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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000977497

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1089951-52.2018.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante EVA
APARECIDA CARVALHO PETRELLA, é apelado RENATO BEREZIN.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 29ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto da relatora, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores FABIO TABOSA


(Presidente) e CARLOS HENRIQUE MIGUEL TREVISAN.

São Paulo, 22 de novembro de 2019.

SILVIA ROCHA
Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

29ª Câmara de Direito Privado


Apelação nº 1089951-52.2018.8.26.0100
26ª Vara Cível do Foro Central Cível de São Paulo
Apelante: Eva Aparecida Carvalho Petrella
Apelado: Renato Berezin
Juiz de 1ª Instância: Felipe Albertini Nani Viaro
Voto nº 28917.

- Serviços profissionais - Diante da notícia do ajuizamento da ação


anulatória, que pretende desconstituir o título judicial que deu
origem ao cumprimento de sentença no qual o autor atuou, fica
condicionada a condenação da ré à improcedência da ação
anulatória Recurso provido.

Insurge-se a ré, em ação de cobrança de honorários


profissionais, contra r. sentença que julgou parcialmente procedente o pedido,
para condená-la a pagar ao autor R$9.918,37, corrigidos do ajuizamento da ação
e acrescidos de juros de mora da citação, além do pagamento das custas,
despesas processuais e de honorários advocatícios fixados em 10% do valor da
condenação.

A apelante pede a reforma da sentença, alegando que:


a) tramita perante a 5ª Vara Cível do Foro de Barueri “Querella Nullitatis Insabilis” o
processo nº 1010932-93.2018.8.26.0068, que objetiva a nulidade da sentença
proferida no processo nº 1000095-52.2013.8.26.0068; b) naquela ação (1010932-
93.2018.8.26.0068) foi alegada a “nulidade de citação e de todos os atos processuais
posteriores”, com pedido para o processo retornar à fase citatória; c) referida ação
pretende anular a sentença que beneficiou exclusivamente a apelante “ao
recebimento dos honorários advocatícios”; d) os honorários seriam devidos somente “ad
êxito” e, na eventual procedência da “Querella Nullitatis”, o título executado será
desconstituído e a apelante não receberá nenhum valor; e) alternativamente,
pede que a condenação seja condicionada ao julgamento de improcedência da
“Querella Nullitatis Insabilis” (fl.1122) e haja efetivo recebimento dos honorários
devidos à apelante; f) por fim, pede a aplicação do disposto no artigo 26 do
Código de Processo Civil, diante da sucumbência do apelado, que pleiteou
receber R$37.614,49 e teve reconhecido direito a R$9.918,37.

Apelação Cível nº 1089951-52.2018.8.26.0100 -Voto nº 28917 2


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Recurso tempestivo e preparado, após devida


complementação.

Houve resposta, com preliminar de não conhecimento


do apelo por falta de impugnação específica.

É o relatório.

O autor propôs “ação de cobrança de honorários


profissionais” e pediu a condenação da ré ao pagamento de R$37.614,49, sendo
R$19.836,75 relativos a honorários advocatícios e R$17.777,74 à multa prevista
no artigo 523 do Código de Processo Civil, ressaltando: “sendo esses respectivos
valores, ainda a serem confirmados nos autos de cumprimento de sentença nº
0004782-84.2016.8.26.0068” (fl.8).

Afirmou o autor ser advogado e ter trabalhado em


parceria com a ré nos autos do cumprimento de sentença nº
0004782-84.2016.8.26.0068, até que foram revogados, por ela, os poderes que
lhe haviam sido conferidos em substabelecimento.

Alega que as partes contrataram, verbalmente, que o


autor receberia, pelos serviços profissionais por ele prestados naquela ação, 10%
do valor referente aos honorários advocatícios sucumbenciais e 10% do valor
referente à multa prevista no artigo 523 do CPC, mas a ré negou o seu
pagamento.

Na contestação, a ré esclareceu que a ação de


adjudicação compulsória nº 1000095-52.2013.8.26.0068 foi julgada procedente e,
na sequência, teve início o cumprimento de sentença nº
0004782-84.2016.8.26.0068, no qual foram cobrados os valores devidos ao
cliente dela e a ela, sua única procuradora. Admitiu a participação do autor
“APENAS NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA”, de modo que seria cabível eventual
meação dos honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados na fase do
cumprimento de sentença, que não engloba a multa, porque o seu valor pertence

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ao cliente.

A ré também alegou a inépcia da inicial, pois “O


EVENTUAL DIREITO SOBRE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS ENCONTRAM-
SE “SUB JUDICE”” (fl.339), considerando que foi distribuída ação de “Querella Nullitatis
Insabilis objetivando nulidade da sentença proferida nos autos nº 1000095-52.2013.8.26.0068, sob
a alegação de que houve nulidade de citação e portanto, todos os atos processuais posteriores,
requerendo o retorno daqueles autos a fase citatória” (fl.339).

A sentença afastou o pedido de condenação ao


pagamento de honorários incidentes sobre o valor da multa referente ao artigo
523 do CPC, sob o fundamento de que ela é destinada à parte e não ao
advogado, mas condenou a ré a pagar ao autor R$9.918,37, correspondente a
5% do valor da execução, relativos aos honorários de sucumbência fixados na
sentença que rejeitou a impugnação, ou seja à metade dos R$19.836,75
pleiteados na inicial (fl.4).

A existência de ação anulatória da sentença proferida


na ação de adjudicação, por nulidade de citação, foi afastada pela sentença com
o seguinte fundamento: “O mero ajuizamento de ação visando à desconstituição do título, por
sua vez, não condiciona, tampouco subtrai o direito ao valor devido e que já foi recebido pela outra
patrona” (fl.1115).

Não há, porém, prova de que a ré tenha levantado os


valores concernentes aos honorários de sucumbência fixados na sentença que
rejeitou a impugnação.

Ao contrário disso, como se lê das decisões de fls. 303


e 310, foram, expressamente, indeferidos sucessivos pedidos de levantamento
dos honorários, “até que se resolvam as partes sobre qual valor caberá para cada um dos
advogados” (fl.303) e “até que haja decisão sobre qual parte caberá a quem” (fl.310).

Dessa forma, diante da notícia do ajuizamento da ação


anulatória, que pretende desconstituir a sentença, título judicial que deu origem à

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fase de execução na qual o autor atuou como advogado, em parceria com a ré,
não há causa, nesse momento, para que a ré seja condenada a pagar honorários
relativos a tal fase de processo que pode ser anulado.

Por isso, apenas no caso de não ser acolhido o pedido


da ação anulatória, fica a ré obrigada a pagar ao autor o valor da condenação
imposta nesta ação de cobrança de honorários, não antes.

Nem se alegue violação ao disposto no parágrafo único


do artigo 492 do Código de Processo Civil que estabelece que “a decisão deve ser
certa, ainda que resolva relação jurídica condicional”.

Iterativa jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça


esclarece que, “ao solver a controvérsia e pôr fim à lide, o provimento do juiz deve ser certo, ou
seja, não pode deixar dúvidas quanto à composição do litígio, nem pode condicionar a procedência
ou a improcedência do pedido a evento futuro e incerto. Ao contrário, deve declarar a existência ou
não do direito da parte, ou condená-la a uma prestação, deferindo-lhe ou não a pretensão (...).
Diferentemente da 'sentença condicional' (ou 'com reservas', como preferem Pontes de Miranda e
Moacyr Amaral Santos), a que decide relação jurídica de direito material pendente de condição vem
admitida no Código de Processo Civil (art. 460, parágrafo único)” (STJ, 4ª Turma, REsp
164110/SP, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 21.03.2000, DJ
08.05.2000).

A decisão ainda que faça referência ao desfecho de


outra demanda, não pode ser considerada decisão condicional, nos termos vedados
pelo nosso ordenamento jurídico, já que não deixa margem a dúvidas quanto à
composição do litígio.

Assim, o cumprimento da condenação imposta à ré fica


condicionada ao não acolhimento do pedido formulado na ação anulatória.

Caso seja mantida a sentença proferida na ação de


adjudicação compulsória, que deu origem ao cumprimento de sentença no qual o
autor atuou, remanesce a condenação da ré de pagar a ele o valor estipulado

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pelo juízo de 1º Grau, que não sofreu impugnação.

Por fim, é inequívoco que o autor sucumbiu na maior


parte do pedido, motivo pelo qual ele arcará com dois terços das custas e das
despesas do processo e com honorários ao patrono da ré de 10% da diferença
entre o valor por ele pretendido e o da condenação. A ré, a seu turno, pagará o
terço restante das custas e das despesas processuais e honorários
sucumbenciais ao patrono do autor de 10% do valor da condenação.

Pelas razões expostas, dou provimento ao apelo.


SILVIA ROCHA
Relatora

Apelação Cível nº 1089951-52.2018.8.26.0100 -Voto nº 28917 6

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