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Óptica

Alunas: Heloise Dias


Josane Cristina
Disciplina: História da Física
Polarização
Erasmus Bartholinus
• Em 1669, o médico e matemático dinamarquês Erasmus Bartholinus, publicou resultados
de observações ópticas realizadas com um corpo transparente (calcita, ou carbonato de
cálcio - CaCO3) trazido por alguns comerciantes de um local próximo a Eskifjordur na
Islândia (daí o nome de espato-da-islândia, como era conhecido).

Fig. 1: Calcita, ou carbonato de cálcio - CaCO3


• Percebeu que os objetos vistos através do cristal tinham sua imagem duplicada, ao
contrário do que acontece quando olhamos através de um corpo transparente qualquer.
Bartholinus denominou este fenômeno de dupla refração.

Fig. 2: Um feixe de luz "não polarizado" incidindo num cristal de calcita se desdobra em dois
polarizados perpendicularmente entre si.
• Em suas próprias palavras:

Muito admirado pelos homens é o diamante, e muitas são as alegrias que


tesouros semelhantes trazem, tais como pedras preciosas e pérolas... mas
para aqueles que a essas delícias prefere o conhecimento dos fenômenos
raros, não menos alegria lhes dará um novo corpo, a saber, um cristal
transparente, que recentemente nos foi trazido da Islândia, que é talvez
uma das maiores maravilhas que a natureza produziu...

A medida que os meus estudos sobre um tal cristal prosseguiram, um


fenômeno maravilhoso e extraordinário se revelou: os objetos observados
através do cristal não aparecem, como no caso de outros corpos
transparentes, com uma imagem refratada única, mas sim como uma
imagem dupla.
• Bartholinus observou também que, se o cristal sofresse uma rotação, uma das imagens
permaneceria fixa, enquanto a outra, curiosamente, se deslocava, acompanhando o sentido
do giro do cristal.
• Ele atribuiu essa dupla imagem a dois tipos de refração, respectivamente: refração
ordinária, que obedece à chamada lei de Snell-Descartes, e refração extraordinária, que
não obedece a esta lei.
Christian Huygens
• O fenômeno da polarização, por sua vez, foi descoberto por Huygens, em 1678,
ao tentar interpretar o fenômeno da dupla refração, que Bartholinus havia
descoberto.
• A polarização é o processo pelo qual ocorre a seleção de algumas direções de
oscilação da onda (Fig. 3).
• A descoberta de Huygens se deu quando ele tomou dois cristais de calcita e os colocou
em sucessão, atravessando-os com um raio luminoso. Ao girar o segundo cristal em
relação ao primeiro, observou que, conforme a posição relativa dos dois cristais, os raios
emergentes poderiam ser em número de dois ou de quatro, com a intensidade de cada um
variando durante a rotação. Esse "fenômeno maravilhoso" Huygens não soube explicar e
o descreveu no seu Tratado da Luz para "dar oportunidade a que outros investiguem-no".
• Hoje, sabemos que o fenômeno da polarização por dupla refração, descoberto por
Huygens, é apenas uma das maneiras de se obter luz polarizada, já que podemos obtê-la
também por espalhamento, por absorção e por reflexão.

21/10/2019
Isaac Newton
• Uma das primeiras tentativas para explicar o fenômeno da polarização (descoberto por
Huygens) foi feita por Newton, a partir da sua peculiar visão dos fenômenos luminosos,
imaginando uma estrutura para os raios de luz, admitindo que estes tinham lados, ou
melhor, propriedades distintas em diferentes direções transversais à direção de
propagação. Esta ideia de Newton não seria bem aceita pelos defensores da teoria
ondulatória da luz.
• Newton chegou a fazer uma comparação entre os lados da luz e os pólos de um
imã, e é nesta analogia que se encontra a origem do termo "polarização da luz" para
caracterizar o fenômeno luminoso descrito por Huygens. Esta ideia de que raios de luz
tinham lados parecia-lhe uma forte objeção à hipótese de que a luz seria constituída por
ondas análogas às ondas de som, como pensava Huygens, por exemplo.
Étienne Malus
• A luz polarizada foi descoberta por Étienne Malus, em 1809, estimulado pela Academia
de Ciências, de Paris, que ofereceu um prêmio a quem apresentasse um estudo
matemático da dupla refração e o confirmasse experimentalmente.
• A descoberta se deu quando ele observava a reflexão da luz nas janelas do palácio de
Luxemburgo - que ficava próximo a sua casa através de um cristal de calcita. Na ocasião,
ele notou que as duas imagens, obtidas por dupla refração na calcita, variavam em
intensidade, chegando uma delas a desaparecer quando a calcita era girada em torno da
direção do raio solar refletido, o que não ocorria quando a luz do Sol era examinada
diretamente através da calcita.
• Em 1809, Malus, apoiado nas concepções newtonianas da luz, tentou dar uma explicação
corpuscular para o fenômeno da polarização por reflexão, que acabara de descobrir.
• Para ele, tal fenômeno era consequência de forças repulsivas atuando sobre moléculas
luminosas não esféricas, mas arredondadas, que comporiam o raio. A essas moléculas
Malus associava três eixos, ortogonais entre si e desiguais, sendo que o eixo maior seria
orientado na direção do raio luminoso e, no caso da luz natural (luz não refletida, nem
refratada), os eixos menores estariam orientados em direções perpendiculares ao raio
luminoso.
• De acordo com Malus, analogamente ao que acontece com as partículas magnéticas que
ficam orientadas sob a ação de imãs, quando a luz natural incide (com um certo ângulo)
sobre um meio mais refringente, as forças repulsivas deste meio, que provocam a
reflexão, atuam sobre as moléculas luminosas, orientando parte delas, de modo que o raio
refletido será constituído por moléculas cujos eixos ficam paralelos entre si (o raio fica
polarizado).
• Com ideias semelhantes, Malus também tentava explicar o fenômeno da dupla refração.
• Apesar dos esforços de Malus e outros para explicar os fenômenos da polarização por
reflexão e por dupla refração, a partir da concepção corpuscular da luz, é principalmente
com os trabalhos de Thomas Young, Dominique Arago e Augustin Fresnel, baseados na
concepção ondulatória da luz, que estes fenômenos viriam a ser melhor compreendidos.
Thomas Young
• Um ideia importante foi a da transversalidade da onda luminosa, proposta por Young em
1817, em contraposição à ideia da luz como uma onda longitudinal.
• Esta ideia de Young tem sua origem numa descoberta curiosa realizada por Arago e
Fresnel, em 1816, quando eles, imaginando que só poderia haver interferência de ondas
luminosas se estas fossem provenientes de uma única fonte, tentaram interferir os raios
emergentes do cristal de calcita (raios ordinários e extraordinários) e notaram que estes
não produziam franjas de interferência, formando, em lugar disto, apenas uma iluminação
uniforme. Ao ser informado por Arago e Fresnel desta descoberta, e de que os raios
ordinários e extraordinários estavam polarizados em direções perpendiculares, Young, em
duas cartas a Arago, levantou uma hipótese considerada por muitos como "atrevida"
(inclusive por Arago): a de que a luz era uma onda transversal.
• Em suas próprias palavras:

Tenho refletido sobre a possibilidade de dar uma explicação parcial do


fenômeno luminoso sem me afastar da genuína doutrina das ondulações.
Conforme essa teoria, todas as oscilações se propagam através dos meios
homogêneos segundo superfícies esféricas concêntricas, como as
ondulações sonoras, consistindo apenas de movimento de vaivém das
partículas, na direção do raio, com as suas concomitantes condensações e
rarefações (isto é, ondas longitudinais). No entanto, também se consegue
descrever nessa teoria uma vibração transversal, propagando-se na direção
do raio e com a mesma velocidade, enquanto os movimentos das partículas
se realizarão em uma certa direção que faz um ângulo constante com o
raio; isto é, uma "polarização".
• Young apresenta a vibração transversal como uma ideia nova. Em que pese a
incredulidade de Arago e outros, Fresnel viu na hipótese da transversalidade, a chave para
explicar a experiência que fizera com Arago (referida acima).
• Num artigo publicado em 1819, Fresnel afirma que os raios ordinários e extraordinários
não produzem franjas de interferência porque vibram transversalmente e em direções
perpendiculares.
• Por volta de 1873, após a descoberta de Maxwell de que a luz era uma onda
eletromagnética, foi possível, então, dizer que a polarização é caracterizada pela direção
das oscilações da onda eletromagnética, de cujo espectro a luz ocupa uma pequena faixa.

21/10/2019
Triunfo da Teoria Ondulatória e
Ressurgimento da Teoria
Corpuscular da Luz
• Como vimos, a controvérsia sobre a natureza da luz era puramente filosófica até,
aproximadamente, o início do século XVII.
• Em meados daquele século, entretanto, essa controvérsia tomou outro rumo, deslocando-
se do campo filosófico para o campo científico.
• De forma resumida, podemos descrever esse conflito de ideias da seguinte forma: de um
lado, o trabalho teórico de Descartes, de 1637, no qual, para demonstrar a lei da refração,
ele utiliza a teoria corpuscular da luz e conclui que a velocidade da mesma é maior nos
meios mais refringentes, isto é, mais densos.
• De outro, o trabalho, também teórico, de Fermat, de 1661, no qual, para demonstrar a lei
da refração, ele se apoia no seu postulado do tempo mínimo, e usa uma hipótese que
exigia ter a luz uma velocidade menor nos meios mais densos, a qual era frontalmente
contrária ao resultado de Descartes.
• Diante das considerações teóricas de Descartes e Fermat, totalmente conflitantes,
podemos dizer que estava posta, formalmente, a controvérsia entre as duas concepções
sobre a natureza da luz
• Os trabalhos de Huygens e de Newton, baseados em concepções diferentes da natureza da
luz, fizeram aumentar significativamente esta polêmica.
• De acordo com a teoria da refração de Huygens, por exemplo, baseada na concepção
ondulatória da luz, a velocidade da luz deveria ser menor em meios mais densos, em
concordância com Fermat.
• Para Newton, entretanto, dentro da concepção que tinha da luz, o inverso é que seria
verdadeiro.
• As descobertas dos fenômenos de difração (1665), de interferência (1665) e de
polarização (1669) viriam enriquecer ainda mais as discussões sobre a natureza dos
fenômenos ópticos até então conhecidos.
• Apesar das tentativas de Newton e de outros, não havia explicação satisfatória para o
fenômeno descoberto pelo jesuíta italiano Grimaldi ou para aquele descoberto por R.
Hooke (ou R. Boyle), por exemplo. Como não existiam, naquela época, aparelhos
disponíveis capazes de medir, com precisão, a velocidade da luz no ar, na água ou em
outro meio qualquer, essa controvérsia não pôde ser resolvida, até meados do século XIX.
As Experiências de Airy, Foucault e
Fizeau
• A interpretação que os defensores da teoria corpuscular deram aos trabalhos de Newton,
aliada ao prestígio que o nome de Newton tinha (e continua tendo) no meio da
comunidade científica, fez prevalecer, por todo o século XVIII, a teoria corpuscular da
luz.
• Nessa época, a comunidade científica não se permitia imaginar que as partículas
luminosas pudessem ter aspectos ondulatórios. Para ela, a experiência certamente
decidiria pela concepção ou corpuscular ou ondulatória.
• A experiência realizada pelo inglês Sir George B. Airy, em 1833, e, principalmente, as
experiências realizadas por Fizeau e Foucaut, em 1850, levariam à confirmação de que
Huygens é que estaria certo.
• A experiência de Airy está relacionada ao hoje conhecido fenômeno de
interferência. Considerava-se uma placa delgada sobre a qual fazia se
incidir luz em um determinado ângulo. Pela teoria ondulatória, as cores em
placas delgadas eram decorrentes da interferência entre a luz refletida pela
primeira e segunda superfícies da placa.
• Pela teoria corpuscular, essas cores eram produzidas somente pela luz
refletida pela segunda superfície da placa. Se, de algum modo, a reflexão
na primeira superfície fosse impedida e se a teoria ondulatória fosse
correta, não seria observada a formação de cores.
• Com a sua experiência, Airy confirmou as previsões da teoria ondulatória.
• A experiência de Airy, como dissemos, não foi a mais importante. As
experiências realizadas por Foucault e Fizeau foram as que causaram
grande impacto. Nelas, a polêmica dizia respeito à velocidade da luz em
um meio mais denso que o ar. Conforme já foi dito, a teoria corpuscular
afirmava que a velocidade da luz seria tanto maior quanto mais denso
fosse o meio que ela atravessasse, enquanto a teoria ondulatória indicava
exatamente o contrário.
• A teoria ondulatória serviria também de base para os trabalhos de James C. Maxwell. No
já citado livro, Maxwell sintetizou em quatro equações, hoje chamadas equações de
Maxwell, toda a teoria do eletromagnetismo e, com ela, foi capaz de demonstrar que a luz
era uma onda eletromagnética. Este trabalho de Maxwell é considerado, por muitos, como
um dos mais belos de toda a Física
• Na verdade, a solução do conflito sobre a natureza da luz, através dos trabalhos de
Foucault e de outros foi apenas aparente, pois, no período que vai do final do século XIX
até início do século XX, as descobertas de novos fenômenos como, por exemplo, o efeito
fotoelétrico, fazem ressurgir a controvérsia em termos muito mais dramáticos.
O Efeito Fotoelétrico
• As previsões de Maxwell foram confirmadas, experimentalmente, em 1887, por Hertz,
quando ele mostrou que as ondas eletromagnéticas tinham todas as propriedades das
ondas luminosas.
• Surpreendentemente, nos mesmos experimentos em que Hertz confirmou a natureza
eletromagnética das ondas da luz, ele descobriu e registrou um fenômeno novo para a luz,
pouco depois identificado como de natureza corpuscular, hoje conhecido como efeito
fotoelétrico (o físico russo Alexander G. Stoletov é citado, frequentemente, como sendo o
primeiro a observar o efeito fotoelétrico, em 1872).
• Este efeito consiste na retirada de elétrons da superfície de um metal atingido por
radiações eletromagnéticas (fig. 4). Ele pode ser observado, por exemplo, fazendo-se
incidir luz ultravioleta sobre uma placa de zinco, ou iluminando com luz amarela uma
placa de potássio (metal alcalino). A radiação eletromagnética desprende os elétrons de
tais placas, deixando-as carregada positivamente.
• O efeito fotoelétrico é hoje aproveitado tecnologicamente em visores noturnos (que
captam a radiação infra-vermelha emitida pelos corpos), em fotômetros, em dispositivos
controladores de portas de elevadores e em outras aplicações práticas.
Fig. 4: Efeito fotoelétrico.

• Este fenômeno tinha uma estranha particularidade: a energia máxima dos elétrons
emitidos não era determinada pela intensidade da luz, como era de se esperar pela teoria
ondulatória de Maxwell, e sim, pela frequência da onda incidente.
• Por volta de 1900, esse efeito (junto com o chamado problema da radiação do corpo
negro) tinha posto em xeque novamente os fundamentos da teoria ondulatória da luz, pois
esta teoria não era capaz de explicar tais efeitos, levando a Física, chamada clássica, a
uma profunda crise.

A Dualidade Onda-Corpúsculo
• Por volta de 1920, a situação poderia ser resumida da seguinte maneira:
- Por um lado, a luz se comporta como onda, quando se trata, por exemplo, da experiência
da dupla fenda de Young, produzindo um fenômeno de interferência.
- Por outro, a luz se comporta como corpúsculo, quando se trata, por exemplo, do efeito
fotoelétrico, explicado por Einstein.
• Sendo assim, seria natural se pensar que a natureza da luz pudesse ser melhor
compreendida considerando a luz como tendo não uma natureza, corpuscular ou
ondulatória, mas sim como tendo uma natureza dual, isto é, uma onda-partícula (uma
partícula quântica), em determinados experimentos a luz se comporta como partícula
(efeito fotoelétrico) e em outros, a luz se comporta como onda (experiência da fenda
dupla de Young).
• Esta discussão, aparentemente de caráter filosófico, tem grande importância para a Física
como ciência, por várias razões. Vejamos a principal delas: Se há uma dualidade onda-
corpúsculo nos entes que compõem a luz, que teoria física descreverá corretamente os
fenômenos luminosos?
• Naturalmente, uma teoria só ondulatória, como é o caso da teoria eletromagnética da luz
(expressa pelas equações de Maxwell) não seria suficiente pois, como se sabe, a teoria
eletromagnética da luz não explica o efeito fotoelétrico; uma teoria puramente corpuscular
da luz também não seria suficiente, pois negaria a teoria eletromagnética de Maxwell.
Difração de Elétrons

• Então, talvez, as partículas materiais, tais como elétrons, pudessem também ser
consideradas como ondas-corpúsculos e, portanto, se comportar de modo semelhante à
luz, apresentando, eventualmente, fenômenos de interferência de partículas materiais em
experiências tipo a da fenda dupla de Young (ondulatórios) e fenômenos de choques de
partículas materiais (corpusculares).
• O extraordinário é que, de fato, essa hipótese de L. de Broglie foi plenamente confirmada
em 1927, através de uma experiência de difração de elétrons realizada por Clinton J.
Davisson e Lester A. Germer; esta experiência é análoga à de difração de raios X em
cristais.
• Posteriormente, outras experiências confirmaram também a hipótese de L. de Broglie,
inclusive uma mais recente (1961) realizada por C. Jonsson (Zeitschrift für Physik, vol.
161), análoga à da fenda dupla de Young.
• Antes mesmo da experiência de Davisson e Germer, o físico e matemático austríaco
Erwin Schrodinger, em 1925, usando a idéia proposta por L. de Broglie, publicou sua
famosa equação de onda, conhecida hoje como equação de Schrodinger, a qual é de
importância fundamental na Física Quântica.
• Podemos dizer ainda que, em importância, a equação de
Schrodinger está para a Física Quântica assim como a
segunda lei de Newton está para a Física Clássica (parte da
Física cujos conceitos foram estabelecidos antes da Teoria da
Relatividade e da Física Quântica).
• Com a mecânica dos quanta ficou estabelecido que a forma de
energia chamada luz - aquela pequena região visível do
Qualquer físico julga saber o que é um fóton. Eu passei a minha vida a
espectro eletromagnético
tentar saber o que é -uméfóton
umae ainda
onda-partícula
hoje não sei. e estas duas
qualidades são aspectos complementares de uma única
realidade.
• A dicotomia onda-partícula converteu-se, então, numa
dualidade.
• Para finalizar, vamos transcrever uma citação de Einstein
sobre o fóton:

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