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UNIDADE DE ESTUDO 1 – CONHECENDO A DIDÁTICA

1.1 CONCEITUAÇÃO E CARACTERÍSTICAS


Segundo Libâneo (2013), a Didática é o principal ramo da Pedagogia. Por
meio dela, podemos escolher e decidir os melhores métodos e conteúdos com
o propósito de transformar objetivos sócio-políticos em objetivos de ensino.
Nessa perspectiva, a Didática é uma disciplina que tem como finalidade
refletir e discutir as teorias pedagógicas e os diferentes métodos, como forma
de instrumentalizar o professor a tomar as melhores decisões para alcançar os
objetivos pedagógicos.
[...] para que nos tornemos professores, educadores de profissão,
devemos dominar ainda os saberes pedagógicos, que têm na
Didática seu eixo articulador. Os antigos intuíam isto ao dizer
que “para ensinar o latim a João, é preciso conhecer o latim e
o João”. Não é tudo, mas já apontavam para a necessidade de
outros saberes, para além dos que se ia ministrar. Sendo assim,
a Didática ocupa um lugar privilegiado na vida do professor,
certo? Nem sempre... São muitas as manifestações da falta
de percepção do valor da Didática como um poderosíssimo
instrumento de trabalho. (VASCONCELLOS, 2011, p. 33).

A partir do trecho anterior, podemos refletir sobre a importância e a


valorização do estudo da Didática, pois o fazer pedagógico não pode ser reduzido
a simples técnicas de ensinar: é necessário considerar outros aspectos além
da técnica, como os sujeitos envolvidos no processo, sua formação humana, o
contexto social e cultural.

Figura 1.1: O estudo da Didática


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

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Já que somente a aplicação de técnicas não garante a aprendizagem, o que
mais o professor precisa levar em consideração? Libâneo (2013) traz em suas
reflexões que a Didática é caracterizada como ponte entre bases teóricas científicas
(técnicas de ensino) da educação e a prática docente; ela faz o elo entre “o que”
é importante e o “como” ensinar. Teoria e prática são indissociáveis, ambas se
complementam: mais importante do que ensinar é o como ensinar, e, para isso,
os processos didáticos são fundamentais.

Pode-se dizer que o conjunto de ações e/ou atividades que fazem parte do
fazer docente, como o planejamento de ensino e como colocá-lo em ação, são
processos didáticos.

Para isso, é fundamental que o professor conheça as diferentes dimensões


do processo didático, os aspectos humano, social, cultural e cognitivo, e reflita
sobre como o aluno aprende e como o professor media o conhecimento de forma
a torná-lo significativo.
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Figura 1.2: Processo didático


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

1.2 EDUCADORES ILUSTRES


Muitos educadores dedicaram-se a estudar como ensinar, o que ensinar e
o que é importante aprender. Alguns dedicaram-se às relações do aprender e a
sociedade; outros, ao desenvolvimento humano e suas etapas, além do papel do
professor no processo de ensino e aprendizagem. Neste tópico, aprenderemos
sobre alguns educadores e suas contribuições para a educação.

Didática 15
1.2.1 PAULO FREIRE

Figura 1.3: Paulo Freire


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paulo_Freire_1977.jpg

Como um dos educadores mais importantes do Brasil, Paulo Freire (1921-


1997) trouxe contribuições transformadoras para a educação brasileira, hoje
estudada em vários países. Professor nascido em Pernambuco, dedicou-se à
valorização do conhecimento popular, rompendo com a educação bancária.

Paulo Freire chamava de “educação bancária” o formato que tinha o professor


como centro e o aluno como receptor de informações, em que o professor “de-
positava” os conteúdos no aluno, que deveria apenas decorá-los.

O que me interessa agora, repito, é alinhar e discutir alguns


saberes fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista
e que, por isso mesmo, devem ser conteúdos obrigatórios à
organização programática da formação docente. Conteúdos
cuja compreensão, tão clara e tão lúcida quanto possível, deve
ser elaborada na prática formadora. É preciso, sobretudo, e aí
já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde
o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-
se como sujeito também da produção do saber, se convença
definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua
construção. (FREIRE, 2011, p. 12).

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Freire acreditava numa educação emancipatória, que libertasse o homem para
que o sujeito fosse capaz de tomar decisões e fazer escolhas, pensar de forma
crítica, entender seus direitos e deveres. Segundo ele, “[...] aprender precedeu
o ensinar, ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente
fundante de aprender [...]” (FREIRE, 2011, p. 13), ou seja, não há ensino sem
aprendizagem. O educador valoriza os saberes que o educando possui, em uma
relação de respeito.
Uma das mais importantes obras de Freire, “A pedagogia da autonomia”,
apresenta propostas pedagógicas com intuito de construir a autonomia dos
educandos. Para isso, a reflexão da prática docente deve ser constante; conhecer
o aluno enquanto ser social e o seu entorno faz a diferença no ato de ensinar.
Qual a relevância para as crianças de uma escola rural fazer a famosa
experiência de plantar o feijão no algodão enquanto os seus conhecimentos sobre
o ciclo de uma planta fazem parte da sua rotina? Ao professor cabe um olhar
sensível, com o intuito de proporcionar novas experiências sobre a temática para
que o aluno amplie o seu conhecimento e construa sua autonomia. Vale refletir
que o desenvolvimento da autonomia se dá ao longo da vida, entretanto, é nas
experiências que ela é construída.
Paulo Freire dedicou-se à educação popular e desenvolveu um método
inovador de alfabetização de adultos, com foco na realidade que os cercava.

Figura 1.4: Alfabetização de adultos


Fonte: https://pixabay.com/pt/humanos-papel-adulto-m%C3%A3o-escrever-3305707/

Didática 17
Paulo Freire desenvolveu um método para alfabetizar adultos com foco na
realidade que os cercava. Partia de palavras do cotidiano, palavras geradoras,
ensinando a codificar e decodificar a escrita. Entretanto, o método ia além de ler
palavras: a premissa era compreender o mundo. Assista ao documentário Paulo Freire
– Contemporâneo, na TV Escola, disponível no link https://api.tvescola.org.br/tve/
video/paulofreirecontemporaneo, para saber mais sobre esse importante educador.

1.2.2 ANÍSIO TEIXEIRA

Figura 1.5: Anísio Teixeira


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:An%C3%ADsio_Teixeira_(sem_data).tiff

Um dos mais importantes educadores brasileiros, o baiano Anísio Teixeira


(1900-1971), defendeu o direito da educação gratuita para todos e foi um dos
pioneiros na reforma da escola pública para todos os níveis. Para ele, a escola tinha
um importante papel no exercício da cidadania, como um espaço democrático.
Defendia a escola integral, com o olhar para o desenvolvimento integral
do aluno, para além da formação técnica ou conteudista. Para o educador, o
desenvolvimento das atitudes e do senso crítico também é papel da escola, que
deve ser preparada para tais ações.
Em 1950, enquanto Secretário de Educação do Estado, Anísio fundou na
Bahia o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, ou Escola Parque.

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Centro Educacional Carneiro Ribeiro

Projeto com objetivo de oferecer uma educação integral, com espaços para
socialização e o exercício da cidadania. Era destinado ao nível primário e,
em sua organização, além das atividades formais, arte e suas diferentes
linguagens, recreação, atividades práticas tinham seu espaço garantido ao
longo do dia.

No aspecto do papel do professor, predominava a relação professor-aluno,


em que o docente passa a confiar que o aluno desenvolve hipóteses e ideias
acerca de algo e deve ser respeitado por isso. Esse modelo de escola inspirou
outros educadores.

Figura 1.6: Arte na escola


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Na época do Regime da Ditadura Militar, a partir de 1964, a educação pública


ficou estagnada e sofreu poucos avanços. Anísio Teixeira foi perseguido após o
golpe e teve que abandonar o cargo de reitor da Universidade de Brasília, em 1963.
Anísio Teixeira foi um dos 26 educadores que escreveram o Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova.

Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova

Caracteriza-se pela escrita de um documento, a pedido de Getúlio Vargas,


então presidente da República. O principal objetivo do documento era
propor uma renovação no sistema educacional brasileiro. Um sistema que
atendesse a todos, propondo o ensino gratuito e obrigatório até a idade

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de 18 anos. Redigido por Fernando de Azevedo, contou com mais 25
educadores, dentre eles Anísio Teixeira e Lourenço Filho, estudados nesta
unidade.

Escritores do Manifesto

Dentre os 26 educadores participantes da elaboração do documento,


destacam-se Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo Cecília
Meireles, Roldão Lopes de Barros, Antônio F. Almeida Junior Roquette
Pinto, Afrânio Peixoto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima.

1.2.3 LOURENÇO FILHO

Figura 1.7: Lourenço Filho


Fonte: https://s3.amazonaws.com/s3.timetoast.com/public/uploads/photo/13893273/image/original-
1355052ba14b7c4f600b580d6ac4ca3c.jpeg

Nasceu em 1897, na cidade de Porto Ferreira, interior de São Paulo. Sua


família possuía uma tipografia, um jornal chamado “A Folha” e um cinema.
Estudou na Escola Normal de São Paulo e decidiu cursar Medicina; entretanto,
no segundo ano, desistiu, optando pela carreira de docente.
Lourenço Filho também foi um dos escritores mais importantes do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova, porém é o menos estudado. Dedicou sua carreira
a estudar assuntos didático-pedagógicos.
Foi um dos intelectuais da educação brasileira, assumindo várias posições
de destaque em diferentes governos. Em 1922, participou da reforma do ensino
público do Ceará. Ao voltar para São Paulo, colaborou na reforma do ensino
profissional e normal do estado. Foi membro do Conselho Nacional de Educação
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(CNE) e organizou e dirigiu o INEP, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,
hoje chamado Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
Em 1920, estudou sobre a psicologia educacional. Lecionou durante seis anos
a disciplina na Escola Normal de São Paulo, ajudando a difundir conhecimentos
da Psicologia nos diferentes campos da educação.

Figura 1.8: Psicologia e Educação


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Os estudos de Lourenço Filho contribuíram em diversas áreas no campo


da educação, formação de professores, administração escolar e alfabetização,
inclusive a de adultos. Teve uma grande influência na educação brasileira.

1.2.4 FERNANDO DE AZEVEDO


Nascido em Minas Gerais, Azevedo (1894-1974) estudou no colégio
interno jesuítico; em determinado momento, estudou em um seminário e teve
a oportunidade de lecionar como professor substituto, descobrindo, então, sua
vocação ao magistério. Cursou a faculdade de Direito, porém não atuou na área.
Com ideias à frente de seu tempo, dedicou sua vida aos estudos sobre educação.
Defendia a ideia de que a educação estava ligada à transformação da
sociedade, por isso dedicou-se à incansável tarefa da reforma da educação
brasileira como forma de fazer avançar a sociedade.

Escola que prepara para o convívio em sociedade

Para ele, a escola deveria, mais do que preparar para o trabalho, preparar
para o convívio harmonioso e solidário na sociedade. Acreditava que a
educação não se dava somente nos espaços formais escolares, o sujeito
se educava nos diferentes espaços: na família, na rua, na igreja e outros.

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Fernando de Azevedo teve a importante tarefa de redigir o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova. A escolha deu-se devido à sua atuação na reforma
escolar do Distrito Federal. Aceitar essa tarefa implicava retratar, por meio do
manifesto, a nova política de educação brasileira, assumindo a posição de
comunicar as propostas desenvolvidas ao povo, à imprensa e ao governo.

Figura 1.9: Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manifesto_pioneiros_da_
educa%C3%A7%C3%A3o_1932-1959.JPG

1.2.5 CARL ROGERS

Figura 1.10: Carl Rogers


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carl_Ransom_Rogers.jpg

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Carl Rogers (1902-1987) nasceu em Illinois – EUA, numa família protestante,
sendo os valores religiosos parte de sua criação. Para suprir os anseios de sua
família, passou a frequentar o Seminário, em Nova York, onde estudou uma visão
liberal filosófica da religião. Seu interesse pela Psicologia o levou a transferir-se
para a Universidade de Columbia, onde concluiu mestrado e doutorado.
Foi, antes de tudo, um terapeuta que rompeu paradigmas com as práticas
diretivas marcadas por procedimentos padronizados, pois acreditava no ambiente
psicológico livre, em que o cliente (como Rogers preferia referir-se aos pacientes)
era o centro do processo, com base nas experiências individuais dele; para isso,
somente as técnicas não davam conta do sucesso do tratamento. Rogers defendia
a ideia de que o terapeuta facilita o processo, conhece o cliente, com o objetivo
de ajudá-lo da melhor forma.
Suas contribuições na educação partiam da mesma perspectiva: o processo
educativo não poderia se centrar mais no professor e no conteúdo, e, sim, no aluno.
IMPORTANTE

Para Rogers, as relações influenciavam na aprendizagem, pois ela deveria se dar numa
relação dialógica entre professor e aluno. Defendia uma aprendizagem significativa,
que partisse de problemáticas interessantes ao aprendente, pois só se aprendia de
fato o que era necessário.

Nessa perspectiva, o papel do professor ganhava um novo sentido, pois ele


assumia o papel de facilitador da aprendizagem significativa, aquele que prepara
e planeja o ambiente para o aprendizado. O professor passa a fazer parte do
processo, relaciona-se, conhece os interesses do aluno, ensina e aprende.

CONCLUSÃO

O aluno também assume um papel mais ativo no processo de ensino e aprendizagem,


rompe-se com a ideia de receber informações. Princípios como autoavaliação, auto-
crítica e aprender a aprender passam a fazer parte do cotidiano; para isso, somente
conceitos não são mais suficientes, o desenvolvimento de outras áreas do humano
é fundamental.

Didática 23
Figura 1.11: Aprendizagem significativa
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

1.2.6 FREINET

Figura 1.12: Célestin Freinet


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Selesten.jpg

Célestin Freinet (1896-1966) nasceu no sul da França e viveu uma vida


simples. Foi pastor de rebanho e cursou o magistério na cidade de Nice. Lutou na
Primeira Guerra Mundial e, devido aos gases tóxicos, contraiu um grave problema
pulmonar.
Em 1920, começou a lecionar em uma escola com poucos recursos e passou
a observar a dinâmica da aula, questionando a rigidez na forma de ensinar e a
escola. Passou a experienciar novas forma de aprender, levando os alunos para
observar a natureza, o que traz o encantamento, denominando essa prática de
aula-passeio.

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Freinet passou a valorizar outras formas de ensinar:
A valorização do trabalho manual entrou definitivamente na
prática e na teoria da educação com o professor francês Célestin
Freinet (1896-1966). Ele centra a educação no trabalho, na
expressão livre, na pesquisa. O estudo do meio, o texto livre, a
imprensa na escola, a correspondência interescolar, o fichário
escolar cooperativo e a biblioteca de trabalho são algumas
das técnicas que empregava. Freinet distingue-se de outros
educadores da escola nova por dar ao trabalho um sentido
histórico, inserindo-o na luta de classes. (GADOTTI, 2006, p. 177).

Seus ideais defendem uma pedagogia que parte do trabalho, em que a


cooperação é elemento fundamental para a sua efetivação. Para ele, a atividade
é a principal ferramenta para atingir o objetivo educacional.
Segundo Freinet, o professor tem o papel de criar atividades estimulantes
que associem conceito e prática, a partir de experiências, buscando respostas e
soluções para as situações.

ATENÇÃO

É importante refletir que Freinet acreditava que o erro causava um desestímulo e


o professor deveria criar um ambiente para ajudar o aluno a superar o erro e não
o confrontar, diferentemente de outros educadores, que defendem que o erro é o
início da construção do pensamento.

Outra contribuição importante de Freinet foi a criação dos cantinhos


pedagógicos. Vamos descobrir um pouco mais sobre os cantinhos?

Didática 25
São espaços organizados de forma intencional
com a finalidade de estimular a exploração do
objeto de estudo.

Cantinho de artes

Cantinho de leitura

Cantinho de música

Vale destacar que Freinet não criou métodos de ensino, sua pedagogia
baseava-se em quatro princípios:

Cooperação

Com o objetivo de comunicar ideias, trocar experiências para, então,


construir o conhecimento de forma comunitária.

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Comunicação

Fazer uso da comunicação para expor ideias, hipóteses e descobertas.

Documentação

Registro do que se aprende, bem como do seu processo. Por exemplo,


caderno de relatos de experiências coletivo e/ou individual.

Afetividade

Criação de vínculo entre os sujeitos envolvidos no processo pedagógico e


deles com o conhecimento.

Atividades pedagógicas idealizadas por Freinet, como aula-passeio ou estudo


do meio, cantinhos temáticos e diários de bordo são tão utilizadas que muitos
educadores fazem uso sem conhecer sua concepção.

Figura 1.13: Aula-passeio


Fonte: Platafoma Deduca (2019).

Didática 27
1.2.7 PIAGET

Figura 1.14: Jean Piaget


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean_Piaget_in_Ann_Arbor_(cropped).png

Jean Piaget (1896-1980) foi um importante psicólogo e filósofo. Suas teorias


revolucionaram a forma de pensar sobre como a criança aprende.
Nascido em Neuchâtel, na Suíça, Piaget foi um menino prodígio, desde cedo
interessava-se pelas questões da biologia. Recebeu o título de Doutor em Ciências
Naturais e, a partir de 1921, dedicou seus estudos à psicologia da criança, no
instituto Jean Jacques Rousseau.
Piaget propôs o método da observação para a educação da
criança. Daí a necessidade de uma pedagogia experimental que
colocasse claramente como a criança organiza o real. Criticou a
escola tradicional que ensina a copiar e não a pensar. Para obter
bons resultados, o professor devia respeitar as leis e as etapas
do desenvolvimento da criança. (GADOTTI, 2006, p. 144.)

Para Piaget, a maturação biológica era condição para a aprendizagem. Sendo


assim, baseado nos seus estudos de observação do desenvolvimento da criança,
concluiu que crianças da mesma idade têm facilidades e dificuldades parecidas.
A Epistemologia Genética baseia-se nos estudos da inteligência e em
como o indivíduo constrói o conhecimento. Durante a vida, o sujeito passa por
diferentes etapas do desenvolvimento. Nessa concepção, podemos identificar
alguns aspectos principais:

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Conhecimento

Construído a partir da interação entre sujeito e objeto de conhecimento.

Papel do professor

Observar e intervir com o objetivo de a criança formular novas hipóteses e


construir outros conhecimentos.

No livro “Psicologia da Educação”, de César Coll, Jésus Palacios e Álvaro Marchesi,


, você terá a oportunidade de aprofundar os seus estudos sobre a Epistemologia
Genética de Piaget e suas contribuições.

Outra grande contribuição de Piaget são os estágios do desenvolvimento.

Sensório motor

Essa fase compreende a idade de zero a dois anos e o foco está nas
descobertas dos movimentos e das diferentes sensações. A imitação também
faz parte dessa fase: o bebê tenta reproduzir tudo o que vê, a comunicação
também parte da imitação. A linguagem começa a ser construída, passando
do choro para o balbucio, ampliando-se para palavras e até frases curtas.

Nessa fase, o bebê passa a se perceber como sujeito, começa a interagir


com objetos e a explorá-los, entretanto, ainda não percebe o mundo a sua
volta. Para os bebês, só existe aquilo que ele pode tocar, sentir ou ver.

Didática 29
Pré-operatório

A fase pré-operatória compreende a idade dos dois aos sete anos. Nessa
fase, acontece o desenvolvimento da imaginação e da memória. As crianças
começam a perceber a noção de passado e futuro. O simbólico faz parte
dessa etapa e o faz-de-conta é muito importante.

O egocentrismo é bem presente, pois a criança ainda tem dificuldade em


perceber o outro.

Operacional concreto

Nessa fase, podemos perceber uma grande mudança no desenvolvimento


cognitivo, pois a criança passa a desenvolver o pensamento lógico, ou seja,
desenvolve a capacidade de resolver situações mentalmente, entretanto,
o concreto continua a fazer parte do desenvolvimento, já que a abstração
ainda é complexa.

Dos sete aos onze anos, idade que compreende essa fase, o egocentrismo
começa a diminuir e a criança passa a perceber o outro, ou seja, começa a
compreender algumas regras sociais.

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Operacional formal

A etapa operacional formal tem seu início a partir dos onze anos e vai até a
vida adulta. Nessa fase, a criança já é capaz de lidar com situações abstratas
e usa a lógica para resolver problemas. Passa a criar situações hipotéticas,
teorias, e levanta possibilidades.

Para Piaget, o professor é aquele que cria situações relacionadas ao nível


de desenvolvimento do sujeito, ou seja, cria propostas nas quais o aluno tenha
condições de criar hipóteses, propor soluções, com o objetivo de construir o seu
conhecimento.

1.2.8 VYGOTSKY

Figura 1.15: Lev Vygotsky


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg

Didática 31
Lev Vygotsky (1896-1934) foi um dos mais importantes teóricos da educação
e seus estudos são base para diversas concepções educacionais. Dedicou-se a
estudar o desenvolvimento humano associado à evolução do indivíduo ao longo
do seu ciclo, sendo que tal evolução não é linear e se dá conforme as experiências
sociais, culturais e afetivas. Portanto, o desenvolvimento humano vai além da
maturação do biológico e dos aspectos genéticos, conforme afirmava Piaget.
Os seres humanos nascem em meio a toda uma complexidade cultural que
influencia direta e indiretamente o seu desenvolvimento, desde o nascimento
até o fim da vida.
Para Vygotsky, a aprendizagem se dá por meio das interações sociais, é pela
relação com o outro que se aprende e se desenvolve. O outro configura-se tanto
na figura do colega quanto na do professor. As interações sociais não são estáticas,
por meio delas o sujeito reflete, ressignifica, cria e produz novos conhecimentos,
a fim de se relacionar com o meio em que está inserido.

Figura 1.16: Interação social


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Na perspectiva de Vygotsky, o papel do professor ganha um novo significado.


Ele passa a ser o parceiro mais experiente, aquele que instiga, estimula, fazendo
com que a criança avance na construção do conhecimento.

Para Vygotsky, o meio em que o sujeito está inserido é um fator que deve ser
considerado, podendo influenciar tanto de forma positiva quanto negativamente.
Para refletir um pouco mais sobre essa questão e o papel do professor frente à
situação, assista ao filme “Escritores da Liberdade”.

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Ao dedicar-se aos estudos sobre a construção do conhecimento, Vygotsky
desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Nesse conceito,
a distância entre o que o indivíduo já sabe (zona de desenvolvimento real) e
o que vai aprender (zona de desenvolvimento potencial) é denominado zona
de desenvolvimento proximal (ZDP). Nesse intervalo, vários fatores fazem
parte da construção do novo aprendizado, como a: interação com o objeto de
conhecimento e com o outro e a socialização e mediação de um parceiro mais
experiente. Para ilustrar o conceito, observe o esquema a seguir:

ZONA DE ZONA DE
DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO
REAL POTENCIAL

SOCIALIZAÇÃO

MEDIAÇÃO
O QUE EU JÁ SEI! INTERAÇÃO O QUE EU JÁ SEI!

ZONA DE
DESENVOLVIMENTO
PROXIMAL

Figura 1.17: Zona de Desenvolvimento Proximal


Fonte: Elaborada pela autora (2019).

Imagine um aluno que já sabe somar pequenas quantidades e começa a realizar


operações utilizando o algoritmo formal, juntamente com o professor e outros
de colegas. Nesse momento, consegue realizar os exercícios apresentados. Em
seguida, é desafiado a realizar a proposta sozinho e frustra-se ao perceber que ainda
tem dúvidas e/ou dificuldades. O professor, então, utiliza diferentes estratégias e
mediações até o aluno ser capaz de resolver o exercício de forma autônoma. Todo
esse processo entre saber algo, precisar de auxílio e resolver de forma autônoma
entende-se como zona de desenvolvimento proximal.

Didática 33
SÍNTESE DA UNIDADE
A Didática, como disciplina da Pedagogia, vai além da aprendizagem de
técnicas de ensino. É por meio dela que o professor tem a oportunidade de
estudar e refletir sobre os diversos pressupostos didáticos, ações que fazem parte
do processo de ensino e aprendizagem.
A prática é fundante no fazer docente, entretanto, são as concepções e os
fundamentos teóricos que embasam as decisões pedagógicas.
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer diferentes teóricos e
refletir sobre suas contribuições. Nas diferentes teorias, pudemos perceber o
claro rompimento do aluno enquanto receptor de informações, passando a ser
o centro do processo de ensino e aprendizagem.
Na mudança do papel do aluno, o papel do professor ganha um novo
sentido: somente expor conhecimentos não basta. O professor assume a função
de mediador do processo de ensino e aprendizagem, e tal premissa está presente
em várias concepções dos autores estudados nesta unidade.
Tivemos também a oportunidade de refletir sobre o percurso histórico da
educação brasileira.
Na próxima unidade, aprofundaremos os estudos sobre as abordagens do
processo de ensino e aprendizagem e das tendências pedagógicas.

Recomendamos que você assista às aulas do curso “Tópicos de Epistemologia e


Didática”, do professor de Pós-graduação da USP Nilson José Machado, e reflita
um pouco mais sobre a importância da Didática e das concepções pedagógicas
no fazer docente. Essas aulas estão disponíveis no YouTube! Acesse: https://www.
youtube.com/watch?v=NjxdcTmXquA&list=PL153E5F1A092EB30D

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REFERÊNCIAS

COLL, C., PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs). Desenvolvimento Psicológico


e educação: Psicologia da Educação. v.3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

FREIRE, P. A pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Cortez,


2006.

LIBÂNEO, J. C. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

VASCONCELLOS, C. S. Formação didática do educador contemporâneo:


desafios e perspectivas. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd.
Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2011. p. 33-58, v. 9. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=NjxdcTmXquA&list=PL153E5F1A092EB30D. Acesso em: 16 fev.
2019.

Didática 35

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