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Rio de Janeiro
2020
Tamiris de Assis Coutinho
Cai de boca no meu bucetão: uma análise do funk como potência do empoderamento
feminino
Rio de Janeiro
2020
Ficha elaborada pelo autor através do
Sistema para Geração Automática de Ficha Catalográfica da Rede Sirius - UERJ
CDU 659.4
Tamiris de Assis Coutinho
Cai de boca no meu bucetão: uma análise do funk como potência do empoderamento
feminino
______________________________________
Profª. Luiza Silva (Orientadora)
Faculdade de Comunicação Social da UERJ
____________________________________
Prof. Dr. Eduardo Guerra Murad Ferreira
Faculdade de Comunicação Social da UERJ
______________________________________
Profª. Drª. Cecília Maria Bacellar Sardenberg
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA
Rio de Janeiro
2020
AGRADECIMENTOS
Tantas pessoas que preciso agradecer que essa parte teria mais palavras do que a
própria dissertação, por isso, vou me ater a agradecer a Deus.
Agradecer a Ele por me dar o presente de, além ter sido gerada, ser criada e amada
pela minha mãe, a mulher mais maravilhosa, perfeita e parceira. Diomar, tudo pela gente,
sempre uma pela outra. Te amo mais que tudo.
Agradecer a Ele por me dar a minha família. Pai, avós, tias, tios, primas e primos, os
mais próximos e até os mais distantes, que são essenciais para meu alicerce como ser humano
e que são apoio independente de qualquer coisa.
Agradecer a Ele por colocar amigos tão especiais no meu caminho. Amigos de
infância, do colégio, da faculdade, do trabalho, da vida, que com suas vivências, crenças e
desafios me ensinaram e me ensinam diariamente a ser uma pessoa melhor. São tantos amigos
que ficaria difícil escrever o nome de todos aqui, mas eles sabem o quanto são especiais e
sabem que escrevo aqui pensando em cada um deles - muito emocionada por sinal.
Agradecer a Ele por colocar no meu caminho professores e colegas de trabalho que
foram fundamentais para a minha formação acadêmica e profissional na área da comunicação.
Em especial, por ter colocado a minha orientadora, Luiza Silva, na minha trajetória. Ela que
acreditou na proposta do trabalho e aceitou defendê-lo comigo. Quantos sentimentos (bons,
claro) ela provocava em uma só reunião: nervosismo, euforia, emoção e orgulho. Professora,
obrigada pelas análises críticas, pelo incentivo e pela parceria. Agradecer também aos
professores presentes na banca avaliadora. Cecília Sardenberg e Eduardo Murad, muito
obrigada por terem aceitado o convite e por terem prestigiado o meu trabalho.
Agradecer a Ele por ter tido a oportunidade de fazer o pré-vestibular social na UFF e
cursar a graduação na UERJ, dois locais que simplesmente mudaram a minha forma de ver e
viver o mundo, as coisas e as pessoas.
Por fim, agradecer a Ele por me dar saúde, força e disposição para correr atrás dos meus
objetivos e para lidar com as dificuldades da vida com dedicação, determinação, leveza,
alegria, muitas dúvidas, mas a certeza de que Ele está sempre me guiando e iluminando.
Agradecer a Ele por me permitir tirar aprendizado de tudo, por me proporcionar amadurecer,
viver intensamente e por me dar condições de me tornar a mulher que sou, a mulher que todo
dia luto para ser: dona de mim!
RESUMO
COUTINHO, Tamiris de Assis. Cai de boca no meu bucetão: uma análise do funk como
potência do empoderamento feminino. 65f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Comunicação Social) - Faculdade de Comunicação Social, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
The objective of this work is analyze the musical genre Funk as a power of female
empowerment. In a society where the male chauvinist exists, every woman in prominent
position needs to be exalted and standed out as a fundamental character to foster female
representation in different areas. In funk, the highlight of MCs, besides being extremely
relevant to female representation, breaks patriarchal culture, male chauvinist manifestations
and it is a resistance factor against the socio-cultural prejudices suffered by the musical genre.
In this context, the study, based on documentaries and researches, exemplifies the origins and
the trajectory of the funk in social, cultural and market aspects, highlights the importance of
the emancipation of women and demonstrates the concepts of empowerment pertinent for the
study. In order to demonstrate the importance of funk for the empowerment process from a
female perspective, songs from different aspects of the musical genre performed by female
are demonstrated and categorized according to an interpretive matrix that combines the
dimensions of empowerment, Stromquist's study, the objectives of empowerment by
Sardenberg and the spheres of empowerment developed in this study.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1 É SOM DE PRETO, DE FAVELADO, MAS QUANDO TOCA, NINGUÉM
FICA PARADO.......................................................................................................................13
1.1 A origem do funk: breve contexto
histórico...................................................................................................................................13
1.2 A trajetória do funk no Brasil: do soul ao
150bpm.....................................................................................................................................16
2 A MULHER NO FUNK: DAS MINAS DISPOSIÇÃO AO BONDE DAS FAIXA
ROSA.......................................................................................................................................30
3 O FUNK COMO POTÊNCIA DO EMPODERAMENTO
FEMININO.............................................................................................................................37
3.1 Empoderamento sob a perspectiva
cognitiva...................................................................................................................................41
3.2 Empoderamento sob a perspectiva
psicológica................................................................................................................................48
3.3 Empoderamento sob a perspectiva
política......................................................................................................................................53
3.4 Empoderamento sob a perspectiva
econômica.................................................................................................................................56
4 CONCLUSÃO.............................................................................................................61
REFERÊNCIAS..........................................................................................................63
10
Introdução
“Ai tá bom hein? Vem com essa boquinha, abaixar minha sainha, bota pra fora essa
linguinha, me deixa com tesão”. Interpretado por MC Rebecca, o trecho faz parte de “Cai de
boca”, música que foi fonte de motivação para a proposta deste trabalho: analisar o funk como
potência do empoderamento da mulher. A observação da recepção, aderência e manifestação
do público feminino perante a música foi o que provocou o desenvolvimento deste estudo.
Em festas e redes sociais, por exemplo, as mulheres entoavam “cai de boca no meu bucetão”
com tanto fervor que parecia que a música era um hino: um hino de representatividade da
libertação sexual da mulher. Engana-se quem acredita que a música fomenta somente a
“putaria1”, na verdade, os versos desconstroem a lógica patriarcal que sufoca e diminui as
vontades e necessidades das mulheres.
Para que hoje, MC Rebecca possa cantar versos como o explicitado, e para que
diversas MCs possam externar suas vivências e necessidades livremente, outras mulheres
também estiveram na linha de frente lutando pela equidade de gênero na sociedade em geral,
na cultura, na música e no funk. Em uma sociedade em que o machismo é expressado
constantemente, cada mulher em posição de destaque é extremamente importante. No funk, a
mulher em evidência, além de romper com a cultura patriarcal e o machismo estrutural,
precisa se emancipar dos estigmas e preconceitos sofridos pelo gênero musical.
O funk percorreu um longo caminho de desenvolvimento até ser uma das principais
manifestações de cultura popular do Brasil. Por isso, é necessário explorar sua trajetória. No
primeiro capítulo intitulado “É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica
parado”, há a análise histórica do funk a fim de demonstrar toda sua relevância. Para tal, o
capítulo está dividido em duas partes. Na primeira parte intitulada “A origem do funk: um
breve contexto histórico”, verifica-se a origem do funk e as influências proporcionadas pela
cultura negra norte-americana. Gêneros como spiritual, blues, jazz, rhythm & blues, soul,
funky e hip hop são apresentados, evidenciando seus estilos e principais particularidades, a
fim de demonstrar a importância de cada um deles para disseminar a resistência,
autenticidade, representatividade e valorização da cultura negra, aspectos que fomentaram a
chegada e desenvolvimento do funk no Brasil. Na segunda parte intitulada “A Trajetória do
funk no Brasil: do soul ao 150bpm”, analisa-se o contexto da chegada da música negra norte-
americana ao Brasil, mais especificamente ao Rio de Janeiro, através do soul, e o processo de
1
O termo “putaria”, neste estudo, refere-se a vertente do funk que usa a temática sexual como foco central das produções
conforme explicitado na página 25 deste trabalho.
11
nacionalização do funk, com ênfase a partir do ano de 1990, até o desenvolvimento de suas
vertentes mais atuais. Ainda nessa parte, verifica-se o debate acerca da criminalização do
gênero musical e a importância do funk nos aspectos social, cultural e mercadológico. As
considerações de Muggiati (1995), Essinger (2005), Facina (2009), Vianna (1988, 1990),
Lopes (2011) e Herschmann (2005) são utilizadas a fim de contribuir para o embasamento
teórico do estudo.
Para defender o funk como potência do empoderamento feminino, além de analisar a
história do gênero musical, é necessário observar a evolução das manifestações
emancipatórias das mulheres.
No segundo capítulo intitulado “A mulher no funk: das minas disposição ao bonde das
faixa rosa”, evidencia-se a inserção e manutenção da mulher no gênero musical. Para a
análise, o trabalho propõe a categorização de quatro gerações do funk feminino 2. Além da
trajetória da mulher no gênero musical, a pesquisa também explicita a relevância do
movimento feminista. Ainda nessa parte, é evidenciada a importância do empoderamento sob
a perspectiva de gênero para a emancipação da mulher da cultura patriarcal e suas expressões
machistas. São utilizadas as contribuições teóricas de Telles (1993), Kilomba (2012),
Batliwala (2007), Léon (1997, 2001), Costa (2000), Lyra (2006) e Garcia (2015).
No terceiro capítulo intitulado “O funk como potência do empoderamento feminino”,
além da exposição dos conceitos de empoderamento, verifica-se a linguagem utilizada no
universo funk e os preconceitos sofridos pelo gênero nos aspectos técnico e comportamental.
Os processos educacionais e comunicacionais também são evidenciados a fim de demonstrar
a relevância da autenticidade do funk para o processo de identificação. Para o exame do funk
como potência do empoderamento da mulher, utilizam-se referências que abordam o tema
com o propósito de construir um modelo analítico. Seria possível, a partir da bibliografia
especializada, elaborar uma matriz que pudesse ser projetada sobre o objeto deste trabalho no
intuito de examinar a consistência do que se defende? Para atingir o que se propõe, a análise
contempla as dimensões do empoderamento (STROMQUIST, 2002) e os objetivos do
empoderamento (SARDENBERG, 2006). A partir das considerações das estudiosas, o
trabalho propõe esferas 3 do empoderamento. Por meio de um arcabouço combinando as
dimensões, os objetivos e as esferas, há a demonstração, categorização e análise de trechos de
funks interpretados e cantados por MCs mulheres a fim de evidenciar de que modo o funk
2
Neste estudo, entende-se por funk feminino canções interpretadas e cantadas por mulheres.
3
As esferas referem-se às categorias propostas por este estudo a fim de facilitar a análise do objeto em questão, conforme
explicitado na página 39 deste trabalho.
12
pode ser entendido como potencializador do empoderamento feminino. Além das referências
mencionadas, as reflexões de Paiva (2009), Berth (2019), Beauvoir (1967), Araújo (2014) e
Adichie (2014), contribuem para esta dissertação.
13
Para que hoje possa ser estudado na qualidade de manifestação de cultura popular, o
funk percorreu um caminho repleto de desafios, superações e sucessos. As origens na diáspora
4
africana e as influências proporcionadas pela cultura negra norte-americana foram
fundamentais para o desenvolvimento do gênero. Por conta de sua autenticidade e relevância,
o funk é mecanismo de resistência e representatividade e se manifesta nos âmbitos sociais,
culturais e mercadológicos.
Para entender como se deu a evolução e consolidação do funk como movimento social,
cultural e mercadológico no Brasil, é preciso analisar todo o contexto da sua história, ou seja,
é necessário primeiramente observar as principais manifestações da cultura negra norte-
americana que influenciaram em seu desenvolvimento.
O pontapé inicial desta análise é o blues. O gênero musical tem suas origens no século
XVII com os negros que foram retirados à força da África para trabalhar no sistema
escravocrata nas fazendas do Sul dos Estados Unidos.
Enquanto enfrentavam exaustivas jornadas de trabalho, os negros entoavam dizeres
ritmados que tinham como único instrumento a voz, as chamadas worksongs. Os donos de
terra e capatazes entendiam as canções como uma forma de manter a cadência do trabalho,
contudo, os negros as usavam, principalmente, para resistir às péssimas condições em que
viviam.
Com o projeto de evangelização cristã dos negros, que ocorreu a partir do século XIX,
as expressões religiosas foram unidas aos ritmos provenientes da diáspora africana e à
essência das worksongs. Esse processo desencadeou o que ficou conhecido como spiritual5 e
foi fundamental para a criação efetiva do blues. 6 Entre final do século XIX e meados do
século XX fatores como o fim da Guerra Civil,7 a abolição da escravidão,8 a ampliação dos
4
Fenômeno caracterizado pela imigração forçada de africanos durante o tráfico negreiro. Junto dos seres humanos,
embarcaram modos de vida, culturas, práticas religiosas, línguas e formas de organização política que influenciaram na
construção das sociedades nas quais os africanos foram escravizados.
5
Canções que mesclam a mítica religiosa, o sentimento de melancolia e questões sociais.
6
Especula-se em alguns estudos, como de Muggiati (MUGGIATI, 1995), que a nomenclatura do estilo musical faz referência
à expressão “to look blue” que remete aos sentimentos de medo, ansiedade, tristeza e depressão.
7
Também conhecida como Guerra da Secessão, foi um conflito entre os estados do Norte e os estados do Sul dos Estados
Unidos. Iniciou-se em 1861 devido à iniciativa dos estados do Sul de se separarem da União motivados pela divergência
acerca da abolição da escravatura e da ocupação de territórios no Oeste. A derrota sulista, que buscava manter o sistema
escravocrata, desencadeou o fim dos conflitos em 1865.
14
8
Em 1° de janeiro de 1863, entrou em vigor, assinado pelo presidente Abraham Lincoln, o Ato de Emancipação, libertando
aproximadamente 4 milhões de escravos negros.
9
Grupo reacionário e extremista que defende a supremacia branca. Perseguia os negros libertos e seus apoiadores a fim de
"purificar” a sociedade norte-americana. Na década de 1920, a organização possuía aproximadamente quatro milhões de
participantes.
10
MAMIE Smith - Crazy Blues (1920). The Land of Marcos. 13 de ago. de 2009. 1 vídeo Youtube (3min34s). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=qaz4Ziw_CfQ>. Acesso em 15 de jul.de 2020.
11
Mamie Smith (1883-1946) obteve tanto sucesso que se tornou a artista negra mais bem paga da época.
12
Vocalistas negras que abriram o mercado fonográfico do gênero. Uniam em suas performances vocais sofisticados e
orquestras.
13
Nomenclatura utilizada para designar os repertórios musicais destinados ao público negro norte-americano.
14
Técnica em que os cantores, baseados em um tema e seguindo os acordes das músicas, criavam as letras na hora da
apresentação.
15
Técnica utilizada para tornar o ritmo soul mais dançante, porém mantendo suas peculiaridades.
16
Grandes orquestras que privilegiavam o uso de instrumentos como trompetes, saxofones, contrabaixo e a bateria. Foram
fundamentais para popularizar o jazz e elevar o nível das produções.
17
Também chamado de R&B, termo comercial introduzido nos Estados Unidos, na década de 40, pela revista Billboard.
18
O ritmo, que era originalmente produzido e consumido pela comunidade negra, passou a ser dominado por pessoas
brancas.
19
Conhecido como Movimento dos Direitos Civis, aconteceu entre 1955 e 1968, nos Estados Unidos. Diversas manifestações
foram realizadas com o objetivo de abolir a discriminação e segregação racial no país.
15
lemas como I’m black and I’m proud 20 e Black is beautiful 21 expandindo ainda mais a
visibilidade do movimento Black Power. 22 Nina Simone, 23 por exemplo, foi uma mulher
atuante, não somente como artista, mas como militante e ativista. Usou suas músicas para
expressar e defender seu posicionamento acerca das desigualdades sociais e preconceitos,
principalmente raciais.
E foi nesse período de efervescência social e musical, que a partir de 1970, batidas mais
intensas, repetitivas e sensuais foram implementadas ao soul desenvolvendo o funky.
A palavra funky era empregada para indicar a batida forte e dançante do ritmo musical,
mas também era associada à conotação sexual sendo considerada uma palavra inadequada. O
termo também era utilizado como uma manifestação racista. Segundo Silvio Essinger, a
palavra era usada de forma pejorativa como gíria para “malcheiroso” a fim de atacar os
negros (ESSINGER, 2005, 11).
Independente da sua etimologia, a palavra foi ressignificada pela comunidade negra e
passou a ser usada para expressar o estilo de vida marcado pela autenticidade do movimento
negro norte-americano.
A constante movimentação da black music levou ao desenvolvimento de outra
manifestação musical de extrema importância para o estudo, o hip hop, que ganhou destaque a
partir de 1980. O hip hop uniu as influências jamaicanas à black music e através da dança,
arte, música e discurso, passou a abordar, principalmente, o contexto social das periferias dos
Estados Unidos. Novas técnicas surgiram como o sound systems,24 as mixagens,25 o scratch26
e o sampler. 27 Os DJs28 e os Masters of Ceremony (MCs) 29 ganharam destaque e o Rap 30
passou a ser a principal manifestação musical do movimento.
Os gêneros da black music norte-americana foram fundamentais para o
amadurecimento do processo de resistência da comunidade negra, afinal, em um país
20
“Say it loud: I’m black and I’m proud” (Diga alto: eu sou negro e tenho orgulho). Música lançada em 1968, interpretada
por James Brown, principal cantor do funk norte-americano e representante do movimento Black Power.
21
O lema “Black is beautiful” (Negro é Lindo) baseava-se na luta pela percepção positiva e igualitária da estética negra a fim
de romper com a supremacia dos padrões estéticos brancos.
22
O movimento Black Power teve maior repercussão entre final dos anos 60 e início dos anos 70 e buscava enfatizar o
orgulho negro através de manifestações culturais, sociais e políticas.
23
Nome artístico de Eunice Kathleen Waymon (1933-2003). Artista da black-music e militante dos direitos civis dos negros
norte-americanos.
24
Aparelhos de reprodução de áudio caracterizados pela alta potência das caixas de som.
25
Atividade na qual diversos sons são combinados para criar um novo arranjo musical.
26
Movimento de arrastar os discos em sentido anti-horário para produzir um som arranhado.
27
Técnica que utiliza partes de uma música na produção de outra música.
28
Sigla para Disc Jockey. Artista profissional que seleciona, reproduz e apresenta as mais diferentes composições musicais.
29
O Mestre de Cerimônia, comumente chamado de MC, é responsável por interagir com o público, além de compor, cantar e
improvisar.
30
Abreviação para Rhythm and Poetry. Um dos pilares mais evidentes do movimento Hip Hop, consiste em realizar um
discurso rítmico de rimas e poesias.
16
extremamente racista, ter negros em posição de destaque e ditando tendências ia muito além
do fazer sucesso, era um ato de representatividade e valorização de suas raízes.
Por conta disso, a cultura negra norte-americana promoveu uma revolução musical,
mercadológica e social. Suas manifestações ultrapassaram as fronteiras do solo norte-
americano e impactaram diversos lugares como o Brasil.
A história do funk carioca tem origem na junção de tradições musicais afro descendentes
brasileiras e estadunidenses. Não se trata, portanto, de uma importação de um ritmo
estrangeiro, mas sim de uma releitura de um tipo de música ligado à diáspora africana”
(FACINA, 2009, p.2).
Nesta parte do estudo, portanto, observa-se como se deu a trajetória do gênero musical
funk, com enfoque para o seu desenvolvimento no Rio de Janeiro, afinal, foi na cidade
maravilhosa que a partir de 1970 o embrião do funk carioca, o soul, ganhou destaque com os
chamados Bailes da Pesada. Fomentados por Ademir Lemos 31 e Big Boy,32 os bailes, que
eram ecléticos, passaram a inserir o soul em sua programação. Apelidado de “balanço”, o
ritmo conquistou os jovens cariocas que organizados em grupos, lotavam os salões para
dançar em passos marcados.
Os primeiros Bailes da Pesada aconteceram no Canecão. 33 Como destaca Hermano
Vianna, “Os Bailes da Pesada, como eram chamadas essas festas domingueiras no Canecão,
atraíam cerca de 5 mil dançarinos de todos os bairros cariocas, tanto da Zona Sul quanto da
Zona Norte” (VIANNA, 1988, p.24).
31
Cantor, compositor, DJ e produtor. Um dos principais participantes na organização e produção dos primeiros Bailes da
Pesada.
32
DJ e locutor radialista da década de 70. Considerado um dos radialistas mais inovadores da época, foi um dos idealizadores
do Baile da Pesada.
33
Casa de shows que se localizava no bairro de Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
17
As coisas estavam indo muito bem por lá. Os resultados financeiros estavam correspondendo
à expectativa. Porém, começou a haver falta de liberdade do pessoal que frequentava. Os
diretores começaram a pichar tudo, a pôr restrição em tudo. Mas nós íamos levando até que
pintou a ideia da direção do Canecão de fazer um show com Roberto Carlos. Era a
oportunidade deles para intelectualizar a casa, e eles não iam perdê-la, por isso fomos
convidados pela direção a acabar com o baile (Jornal de Música, n.30, fev 1977:5, apud
VIANNA, 1988, p.24).
Esse negócio é muito melindroso, sabe? Poxa, não existe nada de político na transação. É o
pessoal que não vive dentro do soul e por acaso passou e viu, vamos dizer assim, muitas
pessoas negras juntas, então assusta. Se assustam e ficam sem entender o porquê. Então
entram numa de movimento político. Mas não é nada disso. É curtição, gente querendo se
divertir (Jornal do Brasil, 17 jul 1976:4, apud HERMANO, 1988, p.28).
“Muitas pessoas negras juntas, então assusta”. A frase retirada da declaração acima,
destaca como o preconceito, principalmente racial, sempre permeou o gênero musical. Nesse
período em específico, evidenciado ainda mais pela ação de repressão dos militares.
Em razão da visibilidade proporcionada pela mídia ao Black Rio, que passou a ser
usado como sinônimo para denominar as manifestações da black music, o soul ultrapassou as
fronteiras do Rio de Janeiro e se popularizou em outros estados.
34
Regime autoritário instaurado através de um golpe militar que durou de abril de 1964 até março de 1985. Sob comando das
militares, estabeleceu a censura à imprensa, restrição de direitos políticos e perseguição policial a quem fosse opositor.
19
35
Fenômeno que ganhou destaque mundial na década de 70. No Brasil, seu auge foi nos anos de 1978 com a exibição da
novela Dancin‟ Days, da rede Globo de televisão. O ritmo musical mistura pop, salsa, funk, soul e rock com arranjos
elaborados e batidas fortes. A partir de 1980, começou a perder evidência e influenciou o desenvolvimento da música dance e
eletrônica.
36
Nome artístico de Fernando Luís Mattos da Matta. DJ tido como o criador do funk carioca devido à introdução da bateria
eletrônica que desenvolveu o gênero.
37
Faixas vocais em português que se assemelham sonoramente às letras em inglês. Por exemplo, as músicas You talk too
much, do Run DMC, que foi nomeada como “Taca tomate”, e Whoop there is it, do Tag Team, que se transformou em “Uh!
Tererê!”.
20
primeira música funk a ser reconhecida em rede nacional ao entrar na trilha sonora da novela
Barriga de Aluguel, da Rede Globo. O Programa da Xuxa, também na Rede Globo, abriu
espaço ao funk quando convidou DJ Marlboro para ser o discotecário residente do programa.
O funk também ganhou programas destinados a ele, como o da Furacão 2000, na emissora de
televisão CNT. A programação, similar ao programa Soul Train,38 apresentava, enaltecia e
divulgava o movimento funk através das músicas, festas e ações.
Durante toda década de 1990, o gênero musical começou a abarcar diferentes vertentes
e estilos de manifestação. A principal fonte de propagação musical continuou sendo os bailes.
Música alta, aparelhagens de som e criatividade nas danças e vestimentas, herança dos bailes
black e soul se mantiveram (FACINA, NOVAES, 2020).
Durante a década de 90, diferentes estilos de bailes funk ocorriam no Rio de Janeiro,
sendo eles os Bailes de Comunidade e os Bailes de clubes, divididos em Bailes de Corredor e
Bailes Comuns (BRAÇANÇA, 2017, p.50).
Os bailes que ocorriam dentro das comunidades, como o do Chapéu Mangueira, no
bairro do Leme, recebiam pessoas de diversos lugares, não somente moradores da localidade,
e atraiam milhares de pessoas.
Havia também os Bailes de Galera. As “galeras” eram formadas por jovens unidos
geralmente pela região onde moravam. Algumas eram tão grandes que iam aos bailes em
ônibus fretados. Durante esse tipo de baile, além da música, havia gincanas e disputas, como a
musa do baile e o melhor grito de guerra e rap das galeras.
Outro tipo de baile que ganhou bastante destaque no período, foram os Bailes de Briga,
popularmente conhecidos como Bailes de Corredor. Nesse tipo de baile, os confrontos
corporais eram a atração principal. Os versos das montagens 39 entoavam enquanto os
frequentadores se dividiam em Lado A e Lado B para se enfrentarem no meio da pista de
dança, brigando no ritmo da música. Esses bailes possuíam algumas regras como respeitar os
seguranças e só brigar no momento determinado, conhecido como “os cinco minutinhos de
alegria.” A prática, que era vista pelos adeptos como forma de lazer, foi utilizada pela mídia
de massa para associar o funk e o funkeiro a diversos movimentos violentos na cidade, como
os “arrastões”. Segundo Adriana Lopes:
38
Programa de televisão criado por Don Cornelius que passava durante a década de 70 nos Estados Unidos. A programação
contava com performances de cantores, grupos e dançarinos da black music norte-americana.
39
De acordo com Silvio Essinger (ESSINGER, 2005), as montagens são músicas que mesclam o ritmo do Miami Bass com
frases ditas por MCs ou retiradas de outros discos. O padrão consiste em usar essas frases de forma repetitiva em consonância
com as batidas da música.
21
Um acontecimento foi crucial para que tal imagem dos funkeiros ganhasse força: os chamados
“arrastões”. Vale destacar que esse termo foi o nome dado pela mídia para uma suposta
“invasão” de uma das praias mais famosas do Rio de Janeiro por centenas de jovens
funkeiros, habitantes de favelas, que, segundo os jornais, só estavam lá para saquear os
banhistas de classe média. Como já destaquei, o funk não teve início com o “arrastão”, mas
esse evento acelerou o seu processo de popularização, arremessando os jovens das favelas
para o centro do cenário midiático (LOPES, 2011, p.34).
Durante esse período, o funk passa a ocupar a linha editorial dos principais veículos de
comunicação de massa. O gênero musical era evidenciado sob o viés da sua suposta potência
criminosa com a chamada “O funk é perigoso?” na maioria das produções. Já o funkeiro era
identificado como um jovem perigoso, vadio, infrator da lei e da ordem social,
consequentemente, participante de quadrilhas criminosas, como assaltantes ou traficantes. A
construção dessa imagem foi inserida no imaginário social e, infelizmente, perdura até os dias
atuais.
Nesse contexto, o funk virou pauta de segurança pública e passou a ser discutido pela
Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. Com receio da imposição de deliberações
restritivas, como a proibição das festas, as equipes de som que promoviam os Bailes de
Corredor se uniram e adotaram algumas medidas, como parar de tocar os gritos de guerra que
fomentavam os confrontos.
Os confrontos dentro dos bailes eram só uma parcela diante de uma grande
manifestação sociocultural. Os bailes funks não eram constituídos somente de brigas e nem
deveriam ser resumidos somente a isso. Prova disso, é que durante esse mesmo período,
aconteciam os Festivais que eram uma espécie de concurso onde os MCs expunham suas
canções. Um dos clássicos do funk, o Rap do Festival,40 evidencia esse período:
40
DANDA E TAFAREL - Rap do Festival. Funkneurotico. 2 de mar. de 2007. 1 vídeo Youtube (4min13s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=wmU_NukSeD0>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
22
(...)
Uma tristeza dominou meu coração
Vendo a massa funkeira numa confusão.
O amor é importante no seu coração
E a alegria dentro e fora do salão.
Seja sincero, honesto e muito fiel
Esse é o recado do Danda e do Taffarel
(DANDA E TAFAREL, Rap do Festival, 1994).
Ao abordar suas realidades, os MCs passam a agir como formadores de opinião acerca
do contexto no qual estão inseridos, afinal, através de seus discursos eles podem influenciar e
até modificar a opinião de outras pessoas. Segundo Herschmann, “Esses
cantores/compositores prestam também homenagem a seus locais de origem, transformando-
os em tema central (ou secundário) do rap” (HERSCHMANN, 2005, p.166).
41
CIDINHO E DOCA - Rap da Felicidade (Furacão 2000 - CNT). Tempo bom. 28 de nov. de 2015. 1 vídeo Youtube
(5min38s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2yhuWW3IGE0>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
23
42
BOB RUM - Rap do Silva. Felipe Mj. 1 de mar. de 2007. 1 vídeo Youtube (3min44s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=XkH6PT9HMmc>. Acesso em: 20 de jul. de 2020.
24
Essas são músicas que não podem ser divulgadas em CD, tampouco em espaços públicos,
pois são consideradas apologia ao crime e ao criminoso, mais especificamente, apologia ao
tráfico de drogas e ao traficante. Por causa disso, nesse período, iniciou-se uma prática que é
muito usual entre todos os funkeiros até os dias atuais: a produção de duas versões para a
mesma música. Assim, é composto e produzido um funk para ser tocado nos bailes de
comunidade (considerado “proibidão”) e outro na qual determinados atos de fala são retirados
ou substituídos por outros para ser tocado em outros espaços públicos, como os programas de
rádio, por exemplo (LOPES, 2011, p. 122).
O preconceito sofrido pelo funk, funkeiros e moradores de favela já era visível, mas
tornou-se mais evidente, principalmente, após o episódio que desencadeou na morte do
jornalista Tim Lopes.46 O triste fato colocou o baile funk, principalmente os que aconteciam
dentro das comunidades, novamente no centro da discussão midiática ao ser acusado de
associação aos traficantes e ao tráfico de drogas.
43
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Resolução nº 182, de 3 de novembro de 1999.
Disponível em:
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/df2f8dda4ee814e1032564ff00613a69/f193581d216a43f20325681f00659cc8?O
penDocument>. Acesso em: 22 de ago. de 2020.
44
Expressão utilizada para designar o poder de mercado proporcionado pelo tráfico de drogas ilícitas.
45
Vertente do Hip Hop que relata a vivência das gangues dos Estados Unidos. Temas como violências, conflitos policiais e
consumo de entorpecentes são comumente abordados.
46
Em 4 de junho de 2002, o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão noticiou o desaparecimento do jornalista Tim
Lopes. De acordo com informações do próprio Jornal, o repórter teria ido à comunidade da Vila Cruzeiro, na Penha, para
atender às denúncias feitas pelos moradores sobre a realização de bailes funk com shows de sexo e consumo de drogas sob o
patrocínio dos traficantes. O repórter teria ido à favela três vezes para retratar os ocorridos, no entanto, ao retornar ao local,
no dia 2 de junho de 2002, para documentar o baile com uma microcâmera, ele não foi mais visto. Sua morte somente foi
confirmada em 5 de julho de 2002. As investigações do caso creditaram aos traficantes da região a realização do crime. O
episódio dividiu as opiniões e foi debatido por diversas instâncias da sociedade.
25
Mesmo sendo criminaizado, o funk seguia resistindo falando também de amor através
da vertente Melody/Romântica. O desenvolvimento desse estilo ajudou o funk a romper as
fronteiras das favelas e se popularizar entre os jovens das camadas média e alta da zona sul do
Rio de Janeiro.
Conforme se consolidava como ritmo musical, o funk se reinventava. Assim, surge o
tamborzão, também chamado de batidão ou pancadão, que une as batidas provenientes do
Miami Bass aos sons do atabaque e da percussão. A vertente ganhou evidência após a
primeira gravação oficial ser registrada, em 1998, pelos DJs Luciano e Cabide.
A passagem da década de 1990 para os anos 2000 foi transformadora para o funk e
muitas mudanças ocorreram. A principal delas foi a inserção do tamborzão nas produções. O
ritmo foi base para os principais sucessos dos anos 2000, a Era de Ouro do funk carioca.
No decorrer da Era de Ouro, diversas outras novidades surgiram no universo funk. O
destaque das mulheres foi uma delas. De forma mais evidente, elas começaram a fazer parte
do cenário, como dançarinas e MCs. A criação dos “bondes” 47 também foi outro diferencial.
Compostos por mulheres ou homens, eles uniam o ritmo do tamborzão a muita dança. As
equipes de som foram aos poucos perdendo evidência para os DJs, mas algumas, como a
Furacão 2000, mantiveram-se como referência. As festas destinadas ao ritmo se
popularizaram e passaram a acontecer com mais frequência fora das favelas. O teor sexual
também ganhou mais evidência, manifestando-se através do Funk Putaria, que também tinha
suas versões lights. Com essa vertente, o funk passou a ser discutido na grande mídia ao ser
associado a pautas de saúde pública, como transmissão do vírus HIV, sexo e gravidez na
adolescência.
As movimentações proporcionadas pelo funk consolidaram o gênero musical sob a
ótica do entretenimento. Em 2004, por exemplo, MIA, cantora britânica, sampleou o Funk da
Injeção48 em Bucky Done Gun.49 A música, produzida por Diplo,50 influenciou na visibilidade
do funk para além do solo brasileiro, fazendo com que o ritmo ganhasse mais força dentro do
mercado musical nacional e internacional. Mesmo sendo um ritmo que carrega a produção
independente como uma de suas principais essências, conforme foi se modificando, o funk
começou a seguir a dinâmica do mercado fonográfico. Essa dinâmica ampliou a fonte de
47
Gíria para definir um grupo de amigos ou pessoas que estão sempre juntas.
48
Música lançada originalmente no ano de 2002, produzida por DJ Marlboro e interpretada por Deize Tigrona.
49
M.I.A. - „Bucky Done Gun‟. XL Recording. 23 de out. de 2008. 1 vídeo Youtube (3min40s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=2LFdPVf1diw&lc=z12esrbomv3hyrbqp04cjtnbjtr5fvwogyw0k.1491242968155980>.
Acesso em: 20 de ago. de 2020.
50
DJ norte-americano que pesquisou sobre o funk no Rio de Janeiro e pediu licença autoral ao DJ Marlboro para utilizar
trechos da música "Injeção" em sua produção.
26
trabalho e renda para jovens, mas também acarretou no processo de monopólio da indústria
funkeira, como evidencia-se em relato do MC Leonardo:
Existe uma "monocultura do funk", você só escuta um tipo de funk e não pode existir só isso.
O problema é que há um monopólio no funk. Os mesmos caras são donos de tudo: do selo, da
gravadora, da rádio, da TV, de tudo. E o funk é da favela. Ele é produzido, composto,
cantado, divulgado, tudo dentro da favela. Todos os funks que você ouvir em qualquer lugar
tiveram que tocar primeiro na favela para depois sair no mercado. E a favela não fica com
nada (Jornal Vozes da Comunidade, 2009, apud. LOPES, 2010, p.111).
Quanto maior a desigualdade social, mais perigo para a ordem essa humanidade supérflua
representa. A criminalização da pobreza e o Estado Penal são respostas a isso. Mas,
criminalizar a pobreza requer que se convença a sociedade como um todo que o pobre é
ameaça, revivendo o mito das classes perigosas que caracterizou os primórdios do
capitalismo. E isso envolve não somente legitimar o envio de caveirões para deixar corpos no
chão nas favelas, mas também criminalizar seus modos de vida, seus valores, sua cultura. O
funk está no centro desse processo (FACINA, 2009, p. 5).
51
Associação dos Amigos e dos Profissionais do Funk. Organização criada em 2008 a partir da iniciativa de produtores e
estudiosos do movimento funk.
52
Lei que reconhece oficialmente o funk como cultura do Estado do Rio de Janeiro. Após diversos debates, em 2009, o funk
foi personagem principal da audiência pública que aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Produtores, MCs,
estudiosos da área e políticos entoaram “funk é cultura” no intuito de mostrar a importância do ritmo nos processos de
comunicação e identificação.
27
53
Ação pública do Governo do Estado do Rio de Janeiro que busca combater e controlar o tráfico de drogas ilícitas em
comunidades cariocas. Para tal, realizam ações onde a polícia militar intervém “ocupando” a comunidade e instaurando um
posto de operação vinculado ao batalhão mais próximo da comunidade.
54
Vertente que marcou efetivamente a popularidade do funk paulista. O estilo, que tem como berço a periferia e o litoral de
São Paulo, surgiu em 2008 e ganhou maior notoriedade a partir de 2011. As produção focavam, principalmente, na exibição e
valorização de bens materiais de luxo como carros, roupas, bebidas e acessórios.
55
Produtora de conteúdo voltada para a juventude das favelas, criada por Konrad Dantas.
28
56
Produtora localizada em São Paulo e criada por Rodrigo Inácio. Em 2020, ocupa dentro do Youtube, a posição de sexto
maior canal do Brasil e segundo maior canal de funk do mundo.
57
Um dos principais difusores do Funk 150 bpm e um dos DJs mais influentes da atualidade. Além disso, é o idealizador do
Baile da Gaiola, um dos bailes mais famosos do Rio de Janeiro, realizado no Complexo da Penha.
58
Pessoa responsável por observar a movimentação perto dos pontos de venda de drogas e avisar caso veja algo suspeito,
como aproximação de policiais.
59
O Baile da Gaiola é um dos bailes mais importantes do cenário funk atual. Acontece na Penha, Zona Norte do Rio de
Janeiro e é o principal símbolo do “renascimento” do funk carioca.
29
O feminismo é uma filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica
a todas as mulheres. Essa opressão se manifesta tanto a nível das estruturas como das
superestruturas (ideologia, cultura e política). Assume formas diversas conforme as classes e
camadas sociais, nos diferentes grupos étnicos e culturas (TELES, 1993, p. 10).
As mulheres negras foram assim postas em vários discursos que deturpam nossa própria
realidade: um debate sobre o racismo onde o sujeito é homem negro; um discurso de gênero
onde o sujeito é a mulher branca; e um discurso sobre a classe onde “raça” não tem lugar. Nós
ocupamos um lugar muito crítico, em teoria. É por causa dessa falta ideológica, argumenta
Heidi Safia Mirza (1997) que as mulheres negras habitam um espaço vazio, um espaço que se
sobrepõe às margens da “raça” e do gênero, o chamado “terceiro espaço”. Nós habitamos um
tipo de vácuo de apagamento e contradição “sustentado pela polarização do mundo em um
lado negro e de outro lado, de mulheres.” (MIRZA, 1997: 4). Nós no meio. Este é, é claro, um
dilema teórico sério, em que os conceitos de “raça” e gênero se fundem estreitamente em um
só. Tais narrativas separativas mantém a invisibilidade das mulheres negras nos debates
acadêmicos e políticos. (KILOMBA, 2012, p. 56, apud RIBEIRO, 2019, p.22).
32
60
Na ótica patriarcal, às mulheres é destinada a responsabilidade de cuidar da casa, enquanto aos homens o espaço do
provimento econômico da família. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, há a problemática da chamada
“jornada dupla”, ou seja, carga de trabalho na esfera pública unida a carga do trabalho doméstico.
61
Esse tipo de violência sustenta-se na construção social das mulheres como seres inferiores que devem estar sempre
disponíveis aos desejos e expectativas dos homens. Dessa forma, ela se baseia na cultura patriarcal que desqualifica as
mulheres e faz com que sejam consideradas coisas e objetos de posse dos homens.
62
Homicídio de mulheres motivados pela discriminação de gênero manifestando-se, principalmente, através violência
doméstica.
33
enquadram nessa categoria, é posta no grupo “das que não prestam”. Dentro dessa lógica, a
preparada e a cachorra é a mulher “disponível e vulgar”, enquanto a tchutchuca e a gatinha, é
a mulher “tranquila e meiga”. Essa perspectiva não surge no funk e é propagada ao longo da
trajetória da humanidade através de diversas narrativas, seja histórica, mítica ou religiosa.
Essas atribuições evidenciam a dominação masculina sobre as mulheres, que não são
definidas por si mesmas, mas partindo das necessidades dos homens. Logo, para que possam
se posicionar a partir de suas próprias concepções, as mulheres precisam se empoderar e lutar
por sua própria autonomia. Segundo Ana Alice Costa:
Cada mulher dentro da sua realidade, de acordo com suas experiências pessoais e
profissionais, pode fomentar o empoderamento dela e de suas companheiras. Nos Bailes de
Corredor, por exemplo, por mais que fosse uma prática majoritariamente masculina, mesmo
que com pouca visibilidade, também havia as galeras femininas. As chamadas “minas
disposição” buscavam se auto afirmar dentro da lógica daquela prática, mostrando que aquele
lugar também podia ser ocupado por elas. Assim também aconteceu nos Festivais, quando
MC Dandara conquistou o primeiro lugar com o Rap da Benedita e também nos palcos, com
MC Cacau, considerada a primeira MC mulher de funk.
Considera-se neste trabalho, que Verônica Costa, MC Dandara e MC Cacau fazem
parte da primeira geração de mulheres no universo funk, que se inicia nos anos 1990. Afinal,
elas foram pioneiras e movimentaram o cenário da época.
A partir dos anos 2000, a inserção das mulheres no funk ganhou muito mais evidência.
Esse período marca a segunda geração que tem representantes como Tati Quebra Barraco,
Deize Tigrona e Valesca Popozuda. Elas ganharam visibilidade por pegar no microfone e
abordar os diversos temas que envolvem o ser mulher. As MCs tornaram-se elemento de
resistência e representatividade no cenário funk e na sociedade em geral. Tati Quebra Barraco,
por exemplo, foi a primeira a conseguir destaque no cenário nacional através dos veículos de
comunicação de massa e é vista como a MC que levou o funk feminino para o mundo. Em
2004, ela subiu na passarela do São Paulo Fashion Week e se apresentou no Palácio da
República de Berlim representando, principalmente, a mulher negra, pobre, gorda e favelada
34
Assim como qualquer movimento de pauta social, o feminismo deve ser respeitado,
discutido e analisado a fim de evoluir em seus debates para fomentar cada vez mais a
35
Comecei a cantar para elas e comecei a trazer esse público feminino junto pra mim, e mostrar
que a gente tinha como crescer, (...) muitas passavam por problemas. Quando eu chegava em
uma comunidade, elas começaram a se identificar com as coisas e falavam assim “toma essa
carta aqui. Porque eu passei por um abuso, eu levava porrada do meu marido”. Recebi várias
cartas. E foi assim. Quando eu fui vendo aquilo eu falei “nossa, eu sofria com aquilo, mas não
sou só eu que sofria. As pessoas também sofrem.” E eu falei chega. Vamos lutar e vamos lutar
juntas. E foi quando eu consegui trazer todas. É claro que a gente não vai conseguir agradar
todo mundo, mas eu digo que hoje, graças a Deus, eu tenho 99% delas ali comigo no palco
gritando por igualdade, por liberdade, por ser respeitada” (O Brasil Que Deu Certo Entrevista:
Valesca Popozuda, 2017 apud MONTEIRO, 2017, p.52).
36
suficiente por que é do universo funk? Ou o problema é ela “rebolar e mostrar a bunda” só por
que é no ritmo do funk?
O processo educacional não está ligado somente aos métodos tradicionais de leitura e
escrita, mas também ao informal, que se manifesta nas experiências diárias e nas atividades
culturais, como a música. Assim como acontece no processo educacional, a comunicação
também é multidimensional, vai além das regras gramaticais e envolve símbolos e códigos
que funcionam como elementos de representação e identificação entre as pessoas envolvidas.
A linguagem deve ser entendida e investigada observando sua influência, conexão e
relação a partir de questões sociais, culturais e econômicas de acordo com os contextos e usos.
Segundo análise proposta por Paiva:
As variantes linguísticas estigmatizadas pela comunidade de fala possuem, muitas vezes, uma
função de garantir a identidade do indivíduo com um determinado grupo social, um sistema
de valores definido. Isso é, são formas partilhadas no interior de um grupo e assinaladoras de
sua individualidade com relação a outros grupos sociais. Se um indivíduo deseja integrar o
grupo, deve partilhar, além das suas atitudes e valores, a linguagem característica desse grupo.
Nesse caso, determinadas formas de linguagem se investem de um status particular, embora
sejam desprovidas de prestígio na comunidade linguística em geral (PAIVA, 2003, p. 40).
forças sistêmicas que os oprimem, como também atuam no sentido de mudar as relações de
poder existentes. Portanto, o empoderamento é um processo dirigido para a transformação da
natureza e direção das forças sistêmicas que marginalizam as mulheres e outros setores
excluídos em determinados contextos” (BATLIWALA, 1994, p. 130 apud SARDENBERG,
2006, p.6).
O empoderamento consiste de quatro dimensões, cada uma igualmente importante, mas não
suficiente por si própria, para levar as mulheres a atuarem em seu próprio benefício. São elas
a dimensão cognitiva (versão crítica da realidade), psicológica (sentimento de autoestima),
política (consciência das desigualdades de poder e a capacidade de se organizar e de se
mobilizar) e a econômica (capacidade de gerar renda independente) (STROMQUIST, 2002,
1995, p.232 apud SARDENBERG, 2006, p.6).
De acordo com essas dimensões, as mulheres podem ter metas, projetos e objetivos.
Conforme as considerações de Sardenberg:
Empoderamento significa que esses grupos oprimidos poderão ter acesso às decisões da vida
pública, para além do voto a cada quatro anos, em conselhos de bairros, plebiscitos, consultas
prévias, entre outros diversos mecanismos de participação que abrem a via para tantos
diálogos e demandas sufocadas (BERTH, 2019, p.82).
Isso significa dizer que falar em empoderamento de um grupo social é necessariamente falar
sobre democracia e expansão da sua atual restrita aplicação. Empoderamento, na vida política
pública, também é efetivado pelo exercício dos direitos públicos, entre os quais a participação
como cidadão e cidadã na discussão pública é a principal ferramenta (BERTH, 2019, p.83).
As letras interpretadas pelas MCs dentro dessa esfera enfatizam a discussão acerca da
violência de gênero, física e psicológica, e as relações de poder dos homens sobre as
mulheres. Nesse sentindo, fomentam o empoderamento das mulheres acerca da igualdade de
direitos nos diversos âmbitos a fim de que elas vivam livremente e assumam seus papeis
sociais, partindo de suas próprias necessidades.
63
GAIOLA DAS POPOZUDAS - Funk do Lula. GaiolaDasPopozudasBR. 1 de abr. de 2009. 1 Vídeo Youtube (2min46s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7S9wDJZSpz8>. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
43
Cognitiva Cultural Transformar as Funkeira sim, mas tem Interpretada por MC Rita,
estruturas que quem gosta. Favela a música é um “bater no
reforçam e sim, e quem não gosta, peito” para defender as
perpetuam a não quer admitir que a funkeiras e as favelas. O
discriminação MC Rita incomoda.65 trecho destaca o fato do
de gênero e as empoderamento de
desigualdades mulheres funkeiras e
sociais. faveladas incomodar quem
tenta desvalorizar e
diminuir suas
manifestações.
64
LUDMILLA E ANITTA- Favela Chegou - DVD Hello Mundo (Ao Vivo). Ludmilla. 27 fev. de 2019. 1 Vídeo Youtube
(3min2s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3nmIJ-Mohtk>. Acesso em: 30 jul. de 2020.
65
MC RITA - Tem quem gosta (Kondzilla.com). Canal KondZilla. 29 de set. 2018. 1 Vídeo Youtube (3min29s). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=8-ANi3Cd1gg>. Acesso em: 30 jul. de 2020.
66
DEIZE TIGRONA - Miniatura de Lulu. Discoteca do Kikão. 25 de nov. de 2016. 1 Vídeo Youtube (3min20s). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=nsJScxZ_Kg8> Acesso em: 30 de jul. de 2020.
44
67
MC REBECCA - Tu tá achando que é amor (Clipe Oficial). Rebecca Oficial. 14 de ago. de 2020. 1 Vídeo Youtube
(3min7s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=u8D52VtltoM>. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
68
MC CAROL - Meu namorado é maior otario Clip. DJJUNIOR NITEROI. 13 de nov. de 2012. 1 Vídeo Youtube
(2min49s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vPh-GPz2rWs> Acesso em: 30 de jul. de 2020.
45
69
MC CAROL - A vingança (Prod. Leo Justi). Mc Carol Oficial. 31 de out. de 2016. 1 Vídeo Youtube (2min41s). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=nsV1A-m04Gs> Acesso em: 30 de jul. de 2020.
70
POCAH - Pode Chorar (Clipe Oficia). Pocah. 23 de ago. de 2019. 1 Vídeo Youtube (2min45s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=6XRJXGes0Bc>. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
46
71
GAIOLA DAS POPOZUDAS - Larguei meu marido virei puta - putaria. PrimoDoFunk. 14 de ago. de 2008. 1 Vídeo
Youtube (3min22s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=duJe5YCQhoY>. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
47
72
MC CAROL - Não foi Cabral (Leo Justi Remix). Mc Carol Oficial. 31 de out. de 2016. 1 Vídeo Youtube (3min44s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yYs5U5OjUeU>. Acesso em: 3 de ago. de 2020.
73
POCAH - Não sou obrigada (Clipe Oficial). Pocah. 29 de mar. de 2019. 1 Vídeo Youtube (2min51s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HutLSVbLWHM>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
74
MC MIRELLA - Vou tacar (Videoclipe Oficial). Thalles Produções. Detona Funk. 20 de abr. de 2018. 1 Vídeo Youtube
(2min51s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Kw3YcElmktk>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
48
75
MC SABRINA - Sexy. Funkneurotico. 17 de ago. de 2008. 1Vídeo Youtube (3min20s). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=YOBDktDS1MM>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
49
A sorte da menina é muito diferente. Nem mães nem amas têm reverência e ternura por suas
partes genitais; não chamam a atenção para esse órgão secreto de que só se vê o invólucro e
não se deixa pegar; em certo sentido, a menina não tem sexo. Não sente essa ausência como
uma falha; seu corpo é evidentemente uma plenitude para ela, mas ela se acha situada no
mundo de um modo diferente do menino e um conjunto de fatores pode transformar a seus
olhos a diferença em inferioridade (BEAUVOIR, 1967, p. 14).
No patriarcado, a mulher é ensinada a esconder seu corpo e expor ele somente no intuito
de seduzir e satisfazer o homem. É por conta dessa visão machista, que muitas pessoas
acreditam que a roupa que uma mulher veste é fator justificativo para ela sofrer abusos.
Enquanto o homem é ensinado a externar seu poder através da sua estrutura física, como
acontece com a lógica do falocentrismo, a mulher carrega a culpa de mostrar seu corpo. Ainda
de acordo com Beauvoir:
No rapaz, os impulsos eróticos só confirmam o orgulho que tira de seu corpo: neste ele
descobre o sinal de sua transcendência e de seu poder. A moça pode conseguir assumir seus
desejos, mas eles permanecem o mais das vezes vergonhosos. Seu corpo inteiro é aceito com
embaraço (BEAUVOIR, 1967, p. 70).
O empoderamento na esfera estética fomenta o respeito ao corpo das mulheres, tanto por
elas próprias, mas principalmente pelos homens. Além disso, enfatiza que o corpo da mulher
não deve ser analisado sob a perspectiva masculina, muito menos entendido como mero
objeto de deleite dos homens.
Ainda dentro dessa dimensão, há a observação da esfera da sexualidade. A lógica
patriarcal, com suas expressões machistas, também está presente nessa esfera ao impor
moralismos e tabus relacionados ao sexo da mulher e sua intimidade. Falar livremente sobre a
vagina causa constrangimento, dizer que a mulher se masturba e que ela quer gozar no ato
sexual, nem pensar.
O machismo impregnado na sociedade, infelizmente, se faz presente até mesmo no
âmbito mais íntimo, onde deveria haver a liberdade máxima: “entre quatro paredes”. As
mulheres se sentem pressionadas a demonstrar que estão sentindo prazer, muitas delas
chegam a fingir o orgasmo a fim de não envergonhar o parceiro, como se a satisfação dela não
fosse dela, mas sim um merecimento, um prêmio para o homem. Devido à visão de que a
mulher está ali para servir à sexualidade masculina, muitas delas não se preocupam com o
50
próprio prazer e pensam somente em agradar o companheiro. E é para romper com essa lógica
de submissão, que as MCs falam abertamente sobre preferências e expectativas sexuais,
manifestando o direito ao prazer.
Vale salientar que a sexualidade não está ligada somente à prática do ato sexual, mas
também ao entendimento da mulher sobre seu corpo e sua saúde física, emocional e
psicológica. Falar sobre sexualidade, portanto, é uma maneira de empoderar as mulheres para
que elas se conheçam, tenham prazer e ampliem o diálogo sobre o tema com amigas,
familiares, parceiros e parceiras.
As esferas da estética e da sexualidade fomentam o autorrespeito, o autocuidado e a
valorização das mulheres.
76
MC REBECCA – Coça de Rebecca (Kondizilla.com). Canal KondZilla. 27 de set. de 2018. 1 Vídeo Youtube (3min38s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_6CxZrx8LqU>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
51
77
TATI QUEBRA BARRACO – Sou feia mas tô na moda. Junior Lopes. 20 de mar. de 2012. 1 Vídeo Youtube (3min05s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tVNjQ8F-CAA>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
78
HEAVY BAILA & BABY PERIGOSA – Grelinho de diamante. Heavy Baile. 14 de jun. de 2019. 1 Vídeo Youtube
(2min21s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_nZ2XmxvvvU>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
52
79
MC NICK – Mete com força com talento - Bota que bota (DJ JL). Funk RP. 3 de nov. de 2018. 1 Vídeo Youtube
(2min35s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HEw9n6txxiQ&t=6s>. Acesso em: 2 de ago. de 2020.
80
MC CAROL & KAROL CONKA - 100% Feminista (prod. Leo Justi & Tropkillaz). Mc Carol Oficial. 7 de out. de 2016. 1
Vídeo Youtube (3min19s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W05v0B59K5s>. Acesso em: 5 de ago. de
2020.
81
MC REBECCA – Tô presa em casa (Clipe Oficial). Rebecca Oficial. 25 de abr. de 2020. 1 Vídeo Youtube (2min15s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=L5eG_7GuKFY>. Acesso em: 5 de ago. de 2020.
53
82
MC DRICKA – Beijo no pescoço (Clipe Oficial) DJ Biel Beats. MC Dricka. 17 de jul. de 2020. 1 Vídeo Youtube
(2min39s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Oj4U_zSVHxA>. Acesso em: 5 de ago. de 2020.
83
O “afronte” é uma gíria que quer dizer encarar, brigar, provocar e desafiar.
54
84
DVD FURACÄO 2000 TSUNAMI 1. Furacão 2000. 11 de jan. de 2011. 1 Vídeo Youtube (2min39s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=gcOkX_CW1aQ>. Acesso em: 6 de ago. de 2020.
85
VALESCA POPOZUDA – Beijinho no ombro (Official Music Video). Valesca Popozuda. 27 de dez. de 2013. 1 Vídeo
Youtube (7min43s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=73sbW7gjBeo> Acesso em: 6 de ago. de 2020.
86
BEIJINHO NO OMBRO – Nova versão completa (Seda ft. Valesca Popozuda). Seda. 7 de jul. de 2017. 1 Vídeo Youtube
(1min21s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hAal-CRqRWA>. Acesso em: 6 de ago. de 2020. A versão
foi realizada para o projeto #JuntasArrasamos da Seda (empresa de produtos de beleza feminina, para enfatizar a importância
da sororidade e colaboração feminina.
87
GAIOLA DAS POPOZUDAS – Funk do Lula. Gaiola das Popozudas BR. 1 de abr. de 2009. 1 Vídeo Youtube (2min46s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7S9wDJZSpz8>. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
55
88
MC CAROL & KAROL CONKA - 100% feminista (prod. Leo Justi & Tropkillaz). Mc Carol Oficial. 7 de out. de 2016. 1
Vídeo Youtube (3min19s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W05v0B59K5s>. Acesso em: 5 de ago. de
2020.
89
DVD TSUNAMI 2 JULIANA E AS FOGOSAS - Solteirona na pista. Furacao2000 oficial. 12 de jul. de 2013. 1 Vídeo
Youtube (1min52s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rpoZspR964A>. Acesso em 7 de ago. de 2020.
90
POCAH, MÄOLEE, OIK – Toda sua (CLIPE OFICIAL). Pocah. 23 de out. de 2020. 1 Vídeo Youtube (2min45s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SjCknkzZ1pI>. Acesso em: 25 de out. de 2020.
56
91
QUE PRESSÄO É ESSA – Verônica Costa. Veronica Costa Mãe Loira. 2 de out. de 2020. 1 Vídeo Youtube (4min38s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lpvE8oomzQ0>. Acesso em 25 de out. de 2020.
57
Existem mais mulheres do que homens no mundo – 52% da população mundial é feminina -,
mas os cargos de poder e prestígio são ocupados por homens. [...] quando um homem e uma
mulher têm o mesmo emprego, com as mesmas qualificações, se o homem ganha mais é
porque ele é homem (ADICHIE, 2014, p. 20).
92
Para o estudo em questão, utiliza-se a definição evidenciada no site do SEBRAE/SC: Empreendedorismo é a capacidade
que uma pessoa tem de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo
positivo para a sociedade. Pode ser um negócio, um projeto ou mesmo um movimento que gere mudanças reais e impacto no
cotidiano das pessoas. Disponível em:< https://atendimento.sebrae-sc.com.br/blog/o-que-e-
empreendedorismo/#:~:text=Empreendedorismo%20%C3%A9%20a%20capacidade%20que,impacto%20no%20cotidiano%2
0das%20pessoas.>. Acesso em: 28 de out. de 2020.
93
TATI QUEBRA BARRACO – Sou feia mas tô na moda. Junior Lopes. 20 de mar. de 2012. 1 Vídeo Youtube (3min05s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tVNjQ8F-CAA>. Acesso em: 26 de out. de 2020.
58
94
LUDMILLA - Verdinha (Official Music Video). Ludmilla. 29 de nov. de 2019. 1 Vídeo Youtube (2min41s).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lYFNyj8tjDg>. Acesso em: 26 de ago. de 2020.
95
MC DRICKA - E nós tem um charme que é dahora (Clipe Oficial). MC Dricka. 9 de mai. de 2020. 1 Vídeo Youtube
(2min31s). Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=h53iBmEKupg>. Acesso em: 26 de ago. de 2020.
59
96
PAPATINHO – Tá com o Papato ft. Anitta, Dfideliz, BIN. Papatunes Records. 28 de ago. de 2020. 1 Vídeo Youtube
(3min34s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rEaheZiIRVU>. Acesso em: 3 de set. de 2020.
97
MC MARCELLY – Fazendo dinheiro. Mc Marcelly. 6 de jan. de 2020. 1 Vídeo Youtube (1min39s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_NjrZ2L9LaI>. Acesso em: 3 de set. de 2020.
60
A análise dos trechos escolhidos, sob a ótica das dimensões, esferas e objetivos,
demonstra como o funk feminino é capaz de abordar diversas temáticas relevantes para
disseminar a equidade de gênero.
A observação, pesquisa e exposição detalhada de cada trecho, a partir da metodologia
apresentada, possibilita compreender a importância do ritmo para evidenciar as diversas
pautas pertinentes para as mulheres.
A partir do destaque proporcionado pelas MCs para os temas que envolvem a vivência e
experiência feminina, o funk é um canal potente para fomentar e fortalecer a relevância do
conceito de empoderamento para a emancipação individual e, consequentemente, dos diversos
grupos de mulheres.
98
AZZY – Faixa Rosa (Prod. Boca Dos Beats). Azzy. 10 de ago. de 2020. 1 Vídeo Youtube (3min27s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_lwXyo8OlqQ>. Acesso em: 3 de set. de 2020.
61
Conclusão
O funk, ao longo da sua trajetória, desde suas origens e influências, até o seu
desenvolvimento, evolução e consolidação como manifestação de cultura popular, tem sido
mecanismo de resistência. O gênero musical tornou-se um canal potente para dar voz às
favelas ao evidenciar e valorizar seus modos de vida e cotidianos. Mesmo com as diversas
tentativas de repressão e criminalização impostas ao gênero, o funk, devido a sua
autenticidade, se consolidou sob os aspectos sociais, culturais e mercadológicos, dando
visibilidade aos seus representantes e aos temas que emitem.
A representatividade proporcionada pelo funk ainda se faz mais evidente quando
impulsionada pelas MCs. Em uma sociedade em que a cultura patriarcal e o machismo ainda
se fazem presentes, ter mulheres em posição de destaque – fomentando em seus discursos,
suas vivências e necessidades - é fundamental para ampliar a discussão da equidade de gênero
dentro do funk e na sociedade em geral.
Conforme observado ao longo do trabalho, através da história de desenvolvimento do
gênero musical, da importância das manifestações feministas e dos conceitos de
empoderamento, o funk feminino é extremamente relevante para iluminar os diversos temas
que envolvem o ser mulher, principalmente, para aquelas que a sociedade preconceituosa e
racista sempre tenta silenciar: a mulher negra, pobre e moradora de favela.
O processo de inserção e manutenção da mulher nessa tipologia musical, mediante
análise das gerações do funk feminino, demonstra como elas tomaram para si seus locais de
fala, a partir do questionamento acerca das relações de poder, demonstração das opressões
sofridas e libertação das amarras patriarcais.
Ao utilizar os discursos propagados por elas, o estudo aplicou as dimensões do
empoderamento (STROMQUIST, 2002), os objetivos do empoderamento (SARDENBERG,
2006) e as esferas do empoderamento para apontar como o funk funciona potencializando o
empoderamento da mulher.
A análise dos trechos escolhidos para o estudo, sob a perspectiva dos aspectos
mencionados, evidencia como, através da capacidade de propagação do funk, as MCs fazem
circular conexões de sentido entre temas como: importância do funk e da favela, violência de
gênero, autoestima, autoconfiança, autocuidado, direito ao prazer, valorização e aceitação de
seus corpos, liberdade sexual, união entre mulheres, desigualdades de poder, controle de suas
próprias vidas e geração de renda.
62
Referências
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2014.
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