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Tópicos de História da Física Clássica

AS CONCEPÇÕES SOBRE A LUZ NOS SÉCULOS XVII E XVIII

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo apresentar uma breve discussão a respeito da
natureza da luz. Para isso, retratamos duas teorias distintas, apresentadas por duas figuras
importantes dos séculos XVII e XVIII, Isaac Newton e Christiaan Huygens. Para entender as
diferenças entre suas teorias, trouxemos uma breve descrição de suas principais obras, o
Óptica, escrito pelo Newton e o Tratado sobre a luz, escrito pelo Huygens. Além disso,
buscamos mostrar a partir da historiografia da ciência, que embora essas teorias não tivessem
semelhanças, parece não ter tido uma disputa entre suas teorias sobre a luz.

Introdução

Desde os gregos antigos, já se buscavam formas de explicar a natureza da luz. Sempre


existiu questionamentos como: porque enxergarmos certos objetos? e o que de fato é a luz?
Platão, filósofo grego, acreditava que nossos olhos emitiam pequenas partículas em direção
ao objeto, fazendo com que enxergássemos. Para Aristóteles, a luz era algo que existia no
meio que se propagava entre o olho e o objeto visto. Alguns séculos depois, Newton trata a
luz como corpúsculo, por meio da sua teoria corpuscular. Nessa mesma época Huygens
apresentou a luz como onda, através da sua teoria ondulatória. Esse embate, sobre a natureza
da luz, ocorre até o aparecimento da partícula fóton, demonstrada por Einstein em seu
experimento, o efeito fotoelétrico que o levou a ganhar o Nobel em 1921. Sendo assim, a luz
constituída de fótons, partículas, apresenta um comportamento de natureza ondulatória.

Atualmente compreendemos que a luz tem comportamento dual, ou seja, dependendo


da situação ela pode se comporta como onda ou partícula. Mas voltando um pouco no tempo,
e analisando um episódio, em especifico da história da Óptica, dos séculos XVII e XVIII,
encontramos duas figuras, que trataram a natureza da luz de formas distintas. Isaac Newton
(1642-1727) com a ideia da materialidade da luz, que recebeu o nome de teoria corpuscular e
Christiaan Huygens (1629-1695) com a ideia de pulsos de luz propagados pelo éter, o que foi
classificado como uma teoria ondulatória (MOURA, 2016).

Sabe-se que com as novas descobertas a respeito de fenômenos ópticos, bem como as
novas invenções de instrumentos, no século XVII, despertou em muitos filósofos naturais, o
interesse pela natureza da luz. Assim sendo, inúmeras teorias procuraram explicar este
fenômeno. Dentre as várias teorias, este trabalho apresentará a explicação da natureza da luz
feita tanto por Newton quanto por Huygens. Está escolha deu-se, uma vez que suas teorias
são distintas. Para entender melhor as teorias propostas por ambos, será feita uma exposição
de alguns aspectos das duas principais obras: Óptica (1704) de Isaac Newton e o Tratado
sobre a Luz (1690) escrito por Christiaan Huygens.

O tratado sobre a luz de Huygens

O tratado sobre a luz é uma obra concisa e objetiva, sendo dividida em seis capítulos,
cada um abordando conteúdo diferente: propagação retílinea da luz, reflexão, refração,
refração no ar, dupla refração (conhecido hoje como polarização) e formas dos corpos para
produzir a refração e reflexão. No Tratado, Huygens buscou tratar os principais fenômenos
luminosos, com base no conceito da luz como pulsos não periódicos propagados pelo éter, ou
seja, ele não apresentou uma teoria ondulatória, no sentido moderno. Sendo assim, não
apresentou concepções as quais hoje estamos familiarizado, em relação à ondas. Por isso
acredita-se que Huygens abarca-se em uma concepção mais vibracional do que ondulatória.
(MOURA, 2016).

Para entender melhor a visão de Huygens, que considerava o comportamento da luz


ondulatório, apresentaremos alguns pontos principais de seu estudo. Primeiramente veremos
qual foi o ponto de partida para a construção de um modelo para a luz, apresentado em sua
obra O Tratado sobre a luz, onde temos uma evidência sobre a analogia do comportamento
da luz com o som: “Não se pode duvidar de que a luz consista no movimento de certa
matéria” (Huygens, 1986; p. 12). Quanto aos fatos experimentais conhecidos pela época, o
conhecimento da extrema velocidade da luz, seu espalhamento por todos os lados e “os raios
luminosos” (Huygens, 1986; p. 12) que atravessam uns aos outros sem se interferirem em seu
movimento, mostram oposição ao modelo da luz como conjunto de corpúsculos. Essa ideia,
também pode ser identificada no seguinte trecho:“Quando vemos um objeto luminoso, isso
não poderia ocorrer pelo transporte de matéria que venha do objeto até nós, como uma
flecha ou bala que atravessa o ar” (Huygens, 1986; p. 12). Assim, vemos que recorre “ao
nosso conhecimento da propagação do som no ar” (Huygens, 1986; p. 12), aplicando-o a luz:

“Sabemos que, por meio do ar, que é um corpo invisível e impalpável, o som
se propaga em toda a volta do lugar onde foi produzido, por um movimento
que passa sucessivamente de uma parte do ar a outra. A propagação desse
movimento se faz com igual velocidade para todos os lados e devem se formar
como superfícies esféricas que crescem sempre e que chegam a atingir
nossas orelhas. {...} Se a luz gasta tempo para essa passagem {de um corpo
luminoso até nós} {...} seguir-se-á que esse movimento impresso à matéria é
sucessivo e que, consequentemente, ele se espalha, assim como o som, por
ondas esféricas” (Huygens, 1986; p. 12).
Apesar das semelhanças entre a luz e o som encontradas por Huygens, ele admite que
há diferenças entre os dois domínios, Huygens alega que o som se dá pelo fato de um abalo
de um corpo inteiro, ou pelo menos de uma parte considerável, enquanto que para a luz “deve
nascer como de cada ponto do objeto luminoso” (Huygens, 1986; p. 17). Não se esquecendo
do fato de que o agitamento das partículas, que geram a luz, deve ser muito mais rápida e
brusca do que a causada pelo som. (Huygens, 1986; p. 17).
Assim percebemos, que esse foi um dos pontos iniciais para a compreensão do
comportamento da luz, partindo de um ponto de vista meio empírico e que poderia até fazer
algum sentido para a época. Para entender o modo como a luz se propaga, foi necessário
compreender o meio de sustentação de uma onda, que no caso do som é o ar; onde então
Huygens recorreu a matéria etérea, usando como base os resultados experimentais de Boyle e
Torricelli (sobre a propagação da luz mesmo em espaços sem ar).
Sabendo que o modelo de propagação do som pelo ar, não era capaz de explicar certas
propriedades da luz, como por exemplo, sua velocidade, foi necessário conceber sua
propagação de outra forma. Com isso, Huygens pode entender, por meios de analogias com a
propagação do movimento, através de esferas rígidas, o que conhecemos por “berço de
Newton”. A propagação do movimento, nesse caso, corresponde à propagação de uma onda
mecânica longitudinal num meio sólido. As esfera rígidas, usadas como meio de propagação,
deveriam ser duras para que o movimento de propagação fosse rápido, transpondo isso para o
éter. Essa dureza se refere a elasticidade do meio. Assim, Huygens atribuiu ao éter ás mesmas
propriedades das bolas, como pode ser verificado nesse trecho: “nada impede que
imaginemos que as partículas do éter sejam de uma matéria tão próxima da dureza perfeita e
de uma recuperação tão rápida quanto quisermos” (Huygens, 1986; p. 18). Dessa forma, a
elasticidade do éter irá permitir a compreensão do comportamento da luz, como seu valor
finito de sua velocidade e outras propriedades.
Então vemos que a explicação para o comportamento da luz foi apresentada como um
modelo de onda mecânica que se propaga num meio elástico, no caso o éter. A partir disso,
Huygens começa a associar esse modelo uma construção geométrica, no qual um corpo
luminoso emana pulsos a partir de um ponto central. Esses pulsos podem ser entendido como
ondas emanadas de um ponto luminoso pertencente a um corpo.

Óptica de Newton

Isaac Newton (1643- 1727) trabalhou em diversas áreas e discursou assuntos variados,
desde seus conhecidos estudos sobre mecânica e a óptica, até os estudos pouco explorados,
como a alquimia e a religião. Boa parte desses estudos encontram-se escrito. Um de seus
escritos, o livro Óptica, contribuiu para o desenvolvimento de fenômenos ópticos. Este livro,
teve sua primeira edição publicada em 1704. Nele podemos perceber que Newton adota uma
concepção corpuscular para a luz, no entanto não a defende abertamente (MOURA, SILVA.
2016).
O Óptica está dividido em três livros, cada um dividido em partes. O primeiro livro,
faz uma exposição da natureza heterogênea dos raios luminosos e das cores dos objetos. Ele
Está dividido em três partes: “Definições” (conjunto de pressupostos e termos adotados ao
longo da obra), Axiomas (conjunto de conhecimentos tomados como verdadeiros) e para
finalizar descreveu suas “Proposições”, demonstradas “por experiências”. O segundo livro,
apresenta as observações e explicações referente as cores formadas em película fina, como as
bolhas de sabão. Este foi dividido em quatro partes, a primeira e a segunda partes são
constituídas de um conjunto de observações, a terceira contém apenas proposições e a quarta
novamente apresenta observações. Por sua vez, o terceiro livro fala sobre a difração da luz,
chamada por Newton de “inflexão” da luz. Neste livro, encontra-se em uma parte, as
observações sobre a difração e, no fim, as questões sobre temáticas não completamente
discutidas por Newton (MOURA, 2016).
Do Óptica pode-se destacar dois aspectos importantes, a visão corpuscular para a luz
e o caráter indutivista impresso por Newton. Em relação a visão corpuscular, podemos relatar
que no Óptica, a parte que ele trata esse assunto abertamente encontra-se justamente nas
partes especulativas. Segundo Mouro (2016), esse assunto é abordado por ele na “Questão
29”, perguntando: “Os raios de luz não são corpos minúsculos emitidos pelas substâncias
que brilham?” (NEWTON, 1996,P.271; citado por MOURO. 2016, p.117). Em seguida, ele
apresenta argumentos que confirmam essa hipótese, relacionando-os com os vários
fenômenos discutidos nas parte anteriores do livro. Quanto ao caráter indutivista, pode ser
verificado no primeiro livro, onde segundo Moura (2016) Newton afirmou:

“Meu objetivo neste livro não é explicar as propriedades da luz por hipóteses, mas
propô-las e prová-las pelo raciocínio e por experiencias, para o que tomarei como premissas
as definições e os axiomas que se seguem” (NEWTON, 1996,p.39).

Segundo Moura (2016), este estilo de investigação, também pode ser verificado no
final do Óptica, a partir do seguinte trecho:

“ Como na matemática, também na filosofia natural a investigação das coisas difíceis


pelo método da análise deve sempre preceder o método da composição. Essa análise consiste
em fazer experiências e observações, em tirar conclusões gerais delas por indução e em não
admitir objeções contra as conclusões exceto aquelas que decorrem das experiências ou de
algumas outras verdades. Pois as hipóteses não devem ser consideradas na filosofia
experimental. E, embora a argumentação pela indução a partir de experiências e
observações não seja a demonstração de conclusões gerais, ainda assim, é o melhor caminho
de argumentação que a natureza das coisas admite, e pode ser considerada tanto mais forte
quanto mais geral é a indução” (NEWTON, 1996, p. 292, citado por MOURA, 2016. p.117)

Pela discussão acima, percebe-se que Newton valorizou a experimentação, bem como
as observações, para trazer a teoria sobre a luz fundamentada na heterogeneidade da luz
branca e na estreita relação entre corpos e luz.
Uma análise sobre as obras de Newton e Huygens.

Com o surgimento da instrumentação óptica, como o telescópio e o microscópio e a


descobertas de conceitos novos como a difração e os anéis coloridos em filmes finos, no
inicio do século XVII, ocorreu um súbito interesse, por parte dos filósofos naturais da época,
em estudar a natureza da luz. Entre eles encontram-se duas figuras importantes, dos séculos
XVII e XVIII, Newton com um modelo da luz como uma série de pequenos corpos materiais
emitidos pelos corpos luminosos, e Huygens com o conceito de pulsos de luz propagados
pelo éter, classificado como uma teoria ondulatória.
Com essas novas descobertas, surge a necessidade de criar modelos que expliquem os
fenômenos e comprovem tal fato, assim então começou a discussão a respeito do
comportamento da luz. A partir disso, inúmeras teorias foram desenvolvidas com o intuito de
entender esse caráter fenomenológico. Newton e Huygens, também formularam teorias para
explicar o comportamento da luz, às diferenças entre suas teorias se sobressaíram, não
restando praticamente nenhuma semelhança entre elas.
Na tentativa de explicar o comportamento da luz, Huygens e Newton, escreveram
seus livros. Primeiramente temos a publicação de Huygens, O tratado sobre a luz; tendo
ficado pronto em 1678, mas publicado apenas em 1690. Nessa mesma época, Newton já
estava trabalhando sobre esse assunto onde ele começou a escrever o Óptica em 1670, tendo
sua primeira edição publicada em 1704. Em seus trabalhos, Huygens foi bastante
influenciado do René Descartes que também tinha estudos relacionados á óptica, com uma
abordagem geométrica. Newton foi influenciado por Francis Bacon, o pai do empirismo,
possuindo uma visão de mundo com base nas investigações, observações e a experimentação.
Se olharmos bem toda a produção de Newton vemos esse caráter experimental e de sempre
demonstrar o porquê das coisas.
As estruturas dessas publicações são distintas: O tratado sobre a luz é dividido em 6
capítulos : Propagação retilínea da luz, reflexão, refração, refração no ar, dupla refração e
forma dos corpos para produzir refração e reflexão. Huygens buscou descrever e explicar os
principais fenômenos luminosos, baseando-se no conceito da luz como pulsos não periódicos
propagados pelo éter. Esses conceitos de pulsos não foram apresentados como uma teoria
ondulatória no sentido moderno. Sua teoria então se enquadra mais precisamente em uma
concepção vibracional do que ondulatória. Através do principio de Huygens ele conseguiu
derivar o comportamento dos raios de luz na refração e reflexão, explicando-os do ponto de
vista geométrico. Já o Óptica foi dividido em três livros, o primeiro contém a exposição de
Newton sobre a natureza heterogênea dos raios luminosos e das cores dos objetos, sendo
incluso nesse livro seus experimentos como o prisma e sua descrição de um telescópio
refletor. O segundo livro contem observações e explicações sobre os anéis de cores formados
em películas finas, como bolhas de sabão. E seu terceiro livro contém o pensamento de
Newton sobre a difração da luz, denominada por ele como inflexão da luz. Destacando um
ponto importante na obra de Newton, um é a concepção corpuscular para a luz, é bem sabido
que Newton é popularmente conhecido como principal defensor da materialidade da luz.
Apesar de Newton ter adotado a concepção corpuscular da luz, ele nunca a defendeu
em seus escritos, ele apenas considerava a materialidade da luz com uma hipótese provável,
sugerida pelos vários resultados experimental que obtivera ao estudar os fenômenos ópticos.
No Tratado, Huygens discutiu uma teoria mais vibracional que ondulatória, preocupando se
com o fenômeno da dupla refração e argumentação baseada da geometria. Do outro lado,
Newton valorizou mais o papel dos experimentos e das observações, trazendo uma teoria
sobre a luz fundamentada na heterogeneidade da luz branca e na estreita relação entre luz e
corpos. Sendo assim, a nenhum dos dois textos pode ser atribuída uma defesa coerente da
concepção ondulatória e corpuscular da luz.

Disputa entre Newton e Huygens

Em discussões a respeito de acontecimentos relacionados a História da Óptica, é


normal nos defrontarmos com a narrativa de que entre os séculos XVII e XVIII ocorreu uma
rivalidade entre as teorias corpuscular e ondulatória da luz, respectivamente entre Issac
Newton e Christiaan Huygens, isso porque suas teorias não eram semelhantes. Newton
defendia a ideia da luz como corpúsculo, enquanto Huygens, propôs o conceito de pulsos de
luz propagados pelo éter.
Numa análise acrítica dessa história, pode-se pressupor que Newton e Huygens
competiram em pé de igualdade, ambos tendo apresentado teorias fundamentadas. Após a
morte deles, acredita-se que seus seguidores continuaram a travar esse árduo embate. No
entanto, na perspectiva historiográfica da ciência conclui-se que o conflito sistemático entre
as ideias sobre a luz e cores de Newton e Huygens não existiu. Um dos aspectos que
contribuiu para essa conclusão, foi análise das diferenças que os livros apresentam, em
relação a sua estrutura, suas bases teóricas e suas metodologias. Por esse aspecto, foi possível
observar que o livro do Newton não defende abertamente a concepção corpuscular, tratando-a
apenas nas “Questões”. Além disso, sua estrutura linear e pragmática do raciocínio indutivo
encontra-se apenas no livro I, estando aos remendos, nos outros dois. Já no Tratado, Huygens
discutiu uma teoria mais vibracional do que ondulatória. Além disso, se atentou aos
fenômenos da dupla refração e das ondas esféricas e esferoidais, não discutindo fenômenos já
conhecidos da época como, por exemplo, cores, e difração ou interferência. Pelo menos
através da análise do Óptica e do Tratado, parece não ter ocorrido uma disputa entre suas
teorias sobre a luz (MOURA, 2016).
Se Newton e Huygens não disputaram a prevalência da natureza da luz por suas obras,
possivelmente possam ter feito isso por outros meios, por intermédio de outros filósofos
naturais ou mesmo pessoalmente, já que poderiam expressar suas opiniões na Royal Society
em Londres ou na Académie Royale des Sciences, em Paris. Apesar disso, pela historiografia
da ciência, o cenário foi bem menos agitado.
O primeiro contato entre eles aconteceu em 1672, quando Newton publicou a obra
“Nova teoria sobre luz e cores”, nas philosophical Transactions da Royal Society. Esse texto
despertou criticas e comentários de muitos filósofos naturais da época, ao apresentar como
conteúdo a heterogeneidade da luz branca. Foi nesse período que Huygens e Newton
começaram a trocar cartas, com a mediação do então secretário da Royal Society, Henry
Oldenburgh. A partir da primeira carta, outras foram trocadas entre eles, em réplicas e
treplicas de comentários a respeito da teoria newtoniana sobre luz e cores. E embora as
criticas de Huygens tenham sido as mais afiadas, dentre as recebidas por Newton nesse
processo, as discussão ente eles foram de maneira geral, boa e respeitosa. Nos anos seguintes,
eles não trocaram mais cartas sobre a “Nova teoria”(MOURA, 2016).
Segundo a historiografia, eles se encontraram pessoalmente, algumas vezes. Nesses
encontros discutiram suas ideias de maneira educada, não havendo debate generalizado entre
os dois no final do século XVII.

Considerações finais

Com base em estudos historiográficos, neste artigo, propusemos subsidiar uma análise
crítica envolvendo uma possível “disputa” entre as ópticas de Newton e Huygens. Para isso,
procuramos apresentar resumidamente as principais obras de Huygens e Newton, bem como
as cartas trocadas por eles, e os encontros pessoais.
Huygens, teve seguidores nos momentos mediatamente posteriores à publicação de
seu texto, mas eles não foram muitos e, em geral, a rejeição foi maior que a aceitação. Já
Newton, pelo contrário, adquiriu admiradores não só nas ilhas britânicas, mas no continente,
vendo gradualmente suas ideias se disseminarem e se estabelecerem como pilares para o
desenvolvimento da Óptica no século XVIII. No entanto, vale ressaltar que Newton, também
sofreu várias críticas à sua hipótese. E que essas criticas, questionaram os próprios
experimentos apresentados por Newton, bem como sua interpretação desses resultados.
Ainda assim, a rápida adesão e transformação das ideias newtonianas fizeram com
que o conteúdo do Óptica fosse alterado de maneira que pouco se assemelhava ao seu
propósito e fundamento originais, uma vez que, certos autores utilizavam a tendência do
período, selecionando algumas partes da óptica newtoniana e dessa forma, omitiam outras,
com o intuito de favorecer sua concepção corpuscular da luz e suas críticas às concepções
concorrente. Foi o caso, por exemplo, de Voltaire e do Algarotti (MOURA, SILVA. 2016).
A discussão apresentada neste texto, buscou mostrar que a Historiografia da Ciência
atual nos diz que não houve uma disputa entre Newton e Huygens. Sendo assim, qual seria a
fonte dessa informação? É difícil precisar a origem exata dessa anedota, as evidências
trazidas a partir da Historiografia da Ciência, levam à conclusão de que não parece adequado
reduzir o embate entre a concepção corpuscular e ondulatória da luz entre dois pensadores ou
entre dois trabalhos apenas. Assim, da mesma maneira, não se pode desmerecer a importância
dos trabalhos de Newton e Huygens para a Óptica. Suas teorias contribuíram para o
desenvolvimento tanto da concepção corpuscular quanto da ondulatória, porém elas não
foram as únicas desenvolvidas, já que com o passar dos anos, muitos fatores desempenharam
papéis importantes nessa questão.
Referências:

MARTINS, R.A; SILVA, C.C. A “Nova Teoria sobre a luz e Cores” de Isaac Newton: uma
tradução comentada, Revista Brasileira do ensino de Física, v. 18, n. 4, p. 313-327, 1996.

MOURA, B.A; SILVA, C.C. Voltaire e Algarotti: divulgadores da óptica de Newton na


Europa do século XVIII. SCIENTI/£ STUDIA, São Paulo, v.13, n. 2,p.397-423, 2015.

MOURA, B.A. Newton versus Huygens: como (não) ocorreu a disputa entre suas teorias
para a luz, Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 33, n. 1, p. 111-141, abr. 2016.

KRAPAS, S; QUEIROZ, G.R.P.C; UZÊDA, D. O TRATADO SOBRE A LUZ DE


HUYGENS: COMENTÁRIOS, Cad. Bras. Ens. Fís., v. 28, n. 1: p. 123-151, abr. 2011.

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