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Aula 4º

Uma reflexão sobre


o ser pedagógico

Este texto foi baseado no autor José Luiz de Falar do ser pedagógico, é falar sobre a importância
Paiva Bello. Tenho certeza de que será um texto muito de sabermos utilizar a Filosofia da Educação, em pról
produtivo, pois relata alguns temas fundamentais de do próprio educador, mas sempre direcionando o olhar
discussão, onde o pedagogo se insere dia a dia. Pois para o educando. Esta aula é ter a certeza e a segurança
não podemos falar de Pedagogia sem falar do educador, de iniciarmos um conhecimento profundo sobre o
educando e o principal, como entender todo o processo objeto que estamos em busca: o conhecimento diante da
que todos nós estamos inseridos, que é a sociedade no educação.
contexto educacional.
Boa aula!

Objetivos de aprendizagem

Ao final desta Aula, vocês serão capazes de:

• selecionar procedimentos que privilegiem formas de atuação em prol de objetivos comuns;


• desenvolver raciocínio lógico, observação, interpretação e análise crítica de dados e informações;
• atuar em equipes multidisciplinares e exercer liderança.
Filosofia da Educação 30
onde os professores terão papel fundamental nesta questão.
Seções de ESTUDO Sabemos que a educação, de uma maneira geral, não é uma
prática que pode ser caracterizada como democrática. A elite
1 - Filosofia da Educação: uma reflexão sobre o ser dominante determina as regras do jogo, as quais sabemos de
pedagógico. antemão quem serão os vencedores e quais os perdedores. A
prática educacional é um jogo de cartas marcadas, uma vez que
não interessa à burguesia a ascensão das classes populares aos
1 - Filosofia da Educação: uma níveis de poder decisório. Paulo Freire denuncia esta prática,
reflexão sobre o ser pedagógico dizendo que “geralmente, as elites acusam o povo de fraqueza
ou incapacidade e por isso suas soluções não dão resultado”
(FREIRE, 1979, p. 36).
Qual o papel então do professor, que encare sua profissão
com seriedade, num processo que busque a revolução? Um
primeiro passo é o assumir um papel reflexivo diante do que
se é observável em todo processo, sem se deixar influenciar
por pensamentos e análises de pessoas que, muitas vezes, não
têm relações históricas e teóricas sobre a prática educativa.
Nos últimos tempos a Filosofia da Educação foi invadida por
profissionais que não tiveram a formação pedagógica e que
buscam soluções fora do âmbito das questões eminentemente
pedagógicas.
Nesse sentido, a educação tornou-se “uma terra de
Disponível em: http://profmarciovazzi. ninguém”, onde se permitiu uma invasão sociológica,
wordpress.com/2010/06/13/pedagogia-de-
projetos-e-projetos-de-aprendizagem/. Acesso desviando a verdadeira discussão dos aspectos pedagógicos.
em: 03/03/2013.
Isso faz com que as discussões na educação tenham uma
Como pedagogos(as) devemos pensar em contribuir característica de “eterno retorno”, o “nada (o ‘sem sentido’)
para a transcendência do pensar pedagógico, no sentido de eterno” (NIETZSCHE apud CIVITA, 1983, p. 383). Assim
se criar uma utopia, enquanto produto do imaginário racional discute-se por vários anos a questão da “reprodução” em
e lógico. Talvez este ensaio caracterize uma primeira etapa Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet e agora... A discussão
que, como sugeriu Ernest Bloch (1994), é a fase do “sonho da Escola Nova, o que já era discutido na década de 1930 (LIMA,
acordado”: 1991, p. 125).
O “sonho acordado” manifesta uma verdadeira fome
psíquica pela qual o homem imagina planos futuros e outras Quando se disponibiliza conhecimentos sistematizados centrados em
situações em que supere os problemas, as dificuldades e disciplinas compatíveis aos currículos, desencadeia-se o processo de
as obrigações de um hoje onipresente. Assim, os sonhos formação nas habilidades cognoscitivas e práticas, que compreendem
acordados nos dão uma primeira forma tosca, vaga, talvez o raciocínio lógico, análise e interpretação dos fenômenos sociais
ilusória, do que será, numa fase mais elaborada, a utopia. Nos e científicos, o pensamento independente e criativo, a observação, a
sonhos, unem-se pela primeira vez o que será decisivo para a expressão oral e escrita, entre outros (CESAR ROMÃO, 2004).
constituição de uma consciência antecipadora: a consciência
da fome e o possível imaginário; os desejos e as imagens
(FURTER, 1974, p. 83). É evidente que a Pedagogia não pode prescindir de
ciências correlatas, mas sua abordagem fundamental não
pode escapar ao cerne das questões pedagógicas, sob pena do
discurso se tornar inútil, e muitas vezes falso, ao processo de
enriquecimento científico pedagógico.
Aborda-se hoje, por exemplo, questões como a Nova
Pedagogia em confronto à Pedagogia Tradicional. Teóricos
como Piaget, Vygotsky, Freud, Freire, etc., mostraram-nos que
a diferença fundamental entre uma e outra está em que as novas
descobertas vieram contribuir com a mudança de atitudes em
relação ao estudante, mas não alteraram a prática pedagógica em
Disponível em: http://maramar.blogs.sapo.pt/132623. si. Assim, não se pode falar em desenvolvimento da inteligência
html. Acesso em: 02/03/2013.
“pré-piagetianamente”, ou falar de ambientação de sala de aula
O problema da democratização da educação não está “pré-montessorianamente”, já que este conhecimento seria
restrito na questão da prática educacional, pura e simplesmente, prontamente utilizável, ou seja, não foi só por ter existido uma
mas no enfoque dado pelos educadores a esta prática. Sendo nova concepção de homem que tenha havido uma mudança
assim, procuro trazer as questões pedagógicas para o âmbito radical na estrutura do ensino. Paradoxalmente, os professores,
da sala de aula e da didática ali empregada. E assim caracterizar apesar de terem acesso a textos que propõem novas
a sala de aula como o foco irradiador da escola democrática, metodologias para a educação, continuam a exercer práticas já
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ultrapassadas no desenvolvimento da ciência pedagógica.
O que este texto se propõe é trazer uma análise crítica e uma
proposta para uma pedagogia que permita a transformação da
sociedade através de sua prática, inspirado nas ideias de Paulo
Freire de “homem-objeto” e “homem-sujeito” da sua história
(neste caso não desejo influenciar ninguém ao pensamento
de Freire, somente analisar criticamente). Assim, podemos
distinguir a confrontação dos termos, encarar e enfrentar, como
sendo a fundamental dicotomia dos objetivos pedagógicos a
serem resolvidos. Encarar é olhar analiticamente um problema,
enquanto enfrentar refere-se a atacar de frente este mesmo
Disponível em: http://vidamaislivre.com.br/noticias/noticia.
problema. Filosoficamente demarca uma diferença entre a php?id=5353&/estudante_consegue_acompanhamento_
especial_durante_as_aulas. Acesso em: 02/03/2013.
passividade e a ação, respectivamente.
A tarefa fundamental, neste sentido, do filósofo da
Os professores precisam estar preparados para receber alunos em educação é “encontrar remédios para curar os males que
situação de vulnerabilidade social. “Devem ser formados para trabalhar foram diagnosticados ou então envenenar aquilo que destrói”
com todos, o que significa trabalhar com crianças que moram em a educação (BELLO, 1994)
bairros de classe média da cidade grande, crianças que moram em Não pode ser considerado filósofo da educação aquele
assentamento de sem-terra nas áreas do campo, crianças que moram que detém conhecimentos históricos da Filosofia da Educação
em favelas, enfim, todas as crianças do Brasil” (Maria do Pilar, 2011). (o pensamento dos chamados filósofos da educação), mas
não estruturou sua própria forma de pensar a educação. E
Pela dimensão do trabalho, encarado ainda como “sonho esta é a diferença fundamental entre o enfrentar as questões
acordado”, socorro-me a uma citação de Gramsci para explicá- impostas pela realidade pedagógica e o encarar estas
lo melhor: “Não se trata de introduzir uma ciência na vida mesmas questões. Enquanto o enfrentar exige interferência
individual de ‘todos’, mas de inovar e tornar ‘crítica’ uma atividade no processo, o encarar deixa o indivíduo na situação de
já existente” (GRAMSCI apud MOCHCOVITCH, 1990, p. 17). observador passivo. Ou seja, não basta conhecer os valores,
O termo filosofia vem do grego philos que significa mas, fundamentalmente, vivenciar criticamente esses valores.
amigo e sóphon que significa sabedoria. No sentido primeiro Nietzsche em sua Extemporânea: Schopenhauer como
da criação de Heráclito, filósofo seria, portanto, o amigo da educador, no parágrafo 8, procura definir o não filósofo:
sabedoria; aquele que caminha em busca de saber; o que vai
em busca do que está por trás do real aparente. Nesse sentido, “A história erudita do passado nunca foi a
ajuda-nos a definição de Nietzsche: “Todo homem que dotado ocupação de um filósofo verdadeiro, nem
filosofia, se se ocupa com trabalho dessa espécie,
de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás
tem de aceitar que se diga dele no melhor dos
da realidade em que existimos e vivemos, se esconde outra casos: é um competente filólogo, antiquário,
muito diferente, e que, por consequência, a primeira não passa conhecedor de línguas, historiador - mas nunca:
de uma aparição da segunda” (NIETZSCHE apud BUZZI, é um filósofo” (CIVITA, 1983, p. 81).
1972, p. 6).
Filosofia, nesse sentido, é uma mera formalidade de Possuir conhecimento não é o bastante para a
pensar. É “a arte de formar, inventar, fabricar conceitos” transformação. Ser detentor de um conhecimento e não utilizar-
(DELEUZE; GUATARRI, 1992, p. 14). Assim, não pode ser se dele como um instrumento de modificação do status quo, é
considerado filósofo aquele que não cria ou criou conceitos. deter um conhecimento que não tem sentido. O conhecimento
Filosofar, portanto, é pensar sobre um fenômeno qualquer. só é válido quando permite a ação. Há um ditado da filosofia
Se esses fenômenos estão relacionados à dinâmica do sistema Zen que diz que “saber e não fazer é ainda não saber”.
educacional, o pensar deve estar canalizado para as questões Aprender a filosofar (pensar, refletir) é que vai transformar
que envolvem este sistema. Isso caracteriza a Filosofia da esse conhecimento em instrumento de ação. Gramsci dá a esse
Educação. Ou seja, ir em busca do saber voltado para as poder da filosofia um “valor histórico”, a filosofia da práxis
questões pedagógicas, em qualquer nível. marxista, acreditando que “todos os homens são filósofos”:
Filosofar sobre educação é buscar saber sobre fenômenos
educativos. O acúmulo deste saber permitirá ao filósofo (...) um movimento filosófico só merece este
tentativas de respostas às questões emergidas. Ou, como nome na medida em que (...), no trabalho
sugeria Paulo Freire, de captar o mundo, de forma consciente, de elaboração de um pensamento superior
e transformá-lo. ao senso comum e cientificamente coerente,
A filósofa Rosa Maria Dias ressalta o pensamento de jamais se esquece de permanecer em contato
Nietzsche sobre o papel do filósofo na sociedade: “Em suas com os “simples” e, melhor dizendo, encontra
anotações de 1874, Nietzsche define o filósofo como ‘o médico nesse contato a fonte dos problemas que devem
da civilização’. Neste sentido, filosofar significa interpretar e ser estudados e resolvidos. Só através deste
diagnosticar os ‘males da civilização’, encontrar remédios para contato é que a filosofia se torna “histórica”,
curá-la ou então envenenar aquilo que a destrói” (DIAS, 1991, depura-se dos elementos intelectuais de
p. 40). natureza individual e se transforma em “vida”
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(GRAMSCI apud MOCHCOVITCH, 1990, Não são os estudantes que têm obrigação de não
p. 40-41). chegarem medíocres aos cursos que se propõem fazer. Mas
cabem aos professores a obrigação de mobilizá-los deste
Não basta, pois, ao filósofo deter o conhecimento estágio de mediocridade, se porventura se encontrarem nele.
daquilo que pensaram os filósofos se, ele próprio, não cria Nietzsche, em sua segunda Extemporânea: Da utilidade
suas questões, colocando-as em harmonia com a realidade ao e desvantagem da história para a vida, faz uma crítica aos
seu redor. professores de filosofia que se prendem ao estudo da história.
Particularmente no Brasil, onde os males da educação Rosa Maria Dias assim descreve o posicionamento de
são tantos, a Filosofia da Educação, definida como o pensar Nietzsche sobre esses professores universitários: “(...) seres
do indivíduo, poderia ter uma importância singular na busca empanturrados de saber, meros espectadores do passado, e
de soluções. A Academia é um lugar próprio da racionalidade não criadores de vida e cultura. Protesta contra a educação
técnica, onde os diversos saberes deveriam ser colocados histórica com que os professores pretendiam instruir seus
em discussão. Sob a coordenação do professor, detentor alunos, tornando-os, pelo acúmulo de saber, incapazes de
de técnicas pedagógicas capazes de estimular a motivação recriar a vida a partir de suas experiências” (DIAS, 1991, p.
e desenvolver o crescimento dos alunos, os saberes serão 42-43).
trocados e, em cada um, acrescido. A importância que a Universidade assume nessa questão é
A didática empregada na disciplina Filosofia da a de permitir uma reflexão nova e não reproduzir o pensamento
Educação deve objetivar com que os alunos sejam capazes de outros. Nesse sentido o professor deve ser um mediador do
de enfrentar o mundo pedagógico na busca de soluções que surgimento de potencialidades da inteligência.
ofereçam saídas novas. Enfrentar, nesse sentido, é poder O professor, como mediador, descaracterizaria o poder
interferir conscientemente num processo, compromissado não democrático que a prática permite. Os alunos seriam
com a realidade histórica a que está inserido. Assim entendido os sujeitos-agentes de seu saber e da sua história. E assim a
no sentimento de Paulo Freire: “O compromisso, próprio da busca do saber partiria deles como um desejo e não como uma
existência humana, só existe no engajamento com a realidade, imposição.
de cujas ‘águas’ os homens verdadeiramente comprometidos Onde está o obstáculo para se desenvolver mentes
ficam ‘molhados’, ensopados” (FREIRE, 1979, p. 19). pensantes? Após a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento
Neste momento o Filósofo da Educação estará não só da inteligência e os métodos criados pelos seus inúmeros
fazendo história, como sendo protagonista dela. A disciplina seguidores, torna-se possível elaborar uma didática que
Filosofia da Educação tem um papel fundamental que é o de permita ao homem sair de sua condição de homem-objeto
permitir com que os estudantes possam pensar a realidade de e assumir sua função de homem-sujeito. Por que não fazer?
forma original e criadora. Penso que por questões políticas alheias aos avanços da ciência
Assim sendo a disciplina Filosofia da Educação, por pedagógica.
adquirir esta dimensão, deve servir de incentivo ao estudo e Em sua Extemporânea: Schopenhauer como educador,
à leitura, posto que o “ato de estudar é uma atitude frente no parágrafo 8, Nietzsche afirma: “Acontece, com efeito, que
ao mundo” (FREIRE, 1987, p. 11). E a didática empregada o Estado tem medo da filosofia em geral, e precisamente,
deve levar em consideração que, mais importante do que se este é o caso, tentará atrair para si o maior número de
aquilo que os outros pensaram, deva-se criar uma linha de filósofos que lhe dêem a aparência de ter a filosofia a seu lado”
racionalidade própria, em cada aluno, às questões pertinentes (NIETZSCHE apud CIVITA, 1983, p. 79).
à educação. Nesse sentido assim nos fala Paulo Freire: Ao Estado, representado pela classe dominante, pela
burguesia e pela elite política do país, não interessa a formação
“A consciência bancária ‘pensa que quanto
de pensadores críticos e criativos que possam colocar em
mais se dá mais se sabe’. Mas a experiência
risco o status quo. Os professores, muitas vezes de forma
revela que com este mesmo sistema só se
formam indivíduos medíocres, porque não inconsciente, cumprem o papel de impedir o surgimento de
há estímulo a criação. Por outro lado, quem mentes criativas e de potenciais filósofos. Representam, para
aparece como criador é um inadaptável e deve o Estado, a propaganda ideológica que garante a permanência
nivelar-se aos medíocres” (FREIRE, 1979, p. e o conformismo das ideias já desgastadas. Os indivíduos
38). que saem da linha de conduta estipulada pelo stablishment
serão os excluídos do sistema educacional, por serem rebeldes
aos ensinamentos tidos como “corretos”, os que se devem
aprender. Nesse sentido, Paulo Freire comenta: “Quanto mais
dirigidos são os homens pela propaganda ideológica, política
ou comercial, tanto mais são objetos e massas. Quanto mais
o homem é rebelde e indócil, tanto mais é criador, apesar de
em nossa sociedade se dizer que rebelde é um ser inadaptado”
(FREIRE, 1979, p. 32).
A filosofia, enquanto filosofia da práxis, tem, então, um
papel fundamental de mudança. E o que vai permitir o assumir
Disponível em: https://goo.gl/nQF5kS.
desta característica é, antes de mais nada, a mudança da práxis
Acesso em: 02/03/2013. da filosofia; fazer com que a filosofia seja um ato de amor do
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filósofo, do pensador. E não o contrário de fazer com que os possa assumir esta condição de revolucionária. Basta que
estudantes se afastem dela, cumprindo aquilo que interessa ao os professores, verdadeiramente engajados no processo de
Estado. mudança, assumam sua consciência histórica e permitam o
Ainda em Schopenhauer como educador, no parágrafo, surgimento de novas inteligências.
Nietzsche afirma: Assim o ensino acadêmico da filosofia deve preparar
o estudante para pensar, agir e viver filosoficamente,
“E, por fim, em que neste mundo importa vivenciando o verdadeiro sentido da “liberdade acadêmica”
aos nossos jovens a história da filosofia? Será e não no sentido colocado por Nietzsche, descrito por Rosa
que eles devem, pela confusão das opiniões, Maria Dias:
ser desencorajados de terem opiniões? Será
que devem ser ensinados a participar do coro “Para Nietzsche, a ‘liberdade acadêmica’ é o
de júbilo: como chegamos esplendidamente nome que se dá a esta dupla autonomia: de um
longe? Será que, porventura, devem aprender a lado, uma boca autônoma; de outro, orelhas
odiar ou desprezar a filosofia?” (NIETZSCHE autônomas. Atrás desses dois grupos, a uma
apud CIVITA, 1983, p. 79). relativa distância, está o vigilante Estado,
lembrando, de tempos em tempos, que deve
ser ele ‘o objetivo, o fim e a quinta-essência
desses procedimentos de fala e audição’” (
Dias, 1991, p. 100).

De tal forma o sistema está impregnado dessa didática


errônea, que a abordagem desse tema pode gerar reações
de um grupo de professores que teria por responsabilidade
facilitar o processo de mudança da sociedade.
O pensamento divergente incomoda ao Estado e
ao sistema vigente. Assim Rosa Maria Dias descreve o
posicionamento de Nietzsche: “Se chega a pôr em perigo a
permanência do sistema, o filósofo sofre uma ‘conspiração
de silêncio’ ou, então, é excluído e chamado de louco, por se
colocar numa posição superior e desejar ser árbitro das ações
do Estado” (apud Dias, 1991, p. 106).
Disponível em: http://www.bolsadenovidades.caixadepandora.
Mas, particularmente, prefiro correr os riscos de dizer,
com.br/estudar-vale-a-pena/. Acesso em: 02/03/2013. acreditando que a Academia seja o fórum ideal para o
deflagrar de ideias para discussão. Prefiro correr o risco de
A tarefa do professor é, portanto, a de incentivar nos
ouvir o que o poeta Stendhal disse de Jean-Jacques Rousseau:
estudantes esse amor pela filosofia, pelo ato de refletir e pensar,
“Jean-Jacques é um desses autores insolentes que forçam os
pelo apreço à busca de suas próprias verdades. Assumindo tal leitores a pensar”.
atitude, o professor, permitirá que a filosofia seja finalmente
tratada pelos alunos como um instrumento do conhecimento,
OBS: Não esqueçam! Em caso de dúvidas, acessem as ferramentas
como queria Gramsci, que propiciará a mudança do status quo,
“fórum” ou “quadro de avisos”.
pois, como nos diria Nietzsche, “quem impede a produção
e a perpetuação dos filósofos são os próprios filósofos
universitários, que vivem do Estado” (apud DIAS, 1991, p.
105). Retomando AULA
Lauro de Oliveira Lima, conta, em seu livro Mutações em
Educação, que McLuhan, levou seu filho, Lauro Henrique, para
ver o filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Ao final do filme
Estamos terminando a aula, neste momento faremos
o filho virou-se para o pai e disse: “VELHO, NÃO ESTÃO
um memorandum, vamos lá.
VENDO QUE VAI FICAR ASSIM... POR QUE NÃO
COMEÇAR LOGO?!!!” (LIMA, 1975, p. 64).
Vimos que existe um estudo de filosofia real e outro
1 - Filosofia da Educação: uma reflexão sobre o ser
possível. Mas o “sonho acordado” permite-nos pensar na
pedagógico.
utopia, fruto do possível imaginário.
Aprender a filosofar (pensar, refletir) é que vai
O ensino e o estudo da filosofia é um tema que não só diz
respeito a estudantes e professores, mas também a sociedade transformar esse conhecimento em instrumento de ação. Para
de uma forma geral. As mentes críticas e criadoras serão as refletir, precisamos primeiramente do conhecimento (este
capazes de mudar o que está exposto. Serão as capazes de vem de fora para dentro), o conhecimento se torna conhecer,
pressentir o que está oculto por trás da realidade. E desta forma é o domínio daquilo que assimilamos, é o ser interno (vimos
contribuir para o esclarecimento e mudança do real. na aula anterior), é o dicionário próprio.
Não parece tão absurdo que a filosofia na Universidade Depois desse processo, vocês colocam para fora
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o conhecer, ou seja, vocês estão fazendo uma reflexão
daquilo que receberam através da leitura, da discussão... dele e pelo fato dele gostar de rádios, passou a se chamá-lo
Mas, para aqueles que não leem, não discutem, não detém de Rádio. Mas ninguém sabia que, pelo menos em parte, a
conhecimento... O que poderão refletir? Somente coisas não razão da preocupação de Jones é que tentava não repetir uma
cientificamente comprovadas... Isso é muito ruim para o omissão que cometera, quando era um garoto.
profissional, não entender sobre a área pedagógica, não saber
o que está se passando... • Meu Mestre, minha Vida - Joe Clark é um professor
com métodos rudes e autoritários que foi convidado para
assumir o cargo de diretor da problemática Escola High
Vale a PENA School em Nova Jersey de onde tinha sido demitido. Usando
métodos nada ortodoxos, resolve provocar uma revolução
no colégio que já havia sido tomado pelas drogas, gangues,
vândalos e todo tipo de violência possível. Neste colégio, o
Vale a pena ler professor lecionava de forma integrada e dinâmica com os
alunos, mas como não aceitava a nova política do governo,
<http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo. não concordava com as normas, sendo assim, transferido.
asp?artigo=785>. Esse novo sistema de ensino, segundo Joe, era prejudicial,
<http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/eccos/ mas todos apoiavam.
eccos_v9n2/eccosv9n2_2a13.pdf>.
<http://ateus.net/ar tig os/filosofia/sobre- • Clube dos Cinco - Em virtude de terem cometido
educacao/>. pequenos delitos, cinco adolescentes são confinados no
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ colégio em um sábado, tendo de escrever uma redação de
arttext&pid=S0101-73302007000 100012>. mil palavras sobre o que eles pensam de si mesmos. Apesar
<http://www.abstracta.pro.br/revista/publicados/ de serem pessoas bem diferentes, enquanto o dia transcorre
v1n1a7%20-%20vvaa%20-%20Filosofia%20da%20 passam a aceitar uns aos outros e várias confissões são feitas
educa%C3%A7%C3%A3o.pdf>. entre eles.
<http://www2.uol.com.br/vyaestelar/filosofia_
bom_educador.htm>.
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/
Referências
artigos/a-filosofia-da-educacao-e-a-analise-de-conceitos-
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Vale a pena acessar 1991.
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<http://www.ebc.com.br/educacao/2012/10/dicas- Tempo Brasileiro, 2001.
de-filosofia>. BACHELARD, G. A epistemologia. Lisboa: Edições 70,
<http://filoparanavai.blogspot.com.br/2012/09/suges 2000.
tao-de-site-com-inofrmacoes-de.html>. BACHELARD, G. O racionalismo aplicado. Rio de Janeiro:
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<http://afilosofia.no.sapo.pt/>. BASSANELLI, Hélio R. Professor e o Processo de Ensino-
<http://filosofiaeensino.wordpress.com/>. Aprendizagem (2008). Disponível em: http://textolivre.
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Jones nem ninguém sabia o nome dele, pois ele não falava e BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar. Petrópolis:
só perambulava em volta do campo de treinamento. Jones Vozes, 1974. 240 p.
se preocupa com o jovem quando alguns dos jogadores CHAUI, Marilena. A Filosofia como vocação para a liberdade.
da equipe fazem uma “brincadeira” de péssimo gosto, que Estud. av. vol.17 no.49 São Paulo Set./Dec. 2003
deixou James apavorado. Tentando compensar o que tinham CHAVES, Eduardo O. C.A Filosofia da Educação e a
feito com o jovem, Jones o coloca sob sua proteção, além Análise de Conceitos Educacionais. (2012). Disponível em: http://
de lhe dar uma ocupação. Como ainda não sabia o nome dilamarinformaticaueg-dilamar.blogspot.com.br/2012/05/o-
que-voce-entende-por-filosofia-da.html. Acesso em: 02/

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