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AVALIAÇÃO DA FAIXA DE AGREGADOS DOMINANTES (FAD)

COM FOCO NA RESISTÊNCIA À DEFORMAÇÃO PERMANENTE


DE MISTURAS ASFÁLTICAS – CAMPO E LABORATÓRIO
Juceline B. dos Santos Bastos1, Jorge Luis S. Ferreira2, Jorge B. Soares3, Jorge Augusto P. Ceratti4

1
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jucelinebatista@det.ufc.br
2
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jferreira@det.ufc.br
3
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jsoares@det.ufc.br
4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Engenharia Civil, jorge.ceratti@ufrgs.br

Resumo
Alguns pavimentos rodoviários no Brasil apresentam deformação permanente pouco tempo
após a construção. Trata-se de um dos defeitos mais comuns, reduzindo o conforto ao
rolamento, a segurança do usuário e aumentando os custos operacionais. Tais problemas
justificam a procura de métodos para melhorar o desempenho das misturas asfálticas. O presente
artigo tem como objetivo avaliar uma abordagem chamada método da Faixa de Agregados
Dominantes (FAD), quanto ao seu efeito sobre a resistência à deformação permanente de
diferentes misturas asfálticas (ligantes e agregados), tanto no campo como em laboratório. Sete
misturas asfálticas produzidas com diferentes materiais de várias regiões do Brasil foram
avaliadas por meio do parâmetro designado porosidade FAD e do ensaio uniaxial de carga
repetida, que fornece um indicador da resistência à deformação permanente de misturas e foi
recentemente normatizado no país. Três destas misturas foram monitoradas em campo. Os
resultados indicados pelo método FAD em laboratório mostraram-se consistentes com o
desempenho em campo, apontando que esse método pode avaliar a composição granulométrica
quanto à resistência à deformação permanente de misturas asfálticas e fornecer um indicativo do
desempenho dessas misturas em campo.

Palavras-chave: deformação permanente, método FAD, misturas asfálticas, trechos


experimentais.

1 Introdução

A deformação permanente nos revestimentos asfálticos é caracterizada por depressões


longitudinais nas trilhas de roda, as quais aumentam com a solicitação das cargas repetidas
impostas pelo tráfego. A deformação excessiva do revestimento origina a maioria das falhas de
deformação permanente do pavimento, embora todas as camadas possam contribuir para esse
defeito [1]. No caso das misturas asfálticas, a deformação permanente é devida ao fluxo do
material (viscoplástico), que ocorre sobretudo em temperaturas em torno de 60ºC, panorama
comum no estado do Ceará, no qual é observada a redução da rigidez do ligante [2]. Ainda que a
rigidez do ligante tenha efeito significativo na resistência à deformação permanente, a
resistência ao desgaste dos agregados, bem como o intertravamento destes e também suas
características de forma, angularidade e textura são frequentemente apontados como
responsáveis por essa resistência.
A deformação permanente é controlada principalmente pelos agregados e pelo método de
dosagem da mistura asfáltica, destacando como uma das causas a granulometria inadequada [3].
A angularidade dos agregados graúdos e a granulometria têm um papel importante na falha em
questão [4]. Além disso, o intertravamento entre as partículas, assim como o ângulo de fricção,
desempenham um papel crítico na resistência à deformação permanente, pois influenciam a
formação de um esqueleto resistente [5]. Portanto, a literatura mostra que as características dos
agregados numa mistura asfáltica, sobretudo a sua granulometria, afetam seu desempenho na
resistência à deformação permanente.
Tal defeito também implica diretamente na segurança do usuário, pois resulta em
aquaplanagem e dificulta a manobra dos veículos. Na seleção das granulometrias, as
especificações técnicas definem intervalos que devem ser obedecidos pelos percentuais
passantes em cada peneira. Esse tipo de metodologia é adotado tanto em nível nacional (e.g.,
faixas do DNIT) quanto internacionalmente (e.g., pontos de controle da AASHTO e faixas do
Instituto do Asfalto). Porém, o impacto das granulometrias escolhidas no comportamento
mecânico das misturas asfálticas não é estimado, resultando na possibilidade de composição de
misturas com um esqueleto pétreo sem estabilidade e com intertravamento inadequado,
portanto, com reduzida resistência à deformação permanente.
Assim, não é raro que as curvas granulométricas que atendam as especificações estabelecidas
pelo órgão regulador no Brasil, a Especificação de Serviço 031 do DNIT [6], resultem em
misturas suscetíveis à deformação permanente [7]. Convencionalmente, o projetista combina os
agregados utilizando porcentagens típicas desenvolvidas a partir de experiências práticas.
Dessa forma, faz-se necessária a adoção de um método racional que forneça um indicativo
quanto à composição granulométrica. O presente artigo avalia o método denominado Faixa de
Agregados Dominantes (FAD) aplicado a diferentes misturas aplicadas em campo no Brasil.

2 Revisão de literatura

O método de Faixa de Agregados Dominantes (FAD), ou Dominant Aggregate Size Range


(DASR) model, foi proposto por Kim (2006) [8] e fundamenta-se na teoria do empacotamento
de partículas, propondo uma abordagem simples para avaliar a estrutura granulométrica de
misturas asfálticas. No Brasil, esse método já foi validado para misturas asfálticas laboratoriais
[7], além da apresentação das vantagens em relação ao método Bailey [9].
O método FAD permite avaliar a estrutura granulométrica de misturas asfálticas objetivando
a composição de um esqueleto pétreo que confira estabilidade e resistência à deformação
permanente. Essa resistência é garantida por um contato adequado entre partículas
suficientemente graúdas. Apenas as partículas iguais ou maiores que 1,18mm (peneira Nº 16)
contribuem efetivamente para tal resistência [8].
A mistura asfáltica é descrita como sendo formada pela FAD e pelo Volume Intersticial (VI).
O primeiro é responsável pela resistência à deformação permanente, enquanto o segundo está
ligado ao trincamento por fadiga e à energia de ruptura da mistura, além de manterem as
partículas da FAD unidas, conferindo adesão e resistência à tração [8, 10]. Compõem o VI, os
agregados inferiores a FAD ou agregados intersticiais, o ligante asfáltico e os vazios da mistura
asfáltica, todos chamados de Componentes Intersticiais (CI). Destaca-se que nem todos os
agregados suficientemente graúdos irão compor a FAD e que partículas com dimensões
superiores à FAD flutuam na matriz de agregados de modo que não havendo contato entre as
mesmas não há contribuição relevante para a resistência à deformação permanente [8]. Os
conceitos desse método são ilustrados na Figura 1.
Kim (2006) [8] identificou que o espaçamento médio dos agregados retidos entre quaisquer
duas peneiras consecutivas aumenta rapidamente quando a proporção relativa entre elas
(%retido na peneira N / %retido na peneira imediatamente inferior a N) é inferior a 0,43 ou
superior a 2,33. Isso sugere que dentro desse intervalo os agregados mantêm um espaçamento
relativamente constante e garantem um contato efetivo necessário para formar o esqueleto
pétreo que será responsável por resistir à deformação permanente. Tais agregados são chamados
de agregados dominantes e compõem a FAD. A representação gráfica das proporções relativas
entre todas as peneiras contíguas de uma mistura asfáltica é denominada diagrama de interação
e permite uma visão global de todas as peneiras que estão interagindo para a formação da FAD.
Figura 1. Mistura asfáltica segundo o método FAD [8]

Embora a FAD seja a estrutura primária para resistir à deformação permanente, a partir da
determinação de sua porosidade é que se estima seu potencial de resistência. Uma porosidade
FAD inferior a 48% indica composições granulométricas com grande potencial de resistência à
deformação permanente [8]. Porosidades FAD entre 48 e 52% são chamadas de porosidades
marginais e indicam composições com contato granular questionável, não sendo possível
estimar a resistência à deformação permanente, ie, podendo apresentar ótimo ou péssimo
comportamento em laboratório. Resultados bastante variáveis de resistência à deformação
permanente quando as misturas apresentavam porosidades classificadas como marginais já
foram apontados na literatura [11]. Espera-se baixa resistência à deformação permanente de
misturas com porosidade FAD superior a 52%.
A identificação da FAD inicia-se pela determinação do diagrama de interação, que indica
quais peneiras estão interagindo. Uma vez identificados os agregados da FAD, a porosidade é
calculada pela Equação 1.

  ,  


   (1)

 
  

Onde,  : porosidade da FAD (%);  : volume de vazios dentro da FAD (%);

 : volume total de agregado disponível para a FAD;  , : volume de agregados
intersticiais (menores do que a FAD) (Equação 2); : volume de vazios no agregado
mineral; 
 : volume total da mistura; e  : volume de agregados flutuantes (maiores do
que a FAD) (Equação 3).
∑ %.
 ,  
! 100 (2)

∑ %.
  
! 100 (3)

Onde, ∑ %$%&. ' (): soma dos percentuais retidos nas peneiras menores do que a FAD;
∑ %$%&. * (): soma dos percentuais retidos nas peneiras maiores do que a FAD; e +,-:
massa específica aparente dos agregados.

3 Materiais e métodos
3.1 Laboratório

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram investigadas 7 misturas asfálticas densas


nacionais nas faixas B e C do DNIT. A Figura 2 exibe as composições granulométricas dessas
misturas e a Linha de Densidade Máxima (LDM). A Tabela 1 apresenta as principais
características das misturas investigadas, como: massa específica aparente da composição de
agregados (Gsb), Volume de Vazios (Vv) de projeto, tipo e teor de ligante, Tamanho Máximo
Nominal (TMN), origem dos agregados, Densidade Máxima Teórica (DMT) ou Densidade
Máxima Medida (Gmm) e metodologia de dosagem.

100
80
Passante (%)

60
40
20
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Abertura das Peneiras (d/D)0,45
Trecho 1 (DNIT/CE) Trecho 2 (CCR/ SP) Trecho 3 (UFRGS/RS)
Trecho 4 (Insttale I/CE) Trecho 5 (Insttale II/CE) Bessa (2012) [13]
Pazos (2015) [12] LDM
Figura 2. Curvas granulométricas das misturas asfálticas

Tabela 1. Características gerais das misturas asfálticas


Teor de TMN Vv de Tipo de DMT ou
Mistura Dosagem Gsb
CAP (%) (mm) projeto (%) CAP Gmm
DNIT/CE Marshall 5,8 12,5 4,2 50/70 2,593 2,423
CCR/SP Superpave 4,7 19,0 4,0 30/45 2,638 2,478
UFRGS/RS Marshall 4,7 19,0 4,5 60/85-E 2,722 2,420
Insttale I/CE Superpave 4,5 19,0 4,1 50/70 2,656 2,538
Insttale II/CE Superpave 4,5 19,0 3,9 50/70 2,615 2,524
[12] Superpave 4,3 19,0 3,8 30/45 2,695 2,480
[13] Superpave 4,8 12,5 4,0 50/70 2,590 2,378

As misturas dos Trechos 1 (DNIT/CE) e 3 (UFRGS/RS) foram dosadas pelo método


Marshall e aplicadas, respectivamente, nas rodovias BR-222 (Ceará) e BR-290 (Rio Grande do
Sul). As demais misturas foram dosadas pelo método Superpave. A mistura do Trecho 2
(CCR/SP) foi aplicada na rodovia Presidente Dutra (BR-116 – São Paulo). As granulometrias
das misturas Insttale I e II/CE são variações da granulometria da mistura DNIT/CE e essas
misturas foram aplicadas em dois trechos experimentais e submetidas à ação de um simulador
de tráfego de grande porte. Na mistura Insttale II/CE, 18% do pó de pedra foram substituídos
por fresado. Conta-se ainda com duas misturas asfálticas laboratoriais [12, 13].
Todas as misturas foram submetidas ao ensaio uniaxial de carga repetida, obtendo-se assim
seus respectivos Flow Numbers (FNs) [14, 15]. Uma vez determinadas as porosidades FAD,
analisou-se como o método avaliava o esqueleto pétreo dessas misturas em termos de resistência
à deformação permanente por meio do FN.
3.2 Campo

Esta pesquisa compreende ainda 3 trechos monitorados (DNIT/CE, CCR/SP e UFRGS/RS).


Para a estrutura DNIT/CE, os Afundamentos em Trilha de Roda (ATRs) foram medidos em
campo nos meses 4, 7 e 14 da vida de serviço. O desempenho da estrutura CCR/SP (que liga as
cidades de Rio de Janeiro e São Paulo) foi avaliado até o tráfego de 1,7×107 [16]. Para a
estrutura UFRGS/RS, as medições foram realizadas até o tráfego de 3,1×107 [17]. Todas as
avaliações de campo seguiram a especificação brasileira [18].
Foram utilizadas 2 camadas de revestimento no Trecho 1 (DNIT/CE), 1 camada de binder (6
cm) e a capa de rolamento em Concreto Betuminoso Usinado à Quente (CBUQ) (5 cm). No
Trecho 2 (CCR/SP) foi aplicado uma capa de rolamento em CBUQ (CAP 30/45) (4 cm) sobre
um revestimento antigo de 8 cm. Utilizou-se no trecho 3 (UFRGS/RS) 1 camada de 8 cm de
CBUQ, executada em 2 camadas de 4 cm, ambas contendo ligante modificado por polímero
(FLEXPAVE 60/85-E).

4 Resultados e discussões

4.1 Avaliação granulométrica das misturas asfálticas segundo o método FAD

Para avaliação da granulometria pelo método FAD, foram determinadas as proporções relativas
do percentual retido entre peneiras consecutivas e foram construídos os diagramas de interação
para todas as misturas desta pesquisa e também para as misturas asfálticas laboratoriais da
literatura [12, 13], de modo a ampliar o espectro de misturas nacionais investigadas pelo método
(Figura 3). Esses diagramas permitiram identificar visualmente quais peneiras compõem a FAD
das misturas analisadas. A FAD de cada mistura é a peneira ou grupo de peneiras que interagem
entre si (possuem proporções relativas de material retido entre as proporções 2,33 e 0,43) e
apresentam a menor porosidade.

Proporção relativa entre o percentual retido


Trecho 1 (DNIT/CE) 8
Trecho 2 (CCR/SP)
Trecho 3 (UFRGS/RS)
Trecho 4 (Insttale I/CE)
Trecho 5 (Insttale II/CE)
Pazos (2015) [12]
Bessa (2012) [13]

70/30 2,33

30/70 0,43
0
6,25 - 4,75

4,75 - 2,36
25,0 - 19,0

19,0 - 12,5

2,36 - 1,18
9,5 - 6,25
12,5 - 9,5

Peneiras consecutivas
Figura 3. Diagrama de interação

Observa-se na mistura asfáltica DNIT/CE que há interação entre as peneiras de 9,5 e 6,25
mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18 mm. Já nas misturas Insttale I e II, há interação entre as
peneiras de 12,5 e 6,25 mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18 mm. Na mistura [13] há interação
entre as peneiras de 12,5 e 9,5 mm e entre as peneiras de 4,75 a 1,18 mm. Na mistura CCR/SP
há interação entre as peneiras de 12,5 e 9,5 mm e entre as peneiras de 6,25 a 1,18 mm, e na
mistura [12] há interação entre as peneiras de 12,5 a 4,75 mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18
mm. Observe-se que, nesses casos, apenas a interação de menor porosidade é considerada na
FAD (Tabela 2). Na mistura UFRGS/RS há interação entre as peneiras de 12,5 a 1,18 mm
(Figura 3).
Para determinação da porosidade FAD de cada mistura asfáltica foram utilizadas as
Equações 1, 2 e 3. Para tanto, é necessário conhecer a granulometria (Figura 2), Gsb, Vv de
projeto, teor de ligante, DMT ou Gmm e Gmb (Tabela 1). Na Tabela 2 estão identificadas as
peneiras que compõem a FAD, as respectivas porosidades e os valores de FN de cada mistura.

Tabela 2. Avaliação das misturas asfálticas segundo o método FAD


Mistura FAD Porosidade FAD (%) FN
DNIT/CE 2,36 - 1,18 83,6 30
CCR/SP 6,25 - 1,18 46,4 1214
UFRGS/RS 12,5 - 1,18 40,5 1487
Insttale I/CE 12,5 - 6,25 49,0 92
Insttale II/CE 12,5 - 6,25 48,1 337
[12] 12,5 - 4,75 61,6 340
[13] 4,75 – 1,18 48,1 232

As misturas asfálticas [13], UFRGS/RS, CCR/SP, Insttale I e II/CE apresentaram


porosidades inferiores a 50%, garantindo contato entre os grãos. Conforme anteriormente
mencionado, porosidades entre 48 e 52% são classificadas como marginais [8]. Tais resultados
indicam que as misturas [13], Insttale I e II/CE apresentam estruturas granulométricas em que
não é clara a existência ou não de contato adequado entre seus agregados. Para as misturas
DNIT/CE e [12], os resultados de porosidade FAD superior a 52% indicam fragilidade quanto à
resistência à deformação permanente.
A Figura 4a exibe a correlação encontrada entre a porosidade FAD e o FN para as misturas
analisadas. A Figura 4b apresenta essa correlação, no entanto, sem considerar as misturas
asfálticas de porosidade marginal.

1600 2000

1200 1500
FN

FN

800 R² = 0,60 1000


R² = 0,98

400 500

0 0
40 55 70 85 40 55 70 85
Porosidade FAD Porosidade FAD
(a) FN × FAD de todas as misturas (b) FN × FAD sem porosidades marginais
Figura 4. Relação do FN com as porosidades FAD

No que diz respeito as misturas [13] e Insttale I e II/CE, com porosidades FAD (Figura 4a)
classificadas como marginais (entre 48 e 52%). Para esta pesquisa as misturas Insttale I e II/CE
apresentaram porosidades FAD, respectivamente, de 49,0 e 48,1 e FNs, respectivamente, de 92
e 337. Destaca-se que essas misturas possuem os mesmos materiais, diferindo apenas pela
incorporação de 18% de fresado. A incorporação do fresado contribuiu para a pequena redução
da porosidade FAD (0,9%), resultando em um FN 3,7 vezes maior que o apresentado pela
mistura Insttale I/CE.
Dentre as misturas sem porosidade FAD marginal (Figura 4b), DNIT/CE e [12]
apresentaram as maiores porosidades FAD (83,6 e 61,6%, respectivamente) e baixos valores de
FN (30 e 340, respectivamente), enquanto a mistura UFRGS/RS apresentou um FN elevado
(1487) e a menor porosidade FAD (40,5%). A porosidade FAD da mistura CCR/SP também
mostrou-se promissora na resistência à deformação permanente, com valor inferior a 50%
(46,4%) e com FN de 1214.
Observa-se uma boa correlação entre a porosidade FAD e o FN quando se considera todas as
misturas (Figura 4a) e uma correlação ainda maior quando se exclui as porosidades marginais
(Figura 4b). Esses resultados indicam a potencialidade do método FAD como um parâmetro
indicador simples da resistência à deformação permanente em misturas asfálticas.
Dessa forma, para esta pesquisa, os experimentos também produziram evidências que
indicam que a resistência à deformação permanente se relaciona com a baixa porosidade FAD.

4.2 Relação da deformação permanente em campo e em laboratório

O revestimento asfáltico executado no Trecho 1 (DNIT/CE) se mostrou pouco resistente à


deformação permanente em trilha de roda durante o período investigado, com valor médio em
torno de 10 mm no 52o mês de acompanhamento. O tráfego calculado para esse período foi de
5,5×106.

15,0
Flecha em pista com treliça

10,0
(mm)

5,0

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Estaca
T = 12 meses T = 22 meses T= 34 meses
T= 52 meses Limite Média Mês 52

Figura 5. ATRmédio no km 86 da BR-222 (DNIT/CE)

A mistura asfáltica executada nesse trecho apresentou precocemente problemas com


afundamento em trilha de roda. Observa-se também que algumas estacas já ultrapassaram o
ATR crítico de 12,5 mm no 52º mês (Figura 5). Além disso, ainda não foi observada a
estabilização desse ATR ao longo do tempo. Dessa forma, a tendência é que em 5 anos esses
trechos atinjam o ATR médio de 12,5 mm (crítico). Destaca-se que os mesmos foram
executados para uma vida de serviço de 10 anos, mostrando que esse pavimento só resistirá à
metade da vida de serviço prevista. Tal resultado corrobora os resultados de laboratório, que
indicaram a mistura DNIT/CE com a maior porosidade FAD (83,6) e o menor valor de FN (30),
apontando suscetibilidade à deformação permanente. Vale destacar que esse trecho dá acesso
aos caminhões que realizam o escoamento da produção agrícola do interior do Ceará em direção
ao Porto do Pecém. Além disso, nesse trecho não é realizado controle do excesso de carga.
O trecho analisado da rodovia Presidente Dutra (BR-116) apresentou 1,6 mm de
afundamento em trilha de roda, avaliado para um tráfego de 1,7×107 (Figura 6). O bom
desempenho em campo, com afundamento de trilha de roda inexpressivo, também condiz com
os resultados de laboratório. Esse resultado em conjunto com o resultado do ensaio uniaxial de
carga repetida (FN de 1214) e com a porosidade FAD (46,4) demonstram que o revestimento
asfáltico da CCR/SP possui intertravamento apropriado dos agregados, além de dosagem e
execução adequadas, já que apenas uma pequena consolidação foi observada.
ATRmédio (mm) 2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
2,2E+06 4,7E+06 6,0E+06 1,2E+07 1,4E+07 1,7E+07
Número N
Figura 6. ATRmédio no trecho 2 (CCR/SP) [16]

O trecho analisado da rodovia BR-290 apresentou 6,4 mm de afundamento em trilha de roda,


avaliado para um tráfego de 3,1×107 (Figura 7). Tal resultado confirma os resultados de
laboratório, tendo em vista que a mistura UFRGS/RS apresentou um FN elevado (1487) e a
menor porosidade FAD (40,5%) desta pesquisa, indicando bom desempenho em campo.

8,0
ATRmédio (mm)

6,0

4,0

2,0

0,0
6,0E+06 1,0E+07 1,9E+07 2,4E+07 2,6E+07 3,1E+07
Número N
Figura 7. ATRmédio no trecho 3 (UFRGS/RS) [17]

Como os referidos trechos são submetidos a diferentes níveis de tráfego, resultando em


diferentes ATRs, buscou-se ordenar os dados em função de um único parâmetro. Assim,
relacionou-se ATR à solicitação do tráfego (Número N), obtendo-se o afundamento em trilha de
roda causado pela passagem de cada Número N, por meio da razão ATR/N (Figura 8),
similarmente ao que foi proposto por [19].
ATR/Número N (mm/Número N)

1,2E-06

8,0E-07

4,0E-07

0,0E+00
1
2
Trechos 3

Figura 8. Relação Número N e ATRmédio dos trechos monitorados

Como esperado, tendo em vista a elevada porosidade FAD (83,6) e o baixo FN (30), a
mistura DNIT/CE apresentou a maior relação ATRmédio/Número N. Esse resultado indica que
para a passagem de cada Número N foi obtido 1,2x10-6 mm de afundamento em trilha, por
exemplo. Verifica-se também elevada resistência à deformação permanente das misturas
CCR/SP (trecho 2) e UFRGS/RS (trecho 3) em campo, o que concorda com os resultados
elevados de FN e baixos de porosidade FAD de ambas as misturas. Destaca-se também a
vantagem da mistura CCR/SP quando comparado à mistura UFRGS/RS, e indicam-se alguns
fatores que podem ter contribuído de forma isolada e/ou em conjunto, tais como: a dosagem
Superpave, a presença de cal hidratada do tipo CH-1, a existência de uma camada envelhecida
(mais rígida) anterior à execução da nova camada de rolamento e ainda a espessura mais robusta
do revestimento da mistura CCR/SP.

5 Conclusões

Na busca por um método racional que subsidie a escolha da composição granulométrica mais
adequada, o presente artigo avaliou a método Faixa de Agregados Dominantes quanto à
resistência à deformação permanente em campo e em laboratório de misturas asfálticas com
diferentes materiais (ligantes e agregados) utilizados na pavimentação asfáltica brasileira.
Identificou-se uma forte correlação entre a porosidade FAD e o FN, mostrando o potencial do
método FAD como indicador de resistência à deformação permanente. O comportamento
peculiar das misturas com porosidade FAD marginal também foi confirmado, conforme havia
sido identificado por [8, 11]. Os resultados de campo corroboraram com os resultados de
porosidade em laboratório, em que a mistura DNIT/CE apresentou a maior porosidade FAD e a
maior relação ATRmédio/Número N, e as misturas UFRGS/RS e CCR/SP apresentaram valores
baixos de porosidade FAD e valores baixos na relação ATRmédio/Número N. Tais resultados
demonstraram que o método FAD indica resultados consistentes, que aliados à sua facilidade de
compreensão e implementação, o destacam como possível ferramenta de auxílio para um
projeto de dosagem adequado de misturas asfálticas, visando reduzir sua propensão ao
desenvolvimento de deformação permanente.

6 Referências
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[3]AHLRICH, R. C. (1996) Influence of Aggregate Properties on Performance of Heavy-Duty Hot-Mix


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In: XXIX Congresso Nacional de Ensino e Pesquisa em Transportes, Ouro Preto – MG. Disponível em:
<www.anpet.org.br/xxixanpet/anais/documents/AC1063.pdf>. Acesso em: 14/04/2016.
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