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4º $XOD

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Nesta aula estaremos desenvolvendo uma reflexão


sobre a Educação e o processo educacional, não apenas
dentro de uma visão pedagógica, mas também de uma
visão filosófica.
Sabemos que a Filosofia não é apenas uma
abordagem no campo educacional, mas precisamos
verificar a filosofia da educação, ou seja, como analisamos,
refletimos, verificamos os elementos que chegam até
nós? É muito importante que nós tenhamos uma razão
que sustente a nossa fala. Por isso a importância da
Filosofia da Educação.
A “Filosofia na educação” transforma-se em
“Filosofia da Educação” enquanto reflexão rigorosa,
radical e global ou de conjunto sobre os problemas
educacionais. De fato, os problemas educacionais
envolvem sempre os problemas da própria realidade.
Boa aula!

2EMHWLYRVGHaprendizagem

Ao término desta aula, o aluno será capaz de:

‡DQDOLVDURFDPSRGHDWXDomRSURILVVLRQDOHVHXVGHVDILRVFRQWHPSRUkQHRV
‡FRRUGHQDUHPDQHMDUSURFHVVRVJUXSDLVFRQVLGHUDQGRDVGLIHUHQoDVLQGLYLGXDLVHVRFLRFXOWXUDLVGRVVHXVPHPEURV
‡GHVHQYROYHUFDSDFLGDGHGHWUDQVIHULUFRQKHFLPHQWRVGDYLGDHGDH[SHULrQFLDFRWLGLDQDVSDUDRDPELHQWHGHWUDEDOKRHGR
seu campo de atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável.
35 37
vá à raiz dos problemas, buscando atingir suas últimas e mais
6H©·HVGHestudo profundas ramificações. Quando dizemos que a reflexão deve
ser rigorosa, entendemo-la como sistemática e metódica. A
reflexão deve ser ainda global ou de conjunto, isto é, realizada
1 - Filosofia da educação
de modo a abarcar todos os dados, de modo a não deixar
2 - Correntes filosóficas
escapar nenhum fio condutor no difícil trabalho de discernir
1)LORVRȴDGDHGXFD©¥R no emaranhado das raízes as imbricações fundamentais.
Resumindo, podemos com Saviani (1980. p.27) afirmar
Neste início, vamos recapitular sobre a Filosofia para que “a Filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto
podermos entender um pouco sobre a Filosofia da Educação. sobre os problemas que a realidade apresenta”.
Nesse sentido, começo esboçando sobre a Filosofia. Já se vê que a Filosofia é, antes de tudo, uma atitude e uma
(QWmRYDPRVjDXOD""" tarefa das quais resultam “Filosofias” como produto. Atitude
2TXHpILORVRILD"3DUDTXHILORVRIDU" ou disposição de amor à verdade, que supõe, sobretudo, muita
humildade e nenhuma arrogância de espírito: “A palavra grega
No mundo pragmático em que ‘philósophos’ foi formada em oposição a ‘sophós’ e significa “o que
vivemos, a Filosofia parece não servir ama o saber”, em contraposição ao possuidor de conhecimentos
para absolutamente nada. Ela não (dono da verdade) que se designava por sábio. Esse sentido da
consta das rubricas orçamentárias, palavra manteve-se até hoje: é a demanda da verdade e não a sua
não tem dotação, não recebe verbas posse que constitui a essência da filosofia [...]” (Disponível em:
específicas. Mal consta dos currículos http://pdmfilosofia.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.
escolares e os filósofos são, em sua html. Acesso em 20 out. 2012, às 14h10)
maioria, uns ilustres desempregados. ΖPDJHPH[WUD¯GDHP Das crises, portanto, surge a Filosofia como fruto
No entanto, ela serve, ou melhor, <profmariodemori.blogspot. da necessidade humana de compreender a realidade e de
FRPȴORVRID!
comanda tudo. Está presente em Acesso em: 20/07/2010. fundamentar a ação que visa a transformá-la.
qualquer decisão séria que tomamos Será a Filosofia algo de intermitente, que apenas de
ou em qualquer estratégia que implantamos. Pode-se dizer que vez em quando desponta ao longo da história? Não, pois
ela é onipresente. “A Filosofia é imprescindível ao homem. a história é - e cada vez mais - uma longa e funda crise na
Está sempre presente e manifesta nos provérbios tradicionais, qual há, certamente, períodos mais dolorosos e enfáticos,
em máximas filosóficas correntes, em condições dominantes, mas que por sua contínua e surpreendente novidade está
quais sejam, por exemplo, a linguagem e as crenças políticas”. sempre a nos chocar, suscitando-nos, em consequência, uma
É interessante notar que as grandes crises históricas foram atitude constante de reflexão e de busca. A Filosofia é, assim,
férteis em pensamento filosófico. Após a grande crise europeia onipresente, pois, se ninguém escapa ao mundo e à história,
consequente à invasão dos bárbaros, surgiram as grandes sínteses ninguém, a não ser por demência, escapa à crise: “Não se pode
da Idade Média. A revolução copernicana que deu origem ao fugir à Filosofia. Pode-se perguntar apenas se ela é consciente
mundo moderno fez aparecer as filosofias racionalistas (consiste ou inconsciente, boa ou má, confusa ou clara. Quem recusa
em considerar a razão como essência do real). À Segunda Guerra a filosofia está realizando um ato filosófico de que não tem
Mundial seguiu-se o existencialismo (O existencialismo considera consciência” (JASPERS, 1977, p.13).
cada homem como um ser único, que é mestre dos seus atos e Uma observação final deve ser ainda acrescentada:
do seu destino). Nosso mundo, nosso país, certamente estão em “Filosofar significa estar a caminho. As interrogações
crise. Estamos sentados sobre um vulcão que ameaça explodir. são mais importantes que as respostas e cada resposta se
E já se esboçam linhas novas de concepção filosófica. Nesse transforma em nova interrogação” (JASPERS, 1977, p. 14).
sentido, busca-se uma nova maneira de analisar o mundo, ou seja, A Filosofia é aberta, por mais que o filósofo pretenda dar
através de todos os acontecimentos, a Filosofia vem questionar: respostas definitivas. A realidade é rebelde e não se deixa
até onde o homem pode chegar? apanhar com facilidade em nossas redes de compreensão. É
Haverá uma relação necessária entre crise e filosofia? por demais complexa e dinâmica para que possamos emitir
De certo. A crise produz o que os gregos denominavam sobre ela uma palavra definitiva. Nem sempre – e isso ocorre
“thaumásia”, ou seja, admiração, pasmo, espanto que eles com frequência – consideramos todos os dados disponíveis
apontavam como sendo a origem do pensar filosófico. ou escolhemos as informações capazes de nos conduzir à
Poderíamos, talvez, dizer que a crise gera o espanto ou raiz mestra dos problemas ou das crises. Ou, então, quando
pasmo, torna-nos conscientes de nossa fragilidade física, parece que a atingimos, damo-nos conta de que ainda estamos
intelectual, social ou moral, levando-nos a encarar a realidade na superfície e de que é necessário cavar mais fundo: “cada
como um problema de situação dramática em que se está e resposta se transforma em nova interrogação”. Não importa
não se pode mais continuar, exigindo, assim, uma solução, ou o esforço! É melhor seguir que estagnar. Além disso, não
seja, a crise, transformada em problema, desperta a reflexão ou caminhamos sozinhos. O que não descobrimos, outros
“ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, vasculhar descobrem ou descobrirão e nossas chamas juntas tornarão o
numa busca constante de significado” (SAVIANI, 1980. p. 23). mundo, se não transparente, pelo menos mais claro!
Quando essa reflexão se torna radical, rigorosa e global ou de A Filosofia é, pois, imprescindível. Não serve para
conjunto, nasce à Filosofia. nada e serve para tudo. Não há como negá-la: ela se impõe
Ao dizermos reflexão radical, devemos entender a por si mesma! Refugá-la, só deixando de ser o que somos:
expressão em seu sentido literal: trata-se de uma reflexão que consciências que refletem num mundo em permanente crise,
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num constante devir.
2&RUUHQWHVȴORVµȴFDV
1.13DUDTXHILORVRILDGDHGXFD©¥R"
2.1 - Ceticismo
Talvez seja mais
pertinente perguntar: para 2.1.1'DGRVKLVWµULFRV
que filosofia na educação?
A resposta é simples: Segundo Dumont (2009), o fundador do ceticismo grego
porque educação é, afinal de foi Pirro (fim do séc. IV a.C.). Ele não deixou nenhum escrito
filosófico. Nasceu em Élis, pequena cidade do Peloponeso,
contas, o próprio “tornar-se
onde viveu inicialmente como pintor, depois se interessou
homem” de cada homem
pela Filosofia, principalmente sob a influência de Anaxarco de
num mundo em crise.
Abdera, em companhia de quem seguiu Alexandre, o Grande,
Não há como educar
por ocasião da campanha da Ásia. Retornando a Élis, fundou
fora do mundo. Nenhum ΖPDJHPH[WUD¯GDKWWSVHWLPRGLD
uma escola filosófica que lhe valeu uma enorme reputação
educador, nenhuma wordpress.com> Acesso em: 20/07/2010.
junto a seus concidadãos. Ele vivia pobre e simplesmente
instituição educacional pode colocar-se à margem do mundo,
em companhia de sua irmã, Filista, que exercia a ocupação
encarapitando-se numa torre de marfim. A educação, de
de parteira. Seu historiógrafo posterior, Antígone de Caristo,
qualquer modo que a entendamos, sofrerá necessariamente
expressou em linguagem anedótica a indiferença de alma, a
o impacto dos problemas da realidade em que acontece, sob impassibilidade e o domínio de si que ele tinha. Ele teve por
pena de não ser educação. Em função dos problemas existentes discípulo Tímon, autor de várias obras em versos e em prosa:
na realidade é que surgem os problemas educacionais, tanto as Sátiras, ou Considerações suspeitas (sendo que o verbo
mais complexos quanto mais incidem na educação todas “satirizar” passou a significar, a partir de então, “lançar-se a
as variáveis que determinam uma situação. Desse modo, uma crítica acerba”); as Imagens; um diálogo, o Python (jogo
a “Filosofia na educação” transforma-se em “Filosofia da de palavras sobre Pirro?); dois tratados em prosa, Sobre as
Educação” enquanto reflexão rigorosa, radical e global ou sensações e Contra os físicos. Porém, sua obra nos é apenas
de conjunto sobre os problemas educacionais. De fato, os conhecida de modo muito fragmentário.
problemas educacionais envolvem sempre os problemas A escola cética conhece um eclipse que equivale a um
da própria realidade. A Filosofia da Educação apenas não desaparecimento. Certa forma de ceticismo é, então, praticada
os considera em si mesmos, mas enquanto imbricados no pelos neoacadêmicos: Arcesilau (primeira metade do séc. III e
contexto educativo. início do séc. II a.C.), chefe da Nova Academia. Em seguida, a
Penso que disso decorrem duas consequências muito escola renasce graças à atividade de Enesidemo, de quem a obra
simples, óbvias até! A primeira é que todo educador deve é bastante conhecida, mas de quem a vida é de tal modo pouco
filosofar. Melhor ainda, filosofa sempre, queira ou não, tenha conhecida que hesitamos sobre a época em que viveu (ele foi
ou não consciência do fato. Só que nem sempre filosofa bem. contemporâneo de Cícero ou viveu um século mais tarde?).
A esse respeito afirma Kneller (1972, p. 146): “se um professor Depois dele, a figura mais marcante é a de Agripa, mas da
ou líder educacional não tiver uma filosofia da educação, carreira dele nada conhecemos, a não ser os cinco argumentos
dificilmente chegará a algum lugar. Um educador superficial que Diógenes Laércio lhe atribui. Aparece, em seguida, Sexto
pode ser bom ou mau. Se for bom, é menos bom do que Empírico, o grande historiador do ceticismo, de quem também
poderia ser e, se for mau, será pior do que precisava ser”. não sabemos quando e onde viveu (entre o início do séc. II
Que problemas no campo da educação exigem de nós e a segunda metade do séc. III d.C., sem dúvida na Grécia,
uma reflexão filosófica, nos termos acima explicitados? São posto que ele parece conhecer muito bem, além de Atenas,
muitos. Permitam-me apontar apenas alguns. Alexandria e Roma). Ele pertencia à escola empírica, o termo
Já que a educação é o processo de tornar-se homem de cada “empírico” sendo quase sinônimo de médico. Esta escola
homem, é necessário refletir sobre o homem para que se possa foi erguida em honra ao médico Menodoto de Nicomédia,
saber “para onde” se deve orientar a educação. É necessário, discípulo de Antíoco de Laodiceia. A história do ceticismo
porém, que essa reflexão não seja unicamente teórica, abstrata, antigo termina no século III.
desencarnada. É preciso levar em conta a situação espaço-
temporal em que ocorre o processo. Com efeito, não importa 2.1.1.1 2VQRYRVF«WLFRV
apenas o “tornar-se homem”, mas o “tornar-se homem hoje
no Brasil”. Só dessa forma podemos estabelecer com clareza
o que, por exemplo, se tem convencionalmente chamado
de “marco referencial”, a partir do qual, numa instituição
educativa, currículo, planejamento e atividades podem atingir
um mínimo de coerência e de eficiência.
Não há métodos neutros. Não há técnicas neutras. No bojo
de qualquer teoria, de qualquer método, de qualquer técnica está
implícita uma visão de homem e de mundo, uma filosofia. Imagem disponível em: http://www.
Veremos, neste momento, algumas das principais vocepodefalaringles.com.br/2012/08/duvidas-
frequentes-da-lingua-001.html. Acesso em:
Correntes Filosóficas. 16/04/2013.
37 39
O lugar da alma no qual se dá o jogo das oposições entre hipóteses corresponderiam outras geometrias. O último
fenômenos e nôumenos é, segundo Enesidemo, a memória. A argumento é o do dialelo ou círculo vicioso. Quando a gente
uma representação presente, pode-se opor uma representação pretende fundamentar circularmente uma prova sobre uma
passada, ou até, a imaginação de uma coisa futura. É a razão consequência daquilo que a gente procura demonstrar, a
pela qual, na prática da dúvida cética, a alma não se encontra gente cai num círculo vicioso. O silogismo aristotélico que
totalmente engajada. Mais tarde, veremos Descartes, convicto pretende deduzir da maior universal “todo homem é animal”
da unidade do espírito humano, experimentar a dúvida como a conclusão que “Sócrates é animal” cai no círculo vicioso.
uma angústia que interessa à totalidade das faculdades. Ao Pois a proposição “todo homem é animal” é, na realidade,
contrário, com Enesidemo ou Sexto Empírico, é feita uma fundada na indução que inclui todos os homens conhecidos:
separação entre a faculdade sensitiva e a faculdade de imaginar Sócrates, Platão, Díon. Consequentemente, é a conclusão,
ou de conceber, embora a dúvida possa permanecer a expressão “Sócrates é animal”, que serve para fundamentar a hipótese
feliz e tranquila de uma imaginação e de um entendimento “todo homem é animal” de tal modo que a gente cai num
suspensos ou, se se preferir, dogmaticamente inativos. círculo vicioso.
Entretanto, para chegar a esse silêncio do entendimento Até esses últimos anos, alguns eruditos ficaram
colocado na impossibilidade de se pronunciar sobre a natureza exasperados pela multiplicação dos argumentos que Sexto
em si do objeto empírico, é preciso poder dispor de remédios Empírico propôs, enquanto que um espírito tão fino como o
apropriados e, sobretudo, cuidadosamente dosados a fim de de Henri Estienne encontrou neles um grande deleite. Com
não ocasionar, pela refutação de uma tese, a adesão do espírito efeito, é preciso ver bem que este estoque de argumentos
a uma tese contrária. É a razão pela qual os céticos inventam, dialéticos reuniu uma farmacopeia extremamente diversificada,
com Agripa, e praticam, com Sexto Empírico, uma nova lógica. comportando analgésicos,
Enquanto que, nas escolas gregas de filosofia, a lógica ou a calmantes e tranquilizantes da
dialética cumprem uma função defensiva contra os adversários alma, objetos necessários para
do sistema, aqui a dialética é o instrumento de uma terapêutica o cientismo da época, isto é, a
destinada a dividir a alma em duas, ou seja, a impedir o pretensão dogmática de tudo
entendimento de dogmatizar, concedendo plena confiança aos conhecer.
sentidos e à vida. Ora, da mesma forma
Os novos céticos imaginaram cinco argumentos. O primeiro como observamos a propósito
é o da discordância. Ele consiste em reconhecer a oposição do pirronismo, quando, longe de
entre as opiniões e as teses; assim; na frase “A neve é branca, derrubar toda ciência, a dúvida é
mas a água é escura” é impossível saber qual é essencialmente solidária de um estado dado da Imagem disponível em: http://
salimos.ufpa.br/. Acesso em:
a cor da água, e convém suspender o juízo quanto a este ponto. ciência, constatamos também em 16/04/2013.
O segundo argumento é o da regressão ao infinito. Ele consiste Sexto Empírico uma evolução particularmente significativa.
em considerar que a prova a que o dogmático quiser recorrer Seu último tratado, Contra os astrólogos, não é dirigido contra
remete a uma outra prova, e assim ao infinito; por exemplo, a astronomia experimental, mas contra o charlatanismo
pretender dar uma definição absoluta de qualquer coisa expõe dos caldeus. Ele admite a utilidade e a legitimidade de uma
quem formula esta pretensão a uma regressão ao infinito, já astronomia experimental que permita regular os trabalhos da
que o que define requer que ele mesmo seja definido, e assim agricultura e prever as cheias dos rios.
por diante. O terceiro argumento é o da relação. Ele consiste Vemo-lo discutir os problemas postos para a medida do
em constatar que não somente os objetos são relativos entre si, tempo por meio de um relógio d’água e refletir sobre o ajuste
mas que toda representação é sempre uma representação para das simultaneidades. Enfim, o empirismo resulta em pesquisas
um sujeito e relativa a ele. Este argumento retoma o da relação comparáveis aos futuros métodos indutivos de Stuart Mill e
tal como Enesidemo o expressara. Esquerda e direita, pai e filho coloca a possibilidade de edificar uma ciência não dogmática,
que seria experimental.
são relativos. Significante e significado são relativos. Tudo é
Ainda que isso seja dito muito claramente pelos textos
relativo, o que exclui a universalidade. A própria fórmula “tudo
céticos, essa afirmação pode, entretanto, surpreender.
é relativo” deve ser entendida no sentido de “tudo nos aparece
Ela decorre do fato de que, em matéria de ceticismo, o
ou nos é representado conforme um fenômeno relativo”. Esse
contrassenso parece ter conseguido mais força que a própria
argumento manifesta a herança filosófica de Protágoras. Ele
verdade histórica; mais exatamente, é o próprio contrassenso
estabelece um relativismo universal. Ele denuncia a pretensão
que é histórico a ponto de se impor contra a letra dos textos.
do entendimento de se referir a uma certeza absoluta, ao
Consequentemente, é a este aspecto tradicional do ceticismo
conhecimento do real. O quarto argumento é o da hipótese.
que convém agora voltarmos nossa
Quando os dogmáticos querem escapar do regresso ao infinito,
atenção. 7H[WRH[WUD¯GR
eles colocam no início da cadeia de razões algo indemonstrável SANTOS, Ana Rita.
do qual convém admitir o caráter hipotético. Isto é o que 2.2 - Empirismo Empirismo (2007).
Disponível em: http://
fazem os geômetras que procedem por axiomas, definições e www.notapositiva.
postulados. Mas o cético recusa-se a aceitar o que eles pedem 2.2.1- Introdução com/trab_estudantes/
trab_estudantes/
e esquecer o caráter hipotético dos princípios nos quais a ȴORVRȴDȴORVRȴDB
trabalhos/empirismo.
dedução se fundamenta. htm. Acesso em:
Assim, a geometria euclidiana ou a geometria estoica 16/04/2013.
são denunciadas como sistemas hipotéticos: a outras
40 )LORVRȴD 38
‡&RQKHFLPHQWRFLHQWtILFR:
Para o Empirismo, a Experiência é a base do conhecimento
científico, ou seja, adquire-se a Sabedoria através da percepção
do Mundo externo, ou então do exame da atividade da nossa
mente, que abstrai a Realidade que nos é exterior e as modifica
internamente. Daí ser o empirismo de carácter individualista,
pois tal conhecimento varia da percepção, que é diferente de
um indivíduo para o outro.
‡2ULJHPGDVLGHLDV:
O empirismo diz que a origem das Ideias é o processo de
ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSZZZȴVLFDLQWHUHVVDQWHFRPDXODKLVWRULD
e-epistemologia-da-ciencia-6-racionalismo-e-empirismo-1.html. Acesso em: abstração que se inicia com a percepção que temos das coisas
16/04/2013.
através dos nossos sentidos. Daí diferencia-se o empirismo:
A doutrina do empirismo foi definida explicitamente não preocupado com a coisa em si, estritamente objectivista;
pela primeira vez pelo filósofo inglês John Locke no século nem tão pouco com a ideia que fazemos da coisa atribuída pela
XVII. Locke argumentou que a mente seria, originalmente, Razão, como ensina o Racionalismo; mas puramente como
um “quadro em branco” (tábua rasa), sobre o qual é gravado percebemos esta coisa, ou melhor dizendo, como esta coisa
o conhecimento, cuja base é a sensação. Ou seja, todas as chega até nós através dos sentidos.
pessoas, ao nascer, o fazem sem saber de absolutamente nada, ‡5HODomRGHFDXVDHIHLWR:
sem impressão nenhuma, sem conhecimento algum. Para o empirismo a relação de causa e efeito nada mais
Todo o processo do conhecer, do saber e do agir é é do que o resultado da nossa forma habitual de perceber
aprendido pela experiência, pela tentativa e erro. fenômenos e relacioná-los como causa e consequência através
Historicamente, o empirismo se opõe a escola conhecida de uma repetição constante. Ou seja, as leis da Natureza só
como racionalismo, segundo a qual o homem nasceria com seriam leis porque se observaram repetidamente pelos Homens.
certas ideias inatas, as quais iriam “aflorando” à consciência e ‡$XWRQRPLDGRVXMHLWR:
constituiriam as verdades acerca do Universo. A partir dessas O empirismo nega tal identidade permanente, pois o
ideias, o homem poderia entender os fenômenos particulares conteúdo da nossa consciência varia de um momento para
apresentados pelos sentidos. O conhecimento da verdade, outro de tal forma que ao longo do tempo essa consciência teria,
portanto, não dependeria dos sentidos físicos. em momentos diferentes, um conteúdo diferente. A explicação
está no fato de que a consciência, como sendo um conjunto
2.2.21R©¥RGH(PSLULVPR de representações, dependeria das impressões que temos das
coisas, mas sendo impressões estariam sujeitas a variações.
2ULJHPGRFRQKHFLPHQWR
‡&RQFHSomRGHUD]mR:
O empirismo, apesar de não possuir pensamento
Racionalismo Empirismo contraditório entende de forma bem diferente: diz que a Razão
é dependente da experiência sensível, logo não vê dualidade
8QLYHUVDOLGDGHH Conhecimento entre espírito e extensão (como no Racionalismo), de tal forma
necessidade limitado
5HPLQLVF¬QFLDH Associação de
que ambos são extremidades de um mesmo objeto.
Razão ([SHUL¬QFLD ‡0DWHPiWLFDFRPROLQJXDJHP:
dedução ideias
No empirismo tal método matemático não é aceite. A
A mente
experiência é o ponto de partida de nosso conhecimento, logo
não há necessidade de fazer hipóteses. Assim caracteriza-se o
3RVVXLLGHLDVLQDWDV ‹XPDW£EXDUDVD método indutivo que parte do particular (experiências) para a
ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSZZZQRWDSRVLWLYDFRPSWWUEHVWEVȴORVRȴDB elaboração de princípios gerais.
empirismo_jon_locke_d.htm. Acesso em: 16/04/2013. ‡0pULWRHOLPLWHVGRHPSLULVPR:
Empirismo é a escola de Epistemologia (na filosofia O grande mérito do empirismo consiste em ter salientado
ou psicologia) que avança que todo o conhecimento é o a importância da experiência no conhecimento humano.
resultado das nossas experiências (teoria da “Tábua Rasa” de Limites do empirismo: Na medida em que todos os
J. Locke). O empirismo é um aliado próximo do materialismo conteúdos do conhecimento procedem da experiência,
(filosófico) e do positivismo, sendo oposto ao racionalismo o conhecimento fica encerrado nos limites do mundo
europeu continental ou intuicionismo. empírico (o que traz algumas consequências menos positivas).
O empirismo é geralmente observado como sendo o Rejeitando a razão como fonte do conhecimento, o empirismo
fulcro do método científico moderno. Defende que as nossas não pode aspirar ao conhecimento universal e necessário e,
teorias devem ser baseadas nas nossas observações do mundo, por isso, não oferece qualquer espécie de segurança ou certeza,
em vez da intuição ou fé. Defende a investigação empírica e pois o conhecimento está sujeito à mobilidade das impressões
o raciocínio dedutivo. sensoriais desencadeadas pelos objetos.
Kant tentou obter um compromisso entre o empirismo A sua particularidade e contingência fazem do
e a corrente oposta, o racionalismo. conhecimento empírico, um conhecimento meramente relativo.
O conhecimento empírico, baseando-se em raciocínios
2.2.3 - Características do Empirismo indutivos, não nos dá rigor nem certezas, antes pelo contrário,
39 41
este tipo de raciocínio possibilita o erro. Pela indução conexão necessária entre conhecimento e outro.
apenas podemos acreditar, pela experiência do passado, que Como é que estabelecemos uma relação causa-efeito?
determinados fenômenos que se foram repetindo, continuarão Segundo os empiristas, aquilo que afirmamos ser causa e
a repetir-se no futuro. efeito são dois factos inteiramente diferentes, cada um dos
Ora, tudo isto impossibilita a ciência: Um tipo de quais nada tem em si que exija necessariamente o outro. Por
conhecimento que capta o acidental ou circunstancial e não ex.: quando vemos uma bola que corre em direção à outra
capta o essencial, o permanente, e que, além disso, infere o supomos o movimento da 2ª bola como resultado do seu
geral de casos particulares, não nos dá certezas científicas, pois encontro. A experiência diz-nos que o choque da 1ª bola pôs
não permite a elaboração de leis. em movimento a 2ª, mas… a experiência não nos ensina mais
Por não ter necessidade lógica, apenas nos dá garantias nada e nada diz acerca do futuro. Logo, a ideia de causalidade
psicológicas. Assim, Hume, afirma que o conhecimento é uma mera associação de ideias.
científico se baseia na crença, numa certa UHJXODULGDGH da Assim, tudo aquilo que sabe que nos parece semelhantes,
QDWXUH]D e no KiELWR (associação repetida de fenômenos), esperamos efeitos semelhantes. Mas o vínculo entre causa
adquirido a partir de tal regularidade. e efeito não pode ser demonstrado como objetivamente
Como consequência de tudo isto: assim como os necessário, dado que o curso da natureza pode mudar. Portanto
racionalistas tendem para um dogmatismo, os empiristas a ideia de causalidade surge em virtude de uma regularidade,
tendem para o cepticismo, isto é, para a negação de que se mas sobre tudo, da união de ideias que se repetem muitas
possa alcançar a verdade, pois, uma vez que a possibilidade do vezes unidas. E por isso, quando pensamos em algumas delas
conhecimento fica confinada à experiência. surge-nos a ideia da outra, por sucessão.
Quando vemos, muitas vezes, unidos dois acontecimentos,
2.2.4 - Doutrinários do empirismo somos levados pelo hábito a esperar quando o outro se mostra.
O hábito e a crença na regularidade da natureza explicam a
‡-RQK/RFNH
conjunção que estabelecem entre os fatos, não a sua conexão
Locke, foi um dos principais representantes da corrente
necessária.
empirista.
Devido a esses limites e, sobretudo, aos raciocínios
indutivos, não é possível fazer ciência.

2.3 &RUUHQWHIHQRPHQROµJLFD
2.3.1 - A teoria FILHO, L. B. A. A Teoria do
do conhecimento Conhecimento Fenomenológico

IHQRPHQROµJLFR QD na Contemporaneidade (2009).


Disponível em: http://www.
contemporaneidade webartigos.com/artigos/a-
teoria-do-conhecimento-
fenomenologico-na-
Imagem disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/pensadores-da-
educacao/john-locke.shtml. Acesso em: 16/04/2013.
O que é a fenomenologia? contemporaneidade
/26349. Acesso em:
Muitas perguntas, muitas respostas. 16/04/2013.
Locke considerava que todas as nossas ideias vêm de fora e
A fenomenologia é o estudo
todo o nosso conhecimento é adquirido através da experiência.
da consciência e dos objetos da
A mente (razão) é uma tábua rasa ou uma ‘folha em branco’ na
consciência. É neste contexto
qual nada há (nenhuma ideia, nenhum conhecimento) antes da
que a redução fenomenológica,
primeira experiência. As ideias formam-se a partir da indução de
é o processo pelo qual tudo que
experiências particulares. O empirismo nega, pois, a existência de
é informado pelos sentidos é
ideias inatas. (é aqui que reside a grande diferença relativamente
mudado em uma experiência de
ao racionalismo) isto é, ideias que a razão descobre em si mesma
consciência, em um fenômeno que
independentemente de qualquer experiência. Os dados que vão
consiste em se estar consciente
sendo escritos na mente provêm de dois tipos de percepção ou Imagem disponível em: http://
de algo. Assim, acredita-se que kirolandia.blogspot.com.
experiência: da percepção externa cuja fonte é a sensação; da
quando intencionamos as coisas, br/2011/04/e-in-arrivo-pakiro.
percepção interna cuja fonte é a reflexão. O empirismo procura html. Acesso em: 16/04/2013.
situações, fatos e quaisquer tipos de
mostrar que a razão não é propriamente criativa, isto é, ela não
objetos como imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos
pode criar conhecimentos a partir de si mesmos, mas, só pode
eventos, memórias, sentimentos, e assim sucessivamente, que
usar materiais extraídos da experiência. A razão, segundo Locke
constituem nossas experiências de consciência, ou seja, é o
(e os demais empiristas) tem apenas como função organizar os
modo como o conhecimento do mundo acontece, a visão do
dados empíricos, limitando-se a unir uns aos outros os diferentes
mundo que o indivíduo tem. Como se vê, é certo que o método
dados que lhe chegam por via da experiência.
fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas,
Então podemos afirmar como defende Locke que ‘Nada
isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se
pode existir na mente que não tenha passado antes pelos sentidos’.
dá como objeto intencional. Para esclarecer, Danilo Marcondes
‡'DYLG+XPH analisa em seu texto “Os Herdeiros da Modernidade” que “ O
Hume nega a existência de ideias complexas e uma delas é lema básico da fenomenologia é “de volta às coisas mesmas”,
a ideia de causalidade. procurando com isso a superação da oposição entre realismo e
Assim, Hume tenta explicar como é que podemos afirmar idealismo, entre o sujeito e o objeto, a consciência e o mundo.”
42 )LORVRȴD 40
( MARCONDES, 2004, p. 257 – 258). problema ontológico, sua tentativa representa algo como
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que concebe uma terceira via: enquanto a fenomenologia de tipo kantiana
ao pensamento a certeza de reter só o essencial do fenômeno concebe o ser como o que limita a pretensão do fenômeno
em questão, e o método fenomenológico é aquele que oferece ao mesmo tempo em que ele próprio permanece fora de
uma técnica de busca da essência dos fenômenos. Apesar alcance, enquanto inversamente, na fenomenologia hegeliana,
da fenomenologia estar caracterizada como uma filosofia o fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático
essencialista a sua finalidade era a de ser uma solução objetiva do ser, a fenomenologia husserliana se propõe como fazendo
para todo o subjetivismo intelectual em voga na época de sua ela própria, as vezes, de ontologia pois, segundo Husserl,
idealização. O seu precursor, Edmund Husserl, objetivava o sentido do ser e o fenômeno não podem ser dissociados.
criar uma corrente filosófica que desse uma base sólida para a Husserl procura substituir uma fenomenologia limitada por
filosofia e para as ciências, sendo uma solução definitiva para uma ontologia impossível e outra que absorve e ultrapassa
o caos intelectual do final do século XIX e do início do XX. a fenomenologia por uma fenomenologia que dispenda a
Vale salientar que a fenomenologia para Husserl almeja ontologia como disciplina distinta, que seja, pois, a sua maneira,
o estudo das essências, isto é, respondo-as na existência, pois ontologia - ciência do ser. (DARTIGUES, 1992, p.4)
ela não existe independente do objeto sendo invariável. A
mesma é a ciência das essências, que são maneiras que relatam
o fenômeno, por isso, não é adquirida da comparação e da
abstração dos objetos em si. Com isso, é necessário ao retorno
da coisa mesma, que busca filosofar seguindo os problemas
que estão na vivência da consciência prescindido o mundo
exterior e às discussões feitas por outros teóricos, essas teorias
podem ser de grande ajudas para se chegar aos fenômenos,
ou seja, a coisa mesma.
No âmbito da história da filosofia, o termo fenomenologia
é muito anterior a Husserl e transita na obra de grandes
pensadores. Martin Heidegger (2005a) em a “Introduction to
phenomenological research: Indiana” coloca que: ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSIDȵRUFRPEUDGPLQLVWUDVHPSUH"S $FHVVRHP
16/04/2013.
A expressão ‘fenomenologia’ aparece pela primeira vez no
O fenômeno, portanto, segundo Hegel, citado por
século XVIII na escola de Christian Wolff, no Neues Oragnon
Dartigues, é reabsorvido num conhecimento sistemático do Ser.
de Lambert, diretamente ligada à desenvolvimentos análogos
Em sua introdução, Dartigues reporta-se como Kant, Hegel
populares naquela época, tais como dianologia e alethiologia, e
e Husserl concebem o fenômeno. Em primeiro lugar Kant
significava a própria teoria da ilusão, uma doutrina para evitar
concebe o Ser como o que limita a pretensão do fenômeno,
as ilusões. Algo parecido aparece em Kant. Em uma carta à
e ao mesmo tempo em que ele próprio permanece fora do
Johann Heinrich Lambert, ele escreve: ‘Isso (a fenomenologia)
alcance. No segundo lugar Hegel enfoca que a fenomenologia
aparece de um modo bastante particular, como uma disciplina
propedêutica que deve preceder a metafísica, onde os valores é uma filosofia do absoluto ou do espírito enquanto que o
e limites do principio da sensibilidade são determinados.’ Mais fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático do
tarde, ‘fenomenologia’ é título da maior obra de Hegel. (...) Ser, e por fim Husserl propõe-se como fazendo ela própria
‘Fenomenologia’ aparece também nas conferencias de Franz (a fenomenologia) de Ontologia, pois o sentido do Ser e do
Bretano acerca da metafísica.” (HEIDEGGER, 2005a.:3) fenômeno não podem Ser dissociados.
Nesse fragmento acima, podemos perceber que todo Com isso, a base da ideia da fenomenologia de Husserl
caminho traçado pelo sentido da expressão não rejeitava o é o próprio afronte à tradição metafísica, ou seja, a contraria
passado ao dar um passo à frente. É evidente que desde o a separação estrutural das coisas do mundo, da consciência,
tempo em que foi apresentado o termo fenomenologia, suas do espírito e do saber em sujeito e objeto. Em outras
conceituações se transformaram sem descarte. Trata-se de palavras, Husserl motivado pela inquietude da insatisfação
uma maneira de pensar que procura tanto evitar as ilusões com a superficialidade das ciências modernas e a tradição
quanto driblar a superficialidade da metafísica em relação à metafísica, que há tempos fechava-se em construções teóricas
compreensão do saber pelos sentidos. Dessa forma, ao propor e interpretações antecipadas, propõe seu método investigativo
seu conceito de fenomenologia, Edmund Husserl o apresenta pautado na extinção do dualismo tradicional que cristaliza e
como um contraponto à crise das ciências modernas, a saber, o segmenta os entes como coisas e o ser destes como um ente
naturalismo e o psicologismo puramente empirista emergente também. No caso, tudo passa a ser estratificado para objetificar,
na época, que desejava ser à base de todas as ciências humanas. para ser capaz de conhecer e, dessa forma, teorizar para saber,
A fenomenologia husserliana difere das constituídas por Kant separando o ser do ente e, consequentemente, o fenômeno ele
e Hegel, de modo estrutural, isto é, no que diz respeito à mesmo de seu sentido/essência primordial.
própria questão do ser ou, ainda, em relação a uma teoria do Para Robert Sokolowski (2004), esta atividade de dar conta
ser absoluto ou ontologia. Diante disto, em seu livro “O que é é o significado do termo fenomenologia. Esta atividade de dar
a fenomenologia?” André Dartigues (1992) coloca o seguinte: conta proporciona um logos, de vários fenômenos e dos vários
Se, no entanto, compararmos Husserl a Kant e a Hegel, modos em que as coisas podem aparecer. Podemos explorar
com os quais seria permitido aproximá-lo quanto aos vários todos os fenômenos, quando percebemos a intencionalidade
pontos particulares, podemos notar que, com respeito ao de nossa consciência em direção ao fenômeno. Analisando o
41 43
que nos revela o autor entendemos que a fenomenologia se a decisão sobre sua própria essência. O aluno é um ser para si,
preocupa tão somente com o fato isolado, puro, desprezando cuja dignidade é o centro de sua própria existência.
as bases cognitivas do sujeito, mas também como seu processo
histórico e seus valores culturais. Robert Sokolowski (2004) nos
traz que a análise fenomenológica parte da intencionalidade.
A Fenomenologia afirma a importância dos fenômenos da
consciência os quais devem ser estudados em si mesmos,
tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses
fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada
um designado por uma palavra que representa a sua essência, Imagem disponível em: http://novotempo.com/tv/2011/03/21/educacao/. Acesso
sua “significação”. Os objetos da Fenomenologia são dados em: 16/04/2013.

absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de Nesse contexto, o professor não é alguém que instrui,
descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades que transmite ao aluno conceitos que devem ser assimilados.
objetivas que correspondem a elas (noema). O professor deve sim, apresentar diferentes pontos de vista
A Fenomenologia representou uma reação à pretensão sobre algo que expõe e deixar os alunos optar por si mesmos,
dos cientistas de eliminar a metafísica. É interessante assinalar não deve impor um modo de ver as coisas, muito menos
que Robert Sokolowski (2004) em seu texto “ Introdução formar opinião. Agindo assim, o aluno seria convertido em
à Fenomenologia: Uma Declaração inicial do que é a objeto, e o professor em agente de má fé e se torna desonesto,
fenomenologia”, dizendo o seguinte: uma vez que nenhuma matéria é mais importante que outra, é
O termo “noema” se refere aos correlatos objetivos o aluno que vai adquirir o conhecimento pelo próprio esforço
das intencionalidades; refere-se a tudo o que é intencionado (NIELSEN NETO, 1988).
pelas intenções de nossa atitude natural: um objeto material, De acordo com Kneller, um dos representantes mais
um retrato, uma palavra, uma entidade matemática, outra destacados da fenomenologia na área educacional, o objeto de
pessoa. Porém, mais especificamente, refere-se a tais correlatos estudo, o conhecimento codificado, não deve ser tratado com
objetivos precisamente como sendo vistos desde a atitude um fim em si mesmo, nem como um meio destinado a preparar
transcendental. Refere-se a eles como tendo sido postos o estudante para uma profissão, mas, deve ser usado antes, como
entre colchetes pela redução transcendental-fenomenológica. um meio para o desenvolvimento pessoal e a auto-realização.
[...] O uso do termo “noema” é sinal de que estamos na Em vez de sujeitar o estudante à matéria, esta deve ficar sujeita
fenomenologia, no discurso filosófico, e de que as coisas que ao estudante. Devemos deixar o estudante “apropriar-se” de
estão sendo ditas estão sendo debatidas a partir de um ponto qualquer conhecimento que for objeto de seus estudos. Nesse
de vista filosófico, não de um ponto de vista da atitude natural. sentido, segundo o autor, as matérias escolares devem, portanto,
( SOKOLOWSKI, 2004, p. 68) converter-se em instrumentos para a realização da pessoa,
não disciplinas impessoais a que todos devem ser submetidos
indistintamente. Assim, a pessoa em desenvolvimento, o
&RQKHFLPHQWR)LORVµȴFR estudante, poderá elaborar mentalmente verdades para si
mesmo, não verdades em abstrato, mas suas verdades.
)RUPD©¥R+XPDQ¯VWLFD &RQKHFLPHQWR6HU+XPDQR Com isso, não se quer afirmar que as pessoas devem
acreditar somente no que gostam, mas pelo contrário, a busca
Conhecimento da Sociedade pelo conhecimento irá despertar no estudante o desejo para
verificar se as coisas são verdadeiras. Assim, se o que for
verdade para alguns, para outros não se comporta da mesma
maneira será possível uma discussão sobre os fatos e sobre
Formação Técnica Conhecimento Técnico essas verdades, podendo gerar outras verdades. O estudante
deve achar as verdades para si mesmo, verificar as leis universais
e estar apto a incorporar a sua visão pessoal do mundo.
ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSZZZFRODGDZHEFRPHGXFDFDRȴVLFDDHGXFDFDR Enquanto que, como a filosofia positivista, que
ȴVLFDFRPRPHLRGHYLGD$FHVVRHP
predominou até a década de 70, presenciamos a reificação
2.3.2 - 2 SHQVDPHQWR do conhecimento, transformando-o num mundo objetivo de
IHQRPHQROµJLFRHDHGXFD©¥R “coisas”, com a fenomenologia, realizou-se a desreificação do
conhecimento (TRIVIÑOS, 1987, p. 47).
A educação, numa perspectiva A reificação do conhecimento teve consequências
BASEI, A. P. O pensamento
fenomenológica, de acordo com fenomenológico ea extraordinárias para a elaboração do currículo escolar,
Nielsen Neto (1988, p. 92), deve educação (2008). Disponível transformando o conhecimento numa soma de informações
em: http://www.efdeportes.
mostrar ao aluno a vida tal como ela com/efd119/o-pensamento- que era transmitida e devia ser assimilada pelo aluno. Assim,
é na sua precária transitoriedade e fenomenologico-e-a-
HGXFDFDRHGXFDFDRȴVLFD o currículo constituiu-se, e de certa forma ainda constitui-se,
estimulá-lo a tomar consciência de si htm. Acesso em: 16/04/2013. como algo elaborado, terminado e alheio fundamentalmente
mesmo. Assim, toda a aprendizagem aos sujeitos.
é realizada a partir da individualidade do aluno, pois o professor Já com a fenomenologia, de acordo com Triviños (1987,
é apenas aquele que tem a possibilidade de despertar na criança p. 47), fala-se de currículo construído, de currículo vivido pelo
44 )LORVRȴD 42
estudante, baseado nas experiências do mundo de vida dos sua própria experiência, buscando,buscando construir, ele
alunos. Segundo o autor ainda, a fenomenologia representa mesmo, sua capacidade de estruturar a forma de absorver o
uma tendência filosófica que, entre outros méritos, tem conhecimento, tanto no plano cognitivo, como afetivo. A
questionado os conhecimentos do positivismo, elevando a aprendizagem tende a ser psicologicamente significativa e
importância do sujeito na construção do conhecimento. envolver, politicamente os mais variados aspectos do individuo.
O enfoque fenomenológico, privilegiando a escola tem O professor, nesse caso funciona com um facilitador de
demonstrado que os estudos da sala de aula, da interpretação aprendizagem, cabendo ao aluno a responsabilidade de definir
dos fenômenos como ocorrem, oferece a possibilidade de seus objetivos e dar significados a eles.
tratar-se de alguns elementos culturais, como os valores, que A metodologia adotada, portanto, deve promover o
caracterizam o mundo vivido dos sujeitos. Nesse sentido, relacionamento interpessoal, a autonomia do educando e a
a construção do conhecimento e o conhecer depende do troca de experiências. As grades curriculares consistem em
mundo cultural dos sujeitos e de sua interpretação, enquanto diretrizes, não acolhendo verdades absolutas. O aluno é o
forma de interpretação na busca dos significados da principal responsável pela seleção dos conteúdos, bem como
intencionalidade dos sujeitos. da respectiva construção do conhecimento através deles.
O processo de avaliação não contempla qualquer
2.4 - Corrente humanista padronização dos resultados da aprendizagem, utilizando-
se mais os métodos de autoavaliação e menos o poder de
Para a corrente humanista, o
GALVÊAS, E. C. As Principais avaliação do professor.
individuo é peça chave e principal Correntes da Pedagogia (2001).
colaborador da construção dos Disponível 2.4.1 - &RQWH[WRKLVWµULFR
em: http://www.
saber-digital.net/artigo/
saberes humanos, de modo que as-principais-correntes-
da-pedagogia. Acesso em:
toda ênfase é referida a vida 09/03/2013. No final do século XV, a Europa
emocional e psicológica do aluno, passava por grandes mudanças, Correntes GALVÊAS, E. C. As Principais
da Pedagogia
bem como em suas relações provocadas por invenções como (2001). Disponível em:
http://www.saber-digital.
interpessoais. O professor é um a bússola, pela expansão marítima net/artigo/as-principais-
facilitador, um orientador para que incrementou a indústria naval correntes-da-pedagogia.
Acesso em: 09/03/2013.
levar o conhecimento ao aluno, e o desenvolvimento do comércio
cultivando as experimentações com a substituição da economia de
práticas junto com os próprios subsistência, levando a agricultura a se tornar mais intensiva e
alunos. regular.
Nessa escola não se aceita a Deu-se o crescimento urbano, especialmente das cidades
existência de modelos prontos e Imagem disponível em: http:// portuárias, o florescimento de pequenas indústrias e todas as
www.brasilescola.com/historiag/
regras predefinidas, pois o homem humanismo-renascentista.htm. demais mudanças econômicas provenientes do Mercantilismo,
é um ser em permanente evolução, Acesso em: 16/04/2013. inclusive o surgimento da burguesia.
e a sua vida é um processo contínuo de exercício de utilização Todas essas alterações foram agilizadas com o surgimento
de sua capacidade parar superar-se. Dessa forma, o homem e dos humanistas, estudiosos da cultura clássica antiga. Alguns
o conhecimento estão em permanente e inacabado processo eram ligados à Igreja; outros, artistas ou historiadores,
dialético, que exige esforço contínuo de atualização. A independentes ou protegidos pro mecenas. Esses estudiosos
característica fundamental desta abordagem é que o individuo tiveram uma importância muito grande porque divulgaram,
já nasce com a potencialidade de vir a ser. de forma mais sistemáticas, os novos conceitos, além de
Para se ter uma visão do mundo, deve-se proporcionar identificaram e valorizarem direitos dos cidadãos.
ao aluno um ambiente de liberdade, a fim de que o mesmo Acabaram por situar o homem como senhor de seu
possa se manifestar e se expressar livre e abertamente (dentro próprio destino e elegeram-no como a razão de todo
dos princípios de educação e civilidade), o que contribui para conhecimento, estabelecendo, para ele, um papel de destaque
o desenvolvimento de suas potencialidades. no processo universal e histórico.
É o próprio homem que constrói seu mundo real. Essas mudanças na consciência popular, aliadas ao
Diferentemente do enfoque da escola sociocultural, o fortalecimento da burguesia, graças à intensificação das
humanismo não enfatiza o coletivo, nem o trato social, atividades agrícolas, industriais e comerciais, foram, lenta e
concentrando-se no próprio indivíduo. Daí que a educação gradativamente, minando a estrutura e o espírito medievais.
deve ser vista com independência suficiente para não cair Em Portugal, todas essas alterações se fizeram sentir,
na planificação social, nem servir de controle coercitivo à evidentemente, ainda que algumas pudessem chegar ali com
manipulação das pessoas. menor força ou, talvez, difusas, sobretudo porque o impacto
Na escola humanista, o ensino procura gerar um ambiente maior vivido pelos portugueses foi proporcionado pela
propício à aprendizagem, fazendo com que todos os alunos Revolução de Avis ( 1383-1385 ), na qual D. João, mestre de Avis,
participem do processo educativo. Preocupa-se, igualmente, foi ungido rei, após liderar o povo contra injunções de Castela.
com a promoção da capacidade de autoaprendizagem do Alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam sua
aluno, com vista a acelerar seu desenvolvimento intelectual influência no rumo que as manifestações artísticas tomaram
e afetivo, valorizando a autonomia e a autodeterminação, no em Portugal. São eles: as mudanças processadas no país pela
combate à heteronomia (dependência de tudo e de todos). Revolução de Avis; os efeitos mercantilistas; a conquista
No processo de aprendizagem, o aluno deve usar
43 45
de Ceuta ( 1415 ), fato que daria início a um século de consequências nos domínios religioso, filosófico e científico,
expansionismo lusitano; o envolvimento do homem comum configurando a crise do pensamento medieval, a qual explica
com uma vida mais prática e menos lirismo cortês, morto em a hostilidade dos humanistas à Escolástica e o sucesso dos
1325; o interesse de novos nobres e reis por produções literárias novos pensamentos.
diferentes do lirismo. Tudo isso explica a restrição do espaço A fonte mais viva do humanismo talvez seja a redescoberta
para o exercício e a manifestação da imaginação poética, a da Antiguidade. Embora a Idade Média não ignorasse tal
marginalização da arte lírica e o fim do Trovadorismo. A partir período, via-o de modo truncado e deformado. Truncado,
daí, o ambiente se tornou mais propício à crônica e à prosa porque não conhecia a maior parte da literatura grega, senão
histórica, ao menos nas primeiras décadas do período. através das análises latinas (por exemplo, Homero, através de
Virgílio, ou os estoicos, através de Cícero). Deformado, por
2.4.2 2+XPDQLVPR aquelas obras satisfazerem apenas politicamente as instituições
do Estado Romano.

2.4.4$ILORVRILDKXPDQLVWD

ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSȴORVRIDQGRPHEORJVSRWFRPEU$FHVVRHP
16/04/2013.

Fala-se em humanismo sempre que o valor fundamental de


uma doutrina é a pessoa humana, o sentimento, a originalidade
e a superioridade do homem sobre as forças obscuras da
natureza.
Essa palavra, entretanto, possui uma conotação histórica,
localizada no tempo e no espaço: designa um movimento
ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSȴORVRȴDHFRLVDVGDYLGDEORJVSRWFRPEU
estético, filosófico e religioso que, preparado pelas correntes do KDȴORVRȴDQREUDVLOKWPO$FHVVRHP
pensamento medieval, surgiu na Itália no século XV e difundiu-
Com a revelação da filosofia de Platão, avaliaram-se
se através da Europa no século XVI, caracterizando-se por um
novamente as doutrinas de Aristóteles. Averróis (1126-1189)
esforço em avaliar o homem em sua essência, propondo uma
propôs uma nova interpretação de Aristóteles: a separação
arte de vida em que ele se perpetuasse.
total da filosofia e da fé. Em Pádua, Pietro Pompanazzi (1462-
2.4.3  2V IXQGDPHQWRV GR 1525) fundamentou a doutrina filosófica naturalista. Outros
+XPDQLVPR pensadores da Pádua continuaram seus ensinamentos, que
introduziram no universo um estrito determinismo, não
O humanismo fundamentou-se inicialmente na herança cedendo lugar à intervenção divina. O averroísmo paduano
medieval, mesmo contrapondo-se ao sistema existente. Assim, foi bastante importante durante todo o século, influenciando
através dos tempos, a Sagrada Escritura forneceu aos homens uma desde Rabelais a Copérnico.
cosmologia, uma história, uma moral e uma finalidade existencial, Entretanto a verdadeira filosofia humanista, impregnada
enquanto a Idade Média edificara uma filosofia de início submissa pelo pensamento de Platão, consolidou-se com Marsilo
à teologia, mas tendendo progressivamente a explicar sobretudo Ficino (1433-1499), protegido por mecenas como Cosme e
os pontos em que a Bíblia não mais satisfazia a curiosidade do Lourenço, o Magnífico. Ficino escreveu a Teologia Platônica,
espírito humano. Criou-se então uma ciência que permitiu ao em que criou uma ontologia para o neoplatonismo: “Deus é
homem compreender o mundo para tentar dominá-lo. o ser de que emanam todos os outros seres, hierarquizados
A filosofia e a ciência baseavam-se em Aristóteles, segundo suas ordens de pureza. As almas austrais e anjos são
conhecido integralmente a partir do século XIII, por intermédio puras criaturas celestiais, imortais e perfeitas, que asseguram
de tradutores e comentadores árabes e judeus. Através de a marcha que compõe o universo incorruptível. Em
traduções, conheceu-se uma lógica, um modo racional, uma contraposição, encontra-se o universo material, composto por
concepção do conhecimento e um corpo científico. criaturas e ideias próximas de Deus, que necessitam de formas
Tomás de Aquino, frente a um pensamento tão completo sensíveis para existir, mas estas formas não são mais que
e totalmente estranho ao cristianismo, introduziu uma solução traduções imperfeitas e corruptíveis dos arquétipos divinos”.
global, proclamando a unidade profunda da verdade através do Em síntese, no centro do cosmos, o homem era alma imortal,
acordo da fé com a razão. Contudo, no fim do século XV, apenas imagem de Deus, criatura privilegiada entre todas, embora
alguns pensadores defendiam o tomismo, pois o nominaIismo sendo material. Sua vocação para o conhecimento ultrapassava
de Guilherme D’Occam (1280-1349) passara a dominar os o mundo das aparências sensíveis e atingia as ideias, que lhe
ensinamentos universitários. Para D’Occam, as verdades da permitiam alcançar Deus.
fé não comportavam uma análise racional, enquanto a razão, Porém, o homem podia assemelhar-se a Deus,
a partir das aparências sensíveis, podia elaborar uma ciência primeiramente, e depois identificar-se com ele, se Deus o
puramente experimental, que nada devia à Escritura. Esse quisesse, pela criação. O homem era, como Deus, um artista
conhecimento individualizava os conceitos que os homens universal. O “homem viu bem a ordem dos céus, a origem
usavam para designar as espécies. dos seus movimentos, sua progressão, sua distância e sua ação.
Esse divórcio entre a fé e a razão trouxe inúmeras Quem poderia, portanto, negar que ele possui o próprio gênio
46 )LORVRȴD 44
do criador e que seria capaz de moldar os céus, se tivesse os Sócrates. Platão tinha o maior apreço e a maior reverência para
instrumentos e a matéria celeste? O homem é o Deus de com seu mestre. Quando Sócrates foi condenado à morte, ele
todos os seres materiais que ele trata, modifica e transforma”. ficou profundamente revoltado e elucubrava: um mundo que
(MOUSNIER, Roland. História Geral das Civilizações. São mata um homem tão honesto, tão virtuoso, não pode existir;
Paulo, Difel, v. 9, p. 22) vamos criar um outro que está tematizado no Idealismo que é
Essa filosofia, profundamente idealista, baseada na o primeiro sistema, corrente, escola, filosofia a ser criada.
procura do divino, caracterizou o pensamento dos humanistas O termo Idealismo tem como raiz a palavra ideia, no
italianos no fim do século XV e início do século XVI. plural ideias que, segundo Platão,
GALVÊAS, E. C. As são individualidades que nunca
2.5 - Idealismo Principais Correntes
da Pedagogia (2001). mais desaparecerão,. as quais seriam
Disponível em: http://
os fundamentos, os modelos, os
2.5.1 - )LORVRILDLGHDOLVWD www.saber-digital.net/
artigo/as-principais- manequins, as matrizes de tudo que
correntes-da-pedagogia.
O que é Idealismo? Quando Acesso em: 09/03/2013. existe no mundo sensível. O Idealismo,
se fala em Idealismo, costuma-se /23(6*)LORVRȴDΖGHDOLVWD ao longo de quase dois milênios e meio,
(2009). Disponível em: http://
pensar em veleidades, aspirações, geraldolopes.blogspot.com. de Platão (427 - 347 a.C.) a Hegel (1770-1831 d.C.), apresenta
EUȴORVRȴDLGHDOLVWD
desejos ou ideias irrealizáveis. Em html. Acesso em: 11/03/2013. uma variedade enorme de posições. Mas podemos destacar
filosofia, Idealismo é uma questão algumas teses que seriam aceitas por todos os seguidores desta
muito séria e de altas elucubrações. escola. Uma é que a realidade, sem excluir, evidentemente,
No capítulo 02, vimos que, o homem, é de cunho mais espiritual que material. Quanto
no que se refere ao caminho a ao conhecimento, também, todos concordariam que ele é
percorrer, ou quanto ao método, predominantemente produto da razão, por isso jorra de dentro
a filosofia se divide em várias do homem, que é sua fonte. Numa linguagem da moda, o
escolas, correntes ou tendências. conhecimento é construído pelo homem.
O Idealismo é a primeira destas Assim, preconizam os filósofos idealistas, que o
escolas. Chama-se Idealismo, conhecimento sensível, beira a opinião.
porque, para ele, a realidade tem Imagem disponível em: http:// No tocante aos valores, todos são unânimes em proclamá-
como matriz as ideias e o processo ZZZVXSHUVHFUHWDULDH[HFXWLYD los imutáveis e perenes, já que são projeções das ideias e estas são
com.br/blog/posts/dicas-para-
filosófico parte é das ideias e a vender-uma-ideia-no-trabalho. perenes. A filosofia idealista nasceu com a dupla, de inolvidável
elas se circunscreve. As coisas Acesso em: 12/04/2013. memória, Sócrates e Platão. Como sabemos, Sócrates apesar
materiais, ou são expressões das ideias ou dependem das de ser considerado o mais legítimo mestre do Ocidente, nada
ideias. A nível filosófico, Idealismo é um sistema de ideias. É o escreveu. Platão, seu genial discípulo, foi quem melhor expôs
primeiro sistema a ser arquitetado na história do pensamento. e sistematizou seu pensamento. Esta sistematização foi tão
O que havia anteriormente, por exemplo, em Parmênides, era perfeita que Platão é considerado o pai do Idealismo, pelo
disperso, desorganizado, por isso, assistemático. Esta temática menos do Idealismo ontológico e objetivo.
será mais bem esclarecida na página seguinte. Trataremos dos principais tipos de Idealismo. Para tanto,
Origem do Idealismo Já se tem repetido que história é o melhor caminho é apresentar e analisar nomes que são
mãe da filosofia. Se isto vale de maneira geral, vale também referências necessárias na história do Idealismo. Pensando
para as escolas de filosofia. Possivelmente não teríamos o assim: trataremos destes nomes, na seguinte ordem cronológica:
Idealismo se não tivesse havido pelo menos dois motivos que Platão - Santo Agostinho - Descartes - Kant e Hegel.
o provocaram. Eis as duas variáveis que o antecederam: a) a Desse modo, exporemos, em ordem cronológica;
dicotomia “uno versus múltiplo”. O povo tinha a seguinte Idealismo platônico ou clássico – Idealismo agostiniano ou
preocupação: diante da diversidade quase infinita da natureza, medieval – Idealismo descarteano – Idealismo kantiano ou
o povo perguntava intrigado: atrás de tudo isto, não haveria Criticismo e Idealismo hegeliano. Ao final, voltaremos a Hegel,
algo unificador? Criando o Idealismo, a filosofia dos dois já no último no Apêndice, ao tratarmos da filosofia dialética.
mundos tão bem ilustrada pela Alegoria da Caverna, Platão O termo que vem do Latim tardio “IDEALIS”. Em
veio dar uma reposta a esta questão. A Alegoria da Caverna sentido comum, significa dedicação, engajamento a uma
será explicada posteriormente. Por hora basta dizer que no Doutrina, a uma Causa, um Compromisso com um “Ideal”,
mundo sensível (que é projeção do mundo das ideias) existe a sem que exista interesse material ou, até mesmo, anseio pela
diversidade, mas as coisas tão diversas são unificadas no mundo imediata concretização daquele “Ideal”.
das ideias. Enquanto o mundo sensível é diverso, mutável, O termo “IDEALISMO” na História da Filosofia abrange
passageiro, o mundo das ideias de onde tudo provém, é variadas tendências de Pensamento, as quais, porém, têm em
imutável, perene, eterno, unificador. Criando a teoria dos dois comum o fato de interpretarem a Realidade Material do Mundo
mundos, Platão resolveu o problema. Este mundo terreno, seguindo as características da personalidade do indivíduo, da
de sombras, é movediço. Tudo muda. Heráclito[2] tem razão. seguinte maneira: o Mundo Material, que os Sentidos (tato,
É o mundo da diversidade. O mundo imutável é o das ideias. audição, visão paladar, olfato) levam ao cérebro do Indivíduo,
E como, nesse mundo, estão os arquétipos, os modelos, os é TRANSFORMADO conforme os seus pontos de vista,
manequins de tudo que existe aqui, o problema do uno e conforme seus juízos, SUAS IDEIAS; ou seja, conforme a sua
do diverso está resolvido. O que existe mesmo é o mundo subjetividade.
das ideias. O mundo da diversidade não existe. b) morte de No campo do Conhecimento, o Idealismo acarreta um
45 47
efeito indesejável, pois ao tornar o “Objeto do Conhecimento” um todo e do próprio universo. Seu conhecimento pretendia
– aquilo que se está estudando – o próprio “Individuo substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso
Conhecedor”, estuda “apenas” o Individuo e a sua forma de comum por meio das quais – até então – o homem explicava
analisar e compreender qualquer Coisa que se estude. Pouco a realidade.
importa as características, as qualidades, os atributos da Coisa, O positivismo reconhecia que os princípios reguladores do
do Objeto; pois o que importa (sic) é a maneira de como esse mundo físico e do mundo social diferiam quanto à sua essência:
processo está sendo executado pelo Indivíduo que estuda os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos
aquela Coisa. Qual é, pois, A IDEIA que o Sujeito faz do homens; os outros, a questões humanas. Entretanto, a crença
Objeto; e NÃO o quê o Objeto realmente É. Perde-se toda na origem natural de ambos teve o poder de aproximá-los.
objetividade em favor da excessiva subjetividade. Além disso, a rápida evolução dos conhecimentos das ciências
No campo da Ontologia (ver adendo) tudo é reduzido naturais – física, química, biologia - e o visível sucesso de suas
a Pensamento, Ideia ou “Espírito”. A Matéria “Só Existe”, descobertas no incremento da produção material e no controle
porque dela se faz uma Ideia. O Mundo NÃO é como é, mas das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas sociais
sim conforme a Ideia de que dele se faça. para o seu método de investigação. Essa tentativa de derivar
Em extremo, o Idealismo leva ao Solipsismo, que é as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos
o isolamento do Indivíduo em si mesmo. A introspecção primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte
excessiva com característica de enfermidade psicológica ou deu inicialmente o nome de “física social” às sus análises da
psiquiátrica. No tópico sobre o Solipsismo, entraremos em sociedade, antes de criar o termo Sociologia.
mais detalhes sobre essa questão. Essa filosofia social positivista se inspirava no método de
(PWHUPRVGHILORVRILD: investigação das ciências da natureza, assim como procurava
1. Como já se citou, em Platão, o Termo “Ideia” tem o identificar na vida social as mesmas relações e princípios com
significado de Modelo, Padrão, segundo o qual a respectiva os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria
Coisa é construída. Assim, por exemplo, existe a “Ideia sociedade foi concebida como um organismo constituído de
Gato”, e todos os gatos existentes são feitos conforme aquele partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente,
“molde”, malgrado as diferenças entre os indivíduos, pois a segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo
“Ideia” refere-se à Espécie ou à Classe e não aos Seres ou às foi chamado também de organicismo.
Coisas individualmente. Para Platão, o “Mundo das Ideias” é Podemos apontar, portanto, como primeiro princípio
transcendente à matéria, ou seja, “fica”, “localiza-se” além do teórico dessa escola a tentativa de constituir seu objeto,
que se pode perceber. Claro que para ele o termo não tinha o pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das
significado de “Pensamento”, “imagem mental” etc. Aliás, essa ciências naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma
concepção, ou noção, só posteriormente apareceu na Filosofia objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre
e já como “A Essência” da Realidade. No tópico dedicado ao os fenômenos estudados.”
Platonismo*, voltaremos ao assunto. “Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo da
2. Para Descartes (1596/1650), as Ideias são representações natureza, toma como modelo a ciência natural e, mais
mentais produzidas pela consciência; e definida, por ele, como especificamente, a Biologia. Desta , advém muitos dos
aquilo que a Mente percebe diretamente; isto é, se as Ideias conceitos que marcam a Física social, ou a Sociologia, como
foram fabricadas diretamente pela Mente ou pelo Cérebro os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática, dinâmica,
é obvio que ela a perceba ou reconheça imediatamente; ao enfim, as ideia de fenômenos interdependentes dentro de um
contrário do que ocorre quando há uma percepção pelos sistema funcional, organicamente composto.
Sentidos sobre algum objeto e essa percepção tem que chegar Essa identificação do estudo da sociedade ao estudo da
ao cérebro, ou à mente, e ali ser processada para só então ser natureza, que leva a primeira à busca de leis sociais análogas às
devidamente conceituada. leis da Física (entende-se aqui uma interpretação estática desta
ciência), elimina o papel da prática social como elemento gerador
2.63RVLWLYLVPR de mudanças na sociedade. “A prática social, especialmente no
que se refere à transformação do sistema social, fora assim
2.6.1 - 2TXHIRLRSRVLWLYLVPR suprimida pela fatalidade. A sociedade era concebida por leis
racionais que funcionavam com necessidade natural.” (Marcuse,
O positivismo é uma corrente COSTA, C. Sociologia:
Razão e Revolução, Rio de Janeiro, Ed. Saga, 1969, p. 310)
filosófica surgida na primeira metade do Introdução á ciência da
sociedade. Ed. Moderna , A sociedade tem uma ordem natural que não muda e à
século XIX através de Auguste Comte São Paulo, 1997. qual o homem deve submeter-se. Essa posição de submissão
(1798-1857). aos princípios das leis invariáveis da sociedade leva a uma
“O positivismo se originou posição de resignação grandemente enfatizada na obra de
do “cientificismo”, isto é, da Comte. A consideração de que “o espírito positivo tende
crença no poder exclusivo e a consolidar a ordem pelo desenvolvimento racional de
absoluto da razão humana uma sábia resignação diante dos males políticos incuráveis”
para conhecer a realidade e (Morais Filho, Auguste Comte: sociologia, São Paulo, Ática,
traduzi-la sob a forma de leis 1983, p. 31) revela bem que isso. A pregação da resignação
naturais. Essas leis seriam a facilita a aceitação de leis naturais que consolidam a ordem
base da regulamentação da vida Imagem disponível em: http://aprova
donovestibular.com/positivismo-resu
vigente, justificadora da autoridade reinante e facilitadora da
do homem, da natureza como mo.html. Acesso em: 16/04/2013. proteção dos interesses – riqueza e poder – hegemônicos
48 )LORVRȴD 46
naquele momento histórico. por três estados históricos distintos: o teológico, o metafísico,
Os fenômenos econômicos são muitas vezes apontados ou abstrato, e o científico, ou positivo. Esses três estados se
por Comte como expressão dessas leis sociais naturais expressam não apenas nas formas porque, sucessivamente,
invariáveis, por coincidência, referindo-se, principalmente, ao toda investigação passa, como também pela própria evolução
caso da concentração de capital. da humanidade. Assim se expressa Comte: “(...) ora, cada
Com o objetivo de fortalecimento da ordem social um de nós contemplando sua própria história, não se lembra
combate-se qualquer doutrina revolucionária e todas as de que foi sucessivamente, no que concerne ás noções mais
forças se concentram numa renovação moral da sociedade. importantes, teólogo em sua infância, metafísico em sua
A mudança da sociedade passa fundamentalmente por um juventude e físico na sua virilidade”.
refazer dos costumes, uma reforma intelectual do homem, e No estado teológico, predominam as criações espontâneas,
menos pela transformação de suas instituições. A sociedade não sujeitas à prova; no metafísico, a dominância é das
se modifica através da visão de PROGRESSO como um abstrações e de princípios racionais e, no positivo, o alicerce
mecanismo da própria ORDEM, sem destruição da ordenação está numa apreciação firme da realidade externa , enunciando-
vigente, num processo evolutivo. Como afirma Marcuse: “o se as relações entre os fenômenos.
positivismo está, pois, interessado em ajudar a ‘transformar Assim, tanto a
a agitação política em uma cruzada filosófica’ que suprimiria determinação das leis
tendências radicais que eram afinal de contas incompatíveis naturais e eternas como
com qualquer sadia concepção da história” (Marcuse, p. 312). agora, a visão de evolução da
O citado autor continua buscando mostrar que o progresso é, sociedade e da história sob
em si, ordem – não é revolução, mas evolução. a ótica positivista aniquilam
a prática social dos
homens, transformadora da
sociedade.
Essa ideia dos três Imagem disponível em: http://
professorvirtual.blogspot.com.br/2004/09/
estágios combinada com iluminismo-e-positivismo.html.
12/04/2013.
Acesso em:

a transposição de teses do
Darwinismo para a sociedade originou o que ficou conhecido
como Darwinismo social.
Imagem disponível em: http://marcosself.wordpress.com/. Acesso
em:14/04/2013. No campo da Biologia Darwin afirmava que as diversas
A ideia de ORDEM e PROGRESSO (lema de nossa espécies de seres vivos se transformam continuamente com
bandeira), em Comte, vem de sua visão dos fenômenos da a finalidade de se aperfeiçoar a garantir a sobrevivência.
sociedade. Para ele, todo ser vivo pode ser estudado sob Em consequência, os organismos tendem a se adaptar cada
uma dimensão estática e uma dinâmica, que apreciaram a vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas e
sociedade em repouso e em movimento. Relaciona essas duas avançadas de existência, que possibilitam, pela competição
dimensões á anatomia e á fisiologia. natural, a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
A visão de ordem tem sua origem na noção de Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade,
ESTÁTICA, que estuda a existência, suas condições e resultaram no DARWINISMO SOCIAL, isto é, o princípio
a estrutura que a gera. Corresponde a compreensão da de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num
existência naquilo que ela oferece de fixo, de estrutural. mesmo sentido e que tais transformações representariam
(“família, religião, propriedade, linguagem, direito etc. seriam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior,
em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais
responsáveis pelo movimento estático da sociedade”, in:
adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria
Cristina Costa, op. Cit., pág. 51)
a sobrevivência dos organismos – sociedades e indivíduos –
A Sociologia dinâmica se preocupa com o entendimento
mais fortes e mais evoluídos.
do movimento, do desenvolvimento, da atividade da vida
Estava criado, assim, o suporte teórico para justificar no
coletiva, correspondendo a noção de PROGRESSO.
século XIX o domínio colonialista de nações europeias sobre
Essa dimensão da dinâmica social é o que vai distinguir,
povos da América, da África, da Oceania e da Ásia.
marcadamente, a Sociologia da Biologia, ou seja, “a ideia-mãe
Os principais cientistas sociais positivistas, combinando
do progresso contínuo ou, antes, do desenvolvimento gradual as concepções organicistas e evolucionistas inspiradas
da humanidade”. (Morais Filho, p. 134). Em última instância, na perspectiva de Darwin, entendiam que as sociedades
torna-se necessário melhorar as condições de vida das classes tradicionais encontradas nos continentes citados acima não
menos favorecidas, sem incomodar a ordem econômico- eram senão “fósseis vivos”, exemplares de estágios anteriores,
política da sociedade. O desenvolvimento histórico dá-se “primitivos”, do passado da humanidade. Assim, as sociedades
portanto, pela evolução organizada, regida por leis naturais, mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir
ou seja, PROGRESSO HISTÓRICO É ORDEM. em direção a níveis de maior complexidade e progresso na
A lei dos três estados de Comte demonstra essa visão escala da evolução social, até atingir o “topo”: a sociedade
do desenvolvimento histórico da sociedade. Para ele, essa industrial européia. Porém essa explicação aparentemente
grande lei explica o “desenvolvimento total da inteligência “científica” para justificar a intervenção europeia nesses
humana em suas diversas esferas de atividade”, destacando continentes era, por sua vez, incapaz de explicar o que ocorria
que essa e todos os conhecimentos passam sucessivamente na própria Europa. Lá, os frutos do progresso não eram
47 49
igualmente distribuídos, nem todos participavam igualmente perder de vista que se trata de um movimento que se pretende
das conquistas da civilização. Como o positivismo explicava neutro ao mesmo tempo em que esconde uma grande carga
essa distorção?” ideológica.
Muito dos efeitos nefastos desta doutrina pretendeu-se
2.6.2 - Educação e positivismo amenizar pelo círculo de Viena e pelo movimento do neo
positivismo lógico.
Vivemos em uma era onde os
Mas ainda existe um forte cientificismo, perigoso, no
conceitos e as práticas na política, eFERNANDES, M. S. Positivismo
Educação: Breves análises seio da formação educacional brasileira. Devemos nos atentar
na gestão e no desenvolvimento VREUHDLQȵX¬QFLDGR
positivismo na educação (2009). para esta realidade, dentro do possível, buscar caminhos
social são determinadas por um Disponível em: http://www.
mais críticos e reflexivos para a construção de um projeto
contexto intelectual que se iniciou uninove.br/PDFs/Mestrados
Educa%C3%A7%C3%A3o/ de formação que não apenas alfabetize ou eduque, mas que
no século XVII com as descobertas eventos/PA%2016.pdf.
Acesso em: 11/03/2013. fomente o exercício pleno de cidadania.
da física clássica e encontra seu
auge na era da revolução industrial. 2DPRUSRUSULQF¯SLRDRUGHPSRUEDVHHRSURJUHVVRSRUȴPȋ
É nesta era de industrialização que Augusto Comte
emerge a ideia de um universo
uniforme, mecânico e previsível o A visão científica positivista dos fatos, não permite o uso
que moldou o desenvolvimento da de entidades não observáveis nas deduções científicas. Essa
ciência – e também da tecnologia – visão de mundo refletiu no plano filosófico e, embora criticada
tornando-se ainda um paradigma no plano teórico, teve muita influência no plano prático.
nos diversos campos do saber
inclusive na educação. 2.6.3 - Características gerais do
Imagem disponível em: http://
Tendo como um de seus hectorindustrial.blogspot.com.br/ 3RVLWLYLVPR
referenciais a “engenharia . Acesso em: 12/04/2013.
industrial”, o positivismo apresenta um modelo que visa O objetivo do método positivo de investigação é a
aumentar a eficiência por meio das categorias de precisão e pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais.
previsibilidade. Especificamente na educação encontramos Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro
perspectivas economicistas, derivadas do cientificismo, onde se porque não reduz o conhecimento científico somente aos
visa obter taxas de retorno ( produtividade ) o que interfere fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside
, por vezes, de forma nefasta no planejamento pedagógico. o grande ideal das ciências. Com base nessas leis, o homem
Os indicadores quantitativos imperam na apreciação do torna-se capaz de prever os fenômenos naturais, podendo
rendimento escolar, revelando aspectos pragmáticos e agir sobre a realidade. 9HUSDUDSUHYHU é o lema da ciência
positivistas na delimitação dos planos de ensino. positiva. O conhecimento científico torna-se, desse modo, um
A propagação do positivismo na educação se deve, instrumento de transformação da realidade, de domínio do
em muito, à disseminação do sucesso na aplicação prática homem sobre a natureza. As transformações impulsionadas
de princípios científicos que visam à produção de novas pelas ciências visam ao progresso; este, porém, deve estar
tecnologias. A industrialização , amparada pelas conquistas da subordinado à ordem. Temos, então, um novo lema positivista
ciência positiva, favoreceu o fortalecimento político e militar aplicado à sociedade: RUGHPHSURJUHVVR.
das nações, exportando assim um modelo de sucesso prático Na obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte aponta
para todos os campos do saber, inclusive na educação. as características fundamentais que distinguem o positivismo
O positivismo está presente também no discurso das das demais filosofias:
políticas públicas para a educação, quando afirmamos, por 5HDOLGDGH – pesquisa de fatos concretos, acessíveis
exemplo, que a educação é a solução para os problemas à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com
nacionais, bem como quando se propõe reformas, tanto na mistérios impenetráveis, referentes às causas primeiras e
sociedade quanto na educação. últimas dos seres.;
O modelo escolar que vivenciamos em nossos dias é uma 8WLOLGDGH – busca de conhecimentos destinados ao
cópia fidedigna do projeto de educação padronizada (universal) aperfeiçoamento individual e coletivo do homem, desprezando
elaborada na seara da ciência do século XIX. Hierarquia, ordem, as especulações ociosas, vazias e estéreis;
utilitarismo e perspectiva de progresso, compõem a estante do &HUWH]D – obtenção de conhecimentos capazes de
positivismo educacional. estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo
A herança da ideologia burguesa fora assimilada pelos e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as
militares republicanos do século XIX no Brasil. A educação dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos;
torna-se, neste cenário, um instrumental da difusão dos 3UHFLVmR – estabelecimento de conhecimentos que se
conceitos de ordem e progresso. Disciplinas progressivamente opõem ao vago, baseados em enunciados rigorosos, sem
organizadas, segmentadas de modo instrumental, são as ambiguidades;
evidências mais marcantes do positivismo na educação. 2UJDQL]DomR – tendência a organizar, construir
Por mais que saibamos que o método positivista seja metodicamente, sistematizar o conhecimento humano;
produtivo, nos perguntamos se a “produtividade” merece ser 5HODWLYLGDGH – aceitação de conhecimentos científicos
o critério de dosimetria da qualidade do ensino. Nesse sentido relativos. Se não fosse relativos, não poderia ser admitida a
devemos observar criticamente o positivismo educacional sem continuidade de novas pesquisas, capazes de trazer teorias
50 )LORVRȴD 48
com teses opostas ao conhecimento estabelecido. Assim, a
ciência positiva é relativa porque admite o aperfeiçoamento e
a ampliação dos conhecimentos humanos.

2.6.4$UHIRUPDGDVRFLHGDGH

Imagem disponível em: http://www.relacionamentos.org/cotidiano/seguir-a-razao-


ou-emocao. Acesso em: 13/04/2013

É a corrente que afirma que tudo que existe tem uma


causa inteligível, pondo a razão, o
YANKEE, A; DURVAL, I. pensamento, como a principal fonte do
Teoria do Conhecimento
(2010). Disponível em:
conhecimento humano. Seu método
http://andersonyankee. é a dedução. Seu conhecimento só
wordpress.com/2010/11/08/
correntes-do-conhecimento. é aceito como racional se possuir
Acesso em: 12/04/2013.
Imagem disponível em: http://www.biinternational.com.br/aluno/
em seus juízos necessidade lógica e
glauciapassos/2011/03/01/guerra-e-o-progresso-da-sociedade/. Acesso em: validade universal, sem precisar do
12/04/2013.
uso da experiência.
No racionalismo, percebe-se a influência da matemática,
A reforma da sociedade proposta por Comte deveria pois esta é um conhecimento inteligível, puramente dedutivo
obedecer aos seguintes passos: reorganização intelectual, e conceitual, com validade universal e necessária, desse modo,
depois moral e, por fim, política. Segundo ele, a Revolução pode-se enxergar, pois, que, a maioria dos racionalistas são
Francesa destruiu uma série de valores importantes da matemáticos.
sociedade tradicional europeia, não sendo capaz, entretanto, A forma mais primitiva de racionalismo está em Platão.
de impor novos e permanentes valores para a emergente Ele admitia que o saber verdadeiro possuía necessidade lógica
sociedade burguesa. E nisso residia a grande tarefa a ser e validade universal. O mundo da experiência não poderia
desempenhada pela filosofia positiva: restabelecer a ordem na fornecer um conhecimento verdadeiro, pois, encontrava-
sociedade capitalista industrial. se em constante modificação. Platão acreditava na teoria da
Em relação aos conflitos entre proletários e capitalistas, reminiscência para explicar a fonte do conhecimento. Seu
Comte assumiu uma posição considerada reacionária e racionalismo é chamado de racionalismo transcendente, pois a
conservadora. Defendendo a legitimidade da exploração alma, num mundo supra-sensível, teve contato com as ideias (o
industrial, concordava com a divisão das classes sociais e verdadeiro conhecimento) e agora, somente recorda-se delas
considerava indispensável a existência dos empreendedores por meio da experiência sensível.
capitalistas e dos operadores diretos, o proletariado. Para os Diferenciando um pouco de Platão, Plotino concebe que
trabalhadores, defendia um tipo de doutrinação positivista o conhecimento provém de um nous ^ cósmico, uma inteligência
destinada a confirmar a necessidade dos trabalhos práticos ou espírito cósmico, onde o espírito humano recebe as ideias
e mecânicos, inspirando o gosto por eles, quer enobrecendo deste nous, onde o espírito humano é iluminado, contrapondo
seu caráter habitual, quer adoçando suas consequências a Platão que acreditava num mundo das ideias, esta teoria
penosas. Conduzindo, de resto, a uma sadia apreciação das caracteriza-se pela iluminação. Agostinho dá um sentido mais
diversas posições sociais e das necessidades correspondentes, cristão às ideias de Plotino, ou seja, há uma substituição do
predispõem a perceber que a felicidade real é compatível com nous pelo Deus cristão, desta forma, pode se dizer que o
todas e quaisquer condições, desde que sejam desempenhadas espírito humano, ou a razão humana é iluminada por Deus,
com honra e aceitas convenientemente. podendo assim, chamá-la de racionalismo teológico.
Dentro da perspectiva de um racionalismo teológico,
2.6.5  $ ΖQIOX¬QFLD SRVLWLYLVWD QR mas, de uma forma mais intensa, há o teognosticismo e o
%UDVLO ontologismo, aquele tendo como referência Malebranche,
O Brasil foi o país do mundo onde a influência de filósofo francês, onde sua tese fundamental traduzida diz: “Nós
Augusto Comte se fez mais sentir. Os apóstolos brasileiros vemos todas as coisas em Deus”. Prega ele a teoria racional
que mais trabalharam no sentido de propagar o positivismo do absoluto como fonte única, ou ao menos, a principal, do
foram: Miguel Lemos , Raymundo Teixeira Mendes e conhecimento humano. Já o ontologismo, refere-se a Gioberti,
Benjamin Constant. filósofo italiano, que diz poder conhecer as coisas contemplando
Uma grande influência do positivismo de Comte em o absoluto na nossa atividade criadora, ou seja, o homem possui
nosso país, está em um dos nossos símbolos nacionais – é de uma visão ou intuição direta e indireta de Deus.
Comte a ideia de “Ordem e Progresso”, que viria a fazer parte Na modernidade, em contraposição ao racionalismo
da bandeira do Brasil republicano. teológico e o transcendente, temos o racionalismo imanente.
Com isso, Descartes e Leibniz trazem a doutrina das ideias
2.7 - Racionalismo ou conceitos inatos, onde estas são as mais importantes
49 51
fundamentadoras do conhecimento. Para Descartes, os pelo espírito humano naturalmente, sem o auxílio das “luzes
conceitos estão mais ou menos prontos, já em Leibniz, as ideias (ou Conhecimento) da Fé”.
estão em potência. Doravante, para efeitos de esclarecimento e de
No século XIX, há outra forma de racionalismo, que é diferenciação, abordaremos os Sistemas de alguns filósofos que
estritamente lógico, onde concebe o pensamento como a ao termo “Razão” acrescentaram adjetivos para caracterizá-lo
fonte única do conhecimento, não existindo espaço para a de acordo com a sua doutrina.
experiência. Com isso esta forma de racionalismo assume 5D]mR6XILFLHQWH – Leibniz propôs ser a “Lei” que
um caráter unilateral. Além disso, outro defeito comum do faz com que para todo Fato que ocorra, haja uma Razão (ou
racionalismo é a dogmatização do conhecimento por deduzir Motivo, ou Causa) para que tal fato aconteça. E aconteça
conhecimentos a partir de simples conceitos. daquela maneira e não de outra.
5D]mR7HyULFD – constante no Pensamento de Kant
2.7.1'HILQL©¥RJHUDOGRUDFLRQDOLVPR (1724/1804, Alemanha) esse título significa a capacidade inata
e A PRIORI (isto é, sem qualquer experiência empirica) que o
Homem tem de organizar as regras do “Entendimento”, o qual,
por sua vez, é a capacidade de organizar os “Fenômenos” que
lhes chegam através dos Sentidos (visão, audição, tato, paladar
e olfato). Segundo o filósofo: “se o Entendimento pode ser
definido como a faculdade de dar aos Fenômenos unidade,
por meio de regras, a Razão é a faculdade de dar unidade às
Regras do Entendimento sob a forma de Princípios” (Critica
da Razão Pura).
Imagem disponível em: http://www.caderno10.com.br/cgi-sys/suspendedpage.cgi.
Acesso em: 14/04/2013
Experiência Empírica - (aquela que consiste na percepção
dos dados ou características do objeto estudado, através do que
RAZÃO, do Latim “RATIO”, foi captado pelos Sentidos; ie. audição, visão, tato, olfato, paladar).
VILLELA, F. R. Racionalismo,
é um termo frequente em Filosofia.
Razão, Raciocínio, Racional e 5D]mR3UiWLFD – a Razão ou a Racionalidade vinculada
Na seqüência, serão expostas
Racionalidade, Racionalização
à Moral e utilizada na prática do dia a dia, permitindo ao
(QVDLR)LORVµȴFR  
Disponível em: http://www. as definições usuais para este Homem tomar decisões e agir baseado em Princípios, ou
recantodasletras.com.br/
ensaios/2259309. Acesso em:termo. Antes, porém, é deveras Regras Morais. Para Kant, criador da expressão, é a “Razão
12/04/2013. importante recordarmos que o Prática” que responde à pergunta: “que devo fazer?”,
termo “Razão” é polissêmico, estabelecendo os Princípios Morais que regem ou governam
podendo significar: motivo, raciocínio, racional, racionalidade, as atitudes humanas.
lógica; e, de certo modo, Positivismo, Materialismo, Fisicalismo  $VW~FLD GD 5D]mR – expressão criada por Hegel
e outras tendências que colocam a capacidade humana de (1770/1831, Alemanha) para designar sua tese de que a RAZÃO
Raciocinar como a única que efetivamente é capaz de agregar materializada (como se fosse um SER espiritual que habita um
Conhecimento ao Homem. Abaixo os usos mais rotineiros: corpo físico) na HISTÓRIA utiliza-se astuciosamente dos
Homens para atingir seus objetivos. Iludidos, os Humanos
1. A Faculdade, ou a Capacidade, de julgar. De diferenciar
lutam para atingir seus objetivos que eles julgam pessoais,
o Falso do Verdadeiro, o Bom do Mal, o Azul do Amarelo, o
mas que na verdade são objetivos da Razão, que desse modo
Sólido do Líquido etc.
conduz o curso, ou rota, da História, tendo na instituição
2. Mas especificamente, é a capacidade de utilizar
“Estado” sua mais valiosa ferramenta para praticar essa astúcia
certas características inatas (de nascença) do Homem para
contra os Seres Humanos. Dessas considerações é que surgiu a
compreender os relacionamentos entre as Coisas e, a partir
célebre frase do Pensador: “o Estado é uma astúcia da Razão”.
daí, estabelecer se a mesma é “falsa” ou “verdadeira”,
“azul ou amarela”, “concreta ou abstrata” etc. Ou, ainda, a
capacidade demonstrar, justificar uma Teoria, uma hipótese,
uma afirmação. Aqui, tem-se a “Razão Discursiva”; isto é, a
Razão que seguem um Curso, um Rumo, um Sentido e nesse
trajeto vai compreendendo e explicando os fatos e formulando
conceitos para, no fim, extrair conclusões sobre aquilo que
estudou ou que defendeu enquanto Tese, hipótese etc. Sobre
aquilo em que pensou, racionalizou conforme as regras da
Lógica. Ver Logicismo, Lógica Aristotélica, ou Clássica. ΖPDJHPGLVSRQ¯YHOHPKWWSSHNGHNFRPH[HUFLFLRVGHJLQDVWLFDFHUHEUDO
Acesso em: 12/04/2013.

A “Razão” também é associada ao dom que o Homem já 5DFLRFtQLR – do Latim “RATIOCINATIO”. É a ação
tem aos nascer e que é chamado de “Conhecimento Natural”; do Intelecto, seguindo as regras da Lógica, pela qual se faz o
ou seja, aquele Saber que lhe é naturalmente acessível, sem encadeamento e a organização dos dados recebidos através
a necessidade de ter havido anteriormente uma “Revelação dos Sentidos, para com isso afirmar a veracidade ou a falsidade
(divina)”. O filósofo LEIBNIZ (1646/1716, Alemanha) assim daqueles dados; e/ou daquilo que foi formado a partir desses
definiu esse dom: “a Razão é o encadeamento (ou a sucessão dados. E também, é claro, para exarar os outros conceitos
coerente) de Verdades ... das Verdades que podem ser atingidas que se formam a partir das características do que foi captado,
52 )LORVRȴD 50
como, a cor, a solidez, o tamanho, o peso etc. a carência de ser querido, importante e amado. O individuo
O Raciocínio também é a elaboração de uma plenamente Racional se basta.
argumentação lógica, coerente, sobre uma hipótese, ou sobre É uma posição dura e que, como seria de se esperar,
uma tese, um fato etc. Tradicionalmente o Raciocínio é visto suscitou, e ainda suscita, versões adversárias também severas,
de duas maneiras, a saber: dentre as quais citaremos a de PASCAL (1623/1661, França),
cuja frase “o coração tem razões que a própria Razão
a. RACIOCÍNIO DEDUTIVO – é aquele que se forma desconhece” tornou-o célebre (nesse campo especificamente)
de acordo com a Lógica e sob a forma de Silogismos; isto é, e ícone de todos os que se opõem à frieza da “Racionalidade
a dedução lógica, racional, que se faz de duas premissas, ou Cartesiana”; ou seja, do Racionalismo consolidado por
pressupostos, ou pontos de partida de um argumento ou de DESCARTES (1596/1650, França), que de tão convicto
um Raciocínio. sobre a potencialidade do Raciocínio, usou-o para se certificar
b. RACIOCÍNIO INDUTIVO – aquele que faz uma da própria existência, fórmula que o mesmo expressou em seu
generalização de Fatos, Pessoas, Objetos após ter verificado famoso enunciado “penso, logo, existo”.
que os mesmos se repetem com regularidade e de maneira Outra posição contrária, e talvez mais contundente por
igual ou similar. Essa repetição regular INDUZ a que se ser sistemática, foi a de ROSSEAU (1712/1778, Suíça) que
considere que os Acontecimentos, Objetos ou Pessoas se opôs abertamente ao Racionalismo que imperava a época.
singulares, são ou serão Gerais. Foi ele, provavelmente, o iniciador do Movimento Filosófico
chamado de Romantismo que se iniciaria como tendência no
A Racionalização também é uma maneira de ver o final do século XVIII e floresceria como semi-consenso no
Mundo, segundo a qual a coerência lógica e racional é extraída século XIX.
de dados parciais; os quais, mesmo com essa limitação, são
considerados suficientes para retratar fielmente a Realidade. 5HWRPDQGRDaula
Por essa ótica errada é que alguns (talvez a maioria) medem,
por exemplo, o bem-estar de um Povo pela riqueza de sua
Pátria, sem ao menos se perguntar se tal riqueza é distribuída
com justiça, se é bem aproveitada e se de fato gera conforto 0XLWR EHP WHUPLQDPRV PDLV XPD DXOD FRP LVVR
para aquele Povo. Esse mesmo erro também ocorre quando SUHFLVDPRVUHOHPEUDUDOJXQVSRQWRVSULQFLSDLV
se considera apenas um aspecto de qualquer Coisa, Fato ou
Pessoa. E, ainda, quando se acredita que todos os males do 1²)LORVRILDGD(GXFDomR
Mundo tem apenas uma Causa, um Motivo.
Esse tipo de Racionalização pode iniciar-se a partir de uma Estudamos a Filosofia da Educação, este conteúdo nos
hipótese ou a partir de uma Afirmativa totalmente absurda, auxilia a entender a necessidade e a importância da Educação
errada, e que, mesmo assim, acaba tornando-se um “Sistema em nossa vida, essa educação é o referencial para a análise e a
Lógico” do qual são tiradas consequências práticas que, como coerência, ou seja, quando falamos em educação, não estamos
se viu, tem por base um erro e que por isso se tornam nocivas. nos referindo à educação tradicional e sim à educação como
Podemos finalizar dizendo que o racionalismo é uma fonte de entendimento e sabedoria. Nesse caso temos que
doutrina segundo a qual, a Razão é a principal faculdade, ou saber como modificar e interpretar as relações existentes no
capacidade, humana; e a base de todo processo de aquisição, nosso dia a dia.
ampliação e manutenção de Conhecimentos possíveis, feitos
pelo Homem. 2&RUUHQWHV)LORVyILFDV
O Racionalismo tem como primeira tese a afirmação de
que o Real, ou a Realidade, é Racional; portanto, a Razão – Quando falamos em corrente, logo pensamos em algo
ou a capacidade de raciocinar – é capaz de compreender a que entrelaça que tem força. Para a Filosofia a corrente tem
Realidade e de conhecer a “Verdade” sobre a Natureza das esse sentido, ou seja, temos que conhecer todas as correntes
Coisas; isto é, o que é tal Coisa, ou tal Fato, ou tal SER? De existentes na filosofia para que possamos ter a nossa reflexão,
que é feita? Por que é feita? Quais suas características? Quais ou seja, temos que escolher uma corrente para que possamos
suas potencialidades? Etc. nos dedicar ao conhecimento, todos os pesquisadores, cientistas
Por outro lado, para os tem seu critério de abordagem. Esse critério chama-se corrente
Racionalistas, tudo aquilo que filosófica, mas para te uma corrente precisa-se conhecer bem
povoa a mente humana, além a filosofia.
dos Raciocínios Lógicos, é
Irreal, falso, ilusório. Inclusive */266É5,2
as Emoções e os Sentimentos, ‡ 2QLSUHVHQWH: é a capacidade de estar em todos os
os quais, não passariam de lugares ao mesmo tempo.
primitivas sensações, vigentes
‡&RJQRVFHQWH: que possui a capacidade de conhecer.
apenas em indivíduos de pouca
Segundo a teoria do conhecimento, a consciência cognoscente
cultura e de inteligência sofrível. Imagem disponível em: http://
lê os conceitos na experiência.
Para os adeptos do Racionalismo, supercerebro.com.br/blog/10-
quanto maior for a Capacidade de dicas-praticas-para-melhorar-
o-seu-raciocinio/. Acesso em:
Raciocinar, menor será o apelo e 12/04/2013.
51 53

9DOHDpena DVVLVWLU

7KH6HFUHW-26HJUHGR. O segredo existiu por toda a


humanidade, com alguns dos principais líderes de sua época
tendo conhecimento sobre ele. Fragmentos do segredo
foram encontrados em tradições orais, na literatura, nas
religiões e filosofias ao longo dos séculos. Alguns dos maiores
professores da atualidade são reunidos para apresentar o
segredo na íntegra.

$)DFH2FXOWD'D/XD. Às vésperas de defender sua


tese de doutorado sobre filosofia da ciência, Phillippe (Robert
Lepage) precisa lidar com muitos problemas pessoais. Ele
odeia trabalhar como operador de telemarketing, sofre
com a recente perda de sua mãe e ainda enfrenta sérias
dificuldades de relacionamento com o único irmão, André
(Robert Lepage). O convite para apresentar um resumo de
seu trabalho na Rússia traz à tona as memórias da infância,
quando o homem pisou na lua pela primeira vez.

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