que indenize o valor correspondente à diferença (art.
863 do CC).
deverá o gestor de negócio, assim que lhe for possível, comunicar ao dono a sua atuação,
aguardando a resposta se dessa espera não resultar perigo. Falecendo o dono do negócio, as
57
instruções devem ser prestadas aos seus herdeiros, devendo o gestor, mesmo assim, agir com
a máxima diligência, de acordo com as circunstâncias fáticas do caso concreto.
De acordo com o art. 876 do CC: “Art. 876. Todo aquele que recebeu o que não lhe
era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida
condicional antes de cumprida a condição”.
Desse modo, quem paga indevidamente pode pedir restituição àquele que recebeu,
desde que prove que pagou por erro. O último é obrigado a restituir, sendo cabível a ação
de repetição do indébito.
De acordo com o art. 879 do CC, se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o
tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida.
Agindo de má-fé, a culpa passa a ser induzida, respondendo a pessoa pelo valor da coisa e
por perdas e danos.
21
Vide questão 8
58
Em complemento, se o imóvel for alienado a título gratuito, em qualquer caso, ou a
título oneroso, agindo de má-fé o terceiro adquirente, caberá ao que pagou por erro o
recebeu a prestação fica obrigado a indenizar o sujeito que a cumpriu, na medida do lucro
obtido.
realidade, por meio da actio in rem verso poderá o prejudicado, em regra, pleitear o valor
pago atualizado, acrescido de juros, custas, honorários advocatícios e despesas
processuais. Havendo má-fé da outra parte, essa induz a culpa, cabendo ainda reparação por
perdas e danos.
patrimonial e à pacificação social. Nesse sentido, determina o art. 884 do CC que “Art. 884.
Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o
Várias são as ações que têm como objetivo evitar o locupletamento sem razão, sendo a
principal a de repetição de indébito no caso de pagamento indevido, que é espécie de
enriquecimento sem causa. Consigne-se que toda situação em que alguém recebe algo
indevido visa ao enriquecimento sem causa. Mas, em algumas hipóteses, poderá haver
conduta visando ao enriquecimento sem causa, sem que tenha havido pagamento indevido
A inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes ou pela lei; e
contrato desproporcional pode não ser um ilícito e gerar enriquecimento sem causa.
Determina o art. 885 do CC que a restituição é cabível não só quando não existir
causa para o pagamento, mas também quando esta deixar de existir (ex: a lei revoga a
possibilidade de cobrança de uma taxa. A partir do momento desta revogação, o valor não
pode mais ser cobrado, pois, caso contrário, haverá conduta visando ao enriquecimento sem
dispositivo realça o caráter subsidiário da ação de enriquecimento sem causa (ex: Sendo
possível a ação de reparação de danos, uma vez que alguém recebeu um imóvel
indevidamente e que veio a se perder, será esse o caminho a ser seguido).
60
QUADRO SINÓTICO
61
OBRIGAÇÃO DE Pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa, sem
FAZER FUNGÍVEL prejuízo para o credor
OBRIGAÇÃO DE
FAZER A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a
INFUNGÍVEL sua natureza (aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou
(PERSONALÍSSIMA disposição contratual
OU INTUITU
PERSONAE)
OBRIGAÇÃO DE O devedor se compromete a não praticar certo ato que até
NÃO FAZER poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado
OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS
OBRIGAÇÕES
SIMPLES (OU Um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto
SINGULARES)
OBRIGAÇÕES
COMPOSTAS Pluralidade de objetos, pluralidade de sujeitos
(COMPLEXAS OU
PLURAIS)
OBRIGAÇÕES
CUMULATIVAS Multiplicidade de prestações
(OU
CONJUNTIVAS)
OBRIGAÇÕES
ALTERNATIVAS Apenas uma delas será cumprida como pagamento.
(OU
CLASSIFICAÇÃO
DISJUNTIVAS)
OBRIGAÇÕES A obrigação inicialmente é simples, mas há a possibilidade para
FACULTATIVAS o devedor em substituir o objeto.
Pluralidade de credores e devedores, há direitos e/ou
obrigações pelo total da dívida.
SOLIDARIEDADE Ocorre quando há pluralidade de
ATIVA credores.
OBRIGAÇÕES SOLIDARIEDADE Ocorre quando há pluralidade de
SOLIDÁRIAS PASSIVA devedores
SOLIDARIEDADE Uma pluralidade de devedores e de
MISTA (OU credores
RECÍPROCA)
OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
OBRIGAÇÕES QUANTO AO CONTEÚDO
62
OBRIGAÇÕES DE Quando só se considera cumprida com a obtenção de um
RESULTADO (OU resultado
DE FIM)
OBRIGAÇÕES DE Quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para
MEIO (OU DE conseguir o resultado, mesmo que este não seja alcançado.
DILIGÊNCIA)
OBRIGAÇÕES DE Seu objetivo é uma estipulação em um contrato de uma
GARANTIA garantia pessoal
OBRIGAÇÕES QUANTO À DIVISIBILIDADE
OBRIGAÇÕES Comportam fracionamento
DIVISÍVEIS
OBRIGAÇÕES São aquelas em que a prestação é única
INDIVISÍVEIS
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS
OBRIGAÇÕES Não estão sujeitas a nenhum elemento acidental,
PURAS E SIMPLES
OBRIGAÇÕES
CONDICIONAIS Efeito a evento futuro e incerto para atingir seus efeitos
63
OBRIGAÇÕES Por um único ato, em momento posterior ao surgimento da
DIFERIDAS obrigação
OBRIGAÇÕES DE
TRATO
SUCESSIVO (OU São as que se resolvem em intervalos de tempo
PERIÓDICAS OU
EXECUÇÃO
CONTINUADA)
OBRIGAÇÕES São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito
PROPTER REM pessoal
ESPÉCIES
OBRIGAÇÕES Também chamadas de imperfeitas ou incompletas, são aquelas
(DOUTRINA)
NATURAIS em que o credor não possui instrumento judicial para exigir a
prestação do devedor.
O credor poderá ceder seu crédito a outro, se isso não opuser à
CESSÃO DE natureza da obrigação, à lei ou à convenção com o devedor,
CRÉDITO podendo configurar tanto alienação onerosa quanto alienação
gratuita.
TRANSMISSÃO
A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor,
desde que haja consentimento expresso do credor. Neste caso,
ASSUNÇÃO DE o devedor primitivo será extinto da obrigação, salvo se era
DÍVIDA insolvente à época da assunção e o credor ignorava.
Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se
manifeste no prazo designado, não importará aceitação. O
silêncio é interpretado como recusa.
PAGAMENTO DIRETO
Pessoas envolvidas: Solvens (é a pessoa que deve pagar) e accipiens (é a
pessoa que recebe).
Objeto e Prova do pagamento: Quitação
ADIMPLEMENTO
Lugar do pagamento: Regra é no domicílio do devedor. Exceção é no
domicílio do credor.
Tempo: Vencimento fixado pelas partes.
FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO
Devedor deposita a coisa devida, liberando-se de obrigação
PAGAMENTO EM líquida e certa. Se a dívida for em dinheiro o depósito pode ser
CONSIGNAÇÃO extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art. 890, §1º,
CPC).
PAGAMENTO Substituição na obrigação de uma pessoa por outra, com os
COM SUB- mesmos ônus e atributos (avalista que paga a dívida).
ROGAÇÃO
IMPUTAÇÃO DO Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza,
64
PAGAMENTO líquidos e vencidos, a um só credor, tem o direito de escolher
qual deles está pagando.
PAGAMENTO INDIRETO
Acordo de vontades entre credor e devedor, com o objetivo de
DAÇÃO EM extinguir a obrigação, no qual o credor consente em receber
PAGAMENTO coisa (móvel ou imóvel) diversa da originalmente devida.
65
As partes acordam que, no caso de inadimplemento total da
CLÁUSULA PENAL obrigação, a parte devedora será responsabilizada pelo
COMPENSATÓRIA pagamento da cláusula penal compensatória, que tem o intuito
exatamente de compensar o inadimplemento ou substituir
ARRAS
É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes
oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o
cumprimento do contrato. Não haverá direito a indenização suplementar
ARRAS Possuem uma tríplice função: confirmar o contrato que passa a
CONFIRMATÓRIAS ser obrigatório, antecipar o pagamento e fixar, previamente,
eventuais perdas e danos.
ARRAS Ocorrem sempre que as partes, no contrato preliminar
PENITENCIAIS concederam-se o direito de se arrepender.
DA REPRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA
A representação se trata de uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga
CONCEITO diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um
representante.
REPRESENTAÇÃO Trata-se de um munus, visto que o representante exerce uma
LEGAL atividade obrigatória, prevista em lei, tendo caráter personalíssimo
e indelegável o seu exercício.
ESPÉCIES
REPRESENTAÇÃO Objetiva auxiliar uma pessoa na defesa ou administração de
VOLUNTÁRIA interesses alheios, mediante um acordo de vontades, por meio de
outorga de procuração (mandato).
Manifestação de vontade pelo representante produz efeitos em relação ao
representado, nos limites de seus poderes
Se por acaso o representante ultrapassar tais poderes, haverá excesso de
poder, enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será
considerado mero gestor de negócios.
REGRAS
anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com
o representado,
Prazo decadencial de cento e oitenta dias,
O conflito de interesses ocorre no seguintes casos:
Abuso de direito: falta de poderes (falso procurador),
66
Excesso de poder: ultrapassa os limites da atividade representativa
É anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo, exceto se previsto de forma diferente por lei ou o
representado por meio de convenção.
Dupla representação: hipótese de ambas as partes se manifestarem por meio do
AUTOCONTRATO mesmo representante, que não se envolve no negócio jurídico;
Dupla qualidade: hipótese em que o representante seja a outra parte no negócio
jurídico celebrado, participando de sua formação como representante, ao atuar
em nome do dono do negócio, e como contratante, por si mesmo;
ATOS UNILATERAIS
Os atos unilaterais são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito
obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de recompensa, da
CONCEITO gestão de negócios, do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa.
DA PROMESSA DE Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a
RECOMPENSA recompensar, ou gratificar a quem preencha certa condição ou
desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o
prometido”.
Na gestão de negócios há uma atuação sem poderes, uma
hipótese em que a parte atua sem ter recebido expressamente a
DA GESTÃO DE incumbência. A gestão, pela ausência de orientação dada pelo
NEGÓCIOS dono, não tem natureza contratual, pois está ausente o prévio
acordo de vontades. Dessa forma, poderá a gestão ser provada de
qualquer modo, eis que se trata de negócio jurídico informal.
De acordo com o art. 876 do CC: “Art. 876. Todo aquele que
DO PAGAMENTO recebeu o que não lhe era devido fica obrigado a restituir;
ESPÉCIES INDEVIDO obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes
de cumprida a condição”.
PAGAMENTO Quando a dívida paga não existe ou não é
OBJETIVAMENTE justo o seu pagamento.
INDEVIDO
PAGAMENTO Quando realizado à pessoa errada. Exemplo:
SUBJETIVAMENTE pagou-se quem não era o legítimo credor.
INDEVIDO
DO Esse instituto está baseado no princípio da eticidade, visando ao
ENRIQUECIMENTO equilíbrio patrimonial e à pacificação social.
SEM CAUSA
67
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: De acordo com o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva,
adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que,
tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-lhe tão
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a
interesses do credor e do devedor, pois, a longo prazo, seus efeitos colaterais podem auxiliar
na manutenção dos custos da contratação.
D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para
creditório.
Comentário:
primeiramente, impõe-se dizer que, embora não haja previsão material positiva no CC/02,
o STJ vem aplicando a teoria do adimplemento substancial, a partir de uma interpretação
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sistemática que considera os princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato,
da vedação ao abuso de direito e ao enriquecimento sem causa. Por esta teoria, o credor
deste ano, nos autos do REsp. nº 1622555 / MG, da segunda seção, sob a relatoria do
Min. Marco Buzzi, o STJ, por maioria, entendeu que, pelo fato de a teoria do
texto expresso do Decreto-Lei 911/1969, que viabiliza a busca e apreensão do bem para
satisfazer o direito do credor. Ficou decidido que mesmo havendo o pagamento de mais
Questão 2
FCC – 2019 – TJ/AL: Por conta de mútuo oneroso, João devia a Teresa a importância de cem
mil reais. No intuito de ajudar o amigo em dificuldade, Leopoldo assumiu para si a obrigação
de João, para o que houve expressa anuência de Teresa. Nesse caso,
A) João ficará exonerado da dívida, salvo se Leopoldo, ao tempo da assunção, fosse insolvente
69
E) João responderá apenas pela metade da dívida, ainda que Leopoldo não cumpra a
Comentário:
De acordo com o art. 299 do CC, é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,
Questão 3
FCC – 2019 – MPE/MT: No tocante ao pagamento,
B) o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, salvo se mais
C) quando feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era
credor.
E) o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de
Comentário:
De acordo com o art. 305, o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio
nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do
credor. Ainda, se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no
vencimento.
70
Questão 4
FCC – 2019 – MPE/MT: Em relação às obrigações de dar coisa certa, é correto afirmar que,
A) como regra geral, a obrigação de dar coisa certa não abrange os acessórios, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
B) se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da
tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até
o dia da perda.
D) até a tradição, pertence a coisa ao credor, com seus acréscimos, pelos quais poderá exigir
aumento do preço, com ou sem anuência do devedor.
E) deteriorada a coisa, sem culpa do devedor, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar
a coisa, nesse caso sem abatimento do preço pela referida ausência de culpa do devedor.
Comentário:
Sobre o tema, é importante você retornar ao item 8.4 no qual colacionamos um quadro
sinótico acerca da responsabilidade no direito das obrigações. Assim, de acordo com o
art. 238, se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se
perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá,
ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Trata-se de tema bastante recorrente em
provas.
Questão 5
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de
sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item
subsecutivo.
71
As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, devem compreender as custas
e os honorários advocatícios e, além da atualização monetária, os juros de mora a partir do
descumprimento contratual.
Comentário:
correção monetária flue a partir do evento danoso (art. 389 do CC). Portanto, como se
tratava de obrigação contratual, a atualização monetária deveria incidir desde o evento
danoso, enquanto que os juros de mora deveriam ser contados a partir do ato citatório.
Questão 6
CESPE – 2019 – TJ/SC: A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o
A) multa penitencial.
B) cláusula penal.
C) perdas e danos.
D) arras penitenciais.
Comentário:
Multa penitencial: “não se confunde com a cláusula penal, que pressupõe a inexecução
72
contratante arrependido mais não tem a fazer do que pagar a multa, desvinculando-se
por seu próprio arbítrio” (Orlando Gomes, Contratos, 2007, p. 225).
Cláusula penal: "um pacto acessório de prefixação de perdas e danos para o caso de
dever especial de prestar". (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, Curso de Direito Civil v.
2, 2017, p. 595)
qualquer das partes, para o caso de o contrato não ser concluído ou ser posteriormente
desfeito. Concedem uma espécie de autoexecutoriedade para que a parte não
881)
Multa pura e simples: "é constituída de determinada importância, que deve ser paga em
caso de infração de certos deveres, como a imposta pelo empregador ao empregado, ao
infrator das normas de trânsito, etc. A multa simples não tem a finalidade de promover o
ressarcimento de danos, nem tem relação com inadimplemento contratual, ao contrário
Jurídicas v. 5)
73
Questão 7
CESPE – 2019 – TJ/PR: De acordo com o Código Civil, nas consignações em pagamento, o
ato de depósito efetuado pelo devedor faz cessar
credor.
C) os juros da dívida e impede o levantamento do valor depositado pelo devedor até que seja
aceito ou impugnado pelo credor.
D) os riscos e os juros da dívida; uma vez declarada a aceitação pelo credor, o depósito não
Comentário:
cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se
for julgado improcedente. E, de acordo com o art. 338, enquanto o credor não declarar
de direito.
Questão 8
FCC – 2018 – DPE/AM: Em relação ao pagamento indevido,
B) àquele que voluntariamente recebeu o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro ou
dolo.
74
C) não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral ou
proibido por lei; nesse caso, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de
D) pode-se repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, mas não o valor pago para
cumprir obrigação judicialmente inexigível.
E) todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que
incumbe também àquele que recebe dívida condicional, antes ou após cumprida a condição.
Comentário:
De acordo com o art. 879 CC, se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver
alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se
agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos. O art. 877 CC
dispõe que àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito
por erro. Ainda, o art. 883 CC dispõe que não terá direito à repetição aquele que deu
alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei, e o que se deu reverterá
em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz. O art. 882 CC
dispõe que não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir
obrigação judicialmente inexigível. Por fim, o art. 876 CC aduz que “Todo aquele que
recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe
Questão 9
FEPESE – 2018 – PGE/SC: Dispõe o art. 397 do Código Civil: “O inadimplemento da obrigação,
positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo
único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial”.
A) o caput trata da mora ex persona, enquanto o parágrafo único trata da mora ex re.
B) pela disposição do parágrafo único, o próprio não pagamento no dia determinado (termo)
é fato constitutivo da mora.
75
C) o caput trata da mora ex persona, enquanto o parágrafo único trata da mora ex re, sendo
que a mora descrita no caput, também denominada de mora ex tempore, decorre do princípio
dies interpellat pro homine, que significa o dia interpela pelo homem.
D) o caput trata da mora ex re, enquanto o parágrafo único trata da mora ex persona, sendo
que a mora descrita no caput, também denominada de mora ex tempore, decorre do princípio
dies interpellat pro homine, que significa o dia interpela pelo homem.
E) o princípio dies interpellat pro homine significa que se faz necessária a interpelação judicial
Comentário:
Mora ex re, tem aplicação nas obrigações com prazos (termo) preestabelecidos pelas
partes, diz-se, mora ex re, aquela que se opera automaticamente pelo inadimplemento
da obrigação, líquida, certa e exigível, prescindindo de qualquer
manifestação/interpelação da outra parte, se concretizando pelo simples escoamento do
seu termo, (dies interpellat pro homine), aplicação do caput do art. 397 do CCB/02. Já a
mora ex persona, tem aplicação para os casos em que as obrigações estabelecidas entre
as partes não contem prazo, termo fixado para seu cumprimento, havendo a necessidade
da iniciativa da parte para constituir a outra em mora, interpelação(notificação judicial ou
extrajudicial), é o que dispõe o Parágrafo único do art. 397 do código civil de 2002.
Questão 10
FCC – 2018 – DPE/MA: Lucas e Bruno realizaram um contrato de trato sucessivo em que se
instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a renúncia ao
previsto no contrato nessas circunstâncias.
76
B) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma
constante do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao
previsto no contrato.
do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao previsto no
contrato.
D) válidos, mas o credor poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma
constante do instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a
renúncia ao previsto no contrato nessas circunstâncias.
E) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma
constante do instrumento da avença, uma vez que, apesar de não existir fundamento para a
Comentário:
gerar na outra parte da relação jurídica a confiança de que o mesmo não mais será
exigido;
77
78
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - A
Questão 3 - E
Questão 4 - B
Questão 5 - CORRETO
Questão 6 - B
Questão 7 - D
Questão 8 - C
Questão 9 - D
Questão 10 - B
79
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Súmula Vinculante: 7.
Súmulas: 30, 54, 72, 380, 382, 472, 539, 541, STJ; 121, STF
Representação
Atos Unilaterais
Súmula Vinculante 7
A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a
taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.
80
A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente .
A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.
A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade
A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios
e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.
É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.
A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança dataxa efetiva anual contratada.
81
JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/8/2015
(Info 566).
A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexigível, ainda que seu funcionamento tenha sido autorizado
pelo Poder Judiciário.
A lei exige mais do que uma aparência de licitude, exige autorização legal, o que não se verifica na hipótese em
tela. Ademais, as decisões liminares, como se sabe, têm caráter precário, correndo por conta e risco do
requerente os danos decorrentes da reversibilidade da medida, não havendo falar, portanto, em direito adquirido.
Cálculo das arras confirmatórias e desproporção entre a quantia paga inicialmente e o preço ajustado: se a
proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total ajustado evidenciar que o pagamento inicial englo-
bava mais do que o sinal, não se pode declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras
confirmatórias fosse, sendo legítima a redução equitativa do valor a ser retido. STJ.
Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula penal
compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem. Ex: João celebrou contrato de promessa de
compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a
pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a
pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal compensatória prevendo que, em caso
de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por
ele. Trata-se de cláusula penal compensatória. Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de
pagar as prestações. Neste caso, João perderá apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a
cláusula penal compensatória. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal
compensatória. Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas reter o valor das
arras, sem direito à cláusula penal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
26/09/2017.
82
Informativo 619, STJ:
Pedido para analisar se existe mesmo o débito não pode ser considerado ato que interrompe a prescrição (art.
202, VI, do CC) O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de
débito não tem o condão de interromper a prescrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.895-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 06/02/2018
O pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de verificar a existência de débito não tem
o condão de interromper a prescrição. STJ. 3ª Turma.REsp 1677895-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/02/2018
A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens do réu, no cerne de outro
processo, com objeto e partes distintas, não possui o condão de interromper a incidência dos juros moratórios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.740.260-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/06/2018.
A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. STJ. 2ª Seção. REsp
1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso repetitivo).
Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de
reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.567.479-PR, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 11/06/2019.
É válida a cláusula penal que prevê a perda integral dos valores pagos em contrato de compromisso de compra e
venda firmado entre particulares. Para a caracterização do vício de lesão, exige-se a presença simultânea de: a)
elemento objetivo (desproporção das prestações); e b) elemento subjetivo (a inexperiência ou a premente
83
necessidade). Os dois elementos devem ser aferidos no caso concreto. Tratando-se de negócio jurídico bilateral
celebrado de forma voluntária entre particulares, é imprescindível a comprovação dos elementos subjetivos,
sendo inadmissível a presunção nesse sentido. O mero interesse econômico em resguardar o patrimônio
investido em determinado negócio jurídico não configura premente necessidade para o fim do art. 157 do
Código Civil.
Se o FIDC for cessionário de título de crédito de um banco, ele pode cobrar a mesma taxa de juros porque esse
fundo se amolda à definição legal de instituição financeira. Os Fundos de Investimento em Direito Creditório -
FIDCs amoldam-se à definição legal de instituição financeira e não se sujeitam à incidência da limitação de juros
da Lei da Usura.
84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
85
Capítulo 4
SUMÁRIO
10. Teoria do Contrato ...............................................................................................................................................4
10.8.6 Evicção.................................................................................................................................................... 30
11.1.1 Elementos.............................................................................................................................................. 34
11.2 Doação............................................................................................................................................................ 40
11.2.1 Conceito................................................................................................................................................. 40
11.2.2 Elementos.............................................................................................................................................. 41
11.2.4 Espécies.................................................................................................................................................. 42
11.2.5 Revogação da doação (art. 551, CC)......................................................................................... 45
11.3.1 Conceito................................................................................................................................................. 47
11.4 Empréstimo................................................................................................................................................... 49
11.4.1 Conceito................................................................................................................................................. 49
11.5.1 Conceito................................................................................................................................................. 53
11.5.3 Elementos.............................................................................................................................................. 55
11.6.1 Conceito................................................................................................................................................. 57
11.7 Depósito......................................................................................................................................................... 59
11.7.1 Conceito................................................................................................................................................. 59
11.8 Mandato......................................................................................................................................................... 62
11.8.1 Conceito................................................................................................................................................. 62
11.9.1 Conceito................................................................................................................................................. 64
11.10.1 Conceito................................................................................................................................................. 70
GABARITO ........................................................................................................................................................................101
LEGISLAÇÃO COMPILADA.........................................................................................................................................102
JURISPRUDÊNCIA.............................................................................................................................................................105
Capítulo 4
10.1 Conceito
Os contratos têm previsão inicial no artigo 42, do Código Civil, e já traz, em sua
primeira disposição, a ideia de constitucionalização do Direito Civil. Isto porque, quando a lei
determina que nos contratos sejam observadas as funções sociais, como limite da autonomia
da vontade, conclui-se que a celebração destes velará pela aplicação dos direitos
Havia, antigamente, uma concepção individualista sobre os contratos, que eram regidos
Assim, contrato é o acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo,
Existência de duas ou mais pessoas: Essas pessoas podem ser físicas e/ou jurídicas.
4
Capacidade plena das partes para contratar: Se as partes não forem capazes o
contrato poderá ser nulo (ex: absolutamente incapaz que não foi representado) ou
e de quem vende deve entregar a coisa. Portanto é a ação humana. O objeto deve
ser:
Lícito: não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios da ordem pública e
aos bons costumes;
determinada forma especial é desta forma que ele deve ser feito (não pode ser feito
Os contratantes têm liberdade para estipular o que lhes convier. Em tese, pode-se
contratar sobre o que quiser, mesmo que não previsto em lei (contrato inominado).
5
Trata-se de um dos princípios clássicos, juntamente com o princípio da força
obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos do contrato, demonstrando que os efeitos
bem lhe entendiam, conforme regia o Estado liberal. Contudo, com a mudança do século,
ficou demonstrado que a mera e ampla liberdade não era suficiente para haver o equilíbrio
com quem o negócio jurídico será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena, já que
o direito à contratação inerente à própria concepção da pessoa humana, um direito existencial
da personalidade advindo do princípio da liberdade. Por sua vez, a liberdade contratual se
6
relaciona com o conteúdo do negócio jurídico, sendo uma liberdade bem mais restrita,
havendo, assim, limitações à carga volitiva das partes.
na moral e nos bons costumes. Ex: proibição de contrato envolvendo herança de pessoa viva
(pacta corvina – art. 426, CC).
Uma exceção a esse princípio, é a teoria da imprevisão, chamada cláusula rebus sic
stantibus (teoria da onerosidade excessiva) que mitiga o princípio ora estudado. Nesse
sentido, a teoria da imprevisão emerge no ordenamento jurídico para RESOLVER o contrato
(art. 478 do CC) se sobrevier fato imprevisível (superveniente que não poderia ser previsto no
momento da celebração contratual) que acarrete o desequilíbrio contratual, tornando-o
excessivamente oneroso para uma das partes e com extrema vantagem para a outra.
O contrato é um instituto de direito pessoal e por isso apenas produz efeitos inter
partes (vincula somente as partes que nele intervierem, ao contrário do que ocorre com os
institutos de direitos reais, que produzem efeitos erga omnes. Não obstante, o próprio
7
ordenamento civil traz algumas exceções a esse princípio: estipulação de um contrato em
favor de terceiro (arts. 426 a 438 do CC), promessa de fato de terceiro (arts. 439 a 440 do
CC), contrato com pessoa a declarar (art. 471 do CC) e a função social dos contratos e sua
eficácia externa (art. 421 do CC).
Trata-se de princípio expresso no artigo 421 do Código Civil, devendo ser observado
previsto no Código Civil de 1916, que se preocupava apenas com a relação individual gerada
no contrato. A nova ordem constitucional de 1988 passou a exigir que todo e qualquer ramo
do direito passe por uma “filtragem constitucional”, ou seja, deverão sempre ser observados
os princípios fundamentais expressos na Constituição. Assim, com a irradiação dos princípios
constitucionais, o Direito Civil passa a definir em suas disposições uma preocupação com o
coletivo, limitando a autonomia da vontade sempre que ela possa ferir algum direito
fundamental.
literal das disposições escritas; c) Justiça Contratual (arts. 317 e 478, CC) – protegida por
institutos como o da onerosidade excessiva, para dar maior equilíbrio às partes e ao contrato,
pois esse negócio jurídico possui repercussões em âmbito social (sociabilidade do direito).
8
Não foi eliminada a autonomia contratual ou a sua obrigatoriedade, mas apenas se atenuou
Nesse sentido, mesmo que um determinado contrato esteja de acordo com todos os
preceitos legais, ele pode vir a ser declarado nulo/anulável se repercutir negativamente para a
sociedade.
Desta forma, de acordo com Flávio Tartuce, é correto afirmar que este princípio possui
Ainda, o art. 2035, parágrafo único do CC, traz uma norma de grande valia para
compreensão desse princípio:
9
Art. 2.035. (…). Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos
de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função
social da propriedade e dos contratos.
Art. 2.035: esse artigo está disposto nas regras transitórias do CC/02, desta forma,
a partir de sua leitura, compreende-se que esse princípio é aplicável ao contrato
celebrado na vigência do CC/1916 (retroatividade motivada ou justificada).
Ordem pública: ora, se esse princípio se caracteriza como um preceito de ordem
pública, como consequência, será imprescindível a intervenção do Ministério
Público e do conhecimento ex officio pelo juiz.
Função social da propriedade: ao relacionar a função social dos contratos com a
função social do direito de propriedade, o legislador acabou por fundamentar,
constitucionalmente, o princípio ora estudado, equiparando-o ao previsto no art. 5,
XXII e XXIII da CF/88.
Súmula 302, STJ – É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a
internação hospitalar do segurado.
10
Enunciado 22, I Jornada: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código
Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato,
E quais seriam essas condutas? Bom, dentre outras hipóteses, pode-se destacar: dever
de cuidado, respeito, informação, lealdade, confiança, colaboração ou cooperação
Assim, as partes devem agir com lealdade, probidade e confiança recíprocas (art.
422, CC), com o dever de cuidado, cooperação, informando o conteúdo do negócio e
contratantes.
Enunciado n. 24 do CJF/STJ c/c Enunciado n. 363 do CJF/STJ da IV Jornada de Direito Civil: “Os
princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente
1
Vide questão 4
11
A observância deste princípio deve estar presente não só no momento da elaboração,
como também na conclusão e execução do contrato, devendo ocorrer em TODAS as fases
dignidade da pessoa humana, que são objetivos primordiais de nossa sociedade, estabelecidos
na Constituição Federal.
Não se confunde com a boa-fé subjetiva, que se relaciona com as crenças internas do
sujeito e é irrelevante nas relações contratuais, pois, se respeitada a boa-fé objetiva, não há
Além disso, o Princípio da boa-fé objetiva possui algumas funções importantes para
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.
De controle ou reativa (art. 187, CC): aquele que viola a boa-fé objetiva no
exercício de um direito comete abuso de direito, ou seja, um ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Integrativa (art. 422, CC): a boa-fé objetiva deve integrar todas as fases
contratuais – pré-contratual, contratual e pós.
12
Enunciado 25 – Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador
do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual.
Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de
natureza do contrato.
Venire Contra Factum Proprium: dispõe sobre a vedação de a parte agir com
comportamento contraditório ao previamente combinado.
Requisitos:
o Comportamento anterior;
o Comportamento posterior;
o Ausência de justa causa; e
vedação que a parte tem de exigir algo que ela também foi inadimplente. O
indivíduo não pode aplicar valoração distinta à obrigação decorrente do mesmo
2
Vide questão 3
13
Duty to mitigaty the loss: conforme mencionado, a boa-fé deve ser observada por
todas as partes do contrato, mesmo pelo credor que se depara com uma obrigação
relações jurídicas.
O contrato é fonte de obrigações, ele nasce da conjunção entre duas ou mais vontades
coincidentes. Sem este mútuo consenso, não haverá contrato. No entanto, antes de se
estabelecer o acordo final, é possível que ocorram algumas negociações preliminares (que
são as sondagens, as conversas prévias e debates, tendo em vista um contrato futuro), sem
que haja uma vinculação jurídica entre os participantes, não se criando ainda obrigações. É a
chamada fase das tratativas. Apenas no momento em que as partes manifestam a sua
entendimento majoritário.
14
Todavia, ao se dar início a um procedimento negocitório, é preciso observar sempre se,
a depender das circunstâncias do caso concreto, já não se formou uma legítima
expectativa de contratar. Dizer, portanto, que não há direito subjetivo de não contratar
não significa dizer que os danos daí decorrentes não devam ser indenizados, haja vista
que, como vimos, independentemente da imperfeição da norma positivada, o princípio
da boa-fé objetivatambém é aplicável a esta fase pré-contratual, notadamente os
deveres acessórios de lealdade e confiança recíprocas3.
papeis se invertem.
3
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Teoria geral dos contratos. 1.
ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. IV, t. I, p. 96.
15
O art. 428 do CC traz hipóteses em que a proposta não se vinculará (exceção),
portanto, de imprescindível leitura, vejamos:
Feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita: trata-se de
contrato com declaração consecutiva. Aqui, considera-se também como pessoa
presente aquela contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
Feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para
chegar a resposta ao conhecimento do proponente: trata-se de contrato com
declarações intervaladas, imaginado em caso proposta enviada por carta;
Feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo
dado;
Se antes proposta, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra
parte, o oblato, da retratação do proponente. (direito de arrependimento)
Feita a proposta, esta vincula o proponente ou policitante (art. 427, CC); caso a proposta
não seja mantida, obriga a perdas e danos.
16
10.4.3 Fase do contrato preliminar
Às vezes não é conveniente às partes celebrar, desde logo, o contrato definitivo; assim
podem firmar um contrato-promessa (pactum incontrahendo), sendo que as partes se
presumindo-se irretratável. Se uma das partes desistir do negócio, sem justa causa, a outra
poderá exigir-lhe, coercitivamente, o seu cumprimento, sob pena de multa diária, fixada no
escritura pública, porém, caso seja um contrato preliminar, essa formalidade é dispensada.
A doutrina aduz que são 2 tipos de contrato preliminar previstos no Direito brasileiro,
intitulados como compromissos de contrato, vejamos:
17
outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado
ao registro competente.”
O registro não é obrigatório, sendo apenas um fator de eficácia perante terceiros. Assim, na
verdade, a redação do parágrafo único do artigo deveria ser “o contrato preliminar poderá ser
levado ao registro competente”. Assim, se não registrar, os efeitos serão inter partes; se
Enunciado 30: Art. 463: a disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil
Enunciado 549: Art. 538: a promessa de doação no âmbito da transação constitui obrigação
positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código Civil.
18
Súmula 239, do STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do
inadimplemento.
Conforme explica Flavio Tartuce, quanto à formação do contrato eletrônico celebrado entre
ausentes, a exemplo da contratação por e-mail, segundo o entendimento majoritário, aplica-se
A regra é que o negócio jurídico se reputa celebrado no lugar em que foi proposto
(art. 435, CC). Esta é uma regra dispositiva, isto é, as partes podem dispor de modo diverso,
desde que expressa no contrato.
comodato, etc. Os contratos unilaterais, apesar de exigirem duas vontades, colocam só uma
delas na posição de devedora.
20
contrato bilateral também é conhecido como sinalagmatico. A compra e venda é o exemplo
clássico: o vendedor deve entregar a coisa, mas por outro lado tem o direito ao preço; já o
comprador deve pagar o preço, mas, por outro lado tem o direito de receber o objeto que
comprou. Outros exemplos: troca, locação, etc.
aluguel, mas deve entregar a coisa para que seja usada por outrem). Em outras palavras:
ambas as partes assumem ônus e obrigações recíprocas.
proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação (ex: doação pura e
simples, depósito, comodato, etc).
são conhecidas e guardam relação de equivalência. Ex: compra e venda (como regra).
uma alea (incerteza, risco). O contrato depende de um risco futuro e incerto, capaz de
provocar uma variação e consequentemente um desequilíbrio entre as prestações, não se
comodato, etc.
21
Já os inominados (ou atípicos) são os contratos criados pelas partes, dentro do
princípio da liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo contratual
previsto na lei; não têm tipificação; não têm um nome com previsão legal. Ex: cessão de
clientela, factoring, etc. O art. 425 do CC permite às partes estipular contratos atípicos,
De adesão (ou por adesão) são aqueles em que a manifestação de vontade de uma
das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra. Uma das partes elabora o
contrato e a outra parte apenas adere às cláusulas já estabelecidas, não sendo possível a
discussão ou modificação dessas cláusulas. Ex: contratos bancários, contrato de transporte,
O contrato de adesão deve ser sempre escrito com letras grandes e legíveis. Ele não
pode ser impresso com redação confusa, utilizando terminologia vaga e ambígua, nem com
A cláusula que implicar limitação ao direito do consumidor deverá ser redigida com
destaque (letras maiores), permitindo sua imediata e fácil compreensão. Na dúvida vigora a
Segundo o art. 424, CC são nulas as cláusulas que estipulam a renúncia antecipada do
aderente a algum direito resultante da natureza do negócio (ex: “caso o objeto adquirido
esteja com algum problema, o aderente abre mão de pedir a substituição do produto”).
22
10.7.6 Contratos Consensuais ou Formais
Solenes ou formais são os contratos em que a lei exige uma forma especial. A falta
desta formalidade levará à nulidade do negócio. Ex: a compra e venda de bens imóveis exige
mútuo, penhor, etc. Antes da entrega da coisa, tem-se apenas uma promessa de contratar e
não um contrato perfeito e acabado.
Principais são os contratos que existem por si, exercendo sua função e finalidade
Acessórios são aqueles contratos cuja existência supõe a do principal, pois visam
assegurar sua execução. Ex: fiança.
23
10.8 Efeitos do Contrato
princípio, é irretratável unilateralmente. Ou seja, depois de celebrado, como regra, uma das
partes não pode simplesmente desistir do cumprimento do contrato.
Também é chamado de exceptio non adimpleti contractus. Nos contratos bilaterais (ou
sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir a sua
obrigação, exigir a do outro (art. 476, CC). Isso porque há uma dependência recíproca das
compete ou dê alguma garantia de que ela será cumprida. No entanto, isso somente é
admissível quando, depois de concluído o contrato, sobrevier diminuição em seu patrimônio
alheia, já que detém legitimamente, além do momento em que deveria restituir, até o
pagamento do que lhe é devido.
Digamos que uma pessoa foi possuidora de boa-fé de uma casa, durante quatro anos.
Nesse tempo realizou benfeitorias necessárias. No entanto o verdadeiro proprietário moveu
uma ação de reintegração de posse e acabou ganhando a ação. O possuidor, embora
24
estivesse de boa-fé, perdeu a ação; deve sair do imóvel. No entanto, tem o direito de ser
indenizado pelas benfeitorias necessárias que realizou no imóvel. E se a pessoa que ganhou a
ação não quiser indenizar? Ora, enquanto o possuidor não for indenizado pela benfeitoria
necessária que realizou, ele tem o direito de reter o imóvel até que seja ressarcido ou até o
Segundo o STJ (Súm. 619), “A ocupação indevida de bem público configura mera detenção,
de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias”.
25
ficando a parte liberada dos encargos originários, sendo que o contrato pode ser revisto ou
rescindido.
Esta cláusula implícita é conhecida pela expressão rebus sic stantibus (tentando fazer
uma tradução literal teríamos: “o mesmo estado das coisas”; “as coisas ficam como estão”;
“pelas coisas como se acham”).
Para se tornar viável a extinção (ou revisão) do contrato por onerosidade excessiva, o
Juiz, em cada caso, sempre deve verificar a ocorrência dos seguintes elementos:
Como regra, a resolução por onerosidade excessiva cabe nos contratos bilaterais (ou
sinalagmáticos), como na compra e venda. Porém o art. 480, CC dispõe que se no contrato as
obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja
reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar nem beneficiar a terceiros,
atingindo apenas as partes que nele intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse
princípio não é absoluto, podendo favorecer terceiros (nunca criando obrigações ou
prejudicando). Ex: A (estipulante) compra uma casa de B (promitente) para que este a
entregue para C (beneficiário). C não é parte do contrato, no entanto é o favorecido pelo
mesmo.
Neste caso, tanto o que estipula a cláusula (estipulante) como o terceiro (beneficiário)
tem o direito de exigir do promitente o cumprimento da obrigação.
26
10.8.5 Vício Redibitório
Nos contratos bilaterais em que há a transferência da posse, uma parte deve garantir a
outra que essa possa usufruir o bem conforme sua natureza e destinação (contratos de
Por seu turno, vícios redibitórios4 são falhas ou defeitos ocultos existentes na coisa
alienada, objeto de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destinam
ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se
esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente direito para redibir (devolver a coisa
coisa era defeituosa e mesmo assim quis recebê-la. Também não há responsabilidade se o
vício se deu por causa posterior à entrega.
O bem adquirido em hasta pública não se pode redibir, nem pedir abatimento do
os de doação com encargo (doações em que o beneficiário, para receber o bem doado,
assume algum ônus).
Decadência
4
Vide questão 5
27
Nos negócios regulados pelo Código Civil, o art. 445 do mesmo código estabelece que
o prazo de reclamação e propositura das ações acima citadas, contado da entrega efetiva
PRAZO HIPÓTESES
Quando o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo conta-se a partir do instante em
que dele tiver ciência, até o máximo de 180 (cento e oitenta) dias, se tratar de móveis, ou
de 01 (um) ano, se tratar de imóveis.
Lembre-se que o CDC tem uma abrangência maior: considera como vícios tanto os
defeitos ocultos na coisa como também os aparentes ou de fácil constatação. Além disso, o
28
defeito pode estar na coisa ou no serviço prestado. Há também uma diferença na
nomenclatura: no CC chamamos de vícios redibitórios (arts. 441/446); no CDC (arts. 18 a 26)
No entanto, a doutrina costuma afirmar que existe um “diálogo das fontes” entre o CC
e o CDC, pois há uma conexão entre ambos, sendo que um sistema complementa o outro,
especialmente no que diz respeito aos princípios contratuais, possibilitando maiores benefícios
e mecanismos de defesa para o consumidor.
ou do término da execução dos serviços. Observem que também são diferentes dos prazos
estabelecidos no Código Civil.
Há uma crítica da doutrina quanto aos prazos, pois eles são menores do que no CC:
Prazo Hipóteses
O CDC também estabelece que fornecedores, quando efetuada a reclamação direta, têm
prazo máximo de trinta dias para sanar o vício. Não o fazendo pode o consumidor exigir
alternativamente:
Substituição do produto.
29
10.8.6 Evicção
Como vimos, o alienante tem o dever de garantir ao adquirente a posse justa da coisa
transmitida, defendendo-a de eventuais pretensões de terceiros.
uma coisa para terceiro, em razão de ato jurídico anterior e em virtude de uma sentença
judicial (evincere = ser vencido).
A evicção supõe a perda total ou parcial da coisa, em mão do adquirente, por ordem
do Juiz, que a defere a outrem. Exemplo clássico: A vende para B uma fazenda. Quando B
toma posse do imóvel percebe que uma terceira pessoa (C) já detém a posse daquele imóvel
há muitos anos. B Tenta tirar C do imóvel. Mas este além de não sair ainda ingressa com uma
ação de usucapião. Caso C obtenha a sentença judicial de usucapião, B perderá o imóvel.
Vejam: B pagou pelo imóvel e o perdeu em uma ação judicial. Isto é a evicção. Na hipótese
concreta, A fica obrigado a indenizar B. Observem neste exemplo que:
judicial.
evicção estamos diante de uma inexecução contratual, pois eu paguei pela coisa e não a
recebi; ou a recebi, mas perdi logo a seguir por determinação judicial.
Direitos do Evicto
30
Todos os prejuízos decorrentes da evicção (o evicto deve provar quais foram
as perdas e danos).
pelo evictor.
A evicção pode ser total ou parcial. A parcial ocorre quando a perda é inferior a 100%
do valor da coisa. Já o art. 455, CC fala em evicção parcial considerável e não-considerável.
Mas não estabelece porcentagem para cada caso. Portanto, tudo vai depender do bom senso
do Juiz em um caso concreto.
O adquirente deve, assim que for instaurado contra si o processo judicial, chamar o
alienante para integrar o processo (art. 456, CC). Trata-se de um instituto de Direito Processual
Civil. É a chamada denunciação a lide. Ela é obrigatória para que o evicto (adquirente) possa
ao menos ser reembolsado daquilo que pagou pela propriedade, sem receber a coisa. Se
assim não proceder (não denunciar a lide) perderá os direitos decorrentes da evicção, não
mais dispondo de ação direta para exercitá-los. A denunciação se justifica posto que o
alienante precisa saber da pretensão do terceiro reivindicante, uma vez que irá suportar as
consequências da decisão judicial.
extintivos dos contratos, pois não há sistematização legal. Adotamos o sistema da Professora
Maria Helena Diniz, pois é o que vem caindo nos concursos.
31
No entanto, um contrato pode ser extinto antes de seu cumprimento, ou no decurso
deste. São as chamadas causas anteriores ou contemporâneas ao nascimento do contrato ou
objeto algo ilícito, temos a nulidade do contrato (arts. 166 e 167, CC).
Arrependimento: previsto no próprio contrato, quando os contraentes estipulam
culpa do devedor, nos casos de força maior ou caso fortuito. Não há indenização
por perdas e danos; tudo volta como era antes; se houve qualquer tipo de
32
entendido que, em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos,
deve-se conduzir, sempre que possível, à revisão dos contratos e não à resolução.
ou depositário.
Morte de um dos contraentes: como regra, morrendo um dos contratantes, a
obrigação se transmite aos seus herdeiros, até o limite das forças da herança. No
entanto, nas obrigações personalíssimas (intuitu personae) a morte é causa
extintiva do vínculo.
33
11. Contratos em Espécie
A fixação do preço poderá ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo
designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem
uma das partes. Não sendo a venda a crédito, não é obrigado o credor a entregar a coisa
antes de receber o preço.
11.1.1 Elementos
5
Vide questão 6
34
A coisa deve ser lícita, possível, determinada ou determinável, sob pena de nulidade
absoluta. Ainda, a compra e venda pode ter como objeto coisa atual ou futura (venda sob
encomenda).
Se a coisa vier a não existir, a compra e venda será ineficaz, não ser que se trate de
contrato aleatório (emptio spei, art. 483), que é exceção.
A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que
venda poderia simular uma doação em prejuízo dos demais herdeiros, que poderá ser
pleiteada no prazo de dois anos, a contar da data do ato.
conjugal.
Venda de ascendente para descendente: há necessidade de autorização dos
contra terceiros, sendo uma ação de preferência de natureza real, tem que depositar o preço,
com prazo decadencial de 180 dias, a partir da ciência da venda.
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos,
se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der
conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de
maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais,
haverão a parte vendida os coproprietários, que a quiserem, depositando previamente o
preço.
36
11.1.3 Venda por medida ou por extensão – venda ad mensuram
§ 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para
ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha,
completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso.
De acordo com o art. 501 estabelece o prazo decadencial para todas essas ações, sendo
38
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante,
a partir dela fluirá o prazo de decadência.
compete oferecer ao vendedor a coisa, se decidir vendê-la, para que este, usando
do se direito de preferência, decida se a quer. PRAZO: 180 dias, sendo a coisa
contrato de compra e venda celebrado entre condômino e terceiro, e não àquele ajustado
entre condôminos (Resp. 1.137.176 – PR). Neste sentido, se a coisa for oferecida à condômino,
o outro não poderá exercer seu direito de preferência, pois este só é cabível se a venda é feita
a terceiro.
satisfeito (condição suspensiva), ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não
se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.
Venda a contento X Venda sujeita a prova: na venda a contento a coisa ainda não é
conhecida, na venda sujeita à prova a coisa já é conhecida. Os efeitos são os mesmos (arts.
509, 510 e 511, CC). Antes da aprovação, o comprador equivale ao comodatário. A ação
39
Preempção: o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa móvel ou
imóvel, caso for vendê-la a terceiro, para que se exerça o direito de prelação
Não pode o condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte
a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranho, se o requerer no prazo de 180
11.2 Doação
11.2.1 Conceito
6
Vide questão 8
40
O contrato de doação é formal, podendo ser por escritura pública ou instrumento
11.2.2 Elementos
devendo este, no curso do inventário, colacionar o bem dado em doação, sob pena de
caracterizar sonegação (artigo 2.002 do CC/02).
Enunciado 119, jornada de direito civil: 119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem
causa, a colação será efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do caput
do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao
patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se
fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014
7
STJ. AR 3.493 - PE
41
do CPC, de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se
constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática do art. 2.004 e
herdeiros necessários.
Unilateral;
Bilateral, no caso de doação modal, pois ocorre uma imposição para aquele que
recebe bens ou vantagens de um ônus;
Gratuito, em regra, pois, em caso de doação modal, será considerada onerosa;
Consensual;
Real, quando envolver bem de pequeno valor + tradição;
Comutativo;
Formal e solene quando a doação de bem imóvel for acima de 30 salários mínimos;
Formal, mas não solene quando não for necessária a escritura pública.
11.2.4 Espécies
42
Assim, não constitui ato de liberalidade, havendo remuneração por uma prestação
de serviços executada pelo donatário;
Doação contemplativa ou meritória8: a doação contemplativa é aquela feita em
contemplação a um merecimento do donatário. O doador expressamente
determina quais são os motivos que o fizeram decidir pela celebração do contrato
de doação.
Doação a nascituro: a doação feita ao nascituro valerá, devendo ser aceita pelo
seu representante legal (pais ou por aquele incumbido de cuidar dos seus
interesses, nesse último caso, com autorização judicial). Além disso, a eficácia do
contrato depende do nascimento com vida do donatário, havendo uma doação
condicional, já que se o donatário não nascer com vida, caduca a liberalidade;
Doação sob forma de subvenção periódica: é doação de trato sucessivo, em que
o doador estipula rendas a favor do donatário (art. 545 do CC). Por regra, terá
como causa extintiva a morte do doador ou do donatário, contudo pode ultrapassar
a vida do doador, havendo previsão contratual nesse sentido, contudo em hipótese
alguma, poderá ultrapassar a vida do donatário, sendo eventual cláusula nesse
sentido revestida por nulidade virtual (art. 166, VII, do CC).
Doação em contemplação de casamento futuro: é chamada de doação propter
nuptias é em contemplação de casamento futuro com pessoa certa e determinada.
Trata-se de uma doação condicional, com condição suspensiva, pois o contrato
não gera efeitos enquanto o casamento não se realizar.
Doação com cláusula de reversão: é a doação com cláusula de reversão (ou
cláusula de retorno), em que o doador estipula que os bens doados voltem ao seu
patrimônio se sobreviver ao donatário (art. 547 do CC). Trata-se de uma condição
resolutiva expressa, com o intento do doador de beneficiar apenas o donatário
(cláusula intuitu personae) e não os seus sucessores, já que é vedado a doação
sucessiva;
Doação conjuntiva: é aquela que conta com a presença de dois ou mais donatários
(art. 551 do CC), presente uma obrigação divisível. Em regra, incide uma presunção
relativa (iuris tantum) de divisão igualitária da coisa em quotas iguais entre os
donatários. Por regra, não há direito de acrescer entre os donatários na doação
8
Vide questão 9
43
conjuntiva, assim, havendo o falecimento um deles, sua quota será transmitida
diretamente a seus sucessores e não ao outro donatário;
Doação manual: a doação de bem móvel de pequeno valor pode ser celebrada
verbalmente, desde que seguida da entrega imediata da coisa (tradição). A
doação é um contrato consensual em que se exige a forma escrita, por regra,
sendo a doação manual uma exceção a essa regra.
Doação inoficiosa: é nula a doação quanto à parte que exceder o limite de que o
doador (correspondente a 50% do patrimônio do disponente), no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento;
Doação universal: nula é a doação de todos os bens, sem a reserva do mínimo
para a sobrevivência do doador, sendo é vedada expressamente pela lei (nulidade
textual);
Doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice: é anulável a doação do cônjuge
ao seu cúmplice, desde que proposta ação anulatória pelo outro cônjuge ou
pelos seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade
conjugal.
Doação à entidade futura: A lei possibilita a doação a uma pessoa jurídica que
ainda não exista, condicionando a sua eficácia à regular constituição da entidade,
porém, se não estiver constituída no prazo de dois anos contados da efetuação da
doação, caducará essa doação.
constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código
Civil”. Assim, desde que válida e eficaz, observados os princípios gerais que regem o contrato
44
11.2.5 Revogação da doação (art. 551, CC)
incorrer em mora.
estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por ingratidão, pois o rol legal do
art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo outras hipóteses”). Ademais, o art. 558 do CC
também alude pode ocorrer a revogação por ingratidão quando ofendido for cônjuge,
ascendente, descente ou irmão (CADI) do doador.
Ingratidão9 seria:
o Homicídio doloso (tentado ou consumado),
o Ofensa física,
o Injúria grave,
o Abandono material.
9
Enunciado 33 - Art. 557: o novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por
ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo, excepcionalmente, outras
hipóteses. (Trata-se da tipicidade finalística)
45
fim de fundamentar a revogação e consequente ineficácia da doação. Ainda, ocorrendo a
revogação, não haverá prejuízos aos direitos adquirido por terceiros, porém, deverá ser
Ainda sobre o tema, insta frisar que não estão sujeitas à revogação as doações
remuneratórias, as indenizatórias, as feitas para determinado casamento, bem como as que
46
11.3 Locação
11.3.1 Conceito
É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra
(locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não
fungível, mediante certa remuneração (aluguel – art. 565, CC). Se houver mais de um locador
Bilateral/sinalagmático;
Oneroso;
Comutativo;
Consensual;
Informal;
Não solene;
Determinado/indeterminado;
Execução continuada (ou de trato sucessivo);
Ademais, como se trata de um contrato não solene, ele poderá ser celebrado de
qualquer forma, inclusive a verbal, pode ser por prazo determinado ou indeterminado, e no
silêncio das partes, deve-se concluir que o prazo é indeterminado.
47
O locador só pode exigir uma das seguintes garantias sob pena de nulidade: a) caução
(máximo 03 meses); b) fiança; c) seguro-fiança locatícia; d) cessão fiduciária de quotas de
fundo de investimento.
em condições de ser utilizada, manter o bem nesse estado na vigência da locação e garantir o
seu uso pacífico, nos termos do pactuado (art. 566, I e II, do CC).
Não cabe sua renúncia do contrato por força do instrumento contratual. Tratando-se
de contrato por prazo determinado, a locação cessará de pleno direito com o término do
prazo estipulado e independentemente de qualquer notificação ou aviso. Assim, em regra, a
possibilidade de denúncia vazia, ou seja, aquela sem fundamento sem qualquer motivo (art.
573 do CC). Trata-se de hipótese de resilição unilateral, já que a lei reconhece esse direito
Assim, a qualquer tempo e desde que vencido o prazo do contrato, poderá o locador
notificar o locatário para restituir a coisa, através da denúncia vazia, sendo uma resilição
unilateral.
locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência
mínima de trinta dias.
48
11.4 Empréstimo
11.4.1 Conceito
É o contrato por meio do qual alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente,
Unilateral
Gratuito
Real
Comutativo
Informal
Não solene
Personalíssimo (intuito personae)
Temporário
Trata-se de um contrato em que há deveres para apenas uma das partes, sendo um
As prestações são previamente conhecidas pelas partes, não se exigindo a forma escrita
nem mesmo escritura pública, já que se baseia na confiança (fidúcia). No contrato de
empréstimo, não há perpetuidade, já que o bem deve ser devolvido, o prazo pode ser
determinado pelas partes.
11.4.3 Modalidades
49
Não restituindo o bem, o comodante pode ingressar com ação de reintegração de
posse e cobrar aluguel.
outra coisa da mesma espécie, qualidade e quantidade (um quilo de feijão). Pode
11.4.4 Comodato
Trata-se do contrato pelo qual alguém entrega a outra pessoa uma coisa infungível
para ser utilizada por determinado tempo e devolvida findo o contrato. O comodato pode ter
administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial,
os bens confiados à sua guarda, o que acarreta a nulidade absoluta.
O Código Civil, no art. 581, determina sobre a retomada do bem que, se o comodato
não tiver prazo convencional, será presumido o necessário para o uso concedido; não
podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz,
suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que
se determine pelo uso outorgado.
Para que ocorra a retomada do bem, caberá Ação de Reintegração de Posse cujo prazo
podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder
por perdas e danos.
constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que
for arbitrado pelo comodante.
Aquele que ao invés de conservar o bem emprestado, resolve proteger o seu bem
próprio, responde por caso fortuito e força maior, é denominado de comodatário egoísta.
Ainda, de acordo com o art. 583, se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com
Ademais, o art. 584 dispõe que o comodatário não poderá jamais recobrar do
11.4.5 Mútuo
mesma quantidade.
Assim, de acordo com o art. 586, o mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, sendo o
mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade.
Os sujeitos do contrato são: mutuante (aquele que cede) e mutuário (aquele que
domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a
tradição (res perit domino).
51
Conforme dispõe o art. 588, sem autorização dos responsáveis, o mútuo a menor gera
uma obrigação natural ou incompleta, já que a dívida existe, mas não pode ser exigida.
Porém, uma exceção é que não se tem uma obrigação natural/incompleta, mas uma
obrigação completa.
De acordo com o art. 589, cessa a regra anterior nos seguintes casos:
credor não lhes poderá ultrapassar as forças: Para a proteção do patrimônio mínimo
do menor.
Se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
dispõe o art. 591, quando se destinando o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos
juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,
52
Súmula 596 do STF: As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às
taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições
instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as
limitações da lei de usura
11.5.1 Conceito
10
Vide questão 2
53
11.5.2 Natureza jurídica
Bilateral/sinalagmático
Oneroso
Consensual
Informal
Comutativo
Pessoal
Individual
Execução continuada
contrato não cumprido pelas partes. Apenas se aperfeiçoa com a manifestação de vontade
das partes, não sendo exigido, contudo, qualquer formalidade para sua formação.
prestações que terão que cumprir, sendo equivalentes entre si, assim, o prestador realiza o
serviço e só depois é que recebe a remuneração pelo tomador.
que, com a morte de qualquer um dos contratantes, acarretará a extinção do contrato, não
podendo haver substituição pelos herdeiros, nem ser cedido ou substituído a outra pessoa.
Importante destacar que o Código Civil 2002 tem caráter meramente residual em
relação à prestação de serviço, uma vez que só será aplicada quando inexistir norma especial
regendo a relação jurídica.
54
A Prestação de serviço, apesar de possuir continuidade não possui dependência econômica
e não eventualidade, pelo contrário, é um contrato eventual por prazo determinado,
11.5.3 Elementos
Caso o contrato não estipule qual o serviço de forma específica, compreende-se que o
prestador se obrigou a todo e qualquer tipo de serviço, desde que compatível com a sua
Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser
contratada mediante retribuição.
Caso o contrato seja omisso quanto a este elemento, a onerosidade será presumida, de
modo que, se não houver acordo entre as partes, será arbitrado pelo Juiz. Em regra, a
Contudo, importante ressaltar que a lei estabelece que o contrato só pode ser
celebrado pelo prazo máximo de 04 anos a fim de transformar em serviços escravos, ou, até
mesmo, em uma relação de trabalho.
Porém, caso o contrato seja expressamente estipulado por prazo superior a 04 anos,
entende-se que não haverá qualquer nulidade, sendo o contrato será válido e eficaz, contudo,
após o prazo máximo legal (04 anos), o contrato será interpretado como fosse por prazo
55
indeterminado. Em contrapartida, há doutrina minoritária que entende que se trata de
extinção do contrato, em razão de vício no plano da eficácia.
Apesar de a lei determinar uma limitação máxima de 4 anos, não existe proibição para a
celebração de sucessivos contratos de 04 anos. Assim, contrata-se por 4 ano e é possível
Ademais, de acordo com o art. art. 599, CC, se o contrato for omissivo quanto ao prazo,
havendo, assim, um prazo indeterminado, e não for possível deduzi-lo da natureza da
atividade e dos costumes, qualquer das partes poderá resolvê-lo mediante prévio-aviso,
56
Assim, há uma transformação da relação obrigacional relativa em absoluta, criando,
desta forma, um dever de abstração (não fazer) a fim de não prejudicar outrem.
Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a
outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito,
houvesse de caber durante dois anos.
11.6 Empreitada
11.6.1 Conceito
Por meio desse negócio jurídico, uma das partes (empreiteiro ou prestador) obriga-se
a fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada remuneração, a
Mesmo sendo espécie de prestação de serviço, com esse contrato a empreitada não se
confunde, principalmente no tocante aos seus efeitos.
Bilateral ou sinalagmático
Oneroso
Comutativo
Consensual
Informal
Impessoal
Indivisível
mediante a subempreitada, desta forma, o contrato não se extingue com a morte. Objetiva-se
a obra, de modo que o contrato não pode ser executado de forma fracionada, não podendo,
ainda, falar em cumprimento parcial do contrato.
57
Desta forma, a subempreitada apenas será proibida se houver disposição expressa no
contrato ou, independentemente de proibição expressa, se esta fizer menção às qualidades
pessoais do empreiteiro.
do art. 610 do CC, a obrigação de fornecer materiais não pode ser presumida,
resultando da lei ou da vontade das partes.
irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.
58
Esse direito decairá nos 180 dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito (vício
redibitório) para exigir o conserto do direito assegurado neste artigo o dono da obra que
11.7 Depósito
11.7.1 Conceito
Unilateral e gratuito;
Bilateral e oneroso;
Sinalagmático;
Comutativo;
Real;
Formal;
Informal;
Não solene;
Será oneroso nos casos em que haja guarda em cofres prestados por instituições
bancárias, ainda, haverá deveres entre ambas as partes e não constando da lei ou de
59
Ademais, trata-se de contrato fundado na confiança do depositante em relação ao
depositário, sendo ainda fixado por prazo determinado ou indeterminado. Aperfeiçoa-se com
a entrega da coisa a ser depositada, ou seja, pela tradição. Conforme dispõe o art. 646 do CC,
o depósito voluntário provar-se-á por escrito, assim, conclui-se que o contrato é informal e
não solene.
11.7.3 Modalidades
Dispõe o art. 630 do CC, que se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou
lacrado, nesse mesmo estado se manterá, devendo ser respeitado o seu sigilo, assim, sendo
descumprido esse dever por parte do depositário, o depositante poderá ingressar com ação
de rescisão do contrato por resolução por inexecução voluntária, sem prejuízo da indenização
cabível.
60
exonerar-se, restituindo a coisa ao depositante, sem consentimento do terceiro, conforme
determina o art. 632 do CC, desta forma, se o terceiro não foi cientificado, terá direito a ser
indenizado.
depositante não quiser recebê-la, assim pode-se aplicar as regras previstas tanto no Código
Civil quanto no Código Processo Civil para a consignação.
coisa, se o depositário, confiar a coisa em depósito a terceiro, será responsável se tiver agido
independe da vontade das partes, por resultar de fatos imprevistos e irremovíveis, que
levam o depositante a efetuá-lo, entregando a guarda de um objeto à pessoa que
11.8 Mandato
11.8.1 Conceito
Unilateral;
Bilateral;
Imperfeito;
Gratuito;
Oneroso;
62
Consensual;
Comutativo;
Informal;
Não solene;
Verbal;
Escrito;
Expressa;
Tácita;
Enunciado n. 182 do CJF/STJ, III Jornada de Direito Civil, que “o mandato outorgado por
instrumento público previsto no art. 655 do CC somente admite substabelecimento por
instrumento particular quando a forma pública for facultativa e não integrar a substância
do ato”.
O mandato verbal não é admitido para os casos em que o ato deva ser celebrado por
escrito, ainda, haverá aceitação tácita se resultar do começo de cumprimento do contrato,
contudo, conforme dispõe o art. 111 do CC, o simples silêncio não indica aceitação do
mandato, pois quem cala não consente (art. 111 do CC).
63
O instrumento do mandato escrito é a procuração. O mandato pode ser legal, judicial
ou convencional (ad judicia ou ad negotia). Substabelecer uma procuração significa conferir a
11.9 Seguro
11.9.1 Conceito
Trata-se de contrato em que uma das partes (segurador) se obriga perante outra
contrato.
Assim, dispõe o art. 757 do CC: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa
Bilateral
Oneroso
Consensual
Aleatório
64
parágrafo único, do CC, sendo exercida pelas sociedades anônimas, mútuas ou cooperativas,
que terão como objeto os seguros agrícolas, com autorização do Governo Federal.
do seguro, conforme dispõe o art. 758 do CC), contudo, em falta, o contrato pode ser provado
por comprovante de pagamento do respectivo prêmio.
65
Conforme dispõe o art. 760 do Código Civil: “a apólice ou o bilhete de seguro podem
ser nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim
de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do
segurado e o do beneficiário.”
Cosseguro, previsto no art. 761 do CC, ocorre quando os riscos de um seguro direto
são assumidos por várias seguradoras. Desta forma, a apólice indicará a seguradora que
administrará o contrato e representará os demais, não se confundindo com o resseguro, que,
por sua vez, ocorre a hipótese em que uma seguradora contrata outra seguradora
(resseguradora), temendo os riscos do contrato anterior, aplicando-se, porém, as mesmas
regras previstas para o contrato regular.
objetiva”11. Ainda, em relação ao art. 763, entendem que: “Para efeito do art. 763 do Código
Civil, a resolução do contrato depende de prévia interpelação”12, ou seja, do segurado
devedor. Desta forma, não há extinção automática do contrato de seguro pela simples mora,
devendo haver, previamente, interpelação judicial ou extrajudicial.
O art. 765 dispõe algumas obrigações das partes, de modo que tanto segurado quanto
o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita
boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes.
11
Enunciado n. 371 do CJF/STJ
12
Enunciado n. 376, na IV Jornada de Direito Civil
66
Enunciado n. 543, da VI Jornada de Direito Civil, de 2013: “constitui abuso do direito a
modificação acentuada das condições do seguro de vida e de saúde pela seguradora
entende que há uma presunção de boa-fé objetiva do segurado consumidor, não se pode
concluir pela má-fé do segurado.
Tribunal de Justiça: “em caso de negativa de cobertura securitária por doença preexistente,
que tenha contra o estipulante, por descumprimento das normas de conclusão do contrato,
ou de pagamento do prêmio, conforme dispõe o art. 767 do CC.
13
STJ, AgRg no Ag 1.138.740/SC, 3.ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 09.06.2009, DJe 18.06.2009
67
De acordo com o art. 768 do CC, a boa-fé objetiva é evidente, de modo que “o
segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do
contrato”. Assim, dispõe Enunciado n. 374 do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil: “no
contrato de seguro, o juiz deve proceder com equidade, atentando às circunstâncias reais, e
Esse dispositivo trata da cláusula de reposição que não pode trazer situação de injustiça ao
segurado. Assim, ocorrendo o pagamento pela seguradora, é possível a sua ação regressiva
em face do culpado pelo evento danoso. É o que dispõe a Súmula 188 do STF: “O segurador
tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite
Por fim, conforme dispõe o art. 777, o as regras dispostas no contrato de seguro
aplica-se, no que couber, aos seguros regidos por leis próprias, como ocorre no caso dos
planos de saúde e seguros privados de assistência à saúde.
Conforme art. 778 do CC, a garantia prometida pelo contrato não pode ultrapassar o
valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena de perder o
segurado a garantia e ter de pagar o prêmio, sem prejuízo da imposição de medida penal
cabível.
14
Vide questão 1
68
Quanto ao risco do contrato, compreenderá todos os prejuízos resultantes ou
consequentes do seguro. Trata-se, assim, de um seguro de responsabilidade legalmente
obrigatórios, de modo que a indenização do sinistro será paga pelo segurador diretamente
ao terceiro prejudicado, conforme dispõe o art. 788 do CC. Ademais, prevê a Súmula 257 do
STJ que a falta de pagamento do prêmio desse seguro obrigatório não é motivo para a
recusa do pagamento da indenização por segurador privado.
Por fim, dispõe o art. 788, parágrafo único, do CC que o segurador não poderá opor a
exceção de contrato não cumprido pelo segurado em caso de demandar ação direta pela
vítima do dano, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.
Trata-se de contrato de seguro que visa proteger a pessoa, contra os riscos de morte.
Assim, conforme dispõe o art. 789 do CC, nos seguros de pessoas, o capital segurado é
livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o
última vontade, conforme determina o art. 791 do CC, contudo, o segurador deve ser
cientificado dessa substituição, caso contrário, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao
antigo beneficiário.
o STJ entende que “o suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do
contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução do montante da
15
Vide questão 7
69
Assim, o beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado comete
suicídio nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois
de suspenso, exceção feita para a reserva técnica já formada, que deverá ser devolvida (art.
798 do CC). Ressalvada esta hipótese, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do
11.10 Fiança
11.10.1 Conceito
Trata-se, assim, de uma promessa feita por uma ou mais pessoas de garantir ou
pelo qual alguém, o fiador, garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo
devedor, caso este não a cumpra.
Complexo
Sui generis
Unilateral
Gratuito
Consensual
Comutativo
Formal
Não solene
Acessório
Trata-se de contrato unilateral porque traz apenas deveres para o fiador, contudo,
excepcionalmente, a doação pode ser remunerada, a exemplo da fiança bancária e seguro
fiança. Ainda, trata-se de um contrato gratuito pois é um negócio benéfico, não admitindo,
16
Vide questão 10
70
conforme o art. 819, CC, portanto, interpretação extensiva. É formal, devendo ser escrito, mas
não há necessidade de escritura pública.
principal, caso contrário não existirá, já que não é um contrato autônomo. Assim, aplica-se à
fiança todas as regras das obrigações acessórias e Princípio da Gravitação Jurídica.
A fiança é uma garantia pessoal, assim, todo o patrimônio do devedor responde, sendo uma
As dívidas atuais ou presentes e também as dívidas futuras podem ser objeto de fiança,
neste último caso, o fiador não será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a
A fiança ainda pode ser total ou parcial, até mesmo em valor inferior ao da obrigação
principal ou em condições menos onerosa, porém, a fiança não poderá ser superior ao valor
do débito principal, caso em que o contrato será reduzido ao limite da dívida que foi
afiançada.
A regra é que a fiança seja total, ilimitada ou indefinida, garantindo a dívida com todos
os seus acessórios (juros, multa, cláusula penal, despesas judiciais, etc), contudo, é possível
que a fiança seja parcial (fiança limitada).
Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a aceitá-lo
se não for pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar a fiança, e não
possua bens suficientes para cumprir a obrigação.
71
O contrato de fiança pode ser celebrado contra a vontade do devedor, já que a
relação jurídica principal é entre fiador e credor, conforme dispõe o art. 820.
A relação jurídica entre fiador e devedor é apenas subsidiária, já que o fiador possui o
benefício de ordem ou de excussão. Assim, dispõe o art. 827, que o fiador demandado pelo
pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro
executados os bens do devedor, devendo o fiador nomear bens do devedor, situados no
Contudo, é possível a renúncia deste benefício, conforme dispõe o art. 828, CC:
são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da
natureza do negócio.
72
Entre fiadores há solidariedade passiva legal, contudo, conforme dispõe o art. 829 e
art. 830 do CC, os fiadores podem convencionar o benefício de divisão, respondendo cada
Vejamos:
Art. 829. A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa
importa o compromisso de solidariedade entre elas, se declaradamente não se
reservarem o benefício de divisão.
Parágrafo único. Estipulado este benefício (leia-se: benefício de divisão), cada fiador
responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento (divisão
pro rata).
Art. 830. Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob sua
responsabilidade, caso em que não será por mais obrigado.
Conforme dispõe o art. 831, CC, o fiador que paga integralmente a dívida se sub-roga
nos direitos do credor, podendo cobrar dos outros fiadores as suas quotas na dívida e a parte
do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros.
De acordo com o art. 832, o devedor responde também perante o fiador por todas as
perdas e danos que este pagar, e pelos que sofrer em razão da fiança. Assim, o devedor
principal responde pelas perdas e danos pagos pelo fiador.
73
do credor, garantindo a dívida por mais sessenta dias após esta notificação,
conforme dispõe art. 835.
fiança não admite interpretação extensiva, assim, conforme dispõe art. 838, I, o
fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se, sem consentimento seu, o credor
preferências
Retardo da execução pelo credor contra o devedor e este último cair em
que o invocou, se provar que os bens por ele indicados eram, ao tempo da
74
QUADRO SINÓTICO
CONCEITO O acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo, transformação,
modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. É um negócio
jurídico bilateral, decorrente de uma ação humana voluntária e lícita, praticada com a
intenção de obter um resultado jurídico.
PRINCÍPIOS AUTONOMIA DA Os contratantes têm liberdade para estipular o que lhes convier.
VONTADE Em tese, pode-se contratar sobre o que quiser, mesmo que não
(AUTONOMIA previsto em lei (contrato inominado)
PRIVADA)
OBSERVÂNCIA (OU
SUPREMACIA) DAS A liberdade de contratar encontra seus limites inicialmente na
NORMAS DE ORDEM própria lei e também na moral e nos bons costumes.
PÚBLICA
OBRIGATORIEDADE Decorre da ideia de autonomia da vontade, onde a convenção
DAS CONVENÇÕES de um contrato passa a ter força de lei, constrangendo os
(PACTA SUNT contratantes ao cumprimento do conteúdo completo do negócio
SERVANDA) jurídico.
O contrato é um instituto de direito pessoal e por isso apenas
produz efeitos inter partes (vincula somente as partes que nele
intervierem, ao contrário do que ocorre com os institutos de
RELATIVIDADE DOS direitos reais, que produzem efeitos erga omnes.
EFEITOS DO EXCEÇÕES
CONTRATO Estipulação de um contrato em favor de terceiro (arts.
426 a 438 do CC),
Promessa de fato de terceiro (arts. 439 a 440 do CC),
Contrato com pessoa a declarar (art. 471 do CC)
Função social dos contratos e sua eficácia externa (art.
421 do CC).
75
FUNÇÃO SOCIAL DO Trata-se de princípio expresso no artigo 421 do Código Civil,
CONTRATO devendo ser observado em toda e qualquer relação contratual e
determina que a liberdade de contratar deva observar a
probidade e a boa-fé objetiva.
DUPLA EFICÁCIA: INTERNA E EXTERNA.
Proteção da vulnerabilidade contratual (ex.:
EFICÁCIA direitos do consumidor);
INTERNA Proteção contra a onerosidade excessiva ou
desequilíbrio contratual (efeito gangorra);
Proteção da dignidade humana e direitos da
personalidade, proteção contra cláusulas
antissociais ou abusivas (ex.: Súmula 302/STJ);
Conservação contratual
Proteção dos direitos difusos e coletivos
(função socioambiental do contrato) da tutela
EFICÁCIA externa do crédito, ou seja, a possibilidade de
EXTERNA gerar efeitos perante terceiros ou das condutas
destes repercutirem no contrato (Enunciado 21
do CJF/STJ, I Jornada de Direito Civil).
FUNÇÕES BÁSICAS
Abrandar a força obrigatória do contrato (Pacta Sunt
Servanda);
Coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade absoluta das
mesmas (Súmula 302, STJ);
Possibilitar, sempre que possível, a conservação do
contrato (Enunciado 22, I JDC), e o seu equilíbrio;
Possibilitar a revisão do contrato quando o mesmo
contiver alguma onerosidade excessiva
É expressamente previsto no art. 422, do CC/02 e preconiza a
atuação correta das partes, conforme um padrão normal de
BOA-FÉ OBJETIVA conduta, independentemente da boa-fé interior (subjetiva) que
o contratante acredita ser correto.
FUNÇÕES
Interpretativa (art. 113, CC): contratos devem ser
interpretados de maneira mais favorável a quem está de
boa-fé.
De controle ou reativa (art. 187, CC): viola a boa-fé
objetiva no exercício de um direito comete abuso de
direito, ou seja, um ilícito
Integrativa (art. 422, CC): boa-fé objetiva deve integrar
todas as fases contratuais
76
DESDOBRAMENTOS
Venire Contra Factum Proprium: dispõe sobre a vedação
de a parte agir com comportamento contraditório ao
previamente combinado.
Requisitos:
o Comportamento anterior;
o Comportamento posterior;
o Ausência de justa causa; e
o Dano ou receio de dano.
Supressio e Surrectio: são figuras correlacionadas, já que
a supressio consiste na perda de um direito pelo
decurso do tempo, obstando o seu exercício, em razão da
boa-fé.
Tu quoque: não se confunde com o venire contra factum
propium e consiste na vedação que a parte tem de exigir
algo que ela também foi inadimplente.
Duty to mitigaty the loss: é necessário que o credor
atue, levando-se em conta as circunstâncias, para tomar
medidas que diminuam as perdas decorrentes do
inadimplemento.
77
Quando o oblato aceita a proposta, havendo um encontro de
ENTRE PRESENTES vontades, ocorrendo simultaneamente. Não havendo prazo
(INTER PRAESENTES) estipulado, a aceitação deverá ser manifestada imediatamente,
contudo, se houver prazo, deverá ocorrer no termo concedido,
MOMENTO DA caso contrário não será considerada aceita, salvo de forma tácita.
CONCLUSÃO Teoria da agnição ou aceitação/informação, na
ENTRE AUSENTES REGRA subteoria da expedição, ocorrendo com a expedição
(INTER ABSENTES) da aceitação, art. 434);
EXCEÇÃO Teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da
recepção, quando houver convenção das partes.
LOCAL DE A regra é que o negócio jurídico se reputa celebrado no lugar em que foi proposto (art.
435, CC).
CELEBRAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO UNILATERAL Quando apenas um dos contratantes assume obrigações em
face do outro. É o que ocorre na doação pura e simples.
Quando os contratantes são simultânea e reciprocamente
BILATERAL credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e
obrigações para ambos. O contrato bilateral também é conhecido
como sinalagmatico.
Trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes
ONEROSOS sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito
desejado
GRATUITOS (OU Oneram somente uma das partes, proporcionando à outra uma
BENÉFICOS) vantagem, sem qualquer contraprestação
COMUTATIVO (OU Quando as prestações de ambas as partes são conhecidas e
PRÉ-ESTIMADO) guardam relação de equivalência
É aquele em que a prestação de uma das partes (ou de ambas)
ALEATÓRIO não e conhecida com exatidão no momento da celebração do
contrato. Depende de uma alea (incerteza, risco).
NOMINADOS (OU São os contratos que têm previsão e denominação prevista na
TÍPICOS) lei (Código Civil ou Leis especiais).
INOMINADOS (OU São os contratos criados pelas partes, dentro do princípio da
ATÍPICOS) liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo
contratual previsto na lei; não têm tipificação; não têm um nome
com previsão legal.
PARITÁRIOS São aqueles em que ambos os interessados são colocados em
pé de igualdade e podem discutir as cláusulas contratuais, uma a
uma, eliminando os pontos divergentes mediante transigência
mútua.
DE ADESÃO (OU POR São aqueles em que a manifestação de vontade de uma das
ADESÃO) partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra.
78
CONSENSUAIS OU São os contratos que independem de uma forma especial; em
NÃO SOLENES geral se perfazem pelo simples acordo ou consenso das partes.
Podem ser celebrados inclusive de forma verbal.
SOLENES OU São os contratos em que a lei exige uma forma especial. A falta
FORMAIS desta formalidade levará à nulidade do negócio.
REAIS São os que se aperfeiçoam com a entrega da coisa.
PRINCIPAIS São os contratos que existem por si, exercendo sua função e
finalidade independente de outro.
ACESSÓRIOS São aqueles contratos cuja existência supõe a do principal, pois
visam assegurar sua execução.
PESSOAIS
(PERSONALÍSSIMOS São aqueles em que a pessoa do contratante é considerada
OU INTUITU pelo outro como elemento determinante de sua conclusão.
PERSONAE)
IMPESSOAIS São os que a pessoa do contratante é juridicamente indiferente
para a conclusão do negócio.
79
Em princípio, os contratos devem ser cumpridos exatamente
como foram estipulados (pacta sunt servanda). No entanto, a
obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-se,
REVISÃO DOS excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de
CONTRATOS cumprimento a prazo ou em prestações sucessivas, quando uma
das partes vem a ser prejudicada sensivelmente por uma
alteração imprevista da conjuntura econômica. A finalidade é
restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro entre os
contratantes, lastreada na chamada Teoria da Imprevisão.
Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar
ESTIPULAÇÃO EM nem beneficiar a terceiros, atingindo apenas as partes que nele
FAVOR DE TERCEIRO intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse princípio
não é absoluto, podendo favorecer terceiros (nunca criando
obrigações ou prejudicando).
Vícios redibitórios são falhas ou defeitos ocultos existentes na
coisa alienada, objeto de contrato comutativo, que a tornam
imprópria ao uso a que se destinam ou lhe diminuem
VÍCIO REDIBITÓRIO sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se
realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao
adquirente direito para redibir (devolver a coisa defeituosa) ou
para obter abatimento no preço.
É a perda da propriedade de uma coisa para terceiro, em razão
de ato jurídico anterior e em virtude de uma sentença judicial
EVICÇÃO (evincere = ser vencido). A evicção supõe a perda total ou
parcial da coisa, em mão do adquirente, por ordem do Juiz, que
a defere a outrem.
CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS
80
RESOLUÇÃO POR Evento extraordinário e imprevisível, que impossibilita ou
ONEROSIDADE dificulta extremamente o adimplemento do contrato.
EXCESSIVA
RESILIÇÃO Trata-se de um novo contrato em que ambas as partes, de
BILATERAL OU forma consensual, acordam pôr fim ao contrato anterior que
DISTRATO firmaram.
RESILIÇÃO Há contratos que admitem dissolução pela simples declaração
UNILATERAL de vontade de uma das partes (também chamada de
denúncia vazia). Só ocorre excepcionalmente.
MORTE DE UM Como regra, morrendo um dos contratantes, a obrigação se
DOS transmite aos seus herdeiros, até o limite das forças da
CONTRAENTES herança.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
COMPRA E CONCEITO
VENDA Um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
lhe o preço em dinheiro. O contrato não transfere a propriedade da coisa. A propriedade
é transferida pela tradição ou registro. O contrato somente cria a obrigação de uma
transferência da coisa.
ELEMENTOS
Os elementos do contrato de compra e venda são a coisa, o preço e o consenso. Não se
transfere o domínio. Este é transferido pela tradição (bens móveis) ou pelo registro do
título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis).
COISA (res) É o bem corpóreo, material.
CONSENSO As partes devem ser capazes
(consesus) Outorga uxória
Venda de ascendente para descendente
PREÇO É a remuneração da compra e venda, devendo ser expressa em
(pretium) moeda nacional corrente (reais) pelo valor nominal, em razão do
princípio do nominalismo, sob pena de nulidade.
Preço injusto: indício de fraude;
Preço fictício: descaracteriza o contrato para doação;
Preço por cotação (art. 486 e 487):
Preço por arbitramento ou por avaliação:
Preço tabelado e preço médio:
Preço tabelado
Vendas habituais;
Preço médio (juiz);
Preço unilateral (art. 489): é nulo o contrato quando se
81
deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes
VENDA DE COISA COMUM OU VENDA DE BEM INDIVISÍVEL EM CONDOMÍNIO
É um direito de preempção/preferência legal em favor do condômino, seja móvel ou
imóvel, devendo haver igualdade de condições ‘tanto por tanto’. O condômino preterido
pode entrar com ação adjudicatória ou anulatória, inclusive contra terceiros, sendo uma
ação de preferência de natureza real, tem que depositar o preço, com prazo decadencial
de 180 dias, a partir da ciência da venda.
VENDA POR MEDIDA OU POR EXTENSÃO – VENDA AD MENSURAM
No caso de venda de imóveis, pode-se estabelecer que a área do imóvel não é
meramente enunciativa (venda ad corpus - a metragem não é considerada), tratando-se,
desta forma, de um fator determinante do negócio jurídico.
Faltar área: o comprador prejudicado poderá pleitear:
Complementação da área: ação ex empto;
Abatimento no preço: ação quanti minoris;
Resolução + devolução das quantias, com perdas e danos, se houver má-fé:
ação redibitória.
Excesso de área: o vendedor comprovar que tinha motivos para ignorar a variação
dessa área, podendo ingressar em juízo. Assim, o comprador terá duas opções:
Completar o preço;
Devolver o excesso;
CLÁUSULAS ESPECIAIS (PACTOS ADJETOS)
O vendedor de imóvel pode reservar-se o direito de recobra-la
(propriedade resolúvel), no prazo decadencial máximo de 3 anos,
RETROVENDA restituindo o valor recebido, mais as despesas do comprador
autorizadas por escrito pelo vendedor e as realizadas com as
benfeitorias necessárias;
DO DIREITO DE Estipulada a cláusula de preferência, ao comprador compete oferecer
PREFERÊNCIA ao vendedor a coisa, se decidir vendê-la, para que este, usando do se
direito de preferência, decida se a quer. PRAZO: 180 dias, sendo a
coisa móvel; dois anos, se imóvel.
VENDA A O negócio somente se perfaz se o comprador se declarar satisfeito
CONTENTO (condição suspensiva), ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e
não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu
agrado.
O comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa móvel ou
PREEMPÇÃO imóvel, caso for vendê-la a terceiro, para que se exerça o direito de
prelação (preferência) em igualdade de condições.
RESERVA DE O vendedor reserva para si a propriedade do bem até que se realize
DOMÍNIO o pagamento integral do preço.
DOAÇÃO CONCEITO
82
O doador transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o donatário, sem a
presença de qualquer remuneração. Trata-se de ato de mera liberalidade, sendo um
contrato benévolo, unilateral e gratuito (exceções: doação remuneratória e a contemplativa
de casamento).
ELEMENTOS
SUJEITOS Doador e donatário
OBJETO Lícito, possível, determinado e determinável
MÚTUO Além da intenção do doador, de ceder o bem a outro, é necessária a
CONSENTIMENTO aceitação do donatário, podendo ser expressa ou tácita, no caso de
doação pura, e expressa no caso de doação onerosa
O ato será feito por meio de escrito público ou particular, mas
FORMA será permitida a doação verbal, quando a coisa a ser doada se
tratar de bem móvel de pequeno valor.
ESPÉCIES
DOAÇÃO É aquela feita em caráter de retribuição por um serviço prestado
REMUNERATÓRIA pelo donatário, mas cuja prestação não pode ser exigida pelo
último.
DOAÇÃO A doação contemplativa é aquela feita em contemplação a um
CONTEMPLATIVA merecimento do donatário.
OU MERITÓRIA
DOAÇÃO A A doação feita ao nascituro valerá, devendo ser aceita pelo seu
NASCITURO representante legal (pais ou por aquele incumbido de cuidar dos
seus interesses, nesse último caso, com autorização judicial).
DOAÇÃO SOB
FORMA DE É doação de trato sucessivo, em que o doador estipula rendas a
SUBVENÇÃO favor do donatário (art. 545 do CC).
PERIÓDICA
DOAÇÃO EM
CONTEMPLAÇÃO É chamada de doação propter nuptias é em contemplação de
DE CASAMENTO casamento futuro com pessoa certa e determinada.
FUTURO
DOAÇÃO COM É a doação com cláusula de reversão (ou cláusula de retorno), em
CLÁUSULA DE que o doador estipula que os bens doados voltem ao seu
REVERSÃO patrimônio se sobreviver ao donatário (art. 547 do CC).
DOAÇÃO É aquela que conta com a presença de dois ou mais donatários
CONJUNTIVA (art. 551 do CC), presente uma obrigação divisível.
DOAÇÃO A doação de bem móvel de pequeno valor pode ser celebrada
MANUAL verbalmente, desde que seguida da entrega imediata da coisa
(tradição).
83
DOAÇÃO É nula a doação quanto à parte que exceder o limite de que o
INOFICIOSA doador (correspondente a 50% do patrimônio do disponente), no
momento da liberalidade, poderia dispor em testamento;
DOAÇÃO Nula é a doação de todos os bens, sem a reserva do mínimo para
UNIVERSAL a sobrevivência do doador, sendo é vedada expressamente pela lei
(nulidade textual);
DOAÇÃO DO É anulável a doação do cônjuge ao seu cúmplice, desde que
CÔNJUGE proposta ação anulatória pelo outro cônjuge ou pelos seus
ADÚLTERO AO herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a
SEU CÚMPLICE sociedade conjugal.
DOAÇÃO À A lei possibilita a doação a uma pessoa jurídica que ainda não
ENTIDADE exista, condicionando a sua eficácia à regular constituição da
FUTURA entidade, porém, se não estiver constituída no prazo de dois anos
contados da efetuação da doação, caducará essa doação.
REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO (ART. 551, CC)
Trata-se de um direito potestativo a favor do doador, podendo ocorrer de duas formas:
por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo/modo, quando o donatário
incorrer em mora.
INEXECUÇÃO DO Legitimados: doador e herdeiros; prazo prescricional: 10 anos;
ENCARGO
Prazo decadencial de 1 ano. Os legitimados, no caso de ingratidão,
também são os herdeiros ou o doador. No entanto, não cabe
revogação por ingratidão, quando a doação for: onerosa com
encargo já cumprido, remuneratória, em cumprimento de obrigação
INGRATIDÃO DO natural e contemplativa de casamento.
DONATÁRIO Ingratidão seria:
Homicídio doloso (tentado ou consumado),
Ofensa física,
Injúria grave,
Abandono material.
LOCAÇÃO CONCEITO
É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra
(locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não
fungível, mediante certa remuneração (aluguel – art. 565, CC).
REGRAS DO CONTRATO DE LOCAÇÃO
84
O locador só pode exigir uma das seguintes garantias sob pena de nulidade: a)
caução (máximo 03 meses); b) fiança; c) seguro-fiança locatícia; d) cessão fiduciária
de quotas de fundo de investimento.
O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa,
Não cabe sua renúncia do contrato por força do instrumento contratual.
Tratando-se de contrato por prazo determinado, a locação cessará de pleno direito
com o término do prazo estipulado e independentemente de qualquer notificação
ou aviso. Assim, em regra, a possibilidade de denúncia vazia, ou seja, aquela sem
fundamento sem qualquer motivo (art. 573 do CC).
Durante o prazo convencionado não poderá o locador reaver o imóvel alugado; o
locatário poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada.
EMPRÉSTIMO CONCEITO
É o contrato por meio do qual alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente,
obrigando-se este a devolver a mesma coisa ou devolver outra da mesma espécie e
quantidade.
MODALIDADES
Empréstimo de uso em que o bem emprestado deverá ser
COMODATO restituído, não podendo ser fungível ou consumível
(infungível/inconsumível) (uma casa). Não restituindo o bem, o
comodante pode ingressar com ação de reintegração de posse e
cobrar aluguel.
Empréstimo de consumo em que o bem usado, sendo fungível ou
consumível, não poderá ser devolvido e a restituição será em seu
MÚTUO equivalente, por outra coisa da mesma espécie, qualidade e
quantidade (um quilo de feijão). Pode ser gratuito ou oneroso
(feneratício).
PRESTAÇÃO DE CONCEITO
SERVIÇOS Trata-se de negócio jurídico pelo qual alguém (prestador) compromete-se a realizar
uma determinada atividade com conteúdo lícito, no interesse de outrem (tomador),
mediante certa e determinada remuneração.
ELEMENTOS
São elementos do contrato de prestação de serviços: o objetivo, remuneração e prazo,
além dos demais elementos de validade de qualquer negócio jurídico.
OBJETO DO É uma obrigação de fazer lícita intelectual ou braçal.
CONTRATO
REMUNERAÇÃO Trata-se de elemento essencial do contrato de prestação de
(PREÇO OU serviço, pois sem a remuneração, não há prestação de serviço.
SALÁRIO CIVIL)
PRAZO Pode ser celebrado por prazo determinado ou indeterminado.
85
CONTRATUAL Prazos para o aviso prévio:
Aviso deve ter antecedência de 08 dias, se o salário for
mensal ou por período superior (bimestral, semestral,
etc.).
Aviso deve ter antecedência de 04 dias, se o salário for
semanal ou quinzenal.
Aviso deve ter antecedência de 01 dia (véspera), se o
salário for inferior a 07 dias.
Suspensão da contagem do prazo contratual:
Falta culposa: o prazo é suspenso
Falta não culposa (art. 600): o prazo não é suspenso e o
serviço é considerada prestado
TUTELA EXTERNA DO CRÉDITO
O art. 608 do CC determina a eficácia externa do princípio da função social do contrato ao
estabelecer a proteção das partes do aliciamento de outras pessoas, trata-se, na
verdade, uma exceção ao princípio da relatividade dos efeitos.
EMPREITADA CONCEITO
Por meio desse negócio jurídico, uma das partes (empreiteiro ou prestador) obriga-se a
fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada remuneração, a
favor de outrem (dono de obra ou tomador).
MODALIDADES DE EMPREITADA
EMPREITADA SOB É aquela em que o empreiteiro apenas administra as pessoas
ADMINISTRAÇÃO contratadas pelo dono da obra, que também fornece os materiais.
Todos os riscos são de responsabilidade do dono da obra.
EMPREITADA DE É aquela em que o empreiteiro fornece a mão de obra,
MÃO DE OBRA contratando as pessoas que irão executar a obra. Os materiais,
OU DE LAVOR contudo, são fornecidos pelo dono da obra. Nesse caso, todos os
riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono.
É aquela em que o empreiteiro fornece tanto a mão de obra
EMPREITADA quanto os materiais, comprometendo-se a executar a obra inteira,
MISTA OU DE salvo se o dono da obra não estiver em mora de receber. Nesse
LAVOR E caso, o empreiteiro assume obrigação de resultado perante o dono
MATERIAIS da obra. Conforme §1º do art. 610 do CC, a obrigação de fornecer
materiais não pode ser presumida, resultando da lei ou da vontade
das partes.
EMPREITADA SOB
MEDIDA OU AD É aquela em que a remuneração leva em conta o fracionamento
MENSURAM OU da obra (partes ou medidas).
MACHÉSUR DEVIS
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE EMPREITADA
86
De acordo com o art. 618, nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções
consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo
irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.
DEPÓSITO CONCEITO
Uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) um objeto móvel para guardá-
lo, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame.
MODALIDADES
VOLUNTÁRIO Resulta da vontade das partes
MANIFESTAÇÃO Obrigatório
DA VONTADE NECESSÁRIO LEGAL Resulta de lei;
MISERÁVEL Calamidade pública;
QUANTO AO REGULAR Coisa infungível;
OBJETO IRREGULAR Coisa fungível;
DO DEPÓSITO VOLUNTÁRIO OU CONVENCIONAL
Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de um contrato de guarda, sendo o
depositário obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e
diligência que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos
os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante (art. 629 do CC).
DO DEPÓSITO NECESSÁRIO
Conforme conceitua Maria Helena Diniz, “o depósito necessário é aquele que independe
da vontade das partes, por resultar de fatos imprevistos e irremovíveis, que levam o
depositante a efetuá-lo, entregando a guarda de um objeto à pessoa que desconhece, a
fim de subtraí-lo de uma ruína imediata”.
ESPÉCIES DE DEPÓSITO NECESSÁRIO
O desempenho de obrigação decorrente de lei. Essa espécie será
DEPÓSITO LEGAL regida pela disposição da respectiva lei, em caso de silêncio, ou
sendo deficiente a norma, deverão ser aplicadas de forma residual as
regras previstas para o depósito voluntário (art. 648 do CC).
DEPÓSITO Calamidades, inundação, incêndio, naufrágio ou saque, de modo
MISERÁVEL que o depositário é obrigado a se socorrer da primeira pessoa que
(DEPOSITUM aceitar o depósito salvador;
MISERABILE)
Bagagem dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde eles
DEPÓSITO DO estiverem, conforme dispõe o art. 649 do CC. Cessa a
HOSPEDEIRO responsabilidade dos hospedeiros, se estes provarem que os fatos
prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados
(art. 650 do CC).
MANDATO CONCEITO
87
Trata-se de contrato em que alguém (mandatário) recebe de outro (mandante), poderes
para, em seu nome (em nome do mandante), praticar atos ou administrar interesses. O
mandatário age sempre em nome do mandante, havendo um negócio jurídico de
representação.
REGRAS
Trata-se de contrato que somente atribui obrigações ao mandatário, salvo se
disposto de forma contrária, ainda, o mandante assume a posição de credor na
relação obrigacional.
Pode ser gratuito, em caso de mandato civil, ou oneroso, em caso de mandato
mercantil.
O mandato verbal não é admitido para os casos em que o ato deva ser celebrado
por escrito,
O instrumento do mandato escrito é a procuração.
O mandato pode ser legal, judicial ou convencional (ad judicia ou ad negotia).
Substabelecer uma procuração significa conferir a terceira pessoa os poderes que
recebeu do mandante.
SEGURO CONCEITO
Trata-se de contrato em que uma das partes (segurador) se obriga perante outra
(segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo
relativo a pessoa ou coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros,
previstos no contrato.
REGRAS DO CONTRATO DE SEGURO
São sujeitos do contrato de seguro o segurado e a seguradora, apenas podendo
ser, neste caso, uma entidade legalmente autorizada para tal fim
A prova do contrato de seguro ocorre por meio da apresentação da apólice ou
bilhete do seguro, conforme dispõe o art. 758 do CC), contudo, em falta, o
contrato pode ser provado por comprovante de pagamento do respectivo prêmio.
Cosseguro, previsto no art. 761 do CC, ocorre quando os riscos de um seguro
direto são assumidos por várias seguradoras.
É expressamente vedado o golpe do seguro, ao prever, no art. 762 do CC que o
contrato será nulo para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado,
do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.
Quanto à mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a
resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva
Que tanto segurado quanto o segurador são obrigados a guardar na conclusão e
na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade,
Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do
prêmio, perderá o direito à garantia
No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado quaisquer
defesas que tenha contra o estipulante, por descumprimento das normas de
88
conclusão do contrato, ou de pagamento do prêmio, conforme dispõe o art. 767
do CC.
ESPÉCIES
SEGURO DE Conforme conceitua Flávio Tartuce, trata-se de contrato de
DANO conteúdo indenizatório, restrita a indenização ao valor de
interesse do segurado no momento do sinistro, relacionado a uma
coisa.
Trata-se de contrato de seguro que visa proteger a pessoa, contra
SEGURO DE os riscos de morte. Assim, conforme dispõe o art. 789 do CC, nos
PESSOA seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo
proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo
interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.
FIANÇA CONCEITO
Trata-se, assim, de uma promessa feita por uma ou mais pessoas de garantir ou
satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor
seu efetivo cumprimento.
REGRAS DA FIANÇA
As dívidas atuais ou presentes e também as dívidas futuras podem ser objeto de
fiança, neste último caso, o fiador não será demandado senão depois que se fizer
certa e líquida a dívida do devedor principal.
A fiança ainda pode ser total ou parcial,
A regra é que a fiança seja total, ilimitada ou indefinida,
Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a
aceitá-lo se não for pessoa idônea,
A relação jurídica entre fiador e devedor é apenas subsidiária, já que o fiador
possui o benefício de ordem ou de excussão.
Renúncia deste benefício
Renúncia expressa:
Está na obrigação como principal pagador ou devedor solidário;
Devedor insolvente ou falido;
Entre fiadores há solidariedade passiva legal, contudo, conforme dispõe o art. 829
e art. 830 do CC, os fiadores podem convencionar o benefício de divisão,
respondendo cada fiador por uma parte da dívida (divisão pro rata)
EXTINÇÃO DA FIANÇA
EXONERAÇÃO É uma forma de resilição unilateral, só cabendo na fiança sem prazo
UNILATERAL PELO determinado, demando prévia notificação judicial/extrajudicial do
FIADOR credor,
MORTE DO Já que a fiança é um contrato personalíssimo baseado na
FIADOR confiança.
89
NAS HIPÓTESES
DE VENCIMENTO Novação, prescrição e dação em pagamento.
OU EXTINÇÃO DA
OBRIGAÇÃO
PRINCIPAL
CONCESSÃO DE
MORATÓRIA AO A fiança não admite interpretação extensiva
DEVEDOR
PRINCIPAL, SEM A
PARTICIPAÇÃO
DO FIADOR
FOR IMPOSSÍVEL
A SUB-ROGAÇÃO Se ocorrer por fato do credor
NOS SEUS
DIREITOS OU
PREFERÊNCIAS
RETARDO DA
EXECUÇÃO PELO Conforme o art. 839, se for invocado o benefício da excussão e o
CREDOR CONTRA devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará
O DEVEDOR E exonerado o fiador que o invocou
ESTE ÚLTIMO
CAIR EM
INSOLVÊNCIA
90
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
FCC – 2019 – TJ/PA: Considerando os entendimentos firmados em enunciados sumulares do
STJ acerca de contratos e responsabilidade civil, assinale a opção correta.
Comentário:
Súmula 380 do STJ – A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a
caracterização da mora do autor.
91
Súmula 620 do STJ – A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento
da indenização prevista em contrato de seguro de vida.
Súmula 420 do STJ – O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos
Questão 2
FCC – 2019 – TJ/PA: Diogo contratou Pedroza para a prestação de serviços de advocacia. No
decurso da execução do contrato, com diversas atividades já realizadas por Pedroza, Diogo
tomou conhecimento de que ele não era advogado e não possuía, portanto, licença para
exercer a referida profissão. Diante dessa situação hipotética, assinale a opção correta, nos
termos do Código Civil.
realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que ele desconhecia a necessidade de especial
C) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que desconhecia a necessidade de especial
92
D) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, para fins de direito à compensação,
o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de
advocacia.
Comentário:
“Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título de habilitação, ou não
satisfaça requisitos outros estabelecidos em lei, não poderá quem os prestou cobrar a
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo, quando a proibição da
Questão 3
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Uma loja de eletrodomésticos assinou um contrato, mediante
instrumento particular, com um posto de combustível para que este fornecesse, todo mês, por
no contrato, sem qualquer ressalva ou reclamação por parte do posto de combustível. Então,
o representante da loja de eletrodomésticos procurou o representante do posto de
combustível e eles, verbalmente, declararam que o contrato estaria desfeito. Entretanto, um
93
ano após o distrato verbal, o posto de combustível ajuizou uma demanda contra a loja de
eletrodomésticos, exigindo-lhe o ressarcimento dos valores proporcionais ao não cumprimento
de metas mínimas de aquisição de combustível, bem como do período após o distrato verbal,
sob o argumento de que o desfazimento do contrato somente poderia ser realizado por
A) como o contrato foi celebrado por escrito, somente poderia ser alterado ou desfeito pela
mesma forma, razão pela qual seriam devidos todos os valores, tendo em vista o
B) somente são devidos os valores posteriores ao distrato verbal que não é válido por não
atender à mesma forma do contrato; em relação ao período em que houve fornecimento de
D) somente são devidos os valores do período de aquisição abaixo dos mínimos previstos no
E) nenhum valor é devido, tendo em vista que incidiu a supressio em razão da concordância
tácita do posto em fornecer combustível em valores abaixo dos contratualmente previstos,
Comentário:
seu direito por longo tempo, de forma que isso gerou a justa expectativa no credor de
que ele continuaria sem exigir esse direito, podendo-se considerar, portanto, que aquela
94
legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. Assim, a supressio é
como se fosse a renúncia tácita a um direito pelo seu não-exercício ao longo do tempo.
Alguns autores apontam o art. 330 do CC como sendo um exemplo de supressio que foi
positivado na lei:
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do
Questão 4
MPE/GO – 2019 – MPE/GO: De acordo com o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva,
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a
ferir o princípio da boa-fé (objetiva)”. (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português
in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56). De acordo com o
D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para
admitir a substantial performance: insignificância do inadimplemento e satisfação do interesse
creditório.
Comentário:
95
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária
em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69. STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min.
Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info
599). Não há previsão, mas é aceita pela jurisprudência. No caso brasileiro, a despeito da
substancial passa por dois filtros. O primeiro deles é objetivo, a partir da medida
econômica do descumprimento, dentro da relação jurídica existente entre os envolvidos.
Questão 5
FCC – 2019 – TJ/AL: Renato emprestou seu automóvel a Paulo. Quinze dias depois, ainda na
posse do veículo, Paulo o comprou de Renato, que realizou a venda sem revelar que o
automóvel possuía grave defeito mecânico, vício oculto que só foi constatado por Paulo na
própria data da alienação. Nesse caso, de acordo com o Código Civil, Paulo tem direito de
96
Comentário:
Nos termos do art. 441, CC, a coisa recebida em virtude de contrato comutativo
(aquisição de um veículo) pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos
Por sua vez, o art. 445, CC dispõe que: “O adquirente decai do direito de obter a
Dessa forma, pode-se concluir o seguinte: o prazo para obter a redibição do contrato é
de 30 dias, porque trata-se de um bem móvel (automóvel). Porém, na data da alienação,
Questão 6
FCC – 2019 – MPE/MT: A compra e venda
B) não admite a fixação do preço em função de índices ou parâmetros, ainda que suscetíveis
E) só pode ter por objeto coisa atual, ficando sem efeito o contrato se tratar-se de coisa
futura, que poderá não existir.
Comentário:
97
De acordo com o art. 496, é anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Em
separação obrigatória.
Questão 7
MPE-SC – 2019 – MPE/SC: Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o suicídio
não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado
Comentário:
De acordo com a Súmula 610, STJ, o suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de
Questão 8
CESPE – 2019 – DPE/DF: Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de
sucessão provisória, perdas e danos e venda com reserva de domínio, julgue o item
Comentário:
De acordo com o art. 522, a cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e
Questão 9
CESPE – 2019 – TJ/SC: A doação de determinado bem a mais de uma pessoa é denominada
A) contemplativa.
B) mista.
C) conjuntiva.
D) divisível.
98
E) híbrida.
Comentário:
expressa a sua admiração pelo beneficiário. Desse modo, poderá o doador anunciar que
a doação decorre de um fato certo e específico [...] Não caracteriza uma contrapartida,
uma recompensa de serviço prestado". Prevista no art. 540, primeira parte, do CC. (p.
1232)
Doação mista / híbrida: "são hipóteses nas quais, malgrado a intenção de doar seja clara,
o declarante estabelece regras típicas dos negócios jurídicos onerosos. É o exemplo da
compra e venda de um bem a preço vil ou na aquisição de uma coisa por preço bastante
superior ao real. [...] Em casos tais [...] deve-se 'verificar a preponderância do negócio, se
oneroso ou gratuito, levando-se em conta o art. 112 do CC' - isto é, apreciando com
mais vigor a intenção do que o sentido literal da linguagem". (p. 1232)
duas ou mais pessoas (naturais ou jurídicas), sem que o doador, expressamente, ressalve
a parcela do bem doado que incumbirá a cada donatário. Assim, presume-se,
Questão 10
VUNESP – 2019 – TJ/SP: O contrato de fiança é celebrado entre o fiador e o
A) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal
demandado, poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
B) afiançado, sendo gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal demandado, não poderá
compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por terceiro uma
pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
99
C) afiançado, sendo necessariamente gratuito, mas o fiador, se como tal demandado, não
poderá compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por
terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
D) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, e o fiador, se como tal demandado,
não poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado, porque a compensação
exige que duas pessoas sejam, ao mesmo tempo, credoras e devedoras uma da outra.
Comentário:
fiança bancária e seguro fiança, assim, dispõe o art. 371 que “O devedor somente pode
compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida
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GABARITO
Questão 1 - E
Questão 2 - E
Questão 3 - E
Questão 4 - A
Questão 5 - D
Questão 6 - D
Questão 7 - CERTO
Questão 8 - CERTO
Questão 9 - C
Questão 10 - A
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Teoria do Contrato
Contratos em Espécie
Contratos em Espécie
O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado
As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios
por elas cobrados não sofrem as limitações da lei de usura.
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A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento
mercantil.
A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.
No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a
notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.
A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.
O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de indenizar em
razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação.
Súmula 529-STJ:
No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta
e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
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A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.
A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente, é ilícita se não houve a exigência de
exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado.
O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito
do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada.
O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes
ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no
pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.
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JURISPRUDÊNCIA
Teoria do Contrato
REsp 1086989/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 23/02/2010, DJe
05/03/2010).
REsp 1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013. (Info. 507-STJ)
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caso em que esta — após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois comunicar
àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive, a adiantar o
pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito,
abstendo-se de devolver as quantias adiantadas. A responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na
fase preliminar do contrato, é tema oriundo da teoria da culpa in contrahendo, formulada pioneiramente por
Jhering, que influenciou a legislação de diversos países. No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a
respeito do tema, tampouco sobre a cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava, com fundamento
no art. 159 daquele diploma, a importância da tutela da confiança e da necessidade de reparar o dano verificado
no âmbito das tratativas pré-contratuais. Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da
boa-fé (art. 422), da qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de proteção.
Com base nesse regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de danos originados na fase
pré-contratual caso verificadas a ocorrência de consentimento prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à
boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a
ruptura das tratativas e o dano sofrido. Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as
tratativas terem sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter
gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material.
Contratos em Espécie
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/8/2016 (Info 589).
É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da União quando
ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), ainda que
o pacto tenha sido registrado no Cartório competente.
Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de marinha, ele deverá obter
autorização da União, por meio da SPU, pagando o laudêmio e cumprindo outras formalidades exigidas. Somente
assim esta alienação será possível de ser feita validamente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 3/11/2015 (Info 573).
Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato de compra e venda com reserva de domínio, o
vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador, pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel
objeto da avença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.171-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info
593).
Não é possível a estipulação de multa no contrato de honorários para as hipóteses de renúncia ou revogação
unilateral do mandato do advogado, independentemente de motivação, respeitado o direito de recebimento dos
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honorários proporcionais ao serviço prestado. É direito de o advogado renunciar ou da parte revogar o mandato
a qualquer momento e sem necessidade de declinar as razões. Isso porque a relação entre advogado e cliente é
pautada pela confiança, fidúcia, sendo um contrato personalíssimo (intuitu personae). Apesar de o advogado não
poder exigir multa pelo fato de o contratante ter revogado o mandato, ele poderá cobrar o valor dos honorários
advocatícios na proporção dos serviços que já foram prestados. Cláusula penal em contratos advocatícios: I. é
lícita para situações de mora e/ou inadimplemento (ex: multa pelo atraso no pagamento dos honorários). II. não
é permitida para as hipóteses de renúncia ou revogação do mandato (ex: multa pelo fato de o cliente ter
decidido revogar o mandato e constituir outro advogado).
Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD. Quando for realizada a
alienação fiduciária de um veículo, o contrato deverá ser registrado no DETRAN e esta informação constará no
CRV do automóvel. É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório. STF.
Plenário. RE 611639/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/10/2015 (repercussão geral). STF.
O fato de o beneficiário de seguro de vida ter sido reformado pelo Exército em razão de incapacidade total para
sua atividade habitual (serviço militar) não implica, por si só, o direito à percepção de indenização securitária em
seu grau máximo quando a apólice de seguro estipula que esse grau máximo é devido no caso de invalidez total
permanente para qualquer atividade laboral.
Em alienação fiduciária de bem imóvel (Lei nº 9.514/1997), é nula a intimação do devedor para oportunizar a
purgação de mora realizada por meio de carta com aviso de recebimento quando esta for recebida por pessoa
desconhecida e alheia à relação jurídica.
É válida a chamada cláusula de “aluguel dúplice” (ou “13º aluguel”) nos contratos de locação de espaço em
shopping center. Fundamento: princípio da autonomia privada.
O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao
período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a
efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da
permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei nº 8.245/91).
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A Lei nº 8.245/91 prevê que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias
forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles: a) ações de despejo; b) ações de
consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação; c) ações revisionais de aluguel; d) ações
renovatórias de locação. A ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as
férias forenses? Não. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do
momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal
acima mencionado. Em suma, nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis,
os prazos processuais (inclusive para recursos) ficam suspensos durante o recesso forense.
É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento procuratório concedido pelo proprietário
do bem não mencionar o donatário, sendo insuficiente a declaração de poderes gerais na procuração.
A fiança limitada decorre da lei e do contrato, de modo que o fiador não pode ser compelido a pagar valor
superior ao que foi avençado, devendo responder tão somente até o limite da garantia por ele assumida, o que
afasta sua responsabilização em relação aos acessórios da dívida principal e aos honorários advocatícios, que
deverão ser cobrados apenas do devedor afiançado. Por se tratar de contrato benéfico, as disposições relativas à
fiança devem ser interpretadas de forma restritiva (art. 819 do CC), razão pela qual, nos casos em que ela é
limitada (art. 822), a responsabilidade do fiador não pode superar os limites nela indicados.
A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de 3 anos.
Em outras palavras, é de 3 anos o prazo prescricional para que o evicto (que perdeu o bem por evicção)
proponha ação de indenização contra o alienante.
Na ação de despejo por falta de pagamento, o locatário ou o fiador poderão evitar a rescisão da locação
efetuando, no prazo de 15 dias, contado da citação, o pagamento do débito atualizado mediante depósito
judicial (art. 62, II, da Lei nº 8.245/91). A partir de quando começa a ser contado este prazo que o requerido
possui para purgar a mora? O que o art. 62, II, da Lei quer dizer quando fala "contado da citação"? O prazo de
15 dias para purgação da mora deve ser contado a partir da juntada aos autos do mandado de citação ou aviso
de recebimento devidamente cumprido. Não cabimento de purgação complementar da mora caso os valores
tenham sido contestados pelo locatário A contestação de parte do débito na ação de despejo por falta de
pagamento é incompatível com a intimação do locatário para fins de complementação do depósito em relação
às parcelas tidas por ele como indevidas. Não se deve intimar o locatário para efetuar a purgação complementar
da mora (art. 62, III, da Lei nº 8.245/91) se houve manifestação contrária de sua parte, em contestação, quanto à
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intenção de efetuar o pagamento das parcelas não depositadas. Em outras palavras, se o locatário, regularmente
citado, contesta parte da dívida, não cabe a sua intimação para complementar o depósito de emenda da mora e
pagar tais parcelas.
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por
deficiente físico. Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com
aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o
descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.
Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o promover
ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no
art. 204 do CC. Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de
consequência, estará interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da gravitação jurídica (o
acessório segue o principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º A interrupção produzida contra o principal
devedor prejudica o fiador. A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor
afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários Como regra, a interrupção operada contra o
fiador não prejudica o devedor afiançado. Isso porque o principal não segue a sorte do acessório. Existe, no
entanto, uma exceção: a interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar prejudicando o
devedor principal nas hipóteses em que a referida relação for reconhecida como de devedores solidários, ou seja,
caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou devedor solidário. STJ. 4ª
Turma.
O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato social com a transferência
de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a outro descendente.
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ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado
causador do dano.
Não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 (trinta) meses, exigido pelo art. 46 da Lei n. 8.245/1991, é
atingido com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano.
É dever do alienante transmitir ao adquirente o direito sem vícios, de forma que se caracteriza a evicção se existir
um gravame que impede a transferência do bem. Caracteriza-se evicção a inclusão de gravame capaz de impedir
a transferência livre e desembaraçada de veículo objeto de negócio jurídico de compra e venda.
Caso concreto: foi vendido um carro, mas, antes que pudesse ser transferido à adquirente, houve um bloqueio
judicial sobre o veículo. Foi necessário o ajuizamento de embargos de terceiro para liberação do automóvel,
sendo, em seguida, desfeito o negócio. Neste caso, caracterizou-se a evicção, gerando o dever do alienante de
indenizar a adquirente pelos prejuízos sofridos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.713.096-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/02/2018 (Info 621). A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-
se ao prazo prescricional de três anos (STJ. 3ª Turma. REsp 1.577.229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
8/11/2016.
O contratante do seguro de vida em grupo não tem direito à renovação da apólice sem a concordância da
seguradora nem pode exigir a restituição dos prêmios pagos. Não é abusiva a cláusula contratual que prevê a
possibilidade de não renovação automática do seguro de vida em grupo por qualquer dos contratantes, desde
que haja prévia notificação da outra parte.
À exceção dos contratos de seguro de vida individuais, contratados em caráter vitalício ou plurianual, nos quais
há a formação de reserva matemática de benefícios a conceder, as demais modalidades são geridas sob o regime
financeiro de repartição simples, de modo que os prêmios arrecadados do grupo de segurados ao longo do
período de vigência do contrato destinam-se ao pagamento dos sinistros ocorridos naquele período.
Dessa forma, nos contratos de seguro de vida em grupo não há direito à renovação da apólice sem a
concordância da seguradora ou à restituição dos prêmios pagos em contraprestação à cobertura do risco no
período delimitado no contrato.
Vale ressaltar que a seguradora pode decidir não mais renovar o contrato de seguro de vida, mesmo que não
comprove que houve desequilíbrio atuarial-financeiro. Trata-se de um verdadeiro direito potestativo. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.569.627-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/02/2018
110
Informativo 625, STJ.
É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos
praticados pelo segurado em estado de embriaguez. Tal cláusula é abusiva, com base nos arts. 3º, § 2º, e 51, IV,
do CDC. STJ. 2ª Seção. EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª
Região), julgado em 25/04/2018
É juridicamente possível o pedido de alienação judicial de bem imóvel objeto de compromisso de compra e
venda. STJ. 3ª Turma. REsp 1.501.549-Rs, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgado Em 08/05/2018
O falecimento do consignante não extingue a dívida decorrente de contrato de crédito consignado em folha de
pagamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.498.200-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018
Pessoa celebrou contrato de mútuo feneratício com instituição financeira. Por algum motivo (ex: nulidade, ato
ilícito, abusividade etc.) o mutuário ingressou com ação judicial pedindo a resolução do contrato e a restituição
das parcelas pagas. Se esta ação for julgada procedente, o mutuário terá direito de receber os valores pagos
acrescidos de juros remuneratórios no mesmo percentual que era previsto no contrato para ser cobrado pelo
banco mutuante? NÃO. O mutuário que celebrar contrato de mútuo feneratício com a instituição financeira
mutuante, não tem direito de pedir repetição do indébito com os mesmos índices e taxas de encargos previstos
no contrato. Tese aplicável a todo contrato de mútuo feneratício celebrado com instituição financeira mutuante:
“Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato”. STJ. 2ª Seção. REsp 1.552.434-
GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/06/2018 (recurso repetitivo)
A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o direito automático de
receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo imprescindível a realização de perícia
médica para atestar o grau de incapacidade e o correto enquadramento na cobertura contratada. STJ. 2ª Seção.
EREsp 1.508.190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/11/2017
O falecimento do parceiro outorgante não extingue o contrato de parceria rural. Os herdeiros somente poderão
exercer o direito de retomada ao término do contrato e desde que obedeçam às regras do Decreto nº
59.566/1966 quanto ao prazo para notificação e às causas para retomada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.668-MG, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/12/2017
111
Informativo 629, STJ:
A certidão de parcelamento fiscal é suficiente para suprir a exigência prevista no inciso III do art. 71 da Lei nº
8.245/91 (Lei de Locações) para efeito do ajuizamento de ação renovatória de locação empresarial. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.698.814-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/06/2018
É devida a condenação ao pagamento de taxa de ocupação (aluguéis) pelo período em que o comprador
permanece na posse do bem imóvel, no caso de rescisão do contrato de promessa de compra e venda,
independentemente de ter sido o vendedor quem deu causa ao desfazimento do negócio. Ex: João e Pedro
celebraram promessa de compra e venda de um apartamento. Pedro (promitente comprador) estava morando no
imóvel há 6 meses e pagando regularmente as prestações. Ocorre que o contrato foi desfeito por culpa de João.
Todo o valor pago por Pedro deverá ser devolvido, assim como ele terá que ser indenizado pelas benfeitorias
que realizou. Por outro lado, Pedro terá que pagar taxa de ocupação (aluguel) pelos meses em que morou no
apartamento. O fundamento para isso não está na culpa, mas sim na proibição do enriquecimento sem causa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.613.613-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/06/2018
A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação
possa ser oposta ao adquirente. É o que prevê a Lei nº 8.245/91: Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a
locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a
locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver
averbado junto à matrícula do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612- RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 07/08/2018
112
A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora. STJ. 2ª Seção. REsp 1.639.259-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018 (recurso repetitivo)
ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! Ainda que contrato preveja a exclusão da cobertura em caso de
embriaguez do segurado e mesmo que o acidente tenha sido causado por essa embriaguez, a seguradora será
obrigada a indenizar a vítima, já que essa cláusula é ineficaz perante terceiros.
No contrato de seguro de automóvel, é lícita a cláusula que exclui a cobertura securitária para o caso de o
acidente de trânsito (sinistro) ter sido causado em decorrência da embriaguez do segurado. No entanto, esta
cláusula é ineficaz perante terceiros (garantia de responsabilidade civil). Isso significa que, mesmo que contrato
preveja a exclusão da cobertura em caso de embriaguez do segurado, a seguradora será obrigada a indenizar a
vítima (terceiro) caso o acidente tenha sido causado pelo segurado embriagado. Em outras palavras, não se pode
invocar essa cláusula contra a vítima. Depois de indenizar a vítima, a seguradora poderá exigir seu direito de
regresso contra o segurado (causador do dano). A garantia de responsabilidade civil não visa apenas proteger o
interesse econômico do segurado tendo, também como objetivo preservar o interesse dos terceiros prejudicados.
O seguro de responsabilidade civil se transmudou após a edição do Código Civil de 2002, de forma que deixou
de ser apenas uma forma de reembolsar as indenizações pagas pelo segurado e passou a ser também um meio
de proteção das vítimas, prestigiando, assim, a sua função social. É inidônea a exclusão da cobertura de
responsabilidade civil no seguro de automóvel quando o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que
somente prejudicaria a vítima já penalizada, o que esvaziaria a finalidade e a função social dessa garantia, de
proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à indenização, ao lado da proteção patrimonial do segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.247-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD pode definir critérios diferenciados para distribuição de
valores de direitos autorais de acordo com os diversos tipos de exibição de músicas inseridos no contexto de
obras audiovisuais, como nas chamadas músicas de fundo (background). STJ. 3ª Turma. REsp 1331103/RJ, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2013. STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.227-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 27/11/2018
A seguradora não pode recusar a contratação de seguro a quem se disponha a pronto pagamento se a
justificativa se basear unicamente na restrição financeira do consumidor junto a órgãos de proteção ao crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.594.024-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018
É abusiva a exclusão do seguro de acidentes pessoais em contrato de adesão para as hipóteses de:
113
a) gravidez, parto ou aborto e suas consequências;
É devida a comissão de corretagem ainda que o resultado útil da intermediação imobiliária seja negócio de
natureza diversa da inicialmente contratada. Ex: corretor foi contratado para procurar um interessado em comprar
o terreno; encontrou um interessado em fazer um contrato de parceria para loteamento urbano; o contrato de
parceria foi celebrado; mesmo o terreno não tendo sido vendido, o corretor deverá receber a comissão por ter
aproximado as partes, gerando um ganho para o seu contratante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.765.004-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/11/2018
A Lei nº 10.209/2001 estabelece que a empresa que contratar uma empresa de transporte rodoviário deverá
pagar, de forma antecipada e separada, os valores que o transportador terá que arcar com os pedágios nas
estradas. Esse pagamento é chamado de Vale-Pedágio. O art. 8º da Lei prevê que o embarcador/contratante que
não pagar ao transportador o valor do pedágio estará sujeito a uma multa equivalente ao dobro do valor do
frete. Essa multa é conhecida como “dobra do frete”. A obrigação de pagamento antecipado do Vale-Pedágio
previsto pela Lei nº 10.209/2001 é norma cogente que não admite o instituto da supressio. Isso significa que,
mesmo que o transportador não tenha cobrado o pagamento antecipado do pedágio durante longo período, ele
não perde o direito de exigir essa quantia. Além disso, a dobra do frete (art. 8º da Lei nº 10.209/2001) é uma
sanção legal, de caráter especial, razão pela qual não é possível a convenção das partes para lhe alterar o
conteúdo e também não é possível a sua redução com base no art. 412 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.694.324-SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/11/2018.
O credor fiduciário, no contrato de alienação fiduciária de bem imóvel, tem responsabilidade pelo pagamento das
despesas condominiais deixadas pelo devedor fiduciante? NÃO. • A responsabilidade pelo pagamento das
despesas condominiais recai sobre o devedor fiduciante enquanto estiver na posse direta do imóvel. • O credor
fiduciário somente responde pelas dívidas condominiais incidentes sobre o imóvel se consolidar a propriedade
para si, tornando-se o possuidor direto do bem. Assim, a responsabilidade do credor fiduciário pelo pagamento
das despesas condominiais dá-se quando da consolidação de sua propriedade plena quanto ao bem dado em
garantia, ou seja, quando de sua imissão na posse do imóvel. É o que prevê o § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97:
§ 8º Responde o fiduciante pelo pagamento dos impostos, taxas, contribuições condominiais e quaisquer outros
encargos que recaiam ou venham a recair sobre o imóvel, cuja posse tenha sido transferida para o fiduciário, nos
114
termos deste artigo, até a data em que o fiduciário vier a ser imitido na posse. STJ. 3ª Turma. REsp 1696038/SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/08/2018. STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.735-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 13/11/2018.
O incorporador só se acha habilitado a negociar unidades autônomas do empreendimento imobiliário depois que
registrar, no Registro de Imóveis, os documentos elencados no art. 32 da Lei nº 4.591/64. Descumprida essa
exigência legal, impõe-se a aplicação da multa do art. 35, § 5º, da mesma lei. É decenal o prazo prescricional
aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º, da
Lei nº 4.591/64. Fundamento: art. 205 do Código Civil. Não se aplica o art. 27 do CDC porque este dispositivo é
restrito às ações que busquem a reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço e essa situação
não se enquadra como fato do produto ou serviço (não se trata de acidente de consumo). STJ. 3ª Turma. REsp
1497254-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/09/2018
Uma fábrica e um banco celebraram dois contratos: • ajuste 1: contrato de abertura de crédito (no qual havia
uma cláusula compromissória). • ajuste 2: contrato de swap (no qual não havia cláusula compromissória). Foi
reconhecido que havia coligação contratual entre os dois ajustes, sendo o contrato de swap dependente do
contrato de abertura de crédito (ajuste principal). Nos contratos coligados, as partes celebram uma pluralidade de
negócios jurídicos tendo por desiderato um conjunto econômico, criando entre eles efetiva dependência. Tendo
sido reconhecida a coligação contratual, é possível que a cláusula compromissória prevista no contrato principal
(contrato de abertura de crédito) seja estendida ao contrato de swap (dependente). Isso porque ambos são
integrantes de uma operação econômica única. STJ. 3ª Turma. REsp 1.639.035-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 18/09/2018
O art. 1.911 do Código Civil estabelece: Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de
liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. A interpretação deste art. 1.911 nos permite chegar
a quatro conclusões: a) há possibilidade de imposição autônoma das cláusulas de inalienabilidade,
impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério do doador/instituidor. Em outras palavras, o doador/instituidor
pode impor só uma, só duas ou as três cláusulas. b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-
se, ex vi lege (por força de lei), automaticamente, a impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Assim, se tiver
sido imposta cláusula de inalienabilidade ao imóvel, isso significa que ele, obrigatoriamente, será também
impenhorável e incomunicável. c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não
gera a presunção da inalienabilidade. A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em
ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade. d) a instituição autônoma da
115
impenhorabilidade, por si só, não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa. STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.547-
MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/11/2018
A garantia de responsabilidade civil não visa apenas proteger o interesse econômico do segurado tendo, também
como objetivo preservar o interesse dos terceiros prejudicados. O seguro de responsabilidade civil se transmudou
após a edição do Código Civil de 2002, de forma que deixou de ser apenas uma forma de reembolsar as
indenizações pagas pelo segurado e passou a ser também um meio de proteção das vítimas, prestigiando, assim,
a sua função social. É inidônea a exclusão da cobertura de responsabilidade civil no seguro de automóvel quando
o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que somente prejudicaria a vítima já penalizada, o que
esvaziaria a finalidade e a função social dessa garantia, de proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à
indenização, ao lado da proteção patrimonial do segurado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.247-SC, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018
É abusiva a exclusão do seguro de acidentes pessoais em contrato de adesão para as hipóteses de: a) gravidez,
parto ou aborto e suas consequências; b) perturbações e intoxicações alimentares de qualquer espécie; e c) todas
as intercorrências ou complicações consequentes da realização de exames, tratamentos clínicos ou cirúrgicos. STJ.
3ª Turma. REsp 1.635.238-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018
SFH. Em ação de execução hipotecária, o credor hipotecário pode requerer a adjudicação do imóvel penhorado
pelo valor constante do laudo de avaliação, independentemente da realização de hasta pública. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.721.731-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/11/2018
MANDATO. O advogado substabelecente somente irá responder por ato ilícito cometido pelo advogado
substabelecido se ficar evidenciado que, no momento da escolha, a despeito de possuir inequívoca ciência acerca
da inidoneidade do aludido causídico, ainda assim o elegeu para o desempenho do mandato. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.742.246-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/03/2019
CONSÓRCIO. A beneficiária do consorciado falecido tem direito à liberação imediata da carta de crédito, em
razão da quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista contratado, independentemente da efetiva
contemplação ou do encerramento do grupo. João celebrou com a “Itaú Consórcios” contrato de participação em
grupo de consórcio destinado à aquisição de um automóvel. Neste contrato, havia uma cláusula prevendo seguro
de vida e proteção financeira, ou seja, um seguro prestamista com cobertura para o risco de morte. Isso significa
116
que havia uma espécie de seguro de vida como pacto acessório ao contrato de consórcio. Por meio deste seguro
prestamista, a administradora do consórcio afirmou o seguinte: se o contratante falecer antes de quitar todas as
parcelas do consórcio, a contratada (Itaú Consórcios) irá quitar o saldo devedor relativo à cota do consorciado
falecido. Antes do fim do consórcio, João faleceu. Ocorre que a administradora do consórcio recusou-se a fazer a
liberação imediata da carta de crédito dizendo que o herdeiro de João teria que aguardar ser sorteado ou
esperar terminar o consórcio. O STJ não concordou com a postura da administradora e disse que a liberação,
nestes casos, deve ser imediata, não havendo lógica em se aguardar, considerando que já houve a liquidação
antecipada da dívida pela seguradora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.358-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/03/2019 (Info 644). STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/11/2016.
CONTRATO DE LOCAÇÃO. Não são exigíveis aluguéis no período compreendido entre o incêndio que destruiu
imóvel objeto de locação comercial e a efetiva entrega das chaves pelo locatário. Assim, extinta a propriedade
pelo perecimento do bem, também se extingue, a partir desse momento, a possibilidade de usar, fruir e gozar
desse mesmo bem, o que inviabiliza, por conseguinte, a manutenção do contrato de locação, já que o locatório
não terá como realizar a exploração econômica dessas faculdades da propriedade.
CONTRATO DE LOCAÇÃO. Notificado o locador ainda no período determinado da locação acerca da pretensão
de exoneração dos fiadores, os efeitos desta exoneração somente serão produzidos após o prazo de 120 dias da
data em que se tornou indeterminado o contrato de locação
CONTRATO DE DOAÇÃO. A doação remuneratória deve respeitar a legítima dos herdeiros e não pode ser
universal. A doação remuneratória é aquela feita como uma forma de recompensa dada pelo doador pelo serviço
prestado pelo donatário e que, embora quantificável pecuniariamente, não é juridicamente exigível. A doação
A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza fundo de comércio de empresa de telefonia
móvel celular, a conferir-lhe o interesse processual no manejo de ação renovatória fundada no art. 51 da Lei nº
8.245/91. STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.074-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/06/2019.
117
INFO 654, STJ:
O arbitramento do aluguel provisório na ação revisional faz nascer a obrigação do locatário de pagar esse novo
valor e, se não o fizer, tais quantias já poderão ser incluídas na execução que pedia o pagamento de aluguéis
atrasados Na execução de contrato locatício, é possível a inclusão dos aluguéis vencidos no curso do processo
com base em valor fixado provisoriamente em anterior ação revisional.
Em um contrato de cessão de crédito tendo por cessionário Fundo de Investimento em Direitos Creditórios -
FIDC, é válida a previsão contratual de fiança, garantindo os riscos em caso de inadimplência dos devedores. É
válida a celebração de contrato acessório de fiança na cessão de crédito em operação de securitização de
recebíveis, tendo por cessionário um FIDC (Fundo de Investimento em Direito Creditório).
Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de fazer cumulada com reparação de danos
materiais e morais ajuizada por motorista de aplicativo pretendendo a reativação de sua conta UBER para que
possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços. Compete à justiça comum estadual julgar ação de
obrigação de fazer, cumulada com reparação de danos materiais e morais, ajuizada por motorista de aplicativo,
pretendendo a reativação de sua conta UBER para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços. As
ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente permitiram criar uma nova modalidade de interação econômica,
fazendo surgir a economia compartilhada (sharing economy), em que a prestação de serviços por detentores de
veículos particulares é intermediada por aplicativos geridos por empresas de tecnologia. Nesse processo, os
motoristas, executores da atividade, atuam como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a
empresa proprietária da plataforma.
A inércia do locador em exigir o reajuste dos aluguéis por longo período de tempo suprime o direito à cobrança
de valores pretéritos, mas não impede a atualização dos aluguéis a partir da notificação extrajudicial
encaminhada ao locatário. Exemplo: a Alamos Ltda. alugou um imóvel para a Havana Ltda. O valor do aluguel era
de R$ 10.000,00 e o contrato tinha prazo de duração de 20 anos. No pacto havia uma cláusula prevendo reajuste
automático no percentual de 5% a cada ano. Durante 5 anos, a Havana (locatária) pagou, todos os meses, o valor
de R$ 10.000,00, sem qualquer oposição da Alamos (locadora). Em outras palavras, a locadora nunca exigiu o
cumprimento dessa cláusula contratual de reajuste. No dia 02/02/2019, a Alamos enviou uma notificação
extrajudicial para a Havana dizendo que a locatária estava descumprindo o contrato porque estava pagando um
valor de aluguel menor do que deveria. A locadora afirmou que a locatária deveria ter aumentado o valor do
aluguel a cada ano e que, portanto, ela estaria inadimplente. Na notificação, a locadora exigiu que a locatária: 1)
118
pagasse os próximos meses já com o valor reajustado; e 2) pagasse também a diferença dos meses anteriores à
notificação. Em outros termos, a Alamos falou que as parcelas anteriores foram pagas a menor e exigiu a
diferença de todos esses meses. Os pedidos da locadora devem ser acolhidos, segundo o STJ? O pedido 1, sim.
O pedido 2, não. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.278-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/10/2019
(Info 659).
O art. 12 da Lei nº 8.245/91 prevê que “em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução
da união estável, a locação residencial prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro que
permanecer no imóvel.” O § 1º do art. 12 afirma que o locatário sub-rogado deverá notificar o fiador, informando
sobre essa separação, a fim de que o fiador decida se deseja ou não continuar com este encargo. Segundo o §
2º do art. 12, o fiador, depois de ser notificado pelo sub-rogado, poderá, no prazo máximo de 30 dias, informar
ao locador que quer se exonerar das suas responsabilidades. Suponhamos que o locatário sub-rogado não
informou o fiador. O locador, contudo, assumiu esse papel e notificou o fiador, comunicando que houve a sub-
rogação. Mesmo assim o prazo do fiador já começou a correr? O prazo de 30 dias para que o fiador peça a sua
exoneração começou a ser contado a partir dessa notificação feita pelo locador? SIM. O prazo para o fiador
exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sublocação, ainda que a ciência não ocorra pela
comunicação do locatário sub-rogado. Apesar de o art. 12, § 2º, da Lei nº 8.245/91 afirmar que é o locatário
original que deverá fazer a notificação do fiador, é possível a relativização dessa formalidade por meio da
aplicação do princípio da instrumentalidade das formas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.503-ES, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660).
119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
120
Capítulo 5
SUMÁRIO
DIREITO CIVIL, Capítulo 5..........................................................................................................................................3
12.4 Indenização................................................................................................................................................... 10
13.2 Reparação...................................................................................................................................................... 18
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 50
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 51
JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 55
Capítulo 5
O tema da responsabilidade civil encontra-se presente nos artigos 927 a 954 do Código
lesado ou o dano moral sofrido por este desencadeiam uma reação legal. Assim, todo aquele
que causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido. É o
que se infere da leitura do artigo 927 do CC: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
A responsabilidade civil consiste na obrigação que uma pessoa tem de reparar o dano
Sempre que alguém, mediante a prática de ato ilícito, causar dano a outrem, ficará
obrigado a repará-lo. O ato ilícito resulta da ação ou omissão voluntária, negligente ou
imprudente, que viola direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Aquele
Não constituem atos ilícitos os danos causados em virtude de: legítima defesa e
exercício regular de um direito ou quando há destruição/deterioração de coisa ou lesão à
3
responsabilidade será objetiva, sendo desnecessária a comprovação de culpa do agente para
ser devida a indenização.
Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e
causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de
reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato
ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz efeitos
jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles impostos pela lei.1
Logo, conforme se dispõe o art. 186 do CC, comete ato ilícito “Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Violação
Ato
de um Dano
Ilícito
direito
Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido fora dos
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons
costumes, ou seja, é um ato praticado em exercício irregular ou imoderado de um direito.
1
Flávio Tartuce, p. 468.
4
É assim que prevê o art. 187 do CC. “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
, que devem estar presentes para o seu acontecimento, que são: fim social; fim
Para que o abuso de direito esteja configurado é importante que tal conduta seja
praticada quando a pessoa exceda um direito que possui, atuando em exercício irregular de
direito. Sendo assim, não há que se cogitar o elemento culpa na sua configuração, bastando
que a conduta exceda os parâmetros que constam do art. 187 do CC.
Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente são necessários quatro
5
12.2.1 Conduta
A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o agente, por ação ou
omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. O fato poderá estar
relacionado tanto a ato próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.
Essa conduta humana pode ser causada por uma ação (conduta positiva ou culpa in
respectivamente.
a conduta não foi praticada (omissão específica). Além disso, é necessário ainda a
demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado.
12.2.2 Culpa
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito a um dever
preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. A culpa
stricto sensu no direito civil é relacionada com o modelo de culpa retirado do inciso II do art.
18 do Código penal, podendo acontecer por:
Já o dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever jurídico com o
6
O art. 945 do CC estabelece a culpa concorrente, que se dá quando tanto o agente
quanto a vítima agem com culpa. Nesse caso, a culpa da vítima acaba por diminuir a culpa
do agente. Portanto, quando a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua
própria conduta, é comum a indenização ser concedida pela metade ou em fração diversa,
dependendo da contribuição da vítima. Pois como ambas as partes cooperaram para o evento,
não seria justo que uma só respondesse pelos prejuízos.
que diz respeito ao dever de indenizar, bastando o dano, a autoria e o nexo causal. É o que se
denomina responsabilidade objetiva. Ela encontra-se prevista no art. 927 do CC: “Art. 927.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
Pela leitura desse artigo podemos perceber que são duas as situações que dão ensejo à
7
controlar suas ações. Também neste caso haverá a responsabilidade objetiva do
responsável pelo incapaz;
Anuência da vítima que por ato de vontade interna ou de simples escolha elege
um de seus interesses em detrimento de outro.
12.2.3 Dano
O dano pode ser material (patrimonial) ou moral (extrapatrimonial). Sendo assim, não
pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano. Além disso, também é
imprescindível que exista prova, real e concreta, desta lesão, pois sua comprovação é
necessária.
consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem,
sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável;
A indenização por dano moral encontra respaldo na Constituição Federal em seu art. 5, incisos
V e X.
virtual entre a ação e o dano resultante. A causa do dano deve ser o comportamento do
agente.
8
As principais excludentes de responsabilidade civil são: o estado de necessidade; a legítima
defesa; a culpa exclusiva da vítima; o fato de terceiro; o caso fortuito ou força maior e a
indenização, mas seu direito de crédito apenas se concretiza com a decisão judicial.
Em regra, a obrigação de reparar o dano será individual, mas nem sempre vai ser direta.
pessoal do causador do dano, resultando, portanto, de uma ação direta de uma pessoa ligada
à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso.
criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado e, no entanto, ser obrigado
a reparar o dano civil ou, vendo por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável,
No entanto, art. 935 estabelece duas exceções para esse princípio. No que diz respeito
à existência do fato ou de quem seja o seu autor, se estas questões já estiverem decididas
9
12.4 Indenização
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação do
quantum devido.
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou
lhe diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na
proporção do prejuízo sofrido com a perda do ofício.
que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será
levada em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso do
condenado, em face do verdadeiro causador do dano.
10
13. Modalidades de Responsabilidade Civil e Reparação
Poderá ser:
inobservância da lei, é a lesão a um direito, sem que entre as partes exista qualquer
relação jurídica.
11
Quando se tratar de controvérsia que diga respeito à responsabilidade CONTRATUAL deve-se
aplicar o regramento previsto no artigo 205 do CC (10 anos de prazo prescricional), mas
guarda.
O art. 932 do CC nos apresenta aqueles que são responsáveis por fato de terceiro.
12
I. Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II. O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições; (sob sua autoridade e em sua companhia)
por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos;
reparação civil, juntamente com os agentes públicos que praticaram atos de improbidade
administrativa, as pessoas, inclusive as jurídicas, que para eles concorreram ou deles se
responsáveis pelos atos dos terceiros, ou seja, “ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros”. No entanto, para a configuração da
responsabilidade por atos dos terceiros, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são
responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva
impura2.
O fato de terceiro não exclui a sua responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano
causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz,
2
Vide questão 9 desse material.
13
poderá reaver o que pagou. Esse entendimento decorre do chamado direito de regresso do
responsável contra o culpado.
No caso de prática de ato ilícito por incapaz, se os seus pais não tiverem condições de
arcar com os prejuízos causados pela atividade danosa, este responderá subsidiariamente,
desde que tenha condições financeiras para tanto. Assim, a indenização a ser paga pelo
Importante destacar que a norma prevista no artigo 932, I, determina que os pais
respondam objetivamente pelos danos causados pelos filhos. Atenção à questão, pois, para
chegar ao resultado que conduz à responsabilidade, são dois aspectos a se analisar:
Assim, é correta a frase que diz: os pais respondem objetivamente pelos atos ilícitos
praticados por seus filhos menores, desde que comprovada a culpa no ato. A culpa não está
ligada à responsabilidade dos pais, que é objetiva, mas à comprovação do ato ilícito.
Comprovado este, os pais responderão independentemente de culpa.
Ainda, com relação ao que determina o inciso I, do artigo 932, há jurisprudência que
busca identificar o termo “sob sua autoridade e em sua companhia”. Assim, nas palavras de
Márcio André, segundo o STJ:
A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de
terceiro) é objetiva, nos termos do artigo 932, I do CC, devendo-se comprovar apenas a
culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual os pais são responsáveis legalmente.
Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua
autoridade e em sua companhia; assim, os pais ou responsáveis, que não exercem
autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não
respondem por ele.
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade,
residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor – sobre
quem apenas o pai exercia autoridade de fato – não pode ser responsabilizada pela
14
reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter
o poder familiar.3
Diante do exposto, para que um dos pais compartilhe a responsabilidade com o outro,
não basta que detenha o poder familiar, sendo indispensável que tenha condições
permanentes de controle sob os atos do filho. O caso, todavia, merece atenção especial,
para que o candidato não se confunda na prova. No caso julgado, a mãe residia
permanentemente em município distinto do de seu filho, que morava com o pai.
Isto é importante, uma vez que a justificativa de não estar presente no momento do ato
Por fim, sobre o incapaz, ainda vale apresentar decisão interessante do STJ sobre a
tenha detrimento anímico de entender o caráter ilícito da conduta. O dano moral é a ofensa
ao direito de personalidade, sendo o sofrimento, a dor, consequência deste ato, mas não
O art. 936 do CC estabelece a responsabilidade pelo fato do animal: “Art. 936. O dono,
ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior”.
o dono e o adestrador, no caso do animal está na posse do preposto do dono e este atacar
um terceiro, pela aplicação conjunta dos arts. 932, III, 933, 936 e 942, parágrafo único, do CC.
3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017 -
Página: 238.
4
REsp. 1.245.550 - MG
5
Vide questão 6 desse material.
15
Esclareça-se que a responsabilidade do preposto é objetiva por fato do animal (art. 936),
enquanto a do dono é objetiva indireta, desde que comprovada a culpa do seu preposto (arts.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua
Tal artigo é claro ao estabelecer que o responsável será o habitante, não o proprietário. Se
causou o dano.
17
Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito
gratuitamente, por amizade ou cortesia.
será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo
ou culpa grave”. Nesse caso, não é aplicável a responsabilidade objetiva do transportador
para aquele que deu carona, só respondendo no caso de dolo ou culpa grave. Trata-se de
responsabilidade subjetiva.
pelo total da dívida, ou seja, permite que o titular do crédito possa exigir de qualquer deles o
que lhe é devido e instaura o direito de reembolso do devedor, que, demandado pelo débito
13.2 Reparação
a terceiros. A responsabilidade deverá ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos,
de modo que todos os bens do devedor, com exceção dos inalienáveis, respondam pelo
ressarcimento.
Como é notório, para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou
dolo na conduta é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado
18
por alguém. Em regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova
ao autor da demanda, aplicação do art. 373, I, do CPC.
poderá demandar o espólio até onde este alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos
seus sucessores. Ou seja, os herdeiros responderão até os montantes deixados como herança.
Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do
prejuízo, porém, atualmente, se tem admitido que a indenização possa ser reclamada pelos
Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945 do CC deverá o
acontecimentos exteriores ao fato prejudicial (visto que a responsabilidade civil requer nexo de
causalidade entre o dano e a ação que o produziu); a possibilidade de lucro obtido pela vítima
com a reparação do dano.
19
13.2.1 Danos Patrimoniais ou Materiais
patrimônio corpóreo de alguém. Pelo que consta dos arts. 186 e 403 do CC, não cabe
reparação de dano hipotético ou eventual, necessitando tais danos de prova efetiva, em regra.
Nos termos do art. 402 do CC, os danos materiais podem ser assim subclassificados:
de trânsito. Como outro exemplo, a regra do art. 948, I, do CC, para os casos de
homicídio, devendo os familiares da vítima serem reembolsados pelo pagamento
das despesas com o tratamento do morto, seu funeral e o luto da família.
deixou de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes
de acordo com a tabela fornecida pelo sindicato da classe e o tempo de
requer a determinação de um preço para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para
atenuar, em parte, as consequências do prejuízo imaterial, o que traz o conceito de lenitivo,
derivativo ou sucedâneo. Por isso é que se utiliza a expressão reparação e não ressarcimento
para os danos morais.
Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo patrimonial
20
Súmula 37 do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos
do mesmo fato.
É sim possível a ocorrência de dano moral para a pessoa jurídica, pois se aplica à
pessoa jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade,
o dano moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da
honra, sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade.
Pessoa jurídica tem de comprovar dano moral para receber indenização (ou seja, não é dano
in re ipsa, ao contrário do que se tem entendido para pessoas naturais): “1. A pessoa jurídica
pode sofrer dano moral desde que haja ferimento à sua honra objetiva, ao conceito de que
goza no meio social. 2. O mero corte no fornecimento de energia elétrica não é, a principio,
motivo para condenação da empresa concessionária em danos morais, exigindo-se, para tanto,
Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela
jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial. Basta à pessoa ter
21
sofrido uma “transformação” para que o referido dano esteja caracterizado. Tais danos, em
regra, estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou
profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões,
amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana. Esse dano,
nos casos em questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o dano moral
objetivo.
São os danos que tem origem francesa, segundo a qual são reparáveis os prejuízos
que decorrem da frustração de uma expectativa, que possivelmente se concretizaria em
circunstâncias normais. Não é qualquer chance que é reparável. A chance tem que ser séria e
real. 6Segundo, Sérgio Savi ela é assim considerada quando tem mais de 50% de chance de
acontecer.
Enunciado 444: Art. 927. A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à
categoria de danos extrapatrimoniais (CATEGORIA AUTÔNOMA), pois, conforme as
circunstâncias do caso concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza jurídica
de dano patrimonial. A chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais
apriorísticos.
Assim, ela é aplicada pelo STJ7, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano
pessoais de concorrer à situação futura esperada. (AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma,
julgado em 17/03/2011).
6
Vide questão 10 desse material.
7
https://www.dizerodireito.com.br/2013/07/teoria-da-perda-de-uma-chance.html
22
emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e
outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa
que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. (STJ. 4ª
Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010).
Casos:
A jurisprudência tem condenado advogados que perdem prazos de seus
clientes por perda da chance de uma vitória judicial. STJ. Crítica = isso
transforma a obrigação do advogado em obrigação de resultado.
Atuação médica. STJ Resp. 1.254.141/PR.
Show do milhão. STJ Resp 788.459/BA.
Indenização: a indenização será medida pela extensão do dano causado, mas, se a
vítima tiver concorrido para o resultado causado, a medida de sua culpa será levada
em consideração para a fixação do quantum devido;
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou lhe
diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na proporção
do prejuízo sofrido com a perda do ofício.
23
ambiente. Já a 3º Turma Superior Tribunal de Justiça, admitiu a existência de danos morais
coletivos, prolatado no famoso caso das pílulas de farinha.
ambiental, que é objetiva e deriva de previsão legal, fundada na teoria do risco, necessita
para sua caracterização apenas de dois elementos, que são a ocorrência de evento danoso e
do nexo de causalidade. Não importa para o Direito Ambiental que o dano tenha origem em
uma atividade lícita, ainda que esta tenha se constituído sob a égide da regulamentação
estatal, pois não seria justo para com a sociedade que a regulamentação da exploração da
atividade fosse entendida como uma licença para poluir e degradar livremente.8
São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio
O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais.
Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são
apenas extrapatrimoniais.
8
Vide questão 2 desse material.
24
13.3 Excludente de Responsabilidade
De acordo com o art. 188, I, do CC, não constituem atos ilícitos os praticados em
legítima defesa. Trata-se de importante excludente do dever de indenizar, da ilicitude, com
Podemos utilizar o Código Penal, no seu art. 25, para conceituar a legítima defesa:
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
Para a configuração da legítima defesa cabe análise caso a caso, sendo certo que o
agente não pode atuar além do indispensável para afastar o dano ou a iminência de prejuízo
Já legítima defesa putativa ocorre quando o agente imagina que está defendendo
um direito seu, o que não ocorre realmente no plano fático. A pessoa imagina um perigo
que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não exclui o dever de
indenizar.
Prescreve o art. 188, II, do atual Código que não constitui ato ilícito a deterioração ou
destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes
a acontecer.
25
Se no atuar em estado de necessidade o agente atingir terceiro inocente (que não tiver
sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o causador do
O art. 188, I, do CC, enuncia que não constitui ato ilícito o praticado no exercício
ambas as partes;
Culpa ou fato exclusivo de terceiro;
A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela qual a parte exclui
totalmente a sua responsabilidade. Essa cláusula é também denominada cláusula de
Segundo Flávio Tartuce10, a malfadada cláusula de não indenizar tem aplicação bem
restrita, que são:
9
Vide questão 1 desse material.
10
Flávio Tartuce, p. 565-567.
26
A cláusula de não indenizar somente vale para os casos de responsabilidade contratual,
uma vez que a responsabilidade extracontratual, por ato ilícito, envolve ordem pública. A
título de exemplo, não tem qualquer validade jurídica uma placa colocada em condomínio
edilício, estabelecendo que “O condomínio não se responsabiliza pelos objetos lançados ou
que caírem das unidades”. Isso porque a responsabilidade civil prevista pelo art. 938 do
Código Civil, supostamente afastada pelo aviso, é extracontratual;
A cláusula também não incide nos casos em que houver conduta dolosa do agente ou na
presença de atos criminosos da parte, igualmente pela motivação na ordem pública;
Também fica em xeque a sua estipulação para a limitação ou exclusão de danos morais,
que envolvem lesões a direitos da personalidade, tidos como irrenunciáveis, em regra, pela
lei (art. 11 do CC);
A cláusula de irresponsabilidade é nula quando inserida em contrato de consumo, o que
está expresso no art. 25 e no art. 51, I, da Lei 8.078/1990;
A citada cláusula é nula nos contratos de adesão, aplicação do art. 424 do CC, “Nos
contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente
a direito resultante da natureza do negócio”;
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte (art. 734 do CC e Súmula 161
do STF);
A cláusula de não indenizar não tem validade e eficácia nos contratos de guarda em geral
em que a segurança é buscada pelo contratante, constituindo a causa contratual.
27
14. Casos jurisprudenciais importantes
Súmula 491 STF: é indenizável o acidente que cause morte do filho menor, ainda que
Nestes casos, de acordo com o STJ, os valores da pensão mensal indenizatória devida
aos pais pela morte do filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário
mínimo, dos 14 até os 25 anos de idade da vítima, reduzindo, então, para 1/3 até a data em
que o de cujos completaria 65 anos. 11
que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será
levada em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso do
condenado, em face do verdadeiro causador do dano. Sobre o tema:
Vale ressaltar, no entanto, que o valor desta indenização deverá ser fixado com
proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores abusivos (desproporcionais) para
alguém que estava agindo de forma lícita. 12
11
REsp. 1.279.173 - SP
12
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017
Página 938.
28
ESTACIONAMENTO PRIVADO Responde pelo FURTO
ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE
FURTO E ROUBO
CONSUMO
VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO
FORNECEDOR
SITUAÇÃO EXPLICAÇÃO
RESPONDE?
O roubo ou furto praticado contra
instituição financeira e que atinge o cofre
Furto ou roubo no cofre do locado ao cliente constitui risco assumido
banco que estava locado pelo banco, sendo algo próprio da
SIM
para guardar bens de atividade empresarial, configurando, assim,
cliente. hipótese de fortuito interno, que não
exclui o dever de indenizar (REsp
1250997/SP, DJe 14/02/2013).
Há responsabilidade objetiva do banco em
Cliente roubado no interior razão do risco inerente à atividade
SIM
da agência bancária. bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14,
CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009).
13
Ibidem.
29
Tanto o banco como a empresa de
estacionamento tem responsabilidade civil,
considerando que, ao oferecerem tal
serviço especificamente aos clientes do
Roubo ocorrido no
banco, assumiram o dever de segurança
estacionamento privado
em relação ao público em geral (Lei
que é oferecido pelo banco
SIM 7.102/1983), dever este que não pode ser
aos seus clientes e
afastado por fato doloso de terceiro. Logo,
administrado por uma
não se admite a alegação de caso fortuito
empresa privada.
ou força maior já que a ocorrência de tais
eventos são previsíveis na atividade
bancária (AgRg nos EDcl no REsp
844.186/RS, DJe 29/06/2012).
30
Tratando-se de postos de combustíveis, a
ocorrência de roubo praticado contra
clientes não pode ser enquadrado, em
regra, como um evento que esteja no rol
Cliente roubado no posto
de responsabilidades do empresário para
de gasolina enquanto NÃO
com os clientes, sendo essa situação um
abastecia seu veículo.
exemplo de caso fortuito externo,
ensejando-se, por conseguinte, a exclusão
da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe
10/05/2012).
31
A ocorrência de roubo não constitui causa
Furto ou roubo ocorrido em excludente de responsabilidade civil nos
veículo sob a guarda de casos em que a garantia de segurança
SIM
vallet parking localizado física e patrimonial do consumidor é
dentro do shopping center. inerente ao serviço prestado pelo
estabelecimento comercial.
32
QUADRO SINÓTICO
INDENIZAÇÃO É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
33
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação
do quantum devido.
34
PELO FATO O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano
DO ANIMAL por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior”. Nesse caso, o dono responderá de
maneira objetiva.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos
PELO FATO danos causados pelos produtos postos em
DA COISA circulação. (responsabilidade objetiva).
Art. 937. O dono de edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua ruína,
se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade
fosse manifesta.
35
DANOS É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais
MORAIS homogêneos e coletivos em sentido estrito, e as vítimas são
COLETIVOS determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser
destinada para elas, as vítimas.
DANO São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
SOCIAIS OU rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito
DIFUSOS da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.
36
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça: Em uma pequena comunidade, Alírio, ali residente,
soltou, em plena época de festejos juninos, um balão que caiu sobre a casa de Antônio,
incendiando-a por completo. Entre as casas de Antônio e de João, ficava a de Pedro, que foi
alcançada pelo fogo. João, para evitar o alastramento das chamas e o eventual acometimento
da morada de sua família, derrubou, a machadadas, a porta da casa de Pedro e, ali dentro,
conseguiu debelar o incêndio e evitou maiores prejuízos, removendo perigo iminente. Restou
constatado que, pelas circunstancias, a conduta de João foi necessária e não excedeu os
limites do indispensável para a remoção do perigo. Diante de tal cenário, com relação aos
estragos ocasionados à porta da casa de Pedro, este:
A) poderá obter indenização de João, apesar de este não ter praticado ato ilícito, ou de Alírio,
C) não fará jus à indenização de João, pois este agiu em estado de necessidade, nem à
indenização de Antônio;
Comentário:
O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do,
CC. No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a
vítima quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo (art.
929). Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade,
37
deverá indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo
que pagou (art. 930). Vale ressaltar, no entanto, que o valor desta indenização deverá ser
Questão 2
FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - MPE-MG - Promotor de Justiça Substituto: O
atual Código Civil impõe a necessidade de reparação do dano causado por ato ilícito, inclusive
com a obrigação de reparação do prejuízo, independentemente de culpa, nos casos
especificados pela lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Trata-se da chamada teoria do
risco, criada, principalmente, por juristas franceses no final do século XX, que deu caráter
objetivo à responsabilidade civil, pelo qual “todo o prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido com culpa."
(CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2009. p. 136).
sendo muito próximas afetivamente à vítima, são atingidas indiretamente pelo evento danoso,
reconhecendo-se, em tais casos, o chamado dano moral reflexo ou em ricochete.
B) O incapaz poderá ser demandado pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
caso de má-fé, a reparação civil pode incluir a obrigação de fazer ou não fazer, cumulada com
a de indenizar.
38
D) A responsabilidade civil consumerista é, por via de regra, de caráter objetivo, ressalvada a
responsabilidade pessoal dos profissionais liberais, tendo o consumidor o direito de reclamar
por vícios aparentes ou de fácil constatação em prazos fatais, os quais são obstados pela
reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos
e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca, e pela instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
Comentário:
Dano moral reflexo ou em ricochete é aquele que atinge além da vítima direta, uma
terceira pessoa. Ex: filho que sofre danos devido a morte do pai.
Letra B - Art. 928, CC - O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes.
Letra C - A existência de uma atividade que possa gerar risco para a saúde e o meio
ambiente é suficiente para a configuração da responsabilidade, independentemente da
39
Art.14, § 4° - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante
a verificação de culpa.
Questão 3
VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto: Maria, grávida de 9 meses, juntamente
com seu esposo José, estavam caminhando na rua, quando foram atropelados por Carlos. José
aquela, ajuizou ação de indenização por danos morais contra Carlos. Acerca do caso
hipotético, é possível afirmar corretamente que
A) Joaquim não pode demandar alguém por um fato ocorrido antes de seu nascimento, tendo
B) Carlos não pode ser demandado, tendo em vista que já foi condenado criminalmente pelo
fato, em razão da vedação do bis in idem.
C) por não ter conhecido o pai, não pode Joaquim postular danos morais, podendo requerer,
apenas, o pagamento de eventuais danos materiais por não ter sido sustentado
financeiramente pelo pai.
E) a pretensão está prescrita, tendo em vista o decurso de prazo superior a três anos da data
do falecimento de José.
Comentário:
40
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
DANOS MATERIAIS E MORAIS. NASCITURO. PERDA DO PAI.
(...)
2.- "O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a
3.- "A jurisprudência desta Corte é disposta no sentido de que o benefício previdenciário
(...)
(AgRg no AgRg no AREsp 150.297/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/02/2013, DJe 07/05/2013)
Quanto à prescrição, importa considerar que contra o menor começará a correr a partir
o ajuizamento de ação por danos morais, consoante enunciado 445 das Jornadas de
Direito Civil do CJF. ( Enunciado: 445 - O dano moral indenizável não pressupõe
sofrimento).
Questão 4
VUNESP - 2019 - Prefeitura de Francisco Morato - SP - Procurador: Considerando as
Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, acerca do dano moral, é correto afirmar:
41
B) a simples devolução indevida de cheque não caracteriza dano moral.
Comentário:
Alternativa A - Súmula 387 STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e
dano moral
Alternativa B - Súmula 388 STJ: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano
moral.
cheque pré-datado.
Alternativa E - Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
Questão 5
MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça: Conforme entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, o abandono afetivo de filho pode ensejar ao pai a responsabilidade por
dano moral desde o conhecimento da gravidez e o prazo prescricional da pretensão
O Certo
O Errado
42
Comentário:
Já o prazo prescricional das ações de indenização por abandono afetivo começa a fluir
com a maioridade do interessado. Isso porque não corre a prescrição entre ascendentes
e descendentes até a cessação dos deveres inerentes ao poder familiar, nos termos do
art. 197, II, do CC:
Questão 6
CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público: De acordo com as disposições do Código Civil e
com a jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade civil, julgue o item a seguir.
O Certo
O Errado
Comentário:
Art. 936, CC: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
43
O guardião somente ficará isento de responsabilidade, se provar que além de guardar e
vigiar o animal com o cuidado necessário: a) o animal foi provocado (culpa exclusiva da
forma indevida, onde estava o animal); c) o fato resultou de caso fortuito ou força maior.
Questão 7
FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público: Sobre a responsabilidade civil no direito brasileiro,
B) os filhos incapazes respondem solidariamente com seus pais pelos danos que causaram,
desde que tenham bens próprios.
C) a gradação da culpa como critério de equidade de indenização não foi adotada pelo
Código Civil.
Comentário:
Sobre a letra A: CC, Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial,
os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de
culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Obs.: Responsabilidade
Objetiva.
Sobre a letra B: CC, Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as
pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem
de meios suficientes.
44
Sobre a letra C: Enunciado 39 do CJF: “A impossibilidade de privação do necessário à
pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização equitativa, informado pelo
reconhecer a culpa presumida do agente que violar dever jurídico imposto em norma
jurídica regulamentar.
Assim, por exemplo, o condutor que tiver descumprido uma norma de trânsito será
Vale ressaltar que se trata de uma presunção relativa (presunção iuris tantum). Há,
portanto, uma inversão do ônus da prova, considerando que ele (agente que descumpriu
a norma) é quem terá que comprovar a causa excludente. Se não conseguir isso, será
condenado a indenizar.
Sobre a letra E: CC, Art. 416, Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto
na cláusula penal, NÃO pode o credor exigir indenização suplementar se assim não
Questão 8
45
CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto: Uma empresa contratou uma transportadora para a
prestação de serviço de transporte de carga altamente valiosa. A transportadora, por sua vez,
não contratou seguro contra perdas e danos que poderiam ser causados à carga transportada,
embora o contrato firmado pela transportadora tivesse estipulado a obrigatoriedade de
seguro com tal cobertura. A carga era transportada em trajeto conhecido e em horário com
intenso tráfego, quando o veículo que a transportava foi interceptado por assaltantes à mão
armada, que roubaram toda a carga. Em decorrência desse fato, a empresa contratante ajuizou
B) há responsabilidade civil da transportadora, desde que seja demonstrado que ela não
adotou medidas razoáveis de cautela, como a contratação do referido seguro.
trajeto conhecido e em horário com intenso tráfego, adotou medidas razoáveis de cautela.
Comentário:
46
transportadora adotou as cautelas necessárias para o transporte das mercadorias
mediante contratação de seguro de carga e de serviço de monitoramento e rastreamento
de veículo (AgInt no AREsp 1232877/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
Questão 9
CESPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto: Em uma demanda judicial, menor
de dezesseis anos de idade foi condenado a reparar danos que havia causado a terceiro.
Nesse caso, para que os pais do menor sejam responsáveis pela reparação civil basta que seja
C) comprovado que o menor estava na companhia dos pais quando ocorreu o evento danoso.
D) confirmado que os pais não haviam empregado as diligências necessárias para evitar o
evento danoso.
Comentário:
Enuncia o art. 933 do CC/2002 que a responsabilidade das pessoas antes elencadas
independe de culpa, tendo sido adotada a teoria do risco-criado. Dessa forma, as
pessoas arroladas, ainda que não haja culpa de sua parte (responsabilidade objetiva),
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Mas para que essas
pessoas respondam, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis.
Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva impura, conforme
47
fundamental repetir que não se pode mais falar em culpa presumida (culpa in vigilando
ou culpa in eligendo) nesses casos, mas em responsabilidade sem culpa, de natureza
objetiva.
Questão 10
FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público: Joaquim, desempregado e sem atividade
remunerada, foi aprovado nas etapas preliminares de concurso público e, como requisito para
a posse, precisava passar por avaliação médica de caráter eliminatório. Entretanto, quando
estava indo até o local da perícia, foi atropelado e hospitalizado, perdendo o prazo para a
realização dos exames. Por esse motivo, foi eliminado do certame. Diante desta situação,
Joaquim faz jus
A) somente aos danos morais, mas não há falar-se em danos materiais, uma vez que estava
desempregado e sem atividade remunerada, de modo que não há falar-se em lucros
cessantes.
no certame não deve ser valorada na quantificação dos danos, por se tratar de mera
expectativa de direito.
D) somente aos danos materiais, mas não há falar-se em danos morais à espécie, por se tratar
Comentário:
Nessa espécie, a responsabilidade é subjetiva e não objetiva, onde requer que o dano
49
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - C
Questão 3 - D
Questão 4 - C
Questão 5 - ERRADO
Questão 6 - CERTO
Questão 7 - D
Questão 8 - B
Questão 9 - A
Questão 10 - E
50
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Responsabilidade Civil
529, 572, 595, 620, 624, 629 e 638 STJ; 159, 261, 491, 492 e 562 STF.
Responsabilidade Civil
Súmula 37 - STJ
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Súmula 43 - STJ
Incide correção monetária sobre divida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 54 - STJ
A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorrido em seu
estacionamento.
A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante
de acidente que envolva o veiculo alienado.
51
No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.
As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
14
Vide questão 4 desse material.
52
Súmula 529 - STJ
No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta
e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação.
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação.
É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n. 10.559/2002 (Lei da
Anistia Política).
Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada
com a de indenizar.
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.
Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.
Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.
53
Súmula 491 - STF
É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.
A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados
a terceiro, no uso do carro locado.
Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.
54
JURISPRUDÊNCIA
Responsabilidade Civil
STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais, passíveis de
compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando
danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do
Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.971-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017
(Info 611).
A demora da pessoa em buscar a indenização por dano moral é um fator que, em conjunto com as demais
circunstâncias, pode influenciar na fixação do quantum indenizatório. Esse entendimento, contudo, não se aplica
quando os autores eram menores de idade no momento do ato ilícito e somente ajuizaram a ação quando
completaram a maioridade. Assim, a demora na busca da compensação por dano moral, quando justificada pela
interrupção prescricional da pretensão dos autores – menores à época do evento danoso – não configura desídia
apta a influenciar a fixação do valor indenizatório. Ex: João foi atropelado por um ônibus e faleceu, deixando dois
filhos: Beatriz (4 meses) e Pedro (1 ano). 17 anos após o acidente, Pedro e Beatriz ajuizaram ação de indenização
por danos morais contra a empresa de ônibus pela perda de seu pai. O fato de terem esperado completar a
maioridade para proporem a ação não é motivo para que a indenização seja reduzida.
STJ, AgRg na Rcl 12.695/RJ, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, julgado em
12/06/2013, DJe 17/06/2013.
Assalto dentro de ônibus coletivo é considerado caso fortuito ou de força maior que afasta a responsabilidade da
empresa transportadora por danos eventualmente causados a passageiro. Jurisprudência consolidada do STJ.
55
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016
(Info 578).
O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa
média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão
mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de
sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos
fins, o gênero e a idade da vítima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info
627).
Os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas não caracterizam dano moral in re ipsa.
Vale ressaltar que é possível a condenação de danos morais em casos de acidente de trânsito, no entanto, trata-
se de situação excepcional, sendo necessário que a parte demonstre circunstâncias peculiares que indiquem o
extrapolamento da esfera exclusivamente patrimonial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015
(Info 575).
A mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em local
distinto daquele no qual morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato – NÃO pode ser
responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o
poder familiar sobre o filho.
STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).
Em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional envolvendo consumidor, aplica-se o CDC
ou a indenização tarifada prevista nas Convenções de Varsóvia e de Montreal?
As Convenções internacionais. Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados
internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as
Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à
ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da
reciprocidade.
56
Informativo 612, STJ:
A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com reconhecido excesso na conduta
caracteriza dano moral in re ipsa. Durante uma discussão no condomínio, um morador, que é policial, algemou e
prendeu seu vizinho, após ser por ele ofendido verbalmente.
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social. Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Caso concreto: a TV Record. assassinato da
atriz Daniela Perez, entrevista com Guilherme de Pádua, sem prévia autorização da família, fotos da vítima
Daniela.
É possível que o juiz utilize presunções e regras de experiência para a comprovação do dano moral da pessoa
jurídica. Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária
a comprovação nos autos do prejuízo sofrido.
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a configuração do dano, mesmo
sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a possibilidade de contraprova pela parte ou de
reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há
uma presunção de que ela sofreu danos morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 06/02/2018 (Info 619). Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa
jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/11/2017
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa, sendo necessária a
comprovação nos autos do prejuízo sofrido. Apesar disso é possível a utilização de presunções e regras de
experiência para a configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo o que sempre comportará a
possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa jurídica tenha sido
vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela sofreu danos morais. STJ. 3ª Turma.
REsp 1564955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619). Cuidado: existem julgados em
sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª
Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017.
57
Informativo 921, STF:
Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública. Os familiares do
morto ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos
de imagem. O STF julgou a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de
censura, o que afronta a liberdade de informação jornalística. STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018.
Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa
de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual
punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva. Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o
jogador do Palmeiras, após ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale
ressaltar que a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida de futebol
que gerará indenização por danos morais. O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador
transbordou o mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as agressões
foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi
televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas
que assistiram o episódio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
23/10/2018.
Na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do dano moral in re ipsa. STJ. 3ª Turma. REsp
1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018.
Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de acessibilidade de pessoa
cadeirante ao interior da aeronave. A sociedade empresária atuante no ramo da aviação civil possui a obrigação
de providenciar a acessibilidade do cadeirante no processo de embarque quando indisponível ponte de conexão
ao terminal aeroportuário (“finger”). Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o acesso
do cadeirante ao interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço, ensejando reparação por
danos morais. Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”) tenha que ser carregado pelos funcionários da
companhia aérea para entrar no avião, este fato configura defeito na prestação do serviço, gerando indenização
por danos morais. A companhia aérea não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de
fornecer o equipamento para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC. Isso porque a
companhia aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui responsabilidade solidária em caso de
fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais, tal alegação não se amolda à excludente de
responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC).
58
Informativo 648, STJ:
Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no estacionamento externo e
gratuito do estabelecimento.
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2018.
60
Capítulo 6
SUMÁRIO
15. Posse..........................................................................................................................................................................3
15.2 Detenção...........................................................................................................................................................3
16.1.1 Conceito................................................................................................................................................. 17
16.1.2 Elementos.............................................................................................................................................. 18
16.2.6 Superfície............................................................................................................................................... 53
16.5.3 Laje........................................................................................................................................................... 61
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 93
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 94
JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................................................104
DIREITO CIVIL
Capítulo 6
15. Posse
O Código Civil trata da Posse em seus artigos 1.196 a 1.227. A posse é exercida por
todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de um dos poderes inerentes à
propriedade (usar, fruir, gozar e dispor).
rol dos direitos reais, previsto no art. 1225, do CC, é taxativo. Inclusive, o Código Civil traz a
posse em um título à parte, demonstrando explicitamente que a posse não faz parte dos
direitos reais.
Duas teorias que buscam justificar a posse são cobradas pelos examinadores:
15.2 Detenção
Detenção, fâmulo de posse ou servidor de posse é aquele que tem a posse não em
nome próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e
3
instruções. É o que detém a coisa em virtude de dependência econômica ou vínculo de
subordinação (art. 1.198, CC). Ex.: caseiro, zelador de um prédio, etc.
Logo, não se confunde com a posse, pois aquela se caracteriza quando alguém,
achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em nome deste
e em cumprimento de ordens e instruções suas.
A detenção pode ser convertida em posse, desde que rompida a subordinação, nas hipóteses
Apesar de não ser possuidor do bem, o detentor pode é possível que o detentor defenda a
posse alheia por meio da autotutela, tratada pelo art. 1.210, § 1º, do CC, conforme reconhece
o seguinte enunciado doutrinário, da V Jornada de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do
Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”
(Enunciado n. 493).
A primeira, súmula nº 619 do STJ aduz que “A ocupação indevida de bem público
configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por
acessões e benfeitorias”. Assim, no caso de um particular invadir um imóvel público, não será
4
possível exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera
detenção.
No entanto, parte da doutrina critica essa posição, inclusive Flávio Tartuce1, ao afirmar
que “O objetivo dessa forma de julgar era o de afastar qualquer pretensão de usucapião de
bens públicos, presente a citada ocupação irregular. Com o devido respeito, sempre
entendemos que o caso seria não de detenção, mas de uma posse precária que, por ser
injusta, não geraria a usucapião. Todavia, em havendo posse, o ocupante-invasor poderia
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o
caso, o domínio”. Isso porque, é possível que particulares exerçam proteção possessória para
garantir seu direito de utilizar bens de uso comum do povo.
Informativo 590, do STJ: Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como
servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está
invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores
locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra
a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de
passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016.
1
Flavio Tartuce, p. 879.
5
15.3 Elementos da Posse e Objeto da Posse
Sujeito capaz;
Já seu objeto são todas as coisas que puderem ser objeto de propriedade, móveis ou
imóveis, corpóreas ou incorpóreas.
Enunciado n. 76, da I Jornada de Direito Civil: “O possuidor direto tem direito de defender a
sua posse contra o indireto, e este contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil)”.
2
Vide questão 8
6
Em suma, tanto o possuidor direto quanto o indireto podem invocar a proteção possessória
Posse violenta: obtida por meio de esbulho, for força física ou violência moral
(vis). A doutrina tem o costume de associá-la ao crime de roubo;
Posse clandestina: obtida às escondidas, de forma oculta, à surdina, na
Basta apenas um vício para ser considerada a posse injusta, não havendo exigência de
cumulação.
A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações do juízo
possessório em face de terceiros, mas não contra aquele de quem se tirou a coisa.
7
Segundo entendimento majoritário, levando em consideração o que consta do art. 1.208,
segunda parte, do CC, as posses injustas por violência ou clandestinidade podem ser
convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por precariedade. No entanto, apesar
desse entendimento tido como clássico e consolidado, filia-se à corrente contemporânea
(minoritária) que prega a análise dessa cessação caso a caso, de acordo com a finalidade
social da posse (função social da posse), prevendo, portanto, que a posse precária também
pode ser convalidada. Esse entendimento foi reconhecido na III Jornada de Direito Civil, com a
aprovação do Enunciado n. 237, in verbis: “É cabível a modificação do título da posse –
interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato
exterior inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a
Boa-fé: possuidor ignora os vícios que impedem ou os obstáculos que lhe impedem
a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que fundamente a sua posse.
Má-fé: o possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende
exercer o domínio fático sobre esta.
Não há coincidência necessária entre a posse justa e a posse de boa-fé. À primeira vista,
toda posse justa deveria ser de boa-fé e toda posse de boa-fé deveria ser justa. Mas a
transmissão dos vícios de aquisição permite que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta,
8
se a adquiriu de quem a obteve pela violência, pela clandestinidade ou pela precariedade,
ignorante da ocorrência. Também é possível que alguém possua de má-fé, embora não tenha
posse violenta, clandestina ou precária. O exemplo clássico de quem tem posse injusta, mas
de boa-fé, ocorre no caso de compra de um bem roubado, sem que se saiba que o bem foi
retirado de outrem com violência. Por outro lado, terá posse justa, mas de má-fé, o locatário
“se a ameaça, turbação ou esbulho forem novos, a ação segue rito especial e cabe liminar; se
forem velhos, a ação é de força velha, o rito é ordinário, não cabe liminar, mas cabe tutela
antecipada”.
Sem título ou ius possessionis: quando não há uma causa representativa, pelo
menos aparente, da transmissão do domínio fático, como pode ocorrer no caso de
alguém achar um tesouro, sem a intenção de fazê-lo.
9
15.4.6 Quanto aos Efeitos
Posse ad interdicta: é a regra geral. É a posse que pode ser defendida pelas
propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Deve ser
mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com
O art. 1210, § 1º, do CC, aduz que “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-
se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse”.
Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a
legítima defesa.
Para que a defesa ou o desforço imediato seja considerado lícito, se faz necessário a atuação
imediata, ou seja, incontinenti, conclusão a ser retirada da análise do caso concreto. Sobre tal
10
requisito do imediatismo, foi aprovado enunciado n. 495 na V Jornada de Direito Civil,
propondo uma interpretação restritiva do preceito: “No desforço possessório, a expressão
‘contanto que o faça logo’ deve ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata
ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas
demais hipóteses”.
O possuidor que toma as medidas de autotutela não pode ir além do indispensável para a
recuperação de sua posse. Deve agir nos limites do exercício regular desse direito. Além
disso, pode fazer uso de apoio de empregados ou prepostos para exercer a autotutela,
apenas traz que “Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível
o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
quando no ato de apreensão de bem móvel, a coisa não tem dono (res nullius) ou for
abandonada (res derelictae).
11
15.6 Adquirente
O art. 1.205, do CC, preconiza que a posse pode ser adquirida: pela própria pessoa que
Em outras palavras, a posse pode ser adquirida pelo próprio sujeito que a apreende,
desde que capaz; por seu representante legal ou convencional (caso do herdeiro e do
mandatário); ou até por terceiro que não tenha mandato, desde que haja confirmação
posterior, com efeitos ex tunc ou retroativos.
15.7 Efeitos
estejam provados”.
12
Se a ameaça, a turbação e o esbulho forem novos, ou seja, tiverem menos de um ano e um
dia, caberá a ação de força nova: o respectivo interdito possessório seguirá o rito especial,
cabendo liminar nessa ação. Já se a ameaça, a turbação e o esbulho forem velhos, com
pelo menos um ano e um dia, caberá ação de força velha, que segue o ora procedimento
comum, não cabendo a respectiva liminar. Todavia, será possível, no último caso, uma tutela
Possuidor de boa-fé: tem direito aos frutos percebidos, ao uso e gozo da coisa,
às despesas de produção, não tem direito aos frutos pendentes quando cessa a
boa-fé, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio, e devem ser
que, por culpa sua, deixou de colher desde o momento em que se constituiu a
má-fé. Só tendo direito a restituição pelas despesas de produção e de custeio.
essenciais, pois visam à conservação da coisa principal), úteis (aumentam ou facilitam o uso da
coisa principal) e voluptuárias (de mero luxo ou deleite, pois facilitam a utilidade da coisa
principal).
13
de boa-fé tem direito ao seu levantamento, se não forem pagas, desde que isso não
gere prejuízo à coisa (ius tollendi).
locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas,
serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. Já o art. 36, da mesma lei,
trata das benfeitorias voluptuárias que “não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo
locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do
imóvel.
direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo, aquilo que lhe for mais interessante. Já
ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual da coisa (art. 1222, do CC).
14
15.7.4 Quanto à responsabilidade
não der causa. Assim, para o possuidor ser responsabilizado pela perda ou
deterioração da coisa se faz necessário a comprovação da culpa em sentido amplo,
acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na
posse do reivindicante. Nesse caso, a responsabilidade será objetiva, a não ser que
Assim como as formas de aquisição da posse, o legislador não estabeleceu quais são as
formas de perda, utilizando expressões genéricas ao estabelecer no seu art. 1.223 do CC: “Art.
1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre
o bem, ao qual se refere o art. 1.196.” Em resumo, perde a posse aquele que vê cessar os
elementos da propriedade.
Ocorre quando uma coisa indivisa (mesma coisa) é partilhada por uma pluralidade
de sujeitos, havendo um condomínio de posses em relação ao bem. Pode ter origem inter
vivos ou mortis causa. Como exemplos, temos a herança de uma casa por duas pessoas, onde
ambas terão a posse sobre o imóvel.
15
Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Com isso, desde
que não haja exclusão do direito alheio, qualquer um dos possuidores poderá fazer uso das
ações possessórias, no caso de atentado praticado por terceiro, inclusive exercer a autotutela.
Pro indiviso ou indivisível: cada possuidor tem a parte ideal do bem, não sendo
possível determinar, no plano fático e corpóreo, qual a parte de cada um. O bem é
indivisível.
16
16. Direitos Reais
Assim como a posse, faz parte do Direito das Coisas. No entanto, diferencia-se da
imóveis).
16.1 Propriedade4
16.1.1 Conceito
É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um
bem ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, CC). O tema da
propriedade em encontra-se previsto nos artigos 1.228 a 1.360 do Código Civil.
A propriedade deve ser exercida com base na função social e socioambiental a ela
destinada.
3
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito das Coisas. V. 5. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.
20.
4
Vide questão 9
17
16.1.2 Elementos
Usar: como o próprio nome já diz, é a faculdade de usar a coisa, dar destinação
como bem entender. Ex: morar.
Fruir ou gozar: trata-se da faculdade de retirar os frutos da coisa, que podem ser
doar.
Reivindicar: será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade,
sendo a mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio.
Ex: entrar com ação judicial contra quem detiver a posse de forma injusta.
temos o direito real sobre coisa alheia, fazendo com que o direito de propriedade
seja composto por duas partes:
18
promitente comprador etc. Ex. o usufrutuário tem os atributos de usar e fruir
(gozar) da coisa
proprietário poder desfrutar da coisa como bem entender. No entanto, tal direito
pode ser relativizado em algumas situações, caso da função social e socioambiental
os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp
1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
19
A lei nº 13.777/2018 alterou o Código Civil e a Lei de Registros Públicos para dispor sobre o
regime jurídico da multipropriedade e seu registro. A multipropriedade ou time-sharing ocorre
quando um bem é dividido entre vários proprietários, sendo que cada um deles utilizará a
coisa, com exclusividade, em sua totalidade, durante certo (s) período(s) de tempo por ano,
em um sistema de rodízio.
reivindicar).
Direito fundamental: o direito de propriedade é um direito fundamental, pelo
que consta do art. 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal. Esse caráter faz que a
proteção do direito de propriedade e a correspondente função social sejam
formas, originárias e derivadas. Como foi explicado na aquisição da posse, na forma originária
20
há um contato direto entre pessoa e coisa, sem qualquer intermediação pessoal. Já a forma
derivada, há uma intermediação pessoal.
FORMAS DE
AQUISIÇÃO DA
PROPRIEDADE
IMÓVEL
FORMAS FORMAS
ORIGINÁRIAS DERIVADAS
REGISTRO SUCESSÃO
ACESSÃO USUCAPIÃO
IMOBILIÁRIO HEREDITÁRIA
aquilo foi incorporado de forma natural ou artificial. Como acessões naturais estão previstas
a formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo. Como acessões artificiais,
decorrentes da intervenção humana, o atual Código disciplina as plantações e as construções.
Formação de ilhas
21
Somente pertencem aos particulares as ilhas formadas em rios não navegáveis ou
particulares, por pertencerem ao domínio particular, conforme consta do Código de Águas
O inciso I estabelece que “as (ilhas) que se formarem no meio do rio consideram-se
acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na
proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais”. A primeira
regra prevê o caso de uma ilha formada no meio do rio com duas propriedades ribeirinhas
Como se observa pela ilustração, a ilha formou-se bem no meio do rio, tendo que ser
A segunda regra, prevista no inciso II, aduz que “as (ilhas) que se formarem entre a
referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros
desse mesmo lado”. Assim, se a ilha se formar de um lado do meridiano do rio, pertencerá ao
proprietário daquela margem, conforme a figura:
6
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 934.
22
7
Nesse caso, como a ilha se formou mais próximo de uma margem do rio, a propriedade
só será adquirida por um ribeirinho. A primeira ilha será 100% de “X”, e a segunda será 100%
de “Y”.
Já a terceira regra, encontrada no inciso III, determina que “as (ilhas) que se formarem
pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos
terrenos à custa dos quais se constituíram”. Nesse caso, a ilha pode ser formada diante do
desdobramento de um braço de rio, ou seja, diante de um novo curso de água que se abre,
vejamos:
Assim, se isso ocorrer, a ilha pertencerá ao proprietário que margeia esse novo
Aluvião
7
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 935.
23
Conforme determina o art. 1250, do CC, aluvião são “Os acréscimos formados,
sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das
correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais,
sem indenização”. Desse modo, aluvião é o acréscimo lento de terra formado pelo depósito
8
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 936.
24
9
Avulsão
Nos termos do art. 1.251, do CC, há avulsão “Quando, por força natural violenta, uma
violenta e abrupta, de uma porção de terra que se junta ao terreno de outro proprietário,
vejamos:
10
Pelo que pode ser observado no exemplo da figura, em razão da força natural do rio, o
proprietário “A” ganhou um pedaço de terra que anteriormente pertencia a “B”. Nesse caso,
“B” poderá pleitear reparação de danos pela parte perdida, no prazo decadencial de um ano, a
9
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 936.
10
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 937.
25
contar da sua ocorrência. No entanto, “A” poderá optar entre indenizar “B” (regra) pelo
deslocamento da faixa avulsa ou remover a parte acrescida.
Álveo abandonado
Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e
Para sua aquisição, o art. 1252, do CC, prevê que “O álveo abandonado de corrente
pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os
donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios
marginais se estendem até o meio do álveo”. Nesse caso, será traçado um meridiano no rio,
verificando-se quais as distâncias das margens, para ser dividido entre os proprietários
ribeirinhos, vejamos:
11
Como pode ser observado, a distribuição será igual entre “A” e “B”, eis que a distância
de suas margens ao centro do rio é a mesma.
Construções e Plantações
As construções e as plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens
imóveis por acessão física artificial, seguindo a sorte do principal. Tanto é assim, que o art.
11
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce, p. 938.
26
1253, do CC, dispõe que “Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se
feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário”.
Para estudar o tema, se faz importante a leitura dos artigos 1254 a 1259 do CC, já que
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-
lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em
proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a
propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte,
e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente.
27
dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a
construção.
16.1.5.2 Usucapião
Usucapião extraordinária
Dispõe o art. 1238, do CC: “Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de
título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”. Essa usucapião é denominada de
12
Vide questões 1, 6, 7 e 10
28
No seu parágrafo único, encontra-se a hipótese de usucapião extraordinária por
posse-trabalho, em razão do cumprimento da função social da propriedade, que “reduzir-se-á
a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo”.
Posse ininterrupta;
Animus domini;
Usucapião ordinária
O caput do art. 1242, do CC, trata sobre a usucapião ordinária regular ou comum:
cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente,
com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que
Como pode ser observado, o parágrafo único traz um requisito ao lado da posse-trabalho,
qual seja, a existência de um documento hábil que foi registrado e cancelado posteriormente,
29
caso de um compromisso de compra e venda. Tal requisito gera o que se convencionou
Ininterrupta;
Animus domini;
Boa-fé e justo título;
Prevista no art. 183, da CF, no art. 1240, do CC, e no art. 9º, da Lei 10.257/2001, dispõe
que “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural”.
Animus domini;
Função social (moradia);
30
Informativo 630 do STJ: É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo
exigido por lei se complete no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493,
do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em março de 2017, João
ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art.
1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o
quando o autor deu entrada na ação, ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro
de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença. O magistrado deverá julgar o
pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a usucapião se
completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas
Dispõe o art. 191, da CF, e o art. 1239, do CC: “Aquele que, não sendo proprietário de
imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área
de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu
Sem oposição;
Animus domini;
Função social (trabalho e moradia);
31
Não pode ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano.
Com relação à usucapião por posse-trabalho, o candidato deve ter muita atenção a dois
aspectos:
Recentemente a Lei 13.465/17, alterou o texto do artigo 1.228, §º4, para retirar o antigo
requisito que exigia que a população ocupante do imóvel fosse de baixa renda.
errada.
deverá ser pago pelo Estado, em cumprimento ao direito social e fundamental à moradia
(artigo 6º CF/88).
Pode ser considerada uma usucapião especial urbana, regulamentada pelo art. 1240-A,
do CC, que dispõe: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dividia com ex-cônjuge ou ex-companheiro
que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
32
Esses são os requisitos essenciais da usucapião conjugal:
2 anos ininterruptos;
Sem qualquer oposição;
O art. 10, do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), dispões que: “Os núcleos urbanos
informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo
número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por
possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não
Núcleos urbanos informais cuja área total dividida pelo número de possuidores
seja inferior a 250m² por possuidor;
Prazo de mais de 5 anos;
Núcleos urbanos informais;
33
Tratada pelo Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973), o art. 33 estabelece que “O índio,
integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra
Ademais, o parágrafo único prevê que a usucapião indígena “não se aplica às terras do
domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei,
Não pode ser terras do domínio da União, nem propriedade de grupo tribal;
aquisição da propriedade imóvel. Esse entendimento está presente no art. 1245, do CC:
“Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro
de Imóveis”. Assim, o registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os
bens móveis.
Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como
Enunciado n. 87 do CJF/STJ: Considera-se também título translativo, para fins do art. 1.245
do novo Código Civil, a promessa de compra e venda devidamente quitada (arts. 1.417 e
34
16.1.5.4 Sucessão Hereditária
Dá-se por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o
saisine.
OCUPAÇÃO
FORMAS ACHADO DO
ORIGINÁRIAS TESOURO
USUCAPIÃO
COMISTÃO
FORMAS
DERIVADAS
ADJUNÇÃO
TRADIÇÃO
SUCESSÃO
16.1.6.1 Ocupação
Aquele que se declarar proprietário de coisa sem dono, logo lhe adquire a propriedade,
não sendo essa ocupação proibida em lei. A ocupação pode ocorrer em razão da coisa nunca
35
ter pertencido a ninguém, que no caso seria res nullius, como pode acontecer no caso da
coisa ser abandonado, que seria res derelictae.
O Código Civil define o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas preciosas,
oculto e de cujo dono é desconhecido.
O art. 1265 aduz a regra do tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se
for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.
Desse modo, com a utilização dos dois artigos analisados, se o descobridor que
penetrar no prédio alheio, sem autorização, com o propósito de encontrar o tesouro, não terá
direito a nada, pois não se permite a obtenção de vantagem quando praticado o esbulho, já
que no caso estaria agindo de má-fé.
16.1.6.3 Usucapião
O Código Civil estabeleceu apenas duas formas de usucapião de bens móveis, quais
sejam:
Animus domini;
Três anos;
Súmula 193, STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.
Informativo 656 do STJ: É possível a usucapião de bem móvel proveniente de crime após
cessada a clandestinidade ou a violência. Nos termos do art. 1.261 do CC/2002, aquele que
37
após cessado o vício (art. 1.208 do CC/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é
suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime.
Caso concreto: indivíduo adquiriu caminhão por meio de financiamento bancário, com emissão
de registro perante o órgão público competente, ao longo de mais de 20 anos. Depois se
descobriu que o veículo havia sido furtado antes da aquisição. Pode-se reconhecer que houve
a aquisição por usucapião, sendo irrelevante se analisar se houve a inércia do anterior
proprietário (vítima do furto) ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua
posse. STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.370-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
10/09/2019.
16.1.6.4 Especificação
pedra que se transforma em uma estátua, ou uma tela que vira um quadro.
mesmo que a matéria-prima fosse de um terceiro, se não for possível retornar à situação
anterior. Essa regra é uma regra geral, onde é possível verificar que o legislador previu que o
trabalho será considerado o principal, de maior importância, enquanto a matéria-prima é
acessória.
A segunda regra prevê que se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à
forma precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova. Entretanto, o escultor
deverá indenizar o dono da pedra pelo seu valor, o que veda o enriquecimento sem causa.
A terceira regra induz que sendo possível a redução ao estado anterior; ou quando
38
A última prevê que em qualquer caso de especificação da coisa, a espécie nova será
do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. Nesse
caso, o especificador que adquire a coisa nova deverá indenizar o dono da matéria-prima pelo
seu valor, mesmo que tenha agido de má-fé.
Apesar de serem três categorias diferentes, suas regras são as mesmas, por isso a
junção em um só tópico. Primeiro vamos às definições.
Confusão é a mistura entre coisas líquidas (ou mesmo de gases), em que não é
diferentes.
deterioração, ou seja, sendo possível retornar ao estado anterior (status quo ante), as coisas
continuarão a pertencer aos seus proprietários.
A outra regra é na possibilidade não ser possível a separação das coisas, ou exigindo
casos, se uma das coisas puder ser considerada como principal, o dono desse principal será
o dono do todo, indenizando os demais pelos valores que corresponderem aos seus
quinhões.
39
A terceira regra aduz que se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à
outra parte que estiver de boa-fé caberá escolher entre: a) adquirir a propriedade do todo,
pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou b) renunciar ao que
lhe pertencer, caso em que será indenizado de forma integral.
nova, à confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1272 e 1273. No
entanto, como afirma a doutrina13 houve um erro de digitação dos dispositivos legais a serem
16.1.6.6 Tradição
A tradição pode ser real (entrega material da coisa ao adquirente), simbólica (não será
necessariamente a entrega da coisa, mas alguma coisa que a ela representa, como a entrega
das chaves de um veículo) ou consensual (acordo de vontade dos interessados, por aposição
contratual, sem qualquer alteração do mundo dos fatos).
16.1.6.7 Sucessão
genérico.
13
Flávio Tartuce, p. 979.
40
Alienação: transmissão do direito de propriedade de um patrimônio a outro, como
ocorre nos contratos de compra e venda, de troca ou permuta e no de doação;
Renúncia: ato unilateral pelo qual o proprietário declara, de forma expressa, a sua
vontade de abrir mão de seu direito sobre a coisa;
prol do bem comum, da paz social. Suas regras impostas são consideradas propter rem, ou
seja, acompanham a coisa onde quer que ela esteja, independente da vontade do proprietário.
Como pode ser observada, a primeira norma do direito da vizinhança protege tanto o
proprietário, como o possuidor, buscando a ampla proteção relacionada com a segurança, o
41
princípios constitucionais da intimidade, da inviolabilidade da vida privada e da proteção ao
meio ambiente.
Árvores limítrofes
Árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois prédios,
presumindo-se de forma relativa pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.
1284, do CC). Mesmo sendo uma exceção à regra de que o assessório segue o principal, tal
regra privilegia a propriedade do solo onde caiu o fruto.
O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, nascente ou porto, pode,
mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo
rumo será judicialmente fixado, se necessário. Essa passagem será obrigatória diante da
Além disso, em caso de alienação parcial do prédio serviente, de modo que uma das
partes perca o acesso à via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a
passagem (obrigação propter rem). Do mesmo modo, ainda quando, antes da alienação,
42
existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido,
depois, a dar uma outra.
forçada.
Aduz o art. 1286, do CC: “Mediante recebimento de indenização que atenda, também,
à desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem,
Águas
embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser
agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior”.
O art. 1.290 do CC trata das nascentes das águas e do escoamento das águas pluviais,
prevendo que o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as
necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar, o curso natural das águas
remanescentes pelos prédios inferiores, já que o curso de água do imóvel surge a água tem
importante finalidade social.
assegurada ao proprietário.
43
O § 1.º do art. 1.297 do CC estabelece a existência de um condomínio necessário entre
os proprietários confinantes, relativo aos intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios,
sebes, vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas. Assim, devem concorrer, em
partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.
determinarão de conformidade com a posse justa. Não sendo essa posse justa provada, o
terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a
Direito de construir 14
Entre algumas das restrições específicas ao direito de construir, nós temos a proibição
de construção de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio
vizinho. Além dessa, temos a proibição de abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a
menos de metro e meio do terreno vizinho, para respeitar o direito à privacidade (imóveis
urbanos). Nas áreas rurais, a limitação é de três metros.
Súmula 120 do STF: Parede de tijolos de vidro translúcido pode ser levantada a menos de
14
Vide questão 4
44
16.1.9 Condomínio ou Compropriedade
pode pertencer a várias pessoas, cabendo a cada uma, igual direito sobre o todo.
Convencional ou voluntário:
tem a propriedade plena e total sobre a coisa, apenas sendo limitado pelos direitos dos
demais. Sendo assim, não cabe reintegração de posse por um dos condôminos contra os
demais.
O parágrafo único do art. 1.314, do CC, prevê que nenhum dos condôminos pode
alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o
interesses.
Necessário ou legal
O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas
(art. 1328, do CC). Em caso de não haver acordo sobre o preço da obra, este será a arbitrado
por peritos.
45
Edilício:
No condomínio edilício (como o próprio nome já diz, de edifício, mas também aplica-se
aos clubes de campo e loteamentos) pode haver partes que são propriedade exclusiva, e
As partes que são propriedades exclusivas são as áreas autônomas, que são os
apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para veículos, com as respectivas
Já as partes que são de propriedade comum dos condôminos são chamadas de áreas
comuns, que podem ser o solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição
46
jurisdicional, não há falar em violação dos arts. 489, II, e 1.022 do CPC/15. 4. O condomínio
tem legitimidade ativa para pleitear, em favor próprio, indenização por dano moral, não
podendo fazê-lo em nome dos condôminos. 5. No âmbito das Turmas que compõem a
Segunda Seção do STJ, prevalece a corrente de que os condomínios são entes
despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco das partes
comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a
ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo
o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à
administração da propriedade comum. 6. Caracterizado o condomínio como uma massa
patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra objetiva, senão
admitir que qualquer ofensa ao conceito que possui perante a comunidade representa, em
verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de
reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este
interessado ajuizar ação para a reparação dos danos que eventualmente tenha suportado, o
ordenamento jurídico autoriza o condomínio a impor sanções administrativas para o
13/02/2020.
Multipropriedade ou time-sharing
que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à
47
qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a
ser exercida pelos proprietários de forma alternada.
Esse tipo de condomínio é adotado por indivíduos que querem usufruir de um imóvel
apenas durante parte do ano, normalmente uma casa na praia, porém não precisam
desembolsar o preço total, nem terão que arcar sozinhos com os custos da manutenção.
O período correspondente a cada fração de tempo será de, no mínimo, 7 (sete) dias,
A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição ou
pelo termo. Assim, a duração da propriedade se subordina a um acontecimento futuro certo
ou incerto, que será previsto no próprio título constitutivo.
Importante verificar que o proprietário resolúvel age como proprietário pleno, enquanto
não se verifica o evento que modificará o status da propriedade.
do negócio jurídico.
16.2.1 Enfiteuse
48
constituição de novas enfiteuses, bem como a cobrança de laudêmios nas transmissões do
bem aforado. As atuais enfiteuses ficam mantidas, subordinando-se às disposições do antigo
Código (arts. 678 e seguintes) e leis especiais, até sua paulatina extinção (art. 2.038, CC).
direitos em favor do proprietário de outro prédio. Como recai somente sobre bens imóveis,
necessita de registro.
Quanto à natureza: rústica (em áreas rurais) ou urbana (em áreas urbanas);
Quanto às condutas das partes: positiva (exercida por ato positivo ou comissivo) ou
Súmula 415 do STF: Servidão de trânsito, não titulada, mas tornada permanente pela natureza
49
Quanto ao exercício das servidões, dispõe o art. 1380, do CC, que o dono de uma
servidão pode fazer todas as obras necessárias à sua conservação e uso. Pertencendo a mais
O art. 1.384 do CC aduz que a servidão pode ser removida, de um local para outro,
pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio
dominante. Também pode ser removida pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável
incremento da utilidade e não prejudicar o prédio serviente. No entanto, tal mudança somente
Não confundir com passagem forçada, que é instituto de direito de vizinhança, onde uma das
propriedades está encravada.
Obrigatória Facultativa
16.2.3 Usufruto
É o direito real que uma pessoa tem de usar (ex: morar) e fruir (ex.: alugar) a coisa
alheia, temporariamente, sem alterar-lhe a substância.
As partes são denominadas de usufrutuário (aquele que tem direito de usar ou fruir a
50
Nos termos do art. 1390, do CC, o usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis
ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em
parte, os frutos e utilidades. Se for bem imóvel, será mediante registro no Cartório de
Registro de Imóveis.
O usufruto pode ser constituído por meio da lei, convenção das partes (por meio de
Se for usufrutuária a pessoa jurídica, seu termo máximo de duração será de 30 anos.
III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se
ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer;
51
IV - pela cessação do motivo de que se origina;
V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e
1.409;
VI - pela consolidação;
VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não
lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de
crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art.
1.395;
VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399).
registrado no Cartório.
16.2.4 Uso
O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa, havendo a
16.2.5 Habitação
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de fruição, eis que
apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja o direito de habitar o imóvel.
52
As partes são denominadas de proprietário e habitante.
Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente, casa alheia, o titular deste
direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Se
descumprir essa norma, o imóvel poderá ser retomado por desvio de função.
16.2.6 Superfície
O superficiário deve zelar pelo imóvel como se fosse seu, respondendo pelos encargos
Pode haver transferência da superfície a terceiros, bem como sua transmissão aos
herdeiros do superficiário, com falecimento deste. Não se permitindo, porém, a estipulação de
15
Vide questão 3
53
16.3 Direitos Reais de Garantia
Têm por finalidade garantir ao credor recebimento de seu crédito, por vincular
determinado bem pertencente ao devedor. Se a dívida for assegurada por uma garantia real e
o devedor não pagá-la, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido
judicialmente.
prioridade no registro;
Indivisibilidade: O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
exoneração correspondente da garantia;
Sequela: caráter propter rem, ou seja, acompanham a coisa onde quer que ela
esteja;
Além dessas características, o art. 1424, do CC, consagra requisitos específicos para o
Por fim, o art. 1425, do CC, traz as hipóteses em que a dívida garantida torna-se
vencida:
54
Se as prestações não forem pontualmente pagas, toda vez que deste modo se
achar estipulado o pagamento. Neste caso, o recebimento posterior da prestação
16.3.1 Penhor
automática da lei;
Convencional comum: forma ordinária de penhor, que tem por objeto bens móveis
ocorrendo a transmissão da posse do devedor ao credor
55
Súmula 638 do STJ: É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de
instituição financeira pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue
Renunciando o credor;
Confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa;
16.3.2 Hipoteca
É direito real de garantia que grava coisa imóvel pertencente ao devedor sem
transmissão de posse ao credor. Por se tratar de um bem imóvel, faz-se necessário o registro
no Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se
referir a mais de um bem.16
16
Vide questão 5
56
Os bens imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles, caso dos
frutos, das benfeitorias e das pertenças que estão incorporados ao principal;
O domínio direto;
O domínio útil, como ocorre em relação ao direito do usufrutuário;
As estradas de ferro;
As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica
e os monumentos arqueológicos, independentemente do solo onde se acham;
Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis, eis que podem ser
hipotecados;
embarcação tem eficácia extraterritorial, alcançando o âmbito interno nacional. Ex: navio de
nacionalidade liberiana foi hipotecado na Libéria; essa hipoteca produz efeitos aqui no Brasil,
inclusive nas execuções propostas contra a empresa proprietária do navio e que gerem a
penhora dessa embarcação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.222-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 16/11/2017.
Hipoteca convencional: criada pela autonomia privada, ou por convenção das partes;
Hipoteca Legal: decorre da norma jurídica, nas hipóteses do art. 1.489 do CC;
57
Hipoteca cedular: podem o credor e o devedor, no ato constitutivo da hipoteca,
autorizar a emissão da correspondente cédula hipotecária, na forma e para os fins previstos
em lei especial.
Pela extinção da obrigação principal, pois se repise que a hipoteca não pode
16.3.3 Anticrese
É o direito real de garantia pelo qual o credor retém o imóvel do devedor e recebe
seus frutos para pagamento da dívida.
imóvel com os seus frutos) e devedor anticrético (aquele que recebe o dinheiro e entrega a
posse do bem).
previsto no art. 1507, do CC. Ele aduz que o credor anticrético pode administrar o imóvel
dado em anticrese e fruir seus frutos e utilidades. Para tanto, deverá o credor
58
arrendamento, fixando o juiz o valor mensal do aluguel, o qual poderá ser corrigido
anualmente.
Ademais, o credor anticrético responde pelas deteriorações que, por culpa sua, o
imóvel vier a sofrer, e pelos frutos e rendimentos que, por sua negligência, deixar de perceber.
compromisso é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a vender a outro bem imóvel,
outorgando-lhe a escritura após o cumprimento das obrigações. Esses compromissos são
Aduz o art. 1.417 do CC/2002 que mediante promessa de compra e venda, em que não
se pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no
Resolução judicial;
59
16.5 Direitos Reais de Interesse Social
baixa renda, tais direitos reais referem-se a áreas públicas, geralmente invadidas e urbanizadas
por favelas. Existiu a vontade de regularização jurídica das áreas favelizadas para que a
situação de antidireito passe a ser tratada pelo Direito.
dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com
características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família,
tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da
posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel
urbano ou rural.”
como direito real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse
social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento
sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de
Os dois institutos anteriormente estudados ainda não têm a efetiva concreção prática.
60
16.5.3 Laje
base.17
Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática:
alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel
(a "laje") para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção
existente na parte de baixo.
os titulares ou cessionários da laje poderão dela usar, gozar e dispor. Também não há
existência de um condomínio entre as partes envolvidas (em relação ao imóvel construído na
laje.
No entanto, sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios
edilícios, para fins do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição
das partes, que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum
serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o titular da laje, na proporção
Partes:
Lajeiro: o cedente ou proprietário da construção-base.
de modo diverso.
17
Vide questão 2
61
Extinção: quando houver a ruína da construção-base. Exceções: instituído sobre o
subsolo, e, com isso, mesmo com a ruína, o subsolo continuar intacto; construção-
62
QUADRO SINÓTICO
POSSE
Posse é exercida por todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de um dos
poderes inerentes à propriedade (usar, fruir, gozar e dispor). Não é considerado um
CONCEITO
direito real, pois, conforme será explicado posteriormente, o rol dos direitos reais, previsto
no art. 1225, do CC, é taxativo.
Para haver posse, é necessária a apreensão física da coisa e a vontade
TEORIA de ser dono (corpus + animus domini). Diante desse segundo
SUBJETIVA DE elemento, o locatário, o comodatário, o depositário, entre outros, não
SAVIGNY são possuidores, pois não há qualquer intenção de tornarem-se
TEORIAS proprietários.
TEORIA a posse se concretiza com a mera conduta do possuidor, de agir como
OBJETIVA DE se dono fosse, pouco importando a sua vontade em relação à
IHERING propriedade (corpus). Teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro.
DETENÇÃO Detenção, fâmulo de posse ou servidor de posse é aquele que tem a posse não em nome
próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e
instruções. É o que detém a coisa em virtude de dependência econômica ou vínculo de
subordinação (art. 1.198, CC). Ex.: caseiro, zelador de um prédio, etc
63
É a adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou de
INJUSTA precariedade, ou seja, apresenta algum dos vícios, nos seguintes
termos
Obtida por meio de esbulho, for força física ou
POSSE VIOLENTA violência moral (vis). A doutrina tem o costume
de associá-la ao crime de roubo;
POSSE Obtida às escondidas, de forma oculta, à
CLANDESTINA surdina, na calada da noite (clam). É assemelhada
ao crime de furto;
Obtida com abuso de confiança ou de direito
POSSE PRECÁRIA (precario). Tem forma assemelhada ao crime de
estelionato ou à apropriação indébita, sendo
também denominada de esbulho pacífico
QUANTO AOS VÍCIOS SUBJETIVOS OU QUANTO À BOA-FÉ
Possuidor ignora os vícios que impedem ou os obstáculos que lhe
BOA-FÉ impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que
fundamente a sua posse.
O possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim
MÁ-FÉ pretende exercer o domínio fático sobre esta.
QUANTO AO TEMPO
NOVA Exercida a menos de um ano e um dia.
VELHA Exercida a mais de um ano e um dia
QUANTO À PRESENÇA DO TÍTULO
COM TÍTULO OU Quando há uma causa representativa da transmissão da posse,
IUS POSSIDENDI fundado em um documento escrito (um contrato), como ocorre na
vigência de um contrato de locação ou de comodato;
SEM TÍTULO OU Quando não há uma causa representativa, pelo menos aparente, da
IUS transmissão do domínio fático, como pode ocorrer no caso de alguém
POSSESSIONIS achar um tesouro, sem a intenção de fazê-lo.
QUANTO AOS EFEITOS
POSSE AD É a regra geral. É a posse que pode ser defendida pelas ações
INTERDICTA possessórias diretas ou interditos possessórios. Essa posse não
conduz à usucapião;
POSSE AD É a exceção. É a que se prolonga por determinado lapso de tempo
USUCAPIONEM previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela
(USUCAPÍVEL) usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Deve ser
mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei,
ininterrupta e com intenção de dono, e em regra, deve ter os
requisitos do justo título e da boa-fé.
64
LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E O DESFORÇO IMEDIATO
A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela,
autodefesa ou de defesa direta, independentemente de ação judicial, cabíveis ao possuidor
direto ou indireto contra as agressões de terceiro.
Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi
definitivo, cabe a legítima defesa.
Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à
retomada do bem esbulhado.
FORMAS DE As formas de aquisição de posse podem ser classificadas como formas de aquisição
originárias, em que há um contato direto entre a pessoa e a coisa. Já as formas de
AQUISIÇÃO DA
aquisição derivadas, acontecem quando há uma intermediação pessoal. O exemplo mais
POSSE
comum é a tradição, que vem a ser a entrega da coisa.
ADQUIRENTE O art. 1.205, do CC, preconiza que a posse pode ser adquirida: pela própria pessoa que a
pretende ou por seu representante; ou por terceiro sem mandato, dependendo de
ratificação.
65
Serão ressarcidas somente as benfeitorias
POSSUIDOR DE necessárias; não lhe assiste o direito de retenção
MÁ-FÉ pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Não responde pela perda ou deterioração da
coisa, a que não der causa. Assim, para o
POSSUIDOR DE possuidor ser responsabilizado pela perda ou
QUANTO À BOA-FÉ deterioração da coisa se faz necessário a
RESPONSABILI- comprovação da culpa em sentido amplo, ou seja,
DADE responsabilidade é subjetiva.
Responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual
POSSUIDOR DE modo se teriam dado, estando ela na posse do
MÁ-FÉ reivindicante. Nesse caso, a responsabilidade será
objetiva, a não ser que prove que a coisa se
perderia mesmo se estivesse com o reivindicante
PERDA DA Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o
bem, ao qual se refere o art. 1.196.” Em resumo, perde a posse aquele que vê cessar os
POSSE
elementos da propriedade.
Pelo abandono da coisa;
Pela tradição, ou seja, entrega da coisa;
Pela perda ou destruição da coisa;
Pela posse de outrem;
Pelo constituto possessório.
COMPOSSE Ocorre quando uma coisa indivisa (mesma coisa) é partilhada por uma pluralidade de
sujeitos, havendo um condomínio de posses em relação ao bem. Pode ter origem inter
vivos ou mortis causa. Podem ser divididas em:
PRO INDIVISO OU Cada possuidor tem a parte ideal do bem, não sendo possível
INDIVISÍVEL determinar, no plano fático e corpóreo, qual a parte de cada
um. O bem é indivisível.
PRO DIVISO OU Há uma divisão de fato do bem entre os compossuidores,
DIVISÍVEL determinável no plano fático e corpóreo. O bem é divisível.
DIREITOS REAIS
PROPRIEDADE CONCEITO
É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um bem
ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, CC). O tema da
propriedade em encontra-se previsto nos artigos 1.228 a 1.360 do Código Civil. A
propriedade deve ser exercida com base na função social e socioambiental a ela destinada.
66
ELEMENTOS
USAR Como o próprio nome já diz, é a faculdade de usar a coisa, dar destinação
como bem entender. Ex: morar.
FRUIR OU Trata-se da faculdade de retirar os frutos da coisa, que podem ser naturais,
GOZAR industriais ou civis. Ex: alugar.
DISPOR É a possibilidade de transmissão gratuita ou onerosa do bem. Ex: vender
ou doar.
REIVINDICAR Será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade, sendo a
mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio.
Ex: entrar com ação judicial contra quem detiver a posse de forma injusta.
CLASSIFICAÇÃO DA PROPRIEDADE
PLENA OU O proprietário tem em sua mão todos os elementos da propriedade (uso,
ALODIAL fruição, disposição e reivindicação), sem que terceiros tenham qualquer
direito sobre a coisa.
LIMITADA OU Quando recai sobre a propriedade algum ônus, caso da hipoteca,
RESTRITA servidão ou usufruto; ou quando a propriedade for resolúvel, dependente
de condição ou termo.
NUA Corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser
PROPRIEDADE proprietário e de ter o bem em seu nome.
DOMÍNIO ÚTIL Corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da
coisa.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE
DIREITO Pode ser considerado, em regra geral, o direito a propriedade como um
ABSOLUTO direito absoluto, pelo seu caráter erga omnes, ou pelo fato do proprietário
poder desfrutar da coisa como bem entender.
DIREITO A mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a
EXCLUSIVO duas ou mais pessoas, em idêntico lapso temporal, salvo os casos de
condomínio ou copropriedade, hipótese que também não retira o seu
caráter de exclusividade.
DIREITO O direito de propriedade permanece independentemente do seu exercício,
PERPÉTUO enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas de origem
legal ou convencional.
DIREITO A propriedade pode ser distendida ou contraída quanto ao seu exercício,
ELÁSTICO conforme sejam adicionados ou retirados os atributos que são destacáveis.
DIREITO A propriedade é um direito por demais complexo, particularmente pela
COMPLEXO relação com os quatro atributos (usar, gozar, dispor e reivindicar).
DIREITO O direito de propriedade é um direito fundamental, pelo que consta do art.
FUNDAMEN- 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal.
TAL
67
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
ACESSÃO (NATURAIS OU ARTIFICIAIS)
É o direito do qual o proprietário de um bem passa a adquirir a propriedade de tudo
aquilo foi incorporado de forma natural ou artificial.
FORMAÇÃO Ilha é uma faixa de terra cercada de água por todos os lados.
DE ILHAS
Conforme determina o art. 1250, do CC, aluvião são “Os acréscimos
formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros
naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas
destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização”.
ALUVIÃO ALUVIÃO Acréscimo paulatino de terra que o rio deixa
PRÓPRIA naturalmente nos terrenos ribeirinhos
ALUVIÃO Acréscimo que se forma quando parte do álveo
IMPRÓPRIA descobre-se em razão do afastamento das águas
correntes. Assim, pode-se dizer que a água vai.
Nos termos do art. 1.251, do CC, há avulsão “Quando, por força natural
violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a
AVULSÃO outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o
dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado”.
ÁLVEO Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo
ABANDONA- natural e ordinariamente enxuto (art. 9º do Código de Águas). Nesse
DO sentido, álveo abandonado é o rio ou a corrente de água que seca.
CONSTRU- São as formas de acessões artificiais.
ÇÕES E
PLANTAÇÕES
USUCAPIÃO
Pode ser conceituado como a forma de aquisição originária da propriedade pela
posse prolongada.
Para a decretação da usucapião é necessário o cumprimento dos seguintes
requisitos:
Posse com intenção de dono (animus domini);
Posse mansa e pacífica;
Posse contínua e duradoura, em regra, e com determinado lapso temporal: essa
posse deve ser sem intervalos, sem interrupção;
Posse de boa-fé e com justo título, em regra: na usucapião ordinária é
necessário; para outras modalidades de usucapião, é dispensável.
REGISTRO IMOBILIÁRIO
68
O registro imobiliário, que se situa no plano da eficácia do contrato, é que gera a aquisição
da propriedade imóvel. Esse entendimento está presente no art. 1245, do CC: “Transfere-se
entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis”.
Assim, o registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os bens
móveis.
SUCESSÃO HEREDITÁRIA
Dá-se por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o lugar
do de cujus em todos os seus direitos e deveres. Ocorrendo a morte, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, em razão do princípio
da saisine.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
Aquele que se declarar proprietário de coisa sem dono, logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação proibida em lei. A ocupação pode
OCUPAÇÃO
ocorrer em razão da coisa nunca ter pertencido a ninguém, que no caso
seria res nullius, como pode acontecer no caso da coisa ser abandonado,
que seria res derelictae.
ACHADO DO O Código Civil define o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas
TESOURO preciosas, oculto e de cujo dono é desconhecido
69
safras diferentes.
São justaposição ou sobreposição de uma coisa
sobre outra, sendo impossível a separação sem
ADJUNÇÃO deterioração do bem formado. Exemplos: tinta em
relação à parede; selo valioso em álbum de
colecionador.
TRADIÇÃO Como já foi exposto, a tradição é a entrega da coisa ao adquirente, com
a intenção de lhe transferir a sua propriedade ou a posse
DIREITOS DE VIZINHANÇA
Os direitos de vizinhança constituem claras limitações ao direito de propriedade, em prol do
bem comum, da paz social. Suas regras impostas são consideradas propter rem, ou seja,
acompanham a coisa onde quer que ela esteja, independente da vontade do proprietário.
USO Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de
ANORMAL fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
DA saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade
PROPRIEDA- vizinha.
DE
ÁRVORES Árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois
LIMÍTROFES prédios, presumindo-se de forma relativa pertencer em comum aos
donos dos prédios confinantes.
PASSAGEM Aduz o art. 1286, do CC: “Mediante recebimento de indenização que
DE CABOS E atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o proprietário é
TUBULAÇÕES obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos,
tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade
70
pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for
impossível ou excessivamente onerosa”.
Determina o art. 1288, do CC: “O dono ou o possuidor do prédio inferior é
obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não
ÁGUAS podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição
natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas
pelo dono ou possuidor do prédio superior”.
DIREITO DE O direito de tapagem é o direito que o proprietário de um imóvel tem de
TAPAGEM E cercar, murar, valar e tapar de qualquer modo o seu prédio urbano ou
DOS LIMITES rural.
ENTRE
PRÉDIOS
DIREITO DE Ao proprietário é garantido amplo direito de construção, resguardados o
CONSTRUIR direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.
CONDOMÍNIO OU COMPROPRIEDADE
Condomínio é a propriedade em comum por mais de uma pessoa. Um mesmo bem pode
pertencer a várias pessoas, cabendo a cada uma, igual direito sobre o todo.
São espécies de condomínio:
CONVEN- É o condomínio formado de acordo de vontade das pessoas, onde cada
CIONAL OU condômino tem a propriedade plena e total sobre a coisa, apenas sendo
VOLUNTÁRIO limitado pelos direitos dos demais. Sendo assim, não cabe reintegração de
posse por um dos condôminos contra os demais.
NECESSÁRIO As situações típicas de condomínio legal ou necessário envolvem o direito
OU LEGAL de vizinhança, quando existir as meações de paredes, cercas, muros e
valas.
No condomínio edilício (como o próprio nome já diz, de edifício, mas
EDILÍCIO também aplica-se aos clubes de campo e loteamentos) pode haver partes
que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum.
MULTIPRO- Como já foi falado anteriormente, a multipropriedade é o regime de
PRIEDADE OU condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é
TIME- titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e
SHARING gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos
proprietários de forma alternada.
PROPRIEDADE RESOLÚVEL
A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição ou pelo
termo. Assim, a duração da propriedade se subordina a um acontecimento futuro certo ou
incerto, que será previsto no próprio título constitutivo.
As espécies de propriedade resolúvel podem ser divididas em:
CONDIÇÃO Condição/cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento
71
RESOLUTIVA futuro e incerto. Resolutiva: o implemento (realização) extingue os efeitos
do ato (resolver = extinguir).
TERMO Termo: cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento
FINAL futuro e certo. Final: há uma data determinada para a cessação dos efeitos
do negócio jurídico.
72
EXTENSÃO coisa), ou parcial ou restrito (não abranger todos os
acessórios);
USO O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa,
havendo a cessão apenas do atributo de utilizar a coisa, seja ela móvel
ou imóvel. As partes são denominadas de proprietário e usuário.
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de
fruição, eis que apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja
HABITAÇÃO
o direito de habitar o imóvel. As partes são denominadas de proprietário
e habitante.
É um instituto novo que veio substituir a enfiteuse. Nele o proprietário
concede, por tempo determinado, gratuita ou onerosamente, a outrem o
SUPERFÍCIE
direito de construir ou plantar em seu terreno. Tal garantia deve ser
mediante escritura pública, devidamente registrada no Cartório de Registro
de Imóveis.
DIREITOS Têm por finalidade garantir ao credor recebimento de seu crédito, por vincular
determinado bem pertencente ao devedor. Se a dívida for assegurada por uma garantia real
REAIS DE
e o devedor não pagá-la, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido
GARANTIA
judicialmente.
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
PREFERÊNCIA Conforme o art. 1.422 do CC o credor hipotecário e o pignoratício têm
preferência no pagamento a outros credores,
INDIVISIBILI- O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
DADE exoneração correspondente da garantia;
SEQUELA Caráter propter rem, ou seja, acompanham a coisa onde quer que ela
esteja;
ESPÉCIES
73
PENHOR É transferência da posse de coisa móvel ou mobilizável realizada
pelo devedor ao credor, para garantir o pagamento de um débito
O penhor possui as seguintes modalidades:
LEGAL São credores pignoratícios, independentemente
de convenção e por força automática da lei;
74
Os bens imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente
com eles, caso dos frutos, das benfeitorias e das pertenças que
estão incorporados ao principal;
O domínio direto;
O domínio útil, como ocorre em relação ao direito do
usufrutuário;
OBJETO As estradas de ferro;
As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais
de energia hidráulica e os monumentos arqueológicos,
independentemente do solo onde se acham;
Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis,
eis que podem ser hipotecados;
As aeronaves, do mesmo modo dos navios;
O direito de uso especial para fins de moradia;
O direito real de uso;
A propriedade superficiária.
HIPOTECA Criada pela autonomia privada, ou por
CONVENCIONAL convenção das partes;
HIPOTECA Decorre da norma jurídica, nas hipóteses do art.
LEGAL 1.489 do CC
Podem o credor e o devedor, no ato
HIPOTECA constitutivo da hipoteca, autorizar a emissão da
CLASSIFICAÇÃO CEDULAR correspondente cédula hipotecária, na forma e
para os fins previstos em lei especial.
A decisão que condenar o réu ao pagamento
HIPOTECA de prestação consistente em dinheiro e a que
JUDICIAL determinar a conversão de prestação de fazer,
de não fazer ou de dar coisa em prestação
pecuniária valerão como título constitutivo de
hipoteca judiciária. (art. 495 do CPC).
ANTICRESE É o direito real de garantia pelo qual o credor retém o imóvel do
devedor e recebe seus frutos para pagamento da dívida.
Aduz o art. 1.417 do CC/2002 que mediante promessa de compra e venda, em que não se
pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição
75
do imóvel. Esse direito real possibilita a reivindicação da coisa em face de qualquer
terceiro que eventualmente a adquiriu indevidamente.
Estabelece o art. 1º da Medida Provisória 2.220/2001: “Art. 1º Aquele
que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco
DIREITOS CONCESSÃO DE
anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta
REAIS DE USO ESPECIAL
metros quadrados de imóvel público situado em área com
INTERESSE PARA FINS DE
características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua
MORADIA
SOCIAL moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso
especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse,
desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título,
de outro imóvel urbano ou rural.”
O art. 7 do Decreto-Lei 271/1967 dispõe que “É instituída a
concessão de uso de terrenos públicos ou particulares remunerada
CONCESSÃO DE
ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real
DIREITO REAL DE
resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de
USO
interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo
da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das
comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras
modalidades de interesse social em áreas urbanas”.
O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de
terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical,
LAJE
como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as
demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da
construção-base.
ESPÉCIES DE USUCAPIÃO
76
ou Não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural;
pro misero
USUCAPIÃO Área rural não superior a 50 hectares;
ESPECIAL RURAL Posse por 5 anos ininterruptos;
ou Sem oposição;
77
A Lei nº 11.977/09, que disciplina o Programa Minha Casa Minha Vida, trouxe a
possibilidade de usucapião, sem a intervenção do Poder Judiciário, de imóveis
urbanos para fins de regularização fundiária de interesse social, cujos procedimentos
seriam feitos diretamente no Registro de Imóveis.
Esta lei instituiu a conversão da legitimação de posse em propriedade, instituto
conhecido doutrinariamente como “usucapião administrativa”, sendo um mecanismo
ágil, eficiente e menos oneroso para a regularização fundiária da ocupação do solo
urbano, visando o direito social à moradia (art. 6º da CF).
USUCAPIÃO
Com o advento da Lei 13.465/17 o instituto da usucapião administrativa ganhou força
ADMINISTRATIVA e maior praticidade e operabilidade.
A Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passou a vigorar com as seguintes
alterações:
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento
extrajudicial de usucapião – USUCAPIÃO ADMINISTRATIVA –, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver
situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por
advogado, instruído com:
78
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
VUNESP – 2019 – TJ/RJ: Foi registrado um loteamento que, entretanto, nunca foi implantado.
Judas e sua família construíram e começaram a morar numa área que seria destinada a ser um
logradouro público. Após 10 anos de ocupação mansa e pacífica, mediante moradia com sua
A) não poderá ser reconhecida, tendo em vista que não decorreu o prazo de 15 anos da
usucapião extraordinária, quando então poderá ser reconhecida.
que se presume o justo título e boa-fé, em razão da longevidade da posse e da sua função
social.
C) poderá ser reconhecida, desde que o imóvel tenha dimensão inferior a 250 m2 e Judas não
Comentário:
A alternativa E está correta, porque uma das principais características dos bens públicos é
É isso que, há muito, se extrai da Súmula 340 do STF: “Desde a vigência do Código Civil,
os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por
usucapião”.
79
Mais recentemente, o STJ editou a Súmula 619, segundo a qual “A ocupação indevida de
bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou
interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.
interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois
Questão 2
VUNESP – 2018 – PGE/SP: Sobre o direito real de laje, é correto afirmar:
de sua construção a outrem para que ali construa unidade distinta daquela originalmente
construída sobre o solo.
B) a ruína da construção-base não implica extinção do direito real de laje se houver sua
C) as unidades autônomas constituídas em matrícula própria poderão ser alienadas por seu
titular sem necessidade de prévia anuência do proprietário da construção-base.
80
D) confere ao seu titular o direito de sobrelevações sucessivas, mediante autorização expressa
ou tácita do proprietário da construção-base, desde que observadas as posturas edilícias e
urbanísticas vigentes.
E) contempla espaço aéreo e subsolo, tomados em projeção vertical, atribuindo à sua titular
fração ideal de terreno que comporte construção.
Comentário:
Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito
Questão 3
CESPE – 2018 – PGE/PE: Por meio de escritura pública devidamente registrada, Pedro
A) superfície.
C) uso.
D) usufruto temporário.
E) habitação.
Comentário:
81
Direito de Superfície (gabarito da questão): Art. 1.369 a 1.377, CC. Concessão pelo
proprietário de terreno do direito de construir ou plantar ao superficiário, por prazo
Direito de servidão contínua: Art. 1.378 a 1.389, CC. Por meio da servidão contínua
Direito de uso: Art. 1.412 a 1.413, CC. Por meio deste direito, o proprietário concede o
atributo de utilizar a coisa (móvel ou imóvel) ao usuário, o qual perceberá os seus frutos
Direito de habitação: Art. 1.414 a 1.416, CC. Quando o uso consiste no direito de habitar
gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas
Questão 4
FCC – 2018 – PGE/TO: O proprietário de um imóvel onde foi edificado um galpão comercial
de grandes dimensões precisa otimizar as receitas decorrentes da exploração desse bem. Uma
das alternativas que lhe foram apresentadas foi a construção de um espaço para a realização
de feiras e eventos, atraindo, assim, mais interessados em utilizar também o galpão comercial.
Considerando que não há área livre de terreno suficiente para a edificação do espaço
pretendido, o proprietário
A) poderá transferir o direito de construir de seu terreno para que o adquirente o exerça em
82
B) poderá edificar a construção no espaço aéreo do galpão comercial, desde que
tecnicamente possível e que seja o responsável direto pela exploração, vedada a cessão a
terceiros.
feiras e eventos.
E) deverá outorgar a terceiros o direito de construir em seu terreno, de forma que não seja
responsável pelos investimentos necessários para implantação do projeto, remanescendo com
Comentário:
E Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o
superfície, que é o direito que o proprietário cria em favor de alguém de construir no seu
imóvel (Art. 1369, "caput", do CC). Esse direito de construir compreende também o
espaço aéreo do imóvel (Art. 21, par. 1 do Estatuto da Cidade), o que possibilita que o
proprietário crie o direito de superfície, mesmo que toda a área do solo já esteja
83
edificada, como menciona a questão. É estipulado um prazo para fruição da construção
(acessão), ao final do qual a propriedade da construção se consolida na esfera jurídica do
proprietário do solo - ele passa a ser proprietário, não só do solo, mas também da
Questão 5
CESPE – 2019 – TJ/PA: Teixeira firmou com Albérico contrato de compra e venda por meio
do qual adquiriu 50 vacas leiteiras para servir-lhe como fonte de renda familiar,
comprometendo-se a pagar pelos semoventes o valor de R$ 135 mil. Teixeira ofereceu como
garantia real hipotecária ao cumprimento da obrigação pactuada o único imóvel residencial de
sua propriedade, contudo a referida garantia não foi registrada no cartório de registro de
imóveis. Como houve o descumprimento do contrato, Albérico ajuizou ação de cobrança, que
foi julgada procedente, tendo Teixeira sido condenado ao pagamento da dívida acordada.
Após o trânsito em julgado, Albérico propôs o cumprimento de sentença, que foi impugnado.
A impugnação foi rejeitada, tendo o magistrado determinado o prosseguimento da
impugnação foi
A) equivocada, pois a cláusula que instituiu a garantia hipotecária, embora fosse válida, era
ineficaz, em razão da falta do registro da hipoteca no cartório de imóveis.
B) equivocada, pois a cláusula que instituiu a garantia hipotecária era inválida, uma vez que só
se daria a constituição do direito real após a sua inscrição no cartório de registro de imóveis.
hipótese de dívida constituída em favor da entidade familiar, não sendo a falta do registro da
hipoteca fator impeditivo para sua validade e eficácia entre as partes como crédito pessoal.
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E) correta, pois se admite a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária, ainda
que a dívida não fosse constituída em favor da entidade familiar, não sendo a falta do registro
da hipoteca fator impeditivo para sua validade e eficácia entre as partes como crédito pessoal.
Comentário:
A impenhorabilidade do bem de família é instituída pela Lei 8.009/90, que dispõe sobre o
direito fundamental à moradia. Todavia, segundo o STJ, o artigo 3º da lei trata das
exceções à regra geral, estabelecendo ser possível a penhora do imóvel que tiver sido
O inciso V afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se
ele foi dado como hipoteca (garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e
esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o bem de família poderá ser alienado e
seu produto utilizado para satisfazer o credor.
Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de
O cuidado com a preservação do bem de família não deve afastar valores como a boa-fé
objetiva. Existem vários julgados do STJ que entendem que a oneração do bem familiar,
mediante seu oferecimento como garantia hipotecária, faz parte da liberdade do
proprietário do imóvel.
Questão 6
CESPE – 2019 – TJ/PA: Paulo mora e detém a posse mansa e pacífica de imóvel, com animus
domni, justo título e boa-fé, há cinco anos e seis meses. O imóvel havia sido adquirido, de
forma onerosa, com base em registro constante em cartório, mas esse registro foi
posteriormente cancelado.
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Nessa situação hipotética, Paulo cumpre os requisitos necessários para a usucapião
A) tabular.
B) especial urbana.
C) extraordinária.
D) especialíssima.
E) especial rural.
Comentário:
USUCAPIÃO TABULAR - Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo
Questão 7
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Caio e Tício celebraram, em 01.01.2007, um compromisso de
compra e venda por meio do qual este promete àquele vender um imóvel urbano, de 1800
m2 de terreno. O compromisso previu uma entrada no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e
60 parcelas de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Caio pagou o valor da entrada, edificou
no terreno e mudou-se para o imóvel no final do ano de 2007, estabelecendo sua moradia
mais pagaria qualquer valor, em razão da edificação que realizou, afirmando textualmente que
já se considerava “dono” do terreno. Tício foi convidado para ser o Diretor Executivo de uma
86
Brasil em 01.01.2019. Em 01.06.2019, Caio ajuizou uma ação de usucapião. Sobre o caso
relatado, pode-se afirmar corretamente:
Não houve a aquisição pela usucapião, tendo em vista que o prazo da prescrição estava
B) Pode ser reconhecida a usucapião, tendo em vista que houve a interversio possessionis,
bem como o decurso do prazo e dos requisitos para o reconhecimento da usucapião
C) Não pode ser reconhecida a usucapião, em razão da inexistência de posse com animus
dominis, tendo em vista que a posse decorrente do contrato de compra e venda não pode ser
boa-fé.
E) Pode ser reconhecida a usucapião ordinária, tendo em vista que o comprador tinha justo
título, decorrente do contrato de compra e venda, bem como a boa-fé presume-se da
Comentário:
USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como
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Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras
Questão 8
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, a posse
C) pode ser adquirida por terceiro sem mandato, dependendo, nesse caso, de ratificação.
D) transmite-se aos herdeiros do possuidor com os mesmos caracteres, mas não aos seus
legatários.
E) do imóvel gera presunção absoluta da posse das coisas que nele estiverem.
Comentário:
Justa é aquela adquirida de boa-fé. ERRADA. Conceitos distintos. Pelo art. 1.200, CC, a
posse Justa é a que não for violenta, clandestina ou precária. Já a posse de boa-fé, nos
termos do art. 1.201, CC, é aquela em que o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo
que impede a aquisição da coisa. Pelo parágrafo único, do art. 1.201, o possuidor com
justo título tem a presunção relativa de boa-fé.
Pode ser adquirida por terceiro sem mandato, dependendo, nesse caso, de ratificação.
CORRETA. Literalidade do art. 1.205, II, CC: “A posse pode ser adquirida por terceiro sem
mandato, dependendo de ratificação”.
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Transmite-se aos herdeiros do possuidor com os mesmos caracteres, mas não aos seus
legatários. ERRADA. CC, art. 1.206, “A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do
possuidor com os mesmos caracteres”. Plus (dicionário informal): Legatário é aquele para
quem alguém deixou algum bem por meio de testamento; é diferente do herdeiro, o
qual recebe os bens da herança por força da lei. Legatário recebe legado e herdeiro
recebe herança.
Do imóvel gera presunção absoluta da posse das coisas que nele estiverem. ERRADA.
Presunção Relativa. CC, art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a
Questão 9
FCC – 2019 – MPE/MT: São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
B) tem a ver com a função social da propriedade, somente, vedando atos impregnados de
ilegalidade.
C) veda o abuso do direito, que embora lícito em sua literalidade desvia-se da finalidade social
D) diz respeito à vedação do abuso do direito, considerado ato ilícito pela legislação civil, e
interpreta-se em harmonia com o princípio da função social da propriedade.
E) diz respeito ao abuso do direito como ato emulativo, mas não se harmoniza com a função
social da propriedade nem gera a invalidade do ato, somente possibilitando perdas e danos
ao ofendido.
Comentário:
89
CC/02, Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
A propriedade é direito de todos, e faz parte das necessidades inerentes ao ser humano.
Porém, é mister que o proprietário exerça esse direito sob a égide da função social da
propriedade. Os direitos só podem se justificar pela missão social para a qual devem
contribuir, ou seja, o proprietário não pode agir com abusividade e ao seu bel prazer,
pois assim poderia ferir direitos e interesses coletivos e difusos, interesses esses que
devem interagir com o seu direito subjetivo e não serem subjugados por ele.
Não pode o proprietário praticar conduta que não lhe traga proveito, vantagem ou
Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Considere as situações a seguir.
I. Joana Dantas é possuidora de um terreno na cidade de Nova Horizontina por quinze anos,
II. Jaciara Ferreira exerce, por três anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre um apartamento de cento e cinquenta metros quadrados na cidade de
Porto Feliz, o qual utiliza como sua moradia e cuja propriedade dividia com seu ex-cônjuge,
Lindomar Silva, que abandonou o lar, não sendo ela proprietária de outro imóvel urbano ou
rural.
90
III. Jandira é possuidora de área de terra em zona rural com cem hectares, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, tornando-a produtiva pelo seu trabalho e tendo nela sua
De acordo com o Código Civil brasileiro, em regra, o domínio integral do respectivo imóvel
será adquirido apenas
D) na situação I.
E) na situação III.
Comentário:
Situação I – Usucapião extraordinário: Art. 1.238, CCB. Aquele que, por quinze anos, sem
Situação II – Usucapião familiar: Art. 1.240-A, CCB. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos
ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano
de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dividia com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de
sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
Situação III – Usucapião especial rural: Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário
de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
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Percebe-se, assim, que apenas a terceira situação trazida pela questão não preenche os
requisitos legais, tendo em vista que Jandira é possuidora de área com metragem
superior à permitida pela Constituição e, via de regra, a jurisprudência não admite que o
possuidor de terreno com metragem superior à prevista em lei pretenda usucapir apenas
parte do imóvel.
92
GABARITO
Questão 1 - E
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - C
Questão 5 - D
Questão 6 - A
Questão 7 - B
Questão 8 - C
Questão 9 - D
Questão 10 - B
93
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Posse
Direitos Reais
Súmula 263-STF:
O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião. Por esse enunciado podemos concluir que
mesmo que o indivíduo (autor da ação) não esteja mais na posse do imóvel, ainda assim ele poderá ter direito à
usucapião desde que, quando perdeu a posse, já tenha preenchido todos os requisitos para a constituição do
direito.
Súmula 391-STF:
Súmula 11-STJ:
A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do
foro da situação do imóvel.
Súmula 237-STF:
Súmula 340-STF:
Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos
por usucapião.
94
Súmula 193-STJ:
A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
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JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017
(Info 610).
Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode reter o bem por
falta de pagamento do serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.094-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/10/2016
(Info 592).
A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas a menos de 1,5m do terreno
vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação
não tem por objetivo limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho de outras
espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física (ex: busca impedir que objetos caiam ou
sejam arremessados de uma propriedade a outra). Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua
configuração, a presença do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m do
terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à eventual atenuação do
devassamento visual.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info
616).
Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos vizinhos que
fazem fronteira com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá
nulidade absoluta do processo? Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes
não acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se
96
falar em nulidade absoluta, no caso. A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de
usucapião é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se
constate o efetivo prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.861-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/10/2015
(Info 572).
A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la. A
hipoteca, no sistema brasileiro, é uma garantia acessória, seguindo, portanto, a sorte (o destino) da obrigação
principal. Assim, prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia hipotecária (art.
1.499 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros particulares. A
ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não pode ser confundida
com a mera detenção. Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome
alheio. Não há entre ele e o proprietário uma relação de dependência ou subordinação. Ainda que a posse não
possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do bem, ela pode ser oposta contra outros particulares,
tornando admissíveis as ações possessórias entre invasores. Realmente, existem acórdãos do STJ no sentido de
que a ocupação de área pública sem autorização expressa e legítima do titular do domínio constitui mera
detenção (STJ. 3ª Turma. REsp 998.409-DF, DJe 3/11/2009). Contudo, neste julgado, a 3ª Turma do STJ, mesmo
reconhecendo a existência desses precedentes, decidiu chegar a uma posição diferentes e entender que há sim
posse. - Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Ao ler esse artigo, percebe-se
que o invasor de uma terra pública não pode ser enquadrado neste conceito, ou seja, não pode ser considerado
detentor. O art. 1.198 fala em “relação de dependência”, de forma que a posse deve ser exercida em nome de
outrem que ostenta o jus possidendi ou o jus possessionis. É o caso, por exemplo, de um “caseiro” que mora no
sítio. Este, sim, é considerado “detentor” porque possui uma relação de dependência com o possuidor e conserva
a posse em nome deste e em cumprimento de suas ordens. - Por outro lado, em sentido contrário, não se pode
dizer que a pessoa que invade terra pública e nela constrói sua moradia esteja exercendo a posse em nome do
Poder Público. Não está. Além disso, não há entre ele e o ente público uma relação de dependência ou de
subordinação. Logo, não há que se falar que o invasor tenha mera detenção. - O invasor possui animus domni,
ou seja, age como se fosse o dono. Sabe-se que as terras públicas não estão sujeitas à usucapião, no entanto,
mesmo assim o invasor age como se fosse o dono. Isso é indiscutível. Na prática, o invasor, na maioria das vezes,
nem sabe quem é o proprietário da terra e também desconhece que não poderá adquiri-la. Ele simplesmente
age como se fosse o dono, de forma que isso caracteriza a posse. Diante desse contexto, é perfeitamente possí-
vel que o invasor de terras públicas proponha interditos possessórios caso um outro particular tente ou
efetivamente consiga tomar-lhe a posse. - Vale ressaltar que o tema é polêmico e, como se trata apenas de uma
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decisão da 3ª Turma, não se pode afirmar, com convicção, que tenha havido uma mudança de entendimento do
STJ sobre o assunto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel
O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do
consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de
passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado.
Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil.).
Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem
público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma
indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de
moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a
empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de passagem.
A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas a menos de 1,5m do terreno
vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação
não tem por objetivo limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho de outras
espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física (ex: busca impedir que objetos caiam ou
sejam arremessados de uma propriedade a outra). Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua
configuração, a presença do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m do
terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à eventual atenuação do
devassamento visual.
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Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião. O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao
Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como
bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).
O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o autor terá os benefícios
da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis." Isso significa
que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da gratuidade da justiça? Há uma presunção
absoluta de que este autor não tem recursos suficientes para pagar as custas? NÃO. O art. 12, § 2º da Lei nº
10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de usucapião
especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da
comprovação inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado".
Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos vizinhos que
fazem fronteira com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá
nulidade absoluta do processo? Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes
não acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se
falar em nulidade absoluta, no caso. A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de
usucapião é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se
constate o efetivo prejuízo. STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/10/2017
Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se
incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp
1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018
A ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.704.498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do processo
judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em
março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art.
1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário
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apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais
atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação,
ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a
usucapião se completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 05/06/2018
É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se inexistente
patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos aterceiros. STJ. 4ª Turma. REsp
1.473.484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018
O credor hipotecário tem interesse de agir para propor ação em face do mutuário visando ao cumprimento de
cláusula contratual que determina a observância dos padrões construtivos do loteamento. Ex: João celebrou
contrato de compra e venda de um imóvel (terreno) em um loteamento. O contrato de compra e venda foi
celebrado entre João e a sociedade empresária Constrói Ltda. Ocorre que neste contrato de compra e venda
havia ainda um pacto adjeto (contrato acessório) de mútuo feneratício com garantia hipotecária, que foi firmado
entre João e a sociedade empresária Habitac Crédito Imobiliário S.A. Por força deste pacto adjeto, João recebeu
da Habitac um empréstimo (mútuo) para adquirir o imóvel e, como garantia de que iria pagar a dívida, deu o
bem em hipoteca. A ideia deste loteamento era a de que todas as casas ali construídas fossem parecidas e
mantivessem uma qualidade mínima. Assim, no contrato havia cláusulas dizendo os padrões que deveriam ser
respeitados no momento da construção (ex: construção toda em alvenaria, fachada com mármore ou granito etc).
João construiu a sua casa no loteamento, mas não respeitou os padrões previstos no contrato. O estilo da
fachada não estava igual ao que determinava o projeto e os materiais empregados eram de menor qualidade
que o exigido. Diante disso, a empresa Habitac Crédito Imobiliário S.A. ajuizou ação de obrigação de fazer contra
João pedindo que ele fosse condenado a reformar a casa a fim de deixá-la dentro dos padrões previstos no
contrato. O STJ afirmou que a credora hipotecária tem interesse de agir para propor esta ação. Isso porque ela
tem interesse jurídico na valorização do bem dado em garantia. Se o devedor não pagar a dívida, o bem dado
em hipoteca será alienado. Logo, o credor hipotecário tem interesse em que o imóvel seja construído de acordo
com os padrões estabelecidos para o loteamento a fim de que ele se mantenha valioso e, em caso de
inadimplemento, possa ser vendido por um bom preço, pagando a dívida. STJ. 1ª Turma. REsp 1.400.607-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/05/2018
100
Em ação de execução hipotecária, o credor hipotecário pode requerer a adjudicação do imóvel penhorado pelo
valor constante do laudo de avaliação, independentemente da realização de hasta pública. STJ. 3ª Turma. REsp
1.721.731-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/11/2018
Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp
1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a
inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo
que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se
justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo
imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito constitucional à
moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar a existência de
vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de
sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018
É juridicamente possível a usucapião de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira com capital majoritariamente
controlado por estrangeiros, desde que observadas as mesmas condicionantes para a aquisição originária de
terras rurais por pessoas estrangeiras - sejam naturais, jurídicas ou equiparadas. A Lei nº 5.709/71 impõe uma
série de condições para que estrangeiros adquiram terras rurais no Brasil. Uma pessoa jurídica nacional que tenha
seu capital social controlado por estrangeiros também está sujeita às mesmas restrições, por força do art. 1º, § 1º,
da Lei nº 5.709/71. Isso não significa que ela não possa adquirir imóveis rurais no Brasil. Podem sim, inclusive
mediante usucapião. No entanto, precisam cumprir as regras da Lei nº 5.709/71. STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.038-
CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/11/2018
Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp
1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019
PROPRIEDADE. O registro do título translativo no Cartório de Registro de Imóveis como condição imprescindível
à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos propugnada pela lei civil não se confunde, tampouco
pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial. O contrato social que
101
estabelece que a integralização do capital social será feita por meio da transferência de um imóvel pelo sócio,
depois de ser devidamente inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis (da Junta Comercial), torna-se um
título translativo, ou seja, um título que serve para transferir a propriedade imóvel, mas desde que seja levado a
registro no cartório de Registro de Imóveis, conforme determina o caput do art. 1.245 do CC. Enquanto não for
feito o registro do título translativo (contrato social) no Cartório de Registro de Imóveis, o bem com o qual se
deseja fazer a integralização não compõe ainda o patrimônio da sociedade empresarial. Ex: o contrato social
previu que um dos sócios integralizaria o capital social transferindo imóvel de sua propriedade para a sociedade
empresária; mesmo após esse contrato social ser registrado na Junta Comercial, o bem ainda não foi transferido;
exige-se ainda o registro desse contrato social no Cartório de Registro de Imóveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.743.088-
PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/03/2019.
Não é necessária a outorga uxória para validade e eficácia de contrato de arrendamento rural. Nos termos do
Decreto nº 59.566/66, o arrendamento rural é, por definição legal, o contrato mediante o qual uma pessoa se
obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, mediante retribuição. Não
há exigência legal de forma especial para a sua plena validade e eficácia, sendo o arrendamento rural um
contrato não solene.
CONTRATO DE INCORPORAÇÃO IMOBOLIÁRIA. Termo inicial dos juros de mora incidentes sobre a restituição das
parcelas pagas em caso de resolução judicial do contrato por iniciativa do promitente comprador de forma
diversa da cláusula penal convencionada. Nos compromissos de compra e venda de unidades imobiliárias
anteriores à Lei nº 13.786/2018, em que é pleiteada a resolução do contrato por iniciativa do promitente
102
comprador de forma diversa da cláusula penal convencionada, os juros de mora incidem a partir do trânsito em
julgado da decisão.
AÇÃO POSSESSÓRIA. Em ação possessória ajuizada pelo fazendeiro que teve o imóvel invadido por indígenas,
não cabe a realização de laudo antropológico para examinar se são terras indígenas. É inadequada a discussão
acerca da tradicionalidade da ocupação indígena em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda antes
de completado o procedimento demarcatório. Assim, não cabe produção de laudo antropológico em ação
possessória ajuizada por proprietário de fazenda ocupada por grupo indígena.
USUCAPIÃO. Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a clandestinidade ou a
violência. Nos termos do art. 1.261 do cc/2002, aquele que exercer a posse de bem móvel, interrupta e
incontestadamente, por 5 anos, adquire a propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer vício
anterior. A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência (roubo) somente induz a
posse após cessado o vício (art. 1.208 do cc/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente
para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime
AÇÃO POSSESSÓRIA ENTRE PARTICULARES. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do
ente público.
103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito das Coisas. V. 5. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
104
Capítulo 7
SUMÁRIO
18.1 Morte............................................................................................................................................................... 23
19.3 Pacto Antenupcial (Art. 1653 a 1657 do CC) e o Regime Legal ........................................... 34
22.4 Exoneração.................................................................................................................................................... 76
GABARITO ........................................................................................................................................................................125
LEGISLAÇÃO COMPILADA.........................................................................................................................................126
JURISPRUDÊNCIA.............................................................................................................................................................129
Capítulo 7
Por isso, a família deixou de ser casamentária e passou a ser plural; deixou de ser
patriarcal e passou a ser igualitária. A família é baseada no afeto, na ética, dignidade e
Proteção da dignidade da pessoa humana (art.1º, III, CF/88): deve ser analisada a
partir da realidade do ser humano em seu contexto social;
afetivo, quanto social, moral, patrimonial, etc; ex.: alimentos necessários (art. 1694,
§2º, CC)
Igualdade:
Entre filhos (art. 227, §6º, CF/88 c/c art. 1596, CC): juridicamente, todos os
filhos são iguais perante a lei, mesmo que decorrentes de relações
matrimoniais ou não. Esse regramento se difere do previsto no ordenamento
anterior, que privilegiada aqueles havidos dentro do casamento;
6
Entre cônjuges e companheiros (art. 226, §5º, CF/88 c/c art. 1511, CC): há
igualdade em relação à sociedade conjugal e à convivência. Assim, é
Maior interesse da criança/adolescente (art. 227, CF/88 c/c art; 1538 e 1584, CC):
deve-se haver a proteção integral dos menores, com vistas a favorecer o seu
deve-se ser levado, cada vez mais, o afeto nas relações familiares, em vez de
critérios biológicos ou patrimonialistas. Ex.: parentalidade socioafetiva, pela qual se
considerada existente o vínculo de filiação através do afeto de um indivíduo por
Boa-fé objetiva: pois não basta a mera intenção das partes (boa-fé subjetiva),
devendo haver a lealdade entre as partes;
1
Informativo n. 625, ADPF 132/RJ e AI 4277/DF.
7
pluriparental (decorrentes de vários casamentos, relacionamentos afetivos, uniões
estáveis), eudemonista, etc.
estável, dissolução, relação entre pais e filhos, vínculo de parentesco, alimentos e os institutos
complementares da tutela, curatela e ausência.
Casamento (art. 226, §§1º e 2º): conjunto de pessoas unidas pelo casamento
(cônjuges e filhos).
União estável entre o homem e a mulher (art. 226, §3º): trata-se da chamada
entidade familiar.
admitidas outras formas de manifestação das entidades familiares. Vejamos algumas delas:
Família anaparental: quer dizer família sem pais. Ex: o STJ entendeu que o imóvel
em que residem duas irmãs solteiras constitui bem de família, pelo fato delas
8
17.3.1 Casamento
É a união legal, o vínculo jurídico, entre homem e mulher que visa o auxílio mútuo,
autoridade celebrante pode ser causa de anulação (art. 1.550, VI, CC).
Assim, o casamento é o ato que estabelece entre as partes comunhão plena de vida,
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (teoria contratualista).
Apesar do conceito clássico de casamento trazer que o casamento se dará apenas entre
pessoas de sexos distintos, o Brasil admite, na atualidade, o casamento entre pessoas do
mesmo sexo.
O casamento é celebrado e desfeito com base única e exclusivamente pela vontade das
partes. Assim, adota-se a Teoria Mista ou Eclética pela qual o casamento é uma instituição
quando ao conteúdo e um contrato especial quanto à formação, com regras e princípios
próprios.
9
Desse modo, o casamento está baseado no princípio da monogamia (art. 1521, VI, CC),
liberdade de escolha (exceto em caso de impedimento matrimoniais que veremos a seguir) e
17.3.1.2 Finalidade
Fidelidade recíproca.
Coabitação (relativa): o que caracteriza o abandono é a intenção de não mais
retornar ao lar. E não um afastamento temporário por motivo de serviço.
homem e pela mulher (art. 226, 5°, CF). O art. 1.511, CC prevê que: “O casamento estabelece
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.
10
Ambos devem colaborar nos encargos da família.
17.3.1.5 Proibições
Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização (escrita e expressa) do outro, exceto no
17.3.1.7 Condições
11
Validade do ato nupcial: exige-se a aptidão física (puberdade e sanidade) e
Habilitação
publicidade ao ato. Trata-se de uma atitude preventiva, a fim de se evitar que pessoas
impedidas se casem.
A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência
Edital de proclamas
contrair núpcias) são afixados nos Cartórios de ambos os nubentes. Decorridos 15 dias, o
oficial entrega aos nubentes uma certidão de que estão habilitados a se casar dentro de 90
dias, sob pena de decadência. Se não houver casamento neste prazo, deve-se renovar todo o
processo de habilitação. Em casos excepcionais pode haver dispensa da publicação (art.
1.527, parágrafo único, CC). Ex: grave enfermidade, parto iminente, viagem inadiável, etc. Na
Celebração do casamento
habilitação.
2
Vide questão 6
12
Será realizado na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes
pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes. Se as partes quiserem, e
Após ouvir dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea
Aperfeiçoamento
Tanto o homem como a mulher atingem a idade núbil aos 16 anos. Todavia os
injusta, poderá a autorização ser suprida pelo Juiz (art. 1.631, parágrafo único, CC).
casamento de pessoa que ainda não houvesse alcançado a idade núbil, em caso de gravidez.
Atualmente, contudo, com a alteração da redação do art. 1.520 do CC, “não será permitido,
13
17.3.1.10 Impedimentos e Causas Suspensivas
público e, em razão disso, podem ser arguidos por qualquer pessoa interessada ou pelo
Ministério Público, sendo uma ação imprescritível;
No caso dos impedimentos, eles podem ser opostos, até o momento da celebração do
casamento, porém, se assim o fizer, acarretará mero ônus legal: adoção do regime legal
14
obrigatório, o Regime de Separação Legal/Obrigatória (art. 1641, I, CC). Diferentemente do
que ocorre nos impedimentos matrimoniais, por não se tratarem de questões de interesse
público, os legitimados para arguir a existência de causas suspensivas são apenas os parentes
em linha reta de um dos cônjuges, consanguíneos ou afins, e colaterais em segundo grau,
consanguíneos ou afins;
O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário.
A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal.
As causas suspensivas só podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos
15
Importante alteração, trazida com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, se refere ao
direito de casar. Não há qualquer impedimento de se realizar casamento com pessoas com
deficiência, tendo em vista que são absolutamente capazes de exercer os atos da vida civil,
salvo incapacidade relativa, excepcionalmente decretada, que também não impede o
casamento.
Quanto à celebração, as regras estão previstas nos arts. 1533 a 1542 do CC. Porém, há
casos em que ocorre formas especiais de celebração em razão de alguma situação específica
dos nubentes.
Vejamos:
impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e
escrever.
á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc,
nomeado pelo presidente do ato.
O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro
16
Também denominado de em viva voz, in extremis vitae momentis ou in articulo mortis
(do latim nuncupare = “dizer de viva voz”), trata-se de situação em que um dos nubentes se
encontra em iminente risco de vida ou à beira da morte (art. 1.540, CC), não havendo,
portanto, tempo para a celebração do casamento conforme as solenidades, não estando
declarando por termo que foram convocadas pela pessoa que corria perigo de morte, mas
estava consciente da sua vontade e que os contraentes, de forma livre e espontânea,
aceitaram o casamento.
Deve ser realizada por instrumento público com poderes especiais, possuindo, a
procuração, eficácia de 90 dias, sendo revogável até o momento da celebração. Embora seja
imprescindível a presença real e simultânea dos contraentes, o Código Civil permite o
casamento por procuração, desde que um dos nubentes não possa estar presente.
A procuração deve ser por instrumento público, com poderes especiais para contrair
casamento, mencionando o regime de bens. Se ambos não puderem comparecer, deverão
17
A procuração pode ser revogada a qualquer tempo antes da celebração do
casamento, mas também será exigido o instrumento público para a revogação (princípio da
atração das formas – a mesma forma exigida para o ato deverá ser usada para a revogação).
terá efeitos civis apenas se for registrado no registro civil a requerimento do casal por meio
de prévia habilitação à autoridade competente, respeitando-se, também, o prazo de 90 dias
(efeito ex tunc),
18
17.3.2 União Estável
É uma união duradoura de pessoas livres e que não estão ligadas entre si por
casamento. O Código Civil permite a união estável entre pessoas solteiras, viúvas, divorciadas,
separadas judicialmente ou separadas de fato.
17.3.2.1 Elementos
Dualidade de pessoas
Publicidade
Durabilidade
Continuidade
Constituição de família
(judicialmente ou de fato).
O Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo. A partir
daí os casais homossexuais terão os mesmos direitos e deveres que a legislação estabelece
para os casais heterossexuais, sendo tratados como um novo tipo familiar. A decisão compara
a união homoafetiva à união estável, para todos os fins jurídicos, tendo efeito vinculante e
erga omnes.
17.3.2.2 Meação
o convivente terá direito à metade dos bens por ocasião da dissolução da união estável
(separação ou morte) se adquiridos onerosamente na vigência da união estável. Não se
19
17.3.2.3 Sucessão
ser aplicado ao regime sucessório entre companheiros as mesmas regras estabelecidas no art.
1.829 do CC para os cônjuges (STF RE 646.721/RS e RE 878.694/MG). No mesmo sentido
17.3.2.4 Deveres
Nota-se que o legislador não colocou os mesmos deveres para o casamento. A lei é
omissa em relação: ao dever de fidelidade e ao da coabitação.
No entanto a doutrina aponta que a fidelidade seria uma espécie de lealdade (esta seria
o gênero). Portanto é evidente que a “traição” pode causar repulsa de tal ordem que torne
insuportável a convivência ao companheiro inocente.
Já em relação à coabitação entende-se que a vida em comum sob o mesmo teto não é
20
17.3.2.5 Separação de Corpos
união estável - art. 1.562, CC), porque nos dois casos há conflitos de interesses que merecem
tutela jurídica.
Trata-se de medida prudente, uma vez que evita ocorrência de danos irreparáveis ou de
mediante pedido dos conviventes ao Juiz e assento no Registro Civil (a conversão de união
estável em casamento pode se operar pela via judicial ou extrajudicial, à escolha do casal –
sendo uma faculdade das partes. Dessa forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções
ao casal: a) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou b)
pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.685.937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/8/2017 (Info 609).
21
17.3.2.7 Nome do Companheiro
núpcias anteriores.
EFEITOS EX-NUNC DA UNIÃO ESTÁVEL: O contrato de União Estável não possui efeitos
retroativos à data de sua celebração, para prestigiar período anterior à sua assinatura.
17.3.3 Monoparentalidade
São as famílias formadas por um só dos pais e sua prole (descendentes). Também
chamadas de famílias unilineares.
22
18. Dissolução do Casamento e da União Estável
Assim, de acordo com o art. 1571 do CC, o casamento poderá ser dissolvido: morte,
invalidade do casamento e pelo divórcio (Lei nº 6515/77), que pode ser consensual ou
litigioso ou, ainda, extrajudicial por meio de cartório.
Turma decidiu que a EC 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da
separação judicial, assim, define que separação judicial ainda é opção à disposição dos
cônjuges.
Portanto, fique atento à pergunta de sua prova, se for uma questão objetiva que
pergunte se houve revogação expressa de tais dispositivos, a resposta é NÃO! Se a pergunta
for relativa ao entendimento do STJ, siga o explicado alhures e se for em uma prova
discursiva, trata-se de divergência interessante para agregar à sua resposta.
18.1 Morte
18.2 Divórcio
partilha, faz cessar o direito sucessório, não admite reconciliação (devendo casar
3
Vide questão 10
23
novamente, se for o caso), novo casamento dos divorciados e mantém inalterados os direitos
e deveres dos pais em relação aos seus filhos (guarda), possibilidade de alimentos,
Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de
homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.
O uso da via cartorária é facultativo e não obrigatório, porém não pode haver
interesse de incapaz. O casal sempre pode optar pelo uso da via judicial. Havendo interesse
de incapaz o uso da via judicial é obrigatório.
24
18.2.2 Divórcio litigioso
contudo, atualmente, trata-se de um procedimento especial previsto nos artigos 693 a 699
do CPC/15.
Assim, de acordo com o art. 693 do CPC, as normas previstas no capítulo das Ações de
25
somente intervirá quando houver interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à
homologação de acordo.
indenização; partilha de bens, etc.) Assim, o juiz julga o pedido de divórcio, de imediato, e o
processo continua para decidir os demais pedidos. O divórcio é direito potestativo, não
COMUNICABILIDADE DOS BENS: Diante do divórcio, não deve ser reconhecida a meação
dos valores depositadas em conta vinculada ao FGTS em datas anteriores à constância do
casamento, se realizado no regime de separação parcial de bens, e que tenham sido utilizados
seria causa terminativa, não dissolutiva. A maioria da doutrina entende que com o advento
da EC 66 não mais existe separação.
Assim, é majoritário que a separação judicial não dissolve o casamento, apenas põe fim
26
STJ4 entende que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária
que trata da separação judicial.
da relação.
Apesar de não constar no CC como causa terminativa nem como causa dissolutiva, não
Para o CC/02, cessará o regime de bens após a separação de fato por mais de 5 anos. O STJ
ignora essa disposição do CC ao considerar que o regime de bens cessa com a separação de
fato (2 anos), harmonizando o sistema. Ora, se a pessoa está separada de fato, pode
constituir união estável e essa união estará submetida à comunhão parcial. Se for aplicado o
art. 1642, V, ele já tem companheira em regime de comunhão parcial e o regime de bens do
casamento.
4
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ. 4ª
Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).
5
Posição do STJ, REsp. 555.771/SP
27
Sub-rogação locatícia (Lei n.8.245/91, art. 12);
Permissão para a contagem do prazo para o usucapião conjugal (CC, art. 1.240-A).
São os casamentos que não deveriam ter acontecidos. A doutrina traz duas hipóteses:
ausência de vontade e celebrado por autoridade totalmente incompetente.
nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida
mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
Ademais, não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez e
28
pelo próprio cônjuge menor
O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu
casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com
suprimento judicial.
Menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias,
por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus
herdeiros necessários.
O prazo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir
do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz. Não se anulará o
O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos
nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
O que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao
cônjuge enganado;
A ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne
insuportável a vida conjugal;
A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não
caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio
29
ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência;
Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação
do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as
Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na
lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado
O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração,
é de:
inequívoco, o consentimento;
Dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
30
Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores
de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da
conhecimento da celebração.
cônjuges, o de boa-fé e os filhos estarão sujeitos aos efeitos legais, e, inclusive, se ambos
estiverem de má-fé, os efeitos recairão apenas nos filhos;
31
19. Regimes de Bens
19.1 Conceito
a exemplo da união estável. É regido pela autonomia privada, pela indivisibilidade (regime
único para ambos), pela variedade de regimes e mutabilidade justificada (é possível a
alteração de regime de bens, desde que por meio judicial, de forma motivada por ambos os
cônjuges, ressalvado direito de terceiros).6
autonomia privada, os cônjuges estão livres para escolher o regime que lhe bem entenderem,
porém, caso são haja escolha, que deve ocorrer através do pacto antenupcial, estarão sujeitos
ao regime legal (comunhão parcial de bens). Ainda, caso estejam sujeitos a uma das regras de
causas suspensivas ou entre outras hipóteses, serão submetidos ao regime obrigatório legal,
o da separação total de bens obrigatória.
19.2 Princípios
Pacto antenupcial é um contrato solene, realizado antes do casamento, por meio do qual
os nubentes escolhem o regime de bens que vigorará durante o matrimônio. Os nubentes
6
Vide questão 7, 11 e 13
32
Se os nubentes nada convencionarem ou sendo nula a convenção, vigorará o regime
da comunhão parcial (art. 1.640, CC). Se optarem por qualquer outro regime, será obrigatório
do art. 1639, CC. A liberdade de pactuar o regime de bens não é absoluta, pois o pacto não
pode conter cláusulas que violem as normas de ordem pública a respeito da matéria.
Regime legal (ou supletório) é aquele que será aplicado ao casamento na hipótese de
omissão de vontade dos nubentes. Também deve ser aplicado nos casos de vícios que
conduzam à nulidade do pacto. Antes do advento da Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), o
regime legal era o da comunhão universal de bens. Com a entrada em vigor do referido
diploma, o regime legal passou a ser o da comunhão parcial, regra mantida pelo CC/2002.
É o princípio que proíbe a celebração de casamento com regimes distintos para cada
um dos cônjuges, visto que o regime é uno. Contudo, isso não impede disposições especiais
Atualmente a lei permite a mutabilidade do regime adotado, desde que haja uma
33
Ação judicial: a alteração só é possível mediante ação de alteração do regime
de bens, assim, em regra, esta ação deve ser distribuída na Vara de Família, ou
na sua ausência, deve ser distribuída na Vara Cível.
Absoluto consenso entre os cônjuges;
Justo motivo: o pedido de alteração do regime de bens deverá ser motivado e
o juiz analisará a procedência das razões invocadas.
Ressalva de direitos de terceiros;
Assim, de acordo com o art. 734 do CPC, a alteração do regime de bens do casamento,
observados os requisitos legais, poderá ser requerida, motivadamente, em petição assinada
por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a alteração,
ressalvados os direitos de terceiros.
publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir
depois de decorrido o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital.
cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.
Assim, deve existir sempre que os nubentes adotarem regime de bens diversos do
regime legal e desde que não seja o obrigatório, visto que, nesse caso, não se leva em
7
Vide questão 2
34
consideração a vontade deles. A sua nulidade de alguma cláusula não atinge o todo o pacto,
em razão princípio da conservação dos negócios jurídicos.
O regime legal de bens, é aquele estabelecido sem pacto antenupcial, assim, se não
houver disposição em sentido contrário, o casamento e a união estável serão realizados sobre
o regime de comunhão parcial de bens.
19.4 Espécies
Trata-se do regime legal aplicado sempre que os cônjuges não escolherem outro por
meio do pacto antenupcial, assim, é o que vigora no silêncio das partes ou nulidade do
pacto antenupcial. Nesse regime, regra geral, comunicam-se todos os bens (bens comuns)
havidos durante o casamento, exceto se forem incomunicáveis. Assim, forma-se duas massas
patrimoniais: bens comuns e bens particulares.8
de bens que cada cônjuge possuía antes de casar, bem como os que vierem depois, por
doação ou sucessão (e os sub-rogados em seu lugar). Por outro lado, cada consorte
Em caso de divórcio, cada um ficará com sua parte e será repartida apenas a parte
comum. Já em caso de morte, o cônjuge ou companheiro sobrevivente também ficará com
sua parte exclusiva, herdará a parte exclusiva do de cujus, e será meeiro da parte em
conjunto.
8
Vide questão 4
35
Não confundir meação com herança. Isso sempre é um tema de prova e possui um altíssimo
BENS COMUNS (art. 1658, 1660, 1662, CC) BENS PARTICULARES (art. 1659 e 1661,
CC)
Durante o casamento Os bens particulares que já possuíam
Constituídos durante o casamento, à ao casar e aqueles recebidos por
título oneroso, ainda que em nome doação ou herança ou sub-rogados
de um dos cônjuges; em seu lugar;
Bens adquiridos por fato eventual Bens adquiridos com valores
mesmo que sem a colaboração do exclusivos de um dos cônjuges ou
outro; ex.: loteria sub-rogados de bens particulares;
Doação, herança ou legado em favor Obrigações anteriores ao casamento,
de ambos os cônjuges; ou seja, dívidas que não foram
Benfeitorias necessárias, úteis e constituídas para pagar encargos
voluptuárias dos bens particulares; familiares;
Frutos civis (rendimentos) ou Bens de uso pessoal de casa
naturais de bens comuns ou cônjuge, inclusive instrumento de
particulares, desde que recebidos profissão;
durante o casamento ou, se Proventos do trabalho pessoal;
pendentes, quando cessar; Pensões, meios-soldos e montepios;
Os bens móveis (presunção relativa); Bens adquiridos por causa anterior
ao casamento;
36
A administração dos bens cabe a qualquer dos cônjuges, exceto se houver
malversação dos bens, caso em que o juiz irá determinar a administração à apenas um deles.
Ademais, as dívidas contraídas em relação aos bens particulares em benefício destes, não
obrigam os bens comuns. Por fim, deve-se ressaltar o teor do Enunciado n. 340 do CJF/STJ:
“No regime da comunhão parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge,
BENS COMUNS
Todos os bens do casal, inclusive recebidos por doação ou herança;
Frutos, ainda que de bens incomunicáveis;
BENS INCOMUNICÁVEIS
Doados/herdados com cláusula de incomunicabilidade ou sub-rogados;
Gravados com fideicomisso;
37
Dívidas anteriores ao casamento, salvo se com este relacionadas ou de proveito
comum;
Doações antenupciais com cláusula de incomunicabilidade;
Bens de uso pessoal, livros, profissão, pensão;
Em caso de divórcio, será repartida a parte comum, ficando cada um com metade do
Inicial: conjunto de bens que cada cônjuge possuía antes de se casar e os que
38
Final: com a dissolução da sociedade conjugal apura-se o montante dos
aquestos, excluindo-se da soma o patrimônio próprio (ex: bens anteriores ao
amealhados pelo casal. Se os bens forem adquiridos pelo trabalho conjunto, cada
um dos cônjuges terá direito a uma quota igual no condomínio. Como se percebe,
trata-se mais de uma compensação dos bens adquiridos e não propriamente de
BENS
PARTICULARES BENS COMUNS
antes dissolução
durante
BENS
PARTICULARES
Assim, durante o casamento, haverá uma separação convencional dos bens, com bens
Nesse sentido, os aquestos não se confundem com a meação, pois este independe da
comprovação do esforço comum. Ora, na dissolução, os bens adquiridos durante o casamento,
que eram considerados particulares, se tornarão comuns, fazendo cada cônjuge jus aos bens
39
particulares + aquestos daqueles bens, excluindo aqueles anteriores ao casamento ou sub-
rogados, herdados ou doados ou as dívidas destes.
O regime de separação de bens pode ser tanto convencional quanto legal. No primeiro
caso, os nubentes escolhem por adotar tal regime e, no segundo caso, é obrigatório por
determinação legal. Nesse regime, só há bens particulares, pois não ocorre comunicabilidade
dos bens.
Legal ou Obrigatório: a lei impõe, por razões de ordem pública ou como sanção,
não havendo comunhão de aquestos (art. 1.641, CC), nem necessidade de pacto (ex.:
pessoa maior de 70 anos – redação dada pela Lei no 12.344/10) ou que contraiu
casamento com inobservância das causas de suspensão, ou dependerem de
40
Ainda, incide o teor da Súmula 377 do STF a qual determina que “No regime de
separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”,
formando, assim, duas massas patrimoniais no mesmo sentido que no regime de comunhão
parcial.
20. Parentesco
Assim, parentesco é a relação que existente entre pessoas que descendem uma das
outras ou de um mesmo tronco comum, entre um dos cônjuges e os parentes do outro, e
Consanguíneo ou natural;
Por afinidade;
Civil;
41
20.1 Espécies de parentesco
depois descer até a pessoa com a qual grau de parentesco quer-se descobrir. Em relação ao
cônjuge, entre eles não há parentesco, mas sim sociedade conjugal, aplicando-se, portanto,
20.1.2 Afinidade
É o que se estabelece entre cada cônjuge e os parentes do outro (CC, 1.595), na linha
42
O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, descendentes e aos irmãos. Apenas!
companheiro.
O parentesco por afinidade na linha reta não dissolve nunca, nem pelo divórcio, nem
pela morte (o impedimento matrimonial se mantém sempre). Na linha colateral se dissolve,
20.1.3 Civil
É aquele resultante de outra origem que não seja as anteriores, sendo, normalmente,
decorrente do processo de adoção. Atualmente, em razão da evolução tecnológica, a
jurisprudência vem admitindo mais duas espécies desse tipo de parentesco: reprodução
heteróloga (material genético de terceiro) e a socioafetiva.
Uma por força da reprodução assistida heteróloga, onde é feito uma reprodução
com material genético de um terceiro, sem qualquer vínculo com a pessoa.
A segunda forma é admitida por força da parentalidade socioafetiva. Inclusive esse
foi o entendimento do STF: “a paternidade socioafetiva declarada ou não em
registro, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante,
baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios” (STF. Plenário. RE
898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840).
43
Enunciado n. 256 do CJF/STJ, III Jornada de Direito Civil: “A posse do estado de filho
20.2 Filiação
20.2.1.1 Biológico
9
Vide questão 8
44
CESSÃO DE ÓVULO X CESSÃO DE ÚTERO – no primeiro caso, ocorre uma doação de óvulo,
regendo-se nos mesmos moldes da doação de sêmen, porém, no segundo caso, ocorre a
gestação sub-rogada, caso em que não haverá o anonimato, contudo, de acordo com o
Conselho Regional de Medicina e pelo Provimento 52 do CNJ deve ser temporária e sem
fins lucrativos, desde que a cedente seja parente até o segundo grau da mãe genética.
da Lei de Biossegurança, como coisa; no segundo caso, são aqueles embriões concebidos por
manipulação genética e que não foram implantados no ventre da mulher, permanecendo
Posse do Estado de filiação: a aparência faz com que todos acreditem na existência
de uma filiação, assim, independe do critério biológico, de modo que é necessário a
verificação de alguns requisitos:
Estado (tractatus): quando o filho é tratado como tal pelos pais;
Nome (nominativo): usa o nome de família e assim se apresenta perante a
sociedade;
Fama (respeitatio): é assim conhecido notoriamente
Adoção: é uma relação de parentesco civil que decorre da socioafetividade visto
que, por ser um ato jurídico em sentido estrito, se constitui como um parentesco
eletivo mediante um ato de vontade. Sobre a adoção, em razão de sua importância,
vamos tratar detalhadamente em tópico próprio;
45
20.2.1.3 Presunções jurídicas
herança (prescritível). Neste sentido, por não haver expressa previsão legal sobre o prazo
prescricional, aplica-se a regra geral de 10 anos, para a petição de herança. O prazo de um
46
ano para o pedido de anulação de partilha, começa a contar da data do trânsito em julgado
Mater in jure semper certa est (art. 1608, CC): a mãe registral tem legitimidade
para impugnar a maternidade desde que comprovado a falsidade da declaração
registral;
Registro de nascimento;
Escritura pública ou particular;
Testamento, legado ou codicilo, ainda que incidentalmente;
Manifestação direta e expressa em processo judicial, podendo ser ação
investigatória de paternidade/maternidade, ou então, em qualquer outro tipo de
processo judicial, mesmo que sem a intenção de constituir estado de filiação;
O reconhecimento de filho não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em
10
Vide questão 15
47
Neste caso, de acordo com o STJ, será autorizada a desconstituição do registro, desde que
seja imediatamente após a descoberta da fraude e que haja o rompimento instantâneo do
20.2.3 Pluriparentalidade
nascimento na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que foi registrado conforme
prática conhecida como “adoção à brasileira”. O reconhecimento da paternidade socioafetiva
20.2.4 Adoção
ou extensa (se estende para além da unidade pais e filhos/casal, formada por parentes
próximos com os quais a criança ou adolescente conviva e mantém vínculos de afinidade e
afetividade).
48
Quanto aos requisitos para a adoção, existem:
Idade: maior de 18 anos;
Diferença de idade entre o adotante e o adotado: 16 anos;
Oitiva do menor: a partir dos 12 anos, sendo obrigatória;
Irmãos: devem ser colocados para adoção na mesma família, priorizando a
manutenção do convívio familiar pré-estabelecido.
Tipos de adoção:
Unilateral: feita pelo cônjuge ou companheiro com relação ao filho de seu
par. (padrasto/madrasta);
Conjunta: realizada por duas pessoas, casadas civilmente ou que mantenham
união estável, comprovando a estabilidade familiar e podendo ser, inclusive,
decorrente de relação homoafetiva conforme o Informativo n. 432 do STJ;
Divorciados: é excepcional, desde que o processo de adoção já tenha sido
instaurado antes do divórcio, assim, o adotado já se encontrava integrado à
convivência familiar. Portanto, a lei é clara ao determinar que já tenha tido
estágio de convivência prévio ou já houver criado vínculos afetivos e de
afinidade;
Póstuma: por ser concebida desde que o adotante venha a falecer no curso
do processo de adoção, desde que tenha manifestado inequívoca vontade,
assim, o efeito da sentença retroagirá à data do óbito, excepcionalmente, já
que a regra é que a sentença produza efeitos a partir do seu trânsito em
julgado (ex nunc). O adotado, nesse caso, deverá ser totalmente integrado à
família do de cujus.
Adoção post mortem mesmo que não iniciado o procedimento formal enquanto vivo. Pelo
texto do ECA, a adoção post mortem (após a morte do adotante) somente poderá ocorrer se
o adotante, em vida, manifestou inequivocamente a vontade de adotar e iniciou o
49
procedimento de adoção, vindo a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a
sentença. Se o adotante, ainda em vida, manifestou inequivocamente a vontade de adotar
o menor, poderá ocorrer a adoção post mortem mesmo que não tenha iniciado o
procedimento de adoção quando vivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1217415-RS, Rel. Min. Nancy
também, adoção por irmãos ou por ascendentes. Sobre esse último aspecto, vide Informativo
n. 551 do STJ/14 que, por situações excepcionais do caso concreto, permitiu a adoção de
Adoção à brasileira: trata-se da situação em que uma pessoa registra filho alheio como
próprio. Não é uma modalidade legítima de adoção, pelo contrário, configura o crime do at.
paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604 do CC). Não se pode obrigar
o pai registral, induzido a erro substancial, a manter uma relação de afeto, igualmente calcada
enganado consiga desconstituir a paternidade, é indispensável que tão logo ele tenha sabido
da verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo imediatamente
o vínculo afetivo. Se o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda
manteve vínculos afetivos com o filho registral, neste caso ele não mais poderá desconstituir a
11
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
50
paternidade. A situação acima descrita é diferente da chamada “adoção à brasileira”, que
ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como
sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade. No caso de adoção à brasileira, o pai
sabe que não é genitor biológico (ele não foi enganado). Caso o pai registral se arrependa
da “adoção à brasileira” realizada, ele NÃO poderá pleitear a sua anulação. O pai que
questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que ele próprio registrou
conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais especificamente a regra da "venire
contra factum proprium" (proibição de comportamento contraditório). Para que seja possível a
anulação do registro, é indispensável que fique provado que o pai registrou o filho
não é filho biológico do pai registral, o juiz NÃO terá que, obrigatoriamente, julgar
procedente o pedido, declarar/desconstituir a paternidade e anular o registro, pois, segundo já
Inexistência da origem biológica; b) Não ter sido construída uma relação socioafetiva
entre pai e filho registrais. Assim, para que a ação negatória de paternidade seja julgada
procedente, não basta apenas que o DNA prove que o “pai registral” não é o “pai biológico”.
É necessário também que fique provado que o “pai registral” não é “pai socioafetivo”, ou
12
STJ. 4ª Turma. REsp 1.167.993-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.
13
STJ. 4ª Turma. REsp 1059214-RS, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/2/2012.
51
20.2.5 Ação Investigatória de Paternidade/Maternidade
judicial de filhos, cujo procedimento, de acordo com o NCPC é comum. Visa-se, mediante
tal processo, a comprovação da verdade real ou biológica da parentalidade.
assim, é imprescritível (art. 27, ECA c/c Súmula 149, STF). O foro competente dependerá se foi
proposta isoladamente ou cumulada com outros pedidos, devendo ser observado o
pai/mãe, porém, em caso de falecimento destes, poderá ser proposta contra os herdeiros (não
é contra o espólio, pois é uma ação de caráter pessoal) ou, caso não existam, contra o Estado
que receberá os bens vagos, ou, ainda, contra o avô/avó, caso em que a ação se denominará
ação avoenga.
Sobre essa ação, duas súmulas são muito importantes: Súmula 301 do STJ: “Em ação
52
O adotado não possui legitimidade para ingressar com a ação de investigação, visto que a
ação tem o condão de constituir o estado de filiação através do critério biológico. Assim,
caso o adotado tenha a necessidade de conhecer suma origem genética, deve-se pretendê-la
por meio de outra ação ordinária. Essa situação se aplica, também, àquele que possui pai
registral, pois, como sabemos, havendo o registro e ciência de que não é seu filho, presume-
se a parentalidade e, mesmo que não tivesse esse conhecimento, aplicar-se-ia a parentalidade
Ocorre através do registro de nascimento, que, em regra, não cabe quebra, exceto
quando o registro tiver sido realizado por meio de erro ou falsidade. Contudo, não poderá
53
O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui
14
REsp 1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012.
54
21. Poder Familiar
Anteriormente, o poder familiar era denominado de pátrio poder, o que remonta à era
da família patriarcal, hoje, totalmente superada. Nesse sentido, o poder familiar decorre do
vínculo jurídico de filiação, sendo exercido por ambos os pais quanto aos filhos
(colaboração familiar).
Ademais, é exercido em igualdade de condições pelo pai ou pela mãe. Devem os pais
cuidar da educação e bem-estar dos filhos e zelar por seus bens. Apenas na falta ou
impedimento de um dos pais (morte, declaração de ausência, incapacidade, etc.) é que ele
será exercido de forma exclusiva por um deles.
21.1 Características
Sujeitos (art. 1630, CC): se submetem ao poder familiar todos filhos menores e
incapazes (0-18 anos);
Exercício (art. 1634, CC), extinção (art. 1635, CC), suspensão (art. 1636, CC) e
destituição (art. 1638, CC);
55
O poder familiar é incompatível com a tutela, pois esta só ocorre quando há uma ausência
Representá-los, até aos 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los,
após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição.
21.3 Administração
contas. Os pais, em igualdade de condições, são os administradores legais dos bens dos
filhos. Para alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis dos filhos (ex: hipotecar) precisam
obter autorização judicial, mediante a demonstração da necessidade. Deve sempre se levar
56
Porém, apesar disso, não poderão se apropriar de todos os rendimentos do filho, a
não ser que necessária para despesas comuns da família em prol do melhor interesse do
anos são reservados, ou seja, caso tenham sido obtidos por meio de atividade laboral
adequada, não se sujeitarão à administração dos genitores. Dessa forma, atingindo a
maioridade, os bens lhe serão entregues, juntamente com os acréscimos respectivos, não
sendo exigida qualquer prestação de contas ou remuneração.
Os pais não poderão alienar ou gravar ônus os imóveis dos filhos, nem contrair, em
nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo se
21.4 Usufruto
Enquanto estiverem no exercício do poder familiar cabe aos pais a administração dos
bens dos filhos menores, bem como o direito ao usufruto e as rendas desses bens. Trata-se
Maioridade;
Adoção;
Decisão judicial.
Deixá-lo em abandono;
Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
Incidir reiteradamente nas faltas previstas no artigo 1.367 do CC;
58
A lei 13.715/18 trouxe o parágrafo único do art. 1.638 do CC, acrescentando mais algumas
um tutor para o menor. A suspensão ou a perda do poder familiar não desobriga o genitor
de continuar sustentando o filho.
familiar (com exceção da guarda, que representa parte desse poder e enfraquece o poder
familiar de quem não ficou com os filhos).
CONTEÚDO E EXERCÍCIO
Criação e a educação;
Guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
59
Conceder ou negar consentimento para casarem;
Conceder ou negar consentimento para viajarem ao exterior;
Conceder ou negar consentimento para mudarem sua residência permanente para outro
Município;
Nomear tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
Representação dos absolutamente incapazes e assistência dos relativamente incapazes,
judicial e extrajudicialmente;
Reclamá-los de daquele que o tem poder posse ilegal (sem guarda);
Obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição;
EXTINÇÃO
Tem caráter efetivo e não quebra o vínculo de parentesco:
Morte dos pais ou do filho;
Emancipação;
Maioridade;
Adoção (poder familiar derivado);
Decisão judicial, na forma do artigo 1.638 (destituição do poder familiar);
SUSPENSÃO
Trata-se de medida menos grave e, inclusive, facultativa, podendo o juiz deixar de aplicá-las
ou, se superadas as caudas que a provocaram, cancelá-las, sempre observando o melhor
interesse da criança. São legitimados qualquer parente ou o próprio Ministério Público.
Assim, se:
Abusar de autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos
filhos,
Condenação por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
de prisão;
DESTITUIÇÃO/PERDA
Tem caráter temporário e não tem o condão de, por si só, quebrar a relação de parentesco.
É imposta por sentença judicial de forma imperativa:
Castigar imoderadamente o filho;
Deixar o filho em abandono;
Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas nos casos de suspensão do poder familiar;
Entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção;
60
Praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: a) homicídio,
feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar
de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher; b) estupro ou outro crime contra a dignidade
sexual sujeito à pena de reclusão;
Praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio, feminicídio ou lesão
corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição
de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual
sujeito à pena de reclusão.
Trata-se de direito-dever dos pais de terem consigo seus filhos a fim de garantir-lhes
pleno desenvolvimento. Ela poderá ser deferida a ambos, a um deles ou a alguém que os
substituam, verificando, sempre, o melhor interesse do menor.
permanece o direito de visita, a ser acordado por meio do processo judicial, sem
perder o poder familiar em razão disso;
que deve ser excepcional, pois não preenche os requisitos essenciais da guarda
compartilhada, que deve ser fomentada;
61
efeitos do divórcio. Assim, deve ser preferencial às demais, mesmo que não tiver
acordo entre os pais sobre isso, exceto em alguns casos legais.15
Ademais, outro aspecto a ser ressaltado é que quando a guarda for deferida a terceiros,
ou enquanto a criança for colocada em família substituta, não se extingue o poder familiar dos
pais, que não ficam livres de outras responsabilidades, a exemplo da prestação de alimentos.
Caso não tenha havido acordo, a espécie de guarda que o juiz deverá
preferencialmente determinar aplicar a guarda compartilhada. Contudo, não será aplicada a
guarda compartilhada se: um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar; ou
um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
Visa-se, através dos institutos da tutela e curatela, a defesa dos interesses dos
incapazes, possibilitando a realização de atos civis em seu nome.
poder familiar e a curatela, por sua vez, dá assistência nos interesses de maiores incapazes,
interditados. Ambos possuem dever de prestação de contas, ao contrário do que ocorre com
15
Vide questão 5
62
21.7.1 Tutela (arts. 1728 a 1766 do CC)
A tutela pode ser realizada através da representação ou da assistência, desde que não
próximo ao mais remoto ou aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais
próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços;
em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela
Quando houver irmãos órfãos, apenas um tutor será nomeado, em razão do Princípio
da unicidade da tutela. Quanto aos demais regramentos, é imprescindível a leitura da
legislação civilista.
São incapazes de exercer a tutela (art. 1.735), não podendo ser tutores e sendo
exonerados da tutela, caso a exerçam:
Aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
16
Vide questão 14
63
direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem
demanda contra o menor;
administração da tutela.
Podem escusar-se da tutela (art. 1.736 e 1737):
Mulheres casadas;
Maiores de sessenta anos;
Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela,
se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de
exercê-la.
A escusa deverá ser apresentada nos dez dias subsequentes à designação, sob pena
64
submeterão ao juiz o balanço respectivo, que, depois de aprovado, se anexará aos autos do
inventário.
Os tutores prestarão contas de dois em dois anos, e também quando, por qualquer
motivo, deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o juiz achar conveniente. As contas
serão prestadas em juízo, e julgadas depois da audiência dos interessados, recolhendo o
não produzirá efeito antes de aprovadas as contas pelo juiz, subsistindo inteira, até então, a
responsabilidade do tutor. Ainda, nos casos de morte, ausência, ou interdição do tutor, as
alcance do tutor, bem como o saldo contra o tutelado, são dívidas de valor e vencem juros
desde o julgamento definitivo das contas.
Ao ser removido.
O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos, podendo continuar no exercício
da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar conveniente ao
menor.
Será destituído o tutor, de acordo com o art. 1.766, quando negligente, prevaricador
ou incurso em incapacidade.
65
21.7.2 Curatela (arts. 1767 a 1783 do CC)
Com o advento do Estado da Pessoa com Deficiência, não existe mais absolutamente
incapazes maiores, assim, esse instituto incide apenas em relação aos maiores relativamente
incapazes, sendo esse rol taxativo17 (art. 1767, CC):
Ébrios habituais;
Viciados em tóxicos;
As pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir vontade;
estiver grávida, mas não tiver mais o poder familiar e, ainda, se ela já estiver interditada, o
curador dela será o mesmo para o nascituro.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência, marco no Brasil por ter sido junto ao seu
protocolo facultativo, o primeiro tratado internacional de Direitos Humanos, a ter status de
Emenda Constitucional, trouxe uma inegável evolução para a promoção da dignidade humana,
17
Vide questão 1
66
Neste sentido, ao alterar os artigos 3º e 4º, do Código Civil, foi conferida plena
capacidade aos portadores de deficiência, para o desenvolvimento de todos os atos da vida
civil. Assim, a deficiência não afeta a plena capacidade civil, tendo o indivíduo direito de
casar, exercer os direitos sexuais e reprodutivos, ter filhos e conservar sua fertilidade, usufruir
Como medida de proteção e preservação dos direitos, foi criado o instituto da tomada
de decisão apoiada (artigo 1.783 – A CC), que consiste em ato unilateral de vontade da
pessoa com deficiência que nomeia, ao menos, duas outras pessoas idôneas para apoiá-lo
nas decisões sobre a vida civil.
O pedido será feito ao juiz, que, junto com medida multidisciplinar, após a oitiva do
Ministério Público, e das pessoas que serão apoiadoras, decidirá sobre a pretensão.
Após a autorização, em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo discordância de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores,
A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar ao juiz sua exclusão de sua
participação em processo de tomada de decisão apoiada, sendo o desligamento
seguintes do CC) passou a ser medida excepcional, aplicada em último caso, porém,
desvinculada da deficiência em si, sendo o procedimento hoje mais aplicado aos idosos em
Em que pese o erro no termo trazido pelo novo Código de Processo Civil (artigos 747
a 758), há entendimento é que o antigo instituto da interdição não existe mais, sendo que o
título deveria ser “curatela”, já que as limitações estão ligadas a questões patrimoniais, de
forma que o curatelado exerce todos os outros direitos de forma livre. No entanto, existe forte
corrente no sentido de ainda existir a interdição.
67
Sobre o tema, importante verificar o seguinte julgado:
O motivo que levou o juiz a decretar a curatela pode deixar de existir. Neste caso, deverá ser
ajuizada uma ação para levantamento da curatela. É o que prevê o art. 756 do Código Civil:
Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. § 1º O pedido de
levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério
Público e será apensado aos autos da interdição. O rol de legitimados para propor a ação de
sequelas sofridas, João foi interditado. Em ação de indenização movida por João contra a
empresa, a ré foi condenada a pagar pensão mensal vitalícia em virtude de, supostamente, o
autor não poder mais trabalhar. Passados alguns anos, a empresa “X” ajuizou ação de
justificou a sua interdição. Por entender que existem elementos probatórios suficientes para
demonstrar que o interdito não possui mais a patologia que resultou em sua interdição, o que
poderia gerar também a cessação da pensão vitalícia, o STJ concluiu que a empresa, mesmo
não estando no rol do art. 756, § 1º do CPC/2015, possui legitimidade para o ajuizamento da
ação de levantamento da curatela. STJ. 3ª Turma. REsp 1.735.668-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi,
68
22. Alimentos
São prestações devidas pelo alimentante para a satisfação das necessidades pessoais
daquele alimentado, que não pode provê-las por meio do trabalho próprio, em razão do
dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo com a sua
dissolução.
Assim, são prestações para a satisfação das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si, de modo a propiciar-lhe uma vida digna18.
22.2 Características
18
Questão 3
69
Preceitua o art. 1.707, CC que: “Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é
vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.”
acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados
ulteriormente, verificados os pressupostos legais”.
possível a renúncia por não se tratar de alimentos em razão de parentesco (estes sim
irrenunciáveis). Como marido e mulher não são parentes, há quem sustente que o princípio da
irrenunciabilidade não se aplica aos cônjuges (o tema ainda é muito controvertido – para
provas objetivas aconselhamos continuar afirmando a irrenunciabilidade).
pagar. Ou seja, quando quem os pretende não tens bens suficientes, nem pode prover, pelo
seu trabalho, a própria subsistência e aquele de quem se reclamam pode fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento. Há uma relação de proporcionalidade (art. 1.694,
§1º, CC).
O dever de prestar alimentos é imposto por lei para que se possam garantir as
necessidades vitais do alimentado. Trata-se de uma norma de ordem pública, cogente e que
não pode ser alterada pela vontade das partes.
O direito aos alimentos é um direito personalíssimo; portanto não pode ser cedido a
outrem. Além disso, é imprescritível e impenhorável. O credor até pode abrir mão do seu
exercício, mas nunca do direito aos alimentos em si.
71
A expressão “alimentos” compreende: alimentação propriamente dita, vestuário,
habitação, tratamento médico etc. Se o alimentando for menor, incluem-se as verbas de
educação.
1.697, CC, além do art. 229, CF/88. O direito brasileiro só admite os alimentos atuais e
futuros, visto que os referentes ao período anterior à propositura da ação não são devidos.
Quanto aos alimentos avoengos (obrigação alimentar dos avós em relação aos netos), esses
têm natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade de cumprimento, total ou parcial, pelos pais (Súmula n.º 596 do STJ).
Observe o rigor da atual legislação quanto ao tema: o art. 1.704, parágrafo único, CC,
estabelece que “Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver
parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será
Por meio de pensão ao alimentando (geralmente mensais, mas nada impede que
72
Por meio de hospedagem e sustento (sem prejuízo ao necessário à educação, se
for menor).
O dever de prestar alimentos cessa se a pessoa que recebe os alimentos passar a viver
maritalmente com outra pessoa (novo casamento, união estável ou concubinato), bem como
no caso de procedimento indigno para com o devedor. Os alimentos fixados ou acordados
podem ser revistos (exoneração, redução ou majoração) sempre que sobrevier mudança na
situação econômica do alimentando ou do alimentante.
CC);
Naturais (exceção): visa a mera subsistência (art. 1694, § 2º c/c art. 1695, CC) e
73
22.3.3 Quanto ao tempo
natura), desde que demonstrada a razão pela qual a modalidade anterior não mais atende à
finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na condição financeira das partes nem
com o caso concreto, pelo juiz, variante entre 10-40% com base no salário do
Definitivos: por meio de acordo das partes ou por sentença judicial transitada
em julgado. Contudo, conforme visto anteriormente, não formam coisa julgada
material, mas sim formal, podendo ser alterado a qualquer tempo, a depender do
binômio legal;
Provisórios: são aqueles fixados antes da sentença de alimentos, conforme Lei.
5478/68 (Lei de Alimentos). Assim, exige prova pré-constituída do parentesco
74
(certidão de nascimento) ou casamento e tem natureza de tutela de urgência
satisfativa, pois antecipada os efeitos da sentença;
Provisionais: decorrem de outras ações que não sejam regidas pela Lei de
Alimentos, com objetivo de manutenção do padrão de vida da parte que os
faz jus, com fim de restabelecer uma igualdade na relação familiar em razão do
desequilíbrio no momento da partilha dos bens;
Sobre o tema, vide premissa 14, edição 65 da ferramenta Jurisprudência em Teses do STJ: “os
alimentos devidos entre ex cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem ser
fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua mais condições
de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira” e
Informativo 444, STJ.
75
SÚMULA 309, STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem
no curso do processo”.
do devedor, nos termos do art. 528, §3º do NCPC”, e, em caso de devedor contumaz, também
22.4 Exoneração
personae;
Alteração substancial ou desaparecimento do binômio legal: nesse caso, deve-se
mesmo Tribunal, caso seja filho universitário, os alimentos se estendem até o término dos
estudos (Informativo n. 484; STJ/11, premissa 4 da Edição 65, Jurisprudência em teses;
sobrevivência dele.
despesas que precisam ser atendidas pelo devedor, porém, não se trata de um rol taxativo,
devendo ser considerada toda e qualquer despesa com a gravidez ensejadora de alimentos
gravídicos19.
19
Vide questão 12
77
parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do
médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.
De acordo com o art. 1o, o sujeito ativo seria a gestante. Porém, segundo o art. 6o,
São devidos desde a concepção e são irrepetíveis, sendo concedidos com base em
meros indícios. Não se exige prova efetiva do parentesco, assim:
do nascimento;
prescrevem em dois anos (art. 206, §2o, CC). A prescrição dessas parcelas ocorre
mensalmente.
O devedor de alimentos que não fizer o seu pagamento estará sujeito à chamada
prisão civil. Determina a Constituição Federal (art. 5º, inciso LXVII) que “não haverá prisão civil
por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia (...)”.
78
22.6.1 Procedimento especial concentrado sumaríssimo (Lei n.
5.478/68)
É necessário que haja a petição inicial com seus requisitos, havendo possibilidade de
ajuizamento sem advogado, excepcionalmente. Ainda, a o MP possui legitimidade
Ao despachar a inicial, o juiz fixará os alimentos provisórios mesmo que a parte não
tenha requerido. O juiz só deixará de fixar se a parte expressamente disser que deles não
necessita. A citação para audiência para conciliação instrução e julgamento é pela via postal.
O Ministério Público apresentará parecer, de modo que o STJ vem entendendo que o
MP não está obrigado a patrocinar os interesses do incapaz, sendo de atuação livre, podendo
Será prolatada uma sentença cujos efeitos retroagem à citação, cabendo recurso que
será recebido no efeito meramente devolutivo, permitindo a execução imediata desses
alimentos. Aqui, forma-se coisa julgada material com cláusula rebus sic stantibus, não
sendo, portanto, coisa julgada formal.
Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos
em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar
dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no artigo 98
do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da
79
existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.STJ. 2ª Seção. Aprovada em
Caso o executado, no prazo referido não efetue o pagamento, não prove que o
efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará
protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517.
Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o
inadimplemento.
Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além
de mandar protestar o pronunciamento judicial, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um)
a 3 (três) meses. A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado
dos presos comuns. O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas.
O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3
(três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo.
80
Este procedimento se aplica aos alimentos definitivos ou provisórios. A execução dos
alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada
sentença. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar
ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.
requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de
imediato pelo juiz. A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-
mínimo.
judicialmente20;
Atualidade da dívida21 (prazo de três meses): sendo possível apenas para os
20
STJ, RESP 1.117.639/MG
21
STJ, S. 309
81
Prazo máximo (60 dias): há entendimento jurisprudencial sobre o prazo
máximo de 60 dias, apesar da controvérsia legislativa22 do NCPC prever o
prazo de 1 a 3 meses;
Não exoneração da dívida alimentícia e possibilidade de repetição da
medida prisional23;
22
STJ, RHC 17.541/RJ
23
STJ, HC 39.902/MG
24
STJ, AGRGHC 272.034/SC
82
QUADRO SINÓTICO
83
Instituição da família
Satisfação do desejo sexual:
FINALIDA- Legalização das relações sexuais
DE Procriação (não é essencial), proteção e educação dos filhos.
Prestação de auxílio mútuo.
Estabelecimento de deveres entre os cônjuges.
Fidelidade recíproca.
Coabitação (relativa):
Mútua assistência (material, moral e espiritual), respeito e
DIREITOS E consideração
DEVERES Proteção da prole:
Igualdade de Direitos e Deveres: Os direitos e deveres referentes
à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher (art. 226, 5°, CF).
Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização (escrita e expressa) do
outro, exceto no regime da separação total de bens:
PROIBI- Alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens imóveis, ou
ÇÕES direitos reais sobre imóveis alheios
Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens e direitos.
Prestar fiança ou aval:
Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens ou rendimentos
comuns ou dos que possam integrar futura meação.
PRINCÍPIOS Liberdade de escolha:
DO Monogamia:
CASAMEN- Comunhão plena da vida
TO Solenidade do ato nupcial
FORMALI- O primeiro passo é requerer a instauração do processo de
DADES HABILITA- habilitação no Cartório de Registro Civil para constatar a
PARA O ÇÃO existência ou não de impedimentos matrimonias e dar
CASAMEN- publicidade ao ato. Trata-se de uma atitude preventiva, a
TO fim de se evitar que pessoas impedidas se casem.
EDITAL DE Os proclamas (edital que comunica ao público em geral a
PROCLAMAS intenção dos noivos de contrair núpcias) são afixados nos
Cartórios de ambos os nubentes. Decorridos 15 dias, o
oficial entrega aos nubentes uma certidão de que estão
habilitados a se casar dentro de 90 dias, sob pena de
decadência. Se não houver casamento neste prazo, deve-
se renovar todo o processo de habilitação. Em casos
excepcionais pode haver dispensa da publicação (art.
1.527, parágrafo único, CC).
84
CELEBRAÇÃO A celebração do casamento ocorrerá no dia, hora e lugar
DO previamente designados pelo Juiz de paz, mediante
CASAMENTO petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com
a certidão de habilitação.
O momento de aperfeiçoamento do casamento se dará
APERFEIÇOA- no momento em que os cônjuges manifestam, perante o
MENTO juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o
juiz os declara casados. O registro do ato está no plano
da eficácia do casamento
Tanto o homem como a mulher atingem a idade núbil aos 16 anos.
IDADE Todavia os menores púberes (maiores de 16 e menores de 18 anos),
NÚBIL para casar, devem ser autorizados por seus pais ou representantes
legais. Com a alteração da redação do art. 1.520 do CC, “não será
permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade
núbil”.
IMPEDI- IMPEDIMENTOS DIRIMENTES ABSOLUTOS (OU PÚBLICOS)
MENTOS E Trata-se de rol taxativo que impossibilita a realização de casamento,
CAUSAS acarretando, em caso de sua ocorrência, a NULIDADE do matrimônio.
SUSPENSI- Ainda, são questões de interesse público e, em razão disso, podem ser
VAS arguidos por qualquer pessoa interessada ou pelo Ministério Público,
sendo uma ação imprescritível. No caso dos impedimentos, eles podem
ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer
pessoa capaz.
São causas impeditivas:
Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou
civil;
Os afins em linha reta;
O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com
quem o foi do adotante;
Os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o
terceiro grau inclusive;
O adotado com o filho do adotante;
as pessoas casadas;
O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.
CAUSAS SUSPENSIVAS OU IMPEDIMENTOS IMPEDIENTES
85
São situações em que, apesar de a lei apenas recomenda a não realização
do casamento, porém, se assim o fizer, acarretará mero ônus legal: adoção
do regime legal obrigatório, o Regime de Separação Legal/Obrigatória
(art. 1641, I, CC). Os legitimados para arguir a existência de causas
suspensivas são apenas os parentes em linha reta de um dos cônjuges,
consanguíneos ou afins, e colaterais em segundo grau, consanguíneos ou
afins.
O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário.
A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal.
O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida
a partilha dos bens.
O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas
as respectivas contas.
As causas suspensivas só podem ser arguidas pelos parentes em linha
reta de um dos nubentes e pelos colaterais em segundo grau
O casamento será celebrado onde se encontrar a pessoa
impedida perante duas testemunhas. Assim, um dos
nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se
ESPÉCIES MOLÉSTIA encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite,
DE GRAVE (ART. perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. A
CASAMEN- 1539, CC) falta ou impedimento da autoridade competente para
TO presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus
substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro
ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.
Também denominado de em viva voz, in extremis vitae
momentis ou in articulo mortis (do latim nuncupare =
“dizer de viva voz”), trata-se de situação em que um dos
nubentes se encontra em iminente risco de vida ou à
NUNCUPA- beira da morte (art. 1.540, CC), não havendo, portanto,
TIVO (ART. tempo para a celebração do casamento conforme as
1540, CC) solenidades, não estando presente a autoridade
competente para presidir o ato. Dispensam-se as
formalidades legais para o ato (processo de habilitação,
proclamas e até mesmo a presença da autoridade
competente, pois os contraentes não a localizaram).
Basta que os contraentes manifestem o propósito de se
86
casar e, de viva voz, recebam um ao outro. É necessária a
presença de seis testemunhas sem parentesco (na linha
reta e colateral até 2° grau) e posterior habilitação e
homologação judicial.
Deve ser realizada por instrumento público com poderes
especiais, possuindo, a procuração, eficácia de 90 dias,
POR sendo revogável até o momento da celebração. Embora
PROCURA- seja imprescindível a presença real e simultânea dos
ÇÃO (ART. contraentes, o Código Civil permite o casamento por
1542, CC) procuração, desde que um dos nubentes não possa estar
presente. A procuração deve ser por instrumento público,
com poderes especiais para contrair casamento,
mencionando o regime de bens. Se ambos não puderem
comparecer, deverão nomear procuradores diversos
DIPLOMÁTI-
CO OU O casamento dos estrangeiros poderá ser celebrado
CONSULAR perante autoridades diplomáticas ou consulares do país
(ART. 7º, §2º, de ambos os nubentes.
LINDB)
RELIGIOSO Se precedido de processo de habilitação, deve ser
COM registrado em 90 dias, após esse prazo, necessitará de
EFEITOS nova habilitação. Em contrapartida, se não foi precedido
CIVIS (ART. de habilitação, terá efeitos civis apenas se for registrado
1515 E 1516, no registro civil a requerimento do casal por meio de
CC) prévia habilitação à autoridade competente, respeitando-
se, também, o prazo de 90 dias (efeito ex tunc),
PROVA E PROVA DO CASAMENTO (ART. 1543 A 1547, CC)
EFEITOS No Brasil: certidão do registro;
DO DIRETA Exterior: registro em 180 dias no cartório do
CASAMEN- respectivo domicílio ou no 1º ofício da capital do
TO Estado que forem residir;
COMPLEMEN Quando ocorrer a falta ou perda do registro civil, sendo
TARES/SUPLE admissível qualquer outro tipo de prova;
-TÓRIOS
87
previstos no art. 1566, CC;
PATRIMO- São os direitos patrimoniais dos nubentes que se
NIAIS consubstanciam no regime de bens deles. Sobre esse
tema, trataremos especificamente no tópico específico
UNIÃO ESTÁVEL
ELEMENTOS Dualidade de pessoas
Publicidade
Durabilidade
Continuidade
Constituição de família
Não haver impedimentos matrimoniais: exceto quanto aos
separados (judicialmente ou de fato).
MEAÇÃO Se não houver pacto entre os conviventes o regime da comunhão parcial
prevalecerá e o convivente terá direito à metade dos bens por ocasião da
dissolução da união estável (separação ou morte) se adquiridos
onerosamente na vigência da união estável. Não se comunicam os bens
advindos de herança, legado ou doação.
SUCESSÃO O companheiro supérstite, além da meação participará da sucessão do
outro, nas mesmas condições que o cônjuge sobrevivente.
DEVERES Em relação ao companheiro, lealdade, respeito e assistência.
Em relação aos filhos: guarda, sustento e educação.
SEPARA- Esta medida cautelar é manejável tanto na hipótese do casamento como
ÇÃO DE na de união estável (nesta hipótese, antes de se promover a ação de
CORPOS reconhecimento e extinção da própria união estável - art. 1.562, CC),
porque nos dois casos há conflitos de interesses que merecem tutela
jurídica.
CONVER- Determina o art. 1.726, CC que a união estável poderá converter-se em
SÃO EM casamento, mediante pedido dos conviventes ao Juiz e assento no
CASAMEN- Registro Civil (a conversão de união estável em casamento pode se operar
TO pela via judicial ou extrajudicial, à escolha do casal – STJ REsp 1.685.937-RJ,
Info 609).
NOME DO A lei permite que se utilize o patronímico do companheiro, se houver a
COMPA- concordância deste, vida em comum por mais de cinco anos ou filho da
NHEIRO união. Não podem ser casados em núpcias anteriores.
Havendo união estável, os conviventes são beneficiários do segurado.
PREVIDÊN- Também têm direito à pensão deixada pelo servidor civil ou militar.
CIA SOCIAL Permite-se o abatimento no Imposto de Renda como encargo de família
(dependente).
RESPONSA- Assim como o cônjuge, a companheira ou companheiro pode pleitear
BILIDADE indenização por morte do companheiro motivada por ato ilícito.
88
CIVIL
MONOPARENTALIDADE
São as famílias formadas por um só dos pais e sua prole (descendentes). Também
chamadas de famílias unilineares.
MORTE A morte pode ser real ou presumida com ou sem decretação de ausência.
DIVÓRCIO Dissolve definitivamente o vínculo matrimonial, põe fim aos deveres conjugais, extingue o
regime de bens, acarretando sua partilha, faz cessar o direito sucessório, não admite
reconciliação (devendo casar novamente, se for o caso), novo casamento dos divorciados e
mantém inalterados os direitos e deveres dos pais em relação aos seus filhos (guarda),
possibilidade de alimentos, possibilidade de manter o nome de casado ou não, inexistindo
qualquer necessidade de comprovação de culpa.
ESPÉCIES
Pode ser obtido em cartório (procedimento administrativo) ou em juízo
DIVÓRCIO (procedimento de jurisdição voluntária);
CONSENSUAL No divórcio consensual judicial exige um requisito
(AMIGÁVEL) objetivo: consenso, vontade das partes,
independentemente da existência de filhos menores
incapazes. Havendo a possibilidade de existência de
DIVÓRCIO incapazes e cláusulas obrigatórias da petição inicial:
CONSENSUAL As disposições relativas à descrição e à partilha
JUDICIAL dos bens comuns;
As disposições relativas à pensão alimentícia
entre os cônjuges;
O acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e
ao regime de visitas; e
O valor da contribuição para criar e educar os
filhos.
Por sua vez, a Lei nº 11.441/07 concebeu a possibilidade
de divórcio consensual em cartório, através de um
procedimento administrativo, sendo decretado por meio
DIVÓRCIO de escritura pública e não por sentença. Essa escritura
CONSENSUAL pública independe de intervenção do MP e
ADMINISTRA- homologação judicial. O próprio tabelião lavrará a
TIVO escritura pública quando presentes os requisitos do art.
1.124-A. O uso da via cartorária é facultativo e não
obrigatório, porém não pode haver interesse de incapaz.
O casal sempre pode optar pelo uso da via judicial.
89
Havendo interesse de incapaz o uso da via judicial é
obrigatório.
Sempre será em juízo e, no CPC/73 tratava-se de um procedimento
comum ordinário, contudo, atualmente, trata-se de um procedimento
especial previsto nos artigos 693 a 699 do CPC/15. Recebida a petição
inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela
provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência
DIVÓRCIO de mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694. O mandado
LITIGIOSO de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar
desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito
de examinar seu conteúdo a qualquer tempo. Assim, é possível a cumulação
de pedidos (guarda; alimentos, visitas de filhos, indenização; partilha de
bens, etc.). Assim, o juiz julga o pedido de divórcio, de imediato, e o
processo continua para decidir os demais pedidos. O divórcio é direito
potestativo, não pode ser contestado.
SEPARAÇÃO A separação apenas desconstitui o casamento, mas não dissolve. Assim, a separação seria
causa terminativa, não dissolutiva. A maioria da doutrina entende que com o advento da EC
JUDICIAL
66 não mais existe separação. Assim, é majoritário que a separação judicial não dissolve o
casamento, apenas põe fim a determinados deveres, contudo, em entendimento contrário a
doutrina, a jurisprudência do STJ25 entende que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou
tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação judicial.
SEPARAÇÃO DE A separação de fato acarreta uma ruptura da convivência entre os
FATO consortes, havendo bastante relevância para o sistema jurídico brasileiro,
acarretando a cessação da base afetiva da relação. Apesar de não constar
no CC como causa terminativa nem como causa dissolutiva, não afetando o
casamento a princípio, o STJ equipara a separação de fato à separação
judicial, de modo a por fim aos deveres conjugais.
Assim, os efeitos da separação de fato são:
Possibilidade de caracterização de união estável por conta da
cessação dos deveres de fidelidade e coabitação;
Cessação do regime de bens
Cessação do direito à herança;
Sub-rogação locatícia (Lei n.8.245/91, art. 12);
Permissão para a contagem do prazo para o usucapião conjugal
(CC, art. 1.240-A).
São os casamentos que não deveriam ter acontecidos. A doutrina traz
INEXISTENTE duas hipóteses: ausência de vontade e celebrado por autoridade
INVALIDADE
totalmente incompetente.
25
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ. 4ª
Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).
90
DO Após o advento do Estatuto da Deficiência, o único caso em que implicará
a nulidade, de acordo com a lei, será com o infringência das regras de
CASAMENTO
NULO impedimento. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos
previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta,
por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
ANULÁVEL São hipóteses taxativas em que acarretará a nulidade relativa do
casamento, dependendo da arguição dentro dos prazos decadenciais
legais. São elas:
Quem não completou a idade mínima para casar: A pessoa com
deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair
matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de
seu responsável ou curador. Assim, como já explicado
anteriormente, não há qualquer nulidade nesses casos.
O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-
la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes
legais, se necessária, ou com suprimento judicial.
Menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal: O casamento do menor em idade núbil,
quando não autorizado por seu representante legal, só poderá
ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por
iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes
legais ou de seus herdeiros necessários.
Por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558: O
casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por
parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à
pessoa do outro.
É anulável o casamento em virtude de coação, quando o
consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado
mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a
saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
Incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
Realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges;
Por incompetência da autoridade celebrante: Subsiste o
casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência
exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de
casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro
Civil.
CASAMENTO Embora nulo/anulável, foi contraído de boa-fé por ambos os cônjuges ou
91
PUTATIVO só um deles, reconhecendo-lhes efeitos legais. Porém, ainda que de má-
(ART. 1561, CC) fé, se por apenas um dos cônjuges, o de boa-fé e os filhos estarão
sujeitos aos efeitos legais, e, inclusive, se ambos estiverem de má-fé, os
efeitos recairão apenas nos filhos.
REGIME DE BENS
Trata-se do estatuto patrimonial dos cônjuges, aplicável a outras entidades familiares, a
exemplo da união estável. É regido pela autonomia privada, pela indivisibilidade (regime
CONCEITO
único para ambos), pela variedade de regimes e mutabilidade justificada (é possível a
alteração de regime de bens, desde que por meio judicial, de forma motivada por ambos
os cônjuges, ressalvado direito de terceiros).
92
PACTO É um negócio jurídico pessoal, solene (escritura pública), nominado e típico, que
regulamenta as questões patrimoniais do matrimonio. Assim, deve existir sempre que os
ANTENUPCIAL
nubentes adotarem regime de bens diversos do regime legal e desde que não seja o
obrigatório, visto que, nesse caso, não se leva em consideração a vontade deles. A sua
nulidade de alguma cláusula não atinge o todo o pacto, em razão princípio da
conservação dos negócios jurídicos.
93
bens.
O regime de separação de bens pode ser dividido em:
Convencional: nubentes adotam, por convenção antenupcial;
podem estipular a comunicabilidade de alguns bens, normas
sobre a administração, colaboração da mulher, etc.; É o único
regime em que existe verdadeira separação absoluta de bens.
Neste caso não se aplica a Súmula 377, STF.
Legal ou Obrigatório: a lei impõe, por razões de ordem pública
ou como sanção, não havendo comunhão de aquestos (art.
1.641, CC), nem necessidade de pacto (ex.: pessoa maior de 70
anos – redação dada pela Lei no 12.344/10) ou que contraiu
casamento com inobservância das causas de suspensão, ou
dependerem de suprimento judicial para casar).
PARENTESCO
CONCEITO Conforme preceitua Tartuce, trata-se de “relação jurídica existente entre ascendentes e
descendentes de primeiro grau, ou seja, entre pais e filhos”. Ademais, como já tratamos
anteriormente, rege-se pelo Princípio da igualdade de filiação. Não há hierarquia entre
esses vínculos e a jurisprudência tem reconhecido a possibilidade de multiparentalidade.
ESPÉCIES NATURAL OU Pessoas ligadas por um mesmo tronco ancestral. Possuem um vínculo
CONSANGUÍ- biológico ou de sangue, originados de um mesmo tronco comum.
NEO
É o que se estabelece entre cada cônjuge e os parentes do outro (CC,
1.595), na linha reta ou colateral. Assim, é o resultante do casamento ou
AFINIDADE união estável, gerando a relação entre um cônjuge/companheiro e os
parentes do outro, comportando a linha reta (infinita e permanente) e a
colateral, que se extingue com o término do casamento
É aquele resultante de outra origem que não seja as anteriores, sendo,
normalmente, decorrente do processo de adoção. Atualmente, em razão
CIVIL da evolução tecnológica, a jurisprudência vem admitindo mais duas
espécies desse tipo de parentesco: reprodução heteróloga (material
genético de terceiro) e a socioafetiva.
94
FILIAÇÃO É a genética ou por consanguinidade
Reprodução humana natural:
Reprodução humana assistida:
Concepção homóloga:
BIOLÓGICO manipulação de gametas masculinos e femininos do próprio casal, sem
necessidade de autorização pelos genitores, exceto se falecidos;
Concepção heteróloga:
doação de sêmen de um terceiro, desde que tenha concordância do
cônjuge, de modo que o doador é anônimo e se afasta da paternidade.
Assim, gera uma presunção iure et de iure de filiação.
Corresponde à verdade aparente decorre do próprio direito de filiação;
POSSE DO A aparência faz com que todos acreditem na existência de
ESTADO uma filiação, assim, independe do critério biológico
DE
SOCIOAFETIVO FILIAÇÃO
(CRITÉRIO NÃO É uma relação de parentesco civil que decorre da
BIOLÓGICO) socioafetividade visto que, por ser um ato jurídico em
ADOÇÃO sentido estrito, se constitui como um parentesco eletivo
mediante um ato de vontade. Sobre a adoção, em razão
de sua importância, vamos tratar detalhadamente em
tópico próprio;
Têm por finalidade de atribuir a paternidade ou maternidade a alguém
em razão de alguns indícios determinados pela lei;
PRESUNÇÕES Concebidos na constância do casamento (art. 1597, CC):
JURÍDICAS cabem prova em contrário (regra: juris tantum)
180 dias após o início da convivência;
300 dias após a dissolução da sociedade conjugal
Fecundação artificial homóloga (RHA);
Embriões excedentários decorrentes de RHA;
Inseminação artificial heteróloga – presunção iure et de iure
Impotência para gerar (art. 1599, CC): à época da concepção,
afasta a presunção de paternidade;
Presunção de paternidade e adultério da mulher (art. 1600,
CC): a quebra do dever de fidelidade não é suficiente para
impedir o vínculo de paternidade;
Imprescritibilidade da ação negatória de paternidade (pater
es est) pelo marido (art. 1601, CC):
Mater in jure semper certa est (art. 1608, CC): a mãe registral
tem legitimidade para impugnar a maternidade desde que
comprovado a falsidade da declaração registral;
95
RECONHECIME O filho havido fora do casamento (filiação extramatrimonial) poderá ser reconhecido pelos
pais, antes do nascimento ou post mortem, de forma conjunta ou separada, inexistindo a
NTO DE
expressão filho ilegítimo/legítimo.
FILHOS
Ademais, é irrevogável, podendo ser realizado por:
Registro de nascimento;
Escritura pública ou particular;
Testamento, legado ou codicilo, ainda que incidentalmente;
Manifestação direta e expressa em processo judicial
ADOÇÃO Trata-se de forma tradicional de parentesco civil cujos regramentos estão dispostos
no ECA, que se constitui como um ato jurídico em sentido estrito, de natureza complexa,
dependendo de homologação judicial, independentemente se for adoção de menores ou
de maiores.
Ademais, trata-se de medida excepcional, irrevogável e definitiva, pois se deve adotar
apenas quando estiverem esgotados os recursos de manutenção da criança ou
adolescente na família natural (comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes) ou extensa (se estende para além da unidade pais e filhos/casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente conviva e mantém vínculos de
afinidade e afetividade).
TIPOS DE ADOÇÃO
UNILATERAL Feita pelo cônjuge ou companheiro com relação ao filho de seu par.
(padrasto/madrasta);
CONJUNTA Realizada por duas pessoas, casadas civilmente ou que mantenham união
estável, comprovando a estabilidade familiar
É excepcional, desde que o processo de adoção já tenha sido instaurado
DIVORCIADOS antes do divórcio, assim, o adotado já se encontrava integrado à
convivência familiar.
Por ser concebida desde que o adotante venha a falecer no curso do
processo de adoção, desde que tenha manifestado inequívoca vontade,
PÓSTUMA assim, o efeito da sentença retroagirá à data do óbito,
excepcionalmente, já que a regra é que a sentença produza efeitos a
partir do seu trânsito em julgado (ex nunc).
ADOÇÃO À Trata-se da situação em que uma pessoa registra filho alheio como
BRASILEIRA próprio. Não é uma modalidade legítima de adoção, pelo contrário,
configura o crime do at. 242 do Código Penal.
96
RIA DE Visa-se, mediante tal processo, a comprovação da verdade real ou biológica da
parentalidade. Possui natureza declaratória e envolve o estado de pessoas e a dignidade
PATERNIDADE
humana, assim, é imprescritível (art. 27, ECA c/c Súmula 149, STF).
/MATERNIDA-
Quanto à legitimidade ativa para a ação, ela é personalíssima do filho, em regra,
DE porém, se ele for menor de idade, poderá haver o instituto da representação, se menor de
16 anos, ou, assistência, se possuir entre 16 e 18 anos.
Ademais, o Ministério Público possui legitimidade extraordinária e pode atuar como
substituto processual. Quanto à legitimidade passiva, em regra, será contra o suposto
pai/mãe.
PROVA DA Ocorre através do registro de nascimento, que, em regra, não cabe quebra, exceto quando
o registro tiver sido realizado por meio de erro ou falsidade. Contudo, não poderá afastar a
FILIAÇÃO
parentalidade socioafetiva, incluindo-se, inclusive, o pai biológico no registro de nascimento,
para todos os fins jurídicos, em virtude da possibilidade da multiparentalidade.
PODER FAMILIAR
é o conjunto de direitos e deveres instituído para a proteção do filho menor não
emancipado. Trata-se de um múnus público, ou seja, um encargo, um dever. São um
CONCEITO
poder-dever irrenunciável, intransferível (delegável para terceiros), inalienável,
imprescritível de obrigações personalíssimas. Ademais, é exercido em igualdade de
condições pelo pai ou pela mãe.
Sujeitos (art. 1630, CC): se submetem ao poder familiar todos filhos menores
e incapazes (0-18 anos);
CARACTERÍSTICAS
Exercício (art. 1634, CC), extinção (art. 1635, CC), suspensão (art. 1636, CC) e
destituição (art. 1638, CC);
Efeitos patrimoniais (arts. 1689 a 1693, CC);
O art. 1.634, CC enumera os direitos e deveres:
Dirigir-lhes a criação e educação;
Tê-los em sua companhia e guarda;
Conceder-lhes, ou negar-lhes consentimento para casarem;
DIREITOS E Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêntico, se o outro dos
DEVERES pais lhe não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercitar o poder familiar;
Representá-los, até aos 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-
los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento;
Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade
e condição.
97
ADMINISTRAÇÃO Trata-se de efeito patrimonial do poder familiar, determinando o CC que cabem aos
pais o uso e administração dos bens do menor, sendo desnecessária a prestação de
contas. Os pais, em igualdade de condições, são os administradores legais dos bens
dos filhos. Para alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis dos filhos (ex: hipotecar)
precisam obter autorização judicial, mediante a demonstração da necessidade. Deve
sempre se levar em conta os interesses dos menores. Se a venda se efetivar sem a
autorização judicial, padecerá de nulidade.
Os pais não poderão alienar ou gravar ônus os imóveis dos filhos,
VEDAÇÃO nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da
(ART. 1691, simples administração, salvo se interesse da prole através de autorização
CC) judicial.
Os bens adquiridos pelos filhos extramatrimoniais antes do
reconhecimento, valores aferidos pelos filhos maiores de 16 anos, no
EXCLUSÃO exercício da atividade profissional e bens deles decorrentes, os bens que
(ART. 1693, foram deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem
CC) usufruídos ou administrados pelos pais e os bens que cabem aos filhos
por herança, quando os pais tiverem sido excluídos (atos de indignação
ou deserdação) da sucessão.
USUFRUTO Enquanto estiverem no exercício do poder familiar cabe aos pais a administração dos
bens dos filhos menores, bem como o direito ao usufruto e as rendas desses bens.
Trata-se do chamado usufruto legal. No entanto, caso ocorra alguma divergência na
administração, caberá ao Juiz resolver a situação.
98
Incidir reiteradamente nas faltas previstas no artigo 1.367 do CC;
Entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de
adoção.
Praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder
familiar: a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de
natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime
doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou
menosprezo ou discriminação à condição de mulher; b) estupro
ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão;
Praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio,
feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de
morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à
condição de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou
outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão.
A perda é definitiva, embora em alguns casos seja possível o
restabelecimento, se for provada a regeneração do genitor ou
desaparecida a causa da perda.
GUARDA Trata-se de direito-dever dos pais de terem consigo seus filhos a fim de garantir-lhes
pleno desenvolvimento. Ela poderá ser deferida a ambos, a um deles ou a alguém que
os substituam, verificando, sempre, o melhor interesse do menor.
ESPÉCIES DE GUARDA
Apenas um dos genitores exerce a guarda, enquanto que ao outro,
UNILATERAL permanece o direito de visita, a ser acordado por meio do processo
judicial, sem perder o poder familiar em razão disso;
O tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando a
viver alternadamente, de acordo com o que for ajustado, residindo
juntamente com um e com o outro (residências alternadas). Nesse
ALTERNADA caso, a melhor doutrina afirma que deve ser excepcional, pois não
preenche os requisitos essenciais da guarda compartilhada, que deve
ser fomentada;
É a guarda conjunta por meio da convivência simultânea,
COMPARTI- corresponsabilidade do exercício do poder familiar e com definição da
LHADA residência preferencial do filho, sendo a regra no ordenamento
jurídico. Nesse caso, ocorre a participação plena no processo de
desenvolvimento dos filhos, visando minorar os efeitos do divórcio.
Assim, deve ser preferencial às demais, mesmo que não tiver acordo
entre os pais sobre isso, exceto em alguns casos legais.
DE FATO Consolidada pela convivência e cuidado do responsável para com o
99
menor.
DIREITO Visa-se, através dos institutos da tutela e curatela, a defesa dos interesses dos
incapazes, possibilitando a realização de atos civis em seu nome. A tutela objetiva
ASSISTENCIAL DE
resguardar interesses de menores não emancipados, não sujeitos ao poder familiar e a
FAMÍLIA
curatela, por sua vez, dá assistência nos interesses de maiores incapazes, interditados.
Ambos possuem dever de prestação de contas, ao contrário do que ocorre com os pais
no uso e administração dos bens do filho.
TUTELA (ARTS. 1728 A 1766 DO CC)
A tutela pode ser realizada através da representação ou da assistência, desde que não
estejam submetidos ao poder familiar, premissa principal desse instituto.
Ela pode ser:
Testamentária: por testamento ou codicilo;
Legítima: na falta de tutor nomeado pelos pais; ou
Dativa: na falta das anteriores, aos ascendentes, preferindo o de grau mais
próximo ao mais remoto ou aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os
mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais
moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer
a tutela em benefício do menor, por meio de nomeação do juiz.
INCAPAZES Não podendo ser tutores e sendo exonerados da tutela, caso a exerçam:
DE EXERCER Aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
A TUTELA Aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se
(ART. 1.735), acharem constituídos em obrigação para com o menor, ou
tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos
pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda contra o menor;
Os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido
por estes expressamente excluídos da tutela;
Os condenados por crime de furto, roubo, estelionato,
falsidade, contra a família ou os costumes, tenham ou não
cumprido pena;
As pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e
as culpadas de abuso em tutorias anteriores;
Aqueles que exercerem função pública incompatível com a
boa administração da tutela.
100
Mulheres casadas;
Maiores de sessenta anos;
Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
ESCUSAR-SE Os impossibilitados por enfermidade;
DA TUTELA Aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer
(ART. 1.736 a tutela;
E 1737) Aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
Militares em serviço;
Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a
aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo,
consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la.
Cessa a condição de tutelado (art. 1.763):
Com a maioridade ou a emancipação do menor;
CESSAÇÃO E Ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de
EXTINÇÃO reconhecimento ou adoção.
Cessam as funções do tutor (art. 1.764):
Ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
Ao sobrevir escusa legítima;
Ao ser removido.
101
TOMADA DE DECISÃO APOIADA (ART. 1783-A DO CC)
Ao alterar os artigos 3º e 4º, do Código Civil, foi conferida plena capacidade aos
portadores de deficiência, para o desenvolvimento de todos os atos da vida civil.
Assim, a deficiência não afeta a plena capacidade civil, tendo o indivíduo direito de
casar, exercer os direitos sexuais e reprodutivos, ter filhos e conservar sua fertilidade,
usufruir do convício familiar, bem como exercer guarda, tutela, curatela e adoção.
Como medida de proteção e preservação dos direitos, foi criado o instituto da tomada
de decisão apoiada (artigo 1.783 – A CC), que consiste em ato unilateral de vontade
da pessoa com deficiência que nomeia, ao menos, duas outras pessoas idôneas para
apoiá-lo nas decisões sobre a vida civil.
ALIMENTOS
São prestações devidas pelo alimentante para a satisfação das necessidades pessoais
daquele alimentado, que não pode provê-las por meio do trabalho próprio, em razão
CONCEITO
do dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo com
a sua dissolução.
102
INALIENABILIDA- Não pode ser objeto de cessão gratuita ou onerosa, nem de
DE crédito, não podendo, também, alienados de qualquer forma;
INCOMPENSÁVEIS Veda-se que os alimentos sejam objetos de compensação;
IMPENHORÁVEIS Em razão de ser personalíssima e inalienável;
É uma obrigação moral, assim não é passível de repetição. Isso
significa dizer que se trata de obrigação satisfativa pela qual não
cabe pedir a devolução que se prestou caso não sejam mais
IRREPETÍVEL devidas. Assim, a exemplo dos alimentos provisórios, caso, ao final
do processo o juiz determine que os alimentos não são mais
cabíveis, não podem ser devolvidos, pois, à época, eram legítimos.
Contudo, em se tratando de má-fé do credor, evitar-se-á o
enriquecimento ilícito, podendo haver a sua devolução;
NÃO ADMITE Pois não se trata de um direito patrimonial de caráter privado,
TRANSAÇÃO não podendo ser objeto de compromisso ou arbitragem;
Aos herdeiros do devedor, prevalecendo o entendimento de que
TRANSMISSÍVEL ocorre nos limites da herança (Enunciado n. 343 do CJF/STJ, da
IV Jornada de Direito Civil)
103
Visa a mera subsistência (art. 1694, § 2º c/c art. 1695, CC) e
NATURAIS ocorre quando o cônjuge por culpado da própria penúria ou em
(EXCEÇÃO) caso de separação judicial quando houver o binômio legal, não
houver nenhum outro parente para prestar e tiver inaptidão para
o trabalho;
QUANTO AO TEMPO
PRETÉRITOS Já prestados, não podendo ser mais pleiteados em razão do
princípio da atualidade que rege o instituto dos alimentos
PRESENTES Estabelecido naquele momento e que podem ser pleiteados;
FUTUROS Estão pendentes mas poderão, em momento oportuno, ser
pleiteados;
QUANTO À FORMA DE PAGAMENTO
PRÓPRIOS Também conhecido como in natura, são pagos em espécie
através de alimentos, sustento, hospedagem, entre outros.
Decorrentes da pensão alimentícia, que vai ser determinada de
IMPRÓPRIOS acordo com o caso concreto, pelo juiz, variante entre 10-40%
com base no salário do devedor ou então em salários mínimos;
QUANTO À FINALIDADE
Por meio de acordo das partes ou por sentença judicial
DEFINITIVOS transitada em julgado. Contudo, conforme visto anteriormente,
não formam coisa julgada material, mas sim formal, podendo ser
alterado a qualquer tempo, a depender do binômio legal;
São aqueles fixados antes da sentença de alimentos, conforme
Lei. 5478/68 (Lei de Alimentos). Assim, exige prova pré-
PROVISÓRIOS constituída do parentesco (certidão de nascimento) ou
casamento e tem natureza de tutela de urgência satisfativa, pois
antecipada os efeitos da sentença;
Decorrem de outras ações que não sejam regidas pela Lei de
Alimentos, com objetivo de manutenção do padrão de vida da
PROVISIONAIS parte que os pleiteia. Ocorre por meio de tutela antecipada,
antecipando os efeitos finais do processo, ou liminar, em caso de
medida cautelar de separação de corpos, e, ao contrário da
anterior, não precisa ser através de prova pré-constituída;
É a divisão dos frutos e rendimentos dos bens do casal, a título
COMPENSATÓ- de ressarcimento pela não imissão imediata dos bens da meação
RIOS a que o cônjuge faz jus, com fim de restabelecer uma igualdade
na relação familiar em razão do desequilíbrio no momento da
partilha dos bens;
104
De acordo com recente entendimento jurisprudencial do STJ, são
TRANSITÓRIOS os fixados por determinado período de tempo, a favor de ex-
cônjuge/companheiro, antes do termo final (até que obtenha
autonomia financeira).
105
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: A curatela é o encargo imposto a alguém para reger e proteger
a pessoa que, por causa transitória ou permanente, não possa exprimir a sua vontade,
administrando os seus bens (STJ - Resp: 1515701/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJu.
02/10/2018, T4 - Quarta Turma, Data de Publicação: DJe 31/10/2018). Acerca do instituto da
A) Não existem mais absolutamente incapazes maiores, por força das alterações que foram
feitas no art. 3º do Código Civil pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).
Sendo assim, a curatela somente incide para os maiores relativamente incapazes, que são os
ébrios habituais, os viciados em tóxicos, as pessoas que por causa transitória ou definitiva não
B) De acordo com posição dominante no STJ, o rol de legitimados para propor a ação de
levantamento da curatela previsto no art. 756, ß 1º do CPC/2015 é taxativo, somente podendo
D) O Estatuto da Pessoa com Deficiência incluiu disposição expressa no Código Civil segundo
a qual, na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer a
Comentário:
Na verdade, o STJ entende que não se trata de um rol taxativo. “4- O art. 756, §1º, do
106
além do próprio interdito, também o curador e o Ministério Público sejam legitimados
para o ajuizamento dessa ação, acompanhando a tendência doutrinária que se
possíveis legitimados”. (REsp /MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
Questão 2
MPE-GO – 2019 – MPE-GO: De acordo com as regras de direito intertemporal dispostas no
Código Civil e na jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa
correta:
A) O atual Código Civil permite a alteração de regime de bens casamento, sendo tal regra
inaplicável aos matrimônios contraídos na vigência do Código Civil de 1916, tendo em vista a
para os cônjuges. Tal entendimento, por contemplar inconstitucionalidade, que tem efeito ex
tunc, é aplicável aos inventários judiciais mesmo com o trânsito em julgado da sentença de
partilha.
C) Se o curador, na vigência do Código Civil de 1916, tinha inscrito hipoteca por força de
sentença judicial em procedimento de interdição, com a entrada em vigor do atual Código
Civil, teve o prazo decadencial de dois anos para pleitear o seu cancelamento.
D) O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil de 1916 é o por
ele estabelecido, para fins de aferição da divisão patrimonial dos bens adquiridos pelo casal,
Comentário:
107
De acordo com o art. 2.039, o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do
Código Civil anterior, é o por ele estabelecido. Ambas as Turmas de Direito Privado desta
Corte assentaram que o art. 2.039 do Código Civil não impede o pleito de autorização
judicial para mudança de regime de bens no casamento celebrado na vigência do Código
com o inciso IV do art. 827 do CC anterior, poderá ser cancelada (NÃO TEM PRAZO),
Questão 3
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Acerca dos alimentos, pode-se afirmar corretamente que
B) os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem
ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possui mais
26
REsp 812.012/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe
02/02/2009
27
RE 878694, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-02-2018
108
C) são devidos alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso
universitário, por força da obrigação parental de promover adequada formação profissional,
Comentário:
devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua
mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia
financeira.
Questão 4
VUNESP – 2019 – TJ/RO: No regime da comunhão parcial de bens, pode-se afirmar
corretamente:
109
A) Não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS auferidos durante a constância da união
B) Os valores investidos em previdência privada fechada não se inserem na previsão legal que
partilha.
C) As obrigações provenientes de atos ilícitos, mesmo que não revertam em proveito do casal,
bem como os bens que sobrevierem ao cônjuge, na constância do casamento, por doação ou
adquiridos antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio comum a
ser partilhado quando do término do relacionamento, visto que essa valorização é decorrência
de um fenômeno econômico que dispensa a comunhão de esforços do casal.
separação.
Comentário:
110
4) Deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - FGTS auferidos durante a constância da
casal ou que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a
vigência da relação.
esforços do casal.
integram o patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha.
(Art. 1.659, VII - as pensões, os meios-soldos, os montepios e outras rendas semelhantes).
Art. 1.659, I e IV do CC: “Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada
Questão 5
MPE-GO – 2019 – MPE/GO: Acerca do instituto da guarda compartilhada no Código Civil,
A guarda compartilhada encontra suas origens na “Common Law” do Direito Inglês, com a
denominação de “joint custody”. A partir da década de 1960, se difundiu tal conceito pela
Europa, porém, foi nos Estados Unidos da América que a denominada guarda conjunta
avançou em virtude de intensas pesquisas em decorrência da transformação das famílias. Daí,
é possível concluir que a adoção de previsão legal da guarda compartilhada no Brasil retrata
111
uma crescente tendência mundial, fortalecida pela Convenção de Nova Iorque sobre Direitos
da Criança (ONU, 1989).
para tomar todas as decisões que afetem os filhos, visando manter os laços de afetividade e
abrandar os efeitos que o fim da sociedade conjugal pode trazer à prole, ao passo que tenta
aplicando, porém, quando um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda
do menor ou um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar.
guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão sobre guarda de filhos, salvo
se provisória, será proferida preferencialmente após a oitiva de ambas as partes perante o juiz.
D) A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe. Se o juiz
verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a
pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o
Comentário:
de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos interesses dos filhos exigir a
concessão de liminar sem a oitiva da outra parte, aplicando-se as disposições do art.
1.584.
Questão 6
FCC – 2019 – TJ/AL: De acordo com o Código Civil, o casamento
112
C) religioso não produz efeitos civis, em nenhuma hipótese.
Comentário:
acordo com o art. 1.512, o casamento é civil e gratuita a sua celebração, por sua vez, o
art. 1.516, § 2, aduz que o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas
neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer
tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e
observado o prazo do art. 1532. O art. 1.521 traz hipóteses em que não podem se casar,
dentre eles, os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau
inclusive. Por fim, o art. 1.542 aduz que o casamento pode celebrar-se mediante
Questão 7
FCC – 2019 – MPE/MT: Ana Lúcia e Heitor, ela com sessenta e cinco, ele com sessenta e sete
anos, casam-se pelo regime de comunhão universal, tendo antes estipulado pacto antenupcial
por escritura pública para adoção desse regime; dois anos depois arrependem-se e requerem
A) era possível a estipulação do pacto antenupcial, pois ambos não haviam atingido setenta
113
C) era possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido de
ambos os cônjuges, sem especificação de razões, por se tratar de questões privadas do casal;
era possível o pacto antenupcial, mas por serem maiores de 65 anos somente para o regime
de separação de bens.
D) não era possível o pacto antenupcial porque Ana Lúcia já tinha 65 anos de idade, o que
judicial.
E) era possível o pacto antenupcial, escolhendo qualquer regime, pois não haviam atingido
setenta anos; era possível alterar o regime de bens, a qualquer tempo, prescindindo de
Comentário:
casamento da pessoa maior de 70 anos, ou seja, Ana Lúcia e Heitor, por não atingirem
ainda essa idade, podem escolher livremente o seu regime de bens. Além disso, não há
Questão 8
FCC – 2019 – MPE/MT: No que tange às relações de parentesco e à filiação, é correto afirmar:
A) Em nenhuma hipótese pode alguém vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento.
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.
114
C) É suficiente o adultério da mulher, desde que por ela confessado, para ilidir a presunção
legal da paternidade.
Comentário:
De acordo om o art. 1.604, ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do
na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente
comum, e descendo até encontrar o outro parente. O art. 1.600 aduz que não basta o
adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da paternidade.
Questão 9
MPE-SC – 2019 – MPE/SC: Assinale como V ou F:
( ) De acordo com o Código Civil, cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do
outro pelo vínculo da afinidade. Na linha reta, a afinidade se extingue com a dissolução do
( ) A Súmula n. 596 do STJ enuncia que “A obrigação alimentar dos avós tem natureza
retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso,
por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado.
Comentário:
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da
afinidade.
§ 1 O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos
do cônjuge ou companheiro.
união estável.
art. 1.694 , do CC parentes, cônjuges e companheiros podem pedir alimentos uns aos
outros para viver de modo compatível com sua condição social, assegurando o mesmo
padrão de vida de que sempre desfrutaram, sendo nesses casos os alimentos de natureza
civis. Já a lei limita o valor, se ficar caracterizada a culpa (artigos 1.694 , § 2º , 1.702 e
1.704 , CC); assim, quem, culposamente, dá origem à situação de necessidade receberá
116
alimentos naturais, ou seja, apenas o necessário para manter a sua subsistência. Fonte:
SAVI"28
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas pelos
parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos
Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua
celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-
Questão 10
FCC – 2019 – DPE/SP: Rubens separou-se de fato de Betina em 2007. Casados desde 2004,
não ajuizaram ação de divórcio, e Betina, em 2016, faleceu. Por ocasião do casamento, Rubens
adotou o sobrenome de Betina. Diante de seu falecimento, Rubens:
casamento.
C) não poderá requerer judicialmente o retorno ao nome de solteiro porque tal pedido
deveria ser feito em ação de divórcio.
28
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/41429/qual-a-diferenca-entre-alimentos-naturais-e-civis-ciara-bertocco-
zaqueo
117
E) poderá requerer judicialmente o retorno ao nome de solteiro.
Comentário:
Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela
incorporou o patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira.
Alguns anos mais tarde, João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira
(Maria Pimentel da Costa), excluindo o patronímico do falecido marido?
SIM. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em
A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de
ser: a dissolução do vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate
de modo diferenciado as referidas situações. Assim, o dispositivo que apenas autoriza a
vínculo conjugal pelo falecimento do cônjuge. STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.718-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627)
patronímico é cada vez menos relevante no âmbito social, quando a questão está, cada
dia mais, no âmbito da autonomia da vontade e da liberdade e, ainda, quando a
29
Fonte: Dizer o Direito
118
manutenção do nome pode, em tese, acarretar ao cônjuge sobrevivente abalo de
natureza emocional, psicológica ou profissional, em descompasso, inclusive, com o que
Questão 11
FCC – 2019 – DPE/SP: Ana e Joaquim, casados pelo regime da comunhão parcial de bens,
decidem constituir empresa limitada para comércio de bebidas. Para obter o capital inicial
necessário à abertura do negócio, recorrem à instituição financeira e dão seu único
presumindo-se
Comentário:
quando, em razão da atividade exercida por empresa familiar, o imóvel onde reside o
casal (únicos sócios daquela) é onerado com garantia real hipotecária para o bem do
negócio empresarial. Nesse sentido, constitui-se ônus dos prestadores da garantia real
hipotecária, portanto, comprovar a não ocorrência do benefício direto à família,
família é impenhorável quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da
pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à
119
entidade familiar; e b) o bem de família é penhorável quando os únicos sócios da
empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a
demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. STJ, EAREsp 848.498-PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe 07/06/2018
(Info 627).
Questão 12
VUNESP – 2019 – TJ/AC: Assinale a alternativa correta sobre os alimentos.
A) Os alimentos gravídicos são devidos pelo suposto pai, à mulher gestante, bastando a
C) É nula de pleno direito a renúncia aos alimentos, realizada por um dos cônjuges, em ação
de divórcio.
Comentário:
De acordo com o art. 1.698, do CC, se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar,
não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer
os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas,
Conforme leciona Sílvio de Salvo Venosa, a renúncia aos alimentos pelo cônjuge é
manifestação de vontade válida, pois apenas os alimentos derivados do parentesco são,
em princípio, irrenunciáveis. O dever de mútua assistência entre os cônjuges rompe-se
quando é desfeito o casamento. Ademais, o acordo firmado na separação por mútuo
120
consentimento é negócio jurídico bilateral com plenitude de efeitos. Se as vontades se
manifestaram livremente, não há aspecto de ordem pública a ser preservado na renúncia
aos alimentos.
De acordo com o art. 1.699, se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar
Questão 13
VUNESP – 2019 – TJ/AC: Sobre o regime de bens entre os cônjuges, assinale a alternativa
correta.
D) O pacto antenupcial poderá ser celebrado por escritura pública ou instrumento particular,
Comentário:
razão pela qual parte da doutrina e da jurisprudência entende ser necessária a outorga
conjugal no regime de separação obrigatória. A questão se refere expressamente à
121
“separação convencional”, recaindo, portanto, sobre a parte da matéria em que há
consenso.
Questão 14
CESPE – 2019 – TJ/PR: Após o falecimento dos pais, uma criança de dez anos de idade foi
colocada sob tutela de sua avó, de sessenta e cinco anos de idade, já que constitui parente de
grau mais próximo. Em relação à tutela dessa criança, considerando-se as disposições legais, é
correto afirmar que a avó
C) não poderá se escusar da tutela, já que é o parente de grau mais próximo da criança.
D) não poderá se escusar da tutela, uma vez que tal ato é vedado pela legislação vigente.
Comentário:
I - mulheres casadas;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
Questão 15
CESPE – 2019 – TJ/BA: Com relação ao reconhecimento voluntário de filhos tidos fora do
casamento, julgue os seguintes itens.
122
I O Código Civil admite o reconhecimento voluntário de paternidade por declaração direta e
expressa perante o juiz, desde que manifestada em ação própria, denominada ação
III O reconhecimento de filiação pode preceder o nascimento do filho e, até mesmo, ser
posterior ao falecimento deste. Nesse último caso, admite-se o reconhecimento post mortem
Comentário:
O Item I está incorreto, pois, de acordo com o art. 1609 IV admite o reconhecimento
voluntário de paternidade por declaração direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido objeto único e principal do ato que o contém. Portanto,
não precisa ser manifestada em ação própria, como diz a assertiva, pode ser pedido de
uma outra ação e, não necessariamente o principal.
paternidade por meio de testamento é revogável pelo testador. Tal afirmação é contrária
ao que está expresso no art. 1610 do CC: “o reconhecimento não pode ser revogado,
nem mesmo quando feito em testamento”.
123
O item III está correto, pois expressa a literalidade do art. 1609, pu, do CC, em que o
reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu
124
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - D
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 - C
Questão 6 - B
Questão 7 - A
Questão 8 - B
Questão 9 – F, F, F, F, V
Questão 10 - E
Questão 11 - A
Questão 12 - A
Questão 13 - C
Questão 14 - B
Questão 15 - B
125
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Regimes de Bens
Parentesco
Poder Familiar
Alimentos
Casamento e Divórcio
O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.
126
Súmula 305 do STF
União estável
Súmula 38 do STF
A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato .
Súmula 1 do STJ
Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum
de paternidade.
Alimentos
O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações
de risco descritas no artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.
A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.
127
Na ação de desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da decisão que os concede.
No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados ulteriormente,
verificados os pressupostos legais.
A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do
ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.
O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos.
O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores
ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à data da citação,
vedadas a compensação e a repetibilidade.
128
JURISPRUDÊNCIA
A norma constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar a união estável
entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família”) não obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida
como entidade familiar apta a merecer proteção estatal.
O Supremo Tribunal Federal entendeu que todas as regras previstas para a união estável são aplicáveis, por
analogia, à união homoafetiva. Resolução nº 175/2013 do CNJ: os registradores são obrigados a fazer a
conversão da união estável em casamento das relações homoafetivas. Se é possível converter a união estável
homoafetiva em casamento homoafetivo, também é possível o casamento homoafetivo diretamente no Cartório
de Registro Civil
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/6/2017 (Info
609).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.624-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
Não é lícito aos conviventes atribuírem efeitos retroativos ao contrato de união estável, a fim de eleger o regime
de bens aplicável ao período de convivência anterior à sua assinatura.
O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por morte de titular de plano de saúde na hipótese
em que a referida disposição contratual faça referência a cônjuge, sendo omissa quanto a companheiro.
129
Informativo 595, STJ:
Contrato de convivência não exige escritura pública. É válido, desde que escrito, o pacto de convivência
formulado pelo casal no qual se opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil (igual)
ao regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura pública. Em outras
palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar contrato de convivência dizendo que
aquela relação será regida por um regime de bens igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para
ser válido, precisa ser feito por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública.
O STF fixou a seguinte tese: No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no
art. 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). O STJ
acompanhou o entendimento do Supremo e também decidiu de forma similar: É inconstitucional a distinção de
regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime
estabelecido no art. 1.829 do CC/2002.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.494.302-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/6/2017 (Info
609)
Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de uso para moradia de imóvel
público. Ex: João e Maria viviam em união estável. No curso dessa união eles passaram a residir em uma casa
pertencente ao Governo do Distrito Federal sobre o qual receberam a concessão de uso para fins de moradia.
Depois de algum tempo decidem por fim à relação. Deverá haver uma partilha sobre os direitos relacionados
com a concessão de uso.
É possível, em processo de dissolução de casamento em curso no país, que se disponha sobre direitos
patrimoniais decorrentes do regime de bens da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha
reflexos sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha.
A EC 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da separação judicial.
130
A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do
casamento não significa concordância tácita com a modificação do nome civil. Ex: João da Silva Maier casou-se
com Gabriela Ferreira. Gabriela adotou o patronímico de João e passou a se chamar Gabriela Ferreira Maier. O
relacionamento chegou ao fim e João ajuizou ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a) que fosse decretado o
divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o patronímico “Maier” de seu nome. Gabriela foi devidamente
citada, mas não respondeu a ação. Correta a decisão do juiz que julga o pedido parcialmente procedente
decretando o divórcio, mas mantendo o sobrenome da ré. Principais argumentos: • o fato de o réu ter sido revel
não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor; • o nome é considerado direito
indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade; • para que houvesse a retirada do sobrenome, seria
necessária a manifestação expressa da vontade da mulher; • a utilização do sobrenome do ex-marido por mais
de 30 trinta anos pela ex-mulher demonstra que há tempo ele está incorporado ao nome dela, de modo que não
mais se pode retirá-lo, sem que cause evidente prejuízo para a sua identificação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.732.807-
RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2018
Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo que o legitimado ativo
para o seu ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge. Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja
proposto pelo curador, na qualidade de representante processual do cônjuge. Justamente por ser excepcional o
ajuizamento da ação de dissolução de vínculo conjugal por terceiro em representação do cônjuge, deve ser
restritiva a interpretação da norma jurídica que indica os representantes processuais habilitados a fazê-lo, não se
admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui apenas a curatela provisória. Assim, em
regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser admitido em situações
excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério Público. STJ. 3ª Turma. REsp
1.645.612-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018
UNIÃO ESTÁVEL. Na dissolução de entidade familiar, é possível o reconhecimento do direito de visita a animal de
estimação adquirido na constância da união, demonstrada a relação de afeto com o animal. Na dissolução da
entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao animal de estimação, independentemente da
qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender do caso em concreto,
aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser humano e do seu
vínculo afetivo com o animal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.713.167-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/06/2018
A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o condão de alterar a
competência funcional do juízo prevento. Assim, a ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo
131
que decretou o divórcio, mesmo que um dos ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz. Não
se aplica, no caso a regra do art. 50 do CPC/2015, que prevê a competência do domicílio do incapaz
(competência territorial especial). Isso porque a competência funcional, decorrente da acessoriedade entre as
ações de divórcio e partilha, possui natureza absoluta. Por outro lado, a competência territorial especial conferida
ao autor incapaz, apesar de ter como efeito o afastamento das normas gerais previstas no diploma processual,
possui natureza relativa. As regras de competência absoluta preponderam em relação às das de competência
relativa. STJ. 2ª Seção. CC 160.329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019
PROVA DOCUMENTAL. A prova documental é o único meio apto a demonstrar a existência da sociedade de fato
entre os sócios. A prova escrita constitui requisito indispensável para a configuração da sociedade de fato
perante os sócios entre si.
Regimes de Bens
STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/4/2017 (Info 603).
O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo estatuto da comunhão
parcial, mas recebido individualmente por um dos companheiros, através de doação pura e simples realizada pelo
outro, deve ser excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002: Art. 1.659. Excluem-se da
comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; Ex: João e Maria vivem em união estável.
Durante este relacionamento, João comprou um apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal,
na constância da união estável, o imóvel foi doado por João, de forma graciosa, à Maria. Isso significa que, no
momento que for feita a dissolução da união estável, este bem não irá integrar o montante partilhável. João,
quando doou o imóvel, o fez quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.399.199-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 9/3/2016 (Info 581).
Diante do divórcio de cônjuges que viviam sob o regime da comunhão parcial de bens, não deve ser
reconhecido o direito à meação dos valores que foram depositados em conta vinculada ao FGTS em datas
anteriores à constância do casamento e que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a
vigência da relação conjugal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.477.937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/4/2017
(Info 606).
O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável regida pela
comunhão parcial de bens.
132
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães, julgado em 23/05/2018 (Info
628).
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser
comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil.
Algumas vezes, uma empresa apura lucro, mas decide que não irá distribuí-los aos acionistas, retendo esses
lucros com o objetivo de incrementar o seu capital social. O lucro destinado à conta de reserva, ou seja, que não
é distribuído aos sócios, continua pertencendo à sociedade empresária (e não ao sócio). Em razão disso, essa
quantia não será partilhada caso um dos sócios termine a união estável que mantinha. Em outras palavras, os
lucros de sociedade empresária destinados a sua própria conta de reserva não são partilháveis entre o casal no
caso de dissolução de união estável de sócio.
Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, “é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.” A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é
impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado
unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar.
Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha.
Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-
cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido
acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial.
A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido beneficiada por suposta
transferência fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade passiva para integrar a ação de
divórcio cumulada com partilha de bens, no bojo da qual se requereu a declaração de ineficácia do negócio
jurídico que teve por propósito transferir a participação do sócio/ex-marido à sócia remanescente, dias antes da
consecução da separação de fato.
133
O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável regida pela
comunhão parcial de bens.
Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trate de relacionamento regulado pelo regime da separação
obrigatória (art. 1.641, II, do CC). Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime
patrimonial é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC). Apesar disso, se um dos companheiros
ganhar na loteria, o valor do prêmio integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC). Assim,
havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado igualmente entre os consortes.
(Info 616). Art. 1.660. Entram na comunhão: (...) II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso
de trabalho ou despesa anterior; Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime
patrimonial que irá regular essa relação é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC). Apesar disso,
se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na loteria, o valor do prêmio integra a massa de bens
comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de forma que pertence a ambos. Assim, havendo dissolução da união
estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado igualmente entre os consortes. Em suma, o prêmio de loteria,
recebido por excompanheiro septuagenário durante a relação de união estável, deve ser objeto de meação entre
o casal em caso de dissolução do relacionamento. STJ. 4ª Turma. REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 24/10/2017
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser
comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães
(Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018 (recurso repetitivo)
A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando sobre a
partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião de divórcio
consensual, não impede que haja um novo acordo sobre o destino dos referidos bens. STJ. 3ª Turma. REsp
1623475-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018
Parentesco
STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840).
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a
constância do casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de
134
paternidade contra o suposto pai biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento
são filhos do marido não pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira
paternidade.
É possível o reconhecimento da paternidade socioafetiva post mortem, ou seja, mesmo após a morte do suposto
pai socioafetivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.999-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016
Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação
de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.466.423- GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016
O filho tem direito de desconstituir a denominada “adoção à brasileira” para fazer constar o nome de seu pai
biológico em seu registro de nascimento, ainda que preexista vínculo socioafetivo de filiação com o pai registral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.598-CE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/12/2015
O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória de filiação
socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da ação, pré-morta (já falecida) -
e os supostos pais socioafetivos dela. Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento
de sua relação de parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, seria outra ação, na qual se
buscaria um direito próprio (e não de sua mãe). STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 2/8/2016
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de
filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. Ex: Lucas foi registrado e
criado como filho por João; vários anos depois, Lucas descobre que seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá
buscar o reconhecimento da paternidade biológica de Pedro sem que tenha que perder a filiação socioafetiva
que construiu com João; ele terá dois pais; será um caso de pluriparentalidade; o filho terá direitos decorrentes
de ambos os vínculos, inclusive no campo sucessório. STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
21 e 22/09/2016
135
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a
constância do casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de
paternidade contra o suposto pai biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento
são filhos do marido não pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira pater-
nidade. STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016
A coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade deve ser relativizada nos casos em que, no
processo, não houve a realização de exame de DNA e, portanto, não foi possível ter-se certeza sobre o vínculo
genético (STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011. Repercussão geral). O STJ
entendeu, contudo, que essa relativização da coisa julgada não se aplica às hipóteses em que o magistrado
reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou seus herdeiros) terem se recusado a comparecer ao
laboratório para a coleta do material biológico. Ex: Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra
João; este se recusou a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu que
Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de DNA induz presunção juris tantum de paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João
ingressou com ação negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a realização de exame
de DNA. Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC). Em suma,
a relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade – em que não foi possível
determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o
reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em comparecer
ao laboratório para a coleta do material biológico.
É imprescindível o consentimento de pessoa maior para o reconhecimento de filiação post mortem. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.688.470-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/04/2018
É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas
de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao instituto da
adoção unilateral. Vale ressaltar que não se trata de adoção, pois não se pretende o desligamento do vínculo
com o pai biológico, que reconheceu a paternidade no registro civil de nascimento da criança.
136
sentença proferida em ação de investigação de paternidade cujo genitor é pré-morto deve ser ajuizada em face
dos herdeiros, e não do espólio
Poder Familiar
STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016 (Info 595).
Aplicação obrigatória da guarda compartilhada. A guarda compartilhada somente deixará de ser aplicada quando
houver inaptidão de um dos ascendentes para o exercício do poder familiar, fato que deverá ser declarado,
prévia ou incidentalmente à ação de guarda, por meio de decisão judicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho gera danos morais, passíveis de
compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando
danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do
Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018
(Info 622)
O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos (usufruto legal),
bem como têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, nos termos do art. 1.689,
incisos I e II, do Código Civil. Por essa razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores
recebidos pelos pais em nome do menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de
que as verbas recebidas tenham sido utilizadas para a manutenção da comunidade familiar, abrangendo o
custeio de alimentação, saúde, vestuário, educação, lazer, entre outros. Excepcionalmente, admite-se o
ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre que a causa de pedir estiver fundada na suspeita
de abuso de direito no exercício desse poder. Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em
desfavor dos pais é possível quando a causa de pedir estiver relacionada com suposto abuso do direito ao
usufruto legal e à administração dos bens dos filhos.
PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO CÔNJUGE CURADOR. O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do
curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à
prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a
prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas. Assim, o
magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse
prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de
137
malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens
comuns; e b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.
ROL DE LEGITIMADOS. EXEMPLIFICATIVO. O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela,
previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015, não é taxativo. (INTERDIÇÃO É DIFERENTE DE SEU LEVANTAMENTO)
Alimentos
REsp 997.515/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
18/10/2011, DJe 26/10/2011.
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. RECURSO ESPECIAL. DÉBITO VENCIDO NO CURSO DA AÇÃO DE ALIMENTOS. VERBA
QUE MANTÉM O CARÁTER ALIMENTAR. DESCONTO EM FOLHA. POSSIBILIDADE. 1. Os alimentos decorrem da
solidariedade que deve haver entre os membros da família ou parentes, visando garantir a subsistência do
alimentando, observadas sua necessidade e a possibilidade do alimentante. Desse modo, a obrigação alimentar
tem a finalidade de preservar a vida humana, provendo-a dos meios materiais necessários à sua digna
manutenção, ressaindo nítido o evidente interesse público no seu regular adimplemento. 2. Por um lado, a
Súmula 309/STJ, ao orientar que "o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo", deixa límpido que os alimentos vencidos no curso da ação de alimentos ostentam também a natureza
de crédito alimentar. 3. Por outro lado, os artigos 16 da Lei 5.478/1968 e 734 do Código de Processo Civil
prevêem, preferencialmente, o desconto em folha para satisfação do crédito alimentar. Destarte, não havendo
ressalva quanto ao tempo em que perdura o débito para a efetivação da medida, não é razoável restringir-se o
alcance dos comandos normativos para conferir proteção ao devedor de alimentos. Precedente do STJ. 4. É
possível, portanto, o desconto em folha de pagamento do devedor de alimentos, inclusive quanto a débito
pretérito, contanto que o seja em montante razoável e que não impeça sua própria subsistência. 5. Recurso
especial parcialmente provido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1501992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/03/2018
(Info 624).
138
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.063-AC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/6/2017 (Info 607).
O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao pagamento de verba alimentícia
retroativa se inicia tão somente com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601)
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser
suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da
maioridade civil do alimentado.
Em execução de alimentos devidos a filho menor de idade, é possível o protesto e a inscrição do nome do
devedor em cadastros de proteção ao crédito. Mostra-se juridicamente possível o pedido do credor para que seja
realizado protesto e inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito (SPC e
Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para garantir a efetivação dos direitos funda-
mentais da criança e do adolescente. No CPC 2015 existe previsão expressa nesse sentido (art. 528, § 1º e art.
782, §§ 3º e 4º). STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/3/2016 (Info
579). STJ. 4ª Turma. REsp 1.533.206-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17⁄11⁄2015.
A obrigação dos avós de prestar alimentos tem natureza complementar e subsidiária e somente exsurge se
ficar demonstrada a impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos dos filhos, ou de os prove-
rem de forma suficiente. Assim, morrendo o pai que pagava os alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos
avós se ficar demonstrado que nem a mãe nem o espólio do falecido têm condições de sustentar o filho.
Não tendo ficado demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do cumprimento da obrigação alimentar
pela mãe, como também pelo espólio do pai falecido, não há como reconhecer a obrigação do avô de
prestar alimentos. O falecimento do pai do alimentante não implica a automática transmissão do dever
alimentar aos avós.
O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao pagamento de verba alimentícia
retroativa se inicia tão somente com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade.
O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros e resultados deve ser incorporado
à prestação alimentar devida? Os valores recebidos a título de “participação nos lucros e resultados” são incluídos
no percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor receber
participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais?
139
1ª corrente: NÃO. Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados não se incorporam à verba
alimentar devida ao menor. É a posição da 3ª Turma do STJ. REsp 1.465.679-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 09/11/2017 (Info 615).
2ª corrente: SIM. As parcelas percebidas a título de participação nos lucros configuram rendimento, devendo
integrar a base de cálculo da pensão fixada em percentual, uma vez que o conceito de rendimentos é amplo,
especialmente para fins de cálculo de alimentos. É a corrente adotada pela 4ª Turma do STJ. AgInt no AREsp
1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/09/2017. STJ. 4ª Turma. REsp 1.561.097-RJ, Rel. Min.
Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em
06/02/2018 (Info 620). Lei 5.478/68, Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios
a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. (alimentos
provisórios de ofício).
É possível a aplicação imediata do art. 528, § 7º, do CPC/2015 em execução de alimentos iniciada e processada,
em parte, na vigência do CPC/1973. A regra do art. 528, §7º, do CPC/2015, apenas incorpora ao direito positivo o
conteúdo da pré-existente Súmula 309/STJ, editada na vigência do CPC/1973, tratando-se assim, de
pseudonovidade normativa que não impede a aplicação imediata da nova legislação processual como
determinam os arts. 14 e 1.046 do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. RHC 92.211-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi julgado em
27/02/2018
Discussão sobre a possibilidade de o filho ajuizar ação de exigir contas em relação aos valores recebidos pelos
pais em nome do menor O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos
filhos (usufruto legal), bem como têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, nos
termos do art. 1.689, incisos I e II, do Código Civil.
Por essa razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores recebidos pelos pais em nome
do menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de que as verbas recebidas tenham
sido utilizadas para a manutenção da comunidade familiar, abrangendo o custeio de alimentação, saúde,
vestuário, educação, lazer, entre outros.
Excepcionalmente, admite-se o ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre que a causa de
pedir estiver fundada na suspeita de abuso de direito no exercício desse poder.
Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em desfavor dos pais é possível quando a causa de
pedir estiver relacionada com suposto abuso do direito ao usufruto legal e à administração dos bens dos filhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018
140
Havendo meios executivos mais adequados e igualmente eficazes para a satisfação da dívida alimentar dos avós,
é admissível a conversão da execução para o rito da penhora e da expropriação, a fim de afastar o decreto
prisional em desfavor dos executados. STJ. 3ª Turma. HC 416.886-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
12/12/2017
Em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a prole pois se
presume que, em tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas
condições dignas de sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana. A
igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, de modo que é admissível a fixação de
alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de necessidades
diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores Exemplo: João possui
dois filhos, com mulheres diferentes. Para o filho 1, paga 20% de seu salário e para o filho 2, 15%. O STJ admitiu
que essas pensões sejam em valores diferentes porque a capacidade financeira da mãe do filho 2 é muito maior
do que a genitora do filho 1. STJ. 3ª Turma. REsp 1.624.050/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/06/2018
A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos amiliares, revelando-se
inadequada para solver controvérsias relacionadas a obrigações de natureza alimentar. STJ. 4ª Turma. HC
439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018
Os embargos de terceiro não são cabíveis para o fim de declarar, em sede de ação de exoneração de alimentos,
a natureza familiar da prestação alimentícia, de forma a alterar a relação jurídica posta e discutida na demanda
principal. Ex: João e Maria, ao se divorciarem, firmaram um acordo por meio do qual João iria pagar 30% de seu
salário, a título de alimentos, para Maria e o filho do casal (Vitor). Quando Vitor completou a maioridade, João
propôs ação de exoneração de alimentos contra ele. O juiz deferiu o pedido e determinou que os descontos
141
fossem reduzidos pela metade (15%), já que Vitor não seria mais credor de alimentos. Maria opôs embargos de
terceiro contra essa decisão, tendo o STJ considerado um instrumento jurídico inadequado. STJ. 4ª Turma. REsp
1.560.093-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/09/2018
O Código Civil prevê o seguinte: Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em
condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide. Neste julgado, o STJ
entendeu que este artigo possui natureza jurídica de “litisconsórcio facultativo ulterior simples”. Trata-se, contudo,
de litisconsórcio com uma particularidade: em regra, a sua formação pode ocorrer não apenas por iniciativa do
autor, mas também por provocação do réu ou do Ministério Público. Vale ressaltar, contudo, uma exceção: se o
credor dos alimentos (autor da ação) for menor emancipado, possuir capacidade processual plena e optar
livremente por ajuizar a demanda somente em face do genitor, não pode o réu provocar o chamamento ao
processo da genitora do autor (codevedora). Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena
capacidade processual, cabe exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018
É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que haja
anterior penhora de bens do devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.733.697-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
11/12/2018
O acordo que estabelece a obrigação alimentar entre ex-cônjuges possui natureza consensual e, portanto, a
incidência de correção monetária para atualização da obrigação ao longo do tempo deve estar expressamente
prevista no contrato. Os alimentos acordados voluntariamente entre ex-cônjuges, por se encontrarem na esfera
de sua estrita disponibilidade, devem ser considerados como verdadeiro contrato, cuja validade e eficácia
dependem exclusivamente da higidez da manifestação de vontade das partes apostas no acordo.
Não confundir:
• acordo de alimentos entre ex-cônjuges não prevê atualização monetária da pensão alimentícia ao longo do
tempo: o valor da obrigação se mantém pelo valor histórico (valor original).
• decisão judicial não prevê atualização monetária da pensão alimentícia: mesmo assim a prestação deverá ser
corrigida, atualizando-se o valor historicamente fixado.
142
Observação: a correção monetária explicada acima diz respeito à atualização da obrigação original fixada no
contrato e paga na data do vencimento. Não se estava tratando sobre correção monetária de parcelas pagas em
atraso. Mesmo que o contrato não preveja, haveráincidência de correção monetária caso o alimentante pague a
pensão alimentícia após a data do vencimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.669-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019.
termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V,
do CPC/2015.
SURRECTIO. No acordo ficou ajustado que o devedor pagaria a pensão durante certo tempo; passado esse
período, o indivíduo, por mera liberalidade, continuou pagando; isso não significa, contudo, que ele passou a ter
o dever de pagar para sempre a pensão. Obrigação alimentar extinta, mas mantida por longo período de tempo
por mera liberalidade do alimentante, não pode ser perpetuada com fundamento no instituto da surrectio.
143
144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
145
Capítulo 8
SUMÁRIO
Direito Civil, CAPÍTULO 8................................................................................................................................................3
25.1.1 Testamento........................................................................................................................................... 28
25.1.5 Legado.................................................................................................................................................... 31
25.2.1 Características...................................................................................................................................... 33
25.3 Inventário....................................................................................................................................................... 34
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 65
LEGISLAÇÃO COMPILADA........................................................................................................................................... 66
JURISPRUDÊNCIA............................................................................................................................................................... 67
Capítulo 8
3
Necessários: são aqueles que tem direito à legítima, ou seja, metade do
patrimônio do autor da herança. Esse valor é obtido através do montante dos
bens existentes na abertura da sucessão, abatido das dívidas e despesas com
funeral e, esse resultado é somado aos valores sujeitos à colação. Assim, são os
descendentes, ascendentes, cônjuges e companheiros, conforme equiparação
sucessória realizada pelo STF por meio do Rext 878.694/MG, Rel. Min. Luís Roberto
Barroso, j. 31.08.2016;
Facultativos: são aqueles diversos dos necessários: colaterais (irmãos, tios,
sobrinhos, primos);
Legítimos: irão dispor da herança de acordo com o que for estabelecido em lei.
Assim, parentes em linha reta, colaterais até o 4º grau, cônjuge e companheiro
dispõem de legitimidade para suceder;
Testamentários: o falecido/testador deixou a parte disponível do seu patrimônio
ou uma fração desta;
Com primeiro princípio, visa evitar que o patrimônio do de cujus fique sem titular por
muito tempo, assim, estabelece a imediata transferência ficta de pleno direito dos bens do
falecido, para seus herdeiros com capacidade sucessória, quando da abertura da sucessão.
4
23.3 Sucessão em Geral
23.3.1 Fonte
A lei é a sua única fonte. O testamento pode até indicar o destinatário da sucessão.
Mas ele não é pleno (há muitas restrições ao direito de testar) e também não é causa
geradora de novas disposições sucessórias.
perceber o quinhão que lhe é de direito, podendo ser expressa ou tácita. Não se admite que
seja aceita a herança por partes, ou seja, ou o herdeiro aceita todo o quinhão que lhe é de
O lugar da abertura da sucessão será último domicílio do falecido, com base ao que
estabelece o art. 1.785, CC, assim, o foro competente seguirá as regras de competência do art.
48 do NCPC.
A lei material aplicável para regular a sucessão será lei vigente no momento do
óbito do falecido, e a lei que regula a capacidade sucessória será a lei vigente no momento
do óbito.
5
administração cabe ao inventariante, porém, até que ele realize seu compromisso, a
administração da herança caberá ao administrador ad hoc que deverão ser escolhidos,
Herança negativa – ocorre quando as dívidas deixadas pelo falecido são maiores do que a
própria herança, assim, não haverá sobras, acarretando a herança negativa, o que não obriga
23.3.3 Herança
6
Sucessão X Herança. Sucessão mortis causa é o modo de transmitir a herança. Herança é o
considerada pelo Direito brasileiro (em virtude de ficção legal) como um bem imóvel.
A capacidade sucessória será analisada com base nas leis vigentes no momento da
Assim, de acordo com o art. 1798 do CC, aquelas pessoas nascidas ou já concebidas,
desde que assim estejam no momento da abertura da sucessão (delação). No caso de
nascituro, apesar de a personalidade civil iniciar apenas com o nascimento com vida, a lei
Nesse sentido, ele tem capacidade sucessória, de modo que, quando vier a receber os
bens, deverá ser nomeado um administrador (curador) de seus bens. Porém, a aquisição está
relacionada com a ocorrência da condição suspensiva “nascimento com vida”, assim, caso
não ocorra tal evento, não adquirirá a condição de herdeiro, retornando a herança ao acervo
para nova divisão.
que são indicados como beneficiários da herança por disposição de última vontade. Não se
7
pode confundir herdeiro com legatário. O legatário é o sucessor instituído por testamento
para receber um determinado bem, certo e individualizado, a título singular. O legatário não é
herdeiro!
morte do autor da herança, sem retroagir à data em que fora lavrado o testamento. Assim,
terão capacidade: prole eventual, pessoas jurídicas pré-constituídas ou então, sob forma de
fundação;
Ocorre quando a sucessão se dá por herdeiros que tenham graus diferentes, de modo
que determinado grupo representa o herdeiro de mesmo grau aos outros herdeiros, porém já
falecido. Neste caso, os representantes terão direito a uma quota igual a dos outros herdeiros
e, dessa quota, será feita a partilha aos que representa. A sucessão por estirpe dá-se em linha
reta descendente, sendo exceção, na linha transversal, quanto aos sobrinhos e tios.
A sucessão por cabeça ocorre quando todos os herdeiros são do mesmo grau. Cada
herdeiro do mesmo grau corresponde uma quota igual na herança. A herança é dividida entre
23.3.6 Aceitação
8
ocorre devido ao Princípio de saisine. Quando assim se manifestar, torna-se definitiva a
transmissão.1
Pode ser expressa (declaração escrita) ou tácita (herdeiro pratica atos compatíveis com a sua
condição hereditária). A aceitação apenas consolida a aquisição, retroagindo ao tempo da
abertura da sucessão.
23.3.7 Renúncia
(efeito ex tunc). A capacidade para renunciar é do agente capaz, não podendo ocorrer por
representante legal do herdeiro.2
por escritura pública ou por termo nos autos) pelo qual o herdeiro declara não aceitar a
herança. Deve respeitar eventuais direitos de credores. É irretratável, em regra, mas se admite
a retração em casos de violência, erro ou dolo. Só pode ocorrer após a abertura da sucessão.
1
Vide questão 3
2
Questão 3
9
Tem efeito retroativo, pois é como se o renunciante jamais fosse chamado à sucessão. A
renúncia válida é a abdicativa: cessão pura, simples e gratuita.
Deve ser pura e simples, não podendo comportar termo ou condições. Uma vez
Assim:
classe, sucedendo, neste ato, por direito próprio. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de
renúncia da herança.
23.3.8 Cessão
O herdeiro, desta forma, não pode dispor do seu quinhão, de um bem da sucessão,
Assim, de acordo com o art. 1.793, o direito à sucessão aberta, bem como o quinhão
de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. Os direitos,
10
conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer,
presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.
É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da
O coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão,
se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento
da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer
até cento e oitenta dias após a transmissão.
porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor
dos bens herdados.
Como os herdeiros respondem dentro das forças da herança, eventual penhora de bens
não pode recair sobre a meação dos cônjuges dos herdeiros casados pela comunhão parcial
de bens, eis que excluídos da comunhão os bens recebidos por herança3
A condição de fiador do de cujus não se transmite aos seus herdeiros. Porém, são
transmitidas aos herdeiros as obrigações vencidas enquanto era vivo o fiador, até os limites da
herança.
3
TJSP, Agravo de Instrumento 804.500.5/2, Acórdão 2.236.489, Itapeva, 8.ª Câmara de Direito Público, Rel. Des.
Carvalho Viana, j. 03.09.2008, DJESP 15.10.2008
11
Ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da
sucessão;
Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de
um nessas condições, ao mais velho;
Ao testamenteiro;
A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.
Pode ser por meio da vontade do falecido ou então por imposição judicial, podendo
atingir tanto os herdeiros quanto os legatários, constituindo-se como normas de natureza
punitiva.
1.818, CC). Herdeiro que comete atos ofensivos à pessoa ou à honra do de cujus ou de
seus familiares, ou, ainda, atentou contra sua liberdade de testar, reconhecida em sentença
12
Desta forma, tem caráter punitivo individual, que pode atingir todas as classes de
herdeiros, sem excluir os descendentes do indigno (direito de representação) os quais não
Assim, só perderá sua condição de herdeiro após o trânsito e julgado da sentença, que
possui efeitos ex tunc, como se a transmissão nunca tivesse ocorrido.
testemunhas.
indignidade pode ser promovida por qualquer interessado, no prazo decadencial de 4 anos.
13
Atenção para a Lei 13.532/2017, que modificou o art. 1815, do CC.
14
INDIGNIDADE SUCESSÓRIA DESERDAÇÃO
Matéria de sucessão legítima e
Matéria de sucessão testamentária.
testamentária.
Somente atinge os herdeiros necessários
Alcança qualquer classe de herdeiro.
(ascendentes, descendentes e cônjuge).
Existem hipóteses de deserdação que não
As hipóteses de indignidade servem para a
alcançam a indignidade (arts. 1.962 e
deserdação.
1.963).
Há pedido de terceiros interessados ou do Realizada por testamento, com declaração
MP, com confirmação em sentença de causa e posterior confirmação por
transitada em julgado. sentença.
forma automática, em razão do Princípio de saisine, contudo, não existindo herdeiros, não
ocorre a abertura da sucessão, a herança se transformará em jacente (sem dono) e, após
Desta forma, de acordo com o art. 1.819, falecendo alguém sem deixar testamento
15
A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se
habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados
Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo
declarada vacante.
tem apenas a propriedade resolúvel dos bens. A propriedade passa a ser definitiva apenas
cinco anos após a abertura da sucessão.
A Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser
reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter direito à herança
(no todo ou em parte), logo a petição de herança significa pedir a herança.
Assim, conforme com a súmula 149 STF, o prazo prescricional para o ingresso desta
ação é de 10 anos. Ainda, a ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos
herdeiros, poderá compreender todos os bens hereditários.
O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo, sendo lhe
4
STJ, AgRg no Ag 851 .228/Ri, Rei. Mm. Sidnei Beneti, 3. Turma, j. 23.09.2008, DJe 13.10.2008
16
O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de terceiros, sem
prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados. Caráter
real da ação de petição. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparentem a terceiro de boa-fé.
Nota-se, assim, que a boa-fé do terceiro e a teoria da aparência têm a força de vencer
De acordo com o art. 1.828, o herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um
legado, não está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o
direito de proceder contra quem o recebeu.
A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no
polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação,
ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio "pro indiviso" com
os bens pertencentes ao quinhão hereditário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min.
5
TJSC, Agravo de Instrumento 2004.028002-6, São João Batista, 4ª Câmara de Direito Civil, Rei. Des. José
Trindade dos Santos, DJSC 28.01.2008, p. 191
17
24. Sucessão Legítima
Ocorre quando alguém morre sem deixar testamento (ab intestato). A divisão dos
6
Vide questão 4
18
Não confundir meação da herança. Meação é instituto de Direito de Família, que depende
do regime de bens adotado. Herança é instituto de Direito das Sucessões, que decorre da
morte do falecido. A herança pode distribuir-se por cabeça ou por estirpe.
Regra geral: os filhos sucedem por direito próprio e por cabeça. O grau mais próximo exclui o
mais remoto.
Proximidade entre os graus: o mais próximo exclui os mais remotos. Ex.: os filhos
excluem os netos na sucessão;
Divisão por cabeça: todos que se encontram no mesmo grau de parentesco recebe
por partes iguais. Ex.: o falecido deixou dois filhos, ambos recebem o mesmo valor;
Exceção: caso o descendente for pré-morto, cabe direito de representação,
assim, a divisão será por estirpe;
Cabe direito de representação: é uma exceção à regra da proximidade dos graus,
que só ocorre na linha de parentesco descendente ou então na relação de
colateralidade até o 3º grau (sobrinhos).
Assim, ocorre quando são convocados herdeiros de graus diferentes, uns herdando por
cabeça, e outros, por estirpe, nos casos de pré-morto ou excluído da sucessão. Ex.: João falece
deixando 2 filhos, um deles, Pedro, é pré-morto e deixou 2 filhos, Artur e Bruno (netos de
João), assim, incidirá o direito de representação, pelo qual o valor que Pedro receberia por
19
cabeça será novamente divido igualmente entre Artur e Bruno, e a outra metade que sobrou,
será do outro filho de João.
descendentes caberá ao cônjuge (ou companheiro) quinhão igual ao dos que sucederem por
cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente
dos herdeiros com que concorrer”.
exemplo), este receberá por inteiro. Ex.: se deixou pai e mãe, não havendo descendente,
receberão na mesma proporção em razão da linha de ascendência; não deixou pais, mas
deixou avós paternos e maternos, assim, a herança será dividida inicialmente em duas partes,
uma para cada linha e, posteriormente, será dividida entre os avós de cada grupo em quotas
iguais.
20
Não cabe direito de representação;
Multiparentalidade: nesse caso, a divisão da herança será proporcional ao número
de linhas ascendentes existentes. Ex.: dois pais e uma mãe, a linha paterna receberá
metade do valor, na mesma proporção da linha materna, porém, dentro da linha,
um pai receberá metade do que fora recebido por linha e outro pai, a outra
metade;
Concorrência com o cônjuge sobrevivente: não há qualquer interferência o regime
de bens adotado, conforme Enunciado n. 609 da VII Jornada de Direito Civil de 105,
havendo concorrência sempre que existir cônjuge sobrevivente.
falecimento do de cujus, ou seja, isso significa dizer que a separação de fato subtrai, ao viúvo,
a condição de herdeiro.
21
Assim, herdará isoladamente e por inteiro o cônjuge ou companheiro na falta de
descendentes e ascendentes. Assim como quando herda em conjunto com os ascendentes, o
natureza a inventariar.
dos ascendentes. Nesses casos, o cônjuge terá direito de concorrência com os demais
herdeiros no valor da herança em razão do montante dos bens particulares do falecido, pois,
conforme já explicado anteriormente, se houver bens comuns, ele será meeiro e onde há
meação, não há sucessão.
comuns, pois, nesse caso, o cônjuge sobrevivente será meeiro dos bens
adquiridos na constância do casamento e a outra metade será dividida
22
com sua morte, deixou R$ 1.800.000,00 de bens comuns e R$ 600.000,00 de
bens particulares. Nesse caso, Carla terá direito a R$ 900.000,00 à título de
Paulo receberão, cada um, R$ 450.000,00 da meação que Jorge teria direito e
R$ 200.000,00 a título de sucessão, totalizando R$ 650.000,00.
o Concorrência com filho apenas do falecido: nesse caso, o cônjuge terá
o Concorrência com vários filhos que sejam comuns: haverá uma quota
mínima para divisão, que será de ¼ do valor da herança, enquanto que
Separação de bens: nesse caso, não existe meação, uma vez que só há bens
particulares, assim divide-se por cabeça todo o patrimônio do de cujus.
que haverá a meação dos bens comuns e sucessão dos bens particulares.
23
Com os ascendentes: se for de 1º grau (pai ou mãe), o cônjuge terá direito a 1/3,
porém, se for apenas um ascendente ou de maior grau (ex.: bisavô), terá direito à
metade da herança;
Constituição de 1988 (artigo 227, §3º), mas, mesmo com amparo constitucional, quando da
elaboração do Código Civil de 2002, não houve a observância dos princípios da igualdade e
da não discriminação.
Isto porque a sucessão do companheiro foi disposta no artigo 1790, do Código Civil,
em sessão distinta da sucessão do cônjuge, sendo tratada de maneira diferente e prejudicial,
já que, mesmo sendo considerado herdeiros necessários, nos termos do artigo 1845, do
Código Civil, eram conferidos quinhões menores aos companheiros se comparados com os
dos cônjuges.
7
Vide questão 1 e 5
24
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC – STF RE 646721/RS, Info 864; STJ REsp
Estão na última classe na ordem de vocação hereditária, apenas tendo direito quando
não possuir os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não há concorrência
entre cônjuge e colateral. Assim, serão herdeiros os irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-avós e
sobrinhos-netos (4º grau).
Vejamos características:
Assim, os irmãos unilaterais (só por parte de mãe ou de pai), concorrendo com
bilaterais (irmãos por parte de pai e de mãe) herdam a metade do que couber a estes.
Sucessão entre colaterais em terceiro grau (art. 1843, CC): na falta de irmãos,
herdará os sobrinhos (filhos deles) e, na falta destes, os tios. Os sobrinhos têm
preferência sobre os tios, apesar de serem do mesmo grau de parentesco. Nesse
caso, se aplica a regra anterior da bilateralidade de parentesco.
Sucessão entre colaterais em quarto grau: entre eles não existe ordem de
preferência, recebendo todos em igual valor por cabeça, sempre em direito próprio.
Assim, se o morto deixou um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto, apenas, todos
receberão herança por cabeça.
8
Vide questão 6
25
Assim, há ordem preferencial: irmão (2º grau); sobrinho (3º grau); tio (3º grau);
sobrinho-neto (4º grau); tio-avô (4º grau) e primo (4º grau). O grau mais próximo exclui o
mais remoto, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos (sobrinhos).
Nesse caso, se o falecido deixou um irmão e um sobrinho, filho de outro irmão premorto, o
último terá direito sucessório junto ao irmão do falecido vivo, por força do direito de
representação.
Caso especial: existência de um tio e de um sobrinho. Neste caso, todos dois são
parentes de 3º grau, mas apenas o sobrinho herdará. Os sobrinhos têm prioridade sobre os
tios, por opção legislativa, apesar de serem parentes de mesmo grau (3º grau).
Direito de Representação (ou estirpe): A lei chama certos parentes do falecido a suceder em
todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse (art. 1.851, CC). Ocorre apenas na sucessão
legítima. Ocorre na linha reta descendente, excepcionalmente na transversal ou colateral, mas
nunca na ascendente.
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar.
O artigo 1831 do Código Civil apenas mencionou o cônjuge como detentor do direito real de
habitação no texto legal, mas tanto a doutrina quanto a jurisprudência estendem os efeitos ao
26
companheiro. Porém, em algumas provas já cobraram a literalidade do artigo, não englobando
27
25. Sucessão Testamentária e Disposições de Última
Vontade
A sucessão testamentária visa preservar o patrimônio de uma pessoa aos seus familiares
e por isso é fundada na autonomia da vontade, através de um ato unilateral realizado em vida
Desta forma, a transmissão hereditária se opera por ato de última vontade, revestido
da solenidade requerida por lei. O testamento é o instrumento da vontade, destinado a
Essa sucessão é limitada, pois deve-se respeitar a legítima dos herdeiros necessários,
ou seja, 50% do património do de cujus.
25.1.1 Testamento
De acordo com Maria Helena Diniz, trata-se de ato personalíssimo e revogável pelo
qual alguém, em conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo
ou em parte, do seu patrimônio, mas também faz outras estipulações”. Assim, poderá ter
Pessoa capaz de dispor de seus bens para depois da morte: o maior de 16 anos
possui capacidade para testar e a superveniência da capacidade não torna o
testamento válido.
28
Assim, a capacidade para testar só é possível para os maiores de 16 anos. Não podem
testar os incapazes e os que não tiverem o pleno discernimento. A capacidade é avaliada no
momento em que o testamento é elaborado (se o testador ficar incapaz posteriormente, não
se invalida o testamento). Exceções: filhos ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo
testador, desde que vivas estas ao abrir a sucessão; fundações cuja criação foi determinada
pelo de cujus em testamento.
A lei determina formas possíveis para testar, admitindo formas ordinárias e especiais,
de modo que, entre eles, não existe qualquer hierarquia, possuindo, portanto, igual valor,
porém, havendo sua coexistência, são revogáveis entre si. Sobre essas espécies, é
imprescindível a leitura da legislação, vejamos 9:
Ordinários (art. 1862, CC): é de livre escolha do testador, devendo ser observadas
9
Vide questões 7, 8 e 9
29
o Assinatura do instrumento por todos os envolvidos na lavratura do
testamento;
Cerrado (místico) (art. 1868 a 1875, CC): é secreto, pois não se sabe qual o
seu conteúdo, que permanece em segredo até a morte do testador. Ele
permanece na posse deste, cabendo ao tabelião, unicamente, declarar sua
autenticidade. Pode ser escrito ou à rogo, desde que assinado, possuindo,
inclusive, forma híbrida. É aberto perante o juiz que irá verificar as cláusulas e
divisão de bens;
Particular (hológrafo/ológrafo) (art. 1876 a 1888, CC): trata-se da forma mais
simples e acessível para testar, sendo realizado pelo próprio testador de
manifestação de próprio punho ou mediante processo mecânico. Quando do
seu falecimento, deve-se publicar em juízo com a citação dos herdeiros
legítimos;
Especiais (art. 1886, CC): são casos especificados em lei que dizem respeito a
acontecimentos emergenciais, que sujeitam pessoas a situações de perigo. Trata-se
de rol taxativo, conforme preceitua o art. 1887 do CC e estão sujeitos aos prazos de
caducidade, findo os quais perderão sua eficácia.
30
25.1.3 Inexecução do Testamento
Revogação: é o ato pelo qual o testador manifesta sua vontade de modificar total
ou parcialmente o testamento anterior.
Nulidade e anulabilidade.
25.1.4 Codicilo
Ato de última vontade, com menos solenidades (basta ser escrito e assinado) pelo qual
o disponente traça diretrizes sobre assuntos de pequeno valor (pequenas doações, roupas,
forma de enterro, etc.). Desta forma, é um escrito que abrange recomendações sobre o
funeral, esmolas e doações de bens pessoais e de pequeno valor (pouca monta) de até
10x o salário mínimo, possuindo, portanto, valor afetivo. Nesse sentido, observa-se que os
25.1.5 Legado
O legatário precisa pedir ao herdeiro a entrega da coisa legada e não responde pelas
dívidas da herança. Nada impede que o testador, ao atribuir o legado, estabeleça algumas
10
Vide questão 2
31
25.1.6 Direito de Acrescer
(faleceu) ou não quiser aceitá-la (renunciou), sua parte acrescerá à dos outros coerdeiros
ou colegatários (salvo se o testador nomear um substituto: neste caso não haverá direito de
acrescer).
25.1.7 Substituição
legatário nomeado, caso um ou outro não possa ou não queira receber a herança
ou o legado. Espécies:
32
25.2 Disposições testamentárias
25.2.1 Características
Personalíssimo (art. 1858, CC) e unilateral: apenas poderá ser realizado por ele ou
modalidades, assim, deve ser realizado por apenas uma pessoa. Difere-se do
simultâneo, pois em único ato os testadores contemplam um ao outro; recíproco,
Gratuito: a disposição com encargo não retira o caráter de gratuito visto que
decorre da liberalidade do testador;
Causa mortis
25.2.2 Vicissitudes
disposições sem conteúdo patrimonial, não. Assim, nesse caso, deverá haver outro
testamento para desconstituí-lo.
Invalidade: será nulo quando faltar algum de seus elementos essenciais, e, será
anulável, quando estiver presente vício de consentimento (erro, dolo e coação);
33
Interpretação do testamento: em regra, em favor do testamento, mas a lei traz
regras proibitivas (art. 1898, art. 1900, incisos I e II, art. 1801 e 1802 do CC) em que
25.3 Inventário
No entanto, se todos forem capazes e houver consenso entre eles, pode-se fazer o
inventário e a partilha por escritura pública. Esta será o documento hábil para o registro
imobiliário posterior. Todos os interessados devem comparecer no Tabelionato,
25.3.1 Inventariança
25.3.2 Arrolamento
de quitação de tributos.
34
25.3.3 Sonegados
É a ocultação dolosa de bens que devem ser inventariados ou levados à colação. Pode
ser praticada pelo inventariante (quando omite intencionalmente bens e valores ao prestar as
primeiras e as últimas declarações) ou pelos herdeiros (que não indicam bens em seu poder).
Pena: perda do direito sobre o bem sonegado, que é devolvido ao monte e partilhado aos
outros herdeiros, como se o sonegador nunca tivesse existido. Prescrição – 10 anos e deve
ser ajuizada no foro do inventário; pode ser proposta pelos herdeiros legítimos, testamentários
e credores.
25.3.4 Colação
herdeiros necessários.
É dever imposto ao herdeiro, pois, segundo a lei, a doação dos pais aos filhos importa
em adiantamento de legítima.
pagamento de dívidas. Só serão partilhados os bens e valores que restarem depois de pagas
as dívidas. A cobrança das dívidas faz-se, em regra, pela habilitação do credor ao inventário.
Não sendo impugnada a dívida vencida e exigível, o Juiz declarará habilitado o credor e
mandará que se faça a separação do dinheiro ou bens, para o seu pagamento.
35
25.4 Deserdação
Ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão, mediante testamento com
expressa declaração de causa, herdeiro necessário, privando-o de sua legítima, por ter
praticado alguma conduta prevista na lei como causa para deserdação. Além do testamento
25.5 Partilha
A partilha pode ser judicial (realizada no processo de inventário quando não houver
acordo ou sempre que um dos herdeiros seja menor ou incapaz) ou amigável (acordo entre
os interessados, desde que maiores e capazes). A partilha amigável é homologada e a
judicial julgada por sentença.
A partilha pode ser feita também por escritura pública (se todos os interessados forem
capazes e estiverem de acordo).
36
25.5.1 Formal de Partilha
peças.
25.5.2 Sobrepartilha
É uma nova partilha (partilha adicional) de bens que por determinadas razões não
puderam ser divididos entre os herdeiros, como exemplo: quando parte da herança consistir
depois da partilha.
37
QUADRO SINÓTICO
39
Ocorre quando a sucessão se dá por herdeiros
que tenham graus diferentes, de modo que
DIREITO DE SUCESSÃO POR determinado grupo representa o herdeiro de
REPRESENTAÇÃO ESTIRPE mesmo grau aos outros herdeiros, porém já
falecido. A sucessão por estirpe dá-se em linha
reta descendente, sendo exceção, na linha
transversal, quanto aos sobrinhos e tios.
A sucessão por cabeça ocorre quando todos os
SUCESSÃO POR herdeiros são do mesmo grau. Cada herdeiro do
CABEÇA mesmo grau corresponde uma quota igual na
herança. A herança é dividida entre todos os
herdeiros aos quais é deferida.
ACEITAÇÃO A aceitação é o ato do herdeiro mediante o qual confirma a
transmissão da herança, assim, não é através da aceitação que ocorrerá
a transferência dos bens do de cujus, pois isso ocorre devido ao Princípio
de saisine. Quando assim se manifestar, torna-se definitiva a transmissão.
Assim, trata-se um ato unilateral, indivisível, incondicional, não
havendo retratação. Pode ser expressa (declaração escrita) ou tácita
(herdeiro pratica atos compatíveis com a sua condição hereditária).
TIPOS DE ACEITAÇÃO:
Expressa: declaração escrita por meio de instrumento público ou
particular;
Tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro;
Presumida: o interessado pode declarar se aceita ou não aceita
e, em 20 dias após a abertura da sucessão, requerer ao juiz prazo
razoável, não superior a este, para se pronunciar.
Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral
do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda provisória.
RENÚNCIA Renúncia da herança é o ato de transferência realizada por um
herdeiro a todos os demais, sendo ele excluído da sucessão, acarretando
retorno dos bens ao acervo hereditário (efeito ex tunc). A capacidade
para renunciar é do agente capaz, não podendo ocorrer por
representante legal do herdeiro. Assim, trata-se de um ato unilateral,
indivisível e solene (não se presume; é expresso: por escritura pública ou
por termo nos autos) pelo qual o herdeiro declara não aceitar a herança.
É irretratável, em regra, Só pode ocorrer após a abertura da sucessão.
Tem efeito retroativo. Espécies abdicativa e translativa, pela qual o
herdeiro cede seus direitos em favor de determinada pessoa, incidindo,
nesse caso, importo de transmissão inter vivos;
40
CESSÃO Trata-se de uma transferência de parte ideal da herança a outrem (e
não de um bem determinado). Assim, a cessão pode ser feita por
escritura pública. De acordo com o §2º do art. 1.793, há opção do
legislador pela ineficácia da disposição do coerdeiro de bem da herança
considerado singularmente.
De acordo com o art. 1.797, até o compromisso do inventariante, a
administração da herança caberá, sucessivamente: (trata-se de rol
exemplificativo:
Ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo
da abertura da sucessão;
Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e,
se houver mais de um nessas condições, ao mais velho;
Ao testamenteiro;
A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas
nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por
motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
É aquele que escreveu o testamento, a mando do testador, abarcando,
também, o cônjuge/companheiro, ascendentes e irmãos daquele;
IMPEDIDOS DE testemunhas do testamento, em razão da necessidade de sua
HERDAR/LEGAR imparcialidade; o concubino do testador casado, exceto se estiver
(ART. 1801, CC) separado de fato por 5 anos, não se estendendo à união estável
(Enunciado n. 269 CJF/STJ) e nem ao filho decorrente desse
relacionamento, e o aquele que realizar o testamento (tabelião civil ou
militar, comandante ou o escrivão). Assim, em qualquer dos casos, serão
nulas as disposições testamentárias.
EXCLUÍDOS DA Pode ser por meio da vontade do falecido ou então por imposição
SUCESSÃO (ART. judicial, podendo atingir tanto os herdeiros quanto os legatários,
1814, 1961 E constituindo-se como normas de natureza punitiva.
1963, CC) Herdeiro que comete atos ofensivos à pessoa ou
à honra do de cujus ou de seus familiares, ou,
ainda, atentou contra sua liberdade de testar,
reconhecida em sentença judicial.
INDIGNIDADE Desta forma, tem caráter punitivo individual, que
(ART. 1814, CC) pode atingir todas as classes de herdeiros, sem
excluir os descendentes do indigno (direito de
representação) os quais não poderão transmiti-lo
os bens recebidos por herança.
41
São atos de indignidade e ingratidão, ocorrendo,
unicamente, na sucessão testamentária. Assim, é
DESERDAÇÃO (ART. o afastamento do direito sucessório, restrita aos
1961 E 1963, CC) herdeiros necessários, de forma motivada, apenas
podendo ocorrer se tais atos tiverem ocorrido
antes de sua morte, estando sujeita à análise pelo
juiz no processo de inventário.
A transferência da titularidade do acervo patrimonial do falecido é
HERANÇA realizada de forma automática, em razão do Princípio de saisine,
JACENTE E contudo, não existindo herdeiros, não ocorre a abertura da sucessão, a
HERANÇA herança se transformará em jacente (sem dono) e, após determinado
VACANTE período de tempo, vacante, momento em que os bens passarão ao
domínio do ente público do município onde se encontram situados.
A Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer
ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de
consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte), logo a
petição de herança significa pedir a herança.
AÇÃO DE De acordo com o art. 1.824, o herdeiro pode, em ação de petição de
PETIÇÃO DE herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para
HERANÇA obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na
qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.
Assim, conforme com a súmula 149 STF, o prazo prescricional para o
ingresso desta ação é de 10 anos. Ainda, a ação de petição de herança,
ainda que exercida por um só dos herdeiros, poderá compreender todos
os bens hereditários.
SUCESSÃO LEGÍTIMA
Ocorre quando alguém morre sem deixar testamento (ab intestato). A divisão dos bens
acontece de acordo com a determinação legal. A ordem de vocação hereditária é a
CONCEITO
seguinte: descendentes, ascendentes, cônjuges em concorrência ou de forma exclusiva e
colaterais até 4º grau.
42
Proximidade entre os graus: o mais próximo exclui os mais remotos. Ex.: os filhos
excluem os netos na sucessão;
Divisão por cabeça: todos que se encontram no mesmo grau de parentesco
recebe por partes iguais. Ex.: o falecido deixou dois filhos, ambos recebem o
mesmo valor;
Exceção: caso o descendente for pré-morto, cabe direito de representação,
assim, a divisão será por estirpe;
Cabe direito de representação: é uma exceção à regra da proximidade dos graus,
que só ocorre na linha de parentesco descendente ou então na relação de
colateralidade até o 3º grau (sobrinhos).
Concorrência com o cônjuge sobrevivente: apenas ocorrerá a concorrência se o
sobrevivente tiver casado com o falecido sob o regime da comunhão parcial de
bens, se existir bens particulares, participação final nos aquestos e separação
convencional de bens.
43
trate do único bem daquela natureza a inventariar.
SUCESSÃO A sucessão concorrente vai ocorrer juntamente com a sucessão dos
CONCORRENTE descendentes ou dos ascendentes.
Nesses casos, o cônjuge terá direito de concorrência com os demais
herdeiros no valor da herança em razão do montante dos bens
particulares do falecido.
CONFORME CADA REGIME DE BENS
Com os descendentes: onde há meação, não há sucessão
Comunhão universal: inexiste direito de concorrência, de
modo que o cônjuge sobrevivente terá direito à meação de
todo o acervo patrimonial, pois só há bens comuns.
Comunhão parcial: haverá direito de concorrência apenas se
existirem bens comuns, pois, nesse caso, o cônjuge sobrevivente
será meeiro dos bens adquiridos na constância do casamento e
a outra metade será dividida igualmente entre os descendentes.
o Concorrência com filho apenas do falecido: nesse caso, o
cônjuge terá direito à metade do total do valor recebido à
título de sucessão pelos descendentes.
o Concorrência com vários filhos que sejam comuns: haverá
uma quota mínima para divisão, que será de ¼ do valor da
herança, enquanto que os descendentes, receberão o
restante, valor este a ser divido entre eles por cabeça.
Separação de bens: nesse caso, não existe meação, uma vez
que só há bens particulares, assim divide-se por cabeça todo o
patrimônio do de cujus.
o Separação Obrigatória de bens: atenção à Súmula 377 do
STF que no regime de separação legal de bens, comunicam-
se os adquiridos na constância do casamento.
Participação final dos aquestos: se assemelha à comunhão
parcial, de modo que haverá a meação dos bens comuns e
sucessão dos bens particulares.
Com os ascendentes: se for de 1º grau (pai ou mãe), o cônjuge
terá direito a 1/3, porém, se for apenas um ascendente ou de
maior grau (ex.: bisavô), terá direito à metade da herança;
44
COLATERAIS Estão na última classe na ordem de vocação hereditária, apenas tendo direito quando
não possuir os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não há concorrência
ATÉ 4º GRAU
entre cônjuge e colateral. Assim, serão herdeiros os irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-
avós e sobrinhos-netos (4º grau).
CARACTERÍSTICAS
Proximidade entre os graus, ressalvado o direito de representação;
Sucessão entre irmãos (art. 1841, CC): se forem irmãos bilaterais, receberão
igualmente, porém, há um tratamento desigual quando se tratar de irmão bilateral
e unilateral, de modo que o primeiro receberá o dobro que caberá ao segundo.
Sucessão entre colaterais em terceiro grau (art. 1843, CC): na falta de irmãos,
herdará os sobrinhos (filhos deles) e, na falta destes, os tios. Os sobrinhos têm
preferência sobre os tios, apesar de serem do mesmo grau de parentesco. Nesse
caso, se aplica a regra anterior da bilateralidade de parentesco.
Sucessão entre colaterais em quarto grau: entre eles não existe ordem de
preferência, recebendo todos em igual valor por cabeça, sempre em direito
próprio. Assim, se o morto deixou um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto,
apenas, todos receberão herança por cabeça.
45
determinar de forma individualizada o valor dos quinhões;
FORMAS DE A lei determina formas possíveis para testar, admitindo formas
TESTAMENTO ordinárias e especiais, de modo que, entre eles, não existe
qualquer hierarquia, possuindo, portanto, igual valor, porém,
havendo sua coexistência, são revogáveis entre si.
ORDINÁRIOS (ART. 1862, CC)
É de livre escolha do testador, devendo ser observadas as
solenidades para tanto:
É sigiloso, pois somente é aberto com o falecimento
do testador, possui fé-pública e só pode ser
revogado por outro testamento.
PÚBLICO Escrito por tabelião ou seu substituto legal
(ART. 1864 no livro de notas;
A 1867, CC) Lavado instrumento, que deve ser lido em
voz alta pelo tabelião ao testador e duas
testemunhas,
Assinatura do instrumento por todos os
envolvidos na lavratura do testamento;
CERRADO
(MÍSTICO) É secreto, pois não se sabe qual o seu conteúdo, que
(ART. 1868 permanece em segredo até a morte do testador.
A 1875, CC)
PARTICULA Trata-se da forma mais simples e acessível para
R testar, sendo realizado pelo próprio testador de
(HOLÓGRA- manifestação de próprio punho ou mediante
FO/OLÓGRA processo mecânico.
-FO) (ART.
1876 A
1888, CC)
ESPECIAIS (ART. 1886, CC)
São casos especificados em lei que dizem respeito a
acontecimentos emergenciais, que sujeitam pessoas à situações de
perigo. Trata-se de rol taxativo.
Qualquer pessoa (tripulante, passageiro e
MARÍTIMO comandante) poderá testar desde que se encontrem
(ART. 1888 em navio nacional, de guerra ou mercante,
A 1892, CC) podendo ser realizado tanto nos moldes do
testamento cerrado quanto do público e, em ambos
os casos, será realizado pelo comandante no próprio
diário de bordo.
46
AERONÁUTI
-CO (ART. Se submete às mesmas regras do testamento
1888 A marítimo;
1892, CC)
São uma faculdade concedida não só aos militares,
MILITAR mas também a todas as pessoas que estejam a
(ART. 1893 serviço das Forças Armadas.
A 1896, CC) Possui validade de 90 dias, deve ser realizado em
caso de guerra, interrompidas as comunicações e se
não houver tabelião ou afim.
Revogação: é o ato pelo qual o testador manifesta sua
vontade de modificar total ou parcialmente o testamento
INEXECUÇÃO anterior.
DO Rompimento: quando sobrevêm descendentes ao testador
TESTAMENTO que não os tinha ou não os conhecia; quando o testador
descobre a existência de herdeiros necessários até então
ignorados; no caso de reconhecimento de filho (voluntária ou
judicialmente).
Caducidade.
Nulidade e anulabilidade.
Desta forma, é um escrito que abrange recomendações sobre o
funeral, esmolas e doações de bens pessoais e de pequeno valor
CODICILO (pouca monta) de até 10x o salário mínimo, possuindo, portanto,
valor afetivo. Nesse sentido, observa-se que os imóveis não podem
ser objeto de codicilo.
Disposição testamentária a título singular em que o testador deixa a
LEGADO pessoa estranha ou não à sucessão legítima um ou mais objetos
individualizados ou certa quantia em dinheiro integrantes da
herança.
Vários herdeiros ou legatários, pela mesma disposição testamentária,
DIREITO DE forem conjuntamente chamados à herança em quinhões
ACRESCER determinados, e qualquer deles não puder (faleceu) ou não quiser
aceitá-la (renunciou), sua parte acrescerá à dos outros coerdeiros
ou colegatários (salvo se o testador nomear um substituto: neste
caso não haverá direito de acrescer).
É o direito que o testador tem de escolher substituto para o herdeiro
SUBSTITUIÇÃO ou o legatário de primeiro grau.
Espécies:
47
O testador indica outra pessoa no lugar do herdeiro
VULGAR OU ou do legatário nomeado, caso um ou outro não
ORDINÁRIA possa ou não queira receber a herança ou o legado.
Espécies:
SINGULAR Quando se nomeia um só substituto
ao herdeiro ou legatário.
PLURAL Quando são vários os substitutos
simultâneos.
Quando o testador ao instituir uma
RECÍPROCA pluralidade de herdeiros, os declara
substitutos uns dos outros
O testador impõe a um herdeiro ou legatário
FIDEICOMIS (chamado fiduciário) a obrigação de, por sua morte, a
-SÁRIA certo tempo ou sob certa condição, transmitir a outro
(chamado fideicomissário), a herança ou o legado.
É um misto de substituição vulgar com a
COMPEN- fideicomissária. O testador dá substituto ao fiduciário
DIOSA ou ao fideicomissário, prevendo que um ou outro
não queira ou não possa aceitar a herança.
Personalíssimo (art. 1858, CC) e unilateral: apenas poderá
ser realizado por ele ou a seu rogo e basta sua mera
CARACTERÍSTI- manifestação de vontade;
DISPOSIÇÕES
CAS Revogável (art. 1858, CC): a qualquer tempo, devendo-se,
TESTAMENTÁRIAS contudo, respeitar as disposições de caráter não patrimonial
(Ex.: reconhecimento de filho);
Unipessoal: a lei não permite o testamento conjuntivo em
qualquer de suas modalidades, assim, deve ser realizado por
apenas uma pessoa. Difere-se do simultâneo, pois em único
ato os testadores contemplam um ao outro; recíproco, pois
os testadores se constituem herdeiro do outro;
correspectivo, pois institui o herdeiro por ter sido
contemplado pelo mesmo;
Formal e solene
Gratuito: a disposição com encargo não retira o caráter de
gratuito visto que decorre da liberalidade do testador;
Imprescritível: apenas os ordinários, pois os especiais estão
sujeitos a prazo decadencial;
Causa mortis
Revogação (art. 1969, CC): o testamento pode ser
VICISSITUDES revogado, porém, as disposições sem conteúdo
patrimonial, não.
48
Caducidade: decorre de fato superveniente que afeta a
eficácia do testamento, inibindo a produção de efeitos, se
forma alheia a vontade do testador
Invalidade: será nulo quando faltar algum de seus
elementos essenciais, e, será anulável, quando estiver
presente vício de consentimento (erro, dolo e coação);
Interpretação do testamento: em regra, em favor do
testamento, mas a lei traz regras proibitivas (art. 1898, art.
1900, incisos I e II, art. 1801 e 1802 do CC) em que serão
nulas quando ocorrerem, pois visam preservar o testamento;
causas permissivas (art. 1897 e 1911, CC) e demais regras
interpretativas/integrativas (art. 1902, 1903, 1904, 1905, 1907
e 1908, CC).
Juiz nomeia um inventariante, a quem caberá a administração e
INVENTARIAN- representação (ativa e passiva) do espólio. Só pode haver um
ÇA inventariante; é um encargo pessoal, sujeito, entretanto, à fiscalização
INVENTÁRIO
dos herdeiros, do Juiz e do Ministério Público. Há uma ordem
preferencial para sua escolha.
É um processo de inventário simplificado, caracterizado pela
ARROLAMENTO redução de atos formais ou de solenidades. É possível a sua
realização quando os herdeiros forem maiores e capazes e for
conveniente fazer uma partilha amigável, que é homologada pelo
Juiz, mediante prova de quitação de tributos.
É a ocultação dolosa de bens que devem ser inventariados ou
levados à colação. Pode ser praticada pelo inventariante (quando
omite intencionalmente bens e valores ao prestar as primeiras e as
SONEGADOS últimas declarações) ou pelos herdeiros (que não indicam bens em
seu poder). Pena: perda do direito sobre o bem sonegado, que é
devolvido ao monte e partilhado aos outros herdeiros, como se o
sonegador nunca tivesse existido. Prescrição – 10 anos e deve ser
ajuizada no foro do inventário; pode ser proposta pelos herdeiros
legítimos, testamentários e credores.
Dá-se o nome de colação ao ato de retorno ao monte a ser
COLAÇÃO partilhado das liberalidades feitas pelo de cujus, antes de sua
morte, a seus descendentes. Seu fim é igualar a legítima destes
herdeiros, havendo uma conferência dos bens
49
Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo
do inventário o pagamento de dívidas. Só serão partilhados os
PAGAMENTO bens e valores que restarem depois de pagas as dívidas. A cobrança
DE DÍVIDAS das dívidas faz-se, em regra, pela habilitação do credor ao inventário.
Não sendo impugnada a dívida vencida e exigível, o Juiz declarará
habilitado o credor e mandará que se faça a separação do dinheiro
ou bens, para o seu pagamento.
Ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão, mediante testamento com
expressa declaração de causa, herdeiro necessário, privando-o de sua legítima, por ter
DESERDAÇÃO
praticado alguma conduta prevista na lei como causa para deserdação. Além do
testamento é necessária a propositura de ação judicial.
50
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
VUNESP – 2019 – TJ/RJ: João e Maria viviam em união estável, formalizada mediante
escritura pública, em que elegeram o regime da comunhão parcial de bens. Da relação entre
João e Maria, resultaram duas filhas, Madalena e Sara. João também tinha outros dois filhos,
Mateus e Paulo, decorrentes de relações eventuais que manteve. João faleceu. Na data da sua
B) um quarto (1/4) da herança para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os
filhos de João.
C) Maria e todos os filhos de João receberão, cada um, um quinto (1/5) da herança.
D) um terço (1/3) para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos de João.
Comentário:
Em primeiro lugar, importa observar que Maria não é meeira no caso, já que os bens
Outro ponto que deve ser observado é que, no sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
51
2002 e declarar o direito do recorrente de participar da herança de seu companheiro, em
conformidade com o regime jurídico estabelecido no art. 1.829 do referido código. STF.
Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info
864).
Além disso, é necessário saber que estamos diante de uma sucessão híbrida. Ela ocorre
quando o cônjuge concorre com descendentes comuns (de ambos) e com descendentes
Recentemente, o STJ entendeu que a reserva da quarta parte da herança, prevista no art.
1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de concorrência sucessória híbrida.
Isto porque, para aquele Tribunal, a interpretação mais razoável do enunciado normativo
Jornada de Direito Civil. STJ, REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 11/06/2019, DJe 01/07/2019 (Info 651).
Assim, Maria concorrerá igualmente com os demais herdeiros de João, já que não é
ascendente de todos eles, não tendo direito a um quarto da herança, conforme o art.
1.832. “Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à
quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer”.
Questão 2
CESPE – 2019 – TJ/PA: O testamento vital consiste em
A) ato de disposição de última vontade utilizado para bens de pouca monta que sejam
essenciais para a subsistência do beneficiário.
52
C) ato de disposição de última vontade sobre questões que envolvam o uso ou não de
terapias para prolongar, de forma artificial, o processo natural de morte, em casos de doenças
terminais.
D) ato de disposição de última vontade de quem estiver em viagem, em alto mar, a bordo de
navio nacional, de guerra ou mercante, feito perante o comandante e registrado no diário de
bordo.
E) ato de disposição de última vontade de militares e demais membros das Forças Armadas
em campanha, assim como em praça sitiada, ou que estejam com comunicações
Comentário:
O Codicilo é que é o ato de última vontade pelo qual o disponente traça diretrizes sobre
assuntos pouco importantes, despesas e dádivas de pequeno valor.
Conforme dispõe o CC: “Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio
mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o
subscreverão.”
Podemos conceituar testamento vital (testamento em vida ou “living will”), como sendo
“o documento em que a pessoa determina, de forma escrita, que tipo de tratamento ou
professora da UFBA). Por meio do testamento vital, visa a influir sobre os profissionais da
área de saúde, no sentido do não-tratamento, como vontade do paciente, que pode vir a
De acordo com o art. 1.888, o testamento marítimo ocorre quando quem estiver em
viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o
53
comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao
testamento público ou ao cerrado. Parágrafo único. O registro do testamento será feito
no diário de bordo.”
Trata-se do testamento militar. CC: “Art. 1.893. O testamento dos militares e demais
pessoas a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim
testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas.
Questão 3
CESPE – 2019 – TJ/PA: A respeito de aceitação e renúncia de herança, julgue os itens
seguintes.
I Aceitando a herança, o herdeiro passa a responder por todo o passivo deixado pelo de cujus,
ainda que isso supere os limites das forças da herança.
expressos para renunciar a herança, admitindo-se que a outorga dos referidos poderes seja
conferida por instrumento público ou particular.
III Os credores prejudicados pelo devedor que renuncia a herança poderão aceitá-la em nome
54
Comentário:
I: Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
II: A renúncia da herança é ato solene, exigindo o art. 1.806 do CC – para o seu
reconhecimento – que conste “expressamente de instrumento público ou termo judicial”,
sob pena de nulidade (CC, art. 166, IV), não produzindo qualquer efeito, sendo que “a
constituição de mandatário para a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma,
III: CC: Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança,
poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. § 1o A
Questão 4
FUNDEP – 2019 – MPE/MG: Há, no Município de Tutu Caramujo, uma casa antiga, sede de
fazenda, construída no século XIX. Alguns herdeiros mobilizaram-se e o casarão foi tombado.
Há recursos disponíveis, no orçamento municipal, para as obras de recuperação do imóvel, os
quais, todavia, não foram liberados devido à falta de um projeto técnico cuja elaboração,
conforme a legislação municipal, cabe aos proprietários. A falta de consenso entre os titulares
do domínio, herdeiros netos e bisnetos do construtor, deu causa à propositura de Ação Civil
55
B) O tombamento é uma das formas de intervenção do poder público na propriedade privada
e se justifica pela necessidade de proteção do patrimônio histórico cultural, razão pela qual
D) O herdeiro que mantém a posse sobre a casa sede da fazenda é o único responsável pelo
custeio do projeto de recuperação - responsabilidade aquiliana - porque a solidariedade não
Comentário:
O ato de tombamento tem por finalidade preservar o bem identificado como de valor
cultural, não só limitando o exercício dos direitos de propriedade inerentes ao bem, mas
também obrigando o proprietário às medidas necessárias à sua conservação. No caso,
Questão 5
VUNESP – 2019 – TJ/RO: Maria, divorciada e com três filhos de seu casamento anterior,
iniciou uma convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de
família, com Daniela. Elas firmaram uma escritura pública de união estável, onde adotaram o
regime da comunhão parcial de bens. Maria faleceu e deixou os seguintes bens: i) um
apartamento adquirido antes do início da união estável; ii) uma casa adquirida após a união
estável, onde residia com sua companheira Daniela. Pode-se afirmar corretamente que Daniela
A) em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo quinhão igual ao recebido por cada filho de Maria.
56
B) não terá qualquer direito à herança relativamente ao apartamento e terá direito à metade
da casa, se provar o esforço comum na aquisição do imóvel.
D) em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo metade do valor atribuído aos filhos de Maria.
E) receberá um quarto da casa e do apartamento, tendo em vista que, por ter formalizado a
Comentário:
existência do bem particular de Maria (art. 1829, I, CC). Com relação a casa adquirida na
constância da união estável (não é bem particular), será apenas meeira, uma vez que não
bens (); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança NÃO houver deixado
bens particulares;
Com relação ao quinhão, por concorrer somente com os filhos do falecido, herdará em
Caso concorra com filhos comuns, o quinhão será igual, contudo não poderá ser inferior
Questão 6
57
FCC – 2019 – TJ/AL: André, solteiro, não teve filhos e morreu sem deixar ascendentes vivos.
Por testamento, deixou todos os seus bens para o seu melhor amigo, Antônio, com quem não
tinha nenhum grau de parentesco. Sentindo-se injustamente preteridos, os três únicos irmãos
de André ajuizaram ação visando à declaração da nulidade total do testamento,
argumentando que, devido ao parentesco, não poderiam ter sido excluídos da sucessão. O
pedido deduzido nessa ação é
A) procedente, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser declarada a
B) procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a três quartos dos bens.
C) procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
E) improcedente, pois os irmãos de André, embora sejam herdeiros necessários, podem ser
Comentário:
Já o art. 1.850, CC, determina que “Para excluir da sucessão os herdeiros COLATERAIS,
basta que o testador disponha de seu patrimônio SEM OS CONTEMPLAR”.
O art. 1.857, § 1º dispõe que “a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser
incluída no testamento”.
Questão 7
FCC – 2019 – TJ/AL: Nos testamentos,
58
A) é válida a disposição que deixe ao arbítrio de terceiro, desde que suficientemente
identificado, fixar o valor do legado.
C) pode ser nomeada herdeira, mas não legatária, a pessoa que nele figurou como
testemunha instrumentária.
somente a elas.
Comentário:
Conforme consta no Art. 1.900 do CC: É nula a disposição: (...) IV - que deixe a arbítrio do
Art. 1.803 do CC: É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do
testador.
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo,
escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e
irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se
este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o
tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim
Art. 133 do CC: Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos
contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou
CC - Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus
bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. (...) § 2° São válidas as disposições
59
testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha
limitado.”
Questão 8
FCC – 2019 – MPE/MT: Em relação ao testamento, considere os enunciados:
I. Podem testar os maiores de dezesseis anos; não podem fazê-lo os incapazes e o surdo-
mudo, permitindo-se ao cego o testamento público.
IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
V. São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador
A) I, II e IV.
B) III, IV e V.
C) I, II, IV e V.
D) I, III e V.
E) II, III, IV e V.
Comentário:
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem
pleno discernimento.
Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e
o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas,
60
escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja
aprovação lhe pede.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta,
duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das
testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no
testamento.
correspectivo. IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento. CERTO.
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens,
Art. 1.857. (...) § 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
Questão 9
FCC – 2019 – MPE/MT: Um avô dispõe por testamento público em favor de seu neto, já
concebido mas ainda não nascido. Tendo esse neto nascido morto, esse testamento, de
A) inicialmente válido, será tido por ocasião da morte do nascituro como ineficaz mas não
nulo, pois era juridicamente possível que o avô beneficiasse o neto concebido, dentro da
B) será tido por válido de início, mas ato jurídico inexistente quando do nascimento sem vida,
desaparecendo todos os efeitos jurídicos pelo não implemento da condição prevista em
relação ao neto concebido.
61
C) inicialmente válido, será tido por ocasião da morte do nascituro como nulo, pelo não
implemento da condição prevista no testamento, ou seja, o nascimento com vida do neto
concebido.
D) será tido por ineficaz desde a disposição testamentária, pela impossibilidade de beneficiar
por testamento quem ainda não possui personalidade jurídica.
E) será válido e eficaz apesar do nascimento sem vida do neto beneficiado pelo testamento,
pois a teoria adotada pelas normas civis, concepcionista, prescinde do nascimento com vida
Comentário:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;
"Conforme o seu primeiro inciso, reconhece-se a legitimação para os filhos, ainda não
concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas últimas ao abrir-se
a sucessão. A norma trata da prole eventual ou concepturo, não se confundindo com o
nascituro. Como bem pontua a doutrina, se a pessoa que teria o filho premorrer ao
testador, a disposição de última vontade será ineficaz (VELOSO, Zeno. Código Civil...,
2016, p. 1.901)".
Questão 10
MPE-SP – 2019 – MPE/SP: Assinale a alternativa correta.
sucessão, sendo que a transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança ou se retrata da aceitação antes da partilha.
62
B) Aberta a sucessão e se ainda não estiver concebido o herdeiro esperado, os bens
reservados em testamento, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros
legítimos.
E) Não são eficazes as alienações feitas, ainda que a título oneroso, pelo herdeiro aparente a
terceiro de boa-fé.
Comentário:
A alternativa A conjuga três dispositivos, sendo que apenas o final dela, referente à
terceira norma, está incorreta. (i) A aceitação da herança torna definitiva a transmissão da
herança desde a abertura da sucessão (art. 1.804, caput, do CCB), bem como (ii) a
transmissão não se tem por verificada em caso de renúncia (art. 1.084, p.u., do CCB).
Contudo, (iii) tanto a aceitação quanto a renúncia à herança são irrevogáveis (art. 1.812,
CCB).
Art. 1.800, §4º, do Código Civil. Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão,
não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em
De acordo com o art. 1.824 do Código Civil, o herdeiro pode, em ação de petição de
herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição
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citação – e, nesta hipótese, haveria incidência das regras de má-fé e mora a partir da
prática do ato. De qualquer forma, imagino que a alternativa buscasse simplesmente a
literalidade do dispositivo.
De acordo com o artigo 1.827, parágrafo único, do Código Civil, são eficazes as
alienações feitas nestas circunstâncias. Conforme aponta a doutrina, ainda, a alienação
feita por herdeiro aparente tem o condão de se sobrepor à petição de herança, por força
da teoria da aparência. Caberia ao “herdeiro superveniente”, então, pleitear perdas e
danos.
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GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - D
Questão 5 - A
Questão 6 - D
Questão 7 - D
Questão 8 - B
Questão 9 - A
Questão 10 - C
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Sucessão Legítima
Sucessões
Súmula 49 do STF
Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da
ultimação do inventário.
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JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1.357.117-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018
(Info 622).
Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro
sobrevivente, não concorrendo com parentes colaterais do de cujus.
RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.523.552-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/11/2015 (Info
573).
Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilha da integralidade de seus bens em
favor de todos seus descendentes e herdeiros necessários, por meio de escrituras públicas de doação nas quais
ficou consignado o consentimento de todos eles e, ainda, a dispensa de colação futura, a alegação de eventual
prejuízo à legítima em decorrência da referida partilha deve ser pleiteada pela via anulatória apropriada, e não
por meio de ação de inventário.
A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de
petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração
se encontrem em condomínio «pro indiviso» com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.
Ocorrido o falecimento do autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade da partilha
antes da prolação da sentença, sem deixar herdeiros necessários, detém o herdeiro testamentário, que o sucedeu
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a título universal, legitimidade e interesse para prosseguir com o feito, notadamente, pela repercussão
patrimonial advinda do potencial reconhecimento do vínculo biológico do testador.
Parentes colaterais (exs: irmão, tios, sobrinhos) não possuem legitimidade ativa para ajuizar ação pedindo que se
anule a adoção realizada pelo seu parente já falecido, no caso em que o de cujus deixou cônjuge ou
companheira viva. Isso porque tais parentes colaterais não terão direito à herança mesmo que se exclua o filho
adotivo. Não terão direito à herança porque o art. 1.790 do Código Civil, que autoriza os colaterais a herdarem
em conjunto com a companheira sobrevivente, foi declarado inconstitucional pelo STF. Logo, em caso de
sucessão causa mortis do companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do
cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. Em outras palavras, se o indivíduo faleceu
deixando uma companheira (união estável), esta herdará exatamente como se fosse esposa (casamento). Pelas
regras do art. 1.829, se o falecido morreu sem deixar descendentes (filhos, netos etc.) ou ascendentes (pais, avós
etc.), a sua companheira terá direito à totalidade da herança, sem ter que repartir nada com os demais parentes
colaterais (como irmãos, tios, sobrinhos etc.). Ex: João e Maria viviam em união estável. Decidiram adotar uma
criança (Lucas). Logo em seguida, João faleceu. Seus únicos herdeiros eram Maria e Lucas. Pedro, irmão de João,
de olho nos bens deixados pelo falecido, ingressou com ação pedindo a anulação da adoção de Lucas. Como o
art. 1.790 do CC não vale mais, para Pedro, nada muda juridicamente se conseguir anular a adoção feita por seu
irmão. Ele não terá nenhum ganho jurídico com essa decisão. Dessa forma, se ele não possui interesse jurídico no
resultado do processo, ele não tem legitimidade para propor esta ação de anulação. STJ. 4ª Turma. REsp
1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/8/2017
Possibilidade de a parte já ingressar direto na via ordinária por entender que o juízo do inventário não é
competente para a demanda O art. 612 do CPC/2015 prevê o seguinte:
Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes estejam provados por
documento, só remetendo para as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.
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A parte, antevendo que o pedido que será formulado não se enquadra na competência do juízo do inventário, já
pode ajuizar a ação autônoma no juízo competente, aplicando-se o art. 612.
Assim, é cabível o ajuizamento de ação autônoma perante o juízo cível quando se constatar, desde logo, a
necessidade de dilação probatória incompatível com o rito especial do inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.480.810-
ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/03/2018
Se o falecido deixou apenas companheira (sem ascendentes ou descendentes), ela herdará a totalidade da
herança. Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou
companheiro sobrevivente, não concorrendo com parentes colaterais do de cujus. STJ. 3ª Turma. REsp 1.357.117-
MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018
Tendo sido declinados na petição inicial todos os dados pessoais indispensáveis à correta identificação dos
herdeiros, inclusive os seus respectivos endereços, devem ser eles citados pessoalmente por carta com aviso de
recebimento, vedada a citação por oficial de justiça (porque comprometeria a duração razoável do processo). STJ.
3ª Turma. REsp 1.584.088-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018.
É prescindível (dispensável) que o herdeiro necessário traga à colação o valor correspondente à ocupação e ao
uso a título gratuito de imóvel que pertencia ao autor da herança. Ex: Pedro possuía três filhos (Alberto, Rodrigo
e Vanessa). Enquanto estava vivo, Pedro permitiu que sua filha ficasse morando, gratuitamente, em um
apartamento que estava em seu nome. Pedro faleceu. Vanessa (herdeira necessária) não precisa trazer à colação
o valor dos “alugueis” que ela deixou de pagar pelo fato de ter morado gratuitamente no imóvel. O art. 2.002 do
CC, ao tratar sobre a colação, fala em “doação”, o que não se confunde com comodato. Da mesma forma, o
empréstimo gratuito não pode ser considerado gasto, para os fins do art. 2.010 do CC, na medida em que o
autor da herança nada despendeu em favor da herdeira a fim de justificar a necessidade de colação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.722.691-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/03/2019.
A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de
concorrência sucessória híbrida. Concorrência sucessória híbrida ocorre quando o cônjuge/companheiro estiver
concorrendo com descendentes comuns e com descendentes exclusivos do falecido. Ex: José faleceu e deixou
como herdeiros Paula (cônjuge) e 5 filhos, sendo 3 filhos também de Paula e 2 de um outro casamento anterior
de José. Paula e cada um dos demais herdeiros receberá 1/6 da herança. Art. 1.832. Em concorrência com os
descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não
podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
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Assim, essa reserva de um quarto da herança, prevista no art. 1.832 do CC, não se aplica em caso de
concorrência sucessória híbrida. A reserva de, no mínimo, 1/4 da herança em favor do consorte do falecido
ocorrerá apenas quando concorra com seus próprios descendentes (e eles superem o número de 3). STJ. 3ª
Turma. REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/06/2019.
Sucessão Testamentária
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega.
Exige-se: a) que o testamento seja público; a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego,
basta uma); b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso
concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. O testamento foi
produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença
do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da
condição de cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. O descumprimento de
exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do
documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do
testador.
O indivíduo que recebeu um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade pode transferir esse imóvel por
meio de testamento, considerando que a cláusula de inalienabilidade vitalícia dura apenas enquanto o
beneficiário estiver vivo. As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade não tornam
nulo o testamento, que dispõe sobre transmissão causa mortis do bem gravado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
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