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Desenvolvimento Vs Crescimento
Desenvolvimento Vs Crescimento
INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 6, p. 47-53, Mar. 2003.
48 Sergio Ostetto Oliveira
El desarrollo a Escala Humana no excluye metas semelhantes, pois todos trabalham o plane-
convencionales como crecimiento económico jamento e a gestão do “desenvolvimento”
para que todas las personas puedan tener un
acceso digno a bienes y servicios. Sin embargo, com base nos lugares, preocupando-se clara-
la diferencia respecto de los estilos dominantes mente com o equilíbrio sócio-ambiental das
radica en concentrar las metas del desarrollo localidades receptoras.
en el proceso mismo del desarrollo. En otras No entanto, Ávila (2000) apontou que
palabras, que las necesidades humanas funda-
os europeus tratam o Desenvolvimento Local
mentales pueden comenzar a realizarse desde
el comienzo y durante todo el proceso de mais como descentralização de processo de
desarrollo; o sea, que la realización de las gestão pública e empresarial (ou de sua
necesidades no sea la meta, sino el motor del extensão aos locais visando à geração de em-
desarrollo. Ello se logra en la medida en que la prego e renda nesse nível), sem tocarem nos
estrategia de desarrollo sea capaz de estimular
permanentemente la generación de satisfacto- próprios paradigmas vigentes de desenvol-
res sinérgicos. vimento, tratando-se de espécie de socia-
Por sua vez, Cavaco (in RODRIGUES, lização humanitária da globalização e con-
1997) empregou a expressão “Desenvolvi- centração, inclusive, geográfica de riquezas
mento Local” para se referir ao processo em e acessos econômicos. Referiu, também, que,
que as localidades, munidas de seus recursos no Brasil, o Desenvolvimento Local é tratado
mais variados, criam oportunidades de pro- como “contrapé” ou “contraponto” entre
moção de bem-estar coletivo, implementando globalizados e globalizadores, sendo o desen-
atividades que de alguma forma dinamizem volvimento local endógeno ou de dinâmica
a economia em pequena escala, gerando o endógena pela qual a comunidade se torna
“desenvolvimento” do lugar mediante estra- apta (capaz, competente e hábil) de se tornar
tégias de baixo impacto sócio-ambiental. Essa sujeita e agente de seu desenvolvimento,
autora tem pesquisado o turismo rural portu- capaz de equilibrar e “metabolizar” o que
guês, e procura divulgar a idéia da busca de lhe vem de fora.
avanço sócio-econômico democrático e fiel Assim, para efeito deste estudo, admi-
às coletividades receptoras. tiu-se a idéia de “Desenvolvimento sócio-
Rodrigues (1997, p. 10) propõe uma espacial” proposta por Marcelo J. L. de
concepção semelhante, quando afirma que Souza, cujas reflexões, além de serem compa-
o vocábulo desenvolvimento não pode ser tíveis com essa investigação, avançaram na
empregado como sinônimo de crescimento, discussão teórica do “desenvolvimento”, re-
nem tampouco regular a distribuição da presentando uma das mais consistentes con-
riqueza. Lembra ainda que a “economia não tribuições da Geografia brasileira à análise
é tudo sem eficácia social”, pois o crescimento desse processo. Segundo Santos, Souza,
do PIB não pode ser tomado como referencial Silveira (1994), desenvolvimento pressupõe
único para definir o “desenvolvimento”. mudança, transformação – e uma transfor-
Em seus estudos sobre o “desenvolvi- mação positiva, desejada ou desejável.
mento com base local”, a autora propõe, Clamar por desenvolvimento (seja por que
especificamente para o caso do turismo, um ângulo for) só é concebível, portanto, no seio
trabalho de planejamento e gestão do referi- de uma cultura que busque a mudança ou
do processo fundamentado nas caracterís- que esteja conscientemente aberta a essa
ticas e anseios das localidades receptoras, possibilidade com um valor social.
como contraposição às demandas massa- Os autores lembram ainda que a neces-
crantes do grande capital, que muitas vezes sidade de se buscar o desenvolvimento é uma
se instalam em áreas ainda inexploradas das características das sociedades ocidentais
para fins de recreação, tecnificam-na, criam e/ou ocidentalizadas, que têm na idéia de
uma estrutura receptiva totalmente desvin- “modernidade” (em suas múltiplas nuanças),
culada dos aspectos sócio-ambientais locais, a base cultural de sustentação desse processo.
sem, contudo, melhorar as condições de vida Após levantarem uma série de questiona-
da coletividade receptora, o que acaba geran- mentos sobre o contexto cultural em que se
do ou agravando a exclusão social. construiu (e ainda se constrói) a noção de
Com o exposto, vê-se que as idéias desenvolvimento, salientaram ainda que qual-
apresentadas pelos autores citados são muito quer tentativa de apreendê-lo, avançará
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teoricamente quando se admitir uma ruptura uma mesma e única realidade”. Esse autor
consciente com o etnocentrismo e com a idéia (1998) afirma que cada lugar é marcado por
heterônima de uma verdade absoluta. uma combinação técnica diferente e por uma
Também não se deve tentar defini-lo combinação diferente dos componentes do
de uma vez por todas, sendo mais sensato capital, o que atribui a cada qual uma estru-
buscar um princípio norteador de modo que tura de capital própria, à qual corresponde
a reflexão esteja sempre aberta a novas uma estrutura específica do trabalho. Em
contribuições. Assim, os autores entendem cada lugar, as variáveis A, B e C não têm a
o desenvolvimento sócio-espacial como um mesma posição no aparente contínuo, por-
processo de aprimoramento, gradativo ou, que elas são marcadas por qualidades diver-
também através de bruscas rupturas, das sas. Isto resulta do fato de que cada lugar é
condições gerais de viver em sociedade em uma combinação de técnicas quantitativa-
nome de uma maior facilidade individual e mente diferentes, individualmente dotadas
coletiva, o princípio mais fundamental sobre de um tempo específico – daí a diferença
o qual pode se assentar esse processo parece entre eles.
ser a autonomia individual e coletiva. A Neste sentido, e considerando a inter-
autonomia é um princípio ético e político, o pretação das idéias de Milton Santos, obser-
qual não define um conceito de desenvolvi- va-se que a identidade do lugar pode ser defi-
mento, mas justamente propicia uma base nida com base em seu conteúdo técnico, con-
de respeito ao direito de cada coletividade junto e natureza de técnicas presentes na con-
de estabelecer, segundo as particularidades figuração do território, da demanda informa-
de cada cultura, o conteúdo concreto, sem- cional, que chega ao local tecnicamente esta-
pre mutável, do desenvolvimento: as priori- belecido, da densidade comunicacional, resul-
dades, os meios, as estratégias (SANTOS; tante da interação entre as pessoas, e pela
SOUZA; SILVEIRA, 1994). densidade normativa, visto que as normas são
consideradas como elementos definidores
Espaço (total e local) desse lugar.
Deve-se levar em consideração o papel
Como processo, o desenvolvimento do significado de tempo, chegando à con-
sócio-espacial deve ser pensado em sua tota- clusão de que é no lugar que se desenvolve a
lidade, pela academia, que deve adotar uma vida em todas as suas dimensões. Para
postura transdisciplinar, e pelos seus gesto- Milton Santos, existe dupla questão no deba-
res, que devem operacionalizá-lo com base em te do lugar: visto “de fora” é resultante dos
um planejamento transetorial. Essa, na acontecimentos históricos mais amplos que,
realidade, é a única forma de promovê-lo de de alguma forma, impõem-se e participam
forma realmente integrada (SANTOS, 1998a). de sua configuração, e visto “de dentro” o
Dessa maneira, vislumbra-se uma lugar se refere ao arranjo das forças que se
noção desse processo, que muito se distancia conjugam internamente, conferindo-lhe
das conceituações tradicionais, em que o as- identidade própria.
pecto econômico figura como esfera princi- A história econômica mundial mostra
pal de todas as ações. Questiona-se, também, claramente o quanto o “desenvolvimento”
a simplificação da idéia de desenvolvimento, não se processou de forma especialmente
quando considerada como superação do homogênea, em função dos modelos mun-
subdesenvolvimento, caracterizada somente dialmente adotados de reprodução de capital
como sinônimo de pobreza e/ou poucos que, ainda hoje, têm papel altamente segre-
recursos, para ampliação dos mecanismos de gador, pois privilegia algumas áreas para
produção, que têm nas nações centrais do implementação de projetos desenvolvi-
mundo capitalista os “modelos ideais” a mentistas, em detrimento de outras.
serem copiados. Nesse sentido, na chamada “engrena-
Para Milton Santos (1998b), a idéia de gem global”, o meio rural passou a atuar
lugar está intimamente relacionada com o como área marginalizada, uma vez que o
conceito de espaço, argumentando que, “o discurso clássico da ‘modernidade’ se apoiou
espaço total e o espaço local são aspectos de durante anos na atividade industrial, privi-
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