Você está na página 1de 14

O DEMÔNIO DA TEORIA:

LITERATURA E SENSO
COMUM (1998), DE
ANTOINE COMPAGNON
• Nasceu em 1950 em Bruxelas;
• Já lecionou no Collège de France (2006-2021);
• Tem inúmeros livros de crítica literária
RESUMO DA OBRA

■ O livro traça os conflitos da teoria literária e do senso comum. A


teoria recusa os preconceitos do senso comum: o autor como
autoridade que dá sentido ao texto; a realidade como explicação
para a obra; a leitura como uma conversa direta entre um autor e seu
leitor; a história literária como uma lista de grandes escritores;
finalmente, o valor como propriedade objetiva do cânone literário.
A teoria abalou o senso comum, mas o senso comum resistiu à
teoria. E este muitas vezes reduziu seu adversário ao silêncio,
correndo o risco de se encerrar em paradoxos. É hora de voltar aos
grandes anos da teoria literária na França, a fim de oferecer uma
avaliação.
INTRODUÇÃO
■ ESTUDOS LITERÁRIOS FRANCESES (ANOS 1960 E 1970);
■ NOVA CRÍTICA: ESTRUTURALISMO, POÉTICA E
NARRATOLOGIA
■ Gérand Genette, Roland Barthes, Júlia Kristeva

■ O QUE RESTOU DE NOSSOS AMORES?


■ [O contexto descrito acima] não é mais, exatamente, o quadro. A teoria
institucionalizou-se, transformou-se em método, tornou-se uma pequena
técnica pedagógica, frequentemente tão árida quanto a explicação do texto,
que ela atacava, então, energicamente. A estagnação parece inscrita no
destino escolar de toda teoria. A história literária, jovem disciplina
ambiciosa e atraente do final do século XIX, conheceu a mesma triste
evolução, e a nova crítica não escapou disso (COMPAGNON, p. 13).
O QUE É TEORIA DA
LITERATURA?
■ Descritiva, a teoria da literatura é, pois, moderna: supõe a existência de
estudos literários, instaurados no século XIX, a partir do romantismo. Tem
uma relação com a filosofia da literatura como ramo da estética que
reflete sobre a natureza e a função da arte, a definição de belo e de
valor. Mas a teoria da literatura não é filosofia da literatura, não é
especulativa nem abstrata, mas analítica: seu objeto são os discursos sobre
a literatura, a crítica e a história literárias, que ela questiona,
problematiza, e cujas práticas organiza (COMPAGNON, p. 20).
■ Em resumo, a teoria da literatura é metacrítica (crítica da crítica); ela
analisa a prática dos estudos literários e problematiza a história da literatura.
AS QUESTÕES FUNDAMENTAIS
DOS ESTUDOS LITERÁRIOS

■ O QUE É LITERATURA?
■ QUAL É A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E AUTOR?
■ QUAL É A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E
REALIDADE?
■ QUAL É A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E LEITOR?
■ QUAL É A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E
LINGUAGEM?
O QUE É LITERATURA?

■ Questão levantada desde Aristóteles, passando pelo Romantismo (século


XIX), pelo Formalismo Russo, até os nossos dias.
■ Embate entre historicismo e formalismo.
■ A aporia resulta, sem dúvida, da contradição entre dois pontos de vista
possíveis e igualmente legítimos; ponto de vista contextual (histórico,
psicológico, sociológico, institucional) e ponto de vista textual
(linguístico). A literatura, ou o estudo literário, está sempre imprensada
entre duas abordagens irredutíveis: uma abordagem histórica, no sentido
amplo (o texto como documento), e uma abordagem linguística (o texto
como fato da língua, a literatura como arte da linguagem)
(COMPAGNON, p. 30).
■ Retenhamos disso tudo o seguinte: a literatura é uma inevitável
petição de princípio. Literatura é literatura, aquilo que as
autoridades (os professores, os editores) incluem na literatura.
Seus limites, às vezes se alteram, lentamente, moderadamente,
mas é impossível passar da sua extensão à sua compreensão,
do cânone à essência. Não digamos, entretanto, que não
progredimos, porque o prazer da caça, como lembrava
Montaigne, não é a captura, e o modelo de leitor, como vimos,
é o caçador.
RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E
AUTOR
■ O lugar da intenção do autor constitui o capítulo mais longo do livro,
tanto se tem debatido a questão da sua função e do seu papel. Aqui, os
críticos são separados em dois posicionamentos: os partidários da
explicação (buscar entender o que o autor nos diz) e os partidários da
interpretação (buscar entender o que o texto diz, independentemente
do autor).
■ Sob o nome de intenção em geral, é o papel do autor que nos interessa, a
relação entre o texto e seu autor, a responsabilidade do autor pelo sentido
e pela significação do texto (COMPAGNON, p. 47).
■ Abordagens freudianas (mais individuais) e marxistas (mais
coletivas).
■ Barthes e “A morte do autor” (1967).
■ Ao autor como princípio produtor e explicativo da literatura,
Barthes substitui a linguagem, impessoal e anônima, pouco a pouco
reivindicada como matéria exclusiva da literatura [...] “o autor
nunca é aquele que escreve, assim como eu não é outro senão o que
diz eu” (COMPAGNON, p. 50).
■ Assim, a presunção de intencionalidade permanece no princípio dos
estudos literários, mesmo entre os antiintencionalistas mais extremados,
mas a tese antiintencional, mesmo se ela é ilusória, previne legitimamente
contra os excessos da contextualização histórica e biográfica. A
responsabilidade crítica, frente ao sentido do autor, principalmente se esse
sentido não é aquele diante do qual nos inclinamos, depende de um
princípio ético de respeito ao outro. Nem as palavras sobre a página nem
as intenções do autor possuem a chave da significação de uma obra e
nenhuma interpretação satisfatória jamais se limitou à procura do
sentido de umas ou de outras. Ainda uma vez, trata-se de sair desta falsa
alternativa: o texto ou o autor. Por conseguinte, nenhum método exclusivo
é suficiente (COMPAGNON, p. 96).
A LITERATURA E A REALIDADE
■ Do que fala a literatura? A mimèsis, desde a Poética de Aristóteles, é o
termo mais geral e corrente sob o qual se estabeleceram as relações entre a
literatura e a realidade. [...] Mas a mimèsis foi questionada pela teoria
literária que insistiu na autonomia da literatura em relação à realidade,
ao referente, ao mundo, e defendeu o primado da forma sobre o fundo, da
expressão sobre o conteúdo, do significante sobre o significado [...] Como
a intenção do autor, a referência seria uma ilusão que impede a
compreensão da literatura como tal (COMPAGNON, p. 97).
■ Embate entre mimèsis (representação, imitação, verossimilhança) e
autorreferencialidade: “a literatura fala do mundo, a literatura fala da
literatura [intertextualidade]” (COMPAGNON, p. 99).
■ Mas é ainda essa violenta lógica binária, terrorista, maniqueísta,
tão a gosto dos literatos – fundo ou forma, descrição ou narração,
representação ou significado – que nos leva a alternativas
dramáticas e nos joga contra a parede e os moinhos de vento. Ao
passo que a literatura é o próprio entrelugar, a interface
(COMPAGNON, p. 138).
CONCLUSÃO...

■ Terei conseguido desmistificar a teoria? [...] Criticar a crítica, julgar a pesquisa


literária, é avaliar sua adequação, sua coerência, sua complexidade – critérios que
não resistem à depuração teórica, mas que continuam sendo os menos discutíveis.
Como a democracia, a crítica da crítica é dos regimes o menos ruim e, se não
sabemos qual é o melhor, não temos dúvida de que os outros são piores. Não
advoguei, pois, a causa de uma teoria entre outras, nem a do senso comum, mas a
da crítica a todas as teorias, inclusive ao senso comum. A perplexidade é a única
moral literária (COMPAGNON, p. 260).

Você também pode gostar