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FACULDADES OSWALDO CRUZ


CURSO DE QUÍMICA INDUSTRIAL

Rafael Toreli da Silva

BIOMARCADORES DE PETRÓLEO

São Paulo
2008
7

RAFAEL TORELI DA SILVA

BIOMARCADORES DE PETRÓLEO

Monografia apresentada à Escola Superior de Química


como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do
curso de Química Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Vladimir Oliveira Elias

São Paulo
2008
8

RESUMO

A avaliação dos hidrocarbonetos marcadores geoquímicos é de fundamental importância na


identificação e caracterização de derrames de óleo no meio ambiente. Através da utilização de
correlações entre n-alcanos, alcanos isoprenóides, mistura complexa não resolvida, compostos
policíclicos aromáticos e alcanos policíclicos, pode-se determinar a origem do óleo e seu grau
de degradação, além de comprovar se a contaminação é proveniente de petróleo ou de
hidrocarbonetos encontrados no meio (compostos singenéticos). As análises fazem uso da
técnica de cromatografia gasosa, com detector de ionização por chama (FID, para a análise
dos n-alcanos, alcanos isoprenóides e MCNR) e espectrômetro de massas (análise de CPAs e
alcanos policíclicos).

Palavras-chave: n-alcanos, compostos policíclicos aromáticos, alcanos policíclicos


9

ABSTRACT

The evaluation of the geochemical markers is essential in the identification and


caracterization of oil spills in the environment. With the use of correlations among n-alkanes,
isoprenoid alkanes, unresolved complex mixture, polycyclic aromatic compounds and
polycylic alkanes, it’s possible to determine the origins and the degradation of the oil, and if
it’s oil spill or ocurrence of natural syngenetic hydrocarbons. The analysis are made using gas
chromatography, with flame ionization detector (for n-alkanes, isoprenoid alkanes and
unresolved complex mixture) and a mass spectrometer (for polycyclic aromatic compounds
and polycyclic alkanes).

Key words: n-alkanos, polycyclic aromatic compounds, polycyclic alkanes


10

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Navio Exxon Valdez....................................................................................................... 9


Figura 2 Três dias após o acidente, uma tempestade levou grandes quantidades de óleo para a
costa............................................................................................................................................... 9
Figura 3 Vista aérea do óleo derramado pelo Exxon Valdez......................................................... 10
Figura 4 Exemplos de estruturas de n-alcanos................................................................. 12
Figura 5 Fórmulas estruturais do Isopreno e do Fitol...................................................... 14
Figura 6 Fórmulas estruturais do Pristano e Fitano......................................................... 14
Figura 7 Cromatograma de um óleo cru, obtido em um cromatógrafo a gás.................. 16
Figura 8 Fórmulas estruturais dos HPAs cujo monitoramento é recomendado pela
18
USEPA...............................................................................................................................
Figura 9 Estrutura dos Terpanos tricíclicos...................................................................... 20
Figura 10 Estrutura dos Terpanos tetracíclicos................................................................ 21
Figura 11 Estrutura dos Hopanos..................................................................................... 21
Figura 12 Exemplos das estruturas tridimensionais com configurações
22
estereoquímicas 17(H), 21(H) dos hopanos......................................................................
Figura 13 Fórmulas estruturais dos esteranos regulares (esquerda) e dos diasteranos
(direita).............................................................................................................................. 24
Figura 14 Configurações estereoquímicas 5(H), 14(H), 17(H), C20 para os esteranos... 25
Figura 15 Cromatógrafo gasoso modelo Trace GC Ultra................................................ 27
Figura 16 Cromatógrafo gasoso modelo Focus GC acoplado a um espectrômetro de
28
massas Focus DSQ, da Thermo Electron Corporation......................................................
Figura 17 Fonte de Ionização do espectrômetro de massas............................................. 29
Figura 18 Quadrupolo do espectrômetro de massas......................................................... 29
Figura 19 Cromatograma da análise de n-alcanos, alcanos isoprenóides e MCNR
30
obtido em um GC-FID.......................................................................................................
Figura 20 Cromatograma da análise de CPAs obtido em um GC-MS............................. 32
Figura 21 Cromatograma da análise de Alcanos Policíclicos em um GC-MS................. 35
Figura 22 Cromatograma de m/z 191 (terpanos e hopanos). Acima, amostra de óleo, e
36
abaixo, uma amostra de sedimento marinho.....................................................................
Figura 23 Cromatograma de m/z 217 (esteranos). Acima, amostra de óleo, e abaixo,
36
uma amostra de sedimento marinho..................................................................................
11

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................................... 2

ABSTRACT..................................................................................................................... 3

ÍNDICE DE FIGURAS................................................................................................... 4

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 6

2. DERRAMAMENTOS DE PETRÓLEO................................................................... 8

3. OS HIDROCARBONETOS MARCADORES GEOQUÍMICOS.......................... 11


3.1 OS n-ALCANOS........................................................................................................ 11
3.2 ALCANOS ISOPRENÓIDES.................................................................................... 13
3.3 MISTURA COMPLEXA NÃO-RESOLVIDA (MCNR)........................................... 15
3.4 COMPOSTOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (CPAs)........................................ 17
3.5 ALCANOS POLICÍCLICOS, OS BIOMARCADORES DE PETRÓLEO............... 19
3.5.1 Terpanos Tricíclicos............................................................................................... 20
3.5.2 Terpanos Tetracíclicos........................................................................................... 20
3.5.3 Triterpanos Pentacíclicos (Hopanos) .................................................................. 21
3.5.4 Esteranos................................................................................................................. 23

4. ANÁLISE DOS COMPOSTOS................................................................................. 26


4.1 PREPARO DAS AMOSTRAS................................................................................... 26
4.2 ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS......................................................................... 26
4.2.1 Cromatografia Gasosa........................................................................................... 27
4.2.2 Detector de Ionização de Chama.......................................................................... 27
4.2.3 Espectrometria de Massas..................................................................................... 28
4.2.4 Análise dos n-alcanos e dos alcanos isoprenóides............................................... 30
4.2.5 Análise dos Compostos Policíclicos Aromáticos.................................................. 31
4.2.6 Análise dos Alcanos Policíclicos............................................................................ 33

5. CONCLUSÕES........................................................................................................... 37

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 38
12

Silva, Rafael Toreli da.


Biomarcadores de Petróleo./Rafael Toreli da Silva. São
Paulo, 2008.

41f.

Monografia apresentada à Escola Superior de Química


das Faculdades Oswaldo Cruz como parte dos requisitos
exigidos para a conclusão do curso de Química Industrial.
Orientador: Vladimir Oliveira Elias
13

1. INTRODUÇÃO

A teoria mais aceita entre os geólogos para a origem do petróleo é que este é formado a
partir da compressão e aquecimento de matéria orgânica de origem biológica. O óleo formado
escoa por rochas porosas e se acumula por migração em reservatórios, formando poços de
petróleo. Não existem dois óleos iguais, pois a formação depende das condições apropriadas
às transformações químicas e bioquímicas, bem como da existência de rochas porosas que
facilitem a migração e de estruturas acumuladoras (COIMBRA, 2006, p. 15).

O petróleo é formado por milhares de compostos, entre eles os hidrocarbonetos, que


atingem mais de 95% da composição total. Os hidrocarbonetos de petróleo compreendem n-
alcanos, isoalcanos, cicloalcanos e aromáticos. Entre os mais abundantes, estão os alcanos
normais saturados e os de cadeia ramificada. Podem ter de 1 a 40 átomos de carbono, sendo
que alguns atingem números superiores (COIMBRA, 2006, p. 17).

Como grande parte das jazidas está em alto mar, a possibilidade de derramamento, a
perda no transporte e a queima do petróleo são responsáveis pela contaminação dos oceanos,
o que causa danos ambientais de grandes proporções, como a morte de animais e vegetais em
grande escala. Uma vez derramado, o petróleo se espalha pela superfície, seus compostos
mais leves se perdem por evaporação, e os demais podem sofrer biodegradação (PETERS;
WALTERS; MOLDOWAN, 2005).

Para se ter uma idéia de que tipo de óleo foi derramado, qual sua origem e os
responsáveis pelo derrame, a análise dos hidrocarbonetos do pétróleo torna-se muito
importante, em especial dos compostos marcadores de petróleo.

O grupo mais importante de alcanos ramificados são os isoprenóides (compostos


derivados do isopreno, C5H8), com mais de 13 carbonos. Os aromáticos, normalmente em
menor quantidade no óleo, contêm um ou mais núcleos benzênicos acoplados (PETERS;
WALTERS; MOLDOWAN, 2005).

Os cicloalcanos incluem os biomarcadores de petróleo, divididos em terpanos, hopanos


e esteranos. Este grupo será de grande interesse para o desenvolvimento deste trabalho, uma
vez que são as moléculas mais estáveis e as mais resistentes à diagênese (qualquer mudança
química, física ou biológica sofrida por um sedimento após a sua deposição inicial). Além
disso, a quantidade e distribuição dos biomarcadores no petróleo depende da idade do óleo e
da sua região de origem. Por isso são de grande ajuda na caracterização de derramamentos de
óleo crú (PETERS; WALTERS; MOLDOWAN, 2005).
14

Este trabalho visa estudar a importância dos hidrocarbonetos presentes no petróleo, em


especial os biomarcadores (terpanos, hopanos e esteranos), para a identificação da
contaminação por óleo do meio ambiente, e apresentar as técnicas instrumentais que são
utilizadas para tais fins.
15

2. DERRAMAMENTOS DE PETRÓLEO

Um derramamento de óleo é o lançamento de hidrocarbonetos líquidos no meio

ambiente devido à atividade humana, muitas vezes ocorrendo nos oceanos, já que o transporte

dos produtos é feito por navios. O produto derramado pode ser óleo cru, ou algum produto

resultante do refino (gasolina, diesel, etc) (Wikipedia, 2008).

O óleo no ambiente marinho pode ter duas origens: natural ou antropogênica. De forma

natural, o óleo pode ser gerado pelo metabolismo de alguns microrganismos marinhos. A

contribuição humana pode ser causada por acidentes com embarcações de transporte

(principalmente, grandes navios petroleiros), com plataformas marítimas de exploração de

petróleo, esgotos que chegam ao mar, e por combustão incompleta de combustíveis

(PETERS; WALTERS; MOLDOWAN, 2005).

A contribuição depende da região onde ocorre o acidente. Como exemplo, no Golfo do

México e no Mar do Norte, onde há grande áreas de produção no mar, acidentes operacionais

e descargas (legais ou ilegais) são reponsáveis por até 30% da poluição por óleo. Em áreas

dos oceanos em que não há produção de petróleo, vazamentos de navios petroleiros, como o

da figura 1, são responsáveis por até 50% da poluição (PETERS; WALTERS; MOLDOWAN,

2005).

Incidentes envolvendo navios petroleiros são particularmente problemáticos por causa

dos volumes de óleo que podem ser liberados rapidamente e por que podem afetar costas que

são sensíveis ecologicamente ou de alto valor econômico (áreas de pesca ou turismo)

(PETERS; WALTERS; MOLDOWAN, 2005).


16

Figura 1 Navio Exxon Valdez.


Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), 1989.

Entre os maiores derramamentos por navio petroleiro já ocorrido, destaca-se o do navio

Exxon Valdez, da Exxon Corporation, mostrado na figura 1, que se chocou contra um rochedo

no Alasca. O acidente liberou no mar mais de 10 milhões de galões de óleo cru, afetando toda

a vida animal da região, causando a morte de milhares de pássaros e peixes (Wikipedia,

2008). As figuras 2 e 3 mostram um pouco do dano ambiental causado.

Figura 2 Três dias após o acidente, uma tempestade levou grandes quantidades de óleo para a costa.
Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), 1989.
17

Figura 3 Vista aérea do óleo derramado pelo Exxon Valdez.


Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), 1989.

Mais recentemente, em agosto de 2008, pelo menos 2000 mil pingüins morreram na

costa de Santa Catarina. Os animais foram encontrados cobertos de óleo, o que retira a

impermeabilidade natural das penas, permitindo que a água gelada entre em contato direto

com o corpo, baixando a temperatura e levando à morte. Até o começo de setembro, as

autoridades ainda não haviam encontrado a mancha de óleo que causou o problema

(AGÊNCIA ESTADO, 2008).

No caso de um derramamento, a análise do óleo encontrado é crucial para a

determinação do tipo de óleo, para auxiliar na remoção do mesmo, e na identificação dos

responsáveis pelo acidente, que responderão legalmente pelo problema.


18

3. OS HIDROCARBONETOS MARCADORES GEOQUÍMICOS

Marcadores geoquímicos, ou moleculares, são compostos de origem específica e com


estabilidade que mantém a mesma característica química de suas origens (PHILP, 1985).
Podem fornecer informações importantes sobre a matéria orgânica no sedimento marinho.
Alguns marcadores são produzidos por humanos, de forma intencional ou inadvertida,
enquanto que outros são exclusivamente biossintetizados (EGANHOUSE, 1997).
Por terem grande estabilidade química, os hidrocarbonetos são substâncias utilizadas
como marcadores geoquímicos, que configuram uma classe de compostos orgânicos presentes
na constituição da matéria orgânica de origem vegetal e animal, como também, em
abundância, no petróleo. Assim, eles são indicadores dos níveis e origens do material, de
fonte natural e antrópica no ambiente (FIGUEIREDO, 1999). Através da análise dos
marcadores presentes em áreas contaminadas, pode-se determinar a fonte da contaminação,
sua distribuição, etc.
Como os marcadores geoquímicos são moléculas hidrofóbicas, acumulam-se no
ambiente marinho por associações com partículas que sedimentam rapidamente
(HARTMANN et al., 2000). Os sedimentos marinhos têm chamado a atenção por serem o
principal depósito de matéria orgânica marinha ou terrestre, de origem natural ou antrópica,
tornando-os compartimentos naturais de deposição e acúmulo de marcadores.
Com a identificação e quantificação dos marcadores geoquímico presente em áreas
contaminadas, pode-se inferir sobre a fonte de contaminação, sua distribuição, a natureza e o
tipo de contaminação (derrames de óleo, drenagem urbana, efluentes domésticos ou
industriais, entre outros) (SILVA, 2005).
Estão entre os marcadores geoquímicos os grupos de compostos estudados neste
trabalho: n-alcanos, alcanos isoprenóides, policíclicos aromáticos e os alcanos policíclicos.

3.1 OS n-ALCANOS

Os n-alcanos, hidrocarbonetos alifáticos saturados de cadeia linear, como mostra a


figura 1, são os principais constituintes do petróleo, sendo sintetizados também por
organismos terrestres e marinhos. Os n-alcanos mais analisados no meio ambiente são os que
possuem cadeias de 12 a 34 átomos de carbono, devido à maior facilidade de análise. Podem
ser formados por processos biológicos ou nos estágios primitivos da diagênese (grupo de
19

processos físicos e químicos que atuam sobre o sedimento até sua consolidação), sendo estes
últimos componentes de sedimentos marinhos recentes (SILVA, 2005).
O estudo de n-alcanos tem por finalidade avaliar a principal contribuição, biogênica
(natural) ou petrogênica, de hidrocarbonetos no ambiente marinho. As principais fontes
biológicas destes compostos são: plantas terrestres, fitoplâncton, animais, bactérias,
macroalgas e microalgas (WANG et al., 1999). Entretanto, fontes petrogênicas também
contribuem de forma significativa, muitas vezes até em quantidades superiores às
contribuições biogênicas (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993).

CH3
H3C
decano

CH3
H3C
octano

Figura 4 Exemplos de estruturas de n-alcanos.


Fonte: SILVA, 2005.

Além de marcadores da presença de óleo derramado no ambiente, os n-alcanos também


são analisados na identificação do tipo de óleo, como indicadores do destino do óleo e no
monitoramento de variações da composição química do óleo devido à intemperismo e
biodegradação (WANG; FINGAS. 1997).
A predominância de n-alcanos de origem biológica pode ser identificada pela maior
concentração de n-alcanos de cadeias ímpares. Organismos marinhos, como fitoplâncton e
macroalgas, sintetizam cadeias de 15 e 17 carbonos (PHILP, 1985). Em terra, plantas
superiores (vasculares), contribuem com cadeias que variam entre 15 e 37 átomos de carbono,
principalmente com 27, 29 e 31 átomos de carbono (VOLKMAN et al., 1992; WANG et
al.,1999).
No petróleo existem cadeias normais saturadas de 2 até mais de 60 átomos de carbono.
Há uma distribuição regular entre cadeias com números ímpares e pares de carbono, não
ocorrendo uma predominância fixa de determinados n-alcanos, ímpares ou pares (HONG et
al., 1995).
De acordo com ABOUL-KASSIM e SIMONEIT, 1996, uma das formas de avaliar a
predominância de n-alcanos de origem biogênica ou petrogênica é através do Índice
Preferencial de Carbono (CPI), que é calculado através da soma dos n-alcanos ímpares sobre a
soma dos pares, conforme mostra a equação seguinte:
20

C25 + C27 + C29 + C31 + C33 C25 + C27 + C29 + C31 + C33
CPI = 1/2 x (1)
C24 + C26 + C28 + C30 + C32 C24 + C26 + C28 + C30 + C32

Valores de CPI superiores a 1 indicam contribuição de fontes naturais. Valores em torno


de 1 indicam contribuição predominantemente petrogênica (ABOUL-KASSIM; SIMONEIT,
1996). Mas, em alguns casos, compostos gerados a partir de matéria orgânica degradada ou
mesmo de determinados organismos planctônicos também podem conduzir a valores
próximos de 1, limitando o uso da equação (BOULOUBASSI, 1990).
Todas estas características podem ser levadas em consideração na investigação da
origem dos n-alcanos ou sua maior contribuição no ambiente. Além da distinção entre origem
biogênica ou petrogênica, deve-se levar em consideração a possibilidade de processos de
transformações que o petróleo pode sofrer. O óleo perde os n-alcanos leves (menos de 14
carbonos) logo que é derramado, por evaporação. Além disso, também está sujeito a
degradação bacteriana em alcanos ramificados, que gera uma mistura complexa não resolvida,
explicada em detalhes mais adiante.

3.2 ALCANOS ISOPRENÓIDES

A identificação dos alcanos isoprenóides, assim como a dos n-alcanos, tem sido
intensamente utilizada em estudos de combustíveis fósseis com vários propósitos, como a
caracterização do óleo e o grau de biodegradação e origem da contribuição de hidrocarbonetos
em ambientes marinhos.
Estes compostos constituem-se de cadeias carbônicas alquiladas, caracterizadas por uma
estrutura molecular derivada do isopreno (FIGUEIREDO, 1999).
O fitol, molécula formada por múltiplos da estrutura do isopreno, é um álcool
constituinte da clorofila. Sua degradação dá origem uma série de alcanos isoprenóides
acíclicos, desde C11 dimetilados até pristano (2,6,10,14-tetrametilpentadecano) e o fitano
(2,6,10,14-tetrametilhexadecano). A figura 2 mostra as estruturas do isopreno e do fitol.
21

CH3 CH3 CH3 CH3 CH3

H2C
CH2 H3C OH

Isopreno Fitol

Figura 5 Fórmulas estruturais do Isopreno e do Fitol.


Fonte: SILVA, 2005.

O pristano e o fitano também podem ser originados através da diagênese de diversos


organismos marinhos que contenham fitol em suas composições, tais como fitoplâncton,
zooplâncton e bactérias, que produzem sempre mais pristano (VOLKMAN et al., 1992).
Pristano e fitano constituem ainda os principais alcanos ramificados do petróleo, onde são
produzidos aproximadamente na mesma proporção, diferentemente dos de origem biogênica
(BOULOUBASSI, 1990). Sendo assim, quanto maior a razão entre pristano e fitano (Pri/Fit),
maior será a contribuição biogênica.
Em sedimentos não contaminados, esta razão varia entre 3,0 e 5,0, enquanto que na
presença predominante de contaminação de origem petrogênica, este valor fica entre 1,0 e 1,5
(STEINHAUER; BOEHM, 1992). O pristano é formado a partir do fitol através de várias
reações de oxidação e descarboxilação. Já o fitano pode ser originado através de reações de
hidrogenação e desidratação, num ambiente redutor (PHILP, 1985). As estruturas de ambos
são mostradas na figura 3.

CH3 CH3 CH3 CH3

H3C CH3

Pristano

CH3 CH3 CH3 CH3


CH3
H3C

Fitano

Figura 6 Fórmulas estruturais do Pristano e Fitano.


Fonte: SILVA, 2005.
22

Alcanos isoprenóides também podem ser originados de uma variadade de outros


precursores, como de lipídeos de certos organismos zooplanctônicos (VOLKMAN et al.,
1992), o que limita o uso da razão Pri/Fit.
Para a avaliação da biodegradabilidade do óleo no ambiente, utilizam-se apenas as
razões pristano/heptadecano (Pri/C17) e fitano/octadecano (Fit/C18). Isso porque os alcanos
de cadeias normais são preferencialmente biodegradados por microorganismos marinhos.
Valores altos destas razões (superior a 2) indicam a presença de resíduo de óleo já
biodegradado. Valores baixos de Pri/C17 e Fit/C18 supõem ocorrência de óleo recentemente
introduzido no ambiente (COLOMBO et al., 1989).

3.3 MISTURA COMPLEXA NÃO-RESOLVIDA (MCNR)

Existem na composição do petróleo diversas substâncias difíceis de serem separadas por


colunas capilares em técnicas cromatográficas. Estas substâncias compõem a Mistura
Complexa Não-Resolvida, ou simplesmente MCNR.
A MCNR é um dos indicadores mais convincentes da contaminação por petróleo em
amostras de sedimento, água e solo (VOLKMAN et al., 1992), sendo mais pronunciada em
petróleo degradado. É formada por uma mistura de muitos isômeros e homólogos de
estruturas complexas e de cadeias não lineares. A degradação bacteriológica de n-alcanos
pode gerar uma mistura de compostos alifáticos policíclicos que também podem fazer parte da
MCNR.
Os compostos da MCNR são resistentes à degradação, provocando acúmulo dos
mesmos no ambiente (GOUGH; ROWLAND, 1990). A figura 4 mostra um óleo com
presença de MCNR, representada pelas linhas azuis.
23

Focus GC-Channel 1
ACG00034 0,01029g/ml
9000 Name 9000

8000 8000

7000 7000

C20-d42
6000 6000

Millivolts
Millivolts

C24-d50
5000 5000

4000 4000

3000 3000

2000 2000

1000 1000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Minutes

Figura 7 Cromatograma de um óleo cru, obtido em um cromatógrafo a gás.


Fonte: Autor, 2008.

Dependendo do tipo de elevação, a MCNR pode ser unimodal ou bimodal, aparecendo


um pouco deslocada no cromatograma. A MCNR unimodal ocorre geralmente entre os n-
alcanos C18 e C35, com altura máxima entre C27 e C31. A MCNR bimodal possui a presença
de uma segunda elevação mais atenuada entre os compostos C16 e C22 (BOULOUBASSI;
SALIOT, 1993).
A razão MCNR/alifáticos resolvidos pode denunciar a presença de contaminação por
petróleo. Alifáticos resolvidos são os compostos que tem uma boa resposta no cromatógrafo,
gerando picos, e não se perdem na MCNR.
Valores altos para MCNR/alifáticos, geralmente acima de 4, evidenciam a
contaminação por petróleo (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993). Em cromatogramas de
frações aromáticas também há presença de MCNR, provavelmente por causa da presença de
naftênicos e nafteno-aromáticos em petróleos intemperizados (BOULOUBASSI, 1990). A
origem destes compostos, suas composições e estruturas ainda não são totalmente
compreendidas.
24

3.4 COMPOSTOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (CPAs)

Os compostos policíclicos aromáticos (CPAs) são compostos de dois ou mais anéis


benzênicos condensados. São moléculas com volatilidade e solubilidade em água
relativamente baixas (MUNOZ et al. 1997).
Os CPAs têm recebido atenção especial em amostras de sedimento marinho por causa
de sua ação tóxica prejudicial para o ambiente (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993). Estes
compostos aromáticos são potenciais responsáveis por diversos tipos de câncer em peixes,
entre outros efeitos biológicos e ecológicos no ambiente marinho (BAUMANN, 1989;
MOORE; LIVINGSTONE; WIDDOWS, 1989). Sebendo disso, o conhecimento das fontes e
o monitoramento da presença de CPAs no ambiente são indispensáveis.
Assim como os demais hidrocarbonetos marcadores geoquímicos, conhecer a
distribuição dos CPAs, bem como os detalhes das estruturas de cada um, auxilia a
determinação de fontes específicas de contaminação e o destino destes compostos no
ambiente.
As características estruturais fornecem informações quanto ao nível de degradação dos
contaminantes na amostra. O grau de alquilação é inversamente proporcional a taxa de
degradação. Do mesmo modo, quanto menor o número de anéis na estrutura, maior a
velocidade de degradação (WANG; FINGAS, 1997).
Os principais CPAs investigados possuem de 2 a até 6 anéis, vários homólogos
alquilados, além de compostos S-heterocíclicos, como benzotiofeno, dibenzotiofenos, etc.
Dentre estes, a Agência de Proteção Ambiental do Estados Unidos (US EPA), recomenda o
monitoramento de 16 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), definidos como
prioritários, da perspectiva dos efeitos adversas à saúde humana, por serem os mais tóxicos e
exibirem maior possibilidade de exposição à população (US EPA, 2001). São eles: Naftaleno,
Acenaftileno, Acenafteno, Fluoreno, Fenantreno, Antraceno, Fluoranteno, Pireno,
Benzo(a)antraceno, Criseno, Benzo(b)fluoranteno, Benzo(k)fluoranteno, Benzo(a)pireno,
Indeno(1,2,3-c,d)pireno, Dibenzo(a,h)antraceno e Benzo(g,h,i)perileno. Suas estruturas estão
representadas na figura 5. Outros CPAs são analisados também para avaliação de origem e
fonte de contaminação.
25

Naftaleno Acenaftileno Acenafteno Fluoreno

Fenantreno Antraceno Fluoranteno Pireno

Benzo(a)antraceno Criseno Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno Benzo(a)pireno Indeno(1,2,3-c,d)pireno

Dibenzo(a,h)antraceno Benzo(g,h,i)perileno

Figura 8 Fórmulas estruturais dos CPAs cujo monitoramento é recomendado pela USEPA.
Fonte: SILVA, 2005.
26

Adições mais significativas de CPAs começaram a ocorrer juntamente com o


desenvolvimento industrial e conseqüente aumento do uso de combustíveis fósseis,
confirmando a relevância de suas fontes antrópicas (WAKEHAM, 1996).
Descargas industrias e urbanas, derrames de petróleo, e, principalmente, a queima de
combustíveis fósseis e seus derivados estão entre as fontes predominantes de CPAs no
ambiente marinho. Com menor contribuição estão as fontes naturais, como a combustão de
biomassa vegetal e a diagênese de precursores naturais (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993;
LAW; BISCAYA, 1994; WANG et al., 1999).

3.5 ALCANOS POLICÍCLICOS, OS BIOMARCADORES DE PETRÓLEO

Os compostos provenientes de organismos são depositados no sedimento. Os diversos


processos biogeoquímicos (diagênese) geram estruturas estáveis quimicamente. Por serem
compostos derivados de diversos organismos antigos, estes “fósseis moleculares” recebem o
nome de biomarcadores de petróleo (WANG; FINGAS, 1997; PHILP, 1985). Os
biomarcadeos de petróleo são caracterizados por suas ocorrências restritas, fontes específicas
e estabilidade molecular.
Há muito tempo, pesquisadores de combustíveis fósseis têm utilizado os biomarcadores
para identificar depósitos de petróleo, a relação óleo-rocha geradora, tipo de óleo (maturo ou
imaturo), tipo de matéria orgânica que originou o óleo, entre outros estudos (WANG;
FINGAS, 1997).
Os compostos biomarcadores são utilizados como “impressão digital” do óleo, pois
podem identificar a origem do de um óleo derramado, bem como o tipo de óleo e seu destino
no ambiente (WANG; FINGAS, 1997). Estes compostos possuem vasta aplicação em análise
de matéria orgânica em sedimentos antigos ou recentes contaminados por combustíveis
fósseis (ABOUL-KASSIM; SIMONEIT, 1996).
Todas estas informações podem ser obtidas através das distribuições relativas dos
compostos presentes na amostra investigada, bem como através de índices e razões obtidas
com estas substâncias. Entre os biomarcadores utilizados, destacam-se os seguintes alcanos
policíclicos: terpanos tricíclicos, terpanos tetracíclicos, triterpanos pentacíclicos (hopanos) e
esteranos.
27

3.5.1 Terpanos Tricíclicos

Os terpanos tricíclicos estão presentes em óleo bruto através de séries homólogas que
podem variar entre 19 e 45 átomos de carbono, e desempenham um importante papel nos
estudos geoquímicos de petróleo (PHILP, 1985).
Estes compostos têm como característica gerar como fragmento principal o íon m/z 191,
quando analisados por espectrometria de massas.
A origem dos terpanos tricíclicos de cadeias curtas (19 a 30 átomos de carbono) está
associada com reações anaeróbicas de bactérias, sendo que alguns precursores foram
sugeridos, como C30-hexaisoprenóide (seis unidades do isopreno) e ácidos carboxílicos
tricíclicos (PHILP, 1985). A estrutura básica dos Terpanos tricíclicos aparece na figura 6.

CH3
m/z 191 CH3 CH3

R R = H, C19-Terpano Tricíclico

R = CH3, C20-Terpano Tricíclico

H3C CH3

Figura 9 Estrutura dos Terpanos tricíclicos.


Fonte: SILVA, 2005.

Aquino Neto et al. (1981), investigou cerca de quarenta óleos diferentes e comprovou
que todos continham terpanos tricíclicos, exceto aqueles derivados de fontes terrestres, o que
sugere a origem destes compostos de algas e bactérias aquáticas. A ocorrência e distribuição
dos homólogos desta série em amostras de sedimento marinho são úteis para identificar a
fonte de petróleo (ABOUL-KASSIM; SIMONEIT, 1996).

3.5.2 Terpanos Tetracíclicos

Os terpanos tetracíclicos estão amplamente distribuídos no petróleo bruto. Suas séries


homólogas estão amplamente distribuídas no petróleo bruto. Suas séries homólogas são
menores que as dos tricíclicos, sendo observadas somente variações entre 24 e 27 átomos de
carbono (PHILP, 1985). A estrutura básica dos Terpanos tetracíclicos aparece na figura 7.
28

m/z 191 CH3 CH3 CH3

CH3

R = H, C24-Terpano Tetracíclico
H3C CH3
R = CH3, C20-Terpano Tetracíclico

Figura 10 Estrutura dos Terpanos tetracíclicos.


Fonte: SILVA, 2005

Quando analisados por espectrometria de massas, esses compostos também geram como
fragmento principal o íon m/z 191. Podem ser formados a partir da degradação dos triterpanos
pentacíclicos do tipo hopano (PHILP, 1985). Assim como os tricíclicos, os terpanos
tetracíclicos são bons indicadores de fonte do petróleo, através da comparação das suas
concentrações relativas em diferentes áreas.

3.5.3 Triterpanos Pentacíclicos (Hopanos)

Os Hopanos formam a classe de biomarcadores triterpanos mais importante na


investigação geoquímica. Apresentam extensa série de homólogos e mais de 150 hopanos
diferentes já foram isolados de vários tipos de matéria orgânica proveniente de sedimentos
(PHILP, 1985). A figura 8 mostra a estrutura básica dos Hopanos.
Quando analisados por espectrometria de massas, também geram como fragmento
principal o íon m/z 191.

21

m/z 191 17 R
CH3 CH3 CH3 22

CH3

H3C CH3

Figura 11 Estrutura dos Hopanos.


Fonte: SILVA, 2005.
29

Os hopanos podem ser derivados de análogos oxigenados como o C35-


bacteriohopanotetrol, precursor encontrado em diversos microorganismos, como bactérias e
cianobactérias (VOLKMAN et al., 1997). Também podem ser encontrados em plantas
superiores (vasculares) da ordem Filicales, como as pteridófitas.
As informações que podem ser obtidas dos hopanos vêm das análises de suas estruturas
tridimensionais, como mostra a figura 9. Cada estereoisômero das séries homólogas dos
hopanos possui origem específica e também dependem do grau de maturação do óleo presente
no sedimento.
Uma série de homólogos de hopanos de C31 a C35, os homohopanos, estão presentes
em amostras naturais, sintetizados por organismos vivos, e também em amostras de sedimento
recentes ou maturados. Através desta série de homohopanos, pode-se determinar o grau de
maturidade do óleo, bem como a principal fonte emissora (PHILP, 1985; VOLKMAN et al.,
1997; HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999).
Os homohopanos sintetizados por organismos vivos geralmente são estereoisômeros do
tipo 17(H), 21(H), com configuração R no carbono 22 (configuração 22R). Em amostras de
petróleo e sedimentos antigos ocorrem conversões para gerar homohopanos de estruturas mais
estáveis termodinamicamente, com configuração 17(H),21(H) e epímeros (dois
esteroisômeros que diferem apenas por um carbono quiral) 22R e 22S proporcionais
(VOLKMAN et al., 1997; HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999). Encontrados em menor escala
estão os moretanos, que possuem configuração 17(H),21(H).

21 H 21 H H
H H H 21

22 22 22
17 R 17 R 17 R
CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3

CH3 CH3 CH3

H3C CH3 H3C CH3 H3C CH3

17  (H), 21 (H)-hopano 17 (H), 21 (H)-hopano


17  (H), 21  (H)-hopano

Figura 12 Exemplos das estruturas tridimensionais com configurações estereoquímicas 17(H),


21(H) dos hopanos.
Fonte: SILVA, 2005.
30

A relação existente entre os epímeros 22R e 22S da série de homohopanos pode


confirmar a contaminação por petróleo. O índice homohopano, C31-C35 22S/22(S+R)
encontra-se em equilíbrio (quando a relação for próxima a 0,5) se houver contaminação por
petróleo, devido à proporcionalidade gerada entre estes epímeros 17(H), 21(H) 22S e
17(H),21(H) 22R (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993; HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999).
Estes hopanos homólogos C31-C35 encontram-se frequentemente em concentrações
relativamente baixas. Porém devido à boa resolução cromatográfica entre seus epímeros, o
índice homohopano é utilizado e confiável (HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999).
Também são encontrados em amostras contaminadas por petróleo norhopanos C29 e
hopanos C30 com configurações 17(H), 21(H) e 17(H),21(H). Geralmente, estes
compostos são dominantes em amostras que contenham petróleo rico em matéria orgânica
terrestre (HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999).
Pela relação entre os estereoisômeros dos hopanos C29 e C30, pode-se determinar a
origem do óleo na amostra em função do seu grau de maturidade. Através da comparação das
relações entre estes compostos, determina-se se existe fonte comum para contaminação em
diferentes áreas.
Há também os hopanos C27 (Trisnorhopanos), geralmente com concentrações
significativas em amostras de sedimento contaminadas por óleo bruto. Os mais freqüentes
são: 18(H)-22,29,30-trisnorneohopano (Ts), 17(H)-22,29,30-trisnorhopano (Tm),
22,29,30-trisnorhop-17(21)-eno (Te) e o 17-(H)-22,29,30-trisnorhopano (T). Os dois
primeiros são utilizados para avaliar o grau de maturidade do óleo. A comparação entre Te, de
origem biogênica, Tm e Ts, petrogênicos, avalia o caráter biogênico e o grau de maturidade.
(SEIFERT; MOLDOWAN, 1978; HOSTETTLER et al. 1999).

3.5.4 Esteranos

Os esteranos de 27 e 29 átomos de carbono são os biomarcadores de petróleo que


possuem a maior complexidade estereoquímica, como mostra a figura 10, sendo assim, de
grande ajuda nas aplicações geoquímicas. São muito importantes em estudos de correlações
para análise de petróleo e na identificação da fonte do óleo. Não ocorrem em seres vivos e
estão presentes no petróleo em menores concentrações que os terpanos e triterpanos (PHILP,
1985).
Além dos esteranos regulares, existem também esteranos rearranjados, ou diasteranos,
presentes em combustíveis fósseis (PHILP, 1985). Ambas as estruturas geram o íon m/z 217
31

no espectro de massas e, dependendo das variações estereoquímicas nas posições C13 e C17,
pode ocorrer o íon m/z 218 como o principal.
R R
CH3 m/z 217 CH3
m/z 217
24
24 H3C 17
14 17 14 CH3
CH3 20
13 20
13
CH3 CH CH3
3 5
5 10
10
CH3 CH3
3 1
3 1

Figura 13 Fórmulas estruturais dos esteranos regulares (esquerda) e dos diasteranos (direita).
Fonte: SILVA, 2005.

Os esteranos são formados a partir da redução de misturas complexas de esteróis


incorporados ao sedimento, derivados de plantas, animais e organismos. Os esteróis produzem
esterenos, que são muito instáveis, e transformam-se em diasterenos por isomerizações ou
rearranjos catalíticos. Reações de redução dos diasterenos dão origem ao esteranos e
diasteranos (PHILP, 1985; VOLKMAN et al., 1992).
A complexidade da estrutura dos esteranos em amostras de sedimento é afetada
principalmente pelas diferentes origens e variações estereoquímicas devido às diferenças de
maturidade. Um grande número de estereoisômeros pode ser formado de cada esterano,
conforme a figura 11.
Durante a diagênese e a maturação, os esteranos são convertidos à estruturas mais
estáveis, sendo que as variações mais importantes ocorrem junto aos carbonos 5, 14, 17 e 20
das moléculas. Também pode ocorrer isomerização na posição 24, mas estes isômeros não são
bem resolvidos por cromatografia gasosa. Para os diasteranos, as mudanças estereoquímicas
mais significativas ocorrem junto aos carbonos 13, 17 e 20 (PHILP, 1985).
Os diasteranos possuem menos variações estruturais que os esteranos, tendo como
principais isômeros os compostos 13(H), 17(H) e menores quantidades de 13(H), 17(H),
ambos com quantidades proporcionais de 20R e 20S. Diasteranos são característicos de óleo
maturado, devido maior estabilidade destes compostos.
As razões entre os estereoisômeros proporcionam informações sobre grau de maturação
e a origem do óleo presente na amostra de sedimento. Estes cálculos são feitos utilizando-se
os C29 esteranos (24-etil-colestano), pois, diferentemente dos C27 esteranos (colestano) e
C28 esteranos (24-metil-colestano), estes não se apresentam coeluidos com outros isômeros
32

(PHILP, 1985). A coeluição dos isômeros ou de esteranos/diasteranos ocorrem com maior


freqüência em amostras contendo óleo maturo.
CH3 CH3

H H CH3
CH3
H H 24
24
20 14 17 20
14 17 CH3 CH3
13 H 13 H
H H CH3 CH
CH3 CH 5 3
5 3
10 10

CH3 CH3
3 1 3 1

24-etil-5  (H), 14  (H), 17  (H)-colestanos-20 S 24-etil-5  (H), 14  (H), 17  (H)-colestanos-20 R

(C29-5 , 14  , 17  - esterano-20 S ) (C29-5  , 14  , 17  - esterano-20 R )

Figura 14 Configurações estereoquímicas 5(H), 14(H), 17(H), C20 para os esteranos .


Fonte: SILVA, 2005.

A relação entre os isômeros mostrados na figura 11 dá o índice de maturidade térmica.


No óleo bruto maturado, estes isômeros encontram-se relativo equilíbrio de concentrações.
Logo, C29-/C29-em torno de 1 indica presença de óleo maturo, enquanto que
valores maiores que 1 indicam predominância de óleo imaturo. A relação entre os epímeros
20R e 20S dos esteranos mostra o grau de maturidade e presença de óleo (VOLKMAN et al.,
1997; ABOUL-KASSIM; SIMONEIT, 1996; HAUSER et al., 1999).
A identificação da origem do petróleo pode ser feita com a quantificação relativa dos
homólogos esteranos C27, C28 e C29, e a comparação das distribuições destes esteranos.
Predominância de C27-esteranos caracteriza petróleo de origem principalmente marinha e
C29-esteranos é característica de petróleo com origem predominante de plantas superiores
(JAQUOT et al., 1999).
33

4. ANÁLISES DOS COMPOSTOS

No caso de um derramamento de petróleo, deve-se coletar amostras do petróleo


derramado e/ou de sedimentos da região afetada. Essas amostras devem ser preparadas e
analisadas, conforme o que será mostrado neste capítulo.

4.1 PREPARO DAS AMOSTRAS

Tanto amostras de sedimentos quanto amostras de petróleo devem passar por processo
de extração. Uma massa conhecida da amostra é extraída em soxhlet com um volume
conhecido de solvente orgânico para extração (n-hexano, diclorometano, etc).
Antes da extração, adicionam-se às amostras concentrações conhecidas de compostos
denominados surrogates. A finalidade dos surrogates é monitorar a perda dos compostos
presentes nas amostras e avaliar a interferência da matriz na análise; daí a necessidade de se
conhecer a concentração que foi adicionada, pois junto com a concentração obtida ao final do
processo, têm-se os seus percentuais de recuperação. Logo, presume-se que estes compostos
sejam parecidos com os analisados e que cada análise possua ao menos um deles, pois
somente assim terão um comportamento parecido quando extraídos.
Como exemplo, para a análise de CPAs, utiliza-se o 2-fluorbifenil e o Terfenil-d14
como surrogates (USEPA, método 8270D, 2008). A recuperação dos padrões deve estar entre
50% e 120% para pelo menos 80 % dos analitos (DENOUX; GARDINALI; WADE, 1998).
O extrato obtido é então concentrado para 1 mL, e segue para análise. ale lembrar que a
análise das amostras deve ser feita junto com a análise de branco do método, para evitar que
possíveis contaminações prejudiquem o resultado final, e uma amostra fortificada com os
padrões utilizados, para avaliar a recuperação do método.

4.2 ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS

Todas as análises são feitas através da técnica de cromatografia gasosa, na qual os


compostos são separados por suas interações com a fase estacionária de uma coluna capilar. A
fase móvel em todos os casos que veremos pode ser He ou H2 (ultra puros).
34

4.2.1 Cromatografia Gasosa

Na cromatografia gasosa, a amostra é injetada e vaporizada no injetor. Em seguida, o gás de


arraste a leva para a coluna cromatográfica, onde os compostos presentes são separados de acordo
com o grau de afinidade de cada um pela fase estacionária da coluna. Compostos com menor
afinidade pela fase estacionária da coluna eluem mais rapidamente do que os compostos com maior
afinidade. Após esta fase de separação, a amostra segue para o detector. Na figura 12, um exemplo
de cromatógrafo gasoso.

Figura 15 Cromatógrafo gasoso modelo Trace GC Ultra.


Fonte: Thermo Electron Corporation, 2004..

4.2.2 Detector de Ionização de Chama

O detector de ionização de chama (mais conhecido como FID, de sua sigla em inglês Flame
Ionization Detector) consiste de uma chama formada por hidrogênio e ar. As moléculas que saem
da coluna cromatográfica passam pela chama e são quebradas, formando íons que são coletados
por um eletrodo e convertidos em sinal elétrico e, posteriormente, eletrônico, gerando os picos do
cromatograma.
O FID é sensível a praticamente qualquer molécula, porém não é tão sensível quanto outros
detectores que são específicos. E ao contrário dos outros detectores, o FID destrói a amostra na
chama.
35

4.2.3 Espectrometria de Massas

O Espectrômetro de massas irá ionizar as moléculas presentes na amostra, através da técnica


de impacto eletrônico. Nesta técnica, elétrons gerados por um filamento são lançados contra as
moléculas que chegam do cromatógrafo. Ao se chocarem, o elétron lançado leva consigo um
elétron da molécula, deixando-a com carga positiva, forma conhecida como cátion-radical. Se a
molécula não for estável nesta forma, tenderá a se fragmentar em moléculas cada vez menores,
sendo que, quando a fragmentação ocorre, gera um carbocátion, que será identificado pelo detector,
e um radical de carbono, neutro (BRUICE, 2006)
No caso dos PAHs, a fragmentação não ocorre com freqüência, pois os anéis aromáticos são
extremamente estáveis, devido ao efeito de ressonância. Os Biomarcadores, quando ionizados, são
instáveis, e fragmentam até atingirem arranjos moleculares estáveis.
Após a fase de ionização, as moléculas são levadas para o quadrupolo, que selecionará os
íons através de um campo magnético. Posteriormente, o detector no final do equipamento
converterá a carga positiva dos fragmentos em sinal eletrônico, gerando um pico no software do
equipamento (BRUICE, 2006). Após essa etapa, já é possível identificar e quantificar os que por
ventura estejam presentes na amostra. A figura 13 mostra um sistema GC-MS, e as figuras 14 e 15
mostram a fonte de ionização e o quadrupolo dentro do massas.

Figura 16 Cromatógrafo gasoso modelo Focus GC acoplado a um espectrômetro de massas


Focus DSQ, da Thermo Electron Corporation.
Fonte: Autor, 2008.
36

Figura 17 Fonte de Ionização do espectrômetro de massas.


Fonte: Autor, 2008.

Figura 18 Quadrupolo do espectrômetro de massas.


Fonte: Autor, 2008.
37

4.2.4 Análise dos n-alcanos e dos alcanos isoprenóides

Para a análise dos n-alcanos e alcanos isoprenóides é utilizado um cromatógrafo gasoso


equipado com detector de ionização de chama (GC-FID), e injetor que opere em modo
Splitless. A coluna capilar utilizada tem 30m de comprimento e 0,25mm de diâmetro interno,
revestida com filme de 0,25m de 5% fenil – 95% dimetilsiloxano.
A calibração dos compostos é obtida utilizando uma curva contendo pelo menos seis
pontos de diferentes concentrações de uma mistura de n-alcanos e alcanos isoprenóides (n-
C10, n-C11, n-C12, n-C13, n-C14, n-C15, n-C16, nC17, n-C18, n-C19, n-C20, n-C21, n-C22,
n-C23, n-C24, nC25, n-C26, n-C27, n-C28, n-C29, n-C30, n-C31, n-C32, n-C33, n-C34, n-
C35, n-C36, Pristano e Fitano), e dos surrogates, com um coeficiente de correlação (r 2)
superior a 0,995 para todos os compostos. A curva da MCNR é obtida através da soma das
áreas de todos os padrões utilizados, ou seja, a análise abrange toda a faixa de alcanos do
cromatograma. A figura 16 mostra um cromatograma obtido desta análise.

Focus GC-Channel 1
PADRAO
Nam e

6000 6000

5000 5000
P r is t a n o

C 2 4 -d 5 0
C 2 0C 2 0 -d 4 2

C22

C26

C28
C23
FCit1a8n o

C27
C25

4000 4000
C24
C21
C19

C29
M illiv o lt s

M illiv o lt s
C16

C17
C15

C30
C14

C31
C13
C12

3000 3000
C32
C33
C11

C34

C35

2000 2000
C36
C10

C37

C38

C39
C9

1000 1000
C8

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Minutes

Figura 19 Cromatograma da análise de n-alcanos, alcanos isoprenóides e MCNR obtido em um


GC-FID.
Fonte: Autor, 2008.

A fração injetada para análise é a fração alifática. A identificação dos compostos


analisados é feita através da comparação dos tempos de retenção dos cromatogramas das
amostras com um cromatograma contendo os padrões utilizados. A quantificação dos
compostos é feita pela comparação dos fatores de resposta obtido dos compostos em relação
aos fatores de resposta e a concentração dos padrões da curva.
38

A interpretação dos resultados segue as indicações colocadas nos itens 2.1, 2.2 e 2.3 (se
há n-alcanos, quais são e em que concentração estão presentes; as relações entre pristano,
fitano , C17 e C18, para definir grau de degradação e origem; MCNR, etc).

4.2.5 Análise dos Compostos Policíclicos Aromáticos

A análise dos CPAs é realizada em um cromatógrafo gasoso acoplado a um


espectrômetro de massas (GC-MS) e um injetor que opere em modo Splitless. A coluna
utilizada tem 30m de comprimento e 0,25mm de diâmetro interno, revestida com filme de
0,25m de 5% fenil – 95% dimetilsiloxano. O espectrômetro de massas opera em modo de
monitoramento seletivo de íons.
A fração injetada para análise é a fração aromática. A calibração dos compostos é obtida
utilizando uma curva contendo pelo menos seis pontos de diferentes concentrações de uma
mistura contendo os compostos aromáticos da análise, identificados na tabela 1, e os
surrogates, com um coeficiente de correlação (r2) superior a 0,995 para todos os compostos.
A identificação dos CPAs é feita através da comparação dos tempos de retenção dos
picos nos cromatogramas das amostras com a mistura de compostos. Além dos compostos da
mistura utilizada para fazer a curva, outros foram acrescentados outros aromáticos metilados.
A calibração destes compostos utiliza os dados de outros aromáticos quimicamente mais
semelhantes, e a identificação foi feita através dos espectros de massa.
A quantificação dos CPAs se dá pela comparação dos fatores de resposta dos compostos
calibrados com os fatores de resposta de cinco compostos aromáticos deuterados, utilizados
como padrões internos (naftaleno-d8, acenafteno-d10, fenantreno-d10, criseno-d12 e perileno-
d12).
A interpretação dos resultados se dá pela somatória das concentrações dos CPAs
presentes (CPA), a somatória da concentração dos CPAs contendo dois e três anéis
aromáticos (CPA2-3), a somatória da concentração dos CPAs contendo quatro e seis anéis
aromáticos (CPA4-6). A presença de CPAs é um indicativo da presença de petróleo no meio
ambiente. A maior concentração de aromáticos mais pesados (acima de 3 anéis aromáticos
condensados) e a ausência de aromáticos, sugerem, normalmente, introdução
predominantemente pirolítica dos CPAs (WANG et al., 1999; BOULOUBASSI; SALIOT,
1993). Na tabela 1, tem-se os CPAs analisados, e na figura 17, um cromatograma da análise.
39

Tabela 1 Relação dos CPAs analisados e seus respectivos íons moleculares.


Compostos m/z
Naftaleno 128, 127
2-Metilnaftaleno 142, 141
1-Metilnaftaleno 142, 141
Bifenil 154, 152
2,6-Dimetilnaftaleno 156, 141
Acenaftileno 152, 151
Acenafteno 162, 153
2,3,5-Trimetilnaftaleno 170, 155
Fluoreno 166, 165
Fenantreno 178, 179
Antraceno 178, 179
1-Metilfenantreno 192, 191
Fluoranteno 202, 200
Pireno 202, 200
Benzo(a)antraceno 228, 226
Criseno 228, 226
Benzo(b)fluoranteno 252, 253
Benzo(k)fluoranteno 252, 253
Benzo(e)pireno 252, 253
Benzo(a)pireno 252, 253
Perileno 252, 253
Indeno[1,2,3-c,d]pireno 276, 138
Dibenzo(a,h)antraceno 278, 279
Benzo(g,h,i)perileno 276, 138
Fonte: Silva (2005).

RT: 0.00 - 24.68


7.19 NL:
100 7.19E6
95 TIC F: MS
MS101884
R e la t iv e A b u n d a n c e

90
7.50
85
80
75
70
65
8.39
60 4.94
55
10.13 12.42
12.83
50
45 6.39

40 10.21
35
30 19.47
15.27
25 17.23
19.79
20 13.25
15
10
5
4.58 10.71 20.20 24.16
0
0 5 10 15 20
Time (min)

Figura 20 Cromatograma da análise de CPAs obtido em um GC-MS.


Fonte: Autor, 2008.
40

4.2.6 Análise dos Alcanos Policíclicos

Para resolver, identificar e quantificar os biomarcadores, utiliza-se um cromatógrafo


gasoso acoplado a um espectrômetro de massas de impacto de elétrons e quadrupolo (GC-
MS) e um injetor que opere em modo Splitless. A coluna utilizada tem 50m de comprimento e
0,32mm de diâmetro interno, revestida com filme de 0,17m de metilsiloxano contendo 5%
de fenil metilsiloxano. O espectrômetro de massas opera em modo de monitoramento seletivo
de íons.
Por não haver padrões comerciais para estes tipos de compostos, não é possível obter
uma curva de calibração para os biomarcadores de petróleo. Por esse motivo, os
biomarcadores foram identificados através dos espectros de massa de cada composto. A
quantificação é feita pela relação direta entre a área do eicoseno (utilizado como padrão
interno) e á área de cada composto. Os biomarcadores analisados estão relacionados na tabela
2.
A partir daí, procede-se o trabalho de quantificação e interpretação dos resultados
análise de biomarcadores.
Os esteranos são mais suscetíveis à biodegradação que os hopanos, o que indica que
pode se ter maiores concentrações destes últimos em amostras analisadas. A tendência à
biodegradação dos esteranos varia da seguinte forma:  20R >  20S >  20R > 
20S (HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999).
41

Tabela 2 Biomarcadores analisados, divididos por classes.


Terpanos Tricíclicos (m/z 191)   Esteranos e Diasteranos (m/z 217)
   
C20-Terpano Tricíclico   13,17-diacolestano (20S)
C21-Terpano Tricíclico   13,17-diacolestano (20R)
C23-Terpano Tricíclico   13,17-diacolestano (20S)
C24-Terpano Tricíclico   13,17diacolestano (20R)
C25-Terpano Tricíclico   24-metil-13,17-diacolestano (20S)
C26-Terpano Tricíclico   24-metil-13,17-diacolestano (20S)
    5,14,17-colestano (20S)
    24-etil-13,17-diacolestano (20S)
Terpano Tetracíclico (m/z 191)   5,14,17-colestano (20R)
    5,14,17-colestano (20S)
C24-Terpano Tetracíclico   24-metil-13,17-diacolestano (20R)
    5,14,17-colestano (20R)
    24-etil-13,17-diacolestano (20R)
Hopanos (m/z 191)   24-etil-13,17-diacolestano (20S)
    24-metil-5,14,17-colestano (20S)
C27-18(H)-22,29,30-Trisnorneohopano (Ts)   24-etil-13,17-diacolestano (20R)
22,29,30-Trisnorhop-17(21)-eno (Te)   24-metil-5,14,17-colestano (20R)
C27-18(H)-22,29,30-Trisnorhopano (Tm)   24-metil-5,14,17-colestano (20S)
17(H)-22,29,30-Trisnorhopano (T)   24-metil-5,14,17-colestano (20R)
C29-17,21 Norhopano   24-etil-5,14,17-colestano (20S)
C29-17,21 Norhopano   24-etil-5,14,17-colestano (20S)
C30-17,21 Hopano   24-etil-5,14,17-colestano (20S)
C30-17,21 Hopano   24-etil-5,14,17-colestano (20R)
C31-17,21 Homohopano (22S)  
C31-17,21 Homohopano (22R)  
C30-17,21 Hopano  
C32-17,21 Homohopano (22S)  
C32-17,21 Homohopano (22R)  
C33-17,21 Homohopano (22S)  
C33-17,21 Homohopano (22R)  
C34-17,21 Homohopano (22S)  
C34-17,21 Homohopano (22R)  
C35-17,21 Homohopano (22S)  
C35-17,21 Homohopano (22R)    
Fonte: Silva (2005).
42

A relação entre os esteranos 24-etil-5,14,17-colestano 20S e 20R e os 24-etil-


5,14,17-colestano 20S e 20R, pela razão /, permite avaliar se há predominância
de óleos maturos no ambiente, com maior tendência à degradação (SILVA, 2005).
Outra razão obtida com os esteranos 24-etil-5,14,17-colestano 20S e 20R, C29-
 (S/S + R), fornece informação quanto à maturidade do óleo. Valores acima de 0,50
indicam maior concentração do epímero 20S, o que sugere óleo maturo.
Há outras razão entre biomarcadores, tais como  C30/ C29, /(), etc.,
que também são frequentemente utilizadas para identificar e caracterizar um óleo (SEIFERT;
MOLDOWAN, 1978; PHILP, 1985; ABOUL-KASSIM; SIMONEIT, 1996; VOLKMAN et
al., 1997; HAUSER; DASHTI; KHAN, 1999; HOSTETTLER et al. 1999). A figura 18
mostra a análise de Alcanos policíclicos. As figura 19 e 20 são cromatogramas de amostras de
sedimento comparadas com amostras de óleo, nas m/z 191 e 217, respectivamente.
S U_ C2 0
I S _ C1 6

S U_ C2 4

S U_ C3 6
NC3 1
NC2 9

NC3 3
NC2 7
NC2 8

NC3 0
NC2 0

NC2 6

NC3 2
NC2 2
NC2 3
P NH CY 1 8

NC1 9
NC1 3

NC1 4

P NR CI 1 7

NC3 5
NC1 5

NC1 6

Figura 21 Cromatograma da análise de Alcanos Policíclicos em um GC-MS.


Fonte: Autor, 2008.
T R 2 0

T R 2 1
T R 1 9

D I A 2 7 S
DI A2 7 S T R 2 2 T R 2 0

D I A 2 7 R
DI A2 7 R T R 2 1
T R 2 3
D I A 2 7 S 2
DI A2 7 S 2 T R 2 2
T R 2 4
D I A 2 7 R 2

T R 2 3
DI A2 7 R2
T R 2 5 BA T R 2 4

T T R R 2 T 2 6 E 6 BT A 2 4 T R 2 5 BA

C 2 7 S
C2 7 S
BB_ D2 9 S B B _ D 2 9 S T E T 2 4
TT RR 22 66 AB
C 2 7 B B S
C2 7 BBS

C2 7 R C 2 7 R

TT RR 22 88 BA
T R 2 8 A
T R 2 8 B
T R 2 9 A
T R 2 9 B T R 2 9 A

Fonte: Autor, 2008.


Fonte: Autor, 2008.
T R 2 9 B

C 2 8 S T S T S
C2 8 S
C2 8 BBR C 2 8 B B R T M T M
T R 3 0 A

amostra de sedimento marinho.


C2 8 BBS C 2 8 B B S T R 3 0 B T R 3 0 B
uma amostra de sedimento marinho.

C2 8 R N O R 2 5 H H 2 9
C 2 8 R C 2 9 T S
D H 3 0
C 2 9 T S H 2 9
H 3 0
C 2 9 S M 2 9
C2 9 S M 3 0
N O R 3 0 H H 3 0
C2 9 BBR C 2 9 B B R M 3 0 H 3 1 S
H 3 1 R
C2 9 BBS C 2 9 B B S G A M

H 3 2 S
H 3 2 R
H H3 31 1S R
G A M
C2 9 R
C 2 9 R H 3 3 S
H 3 2 S H 3 3 R
H 3 2 R
H 3 4 S

H 3 3 S H 3 4 R

H 3 3 R

Figura 23 Cromatograma de m/z 217 (esteranos). Acima, amostra de óleo, e abaixo, uma
H 3 5 S
H 3 5 R
Figura 22 Cromatograma de m/z 191 (terpanos e hopanos). Acima, amostra de óleo, e abaixo,

H 3 4 S
H 3 4 R
43

H 3 5 S
H 3 5 R
44

5. CONCLUSÃO

A análise de alcanos alifáticos, isoprenóides e MCNR auxilia na determinação do grau


de degradação das amostras e se a origem do óleo é biogênica ou petrogênica. Um
cromatógrafo gasoso com detector FID é apropriado para estas análises, já que os compostos
de interesse não coeluirão, além de permitir a quantificação de áreas grandes do
cromatograma como se fossem um grupo só (MCNR, por exemplo).
Os CPAs mostram os danos ambientais causados por um derramamento, já que são
compostos mutagênicos e carcinogênicos. A análise de CPAs exige um GC-MS, pois muitos
dos compostos não separarão na coluna cromatográfica devido às semelhanças em suas
propriedades físicas. A separação e identificação de compostos coeluídos é possível através da
identificação do íon base no espectro de massas dos mesmos.
Os alcanos policíclicos são excelentes traçadores da contaminação, pois podem
identificar a origem do de um óleo derramado, bem como o tipo de óleo e seu destino no
ambiente. A análise é feita utilizando-se um GC-MS pois é o único equipamento que permite
a visualização de alguns íons no cromatograma, como ocorre nas figuras 18, 19 e 20. A
primeira mostra o cromatograma da amostra com todos os compostos. Na segunda, apenas os
compostos de m/z 191, e na terceira, apenas os compostos de m/z 217.
Com base no que foi estudado durante o desenvolvimento deste trabalho, pode-se
afirmar com certeza que a avaliação dos marcadores geoquímicos presentes no petróleo é
essencial para que se possa determinar o responsável por uma possível contaminação de
mangues, rios e oceanos, a idade da contaminação e quais medidas devem ser tomadas para a
remediação da área contaminada.
45

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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