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Capítulo 1
“Por que estudar História?” Essa é uma pergunta que professores e historiadores ouvem com
frequência. Uma das explicações para esse questionamento está relacionada com as concepções
que as pessoas normalmente têm do que é o conhecimento histórico. Muitos acreditam que a
História trata apenas das coisas que aconteceram em um passado longínquo e, por isso, não
teria muita importância ou utilidade para o presente. Há também aqueles que entendem que
estudar História se resume ao ato de decorar um grande número de nomes e datas,
identificando, por exemplo, quando determinada batalha ocorreu ou quando um governo se
formou e se desfez. Outra concepção comum sobre a História é que ela narra fatos inusitados e
curiosos, sendo interessante apenas como forma de se distrair ou de se divertir com os casos e
os contos do passado.
Ainda que todas essas concepções não sejam inteiramente falsas, não se pode afirmar que a
História é um conhecimento que se dedica apenas ao estudo das sociedades que viveram no
passado, que para estudá-la é necessário decorar um grande número de datas ou nomes e que
ela é formada apenas por narrativas curiosas, interessantes ou divertidas. Na realidade, o
conhecimento histórico vai muito além de tudo isso.
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Como definiu o francês Marc Bloch, um dos mais importantes historiadores do século XX, a
História consiste no estudo das sociedades humanas ao longo do tempo. Isso significa que os
historiadores se dedicam a analisar como os seres humanos viveram e se organizaram em
diferentes momentos da história e em diferentes regiões do planeta.
Porém, esse estudo não se limita a entender como as pessoas viveram no passado, mas é
uma forma de ajudar os sujeitos históricos a refletir sobre suas próprias sociedades e a maneira
como vivem no presente. É por meio do estudo das transformações sociais que aconteceram no
decorrer do tempo que se pode, por exemplo, entender o sistema político vigente no Brasil atual
ou a forma 12
Avaliarcomo esta sociedade está organizada e dividida. Também é por meio do estudo da
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É por essa razão que o conhecimento histórico não se restringe a organizar e registrar nomes
e datas ou a narrar acontecimentos curiosos. Os historiadores se dedicam a entender as
transformações da sociedade ocorridas ao longo do tempo com o objetivo de produzir um
conhecimento que possa ajudar a refletir criticamente sobre o mundo e as relações sociais.
Assim, há momentos em que é necessário recuperar os registros de datas e fatos ou lembrar-se
de determinados acontecimentos, mas isso não é o objetivo principal da História, servindo
apenas como uma forma de auxiliar a problematização e a compreensão dos processos de
modificação das sociedades humanas.
O passado e o presente
A produção do conhecimento histórico é marcada por uma profunda relação entre passado e
presente. Isso ocorre por duas razões. A primeira é que frequentemente as preocupações e os
interesses do presente estimulam o estudo de temas e assuntos correlatos ao passado. Um
exemplo disso é a questão das transformações ambientais provocadas pelas ações humanas no
planeta.
A preocupação com o impacto dessas alterações no equilíbrio ecológico da Terra fez com que
muitos historiadores passassem a se interessar pela chamada história ambiental. Assim, nas
últimas décadas surgiram inúmeras pesquisas e estudos históricos que se dedicaram a analisar a
relação entre as sociedades humanas e o meio ambiente. Esses historiadores estão preocupados
em entender como as ações humanas ao longo do tempo afetaram a fauna e a flora do planeta,
bem como em refletir sobre os impactos sociais dessas transformações.
A segunda razão é que, para entender a maneira como a sociedade está organizada, é
necessário retomar o processo de transformação pelo qual ela passou no decorrer do tempo. Um
exemplo disso é a desigualdade étnica no Brasil. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) de 2015 mostram que negros e pardos compõem 54% da população brasileira.
Porém, entre o grupo dos 10% mais pobres da população brasileira, a porcentagem de negros e
pardos é mais elevada, atingindo cerca de 75% do total. Já na parcela do 1% mais rico da
população, a porcentagem de negros e pardos é de menos de 18%.
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Embora o acesso dos negros ao mercado de trabalho venha melhorando, por meio de lutas sociais e ações
políticas, as situações resultantes da desigualdade étnica no Brasil ainda são predominantes nesse
contexto.
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Esses dados expressam uma desigualdade de renda entre brancos, negros e pardos que é
resultado de inúmeros processos ocorridos no território brasileiro ao longo do tempo. Conhecer
o passado escravista, por exemplo, é fundamental para entender essa desigualdade do presente.
A escravidão, como parte do sistema econômico e social escravocrata, foi uma instituição que
vigorou, no atual território brasileiro, do século XVI ao final do século XIX. Isso resultou em um
grande número de violências e exclusões sociais contra as populações negras e pardas no Brasil.
Além disso, apesar do fim oficial da escravidão, em 1888, os governos brasileiros nas esferas
municipais, estaduais e federal não tomaram medidas eficientes para reduzir as desigualdades
étnicas no país. Assim, mesmo mais de cem anos após o decreto da lei que encerrou a
escravidão (Lei Áurea), a sociedade brasileira ainda sofre com os impactos dessa prática.
Essa situação evidencia como não é possível analisar os problemas e aspectos do presente
sem entender os processos históricos que os criaram. É o caso das características culturais da
sociedade brasileira. A língua portuguesa falada atualmente, por exemplo, também é o resultado
de uma série de processos históricos. Os contatos entre portugueses, povos indígenas,
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europeus e asiáticos influenciaram a maneira como o brasileiro fala, o que resultou em um
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idioma rico e diversificado. O mesmo vale para os hábitos alimentares e as inúmeras outras
práticas culturais.
ASSISTA
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O filme Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014, 93 min. Classificação indicativa: 12
anos.) reflete sobre a desigualdade racial no Brasil a partir da história de vida de pessoas
negras que vivem nas periferias das grandes cidades brasileiras e que sofrem com a
violência policial, a pobreza e o racismo. Dessa forma, o filme pode ajudar a refletir sobre a
permanência histórica da desigualdade racial e a luta pela sua superação.
Outras sociedades desenvolveram sistemas de contagem que não estão inteiramente ligados
às transformações
Avaliar ambientais. Muitos povos criaram maneiras de delimitar determinado
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período e assim tornar possível seu registro e seu controle. O tempo contado, por exemplo, a
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partir de calendários é chamado de tempo cronológico. Muitos países hoje, inclusive o Brasil,
utilizam o calendário gregoriano, que foi criado a pedido do papa Gregório XIII no final do século
XVI e tem como início o ano de nascimento de Jesus Cristo. Mas é importante lembrar que esse
não foi o único calendário inventado pelas sociedades humanas. Muitos outros povos, como os
islâmicos e os maias, criaram os seus próprios calendários para organizar a passagem dos dias,
meses e anos.
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Esse tempo vai além da simples organização cronológica dos acontecimentos e visa resgatar
processos amplos e que podem se desenrolar por séculos. O tempo histórico trata das
permanências e rupturas que acontecem nas sociedades humanas em determinados períodos
históricos. Um exemplo desse registro é aquele utilizado para organizar os fatos e processos que
marcaram a história do Brasil. É possível dividi-la em diversos períodos distintos: o Período
Colonial, iniciado no século XVI e encerrado no início do século XIX; o Período Imperial, que vai
do início ao final do século XIX; e o Período Republicano, que se estende do final do século XIX
até o presente. Observe a linha do tempo a seguir.
Esses períodos ainda podem ser divididos para destacar outras rupturas e permanências, e
analisar as relações sociais e a organização de diferentes grupos da sociedade. Um historiador
interessado, por exemplo, na questão da democracia no Brasil pode dividir o Período
Republicano em vários intervalos, como mostra a linha do tempo a seguir.
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O Novo século
Eric Hobsbawm – Todos nós, na medida do possível, tentamos prever o futuro. Faz parte da
vida, dos negócios, nos perguntarmos sobre o que ele nos reserva. Mas a previsão do futuro
deve necessariamente basear-se no conhecimento do passado. Os acontecimentos futuros
precisam ter alguma relação com os do passado, e é nesse ponto que intervém o
historiador. [...] O historiador pode tentar identificar os elementos relevantes do passado, as
tendências e os problemas. Por isso, é preciso que nos arrisquemos a fazer previsões, mas
tomando certos cuidados. [...] Precisamos entender que, na prática e por princípio, grande
parte do futuro é inteiramente inacessível. Creio que são imprevisíveis os acontecimentos
únicos e específicos, ao passo que o verdadeiro problema para os historiadores é entender o
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quão importantes eles são ou podem vir a ser. [...] Por isso, o que podemos fazer [...] é
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HOBSBAWM, Eric. O novo século: entrevista a Antonio Polito. Tradução de Cláudio Marcondes. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. p. 7-9.
2. Eric Hobsbawm foi um importante historiador do século XX. Na entrevista anterior, ele
fala sobre o papel dos historiadores na reflexão sobre o presente e o futuro com base no
conhecimento histórico. A partir da leitura do texto, é possível afirmar que Hobsbawm
entende que o historiador pode prever o futuro a partir de seus conhecimentos sobre o
passado? Justifique sua resposta.
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Esse sistema de divisão da história se tornou o principal modelo utilizado até o presente para
organizar o estudo das sociedades humanas ao longo do tempo. Uma das críticas a essa
periodização é que ela destaca acontecimentos e transformações sociais observados
principalmente nas sociedades europeias. Muitos historiadores contestam essa divisão alegando
que ela deixa de lado fatos e mudanças importantes para outros povos, como as sociedades
indígenas americanas, as sociedades africanas e as asiáticas.
Além disso, a ideia de que cada período histórico apresentava características gerais que
poderiam ajudar a entender o funcionamento das sociedades também foi criticada. Entre os
séculos IX e X, por exemplo, ocorreu em algumas regiões da Europa o desenvolvimento de uma
sociedade na qual o poder dos reis se enfraqueceu e os donos das propriedades de terra se
fortaleceram. Era a chamada sociedade feudal. Porém, nesse mesmo período, em diferentes
regiões da África, existiam grandes e poderosos reinos. Assim, embora essa divisão cronológica
seja usual, não é possível afirmar que no mesmo período histórico todas as sociedades humanas
apresentavam as mesmas características.
Essa crítica fez com que outros historiadores elaborassem periodizações da história que
seguiam outra lógica, destacando acontecimentos e transformações importantes para os povos
que viviam nos continentes africano e americano. Por isso, é importante ter em mente que toda
periodização é uma construção produzida pelos próprios historiadores e não é a única maneira
válida de organizar o estudo da história. Nesse caso, a periodização da história tem que ser vista
como uma ferramenta que pode auxiliar no estudo e na análise das sociedades humanas ao
longo do tempo, por isso é importante conhecê-la e identificar seus limites e suas aplicações.
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Os povos asiáticos possuem uma história longínqua, mas não estão contemplados na divisão cronológica
usada no Ocidente, criada pelos historiadores europeus. As imagens destacam vestígios de culturas
asiáticas antigas: brinco achado no sítio arqueológico de Tillia Tepe, no norte do atual Afeganistão (1);
recipiente de barro do Período Jomon, a mais antiga cultura das ilhas japonesas (2); e carrinho de bronze
produzido entre 2000 a.C. e 1500 a.C. na Índia (3).
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Permanências e rupturas
Outros dois conceitos importantes em História são o de ruptura e o de permanência histórica.
O processo de ruptura caracteriza-se pelas transformações no modo como os indivíduos e as
sociedades vivem e se organizam; já a permanência é a continuidade – não necessariamente da
mesma forma – de determinados modos de vida durante longos intervalos de tempo.
Para entender melhor, pense no caso da escravidão no Brasil. Como você já viu, ela começou
no século XVI, no início da colonização, e só terminou quase quatro séculos depois, em 1888.
Com esse exemplo, é possível dizer que o fim das relações escravistas do sistema escravocrata
provocou uma ruptura importante na história do Brasil. Assim, uma ruptura histórica resultaria
em transformações nas relações sociais e na maneira como os diferentes grupos sociais se
relacionavam entre si.
Por outro lado, o fim da escravidão não possibilitou a superação das desigualdades étnico-
raciais no Brasil. Ainda hoje, os negros são, muitas vezes, vítimas de preconceito e
discriminação. Pode-se, portanto, dizer que essas desigualdades são fruto de uma permanência
histórica, cujas origens remontam ainda ao período em que o Brasil era uma colônia de Portugal.
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Contudo, a luta contra a desigualdade étnico-racial existe até hoje e também é marcada por
inúmeros acontecimentos, como a criação de políticas afirmativas, a organização do movimento
negro, o combate ao racismo e ao preconceito, entre outros. Tal processo só terminará quando a
sociedade brasileira superar esse grave problema social.
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Marcha de mulheres negras contra a violência étnica e de gênero em Brasília, em novembro de 2015. Essa
defesa de direitos está relacionada com as permanências e rupturas do processo histórico.
Nesse caso, é importante destacar que os processos históricos podem ter durações muito
variadas. Por isso, os historiadores estabeleceram que existem processos de curta, média e
longa duração. Aqueles de curta duração ocorrem em pequenos intervalos de tempo, como o
governo de um rei ou a vida de um artista. Os processos de média duração marcam a formação
de regimes políticos, como a Ditadura Civil-Militar no Brasil (1964-1985) ou a Guerra Fria (1945-
1989). Finalmente, há os processos de longa duração, que envolvem crenças, valores sociais e
estruturas políticas e econômicas mais amplas. A formação do antigo sistema colonial português
é um exemplo de processo de longa duração, já que ele teve início entre os séculos XV e XVI e só
chegou ao fim no século XIX. Outro exemplo de processo de longa duração é a história do
cristianismo no ocidente, que surgiu no século I e se desenrola até os dias atuais.
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Fontes históricas
Para estudar os acontecimentos e processos históricos, o historiador precisa analisar
diversos tipos de vestígios e evidências gerados pelas sociedades humanas ao longo do tempo.
Esses vestígios são chamados de fontes ou documentos históricos. Por muito tempo,12
Avaliar
os
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Porém, principalmente a partir do século XX, com base em novas reflexões historiográficas,
essa situação se modificou e os historiadores passaram a analisar, além das fontes escritas,
muitos outros tipos de indícios, registros e produções das sociedades humanas. Foi assim que
construções, vestimentas, objetos cotidianos, fotografias, festas, costumes, obras de arte e
mapas passaram a ser utilizados como forma de analisar a vida, a organização social e os
acontecimentos da sociedade. Desse modo, todo e qualquer exemplo de trabalho ou ação
humana pode ser analisado como uma fonte histórica e ajudar os historiadores a interpretar o
passado e as transformações ocorridas ao longo do tempo.
As fontes históricas podem ser divididas em grandes grupos. Um grupo é o das fontes
textuais, compostas por todos os registros escritos produzidos pelas sociedades humanas.
Outro grupo é o das fontes visuais, formado por pinturas, fotografias, vídeos etc. Há ainda as
fontes materiais, também denominadas de cultura material. Estas são formadas pelos mais
diversos objetos e construções, como casas, utensílios domésticos, vestimentas e ferramentas
de trabalho. Finalmente, há a chamada cultura imaterial, formada pela cultura oral, por festas,
tradições populares, saberes, hábitos alimentares e outras expressões culturais. Esse tipo de
produção também pode ser analisado pelos historiadores, podendo ajudá-los a compreender
aspectos da cultura e dos valores sociais de diferentes grupos humanos.
Para analisar a história das sociedades humanas, é necessário combinar diferentes tipos de
fontes históricas, cruzando suas informações para compreender as características dessas
sociedades e o modo como elas se transformaram ao longo do tempo. Por isso, um historiador
muitas vezes combina fontes de naturezas diversas, utilizando registros textuais, imagens e
outras evidências produzidas pelas sociedades estudadas. Por meio dessa combinação de
fontes, o passado pode ser interpretado e analisado pelos historiadores do presente.
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LEIA
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LEIA
O livro História & Documento e metodologia de pesquisa (Eni de Mesquita Samara e Ismênia
T. Tupy, Editora Autêntica, 2007) faz uma apresentação sucinta e didática da variedade das
fontes e da produção do conhecimento histórico. Para isso, o livro analisa os diferentes
grupos documentais e as formas como o historiador pode analisá-los para entender a
história das sociedades humanas.
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3. Jean-Baptiste Debret foi um artista francês que viveu no Brasil entre 1816 e 1831.
Durante esse período, ele elaborou diversas representações da natureza e da sociedade
brasileira. A aquarela Cajá pode ser considerada um exemplo de fonte histórica?
Justifique sua resposta.
4. Quais informações essa aquarela pode fornecer sobre a sociedade brasileira do início do
século XIX?
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É importante entender que as fontes históricas funcionam como indícios sobre o passado, e,
da mesma forma que um detetive precisa observar atentamente diversas pistas para entender o
que ele investiga, o historiador também precisa analisar os detalhes fornecidos pelas fontes
históricas de modo a entender a sociedade que a produziu. Esse trabalho é feito por meio de
inúmeros questionamentos, tais como: de que modo a fonte foi produzida?; qual a finalidade de
produção dessa fonte?; quais os materiais utilizados para sua produção?; quem a produziu?;
quando a fonte foi produzida?; que mensagem ela transmite sobre a sociedade que a produziu?
Uma mesma fonte pode ser utilizada para a análise de diferentes aspectos da história e
interpretada de maneiras muito distintas por historiadores diferentes. Quando se mudam os
questionamentos, as informações fornecidas pelas fontes históricas também mudam e novos
conhecimentos podem ser produzidos.
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Alguns historiadores podem olhar esse quadro e ver nele a preocupação do artista em
representar
Avaliar a expansão da lavoura cafeeira no Brasil no século XIX. Outros historiadores,
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preocupados com o impacto das transformações ambientais no presente, podem olhar para esse
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Obra intitulada Vista de um mato virgem que está se reduzindo a carvão (1843), de Émile Taunay.
TOME NOTA
Esses diferentes olhares para uma mesma fonte são muito comuns na produção do
conhecimento histórico. Por isso, diz-se que a História é um conhecimento em constante
transformação e a interpretação das fontes históricas é sempre provisória e sujeita a
modificações.
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O conhecimento histórico está em constante transformação, tanto por causa das novas
preocupações do presente, quanto pela utilização de novas fontes históricas para interpretar e
conhecer o passado. Porém, por mais que os historiadores se debrucem sobre o maior número
de fontes históricas possível e elaborem as mais diversas interpretações para analisar essas
evidências, o passado nunca será completamente conhecido e entendido.
As imagens ajudam a entender essa ideia. Quando se olha uma fotografia, pode-se pensar
que ela é um retrato do passado, já que ela teria registrado uma cena com fidelidade e realismo.
Porém, todas as fotografias são representações, pois, durante a elaboração da imagem, é
possível que as pessoas tenham se preparado especialmente para o registro, fazendo poses ou
utilizando certas roupas. Além disso, mesmo que as pessoas não tenham se preparado
previamente para serem registradas na imagem, o fotógrafo pode fazer escolhas e determinar a
maneira como ele deseja registrar suas fotografias. Isso ocorre de diversas maneiras, como por
meio da escolha do ângulo da fotografia, do controle da iluminação e das cores da imagem ou
mesmo da simples decisão de fotografar determinado evento ou acontecimento em vez de
outro.
Por essas razões, a fotografia (e outros documentos visuais) não é simplesmente um retrato
do que aconteceu, mas uma fonte que deve ser interpretada e analisada. Ainda que de forma
não definitiva, o historiador pode analisar as intenções da imagem e interpretar o
acontecimento que ela registra por meio de questionamentos necessários para a investigação
histórica. É assim que se produz o conhecimento histórico sobre o passado e sobre o processo de
transformação das sociedades humanas.
É importante entender que o caráter provisório do conhecimento histórico não significa que
esse conhecimento não tem valor algum, mas que não é possível compreender a totalidade dos
fenômenos humanos. Tendo isso em mente, é possível utilizar o conhecimento histórico para
ajudar a refletir sobre o mundo em que se vive e sobre a forma como a sociedade está
organizada. Além disso, o que se sabe hoje sobre os processos históricos pode ser transformado
no futuro, possibilitando novos conhecimentos e interpretações sobre a história da humanidade.
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01/02/2022 11:27 Estante de Conteúdo
História e memória
Existe uma relação muito profunda entre o conhecimento histórico e a memória coletiva da
sociedade. Por meio do estudo da História, a memória de acontecimentos, personagens,
instituições e ações de grupos que marcaram e ajudaram a construir a sociedade é preservada.
Nesse caso, pode-se dizer que o conhecimento histórico é uma peça-chave para o pleno
exercício da cidadania.
Além disso, o conhecimento histórico ajuda a lembrar a longa luta pela construção de um
regime democrático no país e a valorizar a defesa desse regime no presente, o que também é
fundamental para o fortalecimento da cidadania e para a construção de uma sociedade mais
igualitária.
1. Por que se pode dizer que todo conhecimento histórico é uma representação do
passado? Justifique sua resposta.
2. Existe uma relação profunda entre História, memória e cidadania. Explique de que
maneira isso ocorre.
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01/02/2022 11:27 Estante de Conteúdo
Uma das razões pelas quais o estudo da história é importante é a relação entre passado
e presente na construção do conhecimento histórico.
As fontes históricas são compostas por fontes textuais, visuais, materiais e imateriais.
Capítulo 1
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Questão 01
A imagem anterior é uma fotografia de Marc Ferrez intitulada Escravos na colheita de café,
produzida por volta de 1882, na região do Vale do Paraíba, no atual estado do Rio de Janeiro.
Que informações essa imagem fornece sobre a sociedade brasileira do final do século XIX?
Questão 02
Que tipo de questionamento um historiador poderia fazer diante de um documento como esse?
Questão 03
Todo documento é uma representação do passado. Que elementos da imagem justificam essa
ideia?
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Questão 04
(UDESC) “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez
não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente.”
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 65.
Assinale a alternativa que contém a definição de história mais coerente com a citação do
historiador Marc Bloch.
a) A História é a ciência que resgata o passado para explicar o presente e fazer previsões sobre o
futuro.
b) A História é uma ciência que visa promover o entretenimento dos espectadores do presente e
um conhecimento inútil sobre o passado.
c) A História é, tal como a literatura, uma narrativa sobre o passado determinada pela
imaginação do historiador.
e) A História é uma ciência que formula questões sobre o passado a partir de inquietações e
experiências vividas no presente.
Questão 05
(ENEM)
Partindo das reflexões de um trabalhador que lê um livro de História, o autor censura a memória
construída sobre determinados monumentos e acontecimentos históricos.
a) os agentes históricos de uma determinada sociedade deveriam ser aqueles que realizaram
feitos heroicos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória.
c) grandes monumentos históricos foram construídos por trabalhadores, mas sua memória está
vinculada aos governantes das sociedades que os construíram.
d) os trabalhadores consideram que a História é uma ciência de difícil compreensão, pois trata
de sociedades antigas e distantes no tempo.
e) as civilizações citadas no texto, embora muito importantes, permanecem sem ser alvos de
pesquisas históricas.
ATIVIDADES PROPOSTAS
Questão 01
(FESP) A História é marcada por continuidades e descontinuidades que mostram as dificuldades
encontradas pelos homens (seres humanos) na sua luta para construir sua cultura. Para
compreender esses processos, o historiador deve considerar que
a) cada cultura é um reflexo das vontades e das necessidades individuais dos povos, sendo
importante destacar que as conquistas materiais determinam mecanicamente a maneira de
sentir e pensar.
c) a análise dos fatos históricos exige critérios teóricos e metodológicos para que se possa ter
uma melhor compreensão do que aconteceu.
Avaliar 12
d) i ó i é j d f j i
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d) a História é um conjunto de fatos que jamais se repetirão, onde o papel das grandes
personalidades merece destaque especial, para que se chegue a uma verdade definitiva.
e) os povos produzem suas histórias determinadas pelos seus desejos e pelas suas
necessidades, mas não conseguem se libertar do domínio das forças da natureza.
Questão 02
(UFPE) História é a ciência que
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Questão 03
(UFRN) No texto abaixo, o historiador grego Tucídides apresenta elementos essenciais da
constituição da História como disciplina científica.
Os homens [comuns], na verdade, aceitam uns dos outros relatos de segunda mão dos eventos
passados, negligenciando pô-los à prova. [...]
Quanto aos fatos da guerra, considerei meu dever relatá-los, não como apurados através de
algum informante casual nem como me parecia provável, mas somente após investigar cada
detalhe com o maior rigor possível, seja no caso de eventos dos quais eu mesmo participei, seja
naqueles a respeito dos quais obtive informações de terceiros. O empenho em apurar os fatos se
constitui numa tarefa laboriosa, pois as testemunhas oculares de vários eventos nem sempre
faziam os mesmos relatos a respeito das mesmas coisas, mas variavam de acordo com
Avaliar 12suas
simpatias por um lado ou pelo outro, ou de acordo com sua memória. Pode acontecer que a
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ausência do fabuloso em minha narrativa pareça menos agradável ao ouvido, mas quem quer
que deseje ter uma ideia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia
voltarão a ocorrer, em circunstâncias idênticas ou semelhantes em consequência de seu
conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para
ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida apenas no momento da
competição por algum prêmio.
Segundo o texto,
a) a pretensão de o historiador possuir a verdade é ilegítima, já que ele tece a narrativa com
elementos de segunda mão.
d) a História é definida como um saber que, através da apuração rigorosa dos fatos, tem relação
privilegiada com a verdade.
Questão 04
(FAAP-SP) É costume dividir a História em Idades. A Idade Antiga: aproximadamente 3200 a.C.
com a escrita, até 476 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente e mais:
I. Idade Média: da queda do Império Romano, em 476 d.C., até 1453 d.C., com a queda de
Constantinopla.
II. Idade Moderna: da queda de Constantinopla, 1453 d.C., até 1789 d.C., ano da Revolução
Francesa.
III. Idade Contemporânea: de 1789, com a Revolução Francesa, até os dias atuais.
a) Apenas a I.
b) Apenas a II.
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c) Apenas a III.
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Questão 05
(UECE) Por muito tempo, os historiadores acreditavam que deveriam e poderiam reproduzir os
fatos “tal como haviam ocorrido”.
b) Era uma história linear, cronológica, de nomes, fatos e datas, que pretendia uma verdade
absoluta, expressão da neutralidade do historiador.
c) Como se percebeu ser impossível chegar à verdadeira face do que “realmente aconteceu”,
todo o conhecimento histórico ficou marcado pelo relativismo total.
d) Os fatos privilegiados seriam aqueles poucos que eram amplamente documentados, como as
festas populares e a cultura das pessoas comuns.
Questão 06
(UECE) Sobre as relações entre passado e presente no trabalho do historiador, pode-se afirmar
corretamente que
b) o interesse por certos temas e as formas de abordar a história são influenciados pelas
experiências diretas do historiador e suas opções políticas e sociais.
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c) o passado se impõe ao historiador através dos documentos, não importando as pressões
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Página 15
Questão 07
(UFC)
A História humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes
presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de
subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de
esquinas.
Ferreira Gullar
No que refere ao fato histórico e à produção do conhecimento histórico, é correto afirmar que
a) o fato histórico não tem que ser, necessariamente, um grande acontecimento; ele também se
faz no cotidiano das pessoas.
c) o trabalho do historiador é mostrar os fatos como realmente ocorreram, não cabendo uma
abordagem crítica.
e) a história enfoca apenas fatos históricos protagonizados por “Heróis”, visando reforçar a
hegemonia de grupos dominantes.
Questão 08
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(UPE-Adaptada) 12
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Existe em todo historiador, em toda pessoa apaixonada pelo arquivo, uma espécie de culto
narcísico do arquivo, uma captação especular da narração histórica pelo arquivo, e é preciso se
violentar para não ceder a ele. Se tudo está arquivado, se tudo é vigiado, anotado, julgado, a
história como criação não é mais possível: é então substituída pelo arquivo transformado em
saber absoluto, espelho de si. Mas se nada está arquivado, se tudo está apagado ou destruído, a
história tende para a fantasia ou o delírio, para a soberania delirante do eu, ou seja, para um
arquivo reinventado que funciona como dogma.
Refletindo sobre o historiador e sua relação com os arquivos, o texto nos mostra que
b) só por meio do arquivo, no século XXI, ele pode retratar o passado tal qual foi.
c) essa relação é ambivalente, e, ao mesmo tempo em que ele necessita do arquivo para
legitimar sua narrativa, deve ter o cuidado de não transformá-lo num saber absoluto.
Questão 09
(UFG) Leia o texto a seguir.
Origens do regime feudal, diz-se. Onde buscá-las? Alguns responderam em “Roma”. Outros “na
Germânia”. As razões dessas miragens são evidentes […]. Das duas partes, sobretudo, eram
empregadas palavras – tais como “benefício” (beneficium) para os latinos, “feudo” para os
germanos – das quais essas gerações persistiram em se servir, ainda que lhes conferindo, sem se
dar conta, um conteúdo quase inteiramente novo. Pois, para o grande desespero dos
historiadores, os homens não têm o hábito, a cada vez que mudam o costume, de mudar de
vocabulário.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 58. (adaptado)
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Neste fragmento, Marc Bloch discute de que forma os historiadores lidam com a questão das
origens, indicando que a
a) origem dos fenômenos históricos deve ser buscada no encadeamento dos acontecimentos, o
que confere à História um sentido de continuidade.
b) origem é o ponto de partida da mudança que demarca a ruptura com as formas históricas
precedentes.
d) busca da origem dos fenômenos históricos encobre a relação entre as forças de conservação
e de mudança que compõem a vida social.
e) origem dos fenômenos históricos pode ser encontrada na permanência dos costumes e do
uso do vocabulário.
Questão 10
(UPE-Adaptada)
A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve,
tudo o que fabrica, tudo o que toca pode e deve informar sobre ele.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 79. (adaptado)
Sobre as fontes históricas, com base no texto acima, assinale a alternativa correta.
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