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FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA
3
Agradecimentos
Apesar do meu percurso académico e científico ainda ser curto, a realização deste
projeto de final de licenciatura foi dos maiores desafios que encontrei. A sua realização
não se deveu inteiramente à minha dedicação, mas também a todas as pessoas, que
direta e indiretamente, contribuíram de alguma forma para superar este desafio. Desta
forma gostaria de agradecer:
À minha orientadora, Olinda C. Monteiro, por me ter guiado por este processo e por
ter sido paciente e se mostrado sempre prestável e disponível para me ajudar na
realização deste projeto.
Aos meus colegas Beatriz Barrocas e Jorge Diniz (que já não se encontra em Portugal)
por esclarecerem as minhas dúvidas durante o tempo que estive no laboratório e
ensinado a manusear os equipamentos que precisei de utilizar para realizar este projeto.
Aos meus colegas Beatriz Lopes e Gonçalo Gonçalves por partilharem as suas
experiências de projeto tecnológico de forma a que me pudesse guiar nas alturas em
que não sabia o que fazer.
E por fim à minha família e amigos de longa data pelo apoio moral e incentivos que
me deram quando me sentia mais desmoralizado.
4
Resumo
O meio ambiente tem sido um fator importante a ter em conta na indústria química
a partir do século passado. A eliminação de efluentes industriais e urbanos de forma
irresponsável, causou danos às vezes massivos na saúde pública e ambiental que ficaram
para a história, o que levou à reflexão de como podemos evitar repetir os erros do
passado e conservar o planeta em que vivemos.
Para cumprir este objetivo, são necessários processos que sejam eficazes,
económicos e que não contribuam ainda mais para a poluição ambiental. O processo
descrito neste trabalho é o uso de nanotubos de titanato (TNT) para adsorver metais
pesados (neste caso crómio (III) e (VI)) e utilizar estes TNT modificados para degradar
poluentes orgânicos, neste caso a cafeína, por fotocatálise.
Para sintetizar os TNT foi primeiro preparado um precursor, o qual foi usado depois
para a síntese dos TNT usando um método hidrotérmico. A modificação de TNT com
Cr(III) foi feita com uma suspensão de TNT numa solução diluída de Cr(III). Para a
modificação com Cr(VI), os passos foram idênticos. Os TNT sintetizados e modificados
foram caracterizados por DRX, DRS, TEM, EDS e foi usado o método B.E.T. para
determinar as suas áreas superficiais.
Os ensaios fotocatalíticos foram realizados usando uma lâmpada de pressão média
de vapor de mercúrio como fonte de radiação. Uma suspensão de TNT (modificados ou
não) numa solução diluída de cafeína foi irradiada durante uma hora e meia e amostras
foram retiradas em certos intervalos de tempo para analisar a taxa de degradação do
poluente por espetrofotometria UV-Vis. Um ensaio adicional foi realizado com uma
suspensão de TNT não modificado numa solução diluída de cafeína e Cr(VI). Estes TNT
foram posteriormente analisados por DRX e DRS.
No final do trabalho concluiu-se que a amostra com melhor performance foi a TNT
(caf + Cr(VI)).
5
Abstract
The environment has been an important factor to take into account in the chemical
industry since the last century. The elimination of industrial and urban effluents in an
irresponsible manner has been causing massive damage to public and environmental
health, to the point where some occurrences were left behind in history, and has led us
to reflect on how we can avoid repeating the mistakes of the past and preserve our
planet.
To achieve this goal, processes that are effective, cheap and do not contribute to
environmental pollution are needed. The process described in this work is the use of
titanate nanotubes (TNT) to adsorb heavy metals (in this case chromium (III) and (VI)),
and to use these modified TNT to break down organic pollutants, in this case caffeine,
by photocatalysis.
To synthesize TNT, a precursor was prepared, which was then used for TNT synthesis
using a hydrothermal method. The TNT modification with Cr(III) was done with a
suspension of an amount of TNT in a dilute Cr(III) aqueous solution. For Cr(VI)
modification, the steps were identical. Synthesized and modified TNTs were
characterized by DRX, DRS, TEM, EDS and the B.E.T. method was used to determine
surface areas.
It was concluded that the best sample for the photocatalytic degradation of caffeine
was TNT (caf + Cr(VI)).
6
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................ 9
1.1. Águas residuais e problemas atuais ........................................................................... 9
1.2. Crómio III e VI .......................................................................................................... 11
1.3. Cafeína .................................................................................................................... 11
1.4. Nanotubos de titanato (TNT) ................................................................................... 12
1.5. Mecanismo de fotocatálise ...................................................................................... 13
2. Parte Experimental.......................................................................................................... 15
2.1. Reagentes................................................................................................................ 15
2.2. Técnicas e equipamento .......................................................................................... 16
2.3. Procedimento experimental .................................................................................... 18
3. Apresentação e discussão de resultados .......................................................................... 20
3.1. Caracterização DRX dos TNT .................................................................................... 20
3.2. Caracterização DRS dos TNT .................................................................................... 21
3.3. Determinação do hiato ótico ................................................................................... 22
3.4. Caracterização por TEM e EDS ................................................................................. 24
3.5. Fotocatálise ............................................................................................................. 26
4. Conclusões ...................................................................................................................... 31
5. Economia e Ambiente ..................................................................................................... 32
6. Referências bibliográficas ................................................................................................ 33
7. Anexos ................................................................................................................................... i
Anexo A. Gráficos de determinação de hiatos óticos e exemplo de cálculo. ............................ i
Anexo B. Gráficos das áreas B.E.T.. ....................................................................................... iii
Anexo C. Monitorização da fotólise da cafeína de cada ensaio ............................................. iv
7
8
1. Introdução
A consciência ambiental tem sido uma prioridade nos tempos modernos, pois há
cada vez mais a noção de que temos de conservar o mundo em que vivemos e reduzir o
impacto que a atividade humana tem no equilíbrio da natureza. Parte dessa consciência
ambiental passa por tentar remediar os resíduos produzidos, sejam esses urbanos ou
industriais, para que sejam devolvidos à natureza sem causar efeitos nocivos.
Os efluentes podem ser vistos como uma mistura aquosa extremamente complexa
devido à quantidade de substâncias nela dissolvidas, como matéria orgânica e
inorgânica, e em suspensão, como por exemplo resíduos sólidos. A separação e/ou
degradação dos mesmos exigem métodos adequados a esse propósito. Algumas
técnicas usadas são: biorreator de membrana, evaporação a vácuo, flutuação de gás
dissolvido, eletrólise, etc.1 Infelizmente, estes processos às vezes provam ser
insuficientes para conseguir uma boa depuração da água, por algumas moléculas serem
difíceis de degradar e porque as ETAR onde alguns dos processos mencionados
anteriormente são implementados consomem imensa energia; é estimado que estas
estações consumam cerca de 2-3% da energia elétrica total, à volta de 60 tWh (terawatts
por hora), de um país desenvolvido por ano.2 Este problema torna-se mais complexo
quando, por exemplo, medicamentos novos são descobertos e são usados no
quotidiano: é introduzido mais um composto que tem de ser eliminado e cria uma
necessidade constante da otimização e melhoria da eficiência dos processos atuais, bem
como a conceção de novos procedimentos.
A presença de medicamentos, assim como outras moléculas orgânicas
biologicamente ativas como a cafeína, em águas residuais é cada vez mais problemático
devido à sua toxicidade e persistência ambiental,3 nalguns casos nem se sabe ao certo
os efeitos que um determinado composto poderá ter no ambiente devido à carência de
informação acerca do mesmo e falta de estudos dedicados a essa problemática.4 É
estimado que até metade dos efluentes farmacêuticos produzidos no mundo sejam
eliminados sem qualquer tratamento3 e os efeitos disto nos ecossistemas e populações
só serão visíveis para as próximas gerações.
Outros poluentes problemáticos são os metais pesados. Metais pesados ou
metaloides geralmente têm densidades superiores a 4 g/cm3, são tóxicos mesmo em
baixas concentrações e são bioacumuláveis, persistindo em seres-vivos durante um
período alargado de tempo sem serem excretados. Alguns metais pesados são: crómio,
chumbo, mercúrio, cádmio, arsénio, etc.5, sendo estes quatro últimos especialmente
letais por terem causado catástrofes ambientais relativamente recentes e serem ainda
um problema atual no mundo.
O cádmio foi responsável pela doença itai-itai no Japão em 1912, tendo sido
libertado para os rios devido à atividade mineira nas montanhas.6 Os peixes começaram
9
a ficar contaminados com cádmio, causando a sua morte em massa. A água destes rios
era usada para irrigar os campos de arroz que consequentemente bioacumulavam
cádmio da mesma forma que os peixes. Como o arroz e peixe fazem grande parte da
dieta japonesa, foi inevitável o envenenamento em massa da população. Alguns dos
sintomas em humanos incluem dores na coluna e articulações, levando a osteomalacia
(ossos frágeis), falha renal, anemia e morte.6
Ainda no Japão, mas 20 anos mais tarde, a indústria Chisso começou a produzir
acetaldeído usando sulfato de mercúrio como catalisador. Este processo produzia
múltiplas substâncias tóxicas, sendo uma delas o metilmercúrio, que foi o principal
agente que originou a epidemia hoje chamada de “mal de Minamata”. Os efluentes
foram eliminados de forma irresponsável durante 36 anos, mas só a partir da década de
50 é que começaram a aparecer casos relacionados com intoxicação de mercúrio. O
metilmercúrio foi bioacumulado pelos peixes e moluscos na área onde os efluentes
eram eliminados, e onde também eram pescados pela população. Os sintomas causados
por excesso de mercúrio no organismo são ataxia (perda de coordenação muscular),
perda de visão periférica, fraqueza muscular e formas graves podem causar demência,
paralisia e morte. Mulheres grávidas contaminadas com mercúrio podem ter filhos com
uma forma congénita do mal de Minamata.7
A contaminação de aquíferos por arsénio são um problema em várias regiões do
mundo atualmente, por exemplo Bangladesh8 e Chile9 pois esses aquíferos são a fonte
da água potável das populações dessas áreas. Estes aquíferos muitas das vezes são
contaminados naturalmente devido à presença de minerais com arsénio na sua
composição nas suas proximidades, mas a extração mineira e a agricultura também
podem ser fontes de contaminação. Envenenamento crónico causa cancro, problemas
cardiovasculares, etc.10
Um dos casos mais mediáticos foi o uso do chumbo como tetraetilchumbo na
gasolina de forma a aumentar o índice de octanas a partir da década de 20. Apesar do
etanol já ser conhecido na altura como uma alternativa abundante, barata e pouco
tóxica, o tetraetilchumbo foi usado para beneficiar os detentores da sua patente. Este
composto começou a deixar de ser usado na década de 70 quando os seus efeitos
neurotóxicos similares aos do mercúrio foram comprovados. O tetraetilchumbo ainda é
usado como aditivo em certos combustíveis de aviação, sendo que o Iraq, Iémen e
Argélia são os únicos países do mundo com gasolina com chumbo ainda em uso. 11
Torna-se assim imperativo investigar profundamente nesta área um método que
seja capaz de degradar um número abrangente de moléculas orgânicas e remover
metais pesados a baixo custo. Um desses processos poderá vir a ser a fotocatálise com
semicondutores nanocristalinos, que tem gerado grande interesse na comunidade
científica. Vários materiais têm sido utilizados como SnO 2, ZnO, etc., mas o TiO2 em
especial tem-se mostrado como sendo o melhor candidato para esta aplicação.12
10
1.2. Crómio III e VI
1.3. Cafeína
11
Figura 1 - Estrutura química da cafeína
12
radiação absorvida, assim como de eficácia a degradar matéria orgânica.26, 27 Outro
problema que será explicado posteriormente será o da alta taxa de recombinação, que
afeta igualmente a performance destes compostos, mas que também pode ser
melhorada por incorporação de iões metálicos.7
Existem vários métodos de síntese de TNT, como in situ sol-gel, fotodeposição,26
método hidrotérmico12, 21 entre outros. Todavia, o produto final irá variar muito
consoante o método utilizado e os reagentes de partida; há que ter em mente as
especificações que se pretende nos TNT como grau de cristalinidade e dimensão dos
TNT, e o processo mais viável economicamente nesse caso específico. O resultado final
também é sensível aos reagentes de partida utilizados, pelo que se torna difícil
reproduzir com exatidão as propriedades e dimensões dos TNT.21
O método hidrotérmico tem sido reconhecido como o método mais económico,
reprodutível e eficaz para produzir TNT com qualidades microcristalinas desejáveis e
com elevadas áreas superficiais.21
Quando os TNT são expostos a radiação UV-Vis com um comprimento de onda igual
ou superior ao seu hiato ótico, os eletrões da camada de valência são promovidos à
camada de condução, gerando lacunas designadas por h+ que são essencialmente áreas
eletrodeficientes, enquanto na camada de condução é criado um excesso de carga
negativa graças aos eletrões promovidos. Estas duas entidades são oxidantes e
redutoras respetivamente, podendo participar, portanto, em reações redox.28 As
lacunas formam-se da seguinte forma:
TiO2 + hv → e- + h+
Quando um eletrão retorna para a camada de valência volta a ocupar a lacuna criada
pela sua saída, h+, há uma recombinação de carga.29 Este processo pode ser lento ou
rápido e no caso de TNT é rápido o suficiente para diminuir a eficácia a degradar
poluentes orgânicos.
No entanto, se houver alguma espécie química passível de reagir com os eletrões
promovidos ou as lacunas, haverá uma reação redox e os produtos serão radicais. Por
exemplo com água, OH- ou uma molécula dadora (D) adsorvida à superfície:
H2O + h+ → OH• + H+
OH- + h+ → OH•
D + h+ → •D+
No caso de oxigénio adsorvido à superfície dos TNT ou alguma molécula recetora
(R), acontece o seguinte:
13
O2 + e- → •O2-
R + e- → •R-
Os produtos gerados por estas reações são extremamente reativos e reagirão com
facilidade com outras moléculas orgânicas, degradando-as efetivamente ou
transformando-as possivelmente em produtos mais fáceis de eliminar.28
Estes produtos são alguns dos agentes responsáveis pelo tratamento de efluentes,
havendo inclusive estudos dedicados a quantificar e identificar os radicais gerados.30, 31
Na Figura 2 encontra-se esquematizado este processo para melhor entendimento.
14
2. Parte Experimental
2.1. Reagentes
Fórmula
Designação Função Marca Pureza
Química
Solução de
cloreto de 20% w/v
Síntese de
titânio (III) em TiCl3 Acros Organics em 2M
precursor
ácido clorídrico HCl
2M
Hidróxido de Síntese do
NaOH Sigma-Aldrich >98%
sódio precursor
Neutralização pH
Hidróxido de
NH4OH na síntese do Carlo Erba Reagenti 30%
amónio
precursor
Diluição da
Ácido clorídrico HCl solução de Sigma-Aldrich 37%
titânio
Solução mãe de
Tricloreto de Cr(III) para AnalaR BHD Chemicals
CrCl3 >98%
crómio ensaios de Ltd.
adsorção dos TNT
Solução mãe de
Cr(VI) para
Ácido crómico H2Cr2O7 Sigma-Aldrich >98%
ensaios de
adsorção dos TNT
Ensaios
Cafeína C8H10N4O2 Acros Organics 98,5%
fotocatalíticos
15
2.2. Técnicas e equipamento
16
Figura 3 - Foto-reator
Legenda:
1- Sistema de arrefecimento da lâmpada de mercúrio
2- Bomba peristáltica para recolher amostras
3- Lâmpada de mercúrio
4- Lâmpada de mercúrio encaixada no reator onde se encontra a solução que será
estudada com agitação magnética
É preciso notar que durante ensaios fotocatalíticos, a hotte onde se encontra o foto-
reator está fechada e a janela está coberta com fita cola preta de modo a evitar que
radiação UV seja irradiada para fora.
17
2.3. Procedimento experimental
Foram preparadas soluções 2 M de HCl (100 ml) e 4 M de NH4OH (1L). Foi feita uma
mistura de TiCl3 (10% w/w em 20-30% w/w HCl) com a solução preparada de HCl num
rácio de 1:2 (neste caso 50 ml da solução de TiCl3 com 100 ml da solução preparada de
HCl). Foi feita uma titulação lenta sob agitação com a solução preparada de NH4OH,
originando um precipitado branco, que foi deixado em repouso durante a noite. Após
isso, foi filtrado e lavado repetidamente com água destilada até o cheiro do amoníaco
se dissipar.
2. Síntese dos TNT
A síntese dos TNT foi feita num sistema de autoclave usando cerca de 3g do
precursor em cerca de 60 ml da solução aquosa de NaOH de concentração 10 M. A
autoclave foi deixada na estufa durante 24h a 160˚C. Depois disto, os TNT foram lavados
e deixados ao ar para secarem. Este método foi baseado num já existente.21
3. Modificação dos TNT
Para modificar os TNT foram feitas duas soluções mãe de Cr(III) e Cr(VI) de 578,5±
0,0002 ppm e 144± 0,578 ppm respetivamente, as quais foram diluídas para 15 ppm.
Cerca de 150 ml da solução de 15± 0,06 ppm de Cr(VI) foi retirada para um gobelet, ao
qual foram adicionados 100± 0,1 mg dos TNT sintetizados anteriormente pesados. Esta
suspensão ficou sob agitação durante 24h. O processo foi repetido para a modificação
com Cr(III) (15± 0,12 ppm).
4. Ensaios fotocatalíticos
O foto-reator descrito anteriormente foi o utilizado para fazer os ensaios. Foi
preparada uma solução de 1L de cafeína com a concentração de 20,0± 0,005 ppm para
todos os ensaios a serem feitos e para cada um destes foram pesados 20 mg± 0,1 mg de
TNT modificado ou não modificado, consoante o ensaio a ser realizado. No foto-reator
de 250 ml foi colocada a suspensão dos 20± 0,1 mg de TNT com aproximadamente 150
ml da solução de cafeína. Cada ensaio teve a duração total de uma hora e meia e
amostras foram recolhidas ao longo desses ensaios para depois serem analisadas por
espetrofotometria UV-Vis de forma a monitorizar o grau de decomposição da cafeína. A
solução encontrou-se sob agitação constante no decurso do ensaio.
As amostras foram recolhidas aos 0, 5, 10, 20, 30, 45, 60, 75, 90 minutos. A amostra
0 refere-se à amostra retirada antes da lâmpada ser acesa depois de 1h de agitação no
escuro (para ser atingido o equilíbrio de adsorção da cafeína) e os 5, 10, 20… minutos
indicam o tempo após a lâmpada ter sido acesa. As amostras recolhidas foram
primeiramente centrifugadas após o ensaio, tendo o líquido sobrenadante sido
recolhido para ser analisado por espetrofotometria UV-Vis.
18
Foram realizados 5 ensaios com condições diferentes:
19
3. Apresentação e discussão de resultados
2500
2000
1500
1000
500
0
0 10 20 30 40 50 60
2θ (graus)
20
3.2. Caracterização DRS dos TNT
A caracterização por DRS das amostras de TNT está presente na Figura 5. O eixo
secundário refere-se apenas à amostra TNT (caf + Cr(VI)), cujos dados eram meramente
visíveis no eixo principal por absorver pouca radiação.
2 0.045
1.8 0.04
1.6
0.035
1.4
0.03
1.2
Absorvância
0.025
1
TNT/Cr(VI) TNT/Cr(III) 0.02
0.8
TNT TNT (caf + Cr(VI))
0.015
0.6
0.01
0.4
0.2 0.005
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
Comprimento de onda (nm)
21
Os TNT utilizados no ensaio onde foi usada uma mistura de cafeína com Cr(VI) (TNT
(caf + Cr(VI))) foram analisados por DRS posteriormente ao ensaio. A pouca quantidade
de radiação absorvida justifica-se pela pequena quantidade de pós recolhidos depois do
ensaio, no entanto o intervalo de radiação absorvida foi ampliado significativamente. A
curva apresenta um pico, ausente nas outras amostras, a cerca de 600 nm, o que indica
que crómio terá substituído alguns átomos de titânio na estrutura. A presença de
radiação UV terá fornecido a energia necessária para que essa substituição acontecesse.
Os pós dos TNT recolhidos após o ensaio tinham uma aparência similar aos TNT/Cr(III),
indicando que para além de substituir algum titânio na estrutura, os iões crómio ter-se-
ão adsorvido à superfície também.
Os hiatos óticos foram calculados através de um Tauc plot (Figura 6), um gráfico
regularmente usado para determinar hiatos óticos de materiais semicondutores.
0.06
0.05
y = 0.0919x - 0.2864
R² = 0.9984
0.04
fkm
0.03
0.02
0.01
0
3.0 3.5 4.0
Comprimento de onda (eV)
22
A partir da parte reta dos gráficos (marcada a laranja) é possível extrapolar o hiato
ótico, igualando a equação dessa reta a 0 e retirando o valor de x. Na Tabela 2
encontram-se os valores calculados de hiato ótico e as áreas superficiais.
Tabela 2 - Hiatos óticos e áreas B.E.T.
O valor do hiato ótico calculado para os TNT é muito próximo do valor de 3,1 eV
reportado noutros trabalhos.21, 32
Da Tabela 2 retiramos que é necessário um comprimento de onda menor (portanto
fotões mais energéticos) para promover o eletrão da camada de valência para a camada
de condução para o TNT/Cr(VI), seguido de TNT e TNT/Cr(III).
Uma explicação possível para o baixo hiato ótico dos TNT (caf + Cr(VI)) é devido à
incorporação de crómio na estrutura cristalina, assim como à superfície. O meio
altamente energético onde se encontrava a suspensão permitiu que alguns iões crómios
substituíssem o titânio na estrutura.
Os gráficos de determinação do hiato ótico dos TNT modificados seguem o mesmo
andamento que a Figura 6 apresentada nesta secção e estão em anexo (Anexo A),
estando presente também um exemplo de cálculo.
As áreas B.E.T. determinadas mostram que a modificação com crómio aumenta a
área superficial dos TNT, o que é visto como uma melhoria neste tipo de aplicação onde
queremos que moléculas orgânicas se adsorvam à superfície de modo a serem
degradadas. Tinha sido visto anteriormente na Figura 4 que houve alterações nos
espaços intercamada dos TNT e podemos ver que isso resultou numa área superficial
maior. Os gráficos obtidos, durante a determinação destas áreas, estão em anexo
(Anexo B).
23
3.4. Caracterização por TEM e EDS
Nas Figuras 7-9 são apresentadas as imagens TEM dos TNT, TNT/Cr(III) e TNT/Cr(VI),
respetivamente.
É possível aferir a estrutura nanotubular dos TNT a partir destas imagens. Os TNT
modificados com Cr(III) e Cr(VI) têm uma morfologia semelhante.
A técnica de EDS foi realizada de modo a verificar a existência de crómio nas
amostras (Figura 10-12) e por isso ter a certeza de que as modificações foram bem-
sucedidas.
24
Figura 11 - EDS da amostra de TNT/Cr(III)
25
3.5. Fotocatálise
3.5
2
90 min
1.5
0.5
0
200 220 240 260 280 300 320 340
Comprimento de onda (nm)
26
3.5
3
Fotólise TNT/Cr(VI) TNT/Cr(III)
2.5
Absorvância
2
Solução-Mãe TNT
1.5
0.5
0
200 220 240 260 280 300 320 340
Comprimento de onda (nm)
Figura 14 – Espetros das soluções de cafeína ao fim de 90 min, usando diferentes catalisadores
Porque o ensaio do TNT (caf + Cr(VI)) tem condições diferentes dos outros ensaios,
é razoável compará-lo à parte dos ensaios da Figura 14. Pode-se ver à primeira vista que
na Figura 15 que o seu rendimento de degradação da cafeína foi aparentemente pior
que o da fotólise.
3.5
3 Fotólise
2 TNT
0.5
0
200 250 300 350 400
Comprimento de onda (nm)
Figura 15 - Espetros das soluções de cafeína ao fim de 90 min, com a amostra TNT (caf + Cr(VI))
Tendo a Figura 16 em conta, podemos afirmar que o pico a cerca de 370 nm da Figura
15 é o pico do Cr(VI); a presença de outros produtos da reação de fotocatálise da cafeína
causou o desvio do típico pico a 350 nm para 370 nm.
27
3.5 0.8
0.6
2.5 Solução-mãe caf + Cr(VI)
0.5
Absorvância
0 0
200 250 300 350 400
Comprimento de onda (nm)
Figura 16 – Espetros das absorvâncias das soluções de TNT (caf + Cr(VI)), cafeína e Cr(VI)
0.8
C/C0
0.6
TNT/Cr(III) TNT/Cr(VI)
0.4
0
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (min)
28
Para traçar a Figura 17 foi utilizada a aproximação de que a baixas concentrações a
absorvância é aproximadamente igual à concentração, A ≈ C, segundo a lei de Lambert-
Beer. Dessa forma, a constante C0 é o valor da absorvância da solução-mãe a 278 nm
(pico característico da cafeína) e C a absorvância de uma das 5 soluções estudadas a um
certo tempo (0, 5, 10, 20… minutos).
Como referido anteriormente, antes de cada ensaio, a suspensão fora deixada sob
agitação no escuro durante 1h para se atingir o equilíbrio de adsorção da cafeína e antes
de se ligar a lâmpada uma amostra é retirada, que é a 0. Por isso, de -10 a 0 minutos
simboliza a 1h de agitação.
Durante essa agitação haverá adsorção ou de água ou de cafeína nos TNT, que é
explicada pelas ligeiras subidas ou descidas de concentração no momento 0 em
comparação com o momento -10: uma subida indica que a solução ficou mais
concentrada em cafeína, logo houve adsorção de água, sendo que uma descida indica
que a concentração da cafeína é menor em solução e por isso houve adsorção de
cafeína.
É possível agora observar que, aparentemente, TNT/Cr(VI) foi o mais bem-sucedido
a degradar a cafeína, enquanto TNT/Cr(III) foi o pior, tendo até sido pior que a fotólise
da cafeína.
Na Figura 18 podemos ver que houve uma adsorção de água muito apreciável
durante a 1 hora em que foi atingido o equilíbrio de adsorção pelos TNT (caf + Cr(VI))
em comparação com os outros ensaios.
1.4
1.2
0.8
C/C0
0.6
TNT/Cr(VI)
0.4
Fotólise
TNT
0.2
TNT (caf + Cr(VI))
0
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (min)
29
Apesar de poder parecer que os TNT (caf + Cr(VI)) foram o pior ensaio em termos de
performance, por ter adsorvido muita água, a solução estava mais concentrada em
cafeína. Como estão representadas concentrações relativas, é fácil determinar a
percentagem de cafeína decomposta por subtrair o valor de concentração aos 90 min
pelo valor aos 0 min.
Usando como exemplo os TNT/Cr(VI), o valor aos 0 min é aproximadamente 1,02 e
o valor aos 90 min é 0,41, aproximadamente. Logo, 61% da cafeína foi degradada nesse
ensaio. No caso de TNT (caf + Cr(VI)), os valores são 1,34 e 0,75, respetivamente, o que
nos diz que 59% da cafeína foi degradada neste ensaio, na verdade.
Podemos agora afirmar que a absorvância mais elevada do ensaio dos TNT (caf +
Cr(VI)) na Figura 15 se deve a esta adsorção de água significativa que tornou a solução
mais concentrada (logo resultando numa absorvância maior) e não porque os TNT (caf
+ Cr(VI)) foram ineficazes a fotocatalisar cafeína.
Podemos concluir que o melhor fotocatalisador são os TNT (caf + Cr(VI)). Embora os
TNT/Cr(VI) degradem mais 2% de cafeína do que os TNT (caf + Cr(VI)), estes últimos não
precisam do passo intermediário de adsorção de crómio que aconteceu no caso dos
TNT/Cr(VI) e um número menor de passos na síntese tem mais peso do que um
acréscimo de somente 2% em performance.
30
4. Conclusões
O objetivo deste trabalho era conseguir modificar os TNT para que estes pudessem
absorver mais radiação visível, de modo a fotocatalisarem de forma mais fácil e
eficiente.
Os TNT foram sintetizados hidrotermicamente, modificados com Cr(III) e Cr(VI) e
foram analisados utilizando várias técnicas de caracterização.
Os TNT foram caracterizados por DRS, DRX, TEM, EDS e verificou-se pelas várias
caracterizações efetuadas que a modificação dos TNT/Cr(III) e TNT/Cr(VI) foi bem-
sucedida e que isso traduziu-se em propriedades diferentes dos TNT não modificados,
como hiatos óticos (3,116 eV, 3,201 eV e 2,965 eV para TNT, TNT/Cr(III) e TNT/Cr(VI),
respetivamente) e diferentes áreas superficiais (236,783 m2/g, 262,894 m2/g e 255,435
m2/g para TNT, TNT/Cr(VI) e TNT/Cr(III) respetivamente).
Estas alterações resultaram em performances fotocatalíticas diferentes a decompor
a cafeína em comparação com os TNT não modificados: os TNT/Cr(VI) foram melhores
e os TNT/Cr(III) foram piores que TNT não modificados.
Foi realizado um ensaio usando uma suspensão de TNT não modificado numa
mistura de cafeína e Cr(VI). Os resultados sugerem que houve substituição de algum
titânio na estrutura por crómio, assim como adsorção deste à superfície. Devido a isto,
houve uma redução apreciável do hiato ótico e melhor performance fotocatalítica.
Era suposto haver uma caracterização por absorção atómica das soluções usadas
para modificar os TNT, mas por motivos alheios isso não aconteceu. Esta caracterização
iria quantificar os iões crómio existentes nas soluções usadas para modificar os TNT.
Como as soluções tinham uma concentração de 15 ppm inicialmente, a diferença entre
este valor e o valor da análise seria a quantidade adsorvida nos TNT, permitindo dessa
forma quantificar e ver o quão eficiente seriam os TNT a adsorver Cr(III) e Cr(VI).
TNT/Cr(VI) e TNT (caf + Cr(VI)) foram os que demonstraram melhores resultados. No
entanto, os TNT (caf + Cr(VI)) têm a vantagem de ter um hiato ótico menor (2,586 eV) e
não haver a necessidade de um passo intermediário para adsorver Cr(VI), como foi no
caso dos TNT/Cr(VI). Para além de que não há dúvidas que os TNT (caf + Cr(VI))
absorveram mais iões crómios da solução (tanto por adsorção como por substituição de
titânio) do que os TNT/Cr(VI), tendo em conta a DRS dos TNT (caf + Cr(VI)) e o facto do
crómio não aparecer na caracterização EDS dos TNT/Cr(VI). Desta forma, os TNT
permitem valorizar os resíduos de crómio ao mesmo tempo que oferecem uma forma
de recolher Cr(VI) de águas residuais e decompor poluentes orgânicos mais facilmente.
31
5. Economia e Ambiente
Na Tabela 3 encontram-se os gastos tidos com este projeto. Foi contabilizado o custo
dos reagentes e a técnica de TEM que foi feita externamente, não sendo tido em conta
os custos das técnicas oferecidas pela FCUL e material recorrente de laboratório.
Tabela 3 - Custos do projeto
Total: 143,37€
32
6. Referências bibliográficas
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35
7. Anexos
0.25
0.2
0.15
fkm
0.1
y = 0.2256x - 0.7221
R² = 0.9997
0.05
0
3.0 3.5 4.0
Comprimento de onda (eV)
0.21
0.18
0.15
0.12
fkm
y = 0.139x - 0.4122
0.09 R² = 0.9987
0.06
0.03
0
3.0 3.5 4.0
Comprimento de onda (eV)
i
0.08
0.07
y = -0.1193x + 0.3086
0.06 R² = 0.9927
0.05
fkm
0.04
0.03
0.02
0.01
0
2 2.05 2.1 2.15 2.2 2.25 2.3 2.35 2.4 2.45 2.5
ii
Anexo B. Gráficos das áreas B.E.T..
iii
Anexo B-VI - Área B.E.T. de TNT/Cr(III)
2.5
0 min 5 min 10 min
2
Absorvância
0.5
0
200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400
Comprimento de onda (nm)
iv
3.5
3
0 min 5 min 10 min
2.5
Absorvância
1.5
60 min 75 min 90 min
0.5
0
200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400
Comprimento de onda
3.5
3
Solução-mãe caf + Cr(VI) 0 min
20 min 30 min
Absorvância
2
45 min 60 min
75 min 90 min
1.5
0.5
0
200 250 300 350 400 450 500
Comprimento de onda (nm)
v
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