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Já que somente a aplicação de técnicas não garante a aprendizagem, o que
mais o professor precisa levar em consideração? Libâneo (2013) traz em suas
reflexões que a Didática é caracterizada como ponte entre bases teóricas científicas
(técnicas de ensino) da educação e a prática docente; ela faz o elo entre “o que”
é importante e o “como” ensinar. Teoria e prática são indissociáveis, ambas se
complementam: mais importante do que ensinar é o como ensinar, e, para isso,
os processos didáticos são fundamentais.
Pode-se dizer que o conjunto de ações e/ou atividades que fazem parte do
fazer docente, como o planejamento de ensino e como colocá-lo em ação, são
processos didáticos.
Didática 15
1.2.1 PAULO FREIRE
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Freire acreditava numa educação emancipatória, que libertasse o homem para
que o sujeito fosse capaz de tomar decisões e fazer escolhas, pensar de forma
crítica, entender seus direitos e deveres. Segundo ele, “[...] aprender precedeu
o ensinar, ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente
fundante de aprender [...]” (FREIRE, 2011, p. 13), ou seja, não há ensino sem
aprendizagem. O educador valoriza os saberes que o educando possui, em uma
relação de respeito.
Uma das mais importantes obras de Freire, “A pedagogia da autonomia”,
apresenta propostas pedagógicas com intuito de construir a autonomia dos
educandos. Para isso, a reflexão da prática docente deve ser constante; conhecer
o aluno enquanto ser social e o seu entorno faz a diferença no ato de ensinar.
Qual a relevância para as crianças de uma escola rural fazer a famosa
experiência de plantar o feijão no algodão enquanto os seus conhecimentos sobre
o ciclo de uma planta fazem parte da sua rotina? Ao professor cabe um olhar
sensível, com o intuito de proporcionar novas experiências sobre a temática para
que o aluno amplie o seu conhecimento e construa sua autonomia. Vale refletir
que o desenvolvimento da autonomia se dá ao longo da vida, entretanto, é nas
experiências que ela é construída.
Paulo Freire dedicou-se à educação popular e desenvolveu um método
inovador de alfabetização de adultos, com foco na realidade que os cercava.
Didática 17
Paulo Freire desenvolveu um método para alfabetizar adultos com foco na
realidade que os cercava. Partia de palavras do cotidiano, palavras geradoras,
ensinando a codificar e decodificar a escrita. Entretanto, o método ia além de ler
palavras: a premissa era compreender o mundo. Assista ao documentário Paulo Freire
– Contemporâneo, na TV Escola, disponível no link https://api.tvescola.org.br/tve/
video/paulofreirecontemporaneo, para saber mais sobre esse importante educador.
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Centro Educacional Carneiro Ribeiro
Projeto com objetivo de oferecer uma educação integral, com espaços para
socialização e o exercício da cidadania. Era destinado ao nível primário e,
em sua organização, além das atividades formais, arte e suas diferentes
linguagens, recreação, atividades práticas tinham seu espaço garantido ao
longo do dia.
Didática 19
de 18 anos. Redigido por Fernando de Azevedo, contou com mais 25
educadores, dentre eles Anísio Teixeira e Lourenço Filho, estudados nesta
unidade.
Escritores do Manifesto
Para ele, a escola deveria, mais do que preparar para o trabalho, preparar
para o convívio harmonioso e solidário na sociedade. Acreditava que a
educação não se dava somente nos espaços formais escolares, o sujeito
se educava nos diferentes espaços: na família, na rua, na igreja e outros.
Didática 21
Fernando de Azevedo teve a importante tarefa de redigir o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova. A escolha deu-se devido à sua atuação na reforma
escolar do Distrito Federal. Aceitar essa tarefa implicava retratar, por meio do
manifesto, a nova política de educação brasileira, assumindo a posição de
comunicar as propostas desenvolvidas ao povo, à imprensa e ao governo.
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Carl Rogers (1902-1987) nasceu em Illinois – EUA, numa família protestante,
sendo os valores religiosos parte de sua criação. Para suprir os anseios de sua
família, passou a frequentar o Seminário, em Nova York, onde estudou uma visão
liberal filosófica da religião. Seu interesse pela Psicologia o levou a transferir-se
para a Universidade de Columbia, onde concluiu mestrado e doutorado.
Foi, antes de tudo, um terapeuta que rompeu paradigmas com as práticas
diretivas marcadas por procedimentos padronizados, pois acreditava no ambiente
psicológico livre, em que o cliente (como Rogers preferia referir-se aos pacientes)
era o centro do processo, com base nas experiências individuais dele; para isso,
somente as técnicas não davam conta do sucesso do tratamento. Rogers defendia
a ideia de que o terapeuta facilita o processo, conhece o cliente, com o objetivo
de ajudá-lo da melhor forma.
Suas contribuições na educação partiam da mesma perspectiva: o processo
educativo não poderia se centrar mais no professor e no conteúdo, e, sim, no aluno.
IMPORTANTE
Para Rogers, as relações influenciavam na aprendizagem, pois ela deveria se dar numa
relação dialógica entre professor e aluno. Defendia uma aprendizagem significativa,
que partisse de problemáticas interessantes ao aprendente, pois só se aprendia de
fato o que era necessário.
CONCLUSÃO
Didática 23
Figura 1.11: Aprendizagem significativa
Fonte: Plataforma Deduca (2019).
1.2.6 FREINET
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Freinet passou a valorizar outras formas de ensinar:
A valorização do trabalho manual entrou definitivamente na
prática e na teoria da educação com o professor francês Célestin
Freinet (1896-1966). Ele centra a educação no trabalho, na
expressão livre, na pesquisa. O estudo do meio, o texto livre, a
imprensa na escola, a correspondência interescolar, o fichário
escolar cooperativo e a biblioteca de trabalho são algumas
das técnicas que empregava. Freinet distingue-se de outros
educadores da escola nova por dar ao trabalho um sentido
histórico, inserindo-o na luta de classes. (GADOTTI, 2006, p. 177).
ATENÇÃO
Didática 25
São espaços organizados de forma intencional
com a finalidade de estimular a exploração do
objeto de estudo.
Cantinho de artes
Cantinho de leitura
Cantinho de música
Vale destacar que Freinet não criou métodos de ensino, sua pedagogia
baseava-se em quatro princípios:
Cooperação
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Comunicação
Documentação
Afetividade
Didática 27
1.2.7 PIAGET
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Conhecimento
Papel do professor
Sensório motor
Essa fase compreende a idade de zero a dois anos e o foco está nas
descobertas dos movimentos e das diferentes sensações. A imitação também
faz parte dessa fase: o bebê tenta reproduzir tudo o que vê, a comunicação
também parte da imitação. A linguagem começa a ser construída, passando
do choro para o balbucio, ampliando-se para palavras e até frases curtas.
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Pré-operatório
A fase pré-operatória compreende a idade dos dois aos sete anos. Nessa
fase, acontece o desenvolvimento da imaginação e da memória. As crianças
começam a perceber a noção de passado e futuro. O simbólico faz parte
dessa etapa e o faz-de-conta é muito importante.
Operacional concreto
Dos sete aos onze anos, idade que compreende essa fase, o egocentrismo
começa a diminuir e a criança passa a perceber o outro, ou seja, começa a
compreender algumas regras sociais.
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Operacional formal
A etapa operacional formal tem seu início a partir dos onze anos e vai até a
vida adulta. Nessa fase, a criança já é capaz de lidar com situações abstratas
e usa a lógica para resolver problemas. Passa a criar situações hipotéticas,
teorias, e levanta possibilidades.
1.2.8 VYGOTSKY
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Lev Vygotsky (1896-1934) foi um dos mais importantes teóricos da educação
e seus estudos são base para diversas concepções educacionais. Dedicou-se a
estudar o desenvolvimento humano associado à evolução do indivíduo ao longo
do seu ciclo, sendo que tal evolução não é linear e se dá conforme as experiências
sociais, culturais e afetivas. Portanto, o desenvolvimento humano vai além da
maturação do biológico e dos aspectos genéticos, conforme afirmava Piaget.
Os seres humanos nascem em meio a toda uma complexidade cultural que
influencia direta e indiretamente o seu desenvolvimento, desde o nascimento
até o fim da vida.
Para Vygotsky, a aprendizagem se dá por meio das interações sociais, é pela
relação com o outro que se aprende e se desenvolve. O outro configura-se tanto
na figura do colega quanto na do professor. As interações sociais não são estáticas,
por meio delas o sujeito reflete, ressignifica, cria e produz novos conhecimentos,
a fim de se relacionar com o meio em que está inserido.
Para Vygotsky, o meio em que o sujeito está inserido é um fator que deve ser
considerado, podendo influenciar tanto de forma positiva quanto negativamente.
Para refletir um pouco mais sobre essa questão e o papel do professor frente à
situação, assista ao filme “Escritores da Liberdade”.
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Ao dedicar-se aos estudos sobre a construção do conhecimento, Vygotsky
desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Nesse conceito,
a distância entre o que o indivíduo já sabe (zona de desenvolvimento real) e
o que vai aprender (zona de desenvolvimento potencial) é denominado zona
de desenvolvimento proximal (ZDP). Nesse intervalo, vários fatores fazem
parte da construção do novo aprendizado, como a: interação com o objeto de
conhecimento e com o outro e a socialização e mediação de um parceiro mais
experiente. Para ilustrar o conceito, observe o esquema a seguir:
ZONA DE ZONA DE
DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO
REAL POTENCIAL
SOCIALIZAÇÃO
MEDIAÇÃO
O QUE EU JÁ SEI! INTERAÇÃO O QUE EU JÁ SEI!
ZONA DE
DESENVOLVIMENTO
PROXIMAL
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SÍNTESE DA UNIDADE
A Didática, como disciplina da Pedagogia, vai além da aprendizagem de
técnicas de ensino. É por meio dela que o professor tem a oportunidade de
estudar e refletir sobre os diversos pressupostos didáticos, ações que fazem parte
do processo de ensino e aprendizagem.
A prática é fundante no fazer docente, entretanto, são as concepções e os
fundamentos teóricos que embasam as decisões pedagógicas.
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer diferentes teóricos e
refletir sobre suas contribuições. Nas diferentes teorias, pudemos perceber o
claro rompimento do aluno enquanto receptor de informações, passando a ser
o centro do processo de ensino e aprendizagem.
Na mudança do papel do aluno, o papel do professor ganha um novo
sentido: somente expor conhecimentos não basta. O professor assume a função
de mediador do processo de ensino e aprendizagem, e tal premissa está presente
em várias concepções dos autores estudados nesta unidade.
Tivemos também a oportunidade de refletir sobre o percurso histórico da
educação brasileira.
Na próxima unidade, aprofundaremos os estudos sobre as abordagens do
processo de ensino e aprendizagem e das tendências pedagógicas.
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REFERÊNCIAS
Didática 35