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4. MARIA PETYT
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MARIA PETYT
1. VIDA
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da sua vida, o que não a impede de fazer a profissão sobre a Regra da Ordem
Carmelita. Passados quatro anos, o famoso Carmelita Frei Miguel de Santo
Agostinho tornou-se o seu confessor e Director Espiritual. No ano de 1657,
muda, juntamente com duas outras mulheres, para a cidade de Malinas onde
vive numa casa pertencente a um convento, perto da igreja. É aí que a sua vida
interior começa a ter características místicas cada vez mais nítidas. Faleceu no
dia 01 de Novembro de 1677.
2. OBRAS
Maria Petyt não deixou nenhum livro nem tratado sobre a mística. Devido aos
frequentes e demorados períodos de ausência do seu confessor, o Frei Miguel
de Santo Agostinho, a Maria fazia, a pedido dele, anotações das suas
experiências. Após a sua morte, o Frei Miguel de Santo Agostinho resolveu
ordenar e publicar as cartas dela substituindo, em parte, a ordem cronológica
por uma temática. Ficou uma bela e fascinante autobiografia, escrita numa
linguagem muito viva, cuja descrição bibliográfica reza assim:
Het leven vande weerdighe Moeder Maria a Sta Theresia, alias Petyt…
(A vida da venerável Madre Maria de Sta. Teresa, alias Petyt…)
Ganda, 1681, 4 vol., 1320 p.
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Maria Petyt tinha a ingénua ousadia e pretensão de querer viver apenas para
Deus. Empenhou-se ao máximo por progredir na oração. Com a ajuda dos seus
directores espirituais, exercitou-se nos métodos usuais. No princípio, ficou
bastante satisfeita com os mesmos porque lhe causaram grande concentração
e uma apaixonada exaltação. Esforçando-se, era capaz de provocar
sentimentos afectuosos e fantasias ricas com muita abundância. No entanto,
Deus ficou inalcançável. Maria encontrou-se apenas a si própria nas falhas
pessoais. Teve de aprender a deixar atrás de si a realidade própria da
meditação. Compreendeu que o ser humano se deve calar, se quer ouvir a voz
de Deus. Na realidade, isto tornou-se tarefa pesadíssima, em que
necessariamente tinha que falhar, exactamente porque queria fazer progresso
no caminho da perfeição. Desta forma aprende, a custo, a largar as próprias
capacidades e a já não fazer tentativas pessoais. Aprendeu que a mais alta
preparação se efectua quando desaparece o caminho preferido, escolhido
pessoalmente. Tem de aprender a entregar-se cegamente.
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3. A purificação horrorosa
Alguém podia ter a impressão que Maria Petyt estava, nessa altura, bastante
adiantada no caminho místico. Também ela própria pensava assim.
Constantemente caía na tentação de descobrir, nas suas próprias experiências,
as práticas de outros místicos. Ainda era (ou tornava a ser) muito activa e
confiava nas próprias obras, embora pensasse, ter-se entregue inteiramente à
acção de Deus. Pensa ser capaz de obter, por meios próprios, aquilo que lhe
foi dado gratuitamente. Não quer perder as experiências felizes. Sem se dar
conta, apega-se aos dons de Deus em vez de, sobretudo, se apegar a Ele. É
necessário que se convença, cada vez mais, do fracasso absoluto da própria
realidade pessoal em que perseverava obstinadamente, do fracasso da auto-
suficiência e da inclinação de, constantemente, atribuir a si própria o que não é
dela. Chegou a cair numa horrível desolação. A forte experiência de Deus
desapareceu. A aflição é sufocante. Em relatos emocionantes, descreve como
foi levada ao desespero. Até pensamentos de suicídio lhe passam pela cabeça,
visto tudo ter resultado em fracassos e vãs fantasias!
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aos corajosos, aos predilectos de Deus ou aos místicos. Desta forma, o maior
progresso espiritual aparece ser, ao mesmo tempo, a maior tentação.
4. A união amorosa
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Maria Petyt não fica apenas consciente do toque do Amor Divino mas
experimenta também que, cada vez mais profundamente, é transformada em
Deus. Em medida crescente, a sua vida é impregnada, totalmente, da
existência de Deus. Torna-se Deiforme. Começa a ver-se a si própria com os
olhos de Deus, ama o que Deus ama. Deus age nela e o Espírito de Deus reza
nela. Há unanimidade com Deus: a Vontade de Deus constitui o seu desejo
mais profundo e ela não pode imaginar-se ser capaz de afastar-se
voluntariamente disto. Às vezes escreve que esse estado de estar perdida na
Vida de Deus se tornou, após as vicissitudes de outrora, firme e estável. No
entanto, o mais característico da evolução mística de Maria Petyt consiste no
facto de que as novas experiências parece terem ficado até ao fim. O processo
nunca acabou. Por conseguinte, a linguagem mística é deficiente. Leu os textos
místicos clássicos, principalmente da tradição dos Países Baixos, a fim de
poder compreender e exprimir as suas experiências pessoais, mas empregava
a mais elevada linguagem cedo demais! Embora parecesse estar já
completamente transformada em Deus, tal experiência pareceu estar, mesmo
assim, misturada com sentimentos, imagens e esforços pessoais. Tal, no
entanto, é verificado sempre posteriormente e a partir de perspectivas
subsequentes. O abismo de Deus continua insondável para ela e, por isso, é
necessário que ela desça cada vez mais na profundidade de si própria. Para
nós, o caminho de Maria Petyt parece perder-se no labirinto confuso das
anotações no seu diário, que cada vez são mais numerosas e diferentes. É a
história duma mulher do tempo do Barroco que conheceu ideais elevados e
desejos apaixonados, acompanhados dum entusiasmo esmagador de viver e
da consciência do movimento perpétuo dum mundo que se alarga cada vez
mais, sem ser capaz de recuperar a tranquilidade.
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4. BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA
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5. ALGUNS TEXTOS
1.2 Depois de nos termos exercitado, deste modo, durante dois ou três meses,
Ele conduziu-nos gradualmente para mais silêncio e simplicidade, obrigando-
nos a deixar a realidade da Meditação (pois nunca fui muito hábil em trabalhar
com o intelecto) e a adoptar a prática das três virtudes divinas, fé, esperança e
amor, tanto durante a oração, como fora dela, por meio de acções silenciosas e
doces, à guisa de aspiração1, mantendo a atenção dirigida para a presença de
Deus…
Quando tinha alguma habilidade com essa prática e parecia estar formada nela,
Sua Reverência2 exigiu que abandonasse, cada vez mais, a realidade do meu
próprio ser e que me exercitasse constantemente na fé nua da presença de
Deus e que, simultaneamente, me inclinasse para o amor para com Ele.
No princípio, esta prática era muito difícil e desagradável, por um lado porque o
facto de ser privada da consolação e doçura que sentia interiormente, me
custava muito… Por outro lado, porque não estava habituada a ocupar-me
interiormente com Deus mantendo a minha atenção fixa nEle, de forma tão
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Maria Petyt usa na sua língua materna, o Holandês, a palavra “toegeesting”, sinónimo de
“aspiração”, com uma forte conotação da acção do Espírito Santo.
O CONGRESSO OC-OCD : A REGRA DO CARMO: UMA PROPOSTA DE VIDA, México, 25 a 29 de
Outubro de 2006, dedicou uma passagem à oração aspirativa que aqui se transcreve:
“Para o Venerável João de São Sansão, grande místico da reforma de Toraine, a Aspiração ou Oração
Aspirativa, como é mais comummente chamada pelos autores da Reforma Turonense, não é uma prática
de devoção entre as outras, nem um simples meio ligado a uma etapa particular da ascensão mística.
Ela é, propriamente, O PRÓPRIO MOVIMENTO DO AMOR, levando os que a praticam, através do amor e
no amor, até à sua perda definitiva em Deus. É nela que se insinua a acção divina no instante do “impulso
amoroso” daquele e daquela que exercem este tipo de oração. No mesmo momento em que faz a
aspiração, a pessoa é arrebatada, arrastada e inundada pelo espírito de Deus, por seu fluxo amoroso, até
se submergir totalmente no Amor de Deus. Existe, no coração da aspiração, a mais radical ultrapassagem
do amor-próprio e do “intermediário”, pois ela realiza nela própria, em resumo, a transformação repentina
do espírito em Deus.
Deste modo – ainda a explicação do Venerável - na aspiração que ultrapassa largamente as capacidades
humanas, os espirituais descobrem então que o Espírito Santo é o seu autor; é Ele que a move e dirige.
Ela realiza, no ponto mais alto, a fusão da iniciativa de Deus e da resposta do ser humano, num
movimento único que vai permitir pouco a pouco, no processo de sua interiorização, a sua contínua
acção”.
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O Padre Miguel de Santo Agostinho (1621-1684), Carmelita, era o seu Director Espiritual.
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1.4 Era uma disposição da Divina Providência quando deixou o meu espírito
em estado reduzido e árido, apesar dos meus desejos ardentes e tentativas
diligentes. Ele quis que tal me sobreviesse a fim de me mortificar
profundamente e de me levar assim ao conhecimento e desconfiança profunda
de mim própria. Pois, eu confiava demais nas minhas próprias forças e na
minha inteligência e zelo. Desejava adquirir virtudes e graças interiores, como
se fosse possível conseguir tudo isso, apoiando-me nos meus trabalhos
próprios e no zelo com que me esforçava…
O facto de o Amado tirar a Sua mão cooperante com o intuito de apagar os
meus desejos apaixonados por obter a perfeição, era muito útil para mim
porque os mesmos estavam muito misturados com a procura de mim mesma,
com amor próprio, impaciência, inquietação e receio da natureza. Os
supramencionados bons desejos não estavam bem regulados, não eram
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1.5 As lições que me deu serviram, todas, para dar espaço à Graça Divina,
para purificar e esvaziar o homem interior e para desfazê-lo de todas as suas
propriedades, a saber, de todos os sentimentos desregrados, apegos, paixões
e vontade de procurar, por conta própria, os bens, dádivas e graças de Deus e
de fazer calar os desejos ardentes de fazer coisas boas e espirituais. Pois, eu
estava tão cheia de paixões, desejos e ambições por conseguir o bem
supremo, que não era capaz de me contentar com menos e de estar satisfeita
com o que tinha…
Quando fiquei livre, até ao fundo do meu ser, de todos os apegos desregrados,
das exigências que eu me impunha a mim mesma e das paixões da natureza,
Ele mostrou-me como facilmente podia obter paz interior constante, pureza de
coração, orientação interior para o objecto Divino etc., convivendo,
interiormente e de modo estável com Deus, mediante a fé e o amor que sempre
se ocupam com Ele, em conformidade com o Espírito Carmelitano e com as
claras instruções do mesmo, visto que todas as Suas diligências tinham por fim
imprimir este Espírito Carmelitano em nós. (I, e, 47, M, 96-98).
1,6 A fim de obter maior constância e facilidade com isso, Ele ensinou-me a
liberdade interior de espírito, a fim de já não ser arrastada para baixo na
natureza, devido a encontros interiores ou exteriores, ou por motivo de
mudanças do estado de espírito interior ou por motivo de qualquer outra coisa;
tal liberdade de espírito devia causar necessariamente ausência de desejos,
desinteresse e indiferença perante tudo o que aprazia a Deus efectuar ou não
em mim, ou seja, indiferença quanto a posses ou perdas, luz ou escuridão,
pobreza interior ou abundância, aceitando tudo da mão de Deus como sendo o
melhor possível para nós.
Ele ensinou-me que, por meio da simplicidade do espírito, devia esforçar-me
por chegar a tal ponto que já não dirigisse conscientemente a minha atenção
para o estado do nosso espírito interior, perguntando-me como começou ou
terminou ou o que estava a acontecer aí em baixo na natureza ou se sofria ou
não, a fim de que eu, fora de Deus, a nada prestasse atenção senão a Deus e
em nada repousasse senão em Deus; a fim de que me esforçasse por nadar
para cima, como faz um certo passarinho de que ele disse que faz o seu ninho
por cima das águas e que fica, apesar de as águas subirem e descerem de
acordo o estado do maré, seguro e descansado no seu ninho, sem se
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preocupar com a descida e subida das águas: deixa-se levar por onde as águas
o levem, pois, enquanto fica no ninho, a descida e subida da água não o
perturbam.
Esta parábola deu-me grande luz, pelo que compreendi que também eu devia
fazer o meu ninho e lugar de repouso em Deus e na sua vontade benévola…;
esta e outras parábolas ficaram dois anos na minha memória e eram para mim
de grande proveito. (I, c.48, M. 98-99)
1.7 Quando, devido a isto, estive sujeita a uma luta interior, Deus enviou, ao
mesmo tempo, um raio de luz para a minha alma, aliciando-me a atirar-me,
como uma criança, ao seu colo Paterno, com amor filial confiando apenas nEle;
este raio de graça começou, imediatamente, a operar em mim e surtiu efeito de
forma que me sentia repentinamente mais forte e fortalecida em Deus; todos os
meus sofrimentos e torturas desapareceram e já não me importava se sofresse
algo de alguém. Senti-me tão satisfeita e contente com o meu Amado, que já
não pedi mais nada e já não prestei atenção ao que outras pessoas diziam ou
pensavam de mim; isto irritava-me menos que o vento.
Tenho a impressão que esta graça ficou, desde então, quase sempre comigo.
Desde então, eu já não fazia questão se outras pessoas gostavam ou não de
mim ou se me davam favores ou eram ciumentas de modo que o meu coração
estava, desde então, desapegado e livre de coisas humanas… Apenas me
esforçava por fixar meus olhos no Amado que me aliciava constante e
amorosamente; este coração, despegado e livre de temores e sentimentos
humanos, constituiu uma grande ajuda e vantagem para o meu progresso no
caminho espiritual… (I, c. 25, M. 65).
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2.2 No dia 22 de Maio de 1662, ela escreve o seguinte: a Graça Divina produz
no nosso coração, na nossa alma e no nosso espírito, uma tal simplicidade e
tranquilidade que parece que estou sem pensamentos, que desconheço todas
as criaturas assim como a mim própria, também fora da oração… Não sei como
o dizer. Todas as forças da alma parecem estar suspensas: continuam aptas
para funcionar apesar de eu sentir serem detidas por alguém que as impede ou
proíbe de funcionar naturalmente. A alma sente-se repleta do conhecimento
puro e simples, dum Bem Supremo não afigurado e simples, sem saber O que
e como O conhece. Em seguida, sente também um doce fogo de amor que está
a arder ou a faiscar dentro dela, sem que ela seja capaz de prestar atenção ao
mesmo e sem saber como e de que forma tal acontece. Parece que se acha
absorvida e elevada no gozo extático dum Ser Infinito, Ilimitado e Inefável.
Sente, com certeza, que a sua felicidade consiste, agora e na eternidade, na
deleitação disto.
É milagroso como isso acontece: a alma conhece, contempla, ama e goza sem
ser capaz de compreender ou saber O que e como O conhece, o que e como O
ama, o que e como O contempla gozando etc., isto é, com claro discernimento.
Mais ainda: a alma vê que está aqui perante a Face de Deus, frente a frente
com Ele, com visão nítida e extática de Deus, e ao mesmo tempo, parece que
ela está a dormir ou descansar perante a face Deus. Como é que isto pode
ser? (IV, 141-142).
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2.4 Às vezes sinto no meu interior apenas uma inclinação real para o Divino
Objecto inconfigurável. Esta inclinação é realizada apenas pela simples visão
desse Objecto, com exclusão da outra realidade de forças e sentidos.
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2.5 1672? Quando, uma vez, fui convidada, duma maneira especial, pelo
Amado, a deixar-me conduzir e talhar por Ele, sem qualquer actuação da minha
parte, e eu, por inadvertência, comecei a fazer alguma coisa por iniciativa
própria, fui detida por alguém mais forte que eu e notei, no meu interior, de
maneira afável, a presença do meu Amado e Tudo inconfigurável, que me
atraia e aliciava docemente a entregar-me inteiramente à Sua direcção. Era
como se Ele me tivesse dito: Daqui em diante devo e quero apenas viver e
trabalhar em ti, sem que acrescentes ou mistures algo de ti. Quero que, em
tudo o que faças ou omitas e em todas as criaturas, não vejas outra coisa
senão a Mim, ou em Mim, ou que Me vejas a Mim neles. Após uma tal
alocução, o Amado costuma acolher-me plenamente e levar-me dentro dEle de
forma que me sinta afogada no mar da sua grandeza divina. Vivendo nEle,
desta maneira, durante algum tempo, completamente unida a Ele, como se
estivesse sem corpo e alma e nadando aí um pouco, é fácil ver, durante todo o
dia, como Deus se encontra entranhado em todas as criaturas, tanto dentro,
como fora de mim. É como se não houvesse nada senão o Ser Ilimitado de
Deus, em que a Alma e todas as outras coisas parecem ser afogadas. (II, c. 5,
10 – 11).
2.6 Foi-me revelada uma efusão ou comunicação mais nobre e mais elevada
sem que houvesse qualquer imaginação ou revelação racional do seu Ser e da
Sua presença em mim. Este género de revelação é mais nobre e difere da
outra maneira, acima descrita, de encontrar a presença divina. A presença do
Amado realizava-se, naquela altura, mediante a exibição de alguma Imagem
racional, por exemplo, a realização de grandes feitos, a Honestidade e
Majestade de Deus. Isto causava na alma algum sabor sensível, prazer e
doçura, por O ter encontrado ou achado; também a parte sensitiva comunicava
e percebia algo como em enigma. Mas, tal presença de Deus é muito abstracta
ou derivada de sensações dos sentidos.
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deve ser reduzida a nada, também no espírito. Não pelo facto de opor-me a
isso mediante alguma acção, mas estando, com certa coragem de espírito,
voltada para Deus com fé viva...
2.7 No dia 27 de Junho de 1671, ela escreve assim: Vejo Deus na treva ou na
escuridão dentro do meu solo; ao mesmo tempo, há um sossego silencioso e
calam-se todas as forças da alma. Tal ocorre mediante visão simples e íntima
do espírito. Relativamente a tais visões, é mais questão de eu estar sujeita às
mesmas do que serem evocadas. Todos os conhecimentos que recebo de
Deus nesta oração, resultam em negações e desconhecimentos de tudo o que
a mente humana é capaz de saber ou conhecer de Deus. E o espírito deixa-se
afundar no abismo escondido do Tal Ser Insondável, com aniquilamento total
do seu próprio ser e de tudo o que lhe diz respeito, em Tal Ser. Pelo
aniquilamento e desaparecimento da alma no Tudo, ela torna-se una com o
próprio Tudo. (IV, c. 11, 13).
3. A purificação horrorosa
3.1 Depois que a graça e a luz divina tiverem, durante muito tempo,
aumentado na minha alma como aconteceu numa determinada tarde perfeita,
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aprazou, a Deus (talvez por culpa minha e pela falta de eu não cooperar
adequadamente com essa graça e não me esforçar por conservá-la o mais que
podia) diminuir paulatinamente esta grande clareza interior e as acções íntimas
do espírito. As infusões da graça divina etc. não pararam repentinamente mas,
tão lentamente e tão pouco a pouco, que mal me dei conta, até que as perdi
completamente. Fiquei então inteiramente dependente da minha natureza nua,
sem sentir qualquer apoio ou ajuda de cima, como se fosse noite escura na
minha alma…
Era necessário que tal desolação de espírito me sobreviesse a fim ser provada
e purificada como o ouro no fogo, mediante muitas torturas interiores e
exteriores, sofrimentos e lutas. (I, c. 81, M. 149).
3.2 Por conseguinte, o Amado achou bem conduzir-me por um caminho, duro
e doloroso, para a natureza e o espírito, e deixar a minha alma num estado
infeliz e deplorável. Desta forma, deveria sentir e experimentar a minha
impotência e incapacidade de fazer o bem, a minha nulidade, fragilidade,
abjecção e miséria, a fim de me afundar profundamente e colocar no estado de
profunda humildade e conhecimento de mim própria. Empregou, para tal, meios
tão variados, que não podia deixar de ser profundamente aniquilada e
esmagada. (I. c. 83, M. 151).
3.3 … Passar uma só hora em oração, tornou-se uma tortura para mim. Tive
que remar contra a corrente. Frequentemente, não era capaz, durante o tempo
de uma meia Ave Maria, de recolher os meus pensamentos e dirigi-los para
Deus. Parecia que havia um muro de ferro entre Deus e mim…
Na Oração, acumulava esforço sobre esforço tentando ocupar-me, durante este
tempo, com Deus e concentrar-me nEle. Mas em vão! (I, c. 90, M. 160).
3.5 Ai, que invenções o Amado tinha reservado para mim, empurrando-me
para Si e obrigando-me a uma profunda mortificação e renúncia a todas as
criaturas. Pois, se uma alma se vê sem consolo e sem conforto por parte das
pessoas e amigos mais queridos nos quais, ao lado de Deus, se apoiava e nos
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3.7 O citado raio Divino forneceu-me alguma luz pelo que fui capaz de ver e
conhecer algumas propriedades e condições do Nada ou, com outras palavras,
da alma aniquilada, a saber, aquilo que causa a real aniquilação ou impede a
mesma e aquilo que a contradiz. No entanto, não sei como exprimir bem este
conhecimento da forma clara como me foi dada. Compreendi e vi que Deus
apenas pode estar no verdadeiro Nada. Todas as nossas intenções e esforços
deviam estar orientados para conseguir isto de forma perfeita e para possuir
isto permanentemente porque só Deus é capaz de viver, sem obstáculos, numa
Alma aniquilada e causar, nela e por ela, o seu deleite mais querido.
3.8 No dia 5 de Abril de 1659 senti grande aridez e abandono na parte afectiva,
sem que tivesse a sensação habitual de Deus e sem que deslizasse
assiduamente para dentro do Ser Indiviso e Inconfigurável de Deus. Apenas
restou uma faísca ou uma força subtil que no meu interior, no meu recôndito,
provocava secretamente o regresso para Deus e a adesão a Ele. Tal se efectua
essencialmente por meio da fé nua, de maneira inteiramente espiritual,
abstracta e insensível. Então, é preciso que eu preste mais atenção a mim
própria. Pois, quando a natureza não encontra, através dos sentimentos,
alimento e comida em Deus, a fraca alma facilmente se distrai e se afasta do
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3.10 Mas, que maravilha, que uma Alma tão pequena e aniquilada possa
permanecer, em todas as circunstâncias, tão calma e satisfeita. O NADA não
se perturba. Para o NADA não é possível dizer qualquer coisa de mal, nem é
possível cometer, contra O Mesmo, qualquer coisa má. Do NADA não se pode
roubar nada e não é possível ofender o NADA. O NADA não é capaz de
pretender qualquer coisa que seja ou queixar-se de qualquer coisa. O NADA
não conhece, nem quer, nem possui coisa alguma. O NADA não se preocupa
consigo mesmo. Não é insensível em relação a tudo! Oh, quem é capaz de
descobrir as propriedades do seu NADA? Que grande bem possui então! Oh,
santa humildade, tu encerras em ti todos os bens, toda a santidade, toda a
perfeição! Oh, humildade, que fértil Mãe és tu!
3.11 Deste recolhimento interior decorre também a união pura com Deus e a
visão interior e quase constante de Deus. Tal ocorre devido ao facto de que a
alma se torna capaz, através do resguardo fiel de si própria, de permanecer em
Deus acima de todas as coisas criadas. Tratando-se do tipo de recolhimento de
que estou a falar, a alma acrescenta pouca coisa de si própria e é objecto
habitual das acções de Deus. Por isso, encontra-se em Deus simultaneamente
assolada e aniquilada, juntamente com uma grande alienação de si própria.
Mas, mesmo se a acção de Deus não é muito forte, estando a alma mais
entregue a si própria, ela persevera no recolhimento. Ocupa-se então,
silenciosamente, com a aniquilação silenciosa e simples de si própria e de
todas as criaturas, no Ser Indefinido e Infinito de Deus. E desta forma ela
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4. A união amorosa
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4.3 É difícil acreditar quantos sinais e actos de amor Deus dá à sua Esposa: o
amor leva-O tão longe e faz com que Ele se humilhe e se incline para a Amada
de tal forma que parece esquecer-se da Sua Majestade, pondo-A de lado, a fim
de poder comunicar com ela de maneira confidencial, em pé de igualdade e
amigavelmente como se ela fosse o Seu semelhante. (II, c. 125, 204-205)
4.4 Agora, fico mais consciente do beijo do Amado. Por isso, sinto-me capaz
de explicá-lo melhor, se for necessário. Numa só palavra, não parece ser outra
coisa senão um encontro com o Amado .ou uma revelação perceptível do
mesmo: é uma união extremamente amorosa entre ELE e a Alma Amante. Sim,
uma tal Alma dá e recebe de todas as criaturas um doce beijo de amor o que
lhe proporciona imensa consolação interior e lhe vulnera o coração com amor
terno e atormentador. Desta forma, ela goza quase constantemente e por toda
a parte deste beijo amoroso uma vez que é causado por adesão amorosa e
consoladora ao Amado. Pois, quer a Alma coma, beba, trabalhe, reze, escreva
ou descanse etc…, parece que já não percebe senão o beijo do Amado. Tenho
a impressão que a minha Alma goza agora constantemente deste beijo, visto
encontrar-se imediatamente (sem intervenção) ligada ao Amado. (II, c. 131,
213-216).
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Nunca teria acreditado que uma criatura pecadora podia chegar tão longe e tão
alto na união com Deus, a saber num grau tão elevado que ela pareça não
saber ou não se lembrar que é uma criatura. Parece ser Deus em Deus e
totalmente una com Deus, sem diversidade, como se fosse transformada
NELE. Anteriormente tinha experimentado qualquer coisa semelhante, mas
durante pouco tempo. Agora, porém, mais constantemente e com uma clareza
incomparavelmente mais nítida, tanto como a tarde difere da aurora. Pois, isto é
certo: quanto mais a Alma progride na perfeição, tanto mais as uniões e
comunicações divinas se tornam perfeitas, puras, elevadas e expurgadas de
todas as imagens e imperfeições. A Alma descobre isto cada vez mais, quando
o Amado lhe concede alguma nova luz . (II, c. 155, 255).
4.6 Oh, o que o amor divino não faz na alma em que encontra espaço para
trabalhar! Assim como anteriormente eu costumava descansar em Deus e
estava unida com Ele… pelo silêncio e simplicidade, pela expurgação e
desaparecimento em Deus, agora ocorrem a propensão para Deus e a
interiorização NELE, a adesão, contemplação, fusão e união através de amor
muito mais perceptível. Parece que o homem inteiro se transformou em amor,
amando desmedidamente, sem fim nem limites. Parece que estou agora tão
fecundada pelo espírito de amor, que já não há comparação com o amor que
tinha até agora para com Deus. Parece que nunca amei Deus durante dias. A
luz do sol faz desaparecer a luz das estrelas. Da mesma maneira o meu amor
actual excede todos os amores anteriores, pois o amor puro, expurgado e
divino, de que me torno agora ciente, parece ter tomado posse de nós, parece
mover-nos, dirigir e levar tudo, exclusivamente para Deus, por causa de Deus e
por Deus, saboreando Deus em tudo… (IV, c. 126, 155).
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4.7 1668? A maneira de viver em Deus, o que, pela graça de Deus, faço
desde há algum tempo, veio a ser o deleite íntimo do Ser Divino extremamente
claro, silencioso e inconfigurável. Esta maneira de gozar de Deus e de saborear
as coisas divinas, parece ser muito diferente de todas as maneiras anteriores.
Aqui, Deus revela-se com maior clareza. Faz com que a alma compreenda e
experimente NELE coisas maravilhosas que, mais tarde, ela não é capaz de
reencontrar nem de exprimir com palavras. Durante o saborear ela gostaria de
falar sobre isto profusamente com alguém capaz de o compreender,
exclamando em voz alta que Deus é um abismo de coisas maravilhosas e
inefáveis.
A alma sente-se então repleta e possuída por Deus milagrosamente. É
apreendida e subjugada por Ele tantas vezes e tão plenamente que não sente e
não percebe nada senão Deus e aquilo que Deus lhe quer revelar. Oh, como
aqui a unificação e união com Deus são grandes…
Parece que, até agora, nunca experimentei nem saboreei uma forma de
deleitar-me em Deus, mais silente, mais simples e mais no recanto interior da
minha alma, nem uma forma mais alheada das acções habituais das outras
forças, nem uma forma mais expurgada do que aquela que agora saboreio e
experimento. Sinto-me agora tão afastada e tão separada da forma de então,
como se tivesse havido duas pessoas em mim. (IV, c. 136, 168-169).
4.8 Também parece que percebi, no início dessa união, que Cristo se inclina,
por assim dizer para a Alma, puxando-a um pouco para si e dando-lhe um beijo
na boca, um beijo de paz. Duma certa maneira, Ele leva-a para dentro de Si,
fundindo-a, aniquilando-a e unificando-a Consigo. Isto dá-se quase da mesma
maneira como a união que se dá apenas com a Divindade, embora não com
tanta intimidade e consolação sensível. (II, c. 47, 81-82).
5.1 Aconteceu uma vez, depois da comunhão, que Deus me concedeu a graça
de compreender o que é o encontro substancial e o gozo do Seu Ser
Inconfigurável através da fé e que mo fez experimentar um pouco. Pareceu-me
muito diferente daquilo que conhecera ou compreendera até àquele momento.
Esse deleite substancial de que acabo de falar não depende, nem está sujeito a
uma iluminação ocasional, de alguma luz divina que diminui ou aumenta, fica
mais escura ou mais clara. O deleite vem acompanhado de uma luz Divina
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5.2 Este género de amor não se realiza com ardor e inflamação perceptíveis
como os outros tipos de Oração de que falámos anteriormente. Também não
vai acompanhado de alguma visão contínua ou percepção de Deus que lhe
estaria perto ou intimamente presente. É um tipo de amor que opera na Alma e
a leva para uma tal unificação e união com o Amado, que ela se encontra nEle
consumida e transformada, sem prestar atenção a isto ou sem se dar conta do
mesmo. Quando a Alma se tornou assim toda amorosa e divina, sinto, duma
certa maneira milagrosa que não sei definir, que Deus Se ama a Si mesmo
nesta Alma e por esta Alma, com um amor infinito e incompreensível, como Se
amou a Si mesmo desde toda a eternidade e Se amará durante toda a
eternidade.
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5.4 Quando, às vezes, acontecia que eu era levada mais longe e mais para o
fundo, parecia perder-me e esquecer-me de mim mesma, enquanto
contemplava e nada percebia senão o Ser Claro, Informe e Divino, com quem
fiquei unificada através de perda total NELE. Isto ocorria com extrema e íntima
tranquilidade enquanto as forças da Alma dormiam amorosamente no Deus
inconfigurável, sem que houvesse qualquer acção própria, com excepção duma
descontracção intima e muito simples da Alma em Deus, como uma gota que
se dispersa e perde no Mar.
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5.6 Quando pareceu que todas as visões e acções do espírito amante estavam
a acabar, fui puxada (sem saber como), perdida e afogada no abismo divino,
como num Mar desmedido, em que não vi nem princípio nem fim. Também não
fui capaz de me ver a mim mesma com alguma distinção, nem qualquer outra
coisa no céu ou na terra. Fui aniquilada, tomada, afogada e perdida no abismo
divino com tal intensidade, como se nunca tivesse tido vida própria e ser
próprio.
Aí fiquei plena e integralmente Una com Deus e formei com Deus, tão
perfeitamente, um só espírito que, se alguém então me tivesse visto, teria dito
que eu estava transformada em Deus, não estando eu presente, mas sim
apenas Deus. Pois, Deus tinha puxado a minha alma completamente para
dentro de Si e tinha-a transformado…. (III, c, 31, 54-55).
5.7 Neste estado de perfeita união com Deus, já não há na Alma visões nem
comunicações de verdades, nem operações de amor distinguíveis ou
perceptíveis, nem forças por parte da Alma. Ela está então aqui, acolá, em
cima. Pode entender-se que ela esteja a contemplar no alto, onde Deus se
contempla a Si mesmo, Se conhece, exalta, adora e ama…
Este afogamento, perda e aniquilação, etc., da Alma em Deus, não se dá por
algum arrebatamento do espírito ou numa exaltação, como antes foi dito, mas
através dum afundamento dentro do seu solo, em profunda intimidade e
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silêncio de todas as forças da Alma. Tal acontece com tão grande intimidade e
silêncio que não era permitido que uma das forças da Alma se movimentasse
de qualquer maneira que fosse. Pois, o mínimo movimento teria causado dano
à perfeita aniquilação a qual é, no entanto, necessária para a transformação e
unificação de espírito com Deus. Pois, enquanto houver movimento ou acção
própria, por pouco que seja, a Alma permanece em si própria. Da mesma
maneira como Deus leva a Alma, repentinamente, dentro de Si, também
suspende imediatamente as forças da Alma. Impede o funcionamento das
mesmas, enquanto a união e transformação duram, de modo a que a Alma seja
capaz de fazê-las calar facilmente.
Mas, quando o Amado não a atrai muito fortemente, a Alma pode, com uma
certa habilidade espiritual, empreender alguma coisa a fim de afundar-se e
permanecer no seu Nada. E, quando ela é capaz de entrar no seu Nada e de
aniquilar tudo aquilo que ela notar, sentir, encontrar e perceber fora do seu
Nada, o solo aniquilado é tomado por Deus e em seguida possuído por Ele. (III,
c.32)
5.8 É estranho e difícil compreender o que eu estou a dizer, a saber, que sou
una com Deus e que nesta unidade vejo Deus. Pois, de acordo com a nossa
maneira de falar, uma pessoa não é una com aquilo que vê. Uma coisa é aquilo
que se vê, outra, aquilo com que se está unificado. Pois um é um, e no ver há
dois, a saber, aquele que vê e aquele que é visto. Mas na contemplação e
união de que eu falo, as coisas são diferentes. Neste momento, vejo, de
repente, como é e como o posso definir. Pois, Deus contempla-se a Si mesmo,
conhece-Se, deleita-Se em Si mesmo e ama-se. Mesmo assim, está unido
consigo mesmo e em Si mesmo da forma mais íntima e mais substancial.
Da mesma maneira Deus concede, pela graça, à Alma, aquilo que Ele é por
natureza, enquanto a união dura. A Alma forma com Deus um só espírito, um
só ser, um só conhecimento, uma só operação, uma só vontade, um só amor e
uma só caridade. Não se dá conta de distinções, do eu ou do mim. Conhece ou
compreende apenas o UM. Por isso, quando reza, é o espírito de Deus que
reza nela, quando contempla e ama, é Deus que Se contempla e ama a Si
mesmo, nela.
Este estado de união encerra em si outra pureza, simplicidade, intimidade e
sublimidade de espírito e é diferente da anterior, quando o espírito amoroso
fecundava e dirigia as forças da minha Alma. Nessa união cooperava muito,
embora dirigida e movida pela graça e pelo fogo de amor. Aí estava mais ciente
de mim própria e de outras coisas (embora ocorressem em Deus), mas não
estava tão una com Deus, como agora. Cooperava com a graça e o espírito de
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5.10 1670? Depois de o Amado ter produzido fruto, em mim, durante algum
tempo, por meio daquele doce e fluente espírito de amor, como descrevi
anteriormente, tirou-me daquele estado e colocou-me no estado de união
íntima de espírito com Ele, num grau mais elevado e mais puro que nunca.
Estas mudanças e novos convites para graus de perfeição e união íntima com
Ele cada vez maiores, causaram-me grande admiração ao reflectir sobre isto.
Pois, todas as vezes que o Amado me propôs um grau de maior perfeição, de
maior pureza e de maior união com Ele, tive a impressão que não conseguia
chegar mais alto. Era como se já estivesse no grau mais elevado onde o
Amado queria que estivesse. E veja! Quando tinha subido àquele grau de
perfeição, de pureza e unificação com Ele e me tinha exercitado nele, o Amado,
mais uma vez, suspendeu aquele grau, de modo que já não era capaz de me
exercitar nele…
Este novo passo e esta nova subida do espírito é dum tal vigor que me parece
que tudo o que antes era direito, agora está torto, o que antes era puro, agora
está impuro, o que antes era simples, agora está múltiplo, o que antes era
expurgado, agora está misturado com a natureza. Numa só palavra: toda a
minha perfeição anterior parece ter sido de má qualidade, um começo de
perfeição, em comparação com o que me é ensinado agora e com o que me é
exigido agora, a saber: a imediata (não mediada) união do espírito com o
Espírito Divino. Pois, Este quer ter a supremacia sobre todas as forças da alma,
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