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Maxixe
2021
UNIVERSIDADE SAVE
Maxixe
2021
Lista de Siglas e Acrónimos
% Percentagem
CL Currículo Local
CP Comunicação Pessoal
UP Universidade Pedagógica
Declaração
Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho na sua essência nunca foi apresentado em nenhuma instituição
para obtenção de qualquer grau académico.
__________________________________
Dedico este trabalho aos meus pais Ezequiel Eugénio Machava e Sinoda Afonso Maleiane e
aos meus irmãos.
Agradecimentos
Aos meus colegas do curso que dias após dias juntos encarávamos a árdua batalha, Rachid
Mussá, Itélio Muchisse, Emerenciana da Graça, Sérgio António e Angelina Machava pela
força e encorajamento.
Aos meus irmãos e amigos que sempre me deram força para avançar com os meus estudos,
Nelson Tivane, Ilídio Tivane, Edolfo Machava, Jonas Mabunda (em memória), Ambustique
Argola, Jossefa Manjaze, Tacálio Argola, Ricardo Baloi, Edílson Chissano e Realson Mathe.
Ao introduzir-se o currículo local nas escolas moçambicanas pretende-se permitir que a comunidade participasse
na educação dos seus filhos, através da identificação e integração dos conteúdos locais. Por via disto, procurou-
se compreender os mecanismos usados pela comunidade escolar para integrar conteúdos locais no currículo
nacional de História, bem como o significado que a comunidade escolar atribui e também quais as estratégias
que a escola tem usado para que a comunidade escolar participe activamente neste processo. Nesta pesquisa,
optamos por um estudo qualitativo na modalidade de estudo de caso. Em termos conceptuais procurou-se
explicar os conceitos de currículo local, história local e conteúdos/saberes locais. Os resultados recolhidos
mostraram que os professores pouco entendem sobre o Currículo Local, estando incapazes de introduzir as
inovações nas práticas pedagógicas; existem professores não reflexivos, encontrando-se longe de operacionalizar
a reforma, e por via disto, as mudanças pedagógicas, na componente currículo local, na Escola Secundária 1º de
Maio de Chicuque, tarde vão acontecer.
Com a introdução do CL, cria-se um espaço de convivência dos saberes locais e universais e
lança-se um desafio aos professores no sentido de serem responsáveis na cientificação e
sistematização dos conhecimentos populares da esfera local. Os saberes locais se localizam
nas comunidades e podem ser temas transversais aos curricula. Eles são um conjunto de
conhecimentos, práticas, atitudes, habilidades e experiências que se partilham no quotidiano.
Os saberes locais são transmitidos, hoje, nas escolas devido à sua relevância para
aprendizagem e ao seu significado cultural. Essa relevância não só se regista no ensino, mas
também na política, na agricultura, na saúde e na cultura.
Segundo CASTIANO (2006), o CL não só têm como espaço de integração de saberes, valores
e práticas locais no currículo nacional, mas sobretudo ele é potencialmente um espaço de
negociação, avaliação e validação dos saberes de ambas naturezas (local e universal). Para o
autor, o currículo local em Moçambique, oferece a possibilidade de aprender os saberes locais
em idiomas locais e, é o primeiro e o mais importante passo dado na educação para subverter
a extroversão, desmarginalizar e desmistificar os saberes locais.
O currículo do Ensino Secundário Geral (ESG) coloca o aluno e o meio que se encontra no
centro do processo de ensino aprendizagem, actuando como sujeito activo na busca de
conhecimento e na construção da sua visão do mundo. O professor funciona como um
facilitador a quem cabe criar oportunidades educativas diversificadas que permitam ao aluno a
desenvolver as suas potencialidades.
Objectivos
Geral
Específicos
Descrever as Características da Comunidade Escolar da Escola Secundária 1º de Maio
de Chicuque;
Apresentar a Etimologia do Nome Chicuque;
Identificar o Património Histórico e Cultural de Chicuque;
Explorar Pesquisas Realizadas sobre História Local em Chicuque;
Apresentar os Mecanismos de Sistematização de Conteúdos Locais para o Ensino na
Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque;
Apresentar os Mecanismos de Gestão dos 20% do Tempo para o Ensino de Conteúdos
Locais na Disciplina de História;
Avaliar os Resultados esperados e Resultados Alcançados com o Ensino de Conteúdos
Locais na Disciplina de História
Justificativa
Problematização
Neste sentido, formulou-se a seguinte questão da pesquisa: Quais são os mecanismos que a
comunidade escolar da Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque adopta ou usa para integrar
o CL no ensino de História?
Hipótese:
Não existe nenhum mecanismo na Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque, que vise
integrar o CL no Processo de Ensino e Aprendizagem em História, devido ao
desconhecimento da sua relevância na aprendizagem dos alunos.
Revisão de Literatura
BARROS (2007), faz uma abordagem qualitativa onde busca dar ênfase à importância de uma
história local fortemente integrada ao ensino de história em sala de aula. Para o autor, a
história local é uma estratégia metodológica que visa transmitir conteúdos que dêem mais
consistência à localidade, mas também a mesma história local serve como complemento ao
manual didáctico.
Na óptica de PACHECO & MORGADO (2002), o Currículo Local é/ou deve ser um exemplo
de projecto de escola. No desenho curricular anterior à reforma, o currículo era nacional. A
ideia de reformar o currículo toma eco na “centralidade da mudança organizacional e
curricular encontra-se nos diversos pressupostos e procedimentos que permitem e conduzem à
construção de projectos ao nível da escola, que são ao mesmo tempo uma forma de resolução
dos conflitos existentes entre o que deve ser, no plano curricular nacional, e o que pode ser,
no plano da organização curricular ao nível escola e da sala de aula”.
Esses dois autores dizem ainda que o currículo local em si é um instrumento de resgate dos
valores da pessoa, pois, repensa em agregar tudo que é local. E ao falar das manifestações
locais, sabe-se que é o reflectir dos valores marginais ao currículo nacional. Aliás, a
centralidade curricular na maioria dos casos deixa de lado o conhecimento produzido
localmente, que é de extrema importância na sobrevivência das comunidades.
Na perspectiva de ROLDÃO (2011), o currículo local surge na mesma linha dos currículos
regionais, como resposta à necessidade de uma gestão curricular tendo em conta a diversidade
dos públicos – alvo. A substituição de lógicas curriculares uniformes por um processo bipolar
que, de um lado, deverá prescrever e garantir, a nível nacional as aprendizagens comuns e as
balizas obrigatórias do desempenho curricular da escola, naqueles domínios indispensáveis à
aquisição científica essencial, à pertença social e ao desenvolvimento equilibrado de cada
indivíduo nessa sociedade, o core curriculum ou currículo nuclear tem, por outro lado, de
garantir o princípio da diferenciação curricular, isto é, a obrigação e o direito de cada escola
oferecer projectos curriculares próprios, estrategicamente pensados em função do seu
contexto, das vivências específicas da sua população e da consecução e apropriação das
aprendizagens curriculares de forma significativa para o aluno que estiver em sala de aulas.
CAPECE (2001), procura anotar a importância dos saberes locais para combater o fracasso
escolar. Ele mostra que o resgate dos saberes locais na instituição escolar ganhou dinamismo
com a intervenção dos responsáveis do projecto da área de educação prioritária de Liverpool.
Este autor, recorrendo a Forquin, constata que o que a escola veicula vai ao encontro dos
alunos da classe média porque a pedagogia desenvolvida não se baseia na vida das
comunidades e nas características do meio local. Capece inspira-se em Midwinter citado por
Forquin (1993) que constatou que:
O fracasso escolar das crianças dos bairros desfavorecidos exigia uma
abordagem pedagógica radicalmente nova, que devia se apoiar
sistematicamente nas características culturais da comunidade na qual vive a
criança e procurar estabelecer (ou restabelecer) uma coerência entre a escola e
o meio (FORQUIN 1993, citado por CAPECE, 2001:192).
LYOTARD (1989), relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende que o saber
científico não é só o conjunto de enunciados, mas é também o saber voltado à vida quotidiana.
A escola tem obrigação de ensinar esse saber. O saber quotidiano é abrangente e prático e diz
respeito à vida da localidade. A relação que Lyotard faz entre o saber local e o saber científico
é legítima. Porque o saber se auto-afirma como saber científico recorrendo o saber local. Por
isso, Lyotard afirma que “o saber científico não pode saber e fazer saber que ele é verdadeiro
saber sem recorrer a outro saber, narrativa, que é para ele o não saber, em cuja ausência ele é
obrigado a pressupor-se a si mesmo, caindo assim no que condena, a repetição do próprio, o
preconceito”.
Para o autor, a história local é uma possibilidade de criação de conceitos, a partir de uma
abstracção que parte de uma vida pessoal e quotidiano para uma vida colectiva, que tende a
desaguar numa relação com outras memórias partilhadas. A história local é uma memória no
meio de muitas memórias (local e o universal). O ensino de História Local permite que
possamos dar vozes àqueles autores que estiveram marginalizados pela História Oficial. O
ensino de História tem como principal pressuposto formar cidadãos que possam ser críticos
com a realidade na qual estão inseridos, devido ao facto de que seus conceitos e conteúdos
possam fazer com que os alunos debatam sobre o que está acontecendo não somente sobre o
passado, mas também sobre o presente.
JÚNIOR (2016), refere que a História Local tem conhecido, nos últimos anos, um
progressivo, desenvolvimento devido ao interesse da investigação histórica actual, pelo estudo
das comunidades locais. Mas esse ganho de papéis na construção da História, por parte da
história local, está intimamente ligado com a crescente desconfiança nos modelos que
pretendem a macro abordagens. Ela, tem se mostrado necessária por articular o passado e o
presente nos vários espaços onde esse indivíduo frequenta, como por exemplo, escola, casa,
cidade, trabalho e etc., e por situá-lo nas problemáticas do momento.
O autor vai a fundo e afirma que a história local tem feito alunos se interessarem por
discussões acerca do património de sua localidade, levantamento de dados e construções das
histórias locais, além de despertarem o olhar para a compreensão de ser, o lugar onde vivem,
directamente articulado com outros espaços. Um componente proveitoso deste estudo é a
possibilidade de reconfigurar os conteúdos tradicionais, pois o objectivo da história local não
é elimina-los, mas significa-los, aborda-los de uma forma diferente. O saber escolar, com base
na história local, deve permitir ao estudante as conexões entre o local, regional, nacional e
mundial através do tempo.
Desta feita, a história local, além da sua vertente pedagógica, pode afectar a vertente
económica, ao conferir uma importância ao património local, permitindo que seja ele um
incentivo à actividade de visitas turísticas que podem render em termos monetários.
ARAÚJO (2017), faz uma leitura qualitativa sobre a importância da história local, onde
descreve como sendo ela de uma importância mais ligada à formação da individualidade. A
história local permite ao indivíduo formar a sua consciência política, ética e cultural mais
ligada ao contexto em que o indivíduo está inserido, permitindo que ele desenvolva uma
capacidade crítica. Essa autora diz nas suas entrelinhas que esse modelo de ensino (história
local), é mais voltado para a formação da cidadania e contribui para socializar os valores e as
práticas democráticas baseadas em valores que promovem a dignidade humana.
A história local na sala de aulas, permite ao aluno afastar-se do manual prescrito e envolve-lo
no seu meio, abrindo assim um espaço para o diálogo e discussão mais aprofundada sobre o
tema em discussão do conteúdo que está em questão. Essa autora faz uma perspectiva
pedagógica da história local e nos dá a entender que ela contribui de forma positiva na
formação de competências advindas de sua própria concepção, ou seja, o aluno participa
directamente do campo de recolha e crítica do conhecimento. Ele passa de um agente passivo,
para um agente activo na produção do conhecimento.
CASTIANO (2013), usa o termo local para se referir ao contexto político e cultural de
Moçambique, dado que, com este conceito, julga abranger-se não necessário e exclusivamente
ao tipo de conhecimentos e valores de origem tradicional, no termo local inclui também e
sobretudo todo o tipo de saberes, atitudes e valores resultantes da confrontação que os sujeitos
de qualquer comunidade cultural criam como resposta a sua exposição ao conhecimento
importado e a sua adaptação ao meio.
ALVES (2014), argumenta que o uso da História Local pode constituir um factor fundamental
na motivação para os conteúdos de História, para a construção de conhecimentos e para o
exercício da cidadania. A localidade tem potencial pois […] pode constituir um exemplo
privilegiado do nosso passado, que aproxima o professor ao aluno, que o enraíza no seu
espaço, que o forma criticamente no exercício da sua cidadania e que o aproxima do saber
histórico.
O autor afirma que, quando aplicada ao contexto escolar a História Local pode trazer muito
mais apreço aos jovens. Ao estudarem o seu passado mais próximo, seja em vestígios
arquitectónicos, linguísticos, documentais, artísticos, ou outros, podem compreender melhor o
espaço e a comunidade onde estão inseridos. Como a História toma um tempo e um espaço
(seja uma grande cidade reconhecida mundialmente, seja uma pequena aldeia ou povoado
desconhecido da maior parte da população), o ‘‘local’’ pode ser o próprio objecto de análise.
Currículo Local
TUZINE (2005) citado por MACHAVA (2015: 79), define CL como sendo um conjunto de
conteúdos ou matérias que versam sobre diversos aspectos da vida local. Segundo
CASTIANO (2005: 73), currículo local é uma componente do currículo nacional
correspondente a 20% do total do tempo previsto para a leccionação de cada disciplina; esta
componente é constituída por conteúdos definidos localmente como sendo relevantes para a
integração da criança na sua comunidade.
História Local
Segundo GASPARELO (1996: 89), a história local consiste num princípio metodológico, que
encontra sua validade ao atender aos pressupostos da construção de um conhecimento que
interage com um saber que se torna significativo e consciente, constituindo-se em sua
relevância social.
O ensino da história local trata das especificidades das localidades, tem uma grande
importância, pois ele pode de diferentes formas apresentar aos alunos uma história que parta
de um acontecimento ou de um quotidiano que eles conhecem empiricamente e, assim,
estudar e relacionar os acontecimentos locais com os acontecimentos globais (PAIM &
PICOLLI, 2007).
Saberes locais são aqueles produzidos numa determinada comunidade. Tal como explica
BASÍLIO (2006: 95), saberes ou conteúdos locais são provenientes da realidade da zona a
onde a escola se inscreve e são diferentes de região para região; são saberes locais porque se
prendem com a material de interesse local que emociona as crianças. Na mesma perspectiva,
MARIQUEL (2019: 18), o conteúdo local é aquele que se adquire ao longo da experiência da
vida e, é o produto da interacção entre seres humanos em função de contextos culturais
específicos de cada povo. Este saber está intimamente ligado a práticas de vivências culturais
da população.
De acordo com BASÍLIO (2006), saberes locais nos remetem à actualização de experiências
vividas numa determinada comunidade. São conteúdos que transmitem uma visão do modo de
vida das comunidades locais/tradicionais e revestem-se nas habilidades, práticas, atitudes,
experiências, mitos, valores, hábitos, costumes e os modos de relacionamento com os
antepassados e deuses.
De acordo com LYOTARD (1989: 47), saberes locais são um conjunto de enunciados que
carregam consigo, mesmas noções de saber ser e estar, saber fazer, saber escutar e o conhecer.
Assim, os “saberes” abrangem uma gama de informações sistemáticas e não sistemáticas.
Nesta perspectiva, “o saber é aquilo que torna qualquer pessoa capaz de proferir bons
enunciados denotativos, prescritivos e avaliativos”.
Para a sua disseminação, eles obedecem aos padrões estabelecidos pela comunidade e tem
uma grande importância porque, envolvem o geral, ou seja, o que tem relevância global pode
ser encontrado na localidade. Eles assentam o ser humano com o seu meio cultural, que são
tais conjuntos de conhecimentos que se partilham no quotidiano e são eternizados nas
localidades, por motivos de um legado que é praticado milenarmente, onde os seus praticantes
o fazem como um advento de manter viva a tradição que vem sendo passada de geração em
geração.
Pode-se denotar que os saberes locais são práticas e procedimentos das colectividades ou de
grupos desenvolvidas desde o sector político, económico, social, cultural, ético e moral de
uma forma geral e com características peculiares para cada sociedade, isto é, são
diferenciados em cada sociedade.
Nesta pesquisa dá-se prioridade a abordagem qualitativa com vista a colher as concepções dos
entrevistados. Vai-se optar por um procedimento indutivo, pois sendo um estudo de caso,
parte de uma realidade local específica, para se enquadrar os resultados numa perspectiva
macro.
Em 1992, foi transformada em Escola Primária Completa de Chicuque com apoio do governo
da Irlanda para os jovens de Chicuque; de 1998 à 2000 funcionou como salas anexas da
Escola Secundária 29 de Setembro da Maxixe. Em 2001 teve a nova designação de Escola
Secundária “1º de Maio” de Chicuque, tendo funcionado até o ano de 2012 com apenas
Ensino Secundário do I ciclo; e em 2013 introduziu o 2º ciclo do Ensino Secundário Geral,
portanto, actualmente lecciona da 8ª a 12ª classe.
A Escola Secundaria 1º de Maio de Chicuque, encontra-se vedada com um muro com dois
portões. Possui 9 blocos divididos em 30 salas de aula, dos quais 24 foram construídas de
materiais convencionais e seis de material precário. Dessas salas, três estão sem carteiras.
Possui uma biblioteca, uma sala de informática, um bloco administrativo, um gabinete do
Director, da chefe da secretaria, da informatização, sala dos professores e dos Directores
Adjuntos da Escola (DAE) dos dois ciclos, dois blocos para casas de banho.
Na escola existem 97 professores do 1º e 2º ciclo, dos quais 67 são homens e 30 são mulheres,
desse universo oito leccionam a disciplina de história, os mesmos estão divididos em ciclos.
Esses professores na semelhança de várias escolas, são oriundos de vários pontos do País. No
processo de ensino e aprendizagem esses professores têm o papel crucial de implementar o
currículo local através de integração de conteúdos locais.
No presente ano lectivo a escola possui um efectivo escolar de 5.455 alunos dos quais 4.283
são do 1º Ciclo e 1172 do 2º Ciclo. A escola tem um total de 104 turmas em todos turnos
sendo o 1º turno com 43 turmas, 2º turno com 49 turmas e 3º turno com 14 turmas. Destas
turmas 12 funcionam em Baquetire, 2 em Nhabanda e as restantes na sede.
Os alunos da Escola Secundária 1o de Maio de Chicuque são oriundos dos bairros do Distrito
Municipal da Maxixe, em maior destaque os bairros Rumbana 1, Chambone 5, Eduardo
Mondlane, Matadouro e Nhamaxaxa.
CAPÍTULO II: OS CONTEÚDOS LOCAIS SOBRE A COMUNIDADE DE CHICUQUE,
PESQUISAS E SISTEMATIZAÇÃO
Antigamente uns miúdos estavam a brincar de escorregar nas montanhas usando xicutes na
presença dos brancos, eis que eles ficam curiosos perguntando o material que estavam a
utilizar para escorregar eles responderam xicutes e os brancos deram ao lugar o nome de
Chicuque a essa região.1
As acções realizadas pela Igreja Metodista de Chicuque a quando a sua fixação nessa região
no ano de 1897. Ela desenvolveu várias actividades de missionação em Chicuque, fornecendo
serviços de educação, saúde, dentre outros serviços. Nos serviços de educação operou através
da abertura de escolas, tendo se orientado na educação das populações desfavorecidas, como é
o caso daquelas meninas órfãs e das famílias religiosas da igreja, vindo de vários pontos do
1
Rungo (2021, cp.).
2
Estêvão (2021, cp.).
país, a abertura de lares de internamento das raparigas que estudavam na escola da missão. Os
serviços de saúde com a construção de hospital para populações de Chicuque e
circunvizinhas.
A Igreja Metodista Unida é um monumento que a sua estrutura é bem diferente das casas
deixadas pelos portugueses e das casas actuais. A igreja tem um formato das casas
americanas, o que diferencia das muitas casas modernas.
Além do monumento, existe também na entrada da igreja ao lado esquerdo a casa que
viveram os primeiros missionários que foram empossados para trabalharem em Chicuque. A
casa possui um modelo anglo-americano (com umas partes de madeira, que a diferencia das
casas do modelo português e das casas modernas. Nas aulas de História pode se saber o
contexto e o objectivo da construção, quais foram os primeiros missionários que residiram
nela.
As informações que constam nesse monumento são bastantes importantes para acompanhar a
trajectória da igreja metodista desde a sua fixação no bairro de Chicuque e pode servir de base
para aprendizagem na disciplina de História.
O casamento tradicional é uma prática que predomina desde os primórdios da existência das
comunidades na zona sul do país, e em particular no bairro de Chicuque, esse conteúdo que
pode ser contemplado na aula de História como parte do história local. É uma prática em que
pode ser apresentada na sala de aulas, em formato de teatro na escola e ou na comunidade. No
casamento tradicional, os alunos tem a possibilidade de aprimorar ainda mais sobre aspectos
sociais do local onde vivem.
Existem algumas pesquisas sobre a história local realizadas em Chicuque, como é o caso do
trabalho de Jaime (2010) cujo título é Igreja Metodista Episcopal, Formação e Educação nas
Circunscrições de Morrumbene e Homoíne, no Distrito de Inhambane, 1890-1955; Helgesson
(1994) cujo titulo é Church, State and People in Mozambique: An Historical Study with
3
Língua falada na província de Inhambane, em regiões circunvizinhas à Baia de Inhambane que compreende as
cidades de Inhambane e Maxixe bem como os distritos de Jangamo, Murrombene e Homoine.
Special Emphasis on Methodist Developments in the Inhambane Region; e as entrevistas
feitas a população de Chicuque sobre os modos de vida, história, hábito e costumes, pelo
Ministério da Cultura que as transcrições estão no Museu Regional de Inhambane.
Jaime na sua pesquisa faz um estudo bem aprimorado sobre a contribuição da Missão
Metodista na vida social da população em Chicuque, Cambine e Homoine, debruçando sobre
os principais serviços que ofereciam há comunidade, pois o objectivo da missão era de ajudar
as pessoas pobres. A sua primeira abordagem é dos serviços de alimentação às pessoas
carenciadas de Chicuque e zonas circunvizinhas. Quando os missionários se estabeleceram
em a Chicuque, oferecia refeições a pessoas desfavorecidas, cumprindo o seu propósito de
missionação. Os missionários velavam pela educação e cuidados dessas pessoas, dai
construiu-se a Escola Hartzell destinadas as pessoas pobres de Chicuque, particularmente para
as raparigas.
O autor afirma que a missão construiu a Escola Hartzell para que as crianças das comunidades
de Chicuque tivessem uma educação básica, pois, tratava-se de uma escola que conciliava a
teoria e a prática. A educação fornecida era destinada as raparigas e elas deveriam viver no
internato localizado na escola. Essa escola ajudou muito a comunidade de Chicuque e outras
comunidades da província de Inhambane. Nas aulas de ofícios, as raparigas aprendiam corte e
costura, croché, culinária, tricô, bordado, agricultura, etc.
O autor vai mais a fundo afirmando que, a missão oferecia também os serviços de saúde a
comunidade de Chicuque, construindo um hospital. O hospital era para toda comunidade de
Chicuque e comunidades vizinhas. Mas a população acreditava na prática de cura tradicional,
que era de grande importância na comunidade de Chicuque, por via disto, eles não aderiam
aos serviços de saúde fornecidos pela missão nesse período. Confiava-se ao curandeiro para
cada epidemia que assolava a comunidade.
A Missão Metodista, contribuiu bastante para a história de Chicuque, visto que, trouxe várias
transformações dentro da comunidade, destacando-se nas áreas sociais, educativas, saúde,
agrícola, económica, etc. É impossível abordar-se a história local de Chicuque, e não
referenciar acções desenvolvidas pela Missão Metodista durante a sua actuação naquele
ponto.
Na perspectiva do autor, a Missão Metodista trouxe nas áreas da sua actuação umas
transformações consideráveis em vários âmbitos. A missão nas circunscrições em que actuava
como é o caso de Chicuque e Cambine entre outras, oferecia serviços de educação, saúde,
alimentação, espirituais, entre outros. A missão construiu infra-estruturas em que hoje em dia
são usados para o benefício das comunidades (escolas, hospitais e igrejas).
O Mistério da Cultura realizou uma pesquisa sobre Chicuque, onde fez umas transcrições
sobre a sua evolução histórica, locais importantes, seus hábitos e costumes e crenças. Essa
informação pode ser encontrada nos arquivos sobre Maxixe no Museu Regional de
Inhambane.
Os alicerces teóricos discutidos neste capítulo permitiram de uma forma geral perceber o valor
que pode se dar ao conhecimento local no processo de ensino e aprendizagem de História, visto
que convergem na medida em que consideram saberes locais como bases para a construção de um
conhecimento científico e mais ainda, estes saberes reduzem o nível de abstracção com que pode
se situar um determinado conteúdo a ser leccionado.
A selecção dos conteúdos do Currículo Local é um dos momentos mais significativos para o
ensino do Currículo Local. Com este indicador, pretende-se saber como é feita a selecção dos
conteúdos do currículo local na Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque e quem são os
intervenientes neste processo.
4
Igreje (2020, cp.).
5
Matimbe (2020, cp.).
implementado no ensino secundário e nesta escola em
particular.6
A comunidade questionada sobre alguns conteúdos locais que podem ser seleccionados para o
ensino na Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque e a escola já se aproximou a mesma
para a selecção desses conteúdos para o ensino, afirmaram:
Entro em concordância com os membros da comunidade quando afirmam que a escola não se
preocupa muito com as vivências da comunidade onde se encontra inserida, pois, ela devia ou
deve se reunir com os membros mais importantes para projectar o plano do currículo locais
como forma de formar um indivíduo pró activo na sua vida, o que não fazem e prejudicam o
processo de ensino. De facto existem conteúdos ensináveis na localidade de Chicuque, e que
são de capital importância nas novas geração e gerações vindouras.
Para subsidio sobre os critérios de selecção dos conteúdos locais, os autores Tuzine e Neves et
al afirmam que:
8
Simões (2020, cp.).
9
Mapanzene (2020, cp.).
professores, direcção da escola e a comunidade em que a
escola se contra inserida.10
Para os intervenientes do processo de selecção dos conteúdos do interesse local Tuzine afirma
que:
As matérias propostas para o CL, devem ser integradas nas diferentes disciplinas curriculares,
tendo em conta as particularidades de cada disciplina, os objectivos de cada ciclo e a idade
dos alunos. Os conteúdos do CL devem ter o mesmo tratamento em relação aos outros, são
parte da carga horária, incluindo os critérios de avaliação. Nos exames nacionais, devem ser
inclusas questões cujas respostas se direccionem para aspectos/conteúdos locais.
Alguns depoimentos dos professores mostram que a escola não possui nenhuma estrutura a
seguir para selecção e tipos de conteúdos locais que podem ser ensinados, como se pode ver
nos depoimentos a seguir:
Os entrevistados afirmam que não tem conteúdos que podem ser seleccionados para o ensino
em Chicuque, daí que eles não têm nenhuma estrutura a seguir para selecção, o autor não
corrobora com os posicionamentos de todos eles, porque em Chicuque existem sim,
conteúdos de grande importância e que podem ser ensinados na escola, esses conteúdos vem
referenciados ao longo do trabalho, isto no segundo capítulo. Quanto à estrutura pode-se
colocar a história local, cultura onde temos a vivências, entre outros conteúdos. Os conteúdos
seleccionados para história local seriam a origem e evolução histórica da região; a história da
missão metodista; origem da escola: ano de fundação; o primeiro professor, etc. E os
conteúdos seleccionados para cultura seriam a danças tradicionais; o casamento tradicional; as
regras de conduta, etc.
Nos tipos e estrutura dos conteúdos seleccionados para o ensino Barbosa afirma que:
13
Raimundo (2020, cp.).
14
Mapanzene (2020, cp.).
A listagem dos conteúdos locais e a recolha de informação,
junto da comunidade, para que possa ser integrada no
processo de ensino e aprendizagem, é um processo que deve
ser coordenado pela escola com a participação dos alunos,
professores, pais e encarregados de educação e outras
instituições da comunidade (BARBOSA, 2015:8).
Para o cálculo do tempo dos 20% para a abordagem do Currículo Local na disciplina de
História, o professor deve consultar o plano de estudos do Plano Curricular do Ensino, o
calendário escolar e o programa de ensino.
Os depoimentos dos professores afirmam que não há gestão nenhum dos 20% reservados ao
currículo local na disciplina de História, como se pode ver a seguir:
Em contrapartida um dos professores afirma que reserva os 20% na sua planificação, mesmo
não tendo os conteúdos seleccionados, como pode ver a seguir:
Os entrevistados afirmam não ter uma gestão dos 20% reservados para o currículo local ou
leccionação dos conteúdos locais pela MINEDH, o que é falta de profissionalismo, os
professores não se preocupam em alertar a direcção sobre esse fenómeno, ficam relaxados só
cumprindo as metas traçadas no currículo nacional, negligenciando uma componente muito
15
Chulo (2020, cp.).
16
Matimbe (2020, cp.).
17
Igreje (2020, cp.).
importante na vida dos seus alunos. Para materializar esse processo futuramente podem como
por exemplo, fazer-se visitas de estudo, devido à necessidade de mais tempo para a sua
execução, poderão ser agrupados em blocos de três ou quatro tempos lectivos que serão
emprestados das outras disciplinas e posteriormente repostos, ou poderão ser realizadas fora
do tempo lectivo (no período oposto às aulas ou ao sábado). Nestes casos, recomenda-se uma
planificação conjunta com os outros professores e direcção da escola de modo a ajustar a
carga horária.
No âmbitos da gestão dos 20% referente ao Currículo Local no ensino, Machava afirma que:
Com isso o autor valida a hipótese que refere que não existe nenhum mecanismo na Escola
Secundária 1º de Maio de Chicuque, que vise integrar o CL no Processo de Ensino e
Aprendizagem em História, devido ao desconhecimento da sua relevância na aprendizagem
dos alunos, pois os professores não estão providos de estratégias de maneio dos 20%
atribuídos ao currículo local. Por via disto, pode-se também ficar a saber que não existem
capacitações, muito menos formações sobre o currículo local na escola, dai que a culpa não
recai só sobre os professores, mas também sobre a Direcção da escola que nada faz para que
isso mude essa situação.
Em contrapartida uma outra aluna, tem um pouco de noção sobre a história da sua localidade,
como se poder ver no depoimento a seguir:
Nota-se que muitos alunos não conhecem a sua própria história, a direcção da escola e os
professores nada fazem para reverter essa situação. Muitos alunos afirmam que os professores
nunca falaram na sala de algo que tem a ver os hábitos e costumes da comunidade de
Chicuque. Segundo os depoimentos dos alunos, surge uma dicotomia ou divergência entre os
pronunciamentos de ambos, porque uns dizem que trazem na aula algo da comunidade para
facilitar a compreensão dos seus alunos e outros dizem que os professores nunca trouxeram
conteúdos da comunidade na sala de aulas.
18
Bata (2021, cp.).
19
Bambo (2021, cp.).
20
Langa (2021, cp.).
21
Chulo (2021, cp.).
Mecanismos de controlo em si nós não temos, isto
porque não implementação do currículo local na nossa
escola. Seria um grande afirmar que controlamos os
resultados da implementação ser ter os próprios
conteúdos em primeiro lugar, segundo não há nenhuma
brochura que possa nos guiar, terceiro e por fim a
instituição nunca se pronunciou sobre o currículo local
na escola.22
Pode-se perceber que o Currículo Local tem uma dimensão pluralista dos conteúdos na
medida em que leva a uma análise in loco do fenómeno em causa, mas encontramos aqui uma
aporia. Numa sociedade como a moçambicana, onde as escolas são uma mestiçagem no que
se refere aos grupos locais que a integram, é difícil encontrar conteúdos que sejam relevantes,
mas não porque não sejam relevantes, mas porque devido a diversidade que é grande a
abordagem dos conteúdos locais encontram uma limitação, porque se a sua implementação
está virada a inclusão da comunidade, aqui onde a comunidade é diversa, a abordagem torna-
se deficiente.
Não obstante a este fenómeno, a implementação do currículo local a nível escolar ainda é um
longo caminho a trilhar na medida em que são poucos os professores que encontram o tempo
para serem pesquisadores, pois um dos pressupostos para leccionar a história local é
necessariamente o professor ser investigador. Mas numa realidade onde o professor encontra
22
Igreje (2021, cp.).
uma sobrecarga, não é possível que este se torne pesquisador ou que encontre tempo para se
fazer a comunidade de modo a recolher informação útil para a sua tarefa que é a aula.
Por meio de dificuldades, é ainda visível o esforço de alguns técnicos cometidos com a sua
função, que procuram entender de perto sempre que possível a situação da comunidade
mesmo que de forma informal.
Conclusão
Na sequência dos factos arrolados ao longo da pesquisa pode se dizer que os objectivos
preconizados para esta pesquisa foram alcançados, mesmo reconhecendo algumas limitações
de ordem metodológicas decorrentes da complexidade deste tipo de trabalho. Deste modo, em
função dos pressupostos acima expostos concluiu-se que na Escola Secundária 1º de Maio de
Chicuque, os saberes/conteúdos locais não são valorizados no PEA de História, porque os
professores desconhecem as estratégias de selecção e integração.
A pesquisa mostra que os professores têm uma percepção parcial sobre o Currículo Local,
mas em contrapartida na prática não trazem nenhuma inovação, uma vez que não inserem os
saberes/conteúdos locais e muito menos se preocupam em fazer as pesquisas ou recolha de
informações sobre factos que não são do seu domínio e de contexto local. Os professores
ficam apenas agarrados ao programa de ensino, muito mais com o currículo nacional,
fazendo-os assim não pesquisarem, isto é, não integrarem o Currículo Local no processo de
ensino e aprendizagem, assim como estudo mostrou que os professores não ajudam muito os
seus alunos na aproximação dos saberes locais, não incluem na sua planificação aspectos
ligados ao Currículo Local.
A falta de mecanismos para integração do Currículo Local durante a leccionação das aulas de
História, está ligada a falta de formação dos professores nessa área, algo que se concretiza
com o depoimento a seguir, “o Currículo Local é uma ferramenta que existe atrelada
simplesmente ao ensino básico, que não chegou a ser implementado no ensino secundário e
nesta escola em particular”. O mais preocupante é que esse professor que deu esse
depoimento, é director adjunto da escola há 12 anos, nisso percebe-se que ele não acompanha
as mudanças curriculares, onde que se dá a entender que ele tradicionalista. O ano lectivo no
território nacional é composto três trimestres, onde dois trimestres primeiros têm interrupções
lectivas, onde nessas interrupções podem ser aproveitadas para fazer pequenas jornadas
pedagógicas onde seria então oportuno dar a conhecer aos professores a componente
Currículo Local, capacita-los e deixar claro o que seria necessário para que fosse bem
integrado.
Testada a hipótese de não existência de mecanismos da integração do Currículo Local no
Ensino de História na Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque, pode se concluir que são
várias as razões que concorrem para isso. O problema começa do topo da pirâmide da
educação, ou seja, da direcção provincial da educação que é quem devia promover formações
e capacitações para os professores, ou então, delegarem as direcções das escolas secundárias
para se encarregarem desta situação, e ainda para que fosse levado a sério devia-se criar
supervisões para se averiguar a sua implementação nas escolas em todo território nacional.
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Sou Edgar Ezequiel Machava, estudante da Universidade Save Extensão Maxixe. Esta
entrevista enquadra-se no âmbito de uma pesquisa científica sobre o currículo local no ensino
de história com enfoque para a Escola Secundária 1º de Maio de Chicuque, a pesquisa
destina-se à elaboração de uma monografia científica do fim do curso de Licenciatura em
Ensino de História com habilitação em Filosofia. Declaro que os dados recolhidos não terão
qualquer outro uso fora do referenciado, por isso, agradeço antecipadamente a sua
colaboração.