Você está na página 1de 72

1

GESTÃO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES EM PORTUGAL

Quercus – ANCN
Janeiro - 1999

Este estudo foi realizado com o patrocínio de:

- Secretaria de Estado Adjunta do Ministro do Ambiente


- Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento

INDICE

RESUMO 4

1. INTRODUÇÃO 7

2. GESTÃO DE RESÍDUOS HOSPITALARES 9

2.1. LEGISLAÇÃO NACIONAL 9


2.2. PROCESSOS DE TRATAMENTO 12
2.2.1 INCINERAÇÃO 12
2.2.2 DESINFECÇÃO 13
2.2.2.1. Química 15
2.2.2.2 Térmica 15
2.2.2.2.1 Autoclavagem 15
2.2.2.2.2 Microondas 16
2.2.3 INCINERAÇÃO VERSUS AUTOCLAVAGEM 16

3. METODOLOGIA 17

3.1. HOSPITAIS 18
3.2. CENTROS DE SAÚDE 20
3.3. OUTRAS ENTIDADES 23
3.3.1. CENTROS DE HEMODIÁLISE 24
3.3.2. CENTROS DE ENFERMAGEM 24
3.3.3. LABORATÓRIOS 25
3.3.4. POSTOS MÉDICOS EM EMPRESAS 25
3.3.5. CONSULTÓRIOS MÉDICOS 25
3.3.7. CENTROS REGIONAIS DE ALCOOLOGIA 26
3.3.8. OUTROS 26
3.4. UNIDADES DE TRATAMENTO 27
2
4. ANÁLISE DE RESULTADOS 28

4.1. UNIDADES HOSPITALARES 28


4.1.1. PRODUÇÃO E TRIAGEM DOS RESÍDUOS HOSPITALARES 29
4.1.1.1. Quantificação da produção dos resíduos hospitalares 29
4.1.1.2- Triagem dos resíduos hospitalares 31
4.1.1.3. Redução e reciclagem 35
4.1.2 CIRCUITO INTERNO E ARMAZENAMENTO 37
4.1.3 TRATAMENTO E DESTINO FINAL DOS RESÍDUOS HOSPITALARES 39
4.2. CENTROS DE SAÚDE 44
4.2.1. FORMAÇÃO DO PESSOAL 44
4.2.2. PRODUÇÃO E TRIAGEM DOS RESÍDUOS HOSPITALARES 46
4.2.3. CIRCUITO INTERNO E ARMAZENAMENTO 48
4.2.4. TRANSPORTE, TRATAMENTO E DESTINO FINAL 49
4.3. OUTRAS ENTIDADES 51
4.3.1. PERCENTAGENS RELATIVAS DOS GRUPOS DE RH 51
4.3.2. ANÁLISE COMPARATIVA DAS PRODUÇÕES 54
4.4. UNIDADES DE TRATAMENTO 58
4.4.1. ASPECTOS LEGAIS 58
4.4.2. CONDIÇÕES DE TRATAMENTO 59
4.4.3. CUSTOS DO TRATAMENTO 66

5. CONCLUSÕES 67

6. PROPOSTAS DA QUERCUS 69

7. BIBLIOGRAFIA 70

EQUIPA TECNICA_________________________________________________________________

AGRADECIMENTOS_______________________________________________________________
3

RESUMO

Na sequência de diversos trabalhos efectuados pela Quercus-A.N.C.N. na área dos resíduos


foi iniciado em 1997 o presente estudo que consiste num levantamento da situação da
gestão dos resíduos hospitalares, pretendendo-se assim dar um contributo para o
aprofundamento do conhecimento sobre a realidade da gestão destes resíduos e a procura
de soluções para os problemas e lacunas existentes em Portugal Continental.

A principal motivação que levou a Quercus à realização deste trabalho foi a situação de
descontrolo ambiental em que se processava a gestão dos resíduos hospitalares em
Portugal. Com efeito, na maioria das situações conhecidas, os hospitais não faziam uma
separação adequada entre os resíduos contaminados e não contaminados, sendo
normalmente os resíduos contaminados incinerados em condições ambientalmente
inaceitáveis.
O estudo foi patrocinado pelo Ministério do Ambiente e pela Fundação Luso-Americana para
o Desenvolvimento e contou com o apoio técnico da Associação Portuguesa de Infecção
Hospitalar e das empresas Ambimed & Athisa. e Tecnologias Ambientais (do Grupo
Império). O trabalho de campo foi realizado com a colaboração de alunos dos cursos de
Engenharia do Ambiente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica
Portuguesa e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

A evolução que se verificou nos conceitos que suportam a gestão dos RH determinou a
necessidade de uma classificação que garanta uma separação selectiva na origem e permita
o recurso a tecnologias diversificadas de tratamento. Através do Despacho nº 242/96 de 13
de Agosto de 1996 os RH foram classificados em quatro grupos distintos, sendo os resíduos
objecto de tratamento apropriado diferenciado consoante o grupo a que pertençam:.

Grupo I – Resíduos equiparados a urbanos - não apresentam exigências especiais


no seu tratamento
Grupo II – Resíduos hospitalares não perigosos - não estão sujeitos a tratamentos
específicos, podendo ser equiparados a urbanos
Grupo III - Resíduos hospitalares de risco biológico – resíduos contaminados ou
suspeitos de contaminação, susceptíveis de incineração ou de outro pré-tratamento
eficaz, permitindo posterior eliminação como resíduo urbano
Grupo IV – Resíduos hospitalares específicos – resíduos de vários tipos de
incineração obrigatória

Enquanto que os resíduos dos grupos I e II são considerados como equiparados a urbanos,
os dos grupos III e IV são considerados perigosos pelo que carecem de um tratamento
especial que tradicionalmente era feito através do processo de incineração. As maiores
exigências em termos ambientais em relação a este processo e o inerente aumento de
4
custos levaram ao desenvolvimento de tecnologias alternativas para a descontaminação
dos resíduos hospitalares de risco biológico (Grupo III). Estas tecnologias garantem um
tratamento eficaz e em condições mais correctas do ponto de vista ambiental.

Assim, como para outros tipos de resíduos, o sucesso da gestão dos residuos hospitalares
vai passar também por uma correcta separação na fonte.

De forma a conhecer a situação portuguesa relativa à produção, tratamento e destino final


dos resíduos produzidos em estabelecimentos hospitalares, consideraram-se no presente
estudo, os hospitais oficiais (os quais incluem estabelecimentos públicos, militares,
paramilitares e prisionais) e os particulares.

Procurou-se fazer uma cobertura total do universo dos hospitais públicos com envio prévio
dos inquéritos e posterior deslocação ao local para realização de uma entrevista. Foram
contactados 126 hospitais, embora para este relatório só estivessem disponíveis dados
sobre 99 deles, correspondendo a 76 % dos hospitais públicos existentes, 68% dos
principais hospitais privados (seleccionados) e 50% dos militares.
Relativamente a outro tipo de produtores como centros de saúde, laboratórios, unidades de
hemodiálise e consultórios médicos dada a impossibilidade de inquirir um número
significativo de estabelecimentos, foram aplicados inquéritos a algumas unidades.

As informações recolhidas sobre a gestão dos resíduos em hospitais e centros de saúde,


incluem os aspectos relacionados com a produção (quantidade e composição), sistemas de
triagem, circuito interno e armazenamento, transporte, tratamento e destino final dos
resíduos, enquanto que para os outros produtores como centros de hemodiálise,
consultórios médicos, centros de enfermagem, laboratórios de análises clínicas e postos
médicos de empresas se procurou apenas fazer uma estimativa quantitativa e qualitativa
dos resíduos produzidos.

Os dados que serviram de base a este estudo foram recolhidos entre o Janeiro de 1997 e
Junho de 1998, pelo que, atendendo à rápida evolução que se está a verificar ao nível da
gestão dos resíduos hospitalares, alguma da informação referida neste relatório poderá já
estar desactualizada. No entanto, apesar desta condicionante, consideramos ser possível
apresentar as seguintes conclusões:

- Existe ainda muito espaço para redução dos quantitativos de resíduos a


necessitarem de tratamento especial (contaminados), uma vez que se observou
com frequência a colocação de resíduos não contaminados nos contentores para
os Grupos III e IV;
5
- A triagem dos resíduos contaminados ainda tem de ser muito melhorada
para se atingir uma qualidade aceitável. Com efeito 41% dos hospitais ainda não
fazem a separação entre o Grupo III e IV;
- Para os hospitais que fazem a separação entre GIII e GIV, o valor médio do GIV
em relação ao total dos contaminados é de 14%, o que é um valor muito
elevado se considerarmos que, com uma triagem correcta esse valor é de 5%.
Estes dados indicam também que é necessário melhorar a qualidade da triagem
dos resíduos contaminados;
- Relativamente ao desempenho dos hospitais quanto à gestão dos resíduos,
consideram-se como parâmetros fundamentais: o tratamento dos resíduos do
Grupo III, a separação entre os Grupos III e IV e a recolha selectiva de materiais
para reciclagem. Da análise dos inquéritos recebidos, conclui-se que a situação
ainda está muito aquém do desejável;
- É possível, através de programas de formação intensos, conseguir num espaço
de meses que um hospital de grandes dimensões proceda à triagem correcta dos
resíduos;
- As quantidades de resíduos a necessitarem de incineração (Grupo IV) são
bastante reduzidas (menos de 5 toneladas por dia) pelo que não se justifica, à
partida, a existência de mais do que um incinerador em Portugal Continental;
- A situação dos sistemas de tratamento de resíduos hospitalares é bastante
diversa. Enquanto que todos os incineradores estão a funcionar à margem da lei,
as duas unidades de autoclavagem existentes já se encontram licenciadas;
- Os 40 incineradores identificados, tirando uma única excepção, não procedem ao
tratamento dos efluentes gasosos nem à monitorização da sua qualidade;
- Enquanto que as unidades de autoclavagem estão a funcionar muito abaixo da
sua capacidade instalada, o grupo III que poderia ser tratado por autoclavagem
ou por outra tecnologia alternativa ainda continua a ser maioritariamente
incinerado.

Em relação aos centros de saúde, dado o pequeno universo estudado (22 inquiridos em 364
existentes), apenas são apresentados os dados obtidos:
- Um terço dos centros de saúde não quantifica os resíduos contaminados
- Apenas 45% dos centros quantificam os resíduos contaminados separadamente
- 63% dos centros de saúde enviam os residuos do grupoIII (risco biológico) para
incineração, 22% para autoclavagem, 5% para aterro e 10% para outros destinos

Em relação aos outros tipos de produtores de resíduos hospitalares há a realçar os


seguintes aspectos:
6
- Os resíduos do Grupo III (resíduos de risco biológico e passíveis de tratamento
alternativo à incineração), tal como nos hospitais, são largamente a principal
componente dos resíduos contaminados, pelo que na estratégia de gestão destes
resíduos deve ser dada prioridade aos tratamentos alternativos à incineração
- Os centros de hemodiálise são produtores importantes de resíduos do Grupo III que
constitui cerca de 99% dos resíduos ali produzidos (incluindo os resíduos não
contaminados)
- Foram obtidas estimativas da produção de resíduos para os diversos tipos de unidades

Atendendo à situação encontrada e tendo em consideração a urgência Da sua resolução,


considera-se ser prioritário tomar as seguintes medidas até Junho do ano 2000:

- Encerramento gradual dos incineradores existentes, dando prioridade aos que estejam
em pior estado de funcionamento;
- Realização de um conjunto significativo de acções de formação sobre gestão de resíduos
hospitalares;
- Colocação de ecopontos em todos os hospitais públicos e privados com mais de 150
camas;
- Redireccionamento gradual de todo o Grupo III para aproveitamento máximo da
capacidade instalada das unidades de descontaminação biológica existentes;
- Entrada em vigor de alterações ao Despacho nº242/96 de 13 de Agosto, de forma a
proibir a incineração dos resíduos do Grupo III, só devendo ser autorizada a incineração
dos resíduos contaminados do Grupo IV que não tenham tratamento alternativo. O
destino dos restantes resíduos do Grupo IV como as peças anatómicas identificáveis
poderá ser a inumação, enquanto que os corto-perfurantes deverão ser autoclavados
com trituração;
- Entrada em funcionamento de incinerador nacional só para resíduos do Grupo IV.
7
1. INTRODUÇÃO

Na sequência de diversos trabalhos efectuados pela Quercus-A.N.C.N. na área dos resíduos foi
iniciado em 1997 o presente estudo que consiste num levantamento da situação da gestão dos
resíduos hospitalares.

Este estudo pretende contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre a realidade da


gestão dos Resíduos Hospitalares (RH) e a procura de soluções para os problemas e lacunas
existentes em Portugal Continental. Assim, procurou-se obter informações sobre os aspectos
referentes a produção (quantidade e composição), sistemas de triagem, circuito interno e
armazenamento, transporte, tratamento e destino final, no caso dos hospitais1 públicos e privados
e centros de saúde e, por outro lado, uma estimativa quantitativa e qualitativa dos RH produzidos
por outras entidades.

O estudo foi patrocinado pelo Ministério do Ambiente e pela Fundação Luso-Americana para o
Desenvolvimento e contou com o apoio técnico da Associação Portuguesa de Infecção Hospitalar e
das empresas Ambimed & Athisa. e Tecnologias Ambientais (do Grupo Império).

A principal motivação que levou a Quercus à realização deste trabalho foi a situação de descontrolo
ambiental em que se processava a gestão dos resíduos hospitalares em Portugal.

Com efeito, na maioria das situações conhecidas, os hospitais não faziam uma separação adequada
entre os resíduos contaminados e não contaminados, sendo normalmente os resíduos contaminados
incinerados em condições ambientalmente inaceitáveis.

A par desta situação, observava-se uma grande falta de informação sobre a gestão dos resíduos
hospitalares dentro de cada unidade de prestação de cuidados de saúde, nomeadamente quanto às
questões da formação dos funcionários, ao processo de triagem e às condições de transporte interno e
armazenamento dos resíduos.

Por outro lado, ainda, não existia informação suficientemente detalhada sobre as condições de
laboração das unidades de tratamento dos resíduos hospitalares contaminados, em particular no que
se refere às unidades de incineração.

1
Esta classe engloba os hospitais públicos e militares.
8
Os Resíduos Hospitalares (de acordo com o Decreto-Lei nº 239/97 de 9 de Setembro, que
estabelece as regras a que fica sujeita a gestão de resíduos) são definidos como: “... resíduos
produzidos em unidades de prestação de cuidados de saúde, incluindo as actividades médicas de
diagnóstico, tratamento e prevenção da doença em seres humanos ou animais, e ainda as actividades
de investigação relacionadas”. A gestão de resíduos, segundo o mesmo decreto, é entendida como
“as operações de recolha, transporte, armazenagem, tratamento, valorização e eliminação dos
resíduos, incluindo a monitorização dos locais de descarga após o encerramento dos respectivas
instalações bem como o planeamento dessas operações”, sendo atribuídas as responsabilidades dessa
gestão aos produtores, designadamente às unidades de saúde, às quais é possibilitada a realização de
acordos com as autarquias ou com empresas devidamente autorizadas.

O destino a dar aos RH levanta sérios problemas atendendo à sua natureza - uma parte considerável
está contaminada por via biológica ou é química e radioactivamente perigosa; ao seu volume -
estima-se que cada doente internado produza actualmente mais de 1 kg de RH contaminados; aos
custos do seu tratamento - a incineração, que é o processo mais comum, ronda os 120 escudos por
kg.

A consciência de que determinados RH (sangue, secreções, material ionizado, produtos químicos e


tecidos humanos), enquanto focos de contaminação, constituem perigo para a saúde pública, tornou-
se mais aguda a partir do desenvolvimento de graves doenças transmissíveis, como a SIDA e a
hepatite B. Esta situação levou ao aumento das preocupações com os cuidados a ter com os RH, que
se reflectiram igualmente na criação de legislação específica (que pretende evitar a sua deposição em
lixeiras, por exemplo), com o consequente crescimento das quantidades de resíduos a incinerar
provocando problemas ambientais graves. Com efeito, a heterogeneidade da massa dos RH e a
impreparação das unidades de incineração para o tratamento de quantidades crescentes de resíduos
têm levado à impossibilidade do cumprimento dos limites de emissão de gases cada vez mais estritos.
Os esforços feitos para remediar esta situação e que incluem a instalação de unidades de incineração
de maiores dimensões e o tratamento adequado das emissões gasosas geram custos que contribuem
presentemente para um significativo aumento das despesas das entidades hospitalares.

Assim, tem-se tornado necessário o desenvolvimento de diferentes estratégias de gestão de RH que


permitam a redução da quantidade de resíduos a tratar e a introdução de processos de tratamento
alternativos à incineração, nomeadamente através de:
- Redefinição da classificação dos resíduos que necessitam de tratamento especial;
9
- Melhoria das condições de formação e sensibilização dos profissionais de saúde nesta área,
permitindo uma triagem mais eficiente;
- Adopção de práticas que visem a redução da produção dos resíduos através, por exemplo, do
recurso a materiais reutilizáveis.

2. GESTÃO DE RESÍDUOS HOSPITALARES

2.1. Legislação Nacional

Nos estabelecimentos hospitalares, nem todos os resíduos produzidos apresentam a mesma


perigosidade, sendo por isso classificados segundo o maior ou menor risco que a sua presença
implica.

O Despacho nº 16/90 de 21 de Agosto de 1990 classificou os RH em dois grupos - resíduos


contaminados (grupo A) e resíduos não contaminados (grupo B) - diferenciando o tipo de tratamento
a que serão submetidos. Sendo assim, os resíduos do grupo A deveriam ser incinerados, enquanto
que os resíduos do grupo B seriam destinados a remoção municipal.

A evolução que se verificou nos conceitos que suportam a gestão dos RH determinou a necessidade
de uma nova classificação que garantisse uma separação mais selectiva na origem e permitisse o
recurso a tecnologias diversificadas de tratamento. O Despacho nº 242/96 de 13 de Agosto de 1996
classificou, então, os RH em quatro grupos distintos, sendo os resíduos objecto de tratamento
apropriado diferenciado consoante o grupo a que pertençam. O Quadro I, que a seguir se apresenta,
define os RH pertencentes aos quatro grupos e respectivos tratamentos: grupos I e II, como resíduos
não perigosos, e grupos III e IV, como resíduos perigosos.

Quadro I- Classificação dos RH segundo o Despacho nº 242/96

Grupo I – Resíduos equiparados a urbanos - não apresentam exigências especiais


no seu tratamento
a) Resíduos provenientes de serviços gerais (como de gabinetes, salas de reunião, salas
de convívio, instalações sanitárias, vestiários, etc.);
b) Resíduos provenientes de serviços de apoio (como oficinas, jardins, armazéns e
outros);
c) Embalagens e invólucros comuns (como papel, cartão, mangas mistas e outros de
idêntica natureza);
d) Resíduos provenientes da hotelaria resultantes de confecção e restos de alimentos
servidos a doentes não incluídos no grupo III.
Grupo II – Resíduos hospitalares não perigosos - não estão sujeitos a tratamentos
10
específicos, podendo ser equiparados a urbanos
a) Material ortopédico: talas, gessos e ligaduras gessadas não contaminados e sem
vestígios de sangue;
b) Fraldas e resguardos descartáveis não contaminados e sem vestígios de sangue;
c) Material de protecção individual utilizado nos serviços gerais de apoio, com
excepção do utilizado na recolha de resíduos;
d) Embalagens vazias de medicamentos ou de produtos de uso clínico ou comum, com
excepção dos incluídos no grupo III e no grupo IV;
e) Frascos de soros não contaminados, com excepção dos do grupo IV.
Grupo III - Resíduos hospitalares de risco biológico - resíduos contaminados ou
suspeitos de contaminação, susceptíveis de incineração ou de outro pré-tratamento
eficaz, permitindo posterior eliminação como resíduo urbano
a) Todos os resíduos provenientes de quartos ou enfermarias de doentes infecciosos ou
suspeitos, de unidades de hemodiálise, de blocos operatórios, de salas de tratamento, de
salas de autópsia e de anatomia patológica, de patologia clínica e de laboratórios de
investigação, com excepção dos do grupo IV;
b) Todo o material utilizado em diálise;
c) Peças anatómicas não identificáveis;
d) Resíduos que resultam da administração de sangue e derivados;
e) Sistemas utilizados na administração de soros e medicamentos, com excepção dos do
grupo IV;
f) Sacos colectores de fluidos orgânicos e respectivos sistemas;
g) Material ortopédico: talas, gessos e ligaduras gessadas contaminados ou com
vestígios de sangue; material de prótese retirado a doentes;
h) Fraldas e resguardos descartáveis contaminados ou com vestígios de sangue;
i) Material de protecção individual utilizado em cuidados de saúde e serviços de apoio
geral em que haja contacto com produtos contaminados (como luvas, máscaras, aventais
e outros).
Grupo IV – Resíduos hospitalares específicos - resíduos de vários tipos de
incineração obrigatória
a) Peças anatómicas identificáveis, fetos e placentas, até publicação de legislação
específica;
b) Cadáveres de animais de experiência laboratorial;
c) Materiais cortantes e perfurantes: agulhas, catéteres e todo o material invasivo;
d) Produtos químicos e fármacos rejeitados, quando não sujeitos a legislação específica;
e) Citostáticos e todo o material utilizado na sua manipulação e administração.

O Despacho nº 242/96 define ainda condições de triagem, acondicionamento e armazenamento dos


resíduos dentro das unidades de saúde.

Assim, dever-se-á realizar uma separação dos resíduos que permita, para os resíduos dos grupos I e
II, a reciclagem ou reutilização de cartão e papel, de vidros, de metais ferrosos e não ferrosos, de
películas de raios X, de pilhas e baterias, e de mercúrio.

A triagem e o acondicionamento dos resíduos deverão ter lugar junto do local de produção, devendo
os RH ser acondicionados de modo a permitir uma identificação clara da sua origem e do seu grupo:
11
os resíduos do grupo I e II em recipientes de cor preta; os resíduos do grupo III em recipientes de
cor branca, com indicativo de risco biológico; os resíduos do grupo IV em recipientes de cor
vermelha, com excepção dos materiais cortantes e perfurantes que devem ser acondicionados em
recipientes ou contentores imperfuráveis. Os contentores utilizados para armazenagem e transporte
dos resíduos dos grupos III e IV devem ser facilmente manuseáveis, resistentes, estanques,
mantendo-se hermeticamente fechados, laváveis e desinfectáveis, se forem de uso múltiplo.

O armazenamento dos resíduos deverá ser feito num local específico para os resíduos dos grupos I e
II, separado dos resíduos dos grupos III e IV, que deverão estar devidamente sinalizados. O local de
armazenamento deve ser dimensionado em função da periodicidade de recolha e/ou da eliminação,
devendo a sua capacidade mínima corresponder a três dias de produção. Caso este prazo seja
ultrapassado, até um máximo de 7 dias, deverão existir condições de refrigeração no local de
armazenagem.

Este despacho responsabiliza ainda os órgãos de gestão de cada unidade de saúde pelas seguintes
acções: sensibilização e formação do pessoal em geral e daquele afecto ao sector em particular,
nomeadamente nos aspectos relacionados com a protecção individual e os correctos procedimentos;
celebração de protocolos com outras unidades de saúde ou recurso a entidades devidamente
licenciadas, quando não dispuserem de capacidade de tratamento dos seus resíduos; registo
actualizado dos resíduos produzidos.

Para além desta legislação há a referir especificamente para os resíduos hospitalares os seguintes
diplomas:
- Portaria nº174/97, de 10 de Março que estabelece regras de instalação e funcionamento de
unidades ou equipamentos de valorização ou eliminação de resíduos perigosos hospitalares;
- Portaria nº178/97, de 11 de Março que aprova o modelo de mapa de registo dos resíduos
hospitalares;

Em relação à gestão de resíduos hospitalares convém ainda referir que esta actividade é igualmente
abrangida pela legislação sobre avaliação de impacte ambiental, sobre incineração de resíduos
perigosos e sobre protecção e controlo da qualidade do ar.

No Anexo I é feita uma análise mais detalhada sobre esta legislação.


12
2.2. PROCESSOS DE TRATAMENTO

Entende-se por tratamento “quaisquer processos manuais, mecânicos, físicos, químicos ou


biológicos que alteram as características dos resíduos de forma a reduzir o seu volume ou
perigosidade bem como a facilitar a sua movimentação, valorização ou eliminação” (Decreto-Lei nº
239/97).

2.2.1 Incineração

Actualmente, os RH produzidos são na sua maioria submetidos a um tratamento por incineração. A


incineração é um processo de tratamento industrial de resíduos sólidos, que se define como a reacção
química em que os materiais orgânicos combustíveis são gaseificados, num período de tempo pré-
fixado, dando-se uma oxidação dos resíduos com a ajuda do oxigénio contido no ar que é fornecido
em excesso em relação às necessidades estequiométricas.

A incineração é pois um processo de oxidação intensa da matéria orgânica, com obtenção


principalmente de dióxido de carbono e água. Em geral, as reacções de oxidação são
incompletas, pelo que ocorre formação de inúmeras substâncias indesejáveis (os denominados
produtos de combustão incompleta ou PCI’s), embora em quantidades diminutas, normalmente
da ordem das partes por milhão.

Este processo de decomposição térmica dos resíduos sofreu, ao longo dos últimos anos, progressos
tecnológicos, sendo os modernos incineradores de concepção pirolítica de dois estágios regidos pelos
seguintes princípios: temperatura, tempo de residência e turbulência. No primeiro estágio, designado
por pirólise, os resíduos são submetidos a temperaturas de 650-800 ºC, num ambiente com carência
de oxigénio onde se dá a combustão completa, com formação de gases combustíveis. No segundo
estágio (termoreactor), processa-se a combustão dos gases de pirólise à temperatura de 1100 ºC,
durante 2 segundos no mínimo, na presença de oxigénio em excesso, para garantir a combustão
completa.

Após a incineração dos resíduos perigosos, os gases resultantes da combustão necessitam de um


posterior tratamento, uma vez que contêm inúmeras substâncias tóxicas, nomeadamente ácido
clorídrico e outros haloácidos, partículas em suspensão, óxidos de azoto (NOx), óxidos de

enxofre (SOx), produtos de combustão incompleta (PCI’s) e metais pesados bem como os seus

complexos. A presença de cloro nos resíduos hospitalares devido ao seu teor em PVC, dá origem
13
à formação de dioxinas tornando os incineradores de resíduos hospitalares um dos principais
produtores deste tipo de poluentes.

Durante o processo de combustão formam-se cinzas que, dependendo da sua composição,


poderão sair sob a forma de cinzas residuais (ou escórias) ou sob a forma de matéria particulada
em suspensão nos gases de combustão. As emissões particuladas resultantes da combustão de
resíduos têm em geral particulas com dimensões inferiores a 1 m, pelo que se torna necessária a
utilização de equipamentos de remoção muito eficientes.

O tratamento mais utilizado consiste, inicialmente, na redução da temperatura (de 1000ºC para
algumas centenas de graus centígrados), o que permite a redução da formação de dioxinas. De
seguida, utilizam-se wet scrubbers para a eliminação do ácido clorídrico e das partículas.

Este processo envolve a injecção na corrente gasosa de um líquido com uma solução fortemente
alcalina que irá neutralizar os componentes àcidos e permitir a recolha de parte das partículas.

O tratamento deve ser complementado ou por um precipitador electrostático, em que as


partículas em suspensão no gás são carregadas electricamente e separadas da corrente gasosa, ou
por um filtro de mangas que vai reter o partículas de muito pequena dimensão.

A energia térmica, originada na queima dos resíduos, pode ser aproveitada para aquecimento,
através da produção de vapor, ou ser utilizada na produção de energia eléctrica, podendo-se
recuperar o equivalente a metade da energia dissipada.

Devido aos seus custos de exploração e riscos ambientais, o processo de incineração só deve ser
utilizado quando não existem outras tecnologias alternativas para o tratamento de determinados tipos
de resíduos.

2.2.2 Desinfecção

A desinfecção, química ou térmica, aparece como uma alternativa de tratamento à incineração. As


tecnologias de desinfecção mais conhecidas são o tratamento químico, a autoclavagem e o
microondas. Estas tecnologias alternativas de tratamento de RH permitem um encaminhamento dos
resíduos tratados para o circuito normal de resíduos sólidos urbanos (RSU) sem qualquer perigo para
14
a saúde pública. A principal desvantagem desta tecnologia consiste no facto de apenas se
desinfectarem os resíduos, o que torna a sua aplicação ineficiente relativamente a produtos químicos
e radioactivos.

Ao contrário da incineração, em que há uma destruição quase total da matéria pelo processo de
combustão, nos tratamentos de desinfecção faz-se uma descontaminação mais fina, uma vez que
é direccionada apenas para os microrganismos, evitando-se assim o problema da criação de
subprodutos através do processo de oxidação dos resíduos.

No entanto, se a incineração garante, por definição, a destruição completa dos microrganismos,


os processos de tratamento alternativos não garantem essa destruição completa, mas sim até um
nível de inactivação considerado seguro.

Assim, de acordo com a EPA (ver Tabela 1) existem diversos níveis de desactivação, sendo para
as tecnologias de tratamento de resíduos hospitalares recomendado que seja atingido pelo menos
o nível 3.

Tabela 1- Níveis de inactivação microbiana de acordo com a EPA

Nível de inactivação Descrição


Nível 1 Inactivação de bactérias vegetativas, fungos e vírus
lipofílicos com uma redução maior ou igual a 6 Log 10
Nível 2 Inactivação de bactérias vegetativas, fungos e vírus
lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias
com uma redução maior ou igual a 6 Log 10
Nível 3 Inactivação de bactérias vegetativas, fungos e vírus
lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias
com uma redução maior ou igual a 6 Log 10 e
inactivação de esporos de B. staerotermophilus ou B.
subtilis com uma redução maior ou igual a 4 Log 10
Nível 4 Inactivação de bactérias vegetativas, fungos e vírus
lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias e
inactivação de esporos de B. staerotermophilus ou B.
subtilis com uma redução maior ou igual a 6 Log 10

Para verificar as condições de funcionamento das unidades de descontaminação biológica por


autoclavagem existentes em Portugal é utilizado um teste com Bacilus staerotermophilus que
deverá sofrer uma redução maior ou igual a 4 Log 10 , de forma a ser atingido o nível de
inactivação 3.
15

2.2.2.1. Química

O tratamento químico consiste numa série de processos em que os resíduos são envolvidos e/ou
injectados com soluções desinfectantes e germicidas, tais como hipoclorito de sódio, óxido de etileno
e formaldeído, embora recentemente estejam a ser desenvolvidos esforços para utilizar desinfectantes
menos poluentes. Estes processos podem ser complementados com uma trituração, prévia ou
posterior, e/ou com compactação, necessitando sempre de tratamento dos efluentes líquidos e
gasosos. Este tratamento é utilizado principalmente na descontaminação de resíduos de laboratórios
de microbiologia, de resíduos com sangue e líquidos orgânicos.

2.2.2.2 Térmica

2.2.2.2.1 Autoclavagem

A autoclavagem (desinfecção com calor húmido) é um tratamento bastante usual que consiste em
manter o material contaminado a uma temperatura elevada e em contacto com vapor de água, durante
um período de tempo suficiente para destruir potenciais agentes patogénicos ou reduzi-los a um nível
que não constitua risco.

O processo de autoclavagem inclui ciclos de compressão e de descompressão de forma a facilitar o


contacto entre o vapor e os resíduos.

Os valores usuais de pressão são da ordem dos 3 a 3,5 bar e a temperatura atinge os 135ºC. Este
processo tem a vantagem de ser familiar aos técnicos de saúde, que o utilizam para esterilizar
diversos tipos de material hospitalar.

O processo normal de autoclavagem comporta basicamente as seguintes operações:

- Pre-vácuo inicial
Criam-se condições de pressões negativas de forma a que na fase seguinte o vapor entre mais
facilmente em contacto com os resíduos.
- Admissão de vapor
Introdução de vapor na autoclave e aumento gradual da pressão de forma a criar condições
para o contacto entre o vapor e os resíduos e para destruição de invólucros que limitem o
acesso do vapor a todas as superfícies.
16
- Esterilização
Manutenção de temperaturas e pressões elevadas durante um determinado periodo de tempo
até se concluir o processo de descontaminação. De acordo com a carga a tratar, o operador
define o tempo e a temperatura a que cada ciclo vai decorrer.
- Exaustão lenta
Libertação gradual do vapor que passa por um filtro poroso com uma malha suficientemente
fina para impedir a passagem de microrganismos para o exterior do autoclave. Diminuição
gradual da pressão até à pressão de 1 atmosfera.
- Arrefecimento da carga
Arrefecimento da carga até uma temperatura que permita a retirada dos resíduos do autoclave.
- Descontaminação de condensados
A utilização de vapor para descontaminar os resíduos dá origem à formação de um efluente
provocado pela condensação desse vapor. Esse efluente (ou condensados) é tratado através de
um processo de esterilização a temperaturas da ordem dos 130ºC. Após o tratamento é
descarregado na rede de drenagem de águas resíduais e, em caso disso, tratado numa ETAR
como um efluente doméstico.

2.2.2.2.2 Microondas

A irradiação por microondas é uma tecnologia mais recente de tratamento de RH e consiste na


desinfecção dos resíduos a uma temperatura elevada (entre 95 e 105 ºC), os quais são triturados antes
ou depois desta operação. O aquecimento de todas as superfícies é assegurado pela criação de uma
mistura água-resíduos.

2.2.3 Incineração versus autoclavagem

Segundo o Despacho nº 242/96, os resíduos hospitalares de risco biológico pertencentes ao grupo III
poderão ser incinerados ou sujeitos a um tratamento eficaz que permita a sua eliminação como
resíduos urbanos, enquanto que o grupo IV integra RH específicos de incineração obrigatória. Neste
estudo registou-se um domínio da incineração sobre a autoclavagem como tratamento final dos
resíduos do grupo III, existindo, ainda dois casos em que é utilizada a desinfecção química. Visto a
incineração e a autoclavagem serem os tratamentos mais utilizados no nosso país para tratamento do
grupo III, apresenta-se no Quadro II uma síntese das vantagens e inconvenientes de cada um deles.

Quadro II - Processos de tratamento


17

VANTAGENS INCONVENIENTES
- eficaz no tratamento de todos os
- elevados custos de
resíduos; investimento e exploração;
- redução de peso para 10%; - significativa necessidade de
- redução de volume para 3%; tratamento dos efluentes
INCINERAÇÃO - recuperação e/ou produção de gasosos;
energia; - produção de cinzas perigosas;
- ausência de odores; - opinião negativa da popula-
ção
- custo de operação baixo; - utilização restrita a resíduos
- redução de volume (até 20% do de risco biológico;
AUTOCLAVAGEM inicial); - produção de efluentes
- processo considerado limpo, líquidos e gasosos, embora
não necessitando de avaliação de pouco significativa
impacte ambiental

3. METODOLOGIA

Para o presente estudo foi tida em consideração a definição de Resíduos Hospitalares estabelecida no
Decreto-Lei 239/97 de 9 Setembro, tendo sido nesse âmbito consideradas várias entidades produtoras
de RH e destas seleccionadas as que se referem de seguida (por razões descritas posteriormente neste
capítulo):
 hospitais;
 centros de saúde;
 centro de hemodiálise;
 centro de enfermagem;
 laboratórios de análises clínicas;
 laboratórios de patologia clínica;
 posto médico de empresa;
 consultórios médicos;
 centro de apoio a toxicodependentes;
 centro regional de alcoologia;

O levantamento da informação foi efectuado através da aplicação de inquéritos às entidades


produtoras deste tipo de resíduos e às respectivas unidades de tratamento (ver inquéritos - Anexo II).

O estudo teve o seu início em Fevereiro de 1997, tendo sido desenvolvido por uma equipa de 2
técnicos superiores da Quercus que coordenaram o trabalho de campo efectuado por um grupo de
estudantes de Engenharia do Ambiente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade
Católica Portuguesa (durante o 1º semestre de 1997) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
18
Universidade Nova de Lisboa (durante o 2º semestre de 1997 e o 1º de 1988).Este estudo
realizou-se com base em trabalho essencialmente voluntário o que obrigou a um atraso na sua
conclusão e à necessidade de recolher dados em períodos diferentes (entre os anos de 1997 e 1998).

Em relação à recolha de informação há a referir o facto de, no decorrer do estudo, muitos hospitais
estarem numa fase de alteração dos seus processos de gestão de RH, decorrentes da entrada em vigor
da Despacho nº 242/96 de 13 de Agosto. Nestas condições os dados obtidos necessitaram de diversos
ajustamentos uma vez que muitos hospitais quando inquiridos tinham começado há pouco o processo
de triagem de acordo com aquela legislação, possuindo uma série pouco expressiva de elementos
relativos à caracterização dos seus resíduos.

Para os hospitais públicos procurou-se fazer uma cobertura total do universo com envio prévio dos
inquéritos e posterior deslocação ao local para realização de uma entrevista (no Anexo III apresenta-
se a listagem dos hospitais públicos).

Relativamente a outro tipo de produtores como hospitais privados, centros de saúde, laboratórios,
unidades de hemodiálise e consultórios médicos dada a impossibilidade de inquirir todos os
estabelecimentos foram desenvolvidas metodologias ao nível da amostragem tal como é descrito em
detalhe ao longo deste capítulo.

3.1. Hospitais

De forma a conhecer a situação portuguesa relativa à produção, tratamento e destino final dos
resíduos produzidos em estabelecimentos hospitalares, consideraram-se no presente estudo, os
hospitais oficiais (os quais incluem estabelecimentos públicos, militares, paramilitares e prisionais) e
os particulares.

Procurou-se fazer uma cobertura total do universo dos hospitais públicos com envio prévio dos
inquéritos e posterior deslocação ao local para realização de uma entrevista.

Foram contactados 126 hospitais, embora para este relatório só estivessem disponíveis dados sobre
99 deles, correspondendo a 76 % dos hospitais públicos existentes, 68% dos principais hospitais
privados (seleccionados) e 50% dos militares.

Procedeu-se à realização de inquéritos (apresentados no Anexo II), a todos os hospitais oficiais;


quanto aos particulares considerou-se apenas uma percentagem.
19

No Quadro III está representado o número de estabelecimentos por região de saúde.

Quadro III– Número total de estabelecimentos por região de saúde

Regiões de saúde Estabelecimentos


Oficiais Privados
Norte 32 25
Centro 34 17
Lisboa e Vale do Tejo 43 32
Alentejo 6 3
Algarve 3 3
Total 122 93
Fonte: Ministério da Saúde, 1996

Quanto aos hospitais particulares considerou-se uma amostra de 30%, tendo-se seleccionado por
distrito aqueles que tinham maior representatividade a nível do país, ou seja, aqueles que dispõem de
maior número de camas, o que corresponde a uma maior lotação praticada. No que se refere ao caso
concreto dos hospitais particulares especializados em psiquiatria, face ao tipo de cuidados prestados e
consequentemente ao tipo de resíduos hospitalares produzidos, seleccionaram-se aleatoriamente 2
dos 13 existentes em Portugal continental.

Utilizou-se um duplo critério de representatividade, para Lisboa e Porto uma lotação praticada de 100
camas, para os restantes distritos uma lotação praticada de 50 camas.

Os hospitais particulares seleccionados para a realização de inquérito estão apresentados no Quadro


IV, bem como a respectiva classificação por funções.

Quadro IV – Hospitais particulares seleccionados e sua classificação por funções.


Distrito Hospital Particular Especialização
Lisboa Clisa - Cl. Santo António, As Geral
Lisboa Asm Empregados do Geral
Comércio
Lisboa C. Saúde Cª. Seg. M. Ortopedia/Traumatologia
Confiança
Lisboa H Cruz Vermelha Portuguesa Geral
Lisboa Hospital Particular de Lisboa Geral
Lisboa Hospital do SAMS Geral
Lisboa Hospital da V.O. Terceira Geral
Lisboa Isu Hospital Cuf, As Geral
Lisboa C. Saúde de Idanha-Belas Psiquiatria
Lisboa Cmc Cª. Seg. Fidelidade, As Ortopedia/Traumatologia
Lisboa Clínica Todos-Os-Santos, Lda Cirurgia Plástica e
Reconstrutiva e Ortopedia
Braga Hospital Narciso Ferreira Geral
20
Porto Casa de Saúde da Boavista Geral
Porto H Cª. Seg. Mundial Confiança Traumatologia/Ortopedia
Porto Hospital da Prelada Geral
Porto Hospital de Santa Maria Geral
Porto H. Do Conde de Ferreira Psiquiatria
Porto H V. Irm. Nª Senhora da Lapa Geral
Porto H V. O. Terceira São Geral
Francisco
Porto Clipóvoa - Cl.Médica P. Geral
Varzim
Coimbra Casa de Saúde "Coimbra" Geral
Leiria H Fundação Nª Senhora Guia Geral
Viseu Casa de Saúde de São Mateus Geral
Santarém Hospital do Entroncamento Geral
Évora Hospital Infantil São João de Pediatría Cirúgica, Ortopedia e
Deus Medicina Física de
Reabilitação
Faro Hospital Particular do Algarve Geral

Os Distritos que não constam no Quadro IV, não foram considerados por não terem hospitais
particulares (Vila Real, Bragança e Beja) ou porque tinham mas não eram representativos
(Portalegre, Setúbal, Guarda, Castelo Branco, Aveiro e Viana do Castelo), segundo os critérios
referidos anteriormente.

3.2. Centros de Saúde

A situação, para Portugal Continental, referente a este tipo de estabelecimentos de saúde apresenta-se
no Quadro V.

Quadro V – Centros de Saúde por distrito.


Distritos Estabelecimentos Extensões Unidades de internamento SAP
(Centros de Saúde) número Lotação praticada
Aveiro 20 135 7 189 14
Beja 14 77 9 102 11
Braga 17 87 6 196 10
Bragança 12 113 9 178 10
Castelo Branco 11 138 1 23 7
Coimbra 22 166 10 118 14
Évora 14 92 10 161 12
Faro 16 67 9 206 12
Guarda 14 92 9 196 14
Leiria 17 113 4 81 10
Lisboa 53 166 6 120 23
Portalegre 16 74 9 131 10
Porto 43 139 3 104 14
Santarém 22 175 7 124 11
Setúbal 20 82 5 92 8
Viana do Castelo 11 39 6 146 8
Vila Real 14 77 7 119 9
21
Viseu 25 75 10 236 19
TOTAL 361 1907 127 2522 216
Fonte: Adaptado de Índice Nacional Laboratorial, 1996

Em cada distrito existem centros de saúde, com e sem internamento, os quais têm por sua vez
extensões, sendo alguns dos estabelecimentos serviços de atendimento permanente (SAP). Do total
de centros existentes, doze são unidades de especialidades: nove em Lisboa, três no Porto e duas em
Setúbal.

De forma a seleccionarem-se elementos representativos desta população (de 361 centros de saúde),
assumindo-se que, a análise sobre estes elementos fornece elementos sobre a população, dividiu-se à
priori a população alvo, por distrito, em dois subgrupos: estabelecimentos sem e estabelecimentos
com internamento, a que correspondem unidades em espaço urbano e rural respectivamente. Destes
dois subgrupos escolheram-se os mais representativos, isto é, os de maior população servida. No
caso dos distritos com centros especializados, seleccionaram-se também aqueles cujas especialidades
são geradoras de maiores quantidades de RH.

Assim, considerando-se uma amostra de aproximadamente 10% da população, foram enviados os


inquéritos relativos à situação dos resíduos hospitalares em estabelecimentos de saúde (idênticos aos
dos hospitais, com as devidas adaptações – Anexo II), para os centros apresentados no Quadro VI.

Quadro VI – Centros de Saúde seleccionados.


Distrito Estabelecimento de Internamen Responderam
to
Saúde Sim Não ao inquérito
Braga C. S. de Vila Verde X Sim
Braga C.S. de Braga X Não
Bragança C.S. de Vila Flor X Sim
Bragança C.S. de Bragança X Sim
Viana do Castelo C.S. de Arcos de Valdevez X Sim
Viana do Castelo C.S. de Viana do Castelo X Não
Vila Real C.S. de Alijó X Não
Vila Real C.S. de Vila Real X Não
Porto C.S. de Lousada X Não
Porto C.S. da Campanhã X Não
Porto C.S. de Gondomar X Não
Porto C.S. de Matosinhos X Sim
Aveiro C.S. de Arouca X Não
Aveiro C.S. de Aveiro X Não
Castelo Branco C.S. de Castelo Branco X Sim
Coimbra C.S. de Celas X Sim
Guarda C.S. de Seia X Sim
Guarda C.S. da Guarda X Não
22
Leiria C.S. de Leiria X Sim
Viseu C.S. de São Pedro do Sul X Sim
Viseu C.S. de Viseu I X Não
Beja C.S. de Beja X Sim
Évora C.S. de Montemor o Novo X Não
Évora C.S. de Évora X Sim
Portalegre C.S. de Nisa X Sim
Portalegre C.S. de Portalegre X Sim
Faro C.S. de Loulé X Sim
Faro C.S. deFaro X Não
Santarém C.S. de Rio Maior X Sim
Santarém C.S. de Santarém X Sim
Setúbal C.S. da Moita X Não
Setúbal C.S. de Setúbal X Não
Lisboa C.S. de Rio de Mouro X Sim
Lisboa C.S. de Loures X Sim
Lisboa Centro de Estomatologia X Não
Lisboa Centro de Pneumologia X Sim
Lisboa Centro de Urologia X Não
Lisboa C.S. de Oeiras X Sim
Lisboa C.S. de Algueirão-Mem Martins X Sim
Lisboa C.S. de Sete Rios X Não

Face à dimensão da amostra, a qual abrange todos os distritos de Portugal continental, a estratégia
utilizada foi diferente da utilizada para os hospitais. Para a realização dos inquéritos aos hospitais
marcaram-se entrevistas com os responsáveis hospitalares, com o objectivo de receber os inquéritos
devidamente preenchidos, “aferir” as respectivas respostas e esclarecer potenciais dúvidas surgidas
aquando do preenchimento dos mesmos. No que se refere aos centros de saúde, foram realizadas
algumas entrevista com o objectivo de testar os inquéritos a enviar. Após o que se procedeu ao envio
e se estabeleceram vários contactos telefónicos, com os responsáveis pelos RH no estabelecimento de
saúde, no sentido de esclarecer dúvidas levantadas e de motivar os responsáveis pela gestão dos RH
para enviarem as respostas para a Quercus.

No presente relatório são analisados os inquéritos recebidos, relativos à situação de resíduos


hospitalares em centros de saúde, e que se apresentam no Quadro VII.

Quadro VII – Centros de saúde que responderam ao inquérito.


Distrito Identificação da unidade produtora

Beja C.S. de Beja


Braga C.S. de Vila Verde
Bragança C.S. de Bragança
Bragança C.S. de Vila Flor
Castelo Branco C.S. de Castelo Branco
Coimbra C. S. de Celas
Évora C.S. de Évora
23
Faro C.S. de Loulé
Guarda C.S. de Seia
Leiria C. S. de Leiria de Dr Arnaldo Sampaio
Lisboa C.S. da Alameda (Pneumologia)
Lisboa C. S. Loures
Lisboa C.S. de Rio de Mouro
Lisboa C.S. de Oeiras
Lisboa C.S. de Algueirão Mem Martins
Portalegre C.S. de Nisa
Portalegre C.S. de Portalegre
Porto C.S. de Matosinhos
Santarém C.S. de Santarém
Santarém C.S. de Rio Maior
Viana do Castela C.S. de Arcos de Valdevez
Viseu C.S. de S. Pedro do Sul
Total 22

3.3. Outras Entidades

Para além dos hospitais públicos e privados e dos Centros de Saúde, existem várias outras entidades
produtoras de RH cuja representatividade se julga também importante para o total de resíduos
produzidos. Assim, dentro do âmbito da definição de resíduos hospitalares do Decreto-Lei 239/97,
seleccionaram-se várias entidades geradoras de resíduos hospitalares, com o objectivo de conhecer as
quantidades produzidas por cada uma delas.

Saliente-se que, ao contrário do estudo dos hospitais e dos Centros de Saúde, para o caso das outras
entidades não se pretende o conhecimento da situação nacional ao nível do encaminhamento dado
aos RH produzidos, dado o número e variabilidade das unidades existentes, sendo apenas objecto de
estudo a quantificação dos diferentes tipos produzidos. Assim, o objectivo principal desta
quantificação consiste numa análise comparativa das quantidades produzidas pelas várias entidades,
sendo os resultados apenas indicativos dada a reduzida amostra em que se baseiam.

Procedeu-se à recolha de informação bibliográfica no Instituto Nacional de Estatística, na Direcção


Geral de Saúde e outros, de forma a ter conhecimento sobre o universo de produtores em Portugal.
Dentro desse universo foram seleccionadas várias unidades, de forma a serem estabelecidos os
valores comparativos de quantidade produzida / utente.

Quanto aos questionários enviados, cuja estrutura geral (por vezes adaptada às diferentes unidades)
se encontra no Anexo II, foram elaborados de forma a que as questões pudessem ser respondidas
com base em estimativas, já que as entidades contactadas não procediam à quantificação periódica
24
dos resíduos. Os questionários foram também elaborados com o objectivo de serem respondidos
de forma expedita e fornecerem as informações necessárias para a determinação das quantidades
produzidas por utente, de modo a serem comparáveis os resultados e ter-se conhecimento de quais os
produtores com maior produção e para os quais é necessária uma maior atenção. Também são
questionados os tipos de resíduos produzidos em cada grupo I, II, III ou IV, segundo o Despacho
242/96 de 13 de Agosto. As entidades seleccionadas são enumeradas de seguida.

3.3.1. Centros de Hemodiálise

A funcionar dentro ou fora das unidades hospitalares, os centros de hemodiálise constituem


importantes produtores de RH. Existem cerca de 76 unidades de hemodiálise em Portugal
Continental, distribuídas conforme se encontra expresso no Quadro VIII.

Quadro VIII. Distribuição dos Centros de Hemodiálise por distritos


Funcionamento Funcionamento
Distrito Público Privado Distrito Público Privado
Aveiro 1 3 Leiria 0 1
Beja 0 1 Lisboa 5 14
Braga 0 3 Portalegre 0 1
Bragança 1 1 Porto 5 9
Castelo Br. 1 0 Santarém 0 3
Coimbra 2 5 Setúbal 2 4
Évora 1 1 V. Castelo 0 2
Faro 1 4 Vila Real 2 0
Guarda 0 1 Viseu 0 2
TOTAL 21 55
Fonte: Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR), 1997

De forma a averiguar acerca dos quantitativos produzidos por estas entidades foram elaborados
questionários simples e enviados a duas unidades de hemodiálise do distrito de Lisboa.

3.3.2. Centros de Enfermagem

Em muitas localidades os centros de enfermagem representam a alternativa para a prestação de


cuidados de saúde, pelo que se considerou este tipo de entidade produtora. Assim, foi realizado um
questionário a uma unidade do distrito de Lisboa, de forma a averiguar os tipos de resíduos
produzidos e respectivas quantidades.
25

3.3.3. Laboratórios

Os laboratórios de análises químicas, patologia clínica e anatomia patológica, assim como os


laboratórios de investigação médica constituem potencialmente fontes relevantes de produção de RH.
Apesar de não se ter conhecimento exacto e discriminado do número de laboratórios existentes, a sua
quantificação é importante para o total de RH produzidos. Deste modo, procurou-se averiguar dos
quantitativos produzidos por estes laboratórios, tendo sido possível aferir a produção por utente em
laboratórios de análises químicas e de patologia clínica.

3.3.4. Postos médicos em empresas

Em empresas de determinadas características e dimensões é obrigatória a existência de postos


médicos para a prestação de cuidados de saúde. Assim, considerou-se relevante a aplicação de um
questionário a um centro deste tipo, numa empresa do sector químico do distrito de Portalegre.

3.3.5. Consultórios médicos

Existem várias especialidades médicas cuja produção de resíduos hospitalares em consultórios


particulares se julga bastante relevante no contexto nacional, apesar de não haver modo de conhecer
o número exacto de consultórios existentes em Portugal.

Deste modo, das cerca de 50 especialidades médicas existentes (ver Anexo IV), as mais importantes
em termos de produção de resíduos, segundo indicação de técnicos de Infecção Hospitalar, são as
seguintes:
 Estomatologia;
 Gastrenterologia;
 Nefrologia;
 Pneumologia;
 Ortopedia;
 Otorrinolarinologia;
 Oftalmologia;
 Urologia;
26
 Cirurgia Geral;
 Cirurgia Plástica Reconstrutiva;
 Cirurgia Cardio-Torácica;
 Neurocirurgia.

No entanto, apesar do empenho empreendido, a aplicação dos questionários em consultórios


particulares revelou-se bastante difícil, já que os responsáveis por estas unidades não têm
disponibilidade para responder às questões formuladas. Foi apenas possível aplicar os questionários
às especialidades em que as autoras do presente trabalho conheciam médicos, o que corresponde a
um total de 5 especialidades: Estomatologia e Medicina Dentária, Ginecologia, Oftalmologia,
Pediatria e Radiologia.

3.3.6. Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT’s)

Os Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT’s) são importantes orgãos de cuidados de saúde,


principalmente a nível de tratamento psicológico. Desta forma, realizou-se um questionário a um
desses orgãos, no Distrito de Lisboa, para averiguar o tipo de resíduos produzidos por estas
entidades, com o intuito de averiguar a sua importância relativamente à produção de RH.

3.3.7. Centros Regionais de Alcoologia

À semelhança dos CAT’s, também foi considerado importante o conhecimento dos tipos de resíduos
produzidos pelos Centros Regionais de Alcoologia. Assim, foi aplicado um questionário para o
Distrito de Lisboa.

3.3.8. Outros

Existem outras entidades, tais como laboratórios de investigação médica, farmácias, laboratórios de
investigação farmacêutica e laboratórios de investigação veterinária, entre outros, cujas
características inerentes são indiciadoras da produção de RH. Contudo, esta análise das outras
unidades (que não hospitais e centros de saúde) foi concebida de forma a fornecer uma estimativa
comparativa entre essas várias unidades, numa base de quantidade produzida / utente. Em farmácias
27
e laboratórios de investigação essa perspectiva não é tão aplicável, razão pela qual não se
consideraram estas unidades para responder aos questionários.

Saliente-se ainda o facto de alguns dos resultados terem sido aferidos com dados fornecidos pela
empresa Ambimed, designadamente as quantidades produzidas em centros de hemodiálise,
laboratórios de análises químicas, laboratórios de patologia clínica e em consultórios de
Estomatologia / Medicina dentária.

Em resumo, apresenta-se no Quadro IX as entidades contactadas para aplicação dos questionários.

Quadro IX. Entidades contactadas


Entidades Número de entidades Distrito (s) Observações
contactadas
Centros de hemodiálise 2 Lisboa *
Centros de Enfermagem 1 Lisboa
Laboratórios de Análises Químicas 1 Portalegre *
Laboratórios de Patologia Clínica - - *
Postos médicos de empresas 1 Portalegre
Consultórios médicos (especialidades: *
Estomatologia /Medicina Dentária, 6 Lisboa e Portalegre (Estomatologia /
Ginecologia, Oftalmologia, Pediatria Medicina
Radiologia) Dentária)
Centros de Apoio a Toxicodependentes 1 Lisboa
Centros Regionais de Alcoologia 1 Lisboa (e Vale do Tejo)
Clínicas Veterinárias 1 Lisboa
Lares de idosos 2 Lisboa e Portalegre
Urbanos Particulares (entidades 2 Lisboa e Setúbal
de triagem de RSU)
TOTAL 18
* dados facultados pela empresa Ambimed

3.4. Unidades de Tratamento

Tal como para os hospitais públicos para as unidades de tratamento pretendeu-se inquirir todas as
unidades de tratamento de resíduos hospitalares existentes no país, para tal, foram enviados os
inquéritos e seguidamente marcadas visitas ao local para o seu preenchimento. O Inquérito aplicado
pode ser consultado no Anexo II.
28

Apesar de todas as unidades terem sido contactadas apenas foram recebidos inquéritos referentes a
20 incineradores, às unidades de autoclavagem da Ambimed & Athisa e Tratospital e de desinfecão
química da Cannon Hygiene. No Quadro X apresenta-se a listagem das unidades hospitares que
possuem incinerador e que responderam ao inquérito.

Quadro X- Unidades hospitares que possuem incinerador e que responderam ao inquérito


Unidades de Incineração
Hospital de St.António
Hospital Reynaldo dos Santos
Hospital Distrital.Pombal
Centro Hospitalar de Gaia
Hospital Militar de Belém
Hospital Distrital Espinho
Hospital Distrital Beja
Hospital Distrital Portimão
Hospital Ortopédico Santiago Outão
Hospital Distrital Guarda
Hospital Distrital Fundão
Hospital Distrital Santarém
Hospital Distrital Bragança
Hospital S.João
Hospital Psiq.Lorvão
Hospital Dr.J.M Antunes Júnior
Hospital U.Coimbra
Hospital Distrital Leiria
Hospital Distrital Abrantes
Ordem.V.S.Francisco

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1. Unidades Hospitalares

Os inquéritos efectuados às entidades produtoras de resíduos hospitalares abrangeram os seguintes


campos da gestão hospitalar:
- Produção e triagem dos RH;
- Circuito interno e armazenamento;
- Transporte, tratamento e destino final dos RH;
- Formação do pessoal.

Para além destes dados, recolheu-se informação que permitiu uma caracterização da entidade
produtora em termos da sua dimensão e integração no Sistema Nacional de Saúde (SNS).
29
4.1.1. Produção e triagem dos resíduos hospitalares

4.1.1.1. Quantificação da produção dos resíduos hospitalares

Quase todos os hospitais (96%) quantificam os resíduos hospitalares produzidos, sendo a pesagem o
método de quantificação mais utilizado (Figura 1).

Os hospitais quantificam os resíduos hospitalares


produzidos?

3% 1%

Sim
96% Não
Não responderam

Figura 1: Percentagem dos hospitais que quantificam os resíduos


hospitalares produzidos

Os resíduos hospitalares equiparados a resíduos sólidos urbanos, pertencentes aos grupos I e II, são
sempre quantificados em conjunto, enquanto que os resíduos dos Grupos III e IV podem-no ser ou
não.

A quantificação dos resíduos não contaminados é feita maioritariamente através de estimativa (60%),
enquanto que a dos resíduos contaminados é feita geralmente por pesagem de todos os resíduos
(75%) (Figura 2).
30
Métodos de quantificação

Grupos I e
90 II
80

Nº de hospitais
70
60 Grupos III
e IV
50
40
30
20
10
0
Estimativa Pesagem Sem quantificação ou não
responderam

Figura 2: Métodos de quantificação utilizados nos hospitais


inquiridos

Dos 99 hospitais que responderam ao inquérito 8 hospitais não apresentaram os seus quantitativos
anuais para os Grupos III e IV.

A produção média de resíduos dos Grupos III e IV nos hospitais inquiridos é de cerca de 1,2
Kg/cama.dia.

No Quadro XI apresentam-se os resultados obtidos para os hospitais públicos, privados e militares.

Quadro XI - Quantitativos para os Grupos III e IV


Nº hospitais Grupo III e IV Nº de camas Grupo III e IV Grupo III e IV
(Kg/ano) (Kg/.dia) (Kg/cama.dia)
Hospitais Públicos 73 9257418 21204 25362,8 1,2
Hospitais Privados 15 482273 1434 1321,3 0,9
Hospitais Militares 3 26286 312 72,0 0,2
Total 91 9765977 22950 26756,1 1,17

De uma forma geral os hospitais forneceram apenas os quantitativos relativos ao Grupo III e IV em
conjunto, tendo apenas 35% fornecido os quantitativos dos Grupos III e IV em separado.

A percentagem média do Grupo IV relativamente ao total dos Grupos III e IV é de 14%, no entanto
varia muito de hospital para hospital, indicando que há uma triagem deficiente em muitos hospitais.

No entanto, nos hospitais que têm um tratamento diferenciado para o Grupo III, verifica-se que esse
valor é de 8%, o que reflete o uma maior investimento na formação do pessoal resultante da
necessidade de fazer uma separação adequada entre os resíduos.
31

Os resultados desse esforço de formação são ainda mais visíveis em hospitais que já iniciaram este
processo há mais de um ano, conseguindo que os resíduos a enviar para incineração sejam apenas
5% dos resíduos contaminados.

Face aos dados obtidos considera-se que, para definição de uma política de gestão dos resíduos
hospitalares, deverá ser tida em conta a reduzida percentagem de resíduos do Grupo IV constantes
nos resíduos contaminados (cerca de 5%) e, em conformidade, ser dada prioridade à instalação de
processos alternativos à incineração.

A triagem adequada permite igualmente uma redução dos resíduos a necessitarem de tratamento
especial. Com efeito, os resíduos contaminados representam actualmente cerca de 40% do total
dos resíduos hospitalares, enquanto que em hospitais, como o distrital de Évora, que há já algum
tempo iniciaram programas de formação para a triagem, esse valor foi reduzido para 20%. Esta
substancial redução dos resíduos contaminados traz inquestionáveis vantagens económicas e
ambientais.

4.1.1.2- Triagem dos resíduos hospitalares

A triagem nas entidades produtoras de RH é regulamentada pelo Despacho nº 242/96, tendo cerca de
14 % dos hospitais inquiridos declarado que realizam a triagem tendo como base o Despacho nº
16/90 e 4 % não classificam a triagem efectuada segundo nenhum dos despachos.

Despacho usado como referência


na triagem nº 242/96 de
13 de Agosto

4% nº 16/90 de 21
15%
de Agosto

Não
responderam

81%

Figura 3: Percentagem dos hospitais que afirmaram usar o Despacho


nº242/96 de 13 de Agosto como referência na triagem
32
Em relação à triagem (Figura 3), apesar de 82% dos inquiridos afirmarem que utilizam como
referência o Despacho nº242/96 de 13 de Agosto, verifica-se que na realidade a situação da triagem
não é tão optimista. Com efeito, nas visitas realizadas constatou-se que 41% do hospitais não fazem
uma separação entre o Grupo III e o Grupo IV (Figura 4).

Os hospitais que separam o grupo III do grupo IV?

Separam
Não separam

42%

58%

Figura 4: Percentagem dos hospitais que separam os RH do grupo


III dos RH do grupo IV

Nos hospitais em que os resíduos do Grupo III são enviados para tratamento alternativo, existe uma
triagem a 100% entre os Grupos III e IV. Segundo informações recolhidas junto dos seus
responsáveis, é possível em menos de um ano pôr um hospital a fazer a triagem adequada daqueles
resíduos.

Em 53% das unidades hospitalares inquiridas existe um sistema de avaliação da triagem efectuada, o
que permite a identificação de eventuais falhas internas de triagem e assim melhorar o processo
(Figura 5).

A unidade possui um sistema de avaliação da triagem?


Sim
Não
Não responderam

15%

53%
32%
33
Figura 5: Percentagem dos hospitais com sistema de avaliação da
triagem

O tipo de sistema de avaliação da triagem varia muito de hospital para hospital, podendo consistir
apenas na observação do conteúdo dos sacos de resíduos que estão colocados nos diversos serviços
ou, ainda, na abertura e observação dos sacos considerados suspeitos pelo funcionário responsável
pelo acondicionamento e armazenamento dos resíduos.

Existem, contudo, outras soluções mais radicais em que os sacos de resíduos contaminados são
transparentes estando identificada a sua origem por serviço. Embora não esteja previsto na lei, este
processo permite, através da observação exterior do saco, um controle muito expedito e apertado da
qualidade da triagem.

Uma vez detectados os erros na triagem, torna-se necessário dar conhecimento dessas ocorrências
aos funcionários envolvidos. Para isso, nalguns hospitais, são afixadas publicamente fotografias dos
casos em causa, indicando o serviço responsável. Este processo leva naturalmente a uma competição
saudável entre os diversos serviços no sentido de evitarem o seu aparecimento nesse “quadro de
honra”.

A triagem efectuada pelos estabelecimentos hospitalares públicos e privados é verificada em cerca de


54% das entidades receptoras (Figura 6). Os serviços de recolha camarária dos Grupos I e II
verificam periodicamente a triagem, existindo casos em que os funcionários camarários se recusam a
recolher esses resíduos por considerarem que contêm resíduos contaminados.

Estas situações podem dever-se à má triagem efectuada nos hospitais, mas também a uma deficiência
de informação dos funcionários camarários que consideram como contaminados os resíduos do
Grupo II (resíduos hospitalares não perigosos).
34

As entidades receptoras verificam a triagem?

Sim
Não
Não responderam
22%

54%
24%

Figura 6: Verificação da triagem por parte das entidades receptoras


de resíduos

Verificou-se que em apenas 32% dos hospitais é feita a identificação da origem dos sacos ou
contentores dentro da própria unidade, por recurso a rótulos identificativos em 26 hospitais, ou a
código de cores em 6 hospitais (Figura 7).

Estes números permitem concluir que a maioria dos hospitais ainda estão longe de possuir um
sistema desenvolvido de controle da gestão dos resíduos.

Com efeito, a identificação da origem dos sacos ou contentores tem diversas funções, entre as quais a
de permitir detectar a origem de eventuais erros de triagem ou ainda a de contabilizar a produção de
resíduos por serviço, podendo também contribuir para a realização de uma análise de custos mais
detalhada.

Formas de identificação da origem dos sacos ou


contentores

30
Nº 25
de
ho 20
spi 15
tai
s 10
5
0
Código de cores Rótulos nos sacos
ou contentores
35
Figura 7: Formas de identificação da origem dos sacos ou
contentores dentro da unidade de saúde (por exemplo: serviços ou
conjunto de serviços)

4.1.1.3. Redução e reciclagem

Através da análise dos gráficos, verifica-se que existe pouca preocupação (em apenas 20% dos
hospitais inquiridos) por parte das unidades hospitalares, em desenvolver programas ou acções que
visem a redução dos resíduos (Figura 8).

Existe algum programa ou acções de redução


de resíduos?
Não
Sim
Não respondeu
9%

20%

71%

Figura 8: Percentagem dos hospitais que afirmam não ter um


programa ou acções com o objectivo de reduzir a produção dos
resíduos

As unidades hospitalares que desenvolvem este tipo de acções apontam como exemplos: a
reutilização de roupas esterilizáveis; a redução de taras de segurança na alimentação dos doentes; a
utilização de material de vidro em vez de plástico; a escolha de determinados instrumentos
cirúrgicos; a utilização de sacos de lona para a deposição de roupa suja em detrimento de sacos de
plástico de uso único, a utilização de material de higiene de uso múltiplo e a utilização de papel
reciclado.

A compra de material reutilizável é, para 28 % dos hospitais, uma forma de reduzir a produção de
resíduos (Figura 9). No entanto, apesar das intenções de alguns hospitais de adquirirem material
reutilizável, a grande maioria dos responsáveis pela administração hospitalar considera que a nova
legislação comunitária sobre material hospitalar aponta cada vez mais para a obrigatoriedade de
utilização de material descartável, o que vai ter como consequência um natural aumento da produção
de resíduos.
36

A redução da produção de residuos é um critério


importante na compra de algum material reútilizavél?
Não
Sim
Não respondeu
13%

28%
59%

Figura 9: Percentagem dos hospitais que afirmam ter como critério


importante na compra de materiais reutilizáveis a redução da
produção de resíduos

Foi avaliado o desempenho dos hospitais em termos de separação de materiais para reciclagem,
tendo-se verificado que 72% dos mesmos procedem a essa operação (Figura 10).

Existe separação de materiais para reciclagem?

Sim

28% Não

72%

Figura 10: Percentagem dos hospitais que separam materiais para


reciclagem.

Os principais materiais que são separados para reciclagem, por mais de 50% dos hospitais são o
papel e as películas de raioX; o vidro e as pilhas são separados por cerca de 30% dos hospitais
enquanto que o plástico e as embalagens de cartão composto por pouco mais de 10% dos hospitais
(Figura 11).
37
Materiais separados para reciclagem

90
80
70

Nº de hospitais
60
50
40
30
20
10
0

r io
l

X
o

as
o

s
pe

st

ro
tic
dr

-
os

lh


po
Pa

ut
Vi

ás

Pi
ai

er

O
m
Pl

M
co
o

ar
C

Figura 11: Nº de hospitais que separam vários materiais para


reciclagem

Para além dos materiais acima referidos, são também recolhidos selectivamente metais, óleos
minerais e óleos alimentares.

O motivo principal apontado pelas unidades de saúde para não realizarem a separação de resíduos
para reciclagem é a falta de meios adequados que facilitem a separação e armazenagem dos mesmos.
Os hospitais referem ainda a falta de apoio da câmara local como outra das razões para a não
existência de separação, assim como a inexistência de empresas receptoras para reciclagem dos
materiais.

A baixa adesão dos hospitais à recolha de plástico e cartão complexo, justifica-se principalmente por
estes materiais serem constituídos essencialmente por embalagens, resíduos para os quais a grande
maioria dos hospitais ainda não possui contentores (ecopontos).

Atendendo à produção de resíduos recicláveis nos hospitais, nomeadamente papel, vidro e


embalagens, justificava-se plenamente a instalação de uma rede de ecopontos específica para
unidades com uma produção superior a 500 kg/dia, o que equivale a um ecoponto para 500
habitantes (a meta para os sistemas de gestão dos RSU).

Os hospitais a incluir nesse programa seriam aqueles com um número de aproximadamente 150
camas, o que equivale sensivelmente à produção de 500 kg/dia de resíduos.

4.1.2 Circuito interno e armazenamento


38
Na maioria dos estabelecimentos hospitalares, o acondicionamento dos resíduos é feito segundo
o Despacho nº 242/96, existindo situações pontuais em que o acondicionamento é efectuado em
sacos não regulamentados pelo despacho, como por exemplo, a utilização de sacos transparentes para
resíduos dos Grupos III e IV.

Pela observação no local dos circuitos internos, verificou-se que, dos serviços para as zonas sujas e
destas para o local de armazenamento, a recolha é feita manualmente ou por recurso a carros rodados
que, em muitos casos, não têm protecção lateral. Em algumas unidades, os circuitos de recolha não
são definidos segundo critérios de operacionalidade e de menor risco para doentes, trabalhadores e
público em geral.

Por exemplo, num dos hospitais visitados, o circuito dos contentores rodados para transporte dos
resíduos da zona dos serviços para a zona de armazenamento passava pela área de urgência
pediátrica, o que, para além de ser completamente inadequado em termos de gestão dos resíduos,
consistia também numa grande fonte de perturbação do funcionamento daquele serviço.

Os contentores de armazenamento e transporte dos resíduos contaminados (Grupos III e IV)


obedecem, de uma forma geral, à maioria das disposições do Despacho nº 242/96. No entanto, no
que se refere à exigência de se manterem hermeticamente fechados, só cerca de metade dos hospitais
cumprem esta condição (Figura 12).

No caso dos hospitais que recorrem às empresas de tratamento alternativo para o Grupo III a situação
é completamente diferente, uma vez que essas empresas fornecem contentores que são
hermeticamente fechados.
Características dos contentores usados para transporte e armazenamento

90

80

70
Nº de hospitais

60

50

40

30

20

10

0
herméticamente

Laváveis
Manusiáveis

Desinfectáveis
Resistentes

Estanques
Facilmente

Mantêm-se

fechados

Figura 12: Número de hospitais que utilizam contentores de


transporte e armazenamento com as características exigidas pela
39
legislação

Em todas as unidades de saúde, verificou-se que os materiais cortantes e perfurantes pertencentes ao


grupo IV são acondicionados em contentores imperfuráveis. Esta situação reflecte o trabalho interno
das comissões de infecção hospitalar no sentido da separação adequada dos resíduos e, em particular,
daqueles que apresentam maior risco de infecção, como é o caso dos materiais cortantes e
perfurantes.

O local de armazenamento dos Grupos I e II é separado do local de armazenamento dos Grupos III e
IV em 82% dos hospitais (Figura 13). O armazenamento dos resíduos dos Grupos I e II é efectuado
em contentores das câmaras municipais. Para os Grupos III e IV, o local de armazenamento não é,
em geral, dimensionado em função da periodicidade da recolha, e não possui condições estruturais e
funcionais adequadas a acesso e limpeza fáceis. Estes locais são frequentemente pátios, telheiros,
alpendres, armazéns de difícil limpeza, onde não existe qualquer protecção encontrando-se ao
alcance das pessoas e dos animais.

O local de armazenamento dos RH dos


grupos I e II é separado dos RH dos grupos III
e IV?
Sim

Não

3% Não
15% responderam

82%

Figura 13: Percentagem dos hospitais que utilizam um local de


armazenamento para os grupos III e IV separado dos grupos I e II

4.1.3 Tratamento e destino final dos resíduos hospitalares

No que respeita ao tratamento dos RH contaminados, verifica-se uma escolha preferencial pela
incineração, existindo incineradores em 35% dos hospitais (Figura 14).
40

Hospitais com incineradora

Hospitais com
incineradora

35%

Hospitais sem
incineradora

65%

Figura 14: Percentagem de hospitais com incineradora

Cerca de 84% dos hospitais enviam os resíduos do Grupo III para incineração, enquanto que 15%
enviam para autoclavagem e 1% para desinfecção química (Figura 15).

Tipo de tratamento dos resíduos do grupo III

1%
15%

Incineração
Autoclavagem
Desinfecção química

84%

Figura 15: Tipo de tratamento utilizado pelos hospitais para os


resíduos do grupo III

A preferência geral pela incineração deve-se a diversos factores:

- Pouco tempo de existência das unidades de autoclavagem que funcionam no país;


- Inexistência de unidades de tratamento por autoclavagem nas regiões norte e centro do país;
- Custos de incineração competitivos com os custos do tratamento alternativo, em virtude dos
incineradores laborarem sem cumprimento das normas ambientais;
- Falta de conhecimento dos gestores dos hospitais privados sobre os problemas da incineração de
resíduos em unidades de pequena dimensão;
- Crenças relacionadas com a gestão dos resíduos contaminados, ou seja, vários responsáveis
hospitalares afirmam que, apesar da legislação portuguesa contemplar tratamentos alternativos à
41
incineração, eles como técnicos de saúde acham que todos os resíduos contaminados (grupos
III e IV) devem ser incinerados, pelo que, enquanto forem responsáveis pela gestão dos resíduos,
estes não terão qualquer outro tipo de tratamento.

Os hospitais privados optam pelos tratamentos alternativos para o Grupo III com mais facilidade dos
que os hospitais públicos, verificando-se um caso de um hospital no Porto (Hospital da Prelada) que
prefere enviar os seus resíduos para uma unidade de autoclavagem na zona de Lisboa do que enviá-
los para incineração.

Esta atitude dos hospitais privados, em particular os da zona sul, deve-se a uma maior flexibilidade
das suas administrações e ao facto de não haver uma tradição de enviar os resíduos para o sistema de
incineradores que funcionam nos hospitais públicos.

Em termos regionais (Quadro XII) verifica-se que, na zona norte, apenas 1 dos 23 hospitais
inquiridos recorre à autoclavagem para o tratamento dos resíduos do Grupo III, enquanto que na zona
centro todos os hospitais enviam os resíduos deste grupo para incineração. Em contrapartida, na zona
sul, 14 dos 41 hospitais já optaram por enviar os resíduos do Grupo III para autoclavagem, tendo
ainda um optado pela desinfecção química.

Quadro XII: Destino dado aos resíduos do Grupo III de acordo com a localização do hospital
Incineração Autoclavagem Desinfecção Química
Zona Norte (a) 22 1 0
Zona Centro (b) 35 0 0
Zona Sul (c) 26 14 1
(a) – Distritos de Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila Real
(b) – Distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Santarém e Viseu
(c) – Distritos de Beja, Évora, Faro, Lisboa, Portalegre e Setúbal

Esta situação tão díspar entre a zona sul e as zonas norte e centro deve-se em grande parte ao facto
das duas únicas unidades de autoclavagem actualmente em funcionamento se situarem na zona sul
(Cascais e Barreiro), o que levanta a questão da necessidade de instalar uma unidade de tratamento
alternativo na zona norte e eventualmente outra na zona centro.
42
Com efeito, os contactos com os responsáveis hospitalares, em particular com os da zona norte,
revelaram algum desconhecimento destes sobre as tecnologias alternativas à incineração, como a
autoclavagem.

A cidade do Porto, por exemplo, apresenta a maior concentração de incineradores de resíduos


hospitalares do país, uma vez que nela estão localizados 7 dos 40 incineradores identificados neste
estudo, o que vem reforçar a ideia de que é urgente a instalação de uma unidade de autoclavagem na
zona norte para reduzir a necessidade de se recorrer à incineração.
43

4.1.4. Formação do pessoal

Na maioria dos hospitais (82%) são proporcionadas acções de formação sobre resíduos
hospitalares(Figura 16). No entanto, em menos de 50% dos casos essas acções abordam
exclusivamente esta temática.

Os funcionários frequentam acções de


formação sobre residuos?

18%
Sim
Não

82%

Figura 16: Percentagem dos hospitais cujos funcionários frequentam


acções de formação

As acções são realizadas com algum espaçamento temporal, verificando-se que na maioria (55%) dos
casos têm uma periodicidade anual ou superior (Figura 17).

O pessoal da unidade de saúde que frequenta as acções de formação pertence a vários grupos
profissionais, incluindo os encarregados do acondicionamento de resíduos, os farmacêuticos, os
administradores hospitalares e os engenheiros, com especial destaque para os enfermeiros e
auxiliares de acção médica.

Nestas acções são abordados principalmente temas como: triagem, risco – avaliação e percepção, e
redução da produção de resíduos. Outros dos temas abordados nestes programas pelas unidades de
saúde públicas foram: desinfecção e higiene hospitalar; tratamento dos resíduos e consequências
ambientais; acondicionamento, manipulação e transporte dos resíduos; e circuitos internos de recolha
dos resíduos.
44

Frequência de realização de acções de formação


sobre residuos
Anual
Semestral
4%
Variável
27% Trimestral

55%

14%

Figura 17: Frequência de realização de acções de formação sobre a


temática dos resíduos hospitalares

4.2. Centros de Saúde

Os resultados apresentados referem-se aos inquéritos dos centros de saúde, cujos responsáveis se
disponibilizaram para responder, conforme apresentado no Quadro VII.

Embora o objectivo inicial relativo a este tipo de produtores fosse efectuar uma caracterização da
situação a nível nacional, tal objectivo não foi alcançado uma vez que não foi possível obter a
resposta ao inquérito para todos os centros de saúde seleccionados. A análise que se apresenta
incide sobre cerca de 6% do total de unidades existentes em Portugal continental.

A análise dos inquéritos aos centros de saúde foi efectuada globalmente para todas as unidades,
tendo por base os mesmos critérios e pontos considerados em 4.1,.efectuando-se sempre que
possível uma comparação com a situação dos hospitais analisados. No entanto, não foi possível
aferir os resultados obtidos, dado que cerca de 80% dos inquéritos foram respondidos sem a
realização de entrevista.

4.2.1. Formação do pessoal

A gestão dos RH está predominantemente a cargo de enfermeiros (38%), tal como nos hospitais
analisados, sendo esta responsabilidade repartida essencialmente com a classe médica (31%).
45

Sim

25%
Não

75%

Figura 18 – Percentagem dos centros de saúde cujos


funcionários frequentam acções de formação que abordem a
temática dos RH.

RH

Vários
39%

61%

Figura 19 – Acções de formação destinadas exclusivamente ao


tema dos RH

Em 75% dos centros de saúde os funcionários frequentam acções de formação (Figura 18). A
classe profissional mais abrangida por estas acções são os enfermeiros (38%), seguindo-se o
pessoal de limpeza (27%) e os auxiliares de acção médica (24%).

Em 61% dos centros de saúde o tema dos RH é abordado conjuntamente com outros temas, as
açcões de formação não se destinando exclusivamente à temática dos RH (Figura 19). As acções
incidem essencialmente no risco (29%) e triagem (28%), sendo o tema da redução da produção
de resíduos abordado em 19% destas secções.
46

4.2.2. Produção e triagem dos resíduos hospitalares

Pela Figura 20 é possível verificar-se o despacho segundo o qual os estabelecimentos de saúde


efectuam a triagem dos RH.

nº242/96
5% nº16/90

95%

Figura 20 – Despacho segundo o qual é efectuada a


triagem

Verifica-se que 95% dos estabelecimentos efectuam a triagem segundo o despacho em vigor,
valor esse que é significativamente superior ao registado para os hospitais, porém tal como já foi
referido para os hospitais, verificar-se-á ao longo deste relatório que tal facto não é totalmente
verdadeiro.

A quantificação e triagem efectuadas pelas unidades de saúde em estudo estão representadas nas
Figuras. 21 a 24.
47

sim
5% não

95%

Figura 21 – Quantificação dos resíduos produzidos

100
90
80
% centros de saude

70
60
50
40
30
20
10
0
I e II III IV III e IV
grupos de RH quantificados

Figura 22 – Grupos de resíduos quantificados

Dos centros de saúde em estudo, 5% não efectuam quantificação de resíduos. Porém, também
nenhum dos centros de saúde quantifica separadamente os grupos I e II e, no que se refere aos
grupos III e IV, apenas 45% o fazem. Os resíduos dos grupos III e IV não são quantificados em
32% dos estabelecimentos, em conjunto ou em separado, e os equiparados a urbanos, em 64%.
48

sim
não

45%

55%

Figura 23 – Separação de materiais para reciclagem

100
90
80
% Centros de Saude

70
60
50
40
30
20
10
0
cartão e vidro plásticos embalagens peliculas de pilhas e mercúrio outros
papel raio x baterias

materiais separados para reciclagem

Figura 24 – Materiais separados para reciclagem

A separação de materiais para reciclagem, é efectuada em 45% dos centros, sendo esta separação
apenas significativa para o caso das películas de raio X (32%) e papel e cartão (27%).

Nos centros com produção de resíduos radioactivos a sua separação é efectuada na fonte.

4.2.3. Circuito interno e armazenamento

Quanto aos resíduos do grupo III, o acondicionamento é efectuado conforme o despacho 242/96
em 54% das unidades, valor que aumenta para 82% em relação aos do grupo IV, atingindo os
100% para os materiais cortantes e perfurantes.
49
100

80

% Centros de Saude
60

40

20

herméticamente
manuseáveis

desinfectáveis
laváveis
estanques
resistentes
facilmente

mantêm-se

fechados
Figura 25 – Características dos contentores utilizados para
os resíduos perigosos dos grupos III e IV

Os contentores utilizados para os resíduos perigosos dos grupos III e IV, quando estes são de
utilização múltipla, têm as características necessárias em 67% dos centros de saúde.

4.2.4. Transporte, tratamento e destino final

Ao contrário do que se verifica para os hospitais os responsáveis pelo transporte dos resíduos
não são os responsáveis pelo tratamento.

O transporte dos resíduos dos grupos I e II está essencialmente a cargo das autarquias,
verificando-se ainda 5% sob responsabilidade dos centros de saúde, sendo em 100% dos casos o
tratamento da responsabilidade das autarquias.

Quanto aos resíduos do grupos III, os principais responsáveis pelo transporte e tratamento são: o
SUCH (36 e 37%), centros de Saúde (27 e 19%) e empresas de autoclavagem (23 e 24%). A
estas entidades cabe também o transporte e tratamento do grupo IV (SUCH (35 e 35%), centros
de Saúde (30 e 27%), empresas de autoclavagem (20 e 18%)).É de salientar o facto das
responsabilidades relativas ao transporte e tratamento do grupo III não serem coincidentes com
as do IV.
50

lixeira
aterro
23% incineração
27%
desconhecido

5%
45%

Figura 26 – Tratamento e destinos finais dos resíduos dos


grupos I e II – Percentagem dos centros de saúde inquiridos

autoclavagem
5%
5% 5% 22% incineração

não respondeu

deposição em vala
seguida de queima
aterro
63%

Figura 27 – Tratamento e destinos finais dos resíduos do


grupo III– Percentagem dos centros de saúde inquiridos

não respondeu

10% deposição em vala


5% seguida de queima
incineração

85%

Figura 28 – Tratamento e destinos finais dos resíduos do


grupo IV – Percentagem dos centros de saúde inquiridos

Verifica-se pela Figura 26 que a deposição em aterro é a solução maioritária usada pelos centros
de saúde, para os residuos dos grupos I e II, a qual representa 45% contra os 23% da deposição
em lixeira.
Quanto aos resíduos do grupos III, 63% dos centros de saúde usam a incineração e 22% usam
um tratamento alternativo, a autoclavagem (Figura 27). É de referir a situação precária em que se
51
encontram os resíduos de um centro de saúde que são depositados em vala seguidos de
queima. Os resíduos do grupo IV não são 100% incinerados. Para um dos centros de saúde o
destino é a deposição em vala seguida de queima (situação referida anteriormente) e 10% dos
responsáveis hospitalares não responderam acerca do seu destino (Figura 28).

Saliente-se também que apesar da diminuta amostra de centros de saúde foi detectado em três
dos inquéritos respondidos a existência de unidades de incineração a funcionar dentro dos
próprios centros e ainda uma unidade na qual os resíduos dos grupos III e IV são queimados a
céu aberto nas traseiras do centro. Observou-se que estas situações preocupam os responsáveis
pelas respectivas unidades que reconhecem que as condições são precárias, mas afirmaram não
possuirem condições de autonomia para lidar de outra forma com as situações.

4.3. Outras entidades

Os dados que se apresentam para as outras entidades devem ser considerados como indicativos,
pois são baseados em questões efectuadas a uma ou duas unidades de cada tipo.

A apresentação dos resultados é dividida em duas partes: primeiramente são apresentadas as


relações percentuais individuais, isto é, a percentagem relativa que cada um dos quatro grupos de
RH ocupa no total produzido; seguidamente é feita uma análise comparativa das quantidades
produzidas por utente em cada unidade.

4.3.1. Percentagens relativas dos grupos de RH

Nas Figuras 29 a 34 são apresentadas as percentagens relativas que cada grupo de resíduos
hospitalares ocupa no total produzidos pelas diferentes entidades.

Clínicas de Hemodiálise Centro de Enfermagem


Grupo II
Grupo IV Grupo I Grupo IV Grupo I
0%
0% 0% 14% 11%

Grupo II
Grupo III
34%
41%
Grupo III
100%

Figura 29 - Percentagens relativas para os resíduos das Clínicas de Hemodiálise e Centros


de Enfermagem
52

Laboratório de Análises Clínicas Laboratório de Patologia Clínica

Grupo IV Grupo I Grupo II


Grupo I Grupo II 6% 6%
Grupo IV 6%
4% 4%
3%

Grupo III
Grupo III 82%
89%

Figura 30 - Percentagens relativas para os resíduos dos Laboratórios de Análises Clínicas e


Laboratórios de Patologia Clínica

Posto médico de empresa Estomatologia /Medicina


dentária
Grupo IV Grupo I
Grupo IV
25% 25% Grupo I
5%
30%

Grupo III
Grupo III Grupo II 45%
25% 25% Grupo II
20%

Figura 31 - Percentagens relativas para os resíduos dos Postos médicos de empresas e


Consultórios de Estomatologia / Medicina Dentária

Ginecologia Oftalmologia
Grupo I
Grupo IV Grupo III Grupo IV
Grupo I 5%
0% 10% 5%
20%

Grupo II
Grupo III Grupo II
80%
60% 20%

Figura 32 - Percentagens relativas para os resíduos dos Consultórios de Ginecologia e de


Oftalmologia
53

Pediatria Radiologia

Grupo
IV Grupo IV Grupo I
Grupo II Grupo III
0% 0% 20%
20% 0% Grupo II
0%

Grupo III
Grupo I 80%
80%

Figura 33 - Percentagens relativas para os resíduos dos Consultórios de Pediatria e


Radiologia

Centro de Apoio a Centro de Alcoologia


Toxicodependentes
1%
Grupo III
1% 0%
Grupo II Grupo IV Grupo I
0% 0%
0% Grupo II
Grupo III
Grupo IV
98%
Grupo I
100%

Figura 34 - Percentagens relativas para os resíduos dos Centros de Apoio a Toxicodependentes e


Centros Regionais de Alcoologia

Como é possível verificar pelos gráficos, existe uma certa heterogeneidade em relação aos tipos
de resíduos produzidos pelas várias unidades, destacando-se, no entanto, a produção de resíduos
do grupo III.

O grupo I é o mais representativo para o caso dos centros de apoio a toxicodependentes, centros
de alcoologia e ainda nos consultórios da especialidade de pediatria. Nestas unidades, os lixos
produzidos são na sua maior parte resíduos equiparáveis a RSU, como papel, embalagens de
cartão, alguns materiais plásticos e no caso do CAT contactado, também resíduos orgânicos de
restos alimentares provenientes do sector de internamento.

Quanto aos resíduos classificados como do grupo II, apenas uma entidade os produz
maioritariamente, os consultórios de oftalmologia.
54
Nas clínicas de hemodiálise os resíduos provenientes das operações de diálise são do grupo
III, constituindo a quase totalidade de resíduos produzidos. Também nos centros de enfermagem,
laboratórios de análises clínicas e de patologia clínica e ainda em consultórios de
estomatologia/medicina dentária, ginecologia e radiologia, o grupo III é o mais representativo.

Os lixos do grupo IV são menos produzidos que os restantes, não se destacando em nenhuma das
entidades analisadas.

Em postos médicos de empresas todos os grupos de resíduos são equitativamente produzidos,


em termos percentuais. Note-se que se apurou que o tipo de resíduos produzidos nos postos
médicos não variam significativamente com o tipo de empresa.

4.3.2. Análise comparativa das produções

As quantidades de RH produzidas por cada uma das entidades encontram-se representadas nas
figuras 35, 36, 37 e 38, relativas aos resíduos dos grupos I, II, III e IV respectivamente.

600
500
Quantidades produzidas

500

400
(g / utente)

300

200

100
4 4,1 4 4 1,37 7,5 7,28 1,1 9,3 4
0
Clínicas de Centro de Laboratório de Laboratório de Posto médico Radiologia Ginecologia Oftalmologia Pediatria Medicina Centro Regional
Hemodiálise Enfermagem Análises Patologia de empresa Dentária / de Alcoologia
Clínicas Clínica Estomatologia

Entidades produtoras

Figura 35 - Comparação das produções de RH do grupo I

Dentro do grupo I há a destacar a produção pelo Centro Regional de Alcoologia, com


quantitativos muito superiores aos restantes. Esta situação deve-se ao facto desta unidade possuir
internamento (cerca de 20 camas) para tratamento de carácter psicoterapêutico. Dentro das
restantes unidades não existe nenhuma cujos quantitativos se destaquem.
55

20
17.5
18
Quantidade produzida
16
14
(g / utente)
12.3
12
10
7.28
8
6 5
4 4 4
4 4 2.3
2 1.37 0
0

Regional de
Enfermagem
Hemodiálise

Ginecologia

Oftalmologia

Estomatologia
Radiologia
Laboratório de

Laboratório de

Posto médico

Pediatria
Clínicas de

de empresa

Alcoologia
Centro de

Dentária /
Medicina

Centro
Patologia
Análises
Clínicas

Clínica
Entidade produtora

Figura 36 - Comparação das produções de RH do grupo II

Quanto ao grupo II, os quantitativos não são muito díspares, destacando-se os resíduos
produzidos nos consultórios de oftalmologia e centros de enfermagem. Pelas respostas a que se
teve acesso, nestas unidades são produzidas quantidades acima da média, principalmente em
embalagens e invólucros.

1200

1000
1000
Quantidade produzida

800
(g / utente)

600

400

200
80 60
30 21.84 45
14.5 1.37 2.18 0 1.66
0
Clínicas de Hemodiálise

Medicina Dentária /

Centro Regional de
Centro de Enfermagem

Laboratório de Análises

Patologia Clínica

Ginecologia

Oftalmologia

Pediatria
Radiologia
Posto médico de
Laboratório de

Estomatologia
empresa

Alcoologia
Clínicas

Entidade produtora

Figura 37 - Comparação das produções de RH do grupo III

No grupo III destacam-se, por uma grande margem, os quantitativos produzidos em clínicas de
hemodiálise, atingindo 1 Kg por hemodiálise, enquanto que nos restante casos a produção se
situa em algumas gramas. Os quantitativos nestas clínicas são similares aos registados nos
hospitais civis (nesse caso, cerca de 1,2 Kg /cama para o conjunto dos grupos III e IV, segundo
os dados apurados) e ultrapassam mesmo a produção em hospitais privados e militares, 0.9 e 0.2
Kg /cama.dia, respectivamente.
56
Dentro dos restantes produtores há ainda a salientar os Laboratórios de Análises Clínicas e
Patologia Clínica, respectivamente com uma produção de 80 e 60 g/utente.

5,2

5
4,25

4
Quantidade produzida

3
(g / utente)

2
1,37
1,1 1
1

0 0 0 0
0
Clínicas de Centro de Enfermagem Laboratório de Análises Laboratório de Posto médico de Radiologia Ginecologia Oftalmologia Pediatria Medicina Dentária /
Hemodiálise Clínicas Patologia Clínica empresa Estomatologia

Entidade produtora

Figura 38 - Comparação das produções de RH do grupo IV

No grupo IV, mais uma vez, não existem grandes diferenças de produção entre as entidades que
geram este tipo de resíduos; em clínicas de hemodiálise e consultórios de radiologia, ginecologia
e Pediatria, este tipo de resíduos não se produzem.

Na figura 39 é apresentado o conjunto de resultados para os quatro grupos. Através do gráfico é


possível visualizar melhor como os quantitativos do grupo III produzidos nas clínicas de
hemodiálise se destacam dos restantes.
57
1200
Grupo I Grupo II

Grupo III Grupo IV

1000
Quantidade produzida (g / utente)

800

600

400

200

0
Clínicas de Laboratório de Posto médico Ginecologia Pediatria Centro
Hemodiálise Análises de empresa Regional de
Clínicas Alcoologia

Figura 39 - Comparação das produções de RH dos grupos I. II, III e IV

Quanto às clínicas veterinárias, os resultados do inquérito elaborado não são directamente


comparáveis com as restantes entidades, já que nos outros casos se tem uma quantificação por
utente e, para este, essa unidade de medida não faz sentido.

No entanto, acrescente-se que por informações recolhidas junto de pessoas com competências
neste âmbito, a situação dos resíduos produzidos em unidades de cuidados a animais (pelo
menos em algumas zonas) é ainda bastante precária e sem controlo. Foi observado à margem do
inquérito elaborado para este estudo que a situação das clínicas veterinárias e principalmente de
outras unidades que lidam com animais deverá ser observada com mais atenção, o que não recai
no âmbito deste relatório mas que não deixa de ser salientado. A versão preliminar do Plano
Estratégico de Resíduos Hospitalares, elaborado pelos Ministérios da Saúde e do Ambiente,
aponta para o preenchimento de lacunas nesse sentido, sendo referido que a Direcção-Geral da
Veterinária se encontra presentemente a recolher dados sobre a situação deste sector.

Em relação à especialidade de radiologia, é de salientar que os resíduos específicos produzidos


são pertencentes a “fluxos especiais”. De acordo com o Catálogo Europeu de Resíduos (Decisão
da Comissão nº 94/ 3/ CE, de 20 de Dezembro de 1993) e Lista de Resíduos Perigosos (Decisão
58
da Comissão nº 94/ 904/ CE, de 22 de Dezembro de 1994), os resíduos constituídos por
películas e material fotográfico com ou sem prata estão classificados como não perigosos,
enquanto que os resíduos de banhos de fixação e de revelação, banhos de branqueamento e os
resíduos contendo prata provenientes do tratamento de resíduos fotográficos estão classificados
como perigosos. No entanto, a resposta ao inquérito realizado a esta especialidade, indiciou que
a legislação não se encontra muito explícita em relação a este ponto, e nem todos os responsáveis
por estas unidades têm o perfeito conhecimento do destino a dar aos resíduos perigosos
produzidos. As unidades individuais de triagem/ tratamento destes efluentes (com
aproveitamento da prata existente) existem mas não são acessíveis a todos os responsáveis, pelo
que é de esperar que se opte pelo lançamento dos efluentes nos esgotos municipais.

4.4. Unidades de tratamento

No Quadro XIII apresenta-se uma listagem das unidades de tratamento de resíduos hospitalares
identificadas pela Quercus e/ou constantes no Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares.
Como se pode ver, das 43 unidades de tratamento identificadas, 40 são de incineração, 2 de
autoclavagem e 1 de desinfecção química.

4.4.1. Aspectos legais

Presentemente, das 43 unidades existentes, apenas 2 se encontram licenciadas pela DGS, sendo estas
as de autoclavagem.

Acrescente-se, ainda, que as entidades proprietárias de unidades de tratamento ou de equipamentos


instalados e em funcionamento à data em vigor da Portaria nº 174/97 de 10 de Março deveriam
apresentar uma declaração à DGS para início do processo de licenciamento, dentro do prazo
estipulado. Findo esse prazo, a Quercus solicitou à DGS o envio da listagem dessas unidades, tendo
constatado que dos 40 incineradores actualmente existentes, apenas 12 apresentaram a declaração
exigida por lei (ver Quadro XIII).

Nenhum dos incineradores foi alvo de AIA , pelo que estão todos ilegais face ao estipulado no DL
nº186/90 de 6 de Junho. Também em relação ao DL nº352/90 de 9 de Novembro (Lei do Ar), estas
instalações estão todas ilegais, uma vez que não têm os pareceres obrigatórios do Instituto de
Meteorologia.
59
Quadro XIII – Listagem das unidades de tratamento existentes no país – Unidades
inquiridas, tipo de equipamento e conformidade com a legislação
Nome Concelho Tratamento Tipo de Apresentou a Tem
equipamento Declaração para Licenciamento?
licenciamento (P.
nº 174/97)?
Hospital de St.António Porto Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Reynaldo dos Vila Franca Incineração Estático Sim Não
Santos de Xira
Hospital Distrital.Pombal Pombal Incineração Estático Sim Não
Centro Hospitalar de Gaia Vila Nova de Incineração Estático Não Não
Gaia
Hospital Militar de Belém Lisboa Incineração Estático Sim Não
Hospital Distrital Espinho Espinho Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Beja Beja Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Portimão Portimão Incineração Desconhece-se Sim Não
Hospital Ortopédico Santiago Setúbal Incineração Estático Não Não
Outão
Hospital Distrital Guarda Guarda Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Fundão Fundão Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Santarém Santarém Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Bragança Bragança Incineração Estático Não Não
Hospital S.João Porto Incineração Pirolítico Sim Não
Hospital Psiq.Lorvão Penacova Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Dr.J.M Antunes Torres Vedras Incineração Forno Não Não
Júnior
Hospital U.Coimbra Coimbra Incineração Pirolítico Sim Não
Hospital Distrital Leiria Leiria Incineração Pirolítico Sim Não
Hospital Distrital Abrantes Abrantes Incineração Estático Não Não
Ordem.V.S.Francisco Porto Incineração Estático Não Não
H.Joaquim.Urbano Porto Incineração Estático Não Não
Maternidade Júlio Dinis Porto Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Aveiro Aveiro Incineração Estático Sim Não
H.Júlio de Matos Lisboa Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Ortopédico Santana Oeiras Incineração Desconhece-se Não Não
Hospital Distrital Guimarães Guimarães Incineração Pirolítico Sim Não
Hospital Distrital Macedo Macedo de Incineração Estático Não Não
Cavaleiros Cavaleiros
Hospital Distrital V.Castelo Viana do Incineração Estático Não Não
Castelo
Hospital Garcia de Orta Almada Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Distrital Fernado Amadora Incineração Pirolítico Não Não
Fonseca
Hospital Distrital Barreiro Barreiro Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Distrital Montijo Montijo Incineração Desconhece-se Não Não
Hospital Distrital Setúbal Setúbal Incineração Pirolítico Sim Não
Hospital Distrital T.Vedras Torres Vedras Incineração Estático Não Não
Hospital Distrital Portalegre Portalegre Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Distrital Viseu Viseu Incineração Pirolítico Não Não
Hospital Distrital Chaves Chaves Incineração Pirolítico Não Não
Casa.Saúde.Boavista Porto Incineração Estático Não Não
Hospital Stª Maria Porto Incineração Estático Não Não
Cannon Hygiene Desinf.química Sim Não
Ambimed Barreiro Autoclavagem Sim Sim
Tratolixo Cascais Autoclavagem Sim
A sombreado estão as unidades inquiridas pela Quercus

4.4.2. Condições de tratamento


60
a) Incineração

Os incineradores existentes estão todos localizados em unidades de prestação de cuidados de saúde,


na maioria em meio urbano. Esta localização não é a apropriada para unidades de tratamento de
resíduos perigosos, pelo que o seu licenciamento é aparentemente inviável.

Na cidade do Porto, conforme já foi referido, foram identificados 7 incineradores os quais se


encontram inseridos em zona densamente urbanizadas, estando alguns deles localizados mesmo no
centro da cidade, estando 3 destes incineradores instalados em hospitais privados.

Estas unidades de prestação de cuidados de saúde privadas, devido a diversos motivos, entre os quais
a ausência de fiscalização da legislação sobre qualidade do ar e a inexistência de soluções
alternativas na região, procedem à incineração dos seus resíduos contaminados em incineradores que
não cumprem nenhum dos requisitos exigidos pela legislação, não possuindo qualquer tipo de
equipamento de tratamento dos efluentes gasosos, não efectuando qualquer controlo dessas emissões
e laborando a temperaturas da ordem dos 800oC.

Em termos nacionais, os dados obtidos pela Quercus através dos inquéritos e recorrendo a elementos
fornecidos pelo SUCH, indicam que cerca de 60% dos 40 incineradores existentes não possui
termoreactor, não atingindo a temperatura de 1100ºC prevista na legislação.

Este tipo de incineradores, designados por estáticos (ver Quadro XIII), não possuem uma segunda
câmara de combustão para queima dos gases, pelo que os efluentes gasosos não atingem a
temperatura de 1100oC exigida por lei. Estes incineradores estão normalmente instalados em
unidades de saúde privadas ou em hospitais públicos de menor dimensão que não possuem condições
para fazer uma adequada incineração dos resíduos.

Os incineradores pirolíticos são aqueles que possuem o termoreactor (segunda câmara de combustão)
e funcionam normalmente em hospitais centrais que recebem os resíduos das unidades de saúde da
região, abrangendo áreas consideráveis.

Em relação ao tratamento dos efluentes gasosos verificou-se que nenhum dos 20 incineradores
visitados possui um adequado sistema de tratamento e nenhum faz a monitorização das emissões
gasosas. Esta situação deverá acontecer em todos os 40 incineradores existentes, com excepção do
que está instalado no Hospital de Júlio de Matos.
61

Em relação às cinzas volantes, o seu destino normal é o aterro ou lixeira municipal, quando deveriam
ser previamente inertizadas e colocadas em aterro para resíduos perigosos.

b) Autoclavagem

Como já foi referido, existem duas unidades de autoclavagem que possuem uma significativa
capacidade instalada (no conjunto 40 a 44 t/dia), mas infelizmente estão a usá-la muito abaixo das
suas potencialidades, uma vez que a grande maioria dos resíduos do Grupo III continua a ser
incinerado.

Segundo os elementos apurados, a unidade da Ambimed & Athisa tem capacidade para laborar 20
t/dia, mas processa apenas 4,9 t/dia de resíduos do Grupo III, enquanto que a Tratospital com a
mesma capacidade instalada processa 5 t/dia. Destes dados pode-se concluir que estas unidades estão
a utilizar apenas 25% da sua capacidade instalada.

Ao contrário dos incineradores existentes, as unidades de autoclavagem da Ambimed & Athisa e da


Tratospital não estão localizadas em unidades de prestação de cuidados de saúde, mas sim num
parque industrial e num complexo de tratamento de resíduos respectivamente. Esta localização foi
um factor que facilitou o licenciamento destas unidades.

Do ponto de vista tecnológico as unidades de autoclavagem diferem essencialmente no que se refere


à trituração dos resíduos. Enquanto que a unidade da Ambimed possui um sistema de trituração e
compactação dos resíduos a jusante do processo de autoclavagem, a Tratospital não possui sistema
de trituração uma vez que está localizada junto a um aterro sanitário, não tendo, por isso, necessidade
de reduzir o volume dos resíduos por causa dos custos do transporte.

b1) Ambimed & Athisa

A unidade de tratamento por autoclavagem da empresa Ambimed & Athisa está situada no
parque industrial da Quimiparque no Barreiro, estando em laboração desde 1996.

A empresa procede ao transporte e tratamento dos resíduos. Para a operação de transporte


fornece aos produtores contentores de plástico (polipropileno) de 60 litros reutilizáveis,
estanques e com tampa hermética.
62

Para proceder ao transporte dos resíduos a empresa dispõe de veículos ligeiros e pesados com
caixa fechada e isotérmica.

A unidade está equipada com uma câmara de refrigeração, constituída por painéis de poliuretano

injectado a alta pressão, lacados em ambas as faces, e com uma capacidade total de 40 m3. Esta
câmara refrigerada, é utilizada para o armazenamento temporário dos contentores do grupo IV
que aguardam formação de lotes para transporte e encaminhamento para incineração.

A unidade de autoclavagem é constituída por duas autoclaves Matachana Serie 2000 RBE. Estas

autoclaves funcionam com vapor saturado, a uma pressão máxima de 3 kg/cm2 e a uma
temperatura de 134ºC.

Possuem sistemas de segurança, com recomeço obrigatório do ciclo de tratamento em caso de


alguma falha num parâmetro técnico no processo de descontaminação.

Para além destas características comuns os dois autoclaves distinguem-se pelos parâmetros
indicados no Quadro XIV.

Quadro XIV- Características dos autoclaves da Ambimed & Athisa


Modelo 1830 5630
Carga útil 1312 litros 4051 litros
Capacidade por ciclo 250 kg 750 kg
Capacidade útil de
tratamento diária 5 a 6 toneladas 15 a 18 toneladas

O autoclave modelo 5630 possui ainda um microprocessador para comando e controle geral da
operação.

A monitorização sistemática de todos os ciclos, é executada inserindo no interior da carga a


descontaminar indicadores biológicos em ampola, constituídos por tira de papel impregnadas por
esporos dissecados de Bacilus Stearothermofilus que após o processo de autoclavagem são
incubados em meio de cultura. Após o tempo de revelação do teste são interpretados os
63
resultados do indicador para comprovar a morte dos referidos esporos quando sujeitos às
condições ambientais da operação de tratamento.

Para tratamento dos efluentes gasosos a unidade possui um filtro HEPA.

A unidade possui um digestor para tratamento de condensados (efluente proveniente dos ciclos
de tratamento) por esterilização a 135ºC durante 10 min.

De forma a reduzir o volume dos resíduos resultantes do tratamento de descontaminação


biológica a unidade possui um sistema de trituração e de compactação. Este sistema juntamente
com o processo de autoclavagem permite uma redução de 80% do volume dos resíduos.

O sistema de trituração inclui um triturador principal de 1,1 kw, de dois eixos e com facas de 50
mm. 120 cv de potência, trifásico reversível, com baixa velocidade de corte (23 a 34 rpm) e
baixo nível de ruído. Possui ainda um triturador de reserva de 1,1 kw, com grelha de 30/40 mm
de lâminas de 19 mm, baixa velocidade de corte e baixo nível de ruído.

O sistema de compactação é constituido por um compactador do tipo posto fixo, ORDUMAT

GSP 2-28, com capacidade máxima de 173 m3/h, e potência de 28 Ton, funcionamento
hidráulico e com uma pressão de trabalho de 185 bar. Possui um contentor acopolável fechado,

com uma capacidade geométrica de 20 m3. Depois de descontaminados por autoclavagem e


triturados, os resíduos são removidos neste contentor para o aterro sanitário da Amarsul na Moita

b2) Tratospital

A unidade de tratamento por autoclavagem da Tratospital está integrada no complexo onde se


situa a Central Industrial de Tratamento de Resíduos Sólidos e o Aterro Sanitário de Trajouce em
Cascais, estando em laboração desde 1998.

A empresa procede ao transporte e tratamento dos resíduos. Para a operação de transporte são
utilizados contentores herméticos, construídos em material plástico, reutilizáveis, com
capacidade de 80 e 95 litros, reutilizáveis, estanques e com tampa hermética.
64
Como resultado da inexistência generalizada de instalações de armazenamento temporário,
nos locais de produção, que cumpram o disposto na legislação, nomeadamente quanto às
condições de refrigeração, a Tratospital optou pela introdução de um sistema complementar à
contentorização. Este sistema, aplicável em grandes produtores, garante uma armazenagem

temporária em armazéns móveis autónomos refrigerados, com aproximadamente 30m3 de


volume útil, que são colocados nas unidades de saúde. Estes armazéns são recolhidos e
transportados até à unidade de descontaminação em Trajouce.

A unidade de autoclavagem é constituída por 2 autoclaves (com espaço para uma terceira) com
duplo corpo integral, envolvendo a câmara de esterilização na totalidade, de forma a garantir
maior eficácia no aquecimento e uniformidade na distribuição da temperatura no seu interior.

Possuem duas portas deslizantes na horizontal de funcionamento automático, com dispositivos


de segurança mecânicos de modo a garantir que a sua abertura, mesmo que eventual, nunca
possa ser simultânea nem possa ocorrer durante a execução de um ciclo de trabalho.

A câmara de esterilização é construída em Aço Inox, montada horizontalmente e com drenagem


de condensados para o esgoto, com circulação de vapor a todas as zonas da carga.

O autoclave pode operar com vapor saturado a temperaturas até 138ºC e pressão não superior a
3,0 bar, proveniente da rede de vapor, bem como para operar em vácuo.

Em relação a performance e controlo, a unidade está equipada com um microprocessador


electrónico de modo a assegurar um processo reprodutível com variação de carga. As variações
de pressão e temperatura são medidas continuamente pelo microprocessador e este reage
instantâneamente a estas mudanças de forma a que o ciclo decorra rigorosamente da forma como
foi definido.

A monitorização sistemática de todos os ciclos, é efectuada genericamente da mesma forma que


na unidade da Ambimed & Athisa, ou seja recorrendo a um indicador constituído por esporos de
Bacilus Stearothermofilus.
65
Os resíduos depois de descontaminados são enviados para o aterro sanitário de Trajouce que
é adjacente à unidade de autoclavagem, razão pela qual a Tratospital, não instalou um
equipamento de trituração e compactação.

Para prevenir a libertação para o ambiente de microrganismos durante a fase de remoção do ar, o
autoclave está equipado com um sistema de filtragem com filtros cerâmicos.

Para prevenir a descarga de condensados contaminados o autoclave está equipado com uma
câmara de recolha dos mesmos, seguida posteriormente por esterilização dos referidos
condensados.

A unidade possui sistemas de segurança para evitar problemas com diversas operações, situações
e parâmetros de funcionamento, como:
- Interrupção do fecho das portas no caso de anomalia;
- Falhas de ar comprimido, vapor e energia;
- Avarias de sondas de temperatura e de transdutores de pressão;
- Controlo da pressão do duplo corpo (camisa);
- Impedimento da libertação de microrganismos vivos para o ambiente;
- Controlo da pressão da câmara de esterilização;
- Impossibilidade de abertura da porta de descarga antes da indicação de ciclo completo;
- Dificuldade de abertura das portas devido a alteração das condições de pressão atmosférica no
interior da câmara por falha de energia;
- Impossibilidade de alteração da temperatura seleccionada para o ciclo activo, após o início do
mesmo;

c) Desinfecção química

A empresa Cannon Hygiene procede à desinfecção química de resíduos do Grupo III e dedica-se
aos pequenos produtores de resíduos, nomeadamente postos médicos, centros de enfermagem e
alguns hospitais. Apresentou pedido para licenciamento, mas ainda não o obteve.

Esta empresa coloca contentores nas unidades de produtores de resíduos hospitalares destinados
à recolha de resíduos do Grupo IV e ao tratamento dos resíduos do Grupo III.
66
Para agulhas, seringas e outros materiais cortantes ou perfurantes (Grupo IV) são fornecidos
contentores de 4 litros, 6,5 litros e 12 litros que são selados nas instalações dos produtores e
posteriormente incinerados. Estes contentores estão de acordo com a norma TSS/330015 da
DHSS e a regulamentação da Health and Safety Executive do Reino Unido.

Para pensos de tratamento, cirúrgicos, de incontinência e descartáveis (Grupo III) são fornecidos
contentores de 80 litros de capacidade e que contêm no seu interior 3 litros de germicida. Estes
contentores são substituídos regularmente e recolocados após tratamento e desinfecção.

O desinfectante utilizado é o SEPTANIN 0,1 que segundo a empresa tem as seguintes


características técnicas:
- É um germicida poderoso, rápido e de largo espectro biocida, e é efectivo a lidar com
patogénicos e organismos que criam maus cheiros
- O controle da qualidade deste germicida é feito regularmente pela empresa de acordo com as
regras de Health & Safety Executive (Reino Unido)
- Destrói o H.B.V., tanto na fase de vapor como líquida, durante os dias em serviço e a todos os
níveis de enchimento
- Destrói o H.I.V., Mycrobacterium tuberculosis e bactérias vegetativas

4.4.3. Custos do tratamento

Verificou-se que os custos do tratamento dos resíduos hospitalares é muito variável para qualquer das
tecnologias utilizadas. No entanto, pode-se concluir que a autoclavagem é ligeiramente mais barata
do que a incineração, apesar de esta ser feita a baixos custos por não possuir sistemas de controle da
poluição (ver Quadro XV).

Quadro XV: Custos de transporte e tratamento dos resíduos hospitalares


Custos de Transporte e Tratamento ($/kg)
Máximo Mínimo Média
Incineração 198 76 124
Autoclavagem 145 88 113

O custo da incineração de resíduos hospitalares perigosos em condições ambientalmente correctas é


elevado e com tendência para aumentar, devido às crescentes exigências ambientais, justificando-se
67
assim, por razões económicas que, no futuro, apenas se utilize esta tecnologia para os resíduos
de incineração obrigatória (Grupo IV).

5. CONCLUSÕES

Os dados que serviram de base a este estudo foram recolhidos entre o início de 1997 e Junho de
1998, pelo que, atendendo à rápida evolução que se está a verificar ao nível da gestão dos resíduos
hospitalares, alguma da informação referida neste relatório poderá já estar desactualizada. No
entanto, apesar desta condicionante, consideramos ser possivel apresentar as seguintes conclusões:

- Existe ainda muito espaço para redução dos quantitativos de resíduos a necessitarem de
tratamento especial (contaminados), uma vez que se observou com frequência a colocação de
resíduos não contaminados nos contentores para os Grupos III e IV;
- A triagem dos resíduos contaminados ainda tem de ser muito melhorada para se atingir uma
qualidade aceitável. Com efeito 41% dos hospitais ainda não fazem a separação entre o Grupo III e
IV;
- Para os hospitais que fazem a separação entre GIII e GIV, o valor médio do GIV em relação ao
total dos contaminados é de 14%, o que é um valor muito elevado se considerarmos que, com uma
triagem correcta esse valor é de 5%. Estes dados indicam também que é necessário melhorar a
qualidade da triagem dos resíduos contaminados;
- Relativamente ao desempenho dos hospitais quanto à gestão dos resíduos, consideram-se como
parâmetros fundamentais: o tratamento dos resíduos do Grupo III, a separação entre os Grupos III e
IV e a recolha selectiva de materiais para reciclagem. Da análise do quadro resumo apresentado no
Anexo V, conclui-se que a situação ainda está muito aquém do desejável;
- É possível, através de programas de formação intensos, conseguir num espaço de meses que um
hospital de grandes dimensões proceda à triagem correcta dos resíduos;
- As quantidades de resíduos a necessitarem de incineração (Grupo IV) são bastante reduzidas pelo
que não se justifica, à partida, a existência de mais do que um incinerador em Portugal Continental;
- A situação dos sistemas de tratamento de resíduos hospitalares é bastante diversa. Enquanto que
todos os incineradores estão a funcionar à margem da lei, as duas unidades de autoclavagem
existentes já se encontram licenciadas;
- Os incineradores existentes, tirando uma única excepção, não procedem ao tratamento dos
efluentes gasosos nem à monitorização da sua qualidade;
68
- Enquanto que as unidades de autoclavagem estão a funcionar muito abaixo da sua
capacidade instalada, o grupo III que poderia ser tratado por autoclavagem ou por outra tecnologia
alternativa ainda continua a ser maioritariamente incinerado.

Em relação aos centros de saúde, dado o pequeno universo estudado (22 inquiridos em 364
existentes), apenas são apresentados os dados obtidos:

- Um terço dos centros de saúde não quantifica os resíduos contaminados


- Apenas 45% dos centros quantifica os resíduos contaminados separadamente
- 18% dos centros possuem unidades de queima dos resíduos que funcionam dentro dos
próprios centros e de forma ilegal, constituindo uma fonte de poluição atmosférica (a
Direcção Geral de Saúde tem vindo a mandar encerrar estas unidades de queima, pelo que a
situação actualmente deverá estar muito melhorada)
- 63% dos centros de saúde enviam os residuos do grupoIII (risco biológico) para incineração,
22% para autoclavagem, 5% para aterro e 10% para outros destinos

Em relação aos outros tipos de produtores de resíduos hospitalares há a realçar os seguintes


aspectos:

- Os resíduos do Grupo III (resíduos de risco biológico e passíveis de tratamento alternativo à


incineração), tal como nos hospitais, são largamente a principal componente dos resíduos
contaminados, pelo que na estratégia de gestão destes resíduos deve ser dada prioridade aos
tratamentos alternativos à incineração
- Os centros de hemodiálise são produtores importantes de resíduos do Grupo III que constitui
cerca de 99% dos resíduos ali produzidos (incluindo os resíduos não contaminados)
- Foram obtidas estimativas da produção de resíduos para os diversos tipos de unidades
69

6. PROPOSTAS DA QUERCUS

Atendendo à situação encontrada e tendo em consideração a urgência da sua resolução, considera-se


ser prioritário tomar as seguintes medidas:

Até Junho de 1999:

- Encerramento de 1/3 dos incineradores existentes, dando prioridade aos que estejam em pior estado
de funcionamento
- Realização de um conjunto significativo de acções de formação sobre gestão de resíduos
hospitalares
- Redução em 1/3 dos resíduos do GIII actualmente enviados para incineração
- Colocação de ecopontos em 1/3 dos hospitais públicos e privados com mais de 150 camas

Até Dezembro de 1999:

- Encerramento de 2/3 dos incineradores actualmente existentes


- Redução em 2/3 dos resíduos do Grupo III actualmente enviados para incineração
- Redireccionamento de todo o GIII para aproveitamento máximo da capacidade instalada das
unidades de descontaminação biológica actualmente existentes
- Colocação de ecopontos em 2/3 dos hospitais públicos e privados com mais de 150 camas
- Assegurar as condições necessárias para que os resíduos do Grupo III gerados na região Norte
possam ser enviados para uma unidade de descontaminação biológica
- Entrada em vigor de alterações ao Despacho nº242/96 de 13 de Agosto, de forma a só serem
incinerados os resíduos contaminados que não tenham tratamento alternativo. O destino dos restantes
resíduos como as peças anatómicas identificáveis poderá ser a inumação, enquanto que os corto-
perfurantes deverão ser autoclavados com trituração
70

Até Junho de 2000:


- Entrada em funcionamento de incinerador nacional só para resíduos do Grupo IV
- Colocação de ecopontos em 100% dos hospitais públicos e privados com mais de 150 camas
- Encerramento de 100% dos incineradores actualmente existentes
- Proibição da incineração de resíduos do Grupo III através de alterações ao Despacho nº242/96 de
13 de Agosto

7. BIBLIOGRAFIA

 “Curso Prático - Gestão de Resíduos Hospitalares: Esquemas de Triagem, Tecnologias de


Eliminação e Adequação às Unidades”, ITA, Lisboa, 23 de
Maio de 1997
 Dados sobre a gestão dos resíduos hospitalares em Portugal fornecidos pelo Ministério da Saúde -
Direcção Geral da Saúde
 Decreto-Lei nº 186/90 de 6 de Junho de 1990
 Decreto-Lei nº 352/90 de 9 de Novembro
 Decreto-Lei nº 310/95 de 20 de Novembro de 1995
 Despacho nº 16/90 de 21 de Agosto de 1990
 Despacho nº 242/96 de13 de Agosto de 1996
 FARIA, A.Lobato - “Vigilância Sanitária de Resíduos Sólidos”, Lisboa
 INR/DGS - “Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares”, Julho 1998
 OMS - “Management of waste from hospitals and other health care establishements: report on
WHO meeting”, Bergen, 28 June-1 July 1983/OMS-Copenhagen
 Portaria nº 174/97 de 13 de Março
 RHODES, David - “The Health Industry - A Report on Medical Wastes”
 VIEIRA, Pedro - “Lixos Hospitalares: Ignorância de alto risco”, in Forum Ambiente, Maio de
1996
EQUIPA TÉCNICA
Realização dos inquéritos e
Coordenação: colaboração na elaboração do
Rui Berkemeier e Sandra Mesquita, relatório final:
engenheiros do ambiente colaboradores (Alunos do Curso de Engenharia do
do Centro de Informação de Resíduos da Ambiente da Faculdade de Ciências e
Quercus. Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa:)
Apoio técnico na fase de arranque do  Carla Esteves
 Filipa Cândido
projecto e na elaboração dos
 Patrícia Ribeiro
inquéritos:  Sandra Aparício
 Susana Ferreira
- Prof. Dr. Francisco Ferreira, Presidente
da Quercus e docente na Faculdade de
Realização de inquéritos a hospitais
Ciências e Tecnologia da Universidade
na região Norte:
Nova de Lisboa
(Alunos do Curso de Engenharia do
- Prof. Dr. José Manuel Palma, ex-
Ambiente da Escola Superior de
Presidente da Quercus e docente na
Biotecnologia da Universidade Católica
Faculdade de Psicologia da Universidade
Portuguesa coordenados pelo Dr. Rui
de Lisboa
Morais)
- Ana Carvalho
Recolha de documentação e - Luís Trinta
elaboração dos inquéritos para as - Nuno Pires
entidades produtoras de R.H. e - Paulo Fonseca
unidades de tratamento: - Paulo Nuno Malho Guedes
 Alexandra Margarida Eusébio - Rute Neves
 Ana Paula Diogo Ramos - Sandra Gabriel
 Ana Sofia Correia dos Santos - Silvia Faia
 Carla Graça - Silvia Lourenço
 Luis Filipe Antunes
 Marília Costa Lúcio Apoio administrativo:
 Sara Fernandes
 Sofia Gomes Vilarigues  Conceição Lopes, secretária da Direcção
Nacional da Quercus
AGRADECIMENTOS

Ao Eng. José Socrates, ex- Secretario de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente, pelo
esforço desenvolvido na concretização do apoio financeiro a este estudo.

Ao Dr. Charles Buchanan, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, pelo


esforço desenvolvido na concretização do apoio financeiro a este estudo.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, por ter possibilitado


a participação neste estudo dos seus alunos do curso de Engenharia do Ambiente.

A Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa por ter possibilitado


a participação neste estudo dos seus alunos do curso de Engenharia do Ambiente.

A Prof. Dra. Margarida Silva da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica


Portuguesa pelo apoio prestado a este estudo, no âmbito da cadeira de Seminário do Curso
de Engenharia do Ambiente.

À Dra Elaine Pina, da Associação Portuguesa de Infecção Hospitalar, pelo apoio dado no
lançamento deste estudo e na definição da estrutura dos inquéritos.

Ao Eng. Telmo Morna e à Enga Ana Teresa Santos, da empresa Ambimed & Athisa, S.A.,
pelo apoio técnico prestado.

Ao Eng. Carlos Dowens, à Dra Carmo Oliveira e à Enga Cláudia Spranger, da empresa
Tecnologias Ambientais do Grupo Império, pelo apoio técnico prestado.

À Dra Maria Portugal, da Direcção Geral de Saúde, pelo apoio técnico prestado.

À Direcção Geral de Saúde pelo apoio institucional cedido

Você também pode gostar