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Resumo
O presente trabalho teve como objetivo apresentar uma breve discussão a respeito da
natureza da luz. Para isso, retratamos duas teorias distintas, apresentadas por duas figuras
importantes dos séculos XVII e XVIII, Isaac Newton e Christiaan Huygens. Para entender as
diferenças entre suas teorias, trouxemos uma breve descrição de suas principais obras, o
Óptica, escrito pelo Newton e o Tratado sobre a luz, escrito pelo Huygens. Além disso,
buscamos mostrar a partir da historiografia da ciência, que embora essas teorias não tivessem
semelhanças, parece não ter tido uma disputa entre suas teorias sobre a luz.
Introdução
Sabe-se que com as novas descobertas a respeito de fenômenos ópticos, bem como as
novas invenções de instrumentos, no século XVII, despertou em muitos filósofos naturais, o
interesse pela natureza da luz. Assim sendo, inúmeras teorias procuraram explicar este
fenômeno. Dentre as várias teorias, este trabalho apresentará a explicação da natureza da luz
feita tanto por Newton quanto por Huygens. Está escolha deu-se, uma vez que suas teorias
são distintas. Para entender melhor as teorias propostas por ambos, será feita uma exposição
de alguns aspectos das duas principais obras: Óptica (1704) de Isaac Newton e o Tratado
sobre a Luz (1690) escrito por Christiaan Huygens.
O tratado sobre a luz é uma obra concisa e objetiva, sendo dividida em seis capítulos,
cada um abordando conteúdo diferente: propagação retílinea da luz, reflexão, refração,
refração no ar, dupla refração (conhecido hoje como polarização) e formas dos corpos para
produzir a refração e reflexão. No Tratado, Huygens buscou tratar os principais fenômenos
luminosos, com base no conceito da luz como pulsos não periódicos propagados pelo éter, ou
seja, ele não apresentou uma teoria ondulatória, no sentido moderno. Sendo assim, não
apresentou concepções as quais hoje estamos familiarizado, em relação à ondas. Por isso
acredita-se que Huygens abarca-se em uma concepção mais vibracional do que ondulatória.
(MOURA, 2016).
“Sabemos que, por meio do ar, que é um corpo invisível e impalpável, o som
se propaga em toda a volta do lugar onde foi produzido, por um movimento
que passa sucessivamente de uma parte do ar a outra. A propagação desse
movimento se faz com igual velocidade para todos os lados e devem se formar
como superfícies esféricas que crescem sempre e que chegam a atingir
nossas orelhas. {...} Se a luz gasta tempo para essa passagem {de um corpo
luminoso até nós} {...} seguir-se-á que esse movimento impresso à matéria é
sucessivo e que, consequentemente, ele se espalha, assim como o som, por
ondas esféricas” (Huygens, 1986; p. 12).
Apesar das semelhanças entre a luz e o som encontradas por Huygens, ele admite que
há diferenças entre os dois domínios, Huygens alega que o som se dá pelo fato de um abalo
de um corpo inteiro, ou pelo menos de uma parte considerável, enquanto que para a luz “deve
nascer como de cada ponto do objeto luminoso” (Huygens, 1986; p. 17). Não se esquecendo
do fato de que o agitamento das partículas, que geram a luz, deve ser muito mais rápida e
brusca do que a causada pelo som. (Huygens, 1986; p. 17).
Assim percebemos, que esse foi um dos pontos iniciais para a compreensão do
comportamento da luz, partindo de um ponto de vista meio empírico e que poderia até fazer
algum sentido para a época. Para entender o modo como a luz se propaga, foi necessário
compreender o meio de sustentação de uma onda, que no caso do som é o ar; onde então
Huygens recorreu a matéria etérea, usando como base os resultados experimentais de Boyle e
Torricelli (sobre a propagação da luz mesmo em espaços sem ar).
Sabendo que o modelo de propagação do som pelo ar, não era capaz de explicar certas
propriedades da luz, como por exemplo, sua velocidade, foi necessário conceber sua
propagação de outra forma. Com isso, Huygens pode entender, por meios de analogias com a
propagação do movimento, através de esferas rígidas, o que conhecemos por “berço de
Newton”. A propagação do movimento, nesse caso, corresponde à propagação de uma onda
mecânica longitudinal num meio sólido. As esfera rígidas, usadas como meio de propagação,
deveriam ser duras para que o movimento de propagação fosse rápido, transpondo isso para o
éter. Essa dureza se refere a elasticidade do meio. Assim, Huygens atribuiu ao éter ás mesmas
propriedades das bolas, como pode ser verificado nesse trecho: “nada impede que
imaginemos que as partículas do éter sejam de uma matéria tão próxima da dureza perfeita e
de uma recuperação tão rápida quanto quisermos” (Huygens, 1986; p. 18). Dessa forma, a
elasticidade do éter irá permitir a compreensão do comportamento da luz, como seu valor
finito de sua velocidade e outras propriedades.
Então vemos que a explicação para o comportamento da luz foi apresentada como um
modelo de onda mecânica que se propaga num meio elástico, no caso o éter. A partir disso,
Huygens começa a associar esse modelo uma construção geométrica, no qual um corpo
luminoso emana pulsos a partir de um ponto central. Esses pulsos podem ser entendido como
ondas emanadas de um ponto luminoso pertencente a um corpo.
Óptica de Newton
Isaac Newton (1643- 1727) trabalhou em diversas áreas e discursou assuntos variados,
desde seus conhecidos estudos sobre mecânica e a óptica, até os estudos pouco explorados,
como a alquimia e a religião. Boa parte desses estudos encontram-se escrito. Um de seus
escritos, o livro Óptica, contribuiu para o desenvolvimento de fenômenos ópticos. Este livro,
teve sua primeira edição publicada em 1704. Nele podemos perceber que Newton adota uma
concepção corpuscular para a luz, no entanto não a defende abertamente (MOURA, SILVA.
2016).
O Óptica está dividido em três livros, cada um dividido em partes. O primeiro livro,
faz uma exposição da natureza heterogênea dos raios luminosos e das cores dos objetos. Ele
Está dividido em três partes: “Definições” (conjunto de pressupostos e termos adotados ao
longo da obra), Axiomas (conjunto de conhecimentos tomados como verdadeiros) e para
finalizar descreveu suas “Proposições”, demonstradas “por experiências”. O segundo livro,
apresenta as observações e explicações referente as cores formadas em película fina, como as
bolhas de sabão. Este foi dividido em quatro partes, a primeira e a segunda partes são
constituídas de um conjunto de observações, a terceira contém apenas proposições e a quarta
novamente apresenta observações. Por sua vez, o terceiro livro fala sobre a difração da luz,
chamada por Newton de “inflexão” da luz. Neste livro, encontra-se em uma parte, as
observações sobre a difração e, no fim, as questões sobre temáticas não completamente
discutidas por Newton (MOURA, 2016).
Do Óptica pode-se destacar dois aspectos importantes, a visão corpuscular para a luz
e o caráter indutivista impresso por Newton. Em relação a visão corpuscular, podemos relatar
que no Óptica, a parte que ele trata esse assunto abertamente encontra-se justamente nas
partes especulativas. Segundo Mouro (2016), esse assunto é abordado por ele na “Questão
29”, perguntando: “Os raios de luz não são corpos minúsculos emitidos pelas substâncias
que brilham?” (NEWTON, 1996,P.271; citado por MOURO. 2016, p.117). Em seguida, ele
apresenta argumentos que confirmam essa hipótese, relacionando-os com os vários
fenômenos discutidos nas parte anteriores do livro. Quanto ao caráter indutivista, pode ser
verificado no primeiro livro, onde segundo Moura (2016) Newton afirmou:
“Meu objetivo neste livro não é explicar as propriedades da luz por hipóteses, mas
propô-las e prová-las pelo raciocínio e por experiencias, para o que tomarei como premissas
as definições e os axiomas que se seguem” (NEWTON, 1996,p.39).
Segundo Moura (2016), este estilo de investigação, também pode ser verificado no
final do Óptica, a partir do seguinte trecho:
Pela discussão acima, percebe-se que Newton valorizou a experimentação, bem como
as observações, para trazer a teoria sobre a luz fundamentada na heterogeneidade da luz
branca e na estreita relação entre corpos e luz.
Uma análise sobre as obras de Newton e Huygens.
Considerações finais
Com base em estudos historiográficos, neste artigo, propusemos subsidiar uma análise
crítica envolvendo uma possível “disputa” entre as ópticas de Newton e Huygens. Para isso,
procuramos apresentar resumidamente as principais obras de Huygens e Newton, bem como
as cartas trocadas por eles, e os encontros pessoais.
Huygens, teve seguidores nos momentos mediatamente posteriores à publicação de
seu texto, mas eles não foram muitos e, em geral, a rejeição foi maior que a aceitação. Já
Newton, pelo contrário, adquiriu admiradores não só nas ilhas britânicas, mas no continente,
vendo gradualmente suas ideias se disseminarem e se estabelecerem como pilares para o
desenvolvimento da Óptica no século XVIII. No entanto, vale ressaltar que Newton, também
sofreu várias críticas à sua hipótese. E que essas criticas, questionaram os próprios
experimentos apresentados por Newton, bem como sua interpretação desses resultados.
Ainda assim, a rápida adesão e transformação das ideias newtonianas fizeram com
que o conteúdo do Óptica fosse alterado de maneira que pouco se assemelhava ao seu
propósito e fundamento originais, uma vez que, certos autores utilizavam a tendência do
período, selecionando algumas partes da óptica newtoniana e dessa forma, omitiam outras,
com o intuito de favorecer sua concepção corpuscular da luz e suas críticas às concepções
concorrente. Foi o caso, por exemplo, de Voltaire e do Algarotti (MOURA, SILVA. 2016).
A discussão apresentada neste texto, buscou mostrar que a Historiografia da Ciência
atual nos diz que não houve uma disputa entre Newton e Huygens. Sendo assim, qual seria a
fonte dessa informação? É difícil precisar a origem exata dessa anedota, as evidências
trazidas a partir da Historiografia da Ciência, levam à conclusão de que não parece adequado
reduzir o embate entre a concepção corpuscular e ondulatória da luz entre dois pensadores ou
entre dois trabalhos apenas. Assim, da mesma maneira, não se pode desmerecer a importância
dos trabalhos de Newton e Huygens para a Óptica. Suas teorias contribuíram para o
desenvolvimento tanto da concepção corpuscular quanto da ondulatória, porém elas não
foram as únicas desenvolvidas, já que com o passar dos anos, muitos fatores desempenharam
papéis importantes nessa questão.
Referências:
MARTINS, R.A; SILVA, C.C. A “Nova Teoria sobre a luz e Cores” de Isaac Newton: uma
tradução comentada, Revista Brasileira do ensino de Física, v. 18, n. 4, p. 313-327, 1996.
MOURA, B.A. Newton versus Huygens: como (não) ocorreu a disputa entre suas teorias
para a luz, Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 33, n. 1, p. 111-141, abr. 2016.