Evolução da população: principais fatores que a influenciaram A evolução da população absoluta foi influenciada pelo crescimento natural e pelos movimentos migratórios. Na evolução da população residente, desde meados do século XX, destacam-se: · uma quebra demográfica de 1962 a 1973, período em que se conjugam valores negativos da taxa de crescimento migratório e uma ligeira redução da taxa de crescimento natural; · um aumento significativo da população na segunda metade da década de 70, devido ao acentuado aumento da taxa de crescimento migratório, com o retorno de grande número de portugueses das ex-colónias e a diminuição da emigração; · um acréscimo da população nas duas últimas décadas, motivado pelo crescimento da imigração, que elevou a taxa de crescimento migratório, compensando os baixos valores e a tendência decrescente da taxa de crescimento natural. Taxa de crescimento natural- natalidade-mortalidade Taxa de crescimento migratório- imigração-emigração Taxa de crescimento efetivo- TCN+TCM Crescimento natural: A redução da taxa de natalidade, iniciada já na primeira metade do século XX, acentuou-se a partir dos anos 60, sobretudo depois de 1975. A maior descida da taxa da mortalidade verificou-se durante a primeira metade do século XX. Consequentemente, a taxa de crescimento natural diminuiu ao longo de todo o século XX, tendência que se manteve na primeira década do século XXI, atingindo valores negativos a partir de 2007. Saldo migratório: Os movimentos migratórios, internos e externos, têm influenciado a evolução demográfica e social, contribuindo para as assimetrias regionais que caracterizam o território nacional. A emigração, que sempre caracterizou a demografia portuguesa, e o êxodo rural, mais intenso nos anos 60 e 70, ambos motivados sobretudo pela falta de recursos e de perspetivas de futuro, tiveram maior impacte nas regiões do interior, contribuindo decisivamente para a perda de população e para o envelhecimento demográfico. No litoral, a chegada de migrantes do êxodo rural atenuou os efeitos demográficos da emigração e, por seu lado, a imigração tem contribuído para o crescimento demográfico em Portugal, principalmente nas regiões do litoral, onde se fixa maior número de imigrantes. Crescimento efetivo: Considerando a tendência de redução do crescimento natural, o saldo migratório tem sido o principal componente do crescimento efetivo da população, desde o início dos anos 90, tanto ao nível nacional como regional. Estrutura etária da população A evolução demográfica, em Portugal, sobretudo no que se refere ao crescimento natural, refletiu-se na sua estrutura etária. De 1960 a 2010, ocorreu um processo de duplo envelhecimento da população portuguesa: · na base- diminuição da proporção de jovens, por efeito da redução da natalidade; · no topo- aumento da proporção de idosos, devido à redução da mortalidade e consequente prolongamento da esperança média da vida. Declínio da fecundidade: A redução da natalidade evidencia-se no declínio de outros indicadores: · indice sintético de fecundidade; · taxa de fecundidade. São vários os fatores que explicam a redução da natalidade e da fecundidade: · uso de métodos contracetivos; · aumento da taxa de atividade feminina; · valorização cada vez maior da carreira profissional da mulher. Envelhecimento demográfico: O alargamento do topo da pirâmide etária deve-se ao aumento da esperança média de vida e ao índice de longevidade. Em Portugal, a esperança média de vida à nascença aumentou consideravelmente ao longo do século XX, por efeito da redução da taxa de mortalidade, conseguida pela melhoria das condições de vida, da assistência médica, da proteção social e do nível económico e de vida da população. O declínio da fecundidade e o aumento da esperança média de vida conduziram a um progressivo envelhecimento da populaçã, evidenciado na evolução do índice de envelhecimento (relação entre população idosa e população jovem). Principais assimetrias regionais: O envelhecimento da população, reflexo da evolução dos comportamentos demográficos, também influencia a variação das taxas de natalidade e de mortalidade. · A taxa de natalidade é mais alta nos Açores, no Algarve e na Área Metropolitana de Lisboa, apresentando os valores mais baixos no interior do país; · A taxa de mortalidade é menor no litoral e mais elevada no interior; · O índice de envelhecimento é maior nas regiões do interior, onde a elevada proporção de idosos contribui para as baixas taxas de natalidade, e explica os valores mais elevados da taxa de mortalidade. Estes contrastes regionais resultaram, do êxodo rural, da emigração, acentuando-se também a maior fixação de imigrantes nas áreas urbanas do litoral. Estrutura da população ativa e do emprego A situação perante o trabalho é também um dado essencial para o conhecimento da população de um país ou região. Importa, conhecer as características da: · população ativa- conjunto de indivíduos, com o mínimo de 15 anos de idade, que constituem mão de obra disponível e entram no circuito económico; · população inativa- conjunto de indivíduos, de qualquer idade, que não podem ser considerados economicamente ativos. A proporção entre população ativa e inativa é influenciada por alguns fatores, como: · a estrutura etária; · a participação da mulher no mercado de trabalho; · o saldo migratório. Nas últimas décadas, a evolução da taxa de atividade (percentagem de população ativa face à população total) evidencia a influência destes fatores: · diminuição motivada pelo surto de emigração dos anos 60; · aumento nas décadas de 70 e 80, devido ao saldo migratório positivo, pela chegada de portugueses das ex- colónias e diminuição de emigração; · aumento mais lento, nas últimas décadas, pela crescente participação da mulher no mercado do trabalho e pelo crescimento da imigração. Qualificação escolar e profissional Em Portugal, os níveis de escolaridade e qualificação profissional da população situam-se ainda abaixo dos níveis médios comunitários, apesar dos progressos das últimas décadas: · acentuada redução da taxa de analfabetismo; · aumento dos diferentes níveis de escolaridade em geral. Ao nível regional, verifica-se um predomínio da população que completou o ensino básico, salientando-se em Lisboa com menos população nos níveis inferiores e mais no secundário e superior, e o Alentejo, que apresenta a situação inversa. Constata-se, uma redução da população ativa sem instrução e um aumento relativamente acentuado da que detém níveis de escolaridadr mais elevados. O crescente ritmo de mudança nos processos produtivos leva a uma constante desadequação de qualificações iniciais e da experiência profissional. Daí a importância da promoção de políticas de emprego que contemplem a formação e a reabilitação profissional, de modo a permitir a diversificação de competências que confiram uma maior empregabilidade. Problemas sociodemográficos As estruturas e comportamentos demográficos refletem-se a nível social e económico, constituindo fatores explicativos de alguns problemas que se colocam em Portugal, nomeadamente o envelhecimento da população, que reduz o índice de sustentabilidade potencial (relação entre a população ativa e a população idosa). O aumento do número de idosos e a redução da natalidade, que se reflete na diminuição do número de ativos, dificultam a sustentabilidade social e económica, uma vez que o aumento das despesas com a saúde, os serviços de apoio aos idosos, conduzindo a um desequilíbrio crescente das contas da Segurança Social. Índices de dependência: Os jovens e os idosos são considerados dependentes, pois são grupos etários de idades não ativas. O grau de dependênciapode avaliar-se através do índice do dependência: · índice de dependência de jovens (relação entre a população jovem e a população ativa); · índice de dependência de idosos (relação entre a população idosa e a população ativa); · índice da dependência total (relação entre o total de jovens e idosos e a população ativa). A comparação dos índices de dependência e do índice de sustentabilidade potencial das diferentes regiões evidencia a relação estreita entre estes indicadores: · aos índices de dependência total e de idosos mais baixos, nos Açores e na Madeira; · aos índices de dependência total e de idosos mais altos, no Alentejo e Centro. Défice de qualificação e situação perante o emprego: Em Portugal, apesar da evolução positiva das últimas décadas, os níveis de formação escolar e de qualificação profissional ainda se situam abaixo dos níveis comunitários. O défice de qualificação da população ativa também é potenciador do desemprego, porque dificulta a adaptabilidade e a reconversão profissional. Em Portugal, predominam ainda outros problemas como: aumento do desemprego de longa duração e o recurso abusivo ao emprego temporário e ao subemprego. Rejuvenescimento da população A melhor forma de rejuvenescer a população é incentivando o aumento da natalidade, através de medidas como: · aumento dos abonos de família em função do número de filhos; · redução dos impostos para as famílias mais numerosas; · promoção de empregos mais seguros e melhor renumerados. Valorização da população ativa Valorizar a população ativa, através da sua formação escolar e profissional, significa investir no principal recurso de desenvolvimento de um país ou região. Assim, é necessário continuar a promover: · o aumento dos níveis de escolaridade e de qualificação profissional; · a igualdade de género; · a melhoria das condições de segurança e higiene no trabalho. Distribuição da população A distribuição da população no nosso país, é marcada por assimetrias regionais que opõem as áreas do litoral, mais atrativas, às do interior. No território continental sobressai, a faixa litoral entre Viana do Castelo e Setúbal, a Área Metropolitana do Porto, a Área Metropolitana de Lisboa e o litoral algarvio. As tendências: A variação da população, em Portugal Continental, continua a evidenciar as tendências de: · litoralização: concentração da população e das atividades económicas no litoral; · bipolarização- elevada densidade populacional nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Atração pelo litoral urbano: Nas áreas mais densamente povoadas do litoral, conjugam-se fatores fisicos e humanos que facilitaram um progressivo dinamismo demográfico e económico: Fatores físicos: clima húmido e ameno e extensa linha de costa; Fatores humanos: grande número de cidades e maior densidade das infraestruturas de transporte e comunicação. Despovoamento do interior: A progressiva perda e envelhecimento da população na generalidade das regiões do interior deve-se a fatores menos favoráveis: Fatores físicos: relevo mais acidentado e solos mais pobres; Fatores humanos: condições naturais menos propícias à agricultura e menor número de cidades. Problemas na distribuição da população · Desordenamento do território; · Congestionamentos de trânsito; · Degradação ambiental. A rede urbana portuguesa Uma rede urbana ou sistema urbano corresponde ao conjunto de cidades e suas periferias, que estabelecem relações de dependência e complementaridade, geralmente com uma certa ordem hierárquica. Caracteriza-se uma rede urbana pela distribuição espacial das cidades e pela sua dimensão e importância quanto às funções que oferece. Distribuição das cidades portuguesas Em Portugal, além das diferenças na dimensão demográfica das cidades, existem contrastes na sua repartição geográfica, outro aspeto que evidencia o desequilíbrio da rede urbana portuguesa. No território continental, os contrastes na repartição geográfica das cidades explicam-se pelo processo de litoralização, verificando-se uma forte concentração urbana na faixa litoral de Setúbal a Viana do Castelo, onde se localiza o maior número de cidades, assim como as maiores aglomerações urabanas, com destaque para áreas metropolitanas. Hierarquia das cidades portuguesas As cidades, como espaços de interação e de oferta de bens e serviços, têm um papel fundamental na organização do território. Dependendo da sua dimensão e importância, uma cidade interage com a sua área de influência (área sobre a qual a cidade exerce a sua ação, atraindo população e oferecendo bens). Assim, uma cidade pode considerar-se um lugar central, que oferece bens e serviços a uma área de influência. Com base nos lugares centrais, classificam-se os produtos e serviços em: · bens centrais- só podem ser adquiridos em determinados locais (lugares centrais); · bens dispersos- que são distribuídos à população, como a água e a eletricidade. Os bens são, também, classificados segundo a frequência da sua utilização. Assim, os produtos ou serviços consideram-se: · bens vulgares- de utilização frequente, presentes em muitos lugares; · bens raros- de utilização pouco frequente, presentes apenas em certos lugares. A importância de um lugar central e a dimensão da sua área de influência, dependem dos bens e funções que oferece e da sua maior ou menor acessibilidade, verificando-se uma forte relação entre a centralidade e a dimensão populacional. Deste modo: · As funções de nivel superior- mais raras e especializadas- como um hospital ou um centro de investigação; · As funções de nível inferior- como um supermercado ou uma farmácia. A rede urbana nacional no contexto europeu Em muitos países europeus, a rede urbana apresenta um maior equilíbrio do que em Portugal, quanto à dimensão demográfica, à repartição espacial e ao nível de bens e funções que as cidades oferecem. Alguns países europeus apresentam sistemas urbanos policêntricos, pois a população urbana distribui-se por várias aglomerações urbanas, ao contrário do nosso, com uma grande concentração populacional nas duas áreas metropolitanas, sobretudo na de Lisboa. A rede urbana portuguesa é bicéfala. Desequilíbrios da rede urbana portuguesa O desequilíbrio da rede urbana portuguesa evidencia-se pelo contraste: · na dimensão dos centros urbanos; · na repartição geográfica; · no nível de funções. O sistema urbano nacional apresenta, assim, uma clara bipolarização- domínio de duas cidades de grande dimensão e de nível hierárquico superior, Lisboa e Porto, que estendem a sua influência a todo o país. Economias de aglomeração e deseconomias de aglomeração As atividades económicas dos setores secundário e terciário instalam-se, preferencialmente, nas áreas urbanas desenvolvidas, onde existe mão de obra mais numerosa e qualificada, mais e melhores infraestruturas e maior acessibilidade aos mercados nacional e internacional. As áreas urbanas atraem as atividades económicas, pois criam emprego, atraem população e diversificam as funções, os bens e os serviços disponíveis nessas aglomerações. Aplica-se aqui o princípio das economias de escala (racionalizar os investimentos de forma a obter o menor custo unitário), pois só é rendível fazer determinados investimentos em equipamentos e infraestruturas perante a perspetiva de um grande número de utilizadores. As vantagens das grandes concentrações urbanas advêm do facto destas funcionarem como economias de aglomeração (a população e as várias empresas utilizam as mesmas infraestruturas de transporte, comunicação, distribuição de água, etc.) para além de beneficiarem de relações de complementaridade. Os problemas resultantes da excessiva aglomeração de população e atividades refletem-se no aumento dos custos das atividades económicas e afetam a qualidade de vida da população. Quando as desvantagens da concentração se tornam superiores às vantagens, gera-se uma deseconomia de aglomeração (os custos da concentração passam a ser superiores aos seus benefícios). O papel das cidades médias A forte bipolarização em torno das duas maiores cidades do país e a tendência para a urbanização difusa em algumas regiões são causa, do desequilíbrio da rede urbana, que se manifesta por uma fraca representatividade das cidades médias. O contributo das cidades com dimensão média é fundamental para criar dinamismo económico e social, proporcionando as vantagens das economias de aglomeração, que atraem as atividades económicas e criam condições para a fixação de população. Os centros urbanos de média dimensão têm um papel fundamental na redução das assimetrias territoriais, não só pelo desenvolvimento das próprias cidades, mas também porque dinamizam as respetivas áreas de influência. O reforço da competitividade e qualificação será uma importante estratégia de valorização do território, até porque várias cidades médias formam, no interior, um eixo estruturante de desenvolvimento, como na Guarda e na Covilhã. O PROSIURB foi um instrumento relevante de intervenção e dinamização das cidades médias, financiando ações de qualificação urbana e ambiental. O principal objetivo deste instrumento é salvaguardar o património construído. Redes de transporte e articulação do sistema urbano Um maior equilíbrio territorial exige a reorganização e o desenvolvimento de uma rede urbana policêntrica e equilibrada, em que exista articulação e complementaridade funcional de proximidade entre centros urbanos de diferentes dimensões. Tal depende muito das acessibilidades interurbanas em que as redes de transporte desempenham um papel primordial. O reforço da articulação da rede urbana pressupõe também a especialização dos diferentes centros, de modo a tirar melhor partido dos recursos. A melhoria das ligações rodoviárias e ferroviárias interurbanas permitirá uma gestão mais eficaz dos recursos disponíveis, nomeadamente das funções raras. A inserção da rede urbana portuguesa na da UE No contexto internacional, as cidades portuguesas ocupam uma posição relativamente modesta. A posição hierárquica das cidades mede-se, geralmente, pela sua dimensão demográfica e, em particular, pela sua capacidade para atrair população. Avalia-se também pela importância das funções que contribuem para o seu dinamismo, como a função universitária, a qualificação da mão de obra ou a relevância das atividades de investigação e desenvolvimento. De entre os indicadores de internacionalização das metrópoles, a organização de eventos, feiras e exposições internacionais reflete o grau de visibilidade das cidades. Na rede urbana da UE, o sistema português, no que toca ao nível de internacionalização e às estruturas económicas, destaca-se apenas pelas cidades de Lisboa e Porto. Posição internacional de Lisboa e Porto A abertura económica ao exterior, constitui também uma das formas de internacionalização e projeção externa das cidades. Lisboa e Porto constituem as cidades portugueses com maior expressão internacional e com uma posição relevante no sistema ibérico, sobretudo Lisboa. Porém, no contexto europeu, a posição geográfica periférica, dificulta a interação com outras cidades e regiões ou a integração em dinâmicas de regiões urbanas mais desenvolvidas. É necessário apostar na organização e no reforço da projeção económica e cultural das duas maiores aglomerações urbanas, mas a internacionalização das cidades passa também pela criação de ligações ferroviárias e por um esforço de promoção e de marketing urbano. Oportunidades para as cidades médias As cidades médias podem promover-se a nível nacional e internacional. É esse o objetivo da dinâmica que se vive em muitas cidades, como: · Aveiro, Braga e Coimbra, com a aposta na inovação e desenvolvimento científico, ligada aos núcleos universitários; · Faro e Funchal, com dinâmicas e eventos de promoção do turismo. A melhoria das redes de transporte, contribuirá para facilitar a articulação entre os diferentes centros do sistema urbano nacional e a interligação aos grandes eixos urbanos europeus. Parcerias entre as cidades e o campo Apesar das diferenças entre o espaço rural e o espaço urbano apresentam uma relação de complementaridade, ou seja, apresentam complementaridades funcionais. O espaço rural fornece ao espaço urbano: · matérias-primas; · bens alimentares; · mão de obra. O espaço urbano fornece ao espaço rural: · emprego; · comércio; · bens transformados ou acabados. Estas relações complementares entre cidade/campo proporcionam um desenvolvimento mais equilibrado do território, gerando uma maior coesão territorial. Dois programas que promovem as parcerias cidade/campo são o INTERREG e a Iniciativa LEADER.