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Contextos Brasileiros
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Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
G39c
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3178-8
A modernização do Brasil | 17
A lógica do capitalismo | 17
Estrutura social e ideologias políticas | 18
Economia e arte moderna | 19
A Revolução de 30 e a Era Vargas | 21
O modelo de desenvolvimento de JK | 22
Referências | 79
Transformações europeias
O período histórico conhecido por Idade Média localiza-se entre a decadência e o fim do Império
Romano (sécs. III a V) e a crise do modo de produção feudal e início das relações capitalistas de produ-
ção (sécs. XIII a XV). A Europa, continente sobre o qual tais marcos históricos mais repercutem, apresen-
tará, nesse período medieval, sociedades organizadas a partir de um modo de produção denominado
feudal. O feudalismo europeu caracteriza-se:
::: politicamente, por pequenos reinos, constituídos de feudos, com poderes autônomos, autori-
tários e hereditários, vinculados fortemente às estruturas da Igreja Católica;
::: economicamente, por uma produção agrária predominantemente de subsistência, controlada
pelos senhores feudais, proprietários dos meios de produção (terra, ferramentas, insumos),
combinada a algum artesanato e pequeno comércio, sendo os habitantes do feudo a mão de
* Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Especialista em Sociologia Urbana pela Universi-
dade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Gestão de Educação Profissionalizante pela Escola Brasileira de Administração Pública
de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (MBA EBAPE / FGV-RJ). Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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8 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
obra, que se subordina com trabalho e impostos às relações servis de produção em troca de
moradia e segurança;
::: socialmente, por uma estrutura que permite pouca ou rara mobilidade social, cujos estamen-
tos1 podem ser divididos entre servos, camponeses livres, artesãos e pequenos comerciantes,
baixo clero, exército, nobres e alto clero.
Da crise da sociedade de modelo feudal de produção surgem as novas relações produtivas que
constituirão a sociedade capitalista. O feudalismo se desfez lentamente a partir do século XIII com a
combinação de diferentes fatores, entre eles estão:
::: a peste bubônica, que dizimou parte das populações dos feudos;
::: a revisão dos arranjos políticos e da interferência do poder da Igreja Católica;
::: o enfraquecimento econômico dos senhores feudais em meio às elevadas despesas com guer-
ras e consequente baixa produtividade; e, principalmente;
::: o enriquecimento dos comerciantes, que buscam mais liberdade para estabelecer mercados,
obter lucros, reduzir impostos e participar das esferas políticas do poder.
Também irão marcar a transição entre a Idade Média e a Era Moderna as intensas atuações de
artistas e intelectuais, que descortinam novas perspectivas estéticas, filosóficas e científicas provocan-
do a reflexão do homem sobre ele próprio, sua realidade, o mundo e sua natureza, Deus e a religião. O
conjunto das obras produzidas nessa transição contribuiu para que historicamente tal período fosse
denominado Renascimento, em contraposição às trevas em que se encontrava a sociedade humana
ao longo da Idade Média diante do papel obscurecedor da Igreja Católica sobre as áreas de estudo e
conhecimento.
Era Moderna
A Era Moderna está associada à organização da sociedade europeia em torno de uma nova ma-
neira de produzir, distribuir e consumir: o modo de produção capitalista. A sociedade moderna capita-
lista caracteriza-se:
::: politicamente, por Estados com poder central organizado a partir de uma cadeia de órgãos e
instituições – até o século XVIII predominantemente monárquicos, após, predominantemente
republicanos – demonstrando a ascensão da participação política de diferentes setores da
população e a redução da influência de religiões oficiais;
::: economicamente, por relações de produção capitalistas, que preveem a propriedade privada,
o lucro a partir da reprodução do capital, a liberdade e a remuneração em salário, a intensifica-
ção da manufatura, do mercado e, a partir do século XIX, da indústria;
::: socialmente, por uma estrutura que permite, em tese, maior mobilidade social, cujas classes
estão divididas entre capitalistas (proprietários dos meios de produção, burgueses) e trabalha-
dores assalariados (proprietários da própria força de trabalho, proletariados e camponeses);
1 São denominados estamentos os grupos sociais pertencentes à estratificação em camadas da sociedade feudal, visto que essa estratificação
caracteriza a pouca ou rara possibilidade de mobilidade social (ascendente ou descendente). Da mesma forma, na sociedade capitalista são
denominadas classes as camadas da estratificação social correspondente, pois esta se caracteriza pela maior possibilidade de mobilidade dos
seus integrantes. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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A formação do Brasil: o atraso para a modernidade | 9
::: a produção científica atuou decisivamente para as transformações tecnológicas que passa-
ram a incrementar constantemente as mercadorias, os mercados e as relações capitalistas
de produção.
A sociedade capitalista que então se forma transita entre o antigo e o moderno, o atraso e o progresso,
a superstição e a razão, o mito e a ciência, o rural e o urbano. O ambiente dessa sociedade é a cidade e a vida
urbana; o campo se subordina a ela como provedor, pois o comércio está nas feiras e nas lojas de suas ruas,
a administração e os órgãos de Estado também estão nos centros. O saneamento, os transportes e a comu-
nicação com o mundo estão na cidade. A civilidade, os modos e os hábitos da vida moderna têm no cenário
urbano a sua origem. É lá que a indústria terá sua reciprocidade, necessitando de infraestrutura e mão de
obra cada vez mais qualificada, estimulando e fornecendo novas possibilidades à vida citadina.
Há vários casos exemplares dessa determinação externa aos destinos da formação do Brasil e
de como isso o deixava vulnerável aos eventos e desejos internacionais. Como exemplo há a cana-
-de-açúcar, cuja especiaria fez do Brasil o seu maior produtor mundial e sobre a qual a economia es-
tava assentada até o surgimento da concorrência internacional das Antilhas, quando os engenhos
revolveram-se com a crise de mercado em fins do século XVII; ou a exploração de ouro e diamantes,
que provocou intenso deslocamento demográfico para a região das minas e se tornou a principal fonte
financeira após a crise da cana-de-açúcar, até os sinais de diminuição e esgotamento das suas jazidas.
Mas emblemático mesmo é o exemplo da produção de algodão, que possuía importância à economia
colonial do açúcar, e depois do ouro, servindo para a confecção de sacos e roupa de escravos, assim
como o tabaco e a aguardente que eram utilizados no escambo2 de escravos africanos. No entanto,
com o salto de desenvolvimento do capitalismo europeu, em virtude do advento da produção indus-
trializada na segunda metade do século XVIII, o algodão passou a ser mercadoria fundamental para
suprir a demanda multiplicada pelas novas tecnologias mecânicas (motores e energias) aplicadas aos
teares. A Inglaterra, berço dessa Revolução Industrial, terá na produção brasileira a matéria-prima que
seus teares transformarão não somente em tecidos e roupas que também serão vendidos para o Brasil,
mas, principalmente, em desenvolvimento do seu capitalismo e da modernidade de sua sociedade.
No rastro daquele mundo moderno, até o tabaco passa a ser matéria-prima com maior importância
econômica para a colônia, pois na Europa o hábito de fumar passa a constituir-se como elemento da
moda no cenário da vida urbana.
Wikipédia.
ao mercado externo europeu, determinou a desigualdade econômica e social presente até os dias de
hoje. A riqueza gerada se deslocava, majoritariamente, para a Coroa portuguesa, enquanto a parcela
que ficava no Brasil se concentrava, assim como a terra e os meios de produção, nas mãos da elite local.
Não se desenvolvia o mercado interno brasileiro, que permanecia incipiente, mas sim o europeu. Para
o desenvolvimento de um mercado interno, além de produção de produtos diversificados, agrícolas e
manufaturados, seria também necessária uma massa de trabalhadores assalariados para estimular o
consumo interno e a circulação de mercadorias e moeda. Portanto, o oposto do que o Brasil possuía. Do
contrário, essa sociedade estaria no mesmo curso histórico do capitalismo europeu.
Esse é o cenário desenvolvido pelo pacto colonial, de acordo com as imposições da metrópole
portuguesa à colônia brasileira. A atividade econômica deveria ser limitada à agricultura, sem a possi-
bilidade de desenvolvimento de atividades manufatureiras, menos ainda de maquinários elaborados
como teares para linhas e tecidos finos, por exemplo. Somente com a vinda da família real e a corte
para o Brasil, e novamente por motivos europeus – no caso as guerras napoleônicas – o pacto colonial
será quebrado. Dom João VI, ao abrigar-se em terras brasileiras, determina a abertura dos portos bra-
sileiros às nações amigas, especificamente à Inglaterra, ativa parceira comercial dos portugueses. A
manufatura começa a ser desenvolvida, inicia-se a articulação com outros centros comerciais e indus-
triais, diversas instituições e órgãos são criados como medida de aproximar o Brasil da modernização
já avançada na Europa.
Exemplos desse sopro de modernidade que atravessou o Atlântico com a família real são:
::: a fundação do Banco do Brasil (1808);
::: a criação da Imprensa Régia e a autorização para o funcionamento de tipografias e para a pu-
blicação de jornais (1808);
::: a abertura de escolas, como as de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro;
::: instalação de fábrica de pólvora e de indústrias de ferro em Minas Gerais e em São Paulo;
::: a criação da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico (1811) e do Museu Real (1818);
::: a vinda da Missão Artística Francesa (1816) e a fundação da Academia de Belas-Artes.
O americanismo, conceito citado por Sérgio Buarque de Holanda, revela já na primeira metade
do século XX o compartilhamento do centro gravitacional do capitalismo moderno entre a Europa e os
Estados Unidos que, desde o século XVIII, como ex-colônia da Inglaterra e com mais características do
modelo de povoamento do que de exploração, avançaram em adotar o desenvolvimento em curso nas
sociedades europeias, participando, por exemplo, quase ao mesmo tempo, da Revolução Industrial.
As transformações daí decorridas na vida da sociedade brasileira passavam pela mudança de
suas instituições econômicas, políticas e sociais, ficando evidente na mentalidade de suas elites e
no surgimento de novos personagens e grupos de poder. A economia do café está intrinsecamente
associada a isso, a ponto de estabelecer antagonismos com a economia da cana-de-açúcar, que havia
retomado certa importância econômica com as crises políticas e sociais nas Antilhas e em outros
concorrentes seus em fins do século XVIII. O senhor de engenho, e o ambiente do engenho de açúcar
estão identificados à aristocracia rural arcaica, escravista e monárquica, enquanto o fazendeiro do
café e sua lavoura representam o abolicionismo, o trabalho assalariado, a República e a vida urbana,
chegando a desdobrar-se, se não diretamente, por meio de seus descendentes e finanças, na nascente
burguesia industrial.
É deliberadamente que se frisa aqui o declínio dos centros de produção agrária como o fator decisivo da hipertrofia
urbana. As cidades, que outrora tinham sido como complementos do mundo rural, proclamaram finalmente sua vida
própria e sua primazia.
[...] o desaparecimento progressivo dessas formas tradicionais coincidiu, de modo geral, com a diminuição da impor-
tância da lavoura do açúcar, durante a primeira metade do século passado (XIX), e sua substituição pela do café.
[...] O resultado é que o domínio agrário deixa, aos poucos, de ser uma baronia, para se aproximar, em muitos dos seus
aspectos, de um centro de exploração industrial. [...] O fazendeiro que se forma ao seu contato (café), torna-se, no fun-
do, um tipo citadino, mais do que rural, e um indivíduo para quem a propriedade agrícola constitui, em primeiro plano,
meio de vida e só ocasionalmente local de residência ou recreio. (HOLANDA, p. 129-130)
Dessa forma, o século XX apresentará as transformações que não aconteceram nos últimos qua-
trocentos anos da formação do Brasil, cujo atraso proporcionou, no mesmo período, a modernização
das sociedades europeias.
Texto complementar
O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial
(NOVAIS, 1984, p. 58-59)
A economia colonial, quando encarada no contexto da economia europeia de que faz parte, que
é o seu centro dinâmico, aparece como altamente especializada. E isto mais uma vez se enquadra nos
interesses do capitalismo comercial que geraram a colonização: concentrando os fatores na produ-
ção de alguns poucos produtos comerciáveis na Europa, as áreas coloniais se constituem ao mesmo
tempo em outros tantos centros consumidores dos produtos europeus. Assim se estabelecem os dois
lados da apropriação de lucros monopolistas […] Mas não só na alocação dos fatores produtivos, na
elaboração de alguns produtos ao mercado consumidor europeu se revela a dependência da eco-
nomia colonial face ao seu centro dinâmico. O sistema colonial determinará também o modo de sua
produção. A maneira de se produzirem os produtos coloniais fica, também, necessariamente, subor-
dinada ao sentido geral do sistema; isto é, a produção se devia organizar de modo a possibilitar aos
empresários metropolitanos ampla margem de lucratividade. Ora, isto impunha a implantação, nas
áreas coloniais, de regimes de trabalho necessariamente compulsórios, semisservis ou propriamente
escravistas. De fato, a possibilidade de utilização do trabalho livre, na realidade mais produtivo e, pois,
mais rentável em economia de mercado, ficava bloqueada na situação colonial pela abundância do
fator terra; seria impossível impedir que os trabalhadores assalariados optassem pela alternativa de se
apropriarem de uma gleba, desenvolvendo atividades de subsistência. Disto resultaria, obviamente,
não uma produção vinculada ao mercado do centro dinâmico metropolitano, mas simplesmente a
transferência de parte da população europeia para áreas ultramarinas, e a constituição de núcleos
autárquicos ou quase autárquicos de economia de subsistência, em absoluta contradição com as ne-
cessidades e estímulos da economia europeia em expansão. É em função dessas determinações que
renasce na época moderna, no mundo colonial, a escravidão e toda uma gama de formas servis e
semisservis de relações de trabalho, precisamente quando na Europa tende a se consolidar a evolução
no sentido contrário, isto é, da difusão cada vez maior do regime assalariado.
Atividades
1. Apresente, de maneira comparada, as características entre os dois modos de produção vividos
pelas sociedades europeias na transição da Idade Média para a Moderna.
2. Que conceito representa a ideia exposta no seguinte trecho, principalmente quanto ao rumo de
que fala o autor?
3. Entre algumas características associadas à economia do café no Brasil, na virada do século XIX
para o século XX, podemos considerar:
a) Trabalho assalariado.
b) Aristocracia arcaica.
c) Escravidão.
d) Monarquia.
Gabarito
1. Feudalismo: politicamente, por pequenos reinos, constituídos de feudos, com poderes autôno-
mos, autoritários e hereditários, vinculados fortemente às estruturas da Igreja Católica; econo-
micamente, por uma produção agrária predominantemente de subsistência, controlada pelos
senhores feudais, proprietários dos meios de produção (terra, ferramentas, insumos), combinada
a algum artesanato e pequeno comércio, sendo os habitantes do feudo a mão de obra, que se su-
bordina com trabalho e impostos às relações servis de produção em troca de moradia e seguran-
ça; socialmente, por uma estrutura que permite pouca ou rara mobilidade social, cujos estamen-
tos (grupos sociais) podem ser divididos entre: servos, camponeses livres, artesãos e pequenos
comerciantes, baixo clero, exército, nobres e alto clero.
Capitalismo: politicamente, por Estados com poder central organizado a partir de uma cadeia de
órgãos e instituições – até o século XVIII predominantemente monárquicos, após, predominante-
mente republicanos – demonstrando a ascensão da participação política de diferentes setores da
população e a redução da influência de religiões oficiais; economicamente, por relações de pro-
dução capitalistas, que preveem a propriedade privada, o lucro a partir da reprodução do capital,
a liberdade e a remuneração em salário, a intensificação da manufatura, do mercado e, a partir do
século XIX, da indústria; socialmente, por uma estrutura que permite, em tese, maior mobilidade
social, cujas classes estão divididas entre capitalistas (proprietários dos meios de produção, bur-
gueses) e trabalhadores assalariados (proprietários da própria força de trabalho, proletariados e
camponeses).
2. Americanismo.
3. A
dos e industrializados, bem como a exportação de suas matérias-primas a baixo custo. Acabar com a
escravidão seria, economicamente, ampliar o mercado consumidor ao incluir milhares de pessoas no
mundo do trabalho remunerado.
Nesse contexto é que se compreende até mesmo o período do século XIX, em que se iniciam mu-
danças na formação da sociedade brasileira, como produto da história e dos interesses das sociedades
capitalistas europeias. Por mais que sejam identificados movimentos políticos, grupos e personalidades
marcantes na sociedade brasileira, que atuaram como insurgentes contra a Coroa portuguesa, a monar-
quia, e a favor do abolicionismo, deve-se creditar às forças externas o papel determinante que tiveram,
por sinal, desde o período do descobrimento.
[...] os fazendeiros paulistas, através do Partido Republicano Paulista, moviam-se por razões claramente econômicas. A
República, sob forma federativa, significava o fim da centralização imperial, a autonomia dos estados e a possibilidade
de impor ao país um sistema que favorecesse o núcleo agrário-exportador em expansão.
mentos e as greves de trabalhadores urbanos, já associados às ideologias dos países capitalistas centrais
importadas pelos imigrantes europeus, como o anarquismo.
Diante do desencontro do governo, da opinião pública e de setores da sociedade civil, os militares
se lançam novamente como agentes possíveis da organização do Estado. Sem maiores consequências
imediatas, a não ser o apoio que alguns de seus personagens dariam à Revolução de 30, o tenentismo
foi, no conjunto de suas manifestações
um movimento político e ideologicamente difuso, de características predominantemente militares, onde as tendências
reformistas autoritárias aparecem em embrião [...]. Na base da pequena vinculação com os meios civis, está um dos tra-
ços essenciais da ideologia tenentista: os tenentes se identificam como responsáveis pela salvação nacional, guardiães
da pureza das instituições republicanas, em nome de um povo inerme. Trata-se de um movimento substitutivo e não
organizativo do povo. (FAUSTO, 1981, p. 112-114)
O modelo de desenvolvimento de JK
Em seguida ao governo de transição que assumiu o poder após a morte de Vargas, Juscelino Ku-
bitschek é eleito em 1955. Toma posse em 1956 e governa até 1960 perseguindo um “Plano de Metas”
cujo slogan apontava a gestão desenvolvimentista que pretendia realizar: “Cinquenta anos em cinco”.
Uma forma otimista de reconhecer o atraso do Brasil.
O desenvolvimentismo de JK combina-se harmonicamente ao cenário externo da economia ca-
pitalista internacional, os chamados Anos Dourados da expansão do capital. A orientação da política
econômica de JK inaugura uma nova fase da industrialização brasileira, na qual associam-se o Estado, a
empresa nacional e o capital estrangeiro. Ao passo que o Estado investia em infraestrutura (construção
de estradas, hidrelétricas e siderúrgicas), também oferecia benefícios fiscais e tributários às empresas,
principalmente a multinacionais que quisessem instalar sua produção no Brasil.
Muitas indústrias multinacionais de bens de consumo duráveis vieram para o Brasil. Emblemá-
tica do período foi a indústria automobilística em São Paulo, um verdadeiro símbolo da modernida-
de. Outro símbolo, de diferente magnitude, foi a construção de Brasília, moderna na sua concepção
e formas.
O retorno da inflação e as críticas de submissão da política de JK ao poder do capitalismo norte-
-americano e do FMI mobilizaram os grupos oposicionistas. Mas é inegável que a política de JK deu
grande impulso ao desenvolvimento econômico do país, ao mesmo tempo em que seu governo foi
responsável pelo agravamento de antigos problemas, como as desigualdades sociais, as diferenças re-
gionais e a defasagem entre setores arcaicos e modernos da economia. Nesse período, a dívida externa
aumentou e o controle da economia pelo capital externo também.
Texto complementar
Brasil em perspectiva
(MOTA, 1984 p. 277-278)
Em todos esses anos tudo se fez sob a hegemonia do Estado que se reivindicava “nacional”.
Nessa afirmação ideológica havia um grão de verdade: o poder de Estado, sua consolidação no
Brasil não significa a hegemonia política direta de nenhuma classe em particular. É certo também
que, sob a égide do novo regime, se processou uma recomposição das classes ao nível do poder,
implicando uma colaboração entre elas. Graças à instabilidade política e econômica em que se
encontravam os grupos dominantes, antes do golpe, o Estado pôde se fortalecer, assumindo, não
obstante, o papel de instrumento de realização de interesses já diferenciados: das oligarquias ru-
rais, quer ligadas à exportação, quer ao mercado interno; da burguesia industrial, que se ia cons-
tituindo e se desenvolveu sob sua proteção. Quanto a esta última, o governo antecipa soluções
econômicas e políticas que objetivamente favoreciam as condições de acumulação capitalistas
do Brasil; desses efeitos, entretanto, permanecem inconscientes seus principais beneficiários, os
industriais em seu conjunto. Porque, tanto a consciência de seus interesses, quanto a sua prática
política – enquanto classe – eram ainda rudimentares. Suas relações com o Estado caracterizavam-
-se por compromissos e expectativas de vantagens individuais; estavam viciadas, também elas, por
um conteúdo paternalista.
Entretanto, se aquela colaboração entre os grupos dominantes foi possível, se, por sua vez,
foi possível ao Estado atender ao mesmo tempo às exigências principais de uns e de outros, isto
não se deve exclusivamente àquela configuração conjuntural, econômica e política. Sua eficácia,
sua razão de ser, é de ordem estrutural. Não havia (e continuou não havendo depois do Esta-
do Novo) antagonismo entre os interesses das oligarquias rurais e da burguesia industrial. Pelo
contrário, as relações entre elas se caracterizavam naquela época por uma solidariedade funda-
mental. A explicação não está na origem social de muitos empresários, ligados por laços de pa-
rentesco, aos grupos oligárquicos: isto seria pouco definir uma compatibilidade de interesses no
sistema capitalista. Na verdade o que os unificava era o fato de que os investimentos na indústria
dependiam da acumulação de capitais na agricultura, canalizados sob a forma de créditos e de
financiamentos, através do sistema bancário, que lhes servia de mediador. Essa “acumulação pri-
mitiva” tinha por pressuposto sociológico a exploração ou a expropriação das populações rurais.
Por isso, o trabalhador do campo, apesar de sua importância numérica e de sua ativa presença
econômica, será a grande figura ausente do Estado Novo, reprimida na consciência coletiva e
excluída da “questão social”. As oligarquias rurais tinham sido forçadas a abdicar de seu poder
político, mas permaneceram intactas as bases sociais e econômicas de sua dominação. Daí, uma
espécie de compromisso tácito entre elas, o governo e a burguesia industrial – satisfeita com a
expansão do mercado interno urbano.
Atividades
1. Apresente dois princípios teóricos do liberalismo econômico.
2. Explique a figura política do coronel e a atuação dele para a ocorrência do voto de cabresto no
panorama da República Velha.
Gabarito
1. O liberalismo econômico pregava a não intervenção do Estado na economia e a livre concorrência.
2. O coronelismo e o voto de cabresto garantiam a eleição dos candidatos das localidades, que re-
passavam poder aos representantes estaduais e ambos dependiam de estar alinhados ao poder
central para receber benefícios políticos e econômicos para suas regiões. A figura do coronel civil
havia sido criada no período regencial do império quando da criação da Guarda Nacional, dando
esse título a proprietários de terra nos quintões do território nacional para representar a força
militar nos lugares onde esta estivesse ausente. O povo local dependia desses proprietários e o
processo de votação aberta facilitava a criação dos chamados currais eleitorais.
3. A
Bille Epoque.
Proclamação da República, na praça da Aclamação – 1889.
O contraste entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno, até então mais visível no panorama
internacional do capitalismo, havia ganhado o interior da sociedade. O que não deixava de ser uma
reprodução de circunstâncias já vividas pelos países de capitalismo central, mas que, diferente destes,
traziam as consequências da relação de dependência inscrita na lógica da expansão do capitalismo
em direção às periferias. No entanto, cabe ressaltar aqui a percepção, que não se deve esquecer, so-
bre a formação da sociedade brasileira, uma vez que esta sempre esteve vinculada a fatores externos
que a submetem à história e à atuação das sociedades europeias e também, a partir do século XIX, da
norte-americana.
nove; a Alemanha conquistou mais de dois milhões e meio; a Bélgica e a Itália, pouco menos que essa extensão cada
uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha; o Japão, algo em torno da mesma quantida-
de, à custa da China, da Rússia e da Coreia. As antigas colônias africanas de Portugal foram ampliadas em cerca de 750
mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar
alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara ocidental.
No início do século XX, enquanto o capitalismo liberal estava em crise frente ao fenômeno do
“imperialismo” – que conjugou a formação de monopólios –, a presença do capital financeiro e a atu-
ação externa dos governos deparam-se com os conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); o
socialismo iniciava sua ascensão política e concreta conquistando o poder de um Estado com a Re-
volução Russa (1917). No mesmo contexto, nascem as ideologias nazifascistas, cujos elementos eram
o nacionalismo e o totalitarismo. Diante da crise liberal, que perdia espaço no mundo para as novas
alternativas ideológicas, visto que sociedades inteiras estavam se organizando a partir delas (Alema-
nha nazista, Itália fascista e Rússia socialista), os países capitalistas começavam a redirecionar suas po-
líticas econômicas com vistas a promover maiores benefícios sociais, adotando um modelo de Estado
chamado de bem-estar social (welfare state). O modelo de bem-estar social preconizava a criação de
mecanismos de amortecimento do choque que o capitalismo provocava nas classes subalternas com
suas práticas liberais de livre concorrência e ausência de interferência do Estado. Dessa forma, as elites
econômicas e políticas desses países manteriam seu capitalismo, porém, em bases que atendessem
aos anseios das classes assalariadas. Além de direitos trabalhistas, que essas classes já vinham conquis-
tando lentamente, o Estado de bem-estar social criava instituições de previdência, saúde, educação
e controle das relações de mercado. Nesse instante, a ideologia que guiará esses Estados capitalistas
será a social-democracia e não mais o liberalismo.
Quando termina a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que foi uma extensão da Primeira Guerra
e de seus motivos de controle territorial e de mercados – só que dessa vez visivelmente associados ao
conflito de ideologias –, os nazifascistas são derrotados e os capitalistas, representados pelos Estados Uni-
dos da América (EUA), e os socialistas, representados pela União Soviética (URSS), passam a medir forças e
desempenhos, creditando suas qualidades às ideologias e modos de produção adotados por cada um.
Os EUA, aproveitando os estragos da guerra em solo europeu e a preservação do seu parque
industrial já bem desenvolvido, ampliou suas ações políticas de boa vizinhança, que o país promovia
desde o final do século XIX com os países do continente americano, fortalecidas, então, pelo New Deal
(Novo Acordo), plano de ações adotado em 1933 para superação da crise provocada pela quebra da Bol-
sa de Nova York (1929). Os EUA assumiram, imediatamente, papel decisivo para o apoio e recuperação
dos países capitalistas europeus e, até mesmo, do derrotado Japão.
A URSS, por sua vez, passou a estimular ou servir de exemplo, para sociedades em vias de revolu-
ção, de poderio e desenvolvimento alcançado por uma economia planificada (e não de mercado), onde os
meios de produção são estatais (e não privados) e não há divisão de classes sociais (pelo menos em tese,
ao invés de burguesia e proletariado). Estendeu seus domínios sobre a Ásia e o Leste Europeu, em seguida
sobre a América Latina e a África, liderando o bloco dos países que adotaram o socialismo.
A geopolítica internacional após 1945 estava organizada em virtude de dois blocos: o dos países
capitalistas (divididos entre desenvolvidos e subdesenvolvidos, no que se convencionou chamar pri-
meiro e terceiro mundos) e países socialistas (identificados como segundo mundo).
Foi nesse novo contexto internacional que o Brasil movimentou-se obtendo os resultados ante-
riormente descritos até o início da década de 1960, e continuou sua trajetória sendo afetado, também
diretamente, pelo cenário de acirramento da disputa entre os dois blocos geopolíticos, no período que
passava a ser denominado de “Guerra Fria”.
Wikipédia.
A despeito das manobras políticas, que fizeram o Brasil adotar o sistema parlamentarista por dois
anos (1961-1963) e retornar ao presidencialismo, João Goulart assumiu o governo recebendo o apoio
dos trabalhadores, dos estudantes e intelectuais, mas contrariando interesses e valores de militares,
proprietários rurais e burguesia. Isso porque vinha adotando medidas como: reforma agrária, ampliação
das vagas em universidades públicas, reforma eleitoral, monopolização do petróleo, nacionalização de
refinarias e controle da remessa de lucros das empresas multinacionais.
Tais medidas, no cenário da Guerra Fria, provocaram a leitura de que João Goulart representava
a ameaça socialista no Brasil e, por conseguinte, na América Latina. A reação interna capitaneada pelas
Forças Armadas, que desfecham um Golpe de Estado em 1.º de abril de 1964, tem o apoio dos EUA,
cuja postura será a mesma para qualquer país, principalmente das Américas, para prevenir o avanço do
bloco socialista no mundo.
A partir daí, inicia-se um período de governos militares ditatoriais, afastando, por 21 anos, a pos-
sibilidade de construção, em bases democráticas, da República brasileira, que, além de nova, havia ex-
perimentado até aquele momento poucos governos civis e, menos ainda, democráticos.
Para o sociólogo Octávio Ianni (1975, p. 206-207), esse é o limiar entre duas épocas da política
brasileira:
O populismo brasileiro surge sob o comando de Vargas e os políticos a ele associados. Desde 1930, pouco a pouco, vai
se estruturando esse novo movimento político. Ao lado das medidas concretas, desenvolveu-se a ideologia e a lingua-
gem do populismo. Ao mesmo tempo em que os governantes atendem a uma parte das reivindicações do proletariado
urbano, vão se elaborando as instituições e os símbolos populistas. Pouco a pouco, formaliza-se o mercado de força
de trabalho, no mundo urbano-industrial em expansão. Ao mesmo tempo as massas passam a desempenhar papéis
políticos reais, ainda que secundários. Assim, pode-se afirmar que a entrada das massas no quadro das estruturas de
poder é legitimada por intermédio dos movimentos populistas. Inicialmente, este populismo é exclusivamente getulis-
ta. Depois, adquire [sic] outras conotações e, também, denominações. Borguismo [sic], queremismo, juscelinismo, jan-
guismo e trabalhismo são algumas das modulações do populismo brasileiro. No conjunto, entretanto, trata-se de uma
política de massas específica de uma etapa das transformações econômico-sociais e políticas no Brasil. Trata-se de um
movimento político, antes do que um partido político. Corresponde a uma parte fundamental das manifestações po-
líticas que ocorrem numa fase determinada das transformações verificadas nos setores industrial e, em menor escala,
agrário. Além disto, está em relação dinâmica com a urbanização e os desenvolvimentos do setor terciário da economia
brasileira. Mais ainda, o populismo está relacionado tanto como consumo em massa como o aparecimento da cultura
de massa. Em poucas palavras, o populismo brasileiro é a forma política assumida pela sociedade de massas no país.
lando os temidos movimentos sociais e políticos cujas vinculações ideológicas poderiam, por
via das dúvidas, inclinar-se às revoluções socialistas (como foram os casos de Brasil, Uruguai,
Chile, Argentina, Nicarágua, entre outros).
A permanência do governo militar pela sucessão de cinco presidentes no decorrer de 21 anos foi
acompanhada pelas disputas e visões internas dos setores moderados e radicais das Forças Armadas.
Além da avaliação que estes faziam de seu papel à frente do governo, eram fatores incidentes nesse
cenário a ação dos interesses do capitalismo internacional e as movimentações políticas e sociais de
setores civis organizados que resistiam à ditadura, denunciando sua violência e exigindo o retorno à
democracia.
Ainda no primeiro governo, de Marechal Castello Branco (1964-1967), considerado do setor mo-
derado entre os militares, havia a expectativa de que ao seu término ocorresse o retorno ao Estado de
Direito e as eleições de um governo civil. Mas o fato é que isso não só não ocorreu como também a
sucessão de governo se deu na direção da linha mais dura e radical dos militares, cujo representante foi
o Marechal Costa e Silva (1967-1969), seguido pelo General Emílio Garrastazu Médici (1969-1974).
Foi o AI-5, também, que estabeleceu o cerceamento à liberdade de expressão por meio da cen-
sura sistemática nos meios de comunicação. O governo colocava agentes censores nas redações dos
jornais ou recebia, previamente, os originais de revistas, jornais, livros ou programas de televisão para
avaliar se o conteúdo apresentava informações subversivas à ordem militar. Dessa forma, originais ti-
nham trechos extraídos, suprimidos ou mesmo eram proibidos integralmente de ir a público.
Tal violência por parte do governo, que perseguia e vedava a liberdade, provocou reações diversas
entre seus opositores: muitos se calaram, outros se exilaram no exterior e tantos outros, adotando uma
postura proporcionalmente agressiva, começaram a viver na clandestinidade, organizando ações sistemá-
ticas de combate ao governo. Estes últimos, em sua maioria estudantes, trabalhadores e políticos, eram
militantes de partidos ou grupos políticos ideologicamente identificados com os princípios do socialismo
e suas diferentes correntes: Ação Libertadora Nacional (ALN); Ação Popular (AP); Movimento Revolucioná-
rio 8 de Outubro (MR8); Vanguarda Popular Revolucionária (VPR); o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
Incentivados pela história de revoluções socialistas pelas armas, sendo a de Cuba a mais recente e próxima
geograficamente, esses militantes lançaram-se à luta armada como forma de derrubar o governo militar.
Dessa forma, executavam assaltos a bancos para financiar a “guerrilha urbana” e planejavam sequestros de
autoridades para forçar o governo a ceder posições, como foi o caso do embaixador americano feito refém
para a libertação de presos políticos. Nesse desigual embate de forças, em que os mais fracos acreditavam
no apoio da população (mas que não aconteceu), a violência do governo, que prendia sem mandato judi-
cial e praticava tortura nas cadeias, criou a figura dos desaparecidos políticos.
Evandro Teixeira.
que deveria ocorrer em 1985. Pressionando o Congresso para que fosse aprovado o projeto de lei que
instituía a eleição direta, já para o ano seguinte, a população brasileira realizou, em 1984, vários atos
públicos cuja dimensão e caráter nacional fizeram destes a maior manifestação de cidadania de toda a
história brasileira até aquele momento.
Sem o êxito pretendido, a eleição confirma-se como indireta e o Colégio Eleitoral elege, em janei-
ro de 1985, da chapa da Aliança Democrática, Tancredo Neves e José Sarney, derrotando o candidato
do PDS e dos militares, Paulo Maluf. O regime militar está derrotado e, depois de 21 anos, o Brasil possui
um presidente civil.
Texto complementar
Desenvolvimento e crise no Brasil
(BRESSER PEREIRA, 1972, p. 225–227)
Estavam assim estabelecidas as bases do modelo de desenvolvimento tecnoburocrático capi-
talista para o Brasil. Este modelo baseia-se no grande governo tecnoburocrático e na grande em-
presa capitalista. O grande governo tecnoburocrático controla diretamente uma imensa parcela da
economia nacional, planeja o desenvolvimento, estabelece a política fiscal, monetária, financeira,
salarial, habitacional e intervém diretamente na economia capitalista através das grandes empre-
sas públicas. A grande empresa capitalista e a grande empresa pública incumbem-se da produção.
Adotam uma tecnologia moderna, recebem estímulos fiscais e creditícios do governo, captam a
grande parte da poupança nacional através da obtenção de grandes lucros e, secundariamente, do
recurso do mercado de capitais. [...]
Grande governo tecnoburocrático e grande empresa capitalista complementam-se. O grande
governo, além de controlar a economia em geral, produz energia elétrica, transportes, aço, petró-
leo, comunicações. A grande empresa capitalista, principalmente a internacional, controla, por sua
vez, a indústria de transformação, particularmente a indústria automobilística, a indústria de bens
de capital, a indústria de bens duráveis de consumo, a indústria eletrônica, a petroquímica. Em re-
lação a esta última, e também em relação à mineração e ao setor financeiro internacional, a aliança
entre o governo e o capitalismo internacional torna-se explícita, através de acordos firmados pela
subsidiária no Brasil. Continuavam também a existir grupos, como é o caso do café solúvel, que, por
não terem tido oportunidade de se estabelecer no Brasil, opunham-se à nossa industrialização. “De um
modo geral, porém, o capitalismo internacional passou a interessar-se diretamente na industrialização
brasileira, na medida em que isto significava excelentes possibilidades de lucros e de acumulação de
capital”.
Atividades
1. Por que podemos considerar as políticas econômicas dos governos de Vargas e JK como as mais
significativas e responsáveis, até a década de 1960, em relação ao desenvolvimento do país?
Gabarito
1. Foram as políticas econômicas mais sistematizadas e efetivas, no sentido de avançar o capitalis-
mo industrial brasileiro, em comparação aos outros governos. Além de terem declarado a explí-
cita intenção de promover, com seus planos, a infraestrutura para a cadeia produtiva, também
elaboraram novos elementos para a estruturação do Estado em bases mais modernas, fazendo,
cada um ao seu modo, o uso direto ou indireto do aparelho estatal para alavancar a economia e
preparar a sociedade.
2. Ocorre a geopolítica bipolar entre dois blocos cujos modelos são distintos e representados pelos
EUA capitalista e pela URSS socialista.
A URSS, por sua vez, passou a estimular ou servir de exemplo, para sociedades em vias de revolu-
ção, de poderio e desenvolvimento alcançado por uma economia planificada (e não de mercado),
onde os meios de produção são estatais (e não privados) e não há divisão de classes sociais (pelo
menos em tese, ao invés de burguesia e proletariado). Estendeu seus domínios sobre a Ásia e o
Leste Europeu, em seguida sobre América Latina e a África, liderando o bloco dos países que ado-
taram o socialismo.
Armadas pelos países do bloco capitalista, em plena Guerra Fria, insufladas de perto pelos EUA para
efetuar golpes de Estado, prevenindo ou debelando os temidos movimentos sociais e políticos cujas
vinculações ideológicas poderiam, por via das dúvidas, inclinar-se às revoluções socialistas (como
foram os casos de Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Nicarágua, entre outros).
A cidadania moderna
Certamente, a palavra cidadania não é nova para você e é bem provável que saiba o que significa.
Afinal, quando você vota, ou é votado, paga seus impostos, reclama por melhores condições de saúde e
educação, você está exercendo a cidadania. Mas quando será que surgiu o conceito de cidadania?
A cidadania como conhecemos, seus conceitos e suas práticas, inicia sua gestação a partir de três
movimentos históricos:
::: a Revolução Inglesa, do século XVIII;
::: a guerra de Independência dos Estados Unidos da América do Norte, no século XVIII;
::: a Revolução Francesa, também no século XVIII.
Esses movimentos trouxeram, cada um à sua maneira, obedecendo a motivações peculiares, uma
nova concepção de mundo, mesclada a suas construções pessoais. Os ideais desses movimentos sacu-
diram o mundo e criaram um ambiente marcado por rupturas, transformações e permanências.
Ao analisarmos as motivações, veremos que em comum existia a preocupação com o indivíduo,
com a definição de direitos e deveres.
A Revolução Inglesa; inspirada principalmente pelo pensamento de John Locke, traz a ideia de
que o poder dos reis era concedido pelo povo, com a finalidade exclusiva de protegê-los e de cuidar de
seus interesses; se o rei não cumprisse com sua missão, caberia ao povo destituí-lo. O pensamento de
Locke legitimou a reação contra os abusos dos nobres, que tinham a seu favor o apoio da Igreja Católica,
* Graduado e Licenciado em História pela Universidade Veiga de Almeida (2005).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
44 | Cidadania moderna e movimentos sociais
baseada em uma interpretação bíblica que tornava o poder e as atitudes dos nobres inquestionáveis.
A vitória do pensamento liberal de Locke representou uma redefinição das ideias de poder e a quem
esse poder estaria submisso. A figura do rei continuava a existir na Inglaterra, porém agora este devia
obediência ao povo, materializado na figura do Parlamento.
As mudanças ocorridas na Inglaterra, a partir da revolução, foram fantásticas e representaram
avanço nas relações sociais; a instituição do habeas corpus, presente em grande parte das sociedades
atuais, é um grande marco desses avanços. Infelizmente, os problemas agrários e a intolerância religiosa
continuaram a existir e a provocar miséria e exclusão social.
A independência norte-americana, ideologicamente, é filha das ideias dos revolucionários in-
gleses e do pensamento iluminista, principalmente dos autores franceses. Nasce de uma insatisfação
contra uma série de medidas econômicas tomadas pelo governo inglês, que tinha como objetivo criar
mecanismos de exploração e controle da colônia e criar um monopólio comercial que impossibilitas-
se os colonos de realizarem livre-comércio, obrigando-os a comerciar única e exclusivamente com os
comerciantes ingleses, prática que seria prejudicial aos colonos, pois seriam obrigados a vender seus
produtos por preços baixos e a comprar as mercadorias inglesas a preços altíssimos.
Imaginem se essa situação poderia permanecer assim por muito tempo! É claro que começaram
a surgir reações contrárias a esse tipo de exploração. Os primeiros protestos são marcados por reivindi-
cações contra o aumento de impostos e o boicote dos produtos ingleses. O Parlamento é formado por
nobres e por grandes comerciantes, representando o interesse dos comerciantes que querem fazer da
colônia um mercado aberto a seus produtos e da nobreza uma classe desejosa de mais impostos para
os cofres da Coroa britânica. Com o acirramento dos problemas, os colonos que não tinham represen-
tantes no Parlamento inglês passam a exigir a presença de um representante das Treze Colônias da
América do Norte. As ideias de John Locke, de que o governo tem de defender a população e seus inte-
resses, serão divulgados grandemente entre a população da colônia; o slogan “Só pode existir taxação
com representação!” se tornará vulgar entre os colonos. As ideias que legitimaram a luta por direitos na
Inglaterra agora são reivindicadas por uma população colonial explorada e espoliada pelo julgo inglês.
Se um homem ou um grupo arrogarem para si a elaboração de leis sem que o povo os tenha eleito para tanto, serão
leis sem autoridade, a que o povo, em consequência, não está obrigado a obedecer. Em tais condições, o povo estará
novamente desvinculado da sujeição, podendo constituir novo legislativo ao modo que julgar melhor, tendo inclusive
toda liberdade de resistir à força aos que, sem autoridade, quiserem impor-lhe seja lá o que for. (LOCKE, 2002, p.145)
No dia 2 de julho de 1776, um congresso realizado na cidade da Filadélfia decide pela sepa-
ração e forma uma comissão para redigir a Declaração da Independência. Após dois dias, no dia 4
de julho, a declaração fica pronta. A partir da declaração, tem início uma guerra cruel e sanguinária
tocada pela Inglaterra contra suas ex-colônias. Com a vitória dos colonos, comandados pelo general
George Washington, surgia na América uma forma política inédita até aquele momento no continente,
uma República presidencialista, com uma constituição que tinha como principal finalidade a proteção
da propriedade e do indivíduo.
Assim, pelo que você leu até aqui deve estar pensando que o povo norte-americano, com a cons-
tituição, teria seus direitos de cidadão reconhecidos, pena que a nova realidade norte-americana, por
mais avanços que tenha trazido em seu processo, não contemplou um grande número de habitantes
de seu território, a escravidão dos negros continuou a existir, as mulheres e os índios também foram
excluídos da participação nas decisões do novo país.
A Revolução Francesa teve influência direta da guerra de Independência norte-americana, uma
vez que os soldados franceses lutaram com os colonos contra a Inglaterra e ao voltarem para a França
levaram junto com suas histórias de combates, a visão materializada das ideias iluministas, postas em
prática no país que ajudaram a libertar.
A Revolução Francesa pode ser considerada o marco da vitória do capitalismo e do estabeleci-
mento da democracia. A vitória dos revolucionários franceses fez com que o mundo passasse a respirar
novos ares.
A França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A
França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos le-
gais, o modelo de organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia
do mundo moderno atingiu, pela influência francesa, as antigas civilizações que até então resistiam às ideias europeias.
(HOBSBAWM, 1996, p. 122)
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 declarava que todos os homens nas-
cem livres e iguais em direitos e que a única fonte de poder é o próprio povo. A partir daí, entre a humani-
dade não pode mais haver nem escravos, nem servos, nem justiça especial para nobres, nem torturas;
ninguém poderá ser perseguido por suas opiniões ou credo religioso; todos os acusados terão direito
à ampla defesa; qualquer pessoa desde que capacitado poderá ocupar cargos públicos. A declaração
francesa se tornou a base para todos os ideais de cidadania em todo o mundo.
Agora, você já deve estar desconfiando de que também os ideais da Revolução Francesa não
conseguiram atingir a todos. E se você pensou assim, está totalmente correto.
A Revolução Francesa teve avanços e retrocessos ao longo de seu processo, porém, tanto a Revo-
lução Inglesa como a independência norte-americana são movimentos que trouxeram melhorias ime-
diatas para a população pobre de seu território. A escravidão foi abolida na França, mas permitida nas
colônias francesas.
O fato é que esses movimentos foram responsáveis pelo surgimento da ideia e dos conceitos que
se tornaram referências na construção e nas práticas de cidadania nas sociedades atuais.
Já vimos como a ideia de cidadania nasceu e quais movimentos foram responsáveis por fazer
com que o indivíduo fosse respeitado. E no Brasil? Como a cidadania é exercida ou reclamada pelo
povo brasileiro?
Nosso país é uma jovem democracia, fato que nos tem gerado grandes dificuldades. Sofremos
com as acusações de sermos um povo sem memória, um povo que não sabe votar, um povo que só se
mobiliza para festejos. A maioria da população não consegue perceber que nossos problemas provêm
da falta de costume de exercer e exigir nossos direitos básicos. Nosso país nunca viveu um período mí-
nimo de 50 anos de democracia, ou melhor dizendo, não temos uma cultura democrática desenvolvida
em nossa sociedade. Uma boa cidadania está diretamente ligada a um eficiente sistema democrático.
O fato de estarmos engatinhando como democracia não nos liberta do dever e da responsabili-
dade de construirmos um país mais humano, sem preconceitos, sejam eles de quaisquer origens.
Se olharmos detalhadamente para a história do nosso país, descobriremos uma realidade de
brutalidade e desmandos; junte-se a isso uma tradição messiânica de grande parte da população que
ao invés de tentar resolver seus problemas vivem a esperar de alguém que os resolva ou que assuma
seus erros.
Observemos mais atentamente a questão da cidadania e de seus mecanismos de funcionamento,
ou seja, cidadania exige o conhecimento e o gozo de direitos e deveres, cidadania se aperfeiçoa na prá-
tica democrática e cotidiana; logo se percebe que o sistema de governo propício para que um cidadão
exerça uma cidadania plena é a democracia.
A problemática que se apresenta quando tentamos analisar o processo de cidadania no Brasil
encontra-se no fato de que é um processo ainda em curso. O complicador na compreensão do que é
cidadania reside no fato de sermos concomitantemente sujeito e objeto no processo que tem como
objetivo o aprimoramento dos aparelhos democráticos que visam abarcar um grupo cada vez maior de
brasileiros que ainda não são contemplados com os direitos e deveres de uma cidadania plena.
No conceito clássico, desenvolvido por T. A. Marshall, que, ao analisar a cidadania na sociedade
inglesa, conclui que a cidadania nasce da junção dos direitos civis, políticos e sociais, e que cidadão é
todo aquele que usufrui desses direitos. Segundo o autor, o processo de formação é lento e obedece a
uma sequência lógica, que tem início com os direitos civis, depois os políticos e por último os sociais.
Esse modelo ocorreria dessa forma em todas as sociedades.
Atentemos, portanto, para um processo que se inicia há mais ou menos 300 anos, que tem uma
dinâmica que obedece às particularidades de cada sociedade onde ocorre, o que impossibilita o de-
senvolvimento de um modelo único de cidadania para as diversas sociedades; da mesma forma não se
pode pleitear o esgotamento do debate sobre o assunto. A cada dia surge uma gama de novas deman-
das mundiais e fatores a serem incorporados, o que nos obriga a fazer uma releitura quase que cotidiana
do processo que convencionamos chamar de cidadania.
Os militares deixaram como herança um país endividado tanto no âmbito externo quanto no in-
terno, uma inflação galopante e recessão, altas taxas de desemprego, mortalidade e desnutrição infantil,
uma economia incapaz de suprir as demandas da sociedade brasileira, aprofundamento das desigualdades
regionais e sociais, concentração da renda dos mais ricos, os movimentos estudantis e classistas – com raras
exceções – quase aniquilados, uma máquina administrativa despreparada para atender às reivindicações
da população e uma população desacostumada a cobrar seus direitos junto às autoridades competentes.
O governo civil que os sucedeu, na expectativa de dominar o processo inflacionário, tomou medi-
das duras que causaram mais desemprego e recessão; mais uma vez o povo pagou a conta das péssimas
administrações do país. O sonho da democracia logo daria lugar à desilusão e à desesperança, a demo-
cracia não trouxe a solução tão esperada para os problemas estruturais vividos pelo país. De positivo,
esse período representou o ressurgimento ou a revitalização de inúmeros segmentos de representação
social, que tinham sido sufocados ou funcionavam precariamente vigiados pelos serviços de vigilância
dos governos militares.
Conforme o tempo passa, a crise econômica ganha contornos mais alarmantes; a reação da po-
pulação vai se tornando paulatinamente mais organizada, seja através dos sindicatos, das centrais sindi-
cais, das associações de moradores, movimento dos sem-terra, sem-teto, movimentos de cunho racial,
de gênero, orientação sexual. Todos os grupos se fazem representar e exigem do governo e da socieda-
de brasileira o reconhecimento de sua existência e da legitimidade de suas reivindicações.
O sistema democrático instaurado no Brasil foi incapaz de inserir, na condição de cidadãos, sua
população pobre que continuou abandonada e sem condições de utilizar os serviços públicos.
A Constituição de 1988, batizada como Cidadã, traz inúmeros artigos que demonstram a preocu-
pação com os direitos civis e sociais (liberdade de expressão; privacidade garantida; inviolabilidade do
domicílio, da correspondência e das comunicações; a proibição de prisão sem decisão judicial e direito
de voto para analfabetos). Produto da ação e da luta dos diversos grupos sociais e de um período de
acirrada luta entre os vários grupos políticos do país.
financiar vários conflitos pelo mundo (Guerra das Coreias, Vietnã, Camboja, Etiópia, Afeganistão etc.).
Agora que já sabemos o que é Guerra Fria, é o momento de conhecermos a ideologia de cada um dos
países envolvidos.
Os norte-americanos comandavam o bloco capitalista, defendiam a ideologia da garantia das
liberdades individuais, da proteção da propriedade e de uma economia de mercado, sem interferência
do governo.
Os soviéticos comandavam o bloco socialista, levaram para o mundo uma ideologia de revolução
popular contra a exploração burguesa, de sociedades igualitárias, fim da propriedade privada e de uma
produção voltada para suprir as necessidades da população, sem buscar o lucro.
Com o fim da Guerra Fria, a divisão de poder, que até aquele momento era bipolar, passou a ser
unilateral, com a crise que se abateu sobre a União Soviética que levou o secretário-geral do Partido
Comunista Russo, Mikahil Gorbatchev, a dissolver a União Soviética, após uma tentativa de golpe dada
por comunistas da linha dura do PC russo. A reação ao golpe foi comandada pelo presidente da Rússia,
Boris Yeltsin, apoiado pela população de Moscou.
Os Estados Unidos, a partir daí, tornaram-se a única potência do mundo; um discurso proferido
por George Bush em 1991 anuncia ao mundo uma “nova ordem mundial”. Segundo o presidente
norte-americano, esta seria formada por um mundo sem barreiras, voltado para o bem comum da
humanidade. Com o fim da União Soviética, desaparece a ameaça das revoluções proletárias (revoluções
de trabalhadores) e os norte-americanos tratam de estabelecer uma nova dinâmica para o mundo; na
verdade o projeto já vinha sendo tocado pela primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher e pelo
presidente norte-americano Ronald Reagan, de quem George Bush havia sido vice-presidente.
Coube a Margareth Thatcher, na Inglaterra (a partir de 1979), e Ronald Reagan, nos Estados Unidos (a partir de 1981),
a organização e exercício de políticas chamadas de desmonte do Estado de Bem-Estar Social. A argumentação de am-
bos os governantes baseava-se largamente nas ideias de economistas liberais (como Fridrich Rajek e Milton Fridman)
que postulavam uma imediata diminuição dos impostos. O grande volume de impostos existentes, necessários para
financiar o chamado Estado do Bem-Estar Social (saúde, educação, seguro-desemprego etc.) seriam a origem da de-
pressão econômica então vigente e, consequentemente, do desemprego. “Quanto menos impostos, mais empregos...”,
raciocinavam políticos e economistas liberais. Obviamente os anteparos sociais existentes, a segurança e a garantia do
trabalho, deveriam ser anulados, retirando dos empresários o ônus dos diversos impostos decorrentes das estruturas
de amparo do Estado Providência. Alguns organismos econômicos e financeiros mundiais, como o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional, FMI, passaram a adotar tal receituário como tendo valor igual para todos, fosse o Méxi-
co, a Rússia ou a Indonésia. (SILVA, 1990, p. 35)
A nova face da economia mundial atende pelo nome de neoliberalismo, que seria um retorno ao
liberalismo econômico. Seus três objetivos principais são:
::: desmonte do Estado de “Bem-Estar Social”, dos países ricos, criado com a finalidade de dar melhores
condições de vida aos operários do mundo capitalista; dessa forma acreditava poder anular uma
possível influência comunista e o perigo de uma revolução dentro dos países capitalistas; todos os
direitos conquistados pelos trabalhadores, a previdência social, os salários, os sistemas de saúde, os
sistemas de educação, são colocados como despesas que precisam ser cortadas para baixar o custo
da produção e aumentar o lucro dos burgueses e capitalizar a economia dos países;
::: redução da participação do Estado na vida econômica dos países, feita através de um progra-
ma de desestatização com a venda para a iniciativa privada e grupos transnacionais, inclusive
de empresas e recursos considerados estratégicos;
::: abertura das economias em desenvolvimento para os produtos dos países desenvolvidos, e
fim das barreiras alfandegárias, o que possibilitaria a livre circulação das mercadorias pelos
diversos países.
Os países em desenvolvimento cumpriram as orientações dadas pelos norte-americanos e entra-
ram num processo de venda de todo seu patrimônio público, conquistado pela luta de várias gerações
de trabalhadores. O Brasil foi um desses países.
Ao final da liquidação de seus patrimônios, continuaram endividados e sem ter como investir em
seu crescimento e desenvolvimento. Os países em desenvolvimento não tiveram outra opção a não ser
a de contrair empréstimos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, uma tentati-
va desesperada de reerguer suas economias. Orientados pela política norte-americana, os organismos
financeiros, além das exigências normais para concessão de empréstimos, passam a exigir o detalha-
mento do destino que será dado ao dinheiro. Estipulam também condições e metas de crescimento
econômico para obtenção e negociação dos empréstimos já em vigor.
Com a nova ordem mundial, o conceito de Estado-nação fundamentado na autodeterminação
dos povos e da autonomia dos países entra em colapso; na nova conjuntura não são os governos na-
cionais que decidem a forma de desenvolvimento de seus países. O destino de milhões de pessoas
que vivem nos países em desenvolvimento passa a ser decido por especuladores e financistas de Wall
Street, com o corte dos recursos destinados à educação, à saúde, ao sistema de previdência e à criação
de empregos, fazendo com que a recessão avance e mostre a verdadeira face do sistema neoliberal; o
aumento nas reservas dos países ricos; a derrocada das economias; o aumento da violência, das diferen-
ças sociais, da criminalidade, da destruição da família nos países pobres.
Os países perdem sua capacidade de investimento e não têm como resolver seus problemas so-
ciais que crescem dia após dia. O contingente de excluídos nos países em desenvolvimento não para
de crescer.
Infelizmente, o Brasil é o exemplo clássico dessa situação, mesmo quando busca corrigir suas
desigualdades, através da criação de leis baseadas no que se convencionou chamar “ações afirmati-
vas”, que visam corrigir o tratamento desigual que a sociedade impõe a alguns grupos (negros, mu-
lheres e deficiente físicos) e têm nas cotas o seu mecanismo de funcionamento. Além dessas ações,
o governo brasileiro criou os estatutos que contêm legislação específica, voltadas para a proteção
das crianças, dos jovens, dos idosos. Mesmo desenvolvendo políticas de “descriminação positiva”, o
governo não tem dado conta da demanda social. A cidadania e os acessos aos serviços básicos conti-
nuam sendo alvo de políticos assistencialistas ou artigo de difícil acesso para as camadas mais pobres
da população.
Os anos 1980 são fundamentais para a compreensão da construção da cidadania dos pobres no Brasil, em novos parâ-
metros. Embora com o estatuto de cidadãos de segunda categoria, os pobres saíram do submundo e vieram à luz como
cidadãos dotados de direitos – direitos estes que são inscritos na Constituição, mas, usualmente, negados ou ignorados na
prática. Assistiu-se ainda ao acirramento da crise econômica ao final da década, com as políticas neoliberais de privatiza-
ções e desativação da atuação do Estado em áreas sociais, e o desencanto que as massas em geral sentiram, com os novos
governos que elegeram tanto os de direita (Collor e seus escândalos financeiros) como os de esquerda [...]. A década de
1980, cognominada como a década perdida em termos econômicos, mas altamente positiva tanto política como cultural-
mente, findou-se com um quadro desanimador: a desmobilização e descrença das massas. [...]. (Gohn, 2001, p. 126–127)
Nesse contexto, não é difícil entender o processo brasileiro, em que uma economia é voltada para
cumprir metas estipuladas pelo mercado, enquanto a população brasileira se acotovela num sistema
de “salve-se quem puder”, desenvolveu-se no país um sistema hierarquizado de cidadania, ou, como
preferem alguns, de cidadania possível, que seria a cidadania prevista para alguns setores da sociedade,
representados por pobres, negros, nordestinos, favelados e indigentes.
PRÓ-CENTRAL), o surgimento de inúmeros movimentos sociais em todo território nacional, abrangendo diversas e di-
ferentes temáticas e problemáticas, como das mulheres, negros, crianças, meio ambiente, saúde, transportes, moradia,
estudantes, idosos, aposentados, desempregados, ambulantes, escolas, creches etc. Todos, em seu conjunto, revela-
vam a face de sujeitos até então ocultos ou com vozes sufocadas nas ultimas décadas [...]. (GOHN, 2001, p. 126)
Os primeiros anos da década de 1990 são marcados por grande efervescência dos movimentos
sociais. O setor público de educação e saúde param em vários estados, suas reivindicações por melhores
salários e condições de trabalho e a intransigência dos governos prejudicam milhares de alunos que
perdem aulas e seu ano letivo.
Nesse período ocorre a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o surgimen-
to dos movimentos pela ética na política e dos caras pintadas, de suma importância no processo de
impeachment do presidente Collor; movimentos ecológicos; regulamentação das ONGs (Organizações
Não Governamentais); criação de delegacias especializadas para mulheres e crimes raciais; Movimento
Ação da Cidadania, contra a fome e pela vida, criado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho; movi-
mentos populares contra o sucateamento do Estado, provocado pela vendas das empresas estatais; e o
plebiscito sobre regime e forma de governo.
O fim da União Soviética levou à derrocada o modelo socialista, o que favoreceu a vitória e o forta-
lecimento do modelo econômico neoliberal. As reformas propostas dos economistas liberais criaram no
mundo uma situação de extrema insegurança para os trabalhadores, que viram suas conquistas serem
tiradas uma após outra, em nome da flexibilização, cujo objetivo era diminuir os custos da produção e,
dessa maneira, aumentar o lucro dos empresários. A recessão provocada pelo neoliberalismo teve im-
pacto direto nos movimentos sociais, que tiveram que redirecionar o foco de suas reivindicações; não
existe mais a preocupação de reposição de perdas salariais, a luta agora tem como objetivo a manuten-
ção dos postos de trabalho.
Texto complementar
Afinal, o que é ser cidadão?
(PINSKY, 2003, p. 9-10)
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em re-
sumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos
políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles
que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao
salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos
e sociais. [...]
Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu
sentido varia no tempo e no espaço. É muito diferente ser cidadão na Alemanha, nos Estados Unidos
ou no Brasil (para não falar dos países em que a palavra é tabu), não apenas pelas regras que define
quem é ou não titular da cidadania (por direito territorial ou de sangue), mas também pelos direitos
Atividades
1. Quais são os marcos históricos de formação do processo de surgimento de cidadania?
3. A partir de 1985, tem início um período que ficou conhecido, na História do Brasil, como “Nova
República”: chegava ao fim uma ditadura militar que durou mais de 20 anos, o Brasil voltava a ser
uma República democrática. É correto afirmar que a nova realidade do país trouxe junto com a
democracia a cidadania para todo o povo brasileiro?
Gabarito
1. Independência dos Estados Unidos da América e Revolução Francesa.
2. Para o autor, a cidadania resulta de um processo histórico de lutas que ocorreu, a partir do século
XVIII, de variadas formas nas diversas sociedades ocidentais. Lutas que buscavam a proteção dos
indivíduos, da propriedade e da participação da população nas decisões do governo em todas
as esferas. Cidadania, essencialmente, mais que o usufruto de direitos civis, políticos e sociais,
é um processo que exige participação dos habitantes de determinada sociedade, e somente a
democracia permite uma ampla participação popular, e por isso é o ambiente favorável para a
construção e aprimoramento do conceito e das práticas de cidadania.
3. A democracia brasileira não conseguiu resolver até o momento os problemas de grande parte da
população do país. A cidadania no Brasil está atrelada à condição financeira. Um pequeno grupo
representado pela classe alta, de grande poder aquisitivo, usufrui uma cidadania plena; um grupo
intermediário tem acesso limitado à cidadania e uma enorme massa formada pela classe baixa da
população tem o mínimo de acesso.
Contando com a simpatia dos meios de comunicação as medidas de Collor não encontram oposi-
ção, o “caçador de marajás” persegue sem tréguas o funcionalismo público, identificado como culpados
pela inoperância e ineficácia do governo.
de descamisados, todos aspiravam à mudança. O vínculo de transferência entre a população e seu presidente era a
consubstanciação imaginária da mudança, onde qualquer um poderia viver a aventura primeiro-mundista na figura do
jovem presidente montado em um jet ski. Ao equiparar-se aos velhos procedimentos políticos, e para dizer a verdade,
superá-los em ousadia e arrogância, Collor traía o pacto amoroso estabelecido com o povo – que ele tratara, durante a
campanha eleitoral, como minha gente. (SILVA, 2000, p. 86)
Ao contrário dos outros planos anteriores, esse não traz fórmulas mirabolantes; seu objetivo é
gerenciar de forma competente os recursos do governo e diminuir o deficit público. O projeto previa
ainda um aumento nos impostos federais e um corte no orçamento da União para o ano de 1994, prin-
cipalmente nas verbas destinadas à saúde e à educação. Além das medidas já citadas, a principal meta
do plano era uma ampla reforma do Estado brasileiro, administrativa, previdenciária e tributária.
As medidas econômicas do Plano Real interromperam o processo inflacionário e estabilizaram a
economia do país; a população respondeu com o crescimento da popularidade do presidente e do mi-
nistro da Fazenda. A vitória no controle da inflação credenciou Fernando Henrique Cardoso a disputar
a Presidência da República.
O presidente, apoiado por seus aliados, resolveu enviar uma emenda constitucional para o Con-
gresso que permitisse a reeleição presidencial. A maioria do Congresso votou a favor e a emenda da
reeleição foi promulgada. A oposição denunciou a compra de votos para a reeleição e pediu a abertura
de uma CPI, mas não conseguiu instalar esta e o caso caiu no esquecimento. Antes do término de seu
governo, conseguiu aprovar reformas na Previdência Social, que aumentaram o tempo de contribuição
para a aposentadoria: 35 anos para os homens e 30 para as mulheres. O sucesso do Plano Real e a emen-
da constitucional deram ao presidente a chance de mais um mandato.
A reeleição de FHC
No novo mandato, FHC continuou seu programa de privatizações e as estatais vendidas foram as
da área de comunicações. Houve denúncias de favorecimento de grupos, gravações de acordos, mas no
fim, as denúncias não tiveram efeito.
Em 1997, o modelo neoliberal sofreu um violento baque com a crise econômica na Ásia. A crise
nas economias dos chamados “Tigres Asiáticos” provocou reflexos nas economias do mundo todo. O
Brasil, que adotava uma política de valorização de sua moeda, que tinha paridade com o dólar, desva-
lorizou em 50% o real, o que possibilitou a diminuição de importações; dessa forma, evitava a saída de
recursos do país, e com o dólar valendo o dobro as exportações aumentaram, fazendo crescer os lucros
da balança comercial.
Depois de ter recuado em abril, o desemprego voltou a crescer em maio e atingiu 8,2% da população economicamente
ativa, a segunda maior taxa já apurada pelo IBGE. A taxa de desemprego aberto nacional divulgada ontem é pratica-
mente igual ao recorde da pesquisa, que foi de 8,28%, em maio de 1984. Em abril, a taxa foi de 7,94%. A situação é mais
critica em São Paulo, região que registrou o recorde de desemprego desde o inicio do levantamento. Nos primeiros
cinco meses do ano, o número de pessoas procurando emprego disparou, crescendo 40%. Em maio, houve um cres-
cimento de 0,8% da população economicamente ativa, ou seja, de pessoas que trabalham ou procuram trabalho. En-
quanto o número de pessoas ocupadas em relação ao mesmo período do ano passado cresceu apenas 0,5%, o número
de desocupados cresceu 4,5%. ( Silva. A persistência do desemprego. Jornal do Brasil, 02/07/1998)
Fernando Henrique Cardoso conseguiu domar o ritmo inflacionário, mas não conseguiu fazer
com que a economia crescesse a ponto de criar novos postos de trabalho que dessem conta da deman-
da de novos trabalhadores que ano após ano entraram no mercado de trabalho.
O processo de racionalização iniciado com Collor deu seus frutos mais amargos no período de
FHC, a modernização e mecanização dos meios de produção extinguiam, ao invés de criar, postos de
trabalho. O desemprego em seus governos nunca sofreu queda e o dinheiro da venda das empresas
estatais foi usado para amortizar os juros das dívidas internas e externas, que continuaram a crescer. A
saúde, a educação e a infraestrutura do país tinham suas verbas cortadas a cada novo orçamento.
A venda das estatais tirou do governo a condição de investir e fomentar o crescimento do país e a
maior prova da falta de investimentos de recursos foi no final do governo quando ocorreu uma crise de
abastecimento de energia, provocando falta e racionamento de energia elétrica. Foi o famoso “apagão”.
Um dos marcos do governo FHC foi a criação, em 2000, da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada
com o objetivo de conter os gastos nas administrações públicas e punir os abusos com o dinheiro do
contribuinte. Outros avanços são contraditórios: o governo cortou verbas da educação e o analfabe-
tismo no país caiu; cortou verbas das universidades públicas, mas o Ensino Superior na rede particular
aumentou no país.
Os problemas sociais só aumentaram com as políticas dos dois governos de FHC. O governo fez uma
tímida reforma agrária, mas as tensões no campo entre fazendeiros e o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) cresciam a cada dia. Os cortes feitos na área de educação e saúde paralisaram hospitais fede-
rais e universidades, o funcionalismo mal remunerado lançou mão de longas greves e enfrentamento.
O segundo mandato de FHC terminou de forma melancólica, com altos níveis de rejeição. Des-
gastado não conseguiu fazer seu sucessor.
jogo na realidade era a proposta de um grupo que acreditava que, ao assumir a Presidência, Lula deveria
decretar uma moratória e suspender o pagamento de dívida externa; e a de outro grupo, que acreditava
que o país deveria cumprir com seus acordos e mostrar ao mundo que o Brasil era um país seguro para seus
investimentos.
As críticas feitas ao governo Lula eram direcionadas à política de juros aplicada pelo Banco Cen-
tral, comandado pelo tucano Henrique Meirelles, considerada alta e um obstáculo para o crescimento
da economia do país, e, segundo os críticos de esquerda, a taxa alta tinha o objetivo de atender aos
interesses dos grupos financeiros internacionais.
Contrariando os que o acusam de ser neoliberal, o ministro Palocci aumentou os impostos pagos
pela classe média e alta.
Na parte dos investimentos sociais, o governo Lula buscou ampliar a rede que atendia aos mais
carentes e criou ministérios e secretarias para reverter o quadro de pobreza e fome. Mas, como vocês
sabem, é difícil agradar gregos e troianos e os adversários acusaram o governo de aumentar as despesas
do país criando ministérios para contemplar seus aliados.
No último ano do mandato do presidente Lula, o governo foi sacudido por denúncias de corrup-
ção feitas pelo deputado federal, antigo aliado de Collor, Roberto Jefferson, presidente do PTB, partido
que faz parte da aliança de governo do PT. Jefferson acusou os dirigentes e parlamentares do PT de cria-
rem um sistema de propina que garantia o voto dos parlamentares para os projetos do governo federal,
o famigerado “mensalão” comandado pelo empresário mineiro Marcos Valério.
De início, Jefferson reconheceu que não tinha provas para suas acusações, mas para a oposição
foi o bastante para a abertura de uma CPI. A mídia tomou partido e bombardeou o presidente, surgia a
todo o momento denúncias ou ofensas contra o presidente que eram publicadas nos jornais e revistas
“imparciais” de todo o país.
Deputados renunciaram ou foram cassados, o próprio Jefferson foi cassado e teve seus direitos
políticos suspensos por oito anos, porém o objetivo da oposição de vincular a imagem do presidente
à corrupção não foi alcançado, pois o crescimento da economia e a melhoria mesmo que pequena na
qualidade de vida foram suficientes para manter a popularidade do presidente em alta. Quanto aos
acusados, o presidente do PT, José Genuíno, foi afastado da Presidência junto com seus companheiros
de direção. Nenhum acusado foi preso e o resultado da CPI caiu no esquecimento.
Texto complementar
O Brasil em sobressalto
(PIGALLO, 2002, p. 193-196)
Com a posse de Collor, PC continuou agindo com desembaraço. Intermediava negócios de
empresários com o governo, liberava verbas para projetos que lhe interessavam, pressionava mi-
nistros, dava ordens a presidentes de estatais – era a chamada “operação terceiro turno”. Por seus
serviços, sem os quais nenhum empresário se aproximava do governo, cobrava comissões de no
mínimo 30%. Seus métodos, que incluíam chantagens, ameaças e extorsões, eram conhecidos.
Certo da impunidade, não se importava com o que diziam. Ao contrário, contava histórias, gaban-
do-se de uma suposta ascendência sobre o presidente. A fama de PC não demorou a se alastrar.
O presidente foi alertado sobre o prejuízo que PC causava à imagem do governo. Preferiu, porém,
ignorar os avisos. [...] A maioria dos políticos não queria investigar nada. O governo, por motivos
óbvios. A oposição, por temer os efeitos de uma desestabilização política. Tucanos e peemedebis-
tas preferiram poupar Collor mantendo-o no cargo, mas enfraquecido pela crise que certamente
se arrastaria. Dessa maneira, o presidente dependeria da tutela política deles para chegar ao fim
do mandato. Na prática, acenava-se com o pacto da impunidade. Coube ao PT obter o número
necessário de votos para criar a CPI. [...] Os trabalhos se arrastavam por um mês quando, no final de
junho de 1992, surgiu a testemunha-chave. [...] Eriberto França, motorista que servia a secretária
particular do presidente, Ana Acioli, revelou que as contas da Casa da Dinda, residência de Collor,
e as despesas da primeira-dama, Rosane, eram pagas por PC Farias. Com depósitos na conta da
secretária feitos pela Brasil-jet, empresa de PC, o próprio Eriberto fazia pagamentos a funcionários
de Collor e enviava dinheiro a seus familiares. A entrevista encurralava o presidente. [...] Em 25 de
agosto, ficou pronto o relatório final da CPI, que considerava o presidente passível de indiciamento
em cinco crimes: prevaricação, defesa de interesses privados no governo, corrupção passiva, for-
mação de quadrilha e estelionato.
Atividades
1. Os fatos relatados pelo autor do Texto complementar fazem referência a que acontecimento his-
tórico?
2. O que o autor do Texto complementar pretende dizer ao afirmar que “Tucanos e peemedebis-
tas preferiram poupar Collor mantendo-o no cargo, mas enfraquecido pela crise que certamen-
te se arrastaria. Dessa maneira, o presidente dependeria da tutela política deles para chegar ao
fim do mandato” ?
3. Por que o motorista Eriberto França foi considerado como testemunha-chave do caso?
Gabarito
1. Ao processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
2. Para o autor, os partidos PSDB e PMDB eram contrários ao processo de impeachment do presi-
dente Collor, queriam mantê-lo enfraquecido no poder para tirar vantagens políticas da situação
incômoda em que o presidente se encontrava.
3. Porque seu depoimento serviu para comprovar a relação financeira entre o presidente Collor e
seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias.
mercados, elas vão falindo ou sendo incorporadas por fábricas maiores; a livre competição dará lugar à
competição entre grupos que buscam eliminar a concorrência e estabelecer verdadeiros monopólios.
O capitalismo abandona o liberalismo clássico, o que existe agora é um capitalismo monopo-
lista, cujas práticas de formação de trustes e cartéis vão contra as ideias dos países do capitalismo. As
empresas se tornaram gigantescas e terão que avançar sobre novos territórios buscando mão de obra,
matéria-prima e mercado para seus produtos.
O capitalismo monopolista foi responsável pelo neocolonialismo ou imperialismo, colonização
direta dos países da África e Ásia e indireta dos países da América Latina.
Em 1929, o capitalismo sofre um duro golpe; a crise norte-americana, que ocorreu naquele ano,
fruto da especulação financeira que gerou a quebra da Bolsa de Nova York, teve como consequência
o colapso da economia norte-americana afetando a economia de diversos países, que tinham relações
econômicas estreitas com os EUA. E como esse fato afetou o Brasil?
O Brasil tinha os EUA como maior importador do nosso café, quase 60% era vendido aos norte-
-americanos. Então, vocês já devem deduzir o que aconteceu com a economia do nosso país. O Brasil
entrou em uma grave crise econômica que se transformou em crise política, culminando na Revolução
de 30.
Um dos poucos países que saíram ilesos da crise mundial de 1929 foi um país socialista, a União
Soviética, onde a economia era planejada e controlada totalmente pelo governo. O exemplo soviético
de intervenção do Estado na economia pôs fim ao mito de um mercado autorregulador, justo e distri-
buidor de riquezas.
Em 1932, O presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt lançou um plano de recupera-
ção econômica chamado New Deal (Novo Acordo), idealizado pelo economista inglês John M. Keynes. O
plano consistia na intervenção do Estado na economia, regulando a produção e fiscalizando a bolsa de
valores; com objetivo de ampliar o mercado interno, adotou medidas de proteção social (salário míni-
mo, seguro-desemprego, previdência etc.). Os empresários e políticos conservadores acusaram Roose-
velt de ser aliado dos comunistas. As medidas controlaram a crise e o modelo keynesiano seria adotado
por todos os países capitalistas de acordo com a realidade de cada um.
O capitalismo agora é um modelo que busca o bem-estar social. Os trabalhadores não são mais
vistos como algo a ser explorado, são partes importantes de uma economia de consumo, pois melhores
salários significam maior poder de compra e as compras movimentam a economia e fortalecem o mer-
cado interno. Há cooperação entre empresários, trabalhadores e Estado, e este agindo como regulador
das relações capital-trabalho, junto à proteção que os governos dão às suas economias nacionais, é a
base do bem-estar social.
O modelo do Capitalismo de bem-estar social vai seguir sem muitas contestações até o início dos
anos 1970; a partir daí, as crises serão constantes. Com as eleições de Margareth Thatcher, na Inglaterra,
em 1979, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, em 1980, o capitalismo assumiu um novo modelo,
o modelo neoliberal.
O neoliberalismo quer o fim do Estado-empresário ou Estado-interventor; para os neoliberais,
as economias não crescem porque os impostos sufocam os empresários e os impedem de investirem
seus recursos na economia, o que impede o crescimento econômico do país. Desse modo, os impostos
criam desemprego. Para a economia voltar a crescer é necessário o fim da intervenção dos governos
na economia e o desmonte do Estado de bem-estar social que consome muitos recursos do país. Na
verdade, o pensamento neoliberal, visto como moderno por alguns, não tem nada de novo, as conjun-
turas é que são totalmente diferentes; no período de liberalismo clássico, os trabalhadores não tinham
direitos, agora com o neoliberalismo, podem perder todos os direitos conquistados ao longo de quase
dois séculos de lutas.
O capitalismo e o produto da genialidade humana trouxeram riquezas para alguns, miséria para
milhões, sobreviveu e se reestruturou após diversas crises e foi responsável pelo surgimento do socia-
lismo, pois Marx desenvolveu suas ideias a partir da observação do modelo capitalista, buscou compre-
endê-lo e descobriu em suas contradições a maneira de superá-lo.
Globalização
“Processo de integração entre economias e sociedades dos vários países, especialmente no que
se refere à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de informações”.
(Aurélio, 2001, p. 348).
O processo de globalização está presente nas sociedades humanas há pelo menos 500 anos; o
marco foi o período das grandes navegações, com os europeus comerciando na África, na Ásia e nas
Américas. Na verdade, é um processo que parece novo, mas é bem antigo, marcado por algum revés, e
que no limiar do século XX ressurge e se transforma em algo que aponta para um caminho sem volta.
Nossas sociedades, sempre ávidas por novidades, apresentam a globalização como um processo con-
temporâneo, jamais visto na história da humanidade. O que os homens do século XIV não tinham e hoje
temos é um sistema melhor e mais rápido de obtenção de informações; sair da Europa e atravessar um
oceano em uma caravela para quê? Para comerciar, para obter mercadorias, para difundir informações,
para conquistar novos mercados. Expandiram limites e difundiram informações.
Os anos 1980 marcam o nascimento do neoliberalismo, mas é com o fim da União Soviética em
1991 que desenvolve sua supremacia. Até os anos 1990, o mundo vivia um clima de bipolaridade e de
fronteiras fechadas, guerras, golpes e disputas ideológicas geravam desconfiança de ambos os lados.
Nesse ambiente, era impensável um mercado mundial, sequer um mercado continental. A globalização
é uma ideia que ressurge com os pressupostos neoliberais, com a suposta vitória do capitalismo sobre
o socialismo. A ideia de globalização é impensável se não considerarmos o fator econômico. A ideia de
um grande mercado, de expansão da produção, de conquistas de novos mercados, de barateamento
do custo da produção, de obtenção de lucros cada vez maiores está presente no nascimento e desen-
volvimento do modelo capitalista.
A partir dos governos Thatcher e Reagan, o neoliberalismo dá seus primeiro passos, mas é com a
nova ordem mundial estabelecida em 1991 que ele inicia um movimento de expansão por todo o plane-
ta. Seu caminho foi bastante facilitado, pois naquele momento o mundo vivia uma crise de identidade
ideológica. O fim da União Soviética representou o surgimento de novos empobrecidos. As economias
dos antigos países socialistas tiveram que se adequar à nova realidade. Para reconstruir suas economias,
solicitaram empréstimos e orientação dos organismos financeiros mundiais, FMI e Banco Mundial.
A orientação dada aos países obedecia a diretrizes traçadas pelos países ricos e neoliberais, o
mesmo receituário: venda do patrimônio estatal, corte dos recursos das áreas sociais, arrocho de salário
e abertura da economia. Assim, junto com o empréstimo contraído, os países adotavam políticas neoli-
berais e iam pouco a pouco se “integrando” ao mercado mundial.
Os países da América Latina, com raras exceções, após um período de golpes e regimes militares nas
décadas de 1960 a 1970, chegam aos anos 1980 com ditaduras e economias falidas, dívidas enormes e de-
ficit em seus orçamentos, além de seus graves problemas sociais. As democracias latino-americanas ado-
taram o modelo neoliberal, pois sua história de dependência economia não as permitiu recusar o modelo
indicado pelos organismos financeiros internacionais. Em meados da década de 1990, todos já haviam
completado ou iniciado seus programas de privatização e cortes nos orçamentos da área social.
A exceção da integração mundial foi o continente africano, fonte de escravos e riquezas em épo-
cas remotas e produtor de riqueza para os impérios europeus dos séculos XIX e XX. Na nova configu-
ração mundial, a África ficou de fora, as poucas riquezas produzidas pelo continente que despertam o
interesse externo são os diamantes do sul do continente e o petróleo do litoral ocidental. O continente
ainda hoje convive em seu território com guerras, massacres de etnias e doenças, principalmente a Aids,
sendo que 40% do total da população mundial de portadores de HIV encontra-se na África.
No mundo globalizado, a possibilidade de lucros é que faz com que os homens se relacionem,
que busquem o bom convívio. O poder de consumir é primordial para um mundo globalizado; aos
africanos, que não são potenciais consumidores, o esquecimento, ou melhor, a exclusão da nova
ordem mundial.
O Oriente Médio, com seus campos petrolíferos e reservas de gás, junto com a Ásia, com metade
do total da população mundial, são fundamentais para o mundo globalizado. É impossível viver sem
petróleo e seus derivados, também é impossível desprezar uma população do tamanho da população
chinesa, de quase dois bilhões de habitantes, mesmo que o regime político chinês seja comunista e o
país seja acusado de desrespeitar os direitos humanos.
Quando se abre a economia nacional para a entrada de produtos importados, deve-se pensar nos
danos que essa prática causa na economia local; além do fechamento das empresas nacionais, provoca
a extinção de postos de trabalho; as compras dos produtos importados tiram divisas do país; o dinheiro
obtido com a venda do produto importado vai produzir riqueza e empregos em seu país de origem e
não na economia do país onde foi negociado.
A globalização neoliberal levou a economia dos países em desenvolvimento, ou, como preferem
alguns autores, países emergentes, a uma situação de colapso. O fim do Estado regulador e fomen-
tador da economia provocou um aumento nas desigualdades sociais, visto que os cortes propostos
pelos economistas neoliberais recaíam diretamente nos recursos das áreas sociais, saúde, educação,
previdência. Sociedades com graves problemas de distribuição de renda, com uma população marcada
por privações, de uma hora para outra perderam o auxílio, mesmo que de forma precária ou através de
paternalismos ou medidas populistas, que os governos lhes concediam.
O desemprego, o arrocho salarial e a falta de perspectivas de melhoras na condição de vida fi-
zeram com que um grande número de pessoas dos países pobres buscasse em atividades ilegais e até
criminosas um meio de sobrevivência. Não se deve pensar que antes da globalização essas sociedades
eram harmônicas e sem problemas de caráter social, o que deve ficar claro é que a globalização, com seu
projeto neoliberal, aumentou o processo de exclusão e levou milhões de pessoas à marginalização.
Globalização e imigração
Outra forma de sobrevivência encontrada pelas populações dos países em desenvolvimento foi a imi-
gração forçada para países de economias mais desenvolvidas que representam para os imigrantes a possi-
bilidade de condições dignas de sobrevivência, pois essas economias oferecem trabalho e salários melhores
do que os pagos nos países de origem dos imigrantes. Assim, vai surgir uma nova problemática: os países
desenvolvidos querem mercados e liberdade de negócios, não querem absorver trabalhadores estrangeiros
em grande escala. Com o processo de globalização vão criar leis para dificultar o acesso de estrangeiros ao
mercado de trabalho de seus países. A saída para os estrangeiros será na maioria dos casos a entrada de for-
ma ilegal nesses países. Tais estrangeiros serão absorvidos pelos setores desprezados; pelos setores nacionais
terão que se sujeitar à exploração máxima de sua força de trabalho, às humilhações, tendo ainda que convi-
ver com o medo de serem descobertos, presos e depois deportados para seus países de origem. O imigrante
na situação de trabalhador estrangeiro aceita qualquer tipo de trabalho e recebe remuneração abaixo do
que recebe um trabalhador nacional, porém maior do que receberia em sua pátria; em situação irregular, sua
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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O Brasil e o contexto internacional | 71
contratação tira do empresário os custos dos impostos que incidem na contratação de um trabalhador. Os
imigrantes também não gozam da proteção de leis trabalhistas, que regulamentam melhores salários e con-
dição, e podem ser demitidos e denunciados a qualquer momento. A entrada de trabalhadores estrangeiros,
legais ou ilegais, junto com a extinção de postos de trabalho, provocada pela adoção do modelo neoliberal,
criará uma situação de instabilidade nas sociedades dos países ricos.
Se todas as pessoas da Terra possuíssem o mesmo número de geladeiras e automóveis que as da América do Norte e
da Europa Ocidental, o planeta ficaria inabitável. Hoje, a ecologia global do capital, o privilégio de uns poucos, requer
miséria de muitos, para ser sustentável. Menos de ¼ da população do mundo detém atualmente 85% da renda mun-
dial e a diferença entre zonas avançadas e atrasadas ampliou-se ainda mais nos últimos 50 anos. [...] Nos anos 1980,
mais de 800 milhões de pessoas – mais do que as populações da Comunidade Europeia, dos EUA e do Japão somadas
– tornaram-se ainda mais excruciantemente pobres e uma a cada três crianças passava fome. [...] O estreitamento dos
vínculos na ordem capitalista mundial está fadado, de qualquer modo, a forçar as tremendas pressões de pobreza e
exploração no sul a repercutir pela primeira vez no norte [...] [O que torna possível] uma nova agenda mundial para a
reconstrução social. (ANDERSON, 1992, p. 110-142)
A falta de perspectiva de um futuro melhor, o abandono dos governos, o corte nos recursos da
área social, o fim das ideologias que pregavam a igualdade e comunhão entre os povos do planeta, a
imposição do individualismo, da competição e do consumo como padrões a serem seguidos criarão
uma atmosfera de intolerância, provocando choques entre nacionais e estrangeiros.
A desestruturação das sociedades desenvolvidas promoverá o ressurgimento de movimentos
nazifascistas, a exemplo dos neonazistas em toda Europa. A globalização neoliberal traz de volta ideo-
logias que provocaram mortes e destruição no passado recente da humanidade; mais uma vez surgem
as vozes que apregoam a destruição do diferente: o imigrante é o inimigo, o imigrante é o culpado
pela crise, o imigrante é algo inferior e, portanto, passível de ser eliminado. A proposta de integração
dos países, obedecendo a uma lógica prioritariamente econômica, marcada pela busca de expansão e
conquista de novos mercados, sem considerar em sua pauta as diferenças culturais, a obrigação dos go-
vernos de desenvolver políticas voltadas para a proteção e para a melhoria na condição de vida das suas
populações, só pode levar a humanidade a um longo e terrível período de guerras e de sofrimento.
muçulmanos, segundo os norte-americanos e seus aliados, países onde não existe liberdade, nem cida-
dania, redutos de fundamentalistas islâmicos, terroristas que atacaram o sagrado solo norte-americano
(atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001), argumento usado para o caso específico
do Afeganistão. O ataque ao Iraque foi legitimado pela suposta existência de arsenais químicos que até
o momento não foram encontrados.
A política de interferência armada dos EUA, no Afeganistão e no Iraque, vista de maneira simplória,
tem como objetivos a exploração dos recursos naturais, a geopolítica ou mostrar ao mundo que não se
deve desafiar a nação mais poderosa do mundo. Esses propósitos estão bem claros, porém, existe também
a imposição da cultura ocidental, passadas e repassadas através de ideias que propagam a democracia e a
cidadania como valores da humanidade. Essa afirmação é perversa, pois coloca os povos que não vivem em
regime democrático ou que não usufruem de cidadania como sub-humanos ou quase humanos.
Democracia e cidadania são conceitos e práticas que tomaram forma ao longo do processo his-
tórico de formação das sociedades ocidentais, portanto são conceitos e práticas tipicamente ociden-
tais. Não devemos considerar democracia e cidadania como avanços da humanidade; se são avanços,
são porque nós ocidentais assim os consideramos.
No século XIX, os pensadores europeus ocidentais através do uso da razão, logicamente da razão
ocidental, buscavam em seus estudos criar ou descobrir as verdades universais, que fossem válidas para
toda humanidade; assim construíram o esboço do que seria uma sociedade perfeita. Chegou-se à con-
clusão, não por acaso, de serem as sociedades europeias ocidentais o modelo de sociedade perfeita, as
outras sociedades deveriam tentar copiar a Europa. A partir daí criou-se uma hierarquia em que os mais
avançados eram os povos europeus, os outros povos seriam, considerando o nível de aproximação da
cultura europeia, mais ou menos atrasados. Um ótimo argumento para espoliar as sociedades africanas,
asiáticas e latino-americanas, inclusive sociedades da própria Europa.
Os fatos históricos não se repetem, o que de certa forma constantemente ocorre é a repetição dos
motivos. Naquele determinado período histórico, a Europa do século XIX, os europeus saídos das Guer-
ras Napoleônicas buscavam meios de reconstruir suas sociedades e, para isso, precisavam criar mecanis-
mos que legitimassem seus objetivos de dominação e exploração dos demais povos do planeta. Hoje,
os países ricos e seu modelo neoliberal de globalização também desejam dominar e explorar os outros
povos; o momento histórico e a conjuntura se configuram de forma diferente, porém os objetivos e os
métodos utilizados são semelhantes.
A globalização neoliberal em seu aspecto cultural desconsidera a formação histórica de cada
povo, sua cultura e sua interpretação de mundo, e dessa forma tem sido motivo de conflitos que surgem
dia a dia, conflitos que crescem e criam raízes profundas.
A busca desesperada do lucro tem poluído rios, mares e mudado a temperatura de nosso planeta;
os países do G-8 (EUA, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Austrália, Itália e Rússia) e a China, com
grandes indústrias, são os maiores emissores de gases poluentes que destroem a camada de ozônio,
que funciona como um filtro dos raios violetas, e retêm calor, formando o efeito estufa que tem muda-
do drasticamente o clima do planeta, provocando o derretimento das calotas polares e resultando nas
inundações e maremotos e no risco do aumento do nível do mar que representaria o sumiço de impor-
tantes países e cidades do mundo. Com esses exemplos, você já deve estar pensando o quanto é impor-
tante um meio ambiente saudável, e assim também pensam os que assinaram o protocolo de Kioto.
Em 1991, em Kioto, no Japão, foi produzido um documento assinado por diversos países, inclusi-
ve o Brasil, cujo objetivo era o comprometimento com o controle de gases poluentes das indústrias. O
protocolo de Kioto, como ficou conhecido, não foi assinado pelos EUA; o presidente norte-americano
alegou que as deliberações contidas no documento levariam à falência as indústrias de seu país. Mas
não pensem que foram apenas os EUA que se negaram a assinar, pois a Rússia e a China fizeram o
mesmo. Assim, o interesse da sobrevivência do planeta e de seus habitantes foi colocado abaixo dos
interesses comerciais.
A irresponsabilidade e a ganância dos governos neoliberais têm provocado revoltas e mobiliza-
ções de movimentos sociais de trabalhadores, grupos de ecologistas, artistas, grupos de jovens, grupos
de ONGs, uma diversidade de outros grupos que contestam a ordem mundial neoliberal. Os governos
neoliberais têm enfrentado resistência até dentro de seus próprios territórios.
Dia após dia, a resistência aumenta e, apesar de ignorada pela mídia internacional, tem provoca-
do fissuras no sistema neoliberal. Cada reunião do G-7 tem sido alvo de manifestações e de enfrenta-
mento entre governos e grupos antineoliberais.
Propostas alternativas de políticas de gestão e exploração das riquezas do planeta têm sido apre-
sentadas pelos diversos grupos, a exemplo do Fórum Social Mundial ocorrido em Porto Alegre (RS), que
tem a nítida finalidade de mostrar que existem saídas para a crise mundial, fora do modelo neoliberal,
iniciativas voltadas para a preservação do planeta e de seus habitantes.
Luxemburgo criaram a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Naquele momento, o mundo vivia uma
realidade de disputa entre duas superpotências: os EUA e a União Soviética, período que ficou conheci-
do como Guerra Fria. Em 1991, na conjuntura mundial, que desde 1989 com a queda do muro de Berlim
e a reunificação da Alemanha já dava mostras de que pouco a pouco ocorriam mudanças substanciais
na configuração da divisão do poder mundial, com o fim da Guerra Fria, marcado pelo fim da União So-
viética e a derrocada do socialismo no Leste europeu, as mudanças se concretizam. O estabelecimento
de uma “nova ordem mundial”, de uma nova era, traz no seu âmago o signo da mudança, das transfor-
mações em todos os campos das relações humanas; portanto 1991 é o ano 1 de um novo mundo, um
mundo onde existe somente uma superpotência mundial: os EUA.
da criação da Alca sofreu resistência de vários países, e, no caso brasileiro, foi motivo de uma campanha
popular contra a entrada do Brasil no bloco econômico. Os adversários alegam que a adesão à Alca
representa um risco à soberania dos países e que só os norte-americanos se beneficiariam com ela. A
eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e a má vontade demonstrada pelo governo norte-americano em
rever alguns pontos conflitantes do acordo emperraram as negociações para implantação da Alca.
Texto complementar
O Brasil na crise contemporânea
(SILVA, 2000, p. 420-421)
Hoje somos cerca de 160 milhões de brasileiros, dos quais os órgãos oficiais encarregados de
nossas estatísticas – o IBGE à frente – consideram 73,1 milhões como sendo força de trabalho. Deno-
minamos esta força de trabalho de População Economicamente Ativa, ou a sigla PEA. Ou seja, a PEA
do Brasil é o conjunto de pessoas empregadas ou com disposição para empregar-se (procurando
emprego), o que somaria 73,1 milhões de pessoas. Neste conjunto teríamos trabalhadores de car-
teira assinada – o chamado mercado formal –, com base na CLT, outros sem registros, aposentados
com uma segunda ocupação, desempregados em busca de emprego e até crianças ilegalmente
englobadas no mundo do trabalho.
Comparando-se com os países de economias industriais avançadas, o mercado de trabalho
no Brasil apresenta certas estranhezas, peculiaridades próprias do nosso gigantismo e do grau de
desigualdade social existente. Um traço relevante do mercado de trabalho no país é sua capacidade
de absorção de mão de obra através de formas precárias de ocupação. Muitas vezes, trabalhadores
excluídos do mercado formal de trabalho (com carteira assinada, por exemplo) passam a engrossar
as fileiras da chamada informalidade.
[...]
Esta precariedade gera uma das condições básicas da desigualdade social: o trabalho informal,
em quase a maioria dos casos, não é capaz de gerar remunerações condizentes com padrões de
consumo acima de uma linha mínima de necessidades básicas.
Mas esta não é uma condição específica dos trabalhadores informais. No início da década de
1990 cerca de 20% da população ocupada não conseguia uma remuneração equivalente ao sa-
lário mínimo, o que é estabelecido em lei como patamar básico de remuneração no país. É claro,
também, que no campo a situação é mais grave que nas cidades, onde, por exemplo, se chegou a
41% da população ocupada recebendo menos de um salário mínimo, como no caso do estado do
Ceará. Nos períodos de calamidades, como no caso da atual seca que atinge o Nordeste, tais índices
apresentam-se de forma assustadora.
Além disso, uma segunda característica marca a informalidade do trabalho no Brasil: uma parcela
importante da população, sem registro, sem pagar impostos ou receber salários, escapa da contabili-
dade nacional. As pesquisas e as estatísticas geradas por órgãos públicos, tipo IBGE e IPEA, muito difi-
cilmente conseguem traçar o perfil deste setor informal. Dessa forma, todo este contingente também
não aparece nas estatísticas de desempregados – ao menos no chamado desemprego aberto, ou seja,
da grande massa de desocupados à procura de trabalho.
A proporção dos trabalhadores sem carteira assinada na população empregada atingiu, no
inicio da década, 35% de todos os trabalhadores, com menos incidência em grandes capitais e alta
incidência nas áreas periféricas – cerca de 70% dos trabalhadores, por exemplo, no Rio Grande do
Norte e Paraíba. Entretanto, na mesma época, 82% dos trabalhadores no setor industrial possuíam
carteira assinada enquanto hoje (1998) apenas 69% estão ao abrigo da CLT.
Atividades
1. O que é denominada População Economicamente Ativa e que tipo de grupos a formam?
3. No Texto complementar, nota-se que do início dos anos 1990 até o final da década, mais preci-
samente 1998, o número de empregados com carteira assinada teve uma queda e houve um
crescimento do mercado informal. Que motivos teriam provocado essas mudanças?
Gabarito
1. 73,1 milhões de trabalhadores do país, formada por trabalhadores formais e trabalhadores infor-
mais.
3. A adoção do modelo neoliberal, a partir do governo Collor, no Brasil, que abriu a economia na-
cional para produtos estrangeiros visando à livre concorrência, provocou fechamento de fábricas,
junto à adoção de tecnologias e métodos de racionalização da produção, provocando um quadro
de desemprego e recessão no país. A falta de empregos fez com que os trabalhadores brasileiros,
por questão de sobrevivência, entrassem para o mercado informal.
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