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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE VETERINÁRIA

AMINOÁCIDOS NA NUTRIÇÃO DE PEIXES

Edgar de Alencar Teixeira1, Lincoln Pimentel Ribeiro2

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Mestrando em Zootecnia, Departamento de Zootecnia,
Escola de Veterinária, UFMG, Brasil
E-mail: edgarvet@hotmail.com
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Professor Adjunto, Departamento de Zootecnia,
Escola de Veterinária, UFMG, Brasil

1. INTRODUÇÃO

Com a estagnação da quantidade de pescado proveniente da captura, a aquacultura


deverá assumir, neste novo milênio, a responsabilidade em atender a demanda de
produtos aqüícolas, através do aumento da utilização de espécies e tecnologias
adequadas à piscicultura.
Em resposta a essa crescente demanda, a aquacultura tem avançado como a
atividade zootécnica de mais rápido crescimento no mundo (Tsukamoto, Takahashi,
1992). Na ultima década, a produção mundial da aqüacultura aumentou de 6,7 para
20,9 milhões de toneladas (Tacon, 2001).
Para que a atividade continue seu crescimento é necessário que esta seja
sustentável econômico e ambientalmente (Cho et al., 1994; Watanabe et al., 1991).
E que, além disso, seja embasada nos conceitos de segurança alimentar e
desenvolvimento socioeconômico (Valenti, 2000; citado por Portz, 2001a).
A piscicultura exige a adoção de sistemas de criação manejados em regimes
intensivos, onde a nutrição desempenha o papel mais importante, exigindo sérios
esforços da pesquisa para a geração de tecnologias adequadas. As poucas
pesquisas até então realizadas no país sobre o assunto tratam, em sua maioria, de
adaptações de resultados de pesquisas internacionais às nossas condições (Portz,
2001a).
O aumento crescente da indústria animal tem forçado a redução dos efeitos dos
sistemas intensivos de produção sobre o ambiente. A preocupação com os
aminoácidos, até as recentes considerações sobre a resposta animal, estava restrita
à maximização da eficiência de produção, mas pouca ou nenhuma atenção era dada
à redução da excreção de material nitrogenado (Braga, Baião, 2001).
Existe uma preocupação dentro do contesto da aquacultura moderna em relação
aos sistemas intensivos de produção – a sustentabilidade e o impacto ambiental ou
poluição causada por eles. Nestes sistemas a densidade de peixes por volume de
água é muito alta, exigindo o uso de rações completas, de alta densidade nutricional
e com ingredientes de alta digestibilidade e palatabilidade para se produzir o mínimo
de resíduos provenientes do desperdício de ração e da excreção elevada de fósforo

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e nitrogênio (Diana et al., 1997 ; Seim et al., 1997 citados por Portz, 2001; Watanabe
et al., 1991; Colt, Montgomery, 1991).
No aspecto econômico, devido ao alto custo da alimentação, existe uma pressão
considerável para a redução dos excessos nas formulações, principalmente dos
nutrientes de preço mais elevado (McNab, 1994 citado por Braga, Baião, 2001).
O desenvolvimento de rações de alto valor nutricional e ambientalmente corretas
que garantam a economicidade das criações, depende do aprofundamento dos
conhecimentos sobre as espécies produzidas, principalmente em relação ao manejo
alimentar e exigências nutricionais (Portz, 2001a).
O objetivo desse trabalho é demonstrar a importância dos aminoácidos na nutrição
de peixes.

2. REVISÃO DA LITERATURA

As proteínas são os principais constituintes orgânicos dos tecidos dos peixes,


perfazendo 65 a 75% da matéria seca corporal (Portz, 2001a).
A proteína ingerida é hidrolisada em aminoácidos livres, dipeptídeos e tripeptídeos
pelas proteases secretadas no trato gastrointestinal. Esses produtos são absorvidos
pelas células da mucosa onde ocorre a digestão dos pequenos peptídeos; somente
aminoácidos chegam a circulação portal como produtos da digestão da proteína
(Murai et al., 1987; citado pelo Nutrient..., 1993). Algumas evidências mostram que
pequenas quantidades de proteínas intactas podem ser absorvidas pela parede
intestinal por um processo semelhante a pinocitose, porém não se sabe se a
quantidade de proteína absorvida desse modo é nutricionalmente significativa (Ash,
1985 citado pelo Nutrient..., 1993).
A composição de aminoácidos de proteínas, principalmente das proteínas dietéticas,
é marcadamente diferente. Alguns alimentos como a gelatina (proteínas derivadas
do colágeno) ou o glúten de milho, por exemplo, são bastante deficientes em um ou
mais aminoácidos. Outros, como a farinha de peixes, possuem um balanço
aminoacítico mais adequado para atender as exigências dos peixes. Portanto a
capacidade dos alimentos protéicos em suprir os requisitos nutricionais de
aminoácidos para peixes é muito variável (Nutrient..., 1993). E sua avaliação deve
ser feita em função da composição e digestibilidade dos aminoácidos nele presente
(Portz, 2001b).
Uma ingestão regular de proteína é necessária, pois os aminoácidos são exigidos
continuamente pelo organismo do peixe, tanto para formar novas proteínas –
crescimento e reprodução – quanto para repor proteínas que são degradadas no
corpo – manutenção de tecidos e órgãos (Portz, 2001a). Uma quantidade de
proteína inadequada na dieta resulta na redução ou parada do crescimento e na
perda de peso, devido à degradação de proteína dos tecidos, feita com o objetivo de
manter as funções vitais (Millward, 1989). Se há excesso no fornecimento de
proteína, essa é utilizada como fonte de energia ou simplesmente eliminada
(Stefeens, 1989 citado por Portz, 2001a).
O requisito de proteína na dieta envolve dois componentes: a necessidade de
aminoácidos essenciais, os quais não podem ser sintetizados a partir de outros

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aminoácidos e que são fundamentais para a deposição de proteínas e produção de


diversos compostos com funções metabólicas; e o suprimento dos aminoácidos não
essenciais ou de nitrogênio suficiente para que estes possam ser sintetizados pelo
peixe. Vale lembrar que a síntese de aminoácidos não essenciais requer gasto de
energia, e que o fornecimento de aminoácidos essenciais e não essenciais em
proporções adequadas proporciona maior eficiência na utilização da proteína e
energia contidas na dieta (Nutrient...,1993). É recomendado que o nível de
aminoácidos não essenciais da dieta de tilápias não exceda 60% do total de
aminoácidos desta (Stickney, 1997).
O balanço ou a relação de aminoácidos e a adequada relação proteína
digestível:energia digestível são a base do requisito protéico para peixes, uma vez
que quando há excesso de algum aminoácido e/ou deficiência de energia
disponíveis para a síntese de proteínas este é catabolisado para a geração de
energia ou eliminado na forma de amônia. Em peixes o excesso de proteína ou
aminoácido não pode ser estocado, uma vez que estes são utilizados
preferencialmente como fonte de energia ao invés de lipídeos e carboidratos
(Wilson, 1989 citado pelo Nutrient...,1989).
No caso de fontes de baixo valor biológico, os níveis de proteína na forma de
nitrogênio não protéico são altos. Quando ingeridos pelos peixes, esses alimentos
aumentam a produção e excreção de amônia, levando a baixa produtividade e
queda na qualidade da água (Cho, 1992 ; Portz, 2001b).
Quando comparados aos demais vertebrados, os peixes possuem um sistema
digestivo simples e pouco desenvolvido. Como conseqüência, têm pouca habilidade
em utilizar carboidratos como fonte de energia exigindo dietas com altos níveis de
proteína (Millward,1989).
A formulação de dietas para peixes conta com o suporte das informações contidas
no Nutrient... (1993), entretanto inúmeras espécies de peixes com interesse
zootécnico ainda não possuem informações precisas no que se refere a requisitos
nutricionais (Fagbenro, 2000).
Os valores encontrados na literatura sugerem uma grande diferença existente entre
as espécies em seus requisitos de certos aminoácidos essenciais (Fagbenro, 2000;
Nutrient..., 1993). E, mesmo na avaliação de um único aminoácido numa mesma
espécie ocorrem diferenças marcantes nos resultados, como é o caso da truta arco-
íres. Algumas destas diferenças podem ser atribuídas a distintas fases de
crescimento, as variáveis fontes de aminoácidos, a diferentes consumos e outros
aspectos metodológicos (Nutrient..., 1993).
Assim como para outros animais domésticos, as rações para peixes foram
formuladas baseadas em proteína bruta por muitos anos. Entretanto, quando os
aminoácidos sintéticos começaram a entrar no mercado, os nutricionistas sentiram a
necessidade de considerar a formulação de dietas baseadas nos requisitos dos
animais por aminoácidos essenciais (Wilson, 1989 citado por Portz, 2001b; Parsons;
Baker, 1994). As dietas práticas para esses animais continham considerável
excesso de vários desses aminoácidos. Isso representava uma fonte de energia
cara, além de ser prejudicial para o ambiente aquático devido à poluição causada
pela excreção elevada de nitrogênio (Parsons, Baker, 1994).

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As dietas deveriam, então, ser formuladas combinando fontes de proteína e


aminoácidos que proporcionassem um perfeito balanço aminoacídico numa
porcentagem mínima de proteína bruta (Fancher, Jensen, 1989).
Peixes não têm requisitos absolutos de proteína, mas de aminoácidos que compõe a
proteína (Oliva-Teles, 2000). Dez aminoácidos são apontados como essenciais para
todos os peixes estudados: arginina, isoleucina, leucina, lisina, metionina,
fenilalanina, treonina, triptofano e valina (Nutrient..., 1993; Oliva-Teles, 2000). No
sentido de corrigir o perfil destes aminoácidos nas dietas, o uso de aminoácidos
sintéticos tem proporcionado resultados contraditórios, independentes do hábito
alimentar dos peixes. A menor utilização desses aminoácidos é atribuída a sua
rápida absorção e elevação dos níveis plasmáticos, atingindo o pico antes dos
aminoácidos ligados à proteína do alimento e, conseqüentemente, aumentando a
excreção de nitrogênio (Yamada et al., 1981 citado por Furuya, 2001).
Segundo Tantikitti e March (1995), as perdas metabólicas de nitrogênio de dietas
suplementadas com aminoácidos sintéticos podem ser reduzidas através do menor
intervalo de arraçoamento, o que mantêm a concentração plasmática mais estável e
compatível com a capacidade de sua utilização. Além disso, os grânulos da ração
devem apresentar elevada estabilidade na água para reduzir as perdas de
aminoácidos sintéticos por lixiviação, que ocorrem em maiores proporções que as
perdas dos aminoácidos ligados à proteína (Zarete, Lovell, 1997).
A eficiência de utilização dos aminoácidos está estreitamente relacionada com o seu
balanceamento, sendo que a simples suplementação com lisina ou metionina nem
sempre têm gerado resultados satisfatórios, necessitando da inclusão de vários
aminoácidos sintéticos para permitir adequadas respostas no desempenho (Furuya,
2001).
Os primeiros estudos envolvendo aminoácidos na nutrição de peixes foram
realizados na década de 50 com salmões (Oncorhynchus tshawytscha). As primeiras
dietas para estudos de aminoácidos foram formuladas simulando a proteína de ovos
de galinhas, ovos de salmão e proteína de alevinos de yolk-sac (Halver, 1957;
Wilson, 1994). A dieta baseada na proteína do ovo de galinha foi a que proporcionou
a melhor taxa de crescimento e eficiência na utilização do alimento, sendo, então,
utilizada para determinar os requisitos de aminoácidos para os salmões (Halver et
al., 1957; Wilson, 1994).
Muitos trabalhos foram realizados utilizando a metodologia desenvolvida por Halver
e colaboradores para determinar as exigências nutricionais de aminoácidos em
peixes. Essa metodologia consiste na utilização de uma dieta referencia que contem
cada um dos aminoácidos cristalinos ou uma mistura de caseína, gelatina e
aminoácidos simulando a proteína do ovo de galinha e dietas contendo o mesmo
perfil desta exceto para o aminoácido testado, o qual é adicionado em níveis
gradativos. Tal procedimento tem sido usado com sucesso com diversas espécies
como alguns salmões, enguias, tilápia nilótica e truta arco-íres (Mertz, 1972 citado
por Wilson, 1994).
Outras pesquisas têm utilizado dietas semipurificadas suplementadas com
aminoácidos livres, onde normalmente são incluídos ingredientes que possuem
conhecida deficiência num determinado aminoácido como principal fonte de
proteína, por exemplo, o glúten de milho (Halver et al., 1957; Ketola, 1983 citados
por Wilson, 1994). Estas dietas são formuladas com ingredientes normalmente

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empregados em rações, permitindo uma avaliação mais precisa utilizando proteínas


intactas em detrimento aos aminoácidos livres (Luquet, Sabaut, 1974; Jackson,
Capper, 1982; Walton et al., 1984a citados por Wilson, 1994).
Para estimar os requisitos nutricionais dos aminoácidos através dessas dietas testes
é necessário mensurar o crescimento (ganho de peso) dos peixes através das
tradicionais curvas de dose-resposta determinando o ponto ótimo de inclusão do
aminoácido testado ou ponto de inflexão da curva de crescimento (break-point).
Normalmente se observa um aumento linear de ganho de peso até o ponto ótimo de
inclusão, que corresponderia à exigência nutricional para o aminoácido estudado
(Wilson, 1994).
Vários métodos são usados para determinar esse ponto ótimo (break-point). As
exigências para salmão (revisado por Mertz,1972), carpa comum e enguia japonesa
(Nose, 1979 citado por Wilson, 1994) foram estimadas através da determinação de
um ponto de inflexão sem o auxilio de análises estatísticas, enquanto outros
utilizaram análises de regressão para gerar o ponto ótimo (Harding et al., 1977;
Akiyama et al., 1985a citados por Wilson, 1994). Wilson et al. (1980) adotou o
modelo desenvolvido por Robbins et al. Em 1979 (broken-line model). A definição do
modelo mais adequado só ocorreu após o trabalho de Santiago e Lovell em 1988,
que ao comparar o modelo de Robbins e uma análise de regressão quadrática para
estimar os requisitos para tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) observou um menor
erro com a utilização da regressão para a maioria dos aminoácidos. Entretanto, a
maioria dos trabalhos realizados na década de 80 e início da década de 90
adotaram o modelo de Robbins (broken-line model) (Wilson, 1994).
Existem alguns problemas que diminuem a acurácea na estimativa de requisitos de
aminoácidos para peixes baseados na avaliação das curvas de crescimento
discutidos por diferentes autores: a pequena precisão da interpretação das curvas
de crescimento, por exemplo, a determinação do ponto ótimo é bastante subjetiva;
os dados de crescimento observados com dietas baseadas em aminoácidos livres
são normalmente menores que os obtidos com dietas formuladas com proteínas
intactas; e existe a possibilidade de alguns aminoácidos livres utilizados na ração
serem lixiviados durante os estudos de alimentação (Wilson, 1994).
Algumas investigações observaram uma alta correlação entre os níveis de
aminoácidos livres no sangue e nos músculos com a ingestão de aminoácidos pelo
peixe. Com isso surgiu a hipótese de que a concentração de aminoácidos no soro e
nos tecidos se manterá baixa até que sejam atendidas as exigências destes e chega
a altos níveis quando há ingestão excessiva de aminoácidos. Apenas em poucos
casos essa técnica confirmou as exigências desses nutrientes. Por exemplo, dos
requisitos dos dez aminoácidos essenciais estimados para o bagre do canal, apenas
os níveis de lisina, treonina, histidina e metionina do soro confirmaram os requisitos
estimados com base nos dados de ganho de peso (Wilson, 1994).
As respostas às dietas teste também foram mensuradas através da avaliação da
oxidação dos aminoácidos. Essa técnica se baseia na hipótese de que quando um
aminoácido está deficiente na dieta, a maior parte deste será utilizada para a síntese
de proteínas e uma pequena parcela será oxidada a dióxido de carbono,
considerando que quando um aminoácido é fornecido em excesso, e este não é um
fator limitante para a síntese de proteínas, uma maior porção deste será oxidada.
Quando o nível de ingestão de um aminoácido leva a um aumento marcante na sua

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oxidação produzindo maior quantidade de dióxido de carbono, este deverá, então,


ser um indicador direto do requisito para esse aminoácido (Wilson, 1994).
Essa técnica obteve sucesso limitado à lisina quando utilizado num trabalho com
trutas. Alguns autores concluíram que a metodologia de oxidação não é adequada
para determinar os requisitos nutricionais de aminoácidos para peixes (Wilson,
1994).
Diversos pesquisadores têm observado aumento no crescimento e na eficiência
alimentar quando dietas experimentais para salmonídeos foram suplementadas com
aminoácidos essenciais no intuito de simular os níveis destes encontrados na
proteína isolada de peixes, nos seus ovos ou na sua composição corporal (Rumsey;
Ketola, 1975; Arai, 1981; Ketola, 1982; Ogata et al., 1983 citados por Wilson; 1994).
Os requisitos nutricionais de aminoácidos essenciais para algumas espécies de
peixes têm apresentado altas correlações com o seu perfil corporal desses
aminoácidos (Cowey, Tacon, 1983; Wilson, Poe, 1985 citados por Wilson; 1994).
Estas informações podem ser utilizadas no desenvolvimento de dietas testes para
peixes cujas exigências desses aminoácidos ainda não estão bem estabelecidas
(Wilson; 1994).
Com base nas observações em outros animais, Cowey e Tacon (1983) citados por
Wilson (1994) sugeriram que os requisitos de aminoácidos essenciais para peixes
devem ser orientados pela relação desses aminoácidos presentes nos tecidos
musculares do peixe. Eles encontraram uma alta correlação entre os requisitos de
aminoácidos encontrados para carpa, utilizando dietas teste, e os requisitos
baseados na composição corporal.
Outros autores também observaram que a composição de aminoácidos da carcaça
de peixes, normalmente possui alta correlação com o requisito nutricional destes
(Tacon, Cowey, 1985; Mambrini, Kaushik, 1995; revisados por Oliva-Teles, 2000).
Wilson e Poe (1985) citados por Wilson (1994)obtiveram, para o bagre do canal, um
coeficiente de regressão de 0,96 quando os requisitos de aminoácidos essenciais
foram estimados através da composição corporal. Entretanto, quando esses
requisitos foram obtidos através da composição dos ovos, o coeficiente de
regressão foi de apenas 0,68 (Wilson, 1994; Das et al., 1996; Fagbenro, 2000).
A relação entre composição tecidual de aminoácidos e a exigência destes discutidas
até agora são muito similares ao conceito de proteína ideal utilizado para estimar
requisitos nutricionais de aminoácidos para suínos (Protein..., 1981).
A utilização do conceito de proteína ideal para estimar requisitos de aminoácidos
essenciais em peixes foi sugerida por Wilson 1991 citado por Fagbenro, 2000. Esse
conceito se baseia na idéia de que existe uma correlação direta entre a composição
tecidual de aminoácidos e a exigência nutricional destes para esse animal. Como a
lisina é normalmente o primeiro aminoácido limitante na maioria dos casos, os
requisitos dos outros aminoácidos essenciais são expressos em valores relativos à
lisina. Então, apenas com o conhecimento do requisito de lisina e a composição
corporal de aminoácidos de uma determinada espécie, é possível estimar os
requisitos para os demais aminoácidos essenciais relativos à exigência de lisina
(Wilson, 1994; Fagbenro, 2000).
Quando se aplica o conceito de proteína ideal, o requisito dos aminoácidos
essenciais é expresso em relação a um aminoácido referência, normalmente, a

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lisina. A qual, segundo Parsons e Baker (1994), é usado como referencia por ser
normalmente o primeiro aminoácido limitante, por existirem um grande numero de
informações sobre a sua concentração nos alimentos, digestibilidade e exigências
para os animais e pelo fato da lisina ter uma única função no organismo animal, a
deposição de proteína corporal.
Exigências de aminoácidos essenciais estimadas por dose resposta, deposição de
proteína e pelo método da proteína ideal apresentam resultados semelhantes
(Tibaldi, et al., 1996; citados por Oliva-Teles, 2000). Wilson (1991) citado por
Fagbenro (2000) aplicou o conceito de proteína ideal para estimar o requisito
nutricional de aminoácidos essenciais para Ictalurus punctatus e notou que os
valores estimados foram semelhantes aos determinados por métodos empíricos.
Fagbenro (2000) ao utilizar o conceito de proteína ideal para estimar o requisito de
aminoácidos essenciais para tilápia (Oreochromis niloticus) encontrou uma alta
correlação (r = 0,92764) com os valores determinados empiricamente por Santiago e
Lovell (1988) e (r = 0,924262) com a composição corporal de aminoácidos
essenciais.
O maior beneficio da aplicação do conceito de proteína ideal na formulação de
rações é a simplificação do processo, visto que estabelecida a exigência de lisina, as
exigências para os demais aminoácidos são facilmente calculadas (Chung, Baker,
1992; Parsons, Baker, 1994).
Essa metodologia demanda menos tempo e menor custo na determinação de
exigências de aminoácidos em relação às tradicionais (Wilson, 1994). Além de
possibilitar a formulação de dietas minimizando o excesso de aminoácidos (Parsons,
Baker, 1994).
Esta é uma forma indireta de estabelecer as exigências dos aminoácidos de grande
importância, principalmente pela falta de informações precisas sobre os requisitos de
muitos aminoácidos para diversas espécies (Sakomura, Silva, 1988).

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

• Para a formulação de dietas destinadas a aquacultura é de estrema importância


o pleno conhecimento dos requisitos nutricionais de aminoácidos da espécie a
ser alimentada;
• A estimativa das exigências nutricionais de aminoácidos pode ser feita de forma
simples e menos onerosa utilizando-se o conceito de proteína ideal, desde que o
requisito de lisina já esteja determinado;
• A utilização do conceito de proteína ideal na formulação de rações para peixes,
além de tecnicamente possível é economicamente desejável;

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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