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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL, I.P.

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I - Processos de mudança fundamentais na geografia das populações, os


intensos fluxos de migração, emigração e imigração que ocorreram no território
português, desde o início do século XX.

1 A evolução da população na segunda metade do século XX


A população portuguesa residente no território nacional na segunda metade do
século XX aumentou, registando no último recenseamento Geral do População em
2001, um total de 10,3 milhões de habitantes.

Fig1 Evolução da população portuguesa


A leitura do gráfico da Fig 1 permite ainda concluir que a evolução da
população absoluta, no período, não foi regular, destacando-se:
Década de 50 – Crescimento positivo da população absoluta, mas pouco
significativo, como consequência de um saldo natural positivo, previsível num país
acentuadamente rural mas com um número reduzido de mulheres inseridas no
mercado de trabalho e sob a forte influência da Igreja Católica.
Década de 60 – Decréscimo da população absoluta portuguesa, como resultado
do mais intenso fluxo emigratório alguma vez registado e do inicio da redução da taxa
de crescimento natural, na sequência da introdução de meios contraceptivos
modernos e eficazes, que se traduziram no decréscimo da taxa de natalidade.
Década de 70 – Ruptura na tendência do declínio demográfico, observando-se
o maior aumento da população absoluta neste século. Esta situação deve-se ao
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regresso de milhares de portugueses das ex-colónias, na sequência do 25 de Abril e ao


regresso de milhares de cidadãos portugueses emigrantes na Europa, afectados pela
crise que condicionou a economia de muitos dos países receptores ou atraídos pela
melhoria das condições socioeconomias introduzidas pelo 25 de Abril.
Década de 80 – Crescimento demográfico praticamente nulo, como
consequência da diminuição da taxa de crescimento natural, resultado dos valores da
taxa de natalidade.
Década de 90 – Registou-se um crescimento ligeiro da população absoluta
como resultado de um novo fenómeno observado na sociedade portuguesa: a
imigração.
Portugal – País de Imigração?
Os movimentos migratórios têm um papel muito importante na evolução da
população em Portugal, um país, por tradição, de emigrantes, mas que, nos últimos
anos, viu a corrente migratória mudar drasticamente de direcção. De facto, desde os
anos 90 do século XX que o fluxo imigratório aumentou no nosso país, sendo
responsável pelo actual saldo migratório positivo.
A população estrangeira residente em Portugal está a crescer
substancialmente, sendo que em 2002 o número de imigrantes era de 238 746 (mais
de 14 770 do que em 2001), o correspondente a 2,3% do total da população. A
distribuição dos imigrantes por sexos demonstra que existem em Portugal 125 homens
por 1000 mulheres.
Quanto à origem dos estrangeiros que vieram para Portugal em 2002, 47,8%
eram oriundos de África. A proporção de europeus residentes em Portugal subiu
ligeiramente em 2002 para 30,2%. A maioria veio do Reino Unido (6,7%), Espanha
(6,1%), e Alemanha (5%). Os brasileiros residentes eram cerca de 10,4%.
Nos anos 90, assistiu-se a um crescimento da imigração da Europa de Leste,
especialmente da Ucrânia, Moldávia, Rússia e Roménia.
Fonte: Jornal de Notícias, 23 de Fevereiro de 2004 (adaptado)

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Actualmente, segundo as previsões do INE, a tendência de crescimento da


população portuguesa aponta para o decréscimo demográfico, à imagem na
generalidade dos países desenvolvidos da Europa e do Mundo. Esta situação coloca, a
vários níveis questões preocupantes.

1.1 O crescimento natural da população


A evolução da população depende da evolução de várias variáveis
demográficas, entre as quais se salienta a natalidade (N), a mortalidade (M), que nos
permitem calcular o crescimento natural (CN).
CN= N-M
Para possibilitar a comparação entre países e entre diferentes períodos, as
variáveis referidas devem ser apresentadas em valores relativos (em expressos
geralmente em permilagem), isto é, sob a forma de taxa de natalidade (TN), taxa de
mortalidade(TM) e taxa de crescimento natural (TCN) .
As taxas de natalidade e de mortalidade traduzem os valores da natalidade e
mortalidade por cada mil habitantes.
TN= Total de nados vivos X 1000
População absoluta

TM= Total de óbitos X 1000


População absoluta

A taxa de natalidade é considerada uma variável insuficiente para analisar o


processo evolutivo duma população, já que reporta ao número de nascimentos
registados no universo da população absoluta, independente do sexo e da idade, isto
é, da possibilidade ter filhos (mulheres em idade de procriar).
Dessa forma, é cada vez mais frequente a utilização de outras variáveis como a
taxa de fecundidade e índice de fecundidade:

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Taxa de fecundidade = número de nados-vivos………………. X1000


Numero de mulheres em idade de procriar

Índice sintético de fecundidade – número de filhos que cada mulher tem, em


média, durante a sua vida fecunda (dos 15 aos 49 anos).

Fig 2 Evolução do índice sintético de fecundidade

A leitura do gráfico da Fig 2 permite concluir que o índice sintético de


fecundidade tem variado de forma semelhante à taxa de natalidade.
As causas do declínio do índice sintético de fecundidade e da taxa de natalidade
são múltiplas e, quando enquadradas num contexto social, revelam-se muito
complexas. De forma sintética apontam-se algumas:
☺ Crescente participação da mulher no mercado de trabalho;
☺ Preocupações com a carreira profissional, situação que prolonga o
período de formação e conduz ao casamento mais tardia;
☺ Precariedade crescente do emprego;
☺ Preocupação crescente com a educação e o bem-estar dos filhos,
exigindo investimentos cada vez maiores;
☺ Acesso a métodos contraceptivos cada vez mais eficazes;

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☺ Mudança de mentalidade e de filosofia de vida, incompatível com o


número elevado de filhos;
☺ Crescimento da taxa de urbanização que se traduz no aumento de
dificuldades para a aquisição de habitação e no aumento do stress
provocado pela vida da cidade.

Os factores enumerados explicam o decréscimo da taxa de natalidade e do


índice sintético de fecundidade, tendo este atingido, em 1981, o limiar mínimo de
renovação de gerações (2,1 filhos por mulher), momento a partir do qual se registou
um progressiva diminuição.
Índice de renovação de gerações – número médio de filhos que cada mulher
devia ter durante a sua vida fértil, para que as gerações pudessem ser substituídas.
Aparentemente, este índice, deveria ser de 2 filhos por mulher, mas na
realidade é de 2,1filhos, uma vez que nascem mais rapazes que raparigas.
A gravidade da situação demográfica referida tem sido ligeiramente atenuada
devido ao movimento imigratório no nosso país. Os imigrantes, geralmente jovens,
são, igualmente, responsáveis por um número significativo de nascimentos registados
nos últimos anos.
Da mesma forma que a taxa de natalidade tem vindo a diminuir, também a taxa
de mortalidade decresceu, principalmente na primeira metade do século XX,
registando desde então até à actualidade tendência para estabilizar.
Como principais factores explicativos dos baixos valores da taxa de
mortalidade, podem-se apontar:
☻ O aumento do nível da população que permitiu melhorar as condições
alimentares e habitacionais;
☻ O desenvolvimento da medicina e da farmacologia;
☻ As melhorias registada na assistência médica e nas condições sanitárias;
☻ As melhores condições de trabalho;

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☻ O aumento da informação relativamente a muitas doenças e sua


prevenção.

Na década de 80 assistiu-se a um leve acréscimo da taxa de mortalidade da


população portuguesa, consequência natural do próprio envelhecimento demográfico,
fenómeno que ocorre nos países desenvolvidos.
Por outro lado, tem-se assistido, nos últimos anos, ao aumento de doentes do
foro cardiovascular, consequência da melhoria verificada do nível de vida da
população, que conduz, frequentemente, à adopção de estilos de vida menos
saudáveis, responsáveis pela diminuição da esperança média de vida.
A melhoria das condições de vida te, também, conduzido à forte diminuição da
taxa de mortalidade infantil.

Taxa de mortalidade infantil = número de óbitos em indivíduos até um ano de vidaX1000


Total de nascimentos

Esta variável é frequentemente utilizada como indicador de desenvolvimento,


já que os valores tendem a diminuir com as melhorias das condições de vida, com a
intensificação e diversificação dos cuidados materno-infantis e até com o aumento da
instrução.

1.2 O saldo migratório


A evolução da população, isto é, o seu crescimento efectivo, não se explica
unicamente pelo crescimento natural, mas sim pelo saldo migratório (SM) isto é, pela
diferença entre o número de imigrantes e o número de emigrantes, registados num
dado período de tempo.
Imigração e emigração são palavras que descrevem o fluxo de indivíduos em
um país. A imigração é o movimento de entrada de estrangeiros em um país de forma
temporária ou permanente e a emigração é a saída de indivíduos do país.

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A relação entre a imigração e a emigração resulta no “saldo migratório”,


utilizado para ajudar na caracterização da população de um determinado território
(país, continente, etc.). Se a imigração for maior que a emigração diz-se que o saldo
migratório foi positivo (pois saíram mais indivíduos do país do que entraram), se
ocorrer o contrário, o saldo migratório foi negativo. Ou ainda, o saldo migratório pode
ser nulo, quando ambos os movimentos populacionais se igualam.
Os fenômenos de emigração e imigração estão sempre relacionados com as
condições sociais dos locais nos quais se inserem a apresentam especificidades de
acordo com estas condições. O emigrante é geralmente levado a deixar seu país por
falta de condições que o permitam ascender socialmente e acaba se tornando o
imigrante de algum outro país no qual ele deposita suas esperanças de melhoria de
vida.
Mas existem outras motivações que podem levar um cidadão a se tornar
emigrante, em seu país, e imigrante, no país de destino. Como os refugiados que
abandonam seus países devido a conflitos civis, ou por causa de perseguições
raciais/religiosas, ou ainda por causa de desastres naturais/ambientais.
De qualquer forma o imigrante enfrentará quase sempre as mesmas
dificuldades de se estabelecer em um país de costumes diferentes dos seus e de língua
desconhecida enfrentando, muitas vezes, a xenofobia, as restrições impostas aos
estrangeiros pelas legislações, o trabalho escravo ou quando muito o subemprego.
Por outro lado, a mobilidade dos indivíduos sempre foi um fator importante e
presente na história da civilização. Desde os tempos primitivos em que o nomadismo
era prática comum até os tempos atuais em que a globalização tornou mais fácil (ou
pelo menos, mais comum) os movimentos migratórios.
Saldo migratória = imigração – emigração
Crescimento efectivo = crescimento natural ┼ saldo migratório

Da mesma forma se pode afirmar que a taxa de crescimento efectivo resulta do


somatório da taxa de crescimento natural com a taxa de crescimento migratório.

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Taxa de crescimento efectivo = TCN ┼ TCM


Sendo que:

Taxa de crescimento migratório (TCM)= I –E X1000


População absoluta

Tradicionalmente, Portugal pode ser considerado um país de emigração, dado


estrutural da nossa economia e do modelo de desenvolvimento.

Fig 3 Evolução do fenómeno migratório em Portugal

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros,


em 1999, existiam cerca de 4,8 milhões de portugueses ou habitantes de origem
portuguesa a residir no estrangeiro.

A grandeza dos números demonstra de forma expressiva a dimensão do


fenómeno emigratório que marcou o Portugal moderno e contemporâneo.

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Até à década
de 60 do século
passado, os
portugueses
emigravam
sobretudo para a
América, muito
especialmente para
o Brasil. As décadas

de 60 e 70 marcaram
Fig 4 A emigração portuguesa no Mundo
uma alteração no
sentido do fluxo migratório português. O destino preferido passou a ser constituído
por países da Europa ocidental. Um número muito significativo de portugueses
emigrou clandestinamente, indo desempenhar trabalhos poucos exigentes em termos
de qualificação profissional, mas geralmente de grande esforço físico e mal
remunerados. Os principais países de destino eram a França, a Alemanha, o
Luxemburgo e a Suíça.
Os portugueses, em número nunca anteriormente registado, emigraram, nesse
período, países em franca expansão industrial, numa época de reconstrução e
desenvolvimento pós II Guerra Mundial, mas com carência de mão-de-obra. Fugiam da
Guerra Colonial, da fome, da pobreza, do isolamento e de um sistema político
opressor, em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Emigravam por
longos períodos de tempo (emigração permanente), mas a proximidade geográfica
dos países receptores colocava a possibilidade de regresso ao país sempre no
horizonte, ao contrário do que acontecia no período anterior, em que a saída do país
era, quase sempre, um acto definitivo.
Emigração permanente – Saída de população para outros países por período
superior a um ano.

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A partir da década de 70 a situação alterou-se profundamente. Os países da


Europa ocidental, em sequência do “choque petrolífero”, que desencadeou uma
subida extraordinária do preço do petróleo, entraram num período de recessão
económica que os obrigou a impor restrições à imigração. Desde modo, muitos
portugueses regressaram a Portugal.
Por outro lado, a alteração da situação política no nosso país, na sequência da
revolução de 25 de Abril de 1974, com repercussões ao nível social e económico,
melhorando as condições de vida dos portugueses, contribui para reduzir a emigração.
No mesmo período, assiste-se ao retorno de milhares de cidadãos a residir nas antigas
colónias, assim como de exilados políticos noutros países.
A partir da década de 80, a intensidade do movimento emigratório diminui, ao
mesmo tempo que passa a ter cada vez mais um carácter temporário e
frequentemente sazonal.
Emigração temporária – saída de população para outros países por um período
igual ou inferior a um ano.
Emigração sazonal – saída de população para outros países em determinadas
estações do ano, para trabalhos sazonais (por exemplo, vindimas, turismo balnear,
etc).
A saída de muitos portugueses na última metade do século XX, envolvendo,
principalmente jovens e adultos, foi um processo complexo que teve,
necessariamente, consequências também complexas, a vários níveis, umas positivas e
outras negativas.
Como consequências negativas, a diminuição da natalidade, o envelhecimento
demográfico, a diminuição do crescimento efectivo e a diminuição da população
activa. Esta última reflectiu-se de forma dramática nas regiões do interior que em
muitos casos, iniciaram um processo de despovoamento que ainda não conseguiram
inverter.
De salientar que é a partir da década de 60 que se acentuam no nosso país as
assimetrias regionais que opõem o litoral ao interior.

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De entre os aspectos positivos há a destacar, como consequência da emigração,


a remessa de divisas estrangeiras, fundamentais para o equilíbrio da balança de
pagamentos, o desenvolvimento das regiões de partida como resultado dos
investimentos dos emigrantes em vários sectores de actividade (construção civil,
agricultura, comércio, indústria), a melhoria do nível de vida dos portugueses que não
emigravam como resultado da diminuição do desemprego e do aumento dos salários,
a modernização tecnológicas de muitos sectores, como forma de fazer face à falta de
mão-de-obra.
Não deixando de se registar saídas de emigrantes, nos anos de 2000 e 2001,
contudo, o número de imigrantes foi, em Portugal, substancialmente superior, de país
de emigração, Portugal transformou-se em país de acolhimento. Desde os anos 80 que
este processo foi sendo alimentado pela forte relação estabelecida pela Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao que se veio juntar, nos anos 90, o surto de
imigração da Europa de Leste. O saldo migratório passa a registar valores positivos e o
crescimento efectivo aumenta.
A imigração em Portugal passa a ter significado após o 25 de Abril, com a
independência das ex-colónias e com a abertura do país ao exterior e é estimulada,
nos anos seguintes, pela estabilidade social e política e pelo desenvolvimento
económico que se assiste, principalmente após a adesão à CE (actual CEE), em 1996, e
que permitiu a construção de obras de grande envergadura e a realização de grandes
eventos de cariz internacional, para os quais foi necessário recorrer ao recrutamento
de mão-de-obra estrangeira.
A recepção de imigrantes revela aspectos positivos uma vez que, tratando-se
geralmente de indivíduos jovens ou adultos jovens, contribuem para o aumento da
taxa de natalidade, ajudando dessa forma, a equilibrar a taxa de crescimento natural e
a diminuir o índice de envelhecimento. Simultaneamente, ajuda a equilibrar a taxa de
população activa para valores que permitam fazer face às necessidades do país.,
nomeadamente em regiões maradas pelo despovoamento e pelo envelhecimento,
contribuindo, também, para a sustentabilidade do sistema de Segurança Social.

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2 As estruturas e comportamentos sociodemográficos


2.1 Estrutura etária
A estrutura etária fornece indicações sobre as potencialidades da população
encarada como recursos fundamental para o desenvolvimento do país,
nomeadamente, sobre o número de activos, de jovens, de idosos, proporção de
homens e mulheres entre vários aspectos a considerar. O conhecimento destes
aspectos permite administrar o território e planear o futuro de forma equilibrada,
tentando dar resposta aos problemas que se colocam e valorizar os recursos
disponíveis.
O estudo da estrutura etária de uma população considera, regra geral três
grupos etários:
 Jovens – dos zero aos 14 anos;
 Adultos – dos 15 aos 64 anos;
 Idosos – igual ou superior a 65 anos.
O estudo da estrutura etária de uma população é feito através da análise das
pirâmides etárias, gráfico de barras que representam a distribuição da população por
idade e sexo. Permitem tirar conclusões sobre a natalidade, a esperança média de vida
ou fenómenos que marcaram a evolução demográfica, expressos através de classes
ocas.
Classe oca - Classe etária cujo número de indivíduos é inferior à classe etária
anterior e posterior. A redução do número de indivíduos tem vários motivos: guerras,
epidemias, fluxos migratórios.

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A pirâmide de 1960 representa uma população predominante jovem, já que a


base larga e o topo relativamente estreito, o que reflecte valores de natalidade
elevados e uma esperança média de vida relativamente baixa. As classes ocas
assinaladas traduzem perturbações na evolução demográfica (diminuição da
natalidade, decorrente dos efeitos da 1 Guerra Mundial).
A pirâmide etária de 2001, comparada com a anterior, revela um
envelhecimento muito significativo da população, quer pelo alargamento do topo quer
pelo estreitamento da base, que traduz uma progressiva diminuição dos valores da
natalidade, nas últimas décadas.

A Estrutura Etária da População Portuguesa apresenta acentuadas diferenças


regionais.
Da comparação entre as pirâmides etárias do Cávado e Pinhal Interior Sul, pode
concluir-se que a população do interior se apresenta mais envelhecida do que a do
litoral, quer pela maior proporção de idosos, quer pelo menor valor do número de
nascimentos.
A relação entre os valores do grupo etário dos idosos e dos jovens permite
determinar o índice de envelhecimento (IE), expresso em percentagem.

IE = População idosa (maior ou igual a 65 anos) X100


População jovem (inferior a 15 anos)

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O número de idosos reflecte-se no índice de dependência de idosos (IDI), que


relaciona a população idosa com a população em idade activa e que se exprime em
percentagem.
IDI= população idosa (maior ou igual a 65 anos) X100
População adulta (dos 15 aos 64 anos)

Os valores deste índice têm vindo a aumentar, existindo cada vez mais idosos
dependentes da população activa. Esta situação coloca graves problemas ao nível da
Segurança Social e do pagamento de reformas.
Os jovens representam um grupo dependente, sendo importante determinar o
índice de dependência de jovens (IDJ), que relaciona o grupo etário dos jovens com o
grupo dos adultos e que se exprime em percentagem.
IDJ = População jovem (inferior a 15 anos) X100
População adulta (dos 15 aos 64 anos

O valor deste indicador tem vindo a decrescer como se pode concluir pela
análise dos valores da natalidade, que se encontram também em declínio.
O cálculo do índice de dependência total (IDT), que relaciona os grupos etários
dos dependentes com o grupo etário dos adultos, revela um aumento de valores.
IDT = População jovem + população idosa X100
População adulta

2.2 Estrutura da população activa


A população activa compreende o total de população disponível para a
produção de bens e serviços, que entram no circuito económico, podendo estar a
exercer uma profissão remunerada ou encontrando-se desempregada.
A população inactiva é constituída por jovens, idosos, inválidos, donas de casa
ou outros, que, embora exercendo uma actividade ligada à produção de bens e
serviços, não entram no circuito económico.
A taxa de actividade (TA), que relaciona a população activa com a população
absoluta e se expressa em percentagem, é condicionada por vários factores, entre os

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quais a idade da reforma, a escolaridade obrigatória, a participação da mulher activa e


os movimentos migratórios.
TA = População activa X100
População absoluta

Em Portugal os valores desta variável têm registado um aumento progressivo e


significativo, que se fica a dever, ao ingresso de um número crescente de mulheres na
vida activa.

Fig 5 Taxa de actividade em Portugal Fig 6 Taxa de actividade, por sector de


actividade

A distribuição da taxa de actividade no território nacional não é uniforme,


registando-se os maiores valores no Centro e no Norte, com 57,5% e 52,3%,
respectivamente, e os menores valores na Região Autónoma dos Açores, com 41,9%.
No contexto da União Europeia, a par da Dinamarca, Suécia e Finlândia, é um
dos países com os valores mais elevados da taxa de actividade.
A distribuição da população activa por sectores de actividade evidencia que ao
longo do período considerado (1950 a 2001) verificam-se alterações, condicionadas
pela evolução social e económica do país (Fig 6).

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A população activa empregue no sector primário tem vindo a diminuir,


apresentando, os valores mais reduzidos no período em estudo. Apesar desta situação
traduzir alguma modernização do sector, ela é fundamental motivada pelo abandono
do meio rural, do trabalho mal pago e do baixo nível de vida.
Contudo, apesar da diminuição observada, os valores, quando comparados com
os de outros países da União Europeia, são ainda muito elevados, indicando atraso
técnico e tecnológico.
É de salientar que os dados estatísticos não correspondem exactamente à
realidade, uma vez que não têm em consideração o trabalho desenvolvido pelas
mulheres, nem a actividade agrícola praticada a tempo parcial, que quase nunca é
declarada e tem como objectivo a produção para auto consumo.
O sector secundário
cresceu de forma
significativa nas décadas de
50, 60 e 70, período que
correspondeu a um certo
desenvolvimento do sector
ligado à indústria. No
período seguinte, regista-
se uma diminuição da
população empregue neste
sector, como resultado de

algum desenvolvimento e Fig 7 População activa na UE, por sector de actividade


modernização tecnológica
da nossa indústria.
O sector terciário foi o que mais cresceu no período em estudo, traduzindo o
processo de crescente terciarização da economia portuguesa.
O crescimento deste sector tem a ver com a melhoria das condições de vida da
população, que se repercute no aumento do número e da diversificação de serviços.

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Liga-se à proliferação de novas actividades, associadas ao turismo, a serviços


financeiros, ao desporto, à cultura ou às comunicações.
O processo de terciarização tem a ver com o aumento da taxa de urbanização e
com o aumento de mulheres inseridas na população activa.
A evolução verificada na distribuição da população activa pelos sectores de
actividade permite concluir que o nosso país caminha no sentido dos países mais
desenvolvidos, se bem que, quando comparado com alguns países da União Europeia,
os valores indicam que ainda falta percorrer algum caminho para atingirmos a média
desejável (fig. 7).
A distribuição da população activa pelos sectores de actividade revela algumas
disparidades a nível regional. Assim, há alguns aspectos a destacar:
➢ O peso do sector primário é especialmente relevante no Centro do país.
➢ O sector secundário é particularmente significativo no Norte, onde
ainda predominam muitas indústrias de mão-de-obra intensiva.
➢ O sector terciário é aquele que ocupa o maior número de população
activa em todo o país, com excepção da Região Norte. De destacar o distrito de Lisboa,
onde se concentram os serviços de administração e o Algarve e a Região Autónoma da
Madeira, como as regiões onde o peso do terciário é mais significativo. Na região do
Alentejo o peso do sector terciário assume valores consideráveis, a que não é alheio o
envelhecimento da população e o aumento do número de serviços ligados ao apoio a
este grupo etário; o desenvolvimento de algumas cidades, na sequência da
implantação de estabelecimentos de Ensino Superior, também contribui para o peso
do sector terciário nesta região.

2.3 Nível de instrução e qualificação profissional


O desenvolvimento económico de um país e a capacidade de dar resposta aos
desafios que se lhe colocam, de modo a inserir-se com competitividade na
comunidade internacional, depende, em grande medida, do grau de instrução e de
qualificação da sua população.

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Apesar da evolução registada em Portugal, relativamente ao grau de instrução


e de qualificação da sua população, os níveis de instrução e de qualificação ainda estão
muito aquém do desejável, condicionando de forma negativa o crescimento e o
desenvolvimento do país.
Como se pode observar pela leitura do quadro 1, a maioria da população
portuguesa tem apenas o 1º ciclo do Ensino Básico, sendo ainda considerável o total
de indivíduos que não frequentaram nenhum grau de ensino. Os valores que
representam a população com frequência do Ensino Secundário e do Ensino Superior
são muito baixos, especialmente se comparados com os restantes países da União
Europeia, nomeadamente com os países de leste, que aderiram recentemente a esta
comunidade.

A situação portuguesa é grave uma vez que, para além do baixo grau de
instrução e de qualificação da população, registam-se simultaneamente níveis de
qualificação profissional insuficientes para dar resposta às alterações que se têm vindo
a verificar no mundo do trabalho; essas alterações estão relacionadas com a
introdução de novas tecnologias e com o nascimento de novas actividades, que exigem
novas competências e o domínio de novas técnicas e de novas formas de organização
do trabalho.

Quadro 1 População por níveis de ensino e por níveis de NUT II, em 2000

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Os baixos níveis de instrução e de qualificação da população traduzem-se em


baixos níveis de produtividade, responsáveis pela diminuição da produtividade do país.
Esta situação apresenta disparidades muito significativas entre as regiões do litoral e
as do interior, sendo nestas últimas que se registam os valores mais baixos.
2.4 Os principais problemas sociodemográficos
2.4.1 O envelhecimento da população
O envelhecimento demográfico, reflexo do índice de envelhecimento (IE),
constitui um dos maiores problemas que a sociedade portuguesa enfrenta na
actualidade.
Este problema, comum à maioria dos países desenvolvidos, tem na sua base
várias causas, das quais se salientam o aumento da esperança média de vida e a
diminuição da natalidade.
O envelhecimento demográfico, constituindo um fenómeno com registo em
todo o território nacional, assume, contudo, especial relevância nas regiões do interior,
muito afectadas pelo êxodo rural.
Como principais consequências do envelhecimento, apontam-se a diminuição
da população activa, a diminuição da produtividade e do dinamismo económico e
social das regiões e do país. Coloca problemas ao nível de reforma, já que o total da
população activa não garantir os descontos necessários para o seu pagamento, assim
como o aumento dos encargos do Estado e das famílias com a protecção social
nomeadamente com a saúde.
2.4.2 O declínio da fecundidade
A diminuição dos valores do índice de fecundidade representa outro problema
da sociedade portuguesa. O seu valor é, hoje, inferior ao valor necessário para garantir
a renovação das gerações. A evolução deste índice acompanha a tendência observada
nos países mais desenvolvidos, e deve-se à crescente integração da mulher no merado
de trabalho, ao prolongamento do período dedicado à instrução e ao investimento na
carreira profissional, à diminuição de natalidade com reflexos de redução de mulheres
jovens em idade fértil, à divulgação e vulgarização da utilização de métodos

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contraceptivos, aumento dos encargos económicos da educação dos filhos, entre


outros vários aspectos.
2.4.3 Baixo nível de instrução e qualificação profissional
O baixo nível de instrução e de qualificação para o desempenho da profissão
são também grandes problemas que marcam a sociedade portuguesa e que explicam,
em grande medida, a baixa produtividade verificada na maior parte dos sectores
laborais; explicam ainda a fraca competitividade do nosso país, no plano internacional.
2.4.4 Instabilidade laboral
O aumento da taxa de desemprego, embora menor que noutros países
europeus, constitui um problema que tem vindo a agravar-se, afectando
especialmente as mulheres e os grupos de indivíduos com níveis de instrução e
qualificação profissional mais baixos.
A instabilidade laboral pode assumir várias formas - desemprego de longa
duração, emprego temporário, emprego a tempo parcial, subemprego e até trabalho
ilegal.
A instabilidade laboral traduz-se
sempre em insegurança mobilidade e
precariedade ao nível das condições
de vida.
Tal como acontece noutros aspectos,
também no que concerne a este
problema as assimetrias regionais são
evidentes, apresentando-se o

Alentejo, Lisboa e o Norte como as Fig 8 Taxa de desemprego, por NUT II


regiões mais afectadas.

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2.5 O rejuvenescimento e a vaporização da população


Constituindo a população o recurso fundamental para o desenvolvimento do
país e, face aos graves problemas demográficos a que se assiste torna-se vital a
implementação de medidas que conduzem ao nível da natalidade e contrariem o
envelhecimento, especialmente nas regiões do interior. As medidas de incentivo
poderão revestir o carácter económico (aumento dos abonos de família, facilidades no
crédito à habitação e incentivos fiscais) ou um carácter social (aumento da duração do
período de licença pós parto, aumento do numero de creches e alargamento do
horário de funcionamento, entre vários).
Finalmente, o desenvolvimento do país exige investimentos cada vez maiores
na qualificação da população através do aumento da taxa de escolaridade e da
formação profissional.

2.6 A distribuição da população portuguesa

A densidade populacional em Portugal em 2001 era de 108 hab/km².

Densidade populacional = população absoluta


superfície

É no litoral que se registam os maiores valores de densidade populacional, com


excepção do litoral alentejano.
O norte, em média, apresenta densidades populacionais mais altas que no sul.
As áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, destacam-se entre as demais
regiões pelos elevados valores de densidade populacional.
Esta distribuição irregular da população portuguesa manifesta-se desde o início
da ocupação do território e da nacionalidade, contudo, agravou-se a partir das décadas
de 50 e 60 do século XX, com o êxodo rural.

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A partir desse período, as assimetrias que opõem o litoral ao interior são cada
vez mais marcadas, agravando-se a tendência para a litoralização e para a
bipolarização.
Na última metade do século XX as áreas mais dinâmicas, relativamente à
variação da população residente, isto é, que registaram aumento populacional, se
localizam no litoral e em particular em torno de Lisboa e Porto, as áreas em perda, isto
é, as áreas regressivas, localizam-se, regra geral, no interior e no litoral alentejano. É
de salientar que algumas áreas do interior não registaram perda de população
residente, antes pelo contrário. Trata-se de algumas áreas urbanas, mais propriamente
algumas freguesias, que resistindo à perda demográfica, conseguiram inverter o
fenómeno.
É de salientar a perda da população nos concelhos do Porto e Lisboa, na
sequência do processo de terciarização que tem vindo a marcar essas áreas e que é
responsável pelo aumento do preço do solo para fins de habitação. A população
procura nos concelhos limítrofes habitações a preços mais compatíveis com a sua
situação económica.
A irregular distribuição da população portuguesa é condicionada por factores
naturais e por factores humanos. Os factores naturais que mais influenciam essa
distribuição, podem ser o clima, o relevo e a fertilidade do solo.
O clima mais ameno e húmido do litoral constitui um factor de atracção da
população, na medida em que favorece o desenvolvimento das várias actividades
humanas. As férteis planícies do litoral atraíram desde sempre a população, ajudando
à sua fixação, na medida que facilitam a prática da agricultura e promovem o
desenvolvimento dos transportes e das comunicações.
O interior, de clima mais agreste, mais montanhoso e de solos mais pobres,
constitui um obstáculo à presença humana, dificultando o desenvolvimento de
actividades como a agricultura, o comércio ou a indústria.
São os factores humanos que melhor explicam as assimetrias regionais. É no
litoral que se localiza a maioria das cidades, verdadeiros pólos de atracção e de fixação

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populacional, pelo emprego que oferecem, gerado pela actividade comercial e


industrial e pelos numerosos serviços e equipamentos que colocam à disposição da
população, criando oportunidades de trabalho e melhorando condições de vida.
A existência de uma densa rede de transportes no litoral, reforçada por intensa
actividade portuária e aeroportuária, constitui um factor de atracção para a fixação de
numerosas empresas nacionais e internacionais que vêem a sua actividade e os seus
contactos facilitados, contribuindo também para a fixação da população.
Os movimentos migratórios estão também na base da distribuição portuguesa.
Quer a deslocação da população das áreas rurais para outros países quer para as
grandes metrópoles do litoral que conduziram ao despovoamento e envelhecimento
demográfico das regiões do interior.
O aumento populacional registado no litoral deve-se ao êxodo rural, que se
intensificou a partir de meados do século XX e que está na origem de problemas que
condicionam a qualidade de vida da população e o equilíbrio económico, social e
cultural do país.
3 Os recursos naturais de que população dispõe: usos, limites e
potencialidades
3.1 Os recursos do subsolo
Os recursos existentes no subsolo são explorados através da indústria
extractiva e constituem matérias-primas para a indústria, para a construção civil e
obras públicas, para além da geração de energia. Os recursos hidrominerais destinam-
se ao consumo imediato pela população. Em Portugal, apesar de se registar uma certa
riqueza neste tipo de recursos, patente por uma grande variedade de jazidas minerais,
este sector de actividade tem um peso económico pouco relevante quer porque, em
alguns casos, as reservas são diminutas, quer porque a conjuntura internacional
condiciona o mercado destes produtos.

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Os recursos minerais, tendo em vista a sua origem e as características físicas e


químicas, podem classificar-se em diferentes tipos:
✓ Minerais metálicos – minerais que apresentam na sua constituição
substâncias metálicas, como por exemplo, o ferro, o cobre, o estanho ou o volfrâmio.
✓ Minerais não metálicos – minerais constituídos por substâncias não
metálicos, como por exemplo o sal-gema, o quartzo, o feldspato ou o gesso.
✓ Minerais energéticos – minerais que podem ser utilizados para o
produção de energia, como por exemplo o carvão, o petróleo, o urânio ou o gás
natural.
✓ Rochas industriais – rochas utilizadas sobretudo como matéria-prima
para a indústria ou para a construção civil ou obras públicas, como por exemplo o
calcário, o granito, a argila ou as margas.
✓ Rochas ornamentais – rochas utilizadas na decoração de edifícios, peças
decorativas ou mobiliário, como por exemplo o mármore, o granito ou o calcário
microcristalino.
✓ Áreas subterrâneas – águas que se destinam ao engarrafamento ou ao
aproveitamento termal.

A localização das principais áreas de exploração dos recursos minerais é marcada pelas
características geomorfológicas do território. Em Portugal podemos distinguir três unidades
geomorfolóficas:
 Maciço Antigo ou Maciço Hespérico - é a unidade mais antiga do
território, constituída por granito e xisto. É nesta unidade que se localizam as jazidas
mais importantes de minerais metálicos (cobre, volfrâmio e estanho), energéticos
(carvão e urânio) e rochas ornamentais (mármore e granito).
 Orlas sedimentares (ocidental e meridional) – constituídas por rochas
sedimentares, os recursos minerais mais explorados são as rochas industriais (o
calcário, areias, argilas, arenitos).

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 Bacias do Tejo e do Sado – correspondem à unidade geomorfológica


mais recente do território, formada pela deposição de sedimentos de origem marinha
e fluvial. Os recursos minerais mais explorados são rochas industriais (areias e argilas).
Nas regiões autónomas dominam as rochas magmáticas vulcânicas (basalto e
perda-pomes), mas a sua exploração não tem relevância económica.
Apesar de a indústria extractiva ter vindo a perder peso no contexto da
economia nacional, o valor total da produção tem aumentado.
Este aumento deve-se ao crescimento dos subsectores das rochas ornamentais
e industriais e das águas minerais. O subsector dos recursos minerais não metálicos é
insignificante relativamente aos restantes e que o subsector dos minerais metálicos
registou uma diminuição do valor da produção.
Ao nível regional, a importância do sector extractivo apresenta grandes
contrastes, constituindo o Alentejo a região do país com o maior valor de produção e o
Algarve, a par das Regiões Autónomas aquelas onde é menor. Também os diferentes
subsectores da indústria extractiva apresentam expressões regionais diversas, sendo
de destacar no Alentejo quer a importância da exploração de jazidas de minerais
metálicos, nomeadamente de cobre, de estanho e de ferro, respectivamente nas
Minas de Neves Corvo e na do Cercal, quer a exploração de rochas ornamentais, como
o mármore e o granito, em numerosas pedreiras. Nas regiões Norte e Centro, a
exploração de águas minerais e a extracção de rochas (granito e xisto) em pedreiras
destacam-se pelo peso relativo no contexto da indústria extractiva e pelo valor de
produção. Na região de Lisboa e Vale do Tejo ressalta a importância do subsector das
rochas industriais.
3.2 Minerais metálicos
Os principais minerais metálicos explorados actualmente no nosso país são o
ferro, o cobre, o estanho e o volfrâmio. Este subsector registou um decréscimo no
valor da produção.
O ferro, é actualmente explorado somente no Cercal, Alentejo, e a produção é
insuficiente face à procura, pelo que se recorre à importação deste mineral para dar

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resposta às necessidades do país. A produção de ferro foi diminuindo


progressivamente, assistindo-se ao encerramento de algumas minas, devido ao baixo
teor do mineral.
O cobre é extraído nas minas de Neves Corvo, no Alentejo. Portugal possui as
maiores reservas de cobre da União Europeia e é o maior produtor deste minério no
Espaço da União Europeia.
A produção de estanho, utilizado no fabrico de folha-de-flandres e na
composição de variadas ligas metálicas, provém na sua maior parte da mina de Neves
Corvo.
O volfrâmio, utilizado principalmente no fabrico de ligas metálicas e de
filamentos para lâmpadas incandescentes. A crise observada na produção deste
minério resultou da entrada no mercado internacional de volfrâmio proveniente da
China a baixos preços.
3.3 Minerais não metálicos
A exploração destes minerais é pouco significativa e com um valor de produção
diminuto. As substâncias mais exploradas são o sal-gema, o feldspato, o quartzo e o
caulino.
O sal-gema é utilizado na indústria química e agro-alimentar.
A produção de quartzo e feldspato destina-se quase à indústria de vidro e
cerâmica.
O caulino, matéria-prima para a indústria cerâmica, é explorado em vários
locais próximos do litoral, com especial destaque para o Norte.
3.4 Rochas industriais e ornamentais
Este subsector encontra-se em expansão. O aumento da exploração resulta do
aumento da procura, da qualidade dos produtos e do elevado número de jazidas.
As rochas industriais mais exploradas são as areias comuns, o calcário e as
argilas. Constituem importantes matérias-primas para a indústria do vidro, da
cerâmica, da construção civil e obras públicas e cimenteiras.

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As rochas ornamentais de elevado valor unitário, contribuem para o aumento


do valor de produção deste subsector, apontando-se os mármores e os granitos como
as mais importantes.
Os mármores são rochas carbonatadas, localizando-se a principal área de
exploração no Alentejo, na faixa Estremoz – Borba – Vila Viçosa.
Os granitos pertencem ao grupo de rochas siliciosas e as principais áreas de
exploração localizam-se no Alentejo.
3.5 Águas subterrâneas
Este subsector engloba as águas minerais e de nascente e as águas termais.
Portugal possui importantes recursos hidrominerais, sendo de assinalar o significativo
crescimento do seu valor de produção e o aumento do número de explorações
dedicadas ao engarrafamento.
As águas minerais naturais, gasificadas ou não, caracterizam-se pela sua
riqueza em determinados sais minerais, o que lhe confere propriedades terapêuticas,
não devendo ser consumidas de forma continuada.
As águas de nascentes destinam-se ao consumo diário, sem qualquer restrição.
O consumo de águas engarrafadas no nosso país traduz a melhoria do nível de
vida da nossa população, a alteração de hábitos de consumo e uma crescente
preocupação com a qualidade deste bem essencial.
As águas termais constituem um subsector com tendência para se expandir. As
estâncias termais são frequentadas por um número crescente de aquistas. A esta
evolução não é estranho o investimento tornando-as mais atractivas e apelativas
turisticamente. O desenvolvimento turístico que se pretende fomentar e que tem em
vista melhorar e diversificar os serviços oferecidos é encarado como factor de
dinamização regional, já que promove a criação de postos de trabalho, a construção de
infra-estruturas e a implementação de novos serviços. Pretende-se dessa forma,
estimular a fixação da população, melhorar a sua qualidade de vida, incentivar a
preservação do património e divulgar a região.

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3.6 A exploração e distribuição dos recursos energéticos


A modernização e o desenvolvimento tecnológico dos vários sectores de
actividade, a evolução dos transportes e a própria qualidade de vida humana
dependem do crescente consumo de energia. O consumo de energia per capita
constitui assim uma variável utilizada como indicador de desenvolvimento.
Portugal tem vindo a registar um aumento de consumo de energia, embora
apresentando valores abaixo dos registados noutros países da União Europeia.
O território nacional é pobre em recursos energéticos, recorrendo à importação
dos mais consumidos. Petróleo, gás natural e carvão, o que se reflecte numa balança
comercial negativa para este subsector e numa forte dependência face ao exterior,
que se traduz numa situação de vulnerabilidade.
Carvão
O carvão, mineral energético de origem fóssil, logo um recurso não renovável, é
fundamentalmente utilizado como fonte de energia primária e como matéria-prima de
algumas indústrias. Os recursos carboníferos em Portugal são escassos.
Petróleo
É o recurso energético mais utilizado no nosso país, à imagem do que se passa
no resto do Mundo, como fonte de energia primária e como matéria-prima de muitas
indústrias químicas.
Gás natural
O gás natural revela-se mais vantajoso relativamente aos recursos anteriores. É
menos poluente, as reservas mundiais são mais vastas e menos concentradas
geograficamente do que o petróleo na actualidade. É mais barato e o seu transporte
não levanta demasiados problemas.
Urânio
Trata-se um mineral pesado radioactivo utilizado na produção de energia
nuclear que pode ser transformado em energia.
A extracção de urânio no nosso país, tem vindo a diminuir e destina-se na
totalidade à exportação e fez-se unicamente na mina da Urgeiriça, no distrito de Viseu.

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Energia geotérmica
Esta forma de energia renovável utiliza o calor libertado pelo interior da Terra.
Em Portugal o seu aproveitamento é feito essencialmente nos Açores, na ilha de São
Miguel, para a produção de energia eléctrica.
No território nacional, as potencialidades desta forma de energia, associada a
muitas nascentes termais, tem conduzido à dinamização de vários projectos que visam
a sua exploração.
3.7. Os problemas na exploração dos recursos do subsolo
Custos de exploração
Apesar da relativa riqueza do subsolo português em recursos minerais, água e
rochas, a sua exploração nem sempre se revela fácil e viável economicamente.
Fraca acessibilidade de jazidas
Muitas jazidas encontram-se em áreas de difícil acesso, que elevam os custos
de transporte e portanto os custos finais do produto, o qual perde competitividade.
Qualidade do minério
O baixo teor de muitos minérios, associado à difícil extracção, devido à elevada
profundidade das jazidas, aumenta os custos de exploração e tem conduzido ao
encerramento de muitas explorações.
Dimensão das empresas
A maior parte das empresas do sector extractivo são de pequena dimensão. A
capacidade financeira das empresas insuficiente para garantir investimentos na área
da modernização tecnológica e na qualificação da mão-de-obra, o que aumenta os
custos de produção e leva ao seu colapso económico por falta de competitividade com
outras empresas, nomeadamente estrangeiras.
Indústria transformadora a jusante de extracção
A deficiente articulação da actividade extractiva com o sector da indústria
transformadora a jusante das explorações conduz à exploração dos produtos em
bruto. Nessa situação, o seu valor comercial é baixo, não se tornando rentável a sua
comercialização.

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Novos produtos
As inovações associadas ao desenvolvimento tecnológico têm conduzido à
substituição, com êxito, de muitos produtos minerais por novos materiais, que se
revelam mais eficazes e com menores custos.
Dependência externa
A dependência externa face aos recursos minerais é muito elevada, com
excepção da produção de rochas, água e cobre. Contudo, é no subsector dos minerais
energéticos que a dependência se revela total. Esta dependência traduz-se numa
balança comercial negativa e numa vulnerabilidade, económica e política, face aos
mercados abastecedores e à conjuntura internacional, numa perspectiva mais ampla.
A dependência externa é agravada pela deficiente articulação da indústria
transformadora com a indústria extractiva, que está na origem de um valor muito
elevado de produtos exportados em bruto, portanto, a baixo preço.
Impacte ambiental
A actividade ligada ao sector extractivo é altamente penalizante para o
ambiente, quer a exploração se faça ao ar livre ou no interior do subsolo.
A actividade ligada a este sector traduz-se geralmente na contaminação dos
solos e das superficiais ou subterrâneas. A destruição de solos agrícolas e florestais é
outra consequência, assim como a degradação das paisagens, acompanhada muitas
vezes da alteração das próprias características do relevo.
3.8 Novas perspectivas de exploração e utilização dos recursos do subsolo
A valorização do sector extractivo passa pela implementação de medidas, de
natureza variada, entre as quais se pode apontar:
☻ Utilização de novas técnicas de prospecção que permitem um
conhecimento mais rigoroso dos recursos do subsolo;
☻ Redimensionamento das empresas, a fim de atingirem capacidade
económica que permita a introdução de técnicas e tecnológicas mais modernas e mais
rentáveis;

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☻ Desenvolvimento da indústria transformadora a jusante da extracção


que evita a exportação em bruto;
☻ Implementação de medidas de requalificação ambiental e a valorização
económica de áreas recuperadas;
☻ Investimento nos subsectores com mais potencialidades, como é o caso
das rochas e das águas, minerais e termais.
☻ Aumento da produção de energia a partir do aproveitamento dos
recursos renováveis, a fim de diminuir a dependência externa ao nível dos recursos de
origem fóssil;
☻ Racionalização do consumo de energia a fim de melhorar a eficiência
energética.

3.9 A valorização da radiação solar


A energia solar
A elevada insolação média registada em Portugal, faz de energia solar um
importante recurso energético que importa valorizar. A energia solar permitirá
diminuir a dependência do país face ao exterior, relativamente às energias fósseis,
diminuir o défice da balança comercial e contribuir para o equilíbrio ambiental, já que
se trata de uma fonte de energia limpa e inesgotável.
A energia solar pode ser utilizada com fins térmicos ou para produção de
electricidade. A primeira aplicação é a mais vulgarizada no nosso país e consiste no
aproveitamento da energia solar para aquecimento de águas para uso doméstico,
aquecimento de edifícios e piscinas. A utilização da energia solar para produção de
electricidade é menos vulgar, mas o rápido desenvolvimento das tecnologias
necessárias fazem prever um rápido crescimento.
O turismo
O turismo constitui uma actividade de interesse económico relevante, que tem
vindo a crescer ao longo dos últimos séculos, reflectindo importantes modificações
sociais, económicas e culturais. A sua importância não se traduz nas divisas

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estrangeiras que gera e que permitem equilibrar a balança de pagamentos, mas


também nos efeitos multiplicadores que origina e que se reflectem nos empregos que
cria, nas actividades que dinamiza, na dinâmica que imprime ao desenvolvimento
territorial e à preservação do património, quer ele seja arquitectónico, gastronómico,
paisagístico ou outro.
Portugal apresenta condições para o turismo balnear já que a, um clima
mediterrâneo, de longo verões quentes, secos e luminosos, alia extensas praias de
areia fina e águas tépidas.
As principais regiões de turismo balnear são o Algarve, Lisboa e a Madeira.
O principal problema é o seu carácter marcadamente sazonal pelo que deve ser
complementada com outras que se desenvolvem de forma mais contínua ao longo do
ano.
3.10 Os recursos marítimos
3.10.1 As potencialidades do litoral
Localizado no extremo sudoeste da Europa, é no mar que Portugal encontra a
sua última fronteira. Com uma extensão de mais de 800Km, a costa portuguesa
condiciona a geografia física e humana do país e é indissociável da sua longa história.
É ao longo do litoral que se encontra a população portuguesa e as actividades
económicas, aprofundando as assimetrias com o interior despovoado. Desde sempre,
pela amenidade do clima, pela facilidade dos contactos que permite ou simplesmente
pelos recursos que oferece, o litoral exerce uma enorme atracção para a fixação da
população e de numerosas actividades económicas como a agricultura, o comércio ou
a indústria.
O litoral português apresenta-se como um traçado bastante rectilíneo, com
poucas reentrâncias naturais favoráveis ao desenvolvimento da actividade portuária. A
linha de costa evidência, sem regularidade, formas de costa alta e de costa baixa
(arenosa ou rochosa).
O mar constitui um agente erosivo, responsável pela modelação das formas do
litoral e pela dinâmica associada a este processo. A acção erosiva do mar compreende

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três aspectos que se desenvolvem de forma articulada e continuada: desgaste,


transporte e acumulação.
3.10.2 A actividade piscatória
É antiga a ligação dos portugueses ao mar. A pesca tem uma expressão muito
significativa no contexto social e económico do país, apesar de todos de todos os
condicionalismos que uma costa rectilínea e muito batida pelos ventos impôs ao
desenvolvimento dessa actividade. A relevância deste sector de actividade prende-se
com o número significativo de empregos que gera, a nível local transforma-o numa
fonte de rendimento insubstituível para numerosas comunidades ribeirinhas; com as
numerosas e diversificadas actividades que dinamiza, quer a montante quer a jusante
(como por exemplo a construção naval e o fabrico de artefactos para a pesca a
montante e a comercialização ou a transformação do pescado a jusante); e ainda, com
a importância que se reveste o pescado na alimentação da população portuguesa.
O sector pesqueiro português tem vindo a perder importância económica, a
nível nacional. Desde a década de 70 do século XX, contribuindo, actualmente, para o
VAB – Valor Acrescentado Bruto – unicamente com cerca de 1%, incluindo neste
indicador as actividades ligadas à transformação do pescado e à aquicultura (cultura de
espécies aquáticas em cativeiro, de forma controlada pelo ser humano). Ao nível do
número de postos de trabalho que gera, a sua importância diminui de forma
significativa, já que actualmente a população activa empregue no sector ronda apenas
0,5%.
Esta situação liga-se à crise que o sector atravessa e às debilidades que o
marcam, entre as quais emerge de forma significativa a diminuição progressiva da
produção pescado, e insuficiente para dar resposta à procura do mercado.
Daí decorre uma balança comercial que, de ano para ano, regista saldos
negativos cada vez maiores, na sequência de importações que superam largamente as
exportações.
As principais espécies descarregadas nos portos portugueses são a sardinha, o
carapau, a cavala, o peixe-espada e o polvo, entre várias outras.

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Tendo por base as áreas onde é praticada, a pesca pode ser classificada em:
o Pesca local – pratica-se em rios, estuários, lagunas ou na costa, até 6 ou
10 milhas da costa, consoante a embarcação utilizada tiver convés aberto ou convéns
fechado.
o Pesca costeira - é praticada para lá das 6 milhas da costa por
embarcações de dimensões superiores a 9 metros de comprimento e com autonomia
que pode ir até às duas ou três semanas.
o Pesca de largo – esta actividade realiza-se para além das 12 milhas da
costa, em pesqueiros externos de águas internacionais ou em ZEE (Zona Económica
exclusiva – zona marítima até 200 milhas marítimas da linha de costa, onde os países
ribeirinhos detêm o poder de exploração, conservação e administração dos recursos)
de outros países.

Atendendo às técnicas utilizadas, a pesca pode classificar-se em:


 Pesca artesanal – utiliza técnicas e meios tradicionais. Os períodos de
permanência no mar são curtos, geralmente inferiores a um dia, já que as pequenas
embarcações utilizadas não estão equipadas com meios de conservação do pescado.
 Pesca industrial – as técnicas utilizadas são modernas, por vezes muito
sofisticadas, tal como os meios. As embarcações, de grande dimensão, estão
equipadas com modernos de transformação e conservação, o que faz delas autênticas
fábricas flutuantes. Este tipo de pesca destina-se especialmente à pesca longínqua,
podendo a deslocação ser superior a várias semanas ou até meses.
A aquicultura - uma alternativa
A aquicultura, que consiste na criação de peixe em cativeiro, em água doce ou
salgada, constitui uma importante alternativa às formas tradicionais de abastecimento
do pescado.
A aquicultura marinha em Portugal, caracterizou-se inicialmente, pela
predominância de estabelecimentos explorados por estruturas familiares em regime
extensivo, nos últimos anos evoluído no sector da piscicultura, para unidades a

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funcionar em regime de exploração semi-intensiva e em alguns casos exploradas por


empresas com alguma dimensão, por vezes de nível internacional. Na exploração semi-
intensiva destaca-se a criação de douradas e robalo, no mesmo sistema mas em
exploração de água doce a criação de trutas.
A aquicultura reveste-se de enorme importância, na medida em que permite
abastecer regularmente o mercado, diminuir a pressão sobre algumas espécies mais
ameaçadas e até revitalizar stocks em extinção, além de gerar numerosos postos de
trabalho.
As principais áreas de pesca
Como consequência de uma estreita plataforma continental, a riqueza piscícola
do mar português foi sempre muito expressiva e determinante na evolução do sector
pesqueira nacional.
O modelo de desenvolvimento que durante muito tempo, caracterizou a pesca
nacional baseou-se numa forte dependência de pesqueiros externos, conjugada com o
esforço de pesca exercido nas águas nacionais.
Obedecendo às normas comunitárias impostas pela Política Comum de Pesca, a
frota pesqueira portuguesa actua em diversas áreas longínquas, pesqueiros externos,
de onde provém actualmente, cerca de 20% do total de capturas.
Apesar de tudo, a frota portuguesa continua a actuar em algumas áreas de
pesca internacionais:
 Atlântico noroeste (NAFO) – É por tradição, uma das áreas pesqueiras
externas mais frequentadas pela frota portuguesa, especialmente para a pesca do
bacalhau.
 Atlântico nordeste – a riqueza destas águas justifica a frequência e
intensidade de pesca aí realizada pela frota portuguesa, onde acorre
fundamentalmente para a captura de bacalhau.
 Atlântico centro-leste – a frota portuguesa, em alternativa às áreas
anteriores, tem vindo a aumentar as capturas nesta área de águas também muito
ricas, quer em quantidade quer em diversidade de pescado.

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 Atlântico sul – apesar da distância a Portugal destaca-se como área de


pesca longínqua, referindo-se a pescada como principal espécie capturada.

Em síntese, a frota portuguesa é constituída essencialmente por pequenas


embarcações, que não dão resposta às necessidades do mercado, que se encontra
obsoleta em termos de equipamento e envelhecida. Estes ajudam a explicar a crise em
que mergulhou este sector, já que foi próspero, num passado relativamente recente,
assim como a sua falta de competitividade face a outros países, nomeadamente da
União Europeia.
Contudo, nos últimos anos tem sido feito um esforço no sentido da
reestruturação da frota, através da construção de embarcações modernas e bem
equipadas, mais seguras e adequadas às necessidades do nosso mercado. O apoio
comunitário tem sido fundamental na sua concretização.
A população activa empregue neste sector apresenta uma estrutura etária
bastante envelhecida, baixo nível de instrução e baixo nível de produtividade. Ao
envelhecimento da mão-de-obra não é estranha a falta de atractividade no sector e
que afasta os mais jovens.
A incipiente formação profissional nesta área explica o baixo nível de
produtividade, da mesma forma que impede a modernização e o desenvolvimento do
sector. As modernas técnicas de pesca, as novas embarcações e os meios utilizados
exigem mais do que a mobilização de saberes tradicionais, exigem uma preparação
relacionada não só com a pesca em si mas também com a navegação, com a
preservação dos recursos, com a gestão económica da actividade, entre vários que
podiam ser apontados.
3.11 A gestão do espaço marítimo
O mar é um ecossistema fundamental do ponto de vista ecológico, económico
e social. É especialmente importante para um país como Portugal, com grande faixa
costeira, vasta ZEE e uma tradição marítima secular.

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A extensão da ZEE portuguesa, representa cerca de 18 vezes a extensão do


território continental, colocando dificuldades de gestão acrescidas, difíceis de
ultrapassar e que são ainda acentuadas pela forte pressão demográfica exercida pelo
litoral e pela localização geográfica do território nacional o que coloca a nosso país
num cruzamento das principais rotas marítimas do Atlântico norte.
Os principais problemas que se colocam à gestão do nosso espaço marítimo são
a sobreexploração dos recursos piscícolas, a poluição marinha e a pressão urbanística
sobre o litoral.
Sobreexploração dos recursos piscícolas – o crescimento demográfico a que se
tem vindo a assistir associado ao desenvolvimento das frotas pesqueiras e das técnicas
de pesca, cada vez mais sofisticadas e agressivas, tem conduzido a um esforço de
pesca excessivo, que se traduz na sobreexploração de algumas espécies. Regista-se
uma diminuição drástica de alguns stocks, que coloca em questão a sobrevivência de
algumas espécies. Esta situação exige a implementação de medidas de protecção e de
recuperação das espécies mais ameaçadas.
Poluição marinha – nas águas marítimas portuguesas o problema da poluição é
preocupante. Constitui uma situação latente que tem contribuído para a degradação
de stocks piscícolas, principalmente junto à costa, e para a destruição das áreas
costureiras, enquanto áreas de lazer.
As fontes de poluição são diversas, a descarga de efluentes não tratados de
origem doméstica ou industrial, as águas dos rios que aí vão desaguar e que registam
elevados níveis de poluição doméstica, industrial e resultante de produtos químicos
utilizados na agricultura como os fertilizantes e os pesticidas, o derrame de
hidrocarbonetos resultante de acidentes com petroleiros ou de lavagens ilegais de
tanques de petroleiros em mar alto, que com frequência dão origem a marés negras.
Pressão urbanística sobre o litoral – a orla costureira portuguesa deve ser
encarada como um recurso precioso, com múltiplas potencialidades e gerador de
riqueza. Constitui contudo uma área de grande vulnerabilidade que importa proteger e
valorizar.

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Compreende-se melhor a fragilidade destas áreas quando se pensa na enorme


pressão demográfica a que estão sujeitas, cerca de três quartos da população
portuguesa vivem no litoral e aí desenvolvem a sua actividade. Uma parte significativa
da orla costeira está assim ocupada com construção imobiliária, vias de comunicação,
unidades industrial, hoteleiras e portuárias. Esta ocupação é ainda sazonalmente
reforçada com actividade turística balnear.
A orla costeira portuguesa, à imagem do que acontece noutras áreas do
Mundo, está sujeita a fortes processos de erosão que resultam no recuo da linha de
costa. A intensificação deste processo deve-se:
☺ À elevação do nível médio do mar;
☺ À diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, como
resultado da elevação do nível do mar, por um lado, e das actividades humanas
desenvolvidas no interior e nas zonas ribeirinhas, por outro;
☺ À degradação antropogénica das estruturas naturais, devido ao
pisoteio das dunas, ao aumento da escorrência devido às regas, à construção de
edifícios no topo das arribas e à exploração de areias;
☺ Às obras pesadas de engenharia costureira que consistem em obras
portuárias, obra de estabilização de embocaduras que têm como função principal a de
canalizar a saída de estuários ou lagunas e obras de defesa costeira.

O crescimento da pressão demográfica sobre a faixa costureira foi


acompanhado pelo desenvolvimento do turismo balnear a partir da década de 60 do
século XX, o qual se foi expandido quase sempre de forma desordenada e caótica.
Contribui de maneira particular a descaracterização e para a degradação urbanística
das áreas costureiras.

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4 Os espaços organizados pela população


4.1 As áreas rurais em mudança
4.1.1 As fragilidades dos sistemas agrários
O peso da agricultura portuguesa no sector económico
Ao longo do tempo, e à semelhança do que tem acontecido em outros países
da União Europeia, o peso da agricultura na economia nacional tem vindo a diminuir,
sendo esse valor ainda elevado quando comparado com a média europeia.
O espaço rural
O espaço rural corresponde ao espaço ocupado, preponderantemente por
actividades ligadas à agricultura, à pecuária e à silvicultura. Caracteriza-se por baixas
densidades populacionais, por populações autóctones dispersas ou aglomeradas em
núcleos de pequena dimensão, com forte ligação à terra.
No contexto do espaço rural, destaca-se o espaço agrário, que corresponde à
área ocupada pela produção agrícola e/ou criação de gado, pastagens, floresta e
também pelas infra-estruturas e equipamentos de apoio à agricultura, como por
exemplo as casas de habitação dos agricultores, os armazéns, os caminhos, ou os
canais de distribuição de água.
4.2 As principais produções
Produção vegetal
Cereais:
 Trigo – Cereal de sequeiro, cultivado em sistema extensivo, que ocupa a
maior parte da área dedicada às culturas cerealíferas e apresenta uma produção anual
irregular, muito dependente e vulnerável face às condições meteorológicas. O Alentejo
é a região onde se registam os maiores valores de produção, seguido de Trás-os-
Montes e do Ribatejo e Oeste.
 Milho – Cereal de regadio, cujos valores máximos de produção são
obtidos nas regiões agrárias de Entre Douro e Minho, Beira Litoral e Ribatejo e Oeste.

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 Arroz – exige em solos alagados e temperaturas elevados, localizando-se


nas áreas de produção nas planícies aluviais dos principais rios portugueses (Mondego,
Tejo, Sado, Sorraia).
 Batata – a sua cultura está disseminada por todo o território nacional,
registando-se os maiores valores de produção nas regiões agrárias da Beira Litoral, de
Entre Douro e Minho, de Trás-os-Montes e do Ribatejo e Oeste.
 Vinha – cultivada por todo o país, sustenta uma produção de grande
significado económico, representando mais de metade do valor das explorações
portuguesas de produtos agrícolas. A produção vitivinícola organizada em Regiões
Demarcadas apresenta uma grande diversidade.
 Azeite – Mediterrâneo por excelência, é um dos produtos mais
importantes da nossa agricultura, encontrando-se me todo o território continental.
Culturas industriais
o Tomate – a sua cultura tem como objectivo, a transformação industrial
para a obtenção de concentrados.
o Girassol – cultura de introdução recente, a sua cultura destina-se à
produção de óleos alimentares.
o Tabaco - a área e o volume de produção do tabaco tem vindo a
aumentar progressivamente, sendo a Beira Interior a região onde a sua cultura tem
mais expressão.
Fruticultura - o clima português oferece óptimas condições para a cultura de
um variado leque de produtos frutícolas, apresentando-se como um dos sectores com
maiores potencialidades. Destacam-se a pêra rocha, a maçã e frutos tropicais, como a
banana, o ananás e o Kiwi.
Horticultura – Portugal tem excelentes condições para o desenvolvimento da
horticultura. Nas últimas décadas assiste-se à difusão da produção em estufa de várias
espécies.
Floricultura – produção de alto rendimento económico que se encontra em
fase de expansão no nosso país, realizada sobretudo em estufas.

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4.3 Produção animal


Gado bovino – a criação de gado bovino reveste-se de grande interesse no
contexto da actividade agro-pecuária, registando-se um aumento significativo no total
de efectivos criados e na introdução de novas espécies.
Gado ovino e caprino - é o suporte de desenvolvimento de certas produções
regionais de grande quantidade (queijo da serra da Estrela).
Suinicultura – a criação de gado suíno em moldes industriais tem registado um
aumento significativo, assumindo um lugar de destaque na pecuária nacional.
Avicultura – a criação de aves em aviários, tendo em vista a produção de carne
e de ovos, tem registado um aumento significativo a nível nacional.
4.4 As características da população agrícola
Estrutura etária
Às características da mão-de-obra sublinha-se a elevada percentagem de
população activa empregue neste sector, sinónimo de um atraso tecnológico
significativo, contudo, tem se vindo a verificar, nas últimas décadas, o seu progressivo
decréscimo, especialmente na consequência do êxodo rural e da emigração, e só mais
recentemente uma certa modernização.
Reforça-se o forte e crescente envelhecimento da população agrícola, como
resultado do abandono da actividade pelos mais jovens, o que constitui um dos
maiores obstáculos ao desenvolvimento da agricultura.
O envelhecimento da mão-de-obra traduz uma menor capacidade de abertura
às inovações, de adaptação a novas tecnologias e técnicas de produção e até de
capacidade física para o trabalho. O envelhecimento da mão-de-obra é responsável
pela manutenção dos baixos níveis de rendimento e de produtividade.
Nível de instrução e de formação profissional
Relacionados com o envelhecimento da mão-de-obra agrícola estão os baixos
níveis de instrução e de qualificação nacional, também responsáveis pelo atraso
estrutural da agricultura.

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Nível de instrução em %
Sem Inferior ao
2º e 3º ciclo Secundário Superior
Regiões instrução 2º Ciclo
Agrárias

Entre Douro e Minho 17 50 25 5 2


Trás-os-Montes 17 52 20 7 4
Beira Litoral 11 77 9 1 2
Beira Interior 20 53 17 6 4
Ribatejo e Oeste 15 53 21 7 4
Alentejo 19 47 20 8 6
Algarve 19 54 17 7 3
Açores 14 49 28 6 3
Madeira 23 48 21 6 2
Portugal 18 67 10 2 3
Quadro 1 – Nível de instrução do produto agrícola, por regiões agrárias, em percentagem (fonte INE)

A análise do quadro 1 permite reter que a maioria dos agricultores portugueses


apresenta níveis baixíssimos de instrução, inferior ao 2º ciclo. Um valor significativo de
produtores sem instrução, situação que tem vindo a atenuar devido à introdução da
escolaridade obrigatória e ao abandono da actividade pelos mais idosos.
Pluriactividade
Com os baixos salários auferidos que se revelam insuficientes para as
necessidades familiares, origina que procuram emprego noutras actividades onde
beneficiam de remunerações fixas e mais elevadas. Não abandonando as explorações
agrícolas, a agricultura passa a ser exercida a tempo parcial, na qualidade de actividade
secundária, destinada à produção de auto consumo. Esta pluriactividade que traduz
ao plurirrendimento permite melhorar a qualidade de vida do agricultor, ajudando a
travar o abandono das áreas rurais. Predomina nas regiões de pequena propriedade e
assume maior expressão na proximidade dos centros urbanos, onde são mais
abundantes as oportunidades de emprego noutras actividades.
4.5 A agricultura biológica
No âmbito da agricultura europeia, tem vindo crescentemente a impor-se a
produção biológica de produtos animais e vegetais.
A agricultura biológica constitui um sistema de produção que tende a
aproximar a agronomia da ecologia, recuperando técnicas e práticas tradicionais, mas

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tendo presente algumas das novas técnicas e tecnologias. A agricultura biológica é um


sistema de produção que visa a manutenção da produtividade do solo e das culturas,
para proporcionar nutrientes às plantas e controlas as infestantes, parasitas e doenças,
com utilização de rotações de culturas, adição de subprodutos agrícolas (estrumes,
leguminosas, detritos orgânicos, rochas ou minerais triturados) e controlo biológico de
pragas, evitando-se o uso de fertilizantes e pesticidas de síntese química, reguladores
de crescimento e aditivos de rações.
4.6 As novas oportunidades para as áreas rurais
A (re)descoberta da multifuncionalidade do espaço rural
O espaço rural português, pela sua extensão que ocupa, pela população que
nele reside e pelo grande e diversificado potencial de recursos naturais, humanos e
culturais que encerra, deve ser valorizado de forma a promover o desenvolvimento
económico e social e de acesso às condições de suporte à vida e à actividade das
empresas. Só assim será possível esbater os contrastes entre as áreas urbanas e áreas
rurais, e contribuir para um país territorialmente mais equilibrado.
As áreas rurais, apesar de apresentarem graves insuficiências e fragilidades em
relação às áreas urbanas, não são, contudo, uniformes. Exibem entre si profundos
contrastes. As que se localizam no litoral, junto aos grandes centros urbanos,
apresentam um forte dinamismo económico, proporcionado por essa proximidade, e
uma organização ao nível do território e da empresa que torna difícil, por vezes,
estabelecer limites entre os espaços urbanos e os espaços rurais. Representam áreas
densamente povoadas, urbanizadas e ocupadas, já de forma significativa, por
actividades ligadas a outros sectores de actividade, como o secundário e o terciário. A
agricultura praticada é moderna, voltada para o mercado e marcada pela
pluriactividade da mão-de-obra, proporcionada pela difusão das referidas actividades.
No interior do país, a realidade é completamente diferente. O espaço rural
apresenta características muito vincadas, permitindo estabelecer, de forma bem
nítida, as diferenças que o separam do espaço urbano.

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A estas áreas rurais encontram-se associados graves problemas:


envelhecimento demográfico, despovoamento, baixo nível de instrução e de
qualificação da mão-de-obra, oferta insuficiente de equipamento (ao nível da saúde,
educação, cultura, transporte, lazer), baixo nível de vida da população, entre muitos
outros.
Estas fragilidades têm contribuído para a diminuição da população activa, para
o abandono das actividades ligadas ao sector, para a desvitalização continuada destas
áreas, cada vez com menos capacidade em atrair população e em fixá-la.
Estas áreas encerram recursos valiosos que são encarados como potenciais
vectores de desenvolvimento. Entre esses recursos aponta-se o património ao nível do
ambiente, da paisagem, da história, da cultura ou da arquitectura. Trata-se de
património cuja preservação é crescentemente acarinhada pelo valore inerente e pelo
papel que desempenha na consolidação da identidade do país e da região.
Neste sentido, o espaço rural deixa de ser considerado exclusivamente como
um espaço de produção (agrícola, pecuária ou silvícola) e passa a ser entendido como
espaço de regulação (preservação de recursos e de qualidade ambiental, conservação
da natureza), de informação (manutenção da identidade e património cultural) e de
suporte (lazer e turismo, qualidade de vida).
A multifuncionalidade atribuída às áreas rurais pressupõe uma diversificação
ao nível das actividades económicas a desenvolver, promotora da pluriactividade. A
população activa passará a dispor de actividades alternativas e complementares, que
além de contribuírem para melhorar o seu nível e qualidade de vida, ajudarão à
preservação dos recursos, à diminuição das assimetrias nacionais, ao mesmo tempo
que determinarão a contenção do êxodo rural.
Face à diversidade funcional que pode ser assumida nas áreas rurais, variadas
são também as actividades que podem ser desenvolvidas, como por exemplo as que se
ligam ao turismo, à indústria, aos serviços, às produções locais de qualidade, à
silvicultura ou às energias renováveis.

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O turismo
A partir dos meados do século XX, com o desenvolvimento dos meios de
transporte, a melhoria do nível de vida e a conquista de importantes regalias sociais
(direito a férias, subsidio de férias, etc), o turismo transformou-se num fenómeno de
massas e numa actividade de grande importância económica, não só pelo número de
empregos que dá origem, como pelos capitais que atrai. Constitui-se como um
importante sector de desenvolvimento regional. A actividade turística é encarada
como potencializadora das regiões, principalmente pelos efeitos que produz ao nível
de outras actividades, impulsiona a construção civil, promove o desenvolvimento da
restauração e hotelaria, contribui para a dinamização do sector dos transportes,
incentiva o desenvolvimento dos serviços, estimula o artesanato, contribui para a
preservação do património.
O turismo balnear é em Portugal, o tipo de turismo que detém maior
expressão, o que se explica pelas características climáticas do país, com verões
quentes e secos, e pela extensão e diversidade da costa.
A implementação e expansão desta forma de turismo nem sempre
corresponderam a um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do litoral. Pelo
contrário, deu origem em muitos casos a um crescimento urbano caótico,
descaracterizado e ambientalmente degradado, relativamente aos princípios de um
processo de desenvolvimento sustentável.
Como alternativa ao turismo massificado começaram a ganhar expressão
outras ofertas turísticas, enquadradas por novas perspectivas de ocupação dos tempos
livres, pelo desejo de maior contactam com a Natureza e pela procura de serviços mais
personalizados.
Estes serviços, dominados pelo alojamento, arrancaram em Portugal no inicio
dos anos 80. A designação Turismo em Espaço Rural (TER) passa a ser utilizada na
legislação de 1986, quando são definidos os principais tipos: “turismo de habitação”,
“turismo rural” e “agro-turismo”.

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De acordo com a legislação publicada em 2008 os tipos existentes são os “


empreendimentos de turismo de habitação” e os “empreendimentos de turismo no
espaço rural”.
Empreendimentos de turismo de habitação são estabelecimentos de uma
natureza familiar instalados em imóveis antigos particulares que, pelo seu valor
arquitectónico, histórico ou artístico, sejam representativos de uma determinada
época, nomeadamente palácios e solares, podendo localizar-se em espaços rurais ou
urbanos.
Empreendimentos de turismo no espaço rural são estabelecimentos que se
destinam a prestar, em espaços rurais, serviços de alojamento a turista, disponho para
o seu funcionamento de um adequado conjunto de instalações, estruturas,
equipamentos e serviços complementares, tendo em vista a oferta de um produto
turístico completo e diversificado no espaço rural. Devem contribuir para preservar,
recuperar e valorizar o património arquitectónico, histórico, natural e paisagístico dos
lugares onde se situam através da reconstrução, reabilitação ou ampliação de
construções existentes, sendo classificados em casas de campo, agro-turismo e hotéis
rurais.
As casas de campo situam-se em aldeias e espaço rurais que se integrem pela
sua raça, materiais de construção e de mais características, na arquitectura típica local.
As casas de campo quando localizadas em aldeias com uma gestão integrada são
consideradas turismo de aldeia.
O agro-turismo inclui os empreendimentos situados em explorações agrícolas
que permitam aos hóspedes o acompanhamento, o conhecimento, e em alguns casos,
a participação na actividade agrícola.
Os hotéis rurais são estabelecimentos hoteleiros situados em espaços rurais
que, pela sua traça arquitectónica e materiais de construção, respeitem as
características dominantes da região onde estão implantados.

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Em Portugal, o maior número de unidades de turismo de habitação e de


turismo em espaço rural encontram-se no Norte, com cerca de 44% dos
estabelecimentos e 41% da capacidade de alojamento em 2008.
Em síntese, as principais vantagens do turismo em espaço rural residem na:
➢ Diversificação das actividades económicas e de ordem turística;
➢ Promoção e conservação dos recursos humanos e naturais das áreas
rurais;
➢ Melhoria da qualidade de vida das populações residentes.

O Turismo em Espaço Rural tem sido responsável pelo potenciar dos recursos
endógenos das áreas rurais contribuindo para assegurar a melhoria da qualidade de
vida das populações residentes para estimular processos de desenvolvimento
sustentável, promovendo uma oferta turística mais respeitadora do património natural
e urbano.
A importância atribuída na actualidade, à manutenção física e ao bem-estar
obtido com tratamentos preventivos, veio dar um novo impulso às termas e ao
contributo que dão no desenvolvimento de áreas do interior com poucas opções ou
alternativas para além da exploração de recursos naturais.
As áreas termais continuam a representar para um número reduzido de
utentes, uma forma de tratamento de problemas de saúde, sobretudo no descanso e
na fuga ao stress urbano ou no apoio a outras actividades para além das termas, que
se tem baseado a “recuperação” do turismo termal.
Um fenómeno recente relacionado com as termas, e que vem alterar a relação
entre as termas e as nascentes termais, prende-se com o aparecimento de vários
hotéis classificados nos segmentos mais altos, a exemplo de quatro estrelas, que
assentam a promoção na existência de actividades de balneário, acrescentando
serviços relacionados com a denominação spa (saúde pela água).

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A indústria
O processo de industrialização no nosso país conheceu um forte crescimento da
década de 60, altura em que se modernizam e expandem sectores da indústria
tradicional (têxteis, confecção, calçado…) em que se assiste à implementação de novas
indústrias (indústria de plásticos, indústria química…), caracterizadas por sistemas de
produção assentes em técnicas e tecnologias modernas.
O crescimento do sector secundário fez-se sentir sobretudo nos distritos do
litoral ocidental, onde é mais fácil recrutar mão-de-obra onde abundam serviços de
apoio à indústria e onde os transportes e as comunicações se apresentam mais
desenvolvidos. Começam a acentuar-se as assimetrias regionais. Nas áreas rurais, a
persistência de uma agricultura tradicional, de baixo rendimento e produtividade,
incentiva ao êxodo rural e à emigração. Assiste-se ao progressivo despovoamento e
envelhecimento demográfico dessas áreas, ao mesmo tempo, nos distritos
industrializados do litoral, onde a oferta de trabalho é maior, se conhece um período
de forte crescimento populacional e económico.
É nas áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto que se verifica a maior
concentração industrial o que se traduz na existência de numerosos postos de trabalho
e onde o sector secundário regista o maior peso no contexto económico nacional.
Outros distritos do litoral, como Braga, Aveiro e Leiria, revelam também um
desenvolvimento industrial como significativo, dominando no primeiro as indústrias
têxteis e de confecção e nos restantes as indústrias ligadas ao vidro, à cerâmica, à
celulose, aos moldes para plástico, entre várias outras.
A expansão e melhoria de rede viária, assim como a construção de infra-
estruturas de base para a indústria tem imprimido uma certa dinâmica a alguns
distritos do Centro interior, como Castelo Branco e Guarda, assistindo-se a um
significativo desenvolvimento industrial, ligado quer a indústrias tradicionais que têm
por base a exploração de recursos endógenos como é o caso de lanifícios quer a novas
indústrias.

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Os restantes distritos do interior e as Regiões Autónomas apresentam-se pouco


industrializados encontrando-se as unidades existentes ligadas, frequentemente à
exploração de recursos endógenos, nomeadamente aos do subsolo (como acontece no
Alentejo, onde a exploração dos mármores, do cobre e de outros minerais, constitui o
suporte da indústria da região), ou dos produtos alimentares (caso da Região
Autónoma dos Açores, onde a indústria de lacticínios assume uma enorme importância
ao nível da economia da região).
A actividade industrial em Portugal reveste-se de grande interesse não só pelos
numerosos postos de trabalho que assegura, mas também pela contribuição do PIB e
ainda pela criação de numerosas actividades do sector terciário a que dá origem.
As áreas rurais, principalmente as que se localizam no interior do país,
apresentam um défice de desenvolvimento, quando comparadas com as do litoral, que
decorre de um vasto conjunto de factores de ordem natural e humana. A persistência
de práticas agrícolas tradicionais, explicada pela falta de investimento e inovação,
resultou numa agricultura de subsistência de baixo rendimento e produtividade,
incapaz de dar resposta aos condicionalismos impostos pelo mercado cada vez mais
exigente e competitivo. Essa situação, traduziu-se, por sua vez, na decadência do
sector primário, que desencadeou o êxodo rural, a desertificação e o envelhecimento
demográfico, assim como a estagnação económica das regiões do interior.
Neste contexto, a implantação da actividade industrial nessas regiões, pelo
número de empregos que gera e pelo desenvolvimento de outras actividades (muitas
delas ligadas ao sector terciário) que exige, pode ajudar à fixação da população,
contribuindo para o declínio do êxodo rural e para inverter o processo de
despovoamento. Pode contribuir para a redução do envelhecimento demográfico.
Os efeitos da implantação da actividade industrial serão tanto mais
significativos quanto mais assentarem na exploração dos recursos endógenos (quer a
ao nível das matérias-primas, quer ao nível da mão-de-obra) e quanto menos
poluentes forem as indústrias.

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O incentivo à implantação da actividade industrial em meio rural passa pela


adopção de algumas medidas, quer a nível nacional: atribuição de benefícios fiscais;
concessão de subsídios; formação de mão-de-obra; criação de zonas e de parques
industriais, entre outras.
Os serviços
Nas últimas décadas do século XX, assistiu-se no nosso país a um forte
crescimento do sector terciário, que se apresenta fundamental para o funcionamento
e para a competitividade do sistema produtivo.
Apesar da crescente terciarização da economia portuguesa e do que esse
processo em termos de dinamismo económico e de melhoria de vida da população, o
nosso país apresenta ainda valores muito inferiores ao da média comunitária. Por
outro lado, a distribuição da actividade activa ligada ao sector revela-se muito irregular
no território nacional, detectando-se fortes assimetrias regionais. É nos distritos do
litoral que se observam os valores mais elevados, com destaque para os distritos do
Porto e Lisboa. Os valores mais baixos ocorrem nos distritos do interior e nas regiões
autónomas. Esta situação reflecte os contrastes observados noutros domínios no
nosso país, nomeadamente no que se refere ao desenvolvimento industrial e à
expansão urbana.
A implantação e a diversificação dos serviços nas áreas rurais revelam-se
fundamentais. Permitem melhorar as condições de vida da população, uniformizando
o acesso à utilização e contribuindo para a criação de novos empregos. Servem de
suporte ao desenvolvimento das actividades ligadas ao turismo e à indústria.
A silvicultura
A floresta, pode ser um sector a valorizar, não só sob o ponto de vista
económico, da produção obtida, mas também na perspectiva ambiental, pela
importância de que se reveste na preservação dos solos e dos recursos aquíferos,
assim como no sequestro de carbono.
Não é, também, de menosprezar a sua importância enquanto ecossistema e
sustentáculo de biodiversidade ou quando encarada como espaço de lazer e turismo.

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A sua gestão implica o desenvolvimento de numerosas actividades ligadas quer


à produção quer à manutenção.
Os problemas estruturais que a floresta portuguesa encerra exigem, para uma
exploração que se quer sustentável, que se adoptem medidas que os ajudem a
solucionar.
Uma das medidas fundamentais prende-se com a criação de instrumentos de
gestão e de ordenamento da floresta, como é o caso dos Planos Regionais de
Ordenamento Florestal (PROF).
Energias renováveis
O aproveitamento de recursos naturais para produção de energias renováveis
pode constituir uma mais-valia para as áreas rurais, na medida que se cria riqueza,
gera emprego, ajuda à preservação do ambiente, porque se trata de energias limpas, e
contribui para a diminuição da despesa pública, pois permite reduzir as importações
de energias fósseis.
A biomassa florestal, o biogás ou os biocombustíveis utilizados para a
produção de energia podem constituir bons exemplos de formas de energias
renováveis a explorar.
Produtos regionais de qualidade
Os produtos locais obtidos através de sistemas de produção “ amigos do
ambiente” podem constituir uma grande oportunidade para as áreas rurais, na medida
em que são uma fonte de rendimento e podem projectar a sua imagem no exterior,
devendo ser valorizados.
Estratégias integradas no desenvolvimento rural
A promoção do desenvolvimento rural, no quadro da União Europeia, encontra-
se consagrada como o segundo pilar da PAC e os seus objectivos visam contribuir para
o desenvolvimento da agricultura europeia multifuncional, sustentável e repartida por
todos os espaços da União, e para a diversificação económica e social dos territórios
rurais europeus. A qualidade de vida das pessoas residentes nestes territórios e a sua

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participação nos processos de desenvolvimento constituirão os indicadores-chave para


avaliar o sucesso desta estratégia.
Em Portugal, os contrastes de desenvolvimento entre as áreas urbanas e as
áreas rurais são acentuados, pelo que, face às razões objectivas acima assinaladas mas
por opção às políticas de desenvolvimento rural têm vindo a ocupar um lugar
reforçado na luta por uma sociedade territorialmente mais equilibrada.
4.7 As áreas urbanas: dinâmicas internas
Espaço rural – espaço urbano
Distinguir espaço urbano de espaço rural é uma tarefa cada vez mais difícil. O
crescimento populacional e o aumento da mobilidade têm conduzido à difusão
espacial da população, das actividades económicas e do modo de vida urbano, que se
vão, de forma gradual, expandido para o espaço rural. O crescimento urbano é um
processo responsável pela dinamização das relações cidade – campo e pela crescente
diversificação funcional e profissional, registadas nas áreas rurais, ocupadas por
residência de população crescentemente ligada a actividades dos sectores secundários
e terciários.
Já se trata de um processo global, a expansão urbana, intimamente associada a
profundas transformações económicas e sociais, traduz-se em normas formas de
organização e apropriação do espaço.
Definir cidade
Os critérios para definir cidade variam de país para país e por vezes, no mesmo
país, são aplicados de maneira diferente podendo também sofrer alterações ao longo
do tempo, como aliás tem acontecido em Portugal. Os critérios mais utilizados são a
população absoluta, a e a distribuição da população activa pelos sectores de
actividade.
População absoluta – o total de habitantes de um aglomerado constitui um dos
critérios mais vulgarmente utilizados.

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Densidade populacional – De uma maneira geral, nas cidades o valor da


densidade populacional é elevado. Esse critério também não é universal, registando-se
disparidades muito grandes de país para país.
Distribuição da população activa pelos sectores de actividade – segundo este
critério, um aglomerado populacional só pode considerado cidade se a maior parte da
sua população se empregar no sector secundário ou terciário.
As cidades apresentam, alguns aspectos comuns, que permitem caracterizá-las:
 Estão dotadas de certos equipamentos sociais e culturais (hospitais,
escolas, transportes públicos, cinemas, teatros, etc).
 Apresentam uma forte concentração de imóveis;
 O preço do solo é elevado;
 Registam um movimento intenso de pessoas e veículos;
 Exercem influência económica, cultural, social e político-administrativa
na área envolvente, de acordo com a importância das suas funções, à escala local,
regional, nacional ou mesmo internacional.
Actualmente, é a Assembleia da República e as Assembleias Regionais das
Autónomas dos Açores e da Madeira que conferem a categoria de cidade aos
aglomerados que combinem o total de 8000 eleitores com um conjunto de
equipamentos e infra-estruturas, seguindo o determinado na Lei nº. 11/82, de 2 de
Junho. É de salientar que nem sempre o processo de elevação de um aglomerado à
categoria a cidade segue esses critérios, constituindo iniciativas de carácter
fundamentalmente político-administrativo ao abrigo do artigo 14º da mesma Lei,
“importantes razões de natureza histórica, cultural e arquitectónica poderão justificar
uma ponderação diferente destes requisitos”.
A partir de 1960, o Instituto Nacional de Estatística passou a considerar como
centro urbano todos os aglomerados com mais de 10 000 habitantes ou todos aqueles
que, não atingindo essa dimensão populacional, fossem capitais de distrito.
Os termos urbanos e cidade são muitas vezes empregues com o mesmo
sentido, o que pode ser erróneo, uma vez que ao conceito centro urbano se associa

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unicamente um critério ligado a um determinado total de habitantes, enquanto, que


ao conceito de cidade se prendem, para além de critérios ligados a um certo número
de habitantes, outros de carácter funcional (predomínio de actividades ligadas ao
sector secundário e terciário), politico e administrativo e também a oferta de
determinados bens e serviços, proporcionada pela existência de certos equipamentos.
A população urbana tem registado no nosso país, desde 1960, um crescimento
percentualmente superior ao da população absoluta, o que significa que, em Portugal,
os movimentos da população do meio rural para os centros urbanos foram
significativos, pelo menos até à década de 90, especialmente em direcção às cidades
do litoral e particularmente para as áreas que se localizam nas Áreas Metropolitanas
de Lisboa e Porto. Algumas cidades do interior com maior dinamismo registaram
também um considerável crescimento, destacando-se algumas capitais de distrito:
Castelo Branco, Guarda, Viseu e Évora, entre outras. Verifica-se até em alguns distritos
(como é o caso de Bragança) um aumento da taxa de urbanização, ao mesmo tempo
que se regista uma diminuição da população absoluta. Também a imigração é
responsável pelo crescimento da taxa de urbanização, quer da parte das cidades, quer
nalgumas de menor dimensão.
Os transportes e a organização urbano
A tendência geral para o aumento da taxa de urbanização em Portugal, com
reflexos no despovoamento do meio rural é, em grande medida, o resultado da
evolução verificada nos transportes que veio melhorar a acessibilidade em todo o
território nacional.
Ao aumentar a mobilidade, aumenta a número de ligações entre as cidades e o
restante território. Constituindo pólos de elevado poder de atracção, as cidades
começaram a crescer em número e em dimensão geográfica.
A própria organização interna das cidades pode ser alterada em resultado de
novas acessibilidades criadas no interior do tecido urbano. O crescimento dos
subúrbios e o despovoamento dos centros de algumas cidades podem ser explicados
por alterações aos transportes. A renda locativa (preço do solo) aumenta de forma

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proporcional ao aumento da acessibilidade dos lugares e, com ela, a especulação


fundiária, assim como o surgimento de áreas de solo expectante.
4.7.1 A organização das áreas urbanas
A distribuição das várias actividades observáveis no espaço urbano assim como
a residência da população não se processem ao acaso. É possível identificar
regularidades espaciais nessa distribuição, podendo individualizar-se áreas funcionais,
quer dizer, áreas que se apresentam uma homogeneidade da função dominante que
se destacam das restantes em virtude de apresentarem características próprias. A
individualização destas áreas resulta da variação do preço do solo, o qual, por seu lado,
depende da acessibilidade.
O preço do terreno é tanto maior quanto menor for a distância ao centro, uma
vez que á aí que se cruzam os eixos de comunicação, constituindo a área de maior
acessibilidade no interior do espaço urbano e, por isso, mais atractiva para muitas
actividades do sector terciário que aí tendem a instalar-se. Da concentração de
actividades resulta uma forte competição pelo espaço, verificando-se uma procura
superior à oferta, criam-se as condições para a especulação imobiliária com a subida
dos preços do solo.
À medida que aumenta a distância ao centro, a acessibilidade diminui,
decrescendo a procura do solo pelas actividades terciárias e consequentemente o seu
preço. Outras actividades se vão instalando, nomeadamente as que se encontram
ligadas á indústria e à função residencial.
Apesar da distância ao centro, outros factores podem condicionar a ocupação
do solo, existindo áreas, que apesar de muito afastadas do centro, podem ser objecto
de grande procura, existindo-se à subida do preço dos terrenos. Como causas dessa
situação pode-se apontar a proximidade de boas vias de comunicação, a existência de
um bom serviço de transportes públicos, um meio ambientalmente bem conservado,
entre outras.

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As áreas terciárias
CBD (Central Business District) – Esta área, mais vulgarmente designada entre
nós por Baixa ou Centro, caracteriza-se por uma elevado grau de acessibilidade, uma
vez que aí convergem os transportes públicos. Muita atractiva para numerosas
actividades do sector terciário cuja rentabilidade depende da existência de clientela
numerosa.
O CBD é considerado o centro financeiro da cidade, uma vez que aí se
concentram grande número de sedes bancárias, de companhias de seguros, de
escritórios das grandes empresas e comércio grossista e a retalho, geralmente muito
especializado e também a localização de restaurantes, hotéis e salas de espectáculos.
Muitas actividades administrativas e escritórios de profissões liberais encontram aí
uma área preferencial para se localizarem.
A procura destas áreas faz com que o solo se revele escasso, dificuldade que é
ultrapassada, em parte, pela construção em altura, um dos aspectos mais
característicos das áreas mais centrais das cidades.
Nesta área, a distribuição das actividades apresenta-se diferenciada, quer no
plano vertical quer no plano horizontal. No plano vertical é vulgar observar-se a
ocupação dos pisos térreos pelo comércio destinando-se os últimos pisos à residência
e os pisos intermédios a escritórios e armazéns.
A análise da organização do plano horizontal revela a existência de áreas de
forte especialização no interior do CBD: destacam-se o centro financeiro, a área de
comércio a retalho, a área de comércio grossista, a área de hotéis e restauração.
Em muitas cidades tem-se assistido à descentralização de muitas actividades
terciárias do centro para outras áreas da cidade, pela crescente falta do espaço,
agravada pelos valores excessivos dos preços dos terrenos, como pelo
congestionamento do tráfego urbano, cuja intensidade se vai traduzindo em
crescentes dificuldades de deslocação e de estacionamento. Esta tendência é
reforçada pelo aumento da acessibilidade a outras áreas da cidade, associada à
construção de novas vias de comunicação e a sistemas de transportes públicos mais

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eficazes. Nos últimos anos, em Portugal, em muitas cidades, a construção de


hipermercados e de gigantescos centros comerciais nas áreas periféricas, que se
constituem como uma alternativa comercial ao centro e são responsáveis pelo declínio
deste.
As áreas centrais de algumas cidades caracterizam-se, actualmente, por um
progressivo despovoamento, resultado da perda da função residencial. Durante muito
tempo considerada uma área residencial por excelência, observa-se hoje o abandono
pelos moradores, principalmente os mais jovens, que procuram na periferia habitações
com mais espaço, mais modernas e inseridas em meios ambientalmente mais
agradáveis e a preços convidativos.
Esta tendência é reforçada pela evolução das vias de comunicação, pela
modernização e desenvolvimento dos sistemas de transportes públicos e pela
capacidade de aquisição de veículos particulares que, no seu conjunto, permitem
aumentar a distância entre o local de trabalho e o local de residência. Deste modo, os
residentes de áreas centrais que ainda resistem são os mais idosos e os grupos sociais
de fracos recursos económicos. As habitações destacam-se, na sua maioria, por uma
degradação generalizada e pela consequente falta de condições de habitabilidade e
até de segurança.
Outro aspecto característico do CBD é a flutuação de população ao longo das
24 horas do dia, que se traduz num trânsito intensíssimo de peões e veículos durante o
dia e o despovoamento durante a noite.
Assiste-se a novos fenómenos ao nível da animação cultural e nocturna nas
grandes cidades, com novos restaurantes, cafés, bares, lojas e galerias de arte, que
têm atraído para o centro populacional jovens, contribuindo para o seu dinamismo e
ajudando a combater o crescente abandono.
As áreas residenciais
A função residencial encontra-se disseminada por todo o espaço urbano. A
análise da distribuição e organização das áreas residências revela a existência de fortes
contrastes, que evidenciam a classe socioeconómica dos seus residentes. O preço do

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solo, o desenvolvimento dos transportes públicos, as características ambientais é os


factores que contribuem para a individualização de áreas residenciais diferenciais.
As classes sociais de rendimentos mais elevados escolhem como área de
residência as zonas mais aprazíveis da cidade, pouco poluídas, com espaços verdes e
de lazer, bem servidas por boas vias de comunicação onde os preços do solo atingem,
em média, valores elevados. As residências podem inserir-se em bairros de moradias
unifamiliares ou em edifícios de vários andares. Têm em conjunto um aspecto
arquitectónico mais ou menos cuidado, materiais de construção de boa qualidade,
superfícies amplas. O comércio que serve estas áreas é geralmente pouco concentrado
e, frequentemente, de luxo.
A classe média ocupa a maior parte do espaço urbano e as áreas residenciais
apresentam aspectos muito diversificados. Os blocos de habitação plurifamiliares
apresentam uma certa uniformidade do ponto de vista arquitectónico e materiais de
construção de menor qualidade. Localizam-se em áreas bem servidas de transportes,
com equipamentos sociais diversificados (escolas, centros de saúde, por exemplo) e
algum comércio de proximidade.
Assiste-se, assim, à crescente expansão das áreas residenciais da classe média
para a periferia, principalmente por famílias jovens.
As residências da população mais carenciada, ocupam regra geral, os espaços
mais degradados e insalubres das cidades. As habitações são, em muitos casos, de
construção ilegais, pelo que não dispõem de infra-estruturas e equipamentos não
oferecendo condições de habitabilidade condignas. Estão neste caso os “bairros de
lata”, onde a maior parte da população vive abaixo do limiar da pobreza, em
construções precárias.
Também na área central das cidades, abandonada pelos moradores mais jovens
e abastados, reside uma população de fracos recursos económicos em condições
degradadas.
Os bairros de habitação social construídas pelo Estado destinam-se a
acolherem as classes de menos recursos, muitas vezes com o objectivo de realojar

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população afectada por calamidades ou no âmbito de programas que têm em vista a


erradicação de “barracas”. De construção económica e simples, muito semelhantes
entre si, localizam-se, por vezes, em áreas de fraca acessibilidade, caracterizando-se
pela falta de qualidade dos materiais de construção, pela pequena dimensão da área
de habitação e por deficiências ao nível das infra-estruturas.
A implantação da indústria
O espaço urbano constituiu uma área de localização preferencialmente para
numerosas indústrias, o que se justificava pela abundância de mão-de-obra, infra-
estruturas, equipamentos e serviços de apoio à produção que aí se encontravam. A
exigência das indústrias modernas em espaços cada vez mais vastos, associada à sua
crescente escassez no interior das cidades, à poluição provocada por muitas delas e às
dificuldades do trânsito urbano, actuou como factor repulsivo, obrigando à sua
deslocação para a periferia das aglomerações. A sua implantação faz-se em espaços
previamente destinados para esse efeito, isto é, em parques industriais. No interior
das cidades subsistem indústrias não poluentes, pouco exigentes em espaço,
consumidores de matéria-prima pouco volumoso e que, para subsistirem, necessitam
de estar próximos da clientela, em lugares de grande acessibilidade, como por
exemplo as indústrias de confecção, de artes gráficas e de panificação.
4.7.2 A expansão urbana
O crescimento da taxa de urbanização em Portugal, é significativo a partir da
década de 80 e vai reflectir-se numa nova organização do espaço, é imposta pela
afirmação de novos modelos de comércio e por meios de transporte mais rápidos e
eficazes que servem um território urbano fortemente expandido.
O crescimento das cidades caracteriza-se, numa primeira fase por fase
centrípeta, pela concentração de população e das actividades económicas no seu
interior. Esta situação vai conduzir à alteração das condições de vida urbana, que se
traduz, quase sempre, na diminuição da qualidade de vida. A falta de habitação, a
poluição sonora e atmosférica, a insuficiência dos espaços verdes e de lazer e o
aumento do trânsito são exemplos que a população se passa a debater-se e que estão

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na origem de um movimento de sentido contrário. Assiste-se, então, à deslocação da


população da população e das actividades económica para a periferia das
aglomerações urbanas. Este movimento corresponde à fase centrífuga do crescimento
das cidades, ou sejam à fase de desconcentração urbana.
4.7.3 Os subúrbios e as áreas periféricas
O espaço da periferia vai sendo ocupado de uma forma tentacular, a expansão
faz-se ao longo das vias de comunicação, urbanizando-se progressivamente, segundo
um processo a que se dá o nome de suburbanização.
A deslocação da população e das actividades económicas resulta da conjugação
de vários factores, nomeadamente do desenvolvimento dos transportes públicos
suburbanos e do aumento do número do aumento de automóveis particulares,
responsável pela maior mobilidade da população, tornando possível a separação entre
o local de trabalho e o local de residência. Aponta-se a maior disponibilidade de
terrenos na periferia e o menor valor do solo, como importantes factores de atracção
para a instalação de actividades económicas exigentes em espaço, assim como para a
aquisição de habitação.
O crescimento dos subúrbios traduz-se em problemas económicos e sociais e
na diminuição da qualidade de vida da população, podendo-se salientar: crescimento
muito rápido e desordenado, que não é acompanhado pela construção, ao mesmo
ritmo, de infra-estruturas e equipamentos; intensificação dos movimentos pendulares
com todas as consequências negativas daí resultantes (aumento do consumo de
energia, da poluição e desperdício de tempo); destruição de solos com boa aptidão
agrícola; aumento da construção clandestina, realizada à margem dos processos de
planeamento.
Os subúrbios, cujo crescimento inicial resultou da função residência,
começaram a desenvolver-se à custa da implantação de um leque cada vez mais
variado de actividades económicas, tendo em vista a responder às necessidades de
uma população residente dia a dia mais numerosa.

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Muitos aglomerados suburbanos, antigos povoados rurais, vão-se expandido e


ganhando vida própria. A construção de modernas vias de comunicação, a ligar os
vários centros urbanos dos subúrbios, entre si e ao centro principal e o aumento da
taxa de motorização, faz crescer as relações de complementaridade entre eles. No
caso português, este processo de crescimento urbano é marcado, também, pela
aquisição de casa própria, que tem alimentado um processo de metropolização
policêntrico.
Nalguns casos mais recentes, o planeamento cuidado que tem orientado o
crescimento de alguns subúrbios, conjugado com boas acessibilidades, com qualidade
ambiental e com oferta de serviços diversificados criou novas centralidades com
elevado poder atractivo, promovendo a competição com a cidade principal, através de
fixação da população residente pertencente a classes economicamente mais
privilegiadas.
Esta nova realidade conduz à ruptura com a imagem de subúrbios
caracterizados pelos caos urbanístico, pela função quase exclusiva de “ dormitório”,
pela insuficiência de residentes pertencentes a classes económicas de menores
recursos.
O crescimento das cidades para além dos seus limites torna cada vez mais difícil
estabelecer fronteiras do espaço urbano e do rural, podendo observar-se, para além
da cintura formada pelos subúrbios, áreas onde actividades e estruturas urbanas se
desenvolvem, misturando-se com outras de carácter rural, processo conhecido pela
designação de periurbanização.
Estes espaços caracterizam-se pelo declínio do espaço agrícola, pela
progressiva fragmentação da propriedade agrícola, pela implantação de actividades
ligadas à indústria, pela ocupação difusa do espaço pelas construções, pelo
incremento de actividades ligadas ao comércio e aos serviços, pelas baixas
densidades de ocupação do espaço.
Neles se esbatem os limites entre a cidade e o campo, entre o modo de vida
urbano e o modo de vida rural.

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A rurbanização
Nos países mais desenvolvidos assiste-se a uma nova forma de expansão
urbana., abrangendo áreas mais vastas, conhecida por rurbanização. Trata-se de uma
forma de progressão urbana mais difusa que, invadindo os meios rurais, não se traduz,
contudo, na urbanização contínua do espaço. Constitui uma nova tendência de
deslocação da população urbana para os espaços rurais, em busca de condições de
vida com mais qualidade do que as que encontra nas cidades e nos subúrbios.
Reflecte-se em alterações significativas de aspectos sociais e culturais que
caracterizam os meios rurais.
As áreas Metropolitanas
A deslocação da população e das actividades económicas para os espaços
periféricos das cidades tem conduzido ao processo de suburbanização, assistindo-se
ao crescimento de alguns aglomerados que acabam, assim, por se expandir e adquirir
alguma dinâmica própria. Decorrendo deste processo continuado, formam-se as Áreas
Metropolitanas que constituem amplas áreas urbanizadas, englobando uma grande
cidade, que exerce um efeito polarizador sobre as restantes aglomerações urbanas.
Neste espaço desenvolve-se um complexo sistema de inter-relações entre a cidade
principal e as cidades envolventes que, por sua vez, também se encontram
interligadas.
As cidades e os centros urbanos das Áreas Metropolitanas formam um sistema
policênctrico, ligado por relações de complementaridade, que reforçam a coesão do
território e promovem maior eficácia de funcionamento e dinamismo económico.
As Áreas Metropolitanas detêm um elevado potencial polarizador do
território, uma vez que o seu dinamismo económico atrai população e emprego. O
dinamismo funcional e territorial assenta numa densa rede de transportes multimodal,
onde se concretizam intensos fluxos de pessoas e bens, quer inter, quer intra-
urbanos, motivados, para além do trabalho, por razões ligadas ao ensino, á cultura ou
ao desporto, entre outras e cada vez mais assumem maior importância. Os
movimentos pendulares constituem um dos aspectos relevantes desses fluxos que

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atingem o seu auge nas horas de ponta e que traduzem uma urbanização territorial
nova, em que não se verifica coincidência entre o local de residência e o local de
trabalho.
A expansão dos subúrbios traduz-se na perda demográfica das áreas mais
centrais da cidade principal. A deslocação da população para os subúrbios é
acompanhada pela descentralização das actividades ligadas ao sector secundário e
terciário, que vão reforçar o dinamismo dos centros periféricos e criar novas
centralidades.
No nosso país, o processo de suburbanização tem sido particularmente nas
cidades do litoral, com especial destaque para Lisboa e Porto, dando origem à
formação das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Estas duas áreas fortemente
industrializadas, registam uma grande concentração de actividades do sector terciário,
assim como de população, pelo que exercem uma intensa acção polarizadora no
território nacional.
As Áreas Metropolitanas de Lisboa
e Porto
As Áreas Metropolitanas de Lisboa e
Porto foram criadas administrativamente
em 1991 e em 2003 foram reorganizadas
através da Lei nº. 10/2003, passando a ser
designadas por Grandes Áreas
Metropolitanas (GAM).
Com base neste novo diploma,
solicitaram adesão à GAM do Porto mais
cinco municípios: Arouca, Santa Maria da
Feira, Santo Tirso, São João da Madeira e
Trofa, e em 2008, Oliveira de Azeméis e

Vale de Cambra, passando a Grande Área Grande Área Metropolitana do Porto

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Metropolitana do Porto a ser construída por 16 municípios.


Na GAM do Porto concentra-se cerca de 15% da população portuguesa
(aproximadamente 1,5 milhões de habitantes). Tal como acontece na GAM de Lisboa,
também o concelho do Porto tem registado uma diminuição da população residente,
enquanto os concelhos periféricos se assiste ao acréscimo.
A área Metropolitana do Porto apresenta-se como uma região relativamente
jovem, com um saldo natural superior á média nacional e europeia e com uma
proporção de idosos inferior à média registada nesses dois espaços de referência. O
tecido empresarial assenta em actividades do sector terciário, embora a proporção de
mão-de-obra empregue na indústria registe uma percentagem bastante elevada. A
população na Área Metropolitana do Porto representa níveis de escolaridade
relativamente baixos, quando comparados com o padrão europeu, o que concorre,
entre outros factores, nomeadamente ao que diz respeito à especialização produtiva
de região, para explicar o baixo valor do PIB per capita.
Predominam as indústrias de bens de consumo, sendo de realçar a presença
dominante dos ramos mais tradicionais da indústria portuguesa, nomeadamente a
indústria têxtil, de confecção, de calçado e de mobiliário. Proliferam as empresas de
grande dimensão, onde as tecnologias mais inovadoras têm vindo a penetrar
lentamente. As unidades industriais tendem-se a dispersar-se pela área metropolitana,
intercalando-se com os espaços agrícolas, observando-se cada vez mais uma
localização orientada pelos principais eixos de circulação.
Nos últimos anos assistiu-se a um incremento dos serviços ligados ao ensino
superior e à investigação científica. Ao nível do turismo tem existido iniciativas no
sentido de dar mais visibilidade ao Porto e sua região, tendo como referência o seu
património arquitectónico e cultural.
A distribuição da população nesta área tem registado grandes alterações nos
últimos anos sublinhando-se a perda da população residente no concelho de Lisboa e o
aumento em concelhos periféricos. Causa desta desconcentração, aponta-se a
crescente terciarização das actividades do concelho de Lisboa, que se associa ao

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aumento do preço do solo,


dificultando a aquisição de
habitação, ao aumento do trânsito
urbano e á degradação ambiental.
O concelho de Lisboa é o que
exerce maior poder de atracção
sobre os trabalhadores residentes
noutros concelhos, o que se traduz
em intensos movimentos
pendulares ao longo do dia.
Quanto à distribuição da
população activa pelos sectores de actividade, o sector terciário é o que mais mão-de-
obra emprega, em parte da função administrativa desempenhada pela cidade de
Lisboa, na qualidade de capital do país, assim como do desenvolvimento ligados ao
sector industrial.
A área Metropolitana de Lisboa constitui a região mais industrializada do país,
não só pela elevada percentagem dos postos de trabalho ligados a essa actividade,
como pela contribuição em termos de PIB. A indústria caracteriza-se por uma
diversificação produtiva, assim como pela forte concentração de indústrias de bens e
equipamentos, dominam indústrias de capital intensivo, que utilizam mão-de-obra
muito qualificada e corresponde à região onde se verifica a maior dimensão de
empresas, as quais se tendem a concentrar-se nos concelhos na periferia de Lisboa,
uma vez que o processo de implantação foi orientado pela construção dos grandes
eixos de circulação rodoviária e ferroviária.
4.7.4 Problemas urbanos
As questões urbanísticas e ambientais
O intenso crescimento urbano que caracterizou a última década, realizado
muitas vezes de uma forma caótica tem-se traduzido na expansão de um espaço com
problemas económicos e sociais, nomeadamente ligados à habitação, ao desemprego

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– que conduz à exclusão social -, à degradação ambiental, ao trânsito cada vez mais
intenso e aos problemas levantados pela produção e armazenamento de lixos.
A especulação imobiliária tem constituído um obstáculo ao acesso à habitação,
traduzindo-se num dos problemas que mais afectam as cidades portuguesas,
especialmente Lisboa e Porto. As áreas mais antigas caracterizam-se pela presença de
edifícios de habitação extremamente degradados, onde reside uma população
maioritariamente envelhecida e de fracos recursos. A sobrelotação das habitações
destas áreas, hoje, cada vez mais um problema ultrapassado, devido ao
despovoamento verificado.
Os “bairros de lata” são outro problema habitacional das cidades. Localizados
em áreas geralmente insalubres (doentias), neles se aglomeram construções precárias
que não dispõem de infra-estruturas essenciais (água, luz, saneamento) e albergam
grupos carenciados e economicamente, muitas vezes imigrantes pertencentes a
grupos étnicos minoritários. As “habitações” são partilhadas agregados numerosos que
vivem em situação de promiscuidade. Constituem espaços muito fechados e não raras
vezes focos de criminalidade com venda e consumo de droga, prostituição e furto,
entre outros.
Há ainda a considerar o caso dos sem-abrigo, aqueles que não dispõem de
tecto para se abrigarem, fazendo da rua sua
verdadeira casa.
O número dos que vivem debaixo do limiar
de pobreza cresce a um ritmo preocupante nas
principais cidades portuguesas, tal como acontece
nas outras cidades europeias. Os grupos mais
atingidos são o dos imigrantes, muitos deles em situação de clandestinidade, o dos
desempregados ou situação de emprego precário, o dos idosos com pensões de
reformas claramente insuficientes e o das minorias étnicas. O dramatismo de algumas
destas situações é por vezes reforçado pela toxicodependência, que aumenta as
situações de mendicidade e incentiva ao tráfico de droga e à criminalidade.

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O aumento do tráfego automóvel, especialmente durante as horas de ponta,


traduz-se em congestionamentos que aumentam o tempo de deslocação, a poluição
sonora e atmosférica e que conduzem a estados de grande ansiedade, contribuindo
para a diminuição da qualidade de vida e do bem-estar da população.
Outro problema em que se debatem as cidades e que afecta a qualidade de
vida da população é a crescente produção de resíduos sólidos que, devido à melhoria
do nível de vida da população, resultam do aumento do consumo. Todo o processo de
recolha, tratamento e deposição de resíduos assenta em infra-estruturas que se
revelam ainda mal dimensionadas para dar resposta às necessidades actuais da
população.
Idêntica situação se passa com as águas residuais que são, em alguns casos,
directamente escoadas para o mar ou para os rios, sem qualquer tratamento prévio.
As condições de vida urbana
O rápido crescimento de algumas cidades portuguesas, aliado à especulação
imobiliária e a planeamento pouco eficaz, tem conduzido ao aparecimento de espaços
sem qualidade estética, funcional e social. Constituem autênticas florestas de
cimento, onde a população vive isolada, em completo anonimato, rodeada de
centenas de vizinhos, num espaço incaracterístico e desumanizado. A deterioração das
condições de vida urbana reflecte-se na diminuição do bem-estar e de qualidade de
vida dos cidadãos. As cidades deixaram de ser lugares atractivos para residir e para
trabalhar. É urgente inverter este processo através da implantação de medidas que
tenham em vista um desenvolvimento mais harmonioso, a preservação do património
e a recuperação e revitalização das áreas mais desqualificadas.
Torna-se imprescindível implementar processos de planeamento territorial
que, de forma eficaz, ajudem à construção de um território ordenado, tendo em vista
o seu desenvolvimento e, simultaneamente, o bem-estar de população.
Para o crescimento mais harmonioso e sustentado das cidades portuguesas
muito tem contribuído a implementação dos PMOT (Planos Municipais de
Ordenamento do Território) que variam não só segundo a área de intervenção, mas

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sobretudo segundo a escala de intervenção. São eles o PDM (Plano Director


Municipal), o PU (Plano de Urbanização) e o PP (Plano de Pormenor). Os PDM
incidem a sua aplicação ao nível local, isto é, ao nível concelhio, que é promovida pela
autarquia.
Com o objectivo de adequar a cidade às novas concepções de vida urbana e
manter a dinâmica das áreas urbanas consolidadas, tem sido incrementadas várias
acções de recuperação e revitalização.
Reabilitação urbana – consiste no melhoramento das condições dos edifícios e
dos espaços públicos, verificando-se no entanto a manutenção das funções existentes,
assim como o estatuto socioeconómico dos moradores. Com este processo pretende-
se salvaguardar determinadas áreas da cidade, através da conservação do património
edificado, e também através da revitalização do seu tecido económico e social,
tornando-as áreas mais atractivas.
A reabilitação urbana tem sido apoiada por vários programas, entre os quais se
destaca o PRAUD (Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas), que é
implementado em colaboração com as autarquias.
Requalificação urbana – processo que consiste na adaptação da estrutura física
dos imóveis ou de uma área urbana, sem alterações significativas, a um uso diferente
daquele para que foi inicialmente concebido.
É neste contexto que surge o programa Polis (Programa Nacional de
Requalificação Urbana e Valorização
Ambiental das Cidades). O polis tem como
objectivo melhorar a qualidade de vida nas
cidades, através de intervenções nas
vertentes urbanística e ambiental, com o
fim de aumentar a atractividade e a
competitividade de pólos urbanos com
papel relevante no sistema urbano nacional.
Renovação urbana – tem como

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objectivo a substituição das estruturas existentes, através da demolição e da


construção de novos imóveis e infra-estruturas. Implica alterações da morfologia
urbana, do uso do solo e da estrutura socioeconómica dos residentes.

Parque nas Nações, Lisboa

O aumento da pobreza tem sido fonte de preocupação, procurando-se a


resolução deste problema social através da implementação do programa “Luta contra
a Pobreza” que envolve a dinamização de acções relacionadas com a formação
profissional, a inserção social e a criação de emprego, com o intuito de promover a
integração social dos cidadãos em causa.
Numa tentativa de dar resposta aos problemas decorrentes do trânsito dia a
dia mais intenso, têm vindo a ser implementadas medidas com o objectivo de os
debelar. Como por exemplo a transformação de algumas ruas em zonas estritamente
vocacionadas para a circulação de peões, o desenvolvimento dos transportes públicos
tendo em vista torná-los mais atractivos face à utilização do transporte particular,
limitação do estacionamento em algumas ruas, construção de cinturas rodoviárias na
periferia das aglomerações, túneis e viadutos.

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4.8 A rede urbana e as novas relações cidade – campo


4.8.1 As características da rede urbana
As aglomerações urbanas no território
O crescimento urbano iniciado em Portugal nas últimas décadas não pára de
aumentar a um ritmo muito significativo.
Os centros urbanos continuam a atrair população, oferecendo emprego e
melhores condições de vida. As áreas rurais do interior continuam-se a despovoar-se, a
registar um envelhecimento demográfico
acentuado e a perder dinamismo,
aprofundando-se os contrastes com o
litoral, onde os centros urbanos e cidades
crescem em população e número.
A figura 1 mostra a distribuição das
cidades portuguesas, pondo em evidência
as assimetrias regionais no nosso país ao
nível da localização destes aglomerados.
Existem um maior número de cidades junto
ao litoral, especialmente na proximidade do

Porto e de Lisboa, já o interior do país Fig 1 - Distribuição espacial das cidades


apresenta um número de cidades inferior
ao litoral e algumas delas com dimensões populacionais reduzidas. Estas disparidades
que se observam entre o sul e o norte do país, reflectem contrastes da rede de
acessibilidade e transportes.
Tal como no Continente, nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira os
principais aglomerados populacionais se localizam junto ao litoral, próximo dos portos
marítimos, elos fundamentais na ligação ao exterior. O carácter acidentado do relevo
das ilhas, que se reflecte em dificuldades acrescidas nos transportes, nas
comunicações, assim como em solos mais pobres e difíceis de trabalhar, não incentiva
à fixação da população no interior.

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A hierarquia dos lugares na rede


Um a cidade estabelece com o espaço envolvente um conjunto de relações de
complementaridade, de natureza muito diversificada, nomeadamente de carácter
económico, cultural e social, sendo a força atractiva e polarizadora da cidade sobre o
meio que a cerca superior à que é exercida por este último sobre ela. A área que
envolve a cidade e se encontra sobre a sua dependência directa denomina-se área de
influência ou hinterland. A delimitação das áreas de influência das diferentes cidades
é uma tarefa complexa, mas importante para o processo de planeamento,
nomeadamente no que se refere aos serviços públicos, como o ensino ou a saúde.
Definir áreas de influência em torno de todos os aglomerados tenham o
estatuto de cidade ou não, ou seja, todos os lugares que oferecem bens e/ou serviços
à população da área envolvente. Designa-se por lugar central qualquer aglomerado
onde se exerça pelo menos uma função central, entendida como qualquer actividade
económica, social e cultural que assegure o fornecimento de bens centrais (hospital,
escola, livraria, etc). Considera-se bem central o produto ou o serviço que se pode
adquirir no lugar central, podendo distinguir-se os bens vulgares de utilização
frequente, que se podem adquirir em qualquer lugar central (como por exemplo o pão,
a água, etc), dos bens raros que se caracterizam por serem de utilização menos
frequente e portanto só possíveis de obter em lugares centrais de nível hierárquico
mais elevado (como por exemplo os serviços médicos especializados, serviços
notariais, entre muitos outros).
A área de influência de cada lugar central é determinada pelo alcance da
função central mais rara, prestada nesse lugar central, entendendo-se por alcance,
também designado por raio de eficiência de um bem central, a distância máxima que
as populações servidas estão disposta a percorrer para adquirir um bem ou serviço, em
função do tempo e do custo da deslocação.
Os lugares centrais hierarquizam-se de acordo com a sua centralidade, que se
pode definir como sendo a razão entre a quantidade de bens e serviços que o lugar
oferece à população e a quantidade de bens e serviços que essa população precisa.

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Os centros urbanos hierarquizam-se, deste modo, por níveis ou ordens, com


base nos bens e serviços que fornecem: os centros de ordem inferior correspondem
aos que apresentam a menor centralidade e os de nível superior aos que, além de
disporem de bens e serviços vulgares, oferecem bens e serviços raros com um maior
raio de eficiência. Em Portugal esse ocupado por Lisboa, cidade com a máxima
centralidade e com a maior área de influência. Na hierarquia dos centros urbanos
portugueses, á cidade de Lisboa segue-se a cidade do Porto.
A população distribui-se de forma heterogénea, os rendimentos e o poder de
compra são diferentes, a acessibilidade depende da proximidade das vias de
comunicação e as divisões administrativas condicionam as deslocações das populações
servidas.
Ao conjunto de aglomerações e respectivas áreas envolventes, ligadas entre si
e a um centro urbano principal, por relações e hieráticas, dá-se o nome de rede ou
sistema urbano. Os vários sistemas urbanos integram-se em sistemas
progressivamente mais vastos, constituindo as redes regionais, nacionais e
internacionais
A da hierarquia dos centros urbanos pode ser feita tendo por base a dimensão
demográfica, uma vês que há uma relação entre o total de habitantes e as funções
centrais que neles existem. Sublinha-se no entanto a insuficiência deste critério por
não considerar outros aspectos, normalmente de natureza funcional, mas que traduz a
importância relativa dos aglomerados urbano.
A rede urbana nacional apresenta-se desequilibrada e de padrão macrocéfalo
ou bimacrocéfalo, com duas grandes cidades, Lisboa e Porto, a dominarem um
elevado número de cidades de pequena dimensão, com áreas de influência muito
reduzidas que ocupam a base da hierarquia. O pequeno número de centros urbanos de
pequena dimensão com capacidade para dinamizarem a região onde se enquadram,
ajudando à fixação da população e evitando a sua fuga para os maiores centros do
litoral. A maior parte dos centros urbanos junto ao litoral, o seu contínuo acréscimo, o

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que acentua ainda mais os desequilíbrios existentes. Além da litoralização acrescenta-


se o reforço da bipolarização que caracteriza a rede urbana portuguesa.
As actividades económicas tendem a localizar-se nas grandes aglomerações
urbanas, onde dispõe de mão-de-obra abundante e qualificada, de numerosos serviços
fornecidos por outras empresas, de grande número de fornecedores, de infra-
estruturas e equipamentos (água, energia, transportes, …).
A população é atraída pelas grandes aglomerações, onde dispõe de maiores
oportunidades de emprego, grande variedade de serviços, equipamentos sociais e
culturais, infra-estruturas. A localização nas grandes aglomerações urbanas permite às
empresas e à população beneficiar dos princípios das economias de escala, que
consistem na redução do custo médio unitário de um bem à medida que aumenta o
volume da sua produção. No caso das aglomerações, a aplicação destes princípios
designa-se por economias de aglomeração, o que significa que somente um total de
população suficientemente elevado, como se concentra nas grandes cidades, permite
rentabilizar os investimentos efectuados em infra-estruturas e equipamentos. Os
princípios das economias de aglomeração só se verificam até um certo limite. Quando
o crescimento de uma aglomeração se processa a um ritmo de tal forma acelerado que
conduz à saturação dos espaços e das infra-estruturas, entra-se numa fase designada
por deseconomia de aglomeração, por outras palavras, os equipamentos e infra-
estruturas existentes são insuficientes para dar resposta às necessidades das empresas
e da população. Aumentam os problemas com o trânsito, aumenta o custo do solo e a
degradação ambiental. Assiste-se à falta de habitação, ao mau funcionamento dos
equipamentos sociais (centros de saúde, escolas …). Estes problemas, registados
fundamentalmente nas grandes aglomerações do litoral, traduzem-se no aumento dos
custos de produção, ao nível das empresas, e na diminuição da qualidade de vida da
população. A sua solução exige novos investimentos. Frequentemente, esses
investimentos são de tal maneira elevados que se torna mais vantajosa a deslocação
das empresas e da população para centros urbanos de menor dimensão, afastados dos
grandes centros do litoral. Torna-se imperativo reforçar e dotar os pequenos centros

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urbanos de pequena e média dimensão, localizados no interior do país, de infra-


estruturas e equipamentos capazes de atraírem e ajudarem a fixar empresas e
população.

4.8.2 A reorganização da rede urbana


O papel das cidades médias
O desenvolvimento do nosso país passa pela reorganização do sistema urbano
e este pela revitalização das cidades de média dimensão.
As cidades de média dimensão pelas funções que exercem e pelas
oportunidades que oferecem à população, podem contribuir para a dinamização do
território que se inserem, reduzindo as assimetrias regionais e melhorando a qualidade
e nível de vida dos cidadãos.
Investir nas cidades médias poderá constituir uma estratégia para promover a
implantação de actividades económicas, valorizando as recursos regionais e
preservando o equilíbrio do ambiente, ajuda á fixação da população e, ao crescimento
do país, travando o despovoamento, o envelhecimento, e a estagnação das áreas
mais deprimidas.
Simultaneamente poderá contribuir para atenuar o crescimento das grandes
aglomerações que se debatem anualmente com o excesso de população, face às infra-
estruturas e equipamentos de que dispõem, de que resultam graves problemas sociais,
económicos e ambientais, entre outros.
Através dos financiamentos permitidos pelo PROSIURB (Programa de
Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos Planos Directores
Municipais) pretendia-se promover acções de qualidade urbana e ambiental, tendo
em vista a valorização de cidades médias e de centros urbanos da rede complementar.
Neste âmbito foram construídas, a fundo perdido infra-estruturas essenciais, ligadas,
por exemplo, ao saneamento básico ou a recolha e tratamento de resíduos,
equipamentos de apoio à actividade produtiva e equipamentos colectivos, ligados ao

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desporto, lazer e cultura, assim como foram levadas a cabo inúmeras acções de
reabilitação e renovação urbana.
O atenuar do crescimento das grandes aglomerações
A diminuição das assimetrias e o reforço da coesão e da solidariedade internas
passam pela reorganização da rede urbana, de que resulta o desenvolvimento de uma
rede policêntrica, constituída por centros de grande, média e pequena dimensão,
distribuídos de forma mais equilibrada pelo território nacional e ligados entre si de
forma articulada por relações de complementaridade.
Esta reorganização assenta na melhoria das acessibilidades entre os vários
centros urbanos e no incentivo público e privado ao investimento em actividades que
potenciem o desenvolvimento económico regional.
As condições enunciadas permitem a aumentar a capacidade de atracção das
cidades médias, aumentar a sua área de influência por contextos regionais mais
alargados, ajudando a intensificar as relações entre o meio urbano e o meio rural.
Apesar das melhorias a que se tem assistido ao nível do desenvolvimento da
rede viária, nomeadamente da rede nacional estruturante, da rede que liga as áreas
rurais e urbanas, bem como das condições para a fixação dos mais diversos serviços e
actividades que têm vindo a promover a especialização e consequentemente, a
complementaridade funcional entre os centros urbanos e a rede urbana nacional
revela-se ainda muito desequilibrada e pouco eficiente.
O litoral continua a demarcar-se do interior, quer em número de cidades quer
na dimensão demográfica das mesmas.
A inserção na rede urbana europeia
Uma vez que os centros urbanos que dinamizam as regiões onde se integram e
que essa dinamização é tanto maior quanto maior a sua capacidade polarizadora, isto
é, de atracção de população e actividades económicas, facilmente se depreende que o
desenvolvimento do país e a projecção da sua imagem no exterior depende de uma
rede urbana policêntrica, com um número equilibrado de centros urbanos de
diferentes dimensões, distribuídos harmoniosamente pelo território.

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A afirmação internacional exige a existência de cidades que exercem funções


de nível superior, que lhes permita desempenhar um papel com relevância ao nível
económico, tecnológico, cultural e científico no cenário internacional.
Portugal não possui qualquer cidade com capacidade de afirmação a este nível.
Quer Lisboa quer Porto ocupam posições secundárias nesse contexto e essa situação
tende a agravar-se com o alargamento da EU a leste.
Algumas cidades dos novos países aderentes apresentam, mais possibilidades
para se afirmarem na primeira linha da rede urbana europeia do que as cidades
portuguesas, face a uma maior proximidade geográfica ao eixo central do
desenvolvimento europeu.
As cidades não apresentam capacidade de afirmação na rede internacional.
Como principal causa desta situação, aponta-se tradicionalmente, a perificidade do
nosso território, situação que pode entretanto alterar-se, com o desenvolvimento dos
transportes e das telecomunicações. A localização geográfica de Portugal no extremo
sudoeste da Europa, poderá transformar-se numa vantagem comparativa, se o
território nacional passar a funcionar como uma porta de comunicação entre a Europa
e o resto do Mundo. Portugal poderá transformar-se numa plataforma
intercontinental de prestação de serviços, nomeadamente ao nível dos transportes,
capaz de atrair investimentos, actividades, população.
Para projectar as principais cidades portuguesas na rede internacional, quer ao
nível ibérico quer europeu ou até mundial, é necessário continuar investir de forma a
torna-las mais atractivas e dinâmicas. As cidades de média dimensão devem continuar
a serem objecto de programas e projectos, de preferência inovadores, que contribuam
para aumentar a sua dinâmica e o seu papel polarizador da região, reforçando a
coesão nacional. A rede de transportes deve continuar a ser melhorada, permitindo
uma maior ligação entre os centros da rede nacional e os da rede internacional.

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4.8.3 As parcerias entre cidades e o mundo rural


As complementaridades funcionais/ as estratégias de cooperação
O espaço urbano e o espaço rural são indissociáveis, já que se organizam e
estruturam o território através do estabelecimento de um conjunto de relações de
complementaridade funcional.
As relações de complementaridade sempre existiram, a par da evolução social,
tecnológica, económica que foi marcada a sociedade, alterações ao nível da forma
como as ligações se estabelecem, assim como dos seus efeitos.
A cidade sempre foi procurada pela população rural como local de comércio
por excelência e de concentração de serviços altamente especializados na área da
saúde, da educação ou da justiça, ou ainda como pólo de difusão cultural e de oferta
de trabalho.
As áreas rurais sempre foram fundamentais para a dinâmica urbana como
áreas produtoras de bens alimentares como reserva de mão-de-obra.
Com a evolução verificada ao nível dos meios de transporte e com os
melhoramentos das respectivas redes, as relações entre estes dois espaços têm-se
intensificado, principalmente as que se estabelecem entre as áreas urbanas e as áreas
rurais mais próximas. A intensidade das relações vai-se estabelecendo com a distância,
com o afastamento das áreas rurais ditas “marginais”, por dificuldades que, apesar de
todos os progressos ainda se manifestam ao nível das acessibilidades.
As áreas rurais são procuradas também pela paisagem, como espaço de lazer,
de habitação e, pelas oportunidades de emprego que gera, ao nível de vários serviços
e até de alguma indústria.
O crescimento harmonioso do país passa pela redução das disparidades
internas e estas pelo desenvolvimento das áreas rurais, que se desejam mais
equilibradas e infra-estruturadas, de forma a oferecer à população residente condições
de vida mais atractivas e com mais qualidade. É fundamental promover a implantação
de serviços e potencializar os recursos endógenos, de modo a aumentar a dinâmica
económica desses espaços.

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A valorização das áreas rurais, a diminuição das assimetrias e o


desenvolvimento do país, assentam numa articulação eficiente entre políticas de
ordenamento do território e de conservação da natureza, de desenvolvimento rural,
de desenvolvimento regional e de desenvolvimento urbano.
Nas grandes cidades tem-se assistido ao longo dos anos, à realização de feiras
de produtos biológicos e à abertura de lojas da especialidade.
5 – A população, como se movimenta e comunica
5.1 A diversidade dos modos de transporte e da desigualdade espacial das
redes
São cada vez mais numerosas as trocas entre os diversos países, as quais têm
na sua base a complementaridade entre as várias regiões. A crescente interacção
espacial tem como suporte a rede de transportes e os vários meios de transporte, que
ao longo deste século sofreram uma enorme evolução.
O aumento da mobilidade permitiu desenvolver o comércio, as actividades
produtivas, quer a nível regional quer a nível internacional, diminuir as assimetrias
regionais e portanto melhorar as condições de vida e bem-estar da população. Ajudou
à expansão de novas formas de organização do espaço, como por exemplo o
crescimento dos subúrbios nas cidades
5.1.1 A competitividade dos diferentes modos de transporte
As principais redes de transportes utilizadas para o estabelecimento de ligações
são: rede rodoviária, a rede ferroviária, a rede marítima e a rede aérea. A escolha do
modo de transporte a utilizar depende de vários factores, o custo do transporte, o
tipo de mercadoria a transportar, a distância a vencer, o tempo gasto no percurso e o
tipo de trajecto a percorrer.
No tráfego interno de mercadorias e de passageiros utiliza-se, o transporte
rodoviário. Ao tráfego internacional de mercadorias, o transporte é realizado, na
maioria dos casos, por via marítima, ao qual se segue o transportaste rodoviário.

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Transporte rodoviário
O transporte rodoviário tem registado em Portugal um aumento muito
significativo, quer no que respeita aos veículos pesados quer aos ligeiros. Esta situação
traduz a subida do nível médio de vida da população, desenvolvimento do comércio e
das actividades produtivas. Este meio de transporte revela-se adequado sob o ponto
de vista económico, para curtas e médias distâncias. Apresenta uma grande
flexibilidade, permitindo o transporte porta a porta, que elimina a necessidade de
transbordo e, por outro lado, revela-se rápido e cómodo. Tem sido objecto de uma
considerável evolução tecnológica que se traduz no aumento da capacidade de carga e
de especialização para o transporte de mercadorias diversificadas. Tudo se reflecte na
diminuição dos custos de transporte e no aumento da sua competitividade face a
outros meios.
O crescimento do parque automóvel tem-se traduzido no aumento excessivo
do tráfego, especialmente nos grandes centros urbanos, com todos os inconvenientes
que daí decorrem, nomeadamente no que diz respeito ao elevado consumo de
combustível, ao aumento da poluição, ao aumento do desgaste psicológico, á
dificuldade em estacionar entre outros.
A utilização cada vez maior dos transportes rodoviários, particularmente dos
veículos particulares, conduz ao aumento do consumo de combustíveis fósseis e ao
aumento da poluição atmosférica, a qual atinge níveis preocupantes em diversas
cidades europeias. A elevada sinistralidade é outro dos grandes problemas associados
à utilização deste meio de transporte.
Transporte ferroviário
O transporte ferroviário foi durante a primeira metade do século XX, um meio
de transporte muito utilizado e constituiu um importante factor de desenvolvimento
para o país. À medida que os transportes rodoviários se foram afirmando, foi perdendo
competitividade, quer no transporte de passageiros quer no de mercadorias,
apresentando actualmente uma utilização muito modesta, tanto nas ligações nacionais
como internacionais. Alguns aspectos de carácter fixos dos seus itinerários que se

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traduz numa menor flexibilidade e na exigência de transbordo, o que, além de retirar


comodidade, aumenta o custo de transporte, não só pela perda de tempo que implica,
como pelo aumento de mão-de-obra utilizada. Também se revela um meio de
transporte com elevados encargos ao nível da manutenção e funcionamento de infra-
estruturas, equipamentos, quando comparado com o transporte rodoviário.
Transporte marítimo
Em Portugal, cerca de 80% do comércio internacional de mercadorias é
realizado por via marítima. A localização geográfica do nosso país no extremo da
Europa, no cruzamento das grandes rotas marítimas, e da enorme extensão da sua
linha de costa que, favoreceu o contacto com o mar promovendo o transporte
marítimo.
5.2 A revolução das telecomunicações e o seu impacto nas relações
interterritoriais
5.2.1 A distribuição espacial das redes de comunicação
A sociedade moderna em que vivemos caracteriza-se pela crescente
internacionalização da economia, pela rapidez e facilidade de acesso à informação,
pela uniformização de padrões de vida, pela simplificação de complexos processos de
gestão e administração. Neste contexto aparece como protagonista o sector das
telecomunicações.
As modernas telecomunicações, a par de vários meios de transporte, vieram
permitir o encurtamento das distâncias, transformando o nosso planeta numa
verdadeira “aldeia global”. As tecnologias são encaradas como um importante vector
de desenvolvimento e de qualidade de vida da população.
A partir dos anos 80 e, em parte, devido à adesão de Portugal à União Europeia,
as telecomunicações nacionais registaram uma modernização notável, apresentando-
se hoje ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa.
Apesar dos progressos registados, observam-se em Portugal acentuadas
assimetrias regionais no acesso aos serviços de telecomunicações, apresentando-se o
litoral muito melhor servido que o interior.

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As principais redes de telecomunicações cobrem todo o território nacional,


garantindo o acesso da população à informação e à comunicação, o que resultou de
avultados investimentos realizados no sector. A distribuição da rede não é uniforme,
registando-se contrastes significativos entre o litoral, onde é muito mais densa e o
interior.
O computador faz parte do dia-a-dia dos portugueses nos mais variados
serviços e para os mais diversificados fins, registando-se um progressivo aumento da
sua utilização assim como da internet.
Pode concluir-se que Lisboa e Algarve se destacam por uma utilização do
computador acima da média nacional, no que respeita à internet Lisboa apresenta a
maior proporção de utilizadores, seguindo-se as regiões do Algarve e do Centro.
5.2.2 Papel das TIC, no dinamismo dos espaços geográficos
Vivemos hoje numa sociedade chamada “sociedade de informação”, cuja
existência depende do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação
(TIC), com reflexos na educação, na ciência, no lazer e nos transportes, entre outros. O
acesso aos TIC revela-se fundamental para o desenvolvimento equilibrado da
sociedade e do território, desempenhando um papel novo na criação de emprego e
riqueza.
Com as TIC o mundo é cada vez mais global, sem fronteiras e os contactos entre
regiões são cada vez mais intensos e frequentes, apesar das enormes distancias que as
podem separar.
A difusão e acesso às novas tecnologias de informação e de comunicação
assentam num conjunto de infra-estruturas que tem sofrido uma profunda evolução,
responsável por verdadeiras revoluções neste sector, que constantemente se
surpreendem e mudam as nossas vivencias.
A utilização dos computadores e a ligação à internet colocam a sociedade no
meio de outra revolução. As TIC vieram mudar as relações entre pessoas e espaços, o
que se traduz em novas formas de organização espacial, social e laboral entre outras.
O teletrabalho, o telecomércio começam a fazer parte de todos nós, comparando-se

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por vezes o impacto destas novas formas de trabalho, com o da primeira Revolução
Industrial.
As novas formas de comunicação, aliadas ao aumento de serviços disponíveis
online, quer das empresas quer públicas, dirigidas a um leque alargado de clientela, a
custos baixos, permite a quebra do isolamento das áreas mais periféricas, a redução
das assimetrias, a dinamização dos mercados e a coesão social.
Os sistemas de satélites mais utilizados actualmente são o GPS – Global
Positioning System (sistema do posicionamento global), de origem americana.
5.3 Os transportes, as comunicações e a qualidade de vida da população
Em Portugal os sectores dos transportes e das comunicações assumem cada vez
maior relevância em vários domínios da sociedade. Contribuem de forma significativa
para o aumento do PIB, os seus efeitos multiplicadores noutros sectores da economia
devem ser também considerados. Tem contribuído para a modernização das empresas
nacionais e para apoiar a fixação de empresas estrangeiras no território nacional. O
seu papel na aproximação das áreas mais desenvolvidas com as mais periféricas.
Estes sectores, funcionando de uma forma indissociável e articulada,
constituem-se como um suporte fundamental para a promoção de novos factores de
crescimento e para a renovação do modelo de crescimento económico português,
assim como para a ligação de Portugal à Europa e ao resto do Mundo, permitindo uma
integração plena “aldeia global”.
Garante-se assim e proporciona-se a todos os cidadãos portugueses condições
de igualdade no acesso aos transportes e às novas tecnologias da informação, pelo que
é necessário investir nas diferentes redes, na sua modernização e também na
formação, tendo em vista o domínio das novas tecnologias.
Estes sectores não estão isentos de perigos de perigos que é necessário
minimizar.

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6 -Portugal - Da emigração à imigração

Até meados dos anos 60, Portugal era um país de emigrantes. Sobretudo de
emigrantes transoceânicos. A falta de oportunidades e o clima de pobreza que reinava
no auge do antigo regime levaram milhões de portugueses a atravessar o Atlântico em
direcção ao Novo Mundo. Brasil (22% dos 2 milhões de emigrantes portugueses entre
1950 e 1984), Venezuela (8%), Canadá (9%) e EUA (13%) foram os destinos eleitos para
refazerem as suas vidas. A partir dos anos 60, estes fluxos começaram a centrar-se nas
economias florescentes da Europa Ocidental, carentes de mão-de-obra não
especializada e com condições laborais infinitamente superiores às oferecidas em
Portugal. França (31%), Alemanha (9%) e Suíça passaram então a ser o destino de
eleição destes portugueses. Foi então que o Estado começou a abrir as portas aos
imigrantes das colónias portuguesas (sobretudo de Cabo Verde).
Com a desagregação tardia do Império ultramarino português, em 1975, cerca
de meio milhão de portugueses que viviam sobretudo em Angola e Moçambique
regressaram a Portugal para 11 anos depois, com a entrada de Portugal na então
Comunidade Económica Europeia, se voltar a incentivar a saída de trabalhadores
nacionais para um espaço europeu comum que continuava carenciado de mão-de-
obra. A integração de Portugal neste novo espaço tornou-o especialmente atractivo
como destino de imigrantes oriundos do Brasil, dos PALOP e da Europa Central e
Oriental. Os manuais de sociologia e de antropologia distinguem três modelos de
integração para as populações imigrantes: a assimilação contempla a perda de
identidade e cultura originais a favor da identidade e cultura dominantes, neste caso, a
do país receptor; melting pot em que as diferentes culturas se fundem e assimilam
umas às outras, formando uma cultura e identidades novas; e o pluralismo cultural
onde diferentes culturas não cedem a outras e convivem de forma igual e equilibrada,
formando um mosaico multicultural.
Seja de que forma se faça, a integração é inevitavelmente um processo gradual
através do qual os imigrantes participam na vida económica, social, cívica e cultural do
país de acolhimento. No entanto, esta nem sempre ocorre, nomeadamente por causa

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de factores como a pobreza, falta de trabalho, situação de ilegalidade, falta de


assistência médica e social, desestruturação familiar, clivagens culturais,
desconhecimento legal, exploração e abuso laboral, desconhecimento da língua e
xenofobia, que contribuem por seu lado para a exclusão social das populações
imigrantes. A prova disso está na diferente forma como Portugal lidou com as três
vagas de imigração recentes.
Dos PALOP ao Brasil
A esmagadora maioria dos imigrantes africanos em Portugal deixou os países
de origem sem qualquer espécie de garantia no que se refere à sua integração no
mercado de trabalho, submetendo-se frequentemente a condições de trabalho
precárias e a salários muito baixos. Ainda assim, Portugal sempre foi tido como um
destino atractivo, graças à falta de mão-de-obra e à falta de eficácia do sistema de
fiscalização que promovem a entrada e permanência em situação ilegal.
Vivendo em condições de semi-indigência e sem habitação digna, pela
exploração salarial a que são sujeitos, muitos destes imigrantes permanecem durante
anos a fio num limbo de exclusão permanente, concentrando-se em bairros pobres das
periferias das grandes cidades, pernoitando nos estaleiros de construção civil onde a
maioria trabalha, ou dormindo em abrigos e na rua.
Em plenos anos 90, a imigração volta a mudar de rosto. Com a dissolução da
União Soviética e com o desagregar do modelo económico vigente na Europa de Leste,
que cedeu definitivamente espaço ao modelo capitalista e liberal da Sociedade
Ocidental, milhões de pessoas viram-se subitamente sem trabalho e sem qualquer
espécie de assistência médica ou social.
Esta transição também foi acompanhada por conflitos étnicos, guerras civis e
movimentos repressivos que levaram ao acelerar destes fluxos migratórios dos
europeus de Leste que se começaram a espalhar pelo Velho Continente à procura de
uma vida melhor. Muitas vezes, este movimento foi impulsionado por redes de tráfico
ilegal de pessoas, intimamente relacionado com o mercado do sexo, do trabalho
clandestino e da imigração ilegal.

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A maior parte destes novos imigrantes chegaram a Portugal com um elevado


nível de habilitações literárias, mas as barreiras linguísticas e a falta de
reconhecimento das suas competências académicas e profissionais fez com que a
maioria tivesse tido pouco mais oportunidades que as que foram dadas aos imigrantes
dos PALOP. Na viragem do século, assistiu-se a uma nova vaga de imigração, desta vez,
oriunda do Brasil. Mais heterogénea do ponto de vista das qualificações literárias
profissionais que as populações africanas e da Europa de Leste, os imigrantes
brasileiros beneficiaram da abertura das autoridades portuguesas relativamente à sua
origem e rapidamente se tornaram na comunidade imigrante mais importante do país.
Apesar de todas as dificuldades, a verdade é que a comunidade brasileira teve
um acolhimento diferente das restantes. Sem dúvida graças às grandes afinidades
culturais que Brasil e Portugal partilham e ao facto dos portugueses não reconhecerem
nos brasileiros aquelas que são consideradas as principais razões para encarar a
população imigrante como ameaçadora, nomeadamente a instabilidade económica, os
preconceitos racistas e securitários e o conservadorismo social.
Independentemente dos juízos de valor que se possam fazer acerca das
questões que giram à volta da imigração, parece óbvio que o objectivo principal e
primordial da população imigrante é a estabilização e a melhoria das suas condições de
vida, mediante a aquisição de plenos direitos de cidadania que lhes permitam livre
acesso ao mercado de trabalho e à cobertura do Estado-Providência. Se esta
integração não se realizar, restam duas hipóteses às populações imigrantes: o trabalho
clandestino, sem condições, nem dignidade e factor de exploração e o desemprego
que leva inevitavelmente ao aumento da pobreza e da desagregação social
(alcoolismo, miséria, depressão, crime, suicídio) que a AMI está apostada em conter
através dos seus equipamentos sociais.
Uma integração plena evita, pois, uma série de problemas dramáticos e
favorece a coesão social ao mesmo tempo que contribui positivamente para a
economia e para a contenção do envelhecimento demográfico.

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II -Princípios psicológicos associados à integração e bem-estar, com enfoque


nos contextos de desenvolvimento e nos processos de mudança de meio envolvente
1 O funcionamento e o papel das comunidades como promotoras de
desenvolvimento e bem-estar pessoais
Existem várias organizações e ou serviços públicos ou privados que
desempenham um papel fundamental para o bem-estar das pessoas. São exemplo:
Santa casa da Misericórdia de Lisboa – Esta instituição dispõe de vários
serviços para o bem-estar das pessoas, como são os casos de: Acolhimento familiar,
centro de acolhimento e observação temporária, lar de infância e juventude, equipas
de apoio a famílias com crianças e jovens em risco, animação sócio - educativa, jardim
de infância, apoio ao cidadão, atendimento social, colónia de férias, residência de
apoio à vitima de violência doméstica, apoio domiciliário a pessoas idosas, etc.…
Hospitais – O seu objectivo principal é fornecer todos os cuidados de saúde às
pessoas.
Bombeiros – São pessoas (voluntários ou profissionais) que têm formação e
equipamento adequado para fazer o transporte de pessoas doentes ou sinistradas, resgatar
pessoas em perigo, fornecer assistência em acidentes ou incidentes, apagar os fogos.
Policia – É uma força com a missão de defesa da legalidade democrática, de garantia
da segurança interna e de defesa dos cidadãos. Essencialmente, tem por missão: prevenir a
criminalidade, manter a ordem pública.
Mais recentemente tem programas especiais como: Escola segura, Idosos em
segurança, violência doméstica e o chamado policiamento de proximidade.
APAV – Esta associação sem fins lucrativos, tem por objectivo proteger, informar e
apoiar as vítimas de crimes. Fornece apoio jurídico, psicológico e apoio social.
Tem uma linha gratuita de emergência em funcionamento 24 horas por dia, 365 dias
por ano.
Lar de Idosos – são cada vez mais e, mais serão necessários, desde que funcionem
com regras bem definidas e que o respeito pela pessoa idosa esteja sempre presente e acima
de qualquer interesse.

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Um lar para idosos, é um local onde se desenvolvem actividades de apoio social a


pessoas idosas através de alojamento colectivo, temporário ou permanente, fornecem
alimentos, cuidados de saúde, higiene, conforto e fomentam o convívio.
Muitas outras associações ou simples colectividades de bairro existem e têm um papel
importantíssimo no desenvolvimento e bem-estar das populações; Por vezes fazendo o papel
que deveria estar reservado ao Estado.

2 Os diferentes contextos no modelo ecológico do desenvolvimento


Para compreender as conexões (e desconexões) entre alguns importantes
ambientes de desenvolvimento - família, escola, instituição - apresenta-se inicialmente
o modelo ecológico de Bronfenbrenner (1986, 1995a, 1995b, 1996) ou, mais
recentemente denominado, modelo bioecológico (Bronfenbrenner & Morris, 1998).
Esta teoria contempla o desenvolvimento de maneira ampla e é focalizada nas
interacções das pessoas com seus diferentes contextos.
O modelo bioecológico do desenvolvimento humano
Para pesquisadores interessados em "avaliar ecologicamente" o dinamismo das
interacções e das transições na vida das pessoas, em diferentes momentos do ciclo
vital, Bronfenbrenner e Evans (2000) têm se convertido em ponto de referência
obrigatório. Compreender ecologicamente o desenvolvimento humano possibilita que
a atenção investigaria seja dirigida não só para a pessoa e os ambientes imediatos nos
quais se encontra, mas também devem ser consideradas suas interacções e transições
em ambientes mais distantes, dos quais, muitas vezes, sequer participa directamente.
No modelo ecológico, Bronfenbrenner (1996, p.5) pressupõe que toda
experiência individual se dá em ambientes "concebidos como uma série de estruturas
encaixadas, uma dentro da outra, como um conjunto de bonecas russas". É salientado
que "os aspectos do meio ambiente mais importantes no curso do crescimento
psicológico são, de forma esmagadora, aqueles que têm significado para a pessoa
numa dada situação" (Bronfenbrenner, 1996, p.9). Portanto, diferentes contextos
como família, instituição e escola podem ter influências diversas no desenvolvimento.
O modelo bioecológico também enfatiza o ambiente, mas propõe que o

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desenvolvimento humano seja estudado por meio da interacção deste núcleo com
outros três, de forma inter-relacionada: o processo, a pessoa e o tempo, ampliando o
foco do modelo.
O contexto
O primeiro componente do modelo bioecológico, o contexto, segue o proposto
em 1979/1996, e é analisado por meio da interacção de quatro níveis ambientais,
denominados: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. É no
contexto dos microssistemas que operam os processos proximais, que produzem e
sustentam o desenvolvimento, mas a sua eficácia em implementá-lo depende da
estrutura e do conteúdo dos mesmos (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O
microssistema é o sistema ecológico mais próximo, e compreende um conjunto de
relações entre a pessoa em desenvolvimento e seu ambiente mais imediato, como a
família, a escola, a vizinhança mais próxima. As interacções dentro do microssistema
ocorrem com os aspectos físicos, sociais e simbólicos do ambiente, e são permeadas
pelas características de disposição, recurso e demanda das pessoas envolvidas
(Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O mesossistema refere-se ao conjunto de relações entre dois ou mais
microssistemas nos quais a pessoa em desenvolvimento participa de maneira ativa (as
relações família-escola, por exemplo). O mesossistema é ampliado sempre que uma
pessoa passa a frequentar um novo ambiente. Os processos que operam nos
diferentes ambientes frequentados pela pessoa são interdependentes, influenciando-
se mutuamente (Bronfenbrenner, 1986). Assim, a interacção de uma pessoa em
determinado lugar, por exemplo, na escola, é influenciada pelo ambiente e também
pelas influências trazidas de outros contextos, como a família.
O exossistema compreende aquelas estruturas sociais formais e informais que,
embora não contenham a pessoa em desenvolvimento, influenciam e delimitam o que
acontece no ambiente mais próximo (a família extensa, as condições e as experiências
de trabalho dos adultos e da família, as amizades, a vizinhança). Nesse sentido, o
exossistema envolve os ambientes que a pessoa não frequenta como um participante

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activo, mas que desempenham uma influência indirecta sobre o seu desenvolvimento
(Bronfenbrenner, 1996). Três exossistemas são identificados por Bronfenbrenner
(1986) como muito importantes para o desenvolvimento da criança, devido à sua
influência nos processos familiares: o trabalho dos pais, a rede de apoio social e a
comunidade em que a família está inserida. Por último, o macrossistema é composto
pelo padrão global de ideologias, crenças, valores, religiões, formas de governo,
culturas e subculturas, situações e acontecimentos históricos presentes no cotidiano
das pessoas e que influenciam seu desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1996, 2004).
Assim, a cultura na qual os pais foram educados, os valores e as crenças transmitidos
por suas famílias de origem, bem como a sociedade actual em que eles vivem,
influenciam a maneira como educam seus filhos. O macrossistema é o sistema mais
distante da pessoa: abrange a comunidade na qual os outros três sistemas estão
inseridos e que pode afecta-los (estereótipos e preconceitos de determinadas
sociedades, períodos de grave situação económica dos países, globalização).
O processo
O processo é destacado como o principal mecanismo responsável pelo
desenvolvimento, e é visto como as interacções recíprocas progressivamente mais
complexas do sujeito com as pessoas, objectos e símbolos presentes no seu ambiente
imediato (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O ser humano é sempre considerado nesta
teoria como um ser biopsicologicamente em evolução e, para que suas interacções
sejam consideradas como tal, ele deve ser activo. As formas de interacção no
ambiente imediato são denominadas processos proximais. Bronfenbrenner e Morris
(1998) tratam dos processos proximais como os principais motores de
desenvolvimento psicológico ou formas de interacção que operam como o substrato
das actividades conjuntas, dos papéis e das relações estabelecidas rotineiramente
(entre crianças/cuidadores/professores), e podem determinar suas trajectórias de
vida, de maneira a inibir ou incentivar a expressão de competências nas esferas
cognitiva, social e afectiva.

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A pessoa
O terceiro componente do modelo bioecológico é a pessoa. Esta é analisada
por meio de suas características determinadas biopsicologicamente (experiências
vividas, habilidades, por exemplo) e aquelas construídas (demanda social, por
exemplo) na sua interacção com o ambiente (Bronfenbrenner & Morris, 1998). No
modelo bioecológico, as características da pessoa são tanto produtoras como produtos
do desenvolvimento, pois constituem um dos elementos que influenciam a forma, a
força, o conteúdo e a direcção dos processos proximais. Ao mesmo tempo, são
resultados da interacção conjunta destes elementos - processo, pessoa, contexto e
tempo (Bronfenbrenner, 1999). Assim, no modelo bioecológico, o desenvolvimento
está relacionado com estabilidade e mudança nas características biopsicológicas da
pessoa durante o seu ciclo de vida (Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O tempo
Finalmente, o quarto componente do modelo bioecológico - o tempo,
incorporado ao modelo em 1986 - permite examinar a influência no desenvolvimento
de mudanças e continuidades que ocorrem ao longo do ciclo de vida (Bronfenbrenner,
1986). Para Bronfenbrenner e Morris (1998) o tempo é analisado em três níveis do
modelo bioecológico: microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo refere-
se à continuidade e à descontinuidade observadas dentro dos episódios de processo
proximal. Como exemplo, pode ser mencionado o tempo de duração das relações
estabelecidas entre as crianças e seus pares ou família, ou ainda, durante a realização
de determinada actividade. O modelo bioecológico condiciona a efectividade dos
processos proximais à ocorrência de uma interacção recíproca, progressivamente mais
complexa, em uma base de tempo relativamente regular, não podendo este funcionar
efectivamente em ambientes instáveis e imprevisíveis. Em um nível mais elevado, o
mesotempo refere-se à periodicidade dos episódios de processo proximal, considerado
em intervalos de tempo como dias e semanas. O macrotempo focaliza as expectativas
e os eventos constantes e mutantes tanto dentro da sociedade ampliada como das

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gerações, e a maneira como estes eventos afectam e são afectados pelos processos e
resultados do desenvolvimento humano dentro do ciclo de vida.
Assim, a análise do tempo dentro destes três níveis deve focalizar a pessoa em
relação aos acontecimentos presentes em sua vida, desde os mais próximos até os
mais distantes, como grandes acontecimentos históricos, por exemplo.
Bronfenbrenner e Morris (1998) ressaltam que as mudanças que ocorrem ao longo do
tempo, nas quatro propriedades do modelo bioecológico, são produtos e também
produtores da mudança histórica.
A abordagem ecológica do desenvolvimento humano proposta por
Bronfenbrenner (1996) é útil ao permitir que o desenvolvimento possa ser entendido
de maneira contextualizada e contemplando a interacção dinâmica das quatro
dimensões descritas. Ao fazer isso, são evitados os equívocos frequentemente
cometidos de entender o desenvolvimento de uma população, principalmente no caso
de populações em risco, a partir dos critérios de estudos realizados com grupos de
contextos diferentes (Huston, McLoyd & Coll, 1994; Jessor, 1993).

3 – Factores de risco e protecção em cada um dos sistemas


Resiliência, factores de protecção e factores de risco
Resiliência é um conceito originário da física, ciência na qual este construtor é
definido como a capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação
plástica. Em psicologia este conceito está superado, pois uma pessoa não pode
absorver um evento stressante e voltar à forma anterior. Ela aprende, cresce,
desenvolve e amadurece. Os estudos sobre o tema datam de menos de trinta anos
(Paula Couto, Poletto, Paludo & Koller, 2006) e as definições não são tão precisas, mas
em geral salientam os processos de enfrentamento e de superação de crises e
adversidades (Yunes & Szymanski, 2001). Inicialmente, as pesquisas utilizavam
equivocadamente o conceito de invulnerabilidade para definir resiliência (Werner &
Smith, 1989, 1992). No entanto, resiliência não denota resistência absoluta a qualquer

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adversidade; pelo contrário, pode implicar enfrentamento (Anthony & Cohler, 1987;
Masten & Garmezy, 1985).
Resiliência é um conceito multifacetado, contextual e dinâmico (Masten, 2001),
no qual os factores de protecção têm a função de interagir com os eventos de vida e
accionar processos que possibilitem incrementar a adaptação e a saúde emocional.
Rutter (1999) pondera que resiliência não é uma característica ou traço individual, mas
processos psicológicos que devem ser cuidadosamente examinados. Resiliência não é
uma característica fixa, ou um produto; pode ser desencadeada e desaparecer em
determinados momentos da vida, bem como estar presente em algumas áreas e
ausente em outras. Neste sentido, a resiliência é entendida, portanto, não somente
como uma característica da pessoa, como uma capacidade inata, herdada por alguns
"privilegiados", mas a partir da interacção dinâmica existente entre as características
individuais e a complexidade do contexto ecológico (Cecconello, 2003); P.A. Cowan,
C.P. Cowan & Schulz, 1996; Junqueira & Deslandes, 2003; Seligman & Csikszentmihalyi,
2000; Yunes, 2003; Yunes & Szymansky, 2001). Luthar (1993) propôs domínios
específicos de coping que delimitariam tipos de resiliência: social, emocional e
académica (Rutter, 1993; Zimmerman & Arunkumar, 1994). No entanto, os processos
de resiliência requerem compreensão dinâmica e inter accional dos factores de risco e
de protecção.
O foco tradicionalmente usado pela psicologia, que relaciona os factores de
risco com o que vai "mal" na vida das pessoas, faz com que muitos profissionais,
sobretudo aqueles que trabalham com populações em situação de risco pessoal e
social, enfatizem o que Junqueira e Deslandes (2003) chamam de determinismo social
e "fatalismo". Esses autores destacam a necessidade de que essas populações possam
ser vistas não simplesmente como vítimas de um sistema social injusto; ao invés disso,
reforçam a atitude de resgatar e fortalecer (empowerment - empoderamento) as
dimensões sadias dessa pessoa, as quais possibilitam luta e superação das situações de
risco. Ultrapassam, assim, o determinismo social, o preconceito e os estereótipos
macros sistémicos, marcados por um discurso que ressalta e super valoriza deficiências

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e prejuízos, e que está pouco atento às estratégias utilizadas para superar as


adversidades enfrentadas.
Actualmente, a resiliência tem sido reconhecida como um processo comum e
presente no desenvolvimento de qualquer ser humano (Masten, 2001), e alguns
estudiosos têm enfatizado a necessidade de cautela no uso "naturalizado" do termo
(Martineau, 1999; Yunes, 2001, 2003). Por isso, faz-se necessária uma análise
ecológica, a fim de investigar a maneira como as pessoas percebem e enfrentam as
adversidades decorrentes dos processos proximais, bem como a influência do contexto
e do tempo em que estão vivendo (Cecconello, 2003).
Factores de risco relacionam-se com eventos negativos de vida e, quando
presentes, aumentam a probabilidade de a pessoa apresentar problemas físicos,
sociais ou emocionais (P.A. Cowan et al., 1996). Diversos autores têm trabalhado com
experiências stressantes no desenvolvimento infantil, tais como: divórcio dos pais
(Emery & Forehand, 1996), abuso sexual/físico contra a criança (Habigzang, Koller,
Azevedo & Xavier, 2005; Lisboa et al., 2002), pobreza e empobrecimento (Cecconello,
2003; Luthar, 1999), desastres e catástrofes naturais (Coêlho, Adair & Mocellin, 2004;
Yule, 1994), guerras e outras formas de trauma (Garmezy & Rutter, 1983).
Tradicionalmente, esses stressantes eram concebidos de maneira estática, ou seja, na
presença de qualquer um deles já eram previstas consequências indesejáveis.
Tomando o exemplo da desvantagem socioeconómica, embora sabido que
pobreza, conflito familiar e abuso são prejudiciais, a evidência de que estes factores se
constituirão em risco ou não dependerá do comportamento e dos mecanismos por
meio dos quais os processos de risco operarão seus efeitos negativos na criança (P.A.
Cowan et al., 1996). Além disso, de acordo com Koller e De Antoni (2004), a relação
das pessoas com eventos stressantes passa por distintos graus de ocorrência,
intensidade, frequência, duração e severidade. Nesse sentido, o impacto dos eventos
stressantes é ainda determinado pela forma como eles são percebidos. Por exemplo, a
maneira como uma criança que foi violentada fisicamente lidará com esta situação
dependerá do contexto no qual essa violência aconteceu, quais são os ambientes que

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ela frequenta, sua rede de apoio, seu momento no desenvolvimento, suas


experiências, seus processos psicológicos e características individuais.
A identificação de factores de risco que acentuam ou inibem distúrbios,
transtornos e respostas desadaptadas, no entanto, deve ser realizada em consonância
com factores de protecção (buffers), que podem desencadear processos de resiliência.
Segundo Rutter (1985), "factores de protecção referem-se a influências que
modificam, melhoram ou alteram respostas pessoais a determinados riscos de
desadaptação" (p. 600). A característica essencial desses factores é a modificação
catalítica da resposta da pessoa à situação de risco (Rutter, 1987). Esses factores
podem não apresentar efeito na ausência de um stress, pois seu papel é o de modificar
a resposta em situações adversas, mais do que favorecer directamente o
desenvolvimento. Rutter (1987) adverte os pesquisadores para não equipararem
factores de protecção com condições de baixo risco. Protecção não é uma "química de
momento", mas o modo como a pessoa lida com as transições e mudanças de sua vida,
o sentido que ela dá às suas experiências, seu sentimento de bem-estar, auto-eficácia
e esperança, e a maneira como ela actua diante de circunstâncias adversas (Rutter,
1985, 1987, 1993). Também factores de protecção devem ser abordados como
processos, nos quais diferentes fatos interagem entre si e alteram a trajectória da
pessoa, produzindo uma experiência de cuidado, fortalecimento ou anteparo ao risco.
Definir efectivamente o que é ou não risco e protecção parece complicado, pois as
interacções e combinações de seus efeitos necessitam de uma cuidadosa análise
contextualizada (Yunes, 2001). Ou seja, uma análise ecológica do evento, dos
processos, do momento histórico e da pessoa é indispensável. Risco e protecção, assim
como o processo de resiliência, não são necessariamente entidades estáticas: podem
ser elásticas e mutáveis por natureza (Hawley & DeHann, 1996), entretanto integram o
ecossistema da pessoa em processo de resiliência.
Alguns factores de protecção são fundamentais ao desenvolvimento, segundo
Masten e Garmezy (1985): a) atributos disposicionais das pessoas, tais como
autonomia, auto-estima, bem-estar subjectivo e orientação social positiva, além de

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competência emocional, representação mental de afecto positivo e inteligência


(Cecconello, 2003); b) rede de apoio social, com recursos individuais e institucionais,
que encoraje e reforce a pessoa a lidar com as circunstâncias da vida; e c) coesão
familiar, ausência de negligência e possibilidade de administrar conflitos, com a
presença de pelo menos um adulto com grande interesse pela criança, e presença de
laços afectivos no sistema familiar e/ou em outros contextos que ofereçam suporte
emocional em momentos de stress [ao que Morais e Koller (2004) chamam de coesão
ecológica].
Poletto e Koller (2002) mencionam que a rede de apoio social e afectiva
apresenta estrutura e funcionamento projectivos. Em concordância com essa ideia, De
Antoni e Koller (2001) apontam a importância da flexibilidade dos sistemas ecológicos
para garantir a protecção; este suporte social pode ser a escola, o trabalho, os serviços
de saúde, entre outros.
A coesão ecológica é um conceito semelhante e equivalente à coesão familiar.
No entanto, este termo é utilizado quando a criança ou o adolescente vive em
contextos como a instituição de atendimento (o abrigo) e a rua. Apesar de serem
ambientes definidos a priori como de risco, também possuem, muitas vezes,
organização e estrutura que favorecem o desenvolvimento humano. O espaço da rua
não é o ambiente mais seguro e saudável para o desenvolvimento de uma criança, mas
esse ambiente também pode ter coesão ecológica quando as crianças buscam abrigos
para dormir, compartilham o alimento que conseguem, formam laços afectivos e
sabem onde buscar auxílio quando uma delas está doente, por exemplo. A coesão
ecológica caracteriza-se pela ausência de negligência, pela administração de conflitos,
pela presença de pelo menos um adulto com interesse pela criança e de laços afectivos
que forneçam suporte em momentos adversos e de stress. Uma criança
institucionalizada, a priori, é considerada uma criança em situação de risco, mas esta
ideia é macros sistémica e não tem encontrado eco na realidade, pois diversos estudos
têm demonstrado vivências positivas e saudáveis em abrigos (Dell'Aglio, 2000; Freire,
Koller, Piason & Silva, 2005; Morais, Leitão, Koller & Campos, 2004).

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Para Bronfenbrenner (1996, 2004), além da família, algumas instituições podem


servir como ambientes acolhedores para o desenvolvimento humano, como a escola e
os abrigos, a partir dos primeiros anos de vida da criança. Entretanto, o autor ressalta
que existem poucas informações sobre o complexo de actividades, papéis e relações
que caracterizam ambientes institucionais e os diferenciam ou aproximam do contexto
de desenvolvimento comum de uma família.
Para algumas crianças, a institucionalização pode constituir uma situação de
protecção e de oportunidade de fugir de dificuldades encontradas na família. Clarke e
Clarke (apud Bronfenbrenner, 1996) assinalam que o meio ambiente físico e social, em
certas famílias, é tão empobrecido e caótico, que colocar a criança em uma instituição
propícia a promoção da saúde e o crescimento psicológico. Fonseca (1995)
demonstrou que, muitas vezes, o internamento em uma instituição torna-se uma
estratégia para resolver problemas familiares. Também Santos e Bastos (2002)
assinalam que a instituição, enquanto novo contexto de desenvolvimento, pode
oferecer recursos aos adolescentes para a construção de respostas socialmente válidas
para lidar com as adversidades. No estudo de Dell'Aglio (2000) com crianças e
adolescentes institucionalizados, mais da metade dos participantes consideraram a
institucionalização um evento positivo em suas vidas. Para estas crianças, o fato de
estarem abrigadas lhes possibilitava uma melhor acomodação, com refeições
regulares, cama própria e acompanhamento escolar, que dificilmente teriam se
estivessem com suas famílias
Contextos disponíveis e nos quais há experiências constituem redes. Uma rede
social é definida como um sistema de inteiração sequencial e considerada uma
estrutura na qual cada membro, de alguma maneira, interage com os outros
(Bronfenbrenner, 1996). As redes sociais mais comuns e extensivas são aquelas que
perpassam os ambientes e, portanto, constituem elementos do mesossistema ou
exossistema da pessoa. Segundo Brito e Koller (1999), a rede de apoio social e afectiva
é formada por sistemas e pessoas significativas com as quais a criança, de acordo com
a sua experiência e percepção, mantém relações de reciprocidade, afecto, estabilidade

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e equilíbrio de poder. As redes sociais, por facilitarem o estabelecimento de novos


vínculos, desempenham funções importantes no desenvolvimento, criando um canal
indirecto para comunicação e servindo para transmissão de informações. Dessa forma,
a rede social proporciona à pessoa um efeito de desenvolvimento positivo, na medida
em que possibilita a transição ecológica e a participação em múltiplos ambientes, com
características culturais diversas.
As transições ecológicas ocorrem durante todo o ciclo vital e são características
da rede de apoio social e afectiva da pessoa. De acordo com Bronfenbrenner (1996),
quando uma criança sai de um microssistema conhecido, como a família, para
participar de um novo contexto, como a escola, há um fenómeno de movimento no
espaço ecológico. A transição ecológica acciona o funcionamento de uma rede que
existe estruturalmente e passa a ter significado no desenvolvimento. Será, então, por
meio das transições da criança por vários microssistemas, que ela absorverá o
conhecimento e legitimará sua participação nesses diversos ambientes (a família -
nuclear e extensa -, a escolinha, a vizinhança etc.), experimentando e consolidando
diferentes relações e exercitando papéis específicos e/ou variados dentro de cada
contexto. Tal mobilidade promove seu desenvolvimento, à medida que a criança se
sente apoiada, estabelece relações significativas e dá sentido às experiências.
Segundo Bronfenbrenner (1996), a rede pode ser uma entidade real, que
abrange aqueles que convivem com a criança ou que são seus conhecidos, ou também
uma entidade fenomenológica. Uma rede pode também ser composta por pessoas que
já morreram, que nunca existiram ou que nunca foram vistas, mas que são percebidas
como participantes e que oferecem, de alguma forma, apoio social e afectivo. O
desenvolvimento da pessoa baseia-se na história de suas experiências, no seu
momento actual e no das pessoas às quais ela se vincula. Portanto, é importante
considerar que o apoio social não pode ser medido apenas em termos de tamanho ou
densidade da rede social, pois esta é uma dimensão apenas estrutural. É fundamental
atentar para o funcionamento da rede que representaria a dimensão de apoio que a
pessoa realmente possui, porque assim o percebe. Além disso, de acordo com Brito e

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Koller (1999), a significação que a pessoa atribui à rede de apoio pode ser mais
importante que a rede em si. As pessoas diferem na forma de perceber ou utilizar o
apoio social disponível, dependendo de suas características, experiências e contextos.
Por exemplo, uma criança pode perceber a escola como um ambiente hostil porque é
tímida e não percebe o contexto como acolhedor; no entanto, outra pode sentir-se
bem, pois é estimulada a participar das actividades oferecidas e tem a possibilidade de
trocar experiências com outras crianças.
Independentemente dos microssistemas nos quais as pessoas estejam ou vivam
(família, instituição ou escola), o seu desenvolvimento psicológico saudável depende,
conforme Bronfenbrenner (1996), principalmente da existência de interacções. No
entanto, tais interacções precisam ser marcadas por sentimentos afectivos positivos,
reciprocidade e equilíbrio de poder. Relações negligentes ou abusivas, baseadas em
estereótipos e/ou concepções idealizadas, podem ser encontradas em práticas
educativas na família, na instituição ou na escola. A privação relacional não é exclusiva
deste ou daquele contexto ecológico. Segundo Bronfenbrenner (1991), a privação
social pode estar presente em diferentes espaços ecológicos e constituir-se na falta de
iterracções com outras pessoas.
Diante disso, seja qual for o contexto (família, instituição ou escola), este pode
se configurar como risco ou protecção. No entanto, isto dependerá da qualidade das
relações e da presença de afectividade e reciprocidade que tais ambientes
propiciarem. Quando houver conexões positivas, como algumas descritas ao longo
deste artigo, entre os contextos e/ou dentro deles, certamente haverá a possibilidade
de se accionarem processos de resiliência que favoreçam a melhoria da qualidade de
vida, da saúde e a adaptação das pessoas e da sociedade.

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III Conceitos fundamentais nos processos de construção do espaço de vivência


(arquitectura) e de ordenamento do território
1 As necessidades do Homem no seu habitat (habitação, trabalho, convívio,
deslocação, etc)
O habitat é a produção de um espaço vivido, dotado de um sentido de que
somos capazes de desenvolver nossas potencialidades, de estar bem connosco e com o
mundo que nos cerca. Numa concepção mais ampla, denominamos de lar, onde
abrigamos nossos costumes, desejos e ideais, como a nossa casa, o nosso bairro ou
mesmo a cidade em que vivemos, enfim, a apropriação de um lugar determinado por
nós.
Habitamos um espaço de diversas formas, conforme a situação e a disposição
em que nos confrontamos, de acordo com o nosso modo de ser, de ver ou mesmo de
estar. Por exemplo, em uma simples caminhada, onde o indivíduo repensa o seu
mundo, vive o seu presente, lembra-se do seu passado e projecta-se no futuro, aí
também nasce o espaço vivido, do habitat. Encontra o sonho, a desilusão, a linguagem,
o toque, o cheiro, onde se produz cultura e acontece a vida. Ele tem na vida
quotidiana, no trabalho, no lazer, na moradia, a definição de uma configuração dos
espaços, mesclados entre si, mas não necessariamente formalizados. Por isso, a
habitação, que não se resume apenas à moradia, constitui-se no lugar de nossas
certezas, através dos usos, estímulos, espaços e objectos que escolhemos, ou não, ter
ao nosso redor.
Não habitamos todos os lugares, mas somente àqueles aos quais nos
entregamos e nos sentimos completos; que reúnem a complexidade sapiens-demens1.
O habitar não decorre simplesmente do conforto funcional dado pela habitação em si,
mas também por acolher as dimensões do simbólico, traduzindo as dimensões do lar

1
Edgar Morin compreende o ser humano constituído pela razão – Homo sapiens e indissoluvelmente emoção/loucura - Homo
demens, quanto Homo faber, ao mesmo tempo Homo ludens, que Homo economicus é, ao mesmo tempo Homo mytologicus, que
Homo prosaicus e´, ao mesmo tempo, Homo poeticus. (MORIN, 2005 a: 42)

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como instrumento e reflexo do próprio conhecimento, formalizado através da


capacidade de contextualizar, englobar e apropriar-se.
Construir um mundo habitável e habitá-lo com consciência e conhecimento é o
sentido de toda a actividade do ser humano, de modo a compensar a condição
precária e frágil da existência e a fugacidade da vida.
Percepção da realidade urbana
A espécie humana constrói abrigos individuais ou colectivos, reúne-se
constituindo verdadeiros sistemas integrados que se diferem internamente em função
de factores económicos, sociais, culturais, políticos e mesmo naturais.
Nos centros urbanos, com seus emaranhados prédios, sistemas viários, praças e
as mais diversas relações entre os sujeitos, coexistem com relativa facilidade com
outras formas de ocupações e actividades. O ser humano entendido como triunidade
indivíduo/sujeito-cultura/sociedadeespécie/natureza, compõe a base da complexidade
humana, constituindo necessariamente uma relação dialógica entre as três unidades,
de impossível dissociação. Nesta óptica, existem, portanto, actos a serem (re)
conhecidos e (re) valorizados para a formulação de um futuro possível, no
planeamento ou análise do contexto urbano, apoiado efectivamente na ideia da união
dos saberes de uma cultura humanística e de uma cultura científica.
As cidades são sistemas constituídos de partes interdependentes entre si, que
interagem e transformam-se mutuamente. Desse modo, o sistema urbano não é
definível pela soma de suas partes, mas por propriedades inerentes as suas partes que
favorecem a emergência, no conjunto, de qualidades antes desconhecidas.
Em outras palavras, observamos que o estudo em separado de cada parte da
cidade não nos levará ao entendimento do todo. Nesta perspectiva, o todo é mais do
que a soma das partes. Por outro lado, o todo é também menos que a soma das
partes, uma vez que tais propriedades emergentes podem também inibir
determinadas qualidades das partes.
Exemplifica-se a relação entre partes e todo, identificando o perímetro central
de uma cidade, independentemente de seu porte, contornado por seus bairros, zonas

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e periferias, no qual possuem sectores distintos em suas ocupações e usos, dentro do


planeamento urbano, apresentando certa autonomia, e ao mesmo tempo,
dependência de outras regiões da cidade e/ou até mesmo do contexto todo e
submetidos às directrizes vigentes da cidade. Portanto, o contexto urbano,
independente do porte da cidade, apresenta condições antagónicas e complementares
ao mesmo tempo. Neste aspecto, as perspectivas das experiências dos distintos
sujeitos podem cooperar com projectos urbanísticos inovadores, inserindo elementos
coadjuvantes da cultura e experiência social do urbano, contribuindo no planeamento,
formação e desenvolvimento das cidades.
Para satisfazer as necessidades e demandas o homem, como sujeito actuante,
transforma a natureza, desequilibra ecossistemas, modifica o uso e a ocupação do
solo, deixando marcas no habitat por extrair da natureza materiais, alimentos, água,
ar, energia e outros bens e serviços para seu uso e consumo, provocando impactos
ambientais, em vista do seu bem-estar que está, essencialmente, relacionado a
padrões que dependem de produtos industrializados, significando a extracção de
recursos naturais renováveis e não-renováveis, envolvendo perdas e gerando as
diferentes formas de poluição.
Neste aspecto, é imprescindível garantir a sustentabilidade e qualidade de vida
do ser humano, adoptando métodos eficientes e eficazes de produção e controle de
energia, uso da água e do solo; que gerem menor impacto à qualidade ambiental. Com
isso, a acção humana responsável e prudente (ética), baseada em conhecimento e
sabedoria, pode reduzir os riscos que prejudiquem o ser humano e o meio ambiente
natural.
Historicamente, a configuração do ambiente urbano cultural por especialistas,
instituiu-se, ao longo do século XIX, abonando, teoricamente, padrões de eficiência e
salubridade física e moral. Entretanto, hoje, a realidade urbana apresenta-se alterada,
no que tange à qualidade de vida dos seres humanos e no que diz respeito à
apropriação e ao uso dos espaços urbanos formalizados.

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Por outro lado, importa perceber que, nas cidades, a crise habitacional torna-se
evidente pela falta ou “precariedade” de moradias, resultado de políticas
governamentais incapazes de atender às demandas pela qualidade de vida.
Nota-se que apesar do avanço tecnológico e da rapidez de informações não há
correspondência com as melhorias de políticas sociais efectivas. Constata-se isto
percebendo o aglomerado de pessoas morando em favelas, sem condições dignas de
habitabilidade, como consequência do aumento da pobreza podendo favorecer os
elevados índices de violência nessas populações.
O cenário urbano actual das principais cidades mostra o desequilíbrio
provocado pelas áreas edificadas sobre o meio ambiente e sobre o comportamento
humano, visto que os ambientes construídos nas cidades constituem o habitat de
parcela crescente da humanidade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,
onde o mundo experimenta um processo de intensa urbanização.
A actual situação mundial apresenta cenários críticos de concentração urbana e
condições de vida extremamente precárias, predatórias e até mesmo sub humanas.
Em virtude dessa realidade, prima-se pelo desenvolvimento sustentável, que
pressupõe práticas de crescimento que atendam às necessidades presentes sem
comprometer as condições de sustentabilidade das gerações futuras.
A compreensão do urbano não se dá apenas pela descrição de seus problemas,
mas, sobretudo, pelo conhecimento e vínculos entre vida urbana e a formação social, o
espaço e o ambiente, os signos e seus significados, as ideias e as linguagens, o real e o
abstracto, onde a cultura permite a reflexão para uma sociedade mais justa,
integradora, solidária e igualitária.
A vida na Terra depende de uma mudança de paradigmas, dos valores éticos e
estéticos; da condição da existência humana em todas as sociedades existentes.
Grande parte dos ambientes urbanos construídos pelo homem parece negar
toda relação com a natureza, ao mesmo tempo em que ignora a realidade
contemporânea dos recursos limitados.

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Em resposta aos sérios problemas urbanos, surgem variadas concepções para


construir e habitar, baseadas em princípios que tendem a minimizar a degradação
ambiental a partir de um desenvolvimento tecnológico controlado, almejando a
sustentabilidade da vida, conciliando o homem ao meio ambiente.
O princípio do movimento por moradias sustentáveis prioriza a conservação
dos recursos naturais e a recolecção entre as pessoas e a natureza acima do
isolamento privilegiado e do lucro privado da propriedade capitalista.
Percebe-se na arquitectura a adopção de novas maneiras na elaboração dos
projectos e execução das edificações, em propostas arquitectónicas que despertam
uma consciência eco social valorizando as questões ambientais, como no caso dos
“edifícios verdes” ou “edifícios sustentáveis”.
Nos edifícios sustentáveis, a consciência ético-social é obtida através da
combinação do engenho e da eficiência do projecto de alta tecnologia com materiais
de construção naturais como: palha, pedra e barro ou argila, utilizando também,
energia solar e eólica. Nesse movimento, tratam-se os projectos urbanísticos com
áreas livres de automóveis, ruas de trânsito lento e praças espaçosas que envolvem as
pessoas numa revitalizada vida social comum. Incorporam a necessidade de integração
do projecto arquitectónico com o seu entorno, minimizando o impacto da construção
no meio ambiente. Esses conceitos podem ser aplicados a qualquer tipo de edificação,
seja residencial, comercial, industrial ou institucional.

2 – A dimensão física do espaço de vivência, considerando as componentes de


estar e deslocar
Há 30 anos as pessoas fugiam das aldeias para as cidades em busca de
melhores empregos. E estas começaram a crescer desordenadamente e a sufocar a
população. Neste momento há quase mais casas do que pessoas e tem as suas
vantagens e desvantagens.

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Os portugueses começam a perceber as vantagens de se trocar a cidade pela


aldeia. Gente que não quer viver na cidade porque há "sinais de desqualificação do
espaço " ou seja têm vindo a ser alvo de uma construção desenfreada.
O tempo que falta
A falta de espaço na agenda para se ir a um médico, o tempo que falta para
estar com os filhos, a vida familiar que encolhe, o trânsito, os nervos, e a qualidade de
vida que vai diminuindo dão origem a grandes crises de stress. A mobilidade nas
cidades hoje em dia é mais acessível, já existem autocarros, metros e comboios a todas
as horas o que facilita a vida das pessoas na sua mobilidade.
Os principais serviços sociais encontram – se todos na cidade, tribunal, câmara,
correios, bancos etc. Já nas aldeias as deslocações são mais complicadas se não houver
transporte particular, os meios de transporte não passam a qualquer hora e em alguns
lugares nem chegam a passar o que faz com que a população que vive nas aldeias fique
mais isolada das cidades e dos serviços que estas facultam.
Procurando o bem-estar
Mesmo aqueles que não podem abandonar a cidade de vez, porque lá
trabalham, podem - caso optem por viver numa aldeia - usufruir de uma "paz que
chega pela ausência de barulho e de poluição". "Obviamente, também há os que
continuam a viver nas cidades e têm uma casa no campo para fins-de-semana.
Novos rurais
Algumas das pessoas que migram para zonas rurais não vão só à procura da paz
e tranquilidade, tendo mesmo necessidade de acabar com o anonimato e a
impessoalidade sentidas nas cidades. São pessoas que sentem o apelo da natureza e
que pretendem interagir com os locais - aqueles que sempre viveram na cidade por
falta de opção. Apenas o espaço, uma parte destes migrantes opta pela aldeia pela
qualidade de espaço. De qualquer forma, criam nas aldeias para onde vão habitar o
seu próprio espaço, mantendo um clima de impessoalidade.

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3 - Relação da organização e da Construção do Espaço Urbano, entre o estar e


o deslocar, com a satisfação das necessidades do Homem
Esta relação consiste na forma como é construída uma cidade e a satisfação do
homem. As cidades são construídas de forma organizada, de modo a rentabilizar ao
máximo o espaço. Trata-se de um aglomerado de blocos de prédios, que de certa
maneira parece um caixote de apartamentos uma vez que não existem espaços verdes
entre os edifícios. Um centro urbano só tem prédios, não existem vivendas nesses
centros.
Apesar de se querer rentabilizar o espaço e o tempo, também existe a
preocupação de satisfazer as necessidades do Homem, num só prédio podemos
encontrar, por exemplo, conservatória; registo civil; finanças, entre outros. Num outro
encontramos um shopping onde temos variado tipos de lojas sem que haja
necessidade de termos de caminhar muito e procurar em muitos lados os produtos
que estão juntos no mesmo espaço. Desta forma consegue-se em apenas algumas
horas tratar de diversos assuntos.
Também as pessoas da aldeia têm a vida um pouco mais facilitada: com este
tipo de construção vieram novos meios de transporte (e mais rápidos) que lhes facilita
a deslocação. A Construção Organizada tem a vantagem de ser feita para que quem
nelas vive tenha acesso aos mais variados novos tipos de tecnologia.
Mas nem tudo são rosas: também existem espinhos. Os espaços verdes estão a
desaparecer cada vez mais rapidamente e a poluição é cada vez maior, prejudicando a
saúde não só de quem nelas habita como quem habita nos arredores das cidades.

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IV – Princípios físicos na organização e gestão do espaço habitável


1 – Fluxos materiais e energéticos no interior dos espaços urbanos e entre
estes e os espaços adjacentes
Fluxos materiais e energéticos no interior dos espaços urbanos e entre estes e
os espaços adjacentes. Em relação á energia eléctrica, ela vem de fora do espaço
urbano, assim como a água, os combustíveis e toda a alimentação, originando uma
circulação de fluxos materiais e energéticos entre o exterior e o interior dos espaços
urbanos. Dentro do espaço urbano sai mão-de-obra para o trabalho e
fundamentalmente resíduos sólidos e líquidos. Os resíduos sólidos vão para aterros
sanitários, outros para reciclagem e os resíduos líquidos vão para centros de
tratamento de águas residuais.
Os fluxos energéticos naturais, são a energia do sol, do vento, da água e dos
nutrientes que constituem a matéria biológica. No contexto do desenho urbano
sustentável falamos da circulação de fluxos de matéria, energia e informação, num
planeamento integrado que inclui edificações, paisagens e infra-estruturas. Isso não se
refere apenas ao desenvolvimento de novos projectos, mas também à conservação de
espaços públicos, assim como áreas habitacionais, que se devem tornar mais
sustentáveis, o que é um grande desafio, já que a maior parte do planeamento
sustentável futuro será dirigido para cidades já construídas.
Uma proposta de infra-estruturas ecológicas, numa cidade sustentável, irá
captar os fluxos energéticos, criando ciclos produtivos no sistema, até neutralizar os
efeitos nocivos. Ao pensar nas cidades enquanto ecossistemas, nós minimizamos o uso
de recursos naturais, a produção de desperdícios e a emissão de poluentes, realçando
a biodiversidade. Esta atitude leva em consideração que a base física para a
diversidade da natureza, não deve e não pode, ser deteriorada.

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2 – Medição, análise e interpretação dos fluxos materiais e energéticos do lar,


associando as variáveis determinantes para a gestão eficiente daqueles
(instrumentos utilizados, construção do espaço, orientação solar, comportamentos
de utilização de energia, etc)
1 Edificado e energia
Os edifícios, constituem hoje, um dos maiores consumos energéticos de uma
cidade, sendo por isso, os grandes responsáveis pela emissão de poluentes. O homem
urbano, passa cerca de 80% da sua vida no interior dos edifícios, onde desenvolve a
maior parte das suas actividades, recorrendo ás mais variadas fontes de energia para
satisfazer as suas necessidades.
Se é inevitável que tenhamos de continuar a construir, será então necessários
que o façamos de uma forma consciente, minimizando o seu impacto no ambiente.
Seja pela informação/consciencialização, ou por imposição normativa impõe-se a
necessidade de mudança.
1.1 Materiais de construção
A selecção dos materiais de construção é fundamental para o desempenho de
um edifício. Os materiais que o constituem deveriam ser escolhidos de forma a estar
de acordo com as seguintes propriedades:
§ Baixa energia incorporada
§ Serem provenientes de fontes renováveis
§ Necessitarem de pouca ou nenhuma manutenção
§ Terem a maior duração possível e a capacidade de serem reutilizados ou
reciclados no fim da sua vida útil
1.2 Materiais resultantes de demolição
É extremamente importante regular os detritos resultantes de demolições e
recuperações, promovendo sempre que possível a sua separação, reutilização ou
reciclagem. Actualmente ainda são feitas muitas demolições em que tudo o que é
retirado é misturado, tornado impossível qualquer tipo de aproveitamento. Deveriam
ser criadas regras para a correcta separação e deposição destes resíduos.

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1.3 Energias renováveis


A utilização de energias renováveis, é também um dos princípios que
defendemos. Somos um dos países da Europa com mais disponibilidade solar durante
todo o ano, nesse sentido deveriam ser tomadas medidas que obrigassem á instalação
de painéis solares térmicos, para aquecimento de águas sanitárias. Os custos de
instalação diluem-se completamente nos custos de construção (e tem vantagens
fiscais), e o período de amortização é neste momento suficientemente baixo para que
possa ser implementado em larga escala. Na vizinha Espanha já algumas Câmaras
Municipais adoptaram esta postura, com grandes benefícios, para o país.
1.3.1 Painéis solares térmicos
Com vista a cumprir as metas estabelecidas no protocolo de Kioto em relação
às emissões de poluentes para a atmosfera, foi recentemente lançada a campanha
“Água quente solar para Portugal”. Esta campanha destina-se a incentivar o uso de
painéis solares activos, que são uma das formas mais económicas de aproveitamento
da energia solar.
Este programa reveste-se da maior importância para o nosso país, em primeiro
lugar por permitir a redução da nossa dependência externa de energia, por outro lado
promove a qualidade de vida, permitindo uma redução de muitas toneladas de CO2 na
nossa atmosfera. Para o utilizador final é também vantajoso porque lhe permite
reduzir os custos associados ao aquecimento de águas sanitárias, que corresponde, a
uma fatia considerável nos custos energéticos de um edifício. Portugal é um país
privilegiado em relação á disponibilidade de radiação solar, e no entanto a taxa de
penetração deste tipo de energias renováveis é bastante baixa quando comparada
com outros países com disponibilidades solares muito inferiores.
1.3.2 Energia eólica
As eólicas são uma fonte de energia pouco viável nas zonas urbanas, uma vez
que a turbulência e a baixa intensidade do vento provocada pela presença dos
edifícios, diminui consideravelmente o rendimento. No entanto, existem alguns

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modelos experimentais que poderiam ser utilizados em determinadas situações, ainda


que por uma questão educacional ou demonstrativa.
1.4 Climatização e ventilação
Calcula-se que - a cada 8 dias recebemos do Sol a energia equivalente a todas
as reservas de energias fosseis presentes no nosso planeta -, factos como este,
obrigam a que técnicos ligados ao sector da construção passem a ter uma nova
consciência do impacto que provocam com pequenas opções de projecto. Reduzir os
consumos em vez de procurar novas fontes de energia deveria ser uma prioridade
nacional. É flagrante a quantidade de energia desperdiçada nos edifícios com a sua
climatização, muitas vezes por opções projectuais pouco reflectidas.
1.4.1 – Exposição solar
Em climas mediterrâneos como o nosso, em que temos uma grande
disponibilidade de radiação solar, é importante incorporar sistemas que tiram partido
dessa enorme fonte de energia que é o sol. A forma mais básica de aproveitar a
energia solar é a implantação do edifício, se este aspecto for cuidado na fase
projectual é possível prever a radiação que ira incidir em cada uma das fachadas,
podendo dessa forma localizar as divisões da casa cujas necessidades térmicas se
adeqúem.
Dessa forma é também possível prever a frequência e dimensão dos vãos, e
formas de os proteger através da plantação de árvores de folha caduca, construção de
palas de ensombramento, ou estores exteriores.
1.4.2 – Inércia térmica e isolamento térmico
Melhorar as condições de isolamento térmico dos edifícios, adoptando
coeficientes de transmissão, mais baixos, permitirá reduzir milhões de toneladas de
emissões poluentes, todos os anos. A utilização de isolamento térmico evita perdas
para o exterior. Aquecer uma casa sem isolamento térmico assemelha-se a encher de
água um balde furado.
A inércia térmica tem a ver com a capacidade dos materiais de que a casa é
composta poderem absorver a temperatura ideal. É um conceito que aposta

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simplesmente na utilização de materiais com uma grande densidade, que utilizados em


simultâneo com técnicas solares passivas, permitem um grande conforto interior sem
recurso a sistemas artificiais.
1.4.3 – Qualidade do ar interior
A permanência a que estamos votados no interior dos edifícios (principalmente
no sector dos serviços) por períodos, nunca inferiores a 7 horas diárias, faz com que se
inalem grandes quantidades de substâncias nocivas, químicas e biológicas, com as mais
variadas origens. Essas substâncias são responsáveis por alergias e doenças com
diversos graus de gravidade, desde o simples desconforto, provocado por uma ligeira
irritação dos olhos ou das narinas, a perturbações mais graves, como a contaminação
pela bactéria: Legionella pneumophila, que pode ser mortal.
1.5 Iluminação
O desenho do edifício é fundamental para tirar partido da iluminação natural
existente no local e evitar-se ao máximo o recurso á energia eléctrica para iluminar.
2. Edificado e água
Promover a poupança de água, nos edifícios da cidade (incentivando e
informando os utentes), poderemos chegar a um uso mais racional desse recurso. A
título de exemplo, essa iniciativa poderia ser iniciada, implementando um plano
municipal de racionalização de consumos dentro dos edifícios e jardins propriedade do
Município da cidade do Porto.
“A falta de acesso à água provoca enormes dificuldades a mais de mil milhões
de membros da família humana”. São palavras de Kofi Annan, Secretário-Geral da
ONU. Se o actual consumo se mantiver, em 2025, duas em cada três pessoas irão ser
vítimas da falta de água11. É altura de pôr em prática medidas que permitam uma
gestão mais equilibrada destes recursos permitindo uma maior equidade na sua
distribuição.
Os próprios sistemas de rega de espaços verdes actualmente alimentados com
água da rede pública, deveriam ser remodelados de forma a poderem captar e utilizar
a água da chuva ou de cursos naturais.

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3. Edificado e realidade social


A comunidade urbana da cidade do porto, tem falta de espaços verdes de
proximidade. Estes espaços, além da função ecológica que representam, tem uma
componente social fundamental, porque permitem a socialização e o encontro de
pessoas, que, muitas vezes, apesar de vizinhas nunca se encontram. Consideramos
muito interessante que muitas vezes a simples existência de um pequeno espaço
(público) verde, torne possível o encontro de pessoas: quando passeiam o cão,
descansam, ou trocam conversas, sob a copa de uma árvore. A criação destes espaços,
deveria ser potenciada (de uma forma sustentável), incentivando pequenas
colectividades ou associações de bairro a tornarem-se responsáveis pela sua
manutenção; criando um sentimento de apropriação, e de participação cívica bastante
salutar.
Todas as formas de reinserção social, que promovam a sectorização da
população sujeita a programas de realojamento, deveriam ser evitada, encerrando o
conceito de bairro social periférico e segregador, encontrando novas formas de
alojamento subsidiado.
4. Edificado e Estrutura Urbana
Tornar uma cidade sustentável implica melhorar o seu funcionamento. Uma
estrutura urbana é um organismo vivo, que necessita constantemente de ser
observado e cuidado para conseguir crescer de uma forma saudável.
Quando uma cidade excede os seus limites, nem sempre significa progresso;
significa muitas vezes que se afasta dos problemas que não consegue resolver. A
cidade difusa (a que se expande para áreas periféricas) não é sustentável, obriga á
constante deslocação dos seus habitantes; implica uma ramificação interminável de
infra-estruturas; vai consumindo o espaço natural e necessita de um maior consumo
energético para se manter. Pelo contrário a cidade compacta, diminui as deslocações e
os gastos com transportes, os custos de manutenção e recursos humanos; diminui os
consumos de energia e água, beneficiando a poupança.

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A cidade do Porto, antes, uma cidade compacta, presencia hoje essa dicotomia,
e reflecte já as desvantagens do seu alargamento. Na impossibilidade de retrocesso,
podemos apenas esperar um futuro melhor; que implique a tomada de consciência
sobre “onde estamos”, e “para onde queremos ir”. São inúmeras as possibilidades de
melhorar o funcionamento de uma cidade; como a implementação de um sistema de
transportes integrado, introdução de novas formas de mobilidade, e a melhoria das
acessibilidades; no tema da habitação, há ainda muitas possibilidades de melhoria, (na
procura de tornar os espaços que habitamos, mais sustentáveis) tanto na
regulamentação das novas edificações como especialmente na reabilitação e ocupação
do edificado devoluto, que deveria ser uma prioridade. Dada a desertificação do
centro urbano da cidade do Porto e consequente degradação ambiental e social.
5. Edificado e espaços verdes
Na cidade do Porto, os espaços verdes foram progressivamente ocupados pelo
tecido urbano edificado, e pela importância desmedida que se confere á circulação e
estacionamento automóvel; restando algumas antigas quintas rurais, casas nobres
com grandes jardins privados (alguns já abertos ao público), os logradouros (no interior
dos quarteirões do início do século) e pequenas as franjas periféricas, “encravadas”
por questões jurídicas que afastaram a especulação imobiliária.
Torna-se por isso indispensável, a definição de uma estratégia global de
preservação e valorização dos espaços naturais essenciais ao equilíbrio ambiental da
cidade. Reduzir o “consumo” do solo disponível na cidade (incentivando a reabilitação
do parque habitacional devoluto) permitiria travar a expansão para áreas naturais,
diminuindo a área de solo impermeabilizado.
Seria interessante, se passássemos a entender, estes espaços não como pontos
e manchas verdes no mapa da cidade, mas como uma imensa rede unida por
“corredores verdes” (ruas arborizadas em que a circulação automóvel é condicionada
ao máximo, e permite uma fruição pedonal por excelência) formando um sistema
natural integrado; criando um plano de arborização que promove-se o aumento da
massa verde da cidade. A despoluição e desentubagem dos cursos de água,

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nomeadamente dos ribeiros que atravessam a cidade (sabendo serem numerosos e


extensos) e a requalificação das suas margens e zonas envolventes; revela-se de uma
importância extrema tanto para o seu reconhecimento pelo público em geral (dada a
sua importância histórica no desenvolvimento da cidade) como para contribuir para o
aumento dos espaços naturais qualificados na cidade. Nesses espaços deveria existir
também a preocupação de incluir espécies vegetais autóctones, que além de
permitirem uma maior biodiversidade, tem maior resistência às condições do clima
local e um consumo de água inferior.
Incentivar o aproveitamento dos espaços das coberturas, dos edifícios (na
construção nova) como espaço de jardim dos inquilinos, representando uma outra
forma de tornar a cidade mais “verde”.
6. Edificado e resíduos sólidos urbanos
Ainda dentro da perspectiva da sustentabilidade nos edifícios, deveria ser
incentivada a separação de lixos (apoiada por uma recolha selectiva). Numa situação
ideal, deveria ser criado nas cozinhas, um módulo (que fosse parte integrante e
obrigatória) com quatro recipientes de pequena dimensão integrados no mobiliário
que possibilitassem o armazenamento, e com fácil manutenção. Em edifícios com
gestão particular de condomínio, e dependendo da dimensão do edifício, poderia ser
criado um local onde todos os condóminos fizessem a deposição dos seus resíduos, já
separados facilitando a sua recolha.
A inclusão (no programa dos edifícios), locais destinados á separação de lixos
domésticos com vista á sua revalorização, deveria ser uma recomendação de
valorização importante na aprovação dos processos camarários.

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