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UNIVATES –CENTRO UNIVERSITÁRIO

Texto 1: Comportamento e natureza da luz


(adaptado de Barthem, Ricardo. A luz – Coleção Temas Atuais de Física, 1ª ed., São Paulo: Ed. Livraria da
Física – Sociedade Brasileira de Física, 2005 e Hewiit, P. Física Conceitual, 9ª ed. Porto Alegre: Bookman,
2002)

Propriedades eletromagnéticas da luz

Atualmente, sabemos que a luz é um fenômeno eletromagnético, constituindo apenas uma


parte do espectro eletromagnético. Sabemos que cargas elétricas em movimento produzem corrente
elétrica, a qual é capaz de gerar um campo magnético. Campos elétrico E e magnético B oscilantes
regeneram-se um ao outro, formando, desse modo, ondas eletromagnéticas, emanadas de cargas
elétricas vibrantes (indução eletromagnética). Assim, a luz apresenta propriedades ondulatórias
típicas das ondas em geral (difração, interferência, reflexão). Maxwell percebeu que a luz é radiação
eletromagnética cuja freqüência está na faixa de 4,3.1014 a 7.1014 Hz, constituindo uma estreita faixa
de todo o espectro eletromagnético já conhecido.

Figura 1: destaca a pequena faixa do espectro correspondente à radiação eletromagnética visível


(luz).

Freqüência Tipo de radiação


106 hz (MHz) Banda de rádio AM
Acima de 50 MHz Banda de TV VHF (very high frequency_
88-108 MHz Banda de radio FM
Acima de 108 MHz Banda de TV UHF (ultra high frequency)
108 a 1010 Hz Microondas
1012 a 1014 Hz Infravermelho
4,3 .1014 a 7.1014 Hz Luz visível (menos de 1% do espectro)
1016 Hz Ultravioleta
Acima de 1017 Hz Raios-X
1017 a 1018 Hz Raios gama

A ciência atual trabalha com o fato de que a luz apresenta tanto comportamento ondulatório
quanto corpuscular. Dependendo do tipo de experimento e da interação realizada, um ou outro
caráter da luz será manifestado, nunca ambos ao mesmo tempo (Princípio de Complementaridade de
Bohr). Essa premissa é a essência do Princípio da Incerteza, da Mecânica Quântica, formulado por
Heisenberg para explicar o comportamento aparentemente contraditório da luz.
Mas esse é o estágio atual da compreensão humana sobre tão importante fenômeno do
Universo. A natureza da luz provocou debates ao longo da História. Filósofos gregos da Antiguidade
pensavam que a luz era formada de minúsculas partículas, propagando-se em linha reta e com
velocidade constante e muito alta (filosofia atomista de Leucipo, Demócrito). Aristóteles imaginava
que a luz era como uma vibração produzida pelos objetos luminosos e que punha a vibrar também a
estrutura do olho, por transmissão. Por volta de 1500 é que Leonardo Da Vinci sugere que a luz tem
um comportamento análogo ao das ondas sonoras (reflexão da luz e do som), levantando a hipótese
de que a luz, como o som, poderia ser um tipo de fenômeno ondulatório.
Essas duas concepções sobre a natureza da luz deram origem, no século XVII, a duas grandes
correntes de pensamento científico. Uma delas foi liderada por Newton, que era favorável à idéia de
que a luz era constituída de partículas (modelo corpuscular da luz). A outra corrente teve à frente o
físico holandês Christian Huygens, que defendia a hipótese de que a luz era uma onda (modelo
ondulatório da luz). Essa divisão de opiniões provocou uma intensa polêmica que envolveu esses
eminentes cientistas e seus defensores. O debate sobre a natureza da luz se tornou celebre na história
da física. O esclarecimento para essa disputa só veio a ser alcançado no século XIX, muitos anos
após a morte de Huygens e de Newton.
Tentando justificar seu modelo corpuscular, Newton chamou a atenção para o fato de que
pequenas esferas, colidindo elasticamente contra uma superfície lisa, são refletidas de tal modo que o
ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. Exatamente como acontece com a luz. Portanto,
em relação ao fenômeno da reflexão, é valido considerar um feixe de luz como constituído por um
conjunto de partículas que se refletem elasticamente ao encontrarem uma superfície lisa. O
fenômeno da refração também era descrito por Newton como sendo decorrente da teoria corpuscular.
O modelo ondulatório, defendido por Huygens, também conseguia explicar satisfatoriamente
a reflexão e a refração da luz: uma onda qualquer se reflete e se refrata segundo as mesmas leis da
reflexão e da refração de um feixe luminoso. Assim, as duas teorias sobre a natureza da luz
apresentavam-se igualmente válidas e era muito difícil optar por apenas uma delas. Acrescenta-se a
isso toda a influência de Newton sobre o pensamento científico do séc. XVIII e XIX, dado todo seu
sucesso na área da mecânica.
No século XIX, entretanto, foi possível observar, com a luz, o fenômeno da interferência,
característico dos movimentos ondulatórios (experimento de Young). Esse fato foi uma evidência
extremamente favorável, então, ao modelo ondulatório. Apesar disso, em virtude do grande prestígio
de Newton, o modelo corpuscular continuava tendo maior aceitação, principalmente na Inglaterra.
Em 1862, um acontecimento importante dava fim a essa disputa que vinha se propagando por
mais de 150 anos. O físico francês Foucault conseguiu medir a velocidade da luz na água,
verificando que seu valor, nesse meio, era menor do que a velocidade no ar. A teoria de Newton
previa justamente o contrário. Esse supunha que, com a refração da luz, haveria o aumento da
velocidade das partículas luminosas ao entrarem em um corpo, pela ação da força gravitacional.
Quanto à refração, Huygens e Foucault é que estavam corretos em suas previsões teóricas: a redução
da velocidade da onda luminosa, dentro da matéria, provoca o desvio da direção da frente de onda.
Desta maneira, as idéias de Newton sobre a natureza da luz foram definitivamente abandonadas, pois
levavam a conclusões que estavam em desacordo com os resultados experimentais.
Atualmente, é aceito o caráter dual para a natureza da luz e da radiação: as radiações podem
ter comportamento corpuscular e as partículas elementares (elétrons, múons, etc), podem ter
comportamento ondulatório. Esse comportamento foi previsto no âmbito da física quântica. Como
casos típicos do comportamento corpuscular da luz, podemos citar o efeito fotoelétrico e a produção
de raios-X, explicado pelo Efeito Compton. No caso do primeiro, fótons de determinadas
freqüências – e que transportam certa quantidade de energia E = hf – podem arrancar elétrons do
material do alvo no qual incidem. É o princípio básico dos sistemas fotovoltaicos em geral, das
matrizes CCD (que geram imagens digitais), da fotocélula, entre outros. No caso dos Raios-X,
ocorre o contrário – são elétrons com alta energia, emitidos por uma fonte de tensão que aquece um
filamento – que colidem com um alvo e provocam a emissão de radiação. Nos dois casos, estão
envolvidos fenômenos que envolvem emissão e absorção de energia. Para essa classe de fenômenos,
que envolvem a interação da radiação com a matéria, é adequado utilizar o modelo corpuscular da
luz e da radiação para descrevê-los. Já nos casos dos fenômenos que envolvem a transmissão e
propagação da energia, como reflexão, interferência, refração, o modelo ondulatório da radiação
permite a sua correta descrição e interpretação.

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