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PNBE na escola

Literatura fora da caixa


Guia 2
Anos iniciais do Ensino Fundamental
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria Executiva
Secretaria da Educação Básica
Guia 2
PNBE na escola
Literatura fora da caixa
Anos iniciais do Ensino Fundamental
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria Executiva
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Formulação de Conteúdos Educacionais
Coordenação Geral de Materiais Didáticos

Equipe Técnico-Pedagógica – COGEAM/SEB


Andrea Kluge Pereira
Cecília Correia Lima
José Ricardo Albernás Lima
Lucineide Bezerra Dantas
Lunalva da Conceição Gomes
Maria Marismene Gonzaga

Equipe de Apoio Administrativo – COGEAM/SEB


Gabriela Brito de Araújo
Gislenilson Silva de Matos
Neiliane Caixeta Guimarães
Paulo Roberto Gonçalves da Cunha

Seleção de originais e Coordenação da edição


Magda Becker Soares
Aparecida Paiva

Planejamento editorial e preparação de textos


Ana Paiva
Rogerio Mol

Projeto gráfico e diagramação


Christiane Costa

PNBE na escola : literatura fora da caixa / Ministério da Educação ; elaborada pelo Centro
de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. – [Brasília :
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2014].
3 v.

Guia 1 : Educação infantil – Guia 2: Anos iniciais do Ensino Fundamental – Guia 3:


Educação de Jovens e Adultos.

ISBN: 978-85-7783-155-5

1. Programa Nacional Biblioteca da Escola. 2. Acervo. 3. Mediação pedagógica.


4. Educação literária. I. Brasil. Ministério da Educação. II. Universidade Federal de Minas
Gerais. Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita.

CDU 028.1(036)

Tiragem
Guia 2 – PNBE: Literatura fora da caixa – Anos iniciais do Ensino Fundamental
651.860 exemplares
Sumário

7 A pres en tação
Ministério da Educação

9 i ntro d ução
Magda Soares
Aparecida Paiva

17 TEXTOS EM VERSO – Poema, Quadra,


Parlenda, Cantiga, Trava-Língua, Adivinha
Célia Regina Delácio

29 PARA F ORMAR L EITORES BONS DE PROSA


João Luís Ceccantini
Thiago Alves Valente

49 A L ITERATURA ME ALC ANÇA PELAS IM AGENS


QUE A CONSTITUEM : Reflexões epistolares
Flávia Brocchetto Ramos

65 Para a leitura de h istórias


e m quad ri n hos e de narrativa s
de ficção por imagens:
Introdução a aspectos narrativos e gráficos
Juvenal Zanchetta Jr.

79 PNBE 20 1 4
Obras selecion adas
7

Apresentação

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Ministério da Educação

A distribuição de obras de literatura pelo Programa Nacional Biblio-


teca da Escola (PNBE) já passou por diversos formatos. Em todos eles, o
objetivo do Ministério da Educação (MEC) sempre foi proporcionar aos
alunos da rede pública o acesso a bens culturais que circulam socialmente,
de forma a contribuir para o desenvolvimento das potencialidades dos
leitores, favorecendo, assim, a inserção desses alunos na cultura letrada.
No entanto, apenas o acesso aos livros não garante sua apropria-
ção, sendo de fundamental importância a mediação do professor para a
formação dos leitores. Mediar a leitura significa intervir para aproximar
o leitor da obra e, nesse sentido, o trabalho do professor assume uma
dimensão maior, uma vez que extrapola os limites do texto escrito, pro-
movendo o resgate e a ampliação das experiências de vida dos alunos e
do professor mediador.
Para auxiliar os professores nessa tarefa, o MEC vem, ao longo dos
anos, produzindo materiais voltados para o uso dos acervos do PNBE,
como o Guia do Livronauta (PNBE 1998),1 História e Histórias (PNBE
1999), o Catálogo Literatura na Infância: imagens e palavras (PNBE 2008),2
além de outras publicações voltadas para a formação de leitores, como a
Revista Leituras, o kit Por uma Política de Formação de Leitores3 e o volume
20 – Literatura Infantil – Coleção Explorando o Ensino.4
Dando prosseguimento à essa ação formativa, este Ministério está
encaminhando às bibliotecas das escolas que oferecem Educação Infantil
(creche e pré-escola), anos iniciais do Ensino Fundamental e/ou Educa-
ção de Jovens e Adultos esta publicação PNBE na escola: Literatura fora da
caixa. Composta por três volumes, ela traz um conjunto de textos que,
certamente, irão contribuir para uma mediação mais efetiva, de forma a
proporcionar aos alunos diferentes experiências com a leitura literária.
Essa publicação foi elaborada pelo Centro de Alfabetização, Leitura

1
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001878.pdf
2
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/literatura_na_in-
fancia.pdf
3
Disponíveis em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar-
ticle&id=16896&Itemid=1134
4
Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?cate-
goria=117
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e Escrita (CEALE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),


responsável pelo processo de avaliação, seleção e composição dos acervos.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Cada acervo, concebido para o uso coletivo de alunos e professores,


vem acompanhado desta publicação. Os acervos estão organizados em
quatro categorias:
Categoria 1: Para as instituições de educação infantil que atendem
creche foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco)
obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Categoria 2: Para as instituições de educação infantil que atendem
pré-escola foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e
cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Categoria 3: Para as escolas que oferecem os anos iniciais do ensino
fundamental foram formados 4 (quatro) acervos distintos, com 25 (vinte
e cinco) obras cada, num total de 100 (cem) obras.
Categoria 4: Para as escolas que oferecem educação de jovens e
adultos foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco)
obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Nem todas as escolas receberão todos os acervos, porque a distribui-
ção está relacionada ao número de alunos matriculados. Mas, ao final dos
volumes, consta a relação de todas as obras selecionadas de forma que os
professores possam conhecer a totalidade dos títulos.
As obras selecionadas, além de diversificadas do ponto de vista te-
mático, dos gêneros e formatos, também diferem do ponto de vista do
grau de complexidade. Portanto, os acervos são compostos por obras que
estimulam a leitura autônoma por parte de crianças, jovens e adultos em
processo de alfabetização ou propiciam a professores e alunos alternativas
interessantes de leitura compartilhada.
No que diz respeito à educação infantil, este Ministério, consideran-
do a necessidade de garantir material de apoio à educação de crianças
nessa etapa de ensino, ampliou a distribuição dos acervos voltados para
a educação infantil, encaminhando-os, não apenas às bibliotecas dessas
escolas, mas, também, para salas de aula e outros espaços onde se dá o
trabalho com crianças de 0 a 3 anos (creche) e de 4 e 5 anos (pré-escola).
Este Ministério, ao incluir nos acervos de livros de literatura essa
publicação, espera contribuir, de forma efetiva, com a circulação e leitura
das obras que compõem os acervos do PNBE 2014 e, de modo especial,
com a formação leitora de alunos e professores.
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introdução

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Magda Soares
Aparecida Paiva

Você tem em mãos o guia dos anos iniciais leitora, apresentamos a você um conjunto de
do Ensino Fundamental do PNBE 2014. Este textos que representam os gêneros selecionados
volume é um dos dos três guias que serão dis- para o acervo: prosa, verso, imagem e história
ponibilizados pelo MEC para acompanhar os em quadrinhos.
acervos selecionados pelo Programa Nacional
Biblioteca da Escola. Além deste guia, foram Divisão interna do Guia
produzidos mais dois: um para a Educação In-
Cada um dos textos, impressos após a apre-
fantil e um para a Educação de Jovens e Adultos,
sentação deste guia, foi planejado especialmente
segmentos contemplados por esta edição do
para você, mediador de leitura; são textos escri-
Programa. Esperamos que você, de posse deste
tos em linguagem simples e direta onde cada au-
guia, tenha uma oportunidade concreta de cres-
tor(a) procura discutir as especificidades de cada
cimento como mediador(a) de leitura literária
gênero, abordando obras que o representam, no
na escola e de enriquecimento de sua formação
intuito de que essas leituras funcionem como
como leitor de literatura, o que, acreditamos, o
exemplos e incentivo para a apropriação dos
ajudará a dar um novo significado às práticas
acervos pelos mediadores de leitura, de forma
de leitura literária com seus alunos, em sala de
a enriquecer as atividades de leitura na escola.
aula, ou na biblioteca escolar.
Além desses textos básicos, há, ao final de
Nosso propósito com esse “guia”, esse ma-
cada guia, a relação de todos os títulos selecio-
terial de apoio, é possibilitar a você um acesso
nados no PNBE 2014, separados por segmento,
dialogado ao universo literário das obras que
categoria e gênero. Esperamos, com esse nosso
constituem os acervos do PNBE 2014, propon-
esforço, duas coisas: socializar com você os livros
do orientações de uso desses acervos na escola,
selecionados no PNBE 2014, a fim de que você
pelos professores e pelos profissionais que atuam
possa usufruir desse acervo como leitor(a) de
nas bibliotecas escolares, com apresentação e
literatura, independente do segmento em que
discussão pedagógica de gêneros, autores, temá-
atue, provocando em você o desejo de lê-los
ticas, competências literárias e outras formas de
e compartilhá-los com seus alunos. Por outro
conhecimento e apreciação das obras.
lado, esse nosso movimento de apresentar visu-
Assim, além dessa apresentação inicial,
almente, ao final de cada guia, todo o acervo do
que explicita nosso desejo de contribuir efe-
PNBE 2014 também pretende fomentar uma
tivamente com a circulação e leitura das obras
curiosidade nos mediadores de leitura, assim
que compõem os acervos do PNBE 2014, e,
como uma maior circulação das obras na escola,
de modo muito especial, com sua formação
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ao deixar claro o quanto são tênues as separações por segmento, faixa


etária, ou qualquer outro tipo de categorização e que, o mais importante,
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

é a literatura de qualidade estar disponível.


Por fim, gostaríamos de ressaltar que a relação das obras adquiridas pelo
PNBE ainda oferece um parâmetro relevante a respeito do quadro geral dos
livros veiculados nas escolas públicas brasileiras.Ao observar gêneros, autorias
e categorias, o professor, ainda que sua escola não tenha alguns desses títulos
em seu acervo, dispõe de um conjunto de dados que podem funcionar como
baliza para a escolha de material de leitura, considerando que a qualidade
literária é item primordial para a seleção dos acervos do PNBE.

Para começo de conversa, alguns dados para você se situar


O Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE1 – foi instituído
em 1997 e tem como objetivo principal democratizar o acesso a obras de
literatura infantojuvenil, brasileiras e estrangeiras, e a materiais de pesquisa
e de referência a professores e alunos das escolas públicas brasileiras. O
Programa é executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação – FNDE – em parceria com a Secretaria de Educação Básica
do Ministério da Educação – SEB/MEC.Você pode obter informações
sobre todas as edições do Programa no site do MEC, buscando por PNBE.
Para que você tenha uma ideia da magnitude desse Programa, vamos
apresentar a seguir dados do investimento feito no período de 2006 a
2013. Os dados de 2014 ainda estão sendo processados. Observe bem o
volume de recursos investidos.

Agora, com base no quadro a seguir, preste especial atenção na


quantidade de escolas e alunos atendidos no período de 2006 a 2013
e projete a espantosa quantidade de livros distribuídos pelo Programa

1
Se você quiser saber mais sobre o PNBE, como por exemplo sua história, processo de
seleção e constituição de acervos, cf. FNDE: http://www.fnde.gov.br/ e cf. PAIVA,
Aparecida (org.). Literatura fora da caixa: O PNBE na escola – distribuição, circulação e
leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
11

desde sua criação. Muitas vezes, os professores de não contemplado pelas editoras. No entanto, é
escolas menores, que recebem uma quantidade uma produção importante, porque já na creche

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


pequena de acervos, não imaginam a quantidade a criança merece oportunidades de contato com
de livros de literatura que são distribuídos ano livros adequados para a idade, que promovem
a ano. No entanto, no que pese esse grande sua entrada no mundo da escrita.
número de livros distribuídos, se pensarmos no
tamanho do nosso País, na carência das nossas O segmento anos iniciais
escolas públicas e na quantidade de alunos que do Ensino Fundamental
elas atendem, sempre haveremos de reivindicar
Obedecendo ao que foi previsto no edital
um aumento no volume de investimento.
do PNBE 2014, deveriam ser selecionadas, para
cada acervo literário destinado aos anos iniciais
do Ensino Fundamental, obras de cada um dos
três agrupamentos seguintes:

1. Textos em verso – poema, quadra, par-


lenda, cantiga, trava-língua;
2. Textos em prosa – pequenas histórias,
novela, conto, crônica, teatro, clássicos
da literatura infantil;
3. Livros de imagens e livros de histórias em
O que foi oferecido para
quadrinhos, dentre os quais se incluem
a seleção dos acervos? obras clássicas da literatura universal, ar-
Para que você tenha uma ideia da quantidade tisticamente adaptadas ao público dos
de livros inscritos no PNBE 2014, abarcando os anos iniciais do Ensino Fundamental.
segmentos Educação Infantil, anos iniciais do Ensi-
no Fundamental e EJA, observe o gráfico a seguir: Os livros inscritos para os anos iniciais do
Ensino Fundamental se distribuíram de forma
muito diferenciada por esses três agrupamen-
tos; observe, no gráfico a seguir, a percentagem
dos inscritos por agrupamento e, portanto, as
possibilidades de escolha oferecidas para a com-
posição dos acervos:

Observe que é a categoria 3 – livros inscri-


tos para os anos iniciais do Ensino Fundamental
– que recebe o maior número de inscrições de
livros pelas editoras: mais da metade dos inscri-
tos. Por outro lado, a inscrição é muito pequena
para livros destinados às crianças de 0 a 3 anos
– apenas 3% – o que evidencia a pouca produ- Os números evidenciam que a quantidade
ção editorial que há para esse segmento, ainda
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de livros em prosa inscritos pelas editoras é muito superior à dos inscritos


nas outras categorias, o que permite supor que a produção de livros para
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

os anos iniciais do Ensino Fundamental vem privilegiando, de forma


significativa, a prosa.
Sob determinado aspecto, essa predominância da prosa entre os livros
inscritos é positiva: é fundamental que a criança, na etapa em que está
consolidando seu domínio da leitura autônoma e começando a se inserir,
de forma sistemática, no mundo da escrita, vivencie com frequência e
intensidade o texto em prosa, para que, além de imergir no mundo do
imaginário e da fantasia dos contos e das narrativas, e também no mundo
da informação, vá desenvolvendo sua competência leitora e o conheci-
mento dos usos e funções da escrita. Entretanto, surpreende a inscrição
de número pequeno de livros de poemas, que muito atraem as crianças e
são importantes para introduzi-las no mundo da poesia.
Apesar do desequilíbrio no número de livros inscritos em cada categoria e
por gênero, na seleção final para compor os acervos destinados aos anos iniciais
do Ensino Fundamental, incluímos, em cada um dos acervos, livros de todas
categorias – prosa, verso, imagem, história em quadrinhos – mesmo havendo,
pelo já exposto, mais alternativas de escolha de prosa – isso explica por que
os livros em prosa são mais numerosos nos acervos. Mas você encontrará, nos
acervos 2014, livros de todas as categorias previstas no Edital, o que propicia
às crianças a vivência de diferentes gêneros e a possibilidade de desenvolver
conceitos, conhecimentos e habilidades peculiares a cada um deles.
Do grande número de livros inscritos no PNBE, do desequilíbrio
na distribuição deles pelas cinco categorias a serem contempladas, dos
diversos critérios a serem obedecidos, que serão indicados no item abaixo,
enfim, desse universo de possibilidades, foi necessário selecionar apenas
os 100 títulos previstos em Edital2 para os anos iniciais do Ensino Fun-
damental e distribuí-los por quatro acervos de 25 livros cada. Foi o que
fizemos e, pode-se facilmente concluir, não foi uma tarefa fácil.

Com que critérios foram escolhidos


os livros para compor os acervos?
Além de constituir cada acervo com diferentes categorias de livro
e diferentes gêneros, procuramos ainda selecionar os livros pelo critério
de sua qualidade: qualidade textual, que se revela nos aspectos éticos,
estéticos e literários, na estruturação narrativa, poética ou imagética, numa
escolha vocabular que não só respeite, mas também amplie o repertório
linguístico de crianças na faixa etária correspondente à Educação Infan-
til; qualidade temática, que se manifesta na diversidade e adequação
dos temas, e no atendimento aos interesses das crianças, aos diferentes
contextos sociais e culturais em que vivem e ao nível dos conhecimentos

2
Ao final deste guia, você encontrará a relação completa de todos os acervos do
PNBE 2014.
13

prévios que possuem; qualidade gráfica, que


se traduz na excelência de um projeto gráfico

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


capaz de motivar e enriquecer a interação do
leitor com o livro: qualidade estética das ilus-
trações, articulação entre texto e ilustrações, e
uso de recursos gráficos adequados à criança na
etapa inicial de inserção no mundo da escrita.
Foi ainda critério para constituição dos
acervos a seleção, entre as obras consideradas
de qualidade, nos vários agrupamentos – prosa,
verso, imagem e história em quadrinhos –, da-
quelas que representassem diferentes níveis de Leitura silenciosa, compartilhada ou mediada: incentivar.
dificuldades, de modo a atender a crianças em
variados níveis tanto de compreensão dos usos contação de histórias e de leitura de poemas, que
e funções da escrita quanto de desenvolvimento possibilitem a construção de sentidos por esse
de sua competência leitora, possibilitando assim leitor que já pode ler sozinho, mas ainda depen-
formas diferentes de interação com o livro, seja de da orientação daqueles que se encarregam
pela via da leitura autônoma, sobretudo no mo- da formação de leitores. Espera-se que, nesse
mento da entrada no ensino fundamental, aos segmento da escolaridade, as crianças tenham
seis anos, seja pela leitura mediada pelo professor. contato permanente com esses bens culturais
que são os livros de literatura, para que se fami-
Não basta a presença do livro: liarizem com eles de modo a interagir com a lin-
guagem literária – nos textos e nas ilustrações –,
o papel dos formadores de leitores
desenvolvendo também a compreensão dos usos
O PNBE tem cumprido o importante papel sociais da escrita.Todo o trabalho com o livro de
de fazer chegar até as escolas públicas brasileiras literatura, se feito de maneira adequada quando
livros de literatura para todos os segmentos da as crianças iniciam a sua trajetória escolar, pode
escolaridade: educação infantil, anos iniciais do despertar o gosto pela leitura e o interesse por
ensino fundamental, anos finais do ensino fun- livros, e pode ainda contribuir consideravelmen-
damental, ensino médio, educação de jovens e te para a etapa posterior, quando espera-se que
adultos. Em suas várias edições, o Programa vem o aluno tenha já domínio da leitura. Mas, para
ampliando o seu alcance, apontando o quanto que isso ocorra, as experiências com a leitura
é diversificado o público leitor que frequenta literária precisam ser bem-sucedidas, de modo a
as bibliotecas escolares. Essa condição variável aguçar a vontade de ler mais e conhecer outros
e múltipla requer o olhar sensível e nuançado livros que compõem o grande acervo de obras
para as especificidades de cada fase de formação da cultura escrita endereçado a crianças e jovens.
e também para as peculiaridades das mediações Nas situações de leitura autônoma ou media-
que envolvem cada segmento da escolaridade. da que ocorrem nos anos iniciais, vale apostar
Mediações que acontecem nos espaços e tempos numa relação cúmplice e aproximada entre o
dedicados à leitura na escola. mediador e a criança, em que aquele promo-
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, va e incentive manifestações – palavras, gestos,
em que estão crianças de 6 a 10 anos, não po- avaliações, comentários – das crianças diante do
deria ser diferente. Nesta fase, a leitura literária que leem, e em geral não leem de forma passiva,
ainda conta em grande medida com a mediação podendo-se assim planejar e conduzir de forma
de professores e bibliotecários, em atividades de mais adequada a leitura literária.
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A literatura na escola: formando leitores


Depois de um longo caminho percorrido pelo livro, desde sua inscrição
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

no PNBE, pela sua editora, até a sua seleção para compor o acervo do Pro-
grama e posterior aquisição pelo FNDE para distribuição, ele, finalmente,
chega à escola. Se há dados seguros dessa distribuição, como você pôde
observar no início desta introdução, o mesmo não podemos dizer da sua
recepção, circulação e uso nas escolas públicas do País. Com menos segurança
ainda podemos elencar ações que viabilizam a formação de professores e
de profissionais que atuam nas bibliotecas escolares para o reconhecimento
do potencial da literatura disponibilizada e suas possibilidades formativas e
educativas no cotidiano escolar, em especial, na sala de aula e na biblioteca.
Mas por acreditar na qualidade literária destes acervos, nosso papel
inclui um desejo de divulgação dos acervos do PNBE, e por isso chega
até você este material de apoio, para que os profissionais responsáveis pelo
processo de mediação de leitura na escola dele se apropriem e depois
façam circular os conhecimentos.
Assim, nossa expectativa é a de que você, que está lendo esse guia – o
que certamente indica que os acervos do PNBE chegaram em sua escola –,
se envolva nesse processo, da forma mais colaborativa possível. Nessa
perspectiva, vamos apresentar, desde já, algumas sugestões que podem
ser implementadas na escola.

Chegada e presença
dos livros na sua escola
Sugerimos que você reflita inicialmente sobre algumas questões:
• Os acervos do PNBE estão em minha escola? Onde?
• Foi feita ou vai ser feita divulgação sobre a chegada desses acervos
na escola?
• É ou será desenvolvido algum trabalho de mediação com esses
acervos?
• Os acervos do PNBE têm sido postos à disposição dos alunos e
têm sido procurados por eles?
Essas são algumas questões que podem nortear a ação coletiva dos me-
diadores de leitura no espaço escolar. E veja que estamos falando de espaço
escolar, porque acreditamos que a voz do docente não pode ser isolada, todos
são mediadores de leitura, os professores, os profissionais da biblioteca, os
gestores, enfim, os diferentes mediadores de leitura do contexto escolar são
aqueles que detém o poder de fazer o livro circular. Se os mediadores se
propõem a conhecer os acervos do PNBE, suas características e potenciali-
dades, e se o trabalho for coletivo, tanto será mais fácil naturalizar, valorizar
positivamente a atividade da leitura junto aos leitores iniciantes. O espaço
escolar, então, passaria a ser concebido como privilegiado para as atividades
de leitura. Enfim, se os próprios mediadores intensificarem suas práticas de
leitura, o livro de literatura poderá ocupar o centro da escola.
15

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Os livros na biblioteca
A biblioteca precisa ser assumida como o espaço da socialização, não
do isolamento; inúmeras atividades positivas e prazerosas de leitura podem
ser desenvolvidas nela: a contação ou leitura de histórias, fábulas, contos
de fadas; a leitura ou a recitação de poemas; a busca de informações em
livros informativos; e tantas outras atividades que levam a criança ainda
não alfabetizada a apreciar e diferenciar gêneros.
A criança pode ser ela mesma protagonista de atividades, como: atuando
em teatrinho de fantoches; narrando oralmente suas experiências; ouvindo
e contando causos e histórias de pescador.
A biblioteca tem também o papel de aproximar dela as crianças, potenciais
leitores.Atividades simples, como uma “festa” para receber novos acervos ou
a divulgação em cartazes de novos livros atraem a atenção e o interesse das
crianças. O importante é que os profissionais que trabalham nesse local se
reconheçam como mediadores no trabalho de formação de leitores. Assim,
uma vez concebida como local de leitura, interação e experimentação, a
biblioteca se converte em referência de cultura e conhecimento para o leitor.

Os livros na sala de aula


Professor, sua turma está recebendo os acervos do PNBE-2014.
São 100 novos livros, que poderão ser usados em espaços variados: salas
de aula, bibliotecas escolares, anfiteatros, e em áreas externas tais como
pátios, não devendo estar restritos a espaços internos. Para isso, a inte-
ração entre responsável pela biblioteca e professor é importante, não só
para controle do acervo, mas também para uma colaboração que pode
ser rica, entre esses dois mediadores de leitura.
16

escolhas, de modo que este fique na biblioteca


para consulta de colegas.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Além disso, a professora, em parceria com a


pessoa responsável pela biblioteca, pode orientar
o empréstimo de livros para as crianças, com
objetivos principais: para que a criança leia em
casa, ou para que familiares leiam o livro para a
criança, no caso de esta ainda não ser capaz de
leitura autônoma, ou para que a criança leia o
livro para familiares.

Ler pode ser uma deliciosa descoberta para as crianças. Concluindo


Agora, finalmente, você vai poder entrar em
Várias atividades podem ser desenvolvidas contato com os textos que discutem as prin-
em sala de aula com livros da biblioteca, como: cipais categorias de seleção voltadas aos anos
após a leitura pela professora, as crianças podem iniciais do Ensino Fundamental – prosa, verso,
representar em desenhos partes da história, fábu- imagem e história em quadrinhos. Pesquisadores
la ou conto de fadas; a história ou fábula lida pela e professores, com larga experiência na área da
professora pode ser dramatizada pelas crianças; leitura e de literatura, comentarão, cada um ao
as crianças podem apresentar e “ler” um livro seu modo, a concepção de gênero que subjaz a
de imagem para os colegas de uma outra sala; as cada categoria e apresentarão análises textuais
crianças podem recontar oralmente uma história e ilustradas de algumas obras selecionadas pelo
que foi lida pela professora; as crianças podem PNBE 2014, como exemplos das possibilidades
memorizar e recitar poemas curtos; as crianças de uso e prática das obras para este segmento.
podem preparar um cartaz de propaganda de Desejamos a você uma boa leitura dos tex-
um livro de que tenham gostado, para expô-lo tos que compõem esse guia e, de modo muito
na biblioteca e incentivar colegas a procurá-lo; especial, uma prazerosa leitura dos livros selecio-
as crianças podem escrever sua avaliação de li- nados para 2014, além de um excelente trabalho
vros lidos, compondo um guia de orientação de de mediação com os alunos.
17

TEX TOS EM VERSO –

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Po e ma , Q u a dr a , Par l end a,
Can ti ga , Tr a v a - L í ng ua, Ad i v i nha
Célia Regina Delácio 1

A educação do ser poético


Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e,
com o tempo, deixam de sê-lo?
Será a poesia um estado de infância relacionada com a
necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco,
a despreocupação com os mandamentos práticos de viver
– estado de pureza da mente, em suma?
[...]
O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes
pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão
direta das coisas e, depois, como veículo de informação
prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo
mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente
com a sensibilidade poética.
[...]
E a arte, como a educação e tudo o mais, que fim mais
alto pode ter em mira senão este, de contribuir para a
educação do ser humano à vida, o que, numa palavra,
se chama felicidade?
Carlos Drummond de Andrade

Introdução: começo de conversa


Caro(a) Professor(a), Como sabemos, de um lado, alguns estudos
Em primeiro lugar, queremos esclarecer que apontam que boa parte dos professores não tra-
esta proposta de trabalho é apenas um caminho balha com a poesia na escola porque a concebem
possível de ser trilhado, entre muitos outros como um gênero difícil e pouco apreciado pe-
caminhos que podem surgir da sua própria tra- las crianças (CUNHA, 1976, 1986; COELHO,
jetória, da leitura do acervo PNBE/2014 e das 1987, 1991; SORRENTI, 2007; entre outros).
leituras sugeridas no final deste texto. Temos De outro lado, muitos pesquisadores da área do
certeza de que é você, professor, com toda a sua ensino de literatura (ABRAMOVICH, 1991;
experiência e seu conhecimento de cada turma, AVERBUCK, 1988; LAJOLO, 2002; SOARES,
quem saberá utilizar essas sugestões da melhor 2006; PINHEIRO, 2002; entre outros) reve-
maneira, adaptando-as e enriquecendo-as com lam o trabalho equivocado que é realizado por
suas vivências e a de seus alunos. diversos professores ao utilizar a poesia apenas

Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas. Professora adjunta e pesquisadora
1

da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).


18

para comemorar determinadas datas, transmitir não se preocupe porque isso pode ser mudado.
lições de moral, inculcar determinados valores, Abra seus olhos e o seu coração para conhecer
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

ensinar gramática, medir as sílabas, responder esse belíssimo acervo e embarque com a turma
questões objetivas de reprodução do texto, cir- nessa aventura literária.
cular substantivos, adjetivos ou verbos entre A leitura é o seu passaporte!
outras atividades óbvias, mecânicas e desesti-
mulantes, tendo muitas vezes o livro didático Memorial de versos
como principal intermediário.
Sugerimos o registro de todo esse trabalho
Apesar dessas constatações frustrantes, é pre-
de leitura, a ser desenvolvido ao longo do ano
ciso sublinhar que também existem professores
letivo em cada classe, em um livro ou caderno
fazendo trabalhos significativos com o gênero
grande intitulado Memorial de Versos. Esse Me-
no contexto escolar. Essas práticas concretizadas
morial, que pode ser confeccionado artesanal-
por alguns professores fazem a diferença e se
mente e ilustrado pelas mãos da própria turma,
tornam inesquecíveis na vida de seus alunos.
registrará depoimentos, comentários, desenhos,
Considerando a infância como o momento
impressões, poemas, entre outros, durante o pro-
essencial de jogos e brincadeiras, ludismo e fan-
cesso de leitura dos livros do acervo e poderá
tasia (BORDINI, 1986; KIRINUS, 1998); a im-
fazer parte da exposição de Antologias Poéticas a
portância da poesia na educação do ser humano;
serem feitas pelos alunos e apresentadas a toda
o fato de que para milhares de crianças brasileiras
comunidade escolar em um evento de encer-
o contato com a poesia ocorre apenas na escola;
ramento das atividades que vamos recomendar
a escolarização incorreta da literatura nos livros
mais adiante: um Sarau poético. No final, você
didáticos (LAJOLO, 2002; SOARES, 2006) e a
terá nesse Memorial um valioso documento
necessidade urgente de uma escolarização correta
para avaliar o trabalho realizado e planejar sua
desse gênero (SOARES, 2006), estamos trazendo
continuidade no próximo ano escolar.
esta proposta para colocarmos a poesia no lugar
de honra que ela merece ocupar na escola.
Você, professor, é a figura principal para Memória de versos nas cantigas de roda
fazer a aproximação entre os textos em versos Para resgatar a experiência dos alunos com
que compõem o PNBE/2014 e os seus alunos. textos em versos, num primeiro momento, pro-
Por isso, antes de iniciar as atividades indicadas, ponha uma brincadeira de roda para aflorar a
procure resgatar e escrever as suas memórias de memória e a vivência das cantigas de roda pre-
leitura (cf. LAJOLO, 2005, p.39) e identificar sentes no cotidiano das crianças. Os alunos, de
os textos em verso mais marcantes. Lembre-se mãos dadas em forma de um círculo, giram em
que cantigas de roda, parlendas, trava-línguas, sentido horário cantando músicas folclóricas de
poemas, quadras e adivinhas – considerados roda como, por exemplo,“Ciranda, Cirandinha”.
textos em verso nesse acervo – fazem parte das Uma música puxa a outra e, assim, os versos
brincadeiras infantis e de nossa experiência com memorizados vão surgindo nessa brincadeira
a função poética da linguagem (CADEMAR- lúdica com as cantigas de roda. Depois dessa
TORI, 2009, p.116-117). Recorde-se dos versos atividade, convide os alunos para registrarem
que fizeram parte de sua infância, adolescência essas cantigas juntos no Memorial de Versos.
e juventude, e como eles foram (ou não) traba- O objetivo desta atividade é conhecer o
lhados na escola. Não importa qual tenha sido repertório de textos em versos dos alunos para
suas experiências com esse gênero, positivas ou ampliá-lo por meio do acervo do PNBE/2014,
negativas, procure registrá-las. Se o seu contato a fim de que eles possam se aproximar da lingua-
com o gênero foi pequeno ou insignificante, gem poética, compreender e gostar de ler poesia.
19

Conhecer o repertório Criar um ambiente favoravel à


de versos dos alunos recepção dos textos em versos

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Em outro momento, organize os alunos Além de dar voz e socializar suas memó-
em grupos pequenos para conversarem sobre rias de versos, a dos alunos e a dos convidados
os textos em verso que conhecem e de que se trazidos por eles, outra atividade que antecede
lembram. Cada grupo escolhe um relator para a apresentação do acervo pode ser a de criar
sintetizar a conversa e depois apresentar para a espaços interessantes para favorecer o trabalho
turma. O professor registra no Memorial de Versos na sala de aula, na biblioteca escolar, na sala de
os poemas lembrados pelos alunos. leitura entre outras possibilidades. É importante
Converse com a classe sobre esse repertório disponibilizar os livros em espaços com boa lu-
e procure descobrir o motivo da memorização: minosidade, que chamem a atenção, e as crianças
os poemas que eles mais gostaram, o que senti- devem ter acesso livre às obras quando deseja-
ram, que imagem lhes veio à mente, o que mais rem. Planeje um lugar confortável e acolhedor
lhes chamou atenção. Procure anotar os aspectos para a leitura. É possível fazer isso com poucos
levantados na conversa observando o que eles re- recursos e muita criatividade. Com almofadas e
conhecem como características do gênero (verso, tapetes, por exemplo, o ambiente fica informal
estrofe, rima, ritmo, sonoridade, visualidade etc.). e acolhedor. Planeje espaços com cenários que
deem vazão para o imaginário como um jardim
Conhecer a história de de versos, uma floresta ou uma nave espacial.
leitura da comunidade Algumas atividades podem acontecer no pátio,
Agora vamos ampliar um pouco mais esse na quadra ou no palco da escola (anfiteatro) e
levantamento do nosso repertório de versos e até mesmo numa praça do bairro.
do repertório de nossos alunos para conhecer O trabalho preparatório do ambiente pode
também o da comunidade. Para tanto, solicite incluir a colagem de cópias coloridas das capas
aos alunos uma entrevista com os funcionários dos livros do acervo pelas paredes da escola para
da escola, os familiares ou a vizinhança, a fim de criar expectativa em torno do acervo. Pelo título
que seja feito um levantamento sobre o que a e pela ilustração da capa de cada obra, você pode
comunidade conhece como textos em verso ou fazer perguntas e oferecer pistas aos estudantes
poesia. Elabore um roteiro, junto com eles, das para estes inferirem a respeito do que acham
perguntas a serem feitas para resgatar as memórias que vai ser abordado num livro, com o intuito
de pessoas mais velhas do bairro tais como: quais de instigar a leitura, a observação, a atenção e
poemas e poetas você conhece, quais poemas verificar se as hipóteses dos alunos se confirmam.
foram mais marcantes em sua vida, quem mos- Para ampliar o trabalho preparatório, esco-
trou esses poemas para você etc. Decida com a lha um poema de sua preferência e ensaie com
turma se a conversa com os entrevistados será cuidado sua leitura. A leitura de um poema
feita individualmente, em duplas ou em grupos feita pelo professor pode ser bastante instigante
pequenos. Explique aos alunos que, ao entrevistar e provocar encantamento nas crianças, se for
as pessoas, precisam anotar as respostas ou gravar bem ensaiada e caprichada, feita com a entoação
as falas – desde que o entrevistado dê permissão – adequada, com expressividade e entusiasmo. Para
para serem transcritas depois. Em classe, os alunos isso, o professor precisa alimentar sua sensibili-
socializam as falas dos entrevistados e registram dade, ampliar seu repertório de leitura de poe-
os versos mencionados no Memorial de Versos. mas, ousar a experimentação, vivenciar poemas
Somado a isso, peça-lhes para convidarem algum de diferentes formas, temas e autores. Por fim,
(uns) dos entrevistados para ir até a sala recitar vale a pena criar espaços de encantamento, um
os versos que lembra ou cantar alguma canção. ambiente propício para uma educação estética.
20

Para encantar, é preciso encantar-se


Com efeito, antes de mostrar o acervo para acervo com poemas selecionados e traduzidos
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

os alunos, é preciso criar oportunidades para da clássica obra de poesia infantil Jardim de versos
os professores e outros mediadores da esco- de uma criança (1885).
la conhecerem os livros por fora (capa, título, O acervo do PNBE 2014 apresenta ainda
autores, orelhas, quarta capa, formato, textura uma variedade de temas e formas, com uma
etc.) e por dentro (conteúdo e forma). A equipe diversidade de tendências e de vivências. Ao
escolar precisa aproximar-se e envolver-se com ler os livros, você verá que o trabalho de cada
os textos em verso do PNBE/2014, adentrar poeta é muito diferente mesmo que o tema seja
as páginas, criando uma familiaridade com os semelhante. Observe que há uma multiplicidade
livros para utilizá-los de maneira inventiva e enorme de poemas sobre bichos, temática que,
significativa tanto para os educandos quanto segundo os especialistas (LAJOLO, ZILBER-
para os educadores. MAN, 1987, p. 151-152; ZILBERMAN, 2005,
Esse belo acervo literário possibilita uma p. 131-135), tem forte apelo sobre as crianças
viagem poética para diversos lugares, épocas e especialmente porque proporciona a simbo-
para dentro do próprio “viajante”. Cada poeta lização dos infantes. Os bichos aparecem em
tem seu estilo para expressar suas emoções e seus Antologia ilustrada da poesia brasileira, Ou isto ou
sentimentos, com ou sem rima, em versos curtos aquilo, Jardim de menino poeta, Lili inventa o mundo,
ou longos, e cada um tem um jeito diferente e Trinca-trova, 111 poemas para crianças, entre outros.
especial de olhar para as coisas e fazer o leitor Alguns desses livros tematizam os animais do
se surpreender com os sentidos do texto. Ao princípio ao fim como é o caso de Bichos do
lermos poemas, rimos, choramos, sonhamos, lixo, Cobras e lagartos, Rindo escondido e O livro
pensamos, compreendemos melhor o mundo e dos pássaros mágicos. Também temos bichos que
a nossa existência.Viajar no mundo imaginário falam e têm as qualidades e as fraquezas dos
da poesia viabiliza descobertas extraordinárias, seres humanos em Três fábulas de Esopo, obra
sensações e pensamentos. Na poesia, o autor diz que reconta três narrativas curtas em verso com
muito com poucas palavras. Alguns exemplos uma moral da história no final.
de poemas curtos, os haicais formados por três Como vê, há muitas maneiras diferentes
versos com 17 sílabas, podem ser encontrados para abordar o mesmo tema; explique para os
em Antologia Ilustrada da poesia brasileira para alunos que cada poeta tem um jeito de enxer-
crianças de qualquer idade. Em duas outras obras, gar o mundo e de organizá-lo por meio das
os haicais aparecem com exclusividade: Jardim palavras. Experimente fazer comparações com
de menino poeta e Palavras são pássaros. os alunos entre essas várias formas encontradas
Neste acervo do PNBE, há muitas vozes pelos autores de dizer os bichos.Apresente dois ou
com diversos tons e modos de expressão das mais poemas do acervo com temas semelhantes
ideias e sentimentos – bem-humorado, român- e peça uma apreciação oral dos alunos sobre as
tico, dramático, melancólico, brincalhão etc. Há semelhanças e diferenças entre eles.
poetas vivos e outros que já morreram, mas se Aproveite para mostrar como um autor relê
tornaram inesquecíveis como Cecília Meireles, o outro depois de muitos anos ou até mesmo
Manuel Bandeira, Mario Quintana e Sylvia Or- séculos e em outro contexto. Paulo Garfunkel,
thof; há poetas de várias partes do Brasil, criando por exemplo, reconta no Brasil do século XXI
diferentes paisagens, pessoas, bichos e assuntos. fábulas que foram criadas na Grécia do século
Além dos poetas nacionais, também temos a VI a.C. com humor e atualidade. Trata-se de
presença de um ilustre estrangeiro: Robert Louis narrativas poéticas cujas histórias refletem sobre
Stevenson, escritor escocês que figura nesse a natureza humana.
21

Outra bela narrativa contemporânea em de sumiço são poemas curtos que jogam com as
verso que dialoga com a versão da tradição oral palavras, de forma lúdica, lírica e bem-humo-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


é o Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque. A rada.Também temos os poemas que tematizam
história é uma releitura do conto clássico Cha- brincadeiras e que brincam com as próprias
peuzinho Vermelho que inova ao brincar com as palavras, a exemplo de: Alfabeto escalafobético.
palavras e inverte a história original, mostrando Enfim, os livros têm diferentes cores, ta-
o poder da palavra para eliminar o medo e a manhos e formatos. Do mesmo modo, encon-
valorização da linguagem. Peça para os alunos tramos diferentes formas do ilustrador olhar o
compararem as personagens das duas histórias, poema e diferentes técnicas: desenho, aquarela,
verificando como Chapeuzinho Amarelo e o origami, colagens em papel artesanal, gravura,
Lobo dialogam com a versão tradicional do con- computação gráfica, entre outros. Segue abaixo
to Chapeuzinho Vermelho, dos Irmãos Grimm. um quadro dos livros e seus respectivos autores e
Temos outros poemas em forma de nar- temas para você visualizar a riqueza do material
rativas humorísticas, líricas ou dramáticas. Chá que a escola recebeu no acervo do PNBE/2014.

Quadro dos livros de poemas infantis e seus autores e temas do acervo PNBE/2014

Alfabeto escalafobético Claudio Fragata Brincadeiras com letras e palavras.


Poemas sobre o céu: sol, estrelas, chuva, co-
A menina e o céu Leo Cunha
meta etc.
Antologia ilustrada da poesia Temas variados: relação do ser humano com
Adriana Calcanhotto
brasileira: para crianças de a natureza, a saudade da infância perdida, a
(organização e ilustrações)
qualquer idade pureza, o trabalho, o desejo ou a sua falta etc.
Animais feitos com recortes coloridos de
Bichos do lixo Ferreira Gullar
restos de papéis. 
Minicontos e a crônica dos personagens de
Chá de sumiço e outros poemas
André Ricardo Aguiar terror com suas aflições e dilemas cotidianos.
assombrados
Medos infantis.
Medo do desconhecido, descoberta da ale-
Chapeuzinho Amarelo Chico Buarque
gria de viver, poder da palavra.
Poemas sobre animais leves e pequenos,
Cobras e lagartos Wania Amarante
grandes e pesados, misteriosos etc.
Haicais inspirados na observação da natureza
Jardim de menino poeta Maria Valéria Rezende
e em momentos do cotidiano.
Robert Louis Stevenson
O cotidiano, as brincadeiras e fantasias do
Jardim de versos (seleção e tradução de
universo infantil.
Ligia Cademartori)
A reinvenção do mundo pelo olhar infantil:
Lili inventa o mundo Mario Quintana a rotina, as coisas simples, os pequenos acon-
tecimentos, a natureza, as pessoas, os animais.
Aventuras de um menino apaixonado que
Limeriques do bípede apaixonado Tatiana Belinky se disfarça de bichos para atrair a atenção
de sua amada.
22

Três narrativas em versos sobre folclore,


Mula sem cabeça e outras histórias Sylvia Orthof
identidade, aniversários, receitas.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Histórias que envolvem aves – reais ou fan-


O livro dos pássaros mágicos Heloisa Prieto
tásticas – presentes em diferentes culturas.
Anunciação/chamamento de momentos de
Os sinos Manuel Bandeira
alegria, sofrimento e morte.
O cotidiano marcado pela dúvida e pela
Ou isto ou aquilo Cecília Meireles
dificuldade de decisão: as escolhas.
Haicais que apresentam obras de artistas re-
nomados, tanto brasileiros quanto estrangei-
Palavras são pássaros Angela Leite de Souza
ros, abordando várias manifestações da arte
(pintura, cinema, música, teatro, dança etc.).
Receitas da vó para salvar a vida Neide Barros O carinho das avós para seus netos.
Rindo escondido João Proteti Bichos vivendo situações divertidas.
Três histórias com reflexões sobre a natureza
Três fábulas de Esopo Paulo Garfunkel
humana.
Temas populares próximos do universo in-
fantil: hora do almoço, avós, brincadeiras
Trinca-trova Ciça
com as palavras, bichos de estimação, hora
de dormir etc.
Diversos assuntos do mundo infantil: coisas,
animais, casa, cidade, identidade, nonsense,
111 poemas para crianças Sérgio Capparelli
jogos e adivinhas, música de ouvido, poemas
visuais, a natureza, os dias e as noites.

Todo dia é dia de poesia


Para conhecer esse maravilhoso acervo, na compartilhar seus versos preferidos com os co-
sequência, vamos apresentar para você algumas legas e o professor.
sugestões de atividade mais gerais a partir de uma Para tanto, propomos que os alunos dos pri-
obra específica do acervo para instigar os alunos meiros anos do ensino fundamental convivam dia-
na leitura de todo o restante. riamente com os textos em verso, ouvindo/lendo
Como você sabe, a poesia provoca o inusi- poesias, declamando, musicando, dramatizando, en-
tado, o inesperado e o extraordinário, por isso fim, desenvolvendo inúmeras atividades relacionadas
precisa estar presente diariamente no ambiente ao universo poético e às infinitas possibilidades da
escolar. Brinde o início e o final de cada dia com palavra durante o ano letivo e não apenas em um
um verso, alimentando por toda a vida a alma determinado momento.Além dos horários diários
das crianças com poesia e criando oportunida- reservados à leitura compartilhada e à audição de
des para despertar o prazer da audição/leitura poemas sem compromisso, procure reservar pelo
de poemas nos alunos. Assim como o pão nosso menos uma hora de aula semanal para garantir que o
é alimento de cada dia, cabe a você, professor, espaço da poesia seja de fato efetivado em sua classe.
oferecer “a poesia de cada dia” todos os dias. Dê Então, a partir de agora, vamos decretar que
também oportunidade para que o aluno possa todo dia é dia de poesia?
23

Possibilidades de utilização dos textos em verso na escola


Nas várias obras teóricas sobre como trabalhar poesia com crianças

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


(ABRAMOVICH, 1991;AVERBUCK, 1988; BORDINI, 1986; PINHEI-
RO, 2002; entre outras), há uma convergência no que diz respeito à criação
de oportunidades para que o aluno seja motivado e sinta prazer em ouvir/
ler poemas por meio da voz do professor, da própria voz, da voz dos colegas
de turma e, ainda, dos próprios poetas ou mesmo dos atores (é o caso de
Paulo Autran) lendo poemas em CDs ou DVDs disponíveis no mercado
ou na internet. Observe que é consenso entre os estudiosos que as diferentes
abordagens do poema em sala de aula, sobretudo nas fases iniciais de ensino
fundamental, consideram a leitura oral um de seus procedimentos básicos.

O professor lê para os alunos


Leia ou recite poemas sempre para seus alunos, todos os dias, porque,
além do encantamento das palavras, pode levar as crianças à compreensão do
sentido. Lembre-se que você é modelo para os alunos, portanto, precisa treinar
antes para caprichar na leitura oral, cuidando da entonação, do ritmo e da
pausa. É preciso contagiar os alunos para que eles tragam e leiam os poemas
de que mais gostam. Nas recomendações de Fanny Abramovich (1991, p.95):

Se a professora for ler um poema para a classe – que o conheça


bem, que o tenha lido várias vezes antes, que o tenha sentido,
percebido, saboreado. Para que passe a emoção verdadeira, o
ritmo e a cadência pedidos, que sublinhe o importante, que
faça pausas para que cada ouvinte possa cobrir – por si próprio
– cada passagem, cada estrofe, cada mudança...

Leitura silenciosa
Você precisa motivar e despertar o interesse de seus alunos para o
exercício da leitura de poesia. Para isso, disponibilize o acervo dos textos
em verso na sala de aula ou na biblioteca escolar, deixando os alunos à
vontade para explorarem os livros e conhecê-los por meio de uma leitura
silenciosa para somente mais adiante ousar recitá-la. Em seguida, faça co-
mentários sobre o autor, a leitura e o poema; elabore perguntas, ouça os
questionamentos, sugira uma nova leitura pelos alunos para, finalmente,
pedir uma apresentação da poesia por todos, formando um grupo de vozes.

Leitura oral
A leitura oral do poema com crianças menores sempre cumpre o
importante papel de aproximá-las da materialidade do poema, possibili-
tando que memorizem versos, percebam sons e ritmos, recriem situações,
descubram imagens etc. (COELHO, 1987; CUNHA, 1976; PINHEIRO,
2002; entre outros). Por essas e outras razões, poesia pede voz, individual ou
coletiva, em duplas, trios, quartetos etc.Tais vozes, por meio de diferentes
24

leituras e releituras orais, auxiliam os alunos a seus poemas preferi-


encontrarem o tom e o ritmo adequado do po- dos. Mas isso requer
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

ema, além de contribuírem com a compreensão muitas leituras, indi-


do poema e para a formação do gosto da poesia. viduais e silenciosas,
Essa diversidade de modalidades de leitura orais e comparti-
é uma prática fundamental para conhecer o lhadas. É preciso se
acervo do PNBE/2014, de maneira lúdica, livre aproximar dos versos
e envolvente, podendo ser acompanhada de e criar alguma inti-
anotações dos poemas favoritos para posterior- midade com eles.
mente cada aluno fazer sua antologia poética Em nosso mo-
com os poemas mais apreciados por cada um. delo, a “antologiazi-
nha íntima”, como chama Adriana Calcanhotto,
Caça aos poemas: antologia poética os critérios para selecionar os poemas vieram da
intimidade estabelecida entre textos e autora, ou
Vamos propor um projeto para os anos ini-
seja, de como ela conseguiu “enxergar” a primei-
ciais do Ensino Fundamental conhecerem todo
ra imagem trazida pelos poemas e rabiscá-los. O
o acervo de textos em verso do PNBE 2014.
critério de seleção pode ser o mesmo da cantora/
Inspirado na obra Antologia ilustrada da poesia
poeta ou você pode criar outros critérios para
brasileira mobilize os alunos para conhecerem
cada aluno produzir sua antologia pessoal.
os livros do acervo de fora para dentro e de
Você pode, por exemplo, combinar de cada
dentro para fora. A organizadora dessa obra,
aluno escolher um ou dois poemas de cada autor
Adriana Calcanhotto, selecionou e ilustrou
por obra para copiar e ilustrar na elaboração
poemas curtos de 41 escritores brasileiros de
da antologia pessoal. Peça para eles escolherem
diferentes períodos – do século XIX ao XXI:
apenas os poemas que falaram mais fundo no
de Gonçalves Dias a Gregório Duviver, com
coração, que emocionaram pela beleza, que cau-
desenhos feitos com lápis e aquarela. Na quarta
saram sensações. Para tanto, é necessário realizar
capa do livro, o professor de poesia Eduardo
muitas leituras e conversas sobre os poemas,
Coelho apresenta essa antologia com ênfase na
uma aproximação efetiva e afetiva com os textos
variedade de formas poéticas (e de temas) para
lidos, criando espaços de vivência de interação.
ampliar a educação estética (e sentimental) de
A seguir, sugerimos uma série de atividades
crianças de qualquer idade: “[...] metrificada e
possíveis de serem realizadas:
rimada; em versos livres, com linguagem mais
prosaica, textos sintéticos e visuais, típicos da 1. Leitura feita pelo professor;
poesia concreta ou, nos casos dos haicais, em 2. Leitura silenciosa individual feita pelos
diálogo com a poesia japonesa”. alunos;
Esta antologia foi escolhida como nosso 3. Leitura em voz alta, individual, feita
modelo exemplar por ser uma amostra muito pelos alunos;
rica do que podemos encontrar na poesia brasi- 4. Leitura em pares;
leira.Apesar de toda essa diversidade numa única 5. Leitura em coro;
obra, o acervo do PNBE oferece mais, muito 6. Jograis;
mais... E essa riqueza precisa ser descoberta pelas 7. Leitura rítmica para explorar o aspecto
crianças. Desse modo, a proposta é fazer uma rítmico do poema;
espécie de “caça ao tesouro”, ou melhor, “caça 8. Leitura de poemas visuais;
aos poemas”. Com esse espírito de aventura, 9. Leitura musicalizada do poema, uti-
os alunos vão ler livremente todos os livros lizando melodias de cantiga de roda,
do acervo, ao longo do ano, para garimparem canções folclóricas etc.;
25

10. Audição de poemas que estão musica- circula em outros tipos de suportes textuais. Há
dos ou declamados; muitos endereços eletrônicos sobre poesia na in-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


11. Criação de ritmos com a batida de ins- ternet que reúnem poetas, obras e informações,
trumentos ou do próprio corpo; mas para esta atividade sugerimos que os alunos
12. Montagem teatral com poesia ou perfor- comecem a pesquisar os sítios dos próprios es-
mances poéticas: trabalho de voz, gestos, critores contemporâneos presentes nesse acervo
expressão corporal, caracterização da como, por exemplo,Adriana Calcanhotto, Claudio
personagem do poema; Fragata, Chico Buarque, Leo Cunha entre outros:
13. Releitura dos alunos com comentários • Adriana Calcanhotto
e discussões. http://www.adrianacalcanhotto.com
Como vemos, são muitas e diversas as opções • Claudio Fragata
de leitura de poemas na escola. Depois de tra- http://www.quintaldoclaudio.com.br
balhar essas atividades de apreciação e de leitura, • Chico Buarque
de fruição e curtição, é chegado o momento http://www.chicobuarque.com.br
de releitura para aprofundar um pouco mais o • Leo Cunha
conhecimento do aluno, privilegiando conversas http://www.leocunha.jex.com.br
sobre o texto, a respeito dos sentidos do poema,
Nos sítios de cada escritor(a) podemos en-
para posteriormente registrar no Memorial o que
contrar muitas informações para enriquecer o
foi apreendido. Pergunte aos alunos sobre o que
trabalho em sala de aula, tais como a biografia,
fala o poema que foi lido e escreva suas respostas
fotos, todos os livros, poemas animados, galeria,
no quadro, observando que os leitores podem
notícias, prêmios, fortuna crítica, entrevista, can-
interpretar um mesmo poema de forma diferente,
ções etc. Verifique se os poetas vivos que fazem
porém a multiplicidade de interpretações precisa
parte do acervo têm blog, facebook ou twitter.
ser coerente com o texto. Relacione os senti-
Então, vamos navegar no oceano virtual
mentos expressos pelo poeta com as experiências
da poesia?
e os sentimentos dos alunos. Também instigue
Nessa navegação, também podemos ouvir
seus alunos a identificarem os elementos que
poemas que compõem a obra Ou isto ou aquilo,
compõem o poema, ou seja, a forma e os recur-
de Cecília Meireles, declamados pelo ator Paulo
sos poéticos utilizados nos versos, acionando os
Autran – disponível em http://www.youtube.
conhecimentos prévios e trocando opiniões para
com/watch?v=wEh8MmYnFGY.
reconhecerem as características da organização
Entre outras opções, essa mesma obra de
do poema. Quando for necessário, faça esclare-
Cecília Meireles é musicada por Luís Pedro
cimentos sobre o gênero, o tema e o vocabulário
Fonseca em 1978, para a peça de teatro ho-
utilizados, assim como busque informações a
mônima, e gravada por Lena d’ Água em 1992,
respeito do autor e da sua obra em outras fontes.
cujo acesso está disponível em http://www.
youtube.com/playlist?list=PL3E090FB52BA-
Poesia na internet 54FB9 e ainda no endereço eletrônico: http://
Para saber mais sobre cada autor e sua obra, aguaparacriancas.blogspot.com.br.
você pode aproveitar o interesse das crianças no Antes da audição, explique para os alunos
mundo digital e propor uma pesquisa na rede que as canções que serão ouvidas foram cria-
mundial de computadores. Trata-se de uma ati- das primeiro como poemas para serem lidos e
vidade que, além de ampliar o conhecimento e somente depois é que foram musicados. É o
familiarizar a criança com o gênero e os autores, caso igualmente do clássico da música infantil
possibilitará ao educando perceber que a literatura A arca de Noé, deVinicius de Moraes, cujo poema
26

“A casa”, que integra a Antologia ilustrada da com a orientação de que é preciso ler e reler bem
poesia brasileira, foi gravado por um grande in- o poema para “enxergar” seu texto visual.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

térprete e pode ser acessado em http://www. Destacamos que esse é um momento pro-
youtube.com/watch?v=A_Ad_BkOml8. pício para você, professor, valorizar o trabalho do
Além da musicalização dos poemas, po- ilustrador com o devido crédito, mostrando que
demos fazer muitas outras boas descobertas este artista também é considerado coautor da obra,
na internet de atividades realizadas com os por isso seu nome e sua biografia estão presentes
textos em verso que compõem o acervo do nos livros. Essa atividade pode ser feita em parceria
PNBE/2014 – por exemplo, a história de Cha- com a disciplina de Artes para, a partir do próprio
peuzinho Amarelo, de Chico Buarque, contada acervo de textos em verso, oferecer subsídios acerca
por Carol Levy em http://www.youtube.com/ dos tipos de materiais e das possibilidades de téc-
watch?v=Wvy560Pqz0c. Ao realizar buscas de nicas a serem utilizadas (origami, recortes de papel,
vídeos infantis na rede referentes a esta narrativa aquarela etc.). Além disso, aproveite para chamar
poética, encontramos ainda recitais, coros, peças a atenção sobre a importância do projeto gráfico
teatrais, entre outras manifestações artísticas, na elaboração do livro infantil: qualidade do papel,
concretizadas por alunos. diagramação, capa, quarta capa, tipo de letra etc.
Na sequência, cada aluno apresenta seu de-
Imagens visuais senho para os colegas da classe e conversa sobre
sua interpretação. Aos poucos, os alunos vão ad-
Após o importante trabalho de voz com os
quirindo proximidade com os seus poetas favo-
alunos, chamando a atenção para a música das
ritos. Finalizada essa atividade, o poema copiado
palavras (sonoridade e ritmo), é preciso mostrar
junto com o desenho na folha de cada um pode
que um poema não é somente som, mas as pa-
ser exposto em um mural (confeccionado pelos
lavras também sugerem imagens na mente do
alunos, se for o caso) na sala de aula, na biblioteca
leitor. Para Cademartori (2009, p.106), os re-
ou nos corredores da escola durante o período
cursos da poesia são inúmeros, porém há textos
de uma semana ou de um mês. Após esse perío-
em que as imagens sugestivas se impõem sobre
do de exposição, os trabalhos são retirados com
as ideias: “Há a poesia em que predominam as
cuidado e guardados para serem encadernados
intenções plásticas, com a disposição de dar a
como antologias poéticas no final do ano letivo.
ver as coisas concretas ao nosso redor.” Não se
esqueça de que a visualidade foi o critério de
seleção dos poemas utilizado por Adriana Cal- Sarau poético
canhotto para organizar sua Antologia, ou seja, Em festa de final do ano letivo, organize um
sua escolha foi pautada na imagem trazida pelos sarau para que os estudantes leiam, recitem, can-
poemas quando ela os lia. tem e/ou dramatizem seus poemas preferidos
Com essa inspiração, depois da leitura oral para a comunidade escolar. A declamação pode
do poema, proponha para as crianças fazerem ser feita junto com a exposição das antologias
ilustrações, ou seja, cada um interpreta o poema poéticas organizadas e ilustradas por cada aluno
escolhido por meio de um desenho, desenvolven- ao longo do ano escolar para divulgar e com-
do sua capacidade de expressão. Não é necessário partilhar o trabalho realizado com a apreciação
a escola dispor de recursos materiais, apenas lápis dos familiares e da comunidade escolar.
e papel. Os alunos entram com o entusiasmo e a Explique-lhes que sarau é uma reunião fes-
criatividade, orientados para o fato de que a ima- tiva entre amigos, uma prática social em que as
gem a ser elaborada precisa dialogar com o tex- pessoas se reúnem para apreciarem manifestações
to, ampliando seus significados. Convide-os para artísticas, nesse caso para apresentação/audição
sentir a emoção da palavra traduzida na imagem, de poesia e interação com o público ouvinte.
27

Se possível, procure envolver toda escola com textos que exploram o ritmo, a melodia,
nesse evento e até mesmo decorar o lugar para o lúdico, entre muitos outros recursos. No de-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


esse acontecimento de encerramento. Cada tur- correr deste trabalho, pretendemos ampliar essa
ma da escola participa do sarau para fazer alguma vivência/esse repertório ofertando textos em
atividade que mostre às pessoas da comunida- versos de alta qualidade de maneira lúdica e
de o quanto o poema escolhido é importante. atrativa, procurando desenvolver a familiaridade
Sugerimos que cada aluno selecione e leia dois da criança com a linguagem poética, a percep-
poemas que mais tenha gostado. A leitura pode ção de si, do outro e da realidade, bem como o
ser individual, em dupla ou em grupo. Deixe-os enriquecimento da sensibilidade.
à vontade para tomar a decisão, encaminhando Depois de todas essas atividades, os alunos
as atividades preparatórias do sarau de maneira geralmente se sentem motivados para se aventu-
participativa, prazerosa, lúdica e criativa. rarem na escrita ou reescrita de poemas. Nesta
Como atividade complementar, com a ajuda proposta não trabalhamos com a produção es-
de outros professores, construa com os alunos o crita de poemas como objetivo, mas como um
convite para o público ouvinte e a arte dos car- trabalho subsequente porque acreditamos que
tazes para divulgação, depois peça para eles se en- antes de os estudantes escreverem seus próprios
carregarem da distribuição. O mais importante, poemas precisam ser imersos no universo da
no entanto, é ensaiar a exibição dos poemas com poesia. Eles precisam de bons modelos para se
os alunos, atentando para a exploração dos re- influenciar e emocionar, deixar seus sentimen-
cursos da oralidade: a entonação de voz, o ritmo, tos aflorarem e, enfim, se encantar. Feita essa
a fluência e a dicção. Ao lado disso, oriente-os aproximação afetiva das crianças com os textos
para valorizarem os sentimentos que o texto faz em verso, de maneira gradual e efetiva ao longo
emergir a fim de partilharem conhecimentos e do ano, cumpriremos nosso objetivo principal
se deliciarem com a nutrição dos poemas. Cui- porque, por meio da educação do ser poético na
de de tudo procurando envolvê-los em todo o escola, conseguiremos formar leitores sensíveis
processo de planejamento e execução do sarau. e pessoas melhores para o exercício poético da
Não se esqueça de que o êxito dessa propos- escrita e da vida.
ta depende, sobretudo, do seu entusiasmo e de Desejamos a você um excelente trabalho
sua condução, afinal de contas você, professor, com o acervo do PNBE 2014!
é o modelo a ser seguido. Finalize este projeto
deixando uma marca positiva e inesquecível na Referências bibliográficas
história de leitura em versos de cada aluno e da ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gos-
comunidade em que a escola está inserida. Caro tosuras e bobices. 2.ed. São Paulo: Scipione, 1991.
professor, essa história não termina aqui, ano que AVERBUCK, Lígia Marrone. A poesia e a es-
vem tem mais, como uma história sem fim... cola. In: ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura
em crise na escola: as alternativas do professor. 9.ed.
Considerações finais de Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
um começo de conversa BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São
Como últimas palavras, queremos enfati- Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios).
zar que o gênero escolhido pode possibilitar CADEMARTORI, Lígia. Aventuras poéticas:
às crianças vivências de contato aprofundado imagens, sons e sentidos. In: ______. O professor
primeiramente consigo mesmas e posterior- e a literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo
mente com o mundo ao seu redor, porque se- Horizonte: Autêntica, 2009. p. 97-127. (Série
rão revividas memórias da mais tenra infância, Conversas com o Professor).
28

COELHO, Nelly Novaes. A poesia destinada às alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado
crianças. In: ______. Literatura infantil: história, Aberto, 1988.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

teoria, análise. 4. ed. rev. São Paulo: Quíron, 1987. ALTENFELDER, Anna Helena. Poetas da es-
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COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da Social: Brasília, DF: MEC, 2009.
literatura infantil/juvenil. 4. ed. rev. São Paulo: BERALDO, Alda. Trabalhando com poesia. São
Ática, 1991. (Série Fundamentos, 88). Paulo: Ática, 1990. (2 v.).
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São
infantil: teoria e prática. 5.ed. São Paulo:Ática, 1986. Paulo: Cultrix, 1990.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Poesia na BRASIL, Ministério da Educação. Histórias e
escola. São Paulo: Discubra, 1976. histórias: guia do usuário do Programa Nacional
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LAJOLO, Marisa. Meus alunos não gostam de ler...: BRASIL, Ministério da Educação. Literatura: en-
o que eu faço? São Paulo: UNICAMP-CEFIEL- sino fundamental. Secretaria de Educação Básica.
MEC, 2005. Coord. Aparecida Paiva, Francisca Maciel, Rildo
Cosson. Brasília: MEC/ SEB, 2010. (Coleção
LAJOLO, Marisa. Poesia: uma frágil vítima da
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leitura do mundo. 6.ed. São Paulo: Ática, 2002. CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura in-
p. 41-51. fantil. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção
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Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Bri-
mento literário no contexto escolar. In: GON-
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ÇALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra
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Santos (orgs.). Nas trilhas do letramento: entre
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SORRENTI, Neusa. A poesia vai à escola: refle- UFGD, 2011. p. 321-348.
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FRANTZ, Maria Helena Zancon. Vamos brincar
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ria da Glória. Literatura: a formação do leitor: til. 3.ed. São Paulo: Summus; Brasília: INL, 1979.
29

PARA FORMAR LEITORES

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


BONS DE PROSA
João Luís Ceccantini 1
Thiago Alves Valente 2

Das categorias de obras literárias que compõem os acervos do PNBE,


a prosa é uma das mais ricas e possui enorme apelo para despertar nos
estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental a paixão pela leitura
e pela literatura. A prosa literária (que se opõe ao texto em verso e à poesia)
desdobra-se em diversos gêneros textuais narrativos tais como o romance,
a novela, o conto, o mito, a fábula, a lenda, entre tantos outros. Permite
ao professor uma abordagem dinâmica, criativa e das mais produtivas para
desenvolver nos alunos não apenas competências de leitura e de escrita,
mas para propiciar a eles uma experiência de formação, no mais amplo
sentido da palavra. A leitura de boas obras literárias de prosa de ficção
estimula o intelecto dos estudantes, desenvolve sua imaginação, auxilia na
elaboração de suas emoções, contribui para a construção de sua identi-
dade e de seu amadurecimento cognitivo e ético, além, naturalmente, de
desenvolver sua capacidade linguística. Isso, para dizer o mínimo.
Por outro lado, esse infinito potencial que as narrativas infantojuvenis
têm a oferecer aos alunos pode ser subaproveitado ou mesmo desperdiçado
se, no momento de sua exploração na sala de aula, o mediador (professor
ou profissional da biblioteca) conferir às obras literárias disponíveis um
tratamento excessivamente escolarizado, pragmático, utilitário, ou, num
outro modo de dizer, “tarefeiro”. Para que os acervos cumpram de fato
seu papel e as obras possam ser fruídas na sua inteireza, é necessário que
o mediador deixe de lado práticas cristalizadas no cotidiano escolar e,
por vezes, internalizadas no trabalho diário com o livro didático, do qual,
naturalmente, se reconhece a importância, mas cuja natureza implica
metodologia de trabalho bastante diferente da exigida pela obra literária.

1
Doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e
professor assistente da UNESP.
2
Doutor em Letras pela UNESP-Assis e professor da Universidade Estadual do Norte
do Paraná (UENP-Cornélio Procópio).
30

A literatura, para ser fruída como objeto desconheça. E a pessoa mais indicada para de-
estético pleno, capaz de deixar marcas profundas sencadear esse processo é o mediador experien-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

nos leitores, pede uma condução mais aberta. te, que está familiarizado com o horizonte de
Não pode ser aniquilada, por exemplo, por um seus leitores, domina os livros à sua disposição,
amontoado de tarefas escolares preocupadas escolhe os mais adequados ao perfil de seus
apenas em “controlar” se uma determinada lei- potenciais leitores e se empenha em despertar
tura foi realizada. Sob a pesada coerção de fichas, o desejo para que conheçam tais obras. Para
questionários, provas e similares não há história isso, esse mediador sempre as disponibiliza aos
que resista, não há linguagem que sensibilize, alunos (porque, diariamente, leva as obras à sala
não há enredo que envolva e faça sonhar. de aula ou conduz os estudantes à biblioteca);
Inúmeras pesquisas vêm demonstrando, já há discorre sobre os temas abordados pelas his-
décadas, que os projetos de formação de leitores tórias; chama a atenção para as ilustrações das
que alcançam efetivo sucesso nos seus propósitos obras; cria possibilidades de escolha das obras
são, em sua grande maioria, aqueles que não he- que serão lidas; apresenta autores e ilustradores,
sitam em dar um peso substantivo à ideia do “ler contando sobre seus “feitos e proezas”; apresenta
por ler”. Ou seja, mais do que atividades tecni- aos estudantes fragmentos das obras nos quais
cistas ou mirabolantes realizadas a partir de uma a linguagem se revela bonita, surpreendente,
dada leitura, a ênfase do processo é direcionada à brincalhona, musical, provocadora...
leitura em si mesma de uma obra literária de boa É preciso aceitar a concepção do “ler por ler”
qualidade e à conversa sistemática sobre o livro como um desafio pedagógico, apostando que a
lido, realizada pelo professor com seus alunos e/ boa literatura possui qualidades suficientes para
ou entre os próprios alunos. O que não significa cumprir uma função importante, rica e complexa,
que não se possa ou não se deva propor atividades se encontrar condições propícias para sua circu-
a partir da leitura de uma obra literária; estas po- lação, fundadas no esforço contínuo de construir
dem e devem ser realizadas, mas, com delicadeza, sentidos para as narrativas lidas. No contexto esco-
para não relegar o texto em si a segundo plano, lar, isso significa apostar nas qualidades já evocadas
adotando-se, sobretudo, uma perspectiva tanto do bom texto literário e, acima de tudo, abrir
afinada com a busca contínua da construção de espaço permanente para que os leitores tenham
sentidos para a obra lida quanto empenhada em voz; instigá-los a comentar, sem censura, a obra
valorizar as dimensões afetivas e lúdicas próprias lida; estimulá-los a comparar uma dada obra com
da leitura literária, que geralmente envolvem a tantas outras e com a realidade à sua volta; levá-los
ação de compartilhar com outros sujeitos a leitura a compartilhar, de diferentes maneiras e com o
realizada. É preciso, de uma vez por todas, varrer maior número possível de leitores, os sentidos que
para longe a “culpa” de dedicar um grande núme- propõem para uma obra lida. E cabe ao mediador
ro de aulas à leitura de obras literárias para e com os auxiliar na expansão desses sentidos pelo conhe-
alunos e à conversa alongada sobre as obras lidas. cimento privilegiado que pode ter da natureza
Trata-se de atividade lúdica e de trabalho sério. da literatura, de um modo geral, e do gênero
Há que se reconhecer, decisivamente, o papel narrativo, em particular, cujas características são
inestimável que essa atividade pode desempenhar comentadas de forma breve a seguir.
na formação dos estudantes.
A meta a ser alcançada com a leitura do A narrativa literária
texto literário, por mais fugidia que pareça, tem A narrativa é uma das formas mais comuns
de evitar arbitrariedades e artificialismos, para do emprego da linguagem verbal no dia a dia, se
buscar responder a uma necessidade interior não a predominante. Isso porque contar algo que
e legítima do sujeito leitor – ainda que ele a se passou com alguém (ou com alguma coisa)
31

é uma ação desempenhada a todo momento nas mais diversas situações.


E para essas situações são desenvolvidos diferentes modos de narrar, ou

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


seja, para dizer o que se deseja ou se precisa dizer recorre-se a determi-
nados elementos dispostos ou empregados de determinadas formas. Isso
também se faz presente nos textos históricos, jornalísticos e literários.
Aqui trataremos especificamente de narrativas literárias com o objetivo
de atender à dimensão formadora de crianças leitoras no espaço escolar.
Um aspecto básico que o mediador deve levar em conta após uma pri-
meira fruição subjetiva da obra é o de que uma narrativa literária se configura
por dois níveis essenciais e complementares: aquele nível que diz respeito
aos acontecimentos narrados (o que é narrado?) – a história; e o nível que se
refere ao modo pelo qual esses acontecimentos são narrados (como se nar-
ra?) – a narração3.Assimilar profundamente a ideia dessas duas dimensões que
configuram a narrativa confere um olhar muito mais apurado e sensível para
a prosa de ficção, pois assim ficamos atentos não apenas aos fatos presentes
numa narrativa, mas também à ordem em que se fazem presentes, às relações
que mantêm entre si, ao ritmo com que são contados, ao modo como os
seres ou coisas envolvidas com esses fatos são apresentados, à voz que conta
a história, ao ponto de vista que essa voz assume para contá-la; à linguagem
empregada na obra, seja pela voz do narrador, seja pela das personagens etc.
Numa das acepções mais elementares do que seja uma narrativa, cos-
tuma-se afirmar que ela se constitui pela associação de uma personagem
a uma ação principal. A essa acepção, conforme o teórico consultado, se
acrescentam muitas outras dimensões, o que, contudo, não invalida essa
formulação básica. De modo geral, em uma narrativa encontramos um
sujeito que narra (pode ser um narrador fora da história ou nela inserido
na condição de personagem principal ou secundário) e o objeto de seu
relato; e uma ou mais personagens que realizam ou sofrem ações em um
tempo e um espaço, explicitados ou não, conforme as intenções do narrador.
Sobre o narrador, é sempre imperativo enfatizar que jamais deve ser
confundido com o escritor, ser de carne e osso que “inventa”, por meio
da linguagem, o narrador. Ou seja, o narrador também é uma “entidade
de papel”, tal como as personagens. Um escritor astuto sempre pode
inventar narradores que sejam o avesso absoluto de sua personalidade,
nesse lúdico jogo constituído pela ficção; e também pode, se quiser, in-
ventar narradores à sua imagem e semelhança no intuito de ludibriar e
confundir os leitores.
Além disso, vale destacar que a absoluta maior parte das narrativas
literárias apresenta uma estrutura básica – a qual se apresenta isolada ou
pela sucessão de estruturas básicas idênticas encadeadas umas às outras –,
que diz respeito quase sempre a uma situação de transformação, conforme
o seguinte esquema:

3
Muitos estudiosos utilizam o termo discurso para nomear e explicar essa instância
da narrativa.
32

NARRATIVA 4
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Transformação

estado complicação ou dinâmica resolução estado


inicial força perturbadora (encadeamento ou força final
(estável) (desequilíbrio) das ações) equilibradora (estável)

Os elementos narrativos aparecem articulados uns aos outros no


texto como é facilmente perceptível, por exemplo, em um gênero li-
terário como o conto de fadas. Em uma história bem conhecida no
meio escolar, a exemplo de Cinderela, o leitor encontra-se frente a uma
personagem (Cinderela) sobre a qual algo lhe será revelado. Mesmo que
o tempo da narrativa não apresente uma marca cronológica delimitada,
como a estação do ano em que se passa a história, o ano, o mês ou o
dia em que ocorreram os fatos, as ações ou acontecimentos narrados
ocorrem em uma sucessão temporal, isto é, sucedem-se uns aos outros
numa linha temporal, conduzindo o leitor por uma trajetória em que
causas e consequências se explicam e estabelecem novas situações para
a continuidade da narrativa. Na história de Cinderela, o falecimento da
mãe e o casamento do pai em segundas núpcias desestabiliza uma situação
que era de equilíbrio, provocando uma transformação na vida da jovem
(para pior) – a entrada da madrasta má e suas duas filhas na família, que
maltratam Cinderela em sua própria casa, obrigando-a a fazer todos
os trabalhos domésticos mais humildes e pesados. Uma ação posterior,
a ida de Cinderela ao baile organizado pelo príncipe, provocará outra
situação de desequilíbrio (para melhor), uma vez que desembocará no
seu casamento com o regente, ficando livre do jugo a que era submetida.
Os fatos são vivenciados por Cinderela em lugares específicos, seja
em um espaço bastante restrito como a cozinha da casa, onde executa
as mais árduas tarefas, seja no salão de baile, onde exibe seus muitos
atributos. Cada um desses espaços relaciona-se diretamente às ações da
personagem: se Cinderela não vai ao salão onde se dá o baile, o leitor
também não adentra, junto com ela, o majestoso espaço em que a jovem
personagem encontrará seu destino ao perder o tão famoso sapatinho
de cristal. Como se pode deduzir, as escolhas realizadas pelo autor da
obra atingem diretamente a composição da história. São escolhas que
se concretizam, primeiramente, na escolha de um narrador. O escritor
“real” que escreve o conto tem de fazer uso de uma voz narrativa, criada
justamente para poder compor esse universo ficcional.
A opção por certo tipo de narrador implica em uma escolha sobre
como contar a história, atingindo diretamente os sentidos que se pretende

Modelo reproduzido com ligeiras modificações da obra A análise da narrativa: o texto,


4

a ficção e a narração, de Yves Reuter (Rio de Janeiro: DIFEL, 2002. p. 36).


33

destacar ou mesmo instigar no leitor. Recorrendo Assim, neste capítulo, procura-se comen-
novamente ao exemplo da história de Cinde- tar algumas características das narrativas que

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


rela, a primeira versão do conto publicada em compõem os acervos distribuídos às escolas
livro (Contos da Mamãe Gansa ou Histórias do pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola
tempo passado com moralidades, 1697), de Char- (PNBE) 2014, propondo a esses títulos sentidos
les Perrault (1628-1703), tem como narrador possíveis e indicando de modo aberto e suges-
uma voz onisciente, um narrador externo (em tivo abordagens de obras literárias, que podem
“terceira pessoa”) que tudo sabe sobre a mági- contribuir para o sucesso do trabalho realizado
ca experiência vivida pela personagem. Basta por mediadores de leitura, notoriamente o pro-
imaginar uma alteração quanto a esse narrador, fessor do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano).
isto é, uma mudança no foco narrativo para que Os comentários das obras foram aglutinados
possamos melhor compreender como se alteraria em pequenos conjuntos, correspondendo a tí-
a narrativa: se a história fosse narrada pela ma- tulos que apresentam algum tipo de semelhança
drasta, por exemplo, seria incoerente dar às tarefas entre si – por exemplo, integram um mesmo
domésticas desempenhadas por Cinderela um gênero (ou subgênero) literário; abordam temá-
caráter negativo. De outro modo, se o narrador tica afim; presumem leitores mais maduros, entre
fosse um parente próximo do príncipe, teríamos outros aspectos. Na verdade, esse agrupamento
outra história, que seria submetida a uma orga- dos títulos em pequenos conjuntos traz implícita
nização textual peculiar. Em cada uma dessas a sugestão de que sua abordagem comparada em
opções teríamos narrativas distintas daquela em sala de aula pode render bons frutos, seja qual
que a jovem protagonista é recompensada por for o caminho pelo qual o mediador enveredar.
toda a humilhação sofrida nas mãos da madrasta.
Se são comparadas várias versões em circulação Contos de fada revisitados
dessa história que é hoje um clássico da literatura
infantil, é fácil perceber como cada narrativa Apropriada a lei-
parece uma nova história, ainda que não se alte- tores bem iniciantes,
rem suas personagens e ações principais, pois o a obra Chapeuzinho
ritmo narrativo ou os estímulos visuais e sonoros redondo, de Geoffroy
propiciados pelas descrições do narrador obtêm Pennart, conta com
efeitos muito distintos no espírito dos leitores. uma protagonista tão
Numa versão, o vestido da jovem é descrito em atenta aos contos de
todo seu requinte e em minuciosos detalhes; em fada quanto seus lei-
outra, as maldades praticadas pelas irmãs ganham tores:“– Eu sei, tem o
vulto; em outra versão, ainda, os ratinhos/cavalos lobo. Não se preocu-
trocam confidências sobre tudo que o vivem e pe, mamãe, já vi esse
presenciam – cada versão impressiona o leitor de filme.” (p. 7). Porém, sua excessiva confiança leva
maneira diversa, revela-se única à sua imaginação a uma trama que surpreende a criança leitora,
e à sensibilidade, como se fosse uma nova história. pois, ao encontrar o lobo, julga ser um grande
Os elementos da narrativa organizam-se, cachorro cinza que é assustado por um estriden-
portanto, ao redor dos sentidos da obra, isto é, os te toque de corneta da menina que não resiste
elementos composicionais do texto estão postos à oportunidade de uma boa arte tipicamente
em função de uma história que se pretende infantil. O leitor, então, encontra-se frente a uma
contar. Para que isso se efetive, o papel do me- Chapeuzinho de seu tempo, detentora de um
diador de leitura na escola, predominantemente repertório de histórias infantis e confiante em
exercido pelo professor, é central. sua protagonização no ambiente em que vive
34

e com as personagens com as quais convive. É demais obras, sempre considerando os elementos
também uma criança em busca de diversão, que narrativos de mais destaque para o público leitor
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

não resiste e prega sustos, sem qualquer noção focado pelo mediador. No caso de Chapeuzi-
de perigo: “Ela não resistiu. Tirou sua corneta nho redondo, sugerimos a seguir uma sequência
do bolso e...” (p. 10), praticando uma travessura direcionada aos anos iniciais (1º ao 3º ano) do
que convida o leitor ao riso debochado sobre Ensino Fundamental:
um aterrador lobo que passa a aterrorizado:“O 1) Motivar contato inicial com a obra: em
animal acordou com um salto, completamente um círculo, indagar os alunos sobre histórias
aterrorizado” (p. 11). por eles conhecidas. Propor, então, que visitem
Aliás, o susto levado pelo lobo oferece ao a biblioteca da escola, onde a obra Chapeuzinho
pequeno leitor uma inquietação: De onde a redondo estará propositalmente à mostra. Chamar
menina tirou aquela corneta? De seu pequeno a atenção das crianças para o termo “redondo”,
bolso, como o narrador afirma? Como? E por na capa, como mote para levar a obra para lei-
que ela leva uma corneta no bolso de seu casaco? tura coletiva. É o momento de rememorar os
O nonsense da situação deixa leitor e personagem repertórios de leitura: em círculo, se possível
ainda mais no domínio da narrativa, colocando na biblioteca ou no pátio, solicitar aos alunos
o lobo sob ambos os olhares perspicazes e deste- que contem suas versões sobre a história de
midos das crianças. Indignado por ser comparado Chapeuzinho Vermelho, dando livre curso à
a um cachorro bonzinho, e achando a menina imaginação do grupo.
uma “pestinha”, o lobo corre para a casa da vovó. 2) Explorar os aspectos materiais da obra:
Mas é novamente surpreendido: no caminho é após deixar o livro passar pelo contato um a um
atropelado pela senhora que deveria ser sua refei- para ser manuseado pelos alunos, mostrar a capa
ção. O visual da avó em nada lembra uma doce e as páginas iniciais, antes de entrar no texto
velhinha à mercê de um lobo assustador. Após verbal, chamando a atenção para a personagem
um estrondoso baque no animal, com o carro e demais elementos de fundo de cena. Expor
trafegando pela estrada da floresta, ela o socorre, uma ou outra página selecionada, indagando
aparecendo com cabelo cortado, brincos, colar, os alunos sobre o que é narrado ali. Instigar a
botas de cano alto. Frágil mesmo está o lobo, turma para que todos comentem suas hipóteses,
largado em seu colo e carregado para casa, a fim alimentando expectativas para a leitura da obra.
de receber cuidados médicos. Na casa da vovó, Ler o texto da quarta capa, chamando a atenção
pois, será novamente abatido pela menina que para os paratextos que as obras apresentam e que
trata de bater na cabeça do lobo. Seu destemor, dão indícios, e às vezes uma pequena amostra, do
então, é abalado quando o veterinário revela se que o leitor pode encontrar ao ler a obra – se
tratar mesmo de um lobo e não de um grande neste livro houvesse orelha, alguns comentários
cachorro cinza. Porém, o animal não mais poderá poderiam ser feitos a partir deste conteúdo.
assustar, ficando a serviço da avó com quem passa 3) Realizar a leitura orientada da obra: com
a conviver:“Depois disso, ele teve de admitir: sua o livro à altura dos olhos das crianças, ler a histó-
reputação de lobo mau estava arruinada” (p. 33). ria dando-lhe entonação e pausas coerentes com
Com o intuito de melhor exemplificar as as personagens. Ao longo das páginas, podem
possibilidades de trabalho com o texto literário ser destacadas, com parcimônia, imagens que
narrativo, serão expostas, passo a passo, algumas antecipem os acontecimentos. Por exemplo, às
atividades que podem ser realizadas com os páginas 8 e 9, quando Chapeuzinho se apro-
leitores iniciantes, especificamente para a obra xima do monte de feno atrás do qual o lobo
Chapeuzinho redondo. De modo geral, ativida- está dormindo, pode-se perguntar à turma: E
des semelhantes a essas podem ser aplicadas às agora, o que vai acontecer? O que o lobo está
35

fazendo? Será que Chapeuzinho vai se assustar e rejeições mais imediatas ao texto; momento
com o lobo? – como, na sequência, Chapeu- em que o mediador toma contato com as iden-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


zinho é quem assusta o lobo, surpreende-se o tificações e projeções dos alunos; momento em
leitor iniciante, provavelmente preparado para que saber do que os alunos não gostaram é tão
uma situação em que Chapeuzinho seria assus- importante quanto saber do que gostaram.
tada pelo lobo e não o inverso. 6) Eleger um dos aspectos que mais tenham
4) Levantar hipóteses a partir de inferên- impressionado os alunos, de preferência algo
cias: à altura das páginas 16 e 17, o lobo planeja polêmico ou ao menos sobre o qual possa haver
sua vingança por ter sido assustado pela menina, alguma controvérsia, colocando-o em discussão,
correndo à casa da avó.Talvez se possa fazer uma debatendo o tema, levantando argumentos pró
brevíssima pausa e relembrar a história original e contra, aprofundando ao menos um aspecto
de Chapeuzinho Vermelho, pois, agora, o lobo tematizado pela obra. Por exemplo: É justa a
declara que irá atacar a vovó de Chapeuzinho transformação toda que sofre o lobo, perdendo
Redondo. Aproximando as duas histórias, per- os traços que são próprios de sua espécie? Ou
gunta-se aos alunos: Sabendo o que acontece na ficção vale tudo?
com Chapeuzinho Vermelho, o que acham que 7) Depois da discussão, se o assunto ainda
irá acontecer com Chapeuzinho Redondo? Após não tiver aparecido, chamar a atenção dos alunos
ouvir as opiniões dos alunos, retomar os fatos da para os três ratinhos minúsculos que aparecem em
narrativa, enfatizando as páginas 16 e 17, cujas in- meios às ilustrações da obra, em todas as páginas,
tenções manifestas pelo personagem “mau” serão narrando também uma outra história. Até que
frustradas a seguir.Talvez o mediador prefira ig- ponto a história vivida pelos ratinhos é indepen-
norar este passo ou outros mais, pois há sempre o dente da história da Chapeuzinho Redondo?
risco de quebrar o ritmo da narrativa, geralmente 8) Expandir a leitura (A): finalizada a leitura,
conquistado com sangue, suor e lágrimas, pelos outra visita à biblioteca permite ao mediador
bons escritores. O bom senso dirá se é o caso de expandir as relações entre a leitura realizada e
fazer isso, conforme a interação mantida com novos livros ali disponíveis. O mote intertextual,
o grupo de crianças, seu grau de concentração. motivado pela presença do lobo, oferece a possi-
Mesmo no caso de narrativas paródicas, como bilidade de leitura de outras obras que integram
esta, que se reportam a outros textos há o risco os acervos do PNBE, tais como A fome do lobo,
de que muitas interrupções prejudiquem profun- de Cláudia Maria de Vasconcellos, e Quando o
damente a unidade do texto que está sendo lido. lobo tem fome, de Christine Naumann-Villemin.
5) Realizar a leitura orientada da obra (fi- No primeiro caso, dialogando com os contos
nalizando): nas páginas 18 e 19, o mediador infantis nos quais aparecem ferozes lobos anta-
se depara com um momento de alteração no gonistas, A fome do lobo traz aos leitores iniciantes
rumo da narrativa: Quem o atropelou? O que um lobo faminto que vai atrás das mais diversas
vai acontecer com o lobo? Conclui-se, então, a presas, sempre se anunciando assim:“[...] olhou
leitura do texto, abrindo aos alunos um tempo para cima e viu: um lobo enorme, com a boca
para que se manifestem sobre a história. Gos- aberta, os dentes pontudos, a baba escorren-
taram da obra? O que chamou mais atenção? do”. É também um livro bastante convidativo
O que foi mais engraçado? Alterariam alguma à realização de uma contação de histórias pelo
coisa no enredo ou nas personagens? Do que suspense bem articulado ao final da narrativa,
não gostaram? O mais importante é estimular quando, após atravessar floresta e campo, o lobo
todos os alunos a falar e respeitar essa primeira chega à cidade, à casa do narrador, onde é sur-
fase da leitura dos alunos, pessoal, impressionista, preendido pela avó que manda que se sente e
afetiva, momento em que se revelam as adesões se sirva à mesa.
36

9) Expandir a leitura (B): outra possibilidade em miniaturas com páginas de livros velhos,
de continuidade do tema em questão é Quando dá uma beleza singular ao livro, deixando ao
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

o lobo tem fome, história em que a busca por pequeno leitor larga margem para imaginar,
um suculento coelho leva o lobo Edmundo completando as lacunas de sentido instauradas
Bigfuça à cidade. Porém, um a um seus planos pelas formas, sombras e demais marcas criadas
para matar o coelho são frustrados pelos vizi- por seu primoroso trabalho, o qual remete a
nhos do condomínio, que sempre pedem algo cenários de brinquedo ou teatro de fantoches.
emprestado ao lobo faminto que deseja realizar Com Uma, duas, três princesas, de Ana Ma-
seu intento no quinto andar. Sem cair em um ria Machado, premiada escritora brasileira, no
discurso previsível sobre bem e mal, a narrativa Brasil e no exterior, cuja obra foi traduzida
instiga, tanto em seu texto verbal quanto em suas para diversas línguas e publicada em variados
imagens, a compreensão sobre as relações entre países, retoma-se o conhecido mote dos filhos
as personagens bem como sobre os (possíveis) que saem de casa em busca de solução para um
estratagemas usados pelos vizinhos para demover grave problema enfrentado pelos pais. Como
o lobo de seu intento negativo. somente havia meninas, elas deveriam receber
10) Muitas outras narrativas que releem o a mesma educação ofertada aos príncipes. O
clássico conto de Perrault – com mais ou menos conflito central surge com o adoecer do rei e
liberdade – poderiam ser objeto de compara- a busca, por parte das filhas, de uma solução
ção com Chapeuzinho Redondo, muitas delas já para o problema. Como conhecem os contos
presentes em bibliotecas escolares de todo o de fada, optam por ganhar tempo: a irmã mais
País, tais como Chapeuzinho Amarelo, de Chico nova que, de acordo com as histórias infantis,
Buarque, e Fita verde no cabelo, de Guimarães seria a predestinada a resolver o problema do
Rosa, certamente constituindo um exercício rei, era justamente a que tinha estudado me-
de estabelecimento de relações e proposição de nos e ouvido menos a mais velha, confiando
sentidos dos mais produtivos. apenas em uma pesquisa ligeira que fizera na
Essas atividades oferecem continuamente internet. Suas ações instauram a desordem e a
possibilidades de agregar mais leituras literárias confusão no reino, levando a filha mais velha a
de qualidade relevante para a formação dos lei- retomar seu papel e ordenar:“– Contratem um
tores. A seguir, as obras comentadas e, nos tópi- especialista. Quem conheça o assunto. E tenha
cos posteriores, acompanhadas de sugestões de estudado em tudo quanto é canto, com livro,
atividades, visam esse horizonte de trabalho que escola, professor, laboratório, televisão e compu-
privilegia a leitura literária no ambiente escolar. tador” (p. 37). Quebrando a expectativa de uma
Em Contos de princesas, histórias clássicas solução mágica, ela rompe com os estereótipos,
recontadas por Wendy Jones, a autora opta por descobrindo-se “inventadeira”.
manter enredos conhecidos, investindo em De outro modo, A Princesa Desejosa, de
um tratamento de relevante qualidade textual Cristina Biazetto, propõe-se a contar a história
e gráfica. Algumas nuances da trama mostram- de uma princesa cujos muitos desejos corres-
se peculiares às versões escolhidas pela autora pondem, no plano visual, aos muitos braços
como base para seu reconto, como, por exemplo, da personagem que tudo quer para si: “Desde
na história de Rapunzel. O pai da menina não pequena, ela mostrava como seria. Nem mesmo
rouba repolhos ou outra hortaliça para alimentar o rei, a rainha e a rainha avó escapavam de suas
a esposa grávida, mas “um capim alto e verde, tiranias. // Mas talvez tirania seja uma palavra
chamado Rapunzel, que crescia no quintal da forte demais, melhor relembrar a história des-
vizinha” (p.72). O trabalho artesanal de Su Bla- de o começo” (s/n). A moral fácil que parece
ckwell, com cenários e personagens esculpidas se anunciar – por desejar tanto, nada deveria
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ter ou ser punida – é subvertida pelo enredo nenhum dragão, sendo todos que lhe surgem
que convida o leitor a desconstruir qualquer desinteressantes por algum motivo. Diante da

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


ideia maniqueísta sobre o comportamento da situação, o pai, mago, passa a alternar sua vida,
personagem. Em tom mais despojado, Os oito sem que a filha saiba, entre dragão e pai. A me-
pares de sapatos de Cinderela, de José Roberto nina cresce e os pretendentes que aparecem
Torero e Marcus Aurelius Pimenta, opta por um são eliminados pela fera que circunda a bruxa
texto marcado pelo lúdico, no formato de uma jovem. Em tom bem humorado, o texto evita
narrativa de escolhas: para cada opção do leitor, um discurso pronto sobre as relações entre pais
que é remetido para tais e tais páginas, um par e filhas, levando, antes, a uma experiência per-
de sapatos diferentes está associado, conduzindo, tinente sobre as relações humanas.
consequentemente, a estilos diferentes de dançar
no baile do príncipe, bem como no tratamento
entre ele e sua amada princesa.
Recorrendo abertamente à metalinguagem,
Bruno e Amanda: histórias misturadas, de Pedro Ve-
ludo, convida o leitor a conhecer duas histórias
que se tocam: Os mapas de Bruno e O mistério do
sumiço do sorriso da princesa Amanda estão sepa-
radas por um dicionário que, em determinado
dia, não é reposto habitualmente em seu lugar,
permitindo ao conselheiro do rei sair em busca
de outros personagens no livro mais próximo, Deixando os bruxos, Charles na escola de dra-
com o intuito de encontrar solução para o pro- gões, de Alex Cousseau e Philippe-Henri Turin,
blema da princesa – isto é, sua tristeza crescente tem sua força narrativa tanto no texto verbal
despertada por um imenso sentimento de vazio. quanto no visual. O leitor iniciante partilhará as
Vou ali e volto já, de Lia Neiva, Angela Carneiro angústias do dragãozinho desajeitado que, em vez
e Sylvia Orthof, renova a leitura dos contos de de se interessar pelas tarefas comuns aos dragões,
fada com a apresentação de três histórias com- é atraído pela poesia:“No fim do terceiro trimes-
plementares e bem humoradas, sendo que cada tre, para a festa da escola, Charles já havia escrito
uma lida com diferentes pontos de vista sobre o dezoito cadernos de poesia. E se sentia sempre
ocorrido no casamento do príncipe Romualdo, muito só” (p.25). A ilustração merece destaque,
herdeiro do trono do reino das Três Montanhas. com formatos e cores que remetem a tradições
Em vez de fadas e princesas, bruxas – mais orientais. O mediador deve observar a intensa
especificamente, uma bruxinha chamada Trudi, adesão do texto à obra de Charles Baudelaire
moradora de Burux, cidade de bruxos, em Trudi (1821-1867), cujo texto dá o mote inicial à his-
e Kiki, de Eva Furnari. Integrando o grupo das tória: “9 de abril de 1821. Silêncio. Perfume de
conhecidas bruxinhas da escritora, Trudi troca fim do mundo. // O céu, tal qual um cadáver,
de lugar com Kiki, que morava na cidade de não não estremece mais. Névoa. // Vertigem. No
bruxos, ao lado, incitando leitores iniciantes a se alto de uma montanha, sobre um ninho feito de
envolver com uma história convidativa àqueles cascalho, alguém vai nascer” (p.6).
que trilham as primeiras frases, sem deixar de Pendendo para um tom lírico, A menor ilha
se divertir com a aventura das meninas. Outra do mundo, de Tatiana Filinto, ampara-se em um
bruxinha cativante é a protagonista de A bru- diálogo do texto verbal com referências a contos
xinha e o dragão, de Jean-Claude R. Alphen. Na de fada e num projeto gráfico peculiar: o forma-
história, a bruxa criança não se interessa por to retangular permite às ilustrações ocuparem os
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Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

espaços das páginas duplas como painéis, esten- descobrirá que são três histórias aparentemen-
dendo o olhar do pequeno leitor pelo horizonte te distintas: “O urso e os viajantes”, “A gansa
recheado de idas e vindas dos personagens:“Há dos ovos de ouro” e “O leão velho”. Embora
muito tempo era visitada por reis e rainhas, distintas, as três narrativas são ambientadas no
príncipes e princesas e todo povoado de reinos mesmo espaço que se revela por meio de uma
não muito distantes dali.” (s/n). rica ilustração a qual, alternando perspectivas,
Também investindo no lirismo, Era uma vez, como uma câmera, permite ao leitor reconhecer
de María Teresa Andruetto, tem como elemen- os acontecimentos em uma região caracterizada
to central o próprio contar. A história se inicia como campesina, uma vila medieval, em que
com a apresentação de Sherazade que conta uma teriam ocorrido as três situações narradas pelas
história sobre uma mulher que contava histórias fábulas. Em outros termos, a ilustração cria um
que, por sua vez, contava uma história de outra espaço-tempo que abarca os enredos, cultivan-
mulher que gostava de contar histórias e assim do o imaginário infantil a respeito do mundo
por diante. Em vez de frustrar o pequeno leitor habitado pelas personagens de fábulas clássicas.
pela ausência de um enredo mais movimentado, Ao final da narrativa de “A gansa dos ovos de
o livro faz justamente o papel de iniciador ao ouro”, por exemplo (p.30-31), o casal, já deitado
universo mágico e misterioso do contar histórias. para dormir, desiludido diante da ambição que
os leva a perder a gansa, olha pela janela, da
Fábulas qual se veem gansos voando sobre um castelo
Gênero diverso, mas muito afinado com em cima das montanhas, castelo que se vê na
contos de fada, as fábulas aparecem em O urso, capa do livro e em outros momentos. O foco
a gansa e o leão, de Ana Maria Machado. Nesta narrativo, mais do que o texto verbal, conta,
obra o projeto gráfico é imprescindível para a nesta cena, com um posicionamento do olhar
compreensão da proposta de leitura do livro. do leitor que dá profundidade à imagem e dei-
Pela capa, nota-se que os três animais devem xa lacunas sobre o que estariam eles pensando.
ocupar, de algum A imagem que vaza a moldura lança o leitor
modo, um lugar cen- para o exterior da casa camponesa, convidando
tral no relato. Na fo- à interpretação dos olhares das personagens.
lha de rosto, ao redor Ao mediador, apresenta-se, ainda, um posfácio
de uma mesa que tem em que se contextualiza o gênero em questão,
ao centro uma árvore, conforme Luís Camargo: “Nessas três fábulas
voltam a aparecer os destacam-se a rapidez, a visibilidade, a exatidão
três animais. Ao vi- e a leveza – para lembrar algumas qualidades
rar a página, o leitor valorizadas pelo escritor italiano Italo Calvino.
39

Não é preciso demonstrar. Basta ler. E a releitura enunciados no títu-


só vai confirmar essas qualidades” (p.46). lo são amplamente

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Sapo Ivan e o bolo (2013), do memorável car- conhecidos na cul-
tunista Henfil, dialoga com conhecidas fábulas: a tura oral brasileira.
pata Chica pede ajuda a companheiros animais É importante no-
para fazer um bolo, os quais, um a um, se negam a tar que são narrati-
ajudar. Finalmente o sapo Ivan, embora negando vas estruturadas em
no primeiro momento, ajuda a pata trazendo um torno da violência
pote de farinha; ao final, passam mal por comerem da onça contrastada
tanto. Reconto de uma conhecida fábula de La com a inteligência
Fontaine (1621-1695), O velho, o menino e o burro ou esperteza do macaco. Para isso contribui
recebe, na voz de Monica Stahel, tom de narrativa um projeto gráfico de cores vibrantes e formas
popular corroborado pelas ilustrações de página amplas, distribuídas ao longo das páginas de
inteira que criam um clima de interior brasileiro, modo bastante livre, com destaque para a repre-
carregado de cores e personagens características: sentação da bocarra da onça, lembrando a figura
“Numa casa lá do fim da cidade, morava o velho de conhecidas esculturas em madeira no Brasil,
Tonho com seu neto Tonico” (p.5). as carrancas. Nesse embate, não se atenuam as
consequências das ações dos personagens, pois,
Sugestões de atividades apesar do tom fabular, esses animais representam
um jogo brutal de forças em busca do poder,
O urso, a gansa e o leão pensando na onça, ou em busca da sobrevivên-
• Leitura de imagens conduzida pelo mediador cia, pensando no macaco. Justamente por esse
antes de se realizar a leitura dos textos verbais. aspecto torna-se relevante a leitura de um texto
• Comparação das imagens com obras clássicas como este no espaço escolar, afinal, por meio
do período medieval, contemplando pintores da cultura popular muitos aspectos construídos
como Pieter Bruegel, oVelho (1525-1569), que historicamente nos mais diversos meios sociais
tão bem retratam a vida cotidiana da época. e culturais são postos em xeque, despertando
a perspectiva crítica dos leitores em formação.
• Correlação entre os textos verbais, cuja unida-
Outro bicho conhecido nas histórias po-
de se dá pela continuidade do texto não verbal.
pulares é o jabuti, personagem de Estórias de
• Possível reescrita do texto, dependendo do Jabuti, de Marion Villas Boas.Tal como na obra
grau de entusiasmo das crianças quando da anterior, explora-se o imaginário por meio de
proposição da tarefa, com atualização do con- recontos, isto é, por meio de versões elaboradas
texto das fábulas com elementos da atualidade. a partir de matrizes culturais anteriores, seja
O velho, o menino e o burro de textos impressos, seja de relatos orais. Em
Três contos de muito ouro, de Fernanda Lopes de
• Roda da conversa (principalmente com anos
Almeida, a história da galinha que bota ovos de
iniciais): narração de causos ou histórias de
ouro abre a sequência de três narrativas cujas
cunho popular conhecidas pelas crianças.
ilustrações contribuem para o contato do pe-
queno leitor com uma obra arejada, com textos
A tradição oral brasileira de ações narrativas envolventes e temas que
As cores vibrantes e os formatos geométri- continuam atuais: a ambição desmedida, a paz
cos chamam a atenção do leitor iniciante em de espírito e o bom uso dos bens materiais.
outra coletânea de histórias de onça, Histórias Voltando-se a um repertório notoriamente
da onça e do macaco, de Vera do Val, cujos animais brasileiro, Mestre gato e comadre onça, de Carolina
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Cunha, é o reconto de uma história de capo- Contos indígenas:


eira, de grande trânsito na cultura brasileira: a
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Yaguarãboia – a mulher onça,


onça, sempre em busca de melhores refeições,
Com a noite veio o sono,
pede humildemente ao gato que lhe ensine seus
A mulher que virou Urutau e
saltos; este assume o papel de professor, porém,
Karu Taru – o pequeno pajé.
sem entregar seu último recurso, o “pulo do
gato”. O CD que acompanha a publicação bem • Leitura dirigida pelo mediador, que deverá
como as imagens oferecem ao mediador um realizá-la compassadamente, enfatizando as
trabalho de fôlego com elementos da cultura ações narrativas mais emocionantes, quando
brasileira, alternando texto verbal, canções e não os aspectos melódicos do texto.
brincadeiras corporais.
No foco das matrizes culturais brasileiras, Ya- Palavra cantada
guarãboia – a mulher onça, deYaguarêYamã, Com a Tocando em lin-
noite veio o sono, de Lia Minápoty, Karu Taru – o pe- guagens diferentes,
queno pajé, de Daniel Munduruku, e A mulher que na linha das histórias
virou Urutau, de Olívio Jekupe e Maria Kerexu de cunho popular,
(edição bilíngue), trazem aos leitores brasileiros Histórias de cantigas,
lendas e costumes indígenas. São histórias que organizada por Celso
atraem pequenos leitores pelo fantástico e pela Sisto, surge com uma
aventura, um modo bem instigante de iniciá-los proposta criativa de
à leitura de mitos brasileiros autóctones, seja na abordagem das can-
figura de personagens como a mulher-onça ou tigas de roda – para
naquela que vira um urutau, seja na explicação cada uma, uma his-
dos fatos naturais como a noite. É importante tória de um escritor diferente. Isso compõe
destacar, ao mediador de leitura, a importância uma obra pertinente aos mediadores de leitura
dessas obras como ruptura de estereótipos so- que terão, em mãos, a possibilidade de trabalhar
bre os índios brasileiros, pois as histórias trazem tanto a linguagem musical, quanto a narrativa.
elementos culturais menos filtrados pela cultura É importante observar que os textos atendem
branca, incluindo, no caso de A mulher que virou a diversos níveis de leitura, mostrando-se apro-
urutau, o registro da língua guarani. priados tanto a leitores muito pequenos quanto
a leitores bem mais maduros. No entanto, essa
Sugestões de atividades característica não impede o trabalho integral
Histórias da onça e do macaco com a obra no contexto de leitores iniciantes,
cabendo ao mediador conduzi-los pela atividade
• Dramatização das falas da onça e do macaco,
de base que compõe a obra, qual seja, imaginar
com especial atenção para os tons de ironia,
a motivação para uma letra como “A barata
falsidade e dissimulação no jogo verbal esta-
diz que tem sete saias de filó”, um instigante
belecido entre os personagens.
exercício de imaginação aceito pelos autores
• Leitura silenciosa das primeiras páginas, so- que o efetivaram no conjunto das narrativas da
licitando-se aos ouvintes que representem obra em questão.
por meio de desenhos alguma personagem Nessa mesma linha, Era uma vez um cão, de
da narrativa. Adélia Carvalho, compõe-se de uma parlenda
• Comparação entre as possíveis diferentes ver- em que pai e filho brincam com uma fórmula
sões correntes, entre os alunos, das histórias verbal, convidando o leitor a continuar a brinca-
registradas na obra. deira. Ainda como brincadeira bem humorada,
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A velhinha e o porco, de Rosinha, é um conto A velhinha e o porco


acumulativo, a mesma situação se repete cons- • Em roda, em espaço aberto, brincar de “con-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


tantemente, convidando a uma interação lúdica. to cumulativo”, conforme a estratégia usada
Nana Pestana, de Sylvia Orthof, centra-se na pela autora do texto, convidando os alunos
imaginação da menina Nana com uma prosa a participarem com sua criatividade a partir
poética que atrai o leitor para um jogo de sen- de determinada situação dada pelo mediador
tidos e sensações musicais, levando-o por uma de leitura.
viagem onírica onde sereias e bruxas surgem em
companhia da menina deitada em sua cama e
admirando a noite. Frente ao quesito musicali- Infância e realidade social
dade, não se pode esquecer ainda da agradável Inspirado no poema “Meninos carvoeiros”,
obra Cultura, de Arnaldo Antunes, em que o de Manuel Bandeira (1886-1968), Carvoeiri-
texto verbal assume o formato de aforismos, os nhos, de Roger Mello, tem como personagem
quais, lidos em sequência, compõe um poema central uma criança que trabalha, ilegalmente,
repleto de apelos musicais e visuais:“O girino é nos fornos de carvão. A narrativa conta com
o peixinho do sapo. // O silêncio é o começo um primoroso trabalho de ilustração que dia-
do papo” (s/n). loga e amplia as significações do texto verbal,
convidando o leitor iniciante a refletir sobre
uma realidade ainda presente na vida de muitos
brasileiros. O uso de uma cor fosforescente, o
laranja, em fundo predominantemente escuro
cria uma ambientação lúgubre, introspectiva, a
qual convida o leitor infantil a se juntar às pre-
ocupações do garoto que tenta conhecer outra
realidade. As silhuetas e sombras incitam a re-
flexão e a imaginação, ampliando a significação
do texto verbal e dando, a este, chaves para a
compreensão das lacunas narrativas por parte do
leitor. A queimada ocasionada por uma bituca
de cigarro, por exemplo, surge como tragédia
inevitável nesse meio, ao mesmo tempo em que
Sugestões de atividades o responsável é também uma vítima.
Histórias de cantigas O projeto gráfico, portanto, revela-se cen-
tral para a compreensão dos sentidos da obra
• Ouvir as cantigas do CD com as crianças, Carvoeirinhos, a qual, fechando um circuito
realizando as danças ou brincadeiras propostas
pela obra, pela tradição das músicas ou pela
tradição da comunidade escolar.
• Instigar os alunos a imaginar a motivação para
a letra da música cantada.
• Leitura coletiva e comparação da narrativa
com a letra, estimulando os pequenos leitores
a perceber os elementos da letra da música
motivadores para a versão da narrativa apre-
sentada na obra.
42

interpretativo, remete à epígrafe do poema de atualização contextual do conhecido conto de


Manuel Bandeira, inspirador para o tema abor- Hans Christian Andersen (1805-1875), “A pe-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

dado. O tom lírico do poema, pois, dialoga com quena vendedora de fósforos”, no qual, agora,
o tom trágico da situação do carvoeirinho e, por em vez de vender fósforos, a menina abandonada
extensão de todos os “carvoeirinhos” brasileiros vende chicletes: “Apesar de todo o sofrimento,
desassistidos das condições mais básicas de edu- ela se recusava a voltar ao barracão onde mo-
cação e saúde. A obra, entretanto, não envereda rava. Não havia conseguido vender sequer um
pela opção de simples denúncia social, que po- chiclete e, se voltasse, certamente sofreria maus
deria lhe dar um tom panfletário; antes, opta-se tratos” (p.9).
por focar a subjetividade do personagem, para Obra em que as imagens operam na sen-
a qual convergem seu contexto e seus sonhos. sibilização do leitor atual é Fumaça, de Antón
No meio urbano discorre a narrativa de Os Fortes, cujos traços de forte apelo expressionista
invisíveis, de Tino Freitas, em que um menino, vêm ao encontro de um texto de grande tensão.
protagonista, tem a capacidade de ver os invi- O leitor não tarda a descobrir que se trata de
síveis: trabalhadores braçais, pedintes, artistas de algo opressor, que traz muito sofrimento ao
rua, isto é, todos aqueles à margem das posições protagonista. A tessitura textual – “Mamãe me
sociais valorizadas. Ao mediador é importante diz que logo a gente vai se reunir” (p.22) – é
observar que se trata de uma narrativa distópica, acessível a leitores iniciantes; o tema é espinho-
pois frustra o leitor quanto a um final feliz, antes so – como a perseguição político-social, ou o
oferecendo a inquietação frente a certo comodis- massacre étnico, tratado de modo delicado –,
mo dos adultos. Distópica também é a persona- sendo pertinente ao leitor mais jovem.
gem de A árvore que pensava, de Oswaldo França
Júnior, uma árvore pensante que, transplantada Sugestões de atividades
para o centro da cidade, percebe a insatisfação
Carvoeirinhos
dos homens com seu crescimento, acabando por
ser arrancada e substituída por outra.A adaptação • Leitura inicial apenas das imagens, instigando
Joãozinho e Maria, de Cristina Agostinho e Ro- os leitores a anteciparem o texto verbal.
naldo Simões Coelho, investe em uma releitura à • Apresentação de trechos de documentários ou
brasileira do conto de fadas europeu:“Há muito matérias jornalísticas sobre o trabalho infan-
tempo, lá na Serra da Mantiqueira, vivia um til, destacando a diferença entre a linguagem
pobre homem com sua família, num barraco” literária da obra, focada na subjetividade da
(s/n). As ilustrações completam esta proposta: o personagem, e a linguagem referencial dos
ambiente é abrasileirado – as crianças comem outros textos, focada nos fatos e com o intuito
goiaba perto da Cachoeira Véu de Noiva, na de denúncia social.
primeira tentativa da madrasta de se livrar delas; Fumaça
a família é negra, com os irmãos retratados em
situação de extrema carência. • Discussão sobre o teor da obra a partir da
Com o foco nas questões étnicas, Pedro Noi- observação da capa do livro.
te, de Caio Riter, é marcado por uma prosa poé- • Apresentação de telas brasileiras, como “Po-
tica em que o menino que dá título à obra busca grom” (1937), do pintor Lasar Segall (1891-
sua identidade. O processo de desvelamento de 1957), ou “Criança morta” (1944), de Cândido
si mesmo se dá em meio às inquietações da vida Portinari (1903-1962), cujo tom expressionista
cotidiana, que lhe apresenta a dura face do pre- deve ser destacado pelo mediador.
conceito. A questão social toma corpo também • Leitura inicial da obra com posterior aproxima-
em A vendedora de chicletes, de Fabiano Moraes, ção a obras de artes plásticas sobre o mesmo tema.
43

• Contextualização com textos referenciais (textos jornalísticos, científico


-expositivos, documentários), por parte do mediador, que deve enfatizar

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


o modo como a história é narrada, seu foco na subjetividade de alguém
que conta uma tragédia de um ponto de vista interno à situação.
Para além do que foi comentado, algumas narrativas apresentam-se
em tom memorialista. Este é o caso de Carmela vai à escola, de Adélia
Prado, Visita à baleia, de Paulo Venturelli, e Arco-íris tem mapa?, de Vivina
de Assis Viana. Na primeira narrativa, a história de Carmela permite ao
leitor de hoje adentrar as portas de uma escola do tempo de seus avós,
narrando suas experiências, inclusive de leitura: “O livro mais lindo que
li no Grupo foi As Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato, que é
um nome bom de falar e ninguém esquece, nem dele, nem das estórias
que inventou” (p.14). De modo geral, é uma obra leve, convidativa a
uma viagem de cunho afetivo por um tempo passado – pretérito bom,
suave, recheado de descobertas e experiências acolhedoras. Na segunda
obra, o protagonista lembra-se do dia em que o pai o levou para ver uma
baleia morta no centro da cidade. Nesse trajeto, muitos temas históricos e
sociais se abrem, convidando a criança leitora a conhecer o passado: “Eu
estava louquinho para ver o rabo de peixe do
doutor Nica. Azulzinho, o carro mais bonito
da cidade” (p.21). O caso do arco-íris – na
terceira obra – é de uma delicadeza ímpar:
crianças bem pequenas buscam explicação
para o mundo: “Quando ele saiu, abracei as
pernas dele e perguntei se ele precisava do
arco-íris. Ele continuou assoviando. Depois
o assovio foi ficando baixinho, ele sentou-se
no banco comprido de madeira e me pegou
no colo” (p.20).

Sugestões de atividades
Carmela vai à escola
• Discussão com os leitores iniciantes sobre a escola de “antigamente”.
• Levantamento de histórias e fatos com os familiares sobre suas respec-
tivas experiências escolares.
• Visita à biblioteca para entrevista com o bibliotecário sobre “o que se
lia antigamente”.
• Consulta a obras consideradas antigas, com destaque para a literatura
infantil, com leitura de trechos e observação das ilustrações.

Para leitores de maior fôlego


No eixo das histórias investigativas ou policiais, em Otolina e a gata
amarela, de Chris Riddell, o leitor será instigado a fazer investigações com
44

a menina Otolina. Para texto incorpora a vida moderna de uma grande


isso, o projeto gráfico cidade, como Londres, tendo ao centro uma
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

-editorial mostra-se personagem infantil cujos pais estão ausentes,


fundamental: logo na porém, de modo ambíguo e fantástico, mos-
primeira página que tram-se cientes de tudo o que está acontecendo
abre a narrativa, a ilus- com a filha por meio dos postais que chegam a
tração convida o leitor todo momento. Além das inferências possíveis
a compor um imagi- diante dessas lacunas, os detalhes das ilustra-
nário sobre o espaço ções bem como elementos colaterais à trama
urbano habitado pela principal permitem ao mediador de leitura
personagem, incluindo breves legendas sobre os ampliar o leque de conhecimento de mundo
prédios que aparecem na ilustração. As imagens, dos leitores iniciantes.
sempre em preto, branco e vermelho, chamam Leitores mais proficientes, nos anos finais
a atenção pelos detalhes que causam efeitos de do Ensino Fundamental I, podem aderir, ainda,
sentido dúbios, engraçados, dialogando e, ao às aventuras de Emil e os três gêmeos, de Erich
mesmo tempo, expandindo os sentidos da nar- Kästner, sendo o personagem que dá nome à
rativa verbal. O tom policial coaduna-se com o série um menino que se mete em situações
fantástico, trazendo ao leitor situações em que de perigo em busca de ajudar outro menino
inteligência e imaginação imbricam-se – é o considerado injustiçado. Outra narrativa que
caso do urso escondido na lavanderia, cuja ilus- exige maior fôlego de leitura é Um menino e
tração vem acompanhada de uma ficha escrita um urso em um barco, de Dave Shelton, texto de
por Otolina em seu caderno de anotações: caráter reflexivo para o qual converge um hu-
mor sutil, que solicita do leitor um repertório
O urso do porão
mais amplo para que compreenda as sutilezas
1.Veio do Canadá. das conversas entre um menino e um urso que
2. Resolveu tirar férias neste ano, em vez buscam um lugar a que não chegam mesmo ao
de hibernar. fim da narrativa.
3. Disse que o porão é muito mais gostoso Na vertente do conto popular, merece des-
que uma caverna fria. taque O garimpeiro do Rio das Garças, reedição da
4. Deixei ele ficar com as minhas meias obra original de Monteiro Lobato (1882-1948).
listradas. (p.25) O texto marca-se pelas peripécias vividas por
Os recursos lúdicos permitem ao texto in- João Nariz na companhia de seu cachorrinho
tegrar diferentes linguagens na composição de Joli. Como uma boa aventura rocambolesca, a
sua estrutura narrativa. O jogo de antecipação história termina com o sucesso do protagonista
tende a aguçar a curiosidade do leitor, como se que recupera um diamante que lhe fora rou-
lê à página 15, no começo da história, quando é bado. Bebendo na fonte da cultura popular, O
apresentada a Coleção de Sapatos Estranhos de saci Epaminondas, de Alan Oliveira, coloca frente
Otolina – “Se quiser saber qual é a outra cole- a frente um neto citadino mimado e uma avó
ção de Otolina, vá até a página 49” – se o leitor cheia de histórias e natureza. A avó de Carta
aceitar a brincadeira, na página 49 descobrirá a errante, avó atrapalhada, menina aniversariante, de
coleção de postais, grande parte (infere-se) de Mirna Pinsky, por sua vez, insere-se em uma
seus pais, que viajam constantemente, deixando trama cujo desfecho inusitado ocorre no mundo
a vida cotidiana da casa aos cuidados de presta- cotidiano e contemporâneo:“Era uma avó. Mais
dores de serviço que rodeiam a menina. Surge, ou menos velhinha, mais ou menos gordinha,
pois, outro aspecto relevante da narrativa: o tinha o cabelo mais ou menos cinzento, e, dia
45

sim, dia não, dores nas costas que despontavam e a aprisiona em


entre a segunda e a terceira costela, produzindo uma casca de avelã.

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


uma preguiça infinita” (p.7). Todo o enredo, en-
É com uma carta que outro personagem tão, movimenta-se
tenta resolver seu problema: tornar-se um super a partir daí, ou seja,
-herói. Cadê o super-herói?, de Walcyr Carrasco, das consequências
tem como personagem central um menino que causadas pela au-
tenta de todas as formas se tornar alguém com sência da morte: a
superpoderes. O segredo de Rigoberta, por sua vez, vida se torna insus-
leva o leitor a conhecer um gênio que, encon- tentável, pois, por
trado por uma simpática senhora que gosta de exemplo, os peixes pescados não morrem mais
cozinhar, afeiçoa-se a ela. e nada pode completar seu ciclo de vida. Diante
dessa situação, o menino conta para a mãe o que
Sugestões de atividades ocorrera, vendo-se obrigado a libertar a Morte.
Ocorre, então, um diálogo de alto valor reflexi-
Otolina e a gata amarela vo para o leitor iniciante. Em vez de punição, a
• Leitura compartilhada: aos leitores mais jo- Morte conversa com o garoto que compreende
vens, é importante que o mediador conduza a a importância do morrer para a continuidade da
leitura apontando as nuances da ilustração, os vida. Indiciam-se, assim, significações sutis, mas
boxes de opções de continuidade da história, passíveis de apreensão por parte do mais jovem
a relação entre as imagens e o texto verbal. leitor, que compreende, entre outras coisas, que
• Deve-se esgotar todas as possibilidades de lei- a benesse de ter a mãe consigo por mais anos
tura de um texto que se propõe interativo não vem pela força da coerção contra a Morte,
como este, isto é, realizar os trajetos narrativos mas por esta reconhecer o amadurecimento do
propostos ao longo do texto. menino. A complexidade do tema, como se vê,
• Elaborar um álbum de viagens imaginárias manifesta-se em nível profundo, exigindo do
inspirado nas coleções de Otolina. mediador de leitura bastante cuidado para não
submeter o texto, seja em sua dimensão verbal,
• Comparar a obra com a narrativa curta e ex-
seja em sua dimensão imagética, a um tratamento
tremamente poética de Arthur Nestrovski,
superficial, episódico ou inusitado. Trata-se de
Viagens para lugares que eu nunca fui.
uma história envolvente, propícia ao contato de
leitores iniciantes com um tema árido. Sem cair
Um mar de histórias em lições previsíveis sobre a importância de se
Cabe destacar uma narrativa breve, aparen- compreender o que seja a morte ou a vida, o
temente pouco complexa, mas instigante e desa- texto toca em questões existenciais, convidando
fiadora pelo tema eleito: a morte. No oco da avelã, o leitor a ampliar o seu repertório a partir de
de Muriel Mingau, é um conto popular escocês. um tema da literatura universal.
Na história, um menino enfrenta o problema da A aceitação da morte também é tema da
mãe doente que anuncia sua iminente morte. Na história congolesa de Alain Mabanckou, Irmã
busca por recursos para salvá-la, acaba encon- -estrela. Ao saber que tivera uma irmã mais ve-
trando a própria Morte, à beira da praia, que lhe lha, um menino de 10 anos passa a conversar,
pede informação sobre determinada casa, logo à noite, com sua irmã transformada em estrela,
identificada por ele como sendo a sua. Imedia- compartilhando suas angústias e pensamentos.
tamente toma a foice, quebra-a em uma pedra, O texto acena ao leitor, então, a experiência
bate com o cabo na Morte até fazê-la minúscula de um cotidiano comum a qualquer criança
46

ao mesmo tempo em que não se descaracteriza das marcas identitárias


de sua origem, o que também é corroborado pela ilustração onírica: “Ya
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Malonga, o feiticeiro que fomos visitar certa tarde, me fez comer umas
raízes picantes e me deu um bracelete com um dente de víbora, cuja
eficiência não se fez esperar” (p.20). A obra merece destaque, portanto,
pela delicadeza com que mantém o tema da morte em diálogo com a
cultura do Congo sem se tornar inacessível aos leitores em geral.
Algumas narrativas do acervo PNBE 2014 também põem o leitor
atual em situações inusitadas diante da própria realidade. É o caso de Uma
estátua diferente, de Charlotte Bellière, na qual se relata o cotidiano de
uma senhora transformada em estátua diante do choque de ser tratada
grosseiramente por um transeunte. Se a preocupação é, pois, despertar
o senso crítico, Truques coloridos, de Branca Maria de Paula, vem ao en-
contro do tema da televisão na vida cotidiana. O emprego de imagens
construídas com bonecos de massinha atrai pelas cores e pela expressi-
vidade dos personagens, instigando ao questionamento sobre a relação
da sociedade contemporânea com o aparelho. A valorização do livro e
da leitura mostra-se como tema central de O menino que morava no livro,
de Henrique Sitchin, obra de caráter metalinguístico em que se narra a
vida de um personagem, um menino, que vive nas páginas de um livro.
Um convite a explorar o espaço da página do livro também se dá em
Bagunça no mar, de Bia Hetzel. A rainha do mar, Iemanjá, tem doze filhas
gêmeas que aprontam brincadeiras comuns às crianças, convidando estas
a uma profusão de movimentos por meio de ilustrações que têm como
efeito uma “bagunça” visual, convidativa à exploração das páginas e ao
despertar para as possibilidades não lineares de leitura. Dialogando com
a tradição narrativa para crianças sobre animais que falam e gigantes que
andam pela terra, A ponte, de Heinz Janisch, é uma narrativa em que o
texto verbal pouco diz frente ao trabalho visual. Um urso e um gigante
tentam atravessar a mesma ponte estreita. O enredo simples tem sua força
no jogo de olhares e nos detalhes das ilustrações, que revelam aspectos
cômicos, alguns dramáticos, convidando leitores ainda muito pequenos
a acompanharem, de modo criativo, o desenrolar da história.
A esses leitores mais novos, Quero meu chapéu de volta, de Jon Klassen,
constitui-se de uma sequência de cenas em que um personagem per-
gunta um a um sobre quem lhe havia roubado o chapéu. A brincadeira
de perguntar e sempre ter uma negativa que pode ser uma afirmação é
rapidamente compreendida pelo leitor criança, que vê o encontro do
urso com um coelho que usa seu chapéu, sendo que aquele não percebe
imediatamente o logro. Em Psssssssssssssiu, de Silvana Tavano, texto e ima-
gem se complementam, convidando leitores um pouco mais proficientes
a reconhecerem os jogos de sentidos estabelecidos entre ambos.Versando
sobre o silêncio, este é personificado em faces constituídas apenas por
traços. Na vertente de textos voltados para o início do letramento, O
gato Massamê e aquilo que ele vê, de Ana Maria Machado, traz um gato
47

sapeca, personagem central, que se mete em Finalmente, no contexto das experiências


encrencas por não enxergar bem, levando sua da infância, merece destaque Coelho mau, de Je-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


dona, a menina Luísa, a muitas preocupações. anne Willis, cuja ousadia narrativa fica por conta
Animais também aparecem em Campeões (2010), de um protagonista que se imagina deixando de
obra em que o texto conciso e as ilustrações ser fofinho, como todos os coelhos seriam ou
altamente atraentes dão um ritmo agitado à desejariam ser, e indo viver a vida livremente,
história dos animais que querem competir em sem qualquer preocupação com regras e res-
uma olimpíada na floresta e, para alcançarem o trições. O humor da história, que apela para
sucesso esperado, têm de trabalhar em equipe. um tom falsamente rebelde, evidencia-se ao
A relação entre avô e neta é o mote de O final, quando o coelhinho narrador revela sua
laço cor-de-rosa, obra de Carlos Heitor Cony, estratégia:“Eu só queria lembrar a vocês [os pais
em que fantasia e realidade se confundem na do coelho] que existem coisas piores na vida
história contada pelo avô sobre a cachorra do que as notas horríveis do meu boletim [...]”
que, supostamente competindo sua atenção (p.23). A caracterização do falso rebelde, com
com a neta, transforma-se, à noite, em uma exageros e extravagâncias pouco convincentes,
menina. Dentro desse ambiente doméstico, provoca o riso e desperta a desconfiança por
O aniversário do dinossauro, de Índigo, cativa o parte do leitor, o qual se depara, ao final, com a
leitor das primeiras letras pelo texto de fácil expressão de espanto dos pais diante do boletim
compreensão e por trazer um narrador bebê comprometido do coelhinho “mau”.
que relata o que sabe sobre seu aniversário de
um ano. Embora referencie o universo dos Sugestões de atividades
contos de fada, O pequeno rei e o parque real
também investe na vivência infantil cotidiana. No oco da avelã
O mote é dado por uma criança mimada que • Debate sobre o tema a partir do conflito cen-
não suporta as diferenças dos outros em relação tral da narrativa – E se a morte não voltasse?
a si mesmo, expulsando um a um de seu parque: Como a vida continuaria?
“Depois disso o Pequeno Rei olhou em volta • Contação de história na biblioteca: distri-
e viu que não havia mais ninguém no Parque buem-se papéis comoVida, Morte, Lembrança,
Real” (s/n). Em Meu reino, de Kitty Crowther, Passado. Sob a orientação do mediador, grupos
a história parece ser um conto de fadas, porém, se organizam e dramatizam, alegoricamente,
a menina narradora revela o que acontece em situações que envolvam esses temas.
volta de seu reino: um confronto aberto entre
o rei Patrick e a rainha Dominique. Ao atribuir O aniversário do dinossauro
voz à criança, permite-se que o leitor infan-
• Com retratos selecionados em casa, comentar
til se aproxime
histórias sobre a primeira infância, conforme
do problema
relato dos pais.
enfrentado por
ela, ou seja, es- • Representar, por meio de desenhos, a visão
tar entre duas em perspectiva de um bebê em seus primeiros
pessoas de que meses em relação a um adulto.
gosta (os pais?), • Deitar no chão e descrever a sala de aula, a bi-
mas que exi- blioteca ou outro espaço costumeiro, de modo
gem exclusivi- a que os alunos possam perceber a mudança
dade da atenção de perspectiva e, consequentemente, de visão,
da garota. sobre o mesmo objeto.
48

Para finalizar este trabalho, não é demais rei- BALDI, Elizabeth. Leitura nas séries iniciais: uma
terar que os comentários aqui realizados sobre os proposta para formação de leitores de literatura. Porto
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

títulos que compõem os acervos do PNBE 2014 Alegre: Projeto, 2009.


– dos mais breves aos mais detalhados –, assim COSTA, Marta Morais da. Metodologia do ensino
como as sugestões de atividades de abordagem da literatura infantil. Curitiba: Ibpex, 2007.
das obras, nem de longe têm a pretensão de ser FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil
exaustivos. Procuram se articular essencialmente na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
como uma motivação inicial para explorar o
MACHADO, Maria Zélia Versiani (org.). A
extraordinário potencial formador oferecido
criança e a leitura literária: livros, espaços, mediações.
pelos acervos. Acima de tudo, há o desejo de
Curitiba: Positivo; Rio de Janeiro: Fundação
contribuir para que a “apropriação” desse signi-
Biblioteca Nacional, 2012.
ficativo conjunto de títulos da literatura nacional
e estrangeira se dê de forma intensa e criativa, de PAIVA, Aparecida (org.). Literatura fora da caixa:
tal modo que as obras em prosa e a prosa sobre as o PNBE na escola – distribuição, circulação e leitura.
obras ganhem primeiro plano. Este texto traduz São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
a profunda convicção de que os leitores que REUTER, Yves. A análise da narrativa: o texto,
puderem ler essas narrativas e compartilhar sua a ficção e a narração. Trad. Mario Pontes. Rio de
leitura com outros sujeitos terão uma existência Janeiro: DIFEL, 2002.
infinitamente mais rica do que aqueles que não SILVA,Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil
passarem por essa experiência privilegiada. Aos brasileira: um guia para professores e promotores de
primeiros, certamente não faltará assunto, ao leitura. Goiânia: Cânone Editorial, 2008.
longo da vida, para uma boa prosa. VERSIANI, Daniela B.;YUNES, Eliana; CAR-
VALHO, Gilda. Manual de reflexões sobre boas práti-
Sugestões de leitura cas de leitura. São Paulo: Ed. Unesp; Rio de Janeiro:
AGUIAR,Vera Teixeira et al. Era uma vez... na Cátedra Unesco de Leitura PUC-RIO, 2012.
escola: formando educadores para formar leitores. Belo ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a litera-
Horizonte: Formato, 2001. tura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
49

A LITERATURA ME

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


ALCANÇA PELAS IMAGENS
QUE A CONSTITUEM:
Re f l e x õe s e pi s to l ar es
Flávia Brocchetto Ramos 1

Carta 1- Apresentação
Cara leitora ou leitor! Hoje vou me apre- Ensino Fundamental e Médio, ou numa escola
sentar a ti e contar o que pretendo fazer aqui! em certo município brasileiro onde já tive o
Quase não se escreve mais cartas, mas opto por privilégio de ir ou ainda em algum lugar que
usar essa forma de me comunicar contigo. Es- eu nem penso que exista, mas está lá.
colhi esse jeito de conversar, porque queria uma Se és leitora desse guia, és um sujeito que
forma de escrita que propiciasse aproximação deseja conhecer mais, és uma curiosa, assim
entre nós, para que a gente pudesse celebrar como eu. Espero que nossa interlocução seja
esse encontro. profícua e que minhas palavras sejam motivo de
Moro na serra do Rio Grande do Sul. Sem- réplica e que tais respostas cheguem novamente
pre morei aqui, aprendi a ler o mundo com os a mim. Afinal, cada um vê e conhece com os
óculos que as pessoas usam aqui. Para entenderes olhos que tem e é com meus olhos que vou
como penso e o que aponto, é bom saberes conversar contigo sobre alguns livros de imagem
que atuei como professora em anos iniciais, que estão no acervo do PNBE 2014.
em Ensino Médio, em cursos de graduação e Obrigada pela atenção,
pós-graduação. Importante dizer também que Flávia
sou mãe de duas crianças (estas também me
ajudam a enxergar). Carta 2 - Chegada...
Não sei exatamente quem tu és, minha Bom dia, professora! Começo perguntando:
leitora (a maior parte dos professores de anos Quem não gosta de ganhar presente? Minha
iniciais é mulher, assim tomo a liberdade de mãe diz que, quando eu recebo uma caixa e
escrever direcionando-me à professora, mas os vejo nela livros, meus olhos brilham. Espero
professores estão acolhidos, apenas faço a con- que teus olhos também brilhem, ou melhor,
cordância pela maioria). Escrevo para uma pro- que teus alunos também se emocionem com
fessora que talvez atue na escola onde estudei no os livros da caixa.

Doutora e Mestre em Letras pela PUCRS e docente em nível de graduação e pós-graduação (Mestrado e Douto-
1

rado) na Universidade de Caxias do Sul.


50

Receber na escola uma caixa com livros construindo um percurso de significação para
literários é motivo de celebração. Celebração cada obra. Depois de conhecer o título, voltes
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

ao simbólico e celebração à vida. Não sei se a ler o que eu pensei sobre o exemplar. Ah, ia
posso separar o sentido dessas duas palavras. Pa- esquecendo, vou destacar, nesta etapa, quatro pre-
rece-me que a vida acontece no simbólico e o sentes: A ovelha negra de Rita, de Silvana Menezes;
simbólico se efetiva no viver. O momento em Zoo, de Jesús Gabán, O tapete voador, de Caulos e
que cada professora ou aluno é convidado a abrir A bruxa e o espantalho, de Gabriel Pacheco.
essa caixa é um convite à festa.Talvez tu penses:
“Como vou festejar se tenho que resolver a Carta 3 - Livros de imagem ....
questão desse meu aluno incluído, daquele que livros de linguagem!...
ainda não conseguiu descobrir um caminho na
Bom dia, colega professora! Visitaste os li-
construção do número ou aquele outro que no-
vros? O que percebeste neles? Como se apre-
vamente faltou à aula”. Os problemas são muitos,
sentam? O que há de comum entre eles? O livro
mas prefiro olhar e sentir como Poliana e, com
otimismo, celebrar o bom: a chegada do livro. que tens em mãos é produzido em determinada
Esse presente pode ser aberto por uma turma cultura, atua como respostas ao diálogo vivo
num espaço de festejos. Depois, os livros vão ser dessa cultura e, consequentemente, interfere nas
de todos, assim como outros presentes que rece- atitudes de outros sujeitos.Tradicionalmente, tais
bemos e que logo são partilhados.A experiência obras são de natureza verbal, entretanto com-
de abrir a caixa e se deparar com livros novos, preendo a visualidade como uma linguagem
com o cheiro especial de livro, de tinta, de papel e o livro de imagem, um gênero, em virtude
novinho... textura, ruído de livro novo. É singular! de características estáveis que se evidenciam
O acervo dessa caixa é um grande/pequeno na constituição desse modo de expressão. Essa
ou pequeno/grande banquete. Pequeno, porque forma de expressar e de ler o mundo também
são apenas alguns títulos. Grande, porque cada participa do banquete.
título contém mundos que serão configura- A visualidade é um elemento presente na
dos por cada um dos sujeitos que vão interagir composição do livro que representa ações hu-
com cada título. Nesse banquete, vais encontrar manas. A literatura infantil, inicialmente feita
pratos: “prosa”, “verso”, “imagem” e “história pela palavra, gradativamente, vai acolhendo a
em quadrinhos”. Cabe a mim, neste capítulo, visualidade, de modo que o livro de literatura
estender a toalha para acolher os livros de ima- infantil ganha a categorização de livro ilustrado
gem. Nesta celebração, que acontece por von- – a ilustração tende a acompanhar a palavra em
tade política, haverá outras mesas com toalhas tais exemplares.A linguagem visual está presente
também estendidas para acolher outros pratos. na literatura desde o Romance da Melusina, ma-
Professora, sugiro que, antes de leres meu texto, nuscrito em pergaminho produzido entre 1400
tu interajas com o objeto-livro e manuseie os a 1420 (RAMOS; PANOZZO, 2011, p. 23). No
títulos aos quais vou direcionar minha atenção Brasil, a ilustração e a palavra estão juntas, mas é
nesta escrita. Faças o exercício de olhar os títulos, a partir de 1970 que a visualidade se manifesta
a capa, a contracapa (quarta capa), a lombada, as com maior intensidade. Em 1976, é publicado
orelhas (se houver), as cores/motivos das folhas Ida e volta, de Juarez Machado, o primeiro livro
de guarda, a folha de rosto; passeie pelo miolo, sem palavra, que se torna obra modelar do gênero.
pare, retroceda, tire os olhos do livro e mire ao Aliás, a Fundação Nacional do Livro Infantil
longe, volte novamente ao exemplar. Ou seja, e Juvenil (FNLIJ), desde 1981, premia, anual-
saboreie esse objeto, bem cultural. Nessa ação mente, os melhores livros editados pertencentes à
lenta, aparentemente descompromissada, vamos categoria imagem. Há quem os denomine ‘livros
51

sem texto’, mas discordamos porque entendemos que a imagem, ao ser lida,
também é um texto que contém proposta de sentido e vai ser atualizada

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


pelo leitor. Livro de imagem é, pois, uma categoria relativamente jovem
no universo literário, de modo que ainda não há uma certeza de como
devem ser chamados tais produtos. Inclusive, também são chamados de
narrativa visual. No entanto, nem todos os livros visuais tem um propó-
sito narrativo, pois não apresentam uma sequência de ações. Há aqueles
formados por jogos visuais que desafiam o leitor a identificar algo.
O livro, ou a minha fala, ou a tua, gera no outro algum tipo de reação;
posso dizer que os títulos editoriais geram no leitor “atitudes responsivas”
(o leitor sempre reage frente a um enunciado mesmo que a reação/resposta
não seja imediata), durante o processo de interação autor-obra-leitor. No
caso da literatura infantil, estas variações são captadas por (a) elementos
materiais da imagem, como: linhas, formas, cores, profundidade, técnica
empregada, entre outros; (b) elementos discursivos relativos ao que é mos-
trado/contado, e (c) elementos contextuais, como: temática, intenção do
autor, endereçamento, inacabamento. A composição e a leitura do livro
de imagens consideram elementos contextuais, materiais, discursivos e
simbólicos, visto serem eles que geram a possibilidades de significação.

Carta 4 – Livro sem nada escrito não é livro...


Bom dia, agora vamos
falar mais pontualmente so-
bre livro de imagem.
Minha vivência na es-
cola, seja como pesquisa-
dora, seja como professora
de anos iniciais, alerta que
muitas vezes a visualidade
é entendida como algo que
tende a ser ignorado pelo
professor. A observação de
Young girl reading. Pintura de Federico Zandomeneghi. situações acerca da recep-
ção da visualidade na escola
aponta para a dicotomia entre os desejos divergentes do leitor infantoju-
venil e do professor, quanto ao material a ser lido e ao que entendem por
leitura. Em geral, a criança busca na leitura uma forma de lazer, enquanto
o professor, um recurso para ensinar algo. Leitura para o docente está
relacionada à palavra, não privilegiando estratégias que instrumentalizem
o discente a compreender a visualidade do livro. Se o livro é formado
unicamente por visualidade, tende a ser descartado pelas práticas esco-
larizadas de leitura, embora esteja na biblioteca escolar e encontre-se
entre os mais procurados pelos estudantes, conforme dados de pesquisa
realizada por mim, em Caxias do Sul-RS (RAMOS, 2013).
52

A leitura desses exemplares ocorre de modo para registrar e expressar pensamentos, emoções e
autônomo, entretanto, a linguagem visual ali fatos em suas vidas. Avanços tecnológicos como
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

presente possui uma semântica própria, constitu- a fotografia, em meados dos anos de 1800, filmes
ída principalmente pelas imagens, num sistema no início de 1900, e a televisão, na década de
organizado plasticamente, em seus componentes 1950, contribuíram para ampliar a necessidade de
sintáticos próprios de cor, forma, espaço e figu- compreender o processo envolvido na comunica-
ratividade. Nessa combinação, emergem temas ção com os recursos visuais.Tais avanços continu-
e conflitos por meio de narrativas, cujos enun- am a desenvolver-se em ritmo sem precedentes,
ciados discursivos seriam, por direito, ensinados e os processos educativos estão comprometidos
e aprendidos na escola, para uma leitura mais com a promoção de aprendizagens relativas à
completa, que vai além do verbal, considerando visualidade. Do mesmo modo que a alfabetiza-
o texto um todo de sentido. É, pois, importante ção da língua escrita é valorizada, a alfabetização
que tu, professora, exercites a leitura dos livros de contemporânea tem uma finalidade mais ampla,
imagens, tentando perceber como eles apelam, pois inclui a linguagem visual, baseando-se na
a partir do modo como se constituem, ao seu ideia de que imagens são lidas e seu significado
interlocutor, o estudante dos anos iniciais do é comunicado pela leitura. Neste cenário, o livro
Ensino Fundamental. de imagem seria um recurso que, pela ficção e
Sabemos que, desde pequena, a criança con- ludismo, contribuiria para a educação do olhar.
templa e lê imagens em diferentes suportes. Eu A leitura do livro de imagem faz-me lem-
lembro de brincar de ver ou criar seres no céu brar de um poema de Drummond que fala sobre
– olhava uma nuvem que ora era um gato, depois o sentido das palavras na leitura: “Chega mais
virava cobra, transformava-se em árvore e a brin- perto e contempla as palavras. / Cada uma /
cadeira durava enquanto o vento agisse sobre a tem mil faces secretas sob a face neutra. / e te
nuvem e o meu olhar significasse tais formas.Tu pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre
também brincavas com nuvens? À medida que ou terrível que lhe deres: / trouxeste a chave?”
se avança na escolaridade, entretanto, parece que (ANDRADE, 2008, p. 25-26). Quando se olha
se “desaprende” essa habilidade que exercita a a imagem, é preciso contemplá-la, ir e voltar
mente livremente. É inegável o papel cotidiano da várias vezes, descobrir, encontrar um modo de
visualidade na sociedade atual, disponibilizando significá-la. Encontrar a chave possibilita abrir a
um contato intenso com o universo das imagens, porta que permite compartilhar da celebração da
cuja ação envolve a todos, mas, ao mesmo tempo, leitura do livro de imagem. Não basta descrever
e paradoxalmente, passa por um estado de invi- ou enumerar o que se vê, é necessário estabelecer
sibilidade. Como alerta o título deste texto, as relações entre os elementos, por exemplo, cores,
imagens nos alcançam mas é preciso que o nosso traços, formas. Precisamos perseguir uma cor e
olhar também as alcance. Para que essa interação tentar entender seu sentido, perseguir uma forma
aconteça precisamos educar nosso olhar... geométrica que tende a se repetir e tentar signifi-
A educação do olhar é uma competência cá-la. Há livros que revelam um caráter narrativo
aprendida. O ver implica perspicácia para transpor explícito e outros, entretanto, utilizam-se de um
a superficialidade da imagem e absorver o que se percurso de leitura que não se mostra por meio
constitui em ‘pano de fundo’, e a complexidade dessa modalidade discursiva já consagrada; nestes,
deste processo, segundo Dondis (1976), exige as imagens vão se apresentando e cabe ao leitor
investimento na ‘alfabetização visual’, embora a construir um caminho de significação.
utilização de imagens para comunicação seja um Como estamos numa festa, cabe aos con-
procedimento antigo. Desde os primeiros dese- vivas ver o que é próprio de cada um desses
nhos rupestres, as pessoas têm usado a visualidade pratos.Vamos aos livros de imagem?!
53

Carta 5 – Estação ovelha negra...


Nesse encontro, vou te contar como meus olhos veem um dos pratos

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


dessa festança. Mas preciso contar como vou olhar este livro. Meu olhar
segue três aspectos: primeiro contextualiza o exemplar, segundo levanta
elementos discursivos que contam a história e, por fim, aponta possibili-
dades simbólicas para o título. Lembre-te de iniciar a aproximação com
o manuseio do livro, para depois explorá-lo internamente.
Começamos, contextualizando! Já ouviste falar em ovelha negra? A
ovelha negra de um grupo é alguém que destoa do conjunto, certo? É o
elemento negativo. Será que o livro que vamos ler referenda essa máxima?
Bem, em A ovelha negra de Rita, de Silvana Menezes, há um fio narrativo,
percebido ao folhear o exemplar. Compare a cena inicial (p. 6-7) e a final
(p. 37). A capa é solidária ao leitor iniciante, pois, tanto pelo título como
pelas imagens centralizadas, o leitor conhece as duas personagens que vão
configurar a trama – uma ovelha negra e Rita, personagem humana de
cabelos lisos e ruivos; elas estão se olhando. Deslocando-se à contracapa,
reaparece a ovelha negra e outra branca, com uma tesoura. Estariam em
processo de tosquia? O paratexto que acompanha essa imagem anuncia
a trama, de modo que não deve ser ignorado.
A primeira e a quarta capa têm fundo vermelho, chamando atenção
do leitor e emoldurando as personagens. Essa mesma cor toma conta
do verso da folha de rosto e estende-se a páginas do miolo do exemplar,
como uma moldura para a história, que se inicia na capa e na contracapa,
pois nessas partes do livro há dados que vão configurando o enredo. Já a
segunda e a terceira capas, assim como a folha de rosto e a última folha
do livro, visualmente, sugerem a lã de ovelha, em branco e acinzentado.
Agora, a história pelas imagens. Na página 6, inicia-se, explicitamente,
o enredo. As páginas duplas mostram o cenário onde a história acontece,
assim como o tempo diurno e o verde do gramado sugere a estação do
ano. Em relação ao discurso narrativo, nessas duas páginas, estão postos
dados relativos ao tempo, espaço e personagens. A situação inicial é posta
até a página 13, revelando o cenário e os dados da relação entre Rita e a
ovelha negra, ora por tomadas maiores (p. 6 e 7), ora por focalizações (p.
10). Na página13, o tempo muda, altera-se a estação, chegam as chuvas,
o céu e a ovelha se parecem pela cor acinzentada e pelas formas circu-
lares, apenas o cabelo ruivo e o vestido vermelho da menina – abaixo
do guarda-chuva e atrás da ovelha – teimam em romper com o cinza
da cena, trazendo energia para o momento. Para onde vão as personagens
amigas? A pergunta só encontra resposta quando o leitor vira a página e
descobre que o outono chegou: as árvores se despiram, as folhas voam, o
verde dos pastos foi embora, mas ovelha e menina ainda brincam.
O tempo continua passando (essa é uma característica das narrativas
– Fig. 1), na página 16, as folhas não voam mais, o frio do inverno faz
com que a menina trema, ou Rita está brava, ou? Como no texto visual
não há legenda (palavra), cabe ao leitor construir o percurso de sentido
54

pelos dados da cena. Rita volta para casa a passos interno, apenas uma vela ilumina a noite, e os
largos. A vida se escondeu na rua, não se vê mais três se envolvem numa manta para se aquecer.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

o verde, nem ovelhas, nem vacas que antes apa- Lá fora, a cerca continua dividindo o pasto das
reciam. O frio faz com que todos se recolham. vacas e das ovelhas, mas apenas a negra é vista.
Ao virar a folha, na página 18, encontramos Seus olhos continuam buscando Rita, noite e
Rita dentro de casa com sua mãe e irmão. A dia, até que na página 23 a ovelha visita Rita
mãe reparte um pão. Não há adornos no espaço que está acamada.

Fig. 1 - Cenas externas revelam a passagem do tempo (p. 6, 7 e 15)

A ovelha como protagonista age (se os per- Quanto tempo dura a história? Os indicativos
sonagens não agirem, não há história). Convoca visuais sinalizam o ciclo das estações. De cer-
outras ovelhas e, conforme anuncia a imagem pos- ta forma, a narrativa atualiza a estrutura dos
ta na quarta capa, resolvem com suas lãs preparar contos clássicos: uma situação de estabilidade
agasalhos para a família de Rita. Passa o tempo, a inicial quando Rita e a ovelha negra brincam
cor vai voltando aos poucos ao ambiente externo é rompida com a chegada do outono e do frio
– seria sinal de que o inverno estaria indo embora? que se intensifica. A harmonia é quebrada, a
Rita e o irmão estão em casa. Na mesa, apenas menina adoece e impõe-se o clímax: Rita está
um pão, semelhante a outro que já aparecera. A acamada. A solução do conflito não ocorre pela
ovelha negra reaparece naquele espaço com um intervenção de algum elemento mágico como
carrinho. Na mesa, além do pão, uma garrafa com nos contos de fada tradicionais. As ovelhas se
leite e um queijo; Rita, o irmão e a mãe usam mobilizam para auxiliar quem está fragilizado.
a mesma roupa do início da história. Na cena No final, a tranquilidade se reestabelece.
seguinte, a família manuseia roupas tecidas com A narrativa não fica excluída desses livros de
a lã das ovelhas. Cabe a Rita a blusa quadriculada, imagem – há marcas que vão edificando o tempo,
feita com lã negra e branca. O leitor pode pensar o espaço, os personagens, o conflito, o ponto de
que a história acabou na 37. Entretanto, ao virar vista de quem conta por meio de recursos da lin-
a folha, depara-se com duas páginas dominadas guagem visual. O caráter sequencial manifesta-se
pelo vermelho (agora entendo que ele simboliza nessas produções que vão adentrando os espaços
coragem e energia nessa obra) e, no centro da 39, escolares contemporâneos e sendo aceitas como
há um pequeno quadro centralizado, onde se vê produções artístico-culturais destinadas à criança.
as amigas juntas sorrindo. No entanto, mesmo tendo recursos do domínio
Em síntese, o conflito é posto sutilmente. da narrativa esta é uma linguagem que se apre-
O espaço onde transcorre a ação é rural, ora senta ao leitor implicando modos singulares de
externo ora interno – inclui a casa da menina. percorrer as imagens que contam a história.
55

Aliás, a ação de ler uma narrativa visual pres- Carta 6 – “Que lindo!”
supõe, conforme Castanha (2008, p. 145), observar, Estação zoológico...

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


deduzir e inferir – ações presentes na apreciação
Escrevo essa carta
da obra de arte, cujas imagens seduzem e mobi-
para conversarmos so-
lizam pessoas de diferentes culturas. O desenvol-
bre outro prato que está
vimento da capacidade de ver, associado ao papel
nessa mesa. O livro de
transgressor da literatura, contribui para ampliar
imagem pode não ter
as potencialidades de compreensão e de ação no
uma história explícita
seu entorno. No caso da narrativa visual, essas ha-
como em A ovelha ne-
bilidades estão associadas à articulação que o leitor
gra da Rita. Em Zoo, as
deve realizar entre as imagens. Ao ler a imagem,
imagens se apresentam por quadros que reve-
precisamos levar em conta sua natureza bidimen-
lam quinze cenas articuladas ou não pelo leitor.
sional, pois a leitura da visualidade tende a ser “des-
O olhar atento da capa e contracapa sinaliza
contínua, com paradas, retrocesso, vacilações que
a independência entre os animais, pois se vê
o leitor realiza constantemente sobre a superfície
visual” (VILCHES, 1995, p. 63 - tradução nossa). arara, tucano, borboleta, zebra, bicho-preguiça,
Se é literatura, há simbologia. Como signifi- girafa e quati postos sobre o fundo branco, sem
car o título? O prato desse festejo traz a história articulação entre si. Desde a exterioridade do
da amizade entre uma menina e uma ovelha. O exemplar, o leitor é convidado (ou a palavra seria
título atualiza um tema muito caro à infância – a “convocado”?) a agir sobre elementos postos.
amizade entre humanos e animais, num cenário No interior do livro, a autonomia dos seres se
rural. A família é formada por mãe e dois filhos. evidencia: as cenas que ocupam duas páginas
A casa é simples, nem há sinais de energia elétrica, estão sempre alocadas num espaço exterior e
adornos, nem mesmo uma toalha sobre a mesa – amplo que, ao mesmo tempo em que destaca
apenas um pão e uma faca para cortá-lo. As pessoas um animal, também acolhe outros, agrupados
usam as mesmas roupas desgastadas (há remendos por alguma característica que os vincula. Uma
no vestido da menina e no cobertor da sua cama). observação ligeira do exemplar aponta a au-
Mesmo entre a carência de conforto material, há sência de moldura nas imagens, dado que con-
alegria, e a solidariedade se revela nas relações. trapõe o sentido posto pelo título do livro que
Assim, a imagem da ovelha deixa de repre- pressupõe limite, encarceramento. O que pode
sentar uma ovelha negra e passa a ser o nosso significar a ausência de moldura nessa obra?
amigo, que nos acompanha na alegria e nos A primeira cena do livro (página 6 – o exem-
apoia nas dificuldades. Ou seja, a ovelha negra plar não é numerado, portanto a contagem é men-
e Rita deixam de ser apenas uma ovelha e uma tal) mostra um quati; em segundo plano, vários
menina e podem ser símbolos de humanos e de outros bichos – coelho, urso, guaxinim – aparecem
animais, ou podem simular a aproximação entre e todos têm os olhos pintados, escurecidos, emol-
diferentes, como pessoas de etnias ou classes durados. Uma cerca de madeira marca a divisão
sociais distintas. Lembra-me, inclusive, a histó- do espaço, onde animais e árvores convivem. Se o
ria da Flávia que viveu sua infância no campo, olhar do observador se detiver ao cenário, verá no
numa casa vazia de adereços e plena de frestas, canto inferior esquerdo um menino com óculos
por onde o vento frio do inverno entrava, e escuros, esses que o aproximam visualmente dos
cujos brinquedos eram terneiros, porquinhos, animais representados nesse quadro.
gatas e cachorros. Enfim, a imagem assume a Ao virar a folha, o leitor se depara com outra
identidade daquilo que o leitor atualiza, naquele imagem, cujo ser que fica em primeiro plano é
momento, a partir de suas experiências. um rinoceronte acinzentado. Em relação à cena
56

anterior, mantém-se uma cerca similar que limita o terreno, separando o


espaço interno onde estão os animais de outro externo onde se obser-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

vam estradas, construções e até um vulcão em erupção. O menino está


na mesma posição da imagem anterior, porém agora não usa os óculos
daquela cena, mas um capacete. O capacete associa-se ao casco do tatu, ao
besouro, ao caranguejo, ao couro do rinoceronte que parece uma capa e
ainda ao casulo – presente na metamorfose das borboletas que povoam as
duas páginas. Capacete, capa, carapaça, casulo etc. articulam os personagens.
O critério usado para agrupar os animais não é científico. Causa
surpresa, estranhamento, acompanhado de encantamento (termos que
rimam e se aproximam na concretização do título). No zoológico, criado
por Jesús Gabán, há sempre um personagem – menino – que observa
os animais e também se integra à cena, sugerindo pistas ao leitor acerca
do que há em comum entre os animais representados. O menino vai se
integrando aos bichos e passa a assumir algum traço do observado. Esse
aspecto, presente na composição do livro, ajuda o leitor iniciante a en-
tender a relação entre os animais de cada quadro. A ideia de mimetismo
se estende a outros seres, como se constata no corpo da girafa (páginas
20-21), aliás, única cena em que o livro precisa ser virado para o leitor
apreciar o animal na sua extensão. Olhar para a girafa é um convite à
descoberta, seu corpo parece tatuado por imagens de bichos como gato,
pato, porco, coelho, ostra entre outros.
“É história de quê?”, pergunta a criança; Cadê o conflito? O livro
não traz um enredo explícito. Na duração da leitura é que surgem de-
safios e o leitor é convidado, nessa celebração, a fazer perguntas: “O que
um rinoceronte tão pesado e uma borboleta tão leve têm em comum?”,
“Por que o rinoceronte está num espaço onde, ao fundo, se observam
estradas, uma fortaleza, um vulcão?”, “O que poderia aproximar um
besouro e um caranguejo?”. A leitura do livro desafia o leitor a fazer
perguntas, cujas respostas não são dadas plenamente pelas imagens, rei-
terando uma peculiaridade da literatura que é a polissemia. Ou seja, ler
esse título convida o leitor a construir múltiplos percursos de significação
e, consequentemente, diferentes histórias, pois, dependendo da resposta
dada às perguntas que faz, surgem possibilidades distintas de significação.
O leitor descobre, à medida que avança no texto, que o menino
parece se aproximar dos animais, pois vai se mimetizando e tornando-se
um deles. Nas páginas 29 e 30, instaura-se o movimento e o menino,
com sua flauta, agrega-se à manada de animais com chifre, nas p. 31 e
32; anda de bicicleta, e animais ágeis como a zebra e o avestruz correm
muito – suas patas quase nem tocam o chão. Nas p. 33 e 34, comparecem
os saltadores (macaco, canguru, grilo, sapo, coelho etc.) e o menino é
um deles, saltando a cerca que encerrava os animais no zoológico. Na
última cena do livro (p. 35 e 36), muitos pássaros e o menino voam para
o lado direito do exemplar, acompanhando o movimento do leitor que
se junta aos personagens e sai do exemplar para continuar a sua história.
57

Fig. 2 - Cena final do livro -


coroamento da liberdade.

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Quando interagimos com um produto cultural, além de dados rela-
tivos ao tema posto, aprendemos sobre o modo de enunciar. Nesse caso,
a qualidade das imagens – em nanquim e aquarela – amplia as referências
visuais do leitor, contribuindo para a formação ou desenvolvimento do
seu universo artístico.
Subjaz ao título um caráter narrativo, há transformação de personagem
no espaço e no tempo, e o tema da viagem, em virtude do deslocamento
espacial, está bem presente. A viagem dos animais em companhia do me-
nino que os liberta é uma das possibilidades de sentido do livro de Jesús
Gabán e, desse modo, Zoo pode ser um hino à liberdade e à harmonia
entre os seres, simbolizando a liberdade tão desejada pelos humanos.

Carta 7 – Nas asas da leitura: na carona do tapete voador


Professora, o prato de hoje nos per-
mite fazer alguns passeios. O tapete voador,
de Caulos, reapresenta o tema da viagem.
A capa do exemplar pouco revela porque,
além do título com letras em formatos e
cores variados, há uma imagem de fundo
que lembra o céu com nuvens e, nas letras
do título, animais mostram suas caras; não
há indicativos acerca de enredo. O con-
flito começa a ser posto de modo mais
explícito na página 7, quando parte de um menino e de um cachorro se
mostram, mas o rosto do menino é cortado intencionalmente pela bor-
da da página.Virando a folha, no verso da página, o cachorro reaparece
na mesma posição e vê-se o corpo do menino na totalidade. Se antes
tínhamos uma estrela no cenário, agora várias aparecem e também a lua,
sinalizando a noite. Há aspectos que tendem a orientar o leitor – sempre
há molduras nas cenas, o fundo das páginas é branco, o menino e o cão
são os personagens que aparecem durante toda a história.Trata-se de uma
58

história de viagem, viagem pelo mundo – e pela inverno. Dependendo da história criada pelo lei-
leitura? Seria uma metáfora da leitura? tor, a partir das imagens veiculadas no exemplar,
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

O menino e o cachorro entram no exem- a duração se altera. Ah, aqui como em outras
plar que o leitor manuseia e, após o menino obras, o leitor, esse visitante que pousa no livro,
pegar um livro, ambos circulam por vários ce- é sempre o senhor do sentido do texto literário.
nários, visualizam pirâmides do Egito, o Big Quanto ao modo de enunciar, ou seja, aos
Ben, a Torre Eiffel, a Torre de Pisa, o Cristo aspectos ligados ao modo como as imagens são
Redentor. Além de observarem cenários reais, formadas, convido-te a observar nesse exemplar:
os protagonistas atêm-se ao clímax de algumas
a) A presença do vermelho (e suas nuan-
histórias: ‘pobre de Peter Pan foi agarrado por
ces) e os sentidos que podem ser construídos
Capitão Gancho’;‘a bruxa está entregando uma
a partir dele. A cor marca o nome do autor na
linda maçã vermelha para Branca de Neve’,
capa e na folha de rosto; no miolo aparece em
ou seja, os lugares visitados são aqueles que
outras passagens. O vermelho, tradicionalmente,
encontramos em mapas, mas também aqueles
simboliza o princípio da vida, mas também o
construídos pela imaginação após a leitura de
seu mistério (CHEVALIER;GHEERBRANT,
livros escritos em diferentes tempos e lugares. Os
p. 944-946); é uma cor que mobiliza o olhar
protagonistas chegam até o espaço sideral onde
do observador e também expressa a tensão da
se juntam à lua, Saturno e um foguete. Por fim,
ação posta numa cena, como nas páginas 16 e
o tapete pousa na terra, e o menino, seguran-
17. O Capitão Gancho agarra Peter Pan, e a
do o livro, juntamente com seu cachorro, rega
maçã vermelha na mão da bruxa está alinhada
uma pequena plantinha que tem só duas folhas.
ao laço, também vermelho, sobre a cabeça da
Os detalhes do cenário são omitidos, exigindo
Branca de Neve. Será que o vermelho, aqui,
que o leitor atue sobre o branco da página e
simboliza a tensão de viver?
configure os detalhes do espaço onde ‘Capitão
b) Todas as cenas do miolo do livro estão
Gancho agarra Peter Pan’ ou onde ‘Alice corre
emolduradas por uma linha preta. Essa moldura
atrás do coelho’.
é rompida pelos protagonistas que se deslocam
Essa história de viagem acontece no espaço
entre as várias imagens. O “rastro” do tapete
e também no tempo. Os personagens percor-
voador corta a linha preta da moldura, alertando
rem momentos históricos diversos: após pegar
o leitor acerca da ação dos protagonistas.
o livro, vão ao período jurássico e conhecem
c) O corpo dos personagens está sempre posi-
dinossauros, depois acompanham as caravelas
cionado dirigindo-se à direita do livro, reiterando
(que chegam e/ou partem) e índios, passam
o movimento de seguir em frente – o mesmo feito
(saem ou entram) por uma ampulheta, voltam
pelo leitor. Nesse sentido, cabe uma pergunta que
ao mundo da ficção e, finalmente, retornam
tu vais me ajudar a pensar: O livro representa o
ao cenário terrestre, onde a história começou.
que a leitura poderia provocar no leitor?
Durante o enredo, são observados por perso-
d) O menino do começo e do final da
nagens infantis criados por Monteiro Lobato;
história é o mesmo (Fig. 3)? Que mudanças a
veem Pinóquio, noutra cena, muitos animais,
viagem pela leitura poderia ter lhe propiciado?
lembrando aqueles da arca de Noé. Os animais
Será que isso acontece também conosco?
que têm asas acompanham os protagonistas na
sequência do enredo. Quando termina a histó- Após me debruçar sobre o exemplar, par-
ria? Quanto durou? Alguns minutos, uma hora, tilho contigo a pergunta da criança de 4 anos:
um dia, uma semana? Não está escrito e também “Mãe, é a história de quê?” Se tivesse a palavra
não há marcas de passagem do tempo como talvez estivesse escrito:“Era uma vez um menino
sol e lua, frio e calor que sinalizariam verão ou que estava entediado em casa. Certo dia, resolveu
59

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Fig. 3 - Três momentos do protagonista (páginas 10, 17 e 38).

dar uma volta com seu cachorro e, no passeio, Uma folheada rápida alerta que o exemplar
encontrou uma árvore. A árvore tinha duas por- não é numerado, que predominam, em todas
tinhas no tronco...”. A ausência da palavra, en- as páginas, os tons escuros veiculados na capa e
tretanto, pressupõe que a enunciação verbal do contracapa – apenas algumas nuances de azul
livro de imagens gere histórias diferentes. Isso alteram essa sequência cromática. Vê-se ainda
pode ser complicado para a criança que escuta que o exemplar aberto, na capa e 4ª capa, repete
eu contar – o mesmo texto – de uma forma e uma cena interna onde aparece o espantalho.
tu contares de outra. Entretanto, esses diferentes E a bruxa? Ela não é mostrada visualmente na
modos de enunciar são um bom recurso para capa. Por quê? As ações de folhear o livro, olhar
ajudar o leitor iniciante a perceber que a imagem capa e contracapa e ler a sinopse posta na 4ª capa
posta no livro é apenas a representação de algo. levam-me a inferir que o exemplar constrói uma
O cão pode ser Duque, Lobo, Bidu. O cão re- história ocorrida à noite e que, de alguma forma,
presentaria o companheiro na aventura. Depende o espantalho vai agir para resolver o problema
das experiências do leitor, esse senhor do texto. da bruxa que cai “e se espatifa no chão”. Mas
como o espantalho agiria se ele vive preso?
Carta 8 – “Não gostei... as páginas Temos visões distintas de bruxas, mas, pela
literatura, as vimos como seres maus. Como será
são tudo feia”, “E por que as páginas
a bruxa da história? É importante que o aluno
são feias?”, “É tudo preto assim...”
vá olhando as imagens, pensando sobre elas e
(diz, passando a mão sobre a página): atribuindo-lhes sentidos. O professor, mediador
Estação noturna experiente, mostra e pode indagar para ajudar o
Chegamos, professora, ao último prato da outro a ver, sem impor um sentido. Leitura única
festança anunciada neste guia. Vem mais um não combina com literatura – texto polissêmico.
desafio, pois às vezes precisamos aprender a sa- Quanto à materialidade do exemplar, alerto
borear uma comida. Eis a questão: Como ler que alguns livros têm folha de guarda – aquelas
uma obra tão escura? Criança gosta de colorido! localizadas entre a capa e a folha de rosto. Na
Será que vão gostar? O que tu pensas a respei- folha de guarda da abertura desse título, predo-
to? Será que o título foi escolhido levando em mina o tom azul (do céu) e no final, o marrom
conta aspectos artísticos do exemplar e não as (da terra). Essas cores teriam alguma relação com
condições de leitura dos possíveis destinatários? a história? Tudo tem sentido, desde que nossos
A bruxa e o espantalho precisa, provavelmente, de olhos vejam e signifiquem o visto, e nossos olhos
mediação para ser acolhido pela criança. aprendem a ver e significar.
60

A história começa na página 4 e vai até a 41 ou seria a 43, onde estão


um pássaro azul e outro cinza? Depende de até onde o leitor pretende
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

significá-la. Usando a estrutura da narrativa, percebo que a situação inicial


anuncia cenário urbano, iluminado pela lua cheia (p. 4-5), cinco bruxas vo-
ando em vassouras e outra em monociclo e um pássaro, entre os dois grupos
de bruxas (p. 6-7).Virando a folha, o pássaro da cena anterior ressurge na
parte superior da página à esquerda e identificamos um espantalho na base
da página da direita (p. 8-9). Nessa contextualização da narrativa, o leitor
pode ser convidado a ver: todas as bruxas são iguais? O que diferencia aquela
que anda de monociclo das demais? De que cores é formado o espantalho?
E as bruxas? Em que parte do dia as cenas acontecem? Que comparações
podemos tecer entre os personagens bruxas, espantalho e pássaro? Para
que servem os espantalhos? Onde costumam ser postos? Se é uma história,
precisa acontecer algo para romper a harmonia? Que será que vai ocorrer?
O problema (quebra da harmonia da situação inicial) se coloca: a
bruxa despenca do monociclo – já está na mesma altura do pássaro (p.
10 e 11); seu monociclo fica preso no galho de uma árvore e ela cai no
chão entre as árvores (p. 12-13). E agora? Os vestidos pretos das bruxas
e os troncos das árvores formam um paredão, lembrando as grades de
uma cela. O braço estendido de uma das bruxas sinaliza acusação àquela
que caiu (p. 14-15). As bruxas partem em suas vassouras e a de chapéu
branco fica no solo (p. 16).
De outro ângulo, o espantalho vê as bruxas voando. É a primeira
vez que o azul – que apareceu na capa, na 2ª capa e no anverso da fo-
lha de guarda – surge agora no nariz do espantalho (p. 18-19). O que
significa o azul? “O azul é a mais profunda das cores” (CHEVALIER;
GHEERBRANT, 1993, p. 107), sugere um percurso de divagação, do
distante, mas possível. A escuridão, no entanto, toma conta da cena e a
bruxa caminha em direção à direita, dando às costas ao leitor. Para onde
estaria indo? (p. 20-21). Ao virar a folha, o azul toma conta das páginas
rompendo com a situação cromática da história. Aqui, é possível traçar
um triângulo imaginário: bruxa e espantalho se aproximam a partir do
pássaro, buscado pelo olhar de ambos. A luz, posta pela lua, entretanto, não
está entre os personagens, mas bem à direita no canto superior da página
(p. 22-13), deslocando o olhar do leitor para avançar e virar a página.
Tudo volta ao estágio anterior: o azul restringe-se ao nariz e ao
macacão do espantalho. A bruxa segue seu caminho à direita. Até esse
momento, não vemos relação entre esses dois personagens. O pássa-
ro aproxima-se de um dos braços do espantalho. Folhinhas rosadas da
cor do nariz e do cinto da bruxa e das bochechas do espantalho voam
aleatoriamente (p. 24-25). O passarinho pousa no braço do espantalho
e começa a bicar os fios que o prendem (p. 26-27). Pernas e pés estão
dependurados, os pés calçados por botinas, ao lado muitos fios como
aqueles que apareciam dentro do braço do espantalho estão caindo no
chão (p. 29-30). O espantalho está se decompondo, os fiapos voam, o
61

Fig. 4 – Bruxa e
espantalho observam o

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


pássaro (p. 22 e 23).

pássaro também voa – quase saindo da página na margem direita da


folha par (p. 31-32). Agora, a bruxa, mesmo com o corpo direcionado
à direita, volta seu rosto para trás – olha para a lua e lá há uma folhinha
rosada. A casa vermelha/rosada, que já havia aparecido no miolo, volta a
aparecer no canto inferior esquerdo. Novamente, o traçado imaginário
de linhas forma um triângulo (nas p. 32-33), figura geométrica associada
à harmonia, à proporção e ao número três. Todos desaparecem, no chão
fica apenas um tecido listrado como aquele que formava a camiseta do
espantalho – os troncos pretos das árvores teimam em aparecer, reiterando
a ideia de prisão (p. 34-35). A cena é estática. A bruxa fica de costas para o
leitor – à sua frente partes do que era o espantalho; o tecido da camiseta,
a palha usada no enchimento e a madeira azul que sustentava o corpo.
Na página ímpar, o pássaro pousado no ninho (estaria chocando ovos?).
Tudo espera... O azul da capa reaparece no mesmo tom (p. 36-37).
Ao virar a folha, o movimento volta. A bruxa de chapéu branco com
uma vassoura (feita com a palha e o enchimento do espantalho) na mão
olha para cima e vê um pássaro azul (o que aparecia antes era cinza!),
voando com uma peninha/folhinha rosa no bico (p. 38-39). O cenário
das páginas 4 e 5 reaparece nas páginas 40-41 – tudo agora parece dormir,
a pouca luz presente no cenário é dada pela lua minguante. A história
acontece à noite, mas dura algum tempo, porque se vê a passagem do
ciclo da lua. O leitor atento continua folheando o livro e vê dois pássa-
ros juntos – unidos pela folhinha rosa; e dados acerca do autor estão na
página 45. A folha de guarda agora é marrom – cor da terra.
Como podemos entender a história? Que simbologia podemos
construir? Há quem diga que a bruxa diferente teve que se igualar às
outras para poder voar de novo, há quem tenha pena do espantalho por
ter desaparecido, há quem diga que o espantalho desejava voar e consegue
à medida que transforma-se em vassoura e sai com a bruxa pelos ares. A
história da nossa vida é uma história de adaptação e de transformação
como a da bruxa e do espantalho.Vai sendo escrita e reescrita a cada dia
e cada obstáculo que aparece vai sendo transposto. Bruxa e espantalho
podem simbolizar pessoas, seus percalços e suas conquistas...
Uma turma de crianças de primeiro ano conheceu essa obra. A
professora Janaina Pieruccini de Bortoli organizou uma dinâmica para
62

a mediação da obra com sua turma no mês de novembro de 2013. Um


menino, primeiramente, definiu o livro como esquisito, por não ter pala-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

vras. Antes de entrar no livro, as crianças confeccionaram um espantalho


com bolinhas de isopor e palha de vassoura. Depois de ter o espantalho,
organizaram um cenário onde ficaria alocado o seu personagem. Na se-
quência, a professora convidou o grupo a conhecer um livro (apresentado,
primeiro, em PowerPoint; depois o exemplar físico circulou pela turma). A
leitura aconteceu de modo conjunto, numa proposta solidária. As imagens
iam sendo reproduzidas no telão, as crianças acompanhavam, dialogando.
Como durante a criação do espantalho e do cenário, hipóteses foram
sendo levantadas sobre o que estariam confeccionando; assim, a história
foi sendo construída com mais facilidade. Diziam que os fatos aconte-
ciam à noite, numa cidade de bruxas, onde não havia dia. Elas voavam e
havia uma que usava monociclo. Um aluno chamava a atenção do outro
para detalhes das cenas. Afirmaram que a bruxa de chapéu branco caiu,
porque ela era mais lenta e porque andava de monociclo. Depois de cair,
deparou-se com a casa do espantalho, mas ignorou-a: “– Nem viu ela”.
Um pássaro soltou o espantalho, porque “desmanchou ele”.
As crianças dizem que a bruxa ficou triste e conseguiu uma vassoura
(não a perceberam fazendo a vassoura). Nessa parte, um menino questiona:
“De onde saiu a vassoura?”; outro responde: “Da palha do espantalho.”
Entram em conflito e outra criança percebe que o nariz do espantalho
era azul e o cabo da vassoura também é azul. A professora não interferia,
apenas perguntava, e as crianças iam debatendo. Finalizaram, dizendo
que o espantalho e a bruxa (p. 43) viraram pássaros e foram felizes para
sempre. As crianças atribuíram sentido à última imagem do miolo do
livro onde apareciam os dois pássaros.
Na atividade de transferência, muitos transformaram o espantalho
em chave para abrir a gaiola do pássaro... não se deram conta de que o
espantalho estaria novamente preso nessa condição. Outros o transfor-
maram em varinha de condão e o libertaram da gaiola e, finalmente, ele
se transformou em pássaro. O entendimento das crianças parece regido
pelo concreto, pelo conhecido. Ou seja, ao ver uma vassoura, entendem
vassoura. Há, portanto, que investir na formação do leitor literário.

Carta 9: Tudo de novo... princípios mediadores


Enfim, cara professora, livro de imagem pode ser lido independente
da idade do leitor, mas depende da competência de atribuir sentido à
visualidade que forma cada título e dos processos mediadores da leitura.
Ademais, o desenvolvimento de competências ligadas à leitura da vi-
sualidade e da literatura como texto simbólico possibilita ao leitor agir
sobre os títulos lidos e aplicar essas aprendizagens à leitura de outras
manifestações visuais presentes na sociedade.
Em geral, a sociedade e a escola entendem o ato de ler como uma
ação intransitiva, como se lêssemos sempre da mesma forma. A professora
63

Magda Soares nos alerta que o ato de ler está associado ao que vai ser lido,
pois ler é uma ação transitiva. Leitor e texto selam um pacto. Esse pacto

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


precisa ser ensinado na escola. Em relação à literatura, o leitor iniciante
deve ser orientado que a palavra ou imagem posta na literatura contém
em si várias possibilidades de sentido. A palavra deixa de ser palavra e
se transforma – a imagem da bruxa, por exemplo, deixa de ser apenas a
representação de uma bruxa e assume outro sentido atribuído pelo leitor.
Cada obra, em virtude de sua singularidade, desafia o leitor a cons-
truir um percurso de análise. Para cada uma das obras apresentadas neste
capítulo, esbocei um caminho de interação que orientou o processo de
significação do texto. Na escola, também são gestados e implementados
modos de ler cada título. Duas questões, entretanto, permeiam a inte-
ração: (a) a ficcionalidade proposta em cada título, ou seja, a invenção
que contribui para pensar sobre a condição humana; (b) e o letramento
visual, em virtude de o leitor entrar em contato com um texto que se
materializa no espaço (folha de papel) por meio de cores, linhas, técnicas
e formas variadas.
Independente da idade, o leitor precisa aprender a ver elementos
como linhas, formas, seres representados e ousar atribuir sentidos ao
modo como se apresentam. Para ajudar o outro a ver, eu preciso também
aprender a ver. No final desse texto, há indicações de obras para aprofundar
conhecimentos. A leitura solidária em que todos ou um grupo de alunos
se debruça sobre um livro e vai comentando é uma estratégia válida para
construir sentidos. Quanto à imagem ampliada, ajuda que até mesmo
os estudantes mais distantes da professora consigam enxergar traços das
figuras. Entretanto, não podemos esquecer que a leitura também se faz
pelo tato. O leitor deve tocar o exemplar do livro, manuseá-lo.
Os caminhos de entrada no livro de imagem são diversos. Podemos
optar por acompanhar um personagem e observar as mudanças de expres-
são assim como a sua movimentação no cenário. Significar as molduras
ou sua ausência nas cenas do exemplar vai ajudar a construir sentido.
Entender o modo como as tomadas das cenas ocorrem, alternando es-
paços amplos com a focalização de algum personagem ou detalhe pode
ajudar a entender um enredo. Relacionar uma cor que teima em aparecer
ou que se mostra discretamente poderia contribuir para concretizar o
título. Os caminhos são traçados a partir do repertório do leitor e das
potencialidades do livro.
Despeço-me, estimada leitora ou estimado leitor, reiterando que o
contato com o livro de imagem, esse objeto complexo que conta ou não
uma história, é um recurso que pode potencializar a educação do olhar e
contribuir para que o sujeito construa sentido para aquilo que vê – seja
no livro, seja em outros suportes, seja nele mesmo. Afinal, como escreveu
Cecília Meireles: “Todos os dias estarás refazendo teu desenho. / Não te
fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.” (1999, p. 182). Cada livro
pode render muitas ações e significações.
64

Referências bibliográficas
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do EDUCS, 2013. Disponível em: http://www.
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

povo. 41ª.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. ucs.br/site/midia/arquivos/literatura_escola_


CASTANHA, Marilda. A linguagem visual no ebook.pdf. Acessado em 10 out. 2013.
livro sem texto. In: OLIVEIRA, Ieda (org.). O Vilches, Lorenzo. La lectura de la imagen: pren-
que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: sa, cine, televisión. 6.ed. Barcelona: Paidós, 1995.
com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008.
CAULUS. O tapete voador. Rio de Janeiro: Len- Sugestões de leitura:
do e aprendendo, 2013. para aprofundar o tema
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. NUNES, Marília Forgearini. Leitura mediada do
Dicionário de símbolos. 7.ed. Rio de Janeiro: José livro de imagem no ensino fundamental: letramento
Olympio, 1993. visual, interação e sentido. Tese (Doutorado em
DONDIS, D. A. La sintaxis de la imagen: intro- Educação), Universidade Federal do Rio Gran-
ducción al alfabeto visual. Barcelona: Editorial de do Sul, Porto Alegre, 2013.
Gustavo Gill, 1976. OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins Boboli: reflexões
GABÁN, Jesús. Zoo. Porto Alegre: Projetos, sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens.
2012. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
PANOZZO, Neiva Senaide Petry. Literatura
MEIRELES, Cecília. Melhores poemas de Cecília
infantil: uma abordagem das qualidades sensíveis e
Meireles. 11.ed. São Paulo: Global, 1999.
inteligíveis da leitura imagética na escola. Disser-
MENEZES, Silvana de. A ovelha negra de Rita. tação (Mestrado em Educação), Faculdade de
São Paulo: Ed. MMM, 2013. Educação, Universidade Federal do Rio Grande
PACHECO, Gabriel. A bruxa e o espantalho. do Sul, Porto Alegre, 2001.
Trad. Daniela Padilha. São Paulo: Jujuba, 2013. RAMOS, Flávia Brocchetto; PANOZZO, Nei-
RAMOS, Flávia Brocchetto. Literatura na escola: va Senaide Petry. Interação e mediação de leitura
da concepção à mediação do PNBE. Caxias do Sul: literária para a infância. São Paulo: Global, 2011.
65

Para a leitura de

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


histórias em quadrinhos
e de narrativas de ficção
por imagens: I ntr o d ução a
as p e c t os n a r r ati v o s e g r áfi co s
Juvenal Zanchetta Jr. 1

O texto a seguir evidencia algumas estra- mais desafiadores em termos estéticos.As noções
tégias utilizadas em Histórias em Quadrinhos abordadas devem amparar o mediador de leitura
(HQ) e em narrativas infantis construídas ape- na preparação de seu trabalho com os livros e os
nas com imagens ou com predominância de jovens leitores, servindo a um estágio posterior
imagens (NI: narrativa por imagem). Mesmo ao de exploração do suporte físico dos livros
sendo gêneros distintos, HQ e NI são obser- (capa, ilustrações, desenhos, cores etc.), entre ou-
vadas aqui em suas características comuns. Os tros expedientes de sensibilização para a leitura.
aspectos aqui comentados não esgotam as obras, Ao final de cada tópico, sugerimos atividades
mas sim fomentam a busca por significações. concretas para a sala de aula. Os livros analisados
Pretende-se evidenciar estratégias narrativas e neste segmento – anos iniciais do Ensino Fun-
gráficas que tornam os livros do PNBE 2014 damental – estão identificados no quadro abaixo:

Título Autoria Gênero Dados de edição


Boule & Bill Verron/Roba HQ Editora Nemo, 2012
Cena de rua Angela Lago NI Editora RHJ, 1994
Certos dias María Wernicke NI/texto escrito Casa Amarelinha, 2013
E a mosca foi pro espaço Renato Moriconi NI Escala Educacional, 2010
Histórias da Carolina Ziraldo HQ Globo Livros, 2013
Os pássaros Germano Zulo/Albertine NI Editora 34, 2013
Os doze trabalhos de Hércules Denise Ortega/Luiz Podavin2 HQ Globo Kids, 2013
Vai e vem Laurent Cardon NI Editora Gaivota, 2012
20.000 léguas submarinas João Marcos & Will3 HQ Editora Nemo, 2012

1
Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e professor adjunto do Depar-
tamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP).
2
Adaptadores da obra original homônima de Monteiro Lobato.
3
Adaptadores para o formato de quadrinhos da obra original de Júlio Verne.
66

Ilustramos as explicações a partir de exem- com frequência, a um ou dois quadrinhos (em


plos de todas as obras, mesmo não sendo possível geral o penúltimo quadrinho). Isso ocorre no
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

comentar com detalhe cada uma delas. Mas final da história para evitar diminuir a surpresa
seguem sugestões de trabalho. do leitor. As HQ também costumam ser eco-
nômicas em volume de história.
Trama Tomemos, por ora, um exemplo de anda-
Em primeiro lugar, abordaremos para você, mento da trama nas HQ:
leitor, estratégias utilizadas para a construção
da trama. Adaptamos as propostas de Larivaille
(1974) e Eisner (2008), para dividir o andamento
de uma narrativa visual em três momentos prin-
cipais: 1) um momento de contextualização, em
que se apresentam para o leitor os personagens,
os espaços, os episódios básicos que ajudam a
compor o mundo representado pelo texto; 2) um
estágio de desequilíbrio, em que um ou mais pro-
blemas, ou desafios surgem, e mexem com aquela
ordem inicial; 3) um momento de reequilíbrio, em
que se propõe uma solução para aquela situação.
Tais momentos não aparecem, necessariamente,
um após o outro: em narrativas mais complexas
podem estar inclusive imbricados. Os problemas
(ou desequilíbrio) podem aparecer desde o início,
dentro do estágio de contextualização, por exem-
plo. Os mediadores, em suas leituras pessoais,
podem ficar atentos a estes três momentos, para Em Histórias da Carolina (p.27), Carolina e
depois compartilhá-los com os alunos. Bocão seguem para o jardim. Carolina está eufó-
Embora com muitas variações, a sequên- rica, porque terá bastante tempo para divertir-se
cia contextualização → desequilíbrio → reequi- com jardinagem. Bocão está reticente, pois não
líbrio apresenta um recurso para a orientação consegue identificar algo que o incomoda. Os
da narrativa e do próprio leitor, facilitando a três quadrinhos iniciais contextualizam o leitor
comunicação, sobretudo quando os leitores são sobre o que está acontecendo e apresentam os
iniciantes. Ao mediador interessa também saber personagens; igualmente é sugerido na compo-
que uma disposição comum (mas não a única) sição verbo-visual um problema (a dúvida de
em história em quadrinhos é a seguinte: a) a Bocão). O quarto quadrinho ressalta que algo
maioria dos quadrinhos, desde o início, apre- de diferente vai acontecer, algo revelador – este
senta os personagens e as circunstâncias em que quadrinho faz o papel de transição na estrutura.
eles se encontram; b) uma sequência concomi- O quadrinho final aponta a solução, assim como,
tante ou posterior de quadrinhos apresenta os no caso, diverte o leitor.
problemas que incomodam os personagens; c) As narrativas por imagem (NI) apresentam
um quadrinho de transição (mais raramente, outras tantas variações de estilo, abrindo novas
dois ou três) alerta o leitor que alguma mu- possibilidades para o percurso da narrativa. O
dança acentuada vai ocorrer; d) um quadrinho espaço mais generoso para a imagem – quan-
final propõe uma solução. A transição que leva do por exemplo esta ocupa até duas páginas
a uma nova ordem (reequilíbrio) acaba restrita, inteiras – confere maior peso e autonomia às
67

ilustrações, além de ajudar a alinhavar a trama principal valendo-se para


isso de aspectos enunciativos e simbólicos da imagem.

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Quanto mais criativa a obra de narrativa por imagem, mais inciden-
tes ou desvios ela sugere ao longo do percurso, alargando o estágio de
contextualização e tornando mais imprevisíveis – e surpreendentes – os
caminhos que a narrativa pode tomar.
De todo modo, mesmo sucinta, essa noção relacionada à trama deve
ajudar ao mediador de leitura, auxiliando-o no exercício de investigação
prévia sobre os pontos decisivos na evolução de uma narrativa visual.
Seguem algumas atividades que podem ser desenvolvidas com livros
do acervo:
a) Em Histórias da Carolina e em Boule &
Bill, com raras exceções, as historinhas usam o
mesmo percurso: contextualização → problema
→ um quadrinho de transição → solução. Para
leitores mais jovens, interessa percorrer questões
do tipo: 1) Quem participa da historinha? 2) O
que estão fazendo? 3) Acontece algum problema
(ou outra situação) que mexe com os persona-
gens? 4) Como eles resolvem isso? 5) O final muda alguma coisa em
relação ao que vinha acontecendo antes? O mediador deve sempre que
possível estimular a observação dos leitores e sua apreciação.
b) Em Vai e vem, as primeiras 14 páginas operam para a contextuali-
zação inicial, incluindo pequenos problemas para o garotinho que brinca
na areia. As páginas subsequentes ampliam sensivelmente o tormento do
menino: 1) Que elementos (personagens e objetos) aparecem na narrativa
no primeiro momento, em que os problemas do garoto são menores? 2)
Que elementos são marcantes no segundo estágio da narrativa, em que
os problemas são bem maiores? 3) Que personagens são fundamentais
para complicar a vida do menino? 4) Que elementos aparecem no final
da narrativa e mostram que a situação está sob controle?
c) Em 20.000 léguas submarinas, de maneira geral, cada capítulo apre-
senta um evento marcante e desestabilizador.
No primeiro, depois de situar o leitor quan-
to aos personagens e quanto ao mistério a
ser desvendado, já se coloca um episódio em
sequência que muda o rumo da narrativa:
o ataque frustrado ao ‘monstro’ e a queda
ao mar de personagens relevantes. Uma ati-
vidade a ser proposta aos alunos para esta
adaptação da obra de Julio Verne é apontar
quais os grandes momentos de tensão vividos:
1) Por Aronnax e seus companheiros; 2) Pelo
Capitão Nemo e o Náutilus.
68

d) Em Os pássaros, o primeiro terço da obra historinhas da menina, o leitor poderá observar


contextualiza o que faz o pequeno caminhão em como uma personagem com esse perfil con-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

lugar tão árido. Depois de finalizada a ação do vive com desafios diversos. Mas, longe de ser
motorista, ele leva um susto e isso introduz um reduzida ao ‘politicamente correto’, Carolina
problema que motivará a continuidade narrativa, é independente, várias vezes sugerindo ambi-
com pequenos incidentes, até a surpresa final. guidade em seu comportamento (ver exercício
Além de frisar essa situação-problema, o media- proposto no final do tópico).
dor pode fazer perguntas que explorem os mis- Em Os pássaros, há dois personagens de-
térios da trama, como por exemplo: 1) De onde cisivos: o motorista do caminhão e o peque-
vem aquele caminhão e aqueles pássaros? 2) Por no pássaro preto. Os dois podem ser vistos de
que uma estrada daquela, que acaba num preci- maneiras distintas e dificilmente se reduzem
pício? 3) Por que os pássaros são soltos naquele a este ou àquele traço. O motorista mostra-se
lugar? 4) Por que um caminhão tão fechado? desde o início afirmativo: quer libertar todos
os pássaros que trouxe no caminhão e se dedi-
Personagens ca a isso mesmo com aquele que não quer ir
Fundamentais para a construção da trama e embora. Mas o motorista não se limita a essa
para chamar a atenção do leitor, os personagens determinação. Quem é esse motorista bonachão,
ampliam por si os horizontes de possibilidades porém enigmático? Por que libertou os pássa-
de significação de uma narrativa. Embora nas ros? Cumpria um dever ou soltou os pássaros
HQ e nas NI a construção do personagem pa- por conta própria (talvez escondido do dono
reça, à primeira vista, restrita aos seus traços (o da passarada)? Aquela tarefa seria rotineira para
desenho de cada um deles) e ao seu comporta- ele (pelo trajeto já batido da estrada que leva
mento ao longo da história, as formas de reco- à beira do abismo)? O personagem, por outro
nhecimento, de apresentação e as trajetórias de lado, tem uma compleição física pouco propícia
cada um, dentro e fora da obra (na imaginação à aventura de que vai participar com os pássaros
do leitor), são amplas. no final. Já o pássaro preto muda drasticamente
Em Histórias da Carolina, por exemplo, há seu comportamento ao longo da narrativa. Pri-
aspectos anteriores à leitura que ajudam a definir meiro, aparece tímido, medroso, mas aos poucos
a personagem. O traço próprio aos desenhos ganha confiança até transformar-se em líder.
de Ziraldo, além de familiar a gerações intei- E aqui também cabem perguntas: Por que era
ras desde os anos 1960, surge ágil e inventivo, tão medroso? Ele já conhecia o motorista e
sempre revelando algum grau de surpresa para gostava dele? Ele era mesmo medroso ou estava
o leitor. Outra característica comum, aspecto apenas testando o motorista? Como um pássaro
este presente desde os desenhos de resistência tão franzino tem força a ponto de carregar um
do autor ao regime militar no Brasil, é a inquie- homem tão barrigudo?
tude, a ousadia, a fuga da passividade. Carolina Eis outras atividades, relativas aos personagens,
irradia alegria, mas o desenhista não hesita em
que podem ser feitas com as obras comentadas:
descrever o desconforto físico da garota, quando
ela segura uma minhoca com as mãos (p.29). a) Já comentamos sobre o perfil da perso-
Em texto localizado no início do livro, Ziraldo nagem Carolina, de Histórias da Carolina. Para
expressa características distintivas de Carolina: realçar a pluralidade de características, ler a his-
sua aversão a modas passageiras, o amor pela torinha ‘Barato total’ (p.16-20) e ‘O jardim da
natureza e pela jardinagem, o senso de justiça, a Carolina’ (p.48). Nas duas histórias, Carolina
opção por comida vegetariana, a alegria de viver, tem atitudes que afastam a ideia de ‘menina
o respeito pelos companheiros, entre outras. Nas boazinha’. Quais seriam essas atitudes?
69

b) Na obra E a mosca foi pro espaço, enquanto exemplo, a imagem de um canivete aumenta a
a pequena mosca permanece presa, está segura. tensão. O leitor se antecipa e imagina que aquele

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Quando se liberta e passa a tomar conta do instrumento pode ser usado para o mal. Já um
seu próprio nariz, se dá mal! Se, por um lado, canivete encontrado dentro da canastrinha da
é possível pensar numa lição de ordem moral Emília (Os doze trabalhos de Hércules, p.140) é
sobre esse destino (ninguém mandou meter-se um símbolo que ajuda a explicar a variedade
onde não foi chamada), por outro, é também de interesses, nenhum deles ligado à ideia de
possível argumentar: Vale a pena viver a vida agressão. Já no caso do pequeno balde de areia,
preso, ainda que isso signifique segurança total? trazido pelo garotinho de Vai e Vem para a beira
c) Quanto à obra Os pássaros, o mediador do mar, este aparece no início da trama como
pode fazer as mesmas perguntas que elencamos brinquedo, comum e até previsível para uma
anteriormente sobre os dois personagens cen- criança que brinca na areia. Mas o baldinho,
trais da trama: o motorista e o pássaro preto. O mais do que um objeto trivial, ajuda a aumentar
objetivo do exercício é mostrar que, ao mesmo a surpresa quanto ao que virá depois; e terá um
tempo em que o motorista se mostra um ho- papel definido para mostrar as coisas de novo
mem bom, também tem um lado misterioso. Já no lugar, mais adiante.
em relação ao pássaro, a ênfase está em observar Diferentemente de algumas HQ conven-
a mudança radical de comportamento do bichi- cionais, em que as imagens servem apenas como
nho.Também é possível jogar mais dúvida: Será pano de fundo ou moldura à história, na obra
que o pássaro não ficou no caminhão apenas Histórias da Carolina, além de conferir vivacidade
para testar o motorista e saber se podia confiar aos quadros e reforçar uma das características
mesmo nele para a aventura final? centrais da personagem (o amor de Carolina
pela natureza), as plantas têm funções diferentes
no decorrer do livro. Funcionam como moe-
da de troca (p.14), como enganação (as flores
de plástico da p.15), como terreno incômodo
(p.27), como espaço para brincadeiras dos me-
ninos (p.34), entre outras possibilidades.
Seguem observações que podem ser de-
senvolvidas com objetos presentes nas tramas
em análise:
d) Em Cena de rua, o personagem do garotinho a) Certos desafios vistos em Os doze traba-
que vende frutas numa esquina de cidade grande lhos de Hércules têm êxito não pelo simples uso
não pode ser reduzido a uma vítima ou a um vilão. da força bruta, mas sim por ideias negociadas
Ele pode reunir, no mínimo, as duas características. entre o herói e os personagens do Sítio. Quais
seriam esses eventos e quais instrumentos foram
Objetos de uma trama ilustrada usados para auxiliar Hércules?
Os objetos podem exercer papéis comple- b) Em atividade voltada para leitores mais
xos, além de cumprir funções determinadas jovens, perguntar o que seriam os panos longos
numa trama ilustrada. Eles contam ora com estendidos no varal de Certos dias. Cortinas?
significações pré-concebidas simples ora com Tapetes? Colchas? Lençóis? Como os leitores
representações simbólicas amplas, conhecidas justificam suas respostas? E qual seria a função
pelo leitor mesmo antes da leitura completa da desses panos? Há indícios físicos e psicológicos
narrativa. Numa cena de HQ de mistério, por para se chegar à resposta. Eles flutuam leves no
70

varal e aparecem bem dobrados a certa altura da narrativa. Por outro


lado, também parecem ágeis e leves para as ações das personagens. Seriam
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

tapetes voadores, capazes de levar ao céu? Ou seriam objetos que ajudam


a viajar pelo mundo dos sonhos?
c) Como os personagens, o caminhão de Os pássaros também é enig-
mático. Por um lado, é um símbolo de opressão: a carroceria completa-
mente fechada, escura, uma prisão e provável marca de um passado cruel
para os pássaros. Mas, por outro, depois que conhecemos o motorista, o
caminhão poderia ter sido o único jeito, mesmo desconfortável, de levar
os pássaros à liberdade. Seu interior pode não ser tão assustador, pois o
pássaro preto não queria sair de lá.

Tempo e Movimento
Embora esses temas mereçam análise específica e ofereçam desafios
bem maiores do que aqueles que observaremos em seguida, destacaremos
alguns pontos comuns entre os termos e que podem ser tomados como
uma brevíssima introdução para fins de mediação.Afora o desenvolvimento
da trama (que tem seus momentos determinados, sugerindo a passagem
do tempo), são diversas as estratégias utilizadas em HQ e NI para repre-
sentar o movimento dos personagens e, com isso, a passagem do tempo.
Ainda que sejam comuns os desenhos reproduzidos como fotografia
ou com efeitos fotográficos (quando se quer realçar a surpresa de um
personagem, com um close, por exemplo), de maneira geral as imagens
– em seus variados estilos – procuram concentrar dentro delas movi-
mentos vários e tais movimentos (ilustrados) produzem uma simulação
de duração diferente por cena, fazendo ressaltar a ideia de tempo – e até
de intensidade. Para tal constatação, observemos uma sequência:
71

Nesse quadro das Histórias de Carolina (p.47), é difícil imaginar que


todos os personagens falam ao mesmo tempo. Cada um deles faz um gesto

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


diferente, com duração diferente e em momentos também distintos; ou
seja, há uma sequência implícita na cena, que captamos pelo treino de
leitura. A fala de Maluquinho é mais breve que a dos demais. Ele parece
ter sido o primeiro a chamar por Carolina. O chamamento feito por Jô (à
direita) pode ter sido o último de todos. Já a fala de Carolina para a mãe,
provavelmente, ocorre depois das falas de seus amigos. A mãe parece ter
chegado quando sua filha começa a falar. São nuances que completam
o sentido da composição.

Já nesta ilustração de Os doze trabalhos de Hércules (p.51), há diversos


movimentos, ocorridos em tempo e duração diferentes. Pedrinho ex-
terna sua dúvida quanto ao desafio que Hércules terá de enfrentar. O
Visconde põe-se então a pensar no problema. Logo em seguida é a vez
de o Sábio Viajante aparecer e responder à dúvida do grupo. Só então
Emília se dá conta da presença do Sábio. Enquanto isso, Hércules parece
tranquilo, ajustando seu arco. Ao fundo, o centauro Meioameio brinca
alegremente em campo aberto. O mediador pode suscitar nos alunos
estas compreensões de jogo de cena.
Entre os livros comentados, há outras soluções para realçar a ideia
de movimento. Em E a mosca foi pro espaço, elas são diversas: há o ponti-
lhado que reproduz os trajetos feitos pela mosca; o vento que carrega a
bexiga; a reprodução do mesmo balão em momentos diferentes dentro
da mesma cena. Em Os pássaros, os gestos do motorista para ensinar o
pequeno pássaro a voar e, depois, a tentativa do pássaro para voar são
representados por uma sucessão de imagens dos personagens dentro de
uma só imagem (uma para a tentativa do motorista, outra para a tentativa
do pássaro). Longe de se mostrar repetitivas, as duas imagens mostram
ações que se iniciam num momento e terminam mais tarde, além de
gerar efeito cômico e, ao mesmo tempo, irradiar ternura.
72

Eis algumas considerações adicionais e ati- qualquer personagem. Muitas vezes, aliás, os
vidades sobre este tópico: personagens, nesse tipo de enquadramento, são
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

a) A primeira noção a ser desenvolvida pelo apenas um ponto. Enfatiza-se o cenário. Por
mediador é a de que as narrativas acontecem isso, estes planos tendem a ser mais comuns no
em tempos diferentes e, em cada trama, um início da narrativa. Observe que a primeira cena
quadrinho ou uma ilustração não têm a mesma de E a mosca foi pro espaço é descrita em plano
duração da cena seguinte. Até dentro de um geral: em meio aos prédios e às avenidas cheias
mesmo quadro é possível perceber variações de carros, conseguimos localizá-la graças ao
no tempo, a partir do movimento dos persona- pontilhado de seu percurso. Antecipa-se para o
gens. Para introduzir essa noção entre os jovens leitor a imensidão de espaço a ser percorrido
leitores, pode-se pedir a eles que comparem a pelo bichinho. Na ilustração final de 20 mil
duração das historinhas ‘Alma Gêmea’ (p.49-57) léguas submarinas, para ampliar a sensação de mis-
e ‘O jardim de Carolina’ (p.58), em Histórias da tério que reveste o Náutilus, a nave é mostrada
Carolina. A primeira parece se estender por uma a certa distância, integrada ao oceano profundo.
tarde inteira, talvez invadindo a noite. Já a se- As primeiras ilustrações de Os pássaros são todas
gunda historinha transcorre em poucos minutos. feitas em plano geral. A vastidão de terra árida,
b) Os exemplos anteriores sobre o tempo por um lado, diminui o tamanho do caminhão
e o movimento em cada quadrinho também -prisão, mas também parece combinar-se com
servem de base para a investigação do mediador ele (ambos dificultariam a vida).
em outros textos. Mas podemos ir adiante! Em b) Plano conjunto: também tem a função de
Vai e vem, as primeiras peripécias do garotinho contextualizar o leitor em relação ao cenário e
na praia parecem se suceder rapidamente, ocu- difere do plano anterior (central) por destacar
pando, talvez, minutos. Tal sugestão não deve a paisagem, mas já apresentando personagens
ser tomada como regra exata, pois o garotinho identificáveis pelo leitor. É um plano de tran-
pode, depois dos primeiros sustos, ter titubea- sição: do plano geral para o plano médio, em
do e voltado apenas mais tarde a se arriscar no que se destaca o personagem de corpo inteiro.
mar. As cenas seguintes (sobretudo o espaço Por exemplo, quando o caminhão de Os pássa-
de tempo entre uma e outra) certamente são ros chega ao seu destino, há uma sequência de
mais longas, a começar por aquela em que a planos conjuntos: a ligeira aproximação ajuda o
gaivota carrega o menino para o centro de uma leitor a compreender, ao menos vagamente, o
tempestade. que está acontecendo (aos poucos o motorista
é apresentado, bem como a ação que pretende
Enquadramento executar). Em 20 mil léguas submarinas, o plano
conjunto é utilizado em dois momentos cen-
Enquadramento diz respeito ao modo trais: quando Aronnax se depara com a notícia
como os personagens e o cenário são dispostos de mais um ataque do ‘monstro marinho’ (p.4) e,
dentro de um quadrinho ou ilustração. Utiliza- mais tarde, quando Nemo apresenta a Aronnax
se, para tanto, um conjunto determinado de pla- a biblioteca do Náutilus (p.19).
nos – estes podem ter inspiração na linguagem c) Plano médio: é aquele em que o perso-
cinematográfica. Vejamos alguns deles, a partir nagem ocupa o quadro de alto a baixo. Mesmo
da sugestão inicial de Robin (1974): contando com detalhes que tornam identificável
a) Plano geral: o plano geral mostra ao leitor o cenário onde se dá a ação, o interesse maior
cenários maiores, importantes para a trama. O está em destacar os traços e os movimentos dos
destaque é dado para a paisagem, para o que personagens. Com poucas exceções, cada um dos
está acontecendo como um todo, sem distinguir episódios de Os doze trabalhos de Hércules é iniciado
73

por planos que estão entre o conjunto e o médio. (apartamentos, jardins, num ponto da rua ou da
Em Os pássaros, a sequência de cenas relativas ao praia), predominam os planos médio e aproxi-

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


contato do motorista com o pequeno pássaro é mado.Tal opção também se dá porque o centro
toda feita com planos médios, destacando, com das narrativas está na interação entre Carolina e
detalhe, as reações de ambos, mas, por outro lado, seus amigos, na busca de soluções para pequenos
não deixando de mostrar a diferença entre um problemas. Por isso, a predominância de planos
mundo/prisão e um mundo de liberdade. médios e aproximados, e a quase ausência de
d) Plano americano: traz o personagem ‘do planos mais abertos (geral e conjunto). Na me-
joelho para cima’. No cinema e em muitas HQ, diação incite os alunos a perceberem como o
este plano tende a mostrar e a ampliar o efeito plano de cena cria sentido na trama.
de suspense ou de incômodo que se pretende f) Close: conforme este efeito, o persona-
dar à cena. Embora isso também não seja uma gem é focalizado a partir do tronco, destacando-
regra absoluta, em boa parte das HQ, situações se o rosto e suas reações, parecendo bem mais
que envolvem mistério ou mesmo personagens próximo do leitor. É um expediente utilizado
praticando ações suspeitas se utilizam bastante quando se pretende aumentar a tensão ou mes-
do plano americano. Em Os doze trabalhos de mo sugerir algo de intimidade. Não por acaso, o
Hércules, muitos diálogos entre Hércules e a close é pouco utilizado em Histórias da Carolina,
turma do Sítio são mostrados com plano ame- pois tais histórias tratam de ações mais triviais
ricano, realçando a grandeza do herói (visto entre amigos, sem grandes conflitos. Já em Cena
quase de baixo para cima), assim como o seu de rua, para realçar o universo opressivo por onde
afeto para com Emília, Pedrinho e o Visconde. circula o garotinho, os planos transitam entre o
Em Histórias da Carolina, esse plano é raro, mas médio e o close. Algo próximo acontece em 20
é utilizado, por exemplo, quando Carolina e mil léguas submarinas. Nas cenas em que Aronnax
Maluquinho pedem informação a um policial e seus companheiros aparecem confinados no
na rua (p.76). Em cena capital de 20 mil léguas interior do Náutilus, os planos predominantes
submarinas, quando Aronnax se vê preso em vão do médio ao close, para realçar, entre outros
local estranho no fundo do mar e pergunta efeitos, o de prisão. Um plano ainda um pouco
ao capitão da nave misteriosa qual é o nome mais fechado, mostrando apenas o contorno
dele (p.18), utiliza-se o plano americano. O do rosto do personagem, o super close, destaca
susto do motorista de Os pássaros ao ver que ainda mais as reações do personagem. Abra os
havia ainda um pássaro escondido no interior livros e aprecie tais estratégias de cena!
do caminhão é também apresentado com esse g) Plano de detalhe: observa-se apenas um
plano. Em Certos dias, para destacar o caráter detalhe do personagem. Sua função é metoními-
enigmático da narrativa, o plano americano ca: por exemplo, mostrar um só olho arregalado
aparece em diversos momentos. Observe estes do personagem, quando este se vê diante de uma
detalhes de cena com seus alunos. situação perigosa – isso é suficiente para realçar
e) Plano aproximado: os personagens são o medo ou pavor. Nos livros deste acervo são
apresentados, de maneira geral, da cintura para raríssimos os planos de detalhe, até mesmo pelo
cima. Nas HQ, é um tipo de recurso comum perfil das narrativas, que não sugerem tensão
quando se quer destacar o diálogo entre per- exagerada. Algo próximo desse plano pode, no
sonagens ou suas reações, a vibração da cena, entanto, ser observado em 20 mil léguas subma-
mas sem exagerar no nível de tensão (evitando rinas, no momento em que Aronnax questiona
trazer o personagem muito perto do leitor). Em sobre o destino de um navio que está próximo
Histórias da Carolina, como boa parte das his- ao Náutilus: Nemo afirma, para um Aronnax
torinhas se desenvolve em lugares circunscritos muito assustado, que irá afundá-lo (p.54).
74

Toda esta descrição anterior acerca de pla- sucedem nessa ordem (apresentando o cenário e a
nos de leitura é bastante introdutória e não é ação principal). Essa sequência só é interrompida
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

capaz de mostrar a enorme variedade de solu- por um close, que destaca o olhar terno do mo-
ções, principalmente advindas com o desenvol- torista para os pássaros que voam. Já a interação
vimento do cinema, da televisão e da indústria entre o motorista e o pequeno pássaro é feita com
gráfica. Os planos, por sua vez, não aparecem uma sequência de planos médios: conseguimos
isolados, mas sim em permanente combinação observar as reações de ambos, mas as imagens
com outros. De todo modo, feita essa introdu- priorizam o espaço em que estão (o limite entre
ção, podemos nos conectar com a contribuição a prisão e a liberdade). Para quebrar a monotonia
dos planos para a narrativa ilustrada e utilizar dessa sucessão de planos médios, inclui-se entre
este saber na mediação de leitura. eles uma imagem em plano conjunto. Já em Vai
A sucessão de quadrinhos ou imagens, cada e vem, praticamente a narrativa toda é construída
um com determinado enquadramento, também com plano conjunto: o garotinho está bem de-
contribui para o movimento da narrativa. Se lineado e conseguimos ver suas reações. E qual
observarmos, a sequência de planos sempre pró- o expediente utilizado para conferir agilidade e
ximos (médio, aproximado e close) amplifica não tensão dentro de uma narrativa monótona em
só a tensão em Cena de rua, mas também o cres- termos de planos? Cada vez que o leitor vira a
cente desconforto com a situação do menino. página, ele encontra um novo e cada vez mais
Em 20 mil léguas submarinas, quando Ned per- surpreendente desafio para o garotinho.
gunta a Nemo a razão pela qual eles não podem A forte influência exercida pela mídia entre
matar baleias (p.39), a sucessão de quadrinhos as novas gerações leva à necessidade de enfren-
mostra não só a resposta categórica do Capitão, tamento desse tema. O ritmo e boa parte dos
mas também a situação de indefinição que per- efeitos pretendidos por narrativas gráficas e au-
meia a vida dos prisioneiros do Náutilus. Isso é diovisuais (filmes, telenovelas etc.) são ditados
representado por passagens abruptas: utiliza-se por sequências de enquadramentos, muitas vezes
um plano conjunto, seguido de um plano apro- já esquemáticos. Ou seja, os planos criam leitura,
ximado, depois dois quadrinhos em close (com atenção, compreensão, ênfases etc., e tais efeitos
a resposta dura do Capitão) e, finalmente, um se fazem reconhecer por jovens leitores – de
plano americano. livros e mídias variadas. A estratégia de efetuar
Quanto mais radicais as mudanças de pla- cortes drásticos (saltando de um plano médio
no (um plano conjunto sucedido por um close, para um super close, por exemplo) é utilizada por
por exemplo), mais velocidade e mais tensão seriados de ação para aumentar a tensão. Séries
se imprime à narrativa. No caso da cena de 20 de comédia lançam mão de sequências em que
mil léguas submarinas, as mudanças drásticas de prevalecem mudanças suaves, que transitam en-
planos também inspiram a ideia de conflito, tre planos médios e aproximados, sendo raros
de dúvida, de não se saber o que fazer. Afinal, os closes. Além de evitar aumento da tensão, isso
Aronnax e seus companheiros, repentinamente, também ajuda a manter o espectador concen-
se veem num mundo muito diferente daquele trado, para que ele possa acompanhar as piadas.
que eles conheciam. Com isso queremos dizer que uma linguagem
Em Histórias da Carolina, a sequência de ce- estruturada perpassa os discursos imagéticos, e
nas em que os garotos brincam de queimada saber reconhecê-las ajuda no percurso de leitura.
(p.58) conta com um plano conjunto, sucedido Vejamos atividades introdutórias que po-
por quadros em plano médio e o final, para dar dem ser feitas em sala de aula:
destaque à solução, num plano aproximado. Em a) Selecionar imagens com diferentes pla-
Os pássaros, planos gerais, conjuntos e médios se nos – como os comentados anteriormente. O
75

mediador pode, então, estimular os alunos a comparar as imagens, buscan-


do as características de cada uma, com questões como: 1) Que elementos

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


cada uma concentra? 2) O que as cenas pretendem destacar? 3) Qual o
efeito que provocam na leitura?
b) A partir de uma historinha curta, como ‘O jardim de Carolina’
(p.58), de Histórias da Carolina, discutir a pertinência de se utilizar aque-
les enquadramentos e não outros. Por exemplo: O quadrinho em que
o garoto leva a bolada foi apresentado com plano médio. Essa imagem
teria o mesmo impacto se fosse apresentada com enquadramento mais
aberto, como o do primeiro quadrinho (quase um plano conjunto)? Tente
estimular nos alunos a interpretação das cenas a partir da observação de
suas composições.
c) Dissemos antes que a mudança de enquadramento, de um qua-
dro para outro, confere agilidade para a narrativa. Mas essa não é uma
estratégia absoluta. Em Boule & Bill, as histórias são curtas e reportam
pequenas aventuras vividas pelo cachorrinho Bill e o garotinho Boule.
Ali, a alternância de planos é menor. Por vezes, toda a história usa um só
modo de enquadramento (entre o plano médio e o conjunto). O efeito
que se cria é o de estabilidade: e assim o leitor fica atento aos movimentos
dos personagens. Comente com os alunos como se evita a monotonia,
a partir da seleção de elementos visuais. Observe a variedade de gestos,
as mudanças de posição e as simulações de movimento.

Na mediação é possível também, gradativamente, perguntar aos


jovens leitores se essas imagens teriam o mesmo efeito se fossem feitas
com outro tipo de enquadramento, um plano aproximado, por exemplo.
d) Já em 20 mil léguas submarinas, o momento em que o Capitão
Nemo explica a Aronnax porque acumula tanta fortuna no fundo do
mar (p.37) restringe-se a um diálogo curto e a uma breve reflexão de
Aronnax. Se apresentada apenas com planos médios (predominantes ali),
a cena ficaria monótona. A solução encontrada foi intercalar, entre um
plano médio e outro, respectivamente um close, um super close e outro
close. Faça uma leitura conjunta da cena com os alunos.
76

Profundidade
Também relacionada à distribuição dos ele-
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

(com os elementos intermediários) e um plano de


mentos dentro de um quadro, a noção de profun- fundo (com os elementos que estão mais distantes
didade é relevante para se compreender as narrati- do leitor). No quadrinho de Histórias da Caroli-
vas ilustradas.A distribuição clássica dos elementos na (p.50), no primeiro plano aparece um jovem
utilizada por HQ e NI prevê um primeiro plano sentado num banco de praça. No segundo plano,
(os personagens e objetos que estão à frente da estão as garotinhas e a árvore. No plano de fundo,
cena, mais próximos do leitor), um segundo plano o gramado e o casal de garotos brincando de bola.

A distribuição dos elementos na cena, de Carolina (p.98), o quadro inicial, de contextuali-


acordo com essa sistemática, amplia o exercício zação, apresenta a professora em primeiro plano,
de contextualização da trama, bem como enri- os estudantes no segundo plano e a parede em
quece individualmente cada quadrinho. Exercite tom de verde ao fundo. Nos quadros posteriores,
estas observações com seus alunos. Em Os doze para realçar a expressão de Carolina enquanto
trabalhos de Hércules, o quadrinho inicial de cada ela pensa sobre o que escrever para atender
episódio lança mão de planos mais abertos (pla- ao pedido da professora, há uma sucessão de
no conjunto e plano médio). Na maioria desses closes. Para conferir dinamismo a quadros mais
quadrinhos iniciais, a divisão entre primeiro monótonos, que reportam a uma situação de
plano, segundo plano e plano de fundo é bem reflexão ou trazem imagens repetitivas, opta-
marcada, para reforçar (quase sempre no plano se, algumas vezes, por colorir o fundo de cada
de fundo) a ideia de que os personagens transi- quadro com uma cor diferente. Após observar
tam pelo cenário idílico e carregado de símbolos estes detalhes nos livros, os alunos podem ser
da Grécia Antiga (p.89 e 125, por exemplo). estimulados a desenhar tirinhas, refletindo estes
Mesmo estando presentes na maioria das usos e examinando resultados na leitura.
ilustrações, os três planos nem sempre aparecem A distribuição dos planos pode ter ainda
com tanto detalhe. Para evitar o acúmulo de ele- outras finalidades estéticas. Em Cena de rua, para
mentos na cena, para não dispersar o leitor, para realçar o cenário opressivo por onde transita o
economizar recursos, para acelerar a narrativa ou garotinho, além de planos sempre próximos e
para trazer os personagens para mais perto do das cenas construídas de cima para baixo, outra
leitor (com ou sem closes), entre outras razões, estratégia para ampliar a sensação de sufoco se dá
pode-se desenhar apenas o primeiro plano e o com a supressão do plano de fundo, substituído
segundo plano, sendo o fundo preenchido por por uma moldura de cor preta. Os elementos
uma cor determinada. Numa das historinhas de de cada cena são espremidos, parecendo querer
77

saltar para fora do livro – observe a obra. Ao cidade de Micenas. Para efeito didático, entre as
mesmo tempo, o leitor é quase obrigado a se estratégias utilizadas para representar um grupo

Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental


aproximar daquele infortúnio, pois as imagens que ruma para ‘dentro’ da cena, sem confundir
são colocadas muito próximas a ele. Há também o leitor, há uma providencial seta indicativa da
variação de cores ao longo da narrativa, mas direção tomada pelos personagens. Interprete
para intensificar o caráter inóspito do terreno essas passagens com os alunos.
onde ocorrem as ações. Embora os tons mais b) No capítulo ‘O polo sul’ (p.38), de 20
escuros predominem, há desenhos que rompem mil léguas submarinas, por outro lado, a maior
violentamente essa regra, como na cena em parte dos quadrinhos não tem um plano de
que o garoto aparece acuado por cachorros fundo definido. Principalmente nas imagens
vermelhos e quase prensado entre dois carros que reportam os personagens em atividades no
amarelos. Sonde, junto aos alunos, o que estas interior do Náutilus, existe apenas o primeiro
cenas transmitem em seu potencial cênico. plano e o segundo plano (que faz o papel de
Em Os pássaros, cores fortes predominam plano de fundo). Ao mostrar essa passagem, o
até boa altura do livro. Trata-se do acentuado mediador deve perguntar aos jovens leitores que
tom laranja, com que se representa o deserto razões motivariam esse tipo de escolha. Uma das
por onde transita o motorista até o seu destino, respostas é o reforço da ideia de confinamento.
e também da cor vermelha, com que se apre-
senta o caminhão (cujo interior é todo preen- Ponto de vista
chido com a cor preta). Essas cores ampliam a Trata-se de mais uma das estratégias para a
noção de fixidez, de aridez, de prisão. As cores composição da imagem, que se soma às estra-
sugerem personagens e objetos presos ao chão tégias de enquadramento e profundidade, entre
duro. A partir do momento em que o moto- outras, dando a estas últimas mais variedade e
rista começa a soltar os pássaros, o azul manso mais funções estéticas. Apresentar a imagem a
do céu ganha espaço. Durante um bom tempo, partir do nível dos olhos do leitor é um recurso;
sobretudo quando o motorista se põe a ensinar isso confere certa estabilidade e cadência mais
o pequeno pássaro a voar, o embate de cores é suave ao texto. Em Os doze trabalhos de Hércules,
comum: as cores fortes remetendo ao chão; o quase todos os desenhos são apresentados dessa
azul representando a liberdade do céu. A partir maneira, facilitando a incursão do leitor por um
de então, prevalecerá o azul. Motive os alunos universo com tantos e incríveis personagens e
a refletirem o significado das cores na narrativa. ações. A maioria dos quadrinhos de Histórias
da Carolina também é arranjada dessa maneira.
Sugestões: Mas as narrativas podem explorar outras
a) Entre os exercícios iniciais que podem possibilidades. Em Os pássaros, as imagens não
ser feitos com a noção de profundidade, um são feitas de modo a sugerir um leitor que está
deles é a escolha de quadrinhos e ilustrações no chão (de frente ao que está acontecendo ali).
para se estudar a distribuição dos elementos. O leitor vê as coisas do alto, muito acima do
Em Os doze trabalhos de Hércules, a cena inicial chão. Isso leva à seguinte indagação: se não fosse
de ‘Nasce um herói!’ (p.70) apresenta clara di- o leitor, quem seria esse observador? Também
visão de elementos e todos eles com funções um pássaro? Em Cena de rua, o garotinho rara-
específicas. Todos caminham para a cidade de mente é focalizado a partir do chão. A maioria
Micenas. Num primeiro plano, a turma do Sítio das cenas é construída de cima para baixo. Mas,
conversa, antecipando características de Hércu- diferentemente de Os pássaros, em que planos
les para os leitores. No segundo plano, o próprio abertos dão a noção de mansidão ao conjunto,
Hércules segue imponente. Ao fundo está a em Cena de rua as imagens são construídas com
78

planos que aproximam e mantêm o leitor bem nas ilustrações finais, o exercício de transição
perto do garotinho e de seu infortúnio. Para am- lança mão de outro expediente: o ponto de
Categoria 3 . Anos Iniciais do Ensino Fundamental

pliar a ideia de opressão, esse ponto de vista, de vista utilizado simula a ideia de que o observa-
tão próximo, parece comprimir os personagens, dor ficou de ponta cabeça, o que realça não só
a ponto de eles ficarem disformes. Já em Certos a sensação de liberdade que mostramos antes,
dias, a narrativa intimista é realçada pelo uso di- mas também a surpresa que o leitor terá adiante.
ferenciado dos ângulos. O diálogo inicial entre Fazer com que o jovem leitor compreenda o
mãe e filha é mostrado a partir do ponto de vista papel do ponto de vista a partir do qual as cenas
de um observador que também não parece estar são construídas não esgota as possibilidades de
no chão, mas um pouco acima, bem próximo, significação da obra, mas sim ajuda a descortinar
como se estivesse à espreita. Em Boule & Bill, a virtudes estéticas que criam sentido.
solução encontrada na composição para mostrar
todos os elementos necessários para que o leitor
Considerações finais
entenda o mal-estar do cachorrinho, em ‘Aladim
no jardim’ (p.27), foi construir a imagem a partir Como dissemos no início, procuramos neste
do ponto de vista de um observador que está texto mostrar ferramentas narrativas e gráficas
num nível bem mais alto do que o nível da rua. que permeiam HQ e NI. Tais ferramentas não
A partir destes entendimentos, seguem ob- são as únicas e, mesmo que tenhamos reduzido
servações: alguns expedientes a um esquematismo breve,
esperamos que eles possam ampliar as possi-
a) Em Histórias da Carolina, praticamente
bilidades de abordagem dos livros tratados. As
todos os quadros são feitos a partir do ponto
noções elencadas também não devem ser to-
de vista de um observador que está no chão, no
madas como regras absolutas. Servem a diversas
mesmo nível dos personagens. Numa raríssima
situações, mas não a outras. Devem ser testadas
exceção (p.61), Carolina alerta sua amiga de que
e analisadas a cada nova narrativa ilustrada. A
o ídolo Zeca Bigodinho está no restaurante.
melhor literatura de ficção busca sempre alter-
Indague seus alunos: Por que a cena teria sido
feita a partir do alto? Talvez para sugerir alguma nativas e modos originais para a representação
distância entre as garotas, o garçom e o ídolo. do mundo. No caso das narrativas ilustradas,
Caso a cena fosse vista do chão, as garotas pare- ainda mais com a evolução tecnológica das dé-
ceriam estar muito mais próximas de Zeca. Na cadas recentes, a experimentação em termos de
página seguinte, veem-se os mesmos elementos, recursos gráficos é intensa. De qualquer modo,
a partir do chão. Neste caso, as garotas já estão após estas noções introdutórias, esperamos que
próximas, conversando com o ídolo. Converse os livros do acervo 2014 possam ser vividos
com os alunos e pergunte se eles compreendem de maneira mais intensa, mais indagativa, mais
a função destas nuances na composição. inquieta e mais colorida. E sobretudo desejamos
b) Em E a mosca foi pro espaço, o mediador que sejam mais partilhados em interpretações!
pode fazer comentários relevantes acerca dos
elementos da trama. As cenas são construídas Referências bibliográficas
a partir de um observador que está no nível EISNER,W. Narrativas gráficas de Will Eisner. São
da mosca, ainda que ela viaje até mesmo pelo
Paulo: Devir, 2008.
espaço sideral. Essa estratégia aproxima o leitor,
fazendo-o acompanhar de perto a trajetória do LARIVAILLE, P. L’analyse (morpho)logique du
bichinho. Simbolicamente, a maior parte das récit. Poétique, Paris, 19, 1974.
imagens conta com fundo branco, ampliando ROBIN, C. Travaux dirigés et bande dessinée. Société
a sensação de se estar solto no ar. No entanto, Universitaire d’Éditions et de Librairie, 1974.
Obras selecionadas

PNBE
2014
80

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1

ERA UMA VEZ TRÊS CACHINHOS DE OURO


VELHINHAS... Texto (adaptação):
Texto: Anna Claudia Ramos Ana Maria Machado
Ilustrações: Ilustrações: Ellen Pestili
Alexandre Rampazzo Editora: Editora FTD
Editora:Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

O PATINHO FEIO É um ratinho?


Texto (adaptação): Texto e ilustrações:
Roberto Piumini Guido van Genechten
Ilustrações: Editora: Gaudí Editorial
Barbara Nascimbeni Categoria: Livros de
Editora: Editora Positivo narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa

Eu vi!
UM ELEFANTE
Texto e ilustrações: SE BALANÇA...
Fernando Vilela
Texto e ilustrações:
Editora: Escarlate Marianne Dubuc
Categoria: Textos em prosa Editora: DCL
Categoria: Textos em prosa

QUEM É ELA? DIA DE SOL


Texto: Eliane Pimenta Texto e ilustrações:
Ilustrações: Ionit Zilberman Renato Moriconi
Editora: Brinque-Book Editora: Jujuba
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

O BEBÊ DA O SACO
CABEÇA AOS PÉS Texto e ilustrações: Ivan Zigg
Texto: Victoria Adler Marcello Araujo
Ilustrações: Hiroe Nakata Editora: Duetto
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
81

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1

HUM, QUE GOSTOSO! MEU CORAÇÃO


É UM ZOOLÓGICO
Texto: Sonia Junqueira
Ilustrações: Texto e ilustrações: Michael Hall
Mariângela Haddad Editora: Paz e Terra
Editora: Autêntica Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

Quando os Tam-Tans SAMBA LELÊ


fazem tum-tum
Texto: Andreia Moroni
Texto e ilustrações: Ivan Zigg
Ilustrações:
Editora: Nova Fronteira Brena Milito Polettini
Categoria: Livros de Editora: Carochinha
narrativas por imagens
Categoria: Textos em verso

PIPOCA, UM CARNEIRINHO PAI, NÃO FUI EU!


E UM TAMBOR Texto: Ilan Brenman
Texto: Graziela Bozano Hetzel Ilustrações:
Ilustrações: Elma AnnaLaura Cantone
Editora: DCL Editora: All Books
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa

Douglas quer Vira Bicho!


um abraço Texto: Luciano Trigo
Texto e ilustrações: Ilustrações: Mariana Massarani
David Melling Editora: Versus
Editora: Salamandra Categoria: Textos em verso
Categoria: Livros de
narrativas por imagens

Longe-Perto O MINHOCO APAIXONADO


Texto: Texto: Alessandra
Vera Lúcia Dias Pontes Roscoe
Ilustrações: Ilustrações:
Romont Willy Luciana Fernández
Editora: Editora Elementar Editora: Editora Canguru
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso
82

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1

Aperte aqui Asa de papel


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Hervé Tullet Marcelo Xavier
Editora: Editora Ática Editora: Livraria Saraiva
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

NO MUNDO Ida e volta


DO FAZ DE CONTA Texto e iustrações:
Texto e ilustrações: Fê Juarez Machado
Editora: Paulinas Editora: Edigraf Ltda.
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
narrativas por imagens

TEM BICHO QUE SABE...


Texto e iustrações: Toni e Laíse
Editora: Bamboozinho
Categoria: Textos em prosa

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

É UM GATO? BORBOLETINHA
Texto e ilustrações: Texto: Andreia Moroni
Guido van Genechten Ilustrações: Daniela Galanti
Editora: Gaudí Editorial Editora: Carochinha
Categoria: Livros de Categoria: Textos em verso
narrativas por imagens

Eu te disse
O BOSQUE ENCANTADO
Texto e ilustrações: Taro Gomi
Texto: Ignacio Sanz
Editora: Berlendis &
Verteccchia Editores Ilustrações: Noemí Villamuza
Categoria: Textos em prosa Editora: Macmillan
Categoria: Textos em verso
83

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

O GRANDE RABANETE CADÊ O SOL?


Texto: Tatiana Belinky Texto: Vera Lúcia Dias
Ilustrações: Claudius Ilustrações: Romont Willy
Editora: Moderna Editora: MMM
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

O MENINO E O PEIXINHO O CROCODILO


Texto: Sonia Junqueira E O DENTISTA
Ilustrações: Texto e iustrações:
Mariângela Haddad Taro Gomi
Editora: Autêntica Editora: Berlendis &
Verteccchia Editores
Categoria: Livros de
narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa

Gino girino coco Louco


Texto: Theo de Oliveira e Texto: Gustavo Luiz
Milton Celio de Oliveira Filho Ilustrações: Mig
Ilustrações: Alexandre Alves Editora:
e Ronaldo lopes Melhoramentos Livrarias
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

UM SOM... ANIMAL! O BALDE DAS CHUPETAS


ANIMAIS DO
Texto: Bia Hetzel
NOSSO ENTORNO
Ilustrações:
Texto e ilustrações: Mariana Massarani
Lô Carvalho
Editora: Manati
Editora: Bamboozinho
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

QUE BICHO SERÁ maria que ria


QUE BOTOU O OVO? Texto e ilustrações: Rosinha
Texto: Angelo Machado Editora: Araguaia
Ilustrações: Roger Mello Categoria: Livros de
Editora: Edigraf Participações narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa
84

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

DUAS FESTAS DE CIRANDA O GUERREIRO


Texto: Fábio Sombra Texto: Mary França
e Sérgio Penna Ilustrações: Eliardo França
Ilustrações: Fábio Sombra Editora: Mary e Eliardo Editora
Editora: Zit Editora Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso

MENINOS DE VERDADE ANTON E AS MENINAS


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Manuela Olten Ole Könnecke
Editora: Saber e Ler Editora: WMF Martins Fontes
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

O JORNAL SAPO COMILÃO


Texto e ilustrações: Texto: Stela Barbieri
Patrícia Bastos Auerbach Ilustrações: Fernando Vilela
Editora: Brinque-Book Editora: DCL
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
narrativas por imagens

UM TANTO PERDIDA BOCEJO


Texto e ilustrações: Texto: Ilan Brenman
Chris Haughton Ilustrações: Renato Moriconi
Editora: Abril Educação Editora: Cia. das Letrinhas
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
narrativas por imagens

A CASA DO BODE QUEM SOLTOU O PUM?


E DA ONÇA Texto: Blandina Franco
Texto e ilustrações: Ilustrações: José Carlos Lollo
Angela Lago
Editora: Claro Enigma
Editora: Lendo e Aprendendo
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
85

Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

BRANCA DE NEVE
Texto: Jacob Grimm e Wilhelm Grimm
Adaptação: Laurence Bourguignon
Iludstrações: Quentin Gréban
Editora: Comboio de Corda
Categoria: Textos em prosa

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1

Você e eu Já pra cama,


Texto e ilustrações: monstrinho!
Maggie Maino Texto e ilustrações:
Editora: Livros da Matriz Mario Ramos
Categoria: Livros de Editora: Berlendis &
Imagens e Livros de Verteccchia Editores
Histórias em Quadrinhos Categoria: Textos em prosa

QUEM QUER SERÁ MESMO


BRINCAR COMIGO? QUE É BICHO?
Texto: Tino Freitas Texto: Angelo Machado
Ilustrações: Ivan Zigg Ilustrações: Roger Mello
Editora: Abacatte Editora: Edigraf Ltda.
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

LADRÃO DE GALINHAS CALMA, CAMALEÃO!


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Béatrice Rodriguez Laurent Cardon
Editora: Livros da Editora: Anglo
Raposa Vermelha Categoria: Livros de
Categoria: Livros de narrativas por imagens
narrativas por imagens

UM+UM+UM+TODOS AUAU MIAU PIU-PIU


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Anna Göbel Cécile Boyer
Editora: Gutenberg Editora: Berlendis &
Categoria: Livros de Verteccchia Editores
narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa
86

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1

DUPLO DUPLO NÃO VOU DORMIR


Texto e ilustrações: Texto: Christiane Gribel
Menena Cottin Ilustrações: Orlando
Editora: Pallas Editora: Gaudí Editorial
Categoria: Livros com Categoria: Textos em prosa
narrativa de palavras-chave

RATINHOS HISTÓRIAS ESCONDIDAS


Texto: Texto e ilustrações:
Ronaldo Simões Coelho Odilon Moraes
Ilustrações: Editora: Hedra
Humberto Guimarães Categoria: Textos em verso
Editora: Editora Reviravolta
Categoria: Textos em verso

NÃO É UMA CAIXA JEREMIAS DESENHA


Texto e ilustrações: UM MONSTRO
Antoinette Portis Texto e ilustrações:
Editora: CosacNaify Peter McCarty
Categoria: Livros com Editora: Editora Globo
narrativa de palavras-chave Categoria: Textos em prosa

MÃENHÊ! O GATO E A ÁRVORE


Texto: Ilan Brenman Texto e ilustrações:
Ilustrações: Rogério Coelho
Guilherme Karsten Editora: Piá
Editora: Escarlate Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens

MINHOCAS COMEM
QUEM TEM MEDO
AMENDOINS
DE MONSTRO?
Texto e ilustrações: Elisa Géhin
Texto: Ruth Rocha
Editora: Pequena Zahar
Ilustrações:
Mariana Massarani Categoria: Livros de
narrativas por imagens
Editora: Richmond
Categoria: Textos em verso
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Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1

A PRINCESA MARIBEL MAS QUE MULA!


Texto: Patacrúa Texto e ilustrações:
Ilustrações: Javier Solchaga Martina Schreiner
Editora: Editora Positivo Editora: Editora Cata Sonho
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

UM GATO MARINHEIRO QUERO UM BICHO


Texto: Roseana Murray DE ESTIMAÇÃO
Ilustrações: Texto e ilustrações:
Elisabeth Teixeira Lauren Child
Editora: Universo Editora: Editora Reviravolta
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

TEM DE TUDO NESTA RUA... ABRAÇO APERTADO


Texto e ilustrações: Texto: Celso Sisto
Marcelo Xavier Ilustrações:
Editora: Editora Saraiva Elisabeth Teixeira
Categoria: Textos em verso Editora: Piá
Categoria: Textos em prosa

DE QUE COR É O VENTO?


Texto e ilustrações:
Anne Herbauts
Editora: FTD
Categoria: Textos em prosa

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2

COMO COÇA! A VELHOTA


Texto e ilustrações: CAMBALHOTA
Lucie Albon Texto: Sylvia Orthof
Editora: Melhoramentos Ilustrações: Tato
Categoria: Livros com Editora: Lê
narrativa de palavras-chave Categoria: Textos em prosa
88

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2

MAR DE SONHOS SETE PATINHOS


Texto e ilustrações: NA LAGOA
Dennis Nolan Texto: Caio Riter
Editora: Singular Ilustrações: Laurent Cardon
Categoria: Livros de Editora: Biruta
narrativas por imagens Categoria: Textos em verso

MISTURICHOS HISTÓRIA EM 3 ATOS


Texto: Beatriz Carvalho Texto: Bartolomeu Campos
Ilustrações: Renata Bueno de Queirós
Editora: WMF Martins Fontes Ilustrações: André Neves
Categoria: Textos em prosa Editora: Global Editora
Categoria: Textos em verso

CURUPIRA, COACH!
BRINCA COMIGO Texto: Rodrigo Folgueira
Texto: Lô Carvalho Ilustrações: Poly Bernatene
Ilustrações: Susana Rodrigues Editora: EdiPUCRS
Editora: Bamboozinho Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

ALÔ, MAMÃE! CHAPÉU


ALÔ, PAPAI! Texto e ilustrações:
Texto: Alice Horn Paul Hoppe
Ilustrações: Editora: Brinque-Book
Joëlle Tourlonias Categoria: Textos em prosa
Editora: Champagnat
Editora PUCPR
Categoria: Textos em prosa

DOIS GATOS PONTO


FAZENDO HORA Texto e ilustrações:
Texto: Guilherme Mansur Patricia Intriago
Ilustrações: Sônia Magalhães Editora: Duetto
Editora: SESI-SP Editora Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso
89

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2

NÃO! A VISITA
Texto e iustrações: Texto e iustrações:
Marta Altés Lúcia Hiratsuka
Editora: Escarlate Editora: Farol Literário
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

VOA PIPA, VOA PARLENDAS


PARA BRINCAR
Texto e ilustrações:
Regina Rennó Texto: Josca Ailine Baroukh
e Lucila Silva de Almeida
Editora: Lê
Ilustrações: Camila Sampaio
Categoria: Livros de
narrativas por imagens Editora: Araguaia
Categoria: Textos em verso

COMO SURGIRAM O NOIVO DA RATINHA


OS VAGA-LUMES Texto e ilustrações:
Texto: Stela Barbieri Lúcia Hiratsuka
Ilustrações: Fernando Vilela Editora: Araguaia
Editora: Editora Scipione Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens

GABRIEL TEM NERINA: A OVELHA NEGRA


99 CENTÍMETROS
Texto e ilustrações:
Texto: Annette Huber Michele Iacocca
Ilustrações: Manuela Olten Editora: Editora Ática
Editora: Saber e Ler Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens

RAPUNZEL LÁ VEM O HOMEM


Texto: Jacob Grimm DO SACO
e Wilhelm Grimm Texto e ilustrações:
Adaptação e ilustrações: Regina Rennó
Thais Linhares Editora: EdiPUCRIO
Editora: Mundo Mirim Categoria: Livros de
Categoria: Livros de Imagens e Livros de
Imagens e Livros de Histórias em Quadrinhos
Histórias em Quadrinhos
90

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2

TOM E O DENTE AINDA DOÍA


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
André Neves Ana Terra
Editora: Projeto Editora Editora: DCL
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

RINOCERONTES NÃO
COMEM PANQUECAS
Texto: Anna Kemp
Ilustrações: Sara Ogilvie
Editora: Paz & Terra
Categoria: Textos em prosa

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1

O GARIMPEIRO DO O SACI EPAMINONDAS


RIO DAS GARÇAS Texto: Alan Oliveira
Texto: Monteiro Lobato Ilustrações: Daniel Araujo
Ilustrações: Guazelli Editora: Editora Gaivotaivota
Editora: Globo Kids Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

111 POEMAS TRÊS FÁBULAS DE ESOPO


PARA CRIANÇAS Texto: Paulo Garfunkel
Texto: Sergio Capparelli Ilustrações: Sanzio Marden
Ilustrações: Ana Gruszynski Editora: Carochinha
Editora: L&PM Editores Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso

O MENINO QUE SAPO IVAN E O BOLO


MORAVA NO LIVRO Texto e ilustrações:
Texto: Henrique Sitchin Henfil
Ilustrações: Alexandre Rampazo Editora: Ediouro
Editora: Guia dos Publicações Passatempos
Curiosos Comunicações e Multimídia
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
91

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1

O LAÇO COR DE ROSA CHÁ DE SUMIÇO E


Texto: Carlos Heitor Cony OUTROS POEMAS
ASSOMBRADOS
Ilustrações: Cláudio Duarte
Texto: André Ricardo Aguiar
Editora: Sociedade Literária
Ilustrações: Luyse Costa
Categoria: Textos em prosa
Editora: Gutenberg
Categoria: Textos em verso

A BRUXA E O VAI E VEM


ESPANTALHO Texto e ilustrações:
Texto e ilustrações: Laurent Cardon
Gabriel Pacheco Editora: Gaivota
Editora: Jujuba Categoria: Livros de
Categoria: Livros de Imagens e Livros de
narrativas por imagens Histórias em Quadrinhos

MESTRE GATO JOÃOZINHO E MARIA


E COMADRE ONÇA Adaptação: Cristina Agostinho
Texto e ilustrações: e Ronaldo Simões Coelho
Carolina Cunha Ilustrações:
Editora: Edições SM Walter Lara
Categoria: Textos em prosa Editora: Mazza Edições
Categoria: Textos em prosa

A MENOR ILHA CARVOEIRINHOS


DO MUNDO Texto e ilustrações:
Texto: Tatiana Filinto Roger Mello
Ilustrações: Editora: Cia. das Letrinhas
Graziella Mattar Categoria: Textos em prosa
Editora: Grão Editora
Categoria: Textos em prosa

A VELHINHA PEQUENO REI


E O PORCO E O PARQUE REAL
Texto e ilustrações: Texto: Jose Roberto Torero
Rosinha Ilustrações:
Editora: Editora do Brasil Vinicius Vogel
Categoria: Textos em prosa Editora: Fontanar
Categoria: Textos em prosa
92

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1

HISTÓRIAS DA CAROLINA OS OITO PARES DE


A MENINA SONHADORA QUE SAPATOS DE CINDERELA
QUER MUDAR O MUNDO Texto: Jose Roberto Torero
Texto e ilustrações: Ziraldo e Marcus Aurelius Pimenta
Editora: Globo Livros Ilustrações: Raul Fernandes
Categoria: Livros de Editora: Alfaguara
Imagens e Livros de Categoria: Textos em prosa
Histórias em Quadrinhos

LILI INVENTA O MUNDO A MENINA E O CÉU


Texto: Mario Quintana Texto: Leo Cunha
Ilustrações: Suppa Ilustrações: Cris Eich
Editora: Gaudí Editorial Editora: Champagnat
Categoria: Textos em verso Edutora PUCPR
Categoria: Textos em verso

QUERO MEU PEDRO NOITE


CHAPéU DE VOLTA Texto: Caio Riter
Texto e ilustrações: Ilustrações: Mateus Rios
Jon Klassen
Editora: Editora Biruta
Editora: Martins Fontes
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

O ANIVERSÁRIO QUANDO O LOBO


DO DINOSSAURO TEM FOME
Texto: Índigo Texto:
Ilustrações: Elma Christine Naumann-Villemin
Editora: Dedo de Prosa Ilustrações: Kris Di Giacomo
Categoria: Textos em prosa Editora: Berlendis &
Verteccchia Editores
Categoria: Textos em prosa
A MULHER QUE
VIROU URUTAU
Texto: Olívio Jekupe
e Maria Kerexu
Ilustrações: Taisa Borges
Editora: Guia dos
Curiosos Comunicações
Categoria: Textos em prosa
93

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2

OTOLINA E A CHAPEUZINHO AMARELO


GATA AMARELA Texto: Chico Buarque
Texto e ilustrações: Ilustrações: Ziraldo
Chris Riddell
Editora: José Olympio Editora
Editora: Galera Record
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

OU ISTO OU AQUILO O GATO MASSAMÊ E


Texto: Cecília Meireles AQUILO QUE ELE VÊ
Ilustrações: Odilon Moraes Texto: Ana Maria Machado
Editora: Global Editora Ilustrações: Jean-Claude
Ramos Alphen
Categoria: Textos em verso
Editora: Editora Ática
Categoria: Textos em prosa

A ÁRVORE QUE PENSAVA MULA SEM CABEçA E


Texto: Oswaldo França Junior OUTRAS HISTóRIAS
Ilustrações: Ângela Lago Texto: Sylvia Orthof
Editora: Edigraf Ltda. Ilustrações: Ana Terra
Categoria: Textos em prosa Editora: Florescer
Categoria: Textos em verso

E A MOSCA O SEGREDO DE
FOI PRO ESPAÇO RIGOBERTA
Texto e ilustrações: Texto: Raquel Marta Barthe
Renato Moriconi Ilustrações: Leticia Asprón
Editora: Escala Educacional Editora: Biruta
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

PSSSSSSSSSSSSSIU! COM A NOITE


Texto: Silvana Tavano VEIO O SONO
Ilustrações: Daniel Kondo Texto: Lia Minápoty
Editora: Callis Ilustrações: Maurício Negro
Categoria: Textos em prosa Editora: IMP
Categoria: Textos em prosa
94

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2

A FOME DO LOBO A OVELHA NEGRA


Texto: Cláudia Maria DA RITA
de Vasconcellos Texto e ilustrações:
Ilustrações: Odilon Moraes Silvana de Menezes
Editora: Iluminuras Editora: MMM Edições
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
narrativas por imagens

CULTURA RINDO ESCONDIDO


Texto: Arnaldo Antunes Texto e ilustrações:
Ilustrações: Thiago Lopes João Proteti
Editora: Iluminuras Editora: Papirus
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

O VELHO, O MENINO ARCO-ÍRIS TEM MAPA?


E O BURRO Texto: Vivina de Assis Viana
Texto: Monica Stahel Ilustrações: Marilda Castanha
Ilustrações: Laura Michell Editora: Editora Scipione
Editora: WMF Martins Fontes Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

COELHO MAU 20.000 LÉGUAS


Texto: Jeanne Willis SUBMARINAS
EM QUADRINHOS
Ilustrações: Tony Ross
Texto: João Marcos
Editora: Anglo
Ilustrações: Will
Categoria: Textos em prosa
Editora: Nemo
Categoria: Livros de Imagens e
Livros de Histórias em Quadrinhos

VOU ALI E VOLTO JÁ JARDIM DE VERSOS


Texto: Angela Carneiro, Texto: Robert Louis Stevenson
Lia Neiva e Sylvia Orthof Ilustrações: Marilia Pirillo
Ilustrações: Elisabeth Teixeira, Editora: FTD
Mariana Massarani e Roger Mello
Categoria: Textos em verso
Editora: Vida Melhor
Categoria: Textos em prosa
95

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2

CONTOS DE PRINCESAs TRUDI E KIKI


Texto: Wendy Jones Texto e ilustrações:
Ilustrações: Su Blackwell Eva Furnari
Editora: WMF Martins Fontes Editora: Moderna
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

UM FIO DE AMIZADE IRMÃ-ESTRELA


Texto e ilustrações: Texto: Alain Mabanckou
Marilia Pirillo Ilustrações: Judith Gueyfier
Editora: Lafonte Junior Editora: Champagnat
Categoria: Livros de Editora PUCPR
narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa

CHARLES NA ESCOLA DE DRAGÕES


Texto: Alex Cousseau
Ilustrações: Philippe-Henri Turin
Editora: Associação
Paranaense de Cultura
Categoria: Textos em prosa

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3

OS PÁSSAROS ALFABETO ESCALAFOBÉTICO


Texto e ilustraçlões: Albertine Texto: Claudio Fragata
Zullo e Germano Zullo Ilustrações: Raquel Matsushita
Editora: Editora 34 Editora: Jujuba
Categoria: Livros de Imagens e Categoria: Textos em verso
Livros de Histórias em Quadrinhos

LIMERIQUES DO BÍPEDE BICHOS DO LIXO


APAIXONADO Texto e ilustrações:
Texto: Tatiana Belinky Ferreira Gullar
Ilustrações: Andrés Sandoval Editora: Casa da Palavra
Editora: Editora 34 Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso

MEU REINO CENA DE RUA


Texto e ilustrações: Kitty Crowther Texto e ilustrações:
Editora: CosacNaify Laurent Cardon
Categoria: Textos em prosa Editora: Gaivota
Categoria: Livros de Imagens e
Livros de Histórias em Quadrinhos
96

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3

CERTOS DIAS ERA UMA VEZ


Texto e ilustrações: Texto: María Teresa Andruetto
María Wernicke Ilustrações: Claudia Legnazzi
Editora: Casa Amarelinha Editora: Gutenberg
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

UM MENINO E UM URSO CADÊ O SUPER-HERÓI?


EM UM BARCO Texto: Walcyr Carrasco
Texto e ilustrações: Ilustrações: Jefferson Ferreira
Dave Shelton
Editora: Altea
Editora: Bertrand Brasil
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

CARTA ERRANTE, UMA ESTÁTUA DIFERENTE


AVÓ ATRAPALHADA, Texto: Charlotte Bellière
MENINA ANIVERSARIANTE
Ilustrações: Ian De Haes
Texto: Mirna Pinsky Editora: Saber e Ler
Ilustrações: Ionit Zilberman Categoria: Textos em prosa
Editora: FTD
Categoria: Textos em prosa

TRINCA-TROVA TRUQUES COLORIDOS


Texto: Ciça Texto: Branca Maria de Paula
Ilustrações: Ilustrações: Marcelo Xavier
Fabíola P. Capelasso Editora: Compor
Editora: Globo Kids Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

O LIVRO DOS OS DOZE TRABALHOS


PÁSSAROS MÁGICOS DE HÉRCULES
Texto: Heloisa Prieto Adaptação: Denise Ortega
Ilustrações: Laurabeatriz Ilustrações: Luiz Podavin
Editora: FTD Editora: Globo Kids
Categoria: Textos em verso Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
97

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3

ESTóRIAS DE JABUTI KARU TARU -


Texto: Marion Villas Boas O PEQUENO PAJÉ
Ilustrações: Marcelo Pimentel Texto: Daniel Munduruku
Editora: Florescer Ilustrações: Marilda Castanha
Categoria: Textos em prosa Editora: Edelbra
Categoria: Textos em prosa

HISTÓRIAS DE CANTIGAS CARMELA VAI À ESCOLA


Organização: Celso Sisto Texto: Adélia Prado
Ilustrações: Claudia Cascarelli Ilustrações: Elisabeth Teixeira
Editora: Cortez Editora Editora: Cameron
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

OS INVISÍVEIS COBRAS E LAGARTOS


Texto: Tino Freitas Texto: Wania Amarante
Ilustrações: Renato Moriconi Ilustrações: Gaiola Estúdio
Editora: Casa da Palavra Editora: Quinteto Editorial
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

NO OCO DA AVELÃ UMA, DUAS,


Texto: Muriel Mingau TRÊS PRINCESAS
Ilustrações: Carmen Segovia Texto: Ana Maria Machado
Editora: Rodopio Ilustrações: Luani Guarnieri
Categoria: Textos em prosa Editora: Anglo
Categoria: Textos em prosa

FUMAÇA
Texto: Antón Fortes
Ilustrações: Joanna Concejo
Editora: Editora Positivo
Categoria: Textos em prosa
98

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4

A PRINCESA DESEJOSA TRÊS CONTOS DE MUITO OURO


Texto e ilustrações: Texto: Fernanda Lopes de Almeida
Cristina Biazetto Ilustrações: Cristina Biazetto
Editora: Projeto Editora Editora: Projeto Editora
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

EMIL E OS TRÊS GÊMEOS ERA UMA VEZ UM CÃO


Texto e ilustrações: Texto: Adélia Carvalho
Erich Kastner Ilustrações: João Vaz de Carvalho
Editora: Pavio Editora: Editora Canguru
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

O TAPETE VOADOR YAGUARÃBoIA -


Texto e ilustrações: Caulos A MULHER-ONÇA
Editora: Lendo e Aprendendo Texto: Yaguare Yamã
Categoria: Livros de Ilustrações: Mauricio Negro
narrativas por imagens Editora: Leya
Categoria: Textos em prosa

RECEITAS DA VÓ NANA PESTANA


PARA SALVAR A VIDA Texto: Sylvia Orthof
Texto: Neide Barros e Ilustrações: Rosinha
Juju Martiniano
Editora: Ediouro Publicações
Ilustrações: Escrita_Fina Passatempos e Multimídia
Editora: Globo Kids Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

ANTOLOGIA ILUSTRADA CHAPEUZINHO REDONDO


DA POESIA BRASILEIRA: Texto: Geoffroy de Pennart
PARA CRIANÇAS DE
Ilustrações: Gilda de Aquino
QUALQUER IDADE
Editora: Escarlate
Organização e iustrações:
Adriana Calcanhotto Categoria: Textos em prosa

Editora: Casa da Palavra


Categoria: Textos em verso
99

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4

A PONTE A BRUXINHA E O DRAGÃO


Texto: Heinz Janisch Texto e ilustrações:
Ilustrações: Helga Bansch Jean-Claude R. Alphen
Editora: Escarlate Editora: Pearson
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

OS SINOS VISITA À BALEIA


Texto: Manuel Bandeira Texto: Paulo Venturelli
Ilustrações: Ilustrações:
Gonzalo Cárcamo Nelson Cruz
Editora: Gaudí Editorial Editora: Posigraf
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa

BAGUNÇA NO MAR HISTÓRIAS DA ONÇA


Texto: Bia Hetzel E DO MACACO
Ilustrações: Mariana Massarani Texto: Vera do Val
Editora: Manati Ilustrações: Geraldo Valério
Categoria: Textos em prosa Editora: WMF Martins Fontes
Categoria: Textos em prosa

Zoo JARDIM DE MENINO POETA


Texto e ilustrações: Texto: Maria Valéria Rezende
Jesús Gabán Ilustrações: Maurício Veneza
Editora: Projeto Editora Editora: Planeta Infantil
Categoria: Livros de Categoria: Textos em verso
narrativas por imagens

A VENDEDORA BOULE & BILL:


DE CHICLETES SEMENTE DE COCKER
Texto: Fabiano Moraes Texto: Laurent Verron
Ilustrações: Claudio Cambra Ilustrações: Roba
Editora: Universo da Literatura Editora: Nemo
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
100

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4

BRUNO E AMANDA: MEU AMOR


HISTÓRIAS MISTURADAS Texto e ilustrações:
Texto: Pedro Veludo Beatrice Alemagna
Ilustrações: Henrique Koblitz Editora: Digisa
Editora: Quatro Cantos Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens

PALAVRAS SÃO PÁSSAROS O URSO, A GANSA E O LEÃO


Texto: Angela Leite de Souza Texto: Ana Maria Machado
Ilustrações: Pipida Fontenelle Ilustrações: Roberto Weigand
Editora: Mundo Mirim Editora: Quinteto Editorial
Categoria: Livros com Categoria: Textos em prosa
narrativa de palavras-chave

Campeões
Texto: Fiona Rempt
Ilustrações: Noëlle Smit
Editora: Manati
Categoria: Textos em prosa

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

O QUE VI POR AÍ - A BICICLETA QUE


ANDANÇAS E DESCOBERTAS TINHA BIGODES
DE UM ESCRITOR PELO BRASIL Texto e ilustrações: Ondjaki
Texto: Manuel Filho Editora: Pallas
Ilustrações: Marcello Araujo Categoria: Textos em prosa
Editora: Edições Arvoredo
Categoria: Textos em prosa

ADOLESCÊNCIA & CIA MAIS COM MAIS DÁ MENOS


Organização: Texto: Bartolomeu
Jorge Fernando dos Santos Campos de Queiroz
Ilustrações: Cláudio Martins Ilustrações: Marcelo Drummond
Editora: Miguilim e Marconi Drummond
Categoria: Textos em prosa Editora: RHJ Editora
Categoria: Textos em prosa
101

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

AS SETE VIAGENS AISJA


FABULOSAS DO Texto:
MARINHEIRO SIMBAD Pieter van Oudheusden
EM CORDEL
Ilustrações:
Adaptação: Sergio Severo Stefanie de Graef
Ilustrações: Valeriano Editora: Comboio de Corda
Editora: Nova Alexandria Categoria: Textos em Prosa
Categoria: Textos em verso

O COMPADRE DE OGUM 1 REAL


Texto: Jorge Amado Texto e ilustrações:
Editora: Claro Enigma Federico Delicado Gallego
Categoria: Textos em Prosa Editora:
Edições Jogo de Amarelinha
Categoria: Livros de Imagens e
Livros de Histórias em Quadrinhos

PEQUENO DICIONÁRIO NOITES BRANCAS


DE PALAVRAS AO VENTO Texto: Fiódor Dostoiévski
Texto: Adriana Falcão Ilustrações: Livio Abramo
Ilustrações: Thaís Beltrame Editora: Editora 34
Editora: Richmond Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

ALEXANDRE E AS CORES DA ESCRAVIDÃO


OUTROS HERÓIS Texto: Ieda de Oliveira
Texto: Graciliano Ramos Ilustrações: Rogério Borges
Editora: Cameron Editora: Champagnat
Categoria: Textos em prosa Editora PUCPR
Categoria: Textos em prosa

O SEGREDO E OUTRAS CANTE LÁ QUE


HISTÓRIAS DE DESCOBERTA EU CANTO CÁ
Texto: Lygia Fagundes Telles Texto: Patativa do Assaré
Ilustrações: Eloar Guazelli Editora: Editora Vozes
Editora: Cia. das Letras Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa
102

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

MARCÉU GALANTE
Texto: Marcos Bagno Texto e ilustrações:
Editora: Posigraf João Proteti
Categoria: Textos em prosa Editora: Cortez Editora
Categoria: Textos em verso

MERGULHO DE QUANTA TERRA


Texto e ilustrações: PRECISA O HOMEM?
Luciano Tasso Texto: Liev Tolstói
Editora: JPA Ilustrações: Cárcamo
Categoria: Livros de Editora: Cia. das Letrinhas
narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa

A DOLOROSA RAIZ O BEABA DO SERTÃO


DE MICONDÓ NA VOZ DE GONZAGÃO
Texto: Conceição Lima Texto: Arlene Holanda
Editora: Geração Editorial e Arievaldo Viana
Categoria: Textos em verso Ilustrações: Suzana Paz
Editora: Armazém da Cultura
Categoria: Textos em verso

ADEUS CONTO DE FADAS BEM-VINDO:


Texto: Leonardo Brasiliense HISTÓRIAS COM AS CIDADES
DE NOMES MAIS BONITOS E
Editora: 7 Letras
MISTERIOSOS DO BRASIL
Categoria: Textos em prosa
Organização: Fabrício Carpinejar
Editora: Bertrand Brasil
Categoria: Textos em prosa

o man e o brother CULTURA DA TERRA


Texto: Dilan Camargo Texto e ilustrações:
Editora: Inverso Editora Ricardo Azevedo
Categoria: Textos em prosa Editora: Moderna
Categoria: Textos em prosa
103

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

A MANTA- UMA HISTÓRIA EM


QUADRINHOS (DE TECIDO)
Texto: Isabel Minhós Martins
Ilustrações: Yara Kono
Editora: Tordesilhinhas
Categoria: Textos em prosa

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2

DOM CASMURRO A CULPA É DAS ESTRELAS


Adaptação: Felipe Greco Texto: John Green
Ilustrações: Mario Cau Editora: Intrínseca
Editora: Devir Livraria Categoria: Textos em prosa
Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

A DONZELA SEM ERA OUTRA VEZ –


MÃOS E OUTROS CONTOS
CONTOS POPULARES Texto: Livia Garcia-Roza
Adaptação: Helena Gomes Editora: All Books
Ilustrações: Kako Categoria: Textos em prosa
Editora: Escrita Fina
Categoria: Textos em prosa

ENTRETANTO, FOI ASSIM CONTOS DA MAIS-VALIA


QUE ACONTECEU - QUANDO E OUTRAS TAXAS
A NOTICIA É SÓ O COMEÇO Texto: Paulo Tedesco
DE UMA BOA HISTÓRIA
Editora: Dublinense
Texto: Christian Carvalho Cruz
Categoria: Textos em prosa
Editora: Arquipélago Editorial
Categoria: Textos em prosa

AUTO DA COMPADECIDA QUARTO DE COSTURA


Texto: Ariano Suassuna Texto: Wania Amarante
Ilustrações: Romero de Ilustrações: Guignard
Andrade Lima Editora: EdiPUCRS
Editora: Gol Editora Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa
104

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2

QUANDO MARIA APOLINÁRIO –


ENCONTROU JOÃO O HOMEM DICIONÁRIO
Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: Fabio Yabu
Rui de Oliveira Texto e ilustrações: Daniel Bueno
Editora: Singular Editora e Gráfica Editora: Guia dos
Categoria: Livros de Curiosos Comunicações
Imagens e Livros de Categoria: Textos em verso
Histórias em Quadrinhos

SINA O VOO DA ASA BRANCA


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: Soud
Roniwalter Jatobá Editora: Prumo
Editora: Piá Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

NO RESTAURANTE SUBMARINO – EU SOU MAIS EU


CONTOS FANTÁSTICOS Texto: Sylvia Orthof
Texto: Murilo Rubião, Ilustrações: Renato Alarcão
Lygia Fagundes Telles,
Editora: Florescer
Amilcar Bettega e Moacyr Scliar
Categoria: Textos em prosa
Editora: Boa Companhia
Categoria: Textos em prosa

MOBY DICK JONAS E A SEREIA


Adaptação: Carlos Heitor Cony Texto: Zélia Gattai
Editora: Singular Editora Ilustrações: Flavio Morais
e Gráfica Editora: Claro Enigma
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

ORQUESTRA BICHOFÔNICA CAIXINHA DE GUARDAR O


Texto: Antonio Barreto TEMPO
Ilustrações: Sebastião Nuvens Texto: Alessandra Roscoe
Editora: Aaatchim! Ilustrações: Alexandre Rampazo
Categoria: Textos em verso Editora: Gaivota
Categoria: Textos em prosa
105

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2

O NAVIO NEGREIRO NELSON MANDELA –


Texto: Castro Alves O PRISIONEIRO MAIS
FAMOSO DO MUNDO
Adaptação: Slim Rimografia
Texto: Seong Eun Gang
Ilustrações: Grupo Opni
Ilustrações: Gyeong Eun Gang
Editora: Guia dos
Curiosos Comunicações Editora: Pallas
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa

O LENÇO BRANCO CONTOS DA FLORESTA


Texto: Viorel Boldis Texto: Yaguarê Yamã
Ilustrações: Antonella Toffolo Ilustrações: Luana Geiger
Editora: Pequena Zahar Editora: Editora Peirópolis
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

ABC.... ATÉ Z! O DETECTOR DE SACIS


Texto: Bartolomeu Texto: Milton Morales Filho
Campos de Queirós Ilustrações: Polly Duarte
Ilustrações: Júlia Bianchi Editora: Paulus
Editora: Dibra Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

PENAS DE GARÇA
Texto: Auta de Souza
Ilustrações: Rosinha
Editora: Jujuba
Categoria: Textos em verso

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