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SINTAXE FUNCIONALISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA: PALA-

VRAS QUE FUNCIONAM COMO ADJETIVO1


Gong Li Cheng2

RESUMO

Este ensaio pretende refletir sobre o ensino de sintaxe na educação básica, por um viés
funcionalista. Buscar-se-á o contexto no qual as controvérsias de práticas de ensino se dão,
bem como algumas das causas que circulam através de memória discursiva de alunos e pro-
fessores. Neste cenário, explicaremos de uma maneira mais intuitiva o funcionamento dos
sintagmas ligados a palavras nominais que estejam funcionando como adjetivo.

Palavras-chave: Sintaxe; Educação básica; Gramática Funcionalista.

INTRODUÇÃO

Há muito tempo que o ensino de Língua Portuguesa na educação básica tem gerado
controvérsias no Brasil. Sobretudo quando o conteúdo é sintaxe. Haja vista, o amálgama de
conjecturas teórico-metodológicas e a recente Linguística Aplicada, que trouxeram muitas
contribuições positivas e, no entanto, entraram em dissidência com outras metodologias já
consolidadas. Como não houve um movimento dialético, o que observamos são questões de
um ensino inadequado e defasado, no qual os alunos não apreendem as inúmeras nomenclatu-
ras que a gramática normativa tradicionalista (GNT) traz e, consequentemente, não entendem
a função de cada constituinte de frases e orações. As quais são formuladas por eles o tempo
todo, ainda que não tenham plena consciência desta competência. E alguns profissionais da
área entendem esse déficit como falta de interesse pessoal do aluno, ou ainda, culpam o méto-
do de ensino passado cujo este aluno esteve em contato. A falta de leitura autocrítica dos pro-
fessores é uma das problemáticas encontradas.

Já que é nesse cenário, de completa incompreensão entre professores e alunos, que se


dá o ensino de uma disciplina historicamente equivocada e engessada. Equivocada, por não
ser percebida como diametralmente diferente do Latim3 e da variante lusófona. Engessada,

1
Ensaio de conclusão da disciplina Língua Portuguesa III, ministrada pela Profa. Rosimar Regina Oliveira.
2
Graduanda de Licenciatura em Letras – Português, Espanhol e suas Literaturas (UEMS – UUCG). E-mail:
maromiwang@gmail.com
3
É só pensarmos no equívoco que há entre agente da passiva e voz passiva. O ablativo no Latim corresponde à
voz passiva, já a forma verbal do português gera um agente da passiva.
por preservar uma norma que não é estritamente a de uso vigente nos diversos estados brasi-
leiros. Dessa forma, como esperarmos que os alunos desenvolvessem a capacidade de abstra-
ção que a metalinguagem requer? Já que há uma lacuna entre o que é ensinado de sintaxe de
língua portuguesa e o que é a práxis dessa língua para os alunos.

Se a língua, tal como definida por Saussure, é uma estrutura que sofre mutações dia-
cronicamente, e para Benveniste, a forma (semiótica) e o sentido (semântica) da língua não
podem estar desvinculados, como esperarmos que os alunos aprendessem uma norma que não
está em uso? Ou ainda, se não é uso da sociedade brasileira em geral, por que continua sendo
norma? A língua existe enquanto geradora de sentido, a forma sintática é uma das proprieda-
des da língua, na medida em que materializa a significação.

Essas e outras questões me ocorreram após a leitura do livro Sintaxe para a educação
básica (2012), de Celso Ferrarezi Júnior. Enquanto pesquisador, semanticista e gramático
funcionalista, suas preocupações giram entorno do que seria útil ensinar para os alunos de
educação básica, além de propor um processo mais intuitivo de aprendizagem.

Foi pensando nessas questões de norma e uso, de forma e sentido, de teoria e práticas
de ensino, que se delimitou o corpus deste ensaio. A seguir, veremos como é possível pensar
lógica e intuitivamente em sintagmas ligados a palavras nominais que estejam funcionando
como adjetivo; bem como nas ideias circunstanciais (advérbios), e no vocativo.

1. SINTAGMAS LIGADOS A PALAVRAS NOMINAIS QUE ESTEJAM FUNCIO-


NANDO COMO ADJETIVO

Se pensarmos que o eixo sintagmático é como uma partitura de piano, entendere-


mos a base do sintagma como a clave, a qual determina como todas as notas devem ser li-
das. Já que o núcleo gerador abre lacunas com restrições gramaticais e semânticas. Partin-
do dessa metáfora, entendemos que, como as palavras nominais (substantivo) nunca fun-
cionam como base de concordância, seus sintagmas também não estabelecerão concor-
dância. Os adjuntos e verbos sempre concordam. Sendo assim, só restam os complemen-
tos nominais e adverbiais às palavras nominais que estejam funcionando como adjetivo. É
escusado dizer aqui a função do adjetivo.
Tomamos como exemplo a seguinte oração:
Gong Li está cansada de seus seminários.
Na qual, observa-se que os complementos nominais:
 Serão sempre ligados ao núcleo gerador por meio de um conectivo (de);
 Terão um nome em seu próprio núcleo (seminários);
 Não estabelecerão qualquer tipo de concordância com a base que os gerou (cansada).

2. ACRESCENTANDO IDEIAS CIRCUNSTANCIAIS

Os adjuntos adverbiais4 são os termos que acrescentam ideias circunstanciais a


verbos, adjetivos e advérbios. Não é necessário que o aluno de educação básica saiba toda
a tipologia adverbial: de lugar, de intensidade, etc. O importante é que ele saiba sua fun-
ção na construção sintática: a de acrescentar ideias circunstanciais. Tomamos como
exemplo o complemento adverbial de uma palavra adjetiva:
Gong Li está muito cansada, pois seu curso é bem difícil.
A ideia circunstancial neste caso é centrada na propriedade do nome.

3. OS ADVÉRBIOS DOS ADVÉRBIOS

Os advérbios apresentam uma particularidade: nem concordam nem exigem concor-


dância. Assim sendo, seu complemento só poderá ser um advérbio também.

Ex.: Gong Li está apresentando muito apressadamente seu seminário de língua portu-
guesa.

Dessa forma, podemos retomar a metáfora da partitura de piano, pois toda base gera
restrições gramaticais e semânticas específicas. Simultaneamente, a palavra-base, numa cons-
trução sintática, abre lacunas e delimita o campo das complementações.

4. O PROBLEMA TERMINOLÓGICO

4
O termo é demasiado redundante, pois apresenta o prefixo “ad” duas vezes. Além de ser complicado para alu-
nos de educação básica.
Como já explicitado nos itens acima, os complementos nominais são aqueles que
complementam as palavras nominais. Já os complementos verbais, que não compuseram o
nosso corpus, são os que complementam o sentido do verbo. Mas a questão que levantamos
aqui é acerca do advérbio. Pois, diferentemente da ideia que temos ao ler a palavra, o advérbio
complementa além de verbos, adjetivos e advérbios. Talvez uma boa maneira de sanarmos
esta questão, seja pensando a partir de sua forma latina: adverbium. “Ad” significa “junto à”,
enquanto que “verbum” é a “palavra, discurso”. Isto é, algo que está junto à palavra, seja ver-
bo, advérbio ou adjetivo.

5. O VOCATIVO NÃO É UM SINTAGMA

O vocativo em algumas GNTs tem sido considerado como um sintagma, ou seja, como
um termo que influi na construção gramatical e de sentido, numa frase nominal ou verbal.
Mas vejamos alguns exemplos:

Gong Li, você pode apresentar este seminário mais rápido?

Você pode, Gong Li, apresentar este seminário mais rápido?

Aqui, não há influência do vocativo na construção sintática, sua única função é a de


estabelecer uma comunicação. Chamar atenção de alguém para algo. Por isso não deve ser
considerado como sintagma.

Vejamos, por último, uma oração cujo vocativo está mal posto e interferindo na con-
cordância verbal:

Você pode me, Gong Li, deixar ir para casa dormir?

Neste caso, o vocativo perde sua função e interfere na harmonia sintática.

CONSIDERAÇÕES

Como a própria proposta sugere, buscou-se ensaiar algumas reflexões entorno do ensi-
no de sintaxe na educação básica, por um viés funcionalista. Usamos nomenclaturas mais in-
tuitivas e sugestivas. Pensando no sentido vinculado à forma. A forma da palavra não pode
estar totalmente desvinculada de seu sentido, uma competência precisa evocar a outra, como
já sugerido por Benveniste.

A tessitura deste trabalho é resultado de um primeiro esforço de reflexão, no sentido


de tentar contribuir com o ensino de sintaxe na educação básica. É possível imaginarmos um
futuro sem semear os frutos vindouros?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. 2. ed. Trad. Eduardo Guimarães et
al. São Paulo: Pontes, 2006.
FERRAREZI JÚNIOR, Celso. Sintaxe para a educação básica. São Paulo: Contexto, 2012.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 28. ed. Trad. Antônio Chelini et al.
São Paulo: Cultrix, 2006.

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