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A etimologia da palavra Cânone aponta para "Canon" palavra grega que significa lei ou regra.
Musicalmente, ela designa a forma mais estrita de contraponto na qual uma voz está limitada a
imitar o ritmo e o conteúdo intervalar de uma outra voz.
Exigências de um Cânone
Para ser qualificado como cânone, uma obra deve atender três condições:
A segunda voz deve ser uma repetição exata ou alguma derivação contrapontística da
primeira.
A segunda voz não pode desviar-se da primeira voz ou de suas possíveis varições
contrapontísticas. Assim, a segunda voz é pensada para ser gerada estritamente pela primeira.
Essas duas vozes de um cânone são denominadas de dux/comes, antecedente/conseqüente ou
proposta/resposta; porém, neste estudo serão utilizados os termos "Lider" [abreviado por voz L] e
"Seguidora" [abreviado por voz S] respectivamente para a primeira e segunda vozes canônicas.
Se todas as três condições são atendidas na obra, o cânone é denominado: Cânone "Estrito". Se
algumas flexibilidades e/ou adaptações são adotadas com referência a uma ou mais das três
condições acima, o cânone é denominado: Cânone "Livre". Os cânones do século 18 e 20 tendem a
ser estritos enquanto que muitos cânone produzidos no século 19 tendem a ser livres.
Muitos cânones são construidos de forma que a voz S inicie em uma nota diferente da nota
inicial da voz L. Os cânones das Goldberg Variations (Variações Goldberg), por exemplo, são
ordenados sistematicamente de tal modo que cada cânone sucessivo empregue um intervalo
maior entre a voz L e a S. A voz S pode ser uma imitação tonal do L, ou seja, pode promover
pequenas alterações dos intervalos de forma a permanecer na mesma região tonal, ou pode ser
uma transposição exata para uma nova região tonal. A variação 18 (Var. 18) das Variações
Goldberg é um cânone à sexta, porém o intervalo pode ser uma sexta maior ou menor
dependendo do grau da escala utilizado. Por outro lado, a Fuga Canonica in Epidiapente da
Oferenda Musical ( Musical Offering) é uma transposição exata (estrita) do L quinta-justa acima
(cada nota da S está quinta acima da nota respectiva em L). Um terceiro tipo é exemplificado no
segunda das Variações Canônicas de Vom Himmel hoch, onde Bach utiliza notas na S bem
livremente de modo que o cânone possa se manter em conformidade com a tonalidade do cantus
firmusque o acompanha.
Essa é uma das formas canônicas mais exóticas. Uma das vozes executa uma melodia (ou
qualquer fragmento melódico) simultaneamente a outra voz que executa a mesma melodia (ou
fragmento melódico) retrogradamente ("para trás") ao mesmo tempo. É um procedimento
tradicional, com cânones desse tipo, que cada um dos executantes leia a música uma vez da
esquerda para a direita (para frente) e uma vez da direita para a esquerda (para trás). Por isso, os
cânones retrógrados são algumas vezes chamados de "caranguejo" (referindo-se as características
de locomoção dessa criatura). Pelo motivo que ambas as partes iniciam simultaneamente, os
termos "leader" e "Seguidora" são aplicados com dificuldade nesse tipo de cânone, exemplos dos
quais são encontrados em: the Caranguejo da Oferenda Musical, e o primeiro e segundo cânones
dos 14 sobre o Ground Goldberg.
Enquanto que, na maioria dos cânones, o retorno repetitivo das melodias é o praxe (circulam,
começam de novo), quando a repetição acontece no cânone espiral, ela reinicia em outra nota da
escala. Se a nova nota é o mesmo grau (numa nova tonalidade), o cânone é modulante, como o
canon a 2 per tonus da Oferenda Musical de Bach. Se a nova nota é um grau diferente da escala
(na mesma tonalidade), o cânone é espiral modal. Este estudo não contém nenhum exemplo do
cânone espiral modal, porém o cânone a quatro vozescomposto por Bach para Walther utiliza
cada uma das vozes num modo diferente dando a impressão geral de modalidade Dórica.
A música que contém vozes canônicas às quais foram acrescentadas uma ou mais vozes em
contraponto livre é chamada de "acompanhada". Na maioria dos cânones com acompanhamento
de Bach essa voz acrescentada é o baixo. Obviamente, quando o baixo é acrescentado a exigência
de que cada uma das outras vozes possam funcionar como baixo não se aplica. Isso libera o
compositor no tratamento das vozes canônicas em contraponto que de outro modo não seria
possível. Com exceção do último (Var. 27), todos os cânones das Variações Goldberg são
acompanhados. A voz acrescentada pode representar uma melodia pré-existente, como o "tema
real" no segundo cânone da Oferenda Musical, ou as próprias vozes canônicas funcionam como
cantus firmi. Todos os prelúdios do Orgelbuchlein, Clavier-Ubung III, a maioria das Canonic
Variations on Vom Himmel hoch, e cinco dos cânones dos Fourteen on the Goldberg
Groundenquadram-se nesta última categoria.
Um cânone que tenha duas vozes L e duas S é um cânone duplo...veja o fifth canon dos
Fourteen on the Goldberg Ground. Os cânones duplos são algumas vezes referenciados como
"cânone a quatro em duas [ou dois]". No Ciclo thirteenth canon Bach apresenta um cânone triplex,
ou "cânone a seis em três".
Depois de ouvir os cânones deste estudo o ouvinte eventual pode chegar a conclusão de que
eles não são difíceis de compor. Nada poderia estar mais distante da verdade! Mesmo os tipos
mais simples, apresentam desafios que vão além das habilidades da maioria dos músicos. Bach se
impõem restrições não somente de movimento contrário, aumentação e movimento retrógrado,
mas, em muitas instâncias, adere simultaneamente a mais de uma regra canônica! Assim, o
terceiro cânone da Oferenda Musical é um cânone acompanhado em movimento contrário como
são os sixth, seventh, e eighth cânones dos Fourteen on the Goldberg Ground. O oitavo cânone da
Oferenda Musical é um cânone espelhado com acompanhamento, enquanto que o
décimo-primeiro cânone dos Fourteen on the Goldberg ground é um cânone duplo espelhado.
Talvez as combinações mais difíceis do repertório de Bach estejam nos três cânones em
aumentação e movimento contrário No. 14 do ciclo do Goldberg ground, No. 4 da Arte da Fuga, e
No. 4 da Oferenda Musical.
Antes de 1600 a música polifônica era escrita parte após parte, ou seja, voz após voz sem
sobreposições. Isso significa que um músico poderia ver somente uma linha da música por vez e
não o resultado da sobreposição das vozes que a acompanhavam. Como consequência era
costume escrever somente a voz L com um título comentando alguma regra com a qual as demais
vozes S pudessem ser visualizadas e executadas: um segundo ponto de início, outro intervalo ou
um tempo proporcional. Em muitas das chansonsde Josquin, por exemplo, uma linha vocal deve
ser executada como duas - em cânone. Hoje, chama-se esse tipo de notação de "críptica",
significando que é concisa e não obrigatoriamente que o objetivo do compositor fosse o de ser
secreto.
Bach encriptava cânones em movimento contrário invertendo claves (ver os cânones quatro,
e nove da Oferenda Musical). Devido ao fato de que a inversão da clave de dó não apresenta
efeitos de mudança, o movimento contrário é significativo na inversão de armaduras de claves ou
na localização dos acidentes em linhas ou espaços "erradas" do pentagrama. Os terceiro e quarto
cânones dos Fourteen on the Goldberg Ground, por exemplo, contém claves de dó com sustenidos
que aparecem "incorretamente" em sol. Somente após a clave ser invertida os sustenidos
aparecem corretamente em fá!
Os cãnones nos quais as vozes S iniciam numa nota diferente das vozes L (e.g. números cinco
e seis da Oferenda Musical) são indicados pela imposição de duas ou mais claves no início do
pentagrama. O cânone de Bach canon for Walther contém quatro claves desse tipo, enquanto que
o cânone canon for Hudemanncontém oito (quatro invertidas com armaduras diferentes).