Escolher a imagem de uma proposição artística de seu interesse e a partir daí
construir um texto crítico de (ao menos) 10 linhas no qual conste a razão de sua escolha e quais as questões artísticas e históricas que são consideradas relevantes para você.
Jean Louis Théodore Géricault - A Balsa da Medusa (Scéne de naufrage), 491 x 716 cm, óleo dobre tela, 1818-19, Museu do Louvre.
Catástrofe convertida em arte
Muito já foi dito sobre as motivações de Géricault quando pintou sua Balsa da Medusa. A história nos conta como o encalhe da fragata Medusa nos recifes de corais criou as condições dantescas de um espetáculo de desespero e morte: uma balsa foi construída, com a intenção de ser rebocada por botes até terra firme. Esse é o início de uma tragédia em que os 15 sobreviventes (de mais de 150 pessoas do barco) enfrentaram abandono, motins, fome, loucura e chegaram aos limites da humanidade, cometendo canibalismo e lançando ao mar aqueles que tinham menores chances de sobreviver. Mas o que Géricault pintou? Nos oito meses em que ficou em seu ateliê, o artista teve contato com sobreviventes, inclusive encomendou do próprio marceneiro da fragata, uma cópia em escala da balsa construída. Do acidente, o artista escolheu representar um momento específico, o sopro de esperança de quando os tripulantes viram um barco no horizonte, que se converteria em desalento nos momentos seguintes (antes de serem salvos pela embarcação Argus, uma outra embarcação foi avistada, mas não foi ao socorro da balsa). Ele apresenta a fúria do mar, um homem acima da linha do horizonte acenando, céu escuro e movimentos das velas que não nos dão a certeza de que estão no caminho do navio que poderia salvá-los. Em contraste, os corpos dos homens são musculosos, muito diferente do que se imaginaria para homens sem alimento ou água há tantos dias à deriva. A escolha por retratar uma cena vibrante e com uma paleta capaz de tragar o/a espectador/a é característica dos românticos, mas aqui há algo mais do que um registro histórico apenas. Há a identificação diante da obra de quem a vê, uma possibilidade de perenidade (mesmo que o betume escolhido pelo artista para enegrecer as sombras já esteja deteriorado) que ultrapassa o que a tragédia foi em seu momento. É a catástrofe convertida em arte, para além do documental.