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Pacto Nacional
pela Alfabetização
na Idade Certa
A HETEROGENEIDADE EM SALA DE
AULA E OS DIREITOS DE APRENDIZAGEM
NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO
Ano 02
Unidade 07
Brasília 2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional
ISBN 978-85-7783-110-4
CDU 37.014.22
______________________________________________________________________________
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
Sumário
Iniciando a conversa 05
Aprofundando o tema 06
A heterogeneidade no processo de alfabetização:
diferentes conhecimentos, diferentes atendimentos 06
Compartilhando 27
Direitos de aprendizagem: componente curricular Arte 27
Aprendendo mais 42
Sugestões de leitura 42
Revisor:
Adriana de Oliveira Gibbon.
Ilustrações:
Airton Santos.
Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Ráian Andrade e Túlio Couceiro.
Iniciando a conversa
A heterogeneidade no processo de
alfabetização: diferentes conhecimentos,
diferentes atendimentos
Alexsandro da Silva
Os alunos agrupados em uma mesma sala diversas. Apesar disso, como discutiremos
de aula, apesar de terem, geralmente, a mais adiante, compreendemos também
mesma idade ou idades próximas, não que sempre há a necessidade de propor
aprendem as mesmas coisas, da mesma atividades diversificadas em um mesmo
maneira e no mesmo momento. Como tempo, para grupos diferentes, exatamen-
cada aluno é um indivíduo diferente do te para atender à diversidade de conheci-
outro, um ser único, que vivencia experi- mentos dos alunos.
ências extraescolares distintas, é impos-
Em relação aos direitos de aprendizagem
sível existir uma sala de aula homogênea.
do Ciclo de Alfabetização, no componente
A heterogeneidade de conhecimentos dos
curricular Língua Portuguesa, espera-se
alunos de uma mesma turma ou de turmas
que, ao final do segundo ano, os alunos
diferentes é, portanto, natural e inevitável,
consigam ler pequenos textos (poemas,
não devendo ser vista de maneira negativa.
canções, tirinhas, textos de tradição oral
Na contramão da ideia de rotular os alunos etc.), com autonomia, além de produzir
e organizá-los em classes supostamente textos de diferentes gêneros, também
homogêneas, consideramos que a intera- com autonomia, atendendo a diferentes
ção entre crianças com diferentes níveis finalidades. Como não se espera que essas
de conhecimento em uma mesma ativida- habilidades já estejam plenamente de-
de pode ser promotora de aprendizagens senvolvidas ao término daquele ano, elas
deverão ser aprofundadas e/ou consoli- principalmente àqueles que ainda não
dadas no último ano do ciclo. No entanto, compreenderam que a escrita nota os
No “Caderno de
para que o aluno consiga, gradativamente, segmentos sonoros da fala, mas também aos Educação Especial
ler e produzir textos com autonomia, é ne- que já compreenderam essa propriedade do - a alfabetização
de crianças com
cessário que já tenha compreendido como sistema, mas ainda estão silábicos, isto é, deficiência: uma
proposta inclusiva”
funciona o Sistema de Escrita Alfabética ainda não entenderam plenamente a lógica são abordadas as
(SEA) e domine a maioria das correspon- de funcionamento da escrita alfabética. especificidades da
apropriação do SEA
dências som-grafia de nossa língua no por crianças com
Os conhecimentos e as habilidades apre-
segundo ano. deficiência.
sentados no quadro a seguir, extraídos
Ao término do primeiro ano do ciclo de dos direitos de aprendizagem do ano 1
alfabetização, esperamos que a maioria em relação à apropriação do Sistema de
dos alunos tenha construído uma hipótese Escrita Alfabética, devem ser não apenas
alfabética de escrita, compreendendo que introduzidos e aprofundados, mas também
as letras ou grupos de letras representam consolidados já no primeiro ano do ensi-
(notam) unidades sonoras mínimas (os no fundamental, uma vez que a maioria
fonemas). É preciso, portanto, no segundo deles é fundamental para a compreensão
ano, dar especial atenção aos aprendizes do funcionamento do Sistema de Escrita
cujas escritas ainda não são alfabéticas, Alfabética.
Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras. I/A/C
unidade 07 07
Se os alunos chegam ao segundo ano sem Não adianta apenas constatar os avanços e
terem se apropriado desses conhecimen- as dificuldades das crianças e registrar essas
tos e habilidades, torna-se necessário informações em um diário ou relatório. É
desenvolver um trabalho pedagógico que preciso ir além, usando tais informações para
vise à apropriação deles pelos aprendizes. a tomada de decisões em relação ao trabalho
É fundamental, portanto, que o professor pedagógico a ser desenvolvido em sala de
realize um levantamento dos conhecimen- aula e à necessidade, ou não, de realização de
tos e das habilidades já construídos pelas atividades extraclasse, junto a alguns apren-
crianças sobre o Sistema de Escrita Alfa- dizes, conforme discutiremos mais adiante.
bética, para, a partir dessas informações,
Esse diagnóstico pode ser realizado, confor-
estabelecer metas e planejar as práticas de
me Silva e Castanheira (2005), de diferentes
alfabetização que serão desenvolvidas em
formas, como, por exemplo, observando
sala de aula e fora dela. É sobre esse tema
como os alunos desenvolvem as atividades
que começaremos a discutir a seguir.
em sala de aula, analisando suas produções
escritas, observando como leem palavras,
frases ou textos curtos, realizando entrevista
O diagnóstico dos conhecimentos
ou conversa informal com os alunos e, ainda,
dos aprendizes sobre o Sistema de
a partir da realização de testes diagnósticos. É
Escrita Alfabética: monitoramento
fundamental, no entanto, combinar dispo-
das aprendizagens e planejamento
sitivos de diagnóstico menos estruturados,
das práticas de alfabetização:
como a observação, com dispositivos mais
Acompanhar as aprendizagens dos alunos estruturados, como os testes, que permitem
em relação ao Sistema de Escrita Alfabética observar, mais cuidadosamente, os avanços e
implica a realização de diagnósticos periódi- as dificuldades das crianças em seu processo
cos (não só no início, mas também ao longo de apropriação da escrita alfabética.
do ano letivo) dos seus conhecimentos em
A professora Edijane Ferreira de Andrade,
relação à apropriação daquele sistema e à
docente do segundo ano da Escola Municipal
consolidação do conhecimento das corres-
Diná de Oliveira (Recife – PE), elaborou um
pondências som-grafia de nossa língua. Tal
relato sobre o diagnóstico inicial que realizou
diagnóstico não se presta apenas para cons-
em sua turma, com o objetivo de sondar os
tatar os conhecimentos e as habilidades dos
conhecimentos que seus alunos já possuíam
alunos (seus avanços e suas dificuldades),
em relação ao SEA e planejar as práticas de
mas também, e sobretudo, para fornecer
alfabetização que seriam desenvolvidas junto
informações que subsidiem as práticas de
a eles naquele ano. Eis o relato:
alfabetização desenvolvidas em sala de aula.
08 unidade 07
A turma do 2º ano era formada por vinte e quatro (24) crianças, sendo
doze meninos e doze meninas. São crianças que, em sua maioria, estão na
faixa etária de sete e oito anos (há apenas duas com nove anos). Assumi
a turma em maio e só agora (início de junho) pude, de fato, realizar a diag-
nose com as crianças, para conhecer melhor o grupo e suas necessidades
e, assim, planejar atividades que possam, de fato, atingir todos os níveis
de aprendizagem, facilitando que todos avancem. Apesar de conhecer de
perto as dificuldades de realizar atividades diferenciadas e poder intervir
sistematicamente, de forma a ajudar as crianças a refletirem sobre o Sis-
tema de Escrita Alfabética, é possível pensar em momentos diferenciados
no coletivo, em grupo e com duplas, propondo às crianças que pensem
sobre a escrita de um texto, de palavras, sobre rimas, considerando o que
cada uma já sabe e o que precisa aprender. Iniciamos a diagnose apresen-
tando para a turma a proposta de escrever nomes de brinquedos, com o
apoio de desenhos. Fizemos juntos a leitura das imagens para verificar se
todos conheciam os sete brinquedos: bola e tambor (dissílabos), boneca
e peteca (trissílabos), escorrego e amarelinha (polissílabos) e pá (monos-
sílabo). Algumas crianças concluíram a atividade sem problemas, de certa
forma até rapidamente, e outras demoraram muito para terminar. O resul-
tado foi muito interessante. Das vinte e uma (21) crianças que fizeram a
atividade de diagnose, nove (9) estavam no nível alfabético; quatro (4) no
nível silábico-alfabético; duas (2) no silábico de quantidade; uma (1) no
silábico de qualidade e cinco (5) eram pré-silábicos.
unidade 07 09
de escrita (9 alunos), enquanto algumas outras crianças (4 alunos) escreviam usando
uma hipótese silábico-alfabética. Havia, na classe, também alguns alunos (3 alunos)
que, apesar de já compreenderem a escrita como um sistema de notação dos segmentos
sonoros das palavras, ainda não entendiam que as letras registram unidades sonoras
menores (os fonemas). Na turma, também havia 5 alunos que ainda não compreendiam
o que a escrita representa (nota). Eis alguns exemplos que evidenciam a diversidade de
conhecimentos dos alunos dessa turma, em relação ao SEA, em uma outra atividade, cujo
campo semântico era animais:
10 unidade 07
A heterogeneidade de conhecimen- tre letivo, observou, em sala de aula, uma
tos dos aprendizes e a organização escassa presença de atividades diversi-
das atividades de alfabetização em ficadas, ajustadas aos diferentes níveis
sala de aula: de conhecimento dos alunos, ou de uma
mesma atividade com ajuste às diferentes
Atender à diversidade de conhecimentos dos
necessidades de aprendizagem dos edu-
aprendizes em sala de aula pressupõe ajustar o
candos. Esse dado parece revelar, portan-
ensino às diferentes necessidades de aprendi-
to, a complexidade envolvida na realização
zagem da turma. Essa complexa tarefa docente
simultânea de atividades diferenciadas em
envolve a proposição não apenas de atividades
classe, o que também pode ser atestado no
únicas e padronizadas, que são realizadas
depoimento da professora Edijane:
simultaneamente por todos os alunos, mas,
também, de atividades diferenciadas ou que “Eu planejo as atividades pensan-
podem ser respondidas de modos distintos por do, na maioria das vezes, no grupo
alunos com diferentes níveis de conhecimen- maior. [...] Então eu penso, a par-
to. Segundo Silva (2008, p. 53): tir desse grupo, e depois eu fico
“Para o agrupamento dos alunos, pensando que atividades, a partir
é preciso considerar as diferen- dessa, eu posso adequar para os
ças das aquisições de conheci- outros níveis, fazer as variações.
mentos e experiências dos alu- Eu confesso que nem sempre eu
nos com a língua escrita. Essas consigo, porque a dinâmica do dia
diferenças, comuns em todas as a dia da sala de aula, do tempo que
salas de aula, indicarão para o a gente tem disponível para pla-
professor quais atividades podem nejar e para pensar na atividade é
ser realizadas por todos os alunos muito pouco.”
ao mesmo tempo, pois envolvem
habilidades que todos dominam,
Apesar de reconhecer as dificuldades envol-
e quais precisam ser realizadas
vidas na realização de um ensino ajustado às
por meio de orientações específi-
necessidades de aprendizagem dos alunos,
cas para grupos diferenciados.”
a professora Edijane explicita que propõe
algumas variações nas atividades propostas à
turma, de modo a que elas possam ser respon-
Oliveira (2010), ao acompanhar nove
didas de maneiras diferenciadas por alunos
turmas do ciclo de alfabetização (três de
com diferentes níveis de conhecimento.
cada um dos três anos) durante um semes-
unidade 07 11
Desse modo, o tempo pedagógico pode ser ou propor atividades diferentes para grupos
organizado, em sala de aula, contemplando a ou duplas diferentes. Em relação a essa
realização de atividades coletivas e, sempre modalidade de organização das atividades, a
que viável, de atividades diferenciadas, ajusta- professora Edijane relatou uma experiência:
das aos diferentes níveis de conhecimento dos
aprendizes. Leal (2005) explicita que uma
“Então, eu tento, dentro do
das habilidades mais relevantes e difíceis que
possível, pensar em interven-
precisa ser desenvolvida pelos docentes é a ções diferenciadas para es-
de identificar as necessidades de cada aluno e ses grupos (...). Às vezes, por
atuar com todos, simultaneamente, atenden- exemplo, um texto que eu vou
do às diferentes demandas de aprendizagem. trabalhar com todo mundo, no
coletivo (...) os alunos que es-
Em relação às atividades coletivas, que são tão alfabéticos, que vão conse-
aquelas nas quais o professor propõe uma guir com uma leitura, com uma
mesma atividade para todos os alunos e a explicação fazer a atividade do
realiza, ao mesmo tempo, com toda a tur- livro, eles vão fazer a ativida-
ma, podemos citar como exemplo a escrita de do livro. Os outros que não
coletiva de palavras na lousa, situação na qual [estão alfabéticos], aí eu penso,
os aprendizes mais principiantes poderão ser
a partir da leitura, em destacar
estimulados a refletir sobre quantas e quais
alguma palavra: um grupo vai
letras irão usar para escrever e em que ordem
destacar uma palavra, vai pen-
essas letras devem ser colocadas, ao passo
sar sobre a palavra, vai compa-
que os mais avançados estarão refletindo
rar palavras que tem no texto,
sobre a ortografia das palavras. Tal ativida-
de poderá, portanto, propiciar diferentes
palavras que começam iguais,
reflexões para alunos com diferentes níveis palavras que terminam iguais;
de conhecimento sobre o SEA. um outro grupo vai fazer uma
cruzadinha com algumas pala-
Quanto às atividades diferenciadas, isto é, vras. Um grupo faz as atividades
aquelas nas quais o docente propõe a reali- com o texto, do livro, e os outros
zação de atividades distintas pelos alunos dois grupos fazem atividades
em um mesmo momento, a turma pode ser diferenciadas.”
organizada em pequenos grupos ou em du-
plas. Nesse caso, pode-se propor variações
em uma mesma atividade, tornando-a mais Quando a opção for pela realização de ativida-
ou menos desafiadora, de modo a atender à des em pequenos grupos ou em duplas, para
diversidade de conhecimentos dos alunos, organizar os agrupamentos, é preciso con-
12 unidade 07
siderar não apenas os objetivos da atividade criar condições para que os aprendizes
proposta, mas, também, os conhecimentos desenvolvam, de forma efetiva, esse complexo
de que os alunos dispõem naquele momento. procedimento, que é o trabalho cooperativo.
É preciso, portanto, planejar os agrupamen- Como observa Penin: “mais importante do que
tos, de modo a evitar a resolução da atividade a estratégia de distribuição dos alunos para
por um único aluno, o que é muito comum o trabalho é a modalidade e/ou qualidade da
quando se colocam crianças com níveis de interação adotada, proporcionadora ou não de
conhecimento muito distintos, para realiza- desenvolvimento” (1997, p. 162).
rem uma mesma atividade juntos.
A interação cooperativa entre alunos é, de O atendimento a alunos com
fato, muito produtiva para a aprendizagem, defasagem de aprendizagem na
porque pode ser, segundo Onrubia (1996), alfabetização em tempos e espaços
sob certas condições, uma fonte potencial de diferentes dos da sala de aula:
criação e avanço de zonas de desenvolvimen- Conforme dissemos anteriormente, espera-
to proximal. Segundo esse autor, algumas se que, ao término do primeiro ano, a
características da interação entre alunos que maioria dos alunos tenha compreendido
parecem ser especialmente relevantes são: o o funcionamento do SEA, isto é, tenha
contraste de pontos de vista moderadamente atingido uma hipótese alfabética. O que
divergentes em relação a uma atividade ou fazer, então, com os alunos que chegaram
conteúdo; a explicitação do próprio ponto de ao segundo ano, sem terem atingido essa
vista para os outros; a coordenação de papéis, hipótese? A resposta a essa pergunta não é
a regulação mútua do trabalho e o ofereci- simples, porque envolve não apenas a ação
mento e a recepção de ajuda. do professor, em sala de aula, que poderá
ajustar o ensino às distintas necessidades
ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL: de aprendizagem dos alunos, mas, também,
conceito desenvolvido pelo psicólogo bielo- a colaboração de outras instâncias, como a
russo Lev S. Vygotsky (1896-1934) que se refere
à distância entre o nível de desenvolvimento
gestão da escola e a secretaria de educação,
real (representado pelo que a criança consegue que poderão organizar ações extraclasse
fazer de forma independente) e o nível de para atender aqueles alunos.
desenvolvimento potencial (relativo ao que
a criança consegue fazer com a ajuda de um Dizemos isso porque é preciso que essa
adulto ou de outro parceiro mais experiente).
responsabilidade seja compartilhada com
outros agentes do processo educativo, pois o
Resumindo, não basta colocar os alunos professor, em sala de aula, tem o desafio de
sentados juntos para que a interação contribua “dar conta”, sozinho, daqueles alunos que
para a aprendizagem. É preciso, portanto, estão em defasagem de aprendizagem e dos
unidade 07 13
que já atingiram uma hipótese alfabética e no quarto, já estive no quinto,
precisam, portanto, consolidar o seu processo e quando chega no quinto ano
de alfabetização. O depoimento da professora e a criança ainda não sabe ler e
Edijane é esclarecedor nesse sentido: escrever, é como se ela estivesse
“[...] eu acho que, quando a desistindo, porque ela diz: ah, eu
criança começa a sentir essa já passei por tantas turmas e até
dificuldade e ela vai passando agora não aprendi, como é que
de uma turma pra outra turma, eu vou aprender agora? Então,
a dificuldade vai se ampliando, às vezes, pra fazer ela acreditar
ela vai aumentando. Em vez de nela mesma, de novo, é muito
a gente estar incluindo, a gente mais difícil.”
está excluindo, porque a criança
fica na turma, mas ela não fica Considerando, portanto, as limitações
bem. Ela sabe que não sabe, ela envolvidas no atendimento a alunos com
sabe que tem uma dificuldade defasagem de aprendizagem em sala de aula,
muito maior do que as outras. sugerimos que outros agentes e instâncias
Eu acho isso muito mais pre- também se envolvam nesse processo. Por
judicial pra ela, porque o ideal isso, consideramos fundamental que outros
era que, de fato, ela tivesse uma educadores (coordenadores pedagógicos,
oportunidade de aprendizado professores auxiliares etc.), sobretudo com
num outro momento, no contra- experiência em alfabetização, assumam
-turno, ou em alguma outra a tarefa de atender, em momentos e em
situação, num tempo maior, pra tempos específicos, aos alunos que estão com
que pudesse, de fato, aprender defasagem de aprendizagem em seu processo
e que o ensino fosse centrado de alfabetização.
naquilo, naquela dificuldade É preciso, no entanto, termos cuidado para
específica. A gente não consegue não rotular esses alunos e estigmatizar o
dar conta na sala de aula, por- atendimento que recebem. Esse atendimento
que a gente está com uma turma precisa ser compreendido, em uma
muito grande, vários níveis, e aí perspectiva inclusiva, como um momento
a gente não consegue dar conta ampliado de aprendizagem, em espaços e
dessa dimensão. [...] eu estou em tempos distintos dos da sala de aula, com
falando assim, porque eu estou o objetivo de promoção das aprendizagens
no segundo ano, mas eu já estive ainda não realizadas, para que as crianças
continuem sua trajetória escolar com sucesso.
14 unidade 07
Para isso, a gestão da escola precisa envolver-
as habilidades necessários para prosseguir
se com essa questão, não a deixando apenas para o ciclo seguinte. É urgente, portanto,
nas mãos do professor. Essa tarefa também que tal acompanhamento possa ocorrer
pode e deve ser assumida mais amplamente desde o segundo ano de escolaridade e
pelas secretarias de educação, que podem continuar sendo desenvolvido ao longo do
propor programas que visem a atender aos terceiro ano, para que não aconteça o que
alunos que precisem de um acompanhamento foi relatado pela professora Edijane, no
extraclasse, em tempos e espaços ampliados depoimento anteriormente apresentado.
de aprendizagem, para continuar trilhando, Não se trata, portanto, de esperar os alunos
sem dificuldade, o seu percurso escolar. “fracassarem”, para só, a partir de então,
tomar medidas remediadoras. É preciso,
É preciso, no entanto, ter clareza de que
antes de mais nada, acompanhar esses
esse atendimento não deve ser realizado
alunos para evitar o chamado “fracasso
apenas quando o aluno for retido no terceiro
escolar”, que se torna explícito com o
ano do ciclo de alfabetização, por não ter
fenômeno da reprovação e da repetência.
conseguido construir os conhecimentos e
Referências
OLIVEIRA, Solange Alves de. Progressão das atividades de língua portuguesa e o tratamento dado
à heterogeneidade das aprendizagens: um estudo da prática docente no contexto de ciclos. Tese
(Doutorado em Educação). Programa de Pós-graduação em Educação. UFPE, Recife, 2010.
ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL,
Cesar et. al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996.
PENIN, Sônia. A aula: espaço de conhecimento, lugar de cultura. Campinas-SP: Papirus, 1997.
SILVA, Ceris S. R. O planejamento das práticas escolares de alfabetização e letramento.
In: CASTANHEIRA, Maria Lúcia; MACIEL, Francisca I. P.; MARTINS, Raquel. M. F. (orgs.).
Alfabetização e letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
SILVA, Ceris R.; CASTANHEIRA, Maria Lúcia L. Instrumento de avaliação diagnóstica e
planejamento. Alfabetização e letramento na infância. Boletim 09 (Salto para o Futuro).
Brasília: Ministério da Educação, 2005.
LEAL, Telma F. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In: MORAIS, Artur
G.; ALBUQUERQUE, Eliana B. C.; LEAL, Telma F. (orgs.) Alfabetização: apropriação do
Sistema de Escrita Alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
unidade 07 15
O tratamento da heterogeneidade de
conhecimentos dos aprendizes no
segundo ano do ciclo de alfabetização
Ana Gabriela de Souza Seal
16 unidade 07
Já sobre a produção de texto, há que se Esses conhecimentos precisam ser diag-
atentar ao conhecimento do gênero, suas nosticados, para permitir a reflexão sobre
formas de registro e condições de produção quais são os âmbitos de aprofundamento e
e circulação. Assim, em qualquer momento exploração necessários no trabalho com o
da aprendizagem, é necessário perceber se, segundo ano. O instrumento de diagnose
ao produzir seu texto, a criança considera precisa, aqui, também estar adequado à
as características sobre o gênero textual proposta. Não faz sentido identificar os
solicitado, se seleciona as palavras de acordo conhecimentos dos alunos sobre a produ-
com o gênero, se está adequada a ordem em ção do gênero “notícia oral”, solicitando,
que o texto aparece, se ela levou em conta por exemplo, que eles listem suas caracte-
os interlocutores e os espaços de circulação. rísticas. Seria preciso ouvir e praticar esse
Para o segundo ano, em particular, as apren- gênero textual, tecer constatações acerca
dizagens sobre a produção de textos envol- do conhecimento do gênero (finalidade,
vem, também, de forma relevante, aspectos sequência, conteúdo etc), da impostação
relativos às convenções da escrita, como, por da voz, da postura corporal etc.
exemplo, o espaçamento entre as palavras e
Após a realização dos diagnósticos, é possí-
a organização espacial do texto no papel, sem
vel prever estratégias didáticas mais ade-
exploração enfática, ainda, dos parágrafos.
quadas aos grupos de alunos que são revela-
Dessa forma, é necessário pensar em diag-
dos de acordo com suas aprendizagens em
nósticos que contemplem a identificação
cada um dos eixos de ensino da linguagem
dos conhecimentos dos alunos sobre esses
abordados. Assim, pode-se propor ativida-
aspectos citados e sobre o conhecimento do
des individuais, em duplas, em grupos ou
gênero que se queira trabalhar.
coletivas, em qualquer dos eixos que se de-
Acerca do eixo da oralidade, além de reco- seje explorar. Nesse texto, focaremos as pro-
nhecimento dos gêneros, suas configurações, postas centradas no acompanhamento de
finalidades e seus espaços de circulação, alunos com dificuldades de aprendizagem
precisamos verificar se a criança tem conhe- da notação alfabética. Assim, nortearemos
cimentos dos gêneros orais formais e públi- nossas reflexões sobre as possibilidades de
cos, bem como se são capazes de reconhecer e desenvolver um trabalho diversificado, em
respeitar variações linguísticas, relacionar fala turmas naturalmente heterogêneas, no que
e escrita, saber escutar com atenção, entre diz respeito à apropriação da escrita alfabé-
outros. Esses direitos de aprendizagem desse tica. Retomaremos a necessidade de variar a
eixo são previstos para serem desenvolvidos organização dos alunos em sala.
no primeiro ano e, portanto, precisam ser
consolidados ou retomados no segundo ano.
unidade 07 17
A relevância da organização dos um texto que será enviado a outros espaços,
alunos para a realização das ativi- a correção de tarefas no quadro ou mesmo a
dades em sala de aula: proposição de jogos (como o jogo da forca, ou
os diferentes tipos de bingo) são situações
Como visto no texto 1, deste caderno, as pro-
adequadas para a exploração no grande grupo.
postas de organização de atividades coletivas,
em grupos, em pares ou individualmente Batista (2009, p. 73), ao abordar tanto a
podem, de acordo com objetivos didáticos necessidade de desenvolver atividades no
previamente estabelecidos, vir a colaborar na coletivo quanto nos grupos, indica que:
apropriação do Sistema de Escrita Alfabética. “As atividades coletivas são esco-
Esses agrupamentos propiciam a criação de lhidas e realizadas por toda a sala
espaços de problematização e discussão per- de aula, pois visam a objetivos co-
tinentes e adequadas à aprendizagem visada, muns, propiciam a troca de pon-
sobretudo quando se reflete sobre a própria tos de vista e oferecem à criança
utilização da heterogeneidade em prol da am- a oportunidade de ter experiên-
pliação das trocas de conhecimentos entre os cia da vida democrática. (...) As
alunos. Em geral, os professores já fazem uso atividades coletivas, são, pois,
dessas quatro possibilidades de agrupamento
realizadas pelo professor, que se
dos alunos nas escolas. Resta, entretanto, a
encarrega de coordená-las.”
nós, refletirmos com mais ênfase, acerca das
diferentes possibilidades que essas formas
de organização podem apresentar, em favor Algumas obras complementares podem vir a
da diversificação das atividades em sala de ser exploradas por meio de leituras coletivas,
aula. Assim, retomaremos essas possibilida- seja por sua extensão, seja devido ao con-
des para identificar propostas adequadas ao teúdo que explora. Por exemplo, a obra “Ei,
segundo ano do Ciclo de Alfabetização. quem você pensa que é?!”, da Editora Forma-
to, com texto de Gerson Murilo e ilustrações
de Eva Furnari, apresenta um texto curto,
Sobre possibilidades de desenvol- que pode gerar aprofundamentos sobre
vimento de atividades no grande temáticas filosóficas ou noções de geografia,
grupo (coletivo): necessitando da orientação do docente para
uma compreensão mais ampla da obra. Já “A
A leitura de comandos de atividades, a produ-
princesa está chegando”, da Editora Callis,
ção de textos coletiva, a resolução de questões
com textos de Yu Yeong-So e Park So-Hyeon,
de compreensão textual, a problematização
apresenta um texto mais longo, necessitando
acerca da escrita de uma palavra (alfabeti-
da leitura por um leitor mais experiente para
camente ou ortograficamente), a revisão de
promover o acesso a seu conteúdo completo.
18 unidade 07
Ei, quem você pensa que é?!
Texto: Gerson Murilo
Imagem: Eva Furnari
unidade 07 19
panharem a leitura de textos diversos que escrever. Coletivamente pen-
serão realizados por docentes. Muitas sávamos como escrever o nome
vezes essas são leituras que os alunos daquele produto. A atividade
podem identificar suas partes quando de montar a palavra com le-
da leitura de um leitor mais experiente, tras móveis e colar foi bastante
como músicas, poesias, parlendas e de- interessante, porque a turma
mais textos curtos. Outras vezes as obras olhava a embalagem, identi-
sugerem a realização de uma leitura em ficava a palavra e montava seu
conjunto, de forma que todos os alunos nome na atividade. Nesse mo-
acompanhem a leitura ao mesmo tempo. mento, ocorre a identificação
Essas podem ser realizadas de forma de letras, sílabas, muitas vezes
silenciosa ou via oralização da leitura.
causando desafios para aqueles
O relato da professora Priscila Angelina que até então estavam no nível
Silva da Costa Santos, docente do segundo silábico de escrita. Na busca de
ano do primeiro ciclo de uma escola da consolidar o trabalho desen-
rede pública municipal de Recife, revela volvido, também foi proposto
variadas situações de ensino do SEA e da o bingo de rótulos, que pro-
leitura desenvolvidas coletivamente. porcionou, de maneira lúdica,
a identificação das palavras
apresentadas com letras dife-
“É possível levar os alunos rentes daquelas expostas nas
a pesquisar embalagens em embalagens.”
suas casas e, a partir daí, re-
fletir sobre o produto: O que
é? Onde diz que é isso? Assim,
a identificação da palavra, no
rótulo (ou na superfície do re-
cipiente) nos leva a pensar na
sua composição. Percebi que os
alunos logo identificavam uma
palavra dentro da outra, como
ocorreu com a palavra coca-co-
la: “tem cola, tia!”. Todos con-
seguiram reconhecer a marca e
foram capazes de identificar e
20 unidade 07
Podemos observar, no relato, que a profes- de agrupamento que cria uma situação de
sora Priscila explicitou a necessidade de ensino-aprendizagem produtiva: o modo
levar ao conhecimento de todos os alunos de agrupamento mais pertinente é aquele
os escritos presentes nas embalagens e no qual os conhecimentos apresentados
rótulos de produtos utilizados por eles pelos membros são diferentes, mas em
em seus lares. A professora realizou um níveis próximos. Ou seja, alunos com
trabalho de reconhecimento do gênero conhecimentos diferentes, mas não muito
e, por meio deste, desenvolveu situações distanciados. Luz e Leal (2001), em uma
de reflexão sobre a escrita das palavras, pesquisa sobre a produção de textos em
propondo, inclusive, um bingo. pares, identificaram que os resultados
mais interessantes surgiram das duplas
É possível pensar, também, na decomposi-
heterogêneas de níveis próximos.
ção daquela sequência de atividades reali-
zadas pela docente em situações de ensino Em geral, as docentes dos anos iniciais do
para serem desenvolvidas em pequenos ensino fundamental já levam em conside-
grupos ou duplas. É o que começaremos a ração essa questão. Sobretudo quando se
discutir a seguir. percebe que, ao agrupar algumas crian-
ças para propor a realização de tarefas,
algumas ficam paradas, enquanto outras
Sobre possibilidades de desenvol- tentam assumir a realização completa da
vimento de atividades em peque- proposta. No segundo ano, em particular,
nos grupos e em duplas: o conflito pode mesmo ser gerado entre
aquelas crianças que chegaram ao nível
Muitos estudos vêm apontando para as
alfabético, mesmo que com pouca autono-
vantagens de se propor o trabalho em
mia na leitura e na escrita, e aquelas que
situações de interação em duplas e em pe-
ainda não compreenderam muitos dos
quenos grupos (ACIOLY-REGNIER, 1996;
princípios do sistema de escrita. É o que
LEAL e LUZ, 2001; PERRET-CLEMONT
indica a professora Edijane, em resposta
et all., 1996), inclusive para o desenvol-
a uma entrevista sobre sua atuação como
vimento de propostas didáticas de pro-
docente no segundo ano:
dução de textos, revisão textual e mesmo
de alfabetização. Vygotsky já apresentava “[...] Vamos tentando agrupá-
as vantagens em estabelecer as zonas de -los, fazer as duplas para que
desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, um possa ajudar um pouco o
1991) nos processos de aprendizagem. outro nisso. Eu também estou
Uma importante constatação desses passando e ficando mais próxi-
estudos é a de que não é qualquer modo
unidade 07 21
mo dessas duplas, porque eu sei Além de estar preocupada com as formas
que as outras estão conseguindo de agrupamento dos alunos em sala e
fazer direitinho, não precisam com as suas diferentes possibilidades de
tanto da minha ajuda. Eu sei interação, a professora Edijane revela que
que todos precisam dessa ajuda, realiza um controle em relação ao contato
porque todos querem atenção. É entre as duplas, para que uma não interfira
aquela coisa, ficam disputando. de forma prejudicial na aprendizagem da
Mas, assim, de fato, quem está outra, indicando, por exemplo, a resposta
com mais dificuldade, eu fico correta sem que os demais tivessem tempo
mais próxima. Então eu coloco para pensar. Outra questão relevante é a
algumas duplas, essas duplas possibilidade de maior intervenção pela
docente junto àqueles alunos que apre-
com mais dificuldades, sempre
sentam mais dificuldade. A organização da
na frente, mais próximas de
turma em duplas ou em pequenos grupos
mim e, quando a gente está fa-
permite uma mobilidade maior para a
zendo essas atividades, eu estou
docente. Além de ordenar a sala por níveis
sempre chamando eles pra par-
de aprendizagem, o que, de antemão,
ticiparem, perguntando, dire- indica quais as necessidades e os tipos de
cionando as perguntas pra eles, intervenção pertinentes para aquele grupo
apesar dos outros quererem ir e aquele momento, facilita a tarefa de
respondendo. (Eu digo) “Não “circular” entre as carteiras, observando as
pode! É desafio! Vamos ver! produções discentes e tecendo considera-
Acalma um pouquinho!”. Tem ções sobre essas.
sido um exercício também para
as crianças que já estão alfabé- Obras complementares que possam ser
ticas não responderem tudo o exploradas de forma mais autônoma,
tempo todo, sempre as mesmas como “Brincadeiras”, de Kate Petty, que
sabe? Tem sido um aprendizado traz fotografias com legendas ou a obra
para eles também, ter um pou- “Isto não é”, de Alejandro Magallanes,
com imagens, uso de repetições e espaço
quinho de paciência, de esperar
de leitura de palavras, podem ser bons
um pouquinho o outro, respei-
instrumentos para serem utilizados em
tar esse tempo do outro, ajudar
duplas e pequenos grupos.
os colegas a pensarem, sabe? É
difícil, mas a gente tem tentado
ir por aí.”
22 unidade 07
Brincadeiras
Autor: Kate Petty
Ilustrador: Adamson et al.
Editora: Comboio de corda
“Eu brinco, você brinca, todos nós brincamos! Mas nossas brincadeiras não
são iguais! A obra ‘Brincadeiras’ nos revela diversas brincadeiras em alguns
locais do mundo. Por meio de fotografias, legendas e balões de fala com
comentários sobre tipos de brincadeiras e locais nos quais elas acontecem,
vamos descobrindo que brincar é uma atividade comum a todos os povos,
mas cada um inventando uma brincadeira melhor que a outra!”
Isto não é
Texto e imagem: Alejandro Magallanes
Editora: Comboio de Corda
unidade 07 23
livro de sua turma, pode lhe inspirar para fazer Sobre possibilidades de desenvol-
adaptações é o que insere quadros com sílabas vimento de atividades individual-
de várias palavras de forma embaralhada. Os mente:
comandos geralmente informam que dentro do
Algumas atividades, a serem realizadas
quadro há partes de palavras e sugerem que os
individualmente, são particularmente
alunos juntem-nas para descobrir palavras de
interessantes para aqueles alunos que já se
um mesmo campo semântico. Essas atividades
encontram em níveis maiores de compre-
são extremamente interessantes de se realizar
ensão da escrita alfabética. A escrita de
em duplas ou em pequenos grupos.
palavras, a organização de sílabas para for-
Mesmo que as orientações sobre as formas mar palavras, a leitura de pequenos textos
de montagem das duplas e grupos de alu- são exemplos de algumas dessas iniciati-
nos sejam escassas nas sugestões dos livros vas. Há, entretanto, diversas estratégias
didáticos, indicações como as do exemplo que possibilitam aos demais alunos, que
acima nos impulsionam a variar as formas ainda não atingiram a hipótese alfabética,
de agrupamento em sala de aula. Além a realização de tarefas individualmente.
de pensar nas “duplas produtivas” (com
A construção de cruzadinhas com ban-
alunos com níveis não muito díspares), é
co de palavras, atividades de associar o
possível pensar em espaços e adequações
nome ao objeto utilizando pistas gráficas,
para que alunos em níveis mais avançados
a ordenação de frases de textos que se
– como os citados pela professora Edijane –
sabe de cor, a construção de palavras com
possam realizar tarefas individualmente.
sílabas móveis em quantidade determina-
da, a formação de palavras com as letras,
utilizando o alfabeto móvel, dentre outras
propostas, colaboram com a produção
autônoma de alunos ainda em processo de
reconhecimento dos princípios do Siste-
ma de Escrita Alfabética ou que ainda não
dominam bem as convenções som-grafia.
O relevante, para se pensar nas atividades
a serem realizadas individualmente, é que
essas impulsionem a reflexões e iniciativas
autônomas dos alunos, frente a diferentes
conhecimentos que possam estar sendo
construídos.
24 unidade 07
Os diversos livros literários letra-som e o aprimoramento de estraté-
presentes na escola podem ser gias de compreensão do que está sendo
bons instrumentos de trabalho lido.
individual. Grande parte das obras
Algumas das coleções de livros
complementares e do acervo do PNBE (Pro-
didáticos de alfabetização
grama Nacional da Biblioteca Escolar) precisa
apresentam tanto gradações do
ser acessada de forma autônoma pelos alunos,
primeiro ao último volume –
mesmo que esses ainda não saibam ler. O fato
sugerindo atividades mais direcionadas pelas
de manusear os livros que possuem qualidade
docentes no primeiro volume e ampliando a
gráfica e textual já os impulsiona a construir
quantidade de comandos que indicam a rea-
interesses pelo objeto de leitura. Fora isso, é
lização individual de atividades no segundo
possível selecionar obras adequadas a cada
e terceiro ano – como ampliam as propostas
nível em que os alunos se encontrem. É im-
de resolução de atividades a serem resolvi-
prescindível levá-los a ter curiosidade e contato
das individualmente, dentro do volume do
individual com o texto escrito. Assim, possibili-
segundo ano. Além disso, há sugestões que
tar aos alunos em hipóteses iniciais de apren-
facilitam o trabalho de reflexão pelos alunos
dizagem da escrita situações de “adivinhar” os
aprendizes da escrita, por exemplo, delimi-
escritos – ver obras como “Isto não é”, já citada
tando a quantidade de letras, como é o caso
anteriormente – ou de realizar pseudoleituras
de algumas cruzadinhas que aparecem nos
contribuem para a construção do reconheci-
livros didáticos do segundo ano.
mento do uso social da escrita alfabética e pode
gerar aproximações do aluno com o registro do Em uma pesquisa realizada em cinco
texto verbal. Ao “imitar” o texto que já escutou coleções de livros didáticos de alfabeti-
sendo lido pela professora ou por um colega, zação, Ferreira, Albuquerque, Cabral e
o aluno está internalizando características Tavares (2009) apontam que esses mate-
daquele gênero escrito. riais didáticos, sobretudo após o advento
do Programa Nacional do Livro Didático
Para as crianças mais avançadas, no que
(PNLD), vêm ampliando suas propostas e
tange à aprendizagem da escrita alfabéti-
reorientando algumas formas de aborda-
ca, o acesso a essas obras pode ampliar o
gem dos conteúdos. As autoras analisaram
seu processo de tornar-se leitor, promo-
as versões recomendadas do PNLD/2004
vendo contato com gêneros, tratamentos
e PNLD/2007 de cinco obras escolhidas,
artísticos, estilos e vocabulários variados.
identificando que apenas uma coleção não
Além do deleite, o exercício individual
realizou mudanças significativas em seu
da leitura propicia o desenvolvimento de
corpo. Já as demais, investiam em situa-
automatismos no domínio das relações
unidade 07 25
ções de estudo da palavra, o que pode ter intervenções específicas, adequadas a cada
também impulsionado a adoção de uma aluno/grupo de alunos, especialmente aos
variedade relevante de atividades de alfa- que apresentem maiores dificuldades de
betização, que são diversificadas quanto às aprendizagem na alfabetização.
suas formas de proposição, nos servindo de
recursos que podem colaborar, de forma
interessante, com o planejamento para o Referências
ensino da escrita alfabética. ACIOLY-RÉGNIER, Nadja. “Diz-me com quem
Sobre as formas de agrupamento dos alunos, é resolves um problema de matemática e dir-te-
-ei quem tu és”. In: DIAS, Maria das. Graças.;
claro que, em muitas circunstâncias, as turmas & SPINILLO, Alina. G. Tópicos em Psicologia
podem não estar preparadas para os primei- Cognitiva. Recife: Editora Universitária, 1996.
ros momentos de vivência dessas formas de
BATISTA, Cleide Vitor Mussini. A educação
agrupamento, por não terem participado, em da criança de seis anos. In: BRANDÃO, Carlos
momentos anteriores, desse tipo de situação. da Fonseca; e PASCHOAL, Jaqueline Delgado.
Em outras circunstâncias, pode-se pensar na Ensino fundamental de nove anos: teoria e prática
realização de atividades que agreguem mais de na sala de aula. São Paulo: Avercamp, 2009.
uma dessas possibilidades, como é o que ocorre FERREIRA, Andréa T. B.; ALBUQUERQUE,
na sequência realizada pela professora Edijane Eliana B. C.; CABRAL, Ana C.; TAVARES, Ana C.
com sua turma (ver seção Compartilhando), na Livros de alfabetização: como as mudanças apa-
qual a docente explicita algumas das dificul- recem? In: COSTA VAL, Maria da Graça. (Org.)
dades encontradas e as formas de resolução a Alfabetização e Língua Portuguesa: livros
que chegou, para dar continuidade ao processo didáticos e práticas pedagógicas. Belo Horizonte:
Autêntica, 2009.
de ensino, sem prejuízos à aprendizagem dos
alunos. LEAL, Telma F.; LUZ, Patrícia S,.. Produção de
textos narrativos em pares: reflexões sobre o
Ademais, a organização da turma (indi- processo de interação. Educação e Pesqui-
vidualmente, em duplas/grupos ou no sa, vol. 27, nº n. 01, p. 27- 45, 2001, p. 27- 45.
coletivo) precisa garantir os espaços de MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar:
aprendizagem daquelas crianças que prazer e aprendizado. Petrópolis: Vozes, 2007.
necessitam de intervenções e tarefas mais PERRET-CLEMONT, Anne-Nelly & et all. La
específicas de aprendizagem da escrita construction de l’intelligence dans
alfabética. Essas formas de organização, l’intéraction sociale. Dern:Peter Lang,
ao mesmo tempo que “liberam” o pro- Editions scientifiques européennes, 1996.
fessor da demanda da turma como um VYGOTSKI, Lev S. A formação social da
todo, precisam garantir os momentos de mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
26 unidade 07
Compartilhando
Direitos de aprendizagem:
componente curricular Arte
28 unidade 07
Direitos gerais de aprendizagem: Arte Ano 1 Ano 2 Ano 3
Compreender a arte como um conhecimento produzido socialmen-
te, em diferentes contextos históricos e culturais da humanidade. I/A A C
unidade 07 29
Relato de atividade de Edijane:
livro didático na alfabetização
30 unidade 07
Fizemos um a um, identificando o objeto teríamos que descobrir quais eram elas. Es-
na cena e riscando as palavras. Na terceira crevi a palavra “piano” no quadro e pedi que
palavra, algumas crianças perceberam que algumas crianças tentassem lê-la, solicitan-
as palavras estavam na mesma sequência do ao mesmo tempo que quem já soubesse
das imagens. Eu estava escrevendo no qua- não respondesse, aos poucos foram lendo, e
dro (as palavras) e estimulando a turma a fui perguntando: “Qual o nome do desenho?
refletir sobre a quantidade de sílabas, como E o que está sobrando nessa palavra?” As
começava e terminava cada palavra, tentan- crianças falaram: “O N e o O, tia”. “E qual o
do levantar com o grupo as estratégias que som do N e O juntos? Qual a sílaba?”, “No”,
usavam para descobrir o que estava escrito. grande parte da turma respondeu.
As crianças estavam entusiasmadas em con- Então, prossegui: “Agora vamos ver a outra
seguir realizar a leitura das palavras, mesmo palavra, pebeneira, qual o nome do desenho?
sem saber ler. As crianças responderam: “Peneira”. Pergun-
tei: “Está escrito peneira aqui?” As crianças
Essa atividade funcionou mais no coletivo,
demoraram um pouco para responder. Pedi
não houve muitas interações entre as duplas
que tentassem ler e algumas responderam:
e quando eu fazia intervenções e perguntas
“Não, é parecido, mas não é peneira”. Qual a
para algumas crianças, especificamente, as
sílaba que está sobrando? Silêncio total.
outras, alfabéticas, respondiam. Pedi que se
segurassem um pouco, pensassem e espe- Pedi que pensassem na palavra peneira: “Va-
rassem que eu iria perguntar para todas. mos escrever juntos. Quantas sílabas tem essa
Foi difícil para as crianças não dizerem as palavra? Vamos pronunciá-la?” As crianças
respostas. Eu queria, com isso, que as outras contaram: “Pe-nei-ra, tem três tia”. E qual a
crianças, que participam pouco, pudessem primeira sílaba/pedaço? Responderam: “P/E”,
dizer o que pensavam sobre a atividade. repeti a pergunta, “qual o primeiro som?” “PE”.
Na sequência, iniciamos a segunda questão, “E a segunda sílaba da palavra peneira, como
solicitando às crianças que dissessem o é?” Mauro respondeu: ”É o N/E”. “Qual o som,
nome dos desenhos, que vinham ao lado de Mauro? Como faz?” “Ne, tia”. “E aí pessoal, o
“palavras” inventadas ou maiores que seus que vocês acham?” “Está faltando i, i né tia?”
nomes: pia(piano), peneira(pebeneira), Mauro falou. “Isso mesmo, e qual a sílaba que
escorredor(escorregador), ralador (rabala- falta?” Responderam em coro: “O ra”.
dor), garrafão(sugarrafão), pote (porote).
Coloquei as duas palavras juntas peneira/pebe-
Em seguida, pedi que observassem as pala- neira e pedi que comparassem, para descobrir
vras escritas acima dos desenhos e falei que o que tinha de diferente. Assim as crianças des-
nas palavras estavam sobrando sílabas e que cobriram que o BE não fazia parte da palavra, só
unidade 07 31
observando no LD, nem os alfabéticos tinham com os sons, sendo de fundamental importân-
percebido qual sílaba intrusa estava na palavra. cia pensar atividades de consciência fonoló-
gica com aliterações e rimas, comparação de
Continuamos a atividade com as outras
palavras, quantidade de sílabas. Brincadeiras,
palavras, utilizando algumas estratégias de
músicas, que facilitem a percepção dos sons
leitura, refletindo sobre a quantidade e posição
das palavras podem ajudar toda a turma, até
das sílabas, comparando-as, com o objetivo de
mesmo os alfabéticos.
identificar as sílabas que estavam sobrando
(nas palavras), chamando sempre a atenção Passamos a aula inteira nas duas atividades,
para a escrita e solicitando a participação ficou para o dia seguinte a última questão.
de todas as crianças. Quando estávamos na
Como já mencionado anteriormente, a terceira
palavra “rabalador”, solicitei que Esdras falasse
questão apresentava três palavras com o apoio
como começava ralador, e ele respondeu: “Com
de desenho, faltando letras para as crianças
A”, então escrevi e pedi que a turma lesse,
descobrirem e escreverem a palavra completa,
em seguida perguntei: “O a sozinho faz ra? O
na linha abaixo do desenho.
que precisa para fazer o som ra?” As crianças
responderam: “O R e o A”. Diante das palavras paela (panela), pato (pra-
to) e ceola (cebola), solicitei que as crianças as
Foi interessante para que as outras crianças
lessem, e perguntei qual era o primeiro dese-
que estão na mesma hipótese de Esdras, pudes-
nho e responderam: “Panela”. Perguntei: “Está
sem refletir sobre a necessidade da inclusão
escrito panela?” “Não, tia”. “Falta que letra?”
de outra letra/fonema para formar a sílaba,
Ruth respondeu: “O N”. Perguntei “Onde?”.
perceber que cada letra representa um som
Pedi que mostrasse e ela disse: “Depois do pa”.
e que a vogal sozinha, em algumas situações,
não consegue representar, necessitando da Fizemos as mesmas reflexões com pato para
consoante. formar prato e com ceola para formar cebola.
Essa atividade as crianças fizeram com maior
Na palavra “sugarrafão” as crianças descobri-
segurança, pois estavam mais familiarizadas
ram mais rapidamente porque a sílaba que es-
tanto com as palavras como com o tipo de
tava sobrando iniciava a palavra e elas fizeram
atividade.
logo observações como: “Garrafão não começa
com S/U, começa com GA”. Tentei fazer com que as crianças refletissem
sobre o Sistema de Escrita Alfabética na me-
Com a palavra “porote” também foi mais fácil
dida em que pensavam nos sons das palavras
porque perceberam que pote tem só duas
e que grupo de letras representava cada som,
sílabas e o RO não faz parte da palavra.
além de verem que as letras e sílabas têm
Nessa atividade, percebi que as crianças estão que ser organizadas em uma sequência, para
muito mais preocupadas com as letras do que formar as palavras.
32 unidade 07
Obras Complementares:
cada livro, uma viagem
Telma Ferraz Leal
Juliana Melo Lima
Como foi descrito na unidade 2, o MEC que pelo tamanho e simplicidade po-
tem distribuído materiais didáticos para dem servir para encorajar as crianças a
auxiliar no processo de alfabetização. Um tentarem ler sozinhas, livros com textos
Na unidade 2,
dos Programas que tem tal objetivo é o maiores e mais complexos, que precisam são listados
PNLD – Obras Complementares. Neste ser lidos pelos professores. Enfim, livros alguns
materiais
programa, são distribuídos acervos de 30 a serem usados com diferentes propósi- distribuídos
pelo MEC.
livros para as salas de aula dos anos ini- tos com crianças com diferentes níveis
ciais. Em 2010, foram distribuídos livros de conhecimento.
para as salas dos anos 1 e 2. Em 2013, a
Leal e Rodrigues (2011), ao analisarem os
distribuição foi ampliada para as salas
acervos distribuídos pelo PNLD – Obras
dos anos 1, 2 e 3.
Complementares, agruparam os livros em
Os livros são diversificados quanto aos sete tipos de obras, que serão expostas a
gêneros textuais, quanto aos temas, seguir. No acervo de 2013, além dos sete
quanto ao tamanho, complexidade de agrupamentos descritos pelas autoras, são
vocabulário, dentre outros. Nesse con- encontrados também os textos literários e
junto de livros, podem ser encontradas história em quadrinhos. Desse modo, são
obras que ajudam no processo de apren- contemplados nove tipos de obras comple-
dizagem do sistema de escrita, obras mentares:
unidade 07 33
1. Livros de divulgação do saber científico/obras didáticas
Tais livros tratam de temas relativos aos diferentes componentes curriculares e propiciam
condições para que, por meio de uma linguagem mais adequada ao público infantil, mas com
marcas dos textos de divulgação científica, as crianças se apropriem dos modos como tais
textos se organizam, suas finalidades, seus estilos. No documento Acervos Complementares:
as áreas do conhecimento nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental (BRASIL, 2009),
distribuído junto os acervos, é dito que:
O estranhamento em relação a essa espécie de texto que muitas crianças sentem, quando avançam
na escolaridade, decorre, frequentemente, da falta de familiaridade com sequências expositivas.
A comparação entre as informações trazidas na obra e essas mesmas informações em outros
suportes textuais (outros livros, internet, jornal, o próprio livro didático) é muito importante para
que as crianças aprendam a estabelecer relações entre textos, como reconhecer um conteúdo
comum a textos de tipos ou gêneros diferentes, a localizar informações, a parafrasear (dizer algo
de outro modo). (BRASIL, 2009, p. 17)
2. Biografias
Nos acervos do PNLD – Obras Complemen- enriquecem o trabalho dos professores,
tares há biografias sobre artistas, persona- tanto por conterem conteúdos ricos, que
gens históricos, dentre outros. As biografias ensinam sobre a vida em sociedade, quanto
são obras com alta vendagem e, frequen- pelos tipos de recursos linguísticos que são
temente, são adaptadas para o cinema ou usados, pois diferentes conhecimentos e
a TV, dado o potencial que têm para atrair habilidades podem ser desenvolvidos por
públicos diversos. Na escola, as biografias meio da leitura de biografias:
34 unidade 07
3. Livros instrucionais
Os livros instrucionais são aqueles desti- brincadeiras, livro de montagem de brin-
nados a ensinar a fazer alguma coisa ou a quedos, livro que ensina a fazer dobra-
se comportar em determinados tipos de duras, livro que ensina a desenhar, livro
situações. Nos acervos do PNLD – Obras que divulga textos jurídicos relativos aos
Complementares, são encontrados vários direitos sociais (Declaração dos Direitos
tipos de livros instrucionais: coletânea de das Crianças, Declaração dos Direitos dos
experimentos, livro de receitas, livro de Animais etc.). Tais livros:
Podem ser usados em situações reais, estimulando as crianças a voltar ao texto a cada etapa
da execução das atividades. Esses textos, via de regra, ajudam a criança a familiarizar-se com
a linguagem prática, com uso de verbos no imperativo ou infinitivo, organizados segundo uma
ordem cronológica de descrição de ações. (BRASIL, 2009, p. 15-16)
São livros interessantes, que instigam as crianças a estabelecerem relações entre palavras e
que possuem textos de fácil memorização. Por outro lado, o fato de muitos daqueles textos
passarem a ser conhecidos de cor, pelas crianças, favorece a reflexão sobre as relações
entre o que falamos e o que escrevemos. Com certeza, tanto nas situações coletivas como
nas de uso individual, aqueles livros poderão ajudar os alunos a perceber que palavras que
possuem sons iguais compartilham, na maior parte dos casos, de uma mesma seqüência de
letras; identificar que se mudamos uma(s) letra(s) de uma palavra, podemos transformá-la
em outra; relacionar, na leitura de textos memorizados, as palavras oralizadas com suas
correspondentes escritas. (Brasil, 2009, p. 46-47)
unidade 07 35
5. Livros de palavras
Os livros de palavras são obras dedicados (uma ou mais palavras iniciadas por cada
ao trabalho de ensino do Sistema de Escri- letra), ilustradas com imagens variadas;
ta Alfabética. Alguns se organizam por um outros, contém poemas ou brincadeiras
conjunto de palavras em ordem alfabética com cada uma das letras.
Foram reunidas, nesse grupo, obras que apresentam palavras na ordem alfabética. São
livros que podem ser lidos pelo professor e pelos alunos durante todo o ano, e usados como
consulta para a escrita de palavras. Por exemplo, pode-se estimular as crianças a consultar a
letra inicial de uma determinada palavra, para descobrir como escrever outra palavra. Essas
obras, portanto, podem ser usadas tanto para atividades sistematizadas, em que levantamos
outras palavras que se iniciam com a mesma letra/som, quanto em atividades nas quais
as crianças usam o material para descobrir como escrever outros vocábulos. Essas obras
podem ser usadas para a construção de um conjunto de “palavras estáveis/fixas” (palavras
cuja seqüência de letras as crianças conhecem de memória, e podem servir de apoio para a
leitura e escrita de novas palavras). (BRASIL, 2009, p. 46)
6. Livros de imagens
Os livros de imagens estimulam as crianças requer habilidades que podem ser estimula-
a ler textos não verbais, que é uma demanda das desde os anos iniciais na escola. Os textos
crescente da sociedade moderna. As imagens de imagens podem ser usados pelos professo-
estão presentes nas ruas, no computador, nos res tanto para motivar discussões e projetos
outdoors, nas revistas, nos livros. Também relativos às temáticas tratadas quanto para
na esfera artística, a leitura de imagens é de desenvolver habilidades e conhecimentos
fundamental importância. Saber lidar com relativos à apreciação artística.
pinturas, esculturas, fotografias, ilustrações,
36 unidade 07
7. Livros de histórias, com foco em conteúdos curriculares
O público infantil, sem dúvidas, tem esfera científica por meio de narrativas em
especial atenção nas narrativas. As histó- que os conceitos são construídos. Tais li-
rias prendem a atenção, sobretudo, pelas vros nem sempre se pretendem literários,
possibilidades de articulação com suas embora vários deles o sejam. Ainda assim,
vivências, sentimentos, desejos, sonhos. alguns buscam efeitos estéticos em um
gênero em que conta histórias e, ao mesmo
Partindo desse princípio, muitos autores
tempo, ensina conteúdos curriculares.
optam por tratar de conhecimentos da
8. Histórias em quadrinhos
As histórias em quadrinhos são gêneros dos. Este tipo de obra motiva as crianças a
textuais muito apreciados pelas crianças, tentarem ler sozinhas os textos e oferecem
tanto pelos efeitos de humor frequente- pistas não verbais para que essas tentativas
mente presentes nos textos, quanto pela sejam bem sucedidas. Sua utilização em
recorrência de imagens que constituem, sala de aula favorece o desenvolvimento de
juntamente com o texto verbal, os senti- leitura autônoma.
9. Livros literários
Os textos literários são importantes ma- Como pode ser verificado, há uma grande
teriais a serem contemplados/priorizados variedade de livros, que contemplam gêne-
na escola. Muitos autores defendem o uso ros textuais diversos, tratando de temas de
dessas obras considerando sua dimen- interesse do público infantil. Muitas ativida-
são artística. O foco do trabalho, nesta des podem ser planejadas e realizadas com
perspectiva, é a própria natureza estética esses livros. O professor precisa, no entanto,
das obras. A contextualização histórica, avaliar quais são as condições das crianças
a reflexão sobre os estilos literários, o para lidar com os livros, os interesses e os
debate sobre as concepções de sociedade e seus objetivos ao selecionar cada obra.
de homem expressos nesses livros também
merecem tratamentos especiais.
unidade 07 37
Referências:
38 unidade 07
Exemplos de quadros de
monitoramento de atividades
realizadas
unidade 07 39
Novembro
Atividades 04 05 06 07 08 11 12 13 14 15
Leitura de livros literários para as crianças e
conversa sobre os textos.
Leitura de textos pelas próprias crianças (ten-
tativas de leitura).
Discussão sobre temas importantes.
40 unidade 07
Uso de materiais em sala de aula. Novembro
Atividades 04 05 06 07 08 11 12 13 14 15
Livros de literatura infantil (PNBE ou outros)
Jogos de alfabetização
Livro didático
Jornais
Revistas
Filmes e fotografias
Computador
Televisão
Rádio
Outros
unidade 07 41
Aprendendo mais
Sugestões de leitura
1.
LEAL, Telma F. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In:
MORAIS, Artur G.; ALBUQUERQUE, Eliana B. C.; LEAL, Telma F. (orgs.) Alfabetização:
apropriação do Sistema de Escrita Alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. (Dis-
ponível em: http://www.ufpe.br/ceel/e-books/Alfabetizacao_Livro.pdf)
2.
contribuições para a prática pedagógica.
ALBUQUERQUE, Eliana B. C.; MORAIS, Artur G. Avaliação e alfabetização. In: MAR-
CUSCHI, Beth; SUASSUNA, Lívia (orgs.). Avaliação em língua portuguesa: con-
tribuições para a prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. (Disponível
em http://www.ufpe.br/ceel/e-books/Avaliacao_Livro.pdf)
3.
Sucesso escolar nos meios populares:
as razões do improvável.
LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável.
São Paulo: Ática, 1997.
Nesta obra, o autor demonstra, por meio de uma análise das diferenças entre famílias
de meios populares, cujos filhos apresentavam resultados escolares bastante dife-
rentes, que o sucesso ou fracasso escolar não estão necessariamente relacionados às
condições socioeconômicas do aluno, pois há crianças pobres com grande rendimento
escolar e vice-versa. O autor demonstra, portanto, que existem razões culturais mais
amplas para explicar o sucesso e o fracasso escolar.
unidade 07 43
4.
A pedagogia na escola das diferenças:
fragmentos de uma sociologia do fracasso.
PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos
de uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001.
44 unidade 07
Sugestões de atividades
para os encontros em grupo
1º momento (4 horas)
1 – Ler para deleite: texto “Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim”, livro “Ai de ti, Copaca-
bana” de Rubem Braga
2 - Socializar as experiências vivenciadas com base no planejamento do projeto didático
da unidade 6; discutir sobre como as crianças com diferentes níveis de conhecimentos
sobre o SEA participaram das atividades;
3 – Ler a seção “Iniciando a conversa”;
4 – Discutir coletivamente sobre as seguintes questões: Os alunos aprendem as mesmas
coisas, da mesma forma e no mesmo momento? Por quê? Como você acompanha os
conhecimentos sobre o SEA que os seus alunos constroem ao longo do ano letivo? Que
estratégias você utiliza para atender aos alunos com defasagem de aprendizagem na
alfabetização?;
5 – Ler individualmente o texto 1 (A heterogeneidade no processo de alfabetização:
diferentes conhecimentos, diferentes atendimentos); retomar as questões discutidas no
item 3 e elaborar um esquema coletivo do texto;
unidade 07 45
2º momento (4 horas)
4 – Ler o relato de Edijane da seção “Compartilhando” para discutir sobre cuidados que
se deve tomar ao organizar a turma para realização das atividades.
5 - Assistir ao Programa “Escrita também é coisa de criança”. (Série Letra Viva; 08) -
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=47212
46 unidade 07
Tarefas (para casa e escola)
- Desenvolver aulas com base nos planejamentos feitos na unidade 7 e registrar como
foram as aulas, quais foram os aspectos positivos e negativos das aulas.
- Escolher uma das obras sugeridas na seção “Compartilhando” e elaborar uma questão a
ser discutida pelo grupo (escolher coletivamente a obra a ser lida).
- Aplicar o instrumento de avaliação sugerido no Portal do Programa de Alfabetização;
preencher os quadros de acompanhamento das crianças e o quadro de perfil de saída da
turma; levar o quadro de perfil da turma para o encontro seguinte.
- Preencher os quadros de “Monitoramento de atividades” realizadas até a data do próxi-
mo encontro; levar o quadro preenchido para discussão.
unidade 07 47