Você está na página 1de 20

Processos de aprendizagem

e não aprendizagem
Resolução de Problemas, como se Aprende

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Maria Ambrosina Costa

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Unidade Resolução de Problemas, como se Aprende

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Thinkstock/Getty Images
• Resolução de Problemas – Como se Aprende
• Unidades Funcionais – Luria (1998)

Discutiremos as estratégias possíveis para a elaboração mais adequada da


aprendizagem, como podemos avaliar os modelos que estruturam a aprendizagem
e como isso pode ser observado nos resultados escolares e não escolares.

Estamos avançando no nosso propósito: conhecer um pouco mais sobre o que é o aprender.
Nessa unidade, veremos quais são as estratégias usadas para que essa aprendizagem se dê da
melhor maneira.
Nosso principal objetivo aqui será analisar as várias formas de aprendizagem e como podemos
fazer para que elas aconteçam.
Não se esqueça de acessar aos materiais didáticos e de realizar as atividades avaliativas dentro
dos prazos determinados no cronograma.

5
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

Contextualização

Vamos continuar em nossa jornada sobre o que é o aprender e como ele se processa, quais
etapas estão envolvidas. Para tal, reflita sobre esses aspectos:
Aprendizagem escolar é o que se chama mesmo de aprender?
Estudar é um processo externo?
Existem estratégias para a aprendizagem?
Essas questões devem ser ponto de partida da nossa discussão, pois não devemos pensar
apenas no resultado da aprendizagem, mas em como se pode chegar naquilo que acreditamos
ser o melhor para a aprendizagem.
Precisamos compreender quais os mecanismos estratégicos que nosso cérebro estabelece
para a organização da aprendizagem, pois assim podemos criar ferramentas para que todos os
envolvidos nesse processo possam ter seu melhor desempenho.
Vamos pensar sobre isso?
E mais uma questão para reflexão: quais os atores e as representações necessários para
construir estratégias para o aprender?

6
Resolução de Problemas – Como se Aprende

Nós “homens do conhecimento”, somos enfim desconfiados em relação a


toda espécie de crentes, nossa desconfiança gradualmente nos ensinou a
concluir o inverso do que outrora se concluía: isto é, toda vez que a força de
uma fé aparecer com grande evidência, concluir por uma certa fraqueza da
demonstrabilidade, pela improbabilidade mesma daquilo que é acreditado.
Tampouco nós negamos que a fé “torna bem – aventurado”: justamente por isso
negamos que a fé demonstre algo – uma fé forte, que torna bem-aventurado,
levanta suspeita quanto se crê, não estabelece “verdade”, estabelece uma certa
probabilidade – de ilusão.
(NIETZSCHE, 1887)

A noção que podemos ter sobre o aprender agora vai mudar de parâmetro, ou seja, veremos
quais são os mecanismos que, efetivamente, permitem que a aprendizagem aconteça. De
início, façamos uma distinção necessária: há o aprender que ocorre desde o momento de
nosso nascimento, que vem desde a maneira como o organismo reage ao ambiente até ao
amadurecimento do nosso corpo, etc.; e há o aprender formal, aquele que é estabelecido pela
sociedade e pela cultura e que tem como maior representante a escola.
Em um primeiro momento, todos nós passamos pelo reconhecimento de mundo que se dá
por meio de quem cuida de nós – pais, tios, avós, etc. –, esse reconhecimento é pautado por
aquilo que vamos ouvir sempre e que permanecerá em nossa memória: o cheiro das pessoas
que nos rodeiam, o enorme tamanho da casa em que crescemos – que, com tristeza, quando
adultos, percebemos tão pequena... Todos os fatores que permitem que nos coloquemos nesse
espaço físico e mental que chamamos de mundo.
Então, eis a questão: como aprendemos?
Aprendemos com afeto, literalmente com “açúcar e com afeto”, com diz a canção, pois
precisamos da energia física, nutricional, para conseguirmos aprender e estamos sempre ligados
a algo que nos dá prazer. Isso significa que quando dizemos que aprendemos melhor com
alguém ou algo que nos dá uma sensação boa, é a mais pura verdade, o esquema mental que
temos para elaborar a aprendizagem passa significativamente pelo nosso constante desejo de
ver aquela experiência repetida.
Mas – e há sempre um mas – por que também aprendemos o que não queremos? Pelo mesmo
motivo. Pensemos mais sobre o conceito de prazer, ele está atrelado só a vou “me sair bem de
algo”, “isso é muito gostoso”; significa, também, “concluí algo”, “me livrei de uma situação que
estava me dando muito trabalho”. Ou seja, aprender e ter prazer significam superar obstáculos.
É natural que o organismo tente, nesse processo, fazer de tudo para que possamos sentir
conforto – outra palavra necessária à aprendizagem. Sendo assim, retomando, a aprendizagem
se relaciona com superação, obstáculo, energia física e mental, prazer e conforto.

7
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

Vamos definir cada uma delas:


Aprendizagem: é o processo pelo qual as competências, habilidades, conhecimentos,
comportamentos ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo,
experiência, formação, raciocínio e observação;
Superação: capacidade de ultrapassar um limite, compreendê-lo e elaborá-lo de modo que
seja possível a compreensão sobre esse processo, para estabelecer estratégias que permitam a
mesma ação em momentos diferentes, em menos tempo e sofrimento;
Obstáculo: algo que dificulta ou impede a realização de um movimento, algo que se
apresenta como barreira – e, de certa forma, desafio;
Prazer: resposta do organismo indicando que ações tomadas estão sendo benéficas –
relaciona-se com uma realização psíquica ou fisiológica;
Conforto: tudo que dá a sensação de bem estar.
Agora que já entramos em um acordo sobre o que essas palavras significam, nesse contexto
que estamos discutindo, vamos ver como é que esse processo do aprender pode nos dar sinais
das estratégias que nosso organismo utiliza – pois é, nosso corpo reage como nos filmes policiais,
veja um exemplo disso abaixo.

Os romanos costumavam desdenhar da matemática, ao menos da dos gregos. Nas


palavras do estadista Cícero, que viveu de 106 a.C. a 43 a.C., “entre os gregos o
geômetra ocupava o lugar mais honrado; dessa forma, nada progrediu de maneira
tão brilhante entre eles quanto a matemática. Porém, nós estabelecemos como o
limite dessa arte sua utilidade na mediação e na contagem”. De fato, poderíamos
imaginar um livro grego centrado na prova de congruência entre triângulos
abstratos, enquanto um texto romano típico se concentraria em questões sobre
como determinar a largura de um rio quando o inimigo ocupa a margem oposta.
Com tais prioridades matemáticas, não é de surpreender que, enquanto os gregos
produziram matemáticos notáveis como Arquimedes, Diofanto, Euclides, Eudoxo,
Pitágoras e Tales, os romanos não produziram um matemático sequer. Na cultura
romana, o conforto e a guerra, e não a verdade e a beleza, ocuparam o centro
das atenções. Ainda assim, justamente por se concentrarem nas questões práticas,
os romanos consideravam importante a compreensão da probabilidade. Dessa
forma, apesar de enxergar pouco valor na geometria abstrata, Cícero escreveu
que “a probabilidade é o próprio guia da vida” (MLODINOW, 2008).

O que podemos tirar dessas afirmações é, juntando com as definições das palavras acima,
que a aprendizagem humana sempre foi e continua sendo uma questão de sobrevivência da
espécie, é a partir do desejo de sentir-se confortável e de resolver questões que tornem nossa
vida mais fácil de ser entendida que o organismo aprende.
Preste atenção: todo organismo vivo aprende algo que possibilita sua sobrevivência; nós, seres
humanos, além da sobrevivência, buscamos cada vez mais viver com aquilo que acreditamos
ser o conforto.

8
Já que a aprendizagem é um processo que tem como principal objetivo fazer com que o
organismo encontre aquilo que lhe mantém em uma situação que se convencionou chamar zona
de conforto, para que isso aconteça, é necessário, na concepção da neuropsicologia, que haja
certa organização, chamada de unidade funcional pelo neuropsicólogo russo Aleksander Luria.

Neuropsicologia: área da ciência que promove a interação entre a estrutura


do cérebro e o funcionamento psicológico do indivíduo, mostrando como isso
funciona e interfere na formação do comportamento e da aprendizagem.

Unidades Funcionais – Luria (1998)

1 – Unidade de atenção ou de regulação do tônus “otimal” e vigília que envolve


camadas do córtex e o sistema reticular ativador. Significa que essa primeira
unidade permite uma postura do organismo para executar atividades motoras
– desde ficar ereto, até conseguir elaborar voluntariamente os movimentos;

2 – Unidade de codificação e processamento, um sistema funcional para obter,


processar e armazenar as informações que chegam do mundo exterior (e
dos aparelhos do seu próprio corpo);
3 – Unidade de planificação ou destinada a programar, regular e verificar a
atividade mental.

Analisando tudo que está sendo discutido acima, sempre na história da Humanidade, o
homem pensou que já tinha alcançado o máximo do que era possível de ser aprendido e, a
cada momento, descobriu que ainda faltava muito e o que se pensava podia ser mudado todas
as vezes que alguém descobrisse ou reavaliasse tudo. Nós temos agora a certeza de que jamais
haverá um conhecimento pleno de tudo, pois há ainda muitas respostas que podem ser dadas,
muitas perguntas que podem ser feitas.

Então pensando em cada um dos aspectos colocados acima, percebemos que a


aprendizagem é, a possibilidade de percepção do mundo como nossa cultura estabelece,
tendo como o veículo destinado para isso, a escola.
Atualmente, sabemos que a escola como reprodutora do modelo cultural, nos possibilita
estabelecer estratégias que permitem um acesso, mesmo que ainda não consciente, ao
conhecimento estabelecido socialmente, esse processo, necessita de um estímulo externo dado
pela organização escolar, materiais e métodos e tem como mediador orgânico, o cérebro.

9
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

O cérebro é a parte mais desenvolvida do encéfalo, pesa aproximadamente 1,3


kg, apenas 2% do peso do corpo; porém, apesar disso, recebe cerca de 25% do
sangue que é bombeado pelo coração. Com o aspecto semelhante ao miolo de uma
noz, sua massa de tecido cinza-rósea apresenta duas substâncias diferentes: uma
branca, na região central, e uma cinzenta, da qual se forma o córtex cerebral. O
córtex cerebral é um tecido fino com uma espessura entre 1 e 4 mm e uma estrutura
laminar formada por 6 camadas distintas de diferentes tipos de corpos celulares,
é constituído por células da glia e neurônios. Além de nutrir, isolar e proteger os
neurônios, as células da glia são tão críticas para certas funções corticais quanto os
neurônios, ao contrário do que se pensava (www.infoescola.com).

Por que é importante nesse nosso trabalho falarmos sobre o cérebro? Porque, como foi dito
acima, descobriu-se que a aprendizagem só é possível pois essa estrutura é capaz de elaborar
todos os estímulos que vêm do ambiente e reorganizá-los de acordo com as necessidades do
organismo, conforme a cultura onde se encontra.
Isso significa que a possibilidade de aprendermos está diretamente relacionada ao trabalho
que esse órgão realiza em conjunto com todo o resto do organismo e de como ele pode processar
essas informações. Tais ações dependem de um complexo mecanismo que envolve todas as
partes do organismo, orientado pelo como se pode alcançar o que se deseja/precisa.

Vamos pensar em como esses mecanismos se organizam de um modo em que, podemos,


perceber os estímulos do ambiente e transformá-los em algo que está posto no ambiente,
mas que se elabora no equilíbrio orgânico, mediado pelo cérebro. A função mais importante
para que isso possa acontecer, é a memória, nossa principal função superior. Hoje, graças aos
estudos sobre o cérebro, sabemos que a memória que é mesmo importante – muito mais do
que se pensava – não é apenas programada e reproduzida, ela é base para a organização do
que é observado e se envolve com tudo o que já sabemos, reorganizando a informação nova
com as antigas.

Ficou difícil?
Explicando: todas as vezes que alguém nos diz alguma coisa, precisamos entender o que é
informação nova e juntar com o que já fora aprendido em algum momento. Exemplo: o filme
ET – o extraterrestre, vocês se lembram dele? Lembram como o Etezinho tinha características
humanas? Por que essa escolha dos cineastas e roteiristas? Por que ele não era completamente
diferente de nós? Para gerar empatia. Porque quando pensamos em algo, seja lá o que for,
precisamos estabelecer uma relação entre o que conhecemos naquele momento e o que já
temos estabelecido no nosso cérebro para podermos compreender.

10
Resumindo: o cérebro é o órgão principal no estabelecimento das relações necessárias que
farão com que possamos entender qualquer informação nova que seja apresentada – seja ela
um programa que vemos na televisão ou uma equação matemática que aprendemos na escola.
Outra coisa: para a aprendizagem, ou para o cérebro, tudo que pode ser visto, percebido,
será elaborado e, em conjunto com o que já temos, formará as informações que precisamos
para compreender o novo e, assim, permitir com que ele faça parte dos nossos conhecimentos.
Quando nascemos, não percebemos o mundo, não percebemos que estamos em “algo”,
o que isso significa? Que simplesmente fazemos parte dele, não o compreendemos antes
de experimentá-lo. Assim é com todo o resto, não temos como organizar a experiência da
aprendizagem com a consciência de estar em “algum lugar” para isso.
Ficou confuso?
Explicamos: não existe o lugar da aprendizagem, não existe o momento em que o organismo
se dá conta de estar aprendendo; nós estamos nesse momento e nesse lugar, desde o momento
do nosso nascimento, e tudo o que vivenciamos é aprendizagem. E para que essa aprendizagem
aconteça de forma mais eficiente, dando-nos mais conforto e prazer (palavras-chave), estamos
sempre lidando com o mundo e apreendendo o que pode nos dar explicações sobre ele.
Vamos pensar melhor sobre isso: tente se lembrar de quando entendeu que você tinha o nome
que tem, que morava em uma casa, que era de uma família, que tinha fome, as primeiras letras
que conheceu na escolha, ou seja, tente se lembrar de si mesmo aprendendo alguma coisa.
Difícil, não é? Não nos lembramos de nada disso, pelo menos não com clareza, mas não por
causa de problemas em nossa memória e sim por esse processo ter sido considerado por nós tão
espontâneo, que não parece ter recebido atenção e esforço para registrá-lo. Mas isso é um grande
engano, na verdade, todo esse processo se valeu de um trabalho cerebral extenso e da imersão em
um ambiente que proporcionou condições para ele, além de estímulos certos, repetidos quantas
vezes fossem necessárias, para que a atividade aprendida ocorresse sem ser “forçada”.
Todo esse processo continua se repetindo exaustivamente na nossa vida, sem uma pausa
sequer, porque a aprendizagem diz respeito a tudo o que fazemos, tanto no âmbito do pensamento
quanto no da ação – essa é uma outra grande questão do aprender. Quando estamos elaborando
os pré-requisitos de qualquer atividade – seja ela do nosso dia a dia, seja de uma aprendizagem
formal –, isso acontece primeiro mentalmente, depois dentro do contexto que estamos. Tal fato
significa que tudo o que chamamos de aprendizagem já foi, de alguma forma, elaborado pelo
cérebro. Segundo as teorias cognitivas, podemos ilustrar isso pelas palavras de Varela (1991):

Cognição humana é uma representação mental: a mente é definida como


operando em termos de manipulação de símbolos que representam características
do mundo ou representam o mundo como sendo de um determinado modo

Essa afirmação demonstra que para cada momento da vida há uma aprendizagem que remete
à apreensão de um símbolo que dá significado ao mundo – naquele momento e naquele contexto.
Então a aprendizagem, prestem bem atenção: é uma elaboração mental de algo o qual pretende-se
resolver, solucionar, algo que é importante para nós, que nos inquieta. Diante dessa inquietação, o
nosso cérebro funciona sempre como um filtro que explica o que é necessário para a sobrevivência
do nosso organismo. Quando tratamos da aprendizagem formal, é a mesma organização, só que
já previamente organizada por um grupo formado dentro de determinada cultura.

11
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

O texto pode parecer muito complexo por tratar de ações que, por muito tempo, julgávamos
espontâneas do organismo. Acreditávamos que aprender era um processo natural e espontâneo
para o indivíduo, dando-se sempre da mesma maneira. Contudo, sabemos agora que esse
processo é natural, mas não espontâneo, pois é orientado pela cultura e pelo ambiente no qual
o indivíduo está inserido.
Quando falamos em aprender, estamos falando de elaborar o mundo por meio de
representações e respostas que, apesar de serem únicas e pessoais, pois cada um de nós vê o
mundo de forma única, são dadas e confirmadas pelo e no coletivo.
Vamos Deixar Claro:
Como dito até aqui, tudo o que vemos e percebemos do mundo, fazemos dentro daquilo que
vivenciamos desde o nosso nascimento. Nesse aspecto, tudo o que vivemos é uma experiência
única e só possuída por nós, mas, ao mesmo tempo, como tudo isso já foi interpretado pela
cultura, só conseguimos entender de forma semelhante àqueles que estão ao nosso redor – por
exemplo, do mesmo jeito que nós no Brasil comemos feijão com arroz e acreditamos que em
todos os lugares come-se isso, os russos acreditam que não existe a possibilidade de alguém
comer algo sem batata. Cada grupo social estabelece princípios que fazem com que aquilo o
que é comum, porque foi construído pela cultura, seja comum para todos os indivíduos.
Quando falamos sobre como se aprende ou porque se aprende de uma ou outra maneira,
estamos falando de estratégias, que são mecanismos que criamos para tornar mais fácil o que
está sendo apresentado para nós. Se ainda não temos algo para facilitar a aprendizagem, as
estratégias nos fazem conseguir entender com que argumentos podemos lidar para facilitar a
nova informação que está sendo organizada no nosso cérebro.
Pensando Nisso
Estratégias são mecanismos que cada um de nós constrói para lidar com as novas informações
que nos são dadas o tempo todo, ou seja, para cada estímulo que o ambiente nos apresenta, e
isso acontece frequentemente, o nosso cérebro encontra um “caminho” para juntar o novo com
o que temos e compreender o que está sendo mostrado do “nosso jeito”.
O que significa “o nosso jeito”? significa que todas as vezes que aprendemos algo, isso
acontece juntando as informações que já foram compreendidas, ou aprendidas, com o estímulo
novo, construindo assim a nova aprendizagem necessária. Vamos explicar isso melhor:

Quando começo a refletir, a minha reflexão enfrenta uma experiência não reflexiva,
ou melhor, a minha reflexão não pode ser alheia a si própria como acontecimento,
surgindo, assim, diante de si própria, à luz de um verdadeiro ato criativo, de uma
estrutura alterada de consciência. Contudo, ela tem que reconhecer como tendo
prioridade sobre as suas próprias operações o mundo que é dado ao sujeito,
porque o sujeito é dado a si mesmo [...]. A percepção não é uma ciência do
mundo, nem mesmo um ato, um assumir deliberado de uma posição; é o cenário
a partir do qual todos os atos sobressaem, e é pressuposta por eles: o mundo não
é um objeto tal que me permita possuir a lei da sua criação; é o cenário natural e o
campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explícitas
(MERLEAU- PONTY citado por VARELA, 1991).

12
O texto parece confuso, mas é assim mesmo que o nosso cérebro funciona, é assim que a
aprendizagem se dá. Tudo o que penso é o resultado daquilo que podemos entender como
nossa cultura, de como as gerações anteriores a nossa pensaram as coisas. A partir daí vamos
juntando uma informação já aprendida com uma ainda não conhecida e construindo novas
estratégias, dentro do que é mais fácil para nós.
Quando falamos do que é mais fácil, estamos tratando de algo muito particular, de como
cada um de nós pode vivenciar as situações e, ao mesmo tempo, como isso pode ser respondido
igual ao que foi convencionado pela sociedade.
Esses mecanismos são involuntários, nós não sabemos como encontramos essas estratégias
e como as tornamos parte e característica da nossa estrutura, o fato é que, depois de termos
isso estabelecido, tudo parece espontâneo; mas como já foi dito, não existe nada espontâneo no
nosso modelo de aprender, é sempre um mecanismo necessário para cada organismo, gerado
por nossa necessidade de compreensão e que se torna comum ao nosso cérebro.
Precisamos apreender os estímulos que vêm do ambiente e lidar com esses mecanismos
sempre dentro das nossas estratégias, para que a aprendizagem seja de fato eficiente. Podemos
entender com isso que sempre que estamos aprendendo reproduzimos qualquer coisa, estamos
elaborando tudo o que já sabíamos antes e reestruturando com a informação nova. Para isso, é
necessária a criação de estratégias, ou seja, que consigamos entender como nossa aprendizagem
funciona e fazer com que a informação nova seja entendida dentro do contexto cultural no qual
estamos inseridos.
O que precisamos saber é que esse processo também acontece quando somos nós que
promovemos a aprendizagem. Quando estamos ensinando algo para alguém, acionamos as
nossas estratégias e possibilitamos que o aprendente também acione suas próprias estratégias,
sempre levando em consideração a cultura.
Confuso Novamente?
Vamos lá:
Todas as vezes que aprendemos, ou se estivermos ensinando para alguém, desencadeamos
o mesmo processo em todos que estão envolvidos, ou seja, acionamos nossas estratégias de
aprendizagem e possibilitamos o acesso das estratégias de quem aprende, pois todos estamos
inseridos no mesmo contexto cultural.
Se houvesse a possibilidade de resumir o que é a aprendizagem, poderíamos dizer que esse
texto é o uso de todas as informações que temos sobre certo grupo de conhecimentos técnicos
sobre a aprendizagem e, ao mesmo tempo, sobre o que é um texto, como se dá a relação com
o leitor, quem é esse leitor, como algo pode se tornar compreensível, etc.
Entendeu? Todas as vezes que executamos qualquer atividade, colocamos em ação tudo o
que existe em nosso acervo mental tanto em relação ao conteúdo dessa atividade quanto no
que diz respeito a sua execução em si. Isso se dá com elementos e estratégias que começamos
a elaborar desde o nosso nascimento – desde quando precisávamos chorar porque tínhamos
fome, ou seja, desde as aprendizagens mais simples –, que foram se estruturando conforme as
dificuldades novas que fomos encontrando, tornando-se mais precisas e elaboradas, funcionais,
partindo sempre do ambiente.

13
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

O ambiente também é parte crucial da aprendizagem, pois nós não aprendemos qualquer
coisa, como dito, aprendemos o que a cultura determina – as roupas que usamos, os alimentos
que preferimos, o que chamamos de belo ou feio partem daquilo que as pessoas do ambiente
em que vivemos determinam, por isso, podemos achar estranho quando alguém usa ou tem
conceitos diferentes dos nossos; sempre que pensamos em algo, ou escolhemos algo, isso é
resultado de tudo o que já vimos e experimentamos, do ambiente onde vivemos, seja por nós
mesmo ou como imagem de alguém.
Sempre que assistimos televisão, por exemplo, essa vivência promove uma experiência que,
mesmo não vivida por nós, particularmente, é vivenciada por ser uma representação do modelo
do ambiente onde estamos inseridos e, por isso, é como se tivéssemos realmente vivido. De
novo, as nossas experiências particulares e as compartilhadas criam aprendizagens e estratégias
da mesma forma, pois só podemos aprender o que é comum, se compartilhar do mesmo
contexto que os outros.
Podemos deixar isso claro se pensarmos que, quando vemos algo que é comum, só
percebemos que é comum pois já faz parte do nosso repertório mental.
A aprendizagem é um processo de interação cultural, tanto do organismo quanto de todas as
informações que o ambiente nos dá, o que desencadeia um modelo de estratégias que nos faz
elaborar uma série de associações que nos permitem entender o que é novo, relacionando com
o que já conhecemos.
A aprendizagem é um processo complexo do organismo que faz relações o tempo todo de
tudo o que estabelecemos com o ambiente, com impressões entre o que já vivemos e o que
estamos vivendo agora.
O nosso conhecimento é um produto ambiental e histórico de tudo o que nossa cultura
determina e, sempre, em todas as situações, de uma interação com as estratégias que nosso
organismo elabora para poder resolver situações necessárias, dar respostas a algo que nos
inquieta naquele momento.
Ainda temos muito o que discutir sobre o que é aprender. Refletiremos sobre todas essas
informações colocadas aqui e determinaremos quais as possibilidades de conhecer nossas
estratégias para que possamos reconhecer como cada um de nós aprende – algo fundamental
para que possamos melhorar a qualidade de nosso processo de aprendizagem.

14
Material Complementar

O link abaixo trará informações adicionais interessantes sobre o que estamos discutindo:
• http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&q=Unidades+funcionais+de+Luria
&btnG=&lr=lang_pt

Além disso, assista aos filmes:


Mr. Holland – Adorável Professor
Uma experiência que nos convida a refletir sobre a questão do aprender e do ensinar, de
quanto estamos dispostos e disponíveis para esse árduo e gratificante (?) trabalho.

Sociedade dos Poetas Mortos


Esse filme deve ser visto por todos que se dispuseram a trilhar o caminho do ensinar, pois
nos ajuda a refletir sobre como devemos aprender ensinando e ensinar aprendendo (caixa
de lenços!).

Leia o texto:
Manuscrito de 1929 de Vigotski, que você pode acessar no Google Acadêmico.

15
Unidade: Resolução de Problemas, como se Aprende

Referências

PIAGET, Jean. A construção do real na criança. Martins Fontes. São Paulo/SP. 2000.

VARELA, Francisco; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. A mente corpórea: ciência


cognitive e a experiência humana. Instituto Jean Piaget. Lisboa/Portugal.1991.

VIGOTSKI, Lev. Pensamento e Linguagem. Martins Fontes. São Paulo/SP. 2006.

16
Anotações

17

Você também pode gostar