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FICHAMENTO: A História Cultural: entre práticas e

representações - Roger Chartier

O texto tem na introdução como ideia principal apresentar a trajetória da sociologia


através das décadas do século XX. Além de sua trajetória por si só, Chartier apresenta as
contribuições das outras áreas de conhecimento e também o inverso. É o caso apresentado e
detalhado da dinâmica da História Cultural com a apreensão do mundo social. Para além
disso, a introdução também trata de como esta apreensão resulta em relações de poder,
competições e dominâncias. Baseado nos ideais de Pierre Bourdieu para o campo e de
Michel Foucault para as relações de poder, Chartier estabelece um ponto importante para a
análise sociológica e historiográfica: demarcar os pontos de conflitos presentes nessas
dinâmicas de poder. Outro aspecto relevante no texto, oriundo desta interdisciplinaridade, são
as análises de técnicas linguísticas e semânticas, meios estatísticos utilizados pela sociologia
e alguns modelos da antropologia.
Chartier aponta a História Cultural como principal identificador de como uma
sociedade é construída, lida e interpretada. Graças a esses aspectos a introdução desta área do
conhecimento aos estudos sociológicos faz-se necessária para o cerne das ideias apontadas
pelo autor. Dito isso, Chartier parte para a discussão da representação, intrinsecamente
conectada aos signos, ponto de partida para a próxima discussão elaborada: habitus.
Apresenta os fundamentos de Norbert Elias no que tange a abordagem histórica dos
fenômenos e suas fraquezas, sendo 3 principais: “atribuiu geralmente um carácter único aos
acontecimentos que estuda; postula que a liberdade do indivíduo é fundadora de todas as suas
decisões e acções; relaciona as evoluções maiores de uma época com as livres intenções e os
actos voluntário daqueles que possuem poder e domínio”. Demonstra também a divisão
temporal a ser realizada, onde apesar de existir a definição do objeto como “inteiramente
histórico” (situado ou que pode estar situado no passado), sua perspectiva não é histórica,
partindo da contraposição com as 3 principais fraquezas estabelecidas por Elias. Portanto,
enquanto a História tende a considerar a liberdade como valor fundamental para a análise, a
sociologia tende a conceber limites em suas interpretações tendo em visto as rédeas impostas
pelo mundo social, onde a geografia e aquilo estipulado como “Campo” e “Habitus” por
Bourdieu, atinge diretamente o ator - que nesse dado momento já não é mais livre; é apenas
reflexo, preso ao cenário. - colocando um grande espaço entre os tipos de análise. Entretanto,
há de se ressalvar que dentro desta perspectiva de análise histórica, encontra-se uma
concepção mais rústica e clássica do que é História e quem são seus atores e agentes; um
antigo modo de ver a história como feitos de pessoas tidas como “pré-destinadas” a seus
atos. Por isso, a liberdade faz-se tão necessária nessa análise. Porém com o tempo, e com os
Annales - marcada pela aproximação entre História e Ciências Sociais - os historiadores
deixam para trás este tipo de análise de casos singulares onde o conjunto é tratado como
reflexo da ação dos singulares, para ser estudada como basicamente o inverso: como o
singular torna-se (importante acentuar aqui o estado de ser do indivíduo: aqui o ator já não
“é” apenas pode “vir a ser”, partindo do princípio de que não há predestinação) singular
através da sua relação com o todo. O modo de apreender o mundo social agora difere-se, já
não é mais o que já foi um dia, e para ser compreendido precisa de novas técnicas, novas
metodologias; a análise histórica deixa de ser um estudo de atores, para tornar-se um estudo
de processos.

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