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Guia Ef Leituraforadacaixa
Guia Ef Leituraforadacaixa
PNBE na escola : literatura fora da caixa / Ministério da Educação ; elaborada pelo Centro
de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. – [Brasília :
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2014].
3 v.
ISBN: 978-85-7783-155-5
CDU 028.1(036)
Tiragem
Guia 2 – PNBE: Literatura fora da caixa – Anos iniciais do Ensino Fundamental
651.860 exemplares
Sumário
7 A pres en tação
Ministério da Educação
9 i ntro d ução
Magda Soares
Aparecida Paiva
79 PNBE 20 1 4
Obras selecion adas
7
Apresentação
1
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001878.pdf
2
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/literatura_na_in-
fancia.pdf
3
Disponíveis em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar-
ticle&id=16896&Itemid=1134
4
Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?cate-
goria=117
8
introdução
Você tem em mãos o guia dos anos iniciais leitora, apresentamos a você um conjunto de
do Ensino Fundamental do PNBE 2014. Este textos que representam os gêneros selecionados
volume é um dos dos três guias que serão dis- para o acervo: prosa, verso, imagem e história
ponibilizados pelo MEC para acompanhar os em quadrinhos.
acervos selecionados pelo Programa Nacional
Biblioteca da Escola. Além deste guia, foram Divisão interna do Guia
produzidos mais dois: um para a Educação In-
Cada um dos textos, impressos após a apre-
fantil e um para a Educação de Jovens e Adultos,
sentação deste guia, foi planejado especialmente
segmentos contemplados por esta edição do
para você, mediador de leitura; são textos escri-
Programa. Esperamos que você, de posse deste
tos em linguagem simples e direta onde cada au-
guia, tenha uma oportunidade concreta de cres-
tor(a) procura discutir as especificidades de cada
cimento como mediador(a) de leitura literária
gênero, abordando obras que o representam, no
na escola e de enriquecimento de sua formação
intuito de que essas leituras funcionem como
como leitor de literatura, o que, acreditamos, o
exemplos e incentivo para a apropriação dos
ajudará a dar um novo significado às práticas
acervos pelos mediadores de leitura, de forma
de leitura literária com seus alunos, em sala de
a enriquecer as atividades de leitura na escola.
aula, ou na biblioteca escolar.
Além desses textos básicos, há, ao final de
Nosso propósito com esse “guia”, esse ma-
cada guia, a relação de todos os títulos selecio-
terial de apoio, é possibilitar a você um acesso
nados no PNBE 2014, separados por segmento,
dialogado ao universo literário das obras que
categoria e gênero. Esperamos, com esse nosso
constituem os acervos do PNBE 2014, propon-
esforço, duas coisas: socializar com você os livros
do orientações de uso desses acervos na escola,
selecionados no PNBE 2014, a fim de que você
pelos professores e pelos profissionais que atuam
possa usufruir desse acervo como leitor(a) de
nas bibliotecas escolares, com apresentação e
literatura, independente do segmento em que
discussão pedagógica de gêneros, autores, temá-
atue, provocando em você o desejo de lê-los
ticas, competências literárias e outras formas de
e compartilhá-los com seus alunos. Por outro
conhecimento e apreciação das obras.
lado, esse nosso movimento de apresentar visu-
Assim, além dessa apresentação inicial,
almente, ao final de cada guia, todo o acervo do
que explicita nosso desejo de contribuir efe-
PNBE 2014 também pretende fomentar uma
tivamente com a circulação e leitura das obras
curiosidade nos mediadores de leitura, assim
que compõem os acervos do PNBE 2014, e,
como uma maior circulação das obras na escola,
de modo muito especial, com sua formação
10
1
Se você quiser saber mais sobre o PNBE, como por exemplo sua história, processo de
seleção e constituição de acervos, cf. FNDE: http://www.fnde.gov.br/ e cf. PAIVA,
Aparecida (org.). Literatura fora da caixa: O PNBE na escola – distribuição, circulação e
leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
11
desde sua criação. Muitas vezes, os professores de não contemplado pelas editoras. No entanto, é
escolas menores, que recebem uma quantidade uma produção importante, porque já na creche
2
Ao final deste guia, você encontrará a relação completa de todos os acervos do
PNBE 2014.
13
no PNBE, pela sua editora, até a sua seleção para compor o acervo do Pro-
grama e posterior aquisição pelo FNDE para distribuição, ele, finalmente,
chega à escola. Se há dados seguros dessa distribuição, como você pôde
observar no início desta introdução, o mesmo não podemos dizer da sua
recepção, circulação e uso nas escolas públicas do País. Com menos segurança
ainda podemos elencar ações que viabilizam a formação de professores e
de profissionais que atuam nas bibliotecas escolares para o reconhecimento
do potencial da literatura disponibilizada e suas possibilidades formativas e
educativas no cotidiano escolar, em especial, na sala de aula e na biblioteca.
Mas por acreditar na qualidade literária destes acervos, nosso papel
inclui um desejo de divulgação dos acervos do PNBE, e por isso chega
até você este material de apoio, para que os profissionais responsáveis pelo
processo de mediação de leitura na escola dele se apropriem e depois
façam circular os conhecimentos.
Assim, nossa expectativa é a de que você, que está lendo esse guia – o
que certamente indica que os acervos do PNBE chegaram em sua escola –,
se envolva nesse processo, da forma mais colaborativa possível. Nessa
perspectiva, vamos apresentar, desde já, algumas sugestões que podem
ser implementadas na escola.
Chegada e presença
dos livros na sua escola
Sugerimos que você reflita inicialmente sobre algumas questões:
• Os acervos do PNBE estão em minha escola? Onde?
• Foi feita ou vai ser feita divulgação sobre a chegada desses acervos
na escola?
• É ou será desenvolvido algum trabalho de mediação com esses
acervos?
• Os acervos do PNBE têm sido postos à disposição dos alunos e
têm sido procurados por eles?
Essas são algumas questões que podem nortear a ação coletiva dos me-
diadores de leitura no espaço escolar. E veja que estamos falando de espaço
escolar, porque acreditamos que a voz do docente não pode ser isolada, todos
são mediadores de leitura, os professores, os profissionais da biblioteca, os
gestores, enfim, os diferentes mediadores de leitura do contexto escolar são
aqueles que detém o poder de fazer o livro circular. Se os mediadores se
propõem a conhecer os acervos do PNBE, suas características e potenciali-
dades, e se o trabalho for coletivo, tanto será mais fácil naturalizar, valorizar
positivamente a atividade da leitura junto aos leitores iniciantes. O espaço
escolar, então, passaria a ser concebido como privilegiado para as atividades
de leitura. Enfim, se os próprios mediadores intensificarem suas práticas de
leitura, o livro de literatura poderá ocupar o centro da escola.
15
Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas. Professora adjunta e pesquisadora
1
para comemorar determinadas datas, transmitir não se preocupe porque isso pode ser mudado.
lições de moral, inculcar determinados valores, Abra seus olhos e o seu coração para conhecer
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
ensinar gramática, medir as sílabas, responder esse belíssimo acervo e embarque com a turma
questões objetivas de reprodução do texto, cir- nessa aventura literária.
cular substantivos, adjetivos ou verbos entre A leitura é o seu passaporte!
outras atividades óbvias, mecânicas e desesti-
mulantes, tendo muitas vezes o livro didático Memorial de versos
como principal intermediário.
Sugerimos o registro de todo esse trabalho
Apesar dessas constatações frustrantes, é pre-
de leitura, a ser desenvolvido ao longo do ano
ciso sublinhar que também existem professores
letivo em cada classe, em um livro ou caderno
fazendo trabalhos significativos com o gênero
grande intitulado Memorial de Versos. Esse Me-
no contexto escolar. Essas práticas concretizadas
morial, que pode ser confeccionado artesanal-
por alguns professores fazem a diferença e se
mente e ilustrado pelas mãos da própria turma,
tornam inesquecíveis na vida de seus alunos.
registrará depoimentos, comentários, desenhos,
Considerando a infância como o momento
impressões, poemas, entre outros, durante o pro-
essencial de jogos e brincadeiras, ludismo e fan-
cesso de leitura dos livros do acervo e poderá
tasia (BORDINI, 1986; KIRINUS, 1998); a im-
fazer parte da exposição de Antologias Poéticas a
portância da poesia na educação do ser humano;
serem feitas pelos alunos e apresentadas a toda
o fato de que para milhares de crianças brasileiras
comunidade escolar em um evento de encer-
o contato com a poesia ocorre apenas na escola;
ramento das atividades que vamos recomendar
a escolarização incorreta da literatura nos livros
mais adiante: um Sarau poético. No final, você
didáticos (LAJOLO, 2002; SOARES, 2006) e a
terá nesse Memorial um valioso documento
necessidade urgente de uma escolarização correta
para avaliar o trabalho realizado e planejar sua
desse gênero (SOARES, 2006), estamos trazendo
continuidade no próximo ano escolar.
esta proposta para colocarmos a poesia no lugar
de honra que ela merece ocupar na escola.
Você, professor, é a figura principal para Memória de versos nas cantigas de roda
fazer a aproximação entre os textos em versos Para resgatar a experiência dos alunos com
que compõem o PNBE/2014 e os seus alunos. textos em versos, num primeiro momento, pro-
Por isso, antes de iniciar as atividades indicadas, ponha uma brincadeira de roda para aflorar a
procure resgatar e escrever as suas memórias de memória e a vivência das cantigas de roda pre-
leitura (cf. LAJOLO, 2005, p.39) e identificar sentes no cotidiano das crianças. Os alunos, de
os textos em verso mais marcantes. Lembre-se mãos dadas em forma de um círculo, giram em
que cantigas de roda, parlendas, trava-línguas, sentido horário cantando músicas folclóricas de
poemas, quadras e adivinhas – considerados roda como, por exemplo,“Ciranda, Cirandinha”.
textos em verso nesse acervo – fazem parte das Uma música puxa a outra e, assim, os versos
brincadeiras infantis e de nossa experiência com memorizados vão surgindo nessa brincadeira
a função poética da linguagem (CADEMAR- lúdica com as cantigas de roda. Depois dessa
TORI, 2009, p.116-117). Recorde-se dos versos atividade, convide os alunos para registrarem
que fizeram parte de sua infância, adolescência essas cantigas juntos no Memorial de Versos.
e juventude, e como eles foram (ou não) traba- O objetivo desta atividade é conhecer o
lhados na escola. Não importa qual tenha sido repertório de textos em versos dos alunos para
suas experiências com esse gênero, positivas ou ampliá-lo por meio do acervo do PNBE/2014,
negativas, procure registrá-las. Se o seu contato a fim de que eles possam se aproximar da lingua-
com o gênero foi pequeno ou insignificante, gem poética, compreender e gostar de ler poesia.
19
os alunos, é preciso criar oportunidades para da clássica obra de poesia infantil Jardim de versos
os professores e outros mediadores da esco- de uma criança (1885).
la conhecerem os livros por fora (capa, título, O acervo do PNBE 2014 apresenta ainda
autores, orelhas, quarta capa, formato, textura uma variedade de temas e formas, com uma
etc.) e por dentro (conteúdo e forma). A equipe diversidade de tendências e de vivências. Ao
escolar precisa aproximar-se e envolver-se com ler os livros, você verá que o trabalho de cada
os textos em verso do PNBE/2014, adentrar poeta é muito diferente mesmo que o tema seja
as páginas, criando uma familiaridade com os semelhante. Observe que há uma multiplicidade
livros para utilizá-los de maneira inventiva e enorme de poemas sobre bichos, temática que,
significativa tanto para os educandos quanto segundo os especialistas (LAJOLO, ZILBER-
para os educadores. MAN, 1987, p. 151-152; ZILBERMAN, 2005,
Esse belo acervo literário possibilita uma p. 131-135), tem forte apelo sobre as crianças
viagem poética para diversos lugares, épocas e especialmente porque proporciona a simbo-
para dentro do próprio “viajante”. Cada poeta lização dos infantes. Os bichos aparecem em
tem seu estilo para expressar suas emoções e seus Antologia ilustrada da poesia brasileira, Ou isto ou
sentimentos, com ou sem rima, em versos curtos aquilo, Jardim de menino poeta, Lili inventa o mundo,
ou longos, e cada um tem um jeito diferente e Trinca-trova, 111 poemas para crianças, entre outros.
especial de olhar para as coisas e fazer o leitor Alguns desses livros tematizam os animais do
se surpreender com os sentidos do texto. Ao princípio ao fim como é o caso de Bichos do
lermos poemas, rimos, choramos, sonhamos, lixo, Cobras e lagartos, Rindo escondido e O livro
pensamos, compreendemos melhor o mundo e dos pássaros mágicos. Também temos bichos que
a nossa existência.Viajar no mundo imaginário falam e têm as qualidades e as fraquezas dos
da poesia viabiliza descobertas extraordinárias, seres humanos em Três fábulas de Esopo, obra
sensações e pensamentos. Na poesia, o autor diz que reconta três narrativas curtas em verso com
muito com poucas palavras. Alguns exemplos uma moral da história no final.
de poemas curtos, os haicais formados por três Como vê, há muitas maneiras diferentes
versos com 17 sílabas, podem ser encontrados para abordar o mesmo tema; explique para os
em Antologia Ilustrada da poesia brasileira para alunos que cada poeta tem um jeito de enxer-
crianças de qualquer idade. Em duas outras obras, gar o mundo e de organizá-lo por meio das
os haicais aparecem com exclusividade: Jardim palavras. Experimente fazer comparações com
de menino poeta e Palavras são pássaros. os alunos entre essas várias formas encontradas
Neste acervo do PNBE, há muitas vozes pelos autores de dizer os bichos.Apresente dois ou
com diversos tons e modos de expressão das mais poemas do acervo com temas semelhantes
ideias e sentimentos – bem-humorado, român- e peça uma apreciação oral dos alunos sobre as
tico, dramático, melancólico, brincalhão etc. Há semelhanças e diferenças entre eles.
poetas vivos e outros que já morreram, mas se Aproveite para mostrar como um autor relê
tornaram inesquecíveis como Cecília Meireles, o outro depois de muitos anos ou até mesmo
Manuel Bandeira, Mario Quintana e Sylvia Or- séculos e em outro contexto. Paulo Garfunkel,
thof; há poetas de várias partes do Brasil, criando por exemplo, reconta no Brasil do século XXI
diferentes paisagens, pessoas, bichos e assuntos. fábulas que foram criadas na Grécia do século
Além dos poetas nacionais, também temos a VI a.C. com humor e atualidade. Trata-se de
presença de um ilustre estrangeiro: Robert Louis narrativas poéticas cujas histórias refletem sobre
Stevenson, escritor escocês que figura nesse a natureza humana.
21
Outra bela narrativa contemporânea em de sumiço são poemas curtos que jogam com as
verso que dialoga com a versão da tradição oral palavras, de forma lúdica, lírica e bem-humo-
Quadro dos livros de poemas infantis e seus autores e temas do acervo PNBE/2014
Leitura silenciosa
Você precisa motivar e despertar o interesse de seus alunos para o
exercício da leitura de poesia. Para isso, disponibilize o acervo dos textos
em verso na sala de aula ou na biblioteca escolar, deixando os alunos à
vontade para explorarem os livros e conhecê-los por meio de uma leitura
silenciosa para somente mais adiante ousar recitá-la. Em seguida, faça co-
mentários sobre o autor, a leitura e o poema; elabore perguntas, ouça os
questionamentos, sugira uma nova leitura pelos alunos para, finalmente,
pedir uma apresentação da poesia por todos, formando um grupo de vozes.
Leitura oral
A leitura oral do poema com crianças menores sempre cumpre o
importante papel de aproximá-las da materialidade do poema, possibili-
tando que memorizem versos, percebam sons e ritmos, recriem situações,
descubram imagens etc. (COELHO, 1987; CUNHA, 1976; PINHEIRO,
2002; entre outros). Por essas e outras razões, poesia pede voz, individual ou
coletiva, em duplas, trios, quartetos etc.Tais vozes, por meio de diferentes
24
10. Audição de poemas que estão musica- circula em outros tipos de suportes textuais. Há
dos ou declamados; muitos endereços eletrônicos sobre poesia na in-
“A casa”, que integra a Antologia ilustrada da com a orientação de que é preciso ler e reler bem
poesia brasileira, foi gravado por um grande in- o poema para “enxergar” seu texto visual.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
térprete e pode ser acessado em http://www. Destacamos que esse é um momento pro-
youtube.com/watch?v=A_Ad_BkOml8. pício para você, professor, valorizar o trabalho do
Além da musicalização dos poemas, po- ilustrador com o devido crédito, mostrando que
demos fazer muitas outras boas descobertas este artista também é considerado coautor da obra,
na internet de atividades realizadas com os por isso seu nome e sua biografia estão presentes
textos em verso que compõem o acervo do nos livros. Essa atividade pode ser feita em parceria
PNBE/2014 – por exemplo, a história de Cha- com a disciplina de Artes para, a partir do próprio
peuzinho Amarelo, de Chico Buarque, contada acervo de textos em verso, oferecer subsídios acerca
por Carol Levy em http://www.youtube.com/ dos tipos de materiais e das possibilidades de téc-
watch?v=Wvy560Pqz0c. Ao realizar buscas de nicas a serem utilizadas (origami, recortes de papel,
vídeos infantis na rede referentes a esta narrativa aquarela etc.). Além disso, aproveite para chamar
poética, encontramos ainda recitais, coros, peças a atenção sobre a importância do projeto gráfico
teatrais, entre outras manifestações artísticas, na elaboração do livro infantil: qualidade do papel,
concretizadas por alunos. diagramação, capa, quarta capa, tipo de letra etc.
Na sequência, cada aluno apresenta seu de-
Imagens visuais senho para os colegas da classe e conversa sobre
sua interpretação. Aos poucos, os alunos vão ad-
Após o importante trabalho de voz com os
quirindo proximidade com os seus poetas favo-
alunos, chamando a atenção para a música das
ritos. Finalizada essa atividade, o poema copiado
palavras (sonoridade e ritmo), é preciso mostrar
junto com o desenho na folha de cada um pode
que um poema não é somente som, mas as pa-
ser exposto em um mural (confeccionado pelos
lavras também sugerem imagens na mente do
alunos, se for o caso) na sala de aula, na biblioteca
leitor. Para Cademartori (2009, p.106), os re-
ou nos corredores da escola durante o período
cursos da poesia são inúmeros, porém há textos
de uma semana ou de um mês. Após esse perío-
em que as imagens sugestivas se impõem sobre
do de exposição, os trabalhos são retirados com
as ideias: “Há a poesia em que predominam as
cuidado e guardados para serem encadernados
intenções plásticas, com a disposição de dar a
como antologias poéticas no final do ano letivo.
ver as coisas concretas ao nosso redor.” Não se
esqueça de que a visualidade foi o critério de
seleção dos poemas utilizado por Adriana Cal- Sarau poético
canhotto para organizar sua Antologia, ou seja, Em festa de final do ano letivo, organize um
sua escolha foi pautada na imagem trazida pelos sarau para que os estudantes leiam, recitem, can-
poemas quando ela os lia. tem e/ou dramatizem seus poemas preferidos
Com essa inspiração, depois da leitura oral para a comunidade escolar. A declamação pode
do poema, proponha para as crianças fazerem ser feita junto com a exposição das antologias
ilustrações, ou seja, cada um interpreta o poema poéticas organizadas e ilustradas por cada aluno
escolhido por meio de um desenho, desenvolven- ao longo do ano escolar para divulgar e com-
do sua capacidade de expressão. Não é necessário partilhar o trabalho realizado com a apreciação
a escola dispor de recursos materiais, apenas lápis dos familiares e da comunidade escolar.
e papel. Os alunos entram com o entusiasmo e a Explique-lhes que sarau é uma reunião fes-
criatividade, orientados para o fato de que a ima- tiva entre amigos, uma prática social em que as
gem a ser elaborada precisa dialogar com o tex- pessoas se reúnem para apreciarem manifestações
to, ampliando seus significados. Convide-os para artísticas, nesse caso para apresentação/audição
sentir a emoção da palavra traduzida na imagem, de poesia e interação com o público ouvinte.
27
Se possível, procure envolver toda escola com textos que exploram o ritmo, a melodia,
nesse evento e até mesmo decorar o lugar para o lúdico, entre muitos outros recursos. No de-
COELHO, Nelly Novaes. A poesia destinada às alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado
crianças. In: ______. Literatura infantil: história, Aberto, 1988.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
teoria, análise. 4. ed. rev. São Paulo: Quíron, 1987. ALTENFELDER, Anna Helena. Poetas da es-
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ÇALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra
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Santos (orgs.). Nas trilhas do letramento: entre
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AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Ma- MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infan-
ria da Glória. Literatura: a formação do leitor: til. 3.ed. São Paulo: Summus; Brasília: INL, 1979.
29
1
Doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e
professor assistente da UNESP.
2
Doutor em Letras pela UNESP-Assis e professor da Universidade Estadual do Norte
do Paraná (UENP-Cornélio Procópio).
30
A literatura, para ser fruída como objeto desconheça. E a pessoa mais indicada para de-
estético pleno, capaz de deixar marcas profundas sencadear esse processo é o mediador experien-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
nos leitores, pede uma condução mais aberta. te, que está familiarizado com o horizonte de
Não pode ser aniquilada, por exemplo, por um seus leitores, domina os livros à sua disposição,
amontoado de tarefas escolares preocupadas escolhe os mais adequados ao perfil de seus
apenas em “controlar” se uma determinada lei- potenciais leitores e se empenha em despertar
tura foi realizada. Sob a pesada coerção de fichas, o desejo para que conheçam tais obras. Para
questionários, provas e similares não há história isso, esse mediador sempre as disponibiliza aos
que resista, não há linguagem que sensibilize, alunos (porque, diariamente, leva as obras à sala
não há enredo que envolva e faça sonhar. de aula ou conduz os estudantes à biblioteca);
Inúmeras pesquisas vêm demonstrando, já há discorre sobre os temas abordados pelas his-
décadas, que os projetos de formação de leitores tórias; chama a atenção para as ilustrações das
que alcançam efetivo sucesso nos seus propósitos obras; cria possibilidades de escolha das obras
são, em sua grande maioria, aqueles que não he- que serão lidas; apresenta autores e ilustradores,
sitam em dar um peso substantivo à ideia do “ler contando sobre seus “feitos e proezas”; apresenta
por ler”. Ou seja, mais do que atividades tecni- aos estudantes fragmentos das obras nos quais
cistas ou mirabolantes realizadas a partir de uma a linguagem se revela bonita, surpreendente,
dada leitura, a ênfase do processo é direcionada à brincalhona, musical, provocadora...
leitura em si mesma de uma obra literária de boa É preciso aceitar a concepção do “ler por ler”
qualidade e à conversa sistemática sobre o livro como um desafio pedagógico, apostando que a
lido, realizada pelo professor com seus alunos e/ boa literatura possui qualidades suficientes para
ou entre os próprios alunos. O que não significa cumprir uma função importante, rica e complexa,
que não se possa ou não se deva propor atividades se encontrar condições propícias para sua circu-
a partir da leitura de uma obra literária; estas po- lação, fundadas no esforço contínuo de construir
dem e devem ser realizadas, mas, com delicadeza, sentidos para as narrativas lidas. No contexto esco-
para não relegar o texto em si a segundo plano, lar, isso significa apostar nas qualidades já evocadas
adotando-se, sobretudo, uma perspectiva tanto do bom texto literário e, acima de tudo, abrir
afinada com a busca contínua da construção de espaço permanente para que os leitores tenham
sentidos para a obra lida quanto empenhada em voz; instigá-los a comentar, sem censura, a obra
valorizar as dimensões afetivas e lúdicas próprias lida; estimulá-los a comparar uma dada obra com
da leitura literária, que geralmente envolvem a tantas outras e com a realidade à sua volta; levá-los
ação de compartilhar com outros sujeitos a leitura a compartilhar, de diferentes maneiras e com o
realizada. É preciso, de uma vez por todas, varrer maior número possível de leitores, os sentidos que
para longe a “culpa” de dedicar um grande núme- propõem para uma obra lida. E cabe ao mediador
ro de aulas à leitura de obras literárias para e com os auxiliar na expansão desses sentidos pelo conhe-
alunos e à conversa alongada sobre as obras lidas. cimento privilegiado que pode ter da natureza
Trata-se de atividade lúdica e de trabalho sério. da literatura, de um modo geral, e do gênero
Há que se reconhecer, decisivamente, o papel narrativo, em particular, cujas características são
inestimável que essa atividade pode desempenhar comentadas de forma breve a seguir.
na formação dos estudantes.
A meta a ser alcançada com a leitura do A narrativa literária
texto literário, por mais fugidia que pareça, tem A narrativa é uma das formas mais comuns
de evitar arbitrariedades e artificialismos, para do emprego da linguagem verbal no dia a dia, se
buscar responder a uma necessidade interior não a predominante. Isso porque contar algo que
e legítima do sujeito leitor – ainda que ele a se passou com alguém (ou com alguma coisa)
31
3
Muitos estudiosos utilizam o termo discurso para nomear e explicar essa instância
da narrativa.
32
NARRATIVA 4
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Transformação
destacar ou mesmo instigar no leitor. Recorrendo Assim, neste capítulo, procura-se comen-
novamente ao exemplo da história de Cinde- tar algumas características das narrativas que
e com as personagens com as quais convive. É demais obras, sempre considerando os elementos
também uma criança em busca de diversão, que narrativos de mais destaque para o público leitor
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
não resiste e prega sustos, sem qualquer noção focado pelo mediador. No caso de Chapeuzi-
de perigo: “Ela não resistiu. Tirou sua corneta nho redondo, sugerimos a seguir uma sequência
do bolso e...” (p. 10), praticando uma travessura direcionada aos anos iniciais (1º ao 3º ano) do
que convida o leitor ao riso debochado sobre Ensino Fundamental:
um aterrador lobo que passa a aterrorizado:“O 1) Motivar contato inicial com a obra: em
animal acordou com um salto, completamente um círculo, indagar os alunos sobre histórias
aterrorizado” (p. 11). por eles conhecidas. Propor, então, que visitem
Aliás, o susto levado pelo lobo oferece ao a biblioteca da escola, onde a obra Chapeuzinho
pequeno leitor uma inquietação: De onde a redondo estará propositalmente à mostra. Chamar
menina tirou aquela corneta? De seu pequeno a atenção das crianças para o termo “redondo”,
bolso, como o narrador afirma? Como? E por na capa, como mote para levar a obra para lei-
que ela leva uma corneta no bolso de seu casaco? tura coletiva. É o momento de rememorar os
O nonsense da situação deixa leitor e personagem repertórios de leitura: em círculo, se possível
ainda mais no domínio da narrativa, colocando na biblioteca ou no pátio, solicitar aos alunos
o lobo sob ambos os olhares perspicazes e deste- que contem suas versões sobre a história de
midos das crianças. Indignado por ser comparado Chapeuzinho Vermelho, dando livre curso à
a um cachorro bonzinho, e achando a menina imaginação do grupo.
uma “pestinha”, o lobo corre para a casa da vovó. 2) Explorar os aspectos materiais da obra:
Mas é novamente surpreendido: no caminho é após deixar o livro passar pelo contato um a um
atropelado pela senhora que deveria ser sua refei- para ser manuseado pelos alunos, mostrar a capa
ção. O visual da avó em nada lembra uma doce e as páginas iniciais, antes de entrar no texto
velhinha à mercê de um lobo assustador. Após verbal, chamando a atenção para a personagem
um estrondoso baque no animal, com o carro e demais elementos de fundo de cena. Expor
trafegando pela estrada da floresta, ela o socorre, uma ou outra página selecionada, indagando
aparecendo com cabelo cortado, brincos, colar, os alunos sobre o que é narrado ali. Instigar a
botas de cano alto. Frágil mesmo está o lobo, turma para que todos comentem suas hipóteses,
largado em seu colo e carregado para casa, a fim alimentando expectativas para a leitura da obra.
de receber cuidados médicos. Na casa da vovó, Ler o texto da quarta capa, chamando a atenção
pois, será novamente abatido pela menina que para os paratextos que as obras apresentam e que
trata de bater na cabeça do lobo. Seu destemor, dão indícios, e às vezes uma pequena amostra, do
então, é abalado quando o veterinário revela se que o leitor pode encontrar ao ler a obra – se
tratar mesmo de um lobo e não de um grande neste livro houvesse orelha, alguns comentários
cachorro cinza. Porém, o animal não mais poderá poderiam ser feitos a partir deste conteúdo.
assustar, ficando a serviço da avó com quem passa 3) Realizar a leitura orientada da obra: com
a conviver:“Depois disso, ele teve de admitir: sua o livro à altura dos olhos das crianças, ler a histó-
reputação de lobo mau estava arruinada” (p. 33). ria dando-lhe entonação e pausas coerentes com
Com o intuito de melhor exemplificar as as personagens. Ao longo das páginas, podem
possibilidades de trabalho com o texto literário ser destacadas, com parcimônia, imagens que
narrativo, serão expostas, passo a passo, algumas antecipem os acontecimentos. Por exemplo, às
atividades que podem ser realizadas com os páginas 8 e 9, quando Chapeuzinho se apro-
leitores iniciantes, especificamente para a obra xima do monte de feno atrás do qual o lobo
Chapeuzinho redondo. De modo geral, ativida- está dormindo, pode-se perguntar à turma: E
des semelhantes a essas podem ser aplicadas às agora, o que vai acontecer? O que o lobo está
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fazendo? Será que Chapeuzinho vai se assustar e rejeições mais imediatas ao texto; momento
com o lobo? – como, na sequência, Chapeu- em que o mediador toma contato com as iden-
9) Expandir a leitura (B): outra possibilidade em miniaturas com páginas de livros velhos,
de continuidade do tema em questão é Quando dá uma beleza singular ao livro, deixando ao
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
o lobo tem fome, história em que a busca por pequeno leitor larga margem para imaginar,
um suculento coelho leva o lobo Edmundo completando as lacunas de sentido instauradas
Bigfuça à cidade. Porém, um a um seus planos pelas formas, sombras e demais marcas criadas
para matar o coelho são frustrados pelos vizi- por seu primoroso trabalho, o qual remete a
nhos do condomínio, que sempre pedem algo cenários de brinquedo ou teatro de fantoches.
emprestado ao lobo faminto que deseja realizar Com Uma, duas, três princesas, de Ana Ma-
seu intento no quinto andar. Sem cair em um ria Machado, premiada escritora brasileira, no
discurso previsível sobre bem e mal, a narrativa Brasil e no exterior, cuja obra foi traduzida
instiga, tanto em seu texto verbal quanto em suas para diversas línguas e publicada em variados
imagens, a compreensão sobre as relações entre países, retoma-se o conhecido mote dos filhos
as personagens bem como sobre os (possíveis) que saem de casa em busca de solução para um
estratagemas usados pelos vizinhos para demover grave problema enfrentado pelos pais. Como
o lobo de seu intento negativo. somente havia meninas, elas deveriam receber
10) Muitas outras narrativas que releem o a mesma educação ofertada aos príncipes. O
clássico conto de Perrault – com mais ou menos conflito central surge com o adoecer do rei e
liberdade – poderiam ser objeto de compara- a busca, por parte das filhas, de uma solução
ção com Chapeuzinho Redondo, muitas delas já para o problema. Como conhecem os contos
presentes em bibliotecas escolares de todo o de fada, optam por ganhar tempo: a irmã mais
País, tais como Chapeuzinho Amarelo, de Chico nova que, de acordo com as histórias infantis,
Buarque, e Fita verde no cabelo, de Guimarães seria a predestinada a resolver o problema do
Rosa, certamente constituindo um exercício rei, era justamente a que tinha estudado me-
de estabelecimento de relações e proposição de nos e ouvido menos a mais velha, confiando
sentidos dos mais produtivos. apenas em uma pesquisa ligeira que fizera na
Essas atividades oferecem continuamente internet. Suas ações instauram a desordem e a
possibilidades de agregar mais leituras literárias confusão no reino, levando a filha mais velha a
de qualidade relevante para a formação dos lei- retomar seu papel e ordenar:“– Contratem um
tores. A seguir, as obras comentadas e, nos tópi- especialista. Quem conheça o assunto. E tenha
cos posteriores, acompanhadas de sugestões de estudado em tudo quanto é canto, com livro,
atividades, visam esse horizonte de trabalho que escola, professor, laboratório, televisão e compu-
privilegia a leitura literária no ambiente escolar. tador” (p. 37). Quebrando a expectativa de uma
Em Contos de princesas, histórias clássicas solução mágica, ela rompe com os estereótipos,
recontadas por Wendy Jones, a autora opta por descobrindo-se “inventadeira”.
manter enredos conhecidos, investindo em De outro modo, A Princesa Desejosa, de
um tratamento de relevante qualidade textual Cristina Biazetto, propõe-se a contar a história
e gráfica. Algumas nuances da trama mostram- de uma princesa cujos muitos desejos corres-
se peculiares às versões escolhidas pela autora pondem, no plano visual, aos muitos braços
como base para seu reconto, como, por exemplo, da personagem que tudo quer para si: “Desde
na história de Rapunzel. O pai da menina não pequena, ela mostrava como seria. Nem mesmo
rouba repolhos ou outra hortaliça para alimentar o rei, a rainha e a rainha avó escapavam de suas
a esposa grávida, mas “um capim alto e verde, tiranias. // Mas talvez tirania seja uma palavra
chamado Rapunzel, que crescia no quintal da forte demais, melhor relembrar a história des-
vizinha” (p.72). O trabalho artesanal de Su Bla- de o começo” (s/n). A moral fácil que parece
ckwell, com cenários e personagens esculpidas se anunciar – por desejar tanto, nada deveria
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ter ou ser punida – é subvertida pelo enredo nenhum dragão, sendo todos que lhe surgem
que convida o leitor a desconstruir qualquer desinteressantes por algum motivo. Diante da
espaços das páginas duplas como painéis, esten- descobrirá que são três histórias aparentemen-
dendo o olhar do pequeno leitor pelo horizonte te distintas: “O urso e os viajantes”, “A gansa
recheado de idas e vindas dos personagens:“Há dos ovos de ouro” e “O leão velho”. Embora
muito tempo era visitada por reis e rainhas, distintas, as três narrativas são ambientadas no
príncipes e princesas e todo povoado de reinos mesmo espaço que se revela por meio de uma
não muito distantes dali.” (s/n). rica ilustração a qual, alternando perspectivas,
Também investindo no lirismo, Era uma vez, como uma câmera, permite ao leitor reconhecer
de María Teresa Andruetto, tem como elemen- os acontecimentos em uma região caracterizada
to central o próprio contar. A história se inicia como campesina, uma vila medieval, em que
com a apresentação de Sherazade que conta uma teriam ocorrido as três situações narradas pelas
história sobre uma mulher que contava histórias fábulas. Em outros termos, a ilustração cria um
que, por sua vez, contava uma história de outra espaço-tempo que abarca os enredos, cultivan-
mulher que gostava de contar histórias e assim do o imaginário infantil a respeito do mundo
por diante. Em vez de frustrar o pequeno leitor habitado pelas personagens de fábulas clássicas.
pela ausência de um enredo mais movimentado, Ao final da narrativa de “A gansa dos ovos de
o livro faz justamente o papel de iniciador ao ouro”, por exemplo (p.30-31), o casal, já deitado
universo mágico e misterioso do contar histórias. para dormir, desiludido diante da ambição que
os leva a perder a gansa, olha pela janela, da
Fábulas qual se veem gansos voando sobre um castelo
Gênero diverso, mas muito afinado com em cima das montanhas, castelo que se vê na
contos de fada, as fábulas aparecem em O urso, capa do livro e em outros momentos. O foco
a gansa e o leão, de Ana Maria Machado. Nesta narrativo, mais do que o texto verbal, conta,
obra o projeto gráfico é imprescindível para a nesta cena, com um posicionamento do olhar
compreensão da proposta de leitura do livro. do leitor que dá profundidade à imagem e dei-
Pela capa, nota-se que os três animais devem xa lacunas sobre o que estariam eles pensando.
ocupar, de algum A imagem que vaza a moldura lança o leitor
modo, um lugar cen- para o exterior da casa camponesa, convidando
tral no relato. Na fo- à interpretação dos olhares das personagens.
lha de rosto, ao redor Ao mediador, apresenta-se, ainda, um posfácio
de uma mesa que tem em que se contextualiza o gênero em questão,
ao centro uma árvore, conforme Luís Camargo: “Nessas três fábulas
voltam a aparecer os destacam-se a rapidez, a visibilidade, a exatidão
três animais. Ao vi- e a leveza – para lembrar algumas qualidades
rar a página, o leitor valorizadas pelo escritor italiano Italo Calvino.
39
dado. O tom lírico do poema, pois, dialoga com quena vendedora de fósforos”, no qual, agora,
o tom trágico da situação do carvoeirinho e, por em vez de vender fósforos, a menina abandonada
extensão de todos os “carvoeirinhos” brasileiros vende chicletes: “Apesar de todo o sofrimento,
desassistidos das condições mais básicas de edu- ela se recusava a voltar ao barracão onde mo-
cação e saúde. A obra, entretanto, não envereda rava. Não havia conseguido vender sequer um
pela opção de simples denúncia social, que po- chiclete e, se voltasse, certamente sofreria maus
deria lhe dar um tom panfletário; antes, opta-se tratos” (p.9).
por focar a subjetividade do personagem, para Obra em que as imagens operam na sen-
a qual convergem seu contexto e seus sonhos. sibilização do leitor atual é Fumaça, de Antón
No meio urbano discorre a narrativa de Os Fortes, cujos traços de forte apelo expressionista
invisíveis, de Tino Freitas, em que um menino, vêm ao encontro de um texto de grande tensão.
protagonista, tem a capacidade de ver os invi- O leitor não tarda a descobrir que se trata de
síveis: trabalhadores braçais, pedintes, artistas de algo opressor, que traz muito sofrimento ao
rua, isto é, todos aqueles à margem das posições protagonista. A tessitura textual – “Mamãe me
sociais valorizadas. Ao mediador é importante diz que logo a gente vai se reunir” (p.22) – é
observar que se trata de uma narrativa distópica, acessível a leitores iniciantes; o tema é espinho-
pois frustra o leitor quanto a um final feliz, antes so – como a perseguição político-social, ou o
oferecendo a inquietação frente a certo comodis- massacre étnico, tratado de modo delicado –,
mo dos adultos. Distópica também é a persona- sendo pertinente ao leitor mais jovem.
gem de A árvore que pensava, de Oswaldo França
Júnior, uma árvore pensante que, transplantada Sugestões de atividades
para o centro da cidade, percebe a insatisfação
Carvoeirinhos
dos homens com seu crescimento, acabando por
ser arrancada e substituída por outra.A adaptação • Leitura inicial apenas das imagens, instigando
Joãozinho e Maria, de Cristina Agostinho e Ro- os leitores a anteciparem o texto verbal.
naldo Simões Coelho, investe em uma releitura à • Apresentação de trechos de documentários ou
brasileira do conto de fadas europeu:“Há muito matérias jornalísticas sobre o trabalho infan-
tempo, lá na Serra da Mantiqueira, vivia um til, destacando a diferença entre a linguagem
pobre homem com sua família, num barraco” literária da obra, focada na subjetividade da
(s/n). As ilustrações completam esta proposta: o personagem, e a linguagem referencial dos
ambiente é abrasileirado – as crianças comem outros textos, focada nos fatos e com o intuito
goiaba perto da Cachoeira Véu de Noiva, na de denúncia social.
primeira tentativa da madrasta de se livrar delas; Fumaça
a família é negra, com os irmãos retratados em
situação de extrema carência. • Discussão sobre o teor da obra a partir da
Com o foco nas questões étnicas, Pedro Noi- observação da capa do livro.
te, de Caio Riter, é marcado por uma prosa poé- • Apresentação de telas brasileiras, como “Po-
tica em que o menino que dá título à obra busca grom” (1937), do pintor Lasar Segall (1891-
sua identidade. O processo de desvelamento de 1957), ou “Criança morta” (1944), de Cândido
si mesmo se dá em meio às inquietações da vida Portinari (1903-1962), cujo tom expressionista
cotidiana, que lhe apresenta a dura face do pre- deve ser destacado pelo mediador.
conceito. A questão social toma corpo também • Leitura inicial da obra com posterior aproxima-
em A vendedora de chicletes, de Fabiano Moraes, ção a obras de artes plásticas sobre o mesmo tema.
43
Sugestões de atividades
Carmela vai à escola
• Discussão com os leitores iniciantes sobre a escola de “antigamente”.
• Levantamento de histórias e fatos com os familiares sobre suas respec-
tivas experiências escolares.
• Visita à biblioteca para entrevista com o bibliotecário sobre “o que se
lia antigamente”.
• Consulta a obras consideradas antigas, com destaque para a literatura
infantil, com leitura de trechos e observação das ilustrações.
Malonga, o feiticeiro que fomos visitar certa tarde, me fez comer umas
raízes picantes e me deu um bracelete com um dente de víbora, cuja
eficiência não se fez esperar” (p.20). A obra merece destaque, portanto,
pela delicadeza com que mantém o tema da morte em diálogo com a
cultura do Congo sem se tornar inacessível aos leitores em geral.
Algumas narrativas do acervo PNBE 2014 também põem o leitor
atual em situações inusitadas diante da própria realidade. É o caso de Uma
estátua diferente, de Charlotte Bellière, na qual se relata o cotidiano de
uma senhora transformada em estátua diante do choque de ser tratada
grosseiramente por um transeunte. Se a preocupação é, pois, despertar
o senso crítico, Truques coloridos, de Branca Maria de Paula, vem ao en-
contro do tema da televisão na vida cotidiana. O emprego de imagens
construídas com bonecos de massinha atrai pelas cores e pela expressi-
vidade dos personagens, instigando ao questionamento sobre a relação
da sociedade contemporânea com o aparelho. A valorização do livro e
da leitura mostra-se como tema central de O menino que morava no livro,
de Henrique Sitchin, obra de caráter metalinguístico em que se narra a
vida de um personagem, um menino, que vive nas páginas de um livro.
Um convite a explorar o espaço da página do livro também se dá em
Bagunça no mar, de Bia Hetzel. A rainha do mar, Iemanjá, tem doze filhas
gêmeas que aprontam brincadeiras comuns às crianças, convidando estas
a uma profusão de movimentos por meio de ilustrações que têm como
efeito uma “bagunça” visual, convidativa à exploração das páginas e ao
despertar para as possibilidades não lineares de leitura. Dialogando com
a tradição narrativa para crianças sobre animais que falam e gigantes que
andam pela terra, A ponte, de Heinz Janisch, é uma narrativa em que o
texto verbal pouco diz frente ao trabalho visual. Um urso e um gigante
tentam atravessar a mesma ponte estreita. O enredo simples tem sua força
no jogo de olhares e nos detalhes das ilustrações, que revelam aspectos
cômicos, alguns dramáticos, convidando leitores ainda muito pequenos
a acompanharem, de modo criativo, o desenrolar da história.
A esses leitores mais novos, Quero meu chapéu de volta, de Jon Klassen,
constitui-se de uma sequência de cenas em que um personagem per-
gunta um a um sobre quem lhe havia roubado o chapéu. A brincadeira
de perguntar e sempre ter uma negativa que pode ser uma afirmação é
rapidamente compreendida pelo leitor criança, que vê o encontro do
urso com um coelho que usa seu chapéu, sendo que aquele não percebe
imediatamente o logro. Em Psssssssssssssiu, de Silvana Tavano, texto e ima-
gem se complementam, convidando leitores um pouco mais proficientes
a reconhecerem os jogos de sentidos estabelecidos entre ambos.Versando
sobre o silêncio, este é personificado em faces constituídas apenas por
traços. Na vertente de textos voltados para o início do letramento, O
gato Massamê e aquilo que ele vê, de Ana Maria Machado, traz um gato
47
Para finalizar este trabalho, não é demais rei- BALDI, Elizabeth. Leitura nas séries iniciais: uma
terar que os comentários aqui realizados sobre os proposta para formação de leitores de literatura. Porto
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
A LITERATURA ME
Carta 1- Apresentação
Cara leitora ou leitor! Hoje vou me apre- Ensino Fundamental e Médio, ou numa escola
sentar a ti e contar o que pretendo fazer aqui! em certo município brasileiro onde já tive o
Quase não se escreve mais cartas, mas opto por privilégio de ir ou ainda em algum lugar que
usar essa forma de me comunicar contigo. Es- eu nem penso que exista, mas está lá.
colhi esse jeito de conversar, porque queria uma Se és leitora desse guia, és um sujeito que
forma de escrita que propiciasse aproximação deseja conhecer mais, és uma curiosa, assim
entre nós, para que a gente pudesse celebrar como eu. Espero que nossa interlocução seja
esse encontro. profícua e que minhas palavras sejam motivo de
Moro na serra do Rio Grande do Sul. Sem- réplica e que tais respostas cheguem novamente
pre morei aqui, aprendi a ler o mundo com os a mim. Afinal, cada um vê e conhece com os
óculos que as pessoas usam aqui. Para entenderes olhos que tem e é com meus olhos que vou
como penso e o que aponto, é bom saberes conversar contigo sobre alguns livros de imagem
que atuei como professora em anos iniciais, que estão no acervo do PNBE 2014.
em Ensino Médio, em cursos de graduação e Obrigada pela atenção,
pós-graduação. Importante dizer também que Flávia
sou mãe de duas crianças (estas também me
ajudam a enxergar). Carta 2 - Chegada...
Não sei exatamente quem tu és, minha Bom dia, professora! Começo perguntando:
leitora (a maior parte dos professores de anos Quem não gosta de ganhar presente? Minha
iniciais é mulher, assim tomo a liberdade de mãe diz que, quando eu recebo uma caixa e
escrever direcionando-me à professora, mas os vejo nela livros, meus olhos brilham. Espero
professores estão acolhidos, apenas faço a con- que teus olhos também brilhem, ou melhor,
cordância pela maioria). Escrevo para uma pro- que teus alunos também se emocionem com
fessora que talvez atue na escola onde estudei no os livros da caixa.
Doutora e Mestre em Letras pela PUCRS e docente em nível de graduação e pós-graduação (Mestrado e Douto-
1
Receber na escola uma caixa com livros construindo um percurso de significação para
literários é motivo de celebração. Celebração cada obra. Depois de conhecer o título, voltes
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
ao simbólico e celebração à vida. Não sei se a ler o que eu pensei sobre o exemplar. Ah, ia
posso separar o sentido dessas duas palavras. Pa- esquecendo, vou destacar, nesta etapa, quatro pre-
rece-me que a vida acontece no simbólico e o sentes: A ovelha negra de Rita, de Silvana Menezes;
simbólico se efetiva no viver. O momento em Zoo, de Jesús Gabán, O tapete voador, de Caulos e
que cada professora ou aluno é convidado a abrir A bruxa e o espantalho, de Gabriel Pacheco.
essa caixa é um convite à festa.Talvez tu penses:
“Como vou festejar se tenho que resolver a Carta 3 - Livros de imagem ....
questão desse meu aluno incluído, daquele que livros de linguagem!...
ainda não conseguiu descobrir um caminho na
Bom dia, colega professora! Visitaste os li-
construção do número ou aquele outro que no-
vros? O que percebeste neles? Como se apre-
vamente faltou à aula”. Os problemas são muitos,
sentam? O que há de comum entre eles? O livro
mas prefiro olhar e sentir como Poliana e, com
otimismo, celebrar o bom: a chegada do livro. que tens em mãos é produzido em determinada
Esse presente pode ser aberto por uma turma cultura, atua como respostas ao diálogo vivo
num espaço de festejos. Depois, os livros vão ser dessa cultura e, consequentemente, interfere nas
de todos, assim como outros presentes que rece- atitudes de outros sujeitos.Tradicionalmente, tais
bemos e que logo são partilhados.A experiência obras são de natureza verbal, entretanto com-
de abrir a caixa e se deparar com livros novos, preendo a visualidade como uma linguagem
com o cheiro especial de livro, de tinta, de papel e o livro de imagem, um gênero, em virtude
novinho... textura, ruído de livro novo. É singular! de características estáveis que se evidenciam
O acervo dessa caixa é um grande/pequeno na constituição desse modo de expressão. Essa
ou pequeno/grande banquete. Pequeno, porque forma de expressar e de ler o mundo também
são apenas alguns títulos. Grande, porque cada participa do banquete.
título contém mundos que serão configura- A visualidade é um elemento presente na
dos por cada um dos sujeitos que vão interagir composição do livro que representa ações hu-
com cada título. Nesse banquete, vais encontrar manas. A literatura infantil, inicialmente feita
pratos: “prosa”, “verso”, “imagem” e “história pela palavra, gradativamente, vai acolhendo a
em quadrinhos”. Cabe a mim, neste capítulo, visualidade, de modo que o livro de literatura
estender a toalha para acolher os livros de ima- infantil ganha a categorização de livro ilustrado
gem. Nesta celebração, que acontece por von- – a ilustração tende a acompanhar a palavra em
tade política, haverá outras mesas com toalhas tais exemplares.A linguagem visual está presente
também estendidas para acolher outros pratos. na literatura desde o Romance da Melusina, ma-
Professora, sugiro que, antes de leres meu texto, nuscrito em pergaminho produzido entre 1400
tu interajas com o objeto-livro e manuseie os a 1420 (RAMOS; PANOZZO, 2011, p. 23). No
títulos aos quais vou direcionar minha atenção Brasil, a ilustração e a palavra estão juntas, mas é
nesta escrita. Faças o exercício de olhar os títulos, a partir de 1970 que a visualidade se manifesta
a capa, a contracapa (quarta capa), a lombada, as com maior intensidade. Em 1976, é publicado
orelhas (se houver), as cores/motivos das folhas Ida e volta, de Juarez Machado, o primeiro livro
de guarda, a folha de rosto; passeie pelo miolo, sem palavra, que se torna obra modelar do gênero.
pare, retroceda, tire os olhos do livro e mire ao Aliás, a Fundação Nacional do Livro Infantil
longe, volte novamente ao exemplar. Ou seja, e Juvenil (FNLIJ), desde 1981, premia, anual-
saboreie esse objeto, bem cultural. Nessa ação mente, os melhores livros editados pertencentes à
lenta, aparentemente descompromissada, vamos categoria imagem. Há quem os denomine ‘livros
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sem texto’, mas discordamos porque entendemos que a imagem, ao ser lida,
também é um texto que contém proposta de sentido e vai ser atualizada
A leitura desses exemplares ocorre de modo para registrar e expressar pensamentos, emoções e
autônomo, entretanto, a linguagem visual ali fatos em suas vidas. Avanços tecnológicos como
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
presente possui uma semântica própria, constitu- a fotografia, em meados dos anos de 1800, filmes
ída principalmente pelas imagens, num sistema no início de 1900, e a televisão, na década de
organizado plasticamente, em seus componentes 1950, contribuíram para ampliar a necessidade de
sintáticos próprios de cor, forma, espaço e figu- compreender o processo envolvido na comunica-
ratividade. Nessa combinação, emergem temas ção com os recursos visuais.Tais avanços continu-
e conflitos por meio de narrativas, cujos enun- am a desenvolver-se em ritmo sem precedentes,
ciados discursivos seriam, por direito, ensinados e os processos educativos estão comprometidos
e aprendidos na escola, para uma leitura mais com a promoção de aprendizagens relativas à
completa, que vai além do verbal, considerando visualidade. Do mesmo modo que a alfabetiza-
o texto um todo de sentido. É, pois, importante ção da língua escrita é valorizada, a alfabetização
que tu, professora, exercites a leitura dos livros de contemporânea tem uma finalidade mais ampla,
imagens, tentando perceber como eles apelam, pois inclui a linguagem visual, baseando-se na
a partir do modo como se constituem, ao seu ideia de que imagens são lidas e seu significado
interlocutor, o estudante dos anos iniciais do é comunicado pela leitura. Neste cenário, o livro
Ensino Fundamental. de imagem seria um recurso que, pela ficção e
Sabemos que, desde pequena, a criança con- ludismo, contribuiria para a educação do olhar.
templa e lê imagens em diferentes suportes. Eu A leitura do livro de imagem faz-me lem-
lembro de brincar de ver ou criar seres no céu brar de um poema de Drummond que fala sobre
– olhava uma nuvem que ora era um gato, depois o sentido das palavras na leitura: “Chega mais
virava cobra, transformava-se em árvore e a brin- perto e contempla as palavras. / Cada uma /
cadeira durava enquanto o vento agisse sobre a tem mil faces secretas sob a face neutra. / e te
nuvem e o meu olhar significasse tais formas.Tu pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre
também brincavas com nuvens? À medida que ou terrível que lhe deres: / trouxeste a chave?”
se avança na escolaridade, entretanto, parece que (ANDRADE, 2008, p. 25-26). Quando se olha
se “desaprende” essa habilidade que exercita a a imagem, é preciso contemplá-la, ir e voltar
mente livremente. É inegável o papel cotidiano da várias vezes, descobrir, encontrar um modo de
visualidade na sociedade atual, disponibilizando significá-la. Encontrar a chave possibilita abrir a
um contato intenso com o universo das imagens, porta que permite compartilhar da celebração da
cuja ação envolve a todos, mas, ao mesmo tempo, leitura do livro de imagem. Não basta descrever
e paradoxalmente, passa por um estado de invi- ou enumerar o que se vê, é necessário estabelecer
sibilidade. Como alerta o título deste texto, as relações entre os elementos, por exemplo, cores,
imagens nos alcançam mas é preciso que o nosso traços, formas. Precisamos perseguir uma cor e
olhar também as alcance. Para que essa interação tentar entender seu sentido, perseguir uma forma
aconteça precisamos educar nosso olhar... geométrica que tende a se repetir e tentar signifi-
A educação do olhar é uma competência cá-la. Há livros que revelam um caráter narrativo
aprendida. O ver implica perspicácia para transpor explícito e outros, entretanto, utilizam-se de um
a superficialidade da imagem e absorver o que se percurso de leitura que não se mostra por meio
constitui em ‘pano de fundo’, e a complexidade dessa modalidade discursiva já consagrada; nestes,
deste processo, segundo Dondis (1976), exige as imagens vão se apresentando e cabe ao leitor
investimento na ‘alfabetização visual’, embora a construir um caminho de significação.
utilização de imagens para comunicação seja um Como estamos numa festa, cabe aos con-
procedimento antigo. Desde os primeiros dese- vivas ver o que é próprio de cada um desses
nhos rupestres, as pessoas têm usado a visualidade pratos.Vamos aos livros de imagem?!
53
pelos dados da cena. Rita volta para casa a passos interno, apenas uma vela ilumina a noite, e os
largos. A vida se escondeu na rua, não se vê mais três se envolvem numa manta para se aquecer.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
o verde, nem ovelhas, nem vacas que antes apa- Lá fora, a cerca continua dividindo o pasto das
reciam. O frio faz com que todos se recolham. vacas e das ovelhas, mas apenas a negra é vista.
Ao virar a folha, na página 18, encontramos Seus olhos continuam buscando Rita, noite e
Rita dentro de casa com sua mãe e irmão. A dia, até que na página 23 a ovelha visita Rita
mãe reparte um pão. Não há adornos no espaço que está acamada.
A ovelha como protagonista age (se os per- Quanto tempo dura a história? Os indicativos
sonagens não agirem, não há história). Convoca visuais sinalizam o ciclo das estações. De cer-
outras ovelhas e, conforme anuncia a imagem pos- ta forma, a narrativa atualiza a estrutura dos
ta na quarta capa, resolvem com suas lãs preparar contos clássicos: uma situação de estabilidade
agasalhos para a família de Rita. Passa o tempo, a inicial quando Rita e a ovelha negra brincam
cor vai voltando aos poucos ao ambiente externo é rompida com a chegada do outono e do frio
– seria sinal de que o inverno estaria indo embora? que se intensifica. A harmonia é quebrada, a
Rita e o irmão estão em casa. Na mesa, apenas menina adoece e impõe-se o clímax: Rita está
um pão, semelhante a outro que já aparecera. A acamada. A solução do conflito não ocorre pela
ovelha negra reaparece naquele espaço com um intervenção de algum elemento mágico como
carrinho. Na mesa, além do pão, uma garrafa com nos contos de fada tradicionais. As ovelhas se
leite e um queijo; Rita, o irmão e a mãe usam mobilizam para auxiliar quem está fragilizado.
a mesma roupa do início da história. Na cena No final, a tranquilidade se reestabelece.
seguinte, a família manuseia roupas tecidas com A narrativa não fica excluída desses livros de
a lã das ovelhas. Cabe a Rita a blusa quadriculada, imagem – há marcas que vão edificando o tempo,
feita com lã negra e branca. O leitor pode pensar o espaço, os personagens, o conflito, o ponto de
que a história acabou na 37. Entretanto, ao virar vista de quem conta por meio de recursos da lin-
a folha, depara-se com duas páginas dominadas guagem visual. O caráter sequencial manifesta-se
pelo vermelho (agora entendo que ele simboliza nessas produções que vão adentrando os espaços
coragem e energia nessa obra) e, no centro da 39, escolares contemporâneos e sendo aceitas como
há um pequeno quadro centralizado, onde se vê produções artístico-culturais destinadas à criança.
as amigas juntas sorrindo. No entanto, mesmo tendo recursos do domínio
Em síntese, o conflito é posto sutilmente. da narrativa esta é uma linguagem que se apre-
O espaço onde transcorre a ação é rural, ora senta ao leitor implicando modos singulares de
externo ora interno – inclui a casa da menina. percorrer as imagens que contam a história.
55
Aliás, a ação de ler uma narrativa visual pres- Carta 6 – “Que lindo!”
supõe, conforme Castanha (2008, p. 145), observar, Estação zoológico...
história de viagem, viagem pelo mundo – e pela inverno. Dependendo da história criada pelo lei-
leitura? Seria uma metáfora da leitura? tor, a partir das imagens veiculadas no exemplar,
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
O menino e o cachorro entram no exem- a duração se altera. Ah, aqui como em outras
plar que o leitor manuseia e, após o menino obras, o leitor, esse visitante que pousa no livro,
pegar um livro, ambos circulam por vários ce- é sempre o senhor do sentido do texto literário.
nários, visualizam pirâmides do Egito, o Big Quanto ao modo de enunciar, ou seja, aos
Ben, a Torre Eiffel, a Torre de Pisa, o Cristo aspectos ligados ao modo como as imagens são
Redentor. Além de observarem cenários reais, formadas, convido-te a observar nesse exemplar:
os protagonistas atêm-se ao clímax de algumas
a) A presença do vermelho (e suas nuan-
histórias: ‘pobre de Peter Pan foi agarrado por
ces) e os sentidos que podem ser construídos
Capitão Gancho’;‘a bruxa está entregando uma
a partir dele. A cor marca o nome do autor na
linda maçã vermelha para Branca de Neve’,
capa e na folha de rosto; no miolo aparece em
ou seja, os lugares visitados são aqueles que
outras passagens. O vermelho, tradicionalmente,
encontramos em mapas, mas também aqueles
simboliza o princípio da vida, mas também o
construídos pela imaginação após a leitura de
seu mistério (CHEVALIER;GHEERBRANT,
livros escritos em diferentes tempos e lugares. Os
p. 944-946); é uma cor que mobiliza o olhar
protagonistas chegam até o espaço sideral onde
do observador e também expressa a tensão da
se juntam à lua, Saturno e um foguete. Por fim,
ação posta numa cena, como nas páginas 16 e
o tapete pousa na terra, e o menino, seguran-
17. O Capitão Gancho agarra Peter Pan, e a
do o livro, juntamente com seu cachorro, rega
maçã vermelha na mão da bruxa está alinhada
uma pequena plantinha que tem só duas folhas.
ao laço, também vermelho, sobre a cabeça da
Os detalhes do cenário são omitidos, exigindo
Branca de Neve. Será que o vermelho, aqui,
que o leitor atue sobre o branco da página e
simboliza a tensão de viver?
configure os detalhes do espaço onde ‘Capitão
b) Todas as cenas do miolo do livro estão
Gancho agarra Peter Pan’ ou onde ‘Alice corre
emolduradas por uma linha preta. Essa moldura
atrás do coelho’.
é rompida pelos protagonistas que se deslocam
Essa história de viagem acontece no espaço
entre as várias imagens. O “rastro” do tapete
e também no tempo. Os personagens percor-
voador corta a linha preta da moldura, alertando
rem momentos históricos diversos: após pegar
o leitor acerca da ação dos protagonistas.
o livro, vão ao período jurássico e conhecem
c) O corpo dos personagens está sempre posi-
dinossauros, depois acompanham as caravelas
cionado dirigindo-se à direita do livro, reiterando
(que chegam e/ou partem) e índios, passam
o movimento de seguir em frente – o mesmo feito
(saem ou entram) por uma ampulheta, voltam
pelo leitor. Nesse sentido, cabe uma pergunta que
ao mundo da ficção e, finalmente, retornam
tu vais me ajudar a pensar: O livro representa o
ao cenário terrestre, onde a história começou.
que a leitura poderia provocar no leitor?
Durante o enredo, são observados por perso-
d) O menino do começo e do final da
nagens infantis criados por Monteiro Lobato;
história é o mesmo (Fig. 3)? Que mudanças a
veem Pinóquio, noutra cena, muitos animais,
viagem pela leitura poderia ter lhe propiciado?
lembrando aqueles da arca de Noé. Os animais
Será que isso acontece também conosco?
que têm asas acompanham os protagonistas na
sequência do enredo. Quando termina a histó- Após me debruçar sobre o exemplar, par-
ria? Quanto durou? Alguns minutos, uma hora, tilho contigo a pergunta da criança de 4 anos:
um dia, uma semana? Não está escrito e também “Mãe, é a história de quê?” Se tivesse a palavra
não há marcas de passagem do tempo como talvez estivesse escrito:“Era uma vez um menino
sol e lua, frio e calor que sinalizariam verão ou que estava entediado em casa. Certo dia, resolveu
59
dar uma volta com seu cachorro e, no passeio, Uma folheada rápida alerta que o exemplar
encontrou uma árvore. A árvore tinha duas por- não é numerado, que predominam, em todas
tinhas no tronco...”. A ausência da palavra, en- as páginas, os tons escuros veiculados na capa e
tretanto, pressupõe que a enunciação verbal do contracapa – apenas algumas nuances de azul
livro de imagens gere histórias diferentes. Isso alteram essa sequência cromática. Vê-se ainda
pode ser complicado para a criança que escuta que o exemplar aberto, na capa e 4ª capa, repete
eu contar – o mesmo texto – de uma forma e uma cena interna onde aparece o espantalho.
tu contares de outra. Entretanto, esses diferentes E a bruxa? Ela não é mostrada visualmente na
modos de enunciar são um bom recurso para capa. Por quê? As ações de folhear o livro, olhar
ajudar o leitor iniciante a perceber que a imagem capa e contracapa e ler a sinopse posta na 4ª capa
posta no livro é apenas a representação de algo. levam-me a inferir que o exemplar constrói uma
O cão pode ser Duque, Lobo, Bidu. O cão re- história ocorrida à noite e que, de alguma forma,
presentaria o companheiro na aventura. Depende o espantalho vai agir para resolver o problema
das experiências do leitor, esse senhor do texto. da bruxa que cai “e se espatifa no chão”. Mas
como o espantalho agiria se ele vive preso?
Carta 8 – “Não gostei... as páginas Temos visões distintas de bruxas, mas, pela
literatura, as vimos como seres maus. Como será
são tudo feia”, “E por que as páginas
a bruxa da história? É importante que o aluno
são feias?”, “É tudo preto assim...”
vá olhando as imagens, pensando sobre elas e
(diz, passando a mão sobre a página): atribuindo-lhes sentidos. O professor, mediador
Estação noturna experiente, mostra e pode indagar para ajudar o
Chegamos, professora, ao último prato da outro a ver, sem impor um sentido. Leitura única
festança anunciada neste guia. Vem mais um não combina com literatura – texto polissêmico.
desafio, pois às vezes precisamos aprender a sa- Quanto à materialidade do exemplar, alerto
borear uma comida. Eis a questão: Como ler que alguns livros têm folha de guarda – aquelas
uma obra tão escura? Criança gosta de colorido! localizadas entre a capa e a folha de rosto. Na
Será que vão gostar? O que tu pensas a respei- folha de guarda da abertura desse título, predo-
to? Será que o título foi escolhido levando em mina o tom azul (do céu) e no final, o marrom
conta aspectos artísticos do exemplar e não as (da terra). Essas cores teriam alguma relação com
condições de leitura dos possíveis destinatários? a história? Tudo tem sentido, desde que nossos
A bruxa e o espantalho precisa, provavelmente, de olhos vejam e signifiquem o visto, e nossos olhos
mediação para ser acolhido pela criança. aprendem a ver e significar.
60
Fig. 4 – Bruxa e
espantalho observam o
Magda Soares nos alerta que o ato de ler está associado ao que vai ser lido,
pois ler é uma ação transitiva. Leitor e texto selam um pacto. Esse pacto
Referências bibliográficas
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do EDUCS, 2013. Disponível em: http://www.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Para a leitura de
O texto a seguir evidencia algumas estra- mais desafiadores em termos estéticos.As noções
tégias utilizadas em Histórias em Quadrinhos abordadas devem amparar o mediador de leitura
(HQ) e em narrativas infantis construídas ape- na preparação de seu trabalho com os livros e os
nas com imagens ou com predominância de jovens leitores, servindo a um estágio posterior
imagens (NI: narrativa por imagem). Mesmo ao de exploração do suporte físico dos livros
sendo gêneros distintos, HQ e NI são obser- (capa, ilustrações, desenhos, cores etc.), entre ou-
vadas aqui em suas características comuns. Os tros expedientes de sensibilização para a leitura.
aspectos aqui comentados não esgotam as obras, Ao final de cada tópico, sugerimos atividades
mas sim fomentam a busca por significações. concretas para a sala de aula. Os livros analisados
Pretende-se evidenciar estratégias narrativas e neste segmento – anos iniciais do Ensino Fun-
gráficas que tornam os livros do PNBE 2014 damental – estão identificados no quadro abaixo:
1
Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e professor adjunto do Depar-
tamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP).
2
Adaptadores da obra original homônima de Monteiro Lobato.
3
Adaptadores para o formato de quadrinhos da obra original de Júlio Verne.
66
comentar com detalhe cada uma delas. Mas final da história para evitar diminuir a surpresa
seguem sugestões de trabalho. do leitor. As HQ também costumam ser eco-
nômicas em volume de história.
Trama Tomemos, por ora, um exemplo de anda-
Em primeiro lugar, abordaremos para você, mento da trama nas HQ:
leitor, estratégias utilizadas para a construção
da trama. Adaptamos as propostas de Larivaille
(1974) e Eisner (2008), para dividir o andamento
de uma narrativa visual em três momentos prin-
cipais: 1) um momento de contextualização, em
que se apresentam para o leitor os personagens,
os espaços, os episódios básicos que ajudam a
compor o mundo representado pelo texto; 2) um
estágio de desequilíbrio, em que um ou mais pro-
blemas, ou desafios surgem, e mexem com aquela
ordem inicial; 3) um momento de reequilíbrio, em
que se propõe uma solução para aquela situação.
Tais momentos não aparecem, necessariamente,
um após o outro: em narrativas mais complexas
podem estar inclusive imbricados. Os problemas
(ou desequilíbrio) podem aparecer desde o início,
dentro do estágio de contextualização, por exem-
plo. Os mediadores, em suas leituras pessoais,
podem ficar atentos a estes três momentos, para Em Histórias da Carolina (p.27), Carolina e
depois compartilhá-los com os alunos. Bocão seguem para o jardim. Carolina está eufó-
Embora com muitas variações, a sequên- rica, porque terá bastante tempo para divertir-se
cia contextualização → desequilíbrio → reequi- com jardinagem. Bocão está reticente, pois não
líbrio apresenta um recurso para a orientação consegue identificar algo que o incomoda. Os
da narrativa e do próprio leitor, facilitando a três quadrinhos iniciais contextualizam o leitor
comunicação, sobretudo quando os leitores são sobre o que está acontecendo e apresentam os
iniciantes. Ao mediador interessa também saber personagens; igualmente é sugerido na compo-
que uma disposição comum (mas não a única) sição verbo-visual um problema (a dúvida de
em história em quadrinhos é a seguinte: a) a Bocão). O quarto quadrinho ressalta que algo
maioria dos quadrinhos, desde o início, apre- de diferente vai acontecer, algo revelador – este
senta os personagens e as circunstâncias em que quadrinho faz o papel de transição na estrutura.
eles se encontram; b) uma sequência concomi- O quadrinho final aponta a solução, assim como,
tante ou posterior de quadrinhos apresenta os no caso, diverte o leitor.
problemas que incomodam os personagens; c) As narrativas por imagem (NI) apresentam
um quadrinho de transição (mais raramente, outras tantas variações de estilo, abrindo novas
dois ou três) alerta o leitor que alguma mu- possibilidades para o percurso da narrativa. O
dança acentuada vai ocorrer; d) um quadrinho espaço mais generoso para a imagem – quan-
final propõe uma solução. A transição que leva do por exemplo esta ocupa até duas páginas
a uma nova ordem (reequilíbrio) acaba restrita, inteiras – confere maior peso e autonomia às
67
lugar tão árido. Depois de finalizada a ação do vive com desafios diversos. Mas, longe de ser
motorista, ele leva um susto e isso introduz um reduzida ao ‘politicamente correto’, Carolina
problema que motivará a continuidade narrativa, é independente, várias vezes sugerindo ambi-
com pequenos incidentes, até a surpresa final. guidade em seu comportamento (ver exercício
Além de frisar essa situação-problema, o media- proposto no final do tópico).
dor pode fazer perguntas que explorem os mis- Em Os pássaros, há dois personagens de-
térios da trama, como por exemplo: 1) De onde cisivos: o motorista do caminhão e o peque-
vem aquele caminhão e aqueles pássaros? 2) Por no pássaro preto. Os dois podem ser vistos de
que uma estrada daquela, que acaba num preci- maneiras distintas e dificilmente se reduzem
pício? 3) Por que os pássaros são soltos naquele a este ou àquele traço. O motorista mostra-se
lugar? 4) Por que um caminhão tão fechado? desde o início afirmativo: quer libertar todos
os pássaros que trouxe no caminhão e se dedi-
Personagens ca a isso mesmo com aquele que não quer ir
Fundamentais para a construção da trama e embora. Mas o motorista não se limita a essa
para chamar a atenção do leitor, os personagens determinação. Quem é esse motorista bonachão,
ampliam por si os horizontes de possibilidades porém enigmático? Por que libertou os pássa-
de significação de uma narrativa. Embora nas ros? Cumpria um dever ou soltou os pássaros
HQ e nas NI a construção do personagem pa- por conta própria (talvez escondido do dono
reça, à primeira vista, restrita aos seus traços (o da passarada)? Aquela tarefa seria rotineira para
desenho de cada um deles) e ao seu comporta- ele (pelo trajeto já batido da estrada que leva
mento ao longo da história, as formas de reco- à beira do abismo)? O personagem, por outro
nhecimento, de apresentação e as trajetórias de lado, tem uma compleição física pouco propícia
cada um, dentro e fora da obra (na imaginação à aventura de que vai participar com os pássaros
do leitor), são amplas. no final. Já o pássaro preto muda drasticamente
Em Histórias da Carolina, por exemplo, há seu comportamento ao longo da narrativa. Pri-
aspectos anteriores à leitura que ajudam a definir meiro, aparece tímido, medroso, mas aos poucos
a personagem. O traço próprio aos desenhos ganha confiança até transformar-se em líder.
de Ziraldo, além de familiar a gerações intei- E aqui também cabem perguntas: Por que era
ras desde os anos 1960, surge ágil e inventivo, tão medroso? Ele já conhecia o motorista e
sempre revelando algum grau de surpresa para gostava dele? Ele era mesmo medroso ou estava
o leitor. Outra característica comum, aspecto apenas testando o motorista? Como um pássaro
este presente desde os desenhos de resistência tão franzino tem força a ponto de carregar um
do autor ao regime militar no Brasil, é a inquie- homem tão barrigudo?
tude, a ousadia, a fuga da passividade. Carolina Eis outras atividades, relativas aos personagens,
irradia alegria, mas o desenhista não hesita em
que podem ser feitas com as obras comentadas:
descrever o desconforto físico da garota, quando
ela segura uma minhoca com as mãos (p.29). a) Já comentamos sobre o perfil da perso-
Em texto localizado no início do livro, Ziraldo nagem Carolina, de Histórias da Carolina. Para
expressa características distintivas de Carolina: realçar a pluralidade de características, ler a his-
sua aversão a modas passageiras, o amor pela torinha ‘Barato total’ (p.16-20) e ‘O jardim da
natureza e pela jardinagem, o senso de justiça, a Carolina’ (p.48). Nas duas histórias, Carolina
opção por comida vegetariana, a alegria de viver, tem atitudes que afastam a ideia de ‘menina
o respeito pelos companheiros, entre outras. Nas boazinha’. Quais seriam essas atitudes?
69
b) Na obra E a mosca foi pro espaço, enquanto exemplo, a imagem de um canivete aumenta a
a pequena mosca permanece presa, está segura. tensão. O leitor se antecipa e imagina que aquele
Tempo e Movimento
Embora esses temas mereçam análise específica e ofereçam desafios
bem maiores do que aqueles que observaremos em seguida, destacaremos
alguns pontos comuns entre os termos e que podem ser tomados como
uma brevíssima introdução para fins de mediação.Afora o desenvolvimento
da trama (que tem seus momentos determinados, sugerindo a passagem
do tempo), são diversas as estratégias utilizadas em HQ e NI para repre-
sentar o movimento dos personagens e, com isso, a passagem do tempo.
Ainda que sejam comuns os desenhos reproduzidos como fotografia
ou com efeitos fotográficos (quando se quer realçar a surpresa de um
personagem, com um close, por exemplo), de maneira geral as imagens
– em seus variados estilos – procuram concentrar dentro delas movi-
mentos vários e tais movimentos (ilustrados) produzem uma simulação
de duração diferente por cena, fazendo ressaltar a ideia de tempo – e até
de intensidade. Para tal constatação, observemos uma sequência:
71
Eis algumas considerações adicionais e ati- qualquer personagem. Muitas vezes, aliás, os
vidades sobre este tópico: personagens, nesse tipo de enquadramento, são
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
a) A primeira noção a ser desenvolvida pelo apenas um ponto. Enfatiza-se o cenário. Por
mediador é a de que as narrativas acontecem isso, estes planos tendem a ser mais comuns no
em tempos diferentes e, em cada trama, um início da narrativa. Observe que a primeira cena
quadrinho ou uma ilustração não têm a mesma de E a mosca foi pro espaço é descrita em plano
duração da cena seguinte. Até dentro de um geral: em meio aos prédios e às avenidas cheias
mesmo quadro é possível perceber variações de carros, conseguimos localizá-la graças ao
no tempo, a partir do movimento dos persona- pontilhado de seu percurso. Antecipa-se para o
gens. Para introduzir essa noção entre os jovens leitor a imensidão de espaço a ser percorrido
leitores, pode-se pedir a eles que comparem a pelo bichinho. Na ilustração final de 20 mil
duração das historinhas ‘Alma Gêmea’ (p.49-57) léguas submarinas, para ampliar a sensação de mis-
e ‘O jardim de Carolina’ (p.58), em Histórias da tério que reveste o Náutilus, a nave é mostrada
Carolina. A primeira parece se estender por uma a certa distância, integrada ao oceano profundo.
tarde inteira, talvez invadindo a noite. Já a se- As primeiras ilustrações de Os pássaros são todas
gunda historinha transcorre em poucos minutos. feitas em plano geral. A vastidão de terra árida,
b) Os exemplos anteriores sobre o tempo por um lado, diminui o tamanho do caminhão
e o movimento em cada quadrinho também -prisão, mas também parece combinar-se com
servem de base para a investigação do mediador ele (ambos dificultariam a vida).
em outros textos. Mas podemos ir adiante! Em b) Plano conjunto: também tem a função de
Vai e vem, as primeiras peripécias do garotinho contextualizar o leitor em relação ao cenário e
na praia parecem se suceder rapidamente, ocu- difere do plano anterior (central) por destacar
pando, talvez, minutos. Tal sugestão não deve a paisagem, mas já apresentando personagens
ser tomada como regra exata, pois o garotinho identificáveis pelo leitor. É um plano de tran-
pode, depois dos primeiros sustos, ter titubea- sição: do plano geral para o plano médio, em
do e voltado apenas mais tarde a se arriscar no que se destaca o personagem de corpo inteiro.
mar. As cenas seguintes (sobretudo o espaço Por exemplo, quando o caminhão de Os pássa-
de tempo entre uma e outra) certamente são ros chega ao seu destino, há uma sequência de
mais longas, a começar por aquela em que a planos conjuntos: a ligeira aproximação ajuda o
gaivota carrega o menino para o centro de uma leitor a compreender, ao menos vagamente, o
tempestade. que está acontecendo (aos poucos o motorista
é apresentado, bem como a ação que pretende
Enquadramento executar). Em 20 mil léguas submarinas, o plano
conjunto é utilizado em dois momentos cen-
Enquadramento diz respeito ao modo trais: quando Aronnax se depara com a notícia
como os personagens e o cenário são dispostos de mais um ataque do ‘monstro marinho’ (p.4) e,
dentro de um quadrinho ou ilustração. Utiliza- mais tarde, quando Nemo apresenta a Aronnax
se, para tanto, um conjunto determinado de pla- a biblioteca do Náutilus (p.19).
nos – estes podem ter inspiração na linguagem c) Plano médio: é aquele em que o perso-
cinematográfica. Vejamos alguns deles, a partir nagem ocupa o quadro de alto a baixo. Mesmo
da sugestão inicial de Robin (1974): contando com detalhes que tornam identificável
a) Plano geral: o plano geral mostra ao leitor o cenário onde se dá a ação, o interesse maior
cenários maiores, importantes para a trama. O está em destacar os traços e os movimentos dos
destaque é dado para a paisagem, para o que personagens. Com poucas exceções, cada um dos
está acontecendo como um todo, sem distinguir episódios de Os doze trabalhos de Hércules é iniciado
73
por planos que estão entre o conjunto e o médio. (apartamentos, jardins, num ponto da rua ou da
Em Os pássaros, a sequência de cenas relativas ao praia), predominam os planos médio e aproxi-
Toda esta descrição anterior acerca de pla- sucedem nessa ordem (apresentando o cenário e a
nos de leitura é bastante introdutória e não é ação principal). Essa sequência só é interrompida
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
capaz de mostrar a enorme variedade de solu- por um close, que destaca o olhar terno do mo-
ções, principalmente advindas com o desenvol- torista para os pássaros que voam. Já a interação
vimento do cinema, da televisão e da indústria entre o motorista e o pequeno pássaro é feita com
gráfica. Os planos, por sua vez, não aparecem uma sequência de planos médios: conseguimos
isolados, mas sim em permanente combinação observar as reações de ambos, mas as imagens
com outros. De todo modo, feita essa introdu- priorizam o espaço em que estão (o limite entre
ção, podemos nos conectar com a contribuição a prisão e a liberdade). Para quebrar a monotonia
dos planos para a narrativa ilustrada e utilizar dessa sucessão de planos médios, inclui-se entre
este saber na mediação de leitura. eles uma imagem em plano conjunto. Já em Vai
A sucessão de quadrinhos ou imagens, cada e vem, praticamente a narrativa toda é construída
um com determinado enquadramento, também com plano conjunto: o garotinho está bem de-
contribui para o movimento da narrativa. Se lineado e conseguimos ver suas reações. E qual
observarmos, a sequência de planos sempre pró- o expediente utilizado para conferir agilidade e
ximos (médio, aproximado e close) amplifica não tensão dentro de uma narrativa monótona em
só a tensão em Cena de rua, mas também o cres- termos de planos? Cada vez que o leitor vira a
cente desconforto com a situação do menino. página, ele encontra um novo e cada vez mais
Em 20 mil léguas submarinas, quando Ned per- surpreendente desafio para o garotinho.
gunta a Nemo a razão pela qual eles não podem A forte influência exercida pela mídia entre
matar baleias (p.39), a sucessão de quadrinhos as novas gerações leva à necessidade de enfren-
mostra não só a resposta categórica do Capitão, tamento desse tema. O ritmo e boa parte dos
mas também a situação de indefinição que per- efeitos pretendidos por narrativas gráficas e au-
meia a vida dos prisioneiros do Náutilus. Isso é diovisuais (filmes, telenovelas etc.) são ditados
representado por passagens abruptas: utiliza-se por sequências de enquadramentos, muitas vezes
um plano conjunto, seguido de um plano apro- já esquemáticos. Ou seja, os planos criam leitura,
ximado, depois dois quadrinhos em close (com atenção, compreensão, ênfases etc., e tais efeitos
a resposta dura do Capitão) e, finalmente, um se fazem reconhecer por jovens leitores – de
plano americano. livros e mídias variadas. A estratégia de efetuar
Quanto mais radicais as mudanças de pla- cortes drásticos (saltando de um plano médio
no (um plano conjunto sucedido por um close, para um super close, por exemplo) é utilizada por
por exemplo), mais velocidade e mais tensão seriados de ação para aumentar a tensão. Séries
se imprime à narrativa. No caso da cena de 20 de comédia lançam mão de sequências em que
mil léguas submarinas, as mudanças drásticas de prevalecem mudanças suaves, que transitam en-
planos também inspiram a ideia de conflito, tre planos médios e aproximados, sendo raros
de dúvida, de não se saber o que fazer. Afinal, os closes. Além de evitar aumento da tensão, isso
Aronnax e seus companheiros, repentinamente, também ajuda a manter o espectador concen-
se veem num mundo muito diferente daquele trado, para que ele possa acompanhar as piadas.
que eles conheciam. Com isso queremos dizer que uma linguagem
Em Histórias da Carolina, a sequência de ce- estruturada perpassa os discursos imagéticos, e
nas em que os garotos brincam de queimada saber reconhecê-las ajuda no percurso de leitura.
(p.58) conta com um plano conjunto, sucedido Vejamos atividades introdutórias que po-
por quadros em plano médio e o final, para dar dem ser feitas em sala de aula:
destaque à solução, num plano aproximado. Em a) Selecionar imagens com diferentes pla-
Os pássaros, planos gerais, conjuntos e médios se nos – como os comentados anteriormente. O
75
Profundidade
Também relacionada à distribuição dos ele-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
saltar para fora do livro – observe a obra. Ao cidade de Micenas. Para efeito didático, entre as
mesmo tempo, o leitor é quase obrigado a se estratégias utilizadas para representar um grupo
planos que aproximam e mantêm o leitor bem nas ilustrações finais, o exercício de transição
perto do garotinho e de seu infortúnio. Para am- lança mão de outro expediente: o ponto de
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental
pliar a ideia de opressão, esse ponto de vista, de vista utilizado simula a ideia de que o observa-
tão próximo, parece comprimir os personagens, dor ficou de ponta cabeça, o que realça não só
a ponto de eles ficarem disformes. Já em Certos a sensação de liberdade que mostramos antes,
dias, a narrativa intimista é realçada pelo uso di- mas também a surpresa que o leitor terá adiante.
ferenciado dos ângulos. O diálogo inicial entre Fazer com que o jovem leitor compreenda o
mãe e filha é mostrado a partir do ponto de vista papel do ponto de vista a partir do qual as cenas
de um observador que também não parece estar são construídas não esgota as possibilidades de
no chão, mas um pouco acima, bem próximo, significação da obra, mas sim ajuda a descortinar
como se estivesse à espreita. Em Boule & Bill, a virtudes estéticas que criam sentido.
solução encontrada na composição para mostrar
todos os elementos necessários para que o leitor
Considerações finais
entenda o mal-estar do cachorrinho, em ‘Aladim
no jardim’ (p.27), foi construir a imagem a partir Como dissemos no início, procuramos neste
do ponto de vista de um observador que está texto mostrar ferramentas narrativas e gráficas
num nível bem mais alto do que o nível da rua. que permeiam HQ e NI. Tais ferramentas não
A partir destes entendimentos, seguem ob- são as únicas e, mesmo que tenhamos reduzido
servações: alguns expedientes a um esquematismo breve,
esperamos que eles possam ampliar as possi-
a) Em Histórias da Carolina, praticamente
bilidades de abordagem dos livros tratados. As
todos os quadros são feitos a partir do ponto
noções elencadas também não devem ser to-
de vista de um observador que está no chão, no
madas como regras absolutas. Servem a diversas
mesmo nível dos personagens. Numa raríssima
situações, mas não a outras. Devem ser testadas
exceção (p.61), Carolina alerta sua amiga de que
e analisadas a cada nova narrativa ilustrada. A
o ídolo Zeca Bigodinho está no restaurante.
melhor literatura de ficção busca sempre alter-
Indague seus alunos: Por que a cena teria sido
feita a partir do alto? Talvez para sugerir alguma nativas e modos originais para a representação
distância entre as garotas, o garçom e o ídolo. do mundo. No caso das narrativas ilustradas,
Caso a cena fosse vista do chão, as garotas pare- ainda mais com a evolução tecnológica das dé-
ceriam estar muito mais próximas de Zeca. Na cadas recentes, a experimentação em termos de
página seguinte, veem-se os mesmos elementos, recursos gráficos é intensa. De qualquer modo,
a partir do chão. Neste caso, as garotas já estão após estas noções introdutórias, esperamos que
próximas, conversando com o ídolo. Converse os livros do acervo 2014 possam ser vividos
com os alunos e pergunte se eles compreendem de maneira mais intensa, mais indagativa, mais
a função destas nuances na composição. inquieta e mais colorida. E sobretudo desejamos
b) Em E a mosca foi pro espaço, o mediador que sejam mais partilhados em interpretações!
pode fazer comentários relevantes acerca dos
elementos da trama. As cenas são construídas Referências bibliográficas
a partir de um observador que está no nível EISNER,W. Narrativas gráficas de Will Eisner. São
da mosca, ainda que ela viaje até mesmo pelo
Paulo: Devir, 2008.
espaço sideral. Essa estratégia aproxima o leitor,
fazendo-o acompanhar de perto a trajetória do LARIVAILLE, P. L’analyse (morpho)logique du
bichinho. Simbolicamente, a maior parte das récit. Poétique, Paris, 19, 1974.
imagens conta com fundo branco, ampliando ROBIN, C. Travaux dirigés et bande dessinée. Société
a sensação de se estar solto no ar. No entanto, Universitaire d’Éditions et de Librairie, 1974.
Obras selecionadas
PNBE
2014
80
Eu vi!
UM ELEFANTE
Texto e ilustrações: SE BALANÇA...
Fernando Vilela
Texto e ilustrações:
Editora: Escarlate Marianne Dubuc
Categoria: Textos em prosa Editora: DCL
Categoria: Textos em prosa
O BEBÊ DA O SACO
CABEÇA AOS PÉS Texto e ilustrações: Ivan Zigg
Texto: Victoria Adler Marcello Araujo
Ilustrações: Hiroe Nakata Editora: Duetto
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
81
É UM GATO? BORBOLETINHA
Texto e ilustrações: Texto: Andreia Moroni
Guido van Genechten Ilustrações: Daniela Galanti
Editora: Gaudí Editorial Editora: Carochinha
Categoria: Livros de Categoria: Textos em verso
narrativas por imagens
Eu te disse
O BOSQUE ENCANTADO
Texto e ilustrações: Taro Gomi
Texto: Ignacio Sanz
Editora: Berlendis &
Verteccchia Editores Ilustrações: Noemí Villamuza
Categoria: Textos em prosa Editora: Macmillan
Categoria: Textos em verso
83
BRANCA DE NEVE
Texto: Jacob Grimm e Wilhelm Grimm
Adaptação: Laurence Bourguignon
Iludstrações: Quentin Gréban
Editora: Comboio de Corda
Categoria: Textos em prosa
MINHOCAS COMEM
QUEM TEM MEDO
AMENDOINS
DE MONSTRO?
Texto e ilustrações: Elisa Géhin
Texto: Ruth Rocha
Editora: Pequena Zahar
Ilustrações:
Mariana Massarani Categoria: Livros de
narrativas por imagens
Editora: Richmond
Categoria: Textos em verso
87
CURUPIRA, COACH!
BRINCA COMIGO Texto: Rodrigo Folgueira
Texto: Lô Carvalho Ilustrações: Poly Bernatene
Ilustrações: Susana Rodrigues Editora: EdiPUCRS
Editora: Bamboozinho Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
NÃO! A VISITA
Texto e iustrações: Texto e iustrações:
Marta Altés Lúcia Hiratsuka
Editora: Escarlate Editora: Farol Literário
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
RINOCERONTES NÃO
COMEM PANQUECAS
Texto: Anna Kemp
Ilustrações: Sara Ogilvie
Editora: Paz & Terra
Categoria: Textos em prosa
E A MOSCA O SEGREDO DE
FOI PRO ESPAÇO RIGOBERTA
Texto e ilustrações: Texto: Raquel Marta Barthe
Renato Moriconi Ilustrações: Leticia Asprón
Editora: Escala Educacional Editora: Biruta
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
FUMAÇA
Texto: Antón Fortes
Ilustrações: Joanna Concejo
Editora: Editora Positivo
Categoria: Textos em prosa
98
Campeões
Texto: Fiona Rempt
Ilustrações: Noëlle Smit
Editora: Manati
Categoria: Textos em prosa
MARCÉU GALANTE
Texto: Marcos Bagno Texto e ilustrações:
Editora: Posigraf João Proteti
Categoria: Textos em prosa Editora: Cortez Editora
Categoria: Textos em verso
PENAS DE GARÇA
Texto: Auta de Souza
Ilustrações: Rosinha
Editora: Jujuba
Categoria: Textos em verso