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Cad. biodivers. v. 4, n. 2,dez.

2004 ISSN 1415-9112

Ocorrência e uso da área por carnívoros silvestres no


Parque Estadual do Cerrado, Jaguariaíva, Paraná
Gisley Paula Vidolin1
Fernanda Góss Braga2

Entre janeiro de 2001 e de 2002 foi realizado um levantamento das espécies


de carnívoros no Parque Estadual do cerrado com o objetivo de descrever
alguns aspectos de sua ecologia. Através de visualizações, vocalizações,
obtenção de fotografias com o uso de adaptadores fotográficos, e da coleta de
fezes e pegadas, foram registradas 12 espécies de carnívoros: lobo-guará
Chrysocyon brachyurus, cachorro-do-mato Cerdocyon thous, cachorro-do-
campo Pseudalopex gymnocercus, jaguatirica Leopardus pardalis, gato-do-
mato-pequeno Leopardus tigrinus, gato-mourisco Herpailurus yagouarundi,
puma Puma concolor, irara Eira barbara, furão Galicts cuja, lontra Lontra
longicaudis, quati Nasua nasua e mão-pelada Procyon cancrivorus. Foram
obtidas também informações quanto ao uso da área por estas espécies, tanto
no Parque quanto em pequenos fragmentos florestais de seu entorno e áreas
alteradas de lavoura e plantio de pinus.

INTRODUÇÃO

O Cerrado é o segundo bioma brasileiro em com SILVA & NICOLA (1999), ocorrem na área
extensão que tem sofrido com pressões 10 espécies de carnívoros, sendo quatro delas
antrópicas impostas pelo avanço das fronteiras ameaçadas de extinção no Paraná.
agropecuárias (MUELLER, 1995 apud Apesar das espécies de carnívoros
SILVEIRA, 1999). Estima-se que no presente ocuparem uma grande diversidade de habitas e
restam menos de 35% de Cerrado na sua forma terem uma ampla distribuição em todo o mundo,
natural (MANTOVANI e PEREIRA, 1998 apud é notável a carência de informações sobre grande
SILVEIRA, op. cit.), sendo que destes apenas parte delas. Neste sentido, pesquisas com este
1,6% estão em áreas protegidas (SILVEIRA & grupo se fazem prementes, pois os carnívoros
JACOMO, no prelo apud SILVEIRA, op. cit.). representam espécies chaves para os
Este avanço vem fragmentando e isolando de ecossistemas, sendo importantes reguladores de
forma irreversível, pequenas populações populações de presas animais ou importantes
geneticamente inviáveis. dispersores de sementes, mantendo o equilíbrio
O Parque Estadual do Cerrado (PEC) é um tanto das comunidades animais como vegetais
exemplo pois trata-se de uma das últimas (SILVEIRA, op. cit.).
reservas de vegetação savânica do Estado do Este trabalho teve como objetivo verificar a
Paraná (UHLMANN, 1995), e também um utilização dos diferentes ambientes do PEC pelos
importante refúgio para a fauna local. De acordo carnívoros lá ocorrentes.

______________
1
Bióloga, MSc. em Conservação da Biodiversidade pela UFPR. E-mail: paula@biositu.com.br;
2
Bióloga, MSc. em Conservação da Biodiversidade pela UFPR. E-mail: fernanda@biositu.com.br;

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MATERIAL E MÉTODOS transparência com caneta de retro-projetor e após


em gesso de secagem rápida.
Todas as áreas do PEC foram percorridas
A determinação da área de uso das espécies
para definição das trilhas e estradas mais
foi feita através da plotagem dos rastros
utilizadas pelas espécies. Nas trilhas onde foi
encontrados em um mapa da área, definindo-se as
observada maior intensidade de uso pelos
áreas de maior e menor concentração de uso
animais foram instalados quatro adaptadores
(CRAWSHAW & QUIGLEY, 1984 apud
fotográficos, dirigindo-se para aquelas de menor
VIDOLIN et al., 2001).
trânsito de pessoas. A inspeção dos mesmos foi
feita a cada 15 dias para troca de filmes, pilhas e RESULTADOS E DISCUSSÃO
baterias.
As amostras fecais foram coletadas e a) Espécies constatadas
utilizadas para a identificação das espécies e uso Foram registradas neste estudo 12 espécies
do ambiente pelas mesmas. Os rastros de carnívoros pertencentes a quatro famílias
encontrados foram reproduzidos em folhas de distintas (Tabela 1).

Tabela 1: Espécies de carnívoros registradas no Parque Estadual do Cerrado


Espécies Pegadas Fezes Pelos Fotos Outros Entrevistas Informações bibliográficas
indícios
CANIDAE
Chrysocyon brachyurus X X X X X X X
Cerdocyon thous X X X X X
Pseudalopex gymnocercus X X
FELIDAE
Puma concolor X X X X X
Leopardus pardalis X X X X
Leopardus tigrinus X X X X
Herpailurus yagouarundi X X X X
MUSTELIDAE
Eira barbara X X X
Galicts cuja X X X
Lontra longicaudis X X X X X
PROCYONIDAE
Nasua nasua X X X X
Procyon cancrivorus X X X
Outros indícios: Visualizações e vocalizações

Os canídeos em geral apresentam considerados importantes agentes na dispersão e


organização social complexa, rico repertório predação de sementes. No PEC, foram
vocal, relação monogâmica, cuidado paterno com registradas duas espécies: o lobo-guará,
os filhotes, prole numerosa e longo período de Chrysocyon brachyurus, o cachorro-do-campo
dependência dos filhotes (CENAP, 1998). Por Pseudalopex gymnocercus e o cachorro-do-mato,
serem animais onívoros, os canídeos são Cerdocyon thous. O lobo-guará foi a espécie com

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maior número de registros fotográficos (n=48); e a irara, Eira barbara, porém nenhum registro
do cachorro-do-mato foram obtidas apenas três fotográfico foi obtido.
fotos, sendo uma delas de dois indivíduos juntos, Com relação à família Procyonidae, foram
o que pode estar associado ao período registrados para o PEC o quati Nasua nasua e o
reprodutivo. Além destas espécies, há suspeita da mão-pelada Procyon cancrivorus. Assim como
ocorrência da raposinha-do-campo (Leucalopex os canídeos são onívoros, e desempenham
vetullus), tendo sido encontrados rastros importante papel na frugivoria. Destas duas
pequenos, característicos desta espécie nas espécies somente o quati foi fotografado (n = 3)
margens do rio Jaguariaíva e em áreas de em diferentes ocasiões, porém sempre nas áreas
transição entre o pinnus e a lavoura. No entanto, de reflorestamento de Pinnus spp.,
maiores esforços de campo devem ser provavelmente por utilizá-las para o
direcionados para a confirmação deste registro. deslocamento para as áreas de lavoura, onde
A família felidae caracteriza-se pelo encontram alimento disponível em grande
habito especialista de sua dieta. No PEc foram quantidade.
registrados o puma (Puma concolor), a
jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato- b) Uso da área
pequeno (Leopardus tigrinus) e o gato-mourisco
(Herpailurus yagouarundi). O puma, a Pode-se dizer que o PEC, de maneira
jaguatirica e o gato-do-mato-pequeno foram geral, é utilizado em sua totalidade, o que se
registrados através da obtenção de fotografias, (n explica pelo seu reduzido tamanho e por tratar-se
= 2, 2, e 1, respectivamente) e o gato-mourisco de um dos únicos fragmentos ainda conservados
foi registrado mais de uma vez através de da região.
visualizações. As espécies de carnívoros observadas
A família Mustelidae é caracterizada por utilizaram diferentemente os ambientes do
indivíduos de diferentes hábitos, podendo ser Parque, conforme mostra a tabela 2. Os métodos
solitários, andar aos pares ou em grupos utilizados possibilitaram também o registro de
familiares. No PEC as espécies registradas foram outras espécies na área (tabela 3).
a lontra Lontra longicaudis, o furão Galictis cuja

Tabela 2: Espécies de carnívoros ocorrentes nas diferentes unidades fitofisionômicas do parque e seu entorno
ESPÉCIES CL/CS CC/CCA CSS FE/FEA CHH FG RF LV FES
Puma concolor P P A A A P P A P
Leopardus pardalis A P A A A A P A P
Herpailurus yagouaroundi P P P A A A A P A
Leopardus tigrinus A A A P A P P A P
Chrysocyon brachyurus P P P P P A P P P
Cerdocyon thous A P A P A P P P P
Procyon cancrivorus A A A A A P P A A
Nasua nasua A P A A P A P P P
Eira barbara A P A A A A A A A
Lontra longicaudis A A A A A P A A A
CC/CS- campo limpo/ Campo sujo; CC/CCA- Campo cerrado/ campo cerrado alterado; CSS- Cerrado Sensu stricto;
FE/FEA- Floresta Ecotonal/ ecotonal alterada; CHH- Campo higro/hidrófilo; FG- Floresta de galeria; RF-
Reflorestamento de Pinnus; LV- Lavouras; FES – Floresta Estacional Semidecidual; P- Presente; A- Ausente.

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O padrão de uso e ocupação da área pelas visitantes, a casa do guarda-parque e centro de


espécies pode estar relacionado com a pesquisa. Já as outras espécies dificilmente se
competição intra e inter-específica pelos recursos aproximam destes locais de constante presença
alimentares e pelo espaço. Áreas utilizadas humana.
constantemente pelo puma, normalmente as Outro fator que interfere no uso da área
matas ciliares dos rios Santo Antônio e pelas espécies é a fragmentação do ambiente. A
Jaguariaíva, por exemplo, são menos utilizadas região onde se insere o Parque era formada
pela jaguatirica e pelo lobo-guará. Da mesma originalmente por um contínuo de vegetação,
forma, na trilha onde foi obtido o maior número porém hoje se apresenta dividido em vários
de registros da jaguatirica o lobo-guará não foi pequenos fragmentos, conectados ou não, que em
registrado. Isso era esperado uma vez que estas seu total não ultrapassam 30 km2 de cerrado.
duas espécies tendem a utilizar trilhas e áreas Dentre estes fragmentos, o Parque Estadual do
diferentes, pois sobrepõem a sua dieta no que se Cerrado é a única “área protegida” e encontra-se
refere ao consumo de aves e pequenos inserido em uma matriz caracterizada por áreas
mamíferos. Outro aspecto referente ao uso da transformadas antropicamente, constituída na sua
área é o comportamento periantrópico do lobo- grande maioria por atividades agropecuárias e de
guará, que utiliza regularmente o centro de reflorestamento de pinus.

Tabela 3: Demais espécies ocorrentes nas diferentes unidades fitofisionômicas do parque e seu entorno
ESPÉCIES CL/CS CC/CCA CSS FE/FEA CHH FG RF LV FES
Ozotoceros bezoarticus A P P A A A A A A
Mazama americana A A A A A A P P P
Mazama gouazoubira A P A P A A P P P
Mazama sp A P A A A A P P P
Lepus capensis P P A P A P P P P
Sylvilagus brasiliensis P P A A A A P P P
Dasypus novemcinctus P P A P A P A P A
Euphractus sexcinctus P P P A A A A P A
Tamandua tetradactyla A A A A A A P A A
Myrmecophaga tridactyla P P P A A A P A P
Hydrochaerys hydrochaerys A A A A A P A A A
CC/CS- campo limpo/ Campo sujo; CC/CCA- Campo cerrado/ campo cerrado alterado; CSS- Cerrado Sensu stricto;
FE/FEA- Floresta Ecotonal/ ecotonal alterada; CHH- Campo higro/hidrófilo; FG- Floresta de galeria; RF-
Reflorestamento de Pinnus; LV- Lavouras; FES – Floresta Estacional Semidecidual; P- Presente; A- Ausente.

O isolamento dos fragmentos pode não processos competitivos, e mesmo escassez


resultar, de imediato, em uma redução no número progressiva de recursos ambientais, que
de espécies. Imediatamente após o seu interferem na sua qualidade. Em conseqüência,
isolamento pode haver um aumento nesse espécies que possuam necessidade de grandes
número devido à busca por refúgio nestes áreas para exercer seu nicho são excluídas dos
fragmentos, mas a tendência ao longo do tempo é fragmentos que não forneçam uma área mínima
que este número se reduza, por exacerbamento de para a sua sobrevivência, ou algum recurso

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chave. A fragmentação limita o potencial de km2, e para fêmeas adultas de 25 a 176 km2
dispersão e colonização de espécies, pois cria (SHAW, 1988). Para a jaguatirica, o tamanho do
barreiras a estes processos, reduzindo a território e da área de vida pode variar em função
habilidade ou possibilidade de obtenção de do tipo do habitat e da abundância de presas.
alimentos para algumas espécies, já que algumas EMMONS (1998) no Parque Nacional de Manu
precisam movimentar-se por grandes áreas para (Peru), estimou a área de vida para fêmeas
se alimentar. Além disto pode dividir populações adultas entre 1,6 e 2,5 km2 e para machos adultos
em subpopulações que não mais se encontram, entre 5,9 e 8,1 km2. CRAWSHAW (1995) para o
causando deriva genética, e outros problemas Parque Nacional do Iguaçu (Paraná), estimou
associados a pequenos tamanhos de população. uma área de vida para seis indivíduos adultos
Em 1997, quando se deu início aos estudos (dois machos e quatro fêmeas) de 11,3 km2. Para
de fauna no Parque Estadual do Cerrado, de fato o Pantanal mato-grossense (CRAWSHAW &
encontrou-se uma maior diversidade de espécies, QUIGLEY, 1989) a área de vida estimada para
que hoje não é observada na área. A exemplo duas fêmeas adultas foi de 0,8 a 1,5 km2. Da
pode-se citar a presença do cateto (Tayassu mesma forma, a área de vida do lobo-guará pode
tajacu), evidenciada pela presença de amostras variar de acordo com a disponibilidade de
fecais em uma das trilhas existentes na área e que recursos e períodos do ano. No Parque Nacional
serviam de presa dos felinos ocorrentes na região. Serra da Canastra, o tamanho da área de vida da
Da mesma forma, ao longo do desenvolvimento espécie variou entre 12 e 30 km2 (DIETZ, 1984).
deste estudo, verificou-se a diminuição na Cabe ressaltar que as áreas de estudo
obtenção de registros de carnívoros, tendo a caça citadas acima são áreas bastante grandes, sendo
predatória como a principal causa desta que o Parque Nacional do Iguaçu possui 186.000
diminuição. ha, as áreas do Pantanal chegam a quase 600.000
Somente no primeiro ano do trabalho foi ha e o Parque Estadual Morro do Diabo possui
constatado o abate, por fazendeiros da região, de 35.000 ha. Estudos realizados no Parque
dois lobos-guará, sendo um filhote e uma fêmea Nacional de Emas que possui cerca de 132.000
(encontrada morta com tiros de chumbo), e de um ha sobre a viabilidade de populações de
puma. Provavelmente o número de animais mamíferos que ali ocorrem, mostraram que seria
abatidos seja muito mais expressivo uma vez que necessária uma área de 907.400 ha para manter
a caça na região é uma atividade corriqueira. uma população mínima de 500 indivíduos de
Associado a isso tem-se o caráter cultural de puma na região, a fim de garantir a variabilidade
"uso" destas espécies, que estão intimamente genética da espécie (SILVEIRA, 1999).
ligadas ao folclore regional. Essas espécies Levando-se em consideração o tamanho da
encontram-se ainda afetadas por outros aspectos área disponível do Parque Estadual do Cerrado e
bioecológicos como a baixa densidade natural, dos outros fragmentos florestais existentes que
exigências alimentares, e o próprio tamanho de não ultrapassam 4.000 ha, e o tamanho de área
território. necessária para viabilizar populações das
Com relação ao puma, por exemplo, a área espécies de carnívoros estudadas, pode-se inferir
de vida necessária varia de 32 a 155 km2 no que as mesmas podem estar extintas
Pantanal (CRAWSHAW & QUIGLEY, 1984) e ecologicamente, ou seja, ocorrerem na área, mas
98 km2 no Parque Estadual Morro do Diabo (SP) não desempenharem sua função ecológica
(CULLEN, 1999). No Arizona a área de vida (REDFORD, 1997 in VALLADARES-PÁDUA,
estimada para machos adultos foi de 124 a 162 1997), uma vez que o tamanho destas áreas não

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permite a manutenção de populações viáveis Os únicos corredores naturais utilizados


destas espécies. As populações dos carnívoros para a dispersão das espécies entre o Parque e os
estudados aparentam ser residuais e instáveis, outros fragmentos são os rios Jaguariaíva e Santo
sendo mantidas por indivíduos em trânsito. Antônio, que percorrem juntos cerca de 20 Km
dos limites do Parque até os principais
c) Fragmentos/ Corredores fragmentos de cerrado existentes na região. Em
alguns trechos a largura desses corredores chega
Através da fotointerpretação de imagens a ultrapassar 1 Km, porém em grande parte de
áreas pôde-se verificar a distribuição e a sua extensão as margens são caracterizadas pela
configuração dos fragmentos distribuídos no ausência de vegetação ciliar, devido às
entorno do Parque. Todos os fragmentos características da própria região - áreas de campo
observados são compostos por áreas de superfície e afloramentos rochosos -, assim como pelo
extremamente pequena, de formato irregular e desmatamento em função da agricultura e
encontram-se isolados. De acordo com pecuária. Cabe ressaltar que o termo “corredor
FERNANDEZ (2000) quanto mais irregular o ecológico” foi utilizado neste estudo em um
formato da área, menor é o número de espécies sentido mais amplo, ou seja, para se referir a
que a mesma comporta. quaisquer medidas que aumentem a conexão
Além do problema do isolamento, estas entre fragmentos em escala geográfica
áreas sofrem também o efeito de borda, que (FERNADEZ, 2002).
diminui ainda mais a área de vida efetiva para
muitas espécies. O efeito de borda é o resultado CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
da interação entre dois ecossistemas adjacentes,
quando esses são separados por uma transição Embora o Parque Estadual do Cerrado
abrupta (MURCIA, 1995). A borda pode afetar tenha sido criado com a finalidade de preservar o
os organismos de um fragmento, fazendo com último remanescente deste bioma no Estado, isso
que eles evitem-na, dadas às alterações nas não será possível a longo prazo se não forem
condições bióticas e abióticas. Muitas espécies de tomadas medidas imediatas de aumentar a área
invertebrados, anfíbios, répteis, pequenos efetiva da Unidade visando a conservação das
mamíferos e aves florestais são relutantes ou espécies da fauna que ali ocorrem. Como
incapazes (devido ao micro clima mais seco e inexistem áreas conservadas próximas que
quente ou a características comportamentais, possam ser anexadas ao Parque, o único caminho
como capacidade de dispersão) de cruzar áreas viável é a implantação de Corredores Ecológicos.
abertas. Outro aspecto importante relativo ao Isto implica na necessidade de restaurar as áreas
efeito de borda é a ocupação dessa área por de preservação permanente (APP) e implantar
espécies oportunistas, como por exemplo, Reserva Legal nas propriedades particulares da
Brachyaria sp, introduzida no entorno do Parque região, estrategicamente distribuídas.
e que já ocupa o seu interior. A disseminação de Outras ações conservacionistas que
espécies oportunistas pode ser um elemento de poderiam ser adotadas na região são o incentivo à
perturbação à estrutura da comunidade. Além criação de RPPNs (Reserva Particular do
disso, essas espécies vivendo nas bordas ou nas Patrimônio Natural), bem como de um circuito de
margens dos fragmentos podem servir como um ecoturismo na região, envolvendo o parque,
obstáculo à passagem dos animais de interior de propriedades particulares e o comércio local,
mata (LAURANCE et al., 1997). associados à conservação da natureza, e o

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desenvolvimento de atividades de educação CRAWSHAW JR., P. G. 1995. Comparative


ecology of ocelot (Felis pardalis) and
ambiental envolvendo a comunidade local,
jaguar (Panthera onca) in a protected
enfocando principalmente os impactos subtropical forest in Brazil and Argentina.
relacionados à caça predatória e ressaltando a Florida: University Florida. 190 p. Tese de
importancia das áreas de cerrado ainda existentes Doutorado - University of Florida.
na região, e o incentivar ao estabelecimento CRAWSHAW JR., P. G.; H. B. QUIGLEY.
Com relação à implantação de corredores 1984. A ecologia do jaguar ou onça-
pintada no Pantanal. Relatório final –
ecológicos, sugere-se estudos específicos sobre Instituto Brasileiro de desenvolvimento
rotas de dispersão e tamanho de área de vida das florestal. Brasília, DF. 1-122.
espécies de carnívoros, através da radio- CRAWSHAW JR., P. G.; H. B. QUIGLEY.
telemetria, pois somente com esta técnica será 1989. Ocelot movement and activity patterns
possível identificar de que forma se dá o in the Pantanal region, Brazil. Biotropica.
21, 4: 377-379.
deslocamento das espécies entre os fragmentos,
já que a floresta ciliar é inexistente em alguns CULLEN JR. L. 1999. Status da conservação
dos grandes carnívoros e seu potencial
pontos. Da mesma forma, estudos de viabilidade
como “detetives ecológicos” para a Mata
genética são extremamente importantes para o Atlântica do Pontal do Paranapanema,
conhecimento da estrutura destas populações a São Paulo. Relatório conclusivo – Fundação
nível molecular, possibilitando avaliar o impacto O Boticário de Proteção à Natureza (FBPN)
– divulgação restrita.
do isolamento nestas espécies.
Além dos carnívoros, outras espécies DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social
organization of the maned wolf (Chrysocyon
importantes devem ser estudadas no Parque. brachyurus). Smithosinan Contributions to
Tem-se como exemplo o tamanduá-bandeira, Zoology, n.º 392, pp. 51.
espécie ameaçada de extinção, cuja possível EMMONS, L. H. 1987. Comparative feeding
presença era citada em levantamentos anteriores, ecology of felids in a neotropical
e confirmada através de fotografias, visualização rainforest. Behav. Ecol. Sociobiol., volume
20. 271 p.
e evidências indiretas, com o desenvolvimento
deste projeto. EMMONS, L. H. 1998. A field study of ocelots
(Felis pardalis) in Peru. Rev. Ecol. (Terre
Vie.). 43: 133-157.
AGRADECIMENTOS:
FERNANDEZ, F. 2002. Como reduzir o
isolamento das Unidades de Conservação?
A TBG/GASBOL pelo apoio financeiro que Informativo da Rede Pró-Unidades de
possibilitou a realização deste trabalho e ao Conservação. Ano 01, n.º 02, março 2002.
Instituto Ambiental do Paraná pela autorização FOWLER, M.E. 1986. Zoo and wild animal
para a realização do mesmo. medicine, 2 ed. Philadelphia: W.B. Saunders
Company. 1127p.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LAURANCE, W. L & BIERREGAARD, R. O.


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management, and conservation of
CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE fragmented communities. Ed. The
CONSERVAÇÃO DE PREDADORES University of Chicago, Chicago. 241-255.
NATURAIS , 1998. I Curso de MURCIA, C. 1995. Edge effects in fragmented
Treinamento em Identificação, Prevenção forests: implications for conservation. Tree
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Silvestres. CENAP/IBAMA. 55 p.

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OLIVEIRA, T. G. de. 1994. Neotropical Cats:


SHAW, H. G. 1988. Mountain lion: field guide.
ecology and conservation. São Luís:
Special report, number 9, third printing.
EDUFMA. 244 p.
Arizona: Arizona Game & Fish. 47 p.
OLIVEIRA, T. G. de; CASSARO, K. 1997.
SILVEIRA, L. 1999. Ecologia e Conservação
Guia de identificação dos Felinos
dos mamíferos carnívoros do Parque
Brasileiros. São Paulo: Sociedade de
Nacional das Emas. Goiás: UFG. 177 p.
Zoológicos do Brasil; Fundação Parque
Dissertação de Mestrado – Universidade
Zoológico de São Paulo. 60 p.
Federal de Goiás.
PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DO
VIDOLIN, G. P.; P. R. MANGINI; T. UCHÔA.
MEIO AMBIENTE. 1995. Lista Vermelha
2001a. Felinos na Reserva Natural Salto
de Animais Ameaçados de Extinção no
Morato: levantamento e caracterização de
Estado do Paraná. Curitiba: SEMA/ GTZ.
seus aspectos ecológicos, Guaraqueçaba/
177 p.
Paraná. Relatório conclusivo – Fundação O
REDFORD, K. H. 1997. A floresta vazia. 1:1-22 Boticário de Proteção à Natureza (FBPN) –
in VALLADARES PÁDUA, C.; R. E. divulgação restrita.
BODMER; L. CULLEN JR. 1997. Manejo
e conservação de vida silvestre no Brasil.
Brasília, DF: CNPq/ Belém, PA: Sociedade
Mamirauá. 296 p.

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