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3.

OS CASOS

I nicie lendo o texto grego de Marcos 4.26-29, como aparece abaixo, prestan­
do atenção nos significados ultraliterais das palavras, conforme a tradução
dada. Se ainda há muita dificuldade para ler, copie o texto em uma folha à
parte e represente o som de cada uma das palavras com as letras do alfabeto
português, como foi feito na lição anterior.
E bom destacar, para ajudar na leitura, que aparece um sinal diferente na
última palavra do versículo 28 (crTáxui). Ele é o trema, e serve apenas para in­
dicar que as duas vogais juntas não estão formando um ditongo e que, assim,
devem ser pronunciadas separadamente na leitura.

26 Kal eXeyev, Oütgos écrrtv p |3aaiXeía toü Geou


e dizia: assim é o reino o de Deus
wç dvGpuTros páXr] tòv aTTÓpoy ém TfjÇ yfj?
como [se] um homem lançasse a semente sobre a terra

27 Kal KaGeúÔT] Kal éyeípr|TaL vÚKTa Kal f|pépav, Kal ó


e dormisse e levantasse noite e dia, e a
CTTTÓpo? (3Xaorâ Kal pr|KÚvr|Tai wç oúk oíôev auTÓs.
semente germinasse e crescesse como não sabe ele.

28aÚToqchr| f| yfj Kapno(j)opet, TTpcirrov x °P tov eiTa


por si só a terra frutifica, primeiro erva depois
OTáxVV eÍT<2 TíXf|pT|5 ctitov èv TW OTCtyUl.
espiga depois cheio grão em a espiga.

29 OTan Sè TTapaSol ó KapTTÓç, eú9üs áTTOOTéXXei tò


quando e permitir o fruto, logo envia a
Spéiíavov, õtl TTapéorriKev ó 9epur[j.ós.
foice porque chegou a colheita.
341 GRAMÁTICA INSTRUMENTAL DO GREGO

Uma frase em português, normalmente, segue a seguinte ordem: sujeito,


verbo, objeto direto e objeto indireto. Por exemplo: “Paulo escreveu cartas
às igrejas”. Analisando sintaticamente esta frase percebemos que: “Paulo” é
o sujeito, “escreveu” é o verbo, “cartas” é o objeto direto, e às “igrejas” é o
objeto indireto.
No grego, a ordem das palavras na frase pode ser bem diferente da que
estamos acostumados em português. Mas, os casos, as diferentes terminações
das palavras, mostram-nos qual é a função de cada uma delas dentro da frase.
Pois, normalmente, o grego possui uma forma especial para o sujeito, outra
para o objeto e assim por diante.
Exemplos claros dessas variações das palavras gregas, de acordo com os
“casos”, são as palavras terra, semente e espiga, conforme aparecem no texto.
Terra aparece no fim do versículo 26 na forma yfjç e na terceira posição do
versículo 28, na forma yfj. Semente aparece na segunda linha do versículo 26
na forma anópov e na segunda linha do versículo 27 na forma a Tropos. Espiga
é utilizada duas vezes no versículo 28, a primeira vez na forma crraxuv e,
na segunda, como crráxui. Estas diferenças de formas serão estudadas mais
adiante, no momento o que mais nos interessa é a função das palavras dentro
das frases.

O NOMINATIVO
O sujeito da frase, quando não for oculto, como será visto mais adiante, apa­
rece na forma do nominativo. Esteja ele onde estiver, na frase grega, ao tra­
duzirmos para o português, é importante colocá-lo na devida posição, antes
do verbo.
A frase grega, Oütgjs èorlv q (3acnXeía toü 0eoü, na ordem em que se
encontra, sem se levar em conta os casos, podería ser traduzida por:

“Assim é o reino de Deus...”

Mas, como q PaorXeía está na forma do nominativo e, portanto, tem a


função de sujeito da frase, ficaria melhor, em português, vir antes do verbo.
Como segue:

“O reino de Deus é assim...”

A forma do nominativo, além de mostrar quem é o sujeito, também é uti­


lizada para destacar um atributo do sujeito. Veja o seguinte exemplo:
OS CASOS 135

ó 0eòs áycrrrri èaTÍv


o Deus amor é
nom nom nom verbo
(sujeito) (atributo)

Tradução: Deus é amor

O VOCATIVO
Vocativo é o caso utilizado para expressar a invocação ou exclamação.
Um exemplo de vocativo pode ser encontrado na primeira palavra da
oração do Pai Nosso:

ITctTep
Pai

Um exemplo duplo ocorre em João 20.16, no encontro de Jesus ressusci­


tado com uma de suas discípulas.

Xéyei cd)Tf| T t)ctouç, Mapiáp.. arpacjjelaa ètceívr) Xéyei güjtgj

diz a ela Jesus: Maria! Voltando-se aquela diz a ele


(Vocativo)

'E ppaícnv ’pa(jpouuL (ô XéyeTai 8i8ácn<:aXe).


em hebraico: Rabuni ( o que se diz [significa] mestre).
(Vocativo)

Na versão Almeida Revista e Atualizada ficou assim:

“Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico:


Raboni (que quer dizer Mestre)!”.

O ACUSATIVO
Acusativo é o objeto direto da frase. Esteja onde estiver na frase grega, ao ser
traduzido para o português, deve vir depois do verbo.
Na seguinte frase grega: qjç dvOpwTTOs (3áXr| tòv cmópov (Como se um
homem lançasse a semente), temos um exemplo claro dessa sequência:
36 1 GRAMÁTICA INSTRUMENTAL DO GREGO

Sujeito (nominativo - avGpw'nos' = um homem);


Verbo (páXr| = lançasse);
Objeto direto (acusativo - tòv crnópov = a semente).

O GENITIVO
Genitivo é o caso grego que mostra se o substantivo está especificando,
definindo, descrevendo algo, ou indicando posse. Em nosso texto base ele
aparece na frase f) pacnXeía toü 0eoü ( o reino de Deus).
Percebe-se aqui que a palavra Deus (0eoü), na frase, é precedida por
t o ü , o que pode ser confundido com a preposição “de” em português.
Mas isso não deve acontecer. O termo toü é uma das formas do artigo
definido, como será visto ainda, e não uma preposição. A palavra grega
que está no genitivo não necessita estar acompanhada de preposição,
como em português, para indicar posse, ou para especificar, definir ou
descrever. Assim, 0eoü, mesmo sem preposição, tem o significado “de
D eus”, da mesma forma que as seguintes palavras, retiradas da oração
do Pai Nosso:

fip.(ôv - de nós (nosso)


ctou - de ti (teu)
TTOvripoü - de maligno

Algumas gramáticas mencionam também o caso ablativo, quando o


substantivo expressa as seguintes idéias: origem, procedência, derivação ou
separação.1A forma é a mesma do genitivo. Só dá para diferenciá-los pelo
contexto. Como, além de possuírem a mesma forma, também na função
ablativa basta a utilização da preposição “de” juntamente com o substantivo
na tradução, neste livro prático não faremos diferenciação entre os dois.
Genitivo e ablativo serão chamados sempre de genitivo.

O DATIVO
Dativo é o caso grego que identifica a palavra que está funcionando como
objeto indireto da frase. No texto base desta lição só aparece uma vez o caso
dativo. Ele está no final do versículo 28, como segue:

1 Lourenço Stelio Rega e Johannes Bergmann, Noções do grego bíblico: gramática funda­
mental, p. 68.
OS CASOS I 37

aí)TO|iáTT| f] yf| xapiTo^opel, uptoTov xóptov e lra


automaticamente a terra frutifica, primeiro erva depois
(iTáxuv elTa TrXf|pr|ç o ít o v è v tco a rá x u i.
espiga depois cheio grão em a espiga.

Aversão Almeida Revista e Atualizada (ARA), traduziu assim esse versí­


culo: “A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por
fim, o grão cheio na espiga”.

Olhando os casos podemos destacar:

Sujeito: A terra (q yrj)

Verbo: frutifica (KapmxjxDpei)

Objeto direto: a erva (xópTOv); a espiga (crraxuv) e o grão (ctítov)

Objeto indireto: na espiga (èv tw aTáxut)

Algumas gramáticas dividem o dativo em dativo (propriamente dito), lo-


cativo e instrumental, todos possuindo a mesma forma, mas com funções di­
ferentes. Para essas gramáticas o substantivo está no dativo quando expressa
interesse pessoal, indicando a pessoa ou objeto que recebe o proveito ou dano
de uma ação. Esse caso é representado no português pelo objeto indireto ou
pelas preposições “a” e “para”. O substantivo está no caso locativo quando o
contexto mostra que ele “se refere à posição de um objeto ou ao lugar ou local
onde alguma ação se realiza”. Ele está no instrumental quando indica o meio
pelo qual a realização verbal é realizada ou quando expressa associação ou
acompanhamento. Geralmente empregam-se as preposições “em”, “entre” e
“em cima de”, na tradução.2
Como medida prática, já que possuem a mesma forma e só podem ser
conhecidos pelo contexto em que se encontram, dativo, assim como locativo
e instrumental, neste livro, serão classificados sempre como dativo, sem ne­
nhuma outra designação em especial.

2 Lourenço Stelio Rega e Johannes Bergmann, Noções do grego bíblico: gramática funda­
mental, p. 69.
381 GRAMÁTICA INSTRUMENTAL DO GREGO

RESUMINDO
O mais importante neste ponto é procurar lembrar das informações do seguin­
te quadro de equivalência:

CASO FUNÇÃO
Nominativo Sujeito da frase
Vocativo Invocação ou exclamação
Acusativo Objeto direto da frase
Genitivo Especifica; define; descreve; indica: posse, origem, pro­
cedência, derivação, separação (com “de” na tradução).
Dativo Objeto indireto; se refere à posição ou lugar; indica o
meio (instrumento). Na tradução: a, para, em, entre, em
cima de, com, por, por meio de etc.

EXERCÍCIO
Volte ao texto base desta lição e, a partir da tradução ultraliteral que se encontra sob
o texto grego, providencie em folha à parte uma tradução inicial para o português.
As frases em português, no geral, possuem a seguinte ordem: sujeito, verbo, objeto.
Como você ainda não conhece as formas dos casos, o importante é perceber que é
necessário se conhecer as formas deles para se obter uma boa tradução.

VOCABULÁRIO NÚMERO 3 (PARA SER DECORADO)


dyyeXos, -ou, ó - anjo; mensageiro
auTÓç - ele
éycó - eu
épyov, -ou, tó - trabalho; obra
Kapôía, -as, f) - coração
kóo[xos, -ou, ó - mundo
|o.éyaç, |ieyd\r|, |iéya - grande
veicpós, -d, -óv - morto(a)
vóp.os, -ou, ó - lei
õtl - que; porque
aú - tu
ws - como, conforme

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