Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE SALVADOR- UNIFACS

Layza Kailany Santos de França

FICHAMENTO SOBRE O TEXTO - MINIMALISMO, ABOLUCIONISMOS E


EFICIENTICISMO: A CRISE DO SISTEMA PENAL ENTRE A DESLEGITIMAÇÃO E
A EXPANSÃO.

SALVADOR
2023

UNIVERSIDADE SALVADOR- UNIFACS


FICHAMENTO SOBRE O TEXTO - MINIMALISMOS, ABOLUCIONISMOS E
EFICIENTICISMO: A CRISE DO SISTEMA PENAL ENTRE A DESLEGITIMAÇÃO E
A EXPANSÃO.

Discente: Layza Kailany Santos de


França.
Bacharelado em Direito.
Campus: Lapa.
Disciplina: O Controle Social e o Direito
Penal
Semestre: 3°.

Orientadores: Lucas Carapiá e Pablo


Domingues.

SALVADOR
2023
“Nenhum método punitivo, nenhum sistema penal na história, veio para ficar e ficou, e
de nenhum se pôde dizer, como Vinícius de Moraes, que “seja eterno enquanto dure”,
pois essa eternidade (a pena) é violência e dor.” (Vera Regina, 2006, p.164)

De fato, a pena é efêmera e está aberta a possíveis mudanças desde o momento em


que foi criada. Nenhuma pena permanece igual. Exemplo disso é a pena de morte, que
foi abolida no Brasil, e se continuasse presente no país, a violência e dor seriam
eternas. Como diz Joel Birman, psicanalista e professor da UERJ - Universidade
Federal do Rio de Janeiro, aqueles que defendem a pena de morte são pessoas
pertencentes, sobretudo às elites brasileiras, que ignoram o fato de já existir
uma espécie de pena de morte no país, que é a violência diária que ocasiona diversas
mortes entre as camadas mais pobres da população.

ABOLICIONISMO

“Como perspectiva teórica, existe diferentes tipos de abolicionismos, com diferentes


fundamentações metodológicas para a abolição, a saber, entre seus principais
protagonistas:” (Vera Regina, 2006, p.166)

“• A variante estruturalista do filósofo e historiador francês Michael Foucault;” (Vera


Regina, 2006, p.166)

O objetivo do abolicionismo de Foucault é questionar todas as formas de expressão do


próprio poder. Não se limita ao questionamento e à transgressão do poder para
castigar, nem ao poder que se exerce sobre os doentes mentais ou os loucos. Isto não
quer dizer, entretanto, que Foucault reclame por uma ação política totalizante para
a abolição de todas as relações de poder. As lutas abolicionistas são locais e
relacionadas a um domínio específico no qual as pessoas se sentem oprimidas.

“• A variante materialista de orientação marxista, do sociólogo norueguês Thomas


Mathiesen;” (Vera Regina, 2006, p.166)

O abolicionismo de Mathiesen é muito especial, pois, em primeiro lugar, não trata de


abolir, mas de estabelecer alguma coisa. Trata de estabelecer o início e a manutenção
do “inacabado”. Esse objetivo, porém, implica a “abolição” de um sistema social
repressivo, ou de parte dele. A abolição se produz “quando rompemos com a ordem
estabelecida e ao mesmo tempo nos deparamos com um terreno vazio.” Manter o
“inacabado” e se enfrentar a um terreno sem construir nos diz que não se trata de
substituir a ordem estabelecida por outra. Só a abolição do que está acabado dá
uma oportunidade ao inconcluso. Enquanto Hulsman coloca a abolição de todo o
sistema de justiça penal, Mathiesen tenta abolir os absorventes sistemas sociais
repressivos da última etapa do capitalismo de Estado.
“• A variante fenomenológica do criminólogo holandês Louk Hulsman e poderia ser
acrescentada ainda a variante fenomenológico-historicista de Nils Christie.” (Vera
Regina, 2006, p.166)

A abolição do sistema penal inclui, ao menos para Hulsman, os diferentes campos do


direito penal. Ele não faz exceções, por exemplo, para os crimes de contaminação
ambiental, crimes econômicos, de trânsito, ou crimes de colarinho branco. Seu
posicionamento abolicionista mostra uma tendência em direção à radicalização.
Anteriormente, Hulsman falava cautelosamente sobre a abolição do sistema penal
como uma hipótese e como um ponto de vista. Hoje, porém, fala da abolição como um
objetivo positivo que deve ser alcançado. A abolição de todo o sistema penal não é
uma utopia, mas uma necessidade lógica, uma gestão realista e uma demanda de
justiça.

“Nessa esteira, o abolicionismo já foi caracterizado por “antiplatonismo”, precisamente


para designar que inexiste uma “essência” do abolicionismo ou uma teoria totalizadora
abstrata, que abarque todos os aspectos de suas distintas variantes. 4” (Vera Regina,
2006, p.167)

A política abolicionista está imbuída de pensamento antiplatônico. É o oposto ao


pensamento essencialista. Hulsman o garante em seu trabalho com a metodologia da
fenomenologia “mundana”, ou a fenomenologia do mundo da vida, Foucault com sua
metodologia baseada em sua filosofia da diferença. Eu encontro semelhança entre a
tentativa de Hulsman de revitalizar a fibra social, ao tratar as situações-problema e
os fatos no mundo concreto das experiências vividas pelas pessoas, e a atenção
de Foucault ao que ele chama de “acontecimentalização”.

MINIMALISMO

“Entre os modelos teóricos minimalistas mais expressivos estão o do filósofo e


criminólogo italiano Alessandro Baratta, (de base interacionista-materialista) o do
penalista e criminólogo argentino Eugenio Raúl Zaffaroni (de base interacionista,
foucaudiana e latino-americanista) e o do filósofo e penalista italiano Luigi Ferrajoli (de
base liberal iluminista). Também aqui predomina a diferente fundamentação.” (Vera
Regina, 2006, p.168)

O direito penal mínimo de Baratta aproxima-se, em variados aspectos, de algumas


proposições abolicionistas, notadamente quando se verifica que os princípios
extrassistemáticos por ele propostos se relacionam com alternativas
descriminalizadoras e/ou de “reapropriação dos conflitos” pelas partes envolvidas,
considerando a hipótese de substituição parcial da intervenção penal “por meio de
formas de direito restitutivo e acordos entre as partes no marco de instâncias públicas e
comunitárias de reconciliação”.  Zaffaroni sustenta o uso da intervenção mínima
enquanto tática para a diminuição da incidência penal através da descriminalização. O
modelo minimalista proposto por Ferrajoli parte de uma crítica ao modelo de controle
penal construído pela modernidade, reconstruindo-o a partir dos enfoques ético-político
e jurídico.

“O contexto, portanto, em que emergem, é o da deslegitimação dos sistemas penais


que então tem lugar como resultado de um amplo espectro de desconstruções teóricas
e práticas (fatos), a que Stanley Cohen denominou “impulso desestruturador”, em cujo
centro se encontra a consolidação do paradigma da reação ou controle social na forma
de uma revolução de paradigmas em Criminologia.” (Vera Regina, 2006, p.169)

O nascimento do abolicionismo e do minimalismo remonta ao final da Segunda Guerra


Mundial, como reação humanista à precedente fase tecnicista. Mas foi nas décadas de
60 e 70 que o movimento abolicionista juntamente com o movimento minimalista
ganhou força, devido às teorias sociológicas que se afirmavam na época e se dividiam
em tendências diversas.

“Co-constituindo e respondendo à deslegitimação, da qual são criadores e criaturas,


enquanto o abolicionismo protagoniza a sua abolição e substituição por formas
alternativas de resolução de conflitos, o minimalismo defende associado ou não à
utopia abolicionista, sua máxima contração.”( Vera Regina, 2006, p.169)

O abolicionismo e minimalismo não são essencialmente antagônicos. O abolicionismo,


em verdade, é a antítese do eficientismo e do “rumo da política criminal que ele
representa”.   O minimalismo, como fim em si ou meio para o abolicionismo, sustenta a
máxima contração do sistema penal. 
“O objeto da abolição ou minimização (como também de estudo) não é o Direito Penal
(que é a programação normativa e tecnológica do exercício de poder dos juristas), mas
o sistema penal em que se institucionaliza o poder punitivo do Estado e sua complexa
fenomenologia a que os abolicionistas chamam de “organização cultural do sistema de
justiça criminal” e que inclui tanto a engenharia quanto a cultura punitiva, tanto a
máquina quanto sua interação com a sociedade, de modo que se o sistema é, formal e
instrumentalmente, o “outro”, informal, difusa e perifericamente somos todos Nós (que
o reproduzimos, simbolicamente).” (Vera Regina, 2006, p.169)

São movimentos relacionados à descriminalização, que é a retirada de determinadas


condutas de leis penais incriminadoras e à despenalização, entendida como a extinção
de pena quando da prática de determinadas condutas.

O abolicionismo, valorizando sobremaneira essa dimensão cultural e simbólica será,


em grande medida, um grande esforço por captar as práticas discursivas do sistema
penal (DE FOLTER, 1989, p. 58).

DESLEGITIMAÇÃO OU CRISE (ESTRUTURAL) DE LEGITIMIDADE

“Por que o sistema está deslegitimado?” (Vera Regina, 2006, p.170)

O pensamento do filósofo francês Foucault (século XX), em sua frase “Prisão, esssa
pequena invensão desacreditada desde o seu nascimento”, permite-nos compreender
na atualidade como é falho o nosso sistema prisional desde a colonização em nossa
sociedade. A deslegitimação é entender que o sistema penal está nu, que todas as
máscaras caíram e que ele agora exerce, abertamente, sua função real. O
Abolicionismo e o Minimalismo podem ser as possíveis soluções para a crise do
sistema penal.

“O sistema penal rouba o conflito às vitimas, não escuta as vítimas, não protege as
pessoas, mas o próprio sistema, não resolve nem previne os conflitos e “não apresenta
efeito positivo algum sobre as pessoas envolvidas nos conflitos” (não pode ser
considerado, diferentemente de outras como a justiça civil, como um modelo de
“solução de conflitos);” (Vera Regina, 2006, p.171)
As prisões não diminuem a taxa de criminalidade: pode-se aumentá-las, multiplicá-las
ou transformá-las, a quantidade de crimes e de criminosos permanece estável, ou,
ainda pior, aumenta. A prisão, consequentemente, em vez de devolver à liberdade
indivíduos corrigidos, espalha na população delinquentes perigosos .

A ABOLIÇÃO E A MINIMAZAÇÃO

"Ainda que a abolição reconheça níveis macro e micro mais ou menos acentuados nos
diferentes abolicionistas por valorizarem a dimensão comunicacional e simbólica do
sistema penal, estão de acordo em que abolição não significa pura e simplesmente
abolir as instituições formais de controle, mas abolir a cultura punitiva, superar a
organização “cultural” e ideológica do sistema penal, a começar pela própria linguagem
e pelo conteúdo das categorias estereotipadas e estigmatizantes (crime, autor, vítima,
criminoso, criminalidade, gravidade, periculosidade, política criminal etc), que tecem,
cotidianamente, o fio dessa organização (pois tem plena consciência de que de nada
adianta criar novas instituições ou travestir novas categorias cognitivas com conteúdos
punitivos)." (Vera Regina, 2006, p.172)

A abolição é, em primeiro lugar, a abolição da justiça criminal em nós mesmos: mudar


percepções, atitudes e comportamentos. Portanto, deve-se mudar a si mesmo para
depois iniciar a descontrunção de toda uma semântica própria da discursividade penal
e, sem reticências, de abolir a instituição da prisão, substituindo-a, no próprio processo
de transformação cultural e institucional, por outras formas de controle. Como diz
Zaffaroni, não pretende renunciar à solução dos conflitos que devem ser resolvidos;
apenas, quase todos os seus autores parecem propor uma reconstrução dos vínculos
solidários de simpatia horizontais ou comunitários, que permitam a solução desses
conflitos sem a necessidade de apelar para o modelo punitivo (vertical e) formalizado
abstratamente.

“Os modelos minimalistas estão às voltas com a limitação da violência punitiva e com a
máxima contração do sistema penal, mas também com a construção alternativa dos
problemas sociais.” (Vera Regina, 2006, p.174)

Os modelos mais expressivos são os modelos de Alessandro Baratta e Raúl Zaffaroni.


O modelo de Baratta afirma que princípio cardeal do modelo de uma política criminal
alternativa não é a criminalização alternativa, mas a descriminalização, a mais rigorosa
redução possível do sistema penal. Isto não significa, convém repeti-lo, um
desinteresse pelos problemas sociais ‘objectivos’, mas uma forte relativização do
momento ‘penal’ ou ‘correcional. O modelo de Zaffaroni, denominado “Realismo
Marginal Latino-americano” foi enunciado sobretudo em seu também clássico “Em
Busca das Penas Perdidas”.

“De outra parte, ainda no campo das idéias, posicionar-se pelos modelos minimalistas
que são comprometidos com o abolicionismo ignorando esse compromisso é
inconseqüente perante os modelos e relegitimador perante o sistema penal. Não é
conseqüente sustentar como fim minimalismos que se propõem como meios. O
minimalismo de Ferrajoli, ao contrário, se propõe como fim e, neste sentido, polemiza
com o abolicionismo e, de certo, modo contribuiu para vulgarizar a oposição
abolicionismo x garantismo, que não tem lugar quando se abre o leque minimalista;
quando se tem por referência outros modelos e outros pressupostos analíticos.” (Vera
Regina, 2006, p.177)

 Para Ferrajoli, o minimalismo penal reflete a linha moderada do Abolicionismo, que


propugna por um direito penal “mínimo”, isto é, “mínima intervenção, com máximas
garantias”: nisso consiste o garantismo de Ferrajoli, que está fundado em dez
axiomas, os principais são Nulla poena sine crimine (não há pena sem crime) e Nullum
crimen sine lege (não há crime sem lei).

“O discurso oficial da “Lei e Ordem” proclama, desta forma, que, se o sistema não
funciona, o que equivale a argumentar, se não combate eficientemente a criminalidade,
é porque não é suficientemente repressivo. É necessário, portanto, manda a “Lei e a
Ordem”, em suas diversas materializações públicas e legislativas, criminalizar mais,
penalizar mais, aumentar os aparatos policiais, judiciários, e penitenciários. É
necessário incrementar mais e mais a engenharia e a cultura punitiva, fechar cada vez
mais a prisão e suprimir cada vez mais as garantias penais e processuais básicas,
rasgando, cotidianamente, a Constituição e o ideal republicano. De última, a prisão
retorna à prima ratio.” (Vera Regina, 2006, p.178)

Apesar de o sistema penal estar cada vez mais repressivo, ele não é igualitário. Há
diversos presos que tiveram uma pena rígida para atos “pequenos”, exemplo disso são
as mães de família que roubam comidas de super mercados com o intuito de alimentar
sua família e são condenadas a anos de prisão enquanto indivíduos que cometeram
contrabando de drogas ilícitas e até homicídio estão soltos devido a alta posição que
ocupa no corpo social. Sendo assim, não importa o quão rígido o sistema penal se
torne, se não houver justiça e igualdade, não adiantará nada.
BIBLIOGRAFIA

1- Pereira de Andrade, Vera Regina. Minimalismos, abolucionismos e eficienticismo: a


crise do sistema penal entre a deslegitimação e a expansão. Revista Seqüência, n° 52, p.
163-182, jul. 2006

2- Oliveira de, Maria Elisa. Breve análise sobre o abolicionismo e o minimalismo.


https://jus.com.br/artigos/22596/breve-analise-sobre-o-abolicionismo-e-o-minimalismo

Você também pode gostar