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RESUMO
Os parâmetros usualmente obtidos nos métodos convencionais de dosagem das misturas asfálticas nem sempre
possibilitam que seja feita uma escolha otimizada com relação ao tipo de mistura mais adequado a um
determinado projeto, em vista da falta de uma correspondência direta entre esses parâmetros e os defeitos que a
camada de revestimento apresentará no campo, particularmente, a resistência à fadiga. O objetivo desse trabalho
é obter os parâmetros que permitam a previsão da vida de fadiga de revestimentos asfálticos utilizando o método
de ensaio de fadiga de ruptura com velocidade controlada e fadiga de viga de quatro pontos. Nesse trabalho
foram avaliados quatro tipos de ligantes asfálticos (CAP 30/45, CAP modificado com borracha, CAP modificado
com polímero 60/85 e CAP HiMA (Highly Modified Asphalt, com 7,5% de SBS)) e agregados de duas pedreiras
utilizados pela CCR Nova Dutra em suas obras de pavimentação. Além disso, serão avaliados três tipos de
misturas densas com faixas granulométricas muito utilizadas pela CCR Nova Dutra: duas faixas de concreto
asfáltico SUPERPAVE (CA 9,5 mm e 12,5 mm) e uma faixa DERSA - Faixa III. Os resultados obtidos no
ensaio de fadiga de ruptura com velocidade controlada mostram que as misturas com o CAP HiMA (Highly
Modified Asphalt, com 7,5% de SBS) apresentaram maior vida de fadiga quando comparadas com os outros
ligantes e que ficou evidente a influência do tipo de ligante na resistência à fadiga. No entanto não houve uma
relação com os resultados de fadiga de 4 pontos, cujos resultados mostraram que além do tipo ligante, o teor
também influencia na vida de fadiga.
1. INTRODUÇÃO
A concessionária que mantém a rodovia Presidente Dutra (BR116) tem adotado várias
tecnologias em suas obras de reconstrução e manutenção. O uso de técnicas aplicadas na
Europa e Estados Unidos tem sido parte de benchmarking para pavimentação no Brasil,
visando maior desempenho, conforto e segurança, aliado ao menor custo de manutenção das
rodovias. Entretanto, devido às particularidades de clima e materiais encontrados no Brasil,
algumas tecnologias podem apresentar resultados aquém do esperado.
−1
=
(1)
onde:
WR0 = energia de ligação inicial, do material sem fadiga;
t = tempo;
σ = tensão aplicada;
n = expoente da lei de fadiga (função da temperatura);
η = viscosidade dissipativa da mistura (função da temperatura e do tempo de aplicação de
carga).
| ∗ |
η= (2)
onde:
E* = módulo dinâmico;
ω = freqüência de aplicação de carga (rad/s);
φ = ângulo de fase entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante (rad).
−1
* =
Δ, (4)
onde:
σ = tensão de tração;
∆tc = tempo de aplicação da tensão de tração;
Após Nf repetições de carga, a energia de ligação total WR0 estará completamente exaurida,
levando à formação de uma trinca de fadiga. Dessa forma:
0 1
./ = 1 2 (5)
∆,
Tal expressão é conhecida como a lei de fadiga observada em ensaios de tensão controlada
(Rodrigues, 2000).
Há vários modelos para se estimar a vida de fatiga de uma amostra de mistura asfáltica. O
mais simples é baseado apenas na deformação ou na tensão, conforme Equações 7 e 8:
1 <=
./ = 8 . (7)
:;
1 <=
./ = 8 . (8)
;
onde:
Nf = Vida de fadiga – Números de ciclos até 50% ou 40% da rigidez inicial;
Ɛt = Deformação;
σt = Tensão aplicada;
K1 e K2 = Coeficientes.
Os coeficientes são determinados por meio de regressão linear e desta forma foi possível a
determinação de dois modelos muito utilizados na estimativa de vida de fatiga de misturas
asfálticas:
Shell model: ./ = 0,0796. (:; )
!,C . 4
,DE& (9)
Asphalt Institute model: ./ = 0,0685. (:; )
E,FG . 4
,!F! (10)
onde:
Nf = Vida de fadiga;
Ɛt = Deformação (in/in);
S= Rigidez (PSI);
As vigotas utilizadas como corpos de prova para ensaio de fadiga devem possuir comprimento
de 380 ± 6mm, largura de 63 ± 6mm e altura de 50 ± 6mm. A temperatura do ensaio segundo
norma é de 20 ± 0,5°C, portanto, deve-se ter o cuidado de se condicionar os corpos de prova
por no mínimo 2 horas para que não haja influência da temperatura.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho foram utilizados os materiais (agregados e ligantes asfálticos) mais
empregados pela CCR NovaDutra em suas obras de pavimentação. Os agregados utilizados
são: Brita 1; pedrisco e pó de pedra provenientes das pedreiras Jambeiro (SP) e Pombal (RJ),
além do uso de cal como filler e melhorador de adesividade. Os ligantes utilizados foram:
CAP 30/45 (Petrobras Distribuidora), CAP modificado com borracha (Greca), CAP
modificado com polímero 60/85 (NTA) e CAP HiMA (Highly Modified Asphalt, com 7,5%
de SBS tipo Kraton MD0243) (NTA).
Tabela 6 - Parâmetros de dosagem das misturas com agregados oriundos da pedreira Pombal.
Misturas
Parâmetros
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12
Teor ótimo em peso de asfalto
4,9% 5,4% 4,7% 4,6% 4,8% 5,6% 4,7% 4,8% 5,0% 5,7% 4,9% 5,0%
adicionado (AASHTO R-35)
Absorção de asfalto pelo agregado
4,6% 5,1% 4,4% 4,3% 4,5% 5,3% 4,4% 4,5% 4,8% 5,4% 4,7% 4,7%
(AASHTO R-35)
Densidade máxima da mistura (sem
2,587 2,564 2,584 2,590 2,583 2,555 2,586 2,583 2,577 2,555 2,579 2,580
vazios)
Teor de vazios de ar (Va %)
4,0 4,1 3,9 4,0 3,9 4 4,1 3,9 4,2 4,1 4,1 4,1
(AASHTO R-35)
Vazios do agregado mineral
14,8 16,2 14,6 14,5 14,9 16,7 14,9 14,9 15,8 17,1 15,6 15,6
(VAM %) (AASHTO M-323)
Vazios cheios de asfalto (VCA %)
73,0 74,7 73,4 72,8 73,9 75,7 72,6 73,6 73,7 75,9 73,6 73,7
(AASHTO M-323)
Resistência a tração por compressão
diametral (mPa) DNIT ME138 - 2,4 1,6 1,7 2,1 2,4 1,7 1,9 2,3 2,0 1,6 2,0 2,3
ASTM C 496
Relação filler / ligante (AASHTO M-
1,5 1,3 1,6 1,6 1,7 1,5 1,8 1,7 1,8 1,6 1,9 1,9
323)
Porcentagem de asfalto em volume /
12,1 13,4 12,0 11,8 12,2 13,9 12,1 12,3 12,7 14,1 12,6 12,8
volume total de massa (adicionado)
Tabela 7 - Parâmetros de dosagem das misturas com agregados oriundos da pedreira Jambeiro
Misturas
Parâmetros
P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24
Teor ótimo em peso de asfalto adicionado
4,6% 5,6% 4,6% 4,7% 4,8% 5,6% 5,1% 5,0% 4,5% 5,3% 4,6% 4,6%
(AASHTO R-35)
Absorção de asfalto pelo agregado
4,3% 5,3% 4,3% 4,4% 4,5% 5,3% 4,8% 4,7% 4,3% 5,0% 4,3% 4,3%
(AASHTO R-35)
Densidade máxima da mistura (sem vazios
2,461 2,429 2,460 2,455 2,453 2,431 2,442 2,445 2,474 2,450 2,469 2,470
- Rice)
Teor de vazios de ar (Va %) (AASHTO R-
4,3 4,3 4,5 4,6 4,0 4,0 4,4 4,4 3,9 4,1 4,2 4,0
35)
Vazios do agregado mineral (VAM %)
14,3 16,4 14,6 14,9 14,6 16,1 15,6 15,3 13,9 15,6 14,4 14,2
(AASHTO M-323)
Vazios cheios de asfalto (VCA %)
70,2 73,6 69,0 69,1 72,5 75,0 71,6 71,5 72,1 73,8 70,9 71,8
(AASHTO M-323)
Resistência a tração por compressão
2,0 1,5 1,6 2,0 2,2 1,7 1,7 2,0 2,5 1,7 1,9 2,4
diametral DNIT ME138 - ASTM C 496
Relação filler / ligante (AASHTO M-323) 1,7 1,3 1,7 1,6 1,7 1,5 1,6 1,6 2,0 1,7 2,0 2,0
Porcentagem de asfalto em volume /
11,2 13,2 11,2 11,4 11,6 13,2 12,4 12,1 11,0 12,6 11,3 11,2
volume total de massa (adicionado)
São moldados 3 corpos de prova de cada mistura, os quais são submetidos à aplicação de
cargas com três velocidades diferentes. O ensaio é realizado na prensa de compressão
diametral, sob temperatura de 25ºC, onde são lidas as cargas de ruptura e deslocamento dos
LVTD’s fixados sobre o CP. Estes dados alimentam o software chamado Fadiga 2.0, que
geram vários dados, tais como o K1 e K2, utilizados no modelo de fadiga e que permitem o
traçado das curvas de fadiga. Cabe destacar que a evolução do ensaio de fadiga de velocidade
controlada ocorre como a do ensaio de resistência à tração, com diferentes velocidades de
aplicação de carga, e não como os ensaios de fadiga de quatro pontos e de compressão
diametral realizado pela COPPE/UFRJ, cujos corpos de prova são submetidos a pulsos de
cargas.
Outro dado de saída do programa é o Nf, valor tal que varia de acordo com a deflexão
esperada do pavimento e que é considerado no programa como um dos dados de entrada.
O PReSBOX – IPC foi o compactador utilizado para a moldagem dos corpos de prova para
este ensaio, o qual utiliza o princípio do amassamento e produz prismas de 45cm de
comprimento, 15cm de largura e altura entre 14,5cm e 18,5cm. Estes prismas permitem a
extração de 4 vigotas que são obtidas por serragem utilizando o equipamento Autosaw – IPC,
que possui gabaritos para otimizar o corte, garantindo precisão, repetibilidade das dimensões
das vigotas e rapidez de execução.
O ensaio de fadiga de quatro pontos possui duas normas recentes criadas, AASHTO T321-07
e ASTM D 7460-08, sendo que esta última recomenda o equipamento adquirido pelo CPR
NovaDutra para a realização deste tipo de ensaio. A Figura 4 mostra todos os equipamentos
utilizados para moldagem e execução do ensaio de fadiga de quatro pontos.
a) b) c)
O software utilizado para aquisição de dados foi o UTS015, que é fornecido juntamente com
o equipamento. Um dos dados fornecido é a rigidez à flexão da viga, que é um dado
importante, já que é através dele que se determina a condição de fadiga da viga. Os dados de
deflexão da viga, deformação, energia dissipada, carga aplicada e módulo dinâmico nas
condições de frequência e temperatura do ensaio, também são fornecidos a cada segundo.
4. RESULTADOS
Com os dados gerados pelo programa Fadiga 2.0 foi possível a construção das curvas de
fadiga das misturas. A Figura 5 mostra as curvas de fadiga traçadas considerando as mesmas
deformações adotadas no ensaio de fadiga de quatro pontos, ou seja, 300µƐ, 450µƐ e 600µƐ.
Desta forma foi possível uma comparação com os resultados dos dois métodos.
1E+09 P10 10.000.000
P22
P12 P24
P9 1.000.000 P21
10000000 P1 P23
P2 P13
P3 100.000 P14
100000 P4 P15
P5 10.000 P16
Ciclos N
P6 P17
Ciclos N
P7 P18
1000 1.000 P19
P8
200 Deformação µƐ 200 Deformação µƐ P20
Figura 5 - Curvas de fadiga obtidas por meio do ensaio de velocidade controlada das misturas
produzidas com agregados das pedreiras Pombal (esquerda) e Jambeiro (direita).
As curvas de fadiga das misturas produzidas tanto com os agregados da Jambeiro quanto o da
Pombal mostram que as que se destacaram positivamente foram as produzidas com o CAP
HiMA (P8 e P20) e que os CAP’s com piores desempenho foi o 60/85 (P7) no caso da
Pombal e 30/45 (P19) no caso da Jambeiro. Observa-se também que misturas com agregados
da Pombal obtiveram desempenho superior ao da Jambeiro, o que indica que os agregados
também influenciam na vida de fadiga.
As curvas de vida de fadiga obtidas pelo ensaio de quatro pontos foram traçadas para apenas
quatro misturas asfálticas: P21, P22, P23 e P24. Estas curvas são mostradas na Figura 6 com
seus respectivos modelos de fadiga.
10.000.000
y = 1E+15x-4,088
P21
R² = 0,8229
1.000.000
y = 2E+20x-5,721
R² = 0,8443 P22
100.000
y = 7E+14x-4,06 P23
10.000 R² = 0,9189
Ciclos N
y = 1E+22x-6,645
1.000 R² = 0,9743 P24
200 Deformação µƐ
Figura 6 - Curvas de fadiga e respectivos modelos gerados após ensaios de fadiga de quatro
pontos das misturas P21, P22, P23 e P24.
As curvas de fadiga obtidas por meio do ensaio de quatro pontos mostraram que a mistura
com o asfalto borracha (P22) apresentou comportamento bem superior às outras e que a
mistura com CAP 30/45 (P21) obteve o pior desempenho. A mistura com o CAP 60/85 (P23)
teve comportamento bem parecido com a produzida com o CAP 30/45 (P21). Quanto à
mistura produzida com o CAP HiMA se nota um comportamento curioso, já que para
menores deformações ele tendeu a se aproximar ao comportamento da mistura com borracha e
que com maiores deformações seu comportamento se aproximou aos dos outros ligantes.
A mistura P22 com asfalto borracha é a de maior teor de ligante e, consequentemente, a de
menor relação filler/asfalto, o que contribuiu para um comportamento bem superior aos das
outras misturas. Por conta deste aspecto, foi notada uma certa segregação das misturas P21,
P23 e P24 durante a moldagem das vigotas, fato não percebido na mistura P22.
Na Figura 7 é mostrado um gráfico com a média dos valores de rigidez à flexão das misturas
P21, P22, P23 e P24. O que permite visualizar que as misturas com CAP30/45 (P21) é a mais
rígida e que a mistura com a borracha (P22) é a mais flexível, o que ajuda a explicar seu
melhor comportamento à fadiga.
15000
Rigidez à flexão da
P21
10000
P22
Viga
12654 P23
5000 9210 10478
5729 P24
0
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se identificou uma relação direta entre os resultados do ensaio de fadiga de velocidade
controlada e o ensaio de fadiga de quatro pontos. Os diferentes modos de compactação,
temperatura, modo de aplicação da carga e a garantia de flexão pura no ensaio de fadiga de
quatro pontos podem ser fatores que influenciaram nesta diferença.
Os resultados dos ensaios de fadiga de quatro pontos mostraram que o tipo de ligante e o teor
influenciam diretamente na vida de fadiga, pois ajuda a tornar a mistura mais flexível. A
rigidez a flexão da mistura com CAP 30/45, o qual obteve o pior desempenho a fadiga, é mais
que o dobro da rigidez da mistura com asfalto borracha, o que também indica que para
alcançar a mesma deformação, cargas maiores foram aplicadas na mistura com CAP30/45.
Para uma definição da melhor mistura a ser aplicada, ensaios de deformação permanente
devem ser realizados, assim como ensaio de fadiga em diferentes temperatura e frequências.
As misturas com agregados da pedreira Pombal tiveram desempenho melhor que o da mistura
com agregados da Jambeiro quando analisada a fadiga de velocidade controlada. Vários
fatores podem ter contribuído para este resultado, como a composição química do agregado,
assim como a forma dos agregados que auxilia a um melhor intertravamento dos grãos. Neste
tipo de ensaio as misturas com asfalto HiMA obtiveram os melhores desempenhos
independente da origem dos agregados.
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