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1
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jucelinebatista@det.ufc.br
2
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jferreira@det.ufc.br
3
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia de Transportes, jsoares@det.ufc.br
4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Engenharia Civil, jorge.ceratti@ufrgs.br
Resumo
Alguns pavimentos rodoviários no Brasil apresentam deformação permanente pouco tempo
após a construção. Trata-se de um dos defeitos mais comuns, reduzindo o conforto ao
rolamento, a segurança do usuário e aumentando os custos operacionais. Tais problemas
justificam a procura de métodos para melhorar o desempenho das misturas asfálticas. O presente
artigo tem como objetivo avaliar uma abordagem chamada método da Faixa de Agregados
Dominantes (FAD), quanto ao seu efeito sobre a resistência à deformação permanente de
diferentes misturas asfálticas (ligantes e agregados), tanto no campo como em laboratório. Sete
misturas asfálticas produzidas com diferentes materiais de várias regiões do Brasil foram
avaliadas por meio do parâmetro designado porosidade FAD e do ensaio uniaxial de carga
repetida, que fornece um indicador da resistência à deformação permanente de misturas e foi
recentemente normatizado no país. Três destas misturas foram monitoradas em campo. Os
resultados indicados pelo método FAD em laboratório mostraram-se consistentes com o
desempenho em campo, apontando que esse método pode avaliar a composição granulométrica
quanto à resistência à deformação permanente de misturas asfálticas e fornecer um indicativo do
desempenho dessas misturas em campo.
1 Introdução
2 Revisão de literatura
Embora a FAD seja a estrutura primária para resistir à deformação permanente, a partir da
determinação de sua porosidade é que se estima seu potencial de resistência. Uma porosidade
FAD inferior a 48% indica composições granulométricas com grande potencial de resistência à
deformação permanente [8]. Porosidades FAD entre 48 e 52% são chamadas de porosidades
marginais e indicam composições com contato granular questionável, não sendo possível
estimar a resistência à deformação permanente, ie, podendo apresentar ótimo ou péssimo
comportamento em laboratório. Resultados bastante variáveis de resistência à deformação
permanente quando as misturas apresentavam porosidades classificadas como marginais já
foram apontados na literatura [11]. Espera-se baixa resistência à deformação permanente de
misturas com porosidade FAD superior a 52%.
A identificação da FAD inicia-se pela determinação do diagrama de interação, que indica
quais peneiras estão interagindo. Uma vez identificados os agregados da FAD, a porosidade é
calculada pela Equação 1.
Onde, : porosidade da FAD (%); : volume de vazios dentro da FAD (%);
: volume total de agregado disponível para a FAD; , : volume de agregados
intersticiais (menores do que a FAD) (Equação 2); : volume de vazios no agregado
mineral;
: volume total da mistura; e : volume de agregados flutuantes (maiores do
que a FAD) (Equação 3).
∑ %.
,
! 100 (2)
∑ %.
! 100 (3)
Onde, ∑ %$%&. ' (): soma dos percentuais retidos nas peneiras menores do que a FAD;
∑ %$%&. * (): soma dos percentuais retidos nas peneiras maiores do que a FAD; e +,-:
massa específica aparente dos agregados.
3 Materiais e métodos
3.1 Laboratório
100
80
Passante (%)
60
40
20
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Abertura das Peneiras (d/D)0,45
Trecho 1 (DNIT/CE) Trecho 2 (CCR/ SP) Trecho 3 (UFRGS/RS)
Trecho 4 (Insttale I/CE) Trecho 5 (Insttale II/CE) Bessa (2012) [13]
Pazos (2015) [12] LDM
Figura 2. Curvas granulométricas das misturas asfálticas
4 Resultados e discussões
Para avaliação da granulometria pelo método FAD, foram determinadas as proporções relativas
do percentual retido entre peneiras consecutivas e foram construídos os diagramas de interação
para todas as misturas desta pesquisa e também para as misturas asfálticas laboratoriais da
literatura [12, 13], de modo a ampliar o espectro de misturas nacionais investigadas pelo método
(Figura 3). Esses diagramas permitiram identificar visualmente quais peneiras compõem a FAD
das misturas analisadas. A FAD de cada mistura é a peneira ou grupo de peneiras que interagem
entre si (possuem proporções relativas de material retido entre as proporções 2,33 e 0,43) e
apresentam a menor porosidade.
70/30 2,33
30/70 0,43
0
6,25 - 4,75
4,75 - 2,36
25,0 - 19,0
19,0 - 12,5
2,36 - 1,18
9,5 - 6,25
12,5 - 9,5
Peneiras consecutivas
Figura 3. Diagrama de interação
Observa-se na mistura asfáltica DNIT/CE que há interação entre as peneiras de 9,5 e 6,25
mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18 mm. Já nas misturas Insttale I e II, há interação entre as
peneiras de 12,5 e 6,25 mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18 mm. Na mistura [13] há interação
entre as peneiras de 12,5 e 9,5 mm e entre as peneiras de 4,75 a 1,18 mm. Na mistura CCR/SP
há interação entre as peneiras de 12,5 e 9,5 mm e entre as peneiras de 6,25 a 1,18 mm, e na
mistura [12] há interação entre as peneiras de 12,5 a 4,75 mm e entre as peneiras de 2,36 e 1,18
mm. Observe-se que, nesses casos, apenas a interação de menor porosidade é considerada na
FAD (Tabela 2). Na mistura UFRGS/RS há interação entre as peneiras de 12,5 a 1,18 mm
(Figura 3).
Para determinação da porosidade FAD de cada mistura asfáltica foram utilizadas as
Equações 1, 2 e 3. Para tanto, é necessário conhecer a granulometria (Figura 2), Gsb, Vv de
projeto, teor de ligante, DMT ou Gmm e Gmb (Tabela 1). Na Tabela 2 estão identificadas as
peneiras que compõem a FAD, as respectivas porosidades e os valores de FN de cada mistura.
1600 2000
1200 1500
FN
FN
400 500
0 0
40 55 70 85 40 55 70 85
Porosidade FAD Porosidade FAD
(a) FN × FAD de todas as misturas (b) FN × FAD sem porosidades marginais
Figura 4. Relação do FN com as porosidades FAD
No que diz respeito as misturas [13] e Insttale I e II/CE, com porosidades FAD (Figura 4a)
classificadas como marginais (entre 48 e 52%). Para esta pesquisa as misturas Insttale I e II/CE
apresentaram porosidades FAD, respectivamente, de 49,0 e 48,1 e FNs, respectivamente, de 92
e 337. Destaca-se que essas misturas possuem os mesmos materiais, diferindo apenas pela
incorporação de 18% de fresado. A incorporação do fresado contribuiu para a pequena redução
da porosidade FAD (0,9%), resultando em um FN 3,7 vezes maior que o apresentado pela
mistura Insttale I/CE.
Dentre as misturas sem porosidade FAD marginal (Figura 4b), DNIT/CE e [12]
apresentaram as maiores porosidades FAD (83,6 e 61,6%, respectivamente) e baixos valores de
FN (30 e 340, respectivamente), enquanto a mistura UFRGS/RS apresentou um FN elevado
(1487) e a menor porosidade FAD (40,5%). A porosidade FAD da mistura CCR/SP também
mostrou-se promissora na resistência à deformação permanente, com valor inferior a 50%
(46,4%) e com FN de 1214.
Observa-se uma boa correlação entre a porosidade FAD e o FN quando se considera todas as
misturas (Figura 4a) e uma correlação ainda maior quando se exclui as porosidades marginais
(Figura 4b). Esses resultados indicam a potencialidade do método FAD como um parâmetro
indicador simples da resistência à deformação permanente em misturas asfálticas.
Dessa forma, para esta pesquisa, os experimentos também produziram evidências que
indicam que a resistência à deformação permanente se relaciona com a baixa porosidade FAD.
15,0
Flecha em pista com treliça
10,0
(mm)
5,0
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Estaca
T = 12 meses T = 22 meses T= 34 meses
T= 52 meses Limite Média Mês 52
1,5
1,0
0,5
0,0
2,2E+06 4,7E+06 6,0E+06 1,2E+07 1,4E+07 1,7E+07
Número N
Figura 6. ATRmédio no trecho 2 (CCR/SP) [16]
8,0
ATRmédio (mm)
6,0
4,0
2,0
0,0
6,0E+06 1,0E+07 1,9E+07 2,4E+07 2,6E+07 3,1E+07
Número N
Figura 7. ATRmédio no trecho 3 (UFRGS/RS) [17]
1,2E-06
8,0E-07
4,0E-07
0,0E+00
1
2
Trechos 3
Como esperado, tendo em vista a elevada porosidade FAD (83,6) e o baixo FN (30), a
mistura DNIT/CE apresentou a maior relação ATRmédio/Número N. Esse resultado indica que
para a passagem de cada Número N foi obtido 1,2x10-6 mm de afundamento em trilha, por
exemplo. Verifica-se também elevada resistência à deformação permanente das misturas
CCR/SP (trecho 2) e UFRGS/RS (trecho 3) em campo, o que concorda com os resultados
elevados de FN e baixos de porosidade FAD de ambas as misturas. Destaca-se também a
vantagem da mistura CCR/SP quando comparado à mistura UFRGS/RS, e indicam-se alguns
fatores que podem ter contribuído de forma isolada e/ou em conjunto, tais como: a dosagem
Superpave, a presença de cal hidratada do tipo CH-1, a existência de uma camada envelhecida
(mais rígida) anterior à execução da nova camada de rolamento e ainda a espessura mais robusta
do revestimento da mistura CCR/SP.
5 Conclusões
Na busca por um método racional que subsidie a escolha da composição granulométrica mais
adequada, o presente artigo avaliou a método Faixa de Agregados Dominantes quanto à
resistência à deformação permanente em campo e em laboratório de misturas asfálticas com
diferentes materiais (ligantes e agregados) utilizados na pavimentação asfáltica brasileira.
Identificou-se uma forte correlação entre a porosidade FAD e o FN, mostrando o potencial do
método FAD como indicador de resistência à deformação permanente. O comportamento
peculiar das misturas com porosidade FAD marginal também foi confirmado, conforme havia
sido identificado por [8, 11]. Os resultados de campo corroboraram com os resultados de
porosidade em laboratório, em que a mistura DNIT/CE apresentou a maior porosidade FAD e a
maior relação ATRmédio/Número N, e as misturas UFRGS/RS e CCR/SP apresentaram valores
baixos de porosidade FAD e valores baixos na relação ATRmédio/Número N. Tais resultados
demonstraram que o método FAD indica resultados consistentes, que aliados à sua facilidade de
compreensão e implementação, o destacam como possível ferramenta de auxílio para um
projeto de dosagem adequado de misturas asfálticas, visando reduzir sua propensão ao
desenvolvimento de deformação permanente.
6 Referências
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using PURWheel laboratory tracking device. In: Aggregate contribution to hot-mix asphalt performance –
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