Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Melanie Klein
Melanie Klein
A psicanálise Kleiniana1
Flávio José de Lima Neves
Resumo
O autor apresenta as principais contribuições de Melanie Klein à psicanálise. Partindo da psica-
nálise clássica, Klein desenvolveu alguns conceitos de Freud (fantasia, mundo interno, comple-
xo de Édipo, entre outros) e elaborou outros conceitos originais (o conceito de posição, as idéias
sobre as etapas mais primitivas do desenvolvimento, os mecanismos e as defesas utilizadas nas
fases iniciais do desenvolvimento). A partir da apresentação das contribuições teóricas, são
mencionadas também algumas importantes implicações das idéias kleinianas na técnica e na
prática clínica da psicanálise, tal como concebida e preconizada por Melanie Klein e seus segui-
dores.
Palavras-Chave
Fantasia inconsciente Posição Mecanismos primitivos Mundo interno Setting Interpre-
tação
niana, queira ou não queira2 . Na opinião te nos estudos que culminaram na con-
de Elias Mallet da R. Barros, esta passa- ceituação da identificação projetiva.
gem nos coloca diante de um problema
epistemológico: o de quando um autor 2. Características importantes e espe-
com um pensamento psicanalítico próprio cíficas da psicanálise kleiniana
e original, pode ou não ser considerado a) O setting psicanalítico
como tendo se desviado, ou simplesmen- Este é um conceito técnico muito caro
te ter desenvolvido o pensamento psica- aos analistas da escola inglesa em geral e
nalítico criado por Freud3 . se refere ao cenário onde a análise acon-
Também é importante recordar aqui tece. É o conjunto de recursos e procedi-
que as contribuições de Melanie Klein à mentos colocados no atendimento e ofe-
psicanálise se desenvolveram a partir de recidos ao paciente, desde o início o espa-
alguns dos textos mais tardios de Freud, ço físico do consultório com seus móveis
como Além do Princípio do Prazer e objetos, o número de sessões semanais
(1920), O Ego e o Id (1923) e Inibi- com seu ritmo próprio, até a pessoa do
ção, Sintoma e Angústia (1926). analista com sua atitude adequada e as
interpretações que ele dá ao analisando.
II Alguns componentes específicos Segall (1982), ao escrever sobre a técnica
da psicanálise kleiniana de Melanie Klein, diz que a técnica kleini-
ana é psicanalítica e se fundamenta rigorosa-
1. Principais desenvolvimentos teóri- mente em conceitos psicanalíticos freudianos,
cos em Klein sendo seu contexto formal o mesmo da análi-
se freudiana... Não é só o cenário formal que
Classicamente, são consideradas é o mesmo da análise clássica: respeita-se tam-
como as principais contribuições de Klein bém, em todos os aspectos essenciais, os prin-
à psicanálise as seguintes formulações: cípios psicanalíticos tal como foram apresen-
1. Conceitos sobre as etapas mais pri- tados por Freud. Segall cita como fatores
mitivas do desenvolvimento psicossexu- constituintes da psicanálise kleiniana o
al, à luz da segunda teoria dos instintos de setting psicanalítico, a freqüência de ses-
Freud, sobre as fantasias inconscientes e sões semanais (ideal o número de cinco
as primeiras defesas contra a angústia. sessões), o uso do divã, e ressalta a inter-
2. O conceito de posição. pretação como o instrumento essencial de
3. Os conceitos sobre a formação do trabalho do analista, que deve evitar ri-
ego, do superego e sobre a situação edipi- gorosamente todas as formas de crítica,
ana. apoio, conselho, julgamento, encoraja-
4. O conceito de mundo interno. mento e reasseguramento4 .
5. O novo status dado ao objeto e, so-
bretudo, às relações internas de objeto. b) A interpretação
6. O conceito dos mecanismos de in- Na psicanálise kleiniana a interpreta-
trojeção e projeção como atuantes desde ção visa buscar e possibilitar contato que
o início da vida psíquica em bebês. A in- seja emocionalmente vivo com relação a
teração entre introjeção e projeção foi pos- experiências vivenciadas pelo analisando.
teriormente desenvolvida intensivamen- Melanie Klein considera a experiência
2. GROSSKURTH, P. O mundo e a obra de Melanie Klein. 4. SEGALL, H. A obra de Hanna Segall. Rio de Janeiro:
Rio de Janeiro: Imago, 1992. Imago, 1982.
3. BARROS, Elias M. R. Melanie Klein: evoluções. São
Paulo: Escuta, 1989.
emocional como a base da vida psíquica, ciente em contato direto com uma fanta-
como o que lhe dá significado e que existe sia que está em ação naquele instante,
e acontece tanto no consciente como no possibilitando assim conexões e insights
inconsciente. Para Freud, a emoção é um que propiciam autêntica mudança psíqui-
subproduto da vida pulsional, constituin- ca. Mudanças nas fantasias inconscientes
do-se como uma vivência consciente, isto se relacionam com mudanças psíquicas e
é, um elemento que indica a presença de com o funcionamento global do pacien-
um conflito pulsional inconsciente. A im- te. A interpretação deve ser descritiva dos
portância conferida às emoções inconsci- movimentos e da dinâmica interna do
entes como fator central da vida psíquica paciente. Então, sabemos que em seu
dos indivíduos, que a organiza e lhe dá sig- mundo interno, a pessoa tem tudo: repre-
nificado, é uma característica básica do sentação de si mesma, objetos, relações e
sistema kleiniano que o diferencia de ou- conflitos causados pelos mais diversos es-
tras linhas de psicanálise. Depois de Klein, tados e experiências emocionais.
Bion enfatizou o fato de que, para que a
mente possa desenvolver-se, é necessário c) O mundo interno
que a experiência emocional das relações Mundo interno é uma descoberta es-
seja pensada. sencial da psicanálise de Freud: a dimen-
O objeto da interpretação é a fanta- são da realidade psíquica correlativa à exis-
sia inconsciente, que pode ser apreendida tência consciente e consensual da reali-
basicamente pelo que o paciente diz na dade externa e, ao mesmo tempo, seu ne-
associação livre (incluindo-se aqui o rela- gativo e sua origem. Este é um conceito
to dos sonhos), através da transferência e que Melanie Klein toma diretamente de
através da contratransferência. Em sínte- Freud e amplia de modo genial. Caper
se, a interpretação deve abranger tudo (1988)6 faz um estudo muito interessante
que, de alguma maneira, o paciente mos- sobre a constituição e a evolução do con-
tra ao analista, tudo que faz parte de um ceito de mundo interno, inicialmente em
convite que o paciente faz ao analista para Freud e, depois, em Klein. Este autor usa
que este conheça e participe do seu mun- como elemento condutor de investigação
do interno, tal como o paciente o conhe- desta evolução conceitual a teoria da an-
ce e experimenta. As fantasias inconsci- siedade em Freud (ansiedade como efeito
entes devem ser interpretadas e trabalha- e conseqüência da repressão da libido e
das no aqui e agora dentro da sessão e, posteriormente da ansiedade como sinal)
sempre, as interpretações devem abran- e em Klein (ansiedade como efeito da pul-
ger a situação transferencial global: fan- são de morte no ego), articulando a ansi-
tasias relacionadas ao analista, à análise, edade com a formação das fantasias e com
e ao setting. Ao interpretar, o analista deve a identificação, e usa o caso do pequeno
procurar no material inconsciente as re- Hans como material ilustrativo.
lações entre a experiência emocional do Segundo Klein, o mundo interno é um
paciente e o movimento da sessão. Esta é espaço povoado por objetos e carregado
a forma de interpretação considerada de pulsões, instintos, funções e relações.
como a mais terapêutica. É a que Stra- Com os objetos internos, totais ou parci-
chey5 denominou interpretação mutati- ais, o sujeito vive relações pessoais mar-
va, a que tem condições de colocar o pa- cadas pelas identificações. É um lugar
5. STRACHEY J. The nature of the Therapeutic Action of 6. CAPER, R. Fatos imateriais. Rio de Janeiro: Imago,
Psychoanalysis (1934), In: Int. J. Psycho-Anal., 15:127- 1990.
159.
7. FREUD, S. The Unconscious (1915) SE v. XIV. The 8. FREUD, S. Fragments of an Analysis of a case of Hys-
Hogarth Press, London, 1974. teria (1905[1901]), SE v. VII, The Hogarth Press,
London, 1974.
exercida pela ansiedade e cujas origens relação ao analista para outras pessoas em sua
remontam aos mesmos processos que, no vida cotidiana, e isto é parte da situação9 .
passado, promoveram as primeiras rela- A partir da conceituação inicial de
ções objetais, ou seja, introjeção e proje- Melanie Klein, a psicanálise kleiniana vê
ção, cisão, identificação projetiva, ideali- a transferência como uma situação total e
zação, etc. Para os analistas kleinianos o não só o que aparece no material verbali-
essencial na transferência não reside na zado na sessão, relacionando-se a confli-
relação entre passado e presente, mas sim tos, sentimentos relativos a situações re-
na relação existente entre mundo interno petidas, etc. A partir de Klein, a transfe-
e mundo externo. Daí, pode ser inferido rência é sempre vista como dirigida ao
que as relações com as figuras parentais analista, que deve então interpretar a e
reais já contêm elementos de uma trans- na transferência, mostrando que o que
ferência porque a criança não se relacio- aparece na análise é a realidade do mun-
na nem reage aos pais reais tal qual eles do interno emergindo, se expressando e
são e como existem, mas sua percepção sendo experimentada naquele momento.
deles já está colorida e marcada por suas Esta é a questão mais básica e essen-
introjeções e projeções. Assim, o que está cial da análise kleiniana: a perenidade e a
em jogo na transferência não são as ima- dimensão ampla da experiência emocio-
gos dos pais (ou de quaisquer objetos) nal como material primordial e contínuo
como representações de lembranças e de do trabalho da análise. Assim, além do
vivências reais acontecidas no passado. material falado, há o material não verbal
Melanie Klein (1952) afirma que minha (gestos, mímica facial, movimentos). En-
concepção de transferência como algo enrai- fim, tudo que, de alguma maneira, o paci-
zado nos estágios iniciais do desenvolvimento ente mostra ao analista. Somente assim o
e nas camadas mais profundas do inconsci- analista poderá perceber e sentir o mun-
ente é muito mais ampla, envolvendo uma do interno do paciente, como ele funcio-
técnica através da qual, a partir da totalida- na, e como se dão as relações entre o pa-
de do material apresentado, são deduzidos os ciente (seu ego), seus objetos e também
elementos inconscientes da transferência. Por as relações dos objetos entre si. É esta vi-
exemplo, relatos de pacientes sobre suas vi- são de conjunto que dá à transferência uma
das, relações e atividades cotidianas não só concepção dinâmica de movimento ininter-
nos oferecem uma compreensão do funciona- rupto, do mesmo modo como se dá a emer-
mento do ego, mas revelam igualmente as gência e o funcionamento das fantasias.
defesas contra a ansiedade suscitadas na si- Freud descreve a contratransferência
tuação de transferência, caso exploremos seu como o resultado de aspectos do analista
conteúdo inconsciente. O paciente está fada- que interferem na análise. Esta concep-
do a lidar com conflitos e ansiedades, revivi- ção tem uma conotação negativa, de en-
dos na relação com o analista, empregando trave ou de impedimento para o andamen-
os mesmos métodos a que recorreu no passa- to da análise. O exemplo clássico desta
do. Isto quer dizer que ele se afasta do analis- visão é o caso da reação de Breuer a Anna
ta como tentou se afastar de seus objetos pri- O., analisada posteriormente por Freud
mários; tenta cindir a relação com eles, man- que identificou a transferência amorosa da
tendo-os como figuras boas ou más; deflete paciente e a reação não elaborada e atua-
alguns dos sentimentos e atitudes vividos em da do analista a ela10 .
9. KLEIN, M. As origens da transferência (1952). Inve- 10. FREUD, S. Studies on Hysteria, Fräulein Anna O.
ja e gratidão e outros trabalhos. 1946-1963. Rio de Ja- (Breuer) (1893-1895), SE v. II, The Hogarth Press,
neiro: Imago, 1991. London, 1974.
Aos poucos, vários autores ampliaram sobre estes dois tópicos, importantíssimos
o conceito de contratransferência, que na dinâmica da psicanálise kleiniana de
cresceu, se expandiu e passou a abarcar nossos dias. Os principais desenvolvimen-
outras coisas. Paula Heimann (1950) foi tos sobre a identificação projetiva, a fun-
a primeira psicanalista a apresentar esta ção do pensamento e a função continen-
nova visão em um congresso internacio- te do analista devem-se a Wilfred Bion,
nal da IPA, causando surpresa e até mes- que foi discípulo de Melanie Klein. Gra-
mo reações violentas de analistas conser- ças a suas idéias e formulações originais,
vadores. Heimann abriu um caminho de Bion tornou-se a maior referência para
investigação que foi percorrido por vários grande número de analistas kleinianos
analistas que trouxeram contribuições contemporâneos. Pode-se dizer que os
importantíssimas para este conceito. Con- chamados bionianos formam um grupo
tratransferência passou a ser considerado bem definido e caracterizado dentro da
como tudo o que o analista vive e experi- psicanálise kleiniana hoje. De novo, re-
menta em sua relação com o paciente. Em pete-se a coisa dos nomes: se antes havia
determinado ponto de seu artigo, Hei- a questão sobre ser freudiano ou klei-
mann diz: Do ponto de vista que estou res- niano, hoje agrega-se a questão de ser
saltando, a contratransferência do analista bioniano como um kleiniano que tec-
não é somente parte integrante da relação nicamente trabalha primordialmente uti-
analítica, mas é criada pelo paciente, é parte lizando as idéias de Bion.
da personalidade do paciente11 . A pergun- Em seu artigo Attacks on linking
ta fundamental é: como usar isto? Se o (1959)12 , Bion introduz e começa a de-
analista experimenta algo, é porque algo senvolver seu modelo de identificação pro-
do paciente o atingiu. Se o analista é ca- jetiva como meio de comunicação na rela-
paz de perceber o que ele experimenta e ção de alguém (bebê ou paciente) com um
se é capaz de compreender o que viveu, objeto do tipo recipiente, que ele deno-
separar o que é dele do que é do paciente mina continente. A situação é descrita em
ou até mesmo do que não é dele, ele passa termos de uma relação entre conteúdo e
a ter uma visão de alguma coisa do paci- continente, ou em uma terminologia mais
ente espelhada por sua própria introspec- atual, entre continente e contido. Enquan-
ção. Algo como se acontecesse uma visão to continente, o analista deve exercer ati-
em duas direções, servindo para detectar vamente uma função de receber, proces-
aspectos internos que se passam na rela- sar, elaborar e devolver aquilo que o paci-
ção e que causam impacto no analista. O ente projeta para dentro de sua mente. O
uso da contratransferência é muito impor- mecanismo psicodinâmico deste modelo
tante, devendo o analista ser capaz de uti- de relação é a identificação projetiva e,
lizar o que ele experimenta e não apenas historicamente, ele se baseia na relação
dizer ao paciente o que ele percebeu e mãe-bebê. Dizendo em outras palavras, a
identificou. relação da dupla analítica repete a rela-
ção primitiva do bebê com sua mãe, na
e) Identificação projetiva e a função qual a forma de comunicação era essenci-
de continência do analista almente pré-verbal.
Devido às limitações do tempo e para Bion criou uma expressão para desig-
encerrar, penso ser importante dizer algo nar a função materna que atua dentro
11. HEIMANN, P. On Countertransference, In: Int. J. 12. BION, W. Attacks on linking (1959), In: Int. J. Psycho-
Psycho-Anal. 1950, n. 35, 81-84. Anal., n.40.
desta relação: a capacidade de revêrie. lista torna-se então desejável para o paci-
Esta função pode ser compreendida como ente. Sua presença é sentida como impor-
a capacidade da mãe de, recebendo os tante e necessária, como facilitadora dos
conteúdos emocionais do bebê com toda processos de mudança psíquica autêntica.
sua carga de ansiedade associada, relacio- Se não existe uma constância e um ritmo
ná-los à sua própria capacidade de pro- intensivo no trabalho analítico, o analista
cessar este conteúdo, inicialmente into- é vivido como objeto ausente, experimen-
lerável (por isto mesmo excindido e pro- tado como atacado, danificado, morto e
jetado pelo bebê), por meio da função do perdido. Dizendo de outra forma, pela
pensamento. Depois disto, a mãe deve dar identificação projetiva, o objeto ausente
uma devolução adequada e aceitável que é transformado num objeto mau, repre-
possa ser reintrojetada pelo bebê sem cau- sentado internamente como abandonan-
sar ansiedade insuportável, vivência ca- do a criança (ou o paciente). Como se tra-
tastrófica de horror ou de aniquilamento ta de um processo dinâmico, uma infini-
dentro dele. dade de combinações é possível nestas
Ao introduzir este modelo, Bion nos experiências emocionais.
mostra a enorme importância do ambien- Em um de seus últimos trabalhos, que
te representado pela mãe para a sobrevi- foi publicado depois de sua morte em 22
vência psíquica e para o posterior desen- de setembro de 1960, Sobre a saúde men-
volvimento da criança. É através da ex- tal (1960)13 , Melanie Klein faz uma re-
periência repetida das constantes proje- visão de suas idéias sobre o desenvolvi-
ções de seus conteúdos para dentro da mento da personalidade e suas vicissitu-
mãe, seguida pela elaboração e transfor- des. Revê os mecanismos mais básicos do
mação da experiência emocional inicial- desenvolvimento da criança, fala da im-
mente insuportável em outra experiência portância inicial da mãe e dos objetos e,
mais assimilável, que o bebê vai constitu- no último parágrafo do texto, ela trata do
indo um núcleo do objeto bom que, por que chama de impulso à integração. Klein
seu turno, vai constituir o núcleo de base diz que este impulso se origina de um sen-
de um ego integrado. Fica claro, a partir timento de que as diferentes partes do self
destas idéias, que a função analítica se tor- são distantes e estranhas umas às outras.
na essencialmente algo da ordem da fun- Também faz parte dele o conhecimento in-
ção de conter. Para Bion, a função de con- consciente de que o ódio só pode ser mitigado
ter é algo ativo, uma capacidade de trans- pelo amor e se os dois sentimentos forem man-
formar, por meio da função do pensamen- tidos separados, esta mitigação não pode se
to, experiências emocionais inicialmente dar. Klein diz que todo processo de mu-
insuportáveis em experiências assimilá- dança e de integração implica numa ex-
veis, pois a transformação lhes confere periência de dor, pois a excisão do ódio,
uma sinificação mutativa. da destrutividade e suas conseqüências
O instrumento que permite ao ana- acarreta sentimentos de angústia e sofri-
lista o exercício da continência é a inter- mento. Ela diz ainda que, numa pessoa
pretação. Transformando-se num objeto normal, mesmo quando há alguma osci-
continente por meio de sua capacidade de lação entre os efeitos causados por expe-
interpretar, que dá um significado às ex- riências perturbadoras, internas ou exter-
periências emocionais do paciente, o ana- nas, o impulso à integração entra em ação,
lista, na análise, se torna o núcleo do ob-
jeto bom introjetado. Na condição de ob-
13. KLEIN, M. Sobre a saúde mental (1960). Inveja e
jeto pensante e capaz de transformar a gratidão e outros trabalhos (1946-1963).Rio de Ja-
experiência emocional do paciente, o ana- neiro: Imago, 1973.
RECEBIDO EM 15/06/2007
APROVADO EM 27/06/2007
SOBRE O AUTOR
Flávio José de Lima Neves
Psicólogo. Psiquiatra e psicanalista. Membro do
Círculo Psicanalítico de Minas Gerais CPMG.