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Disciplina: Estudos de letramento

Aluna: Diana Rodrigues Sarcinelli dos Santos


Data: 13/09/2016

Fichamento crítico do texto “Deslocamentos. Deleuze e a educação”, de Sílvio Gallo

Como o próprio autor do texto diz (GALLO, 2003, p. 53-54), ele opera por deslocamentos,
ou seja, ele “desterritorializa conceitos da obra de Deleuze e de Deleuze & Guattari, para
reterritorializá-los no campo da educação”, já que Deleuze “não se dedicou a problemas
relativos à educação senão de forma muito marginal”. Por isso, prosseguirei este
fichamento crítico utilizando subdivisões, de modo que cada divisão dirá respeito a cada
um dos quatro deslocamentos feitos pelo autor desta obra: A filosofia da educação como
criação conceitual; uma “educação menor”; rizoma e educação e educação e controle.

DESLOCAMENTO 1: A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO COMO CRIAÇÃO CONCEITUAL

(...) é necessário, portanto, que combatamos a noção de filosofia da educação como


reflexão sobre a educação. Ela deve ser muito mais do que isso. (GALLO, 2003, p.
55)

(...) a história da filosofia é inteiramente desinteressante, se não se propuser


despertar um conceito adormecido, a relançá-lo numa nova cena, mesmo a preço de
voltá-lo contra ele mesmo (DELEUZE, s.d apud GALLO, 2003, p. 56).

Se o que importa é resgatar o filósofo criador (de resto, a única possibilidade para
que ele seja de fato filósofo), então o filósofo da educação deve ser aquele que cria
conceitos e que instaura um plano de imanência que corte o campo de saberes
educacionais (GALLO, 2003, p. 57)

(...) Desta maneira, o filósofo da educação é, antes de qualquer coisa, filósofo. É um


pensador, um criador de conceitos que dão consistência a acontecimentos no
campo educacional, sem perder a infinitude do caos no qual mergulha, já que é esse
infinito o que permite a criatividade, que permite que conceitos sempre novos
possam brotar no plano de imanência (GALLO, 2003, p. 58)

Concordo com o posicionamento do autor, citado acima de modo sequencial, e acredito


que todos nós pensadores da língua e linguagem, como desconstrutores de verdades
absolutas, docentes, e ao mesmo tempo discentes, indivíduos social e politicamente ativos,
precisamos, ou melhor, necessitamos refletir os conceitos filosóficos já existentes para,
assim, avaliar sua pertinência hoje e sobretudo para atuarmos todos, como um filósofo
criador, levando em conta as necessidades atuais. Deveríamos todos intervir, a partir de
novos conceitos e práticas, no campo da educação, que acredito ser um dos campos,
senão o principal, que mais clama por uma ação revolucionária. Talvez um começo fosse
agirmos a partir de pequenas ações, por exemplo, agindo de modo diferente de muitos
colegas de trabalho no meio educacional. Nas poucas escolas em que atuei como docente,
percebi que o comodismo está enraizado nas rotinas daqueles profissionais da educação.
Ao agir sempre com disposição, por me preocupar com as tarefas docentes e questionar
muitas coisas que sentia estarem erradas, comecei a sentir olhares maldosos e fui
“avisada” de que esse entusiasmo uma hora passaria, que era para eu me acostumar. Ora,
percebi que pensar é realmente perigoso, de acordo com Deleuze e Guattari (1977 apud
GALLO, 2003, p. 58), mas não podemos titubear nessa caminhada e devemos tentar agir
como um “professor-militante” (GALLO, 2033, p. 59-62)!

DESLOCAMENTO 2: UMA “EDUCAÇÃO MENOR”

Partindo da noção de literatura menor, proposta por Deleuze e Guattari (?) que consideram
que “Uma literatura menor não é a de uma língua menor, mas antes a que uma minoria faz
em uma língua maior”, Gallo faz uma desterritorialização desta temática, transpondo-a para
o campo da educação ao discorrer sobre “educação menor”, promovendo assim o
exercício de deslocamento conceitual, como proposto pelo próprio autor.

(...) Uma educação menor é um ato de revolta e de resistência. Revolta contra os


fluxos instituídos, resistência às políticas impostas; sala de aula como trincheira,
como a toca do rato, o buraco do cão. Sala de aula como espaço a partir do qual
traçamos nossas estratégias, estabelecemos nossa militância, produzindo um
presente e um futuro aquém ou para além de qualquer política educacional. Uma
educação menor é um ato de singularização e militância. (GALLO, 2003, p. 64-65)

Segundo o autor, é preciso que os professores considerem as situações vividas no dia a


dia, os problemas, as diferenças, as carências dos alunos, da situação de trabalho, do
sistema, etc. para a partir daí, traçar estratégias a fim de romper com a educação maior,
que opera de modo a controlar os processos educativos, pensando assim a educação
menor como máquina de resistência. A “educação menor” deve existir para que, segundo o
autor, um professor possa atuar de forma militante. Todavia, acredito que para um
professor ser militante, não é necessário que uma “educação menor” já tenha de estar
vigente, pois é o trabalho do professor militante que levará a uma educação menor, que
romperá, aos poucos, com as políticas de uma educação maior (aquelas incompatíveis
com a realidade do sistema educacional apenas).

(...) A educação menor é uma posta nas multiplicidades, que rizomaticamente se


conectam e interconectam, gerando novas multiplicidades. Assim, todo ato singular
se coletiva e todo ato coletivo se singulariza. (...) Não há sujeitos, não há objetos,
não há ações centradas em um ou outro; há projetos, acontecimentos, individuações
sem sujeito. Todo projeto é coletivo. Todo fracasso também. (GALLO, 2003, p. 69)

Acredito que política educacional deverá ser (re)pensada para que sejam instituídas
diretrizes que acordam com as múltiplas realidades presentes nas escolas (realidades a
serem relatadas pelos professores militantes, que vivem “na toca do rato, no buraco do
cão”). Acredito que também precisamos fazer um trabalho “formiguinha” para atingir uma
coletividade, além do trabalho coletivo que atingirá a cada um de nós e que foi dito pelo
autor.

DESLOCAMENTO 3: RIZOMA E EDUCAÇÃO

(...) Uma educação rizomática, por sua vez, abre-se para multiplicidade, para uma
realidade fragmentada e múltipla, sem a necessidade mítica de recuperar uma
ligação, uma unidade perdida. Os campos de saberes são tomados como
absolutamente abertos; com horizontes, mas sem fronteiras, permitindo trânsitos
inusitados e insuspeitados (GALLO, 2003, p. 81).

Creio que pensar um currículo educacional como transversal e rizomático, segundo o


posicionamento do próprio autor, parece realmente uma utopia, embora pensar dessa
maneira, possa nos levar a lugares inesperados, como a própria noção de rizoma no
permite refletir, assim como levou muitos inventores e estudiosos a inventarem e
descobrirem coisas que ninguém imaginava. Mesmo assim, no âmbito da educação,
parece ser algo realmente inalcançável, porque até mesmo a promoção de atividades
interdisciplinares é, muitas vezes, bastante difícil de ser realizada, ora pelo desinteresse
por parte dos próprios professores, ora por não saberem “como” estabelecer uma relação
entre disciplinas como português e matemática, por exemplo. Os professores precisam
saber que aquela noção apontada pelo autor, quando fala sobre a estrutura arbórea que
representa a divisão do conhecimento como forma “facilitadora” de aprendizagem, que diz
respeito à disciplinarização (GALLO, 2003, p, 71) não deve ser levada tão a sério, já que
há uma multiplicidade de saberes coexistindo, por isso, é sempre possível “linkar”
conhecimentos entre as diferentes áreas do saber, tendo em vista que, numa perspectiva
rizomática, “os campos dos saberes são tomados como absolutamente abertos; com
horizontes, mas sem fronteiras, permitindo trânsitos inusitados e insuspeitados” (GALLO,
2003, p. 81).

DESLOCAMENTO 4: EDUCAÇÃO E CONTROLE

Mas o problema é: queremos opor resistência? Não estamos, educadores em geral,


embarcando muito facilmente nos discursos macro políticos, nos mecanismos da
educação maior, que alardeiam a todos os ventos os tempos da avaliação
permanente e da formação continuada? Não temos sido, nós mesmos, os vetores da
consolidação das sociedades de controle no âmbito da educação? (...) (GALLO,
2003, p. 91)

A citação acima me faz acreditar que devemos estar sempre pensando criticamente e
avaliando nossas ações em sala de aula e em toda e qualquer situação que diz respeito à
educação, para saber até que ponto controlaremos e se controlaremos o outro (o aluno),
se permitiremos o controle sobre nós (pela política educacional) ou não; quais os tipos de
controle estamos exercendo e sob qual estamos sendo controlado. Seriam eles
adequados? Após refletir sobre este assunto e encontrar as respostas para estas
perguntas, penso que deveríamos agir, agir conforme um professor militante.

Referência:

GALLO, Sìlvio. Deslocamentos. Deleuze e a educação. In: GALLO, Sílvio. Deleuze e a


educação. São Paulo: Autêntica, 2003, p. 53-94.

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