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Piezoelétrico

Introdução:

A forma mais adequada de introduzir qualquer conversa sobre energia,


geração da mesma e tecnologia é entender os conceitos por trás e sua gigantesca
importância para o desenvolvimento de qualquer civilização. Como disse, Albert
Einstein: “Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa
humanidade”. Em outras épocas, viajar de New York para Liverpool demorava
meses com barcos a vela. A posteriori, duas semanas, com o advento da propulsão
a vapor e, atualmente, conseguimos ir a qualquer lugar do mundo em menos de 24
horas. O maior avanço da tecnologia foi a conquista da geografia e desenvolvimento
de energia o que possibilitou termos mais tempo e esse é o ativo mais precioso que
existe. A única coisa que impede nosso progresso civilizacional é a energia, logo
para analisar a quão desenvolvida é uma civilização não é necessário olhar IDH,
PIB, alfabetização, saúde, nada disso, basta observar a energia.

Na história da sociedade, a energia elétrica, desde a sua descoberta, sempre


ocupou lugar de destaque, levando em consideração a dependência da qualidade de
vida, do progresso econômico, da qualidade do produto e dos serviços elétricos,
esta é responsável por propiciar à sociedade emprego, produtividade e
desenvolvimento, e aos seus cidadãos conforto, bem-estar e praticidade, o que torna
o mundo cada vez mais dependente de seu municiamento e mais vulnerável às
falhas do sistema elétrico. Por outro lado, este vínculo que se estabeleceu entre
usuários e provedores vem se manifestando em exigência por melhores serviços e
infraestrutura, sinalizando para uma maior diversificação da matriz energética. Além
disso, os crescimentos da população mundial, da economia nos países em
desenvolvimento e industrial implicam, necessariamente, no aumento do consumo
de energia, porém, a produção de energia deve seguir os conceitos de
desenvolvimento sustentável e de responsabilidade ambiental.

Devido a emissão de dióxido de carbono (CO2), muitas nações com o intuito


reduzir esse efeito que provoca o aquecimento global, vêm buscando que algumas
ações básicas sejam desenvolvidas, como reformar os setores de energia e
transportes, eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados, limitar as
emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos e
promover o uso de fontes energéticas renováveis.

Atualmente, as formas de geração de energia são baseadas em combustíveis


fósseis entre outras formas agressivas ao meio ambiente. Entretanto, já foram
elaboradas e instaladas novas formas de gerar energia que causem poucas
consequências ao ambiente, como a eólica, a fotovoltaica ou a maremotriz,
entretanto é fundamental seguir inovando e buscando novas alternativas, dessa
forma, a piezeletricidade pode auxiliar nessa diversificação. Esta forma de energia
se caracteriza pela transformação de energia mecânica em energia elétrica e vice-
versa através de cristais com propriedade piezoelétrica que podem ser achados na
natureza ou desenvolvidos artificialmente. Nos últimos anos, está forma de gerar
energia vem sendo aplicada em diversas inovações tecnológicas para
desenvolvimento de sensores e atuadores e outras várias engenharias.

Fundamentação teórica:

O efeito piezoelétrico é a capacidade que alguns cristais possuem de


transformar energia mecânica em energia elétrica e vice-versa, ou seja, estes
cristais agem como transdutores. Essa palavra é originária do grego e quer dizer
“eletricidade por pressão” (piezo significa pressão ou apertar em grego). Esse efeito
foi descoberto em 1880 pelos irmãos Pierre e Jacques Curie, que na época,
analisavam o processo de piroeletricidade, fenômeno relacionado a propriedade que
alguns materiais possuem de gerar eletricidade, quando são aquecidos ou
resfriados. Na ocasião, os irmãos, através de experimentos, constataram que certos
tipos de cristais, quando tracionados ou comprimidos, sua estrutura cristalina em
certas direções apresentavam cargas positivas e negativas em algumas partes da
superfície do cristal. Ao fenômeno verificado deram o nome de efeito piezoelétrico
direto. Os irmãos Curie verificaram que cristais de turmalina, de quartzo e de topázio
obedeciam a essa experimentação.

Já em 1881, Jonas Ferdinand Gabriel Lippmann, utilizou princípios da


termodinâmica para deduzir o efeito piezoelétrico inverso. Os irmãos Curie tão logo
provaram o efeito inverso. Dessa forma, o efeito inverso é a produção de uma
tensão mecânica (chamada de deformação do cristal) quando aplicada uma carga
elétrica no cristal. A posteriori, vários estudos foram realizados com a finalidade de
determinar quais cristais tinham as propriedades piezoelétricas, sendo possível
catalogar 20 categorias de cristais no ano de 1910, resultando no lançamento do
livro de Woldemar Voigt Lehrbuch der Kristallphysik (Textbook no Crystal Física) que
além de registrar as espécimes de cristais, definiu as constantes piezoelétricas.

É importante ressaltar que efeito piezoelétrico acontece em cristais que não


apresentam simetria central, dessa forma, esse efeito explica que a resposta do
material a um estímulo externo é assimétrica. Contudo, este fenômeno acontece em
elementos puros e isso se deve a distribuição eletrônica, alterada devido ao estímulo
externo.

No estado natural, os cristais apresentam todas as cargas elétricas positivas


e negativas igualmente dispostas, resultando na neutralidade da carga total. O efeito
piezoelétrico acontece apenas em cristais que contêm um eixo polar.

Como vimos, o efeito piezoelétrico pode ser direto ou inverso. O efeito direto
acontece quando uma força mecânica é aplicada a um cristal, dessa forma,
acontece o deslocamento da posição relativa das cargas positivas e negativas em
algumas direções da estrutura do cristal e então, estes geram um pulsos elétricos.
Já o efeito inverso, como o próprio nome sugere, acontece quando um campo
elétrico é aplicado no cristal, este vibra com a frequência da descarga elétrica e
dessa forma, é produzida uma tensão mecânica no cristal.

Os materiais piezoelétricos naturais mais usados são cristais de quartzo,


turmalina, sal de Rochelle e topázio. Há materiais piezoelétricos que não
apresentam essa propriedade naturalmente, chamados de sintéticos, materiais estes
que passam por um processo chamado polarização (poling) para obterem uma
característica piezoelétrica. Podemos mencionar o titanato-zirconato de chumbo
(PZT), titanato de chumbo (PbTiO2), zirconato de chumbo (PbZrO3) e titanato de
bário (BaTiO3). O material piezoelétrico que é mais usado para transformar
vibrações mecânicas em energia útil é a cerâmica de titanato zirconato de chumbo,
PZT. Todavia, o PZT demonstra limitações a deformações, sendo considerado frágil.

Estado da arte:
A primeira aplicação para o efeito piezoelétrico foi proposta justamente por
Pierre e Jacques Currie, propondo que os cristais que apresentassem o efeito
fossem usados na aferição de correntes elétricas de baixas intensidade. Alguns
anos mais tarde, durante o período da primeira guerra mundial, Paul Langevin
utilizou os conceitos de piezoeletricidade e escritos de Leonardo da Vinci para criar a
primeira invenção baseada nesse efeito, um detector ultrassônico de submarino.
Baseava-se na construção de um transdutor que continha camadas de quartzo
prensado entre duas placas de metal e utilizava tanto no efeito piezoelétrico direto
quanto no efeito piezoelétrico inverso, ou seja, emitia-se ondas acústicas na água e
recebia-se de volta o sinal que emitiu, transformando-o em pulsos elétricos, sendo
interpretados e localizando o alvo (submarinos e navios adversários). O método
utilizado por Langevin era bastante rudimentar para os dias atuais, porém significou
um grande avanço, permitindo o aprimoramento e desenvolvimento de
equipamentos ultrassônicos e hidroacústicos existentes atualmente.

Durante o período entreguerras, Walter Guyton Cady, trabalhou no estudo


sobre ressonadores, descobrindo que cristais de quartzo conectado a um oscilador
de frequência variável vibraria quando atingisse um certo nível de frequência, isso
permitiu o desenvolvimento de osciladores com cristais de quartzo. Já no período de
segunda guerra, surgiu a necessidade de buscar novos materiais com propriedades
piezoelétricas mais eficientes, permitindo o avanço de pesquisas.

Hodiernamente, encontramos os materiais piezoelétricos em várias


aplicações como ressonadores, computadores, relógios de pulsos, filtros cerâmicos,
transdutor ultrassônico, equipamentos hidroacústicos, aparelhos de GPS,
microfones e alto-falantes, alarmes sonoros, localizadores de peixes, para gerar
tensão para ignição, gerar alta tensão, projetos de automação, produção de
aerossóis, homogeneização de misturas e até para suspensão de peças com
pressão de radiação sonora.

Recentemente, a piezoeletricidade vem sendo aplicada para avanços


tecnológicos na medicina como na ecocardiografia, litotripsia extracorpórea, para
estímulo de circulação, para obter imagens do órgãos humanos ou fazer aferição da
pressão cardíaca, através das ondas mecânicas emitidas pelos órgãos. Existem
também grandes inovações na óptica, como o desenvolvimento de impressoras a
laser, que usam o método de produzir pulsos de luz intensos de curta duração.

Por meio do efeito piezoelétrico pode se produzir o isqueiro: a faísca elétrica é


criada quando a mola do acendedor bate no elemento piezoelétrico (compressão do
cristal) e então, é gerada uma diferença do potencial. Cronômetros mais precisos
também foram desenvolvidos por intermédio do efeito inverso: campo elétrico
deformando o cristal é usado nos circuitos eletrônicos que fazem o cronômetro (mas
o efeito inverso é muito pequeno, por exemplo, 10 volts por metro produz uma
mudança de 0,001mm, para aumentar esse efeito é aplicado um campo elétrico
alternado de mesma frequência da vibração mecânica natural do cristal). Medidores
de força, pois com cristais piezoelétricos podemos transformar uma força num pulso
elétrico proporcional, ou ainda, medidores de cargas elétricas, através do efeito
inverso.

Por meio de fluxo de veículos terrestres ou pessoas também é possível gerar


energia através da tecnologia de materiais piezoelétricos, dessa forma, a fim de
converter a pressão que o tráfego de um transporte aplica à superfície por onde se
passa em energia elétrica, o efeito piezoelétrico direto é instalado. Por exemplo, em
ferrovias, os elementos piezoelétricos podem ser implementados nas travessas,
assim, a movimentação dos vagões é usada para provocar deformações e
vibrações que são transformadas em energia elétrica. Outra forma de aproveitar é
transformar a energia produzida pelo fluxo de pessoas nas ruas, calçadas, shopping,
festas e, de uma forma geral, em locais onde ocorre muita vibração, em uma fonte
de energia que pode ser explorada pelos materiais piezoelétricos para produção de
energia.

Uma das primeiras cidades do mundo a testar esta forma de energia foi a
França, onde oito módulos instalados nas calçadas da região central da cidade
produziram cerca de 60 watts de eletricidade. Na Inglaterra, um supermercado
instalou placas piezoeléctricas na entrada do estacionamento produzindo 30kw/h
apenas com a passagem de automóveis. (JULIÃO, 2010).

Há poucos anos, a National Aeronautics and Space Administration –


Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA) sugeriu a utilização de um
material piezoelétrico em asas de drones. Esse teste consiste em gerar energia por
intermédio da força de arrasto do ar que age no drone, utilizando a energia
produzida para recarregar as baterias do drone e alimentar o sistema elétrico.
Cientistas do Massachusetts Institute of Technology – Instituto de tecnologia de
Massachusetts (MIT) produziram um sensor submarino baseado na tecnologia
piezoelétrica que se realimenta sem precisar de bateria, pois colhe informações do
oceano através das ondas sonoras e as envia para a superfície, ao mesmo tempo
que usa as mesmas ondas mecânicas para produzir eletricidade para o seu sistema.
A NASA pretende usar esta tecnologia para investigar se existe água em outros
planetas ou satélites naturais.

Motivações e Objetivos:

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