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mnlo. não é possIvel questlonar sem ser questionado, avaliar sem ser avaliado.
inovar-se. uando
Qua questionamos, não
sentido. alimentá-las; assim,pretendemos
sem
inovar
acabar com as
ões, mas, em certo a idéia de
que. resolver
mas é correta em certa medida, mas paranóica e irreal em outra. Muitasosvezes,
pro-
ncontramos a crença de que o professor, uma vez
formado, é competente. Temos
ai a visão moderna de tormaçao como trajetória linear acabada. Na verdade, a
dia mais correta de aprendizagem e aquela coerente com sua própria
lógica, ou
seia, aquela que aprende sempre, ja que sua inteligência no está na
estocagem
reprodutiva, mas na reconstruçao constante. Aprender não pode aludir, nunca, a
uma tarefa completa, a um prcedimento acabado ou a uma pretensão totalmente
realizada: ao contrario, indica vivamente a dinâmica da realidade complexa, a
finitude das soluções ea incompletude do conhecimento.
O lado ainda mais incongruente da perspectiva de resolver problemas estaria
na tendência escolar comum de aplicar receitas. Perdemos o sentido da
problematização, para ficarmos apenas com a solução recebida pronta, como o
vestibular: então, só resolvemos problemas e nada fazemos de inteligente. Como
regra, entupimo-nos de memorizações, sem aprender nada ou quase nada. Os alu-
nos dos vestibulares buscam *macetes", esquemas simplificados, táticas
reducionistas facilitadoras. Seus professores também apostam nisso e. por isso, os
melhores são aqueles que mantêm a atenção, são divertidos e explicam com clare-
za. Diante de uma turma de mais de 100 alunos, seria impraticável fazer uma aula
reflexiva, na qual todos fossem levados a decodificar as questões por dentro. a
reconstruir possíveis caminhos de argumentação e contra-argumentação, a passar
pelo processo inteiro de construção e desconstrução da problemática. Provavel-
mente, o professor seria vaiado e logo demitido. Não se trata de aprender. porque
OS problemas são tratados pela via da desproblematizaço e da receita pronta.
Consuma-se a tática reprodutivista.
Em vez da visão positivista linear, seria mais educativo cultivar outra de
caráter dialético e histórico-estrutural. Os problemas não manifestanm apenas a
dureza da vida, as desigualdades sociais, o sofrimento, mas, na outra face da mes
ma moeda, assinalam a dinâmica da realidade sempre em polvorosa. Sinalizam o
nal dos tempos que em tudo deixa sua marca. Indicam o contexto espacial. onde
udo está de alguma forma embutido. Há estruturas, por certo, porque as coisas
do
acontecem de qualquer maneira e a história não pode ser simplesmente in-
Cntada. O ser humano faz sua história, mas dentro de condiçðes dadas, como diz
Onaterialismo histórico. Contudo, há história, que não é apenas um rito de passa-
a s uma referência explicativa, tanto quanto a estrutura. Há, assim, proble-
tod ao passam, porque mais propriamente passamos por eles. Por exemplo,
ni soCiedades têm mercado, cuja tendência inerente é excludente, pois orga-
4 Carëncia material e seleciona os acessos. O mercado capitalista e apenas
N Organizado no capitalismo, mas, como houve antes, haverá depois. porque
larste sociedade que não tenha esse problema. Seria possivel dizer algo simi-
lar a
respeito da desigualdade social, que faz parte da dialética contraditória de
toda
equalquer sociedade. Entretanto, os oroblemas estruturais, por estarem na
50 PEDRO DEMO
estrutura, não são o problema, porque problema mesmo são os históricos, aquol.
que inventamos. Assim, se, por um lado, não conseguimos produz1r uma socieda
de sem desigualdade,. por outro, podemos mudar aquelas que são históricas.
aparecem grandes diferenças. mesmo no capitalismo: ha sociedades que mantem
seu indice de Gini' por volta de 0.3 ou 0,4. enquanto a bras1leira chega a 0,7, Por
que seriam tão diferentes? Não é por destino ou por historia. Podemos mudar isto
embora jamais pudéssemos instaurar uma sociedade sem problemas. Tal como na
democracia, não promete que possa exterminar o poder, mas pode democratizá-
lo. Eis o espaço das revoluções.
Nesse sentido, nada é mais simples na vida do que encontrar problemas.
São muito mais abundantes do que as soluções. Vale dizer certamente que é
necessário ir atrás das soluções, não só empilhar problemas. Em termos edu-
cacionais, será o caso encontrar um caminho intermediário, que saiba proble
matizar para também desproblematizar. Saber pensar, todav1a, começa sem-
pre pela capacidade de problematizar, porque é a forma inteligente de despro-
blematizar. Caso contrário, simplificamos, banalizamos, distorcemos em ex-
cesso. Basta que saibanmos colocar o intento de problematização no seu devi.
do lugar: é uma habilidade propedêutica, não o sentido da coisa. Problemati
zamos para melhor desproblematizar e, assim fazendo, não caímos na arma-
dilha de querer acabar com Os problemas. Com isso, chegamos também ao
nível fundamental do saber pensar, que é a importância dos erros.
Aprende-se
muito a partir dos desacertos, sobretudo porque nos damos conta de nossa
falibilidade. E preciso analisar melhor, olhar mais longe, apender mais. Só
não erra a máquina totalmente linear, reversivel, que faz para frente o mesmo
que faz para trás, que nada inventa.
O aperfeiçoamento
constante da
zagem permanente é diretamente proporcional aos erros cometidos e às suas
aprendi-
retomadas. Nesse sentido, a idéia apresada de resolver
diria
os
problemas coinci
com a
pretensão de acabar com os erros, cometendo o pior deles.
Portanto, uma parte essencial da aprendizagem
é o "desconfiômetro", aque-
le bom senso
que fica sempre com o pé atrás, que testa de
nho, que refaz as contas. Muitos novo, que diz mansi-
de aprender, professores não se
propõem mais a necessidade
pois jáensínam.
Deixam de estudar, não se atualizam,
no
tempo. Perderam o "desconfiometro". 0 sinal mais emboloram
direto disso é o mecdo da
avaliaçãoe da crítica. Toda crítica soa como ofensa,
ber que o novo vem da porque deixaram de perce
desconstrução, não dos
pedagogicamente adequados para a motivação doelogios, que, mesmo podendo sct
aluno, não levam a aprender.
que se elogia, fica como está. Para
mudar não há jeito é
-
geralmente, dói. Por isso, seria possível dizer que a preciso destazer,
-
e s ou de descobrir padroes tambem pode explicar, pelo menos até certo ponto,
que se aprende
melhor uma segunda lingua quando
Ppor criança. E esta possui
folha. capaz de multiplicar as conexões, de que
um
cerebro novo em guardá-las mais
facilmentee de retazë-las em cada nova situação com extrema maleabilidade, que
iá não se tem aos S0 ou 6U arnos de idade. Por isso, parece correto ver nisto um
fraco profundo da aprendizagem humana, porque aponta para uma marca extre-
namente criativa, porquanto descobrir padrðes supõe uma real descoberta, já que
OS padroes são implicCitos. E tundamental ler a realidade com acuidade para ver
como algo se relaciona mais ou menos, que relações estão escondidas, embora
determinantes. o que muda mais e menos, como se comporta a surpresa. Trata-se
deatividadetipica e profundamente reconstrutiva. A complexidade das coisas
desafia-nos a refazer permanentemente os padrões que imaginamos ver nela, ao
mesmo tempo que nos mostra algo no fundo completamente indevassável, signi-
ficando um desafio de abertura ilimitada para a criatividade. Esta, porém, não é
ilimitada. pois somos limitados, mas o desafio é.
Cada novo componente traz pelo menos dois novos problemas para a desco-
berta de padrões: se puder ser encaixado em padrões já reconhecidos, pode causar
apenas rearranjos internos: porém, se não puder ser encaixado, pode provocar a
indentificação de novos padrões. Nesse sentido, quando usanmos o termo"padro",
não estamos em primeiro lugar sinalizando que a estrutura predomina sobre a
história, mas apenas advertindo que toda dinâmica tem seus algoritmos. Todavia,
tais padrões não são padrões da estática, mas da dinâmica. As modernas teorias
admitem que os padrões nunca são totalmente padronizados, porque, se assim
fosse, perderíamos de vista a inoção de complexidade. Os padrões da dinâmica
nunca se repetem da mesma forma, porque não são lineares por definição; assim,
tais padrões revelam modos de mudar, não modos de resistir.
Outra idéia decisiva da aprendizagem é a sua tessitura reconstrutiva de teor
politico, refletindo sobretudo construção da autonomia do sujeito, sinalizada
a
hoje não só pelas ciências humanas, mas principalmente pelas ciências naturais.
ora lembrar a obra
em penetrar mais profundamente nessa perspectiva, basta por
ae Kaskin e Bernstein (1987), no fim da década de 80, sobre o "conhecimento
livro aparece a
Teconstrutivo", Suas posições provocaram grande polêmica (no
extrema força a vertente
polemica com Chomsky), porque já sinalizavam com ao lado da marca
POs-moderna de crítica ao colonialismo da ciência moderna,
qualidade política inequivoca. No
texto
strutiva, que entendem como
do conhec-
nrodutório, Bernstein aponta explicitamente para a tessitura politica
conhecida ligaço com o
reconstrutivo, indicando principalmente a
falando, todo conhe-
ronialismo (1987, p. 1-7). Todavia, epistemologicamente
atividade do sujeito, processo de inter-
ereconstrutivo, porque é sempre de motivar a
PCldçao participativa e referência culturalmente plantada, capaz
(1998), ao perguntar-
ancipação e sobretudo a subalternidade, como diria Harding
diria Collins (1998), ao descobrir que,
O Conhecimento é multicultural, ou como da ocidental, o móvel prin-
s varias propostas cientificas da humanidade para além
desentendimento conflito entre posiçoes.
P Sempre teria sido o
eo
54 PEDRO DEMO
muitas análises biolo
reconstrutiva é
hoje cm
acentuada ogica-
A perspectiva
Maturana (1997),
seguida da de Varela (2000 que
como a de
mente plantadas, a qual a atividade lingüisttica
hermeneutica segundo
comcidem com a expectativa ser mais deterministas
interpretativa. As posiçðes podem
humana è sempre a realidade pratica
se magna que
conhecido de Maturana). quando
caso mais
humana, ou mais
equilibradas. quando se aceita
para a marca metafórica d
mente não intlui na pereepçåo
intluencia mútua (é o caso
de Varela), ou se aponta
1999). Por outro lado, sempre surgem
voze
atividade mental (Lokoff e Johson. c o m o se a percepcãai
reconstrucionista.
exeessos da perspectiva
que rejeitam os tambem entre os defensores da
criasse a realidade. algo que aparece
Costum0 usar a terminologia da
e Searle ( 1998).
reconstrutivismo, como Harding evitar tais excessos
da realidade. para
reconstrução". enm vez da *construço
dela, e a aprendizagem reconstrutiva é
Reconstruir a realidade significa partir
aquela que parte do que já aprendemos. retoma a agenda de Paulo Feire, e não a
Além disso. a visão reconstrut1va
da educação e da apren-
da Escola-Nova, porque aposta na "politicidade
agenda de gestar sujeitOs capazes de história própria.
dizagem (Torres. 1998). Trata-se formal e politica, buscando no conhe-
individual e coletiva. Combina a qualidade
cimento o instrumento, e na educação, o fundamento ético-politico. A primeira
antes de qualquer inserção n0
perspectiva da educação é a emancipatória, muito
mercado, por mais que isto tambem seja importante. A problemátiea mais dura de
fundo é a pobreza politica, a condição de ignorante que sequer consegue saber
que é pobre e que não atina com a necessidade de tornar-se sujeito das próprias
soluções. deixando de depender dos outros. A situação mais indigna do ser huma-
no não é passar fome, mas ser massa de manobra. A aprendizagem reconstrutiva
significa. então, saber desconstruir a inconsciência, para saber ler a realidade e
nela intervir com autonomia. A "epistemologia da curiosidade" aponta para a
habilidade de despadronizar padrões, enquanto a descoberta de padrões poderia
estabelecer a expectativa de fixá-los, de manté-los e de coagulá-los. A aprendza
gem permanente é cultivada pela disposição também de "desaprender"., de
desconstruir e de desfarer. própria da curiosidade que não påra diante denada,a
tudo quer decompor para ver suas partes, em tudo mete a mão para apalpar, setn.
manusear, a tudo quer para que nada
ver
fique
escondido. A curiosidade e a ma
gem viva do paradigma "desparadigmatizante", por mais recer
que isto possa pauc
dialeticamente contraditório. Do ponto de vista do
oprimido, trata-se sobretudo u
despadronizar um tipo de história construída sobre sua ruina. E claro que despadroina"
padrões também é padrão, mas mais flexivel, maleável, aberto e de apre der.
Por fim, podemos destacar na capaz
Os limites como aprendizagem
desafios e os desafios como
a marca da
tomar
sabedoria a aber e
empreitadas limitadas. a"
potencializar incompletude,
a
enfrentar
falibilidade e querer nmais
a ue
Se
Notas
Medida de desigualdade de 0 al, sendo que 0 é total igualdade, e 1, total
2Brincando com as palavras, podemos dizer que o estruturalismo
desigualdade.
positivista assim
ex
pressa: só entendemos a variação, quando descobrimos como invariavelmente Varia
Se
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