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CINCO TESES SOBRE O ENCARCEIRAMENTO EM MASSA

Em “Cinco Teses sobre o Encarceramento em Massa”, o autor elabora cinco


pontos críticos acerca dos principais fatores responsáveis pelo problema constante no
título da obra. Diante de alguns questionamentos levantados sobre o sistema prisional
(qual a conclusão que se pode ter diante das incongruências do sistema? Há um
declínio do sistema? Para qual lado? O que é necessário para desmantelar esse
sistema? Que papel os diversos segmentos sociais devem cumprir para que a
questão seja problematizada intentando a melhoria?), o livro expõe as questões
responsáveis pela manutenção de um sistema falho e que insiste em permanecer
numa mesma situação. As teses construídas pelo autor tanto problematizam a
questão, como apontam para um direcionamento possível rumo à melhoria ou
superação do sistema atual vigente.

A primeira tese diz respeito às soluções tecnocráticas que insistem em


permanecer em voga, mesmo diante dos quadros de ineficiência dos quais se tem
conhecimento. Daí a proposta de se repolitizar o encarceramento em massa. A crise
penal é resultado de um projeto deliberado, o qual é executado pelos grandes e
poderosos agentes político-econômicos, que acabam por ensejar num abarrotamento
cada vez maior do sistema. As “reformas do senso comum”, conduzidas à rodo pelo
Estado, não são suficientes para resolver o problema. Daí a necessidade de dar voz aos
“movimentos de resistência contra o encarceramento em massa”, costumeiramente
suprimidos do discurso público estatal, a fim de que se tenham outras perspectivas
possíveis, já que esses movimentos falam “o vocabulário da justiça social referente à
dignidade humana, justiça e igualdade para todos”.

A segunda tese diz que “a luta contra o encarceramento em massa é uma luta
contra a desigualdade social”, na qual se expõe que “uma segunda limitação crucial
dos debates mainstream sobre a crise penal é sua falta de foco na relação simbiótica
entre encarceramento em massa e desigualdade social”. Assim, tem-se um sistema
que se retroalimenta dos dois lados: o encarceramento em massa contribuindo para
aumentar significativamente a desigualdade estrutural, e a desigualdade estrutural
como fator que gera reflexos no encarceramento em massa. Para o autor, “talvez
tenha chegado o momento de um novo “movimento de direitos sociais” assumir a
inacabada luta contra a desigualdade social e o estado carcerário que prospera nela”.

“A luta contra o estado penal é uma luta contra a privatização” é a terceira


tese. Com base no argumento do “insustentável custo da hipertrófica máquina
carcerária”, cria-se a suposta necessidade de se privatizar o sistema a fim de salvá-lo. É
contra esse tipo de fala que o autor aqui se insurge e demonstra as rupturas
argumentativas em tal sentido, evidenciando que “a luta contra o estado penal deve
ser uma luta contra a corporatização da violência estatal e a ideologia neoliberal que a
sustenta”.

A quarta tese diz que “não há fim para o estado penal sem uma reforma
radical do policiamento”. A questão da violência policial aqui é problematizada,
demonstrando que os excessos contribuem para a manutenção de um sistema
evidentemente falho. A proposta seria a de “recuperar o controle comunitário sobre a
polícia”, evitando-se assim que, num espaço público democrático, a polícia aja como
“executor discriminatório de uma ordem social opressiva contra as frações mais
marginais da população”, de modo que “a polícia, como nós a conhecemos, deixaria de
existir na realidade, substituída [...] por uma “Força de Paz dos Cidadãos [...]””.

A última tese prevê que “a luta pelo desencarceramento é uma luta contra o
transecarceramento”. Para o autor, o debate precisa ir além do sistema prisional
enquanto tal, vez que há outras formas de constrição dos corpos presentes na
sociedade que engessam o corpo social e refletem no problema principal. As
“instituições encarregadas de confinamento, tratamento, punição e disciplina de
populações desviantes”, a saber, escolas, prisões, hospitais psiquiátricos e correções
comunitárias, deveriam ser repensados sob o ponto de vista estruturante e
determinante na sociedade.

O local de fala do autor é o do sistema prisional dos Estados Unidos. Alessandro


de Giorgi traz diversos dados, levantamentos, pesquisas e números que dão amparo
para a sua exposição crítica. O sistema prisional é seletivo e estigmatizante, e as
propostas constantes nas teses servem como um direcionamento possível a fim de
superar os diversos problemas existentes na questão do encarceramento em massa.

Algumas propostas são bastante ousadas, mas, segundo o autor, necessárias a


fim de se superar um modelo “(re) produtor de desigualdades de raça e classe”. O
debate precisa ser feito, dando-se chance às propostas que não somente aquelas
feitas pelos agentes que fazem parte do sistema, mas também aquelas das vozes que
intencionalmente são suprimidas, caladas ou ignoradas. Somente assim pode se falar,
efetivamente, em tentativas de resolução do problema.

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