Você está na página 1de 52

CRISTIAN WESLEY DE SOUZA

A HISTÓRIA DA FÍSICA DAS RADIAÇÕES

Londrina
2022
CRISTIAN WESLEY DE SOUZA

A HISTÓRIA DA FÍSICA DAS RADIAÇÕES

Trabalho de Conclusão de Disciplina de


Evolução dos Conceitos e Teorias da Física
apresentado à Universidade Estadual de
Londrina - UEL, como requisito parcial para a
obtenção da aprovação.

Orientador: Prof. Dra. Irinéa de Lourdes Batista

Londrina
2022
Sumário
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 14
2 DESENVOLVIMENTO .............................................................................. 17
2.1 A Observação dos Raios X ......................................................................... 17
2.2 A Primeira radiografia ................................................................................. 19
2.3 Os Estudos da Radioatividade .................................................................... 21
2.3.1 Becquerel e os Sais de Urânio............................................................. 23
2.3.2 Os Curie’s e o Estudo da Radioatividade............................................. 27
2.4 A Radioatividade e a Transmutação ........................................................... 32
2.4.1 Rutherford e o Estudo dos Modelos Atômicos ..................................... 35
2.4.2 Rutherford e Soody e a Natureza da Transmutação ............................ 42
2.5 A Radiação Quantizada .............................................................................. 48
2.5.1 Einstein e o Efeito Fotoelétrico ............................................................ 51
2.5.2 A Teoria Quântica da Radiação ........................................................... 55
2.5.3 Fermi e o Decaimento β....................................................................... 56
3 CONCLUSÃO ........................................................................................... 58
14

1 INTRODUÇÃO

Desde a teoria do eletromagnetismo e da teoria da termodinâmica, a


física tem tomado caminhos rumo à novas descobertas e novas teorias físicas da
chamada Física Moderna. Uma dessas áreas é a teoria das radiações, também
chamada de Física das Radiações ou Física Radiológica. A Física das Radiações é
a área da física que estuda os fenômenos físicos e químicos envolvidos com
radiação, seja na compreensão corpuscular ou ondulatória deste fenômeno.
Segundo a física nuclear brasileira Emico Okuno, professora do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo, radiação é energia em trânsito, é a forma da energia se
propagar, emitida de uma fonte e transmitida através do vácuo, do ar ou de materiais
(OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p.11)
Desde a menor frequência do espectro eletromagnético até a maior,
podemos considerar meios de propagação de energia, sendo os de menor
frequência os raios não ionizantes e os de maior frequência os raios ionizantes.
Ionização é um processo químico através do qual uma molécula ou átomo passa a
possuir ou perder elétrons.
A luz é um fenômeno que intriga a humanidade desde os antigos
gregos. Compreendida como um fenômeno da óptica, desde Arquimedes de
Siracusa (187 a.C-212 a.C), com os estudos dos espelhos ardentes, o físico italiano
Galileo Galilei (1564-1642) e a criação do primeiro telescópio usado para estudar
astros, a compreensão da óptica geométrica pelo astrônomo e matemático
neerlandês Willebrord Snellius (1580-1626) e pelo filósofo, físico e matemático
francês René Descartes (1596-1650), desenvolvendo a lei de Snell-Descartes,
passando pelo grande físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727), que
estudava as propriedades do espectro da luz visível usando prismas, teorizando o
infravermelho e defendendo a ideia de que a luz era uma partícula, enquanto o
físico, matemático e astrônomo neerlandês Christiaan Huygens (1629-1695),
defendia que a luz era um fenômeno ondulatório, descrevendo as primeiras leis
físicas da luz com equações de onda.
Por muitos anos, a compreensão de que a luz era uma onda de
Huygens foi mantida no meio acadêmico pelos físicos, até que a compreensão do
eletromagnetismo e da termodinâmica se consolidasse, causando futuramente a
primeira mudança após séculos, nos estudos da luz. Segundo Rocha (2002, p.187):
15

“As leis da Termodinâmica, por sua vez, a partir dos trabalhos de Sadi Carnot,
James Joule, Hermann von Helmholtz, Lord Kelvin, Rudolph Clausius etc., unificam
os conhecimentos de então (século 19) sobre gases, pressão, temperatura e calor”.
Já a eletricidade e o magnetismo, por muitos anos, foram tratados
como dois fenômenos distintos. A eletricidade compreendida pelo físico e médico
britânico William Gilbert (1544-1603), pelo físico, matemático e engenheiro italiano
Nicolo Cabeo (1586-1650), pelo físico e químico irlandês Robert Boyle (1627-1691),
pelo físico e presidente estadunidense Benjamin Franklin (1706-1790), pelo físico
francês Jean-Antoine Nollet (1700-1770), pelo físico francês Charles Augustin
Coulomb (1736-1806), pelo físico e químico britânico Michael Faraday (1791-1867),
pelo físico e químico britânico William Henry Bragg (1862-desconhecido), e o
magnetismo compreendido pelo engenheiro militar francês Pierre de Maricourt
(~1240) , físico, médico e filósofo Luigi Galvani (1737-1798) e, pelo químico e físico
italiano Alessandro Volta (1745-1827), foram alvos de estudo de uma unificação no
século 19 pelo físico e matemático britânico James Clerk Maxwell (1831-1879)
(ROCHA et. al., 2002, 3:185-276).
James Clerk Mawxell (1831-1879)

FONTE: James Clerk Mawell Foundation

Maxwell foi um importante nome no desenvolvimento da teoria do


eletromagnetismo, unificando a compreensão de dois fenômenos físicos como uma
coisa só, além de também unificar a óptica, pois Maxwell foi quem explicou a luz
como uma oscilação entre os campos elétricos e magnéticos no espaço e no tempo,
causando a luz. Vale ressaltar que foi Faraday quem introduziu o conceito de
campos no estudo da eletricidade e do magnetismo quando estudava indução
elétrica (ROCHA et. al., 2002, 3:185-276). Maxwell foi o responsável por deduzir as
16

quatro leis do eletromagnetismo, também chamadas de As Leis de Maxwell.


Mas foi por volta dos anos de 1895 que toda a compreensão das
radiações ganharia uma nova abordagem, com a observação dos raios-X pelo físico
britânico Wilhelm Rontgen (1845-1923) (CNEN, 2015, p.5). À partir de então, toda a
Física das Radiações como se conhece atualmente seria construída por diversos
outros pesquisadores que desde o campo teórico ao campo experimental,
mostraram a importância das radiações e suas aplicações, servindo como base para
as futuras áreas da Física Atômica e Física Nuclear. Outro estudo muito importante
para esse desenvolvimento foi o do físico neerlandês Pieter Zeeman (1865-1943),
sobre o deslocamento das linhas espectrais de um sistema (sejam átomos,
moléculas, defeitos, impurezas em cristais, etc) pela ação de um campo magnético
(LI; NASCIMENTO, 1990, p.1).
17

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A OBSERVAÇÃO DOS RAIOS X

A história da física das radiações começou com observação dos


raios-X pelo físico alemão Wilhelm Conrad Rontgen, professor de Física da
Universidade de Wurzburg na Alemanha, no ano de 1895. Wilhelm Conrad Rontgen
nasceu em Lennep, na Alemanha, no dia 27 de março de 1845. Era filho único de
Friederich Conrad Rontgen, um operário e comerciante. Aos 3 anos se mudaram
para Apeldoorn, nos Países Baixos, onde moravam os pais de sua mãe. Foi expulso
da Escola Técnica de Utrecht em 1862, acusado de fazer caricaturas de seus
professores. Seu pai o inscreveu num teste que ingressava para a Universidade de
Utrecht. Porém, não foi aceito, pois o professor que havia se simpatizado com o
jovem Rontgen adoeceu, e o professor que o substituiu no exame foi um dos
professores que havia o expulsado anteriormente. Sendo assim, Rontgen não foi
aceito na universidade. Em 1865 passou a estudar Engenharia Mecânica na Escola
Politécnica de Zurique, ao concluir o curso, recebeu seu diploma e foi convidado a
permanecer como assistente do professor de física, Dr. August Kundt, nesta mesma
instituição. Em 1874 foi transferido para a Universidade de Wurzburg, em seguida,
para a Universidade de Estrasburgo, juntamente ao professor Kundt. No ano de
1875 aceitou um cargo de professor de matemática e química na Academia Agrícola
de Honhenheim. No mesmo ano retornou para Estrasburgo como professor
associado de física teórica, onde poderia levar à frente seus estudos. Após aceitar
inúmeros cargos em diversas universidades, Rontgen retorna para a Universidade
de Wurzburg, onde dispunha de um instituto de física com vários laboratórios e salas
de conferências. Em 1894, Rontgen foi nomeado reitor da universidade
(FRANCISCO et al., 2005, p.1-2 Apud EINSENBERG, 1992; KRAFT 1974).
18

Wilhelm Conrad Rontgen

(1845 - 1923)

FONTE: Wikipédia

Rontgen buscava compreender o funcionamento das descargas


elétricas através de um tubo de raios catódicos. Segundo Emiko Okuno (2007) em
seu livro Radiação: Efeitos, Riscos e Benefícios, Os raios catódicos nada mais são
que um feixe de elétrons cuja natureza corpuscular foi descoberta por Joseph John
Thomson mais de um ano após a descoberta dos raios-X (OKUNO, 2007, p.6). J. J.
Thomson determinou a velocidade das partículas emitidas pelo cátodo e também
calculou a razão entre a carga e a massa dessas partículas, o que o fez descobrir a
identidade delas.
Rontgen foi capaz de observar uma luminescência fraca, quase
imperceptível, ao aplicar uma diferença de potencial entre os eletrodos do tubo. Ao
apagar a luz, ele observou que a placa de vidro coberta com platino cianeto de bário
também luminescia. Sendo assim, resolveu colocar um livro entre o tubo, em
seguida, sua mão. Roentgen buscava compreender a natureza daquela luz sendo
emitida, e percebeu que o material continuava luminescendo quando o tubo
funcionava. Mesmo após substituindo o livro por um pedaço de madeira e por uma
folha de alumínio, o material continuava luminescendo. O físico concluiu que não
poderia ser fruto dos raios catódicos, já que estes possuíam um grau de penetração
no ar muito baixa, e Rontgen havia observado que essa luz era capaz de atravessar
sua mão e diversos outros materiais de testes que ele utilizou. Sendo assim, ele
concluiu que o tubo emitia raios muito potentes, que eram desconhecidos, mas eram
19

capazes de atravessar até mesmo o corpo humano. Esses raios têm a propriedade
de excitar substâncias fosforizantes e fluorescentes, impressionam placas
fotográficas e aumentam a condutividade elétrica do ar que atravessam. Como eram
de natureza desconhecida, foram denominados de Radiação X ou Raios X (CNEN,
2015, p.5). Muito utilizado na medicina atualmente.
Laboratório de Rontgen

FONTE: Scielo

Portanto, um novo fenômeno foi observado e uma nova teoria da


física havia sido iniciada, dando o “ponta a pé” à uma nova área da física que seria
amplamente utilizada e aplicada em diversos setores de desenvolvimento
tecnológico, a física das radiações.

2.2 A PRIMEIRA RADIOGRAFIA

Atualmente é muito comum a aplicação de aparelhos de raios x na


medicina, nas ciências forenses e em outras áreas. Sua primeira aplicação foi feita
por Roentgen, o mesmo que descobriu os raios x, no dia 22 de dezembro de 1895,
45 dias após a descoberta ( OKUNO, 2007, p.6).
Certo de que havia descoberto algo interessante, Roentgen
convenceu sua esposa, a suíça Anna Bertha Ludwig, de ajudá-lo na compreensão
daquele novo fenômeno. Ao imobilizar por cerca de 15 minutos a mão dela no trajeto
dos raios e sobre uma placa fotográfica, observou o aparecimento das imagens das
sombras dos ossos da mão e de um anel que ela usava, cercado pela penumbra dos
tecidos moles, os quais eram mais permeáveis aos raios e, consequentemente,
20

produziam uma sombra mais fraca. Este foi o primeiro “rontenograma”


(EINSENBERG, 1995 Apud FRANCISCO et al., 2005).
Radiografia da mão da esposa de Rontgen, Anna Bertha Ludwig.

Fonte: Wikipedia

Anna nasceu em Zurique, Suíça, no dia 22 de abril de 1839, e


morreu em Munique, Alemanha, no dia 31 de outubro de 1919, depois de 47 anos de
matrimônio com Rontgen. Anna era uma mulher alta, magra, muito atraente e
encantadora, filha de Johann Gottfried Ludwig, alemão, dono de uma pequena
hospedaria ou café muito popular entre os estudantes, chamado Zum Grünen Glas
(‘Rumo ao prado verde’).
Uma tarde de 1866, quando Rontgen voltava de seu trabalho,
decidiu entrar para tomar um café e ali conheceu Anna. Diz-se que foi amor à
primeira vista. Ambos se noivaram em 1869 contra a vontade do pai de Rontgen,
que havia feito inúmeros planos para a carreira de seu filho. Outro fator que
complicava sua relação com Rontgen era o fato de ser 6 anos mais velha que ele, o
que não era comum naquela época. Ansiava casar-se com Rontgen e engravidar, se
rodeando de filhos. Porém, esse sonho nunca aconteceu.
Seus primeiros anos de casados foram bastante difíceis, porque o
pai de Röntgen, como represália, retirou todo apoio financeiro à nova família e, como
ajudante, Wilhelm ganhava muito pouco dinheiro. Mas eram felizes juntos e
souberam aguentar as adversidades. Para piorar, em 1887, seu único irmão morreu,
deixando uma filha de apenas 6 anos de idade, a pequena Josephine Bertha
Ludwig. Eles então decidiram adotar a garota e, assim, Anna pôde cumprir o desejo
21

de ser mãe.
O apoio de Anna foi muito importante para Rontgen, pois ele poderia
se dedicar a carreira de físico na Universidade de Wurzburg e, posteriormente, ao
cargo de reitor. Sobre isso, o Dr. Luis Ros fala:

Anna possibilitou o ambiente adequado de trabalh que seu marido


necessitava e soube governar adequadamente o lar, adaptando-se
às possibilidades econômicas da família, que não eram muitas
(Rontgen, por razões éticas, nunca quis registrar qualquer patente
relacionada com sua descoberta, pensava que ahumanidade deveria
dispor livremente dela; inclusive o dinheiro do Prêmio Nobel / 50.000
coroas suecas – doou-o para o apoio à pesquisa na Universidade de
Wurzburg, que lhe concedeu o grau honorário de Doutor em
Medicina). (Ros, 2017)

A Saúde de Anna era delicada, pois sofria de cólicas nefríticas de


repetição. Faleceu aos 80 anos, quase 25 anos depois de ter exposto sua mão à
radiação. Rontgen faleceu quase com a mesma idade de sua esposa, vítima de
câncer de intestino (ROS, 2017).

Anna Bertha Ludwig, esposa de Rontgen.

Fonte: Wikipédia

2.3 OS ESTUDOS DA RADIOATIVIDADE

Outro evento muito importante para a história da Física das


Radiações foi a descoberta da radioatividade. Porém, sua descoberta não foi
imediatamente definida como a radioatividade que se compreende atualmente.
Como relata Alfred Romer, em seu livro The Discovery of the
22

Radioactivity and Transmutation de 1964, a descoberta dos raios-X repercutiu o


mundo da física nas primeiras semanas de janeiro de 1896. Rontgen havia
publicado um artigo sobre os tais raios-X e a primeira radiografia do mundo, tirada
por ele mesmo da mão esquerda de sua esposa, Anna Bertha Ludwig. A imagem
intrigou inúmeros físicos da Europa que buscavam compreender como era possível
visualizar os ossos das mãos numa chapa fotográfica e quais fenômenos físicos se
envolviam naquela descoberta. Em 20 de janeiro, dois físicos chamados Paul Oudin
e Toussaint Barthélemy submeteram uma pioneira fotografia de raios-x dos ossos
das mãos para a inspeção da Académie des Sciences, e o físico matemático francês
Jules Henri Poincaré trouxe para a sessão sua cópia do artigo de Rontgen (ROMER,
1964, p. 7).
As radiografias feitas por Oudin e Touissant, em 1896.

FONTE: Artnet

Henri Poincaré buscava entender os estudos feitos por Rontgen e os


seus experimentos executados. Sendo assim, em 1896, na Academia de Ciências
de Paris e na “Revue Génerale des Sciences”, Poincaré apresentou os resultados
desses estudos (CNEN, 2015, p.5). Porém, inspirado na apresentação de Poincaré,
alguns dias depois, o físico Antoine Henri Becquerel publicou um artigo sobre a
radiação emitida na fosforescência, em 24 de fevereiro de 1896.
23

Henri Poincaré (1854 – 1912)

FONTE: IME - UNICAMP

2.3.1 Becquerel e os Sais de Urânio

Já quase no final do século 19, Claude Felix Abel Niepce de Saint


Victor enunciou que radiações emitidas por um sal de urânio impressionavam uma
chapa fotográfica (CNEN, 2015, p.5). Em 1896, o físico francês Antoine Henri
Becquerel, com 44 anos de idade, resolve retomar os estudos de seu pai, que
pesquisava sobre substâncias fosforescentes que absorviam luz para depois
reemitirem. Entusiasmado com a apresentação de Poincaré, Becquerel passa a se
dedicar sobre seus estudos e os efeitos da fluorescência e fosforescência.
Henri Becquerel (1852 - 1908)

FONTE: Energia Nuclear


24

Niepce de Saint-Victor (1805 – 1870)

FONTE: Wikipédia

Becquerel colocou certa quantidade de sulfato de urânio e potássio,


um sal de urânio sobre uma placa fotográfica embrulhada em papel preto, expondo o
conjunto à luz solar durante vários dias. Quando o filme foi revelado, a posição do
mineral ficou claramente marcada com manchas escuras (OKUNO, 2007). Sua
primeira publicação foi sobre esse assunto. Este artigo se chamava Sobre a
Radiação Emitida na Fosforescência (traduzido de “Sur les radiations émises par
phosphorescence”, ralatórios de l’Académie des Sciencies, Paris, 1896, 122: 420-
421, 24 de fevereiro). Neste artigo, Becquerel descreve que o sulfeto de cálcio
fosforescente emitia radiação que penetrava em substâncias opacas. Também
descreve que substâncias fosforescentes, principalmente os sais de urânio, tinha
uma duração curta. Becquerel compreende que as chapas fotográficas ficam
claramente iluminadas quando o feixe passa pelo objeto opaco, como uma espécie
de sombra, deixando-a com um aspecto branco, e onde houvesse uma coloração
preta seria sinônimo da radiação não ter atingido nenhum corpo.
25

Radiografia dos sais de urânio obtida por Becquerel em 1896

FONTE: El Tamiz

No dia 2 de março de 1896, Becquerel publica mais um artigo


ampliando ainda mais os estudos executados pelo experimento anterior, dessa vez,
buscando entender essa radiação invisível. Este artigo se chamava Sobre as
Radiações Invisíveis Emitidas por Substâncias Fosforescentes (traduzido de “Sur les
radiations invisibles émises par les corps phosphorescents”, relatórios de l’Académie
des Sciencies, Paris, 1896, 122:501-503, 2 de março). Nesse estudo é relatado que
Becquerel continuou seus estudos sobre essas sombras causadas, acreditada até
então pelo físico, pela luz solar, embrulhando os sais de urânio em papel preto.
Entretanto, um desses dias o céu ficou nublado e o cientista teve que guardar o
experimento em sua gaveta, na ausência de luz. Passado um tempo, ao revelar a
chapa fotográfica que havia colocado o experimento com sais de urânio, Becquerel
teve uma surpresa, pois ele observou que as manchas na chapa estavam ainda
mais escura comparadas àquelas que o cientista deixou expostas ao Sol. Assim,
Romer nos relata que Becquerel anunciou esse resultado neste artigo, e que os
efeitos inesperados só poderiam ser devidos aos raios emanados dos sais de urânio
que havia deixado embrulhados no papel preto.
Radiografia de uma moeda usando sais de urânio

FONTE: THE NOBEL PRIZE


26

No dia 23 de março de 1986, Henri Becquerel publica mais um artigo


sobre este estudo. Este artigo se chamava Sobre a Radiação Invisível Emitida pelos
Sais de Urânio (traduzido de “Sur les radiations invisibles émises par les sels
d’uranium”, relatórios de l’Académie des Sciencies, Paris, 1896, 122:689-694, 23 de
março). Neste artigo, Becquerel investiga as propriedades dessa radiação, na qual,
buscava entender as propriedades de corpos eletricamente descarregados. Sobre
isso, ele fala:
I have continued the study of the phenomenon by the use of
Hurmuzescu’s electroscopes, and I have been able to establish, in
another way than [the work] I have done by photography, that the
radiations in questions penetrate in various opaque substances, in
particular, aluminum and copper. Platinum exhibits absorption
considerably greater than that os the two preceding metals.
(Becquerel, 1896)

Logo, Becquerel declara que, embora continuasse a estudar o


fenômeno que o tanto intrigava, continuava a observar que aquela radiação também
tinha a capacidade de penetrar demais substâncias que eram opacas à luz visível,
como o alumínio e o cobre, e a platina exibia uma absorção consideravelmente
maior que os outros dois metais precedentes. Apesar de não saber o que estava a
descobrir no momento, Romer diz que, Becquerel haveria feito uma grande
descoberta: a de excitação dos átomos frente a uma fonte de radiação (ROMER,
1964).
Por fim, Henri Becquerel publicou mais um artigo sobre o assunto. O
artigo se chamava Emissão da Nova Radiação por Urânio Metálico (traduzido de
“Émission de radiations nouvelles par l’uranium métallique” relatórios de l’Académie
des Sciencies, Paris, 1896, 122:1086-1088, 23 de março). Segundo Romer (1964),
neste artigo continuou com mais detalhes a comparação do poder de penetração
desses raios com a dos raios x de Rontgen. Observou as propriedades reativas do
sulfeto de cálcio e também da sequência do experimento com os cristais de nitrato
de urânio. Sete semanas depois e a descoberta estava completa. O urânio sempre
emitia raios penetrantes, sendo de caráter fluorescente ou não, sendo na luz ou na
escuridão, se dissolvido na água ou isolado em Moissan puro e metal incombinável.
Becquerel sempre observava o mesmo comportamento independente das variáveis
experimentais (ROMER, 1964, p.18).
27

2.3.2 Os Curie’s e o Estudo da Radioatividade

Pierre Curie e Marie Curie foram dois importantes cientistas no final


do século 19 para o início do século 20. Madame Marie Sklodowska Curie era física
e química, responsável pelo pioneirismo na descoberta da radioatividade e na
descoberta de dois elementos químicos: o rádio e o polônio. Marie Curie nasceu em
1867 na Polônia, mudando-se para a França para estudar física, química e
matemática na Universidade de Paris em 1891. Marie Curie sofria inúmeros ataques
de preconceito por ser mulher e querer estudar matemática e ciências em seu país
natal, o que a fez querer mudar para a França, onde as mulheres eram mais bem
aceitas nas universidades. Conseguiu dois diplomas na instituição, a de física e a de
química, sendo concedidos em 1893 e 1894, respectivamente. Foi durante seu
tempo de estudante na Universidade de Paris que ela conheceu seu futuro marido, o
físico Pierre Curie (VERSANT PHYSICS, 2021).
Marie Sklodowska Curie

(1867 – 1934)

FONTE: Revista Galileu

Pierre Curie foi um físico francês que durante seus anos de pesquisa
estudou as propriedades magnéticas, ferromagnéticas, e a relação da compressão
de cristais e o potencial elétrico. Através desses estudos, Pierre Curie e seu irmão
foram capazes de inventar um gerador que produzia pequenas quantidades de
eletricidade, o que foi aperfeiçoado por Curie e utilizado para identificar a
propriedade de coeficientes magnéticos. Pierre Curie nasceu em Paris, na França
em 1859. Seu pai, Eugène Curie, era médico e sua mãe, Sophie-Claire Curie, era
filha de um rico industrial. Pierre começou a estudar sozinho em casa e quando
adolescente passou a ter interesse pela matemática e pela geometria. Com apenas
28

16 anos de idade se formou em Ciências e dois anos depois obteve o título de


Mestre em Física pela Universidade de Sobborne (FRAZÃO, 2021).
Pierre Curie

(1859 – 1906)

FONTE: Wikipédia

Foi em 1891 que Marie e Pierre se conheceram, e em 1895,


casaram-se, obtendo o sobrenome do marido. Quando iniciou sua tese de
doutorado, sua filha primogênita Irène Joliot-Curie estava com 2 meses de idade.
Marie investigava os “raios de Becquerel” e visava compreender esse conceito.
Porém, não demorou muito para perceber que o fenômeno observado não podia ser
específico do urânio, dando à ela a ideia de investigar outros materiais que
pudessem ter a mesma propriedade, o que a fez procurar outros materiais que
emitissem os “raios de Becquerel” (OKUNO, 2007, p.8). Para Marie Curie, o urânio
não poderia ser o único elemento a possuir esse comportamento, e que poderia
expandir esse estudo executando experimentos parecidos com outros elementos
químicos da tabela periódica determinados até então.
Segundo Romer (1964), Pierre Curie possuía um temperamento
diferente do de Becquerel. Pierre era mais intelectual e possuía mais propriedade de
abstração, o que lhe fazia não seguir tanto as regras. Pierre argumentou que o
processo químico de Becquerel de retirar substâncias de urânio era excessivamente
especulativo, e que seu rearranjo molecular era provavelmente era desconhecida
pela química comum da época. Juntamente a Marie Curie, eles replicaram o
experimento para compreender o verdadeiro comportamento daquilo que levaria à
radioatividade futuramente. Neste ponto, estava dando início a descoberta do
polônio (ROMER, 1964, p.120).
29

Diversos eram os pesquisadores que passaram a estudar os “raios


de Becquerel”. Além dos Curie’s, cientistas como Kelvin, Beatle, Smoluchwski,
Elster, Geitel, Schmidt etc. Karl Genrikovich Schmidt, médico e químico russo,
inclusive, descobriu na Alemanha que o tório apresentava propriedades radioativas,
tal como o urânio (CNEN, 2015, p.6). Porém, o termo Radioatividade só viria anos
mais tarde, com o termo sendo cunhado pela própria Marie Curie, em 1898, quando
descobriu o elemento químico rádio.
O casal purificava minérios de urânio, principalmente a
“pechblenda”, fervendo em fogão de ferro fundido. Os Curie’s faziam esse trabalho
de forma manual eles mesmos, com apenas um técnico no processo, o Senhor Petit.
1 tonelada foi reduzida a 50 quilos no processo, e dessa forma foram capazes de
isolar um elemento 300 vezes mais ativo que o urânio em julho de 1898. O elemento
foi batizado de polônio, em homenagem a terra natal de Marie Curie. Alguns meses
depois, em dezembro daquele mesmo ano, conseguiram isolar um elemento cerca
de 900 vezes mais ativo que o urânio. Esse elemento recebeu o nome de rádio, que
posteriormente viria cunhar o termo radioatividade (FRAZÃO, 2021).
Nas imagens: polônio (esquerda) e rádio (direita)

FONTE: Tabela Periódica Completa Online

Graças a essas descobertas, o casal Pierre Curie e Marie


Sklodowska Curie ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1903, juntamente com o
físico Antoine Henri Becquerel (THE NOBEL PRIZE, 2022).
Minério Pechblenda

FONTE: Wikipédia
30

Em janeiro de 1902, Pierre Curie e Marie Curie publicam um artigo


chamado Sobre Substâncias Radioativas (traduzido de “Sur les corps radio-actifs”,
relatórios de l’Académie des Sciencies, Paris, 1902, 134:85-87, 13 de janeiro). Neste
artigo, os Curie’s explicam as ideias que os levaram a estudar os raios de Becquerel
e sua descoberta. Eles tomaram a radioatividade como uma propriedade atômica da
substância, e que cada átomo de uma substância radioativa possui funções como
uma fonte de energia constante. Seus experimentos os levaram a observar que para
o urânio, tório, rádio, e provavelmente também o actínio, a atividade radiante era o
mesmo o tempo todo rigorosamente e que essas substâncias estavam no mesmo
estado químico e físico, mas que não variava com o tempo. Se mal interpretados
esses experimentos, os Curies’s não poderiam deduzir sobre o comportamento de
tais elementos e o elemento rádio seria um elemento não radioativo, ou seja, seu
poder de energia não seria suficiente para se comportar como os sais de urânio de
Becquerel.
Em nota sobre este artigo, Romer diz:

This sure, methodical progress is necessary slow. In contrast, we can


make bold hypotheses in which the mechanism of phenomena is
specified. This procedure has the advantage of suggesting certain
experiments and above all of facilitating the thought process, make it
less abstract by the use of an image. On the other hand, we cannot
hope to imagine a priori a complex theory which aggress with
experience. Precise hypotheses almost certainly contain a portion of
error along with a portion truth. This latter portion, if it exists, alone
becomes a part of some more general proposition to which it will be
necessary to return some day. (Romer, 1964, p.123)

As hipóteses do método empregado do mecanismo de um fenômeno


específico, bem como define Romer (1964), levou-se a analisar que uma porção da
teoria estudada poderia ser verdadeira e uma porção ser de erro. Mas a
complexidade dessa teoria era de extrema excelência dos estudos dos Curie’s, que
o próprio autor conclui dizendo que essa porção, mais tarde, se existente, poderia
sozinha ser parte de uma proposição geral na qual retornaria ser necessária um dia,
como haveria de ser anos mais tarde com as observações das causas da
radioatividade natural por Ernest Rutherford e Frederick Soddy naquele mesmo ano.
Mas foi numa noite de abril de 1906, um episódio trágico aconteceu
na família Curie. Enquanto voltava para casa após uma reunião, Pierre Curie foi
atropelado por uma carroça, deixando-o jogado no chão, mas em seguida, uma
31

enorme carruagem que seguia no sentido contrário atropelou-o no chão. Pierre Curie
faleceu aos 46 anos de idade, no dia 19 de abril. Marie Curie, após um mês da morte
de seu marido, assumiu seu posto de professora de Física na Universidade de
Sorbonne, se tornando a primeira mulher professora e pesquisadora da instituição
(FRAZÃO, 2021; VERSANT PHYSICS, 2021).
Em 1910, Marie Curie foi capaz de produzir rádio como um metal
puro, experimento que atestava com solidez a existência desse elemento. Por esse
motivo, Marie Curie recebeu seu segundo Prêmio Nobel, sendo este de Química, no
ano de 1911, passando a ser não só a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel
(1903), mas também a primeira pessoa a ganhar dois Prêmios desse porte
(VERSANT PHYSICS, 2021; THE NOBEL PRIZE, 2022).
Marie Curie ainda foi pioneira no uso da radiação na medicina
durante a Primeira Guerra Mundial, como diretora do Serviço de Radiologia da Cruz
Vermelha. Ela criou pequenas unidades móveis de raios-X chamadas “Petite Curie”,
que eram veículos contendo uma máquina de raios-X e equipamentos de câmara
escura. Ela treinou mais de 150 mulheres para operar as unidades que ajudaram a
tratar mais de um milhão de soldados perto da frente de batalha. Marie Curie,
incentivada por sua filha primogênita, àquela mesma que tinha 2 meses de idade
quando iniciou sua tese de doutorado, desenvolveu métodos mais precisos de
diagnosticar e tratar esses soldados feridos.
Os Petite Curie, usados durante a Primeira Guerra Mundial por Marie Curie

FONTE: Argunners Magazine

Irène Joliot-Curie, agora física e química pela Universidade de Paris,


que ao lado do marido, o engenheiro químico Frédéric Joliot-Curie, foram
responsáveis por executar experimentos que levou a criação da radioatividade
32

artificial, transmutação de elementos e bases da física nuclear. Por conta de tal feito,
Irène e seu marido Frédéric foram laureados com o Prêmio Nobel de Química em
1935, reconhecidos pela aplicação prática na radioquímica, na medicina e no
tratamento da tireoide (VERSANT PHYSICS, 2021; THE NOBEL PRIZE, 2022).
Irène Joliot-Curie (1897 – 1956) e Frédéric Joliot-Curie (1900 – 1958)

FONTE: Museu Dinâmico Interdisciplinar

Portanto, Marie Curie e sua filha Irène foram as pioneiras dessas


técnicas aplicadas efetivamente na saúde, sem fins experimentais, como ocorrera
com Rontgen em 1895. Ambas visavam buscar a melhor aplicação das radiações
para o benefício da sociedade, principalmente em diagnósticos e tratamentos. Marie
Curie, Irène Joliot-Curie e Wilhelm Conrad Rontgen se tornaram os patronos da
Radiologia, uma área multidisciplinar da saúde que visa utilizar das técnicas
radiológicas e nucleares para o tratamento, diagnóstico e suplemento de várias
doenças.
Marie Curie faleceu em 4 de julho de 1934, um ano antes de sua
filha ser laureada com o Prêmio Nobel de Química, de anemia aplástica, muito
provavelmente como consequência de seus anos de estudos com a radiação, já que
na época se desconhecia dos malefícios à saúde desse fenômeno físico (VERSANT
PHYSICS, 2021). Em abril de 1935, os restos mortais dos Curie’s foram depositados
na cripta do Panteão de Paris (FRAZÃO, 2021).

2.4 A RADIOATIVIDADE E A TRANSMUTAÇÃO

A radioatividade era um fenômeno físico, embora fascinante e com


33

diversas aplicações, como mostradas por Becquerel e pelo casal Curie, sua natureza
ainda não era compreendida. Vale ressaltar que na época da descoberta da
radioatividade os modelos atômicos ainda estavam em desenvolvimento, então, era
sabido que a radioatividade é uma forma de radiação emanada por alguns materiais,
mas a natureza dessa radiação era totalmente desconhecida.
No final do século 19 para início do século 20 discutia-se sobre
como a matéria era constituída. O conceito de átomo havia mudado, já que desde
Demócrito no século 4 a.C. e de John Dalton em 1803 (BRENNAN, 1997), nenhum
outro modelo atômico havia sido proposto. Isso mudou entre os anos de 1893 e
1896 quando o físico japonês Hantaro Nagaoka, professor de física da Universidade
de Tóquio, esteve na Europa e trabalhou em alguns laboratórios, incluindo o
Laboratório Cavendish. Quando retornou para o Japão, anunciou para a Sociedade
de Matemática e Física em Tóquio em 1903 o modelo planetário ou modelo
saturnino de átomo. Nagaoka publicou seu artigo na revista científica britânica
Philosofical Magazine no ano seguinte, propondo que o átomo era como os anéis de
Saturno orbitando o planeta (OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p.20).
Hantaro Nagaoka (1865 – 1950)

Modelo Atômico
Planetário

FONTE: Wolfram ScienceWorld FONTE: Desenhos da Física

Outro modelo proposto foi o de “Pudim de Ameixas” do físico


britânico Joseph John Thomson (J. J. Thomson) em 1904, então diretor do
Laboratório Cavendish. Neste modelo, Thomson considera que o átomo é
constituído de uma esfera carregada positivamente com pequenas cargas dentro
carregadas negativamente, como um pudim de ameixas (no Brasil, pudim de passas
ficou mais popular).
34

J. J. Thomson (1856 – 1940)

Modelo Atômico “Pudim


de Ameixas”

FONTE: Biografias e Vida FONTE: Gestão Educacional

Em 1909, o físico e químico neozelandês naturalizado britânico


Ernest Rutherford, sugeriu à Johannes (Hans) Wilhelm Geiger e Ernest Marsden, na
época seus discípulos, a executarem um experimento para saberem qual dos dois
modelos era o mais coerente (OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p.20-21; DIAS, 2019).
Segundo a CNEN (2015, p.7): “Ernest Rutherford estabeleceu o modelo atual de
átomo. Foi um dos físicos mais importantes do nosso século”.
Hans Geiger (1882 – 1945) Ernest Marsden (1889 – 1970)

FONTE: PET Física Unicentro FONTE: PET Física Unicentro


35

2.4.1 Rutherford e o Estudo dos Modelos Atômicos

Ernest Rutherford (1871 – 1937)

FONTE: PET Física Unicentro

Para executar tal experimento e verificar qual modelo atômico era o


mais coerente (de Nagaoka ou de Thomson), Rutherford propôs que seus discípulos
Geiger e Marsden executassem o aparato experimental utilizando de uma fonte
radioativa – polônio - contida em um recipiente de chumbo com uma abertura por
onde passasse a radiação e uma folha fina de ouro. A radiação emitida da fonte
colidia com a folha fina de ouro, e parte dela sofria deflexão e outra parte
simplesmente atravessava a folha. Sobre esse experimento, Okuno e Yoshimura
relatam:

Os resultados obtidos mostraram que a maior parte das partículas


passava pelo átomo sem sofrer desvio da trajetória, como esperado
se o modelo pudim de ameixas fosse correto; mas algumas poucas
sofriam grandes desvios. Na realidade, o experimento confirmou as
duas pevisões do modelo proposto por Nagaoka: o átomo é
constituído de um núcleo minúsculo, onde se concentra quase toda a
massa do átomo, carregado positivamente de elétrons, que giram ao
seu redor. (Okuno; Yoshimura, 2010, p.21)

Vale ressaltar que o elétron já havia sido descoberto, pois o mesmo


cientista que propusera o modelo atômico do “pudim de ameixas”, J. J. Thomson foi
o descobridor dessa partícula estudando os raios catódicos em 1897, o que lhe
36

rendeu o prêmio Nobel de Física em 1906 (MARTINS, 2005; THE NOBEL PRIZE,
2022). Para o físico e professor brasileiro Roberto de Andrade Martins, professor de
História e Filosofia da Física, em seu artigo Física e História, foi graças à J. J.
Thomson e ao físico neerlandês Pieter Zeeman, que um componente subatômico
pôde ser identificado e consta em todo tipo de matéria. A razão e/m (carga e massa)
foi medida por Thomson e Walter Kaufmann, um físico alemão, em experimentos de
deflexão de elétrons de baixa velocidade, e calculada pelo físico neerlandês Hendrik
Antoon Lorentz a partir da sua intepretação teórica do efeito Zeeman (MARTINS,
2005).
Experimento de Rutherford, Geiger e Marsden para determinar o núcleo atômico.

FONTE: Brasil Escola

Sendo assim, os experimentos de Geiger e Marsden levaram


Rutherford a concluir que um campo elétrico intenso era responsável pela tal
deflexão, conforme seu artigo chamado The Structure of Atom, publicado em 1913
na Nature (v.92, p.423). Esse campo ocorria devido à carga positiva concentrada no
núcleo, se equilibrando a carga do elétron, que era negativa e estava ao redor desse
núcleo. Esse era o modelo atômico-nuclear de Rutherford. Contudo, o modelo ainda
era falho, pois se o elétron estava acelerado devido a constante mudança do vetor
velocidade, pela teoria eletromagnética clássica uma partícula acelerada emite
radiação continuamente. Sem contar, que pela teoria clássica, o elétron orbitando o
núcleo deveria perder energia e cair neste núcleo, o que também não era
observado. Isso não estava bem explicado e precisaria de uma teoria mais concisa
para tal fenômeno (OKUNO, YOSHIMURA, 2010).
37

Modelo Atômico-Nuclear de Rutherford

FONTE: Aprendendo Química

2.4.1.1 Rutherford e a Determinação das Partículas α e β

Em 1899, Rutherford executou um experimento que levaria a


determinação das partículas α e β, que seriam importantes para o entendimento da
luz e dos decaimentos radioativos, que levariam aos estudos da transmutação. O
estudo buscava entender como a radiação penetrava lâminas de alumínio.
Rutherford então incidiu um feixe radioativo que passava por três materiais distintos:
uma folha de papel, uma folha de alumínio e uma chapa de chumbo. Ele descobriu
que parte da radiação podia ser detida pela lâmina de alumínio com 1/500 de
centímetros de espessura, e, portanto, o restante só poderia ser detido por uma
lâmina mais grossa. Rutherford chamou essa primeira radiação de raios-α (alfa),
raios muito energéticos, mas com fácil absorção e de carga positiva. A segunda
radiação, negativamente carregada Rutherford chamou de raios-β (beta), que era
menos energético, mas tinha uma capacidade de penetração maior, pois observou
que atravessou a folha de papel, mas foi contida pela folha de alumínio. Um terceiro
tipo de radiação foi descoberto em 1900, pelo físico francês Paul Urich Villard. Ele
tinha frequência extremamente alta e comprimento de onda curto, sendo, portanto
mais penetrante de todas. Essa radiação foi chamada de raios-γ (gama) (BRENNAN,
2003, p.134).
Segundo Brennan:

Embora chamasse o fenômeno que descobrira de “raios”, Rutherford


pensava que eles deviam se compor em partículas extremamente
diminutas de matéria. Estava certo, e embora por vezes ainda se use
o termo raios, sabe-se que as radiações alfa, beta e gama consistem
de partículas velozes. (Brennan, 2003, p.134)
38

Para o autor, Rutherford já compreendia que essas radiações que se


propagavam como ondas eletromagnéticas, poderiam também ser entendidas como
partículas, pois as mesmas possuíam cargas, e essa é uma característica
corpuscular compreendida na época.
Experimento de Rutherford para determinação das partículas α e β.

FONTE: Manual da Química

Essa determinação levou Rutherford à outra questão: o que eram


essas partículas α e β? Assim, Rutherford se prontificou prontamente a entender o
funcionamento dessas partículas e quais eram as consequências da emissão dessas
partículas para o elemento radioativo que o emitia, se tornando rapidamente o maior
expoente no campo da mutação da radioatividade.

2.4.1.2 Bohr e o Modelo Atômico do Átomo de Hidrogênio

Foi somente em 1911, que um físico dinamarquês foi trabalhar no


Laboratório Cavendish juntamente a J. J. Thomson e depois com Rutherford mudaria
o entendimento do modelo atômico para sempre. Seu nome era Niels Henrick David
Bohr, mais conhecido como Niels Bohr.
39

Niels Bohr (1885 – 1962)

FONTE: Explicatorium

Niels Bohr nasceu em Copenhague, na Dinamarca, em 1885 e não


teve nenhuma história negligente ou de qualquer tipo de sofrimento. Seu pai foi
Christian Bohr, um professor de filosofia na Universidade de Copenhague. Sua mãe,
Ellen Adler Bohr, era de uma família judaica opulenta, proeminente nos círculos
financeiros e parlamentares. Em 1903, Bohr se matriculou na Universidade de
Copenhague no curso de Física, e era tido como um exímio jogador de futebol.
Ganhou uma medalha de ouro da Real Academia de Ciências e Letras por seus
estudos das análises teóricas e experimentais da determinação da tensão de
superfície da água. Em 1911, se doutorou em física com uma tese sobre a teoria
eletrônica nos metais, na qual criticava as inadequadas formas de compreensão dos
materiais em nível atômico, o que o levaria a desenvolver um dos seus grandes
trabalhos, quiçá, o estudo mais importante de sua vida (BRENNAN, 2003, p.150;
OKUNO; YOSHIMURA, 2010).
Logo após seu doutorado, Bohr foi para Cambridge para trabalhar
junto com J. J. Thomson. Brennan relata que a relação entre Bohr e Thomson não
foram das melhores, já que Bohr demonstrava pouco interesse nos estudos de
Thomson no Laboratório Cavendish. Bohr era extremamente crítico ao modelo
atômico de Thomson e intrigado com o modelo atômico-nuclear de Rutherford, o que
o fez tratar de conseguir uma transferência para Manchester, onde tudo ocorreria de
forma diferente (BRANNER, 2003, p.150).
Em 1912, Bohr retornou para a Universidade de Copenhague, onde
foi nomeado professor assistente e também casou-se com Margrethe Norlund, com
quem teve 6 filhos, 4 deles chegando a fase adulta.
Estabelecido em Copenhague, Bohr pôde trabalhar em suas
40

pesquisas e no intrigante modelo de átomo de Rutherford. Como já citado, este


modelo atômico continha algumas consistências, como o fato do elétron ficar
orbitando o núcleo sendo que o elétron possui carga negativa e o núcleo possui
carga positiva. Isso era incoerente com a teoria eletromagnética, que diz que se um
objeto carregado eletricamente, quando gira à maneira do elétron em torno do
núcleo, emite radiação eletromagnética, perdendo energia no processo (BRENNAN,
2003; MARTINS, 2005).
Então, Bohr adotou uma abordagem original para solucionar esse
problema. Ele concluiu que o elétron não irradiava energia enquanto estava em sua
órbita. Para Bohr, o elétron mantinha uma órbita estável, na qual não era necessário
um trabalho a mais, o que implicava que o elétron não emitisse radiação. No
entanto, os experimentos mostravam que o hidrogênio irradiava energia quando
aquecido, e muitos físicos acreditavam que essa energia irradiada era proveniente
do elétron. Então Bohr decidiu investigar a origem dessa energia.
Em 1913, Bohr concebeu um modelo atômico que era mais
aprimorada que o modelo atômico de Rutherford, uma espécie de variação dessa
teoria, mas que explicava a anomalia dos elétrons. Sua conclusão foi a de que
elétrons estáveis na mesma órbita não emitia radiação. Como sugestão, o elétron
podia assumir uma posição estável em qualquer lugar das diferentes distâncias do
núcleo atômico. Porém, quando mudasse de órbita, uma energia seria emitida ou
absorvida no processo. O elétron na órbita mais distante possui mais energia,
portanto, ao saltar de sua órbita para outra órbita mais próxima do núcleo era preciso
que emitisse energia. Caso estivesse numa órbita mais próxima, era preciso
absorver energia. Bohr propôs explicar o motivo de um elétron se comportar de tal
maneira, estabelecendo uma relação entre a matéria e a luz (BRENNAN, 2003;
OKUNO, YOSHIMURA, 2010, p.22). Segundo Brennan:

Sugeriu que, quando se movem de um nível de energia para outro,


os elétrons desprendem ou absorvem “pacotes” de radiação na
forma de luz. Esses pacotes são chamados fotóns, ou quanta.
Quanto mais curto é o comprimento de onda da radiação, mais alta é
a energia do fóton. (Brennan, 2003, p.153)

Para o autor, era mais fácil compreender a teoria de Bohr


considerando os fascinantes indícios que ele usava em sua defesa. Esses indícios
vem de um estudo chamado espectroscopia, o estudo dos espectros de luz emitidos
41

por átomos de diferentes elementos.


Modelo Atômico de Bohr

FONTE: Gestão Educacional

Foi o físico alemão, Gustav Kirchhoff, quem encontrou uma conexão


entre linhas espectrais e elementos químicos quando estudava o comportamento da
matéria aquecida juntamente ao seu colega químico alemão Robert Wilhelm
Eberhard von Bunsen, o aperfeiçoador do bico de Bunsen, em 1859. Kirchhoff e
Bunsen desenvolveram o método de espectroscopia, que era possível identificar o
elemento químico por suas linhas espectrais, que seria amplamente utilizada no
futuro, principalmente na Astronomia, na identificação da composição química de
estrelas, planetas, meteoros entre vários outros corpos celestes (BRENNAN, 2003).
O átomo do Bohr enfrentou uma dura luta para ser aceita por
diversos físicos da vanguarda na época, como J. J. Thomson, com quem não se
entendia muito bem e Rutherford. Porém, defendeu seu modelo de forma vigorosa e,
por fim, conseguiu a aceitação. Seu estudo lhe rendeu três artigos científicos em
1913, sendo um deles chamado Sobre a constituição de átomos e moléculas, que
virou um clássico posteriormente. Em 1916, recebeu uma proposta para assumir
uma cátedra em Copenhague, na Universidade da Dinamarca e, em 1921, foi
inaugurado o Instituto de Física Teórica, onde ocupou o cargo de diretor até o fim de
seus dias.
Bohr foi laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1922 pelo
estudo de modelos atômicos e pela comprovação de seu modelo atômico, que
reforçava a existência do elétron e explicava as órbitas eletrônicas e a energia de
emissão e/ou de absorção do elétron nos saltos de uma órbita para a outra
(BRENNAN, 2003, p.156; THE NOBEL PRIZE, 2022). A este fenômeno foi cunhado
o nome de “Salto Quântico”.
42

Diagrama de salto quântico

FONTE: Manual da Química

2.4.2 Rutherford e Soody e a Natureza da Transmutação

Em 1901, o químico inglês Frederick Soody investigava os


problemas pelas impurezas do nitrato de tório, a qual fez precipitação química com
fosfato de sódio. Crookes, em seu artigo sobre Urânio X mencionou uma
especificidade do nitrato de tório puro da Alemanha, e Rutherford escreveu em
dezembro daquele ano para perguntar como aquilo foi obtido. Quando Rutherford e
Soody retornaram para seus laboratórios nos primeiros dias de 1902, eles
encontraram tudo os aguardando: o nitrato da Alemanha, a carta de Crookes, e o
artigo de Becquerel. Eles tinham tudo para começarem a trabalhar (ROMER, 1964,
p.123).
Ernest Rutherford e Frederick Soddy (1877 – 1956)

FONTE: El Montevideano – Laboratório de Artes

Sobre aqueles padrões, existiam somente interpretações de seus


resultados. O tório-X foi produzido do tório a uma taxa constante, e uma vez
produzido ele começava a perder radioatividade por uma lei de decaimento
43

exponencial. Após, ele começou a estabilizar, e foi necessário supor que o tório-X
veio de uma transmutação do tório. Quando eles viram isso, Rutherford e Soddy
somente convenceram o mundo que era verdade, por mais que estivessem acuados
por operarem do lado errado do Oceano Atlântico e contra a opinião firmemente
expressa dos Curie’s. O resultado foi seguido de um artigo minucioso de um trabalho
experimento, minucioso em mostrar as peculiaridades da situação. Quando em abril,
eles finalizaram após 4 meses de trabalho árduo, e enviaram para publicação em
Londres (ROMER, 1964). A este fenômeno de decaimento exponencial radioativo,
Rutherford e Soddy deram o nome de Transmutação Natural.
Esse artigo chamado The Radioactivity of Thorium Compounds H.
The Cause and Nature of Transmutation (de Journal of Chemical Society,
Transactions, 1902, 81: 837-860), Rutherford e Soddy mostram que a radioatividade
do tório pôde separar de sua composição por meios químicos. Dois métodos foram
usados: em um, uma solução de tório foi precipitada por amônia, e o hidróxido de
tório precipitado mostrou um terceiro da atividade normal, quando filtrado, na
evaporação e na remoção dos sais de amônio por ignição, deixando um resíduo
muito ativo – em alguns casos, mil vezes mais ativo que uma tória de peso igual. No
outro método, o óxido de tório foi deixado foi lavado repetidamente com bastante
água. As lavagens, na evaporação, depositaram muitos resíduos ativos, enquanto a
radioatividade da tória foi diminuída consideravelmente pelo processo.
Tabela de decaimento radioativo do tório em tório-X feita por Rutherford e Soddy.

FONTE: O próprio autor.

Os resultados de uma longa investigação detalhada da


radioatividade e da energia emitida dos compostos de tório foi dada, e deixaram
abertas a questões de interpretações teóricas do processo envolvido ao qual se
44

originou o fenômeno da radioatividade natural. Analisando seus resultados, eles


obtiveram dados que mostravam uma lei de decaimento e que mudava a massa e
composição do elemento em análise. Rutherford e Soddy, juntos, deduziram que a
transmutação era um fenômenos intrínseco da radioatividade, concluindo que um
composto decaído poderia se transformar em outro, como observaram no
decaimento do tório para o tório-X.
Gráfico de Intensidade por Tempo do tório feita por Rutherford e Soddy.

FONTE: O próprio autor.

A atividade do tório-X decrescia muito aproximadamente em uma


progressão geométrica em relação ao tempo, que é representado pela equação 1.

𝐼𝑡 1
= 𝑒 −𝜆𝑡
𝐼0

Onde λ é uma constante e 𝑒 a base do logaritmo natural.


A curva obtida experimentalmente como o hidróxido pela taxa de
crescimento de sua atividade do valor mínimo pro máximo será, portanto, ser
aproximadamente expressa pela equação 2.

𝐼𝑡 2
= 𝐼 − 𝑒 −𝜆𝑡
𝐼0

Onde 𝐼0 representa a quantia de atividade recuperada quando o


45

máximo é alcançado, e 𝐼𝑡 a atividade recuperada de um tempo 𝑡, λ sendo a mesma


constante de antes.
A equação 2 foi desenvolvida teoricamente (RUTHERFORD; PHIL.
MAG., 1900, v.49, 10, 181; Apud ROMER, 1964, p.129) para expressar o
crescimento da atividade da máxima constante de um sistema que consiste de
partículas irradiando, na qual:
i. A taxa de abastecimento da irradiação de partículas é
constante;
ii. A atividade de cada partícula decai geometricamente com o
tempo conforme a equação 1.
Dessa forma, Rutherford e Soody puderam analisar diversas outras
especificidades de seu estudo neste artigo, como: as propriedades química do ThX,
a produção contínua de ThX, a influência das condições nas mudanças acuradas no
tório – que mostrou que o decaimento da radioatividade com o tempo é equilibrado
por uma produção contínua de material ativo -, as causas e a radioatividade natural
etc. (RUTHERFORD, SODDY, 1902).
Em outro artigo publicado em 1903, chamado Radioative Change
(de The London, Edinburgh, and Dublin Philosophical Magazine and Journal of
Science [6], 1903, 5: 576-591), Rutherford e Soddy abordam mais sobre a Energia
da Radioatividade e os produtos da mudança radioativa e sua natureza material
específica. Neste artigo, os cientistas exploram sobre o estudo da radioatividade dos
elementos rádio, tório e urânio, que se dá pela produção constante de novos tipos
de materiais das quais se mantém em atividade temporariamente. Em alguns casos,
novos produtos são exibidos de formas bem definidas em suas diferenças químicas
do elemento em produção, e pode ser separados no processo. Um exemplo disso é
na remoção do tório-X do tório e urânio-X do urânio. Em outros casos os novos
produtos são gasosos em caráter, e então, separados deles mesmos por um mero
processo de difusão, dando origem à emissão radioativa produzida por compostos
de tório e rádio.
46

Diagrama de decaimento radioativo do U, Th e Ra feita por Rutherford e Soddy.

FONTE: O próprio autor.

Sobre o sincronismo entre a mudança e a radiação, Rutherford e


Soddy falam:

In the present paper the nature of the changes in which these new
bodies are produced remains to be considered. The experimental
evidence that has been accumulated is now sufficiently complete to
enable a general theory of the nature of the process to be established
with a considerable degree of certainty e definiteness. It soon
became apparent from this evidence that a much more intimate
connexion exists between the radioactivity and the changes that
maintain ir than expressed in the idea of the production of active
matter. It will be recalled that all cases of radioactive change that
have been studied can be resolved into the production by one
substance of one other (disregarding for the present the expelled
rays). (Rutherford; Soddy, 1903)

Ou seja, eles apresentam uma nova forma de compreensão desse


decaimento radioativo e os produtos de outros elementos em outros elementos. Eles
acumularam evidências suficientes da teoria de processos naturais para
estabeleceram com um certo grau definitivo. Isso foi averiguado para todos os casos
observados. Desse tório-X que era separado do tório, a radiação do tório-X é
proporcional à quantia de emissão que ele produz, e ambas, a radioatividade e a
energia emitida do tório-X, decaem de acordo com a lei e na mesma taxa. Vindo a
excitação produzida pela emissão de energia.
Sobre a Natureza Material das Radiações, nesse mesmo artigo
(RUTHERFORD; SODDY, 1903), eles descrevem que observaram que os raios de
qualquer sistema são produzidos no momento que o sistema muda fortemente pela
descoberta da deflexão elétrica e magnética dos raios-α. Esse desvio é o oposto do
desvio ocorrido pelos raios-β ou raios catódicos, e esses raios consistiam de corpos
47

positivamente carregados projetados com grande velocidade (RUTHERFORD; PHIL.


MAG., 1903 Apud ROMER, 1964, p.155).
Concluíram que a radioatividade se dá por dois tipos de radiação, e
não tinham dúvidas que os raios-α eram de longe os mais importantes. Em todo
casos, eles representam mais de 99 por cento da energia emitida, e apesar da
quantia dos raios-β no seu poder de penetração e ação de marcas fotográficas, eles
têm sido mais estudados e são comparativamente muito menos significativos.
Rutherford e Soddy ainda deduzem a Lei da Mudança Radioativa,
em que a radiação de uma substância ativa pode ser interpretada fisicamente com a
lei do decaimento radioativo dada pela equação x. Para cada raio ou partícula
projetada produz, em geral, um número definido de íons em seu caminho, e a
ionização é, portanto, proporcional ao número de tais partículas projetadas por
segundo, como na equação 3.

𝑛𝑡 3
= 𝑒 −𝜆𝑡
𝑛0

Onde 𝑛𝑡 é o número de partículas projetado por uma unidade de


tempo para um tempo 𝑡, e 𝑛0 é o número inicial.
Se cada mudança de sistema gera um tipo de raio, o número de
sistemas 𝑁𝑡 na qual permanece inalterada no tempo, a expressão é dado pela
equação 4.

𝑛0 −𝜆𝑡 4
𝑁𝑡 = ∫ 𝑛𝑡 . 𝑑𝑡 = 𝑒
𝑡 𝜆

O número 𝑁0 inicialmente presente é dada em 𝑡 = 0.

𝑁0 = 𝑒 −𝜆𝑡 5

𝑁𝑡 6
= 𝑒 −𝜆𝑡
𝑁0

A mesma lei pode ser aplicada se cada mudança de sistema produz


dois ou mais raios, definido número de raios.
48

𝑑𝑁 7
= −𝜆𝑁𝑡
𝑑𝑡

Ou, a taxa de mudança do sistema para qualquer tempo é sempre


proporcional à quantia inalterada mudada.
A lei da radioatividade, por sua vez, serve para expressar um
estado, que é a quantia proporcional de matéria radioativa que muda em relação à
um tempo constante. A complexidade do fenômeno da radioatividade é devida à
existência de uma regra geral de vários tipos diferentes de matéria mudada ao
mesmo tempo em relação ao outro, cada tipo possuindo uma constante radioativa
diferente (RUTHERFORD; SODDY, 1903).

2.5 A RADIAÇÃO QUANTIZADA

Em 1900, o físico alemão Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947)


estudava sobre a Radiação de Corpo Negro e a Catástrofe do Ultravioleta. Max
Planck nasceu em 1858, em Kiel, Alemanha. Seu pai, Wilhelm Planck, era professor
de jurisprudência da região, enquanto sua mãe, que era a segunda esposa de seu
pai, era descendente de uma longa linhagem de pastores. Durante a educação
básica, Planck teve muito envolvimento com seu professor de matemática, Hermann
Muller, com que aprendeu o conceito das leis da física e desde então demonstrou
interesse pela ciência (BRENNAN, 2003, p.101-104).
Max Planck (1858 – 1947)

FONTE: Universidade Federal do Rio Grande do Sul


49

Planck tentou seguir a carreira musical após terminar os estudos, já


que era tido como um talento musical. Porém, seu interesse pela ciência foi ainda
maior, e se matriculou no curso de Física e Matemática da Universidade de
Munique, ingressando depois na Universidade de Berlim. Dois físicos alemães de
renome foram os principais ídolos de Planck, Hermann Von Helmholtz e Gustav
Kircchoff. Estudou os tratados de termodinâmica de Rudolf Clausius e se dedicou
por anos na compreensão da termodinâmica, que por sua vez, tornou-se tema da
tese de doutorado do físico, que foi contemplado com o título em 1879 (BRENNAN,
2003, p.103-104; ROCHA, 2002). Mas foi em 1900 que Planck faria seu maior
triunfo, a grande mudança na compreensão das leis da física e do mundo
acadêmico, ao enunciar os primeiros postulados que se tornaria a Física Quântica.
Estudar o aquecimento dos corpos e a sua incandescência era algo
que já estava em execução há muito tempo. O matemático e físico britânico John
William Strutt (Lorde Rayleigh) (1842-1919) e o físico, astrônomo e matemático
britânico James Hopwood Jeans, por volta de 1900, buscavam encontrar uma
fórmula matemática que descrevesse com precisão quando um corpo quente iria
irradiar e o quanto de energia iria gastar no processo (POLKINGHORNE Apud
ROCHA et. al., 2002, p.304). Porém, suas tentativas foram frustradas, e ambos não
conseguiram chegar numa expressão precisa de tal fenômeno, o que era
denominado como Radiação de Corpo Negro, termo cunhado por Kircchoff em 1860
(BASSALO, 2021).
Segundo Rocha et. al. (2002, p.304):

Esta denominação é dada a um objeto que absorve toda a energia


que incide sobre ele. Tais corpos negros não existem, em realidade,
na natureza. O fato é que sua existência implicaria em que os
mesmos não refletiriam nenhuma luz. Apesar de tal impossibilidade
prática, em laboratório é possível construir exemplos de dispositivos
que podem simular o comportamento de um corpo negro. O exemplo
clássico é aquele de uma esfera oca com um pequeno orifício, onde
qualquer luz, ou outra radiação que entre pelo orifício, irá ricochetear
entre as paredes internas, até ser ao final absorvida. O fato de ser
um orifício diminuto é importante, pois muito pouca luz poderá
conseguir escapar. Outro dado importante é que se a esfera for
aquecida, as suas paredes internas começarão a luzir, e a luz
emitida do orifício será similar àquela que um “corpo negro”,
concebido teoricamente, emitiria. (Rocha et. al., 2002, p.304)

Para Rayleigh, não existia compreensão suficientemente precisa


50

sobre o funcionamento desse fenômeno, mesmo buscando apoio à teoria


eletromagnética, recém-desenvolvida por Maxwell, mas a fórmula matemática que
chegou era inconveniente e pouco convincente, o que não era o esperado pelo
físico. Em outubro de 1900, os físicos alemães Heinrich Rubens (1865-1922) e
Ferdinand Kurlbaum (1857-1927), executaram um experimento onde foi capaz de se
obter um gráfico que mostrava a dependência em relação ao comprimento de onda
para quatro temperaturas distintas, da distribuição espectral da radiação de um
corpo negro (ROCHA et. al., 2002, p.305; BASSALO, 2021).
Gráfico de distribuição espectral de um corpo negro em quatro temperaturas distintas.

FONTE: Universidade Federal do Paraná

O espectro obtido pelos cientistas não condiziam com as teorias da


época e nem com as abordagens matemáticas de Jeans e Rayleigh, pois essas
vibrações de altas frequências do espectro visível eram de forma tão peculiar, que
para se chegar nelas seria preciso energia infinita. Segundo Rocha e cols. (2002,
p.306): “Além de não corresponder aos dados experimentais conhecidos, tal
resultado não tinha possibilidade de estar correto, pois implicava numa infinitude
denominada, metaforicamente, de “Catástrofe do Ultravioleta”, pelo físico austríaco
Paul Ehrenfest, pelo fato de a mesma “acontecer” em regiões de frequências
elevadas do espectro visível”.
Então, no dia 14 de dezembro de 1900, Max Planck, que muito havia
pesquisado e analisado os espectros de radiação de corpo negro, apresentou
perante a Sociedade de Física de Berlim, os resultados que obteve desses estudos.
Sabendo do comportamento do fenômeno, Planck observou essa tal radiação era
também uma radiação eletromagnética, e que havia uma interação entre a luz
emitida e a matéria. Utilizando-se de manipulações matemáticas, o físico concluiu
51

que deveria tratar o problema como pequenas porções de energia, pacotes de


energia, ou como cunhou quanta de energia, que se utilizaria apenas de números
inteiros, sem números fracionários (BRENNAN, 2003, p.109; ROCHA et. al., 2002,
p.308).
Planck relacionou matematicamente a energia de um quantum à
frequência da radiação, onde a energia é diretamente proporcional à frequência da
onda:

𝐸 = ℎ. 𝑓 8

Sendo, E a energia, 𝑓 a frequência e h a constante de Planck, que


vale aproximadamente a 6,63.10−34 𝑚2 /𝑘𝑔.s.
Em 1918, Max Planck foi laureado com o Prêmio Nolbel de Física
pelos estudos e desenvolvimento da teoria quântica (BRENNAN, 2003, p. 111)

2.5.1 Einstein e o Efeito Fotoelétrico

Em 1905, o famoso e popular físico alemão naturalizado


estadunidense Albert Einstein (1879-1955), publicou um artigo sobre o efeito
fotoelétrico, onde propôs que a radiação eletromagnética poderia ser tratada como
um fluxo de “quanta de luz”, posteriormente denominada de fotón pelo físico-químico
estadunidense Gilbert Newton Lewis, no ano de 1926 (SEGRÉ, 1980, p.81).
Einstein, além de estudar o efeito fotoelétrico e os quanta de luz, também estava
estudando sobre a relatividade restrita e o movimento browniano, que se tornaria um
dos estudos mais interessantes para a compreensão da física quântica futuramente.
52

Albert Einstein (1879 – 1955)

FONTE: PET Física Unicentro

Einstein nasceu no dia 14 de março de 1879, na cidade de Ulm,


Alemanha, filho de Hermann Einstein e de Pauline Einstein. A família se mudou para
Munique, onde seu pai Hermann e seu tio abriram uma empresa de eletromecânica.
Seu pai era engenheiro eletricista, assim como seu tio, e Einstein passava horas a
se divertir na oficina de seu pai vislumbrando o funcionamento dos equipamentos e
o fenômeno da eletricidade, que era recente na época do jovem Einstein. Foi através
de um evento que Einstein ganhou uma bússola de seu pai e ficou intrigado com o
funcionamento daquele dispositivo. A mente fértil e curiosa de Einstein o
acompanharia durante seus anos de escola, o que, por sua vez, não foi nada fácil, já
que tinha problemas de relacionamento com seus professores e de comportamento
em sala de aula (BRENNAN, 2003, p.58-60; SEGRÉ, 1980, p.81-82). Isso causou
uma grande confusão na propagação da história de Einstein e criou-se uma “crença”
de que Einstein era ruim na escola, o que não era verdade. Apesar de seus
desentendimentos, Einstein era um dos alunos mais proficientes da sala e tirava
boas notas (BRENNAN, 2002, p.60).
Em 1896, ingressou no curso de Física no renomado Instituto
Politécnico da Suíça, pois, havia sido rejeitado no ano anterior por não se sair bem
nas provas e se ver obrigado a se matricular num curso preparatório na Suíça. Em
1900, Einstein se graduou na faculdade, mas teve muita dificuldade em encontrar
um emprego, tendo que dar aulas de física e matemática para complementar a
renda, pois já estava casado com Mileva Maric, que era matemática. Foi em 1902,
com a ajuda de seu amigo Marcel Grossman, que Einstein conseguiu entrar no
53

Departamento de Patentes da Suíça, como perito técnico de terceira classe.


Em 1905, Einstein publica 5 artigos de seus estudos enquanto ainda
trabalhava no Departamento de Patentes, tendo que se manter em dia nos estudos
da física moderna. Um de seus artigos era sobre o efeito fotoelétrico, onde
relacionava conceitos do eletromagnetismo com a teoria quântica de Planck, o que
lhe rendeu em 1921 o Prêmio Nobel de Física (THE NOBEL PRIZE, 2022), e os
outros 4 foram publicados na prestigiosa revista científica alemã Annalen der Physik,
na qual discutia sobre a mecânica relativística dos corpos em alta velocidade, o
movimento browniano e a matéria eletrônica (BRENNAN, 2003, p.70; ROCHA et. al.,
2002). Segundo Brennan (2003, p.70): “O único período da história da física
comparável a esse é a estada de Newton em Woolsthope, de 1665 a 1666”. Este
ano é chamado de Annus Mirabilis (Ano Miraculoso, em latim).
O estudo do efeito fotoelétrico se tornou de suma importância para a
Física das Radiações. Segundo Rocha e cols. (2002, p.310): “O efeito fotoelétrico
ocorre quando a luz incidente excita os elétrons livres numa superfície metálica,
causando o deslocamento desses elétrons. A energia pode ser calculada usando a
equação de energia de Planck”. Ou seja, quando um feixe energético incide sob uma
superfície metálica, ela libera elétrons, que por sua vez, podem ou não se
dispersarem pelo ambiente reagindo com outros materiais. Einstein acreditava na
hipótese de quanta de Planck, e sua compreensão sobre o fenômeno da luz foi
considera-la como uma partícula, a luz como pequenos pacotes de energia, os
quanta de luz. Á partir desse momento, a luz passara a ser compreendida também
como partícula, tal como defendia Newton, porém, com quantidades inteiras de
energia, o que era impossível de se compreender na época de Newton. O efeito
fotoelétrico foi comprovado pelo físico estadunidense Robert Milikan (1892-1962) em
1916, onde publicou um artigo com os resultados obtidos, que por sua vez, condizia
com as previsões de Einstein, dando mais uma comprovação da existência dos
fótons, motivo este que fez de Milikan ganhador do prêmio Nobel de Física junto com
Einstein (ROCHA et. al, 2002, p.312; THE NOBEL PRIZE, 2022).
54

Ilustração mostrando como funciona o efeito fotoelétrico

FONTE: Instituto de Física – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Ainda em 1917, Einstein foi o responsável por introduzir o conceito


de emissão estimulada de fótons, que fundamentou a ideia da criação do laser (“light
amplification by a stimulated emission of radiation”, que em português significa
amplificação de luz por meio de emissão estimulada de radiação), pelo físico
estadunidense Theodore Harold (Ted) Maiman (1927-2007), em 1960. O físico
escreveu um livro chamado Laser Odyssey, onde relata suas experiências e vários
acontecimentos durante a criação dessa nova tecnologia.
Resultado dos postulados de Einstein sobre a luz e da teoria
quântica desenvolvida por Planck, os físicos Rayleigh e Arthur Holly Compton (1891-
1962) estudaram efeitos de espalhamentos da luz.
Compton verificou que quando um fóton interage com uma partícula
carregada, geralmente um elétron, o fóton sofre perda de energia e é desviada, e
que isso ocorria para faixas de raios-X ou raios γ (NASCIMENTO FILHO, 1999).
Diagrama Espalhamento Compton

FONTE: Universidade Federal de Santa Catarina

Enquanto Rayleigh observou que um fóton, ao interagir com uma


partícula carregada, também podendo ser um elétron, ele sofre um desvio mas sem
perda de energia, o que pode ocorrer em sólidos e líquidos, mas acontece
geralmente em gases (NASCIMENTO FILHO, 1999).
55

Diagrama Espalhamento Rayleigh

FONTE: Universidade Federal de Santa Catarina

2.5.2 A Teoria Quântica da Radiação

Em 1927, o físico teórico britânico Paul Adrien Maurice Dirac (1902-


1984) foi um dos cientistas que mais contribuiu com a Teoria Quântica da Luz. Dirac
nasceu em 1902, na cidade de Bristol, no Reino Unido. Estudou na prestigiada
Merchant Venture’s School, situado em Bristol, e graduou-se em Engenharia Elétrica
na Universidade de Bristol, em 1921. Após, se transferiu para a John’s College, na
cidade de Cambridge, no Reino Unido, onde estudou Matemática e obteve seu titulo
de doutor (Ph.D) no ano de 1926.
Paul Dirac (1902 – 1984)

FONTE: Wikipédia

Foi um dos principais precursores da mecânica quântica,


responsável por desenvolver a Teoria das Transformações (ou Teoria das
representações ou Álgebra Quântica, como gostava de chamar).
Mas foi em 1930 que o físico teve seu ápice nos estudos da Física
Quântica, ao buscar entender os efeitos matriciais, ondulatórios e relativísticos a
estrutura do espectro do hidrogênio. Foi Dirac quem interpretou pela primeira vez o
número quântico chamado de “spin”, e que viria a ser necessária para toda a
56

compreensão do funcionamento de fenômenos quânticos. Foi também o


responsável por prever, matematicamente, a existência do “pósitron”, a antipartícula
do elétron (ROCHA, et. al., 2002, p.341; SEGRÉ, 1980, 8:153-178).
Segundo Rocha e cols. (2002, p.341-342), Dirac e Fermi
desenvolveram, independentemente, uma nova teoria estatística para a Física
Quântica, chamada Estatística de Fermi-Dirac, inicialmente aplicada à elétrons. O
estudo se manteve até aplicarem para fótons, para compreender o fenômeno da
radiação, cuja importância era necessária para uma nova abordagem da teoria
quântica, definida pelo físico-matemático indiano Satyendra Nath Bose (1894-1974),
e continuada por Einstein, o princípio da Estatística de Bose-Einstein, que pode ser
aplicado para vários sistemas de partículas.

2.5.3 Fermi e o Decaimento β

Em 1930, o estudo do funcionamento dos decaimentos estava em


alta na comunidade científica. Os elétrons do decaimento β têm um espectro
contínuo de energia, mas os estágios final e inicial eram perfeitamente unidos.
Então, perpetuou-se a dúvida sobre essa diferença de energia entre o estágio final e
inicial do decaimento β, pensando se poderia ser a radiação γ a responsável por
compensar essa energia faltante (SEGRÉ, 1980). Neste mesmo ano, o físico
austríaco naturalizado suíço e estadunidense Wolfgang Pauli sugeriu que os
elétrons no decaimento β eram acompanhados por partículas neutras leves que
escapavam à observação, mas restabeleciam a conservação de energia, carregando
a energia que faltava.
Mas foi em 1933, que o físico italiano naturalizado estadunidense
Enrico Fermi (1901-1954), formulou uma teoria do decaimento β baseada nessa
partícula. Fermi o chamou de neutrino (neutrinho em italiano), em oposição a
neutrone (neutrão em italiano).
57

Enrico Fermi (1901 – 1954)

FONTE: Wikipédia

Mas para desenvolver essa teoria, Fermi teve que estudar o trabalho
de Paul Dirac de 1927 sobre a teoria quântica da radiação e estudar os operadores
matemáticos de criação e aniquilação que haviam sido inventados por Oskar
Benjamin Klein (1894-1977), Ernest Pascual Jordan (1902-1980), Eugene Paul
Wigner (1902-1995) e outros. Esses operadores criam ou aniquilam partículas.
Diferem quanto a férmions e bósons e exigem uma técnica que Fermi não dominava.
Estudando os operadores e montando sua teoria para explicar o decaimento β,
Fermi introduziu uma nova interação fundamental, a força de interação fraca ou
interação de Fermi como ficou conhecida. Assim, essa nova força veio se somar às
outras duas existentes até então: a força gravitacional e a força eletromagnética. É
descoberta por Fermi, então a terceira força fundamental do universo. A nova teoria
de Fermi explica a forma do espectro β, a meia-vida do decaimento β e muitas
outras características de tais decaimentos (SEGRÉ, 1980). Segundo Segré (1980)
“É a obra prima de Fermi e é de fundamental importância par a Física das
partículas”.
58

3 CONCLUSÃO

A área da Física das Radiações cresceu muito desde seus primeiros


trabalhos mostrados aqui. As radiações se mostraram úteis para diversas pesquisas
e aplicações tecnológicas tanto no meio acadêmico quanto no cotidiano das
pessoas. Diversas outras descobertas foram feitas e diversos cientistas contribuíram
com seus estudos para ajudar a consolidar o estudo das radiações. Como exemplo,
temos: Pierre Curie e, seu assistente de laboratório, Albert Laborde (1878-1968),
estudando sobre as estimativas de Rutherford e Soddy em suas medidas sobre o
calor espontâneo de sais de urânio (RUTHERFORD; SODDY, 1903, p.673-675); o
trabalho do químico escocês William Ramsay (1852-1916) e Soddy sobre os gases
obstruídos em 1903, que vinha de sua identificação dos gases nobres néon, crípton
e xénon em 1898, que lhe rendeu um Prêmio Nobel de Química em 1904 (ROMER,
1964, p.171; THE NOBEL PRIZE, 2022); o trabalho da física Chien-Shiung Wu
(1912-1997) sobre os estudos do decaimento β de Fermi, comprovando que a Lei da
Conservação da Paridade não era válida para todos os sistemas (VERSANT
PHYSICS, 2021); a atriz austríaca radicalizada estadunidense Hedy Lamarr (1914-
2000) e a invenção da comunicação por ondas de rádio, que culminou futuramente
nos telefones celulares e no Wi-Fi (IME-UNICAMP, 2020); a invenção do aparelho
de micro-ondas pelo engenheiro eletrônico Percy Lebaron Spencer (1874-1970) e
pelo engenheiro e físico Robert Noel Hall (1919-2016), que utilização das micro-
ondas (um tipo de radiação) para aquecer alimentos que tenham água e/ou óleo em
sua composição (GAVA; SILVA; FRIAS, 2017); as inúmeras aplicações das
radiações em tratamento e diagnósticos de doenças, como: radiografia, tomografia,
ressonância magnética, hemograma, ultrassonografia, radioterapia, radio-cirurgia,
medicina nuclear etc. (OKUNO, YOSHIMURA, 2010); aplicações nos estudos dos
solos e na determinação da composição química e estrutura física dos solos usando
raios-X e raios γ (NASCIMENTO FILHO, 1999, p.4); na astronomia e astrofísica, na
determinação da composição química dos astros por Espectroscopia, e no uso da
radioastronomia, além do uso nos telescópios espaciais, que podem enxergar em
infravermelho, rádio, ultravioleta, raios-X etc. (TYSON, 2017, 9:125-139).
A Física das Radiações possui um estudo muito amplo, denso e de
extrema importância para o desenvolvimento da Física Moderna. Apesar de ser uma
teoria que integra a Física Atômica, a Física Nuclear e a Física Quântica, ela possui
59

um espaço próprio de estudo e de aplicação, servindo de base para diversas áreas


de atuação e de pesquisa, como o estudo dos solos, tratamento e diagnósticos de
doenças, técnicas forenses, estudo do Universo, criação de novas tecnologias,
estudos arqueométricos e paleontológicos, entre vários outros.
A história de sua formação e implementação na área científica só
nos prova que seus estudos e aplicações têm sido cada vez mais relevante.
A Física das Radiações, assim como toda área da Física, está no
nosso cotidiano e possui a uma das melhores formas de observar o mundo, nossos
olhos.
60

REFERÊNCIAS

OKUNO, Emico. YOSHIMURA, Elisabeth M. Física das Radiações. São Paulo:


Oficina de Textos, 2010.

OKUNO, Emico. Radiação: Efeitos, Riscos e Benefícios. 1. Ed. São Paulo:


HARBRA, 2007.

ROMER, Alfred. The Discovery of Radioactivity and Transmutation. Vol. 2. New


York: Dover Publications, 1964.

BECQUEREL, Henri. “On the Invisible Radiations Emitted by Phosphorescents


Substances.” (Translation of “Sur les radiation invisibles émises par les corps
phosphorescents”). Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris, 122:501-
503, 2 March 1896.

BECQUEREL, Henri. “On the Invisible Radiations Emitted by the Salts of Uranium.”
(Translation of “Sur les radiation émises par radiation invisibles émises par les sels
d’uranium”). Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris, 122:689-694, 23
March 1896.

BECQUEREL, Henri. “Emission of New Radiations by The Metallic Uranium.”


(Translation of “Émission de radiations nouvelles par l’uranium métallique”).
Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris, 122:1086-1088, 18 May
1896.

RUTHERFORD, Ernest. “A Radio-Active Substance Emitted from Thorium


Compounds.” From The London, Edinburgh, and Dublin Philosofical Magazine
and Journal of Science [5], 1900, London, 49:1-14.

RUTHERFORD, Ernest. SODDY, Frederick. “The Radioactivity of Thorium


Compounds.” From Journal of the Chemical Society, Transactions, 1902,
London, 81:321-350.

BECQUEREL, Henri. “On the Radioactivity of Uranium.” (Translation of “Sur la radio-


activité de l’uranium”). Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris,
133:977-980, 9 December 1901.

CURIE, Pierre. CURIE, Marie S. “On Radioactive Substances.” (Translation of “Sur


les corps radio-actifs”). Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris,
134:85-87, 13 January 1902.

RUTHERFORD, Ernest. SODDY, Frederick. “The Radioactive Change.” From From


The London, Edinburgh, and Dublin Philosofical Magazine and Journal of
Science [6], 1903, London, 49:1-14.

CURIE, P. LABORDE, A. “On the Heat Spontaneously Released by the Salts of


Radium.” (Translation of “Sur la chaleur dégadée spontanément par les sels de
radium”). Comptes rendus de l’Académie des Sciences, Paris, 136:673-675, 16
March 1903.
61

BRENNAN, Richard P. Gigantes da Física: uma breve história da física moderna


através de oito biografias. (Tradução de Maria Luíza X. de A. Borges, revista
técnica, Hélio Motta Filho e Henrique Lins de Barros) Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2003.

ROCHA, José F.e cols. Origens e evolução das ideias da física. Salvador:
EDUFBA, 2002.

TEIXEIRA, Cilâine V., Massoni, Neusa T., VARGAS, Ghislaine S. Raios X: Um Tema
Instigante para a Introdução da Física Moderna e Contemporânea na Sala de Aula
do Ensino Básico. Experiências em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v.12 , n.2 ,
p. 80-93, 2017.

DIAS, Lucas S. A Visão da Sociedade Araguaiense Sobre Física Nuclear e Suas


Aplicações. Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura em Física
Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, p. 1-45, 2019.

CNEN, Comissão Nacional de Energia Nuclear. História da Energia Nuclear.


Brasília, 2015.

FRANCISCO, Fabianno C. e cols. Radiologia: 110 Anos de História. História da


Radiologia, Rio de Janeiro, 27(4):281-286, 2005.

VERSANT PHYSICS. As Sete Mulheres Mais Influentes na História da Radiação.


Disponível em: https://versantphysics.com/2021/08/24/women-in-radiation-history/
Acesso em: 21 nov. 2022.

ROS, Luis. O Canto da História: Anna Bertha Ludwig. Disponível em:


https://www.webcir.org/noticir/2017_vol14_n4/2017_vol14_n4_noticia_13_por.html .
Acesso em: 21 nov. 2022.

FRAZÃO, Dilva. Pierre Curie. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/perre_curie/ . Acesso em: 21 nov. 2022.

Todos os Prêmios Nobel. The Nobel Prize. Disponível em:


https://www.nobelprize.org/prizes/lists/all-nobel-prizes/ . Acesso em: 21 nov. 2022.

MARTINS, Roberto de A. Física e História. Ciência e Cultura, São Paulo, v.57 , n.3 ,
Jul./set. 2005.

SEGRÉ, Emilío. Dos Raios X aos Quarks, Físicos Modernos e Suas


Descobertas. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980.

FREIRE JR, O., PESSOA JR, O., BROMBERG, J. L., orgs. Teoria Quântica:
estudos históricos e implicações culturais [online]. Campina Grande: EDUEPB;
São Paulo: Livraria da Física, 2011. 456 p. ISBN 978-85-7879-060-8. Available from
SciELO Books.

THUILLIER, Pierre. De Arquimedes a Einstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editora, 1994.
62

TYSON, NEIL DEGRASSE. Luz Visível. In: TYSON, Neil deGrasse. Astrofísica
para Apressados: 1º Edição. São Paulo: Planeta, 2017. p. 125-139.

NASCIMENTO FILHO, Virgílio F. Técnicas Analíticas Nucleares de Fluorescência


de Raios X por Dispersão de Energia (EDXRF) e Reflexão Total (TXRF).
Piracicaba: Departamento de Ciências Exatas/ESALQ – Lab. De Instrumentação
Nuclear/CENA, 1999.

LI, M. Aegerter M. S.; Nascimento, J. P. Donoso O. R. Efeito Zeeman. Disponível


em: https://www3.ifsc.usp.br/~lavfis/images/BDApostilas/ApEfZeeman/Zeeman-1.pdf
. Acesso em: 24 nov. 2022.

BASSALO, José Maria F. Curiosidades da Física: Einstein, a emissão


estimulada e o Princípio do Laser. Disponível em: https://seara.ufc.br/wp-
content/uploads/2019/03/folclore385.pdf . Acesso em: 24 nov. 2022.

DAHMEN, SILVIO RENATO. PARTE IV – CONSTRUÇÃO DA TEORIA QUÂNTICA


– HISTÓRIA E TENDÊNCIAS DE PESQUISA: MAX PLANCK E O ESTUDO DE
SISTEMAS ESTOCÁSTICOS. In: FREIRE JR, O., PESSOA JR, O., and
BROMBERG, JL., orgs. Teoria Quântica: estudos históricos e implicações culturais
[online]. Campina Grande: EDUEPB; São Paulo: Livraria da Física, 2011. 456 p.
ISBN 978-85-7879-060-8. Available from SciELO Books . <http://books.scielo.org>

IME – Universidade Estadual de Campinas. Hedy Lamarr: Estrela de Hollywood e


mãe do wi-fi. Disponível em: http://www.ime.unicamp.br/~apmat/hedy-
lamarr/#:~:text=Estrela%20de%20Hollywood%20e%20m%C3%A3e%20do%20wi%2
Dfi&text=%C3%89%20aqui%20que%20te%20apresentamos,fi%20e%20da%20telef
onia%20celular. . Acesso em: 23 nov. 2022.

Você também pode gostar