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Até à década
de 60 do século
passado, os
portugueses
emigravam
sobretudo para a
América, muito
especialmente para
o Brasil. As décadas
de 60 e 70 marcaram
Fig 4 A emigração portuguesa no Mundo
uma alteração no
sentido do fluxo migratório português. O destino preferido passou a ser constituído
por países da Europa ocidental. Um número muito significativo de portugueses
emigrou clandestinamente, indo desempenhar trabalhos poucos exigentes em termos
de qualificação profissional, mas geralmente de grande esforço físico e mal
remunerados. Os principais países de destino eram a França, a Alemanha, o
Luxemburgo e a Suíça.
Os portugueses, em número nunca anteriormente registado, emigraram, nesse
período, países em franca expansão industrial, numa época de reconstrução e
desenvolvimento pós II Guerra Mundial, mas com carência de mão-de-obra. Fugiam da
Guerra Colonial, da fome, da pobreza, do isolamento e de um sistema político
opressor, em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Emigravam por
longos períodos de tempo (emigração permanente), mas a proximidade geográfica
dos países receptores colocava a possibilidade de regresso ao país sempre no
horizonte, ao contrário do que acontecia no período anterior, em que a saída do país
era, quase sempre, um acto definitivo.
Emigração permanente – Saída de população para outros países por período
superior a um ano.
Os valores deste índice têm vindo a aumentar, existindo cada vez mais idosos
dependentes da população activa. Esta situação coloca graves problemas ao nível da
Segurança Social e do pagamento de reformas.
Os jovens representam um grupo dependente, sendo importante determinar o
índice de dependência de jovens (IDJ), que relaciona o grupo etário dos jovens com o
grupo dos adultos e que se exprime em percentagem.
IDJ = População jovem (inferior a 15 anos) X100
População adulta (dos 15 aos 64 anos
O valor deste indicador tem vindo a decrescer como se pode concluir pela
análise dos valores da natalidade, que se encontram também em declínio.
O cálculo do índice de dependência total (IDT), que relaciona os grupos etários
dos dependentes com o grupo etário dos adultos, revela um aumento de valores.
IDT = População jovem + população idosa X100
População adulta
A situação portuguesa é grave uma vez que, para além do baixo grau de
instrução e de qualificação da população, registam-se simultaneamente níveis de
qualificação profissional insuficientes para dar resposta às alterações que se têm vindo
a verificar no mundo do trabalho; essas alterações estão relacionadas com a
introdução de novas tecnologias e com o nascimento de novas actividades, que exigem
novas competências e o domínio de novas técnicas e de novas formas de organização
do trabalho.
Quadro 1 População por níveis de ensino e por níveis de NUT II, em 2000
A partir desse período, as assimetrias que opõem o litoral ao interior são cada
vez mais marcadas, agravando-se a tendência para a litoralização e para a
bipolarização.
Na última metade do século XX as áreas mais dinâmicas, relativamente à
variação da população residente, isto é, que registaram aumento populacional, se
localizam no litoral e em particular em torno de Lisboa e Porto, as áreas em perda, isto
é, as áreas regressivas, localizam-se, regra geral, no interior e no litoral alentejano. É
de salientar que algumas áreas do interior não registaram perda de população
residente, antes pelo contrário. Trata-se de algumas áreas urbanas, mais propriamente
algumas freguesias, que resistindo à perda demográfica, conseguiram inverter o
fenómeno.
É de salientar a perda da população nos concelhos do Porto e Lisboa, na
sequência do processo de terciarização que tem vindo a marcar essas áreas e que é
responsável pelo aumento do preço do solo para fins de habitação. A população
procura nos concelhos limítrofes habitações a preços mais compatíveis com a sua
situação económica.
A irregular distribuição da população portuguesa é condicionada por factores
naturais e por factores humanos. Os factores naturais que mais influenciam essa
distribuição, podem ser o clima, o relevo e a fertilidade do solo.
O clima mais ameno e húmido do litoral constitui um factor de atracção da
população, na medida em que favorece o desenvolvimento das várias actividades
humanas. As férteis planícies do litoral atraíram desde sempre a população, ajudando
à sua fixação, na medida que facilitam a prática da agricultura e promovem o
desenvolvimento dos transportes e das comunicações.
O interior, de clima mais agreste, mais montanhoso e de solos mais pobres,
constitui um obstáculo à presença humana, dificultando o desenvolvimento de
actividades como a agricultura, o comércio ou a indústria.
São os factores humanos que melhor explicam as assimetrias regionais. É no
litoral que se localiza a maioria das cidades, verdadeiros pólos de atracção e de fixação
A localização das principais áreas de exploração dos recursos minerais é marcada pelas
características geomorfológicas do território. Em Portugal podemos distinguir três unidades
geomorfolóficas:
Maciço Antigo ou Maciço Hespérico - é a unidade mais antiga do
território, constituída por granito e xisto. É nesta unidade que se localizam as jazidas
mais importantes de minerais metálicos (cobre, volfrâmio e estanho), energéticos
(carvão e urânio) e rochas ornamentais (mármore e granito).
Orlas sedimentares (ocidental e meridional) – constituídas por rochas
sedimentares, os recursos minerais mais explorados são as rochas industriais (o
calcário, areias, argilas, arenitos).
Energia geotérmica
Esta forma de energia renovável utiliza o calor libertado pelo interior da Terra.
Em Portugal o seu aproveitamento é feito essencialmente nos Açores, na ilha de São
Miguel, para a produção de energia eléctrica.
No território nacional, as potencialidades desta forma de energia, associada a
muitas nascentes termais, tem conduzido à dinamização de vários projectos que visam
a sua exploração.
3.7. Os problemas na exploração dos recursos do subsolo
Custos de exploração
Apesar da relativa riqueza do subsolo português em recursos minerais, água e
rochas, a sua exploração nem sempre se revela fácil e viável economicamente.
Fraca acessibilidade de jazidas
Muitas jazidas encontram-se em áreas de difícil acesso, que elevam os custos
de transporte e portanto os custos finais do produto, o qual perde competitividade.
Qualidade do minério
O baixo teor de muitos minérios, associado à difícil extracção, devido à elevada
profundidade das jazidas, aumenta os custos de exploração e tem conduzido ao
encerramento de muitas explorações.
Dimensão das empresas
A maior parte das empresas do sector extractivo são de pequena dimensão. A
capacidade financeira das empresas insuficiente para garantir investimentos na área
da modernização tecnológica e na qualificação da mão-de-obra, o que aumenta os
custos de produção e leva ao seu colapso económico por falta de competitividade com
outras empresas, nomeadamente estrangeiras.
Indústria transformadora a jusante de extracção
A deficiente articulação da actividade extractiva com o sector da indústria
transformadora a jusante das explorações conduz à exploração dos produtos em
bruto. Nessa situação, o seu valor comercial é baixo, não se tornando rentável a sua
comercialização.
Novos produtos
As inovações associadas ao desenvolvimento tecnológico têm conduzido à
substituição, com êxito, de muitos produtos minerais por novos materiais, que se
revelam mais eficazes e com menores custos.
Dependência externa
A dependência externa face aos recursos minerais é muito elevada, com
excepção da produção de rochas, água e cobre. Contudo, é no subsector dos minerais
energéticos que a dependência se revela total. Esta dependência traduz-se numa
balança comercial negativa e numa vulnerabilidade, económica e política, face aos
mercados abastecedores e à conjuntura internacional, numa perspectiva mais ampla.
A dependência externa é agravada pela deficiente articulação da indústria
transformadora com a indústria extractiva, que está na origem de um valor muito
elevado de produtos exportados em bruto, portanto, a baixo preço.
Impacte ambiental
A actividade ligada ao sector extractivo é altamente penalizante para o
ambiente, quer a exploração se faça ao ar livre ou no interior do subsolo.
A actividade ligada a este sector traduz-se geralmente na contaminação dos
solos e das superficiais ou subterrâneas. A destruição de solos agrícolas e florestais é
outra consequência, assim como a degradação das paisagens, acompanhada muitas
vezes da alteração das próprias características do relevo.
3.8 Novas perspectivas de exploração e utilização dos recursos do subsolo
A valorização do sector extractivo passa pela implementação de medidas, de
natureza variada, entre as quais se pode apontar:
☻ Utilização de novas técnicas de prospecção que permitem um
conhecimento mais rigoroso dos recursos do subsolo;
☻ Redimensionamento das empresas, a fim de atingirem capacidade
económica que permita a introdução de técnicas e tecnológicas mais modernas e mais
rentáveis;
Tendo por base as áreas onde é praticada, a pesca pode ser classificada em:
o Pesca local – pratica-se em rios, estuários, lagunas ou na costa, até 6 ou
10 milhas da costa, consoante a embarcação utilizada tiver convés aberto ou convéns
fechado.
o Pesca costeira - é praticada para lá das 6 milhas da costa por
embarcações de dimensões superiores a 9 metros de comprimento e com autonomia
que pode ir até às duas ou três semanas.
o Pesca de largo – esta actividade realiza-se para além das 12 milhas da
costa, em pesqueiros externos de águas internacionais ou em ZEE (Zona Económica
exclusiva – zona marítima até 200 milhas marítimas da linha de costa, onde os países
ribeirinhos detêm o poder de exploração, conservação e administração dos recursos)
de outros países.
Nível de instrução em %
Sem Inferior ao
2º e 3º ciclo Secundário Superior
Regiões instrução 2º Ciclo
Agrárias
O turismo
A partir dos meados do século XX, com o desenvolvimento dos meios de
transporte, a melhoria do nível de vida e a conquista de importantes regalias sociais
(direito a férias, subsidio de férias, etc), o turismo transformou-se num fenómeno de
massas e numa actividade de grande importância económica, não só pelo número de
empregos que dá origem, como pelos capitais que atrai. Constitui-se como um
importante sector de desenvolvimento regional. A actividade turística é encarada
como potencializadora das regiões, principalmente pelos efeitos que produz ao nível
de outras actividades, impulsiona a construção civil, promove o desenvolvimento da
restauração e hotelaria, contribui para a dinamização do sector dos transportes,
incentiva o desenvolvimento dos serviços, estimula o artesanato, contribui para a
preservação do património.
O turismo balnear é em Portugal, o tipo de turismo que detém maior
expressão, o que se explica pelas características climáticas do país, com verões
quentes e secos, e pela extensão e diversidade da costa.
A implementação e expansão desta forma de turismo nem sempre
corresponderam a um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do litoral. Pelo
contrário, deu origem em muitos casos a um crescimento urbano caótico,
descaracterizado e ambientalmente degradado, relativamente aos princípios de um
processo de desenvolvimento sustentável.
Como alternativa ao turismo massificado começaram a ganhar expressão
outras ofertas turísticas, enquadradas por novas perspectivas de ocupação dos tempos
livres, pelo desejo de maior contactam com a Natureza e pela procura de serviços mais
personalizados.
Estes serviços, dominados pelo alojamento, arrancaram em Portugal no inicio
dos anos 80. A designação Turismo em Espaço Rural (TER) passa a ser utilizada na
legislação de 1986, quando são definidos os principais tipos: “turismo de habitação”,
“turismo rural” e “agro-turismo”.
O Turismo em Espaço Rural tem sido responsável pelo potenciar dos recursos
endógenos das áreas rurais contribuindo para assegurar a melhoria da qualidade de
vida das populações residentes para estimular processos de desenvolvimento
sustentável, promovendo uma oferta turística mais respeitadora do património natural
e urbano.
A importância atribuída na actualidade, à manutenção física e ao bem-estar
obtido com tratamentos preventivos, veio dar um novo impulso às termas e ao
contributo que dão no desenvolvimento de áreas do interior com poucas opções ou
alternativas para além da exploração de recursos naturais.
As áreas termais continuam a representar para um número reduzido de
utentes, uma forma de tratamento de problemas de saúde, sobretudo no descanso e
na fuga ao stress urbano ou no apoio a outras actividades para além das termas, que
se tem baseado a “recuperação” do turismo termal.
Um fenómeno recente relacionado com as termas, e que vem alterar a relação
entre as termas e as nascentes termais, prende-se com o aparecimento de vários
hotéis classificados nos segmentos mais altos, a exemplo de quatro estrelas, que
assentam a promoção na existência de actividades de balneário, acrescentando
serviços relacionados com a denominação spa (saúde pela água).
A indústria
O processo de industrialização no nosso país conheceu um forte crescimento da
década de 60, altura em que se modernizam e expandem sectores da indústria
tradicional (têxteis, confecção, calçado…) em que se assiste à implementação de novas
indústrias (indústria de plásticos, indústria química…), caracterizadas por sistemas de
produção assentes em técnicas e tecnologias modernas.
O crescimento do sector secundário fez-se sentir sobretudo nos distritos do
litoral ocidental, onde é mais fácil recrutar mão-de-obra onde abundam serviços de
apoio à indústria e onde os transportes e as comunicações se apresentam mais
desenvolvidos. Começam a acentuar-se as assimetrias regionais. Nas áreas rurais, a
persistência de uma agricultura tradicional, de baixo rendimento e produtividade,
incentiva ao êxodo rural e à emigração. Assiste-se ao progressivo despovoamento e
envelhecimento demográfico dessas áreas, ao mesmo tempo, nos distritos
industrializados do litoral, onde a oferta de trabalho é maior, se conhece um período
de forte crescimento populacional e económico.
É nas áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto que se verifica a maior
concentração industrial o que se traduz na existência de numerosos postos de trabalho
e onde o sector secundário regista o maior peso no contexto económico nacional.
Outros distritos do litoral, como Braga, Aveiro e Leiria, revelam também um
desenvolvimento industrial como significativo, dominando no primeiro as indústrias
têxteis e de confecção e nos restantes as indústrias ligadas ao vidro, à cerâmica, à
celulose, aos moldes para plástico, entre várias outras.
A expansão e melhoria de rede viária, assim como a construção de infra-
estruturas de base para a indústria tem imprimido uma certa dinâmica a alguns
distritos do Centro interior, como Castelo Branco e Guarda, assistindo-se a um
significativo desenvolvimento industrial, ligado quer a indústrias tradicionais que têm
por base a exploração de recursos endógenos como é o caso de lanifícios quer a novas
indústrias.
As áreas terciárias
CBD (Central Business District) – Esta área, mais vulgarmente designada entre
nós por Baixa ou Centro, caracteriza-se por uma elevado grau de acessibilidade, uma
vez que aí convergem os transportes públicos. Muita atractiva para numerosas
actividades do sector terciário cuja rentabilidade depende da existência de clientela
numerosa.
O CBD é considerado o centro financeiro da cidade, uma vez que aí se
concentram grande número de sedes bancárias, de companhias de seguros, de
escritórios das grandes empresas e comércio grossista e a retalho, geralmente muito
especializado e também a localização de restaurantes, hotéis e salas de espectáculos.
Muitas actividades administrativas e escritórios de profissões liberais encontram aí
uma área preferencial para se localizarem.
A procura destas áreas faz com que o solo se revele escasso, dificuldade que é
ultrapassada, em parte, pela construção em altura, um dos aspectos mais
característicos das áreas mais centrais das cidades.
Nesta área, a distribuição das actividades apresenta-se diferenciada, quer no
plano vertical quer no plano horizontal. No plano vertical é vulgar observar-se a
ocupação dos pisos térreos pelo comércio destinando-se os últimos pisos à residência
e os pisos intermédios a escritórios e armazéns.
A análise da organização do plano horizontal revela a existência de áreas de
forte especialização no interior do CBD: destacam-se o centro financeiro, a área de
comércio a retalho, a área de comércio grossista, a área de hotéis e restauração.
Em muitas cidades tem-se assistido à descentralização de muitas actividades
terciárias do centro para outras áreas da cidade, pela crescente falta do espaço,
agravada pelos valores excessivos dos preços dos terrenos, como pelo
congestionamento do tráfego urbano, cuja intensidade se vai traduzindo em
crescentes dificuldades de deslocação e de estacionamento. Esta tendência é
reforçada pelo aumento da acessibilidade a outras áreas da cidade, associada à
construção de novas vias de comunicação e a sistemas de transportes públicos mais
A rurbanização
Nos países mais desenvolvidos assiste-se a uma nova forma de expansão
urbana., abrangendo áreas mais vastas, conhecida por rurbanização. Trata-se de uma
forma de progressão urbana mais difusa que, invadindo os meios rurais, não se traduz,
contudo, na urbanização contínua do espaço. Constitui uma nova tendência de
deslocação da população urbana para os espaços rurais, em busca de condições de
vida com mais qualidade do que as que encontra nas cidades e nos subúrbios.
Reflecte-se em alterações significativas de aspectos sociais e culturais que
caracterizam os meios rurais.
As áreas Metropolitanas
A deslocação da população e das actividades económicas para os espaços
periféricos das cidades tem conduzido ao processo de suburbanização, assistindo-se
ao crescimento de alguns aglomerados que acabam, assim, por se expandir e adquirir
alguma dinâmica própria. Decorrendo deste processo continuado, formam-se as Áreas
Metropolitanas que constituem amplas áreas urbanizadas, englobando uma grande
cidade, que exerce um efeito polarizador sobre as restantes aglomerações urbanas.
Neste espaço desenvolve-se um complexo sistema de inter-relações entre a cidade
principal e as cidades envolventes que, por sua vez, também se encontram
interligadas.
As cidades e os centros urbanos das Áreas Metropolitanas formam um sistema
policênctrico, ligado por relações de complementaridade, que reforçam a coesão do
território e promovem maior eficácia de funcionamento e dinamismo económico.
As Áreas Metropolitanas detêm um elevado potencial polarizador do
território, uma vez que o seu dinamismo económico atrai população e emprego. O
dinamismo funcional e territorial assenta numa densa rede de transportes multimodal,
onde se concretizam intensos fluxos de pessoas e bens, quer inter, quer intra-
urbanos, motivados, para além do trabalho, por razões ligadas ao ensino, á cultura ou
ao desporto, entre outras e cada vez mais assumem maior importância. Os
movimentos pendulares constituem um dos aspectos relevantes desses fluxos que
atingem o seu auge nas horas de ponta e que traduzem uma urbanização territorial
nova, em que não se verifica coincidência entre o local de residência e o local de
trabalho.
A expansão dos subúrbios traduz-se na perda demográfica das áreas mais
centrais da cidade principal. A deslocação da população para os subúrbios é
acompanhada pela descentralização das actividades ligadas ao sector secundário e
terciário, que vão reforçar o dinamismo dos centros periféricos e criar novas
centralidades.
No nosso país, o processo de suburbanização tem sido particularmente nas
cidades do litoral, com especial destaque para Lisboa e Porto, dando origem à
formação das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Estas duas áreas fortemente
industrializadas, registam uma grande concentração de actividades do sector terciário,
assim como de população, pelo que exercem uma intensa acção polarizadora no
território nacional.
As Áreas Metropolitanas de Lisboa
e Porto
As Áreas Metropolitanas de Lisboa e
Porto foram criadas administrativamente
em 1991 e em 2003 foram reorganizadas
através da Lei nº. 10/2003, passando a ser
designadas por Grandes Áreas
Metropolitanas (GAM).
Com base neste novo diploma,
solicitaram adesão à GAM do Porto mais
cinco municípios: Arouca, Santa Maria da
Feira, Santo Tirso, São João da Madeira e
Trofa, e em 2008, Oliveira de Azeméis e
– que conduz à exclusão social -, à degradação ambiental, ao trânsito cada vez mais
intenso e aos problemas levantados pela produção e armazenamento de lixos.
A especulação imobiliária tem constituído um obstáculo ao acesso à habitação,
traduzindo-se num dos problemas que mais afectam as cidades portuguesas,
especialmente Lisboa e Porto. As áreas mais antigas caracterizam-se pela presença de
edifícios de habitação extremamente degradados, onde reside uma população
maioritariamente envelhecida e de fracos recursos. A sobrelotação das habitações
destas áreas, hoje, cada vez mais um problema ultrapassado, devido ao
despovoamento verificado.
Os “bairros de lata” são outro problema habitacional das cidades. Localizados
em áreas geralmente insalubres (doentias), neles se aglomeram construções precárias
que não dispõem de infra-estruturas essenciais (água, luz, saneamento) e albergam
grupos carenciados e economicamente, muitas vezes imigrantes pertencentes a
grupos étnicos minoritários. As “habitações” são partilhadas agregados numerosos que
vivem em situação de promiscuidade. Constituem espaços muito fechados e não raras
vezes focos de criminalidade com venda e consumo de droga, prostituição e furto,
entre outros.
Há ainda a considerar o caso dos sem-abrigo, aqueles que não dispõem de
tecto para se abrigarem, fazendo da rua sua
verdadeira casa.
O número dos que vivem debaixo do limiar
de pobreza cresce a um ritmo preocupante nas
principais cidades portuguesas, tal como acontece
nas outras cidades europeias. Os grupos mais
atingidos são o dos imigrantes, muitos deles em situação de clandestinidade, o dos
desempregados ou situação de emprego precário, o dos idosos com pensões de
reformas claramente insuficientes e o das minorias étnicas. O dramatismo de algumas
destas situações é por vezes reforçado pela toxicodependência, que aumenta as
situações de mendicidade e incentiva ao tráfico de droga e à criminalidade.
desporto, lazer e cultura, assim como foram levadas a cabo inúmeras acções de
reabilitação e renovação urbana.
O atenuar do crescimento das grandes aglomerações
A diminuição das assimetrias e o reforço da coesão e da solidariedade internas
passam pela reorganização da rede urbana, de que resulta o desenvolvimento de uma
rede policêntrica, constituída por centros de grande, média e pequena dimensão,
distribuídos de forma mais equilibrada pelo território nacional e ligados entre si de
forma articulada por relações de complementaridade.
Esta reorganização assenta na melhoria das acessibilidades entre os vários
centros urbanos e no incentivo público e privado ao investimento em actividades que
potenciem o desenvolvimento económico regional.
As condições enunciadas permitem a aumentar a capacidade de atracção das
cidades médias, aumentar a sua área de influência por contextos regionais mais
alargados, ajudando a intensificar as relações entre o meio urbano e o meio rural.
Apesar das melhorias a que se tem assistido ao nível do desenvolvimento da
rede viária, nomeadamente da rede nacional estruturante, da rede que liga as áreas
rurais e urbanas, bem como das condições para a fixação dos mais diversos serviços e
actividades que têm vindo a promover a especialização e consequentemente, a
complementaridade funcional entre os centros urbanos e a rede urbana nacional
revela-se ainda muito desequilibrada e pouco eficiente.
O litoral continua a demarcar-se do interior, quer em número de cidades quer
na dimensão demográfica das mesmas.
A inserção na rede urbana europeia
Uma vez que os centros urbanos que dinamizam as regiões onde se integram e
que essa dinamização é tanto maior quanto maior a sua capacidade polarizadora, isto
é, de atracção de população e actividades económicas, facilmente se depreende que o
desenvolvimento do país e a projecção da sua imagem no exterior depende de uma
rede urbana policêntrica, com um número equilibrado de centros urbanos de
diferentes dimensões, distribuídos harmoniosamente pelo território.
Transporte rodoviário
O transporte rodoviário tem registado em Portugal um aumento muito
significativo, quer no que respeita aos veículos pesados quer aos ligeiros. Esta situação
traduz a subida do nível médio de vida da população, desenvolvimento do comércio e
das actividades produtivas. Este meio de transporte revela-se adequado sob o ponto
de vista económico, para curtas e médias distâncias. Apresenta uma grande
flexibilidade, permitindo o transporte porta a porta, que elimina a necessidade de
transbordo e, por outro lado, revela-se rápido e cómodo. Tem sido objecto de uma
considerável evolução tecnológica que se traduz no aumento da capacidade de carga e
de especialização para o transporte de mercadorias diversificadas. Tudo se reflecte na
diminuição dos custos de transporte e no aumento da sua competitividade face a
outros meios.
O crescimento do parque automóvel tem-se traduzido no aumento excessivo
do tráfego, especialmente nos grandes centros urbanos, com todos os inconvenientes
que daí decorrem, nomeadamente no que diz respeito ao elevado consumo de
combustível, ao aumento da poluição, ao aumento do desgaste psicológico, á
dificuldade em estacionar entre outros.
A utilização cada vez maior dos transportes rodoviários, particularmente dos
veículos particulares, conduz ao aumento do consumo de combustíveis fósseis e ao
aumento da poluição atmosférica, a qual atinge níveis preocupantes em diversas
cidades europeias. A elevada sinistralidade é outro dos grandes problemas associados
à utilização deste meio de transporte.
Transporte ferroviário
O transporte ferroviário foi durante a primeira metade do século XX, um meio
de transporte muito utilizado e constituiu um importante factor de desenvolvimento
para o país. À medida que os transportes rodoviários se foram afirmando, foi perdendo
competitividade, quer no transporte de passageiros quer no de mercadorias,
apresentando actualmente uma utilização muito modesta, tanto nas ligações nacionais
como internacionais. Alguns aspectos de carácter fixos dos seus itinerários que se
por vezes o impacto destas novas formas de trabalho, com o da primeira Revolução
Industrial.
As novas formas de comunicação, aliadas ao aumento de serviços disponíveis
online, quer das empresas quer públicas, dirigidas a um leque alargado de clientela, a
custos baixos, permite a quebra do isolamento das áreas mais periféricas, a redução
das assimetrias, a dinamização dos mercados e a coesão social.
Os sistemas de satélites mais utilizados actualmente são o GPS – Global
Positioning System (sistema do posicionamento global), de origem americana.
5.3 Os transportes, as comunicações e a qualidade de vida da população
Em Portugal os sectores dos transportes e das comunicações assumem cada vez
maior relevância em vários domínios da sociedade. Contribuem de forma significativa
para o aumento do PIB, os seus efeitos multiplicadores noutros sectores da economia
devem ser também considerados. Tem contribuído para a modernização das empresas
nacionais e para apoiar a fixação de empresas estrangeiras no território nacional. O
seu papel na aproximação das áreas mais desenvolvidas com as mais periféricas.
Estes sectores, funcionando de uma forma indissociável e articulada,
constituem-se como um suporte fundamental para a promoção de novos factores de
crescimento e para a renovação do modelo de crescimento económico português,
assim como para a ligação de Portugal à Europa e ao resto do Mundo, permitindo uma
integração plena “aldeia global”.
Garante-se assim e proporciona-se a todos os cidadãos portugueses condições
de igualdade no acesso aos transportes e às novas tecnologias da informação, pelo que
é necessário investir nas diferentes redes, na sua modernização e também na
formação, tendo em vista o domínio das novas tecnologias.
Estes sectores não estão isentos de perigos de perigos que é necessário
minimizar.
Até meados dos anos 60, Portugal era um país de emigrantes. Sobretudo de
emigrantes transoceânicos. A falta de oportunidades e o clima de pobreza que reinava
no auge do antigo regime levaram milhões de portugueses a atravessar o Atlântico em
direcção ao Novo Mundo. Brasil (22% dos 2 milhões de emigrantes portugueses entre
1950 e 1984), Venezuela (8%), Canadá (9%) e EUA (13%) foram os destinos eleitos para
refazerem as suas vidas. A partir dos anos 60, estes fluxos começaram a centrar-se nas
economias florescentes da Europa Ocidental, carentes de mão-de-obra não
especializada e com condições laborais infinitamente superiores às oferecidas em
Portugal. França (31%), Alemanha (9%) e Suíça passaram então a ser o destino de
eleição destes portugueses. Foi então que o Estado começou a abrir as portas aos
imigrantes das colónias portuguesas (sobretudo de Cabo Verde).
Com a desagregação tardia do Império ultramarino português, em 1975, cerca
de meio milhão de portugueses que viviam sobretudo em Angola e Moçambique
regressaram a Portugal para 11 anos depois, com a entrada de Portugal na então
Comunidade Económica Europeia, se voltar a incentivar a saída de trabalhadores
nacionais para um espaço europeu comum que continuava carenciado de mão-de-
obra. A integração de Portugal neste novo espaço tornou-o especialmente atractivo
como destino de imigrantes oriundos do Brasil, dos PALOP e da Europa Central e
Oriental. Os manuais de sociologia e de antropologia distinguem três modelos de
integração para as populações imigrantes: a assimilação contempla a perda de
identidade e cultura originais a favor da identidade e cultura dominantes, neste caso, a
do país receptor; melting pot em que as diferentes culturas se fundem e assimilam
umas às outras, formando uma cultura e identidades novas; e o pluralismo cultural
onde diferentes culturas não cedem a outras e convivem de forma igual e equilibrada,
formando um mosaico multicultural.
Seja de que forma se faça, a integração é inevitavelmente um processo gradual
através do qual os imigrantes participam na vida económica, social, cívica e cultural do
país de acolhimento. No entanto, esta nem sempre ocorre, nomeadamente por causa
desenvolvimento humano seja estudado por meio da interacção deste núcleo com
outros três, de forma inter-relacionada: o processo, a pessoa e o tempo, ampliando o
foco do modelo.
O contexto
O primeiro componente do modelo bioecológico, o contexto, segue o proposto
em 1979/1996, e é analisado por meio da interacção de quatro níveis ambientais,
denominados: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. É no
contexto dos microssistemas que operam os processos proximais, que produzem e
sustentam o desenvolvimento, mas a sua eficácia em implementá-lo depende da
estrutura e do conteúdo dos mesmos (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O
microssistema é o sistema ecológico mais próximo, e compreende um conjunto de
relações entre a pessoa em desenvolvimento e seu ambiente mais imediato, como a
família, a escola, a vizinhança mais próxima. As interacções dentro do microssistema
ocorrem com os aspectos físicos, sociais e simbólicos do ambiente, e são permeadas
pelas características de disposição, recurso e demanda das pessoas envolvidas
(Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O mesossistema refere-se ao conjunto de relações entre dois ou mais
microssistemas nos quais a pessoa em desenvolvimento participa de maneira ativa (as
relações família-escola, por exemplo). O mesossistema é ampliado sempre que uma
pessoa passa a frequentar um novo ambiente. Os processos que operam nos
diferentes ambientes frequentados pela pessoa são interdependentes, influenciando-
se mutuamente (Bronfenbrenner, 1986). Assim, a interacção de uma pessoa em
determinado lugar, por exemplo, na escola, é influenciada pelo ambiente e também
pelas influências trazidas de outros contextos, como a família.
O exossistema compreende aquelas estruturas sociais formais e informais que,
embora não contenham a pessoa em desenvolvimento, influenciam e delimitam o que
acontece no ambiente mais próximo (a família extensa, as condições e as experiências
de trabalho dos adultos e da família, as amizades, a vizinhança). Nesse sentido, o
exossistema envolve os ambientes que a pessoa não frequenta como um participante
activo, mas que desempenham uma influência indirecta sobre o seu desenvolvimento
(Bronfenbrenner, 1996). Três exossistemas são identificados por Bronfenbrenner
(1986) como muito importantes para o desenvolvimento da criança, devido à sua
influência nos processos familiares: o trabalho dos pais, a rede de apoio social e a
comunidade em que a família está inserida. Por último, o macrossistema é composto
pelo padrão global de ideologias, crenças, valores, religiões, formas de governo,
culturas e subculturas, situações e acontecimentos históricos presentes no cotidiano
das pessoas e que influenciam seu desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1996, 2004).
Assim, a cultura na qual os pais foram educados, os valores e as crenças transmitidos
por suas famílias de origem, bem como a sociedade actual em que eles vivem,
influenciam a maneira como educam seus filhos. O macrossistema é o sistema mais
distante da pessoa: abrange a comunidade na qual os outros três sistemas estão
inseridos e que pode afecta-los (estereótipos e preconceitos de determinadas
sociedades, períodos de grave situação económica dos países, globalização).
O processo
O processo é destacado como o principal mecanismo responsável pelo
desenvolvimento, e é visto como as interacções recíprocas progressivamente mais
complexas do sujeito com as pessoas, objectos e símbolos presentes no seu ambiente
imediato (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O ser humano é sempre considerado nesta
teoria como um ser biopsicologicamente em evolução e, para que suas interacções
sejam consideradas como tal, ele deve ser activo. As formas de interacção no
ambiente imediato são denominadas processos proximais. Bronfenbrenner e Morris
(1998) tratam dos processos proximais como os principais motores de
desenvolvimento psicológico ou formas de interacção que operam como o substrato
das actividades conjuntas, dos papéis e das relações estabelecidas rotineiramente
(entre crianças/cuidadores/professores), e podem determinar suas trajectórias de
vida, de maneira a inibir ou incentivar a expressão de competências nas esferas
cognitiva, social e afectiva.
A pessoa
O terceiro componente do modelo bioecológico é a pessoa. Esta é analisada
por meio de suas características determinadas biopsicologicamente (experiências
vividas, habilidades, por exemplo) e aquelas construídas (demanda social, por
exemplo) na sua interacção com o ambiente (Bronfenbrenner & Morris, 1998). No
modelo bioecológico, as características da pessoa são tanto produtoras como produtos
do desenvolvimento, pois constituem um dos elementos que influenciam a forma, a
força, o conteúdo e a direcção dos processos proximais. Ao mesmo tempo, são
resultados da interacção conjunta destes elementos - processo, pessoa, contexto e
tempo (Bronfenbrenner, 1999). Assim, no modelo bioecológico, o desenvolvimento
está relacionado com estabilidade e mudança nas características biopsicológicas da
pessoa durante o seu ciclo de vida (Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O tempo
Finalmente, o quarto componente do modelo bioecológico - o tempo,
incorporado ao modelo em 1986 - permite examinar a influência no desenvolvimento
de mudanças e continuidades que ocorrem ao longo do ciclo de vida (Bronfenbrenner,
1986). Para Bronfenbrenner e Morris (1998) o tempo é analisado em três níveis do
modelo bioecológico: microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo refere-
se à continuidade e à descontinuidade observadas dentro dos episódios de processo
proximal. Como exemplo, pode ser mencionado o tempo de duração das relações
estabelecidas entre as crianças e seus pares ou família, ou ainda, durante a realização
de determinada actividade. O modelo bioecológico condiciona a efectividade dos
processos proximais à ocorrência de uma interacção recíproca, progressivamente mais
complexa, em uma base de tempo relativamente regular, não podendo este funcionar
efectivamente em ambientes instáveis e imprevisíveis. Em um nível mais elevado, o
mesotempo refere-se à periodicidade dos episódios de processo proximal, considerado
em intervalos de tempo como dias e semanas. O macrotempo focaliza as expectativas
e os eventos constantes e mutantes tanto dentro da sociedade ampliada como das
gerações, e a maneira como estes eventos afectam e são afectados pelos processos e
resultados do desenvolvimento humano dentro do ciclo de vida.
Assim, a análise do tempo dentro destes três níveis deve focalizar a pessoa em
relação aos acontecimentos presentes em sua vida, desde os mais próximos até os
mais distantes, como grandes acontecimentos históricos, por exemplo.
Bronfenbrenner e Morris (1998) ressaltam que as mudanças que ocorrem ao longo do
tempo, nas quatro propriedades do modelo bioecológico, são produtos e também
produtores da mudança histórica.
A abordagem ecológica do desenvolvimento humano proposta por
Bronfenbrenner (1996) é útil ao permitir que o desenvolvimento possa ser entendido
de maneira contextualizada e contemplando a interacção dinâmica das quatro
dimensões descritas. Ao fazer isso, são evitados os equívocos frequentemente
cometidos de entender o desenvolvimento de uma população, principalmente no caso
de populações em risco, a partir dos critérios de estudos realizados com grupos de
contextos diferentes (Huston, McLoyd & Coll, 1994; Jessor, 1993).
adversidade; pelo contrário, pode implicar enfrentamento (Anthony & Cohler, 1987;
Masten & Garmezy, 1985).
Resiliência é um conceito multifacetado, contextual e dinâmico (Masten, 2001),
no qual os factores de protecção têm a função de interagir com os eventos de vida e
accionar processos que possibilitem incrementar a adaptação e a saúde emocional.
Rutter (1999) pondera que resiliência não é uma característica ou traço individual, mas
processos psicológicos que devem ser cuidadosamente examinados. Resiliência não é
uma característica fixa, ou um produto; pode ser desencadeada e desaparecer em
determinados momentos da vida, bem como estar presente em algumas áreas e
ausente em outras. Neste sentido, a resiliência é entendida, portanto, não somente
como uma característica da pessoa, como uma capacidade inata, herdada por alguns
"privilegiados", mas a partir da interacção dinâmica existente entre as características
individuais e a complexidade do contexto ecológico (Cecconello, 2003); P.A. Cowan,
C.P. Cowan & Schulz, 1996; Junqueira & Deslandes, 2003; Seligman & Csikszentmihalyi,
2000; Yunes, 2003; Yunes & Szymansky, 2001). Luthar (1993) propôs domínios
específicos de coping que delimitariam tipos de resiliência: social, emocional e
académica (Rutter, 1993; Zimmerman & Arunkumar, 1994). No entanto, os processos
de resiliência requerem compreensão dinâmica e inter accional dos factores de risco e
de protecção.
O foco tradicionalmente usado pela psicologia, que relaciona os factores de
risco com o que vai "mal" na vida das pessoas, faz com que muitos profissionais,
sobretudo aqueles que trabalham com populações em situação de risco pessoal e
social, enfatizem o que Junqueira e Deslandes (2003) chamam de determinismo social
e "fatalismo". Esses autores destacam a necessidade de que essas populações possam
ser vistas não simplesmente como vítimas de um sistema social injusto; ao invés disso,
reforçam a atitude de resgatar e fortalecer (empowerment - empoderamento) as
dimensões sadias dessa pessoa, as quais possibilitam luta e superação das situações de
risco. Ultrapassam, assim, o determinismo social, o preconceito e os estereótipos
macros sistémicos, marcados por um discurso que ressalta e super valoriza deficiências
Koller (1999), a significação que a pessoa atribui à rede de apoio pode ser mais
importante que a rede em si. As pessoas diferem na forma de perceber ou utilizar o
apoio social disponível, dependendo de suas características, experiências e contextos.
Por exemplo, uma criança pode perceber a escola como um ambiente hostil porque é
tímida e não percebe o contexto como acolhedor; no entanto, outra pode sentir-se
bem, pois é estimulada a participar das actividades oferecidas e tem a possibilidade de
trocar experiências com outras crianças.
Independentemente dos microssistemas nos quais as pessoas estejam ou vivam
(família, instituição ou escola), o seu desenvolvimento psicológico saudável depende,
conforme Bronfenbrenner (1996), principalmente da existência de interacções. No
entanto, tais interacções precisam ser marcadas por sentimentos afectivos positivos,
reciprocidade e equilíbrio de poder. Relações negligentes ou abusivas, baseadas em
estereótipos e/ou concepções idealizadas, podem ser encontradas em práticas
educativas na família, na instituição ou na escola. A privação relacional não é exclusiva
deste ou daquele contexto ecológico. Segundo Bronfenbrenner (1991), a privação
social pode estar presente em diferentes espaços ecológicos e constituir-se na falta de
iterracções com outras pessoas.
Diante disso, seja qual for o contexto (família, instituição ou escola), este pode
se configurar como risco ou protecção. No entanto, isto dependerá da qualidade das
relações e da presença de afectividade e reciprocidade que tais ambientes
propiciarem. Quando houver conexões positivas, como algumas descritas ao longo
deste artigo, entre os contextos e/ou dentro deles, certamente haverá a possibilidade
de se accionarem processos de resiliência que favoreçam a melhoria da qualidade de
vida, da saúde e a adaptação das pessoas e da sociedade.
1
Edgar Morin compreende o ser humano constituído pela razão – Homo sapiens e indissoluvelmente emoção/loucura - Homo
demens, quanto Homo faber, ao mesmo tempo Homo ludens, que Homo economicus é, ao mesmo tempo Homo mytologicus, que
Homo prosaicus e´, ao mesmo tempo, Homo poeticus. (MORIN, 2005 a: 42)
Por outro lado, importa perceber que, nas cidades, a crise habitacional torna-se
evidente pela falta ou “precariedade” de moradias, resultado de políticas
governamentais incapazes de atender às demandas pela qualidade de vida.
Nota-se que apesar do avanço tecnológico e da rapidez de informações não há
correspondência com as melhorias de políticas sociais efectivas. Constata-se isto
percebendo o aglomerado de pessoas morando em favelas, sem condições dignas de
habitabilidade, como consequência do aumento da pobreza podendo favorecer os
elevados índices de violência nessas populações.
O cenário urbano actual das principais cidades mostra o desequilíbrio
provocado pelas áreas edificadas sobre o meio ambiente e sobre o comportamento
humano, visto que os ambientes construídos nas cidades constituem o habitat de
parcela crescente da humanidade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,
onde o mundo experimenta um processo de intensa urbanização.
A actual situação mundial apresenta cenários críticos de concentração urbana e
condições de vida extremamente precárias, predatórias e até mesmo sub humanas.
Em virtude dessa realidade, prima-se pelo desenvolvimento sustentável, que
pressupõe práticas de crescimento que atendam às necessidades presentes sem
comprometer as condições de sustentabilidade das gerações futuras.
A compreensão do urbano não se dá apenas pela descrição de seus problemas,
mas, sobretudo, pelo conhecimento e vínculos entre vida urbana e a formação social, o
espaço e o ambiente, os signos e seus significados, as ideias e as linguagens, o real e o
abstracto, onde a cultura permite a reflexão para uma sociedade mais justa,
integradora, solidária e igualitária.
A vida na Terra depende de uma mudança de paradigmas, dos valores éticos e
estéticos; da condição da existência humana em todas as sociedades existentes.
Grande parte dos ambientes urbanos construídos pelo homem parece negar
toda relação com a natureza, ao mesmo tempo em que ignora a realidade
contemporânea dos recursos limitados.
A cidade do Porto, antes, uma cidade compacta, presencia hoje essa dicotomia,
e reflecte já as desvantagens do seu alargamento. Na impossibilidade de retrocesso,
podemos apenas esperar um futuro melhor; que implique a tomada de consciência
sobre “onde estamos”, e “para onde queremos ir”. São inúmeras as possibilidades de
melhorar o funcionamento de uma cidade; como a implementação de um sistema de
transportes integrado, introdução de novas formas de mobilidade, e a melhoria das
acessibilidades; no tema da habitação, há ainda muitas possibilidades de melhoria, (na
procura de tornar os espaços que habitamos, mais sustentáveis) tanto na
regulamentação das novas edificações como especialmente na reabilitação e ocupação
do edificado devoluto, que deveria ser uma prioridade. Dada a desertificação do
centro urbano da cidade do Porto e consequente degradação ambiental e social.
5. Edificado e espaços verdes
Na cidade do Porto, os espaços verdes foram progressivamente ocupados pelo
tecido urbano edificado, e pela importância desmedida que se confere á circulação e
estacionamento automóvel; restando algumas antigas quintas rurais, casas nobres
com grandes jardins privados (alguns já abertos ao público), os logradouros (no interior
dos quarteirões do início do século) e pequenas as franjas periféricas, “encravadas”
por questões jurídicas que afastaram a especulação imobiliária.
Torna-se por isso indispensável, a definição de uma estratégia global de
preservação e valorização dos espaços naturais essenciais ao equilíbrio ambiental da
cidade. Reduzir o “consumo” do solo disponível na cidade (incentivando a reabilitação
do parque habitacional devoluto) permitiria travar a expansão para áreas naturais,
diminuindo a área de solo impermeabilizado.
Seria interessante, se passássemos a entender, estes espaços não como pontos
e manchas verdes no mapa da cidade, mas como uma imensa rede unida por
“corredores verdes” (ruas arborizadas em que a circulação automóvel é condicionada
ao máximo, e permite uma fruição pedonal por excelência) formando um sistema
natural integrado; criando um plano de arborização que promove-se o aumento da
massa verde da cidade. A despoluição e desentubagem dos cursos de água,