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A mente

A mente como conjunto integrado de processos cognitivos, emocionais e conativos


A mente, enquanto lugar da totalidade da atividade psíquica, cria os
significados que atribuímos ao mundo e à nossa própria existência. A
combinação harmoniosa dos diferentes processos mentais é um todo e único
que nos permite conhecer, sentir e agir sobre o mundo em que se desenrola
e se constrói a nossa existência pessoal.
O relato autobiográfico de J.K. Rowling dá-nos conta de como vários
processos que estudamos, sejam cognitivos (relacionados com a criação,
transformação e utilização da informação), emocionais (ligados com a
dimensão afetiva e sentimental das vivências e com a avaliação das interações
que estabelecemos com o outro) e motivacionais (relativos às intenções e à
energia que direcionamos para a realização das nossas vontades e desejos) se
interligam, dando significado à nossa existência e à nossa história de vida.

A mente como sistema de construção do mundo

As representações ou imagens que a nossa mente e cérebro


continuamente constroem (e que são a base do pensamento, a inteligência, da
imaginação e da consciência) formam-se na complexa rede de neurónios do
nosso cérebro em consequência das relações que cada um de nós estabelece
com os ambientes físicos, sociais e culturais envolventes.
As representações sobre os nossos mundos interno e externo que
povoam as nossas mentes são, portanto, construções que resultam de
processos de interação e de auto-organização.

Ainda que o pensamento seja frequentemente associado à dimensão


cognitiva da mente, as imagens mentais não resultam apenas de processos
cognitivos (como a perceção, a memória, a aprendizagem e a inteligência),
mas também de processos emocionais (envolvendo emoções, sentimentos e
afetos) e conativos (tendo por base a motivação e a vontade).

Como representamos o mundo?

Representações baseadas Representações baseadas


nos sentidos nos resultados

Aparência Nome e
Imagens
física da características Conceitos
visuais
pessoa da pessoa
Enquanto seres humanos, temos tendência para simplificar a complexa
realidade que nos envolve. Por exemplo, utilizamos a atenção seletiva para nos
concentrarmos em determinados estímulos e ignorarmos outros. De forma
semelhante, para pensarmos naquilo que nos rodeia, simplificamos e
formamos imagens visuais e conceitos. A importância desta última forma de
representação mental é enorme, daí que normalmente as imagens estejam
associadas a conceitos.

Um conceito é, essencialmente, uma representação mental de objetos,


ideias, eventos ou pessoas similares.
Por sua vez, os conceitos organizam-se em redes, através de
categorias, isto é estabelecem relações entre si, o que nos permite pensar
mais rapidamente sobre as coisas. Estas redes envolvem muitas vezes
ligações hierárquicas.
Os conceitos e categorias permitem que o pensamento seja mais rápido
e organizado. Contudo, a velocidade com que pensamos não é a única
qualidade que se pretende num bom pensador. Outra habilidade essencial diz
respeito à capacidade de resolução de problemas.

Como resolvemos problemas?

Os problemas com que nos confrontamos na nossa vida quotidiana


podem ser muito estruturados (um quebra-cabeças) ou pouco estruturados
(um dilema moral). A natureza do problema e a informação disponível sobre ele
e sobre a possível solução serão mais óbvias e mais acessíveis no primeiro
caso e menos no segundo, sendo, por isso mais fácil encontrarmos as
respostas certas para os problemas estruturados. Assim, no primeiro caso,
podemos recorrer a estratégias baseadas em algoritmos, isto é, alicerçadas
em processos de cálculo destinados a solucionar um dado problema. No
segundo caso, tenderemos a recorrer a estratégias baseadas na heurística, ou
seja, estratégias de invenção ou descoberta que fornecem um modo eficiente
de responder ao problema.

Enquanto as formulas e os procedimentos passo a passo que estão na


base dos algoritmos conduzem à resposta certa para o problema, no caso das
estratégias heurísticas baseamo-nos em regras de ouro que fomos aprendendo
pela experiência.
Começar pelo resultado que se pretende atingir, procurar analogias e
dividir o problema em pequenas partes são tudo exemplos de estratégias
utlizadas na heurística.

O psicólogo gestaltista Karl Duncker criou um teste que ficou conhecido


como o problema da vela. Trata-se de um desafio cuja solução implica
recorrer a estratégias de inovação e descoberta baseadas na heurística.
Problema: temos uma mesa, uma vela, uma
caixa de pionés, uma caixa de fósforos e a Solução: esvaziar a caixa de
parede. O desafio é: usando apenas estes pionés e fixá-la à parede com os
elementos, prender verticalmente a vela na
mesmos.
parede, de tal modo que, quando acesa, esta não
chamusque a parede e a cera não pingue para a
mesa.
As dificuldades que a maioria das pessoas enfrenta face a este desafio
são causadas por aquilo que Duncher designou por fixidez funcional. Para
chegar à solução do problema da vela é preciso ver a caixa, não na sua função
usual, mas como uma plataforma onde é possível apoiar a vela.

Dificuldades acrescidas podem surgir quando tentamos usar padrões


mentais desajustados ao problema (adotando respostas utilizadas no passado),
nos deixamos levar pela fixidez funcional (não vemos novas atividades para os
objetos), temos limites autoimpostos (deixamo-nos levar pela ideia de que é
impossível fazer determinada coisa de uma forma específica) ou não temos
conhecimento ou interesse para resolver o problema.

As pessoas criativas tendem a apresentar um pensamento divergente,


isto é, têm capacidade de gerar soluções atípicas, mas apropriadas, quando
confrontadas com problemas. Este tipo de pensamento contrasta com o
pensamento convergente, que produz respostas baseadas sobretudo na
lógica e no conhecimento.

Pensamento divergente Pensamento convergente


Heurística (fornece uma resposta Algoritmo (garante uma solução
eficiente, mas não garante uma para o problema, mas nem sempre
solução para o problema) do modo mais eficiente)
o Aumenta o número de o Reduz o número de opções à
alternativas e soluções única correta
o Respostas atípicas e o Respostas baseadas na lógica
inovadoras e no conhecimento

A imaginação pode ser retrospetiva (imaginação reprodutora) e, nesse


sentido, cruza-se com a perceção e com a capacidade evocativa da memória,
ou prospetiva (imaginação criadora), isto é, orientada para o futuro.
Imaginação reprodutora e imaginação criadora conjugam-se na nossa
capacidade de recriar, planear, decidir e prever o futuro. O campo de
possibilidades e de alternativas que se abrem no nosso horizonte é avaliado e
selecionado em função de significados atribuídos a experiências, ações e
situações passadas.

A identidade como fator distintivo entre seres humanos

A mente é adaptativa. A forma como atribuímos sentido e significado a


tudo o que nos rodeia e a nós mesmos depende, entre outros fatores, dos
contextos das nossas experiências, do conteúdo da comunicação e das
interações com os outros.
A forma como pensamos, sentimos e agimos sobre nós mesmos e o
mundo não é cristalizada, isto é, vai-se construindo com o tempo, num
processo dinâmico, que começa na infância e nos acompanha ao longo de toda
a vida.

Autoconceito (quem sou eu?), autoimagem (como me descrevo?),


autoestima (como me avalio?) e eu ideal (como gostaria de ser?) estão
intimamente ligados ao processo de construção da nossa identidade, que se
descreve, que se desenvolve de forma gradual e contínua ao longo de toda a
vida.
O autoconceito propicia uma visão globalizante do que somos ou
pensamos ser. Emerge das interações com os outros e reflete as
características, expectativas e avaliações dos demais. Envolve traços de
personalidade, imagem corporal, papéis sociais, qualidades e habilidades.
A autoestima é o grau com que as qualidades e características contidas
no autoconceito são percebidas como positivas. Reflete a avaliação que cada
um de nós faz da sua autoimagem e as comparações que estabelece entre
esta e o eu ideal.

A identidade (pessoal, social e cultural) permite-nos conceber a


existência de cada um de nós como uma experiência única que tem unidade,
coerência e continuidade no tempo.

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