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RESENHA

DA BOLSA
UMA PUBLICAÇÃO TÉCNICA DA BM&FBOVESPA

resenhadabolsa.com.br EDIÇÃO 3 | JUN/2016

Artigo técnico
DESAFIOS E TENDÊNCIAS DO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO/ NOVO SERVIÇO PARA O REGISTRO DE ÔNUS E
INTERMEDIAÇÃO NO BRASIL GRAVAMES SOBRE ATIVOS: QUEBRANDO BARREIRAS
ANDRÉ XAVIER PARA DESBUROCRATIZAR E AMPLIAR AS OPERAÇÕES
DOS MERCADOS DE FINANCEIROS E DE CAPITAIS
A IMPORTÂNCIA DA CENTRAL DE EXPOSIÇÕES DE ANDRE GRUNSPUN PITTA | BRUNO BATISTA DA COSTA DE
DERIVATIVOS (CED) PARA A GESTÃO DO RISCO DE OLIVEIRA | EMILIO MEANTE DOS SANTOS | MARCELO WILK
CRÉDITO DO MERCADO FINANCEIRO
ÁLISSON SÁVIO S. SIQUEIRA | FERNANDO PADIN IGLESIAS EXPOSIÇÃO AO RISCO BRASILEIRO CAMBIAL E
ESTRATÉGIA DE HEDGE SIMULTÂNEO DE PREÇOS
O PAPEL DOS FORMADORES DE MERCADO NO E TAXA DE CÂMBIO NOS CONTRATOS FUTUROS
DESENVOLVIMENTO DOS DERIVATIVOS DE SOJA E CAFÉ
DE COMMODITIES NO BRASIL JULYERME MATHEUS TONIN | FABIANA SALGUEIRO
FELIPE ALMEIDA GONÇALVES | LUÍS ALBERTO CAMPOS PEROBELLI URSO | JOÃO GOMES MARTINES FILHO |
SCHMIDT JÚLIO CESAR KAIRALLA

Entrevista
BLUFORD PUTNAM
ECONOMISTA-CHEFE
DO CME GROUP
PRÊMIO MELHOR ARTIGO

RESENHA
DA BOLSA 1ª EDIÇÃO

Um prêmio à inspiração e ao
conhecimento técnico
A Resenha da Bolsa, publicação lançada para incentivar a troca de
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Resenha da Bolsa”. A cada dois anos, será escolhido, pelo conselho
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carta ao leitor

A Resenha traz uma entrevista com o economista-chefe do CME Group,


RESENHA Bluford Putnam. Na sua opinião, há um risco “particularmente grande para o siste-
DA BOLSA
UMA PUBLICAÇÃO TÉCNICA DA BM&FBOVESPA
ma financeiro global que não está sendo considerado por muitos”: o agravamento
resenhadabolsa.com.br EDIÇÃO 3 | JUN/2016

do protecionismo. Putnam avalia também os cenários para as commodities, a Chi-


na e a situação do Brasil.
Nos artigos, a Resenha publica uma análise sobre os desafios enfrentados pela
Artigo técnico
DESAFIOS E TENDÊNCIAS DO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO/
INTERMEDIAÇÃO NO BRASIL
ANDRÉ XAVIER
NOVO SERVIÇO PARA O REGISTRO DE ÔNUS E
GRAVAMES SOBRE ATIVOS: QUEBRANDO BARREIRAS
PARA DESBUROCRATIZAR E AMPLIAR AS OPERAÇÕES
DOS MERCADOS DE FINANCEIROS E DE CAPITAIS
indústria de corretagem. A estagnação do volume negociado depois de 2008 gera
preocupações sobre o desempenho futuro do setor. Do lado da demanda, ocorre
A IMPORTÂNCIA DA CENTRAL DE EXPOSIÇÕES DE ANDRE GRUNSPUN PITTA | BRUNO BATISTA DA COSTA DE
DERIVATIVOS (CED) PARA A GESTÃO DO RISCO DE OLIVEIRA | EMILIO MEANTE DOS SANTOS | MARCELO WILK
CRÉDITO DO MERCADO FINANCEIRO
ÁLISSON SÁVIO S. SIQUEIRA | FERNANDO PADIN IGLESIAS EXPOSIÇÃO AO RISCO BRASILEIRO CAMBIAL E
ESTRATÉGIA DE HEDGE SIMULTÂNEO DE PREÇOS
O PAPEL DOS FORMADORES DE MERCADO NO E TAXA DE CÂMBIO NOS CONTRATOS FUTUROS
DESENVOLVIMENTO DOS DERIVATIVOS DE SOJA E CAFÉ

Junho 2016 uma alteração do perfil do investidor, com o volume de trading de pessoas físicas
DE COMMODITIES NO BRASIL JULYERME MATHEUS TONIN | FABIANA SALGUEIRO
FELIPE ALMEIDA GONÇALVES | LUÍS ALBERTO CAMPOS PEROBELLI URSO | JOÃO GOMES MARTINES FILHO |
SCHMIDT JÚLIO CESAR KAIRALLA

Entrevista

Edição 3
BLUFORD PUTNAM

perdendo representatividade no mercado de ações.


ECONOMISTA-CHEFE
DO CME GROUP

A publicação traz ainda uma detalhada descrição da Central de Exposi-


ção a Derivativos (CED). Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos resultan-
te da iniciativa conjunta entre a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN),
BM&FBOVESPA e Cetip, tendo como premissa consolidar a exposição às opera-
ções de derivativos realizadas no mercado local, seja por pessoa física ou jurídica, e
disponibilizar estas informações às instituições financeiras, obedecendo a critérios
rigorosos de confidencialidade e segurança da informação.
Outro artigo revela os benefícios que os formadores de mercado podem tra-
zer para o mercado de derivativos de commodities e a importância da presença de
instituições com este perfil para o sucesso e a continuidade dos produtos. São ava-
liados resultados já obtidos tanto no Brasil como nos Estados Unidos e na Europa,
analisando como a negociação e o preço dos contratos foram afetados.
A Resenha descreve, em outro artigo, o esforço da BM&FBOVESPA em es-
truturar, regulamentar e implantar o Serviço de Ônus e Gravames (SOG). O texto
apresenta em um quadro descritivo as funcionalidades da nova plataforma eletrô-
nica criada para viabilizar a prestação desse serviço, que surge em um momento de
busca por maior segurança jurídica na concessão de crédito.
Em relação a estratégias de negociação, a Resenha divulga uma análise que
mostra que o hedge simultâneo possibilita a maior redução da variância da receita
do produtor, ou seja, permite a maior redução de riscos de preço e cambial.
Boa leitura!

RESENHA
DA BOLSA
UMA PUBLICAÇÃO TÉCNICA DA BM&FBOVESPA
A Resenha da Bolsa é uma publicação gratuita
com o objetivo de promover o conhecimento
Conselho Editorial Coordenação Editorial e o debate técnico sobre os mercados
Cláudio Haddad, Gustavo Franco, FSB Comunicação administrados pela BM&FBOVESPA, difundindo
José Roberto Mendonça de Barros, as melhores práticas de gestão de risco e de
Equipe Comunicação
Márcio Gomes Pinto Garcia, trading. O conteúdo desta publicação não
Marcos Eugênio da Silva e Samuel Pessoa Marita E. Bernhoeft, Ana Lúcia Matos Branco, representa a opinião da Bolsa, nem deve ser
Daniel Pfannemuller, Marcelo Ramos Costa interpretado como recomendação de compra
Editores Executivos Carvalho, Álisson Sávio Silva Siqueira, ou de venda de ativos. Os artigos assinados
Edemir Pinto, Cícero Augusto Vieira Neto, Fernanda Kiyoko Nakao, Flavia Mangini, expressam a opinião de seus autores. É
Eduardo Refinetti Guardia, André d’Almeida Jenifer Correa, Raphael Straub proibida a reprodução parcial ou integral de
Monteiro e Fabio Dutra e Rogério Guerra textos contidos nesta publicação.

Jun/2016 Jun/2016
índice

NOVO SERVIÇO PARA O REGISTRO DE


A IMPORTÂNCIA DA CENTRAL DE ÔNUS E GRAVAMES SOBRE ATIVOS:
EXPOSIÇÕES DE DERIVATIVOS QUEBRANDO BARREIRAS PARA
(CED) PARA A GESTÃO DO RISCO DESBUROCRATIZAR E AMPLIAR AS
DE CRÉDITO DO MERCADO OPERAÇÕES DOS MERCADOS
FINANCEIRO DE FINANCEIROS E
DE CAPITAIS

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Entrevista Artigo técnico

06 11 37 64
BLUFORD PUTNAM,
DESAFIOS E
TENDÊNCIAS DO
O PAPEL DOS FORMADORES
DE MERCADO NO
EXPOSIÇÃO AO RISCO
BRASILEIRO CAMBIAL E
ECONOMISTA-CHEFE DO SETOR DE DESENVOLVIMENTO DOS ESTRATÉGIA DE HEDGE
CME GROUP DISTRIBUIÇÃO/ DERIVATIVOS SIMULTÂNEO DE PREÇOS E TAXA
INTERMEDIAÇÃO NO DE COMMODITIES DE CÂMBIO NOS CONTRATOS
BRASIL NO BRASIL FUTUROS DE SOJA E CAFÉ

Jun/2016 Jun/2016
Notícias Agenda Memória do mercado Especial

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UMA MULHER À
FRENTE DO SEU
TEMPO

Jun/2016 Jun/2016
entrevista

BLUFORD PUTNAM
Economista-chefe do CME Group

Os riscos do protecionismo
O economista-chefe do CME Group, Bluford externo para o Brasil. Putnam também acredita
Putnam, diz que há um risco “particularmente em uma estabilização dos preços das commodi-
grande para o sistema financeiro global que não ties. “Parece que acabou a queda drástica dos pre-
está sendo considerado por muitos”: o agrava- ços do petróleo, do cobre, do minério de ferro e
mento do protecionismo. Como os fluxos de co- de outras commodities. Isso não significa que os
mércio internacional constituem um importante preços voltarão a subir para patamares mais altos.
motor do crescimento global e como o mundo Significa apenas que os mercados irão operar em
está crescendo lentamente, ele afirma que pode faixas mais amplas e que não haverá mais o receio
haver uma tendência de aumento da legislação de quedas contínuas dos preços”, afirma. Putnam
comercial protecionista, inclusive nos Estados acredita que, se “os preços das commodities fica-
Unidos, o que aumenta o risco de uma recessão. rem confinados a faixas mais estreitas e estáveis”,
Esta tendência conservadora é bem explícita, por o crescimento global poderá melhorar a partir do
exemplo, no processo eleitoral norte-americano. ano que vem.
Em contrapartida, os juros nos EUA deverão Putnam é managing director e economista-
crescer muito lentamente, o que facilita o cenário chefe do CME Group desde maio de 2011. Nesta

6 Jun/2016 Jun/2016
função, ele é responsável pela análise econômica serviços financeiros, com expertise na atuação
sobre os mercados financeiros globais para iden- dos bancos centrais, análise de investimento e no
tificar tendências, avaliar fatores econômicos gerenciamento de portfólio. Além do CME Group,
e projetar como isso pode afetar o CME Group ele atuou em instituições financeiras como o
e a estratégia de negócios da companhia. Ele Kleinwort Benson, Morgan Stanley, Chase e tam-
também atua como porta-voz da companhia a bém no Federal Reserve de Nova York. Ele possui
respeito das condições econômicas globais e ge- Ph.D. em Economia pela Tulane University. Es-
rencia as iniciativas de pesquisa externas feitas creveu cinco livros sobre finanças internacionais,
pelo CME Group. além de vários artigos em publicações acadêmi-
O economista-chefe do CME Group tem uma cas e de negócios.
experiência de mais de 35 anos na indústria de A seguir, veja sua entrevista:

RESENHA - A seu ver, quais são RESENHA - Segundo o senhor, está acelerando muito lentamente
os maiores riscos para o sis- há fortes ventos contrários e alcança um patamar um pouco
tema financeiro global atual- que poderão frear a atividade mais elevado a cada trimestre.
mente? As pessoas deveriam econômica dos EUA em 2016, Nesse contexto, o Fed está deba-
atentar e não estão atentan- a tal ponto que o crescimento tendo a opção entre uma ou duas
do para o quê? De onde virá real do PIB talvez não passe da altas de 0,25% da taxa básica de
o próximo grande estresse fi- taxa decepcionante de 1,60% juros (“federal funds rate”) em
nanceiro em sua opinião? ao ano em média. Por isso, 2016. Dois fatores complicam a
o Federal Reserve provavel- decisão do Fed. Primeiro, o cres-
BLUFORD PUTNAM - Vejo um mente elevará a taxa de juros cimento global ainda é bastante
risco particularmente grande para duas vezes em 2016, mas em lento e o Fed vê isso como risco.
o sistema financeiro global que não apenas 0,25% por vez. Poderia Segundo, o Fed nunca admitiria
está sendo considerado por muitos. elaborar um pouco? Quais se- que a política dos EUA pudesse
Os fluxos de comércio internacional rão as consequências para os afetar suas decisões mas, dado o
constituem um importante motor do mercados e para o Brasil? andamento controverso do atual
crescimento global. Em um mundo estágio da eleição presidencial,
que está crescendo lentamente, tal BLUFORD PUTNAM - É verda- o Fed poderá usar o baixo cres-
como temos agora, aumentam tanto de que o desempenho da econo- cimento global ou fatores afins
a incerteza política quanto a tendên- mia dos EUA parece fadado a ser como desculpa para não elevar os
cia de favorecer o protecionismo co- decepcionante em termos de cres- juros até depois das eleições de
mercial. Na minha visão, se o pêndu- cimento real do PIB. No entanto, novembro – ou seja, até dezem-
lo balançar em direção ao aumento não acho que haverá recessão. Os bro de 2016. Se o Fed fosse pura e
da legislação comercial protecionista mercados de trabalho continuam simplesmente “dependente de da-
em vários países ao redor do mundo, bastante robustos, com baixo de- dos”, como frequentemente alega,
inclusive nos EUA, haverá um risco semprego. A inflação está abaixo ainda poderia haver um aumento
maior de recessão global. da meta do Fed, que é 2%, mas dos juros em junho de 2016.

Jun/2016 Jun/2016 7
entrevista

As implicações para o Brasil e ou- “populistas” a favor do abandono


tros países ao redor do mundo são pelos EUA de seu papel ativista na
mínimas. Estamos falando de au- cena política mundial. Essa virada
mentos dos juros de apenas 0,25% e em direção a uma política anti-imi-
são aumentos amplamente espera- gração mais dura e ao protecionis-
dos, embora a data exata da decisão mo, caso aconteça, significa que não
permaneça incerta. Há questões in- haverá novos acordos comerciais ou
finitamente mais importantes para de parceria entre EUA e Brasil para
o Brasil e para os mercados finan- melhorar o comércio mútuo.
ceiros globais do que aumentos mi-
núsculos e amplamente esperados RESENHA - Qual a sua visão das
A maioria dos da taxa básica de juros dos EUA. perspectivas econômicas da China?
pré-candidatos a RESENHA - A seu ver, o que BLUFORD PUTNAM - Entre
presidente vem acontecerá após a eleição pre- 1980 e 2010, o PIB real da China
assumindo posições sidencial nos EUA? É provável cresceu cerca de 10% ao ano. Nesse
“populistas” a favor do que a paralisia do Congresso período, a China modernizou sua
abandono pelos EUA continue? Como ficarão os or- economia rapidamente através do
de seu papel ativista na çamentos futuros e a aprecia- investimento dirigido pelo governo
cena política mundial. ção do dólar? O senhor prevê em obras gigantescas de infraestru-
mudanças no relacionamento tura e criou uma economia impul-
Essa virada em direção com o Brasil? sionada pelas exportações. Nos úl-
a uma política anti- timos anos, a construção de novas
imigração mais dura BLUFORD PUTNAM - Embora obras de infraestrutura na China
e ao protecionismo, a campanha presidencial nos EUA foi atingida pela lei de rendimen-
caso aconteça, significa tenha sido excepcionalmente flui- tos decrescentes, o que nada mais
que não haverá novos da, com muitas surpresas, ainda pa- é do que o resultado natural de seu
acordos comerciais ou rece bastante provável (em maio de êxito. O crescimento vem caindo
2016) que falte uma “supermaioria” conforme a economia amadurece.
de parceria entre EUA e no Senado (60 votos num total de Além disso, a economia orientada
Brasil para melhorar o 100) tanto aos Democratas quanto à exportação da China está enfren-
comércio mútuo. aos Republicanos, de modo a tirar tando os ventos contrários de um
Washington da paralisia. Ou seja, mundo que cresce pouco. Se seus
o próximo ou a próxima presiden- clientes não crescem, suas exporta-
te terá de lidar com um Congresso ções também não crescem. Desva-
dividido e isso poderá impedir a lorizar a moeda fará pouca diferen-
aprovação de uma reforma tributá- ça até que o crescimento mundial
ria substancial ou de investimentos comece a melhorar. A China vem
em infraestrutura capazes de esti- tentando contornar esse problema
mular a economia dos EUA. via maior ênfase no setor de servi-
ços e na demanda doméstica como
A maioria dos pré-candidatos a pre- locomotivas da economia. Mas isso
sidente vem assumindo posições leva tempo. Além do mais, há o obs-

8 Jun/2016 Jun/2016
táculo demográfico do envelheci- ções climáticas em determinada
mento da população. À medida que região do planeta impactem os pre-
aumenta a proporção de pessoas ços do milho, do trigo ou da soja
com mais de 65 anos, o consumo em países de outra região do mun-
per capita tende a cair. A China pa- do. Portanto, em segundo lugar,
rece ter evitado um pouso forçado as condições meteorológicas são
(“hard landing”) ou recessão, mas importantes, sim, e aparentemente
aparentemente o crescimento cai- estamos vendo uma mudança de El
rá para a faixa de 3% na década de Niño para La Niña. Se de fato aca-
2020 à medida que o país for ama- bar predominando La Niña (águas
durecendo e envelhecendo. mais frias que o normal no oceano
pacífico equatorial), poderemos ver Parece que acabou
RESENHA - O senhor disse em invernos mais frios nos EUA, mais
artigo recente que os futuros furacões atingindo a costa leste dos
a queda drástica dos
de milho, soja e trigo vêm sen- EUA, a volta da seca no Brasil, mais preços do petróleo,
do negociados em uma faixa chuva na Austrália, na Indonésia e do cobre, do minério
estreita nos últimos 12 meses na Índia. É um quadro complexo, de ferro e de outras
aproximadamente, com a vo- mas muito provavelmente resulta- commodities. Isso não
latilidade implícita nas opções rá em volatilidade considerável nos significa que os preços
desses produtos caindo para ní- mercados agrícolas. voltarão a subir para
veis extremamente baixos. Tais
níveis de volatilidade realizada RESENHA - O senhor acha que
patamares mais altos.
e implícita são surpreendentes, os preços das  commodities es- Significa apenas que os
dada a intensidade do recente tão começando a estabilizar-se? mercados irão operar
El Niño e as fortes flutuações do Ou veremos preços ainda mais em faixas mais amplas
dólar. O senhor acha que esse baixos? e que não haverá mais
período de negociação relativa- o receio de quedas
mente tranquila das commodi- BLUFORD PUTNAM - Parece contínuas dos preços.
ties agrícolas possa durar? que acabou a queda drástica dos
preços do petróleo, do cobre, do
BLUFORD PUTNAM - Parece minério de ferro e de outras com-
que haverá mudanças nos merca- modities. Isso não significa que os
dos agrícolas. Há dois fatores. Pri- preços voltarão a subir para pata-
meiro, ao longo do tempo a agricul- mares mais altos. Significa apenas
tura vem tornando-se cada vez mais que os mercados irão operar em
globalizada. Chuva na  Argentina faixas mais amplas e que não ha-
pode impactar os preços da soja verá mais o receio de quedas con-
em todo o mundo. O aumento da tínuas dos preços. Se os preços das
produção de milho nos EUA afeta commodities ficarem confinados a
os preços em escala global. Quanto faixas mais estreitas e estáveis, será
mais intensa a ligação entre merca- um indício muito positivo de que o
dos agrícolas nos diferentes países, crescimento global poderá melho-
mais provável será que perturba- rar em 2017 e além.

Jun/2016 Jun/2016 9
entrevista

RESENHA - O senhor acha que de produção do petróleo, que está


essa estabilidade  dos preços das ficando mais eficiente. Por exemplo,
commodities poderá permitir a embora os preços do petróleo tenham
revalorização das moedas dos pa- ficado muito baixos em 2015 e os pro-
íses emergentes? dutores nos EUA tenham reduzido
drasticamente o número de sondas
BLUFORD PUTNAM - A negocia- de perfuração de poços de petróleo,
ção das commodities em faixas de pre- a produção permanece bastante está-
ços mais estáveis, mesmo que as faixas vel. A eficiência e economia de custos
sejam bem inferiores aos altos níveis na produção do óleo de xisto só irão
da última década, é uma ótima notícia melhorar com o tempo. As consequ-
para o crescimento global, especial- ências do progresso tecnológico, tan-
Do lado da procura, mente em países fortemente ligados to no lado da procura quanto no lado
cerca de 75% do às commodities. De fato, em 2016 já da oferta da equação do óleo, sugerem
petróleo refinado é vimos a revalorização substancial das que os preços permanecerão relativa-
moedas de países exportadores de mente baixos.
utilizado no transporte.
commodities e isso deverá continuar.
O transporte torna-se RESENHA - Crise política, crise
mais eficiente a cada RESENHA - Sua análise prospecti- fiscal, recessão, inflação alta, cor-
ano e essa tendência va das tendências de longo pra- rupção, Lava Jato, impeachment.
parece fadada a zo no mercado do petróleo, tais Qual a percepção estrangeira des-
acelerar. O que isso como crescimento global lento, te momento com relação ao Bra-
significa é que para avanços contínuos da eficiência sil? Qual a visão internacional da
do consumo de combustível nos economia brasileira, do funciona-
cada aumento de 1%
transportes e melhorias na tecno- mento das instituições democráti-
no PIB global há um logia da extração, sugere que a era cas e do futuro do Brasil?
impacto cada vez de preços relativamente baixos
menor na procura por ainda poderá durar muitos anos. BLUFORD PUTNAM - É um que-
petróleo. Do lado da Quais serão as consequências? bra-cabeça interessante. Os países
oferta, o progresso mais “jovens” como o Brasil parecem
tecnológico também BLUFORD PUTNAM - O preço estar caminhando em uma direção
global do petróleo enfrenta algumas politicamente menos arriscada e, en-
beneficia o processo tendências tecnológicas significativas. quanto isso, o futuro dos países mais
de produção do Do lado da procura, cerca de 75% do “velhos”, como os EUA, o Reino Uni-
petróleo, que está petróleo refinado é utilizado no trans- do e a Europa, parece estar ficando
ficando mais eficiente. porte. O transporte torna-se mais mais incerto. A eleição presidencial
eficiente a cada ano e essa tendência nos EUA em novembro de 2016 e
parece fadada a acelerar. O que isso o referendo sobre a permanência do
significa é que para cada aumento de Reino Unido na União Europeia, que
1% no PIB global há um impacto cada acontecerá em junho de 2016, pode-
vez menor na procura por petróleo. rão ser eventos decisivos. O meu con-
Do lado da oferta, o progresso tecno- selho é celebrar os Jogos Olímpicos e
lógico também beneficia o processo curti-los ao máximo!

10 Jun/2016 Jun/2016
artigo técnico

Desafios e
Tendências
do Setor de
Distribuição/ ANDRÉ XAVIER
Sócio sênior e vice-presidente executivo
do The Boston Consulting Group

Intermediação
no Brasil*
Introdução
O mercado de capitais brasileiro é hoje um dos mais relevantes e pujantes do mundo,
estando entre os 20 maiores mercados de capitais globais e na primeira posição entre os
mercados da América Latina. Ao fim de 2014 existiam cerca de 360 empresas listadas na
bolsa de valores do Brasil, com valor de mercado (market capitalization) de aproximada-
mente R$ 2,2 trilhões, representando 44% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. E,
dentro desse mercado, o setor de intermediação e distribuição (corretagem) ocupa posi-
ção fundamental.
Nos últimos anos, no entanto, o setor de corretagem tem enfrentado fortes desafios.
Particularmente no período pós-crise de 2008, houve uma estagnação do volume nego-
ciado, algo que gera preocupações sobre o desempenho futuro do setor, conforme ilustra-
do na Figura 1.

*
Artigo extraído de um capítulo da publicação original: Desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil: temas para reflexão.
São Paulo: Editora Sociologia e Política, 2015. SARDENBERG, Amarílis Prado. (org.)

Jun/2016 Jun/2016 11
artigo técnico

Figura 1
Performance do mercado de valores Número de transações

Índice Ibovespa Milhões (#)


-2% 300
80.000
+29%
200
+28% +19% +58%
100
60.000
0
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
+7%
40.000 Volume negociado
Bilhões R$
20.000 +5%
2.000
+47%
1.000 +13%
0
0
1/1/02 1/1/08 1/1/14
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
Fonte: Economatica, análise BCG

Em adição a esse entorno desafiador, o setor ainda pre-


cisa se adaptar a uma série de mudanças, que podem poten-
1. Panorama do mercado de
cializar os impactos negativos do momento atual. distribuição/intermediação no
Do lado da demanda, ocorre uma alteração do perfil do mundo e no Brasil
investidor, com o volume de trading de pessoas físicas (vis-
As receitas de corretagem estão sob pressão em todo o
-à-vis o volume de clientes institucionais) perdendo repre-
mundo. Comissões de trading estão caindo globalmente e
sentatividade no mercado de ações, uma maior procura por
esta tendência tem se intensificado nos últimos anos.
aplicativos/soluções que facilitem o processo de compra e
Uma análise realizada pelo BCG (The Boston Consul-
venda e uma desaceleração do valor negociado em bolsa.
ting Group), cobrindo o período de 2009 a 2012, sobre o de-
Do lado da oferta, nota-se que o mercado de distribui- sempenho histórico do setor de intermediação de oito países,
ção e intermediação brasileiro também enfrenta desafios. em diferentes estágios de maturidade econômica – África do
Os últimos cinco anos têm sido caracterizados por uma ten- Sul, Alemanha, Austrália, Cingapura, Coreia do Sul, Estados
dência de “comoditização” e padronização, pela crescente Unidos, França e Reino Unido –, confirma esta tendência.
concorrência e uma maior concentração de fundos/recur- Nos quatro anos analisados, metade dos oito países estudados
sos nas mãos de poucos e grandes players, fatores que têm apresentou queda das receitas do setor e, entre 2011 e 2012,
colocado constante pressão nas empresas de corretagem. sete deles apresentaram tal redução. Apenas na África do Sul
Como consequência de tais alterações do paradigma de as receitas cresceram nos quatro anos analisados. Mercados
mercado, o setor de distribuição/intermediação vem vivencian- maduros presentes nos Estados Unidos, no Reino Unido e na
do forte pressão sobre a sua rentabilidade e sustentabilidade. França passaram pelos declínios mais acentuados.
Pretende-se aqui explorar algumas das causas-raízes Diversos fatores estão contribuindo para esta tendência
por trás da atual situação do setor de distribuição/interme- negativa, entre eles o deslocamento do volume de transações
diação brasileiro, examinar as tendências que estão redefi- das pessoas físicas para o mercado institucional e o aumento
nindo o setor e propor um caminho que garanta que esta do uso de métodos da negociação eletrônica (HFT – High Fre-
importante área do mercado de capitais permaneça susten- quency Trading). Ambos os fatores contribuíram para a erosão
tável, saudável e rentável no futuro. das taxas médias de corretagem.

12 Jun/2016 Jun/2016
No primeiro caso, investidores institucionais con- europeu e norte-americano –, nota-se um declínio das taxas
seguem negociar preços diferenciados, dada a sua maior de corretagem em ambos. No Europa Ocidental, por exem-
escala e maior sofisticação. No segundo caso, a crescen- plo, a taxa de corretagem chegou a 11 bps (basis points, em
te eletronificação da execução “comoditiza” o serviço, que cada basis point equivale a 0,01%) em 2011 e, na Améri-
impactando as tarifas de trading. ca no Norte, este valor atingiu apenas 5 bps, representando
Analisando dois importantes mercados de capitais – quase a metade da taxa de corretagem observada em 2007.

Figura 2
Oferta Demanda
Setor de Distribuição/
Intermediação
“Comoditização” e padronização Diminuição do volume de transações
(tecnológica) dos serviços de distribuição no mercado

Pressão crescente
Crescente concorrência de sobre a Maior consciência de custo e risco
bancos universais(esp. no segmento PF) rentabilidade e associados aos serviços financeiros
sustentabilidade
das empresas
de distribuição
Crescente concentração financeira Crescente procura por
de fundos/recursos em novos no Brasil ubiquidade e integração de
intermediários (AM, ...) serviços/plataformas

Figura 3
Receitas do setor de intermediação
$ Bn TACC 09-12 $ Bn TACC 09-12
84 75 73 2,7 2,9 3,2 2,9
62
-10% 2%
EUA 44 32 29 Alemanha 1,1 1,3 1,6 1,3
19

13,2 12,3 2,6 2,5 2,5 2,3


10,8 10,2
-8% -4%
Reino Unido 8,8 6,9 Coreia do Sul 1,9 1,6 1,7 1,6
5,0 4,4

5,6 5,6 5,5 4,7 0,4 0,4 0,4


0,3
-5% 12%
0,3 0,3 0,4 0,4
França 2,5 2,6 2,9 2,3 África do Sul

-9%
4,1 4,8 4,3 2,3 2,4 2,3 2,2
3,2
11% -1%
2,4 3,1 2,7 1,6 1,8 1,6 1,5
Austrália 1,6 Cingapura
2009 2010 2011 2012 2009 2010 2011 2012
Outros serviços Corretagem
Fonte: World FederationofExchanges, análise BCG

Jun/2016 Jun/2016 13
artigo técnico

Inevitavelmente, a queda das taxas de corretagem con- minam no espaço que antes era dominado por corretoras in-
tribuiu para a contração das margens de lucro do setor. De dependentes. No Reino Unido, por exemplo, 20% dos ban-
acordo com o BCG, as margens de seis grandes empresas de cos e das instituições financeiras controlam 80% da receita
corretagem nos Estados Unidos, Reino Unido e Coreia do do mercado. Na Austrália, 85% das receitas são controladas
Sul apresentaram redução de quase 22%, um declínio médio por dez players principais.
ao redor de 10% ao ano. Fusões e aquisições dentro do setor estão acontecendo
A crescente consolidação do mercado é outro desafio. globalmente. No mercado norte-americano, o número de
Os bancos e as grandes instituições financeiras agora predo- corretoras diminuiu 17% em comparação a 2008.

Tabela 1

Taxas de corretagem (basis points)

2007 2008 2009 2010 2011 TACC ('07-'11)

Europa Ocidental 14 12 11 11 11 -5,3%

América do Norte 9 8 7 6 5 -13,7%

Fonte: Greenwich Associates, Expand Research

Figura 4
Margem líquida de empresas selecionadas

-5%
51% 48%
-5% 41% 42%
24% 19% 18% 19%
11%
EUA

-10%
35% -22%
32% 28% 16% 18% 31% 37%
42% 38%
9%
Reino Unido

-8%
-12%
37% 42% 38%
30% 27% 31%
19% 23% 22%
26%

Coreia do Sul
2008 2009 2010 2011 2012 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte: Relatório anual das empresas, análise BCG

14 Jun/2016 Jun/2016
Gráfico 1
Reino Unido: 20% das corretoras capturam 80% das receitas do setor

Receitas
500

400

80% do mercado
300 20% das corretoras

200

100

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
# corretoras
Austrália: 10 principais players concentram 85% do mercado

Stockmarket turnover % do mercado


(2012 - AUdB) (acumulado)

300 100
Asset Under Distribution

80

200
60

40
100

20

0 0
Citigroup Deutsche Credit Morgan JP
Bank Suisse Morgan
UBS Goldman Stanley Merril CBA
Macquarie Sachs Lynch
Fonte: Análise BCG

Jun/2016 Jun/2016 15
artigo técnico

A Bolsa de Valores de Londres tem 7% menos corre- que operam no País caiu 33%, indo de 108 para 72.
toras ligadas a ela desde 2009, e a New York Stock Exchan- Esta redução do número de empresas do setor foi
ge viu uma diminuição de aproximadamente 20%. acompanhada de uma concentração da rentabilidade
Mudanças similares estão acontecendo no Brasil, em um número limitado de companhias. Em 2012, nove
onde também se observa uma tendência de concentra- corretoras no Brasil correspondiam a 80% de todo o lu-
ção no mercado. Entre 2009 e 2014, embora o número cro de corretagem do País. Tal situação está colocando
de transações tenha crescido, em média, 26% ao ano, o uma enorme pressão sobre corretores independentes
aumento médio das receitas das corretoras foi de apenas para que preservem sua participação de mercado e per-
5% ao ano. Entre 2008 e 2014, o número de corretoras maneçam rentáveis.

Figura 5
Fusões e Aquisições nos EUA
Exemplo EUA

• Aquisição de
Xpres sTrade • Compra do Wachovia

Três aquisições no período


• Compra do thinkorswim
• '95: K. Aufhauser Co.
• Aquisição de
• '95: All American Brokers
Schonfeld &
• '01: National Discount • Compra
Company
Brokers OptionsXpress
2006 2008 2010 2012

1995 2001 2005 2007 2009 2011

• Compra da
ThomasPartners
Duas aquisições no ano
• Harrisdirect
• BrownCo
• Aquisição de • Aquisição de Merril Lynch
Schonfeld & Co.

• Aquisição de Open E cry


Fonte: FINRA, Imprensa

Tabela 2

Número de corretoras no Mercado Americano


2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TACC ('08-'14)
Mercado Americano 1
4.895 4.720 4.578 4.456 4.289 4.146 4.068 -3%
1
.Evolução de broker-dealers registrados na FINRA
Fonte: FINRA

16 Jun/2016 Jun/2016
Tabela 3
Número de participantes de Trade

2009 2010 2011 2012 TACC ('09-'12)


NYSE 657 600 591 525 -7%

LSE 510 502 497 472 -3%

Fonte: Análise BCG

Gráfico 2
Receitas das Corretoras (de bancos e independentes) – R$ bilhões
Receitas não operacionais
(desmutualizaçãoda Bolsa) Aumento do número de
9,9 transações (26% a.a.) foi
bem acima do crescimento
anual do setorde 2009 a
+5%
2014 (de 5% a.a.)
7,2 7,3
6,6 6,6
6,1 6,3

+49% 5,0 5,2

3,4
IBOVESPA
2,3

TACC

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 20141
Corretoras em
108 - 93 93 89 74 72
operação

1. Dados realizados até set /2014 e projeção out - dez/2014 considerando mesma proporcionalidade de meses anteriores
Nota: Receitas não operacionais incluídas, com grande impacto em 2007 e 2008 (desmutualizaçãoda Bolsa). Considera apenas corretoras ativas nos segmentos BM&F e Bovespa (PNPs)
Fonte: Dados BACEN, BM&FBOVESPA, análise BCG

Tabela 4

Distribuição de corretoras por lucro e receita (2012)

Corretoras % Lucros totais do setor % Receitas totais do setor

5 maiores 73% 38%

6-10 maiores 26% 16%

11-25 maiores 17% 26%

Demais (26-85) -17% 20%

Total 100% 100%

Fonte: Dados BACEN, BM&FBOVESPA, Análise BCG

Jun/2016 Jun/2016 17
artigo técnico

Esta tendência não só continuará, mas também deve ambiente global de corretagem. A primeira delas é o cons-
crescer em intensidade. Para o setor de corretagem a impli- tante declínio do volume de transações, influenciado por um
cação é simples: permanecer com o mesmo posicionamento ambiente mais conservador e com economias em recupera-
de épocas passadas não será mais sustentável. Como con- ção ou estagnação; a segunda é a crescente concentração da
sequência, o modelo comercial tradicional das corretoras demanda em investidores institucionais, que passam a ter re-
deve se adaptar à nova realidade. levante poder de barganha e controle do mercado; a terceira
tendência é a intensificação da utilização de negociações ele-
trônicas, que aumentam a eficiência do sistema, mas “como-
2.Tendências-chave no setor de ditizam” os serviços; e, por fim, o fortalecimento do ambiente
distribuição/intermediação regulatório, que cada vez mais exige das corretoras maior in-
Como mencionado, o setor de intermediação no Brasil e vestimento para se enquadrarem às novas normas.
no mundo passa por um momento crítico de queda de taxas,
redução do volume de transações, contração de margens
2.1. Primeira tendência: o declínio do volume
de lucro e uma maior concentração de mercado. Contudo,
existem algumas estratégias disponíveis às corretoras que de transações de títulos
podem ajudá-las a posicionar-se para um crescimento forte O período que se segue à crise financeira é de desace-
e de longo prazo. Nos parágrafos a seguir, serão apresenta- leração constante dos volumes de transações. Entre 2004
dos em maior detalhe os fatores que dão forma ao mercado e 2008, o valor médio do crescimento do volume de ne-
global de corretagem e as alternativas comerciais que se pro- gociação de nove países analisados era de 45% ao ano; no
varam bem-sucedidas no âmbito internacional, mostrando- entanto, entre 2008 e 2012, este valor caiu para -5% ao ano.
se promissoras para um crescimento sustentável do setor e Em adição aos impactos da crise, um interesse crescente em
de sua rentabilidade no Brasil. estratégias de trading passivas, tais como o uso de fundos de
Ao longo dos últimos anos, quatro grandes tendências índices (ETFs – Exchange Traded Funds), alterou a dinâmi-
têm desempenhado um papel importante em remodelar o ca do mercado, diminuindo o volume de trading.

Gráfico 3
Crescimento anual médio do volume negociado de ações (%)
2004 - 2008 2008 - 2012
Média: 45% Média: -5%

Brasil

Coreia do Sul

África do Sul

Austrália

Cingapura

Reino Unido

EUA

França

Alemanha

0 20 40 60 80 -30 -20 -10 0 10


Fonte: World Federation of Exchanges, análise BCG

18 Jun/2016 Jun/2016
Gráfico 4
Volume negociado por produto (apenas etfse ações) – us$ trilhões, 2012

0,3 0,9 0,8 0,3 1,6 1,6 2,2 1,3 13,4

1% 1% 2% 2%
6% 8% 12% 14%
24%

ETFs
Ações

Austrália Brasil Cingapura Coreia Alemanha EUA


África França do Sul Reino
do Sul Unido

Fonte: World Federation of Exchanges, análise BCG

2.2. Segunda tendência: a crescente ativos para as mãos de grandes assets, que concentram quase
concentração da demanda em investidores a totalidade dos novos fluxos e assumem posição de lideran-
institucionais ça transnacional. Conforme se vê na Tabela 6, na Alemanha,
por exemplo, 81% dos ativos sob gestão estão concentrados
Os últimos anos têm se caracterizado pelo acúmulo nas dez maiores gestoras de ativos – e, no Brasil, este valor
dos ativos em instituições pela diminuição da representa- já é de 75%.
tividade das pessoas físicas. Em 2012, mercados maduros, Os efeitos de escala estão criando uma vantagem trans-
como Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, já possuíam nacional importante para um seleto grupo. Como se observa
mais de 60% dos ativos em posse de instituições; enquanto na Tabela 7, três das dez maiores asset managers norte-ame-
isso, nos mercados emergentes, a concentração da demanda ricanas também estão entre as dez maiores assets na Europa.
apresentou forte crescimento. Por exemplo, conforme mos- Associado a esta concentração no buy-side, grandes
tra a Tabela 5, na África do Sul observa-se um ganho de 11 clientes passam a racionalizar a contratação das corretoras,
p.p. no valor em posse de instituições entre 2010 e 2012 e visando ganhar maior poder de negociação. Uma pesquisa
no Brasil um aumento de 12 p.p., de 30,5% para 42,1%, no realizada pela Greenwich Associates verificou que entre
mesmo período. 21% e 26% das gestoras de ativos da Europa e dos Estados
Este setor em consolidação está dando origem a um ce- Unidos esperam reduzir o número de corretoras que utili-
nário em que winners take all e novas transações são canaliza- zam. Grandes clientes estão inclinados a diminuir o uso de
das cada vez mais entre um número relativamente pequeno corretoras, focando naquelas com alcance global e com boa
de players. Existe um movimento de migração do estoque de qualidade de execução.

Jun/2016 Jun/2016 19
artigo técnico

Tabela 5 Tabela 6
Valor de mercado em posse de instituições (% market cap) % dos ativos sob gestão das top 10 assets em 2012
2010 2011 2012 Variação Top 10 Demais
África do Sul 36% 40% 47% 11 p.p. África do Sul 57% 43%
Alemanha 32% 33% 37% 5 p.p. Alemanha 81% 19%
Austrália 67% 72% 73% 6 p.p. Australia 57% 43%
Brasil 31% 32% 42% 12 p.p. Brasil 75% 25%
Cingapura 42% 49% 52% 10 p.p. Cingapura 64% 36%
Coreia do Sul 51% 49%
Coreia do Sul 37% 35% 40% 3 p.p.
EUA 44% 56%
Estados Unidos 71% 73% 73% 2 p.p.
França 65% 35%
França 33% 35% 40% 7 p.p.
Reino Unido 52% 48%
Reino Unido 78% 72% 69% -8 p.p.
Nota: Coreia do Sul: 8 principais players representam 51% do mercado
Fonte: Bloomberg, EFAMA, TBS, análise BCG Fonte: Bloomberg, EFAMA, TBS, análise BCG

Tabela 7
Três das Top-10 assets americanas... ...e também entre as Top-10 na Europa

Participação Participação
Top 10
Top 10 Fluxos Líquidos cumulativa dos Fluxos Líquidos cumulativa dos
Asset Americanas 2012 ($B) fluxos totais de 2012 ($B) fluxos totais de
Asset Européias
mercado (%) mercado (%)

Vanguard 139 35% PIMCO 44 13%


PIMCO 65 51% BlackRock 29 21%
BlackRock 57 65% Alliance Bernstein 20 27%
JP Morgan Chase 25 72% Nordea 16 32%
DoubleLine Cap. 22 77% M&G Investments 13 36%
T. Rowe Price 15 81% AXA 13 40%
MFS 14 85% BNY Mellon 11 43%
Dimensional Fund Adv. 14 88% Standard Life 11 46%
SSgA 13 91% Aberdeen 9 49%
Lord Abbett 12 94% JP Morgan 9 51%
Total market 401 Total market 339
Nota: Análise baseada em fundos mútuos e ETFs, excluindo money markets funds
Fonte: Strategic Insight, análise BCG

Além disso, clientes institucionais têm demonstrado 2.3. Terceira tendência: intensificação da
interesse em desvincular os serviços de execução dos servi- utilização de negociações eletrônicas
ços de research/advisory. Em vez de realizarem parcerias com Os serviços de execução avançados (AES – Advanced
uma corretora para uma série de serviços, estão selecionan- Execution Services) e as formas de negociação algorítmica
do empresas diferentes para execução, research e serviços (como as Negociações de Alta Frequência; em inglês, High-
consultivos. A redistribuição dos volumes de trading entre Frequency Trading – HFT) cresceram em popularidade.
os serviços está forçando as corretoras a remodelar suas es- Onde single orders costumavam predominar, AES represen-
truturas de comissão para se acomodarem a esta nova reali- tam agora quase a metade de todo o cash equity trading da
dade, na qual não é mais possível subsidiar um determinado Europa Ocidental.
serviço prestado alavancando margens geradas em outro. A “eletronificação” remove ineficiências, aumentando a

20 Jun/2016 Jun/2016
transparência dos serviços prestados, mas ao mesmo tempo alta frequência já está acima de 40%-50% do volume total.
“comoditiza” o setor, reduzindo as taxas de comissão, que Este número é menor no Brasil – atualmente ao redor de
chegam a ser dois terços menores que as taxas de single orders. 10% do mercado –, mas estimativas sugerem que a partici-
O impacto de estratégias de HFT também é grande. pação deve aumentar nos próximos anos com mercados e
Em mercados avançados, a penetração de negociações de players se digitalizando.

Tabela 8
Participação de Single Order vs. AES (%) Cash equity Europa Ocidental
2007 2008 2009 2010 2011 2014E
Single Order 69% 66% 63% 60% 60% 51%
AES1 31% 34% 37% 40% 40% 49%

Taxas de Comissão de Single Order e AES (p.p.) Europa Ocidental


2006 2007 2008 2009 2010 2011
Single Order 17 17 16 15 16 15
AES1 - 6 5 5 5 4
1
. Advanced execution services
Fonte: Greenwich Associates

Tabela 9
Participação de Mercado de HFT1 (%)
2008 2009 2010 2011 2012
Europa (value traded) 29 39 41 40 39
Brasil - Bovespa (ADTVs) - - 6 9 9
Brasil - BM&F (ADTVs) - - 4 7 6
1
. High Frequency Trading
Fonte: TABB group estimate

2.4. Quarta tendência: fortalecimento do tas corretoras atualizem suas plataformas e softwares de TI
ambiente regulatório (Tecnologia da Informação) – primeiro, para melhorar seus
Por fim, nos últimos anos uma onda de novas e mais relatórios e a transparência que proveem a seus clientes, e,
rigorosas regulamentações atingiu o mercado financeiro. segundo, para diluir o impacto do custo da regulamentação
Em alguns casos, essas mudanças têm tido impacto com uma maior eficiência de funcionamento.
direto na geração de receita e na rentabilidade do setor de Especificamente, quando analisamos os gastos de TI
intermediação. Como exemplos, podem ser citados: (1) na manutenção de plataformas, observamos que os valores
a maior exigência de capital, o que leva à menor alavan- investidos por corretoras Tier 1 e Tier 2 são similares; já
cagem e reduz o volume de trade; (2) as limitações sobre quando nos debruçamos sobre os valores gastos com no-
negociações de balcão (OTC), gerando a erosão das mar- vos projetos, a diferença dos gastos das corretoras Tier 1
gens; (3) a limitação do trading de derivativos de commodi- chega a ser quase três vezes do que as Tier 2. No médio
ties, com redução da demanda; (4) as limitações de acesso e longo prazos isso implica um aumento do gap de dife-
direto a estratégias de HFT, reduzindo volumes de equity renciação entre os dois grupos; as corretoras do primei-
trading; e (5) a imposição de taxas adicionais por transa- ro grupo conseguem investir mais em tecnologia para se
ção, reduzindo o potencial volume de trading. diferenciar, se tornar mais eficientes e oferecer serviços e
Em outros casos, o impacto se dá na ponta dos custos. produtos de maior valor para seus clientes do que as cor-
Atender às novas disposições de compliance exigirá que mui- retoras Tier 2.

Jun/2016 Jun/2016 21
artigo técnico

Gráfico 5
Gastos de TI de Corretoras Tier1 e Tier2
Gasto de TI de acordo com tier ($M)
Cash equity apenas
150

118
104
100
75% 65%
(88) (68)
50 48
40
52% (25) Novos Projetos
35% 50% (20)
25%
(30) (36) 50% (20) 48% (23) Manutenção
0
2011 de Plataforma
2010 2011 2010

Corretoras tier1 Corretoras tier 2


Fonte: Expand IT Benchmark

3. Como se adaptar às mudanças: que geram 35 vezes mais volume que os clientes de seus pa-
os aprendizados de modelos res (Tabelas 11 e 12).
internacionais bem-sucedidos 3.2. Modelo de valor adicionado
Globalmente, as várias mudanças ocorridas no setor de Este modelo baseia-se na oferta de um serviço superior
distribuição/intermediação levaram as corretoras a seguir a taxas mais altas, associado a uma experiência diferenciada
estratégias de especialização, com algumas focando em es- para os clientes; por exemplo, oferecendo um conjunto de
cala e eficiência e outras priorizando o valor adicionado. produtos ou serviços mais amplos e/ou uma gestão de conta
personalizada. Neste modelo, uma corretora pode enfatizar
3.1. Modelo de escala e eficiência o relacionamento com o cliente ou sua expertise em um pro-
Este modelo pressupõe o oferecimento de serviços de duto/oferta específico. Se a escolha for por focar no relacio-
baixo custo com o aumento da escala e eficiência, servin- namento, esta deve ampliar a oferta de produtos e serviços
do de base para a competição por preço ou o aumento de (modelo one-stop shop), oferecer serviços personalizados e ter
margens. O foco das empresas que escolhem este modelo um modelo capilar de relacionamento com o cliente. Caso a
está na eficiência operacional, o que implica baixos custos, escolha seja ofertar produtos/serviços específicos, de forma
robusto sistema de conectividade, gravação e back office, co- diferenciada, deve-se escolher um campo de especialização
nexão direta com bolsas de valores, execução de qualidade e para poder oferecer profundidade de conhecimento.
capacidade de gerir riscos. O caso da Charles Schwab, uma das maiores empresas
As corretoras focadas no modelo de escala e eficiência de distribuição/intermediação dos Estados Unidos, ilustra
estão acelerando o deslocamento para serviços digitais para bem esta opção estratégica. A corretora possui cerca de nove
ganhar mercado na execução pura para clientes institucio- milhões de contas e oferece um leque abrangente de servi-
nais e, também, para alavancar a eficiência e o alcance dos ços, incluindo, entre outros, fundos mútuos, ETF, aconse-
serviços online no mercado de varejo. lhamento personalizado, gestão de portfólio full time e ser-
Um exemplo de corretora que tem seguido esta estra- viços bancários. Além disso, possui uma operação integrada,
tégia é a Interactive Brokers. A empresa atua em escala glo- permitindo cross-selling e melhor atendimento aos clientes.
bal, com acesso a mais de cem electronic exchanges e market O crescimento das receitas da corretora Charles Schwab
centers em 24 países. Sua receita é concentrada em execução, nos últimos anos deve-se principalmente aos produtos relacio-
com taxas sete vezes menores que a concorrência (Tabela nados aos serviços amplos oferecidos a seus investidores, e não
10), e seu foco são clientes institucionais e traders ativos, àqueles referentes à trading, como observado na Tabela 13.

22 Jun/2016 Jun/2016
Tabela 10
Comparação de comissões nos Estados Unidos

Comissões EUA (USD) 100 ações 1 Stock option 1 E-mini S&P 500 Futuro

Interactive Brokers $ 1,00 $ 1,00 $ 0,85


E-Trade $ 7,99 $ 8,74 $ 2,99
Fidelity $ 7,95 $ 8,70 N/A
OptionsXpress $ 8,95 $12,95 $ 3,50
Schwab $ 8,95 $ 9,70 N/A
TD Ameritrade $ 9,99 $10,74 $ 2,25
Thinkorswim $ 9,99 $10,74 $ 2,25
Fonte: Interactive Brokers Investors Relations website

Tabela 11
Número de contas ativas – final do período ('000)
2010 2011 2012 2013 TACC ('10-13)
Interactive Brokers 158 189 210 239 15%
Charles Schwab 8.000 8.552 8.787 9.093 4%
E-Trade 2.684 2.783 2.903 2.998 4%
Fonte: Interactive Brokers IR, Charles Schwab IR, E-Trade IR

Tabela 12

Volume médio diário de Trading ('000)

2010 2011 2012 2013 TACC ('10-13)


Interactive Brokers 379 444 413 486 9%
Charles Schwab 271 304 283 295 3%
E-Trade 150 157 138 150 0%
Fonte: Interactive Brokers IR, Charles Schwab IR, E-Trade IR

Tabela 13

Charles Schwab – Receitas por Natureza do Produto (US$ Milhões)


2009 2010 2011 2012 TACC ('09-'12)
Asset Mngt & Taxas de Administração 44% 42% 41% 41% 3%
Taxas de Juros 29% 35% 36% 36% 12%
Outros 4% 3% 3% 5% 14%
Comissões e trading 23% 19% 20% 18% -4%
Total 4.291 4.311 4.740 4.931 5%
Fonte: Reporte anual, Reuters Fundamentals

Jun/2016 Jun/2016 23
artigo técnico

Um estudo recente do BCG evidencia a crescente polari- toras que oferecem um pacote amplo de produtos/serviços cres-
zação de players entre esses dois modelos. Analisando as receitas ceram em +8 p.p. No entanto, corretoras com modelo híbrido,
registradas na London Stock Exchange, nota-se que corretoras clássico, reduziram em -18 p.p. a participação de suas receitas.
exclusivas de execução ganharam relevância, aumentando a par- Nos EUA também se observa esta tendência, conforme
ticipação de suas receitas, entre 2005 e 2012, em +11 p.p., e corre- ilustrado na Figura 6 a seguir.

Gráfico 6
Receitas das Corretoras Registradas na LSE – US$ bilhões Exemplo Reino Unido

12% 13% 14% "Escala &


Variação
17% 20% 21% 22% 23%
Eficiência"
+11pp
27% 26% 22% 13% 10% 9%
20% 15% Híbrido
-18pp

"Valor +8pp
64% 65% 66% 68% 69%
61% 61% 62% Adicionado"

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

14% 19% 15% 8% 8% 9% 10% 8% Margem líquida


Fonte: Orbis, Relatórios das Empresas, análise BCG

Figura 6
Escala e Eficiência
2
• US$/conta: US$ 67.000
• Ativos sob gestão (US$): = US$ 500 bi
Foco em transações US$ 379bi
• Operações: 18,2 x
em ativos sob
Operações 20 x • US$/conta: US$ 20 mil • Rec./oper.: US$ 12,18 gestão
• Ativos sob gestão (US$):
anuaispor
US$ 50 bi
conta1 • Operações:15,0 x Valor Adicionado
15 x
Foco em
3 • US$/conta: US$ 83.000
• Ativos sob gestão patrimônio
(US$): US$ 1.071 bi
10 x • Operações: 4,8 x
• US$/conta: US$ 49.000
• Ativos sob gestão
(US$): US$ 136 bi
• US$/conta: US$ 121 mil4
5x • Operações: 14,7 x
• Ativos sob gestão (US$): US$ 698 bi4
• Rec./oper.: US$ 11,15
• Operações: 8,9 x 5
• Rec./oper.: US$ 12,12
0x
0 50 100
Tamanho médio das contas (US$ 000/conta)
1. Número de operações geradoras de receita (DARTS) anuais por conta de corretagem. 2. Usando somente contas com fundos. 3. Usando somente contas e ativos de corretagem. 4. Usando somente
ativos de serviços ao investidor. 5. Divisão de DARTScom base na distribuição da receita entre receita de corretagem originária de serviços ao investidor e de serviços institucionais. Obs.: números do
acumulado de 12 meses até 30/09/2011, quando disponíveis.
Fonte: documentos arquivados pelas empresas em órgãos oficiais, site da Fidelity, análise do BCG

24 Jun/2016 Jun/2016
4. As alternativas para o significativos de escala não somente em toda a cadeia de
setor no Brasil back-office, mas também em TI.
A adoção no mercado brasileiro dos modelos expostos Em pesquisa realizada pelo BCG com cerca de 20 correto-
na seção anterior, de escala/eficiência e valor adicionado, ras no Brasil, buscou-se entender como o aumento de escala e
ofereceria às corretoras locais um caminho sólido para o faturamento influencia na evolução da eficiência operacional e
crescimento e a rentabilidade sustentáveis. Os próximos pa- de custos dessas corretoras. A pesquisa abordou empresas com
rágrafos justificam o porquê deste entendimento. tamanhos de faturamento distintos e as questionou sobre as
despesas de back office e sobre suas receitas com execução.
Como se pode ver nos Gráficos 7 e 8, observam-se ga-
4.1. O potencial do modelo de escala e nhos evidentes de escala nas despesas de back-office. Especi-
eficiência no Brasil ficamente, o custo de back-office como percentual da receita
A análise do mercado brasileiro de distribuição e de execução de empresas menores é quase três vezes maior
intermediação sugere que existe potencial para ganhos que o de corretoras médias ou grandes.

Gráfico 7
Despesas de backoffice vs. receitas com execução
Despesas com backoffice/ Receitas com execução (%)
Corretora

Curva de tendência ilustrativa


Receitas com execução
1. Considera ~21 corretoras que responderam a pesquisa
Fonte: pesquisa com corretoras, análise BCG

Gráfico 8
Custo de back-office como % da receitade execução
3x
15%

5%
3%

Receita de Execução
Grande Médio Pequeno
Fonte: pesquisa com corretoras, análise BCG

Jun/2016 Jun/2016 25
artigo técnico

Nesta mesma pesquisa, as despesas das corretoras com


vigor no fim de 2014 – e que foi pensado para dar alterna-
TI foram analisadas e constatou-se que elas obedecem a um
tivas àqueles participantes do mercado que não possuíam
comportamento bastante similar. O custo de TI como per-
garantia de capital mínimo para a liquidação de ordem e ne-
centual da receita de execução de empresas pequenas é qua-
gociação (R$ 20 milhões) e/ou para manter investimentos
se duas vezes maior que o de corretoras médias ou grandes.
continuados em tecnologia.
Como corolário, conclui-se que corretoras menores, Neste contexto, para dar maior flexibilidade às empre-
que mantenham internalizadas suas operações de TI e ba- sas e aumentar a capilaridade do setor, foram criadas duas
ck-office, competirão com forte desvantagem, no que tange categorias de corretoras: PN (Participante de Negociação)
à eficiência operacional, quando comparadas com suas con- e PNP (Participante de Negociação Pleno).
gêneres maiores. Para enfrentar este desafio, os players me- As corretoras PNP têm acesso direto à bolsa e funcionam
nores poderiam considerar externalizar atividades não core como canal de acesso para corretores menores, fornecendo
ou atividades commodities para instituições maiores ou para infraestrutura e back office, responsabilizando-se por garantias
terceiros, dando-lhes a vantagem de custos mais baixos (e de capital, serviços de compliance e auditoria, pela tecnologia
mais previsíveis) em várias áreas-chave. Esta consideração é de conexão com a bolsa e por sistemas de gravação.
especialmente crítica em virtude do rápido crescimento dos Já as corretoras PN não têm acesso direto à bolsa e,
custos de adequação às mudanças regulatórias e das cres- por isso, precisam contratar a estrutura tecnológica das em-
centes expectativas dos clientes. presas PNPs e terceirizar seus back offices para focarem em
As curvas de escala apresentadas anteriormente confir- serviços de negociação, consultoria e outros de maior valor
mam que os movimentos de especialização do mercado são agregado.
cruciais para a sustentabilidade do setor. Já se pode observar As mudanças introduzidas por este novo modelo cen-
tal movimento com o surgimento do novo modelo de aces- trado na escala e na eficiência permitirão às corretoras me-
so para intermediação de negócios na bolsa – que entrou em nores focar no que têm de melhor a oferecer.

Gráfico 9
Despesas de TI vs. receitas com execução

Despesas com TI / Receitas com execução (%)

Corretora

Curva de tendência ilustrativa


Receitas com
execução
1. Considera ~21 corretoras que responderam a pesquisa
Fonte: pesquisa com corretoras, análise BCG

26 Jun/2016 Jun/2016
Gráfico 10
Custos de TI como% da receita de execução

~2x
34%

18%
17%

Receita de
Grande Médio Pequeno Execução

Fonte: pesquisa com corretoras, análise BCG

4.2. O potencial do modelo de valor de diversificação significativamente inferior, como pode ser
adicionado no Brasil observado no Gráfico 11.
Delegando atividades transacionais e outras não core Uma maneira de posicionar-se é pensar qual nicho de
para terceiros, as corretoras menores podem investir tempo serviço priorizar. Em outros países, corretoras independen-
e esforço em melhorar suas atividades de relacionamento tes bem-sucedidas tendem frequentemente a seguir um de
com o cliente, ampliando a oferta de produtos e aprimo- dois caminhos: (1) desenvolver a marca ao redor do rela-
rando seu serviço, áreas em que os players brasileiros estão cionamento profundo com clientes ou (2) transformar-se
claramente atrás quando comparados aos players de outros em um especialista. Para aqueles que dão prioridade ao ân-
mercados. gulo do relacionamento, sua estratégia de ida ao mercado
Em análise realizada pelo BCG, observa-se que há envolverá enfatizar a experiência do cliente e assegurar um
grande potencial para as corretoras brasileiras diversifica- serviço valioso e personalizado ao longo de todos os pontos
rem seu mix de receita. de contato com o contratante. Por outro lado, aqueles que
Benchmarks internacionais, por exemplo, mostraram enfatizam a experiência consultiva com frequência buscam
que players líderes podem extrair até 80% de sua receita de um nicho com habilidades altamente especializadas em
atividades não relacionadas a trading. Já no mercado brasi- áreas técnicas ou mesmo em indústrias específicas.
leiro, receitas não relacionadas às atividades de execução Vale lembrar que as duas abordagens não são mu-
representam, em média, apenas 45% da receita total das cor- tuamente excludentes; isto posto, dedicar tempo para um
retoras independentes. questionamento real sobre qual estratégia deve se buscar
A média observada no Brasil já sugere, quando compa- ajudará a gestão de cada empresa a decidir em quais tipos
rada ao patamar observado globalmente, que existe poten- de serviços e de habilidades investir. Afinal, há que se reco-
cial para uma maior diversificação da oferta das corretoras nhecer que poucas corretoras têm o tamanho e os recursos
locais – e vale ressaltar que a média encobre grandes assime- necessários para adotar uma estratégia que combine as duas
trias, pois várias corretoras ainda se encontram em patamar abordagens mencionadas.

Jun/2016 Jun/2016 27
artigo técnico

Gráfico 11
Receita total excluindo execução (% das receitas totais)

Corretoras Benchmarks

100% 100%

80%
80% 80%

60% 60%
51%
Média: 45,2%
40%
40%

20%
20%

0%
0%

Corretoras têm ainda potencial para diversificar adicionalmente


...Até p.ex.: 80% de receita
as receitas...(elevada assimetria no mercado)
gerada por outros serviços

Fonte: pesquisa com corretoras, análise BCG

5. A importância da 5.1 Selecionando a abordagem mais


adequada
especialização a. Atinja consenso claro em torno da estratégia desejada: é
Como exposto neste artigo, as recentes mudanças es-
necessário que a gestão chegue a um consenso de seus
truturais no setor de intermediação e distribuição fazem da
objetivos de médio e longo prazos. Para ganhar este ali-
especialização um imperativo. nhamento, benchmarks, diagnósticos e análises relaciona-
Com a queda dos volumes de transação e das taxas, o das podem ajudar as equipes executivas a compreender
aumento da competitividade do mercado e sua crescente como o desempenho do seu custo e das receitas atuais se
concentração, as corretoras independentes estão sendo for- comparam aos de seus pares no Brasil e no mundo. Eles
çadas a encontrar maneiras novas e mais criativas de espe- também poderão querer estimar o tamanho do mercado,
cializarem-se, diferenciarem-se e adicionarem valor a seus para desenhar um possível aumento de receitas e definir
produtos. a precificação e os serviços necessários para que atinjam
A seguir, mostra-se uma sequência de passos que po- determinados ganhos.
dem ajudar a gestão de cada empresa do setor de interme- b. Priorize os produtos e serviços que provavelmente trarão os
diação a definir qual caminho estratégico melhor se adapta maiores retornos: independentemente da abordagem esco-
às suas necessidades, prioridades e interesses, de modo que lhida pela corretora, se de execução ou de valor adiciona-
se coloquem em uma posição mais forte para o crescimento. do, ela terá que ser seletiva na escolha do mix de produ-

28 Jun/2016 Jun/2016
tos e serviços que irá oferecer. Uma empresa interessada nho será crítico – da mesma forma que alinhar incen-
em perseguir um modelo de execução, por exemplo, terá tivos para encorajar uma mentalidade e comportamen-
sucesso somente se conseguir atingir escala e manter os tos corretos.
custos abaixo de um ponto inicial visado. Uma vez que
nem todos os serviços são igualmente escaláveis, escolhas
deverão ser feitas. Compreender o custo de oportunidade Síntese e considerações finais
exige uma modelagem e análise cuidadosas. Da mesma O mercado de corretagem no Brasil e no mundo en-
forma, as corretoras interessadas em adicionar valor não frenta uma série de desafios que torna imperativo para os
podem arriscar diluir a experiência do cliente tentando players a reconsideração de seus modelos comerciais e a
entregar muito sem os recursos ou o grau de capacitação atuação decisiva na escolha da proposição de valor a abraçar.
necessários. Conforme demonstrado neste trabalho, a escolha en-
c. Calibre o modelo operacional: estratégias diferentes exi- tre duas proposições de valor oferece um potencial expres-
girão estruturas organizacionais diferentes. Uma cor- sivo de ganhos e permitirá às empresas do setor de inter-
retora que foca em escala, por exemplo, provavelmente mediação adaptar-se a esta nova realidade: uma focada em
procurará reduzir ao máximo os custos operacionais do aumento de eficiência e a outra em maximizar os serviços.
negócio, aparando camadas de reporte, automatizando e Cada uma com decisões importantes em torno da carteira
digitalizando processos core e consolidando as áreas de de serviços, estrutura de precificação e de custo, cobertura
vendas e marketing. As corretoras que buscam o valor comercial e organização de TI e de back office.
adicionado, no entanto, procurarão externalizar ativida- Definir esta escolha não é uma decisão trivial e percor-
des não core, melhorar seu modelo de cobertura e redu- rer o caminho associado não será sem desafios para o setor
zir a carga administrativa dos responsáveis pelo relaciona- de intermediação local. Mas os benefícios são significativos.
mento com o cliente. Ao tratarem as limitações que afetam atualmente o merca-
d. Estabeleça a governança ideal e benchmarks de desempe- do de distribuição e intermediação, os participantes esta-
nho: com a expectativa de intensificação das pressões rão mais bem posicionados para proteger a rentabilidade e
do mercado, será responsabilidade da liderança rever apoiar o crescimento dos seus negócios, além de preservar
o progresso e a estratégia de forma regular. Definir um a sustentabilidade de um setor fundamental para o mercado
conjunto claro e alinhado de indicadores de desempe- de capitais brasileiro.

Referências
DEVAI, Romain; NAACKE, Grégoire. Cost and revenue survey. World Federation of Exchange. Londres, jul. 2013.
Disponível em: < http://www.world-exchanges.org/files/statistics/pdf/2012_Cost_Revenue_Survey.pdf>.
Acesso em: 02 jan. 2015.

EUROPEAN FUND AND ASSET MANAGEMENT ASSOCIATION. Annual review asset management in Europe. Euro-
pean fund and asset management association. Bruxelas, ano 6, jun. 2013. Disponível em: <http://www.efama.
org/Publications/Statistics/Asset%20Management%20Report/Asset%20Management%20Report%202013.
pdf>. Acesso em: 02 jan. 2015.

GREENWICH ASSOCIATES. U. S. equity trading: Commission contraction continues. Connecticut: Greenwuch


Report, maio 2012.

MOREL, Philippe et al. Survival of the fittest – Global capital markets. Boston, abr., 2013. Disponível: em:
<http://www.bcg.com.cn/en/files/publications/reports_pdf/BCG_Survival_of_the_Fittest_May_2013_ENG.
pdf.>. Acesso em: 02 jan. 2015.

Jun/2016 Jun/2016 29
artigo técnico

A importância
da Central de
Exposições de
ÁLISSON SÁVIO S. SIQUEIRA
Físico pela Unicamp, mestre em
engenharia espacial pelo Inpe,pós-
graduação em pricing e risco pela USP/IE
Derivativos (CED)
para a Gestão do
BM&FBOVESPA e gerente acadêmico e de
produtos educacionais do
Int. Educ. BM&FBOVESPA

Risco de Crédito
do Mercado
FERNANDO PADIN IGLESIAS
Diretor – Central de Exposição
a Derivativos (CED)
Financeiro
Contexto histórico
Como é de amplo conhecimento, a crise financeira de 2008 teve início no mercado de
crédito imobiliário norte-americano e rapidamente contaminou todo o conjunto de insti-
tuições financeiras, levando à falência grandes bancos. A quebra do Lehman Brothers foi o
evento que deflagrou a crise após recusa do Federal Reserve, banco central americano, em
socorrer a instituição. Esta atitude gerou desconfiança no mercado financeiro, pois desmisti-
ficou o conceito, convencionado pelo mercado, de que a autoridade americana iria socorrer
todas as instituições financeiras afetadas pelas especulações no mercado imobiliário. Este
rompimento produziu um grande temor entre as instituições financeiras, o que resultou em
um aumento significativo da busca por liquidez. Como consequência, houve um forte pro-
cesso de venda de ativos financeiros, levando à queda súbita de seus preços e contração do
crédito bancário, afetando diretamente a economia real (comércio e produção industrial).
Os efeitos foram muito além dos bancos, pois centenas de empresas também so-
freram. No mercado brasileiro, algumas empresas bastante conhecidas possuíam em sua
carteira operações de derivativos extremamente alavancadas e com volume financeiro
consideravelmente alto. Importante ressaltar que a alavancagem em si, desde que sob
uma gestão de riscos eficiente, não é ruim.

30 Jun/2016 Jun/2016
Como as operações dessas empresas estavam em posi- Ainda que o mercado financeiro e de capitais brasilei-
ção vendida em moeda estrangeira, na sua maior parte em ro seja considerado um dos mais bem regulados e regula-
dólar, ao culminar a crise em 2008 a cotação do dólar teve mentados, havia uma preocupação muito forte por parte
uma alta expressiva e a consequência para suas operações das entidades de classe e da iniciativa privada em favor da
foi imediata: fortes perdas impulsionadas pela alavancagem. autorregulação e de ações que pudessem tornar este mer-
Em 2008, apenas para citar um exemplo, a Aracruz tinha cado mais transparente e seguro. Percebeu-se a necessida-
em seu portfólio de operações financeiras um volume consi- de de adotar procedimentos como padronização de con-
derável de posição vendida de derivativos plain vanilla e exó- tratos para derivativos, práticas mais claras na negociação
ticos indexados à variação cambial. No dia 25 de setembro do desses contratos por meio de suitability e centralização de
mesmo ano, a Aracruz divulgou um fato relevante afirmando: informações sobre negociação desses contratos, especial-
“...o volume de perda máxima em derivativos e de exposi- mente no mercado de balcão, no que diz respeito à sua ex-
ção máxima em operações de câmbio futuro decorrente de tais posição ao risco.
operações pode ter excedido os limites previstos na política fi-
nanceira aprovada pelo Conselho de Administração”. A CED
No dia 2 de outubro seguinte, a empresa divulgou novo Nesta linha surgiu a Central de Exposição a Derivativos
fato relevante, desta vez informando que o valor justo dos (CED). Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos resultante
contratos, apurado na data de 30 de setembro de 2008, era da iniciativa conjunta entre a Federação Brasileira de Bancos
negativo em R$ 1,95 bilhão. (FEBRABAN), BM&FBOVESPA e Central de Custódia e
Todos esses efeitos chamaram a atenção do mercado e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip), tendo como pre-
principalmente dos órgãos reguladores quanto ao uso consi- missa a consolidação da exposição às operações de derivativos
derado adequado (ou responsável) dos derivativos. À medi- realizadas no mercado local, seja por pessoa física ou jurídica,
da que a crise tomava proporções, as falhas e negligências do e disponibilizar estas informações às instituições financeiras,
aparato regulatório foram ficando evidentes no mercado nor- obedecendo a critérios rigorosos de confidencialidade e segu-
te-americano e em diversos países de relevância na economia rança da informação.
global. Com isso, acendeu-se o alerta no mercado financeiro Oficialmente lançada em dezembro de 2010, a CED teve
mundial e a preocupação com uma maior regulação e super- suas informações disponibilizadas às instituições financeiras
visão do mercado fez com que surgissem novas leis (a Lei de por meio de seu sistema em julho de 2011. A FEBRABAN é a
Dodd Frank, nos Estados Unidos, é um exemplo clássico), principal associada da CED, nomeando 50% dos conselheiros
além de um papel mais atuante de órgãos reguladores. da entidade. Atualmente possui como participantes as institui-
No mercado brasileiro, a Comissão de Valores Mobi- ções financeiras que respondem por mais de 90% do mercado
liários (CVM) e o Banco Central do Brasil (BCB) são os de derivativos negociados no País.
órgãos centrais que atuam como supervisores e regulado- A CED tem como principal objetivo possibilitar aos seus
res do mercado financeiro e de capitais. Por meio de suas participantes acompanhar melhor a performance de seus clien-
resoluções são impostos regras, processos e controles para tes no uso dos derivativos – proteção, especulação ou arbitra-
instituições financeiras e empresas de capital aberto no que gem – e, consequentemente, realizar uma gestão mais eficiente
diz respeito a operações financeiras envolvendo derivativos. do seu risco. Ao acessar o sistema, os participantes consultam
Um exemplo de ação importante tomada pela CVM um relatório consolidado de seu cliente, constando a posição
diante da crise de 2008 foi a aprovação da Instrução nº que ele possui no mercado de derivativos com informações
475/08. Ela exige das companhias de capital aberto a obri- como: fatores de risco aos quais o cliente está exposto, posição
gatoriedade da apresentação em seu balanço de informa- ativa (comprada) ou passiva (vendida) e valor notional no curto
ções sobre todos os instrumentos financeiros (derivativos e longo prazos. Por se tratar da posição consolidada que o clien-
ou não) por meio de nota explicativa específica divulgando te tem no mercado como um todo (por ora, apenas o mercado
um quadro demonstrativo de análise de sensibilidade. brasileiro), estas informações são importantes para os bancos.

Jun/2016 Jun/2016 31
artigo técnico

Em uma área de crédito, por exemplo, permite verificar que o O relatório da CED
derivativo com posição passiva em moeda estrangeira que seu O relatório consolidado das exposições de derivativos
cliente possui não está em linha com uma posição ativa no mes- gerado pelo sistema da CED é alimentado por informações
mo fator de risco indicado em seu balanço. Com isso, o analista obtidas junto à BM&FBOVESPA e à Cetip. Como toda
de crédito pode questionar o cliente quanto à finalidade daque- operação de derivativos negociada com as instituições fi-
la operação, uma vez que, ao comparar o relatório da CED com nanceiras é devidamente registrada, o relatório contempla
os dados de balanço da empresa, aponta para uma estratégia de todas as operações do mercado de bolsa e de balcão. As in-
especulação utilizando derivativos. formações obedecem ao seguinte fluxo:

Figura 1: Fluxo de troca de informações entre a instituição financeira e a CED

22 4

Instituição 3 Instituição
Cliente financeira financeira
1 (x) 5 (q)

22 4

1 2 3 4 5
O cliente contrata A instituição Uma instituição financeira A CED busca as infor- A CED gera o
o derivativo junto registra a operação (q), ou seja, qualquer, solicita mações na relatório da exposição
a uma instituição na BM&FBOVESPA o relatório à CED de um de- BM&FBOVESPA e consolidada e fornece
financeira (x) ou na Cetip, na terminado cliente, desde que na Cetip à instituição financeira
medida do que previamente autorizada por participante
compete a
esse cliente
cada uma

O sistema contempla informações por CPF/CNPJ por autorização do cliente, antes do envio do relatório. O rela-
meio de consulta única ou em lote, possibilitando ao parti- tório não informa qual a instituição que o cliente realizou a
cipante obter até 500 relatórios em uma única requisição, operação, bem como não informa as características do de-
tudo por meio de webservice. rivativo que o cliente possui, mas exibe a consolidação dos
É importante ressaltar que, para solicitar a consulta ao valores contratados e registrados na BM&FBOVESPA e na
relatório da CED, as instituições financeiras precisam aderir Cetip, por fator de risco, por vértices genéricos de prazo
ao regulamento da CED para se tornarem participantes e que, (curto ou longo) e se a posição é ativa ou passiva.
para solicitar o relatório de um determinado cliente (CNPJ –– Controle de acesso às informações mediante senha, os
ou CPF), é necessária uma autorização formal do mesmo. dados são criptografados e sua base permanece na ori-
Na concepção do sistema da CED houve uma preocu- gem (BM&FBOVESPA e Cetip).
pação intensa com o sigilo e a segurança das informações –– As informações são atualizadas e disponibilizadas dia-
que resultaram em algumas diretrizes: riamente. – Aplicação de penalidades severas em caso
–– Garantir o sigilo absoluto das informações: o sistema de quebra de sigilo.
identifica a instituição financeira solicitante e verifica se há As informações constantes no relatório da CED

32 Jun/2016 Jun/2016
proporcionam às instituições financeiras participantes uma Apresenta também as posições ativa e passiva, ambas
melhor gestão de risco de crédito, uma vez que permite em cenários de alta e de baixa.
identificar a consolidação de posições ativas ou passivas em É importante destacar que o critério assumido para
um determinado fator de risco. Todos esses fatores podem os cenários de alta e baixa tem o objetivo de identificar se
contribuir para a redução da incerteza da capacidade de pa- há alguma opcionalidade embutida na operação e também
gamento, podendo resultar em um menor spread de risco. pode capturar o comportamento de eventual alavancagem
A atualização das informações contidas no relatório é nos diversos fatores de risco.
feita diariamente com base na posição de fechamento do dia Além disso, o relatório é bastante conservador na apre-
anterior (D-1). sentação da exposição. Esta é uma premissa adotada pela
Como a visão do relatório é simplificada, os fatores de CED para resguardar a estratégia do cliente e simplificar a
risco estão divididos em: informação. Veja algumas delas:
–– Para swap, a exposição é o valor notional contratado;
–– Taxa de Juros (pré e outros);
–– Opções com limitador ou barreira são consideradas
–– Variação cambial (dólar e outros); plain vanilla;
–– Índices (Ibovespa e outros); –– Não são considerados os percentuais do indexador.
Exemplo: 90% do Ibovespa = 100% Ibovespa para fins
–– Ações e commodities (em reais e dólares). de exposição.
–– Quanto ao horizonte de prazo, divide-se em: A relação completa das premissas do relatório está pu-
blicamente divulgada em www.centralderivativos.org.br.
–– Até 360 dias corridos;
A seguir, um exemplo do relatório com dados simula-
–– Acima de 360 dias corridos. dos e a análise do mesmo:

Figura 2: Exemplo de retorno de consulta única de relatório da CED para um determinado CNPJ

Relatório consolidado de exposição a derivativos

CNPJ: 111.111.111/0001
Data/Hora da solicitação: Valores em Reais
Identificador:
Notional máximo Notional máximo
Cenário de Baixa Cenário de Alta
Fatores de Risco Prazo Ativo Passivo Ativo Passivo
Taxas de juros pré Até 1 ano 1.000.000 1.000.000
Taxas de

A partir de 1 ano
juros

Taxas de juros outras Até 1 ano


A partir de 1 ano
VC dólares americanos Até 1 ano 1.000.000 1.000.000
Moedas

A partir de 1 ano
VC outras moedas Até 1 ano
A partir de 1 ano
Ibovespa Até 1 ano 50.000
Índices

A partir de 1 ano
Índice outros Até 1 ano
A partir de 1 ano
Commodities negociadas Até 1 ano 1.500.000 1.500.000
em reais
Índices

A partir de 1 ano
Commodities negociadas Até 1 ano
em outras moedas A partir de 1 ano
Os dados contidos neste Relatório, emitidos com base nas operações dos clientes, obedecem às premissas, bem como aos parâmetros definidos nos documentos denominados "Especificação Técnica do
Relatório da CED", que serão disponibilizados nos sites das EPI e da CED. Nesse sentido, as Informações enviadas por meio do Sistema da CED às instituições financeiras refletem as referidas premissas e
parâmetros, não podendo ser consideradas, em hipótese alguma, absolutas. A CED e as EPI não emitem, por meio deste Relatório, qualquer juízo de valor ou posicionamento sobre a situação financeira
dos Clientes, sendo este Relatório mera consolidação de Informações disponíveis nesta data que poderá, a exclusivo critério das Instituições Financeiras, ser utilizado como uma das ferramentas para análise
e interpretação da exposição em derivativos dos Clientes, dentro do contexto das demais informações que as Instituições Financeiras devem obter de seus Clientes para este fim.
Assinatura da mensagem:
705084FFC3CF197387F511B1C46764ADAEDAB4351588CDC52B0BFA852557487DAE0DB78754115D2EF5C1233EC0C1E6452E3873D87FA33C37B148D09CC5FA896535F7F2F0846CD2163A2CBE86AE4EB11794CFA590F327A5
D2DB90963D8A6F304BB4F2E3B71635A9E062E209A96DCE4C573F7574EBF3E093B41B43EA84AAC0A06F79603D42950953AB39A98A2D576C7A8726C27F93955DEF1751DC790BB2D7414BEC28E26B3A5A1635E938070E37ED
3B0C3F1D62F72519ECEC826814206E3AEBEE7BB8DF2A9C403FF282D5DD70CD93243FA8041E25B3E577E16528C98413E4C62A96F66D00CA2AEA39389B4C6F5A87F06AD9B8F727A5EB376AA006C332EC8A6F84

Jun/2016 Jun/2016 33
artigo técnico

No relatório acima, pode-se observar que o cliente do adequada de sua exposição, propondo, por exemplo, uma
banco X está passivo em R$ 1 milhão em dólares, ativo na recompra (liquidação antecipada) ou negociando contra-
mesma proporção em taxa pré-fixada e também uma ex- tos na posição inversa.
posição de R$ 1,5 milhão em commodities em reais. Em Desde a liberação do acesso ao sistema, em julho de
seguida, juntamente com as informações de balanço do 2011, a quantidade de autorizações concedidas para acesso
cliente, o analista poderá concluir se a operação realizada vem crescendo consideravelmente. Importante relembrar que
em dólares e a operação com commodities são para fins de são as autorizações por parte do cliente que permitem que as
hedge ou especulação. instituições financeiras participantes acessem o relatório.
Observe que os fatores de risco do exemplo apresen- O total de autorizações em fevereiro de 2016 está dis-
tam valores tanto no cenário de alta quanto no de baixa, in- tribuído em 14 instituições participantes. Estas atualmente
dicando uma linearidade no risco. Caso um fator de risco cobrem mais de 90% do mercado local de derivativos.
apresente valores concentrados apenas no cenário de alta ou As instituições realizam suas consultas de modo singular
apenas no cenário de baixa, pode-se identificar a presença ou em lote. A seguir é apresentada a evolução destas consultas.
de opcionalidade, ou seja, a empresa está posicionada em A consulta por lote vem sendo largamente utilizada
opções. Isso pode ser notado na Figura 2, o que indica que pelos participantes e seu crescimento foi expressivo des-
a empresa está ativa em Ibovespa apenas no cenário de alta. de que a funcionalidade foi disponibilizada em novembro
Nesta situação, o relatório da CED auxilia a insti- de 2012. Por ser uma consulta automatizada, facilita o ar-
tuição financeira, que é a contraparte nas operações, na quivamento, tratamento e análise dos dados, agilizando o
identificação também de alavancagem e na administração trabalho de business intelligence.

Figura 3: Número de autorizações concedidas

Autorizações
5.000 4582
4210
4.500
3661
4.000
3.500 2912
3.000
2.500
2.000 1611

1.500
1.000 483
500
0
dez/11 dez/12 dez/13 dez/14 dez/15 fev/16

Fonte: www.centralderivativos.org.br

34 Jun/2016 Jun/2016
Figura 4: Quantidade de consultas singulares

Consultas singulares
6558
7000
5793
6000

5000
4026
4000

3000
2239
2000
848
1000
125
0
dez/11 dez/12 dez/13 dez/14 dez/15 fev/16

Fonte: www.centralderivativos.org.br

Figura 5: Quantidade de consultas por lote

Consultas por lote


927.251
1.000.000
868.705
900.000
800.000
700.000
600.000
500.000 443.511
400.000
300.000
180.798
200.000
100.000 3.267
-
dez/12 dez/13 dez/14 dez/15 fev/16

Fonte: www.centralderivativos.org.br

Evolução do relatório O mercado tem contribuído neste sentido, por


A proposta atual da CED vem cumprindo bem o seu meio de sua experiência de uso. A contribuição para
papel. Seu relatório é simples, as informações são consolida- sua evolução tem sido bastante significativa, prin-
das e de fácil acesso. Possui um rigoroso controle de prote- cipalmente com sugestões envolvendo informações
ção aos dados e sigilo da informação. Como todo e qualquer mais técnicas sobre as operações. Algumas das pro-
serviço, sua evolução é um processo natural e esperado. postas são:

Jun/2016 Jun/2016 35
artigo técnico

–– Maior granularidade dos fatores de riscos: atualmente os Conclusão


fatores estão agrupados. Poder detalhar mais o agrupamen- As crises, em geral, nos evidenciam falhas que, quando ma-
to “outros” pode trazer ganhos importantes para o relatório. duramente compreendidas, resultam em lições. A crise de
–– Expansão dos vértices de prazos: no presente relatório 2008 evidenciou a ineficiência dos reguladores de prever
os prazos estão divididos apenas em dois (até ou acima as consequências que as posições de alto risco tomadas pe-
de 360 dias corridos). Ter opção de intervalos menores las instituições financeiras podem trazer para a economia
e um maior número de prazos pode contribuir para a de um país. Leis, regulamentos e normas são instrumentos
análise. fundamentais para prevenir e proteger seus agentes. Fer-
–– Flexibilização das premissas, principalmente no caso ramentas que possam proporcionar uma maior segurança
de opções (atualmente opções exóticas são tratadas na análise e gestão de riscos contribuem fortemente nesta
como plain vanilla), pode refletir de forma mais jus- direção.
ta o que está sendo negociado neste mercado. A CED surgiu com este propósito. Mesmo sendo
–– Inclusão do cenário de estresse para cada fator de risco, muito bem normatizado e regulamentado, o mercado bra-
considerando os prazos: esta informação pode con- sileiro também está sujeito aos efeitos de movimentos na
tribuir significativamente para identificar a ordem de economia mundial. As informações que a CED provê ao
grandeza do potencial de perda em situações de crise. mercado contribuem para melhorar a eficiência na mitiga-
–– Cálculo do delta (variação do preço do derivati- ção de riscos. Sua preocupação com o sigilo e segurança
vo ao variar o preço de seu ativo): a informação dos dados, a clareza nas premissas de suas regras e o fácil
pode ser muito importante para aqueles derivati- acesso aos relatórios fazem dela uma importante entidade
vos mais básicos. No caso de derivativos como op- no auxílio à eficiência do mercado financeiro, na linha do
ções plain vanilla ou exóticas (principalmente as que tange o seu papel.
opções path dependent1), esta informação só seria São seus grandes desafios para este ano: adesão de
relevante quando em conjunto com as demais va- novas instituições que demonstrem expansão em seus ne-
riáveis de sensibilidade (conhecidas como gregas). gócios com derivativos, prosseguir aumentando o número
de autorizações e disseminação, cada vez maior, do uso do
Há também a sugestão de consulta do grupo econômico relatório por todas as áreas correlatas ao assunto. O amadu-
ao qual uma empresa pertence, apresentando a exposição de recimento de seus relatórios na direção do que o mercado
todos os CNPJs do grupo, inclusive das empresas com filiais propõe pode contribuir bastante para superação de seus
no exterior. desafios.

Bibliografia
Especificação técnica do relatório da CED, BM&FBOVESPA. http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/mercados/down-
load/BMFBOVESPA-Relatorio-Tecnico-Especificacao-CED.pdf

Especificação técnica do relatório da CED, Cetip. https://www.cetip.com.br/informacao_tecnica/Documentacao_


tecnica/docs/CED.pdf

Premissas gerais da CED. http://www.centralderivativos.org.br/institucional/Docs/CED%20-%20Anexo%204%20


Premissas_21_02_2011.pdf

1
Opções path dependet são aquelas cujo pay off não é dado por uma função sobre o valor final, ou seja, depende da trajetória de preço do seu ativo-objeto.

36 Jun/2016 Jun/2016
artigo técnico

O Papel dos
Formadores
de Mercado no
Desenvolvimento FELIPE ALMEIDA
GONÇALVES
Gerente de desenvolvimento de mercados

dos Derivativos
e clientes, BM&FBOVESPA

de Commodities
no Brasil
Introdução LUÍS ALBERTO CAMPOS
SCHMIDT
Formador de mercado é um agente do mercado financeiro, cuja principal função é Analista de desenvolvimento de mercados
e clientes, BM&FBOVESPA
prover liquidez e referência de preço aos participantes do mercado, sobretudo nos produ-
tos novos ou com baixo volume negociado. Para isso, deve manter cotações de compra e
de venda em tela de maneira contínua, em condições predefinidas e publicamente divul-
gadas. Em contrapartida, pode receber benefícios como redução de custos para operar,
maior capacidade tecnológica de negociação, pagamento financeiro, entre outros.
De acordo com a Instrução 384 da Comissão de Valores Mobiliários (ICVM 384,
2015), no Brasil, a atividade de formador de mercado pode ser exercida apenas por pes-
soas jurídicas devidamente cadastradas junto às bolsas de valores e às entidades de mer-
cado de balcão organizado. Em geral, em outros lugares do mundo, esta atividade pode
também ser exercida por pessoas físicas.
No mercado de derivativos brasileiros, o formador de mercado começou em 2011
com os programas de Opções sobre Ações e Índices e vem aos poucos sendo estendido para
outros produtos. No mercado de commodities, o programa iniciou-se em 2013 com o Futuro
de WTI (cross-listed CME), mas teve pouca adesão de usuários finais do mercado, fazendo
com que os formadores de mercado abandonassem o programa. Em 2015, o programa de
Formador de Mercado para o Futuro de WTI foi reativado, juntamente com o Futuro de
Soja Chicago (cross-listed CME), mas desta vez o resultado foi diferente: em menos de seis
meses esses produtos já passaram a negociar em um patamar bem mais elevado.

Jun/2016 Jun/2016 37
artigo técnico

O principal objetivo deste trabalho é mostrar os benefícios que os formadores de mercado


podem trazer para o mercado de derivativos de commodities e a importância da presença de ins-
tituições com este perfil para o sucesso e continuidade dos produtos. Para isto, serão avaliados
resultados já obtidos tanto no Brasil como nos Estados Unidos e na Europa, analisando como a
negociação e o preço dos contratos foram afetados.

Referencial teórico
Segundo a Teoria da Microestrutura de Mercado, a formação de preço dos ativos não é dada
somente pelas condições das curvas de oferta e demanda, mas também por mecanismos especí-
ficos de negociação (O’HARA, 1995). Neste contexto, os formadores de mercado agem como
mecanismos concentradores das negociações, gerando mais transparência e dinamismo para o
mercado, pois respondem de maneira contínua às variações no apetite dos diversos participantes
do mercado de negociar a diferentes preços ao longo do tempo.
Para uma melhor compreensão da significância dos parâmetros para a análise da influência
dos formadores de mercado, propõe-se uma conceituação de algumas variáveis. Primeiramente,
há dois parâmetros básicos: a média diária da quantidade de contratos negociada (ADTV) e a
posição em aberto. A média diária da quantidade de contratos negociada representa um valor im-
portante para análise de liquidez, pois é um dos indicadores de facilidade (ou dificuldade) de en-
trada e saída de posições nos derivativos. A segunda variável mencionada é a posição em aberto, ou
seja, a quantidade de contratos de derivativos que não foram desfeitos e continuam nas carteiras
dos investidores (em estoque), que é significativa indicação do grau de maturidade do produto,
já que níveis elevados pressupõem presença de diversos tipos de player, como hedgers, especula-
dores e arbitradores. As próximas variáveis explicadas são as utilizadas nas avaliações de custo de
negociação, preço e risco. Esses parâmetros são o spread em tela, a volatilidade de fechamento e a
volatilidade intradiária. O spread em tela representa a diferença entre a melhor cotação de venda e
a melhor cotação de compra de determinado derivativo para um determinado vencimento. Neste
sentido, quanto mais próximos estes valores, ou seja, menor o spread, melhor a indicação de que
os agentes do mercado consideram o preço justo, menor o custo de negociação e maior a possibi-
lidade de realização de negócios. A volatilidade de fechamento indica o quanto os preços de um
produto podem variar de um dia para o outro. E a volatilidade intradiária revela o quanto os preços
de um produto podem variar ao longo de um dia.

Volatilidade de fechamento
Volatilidades são variáveis de extrema valia na análise de ativos e derivativos e suas diversas
formas podem indicar desde uma simples métrica para observação de preços quanto impactar na
precificação de opções.
A volatilidade de preço de fechamento é uma maneira bastante corriqueira de avaliação de vola-
tilidade, mas não por isso de menor importância. No ambiente de negociação de ações, por exemplo,
a volatilidade é a “medida da incerteza sobre os retornos esperados pela ação” (HULL, 2005, p. 295).
Similarmente, considerando o mercado de derivativos, pode-se dizer que a volatilidade “é uma medi-
da de dispersão dos retornos dos preços do ativo objeto e está associada à incerteza desses retornos
no futuro” (MICELI, 2008 p. 135). Na prática, ainda de acordo com Miceli, a volatilidade de um
determinado ativo é obtida pelo cálculo do desvio-padrão do logaritmo das suas taxas de retorno.

38 Jun/2016 Jun/2016
Hull (2005) também discorre a respeito do período que deve ser considerado para o
cálculo da volatilidade, cuja escolha do valor apropriado não é trivial. Segundo ele, “mais dados
produzem melhores resultados, mas a volatilidade se modifica ao longo do tempo e dados muito
antigos podem não ser relevantes” (p. 296). Como aproximação dos dias úteis de um mês, Miceli
(2008) utiliza o intervalo de tempo de 22 dias para o cálculo.
A obtenção das volatilidades dos preços de fechamento se dá pelas fórmulas abaixo, con-
forme proposto por Hull (2005) e Miceli (2008):

P
rt = ln Pt -t1    (1)

onde:
t = intervalo de tempo
rt = retorno de preço no fim do intervalo t
Pt = preço do ativo no fim do intervalo t
Pt-1 = preço do ativo no fim do intervalo imediatamente anterior a t
e

Qt V
1 . r - r 2 . 252   
n-1 /
v=
t= 1 (2)

onde:
σ= volatilidade histórica anualizada
n = número de preços coletados de uma série histórica diária
r = média aritmética dos retornos de preço

Volatilidade intradiária
A volatilidade intradiária é variável semelhante à de fechamento, contudo seu objetivo é
mensurar a amplitude da variação dos preços durante um dia de pregão. O uso desse parâmetro é
importante, pois permite anular algumas tendências de superestimação ou subestimação da vola-
tilidade causadas, por exemplo, por saltos nos preços de aberturas de ativos (YANG e ZHANG,
2000). Para evitar tais distorções, Yang e Zhang (2000) desenvolveram um novo modelo baseado
em múltiplos períodos de quatro preços dos ativos ou derivativos, a saber: preço de abertura, preço
máximo, preço mínimo e preço de fechamento.
O desenvolvimento da volatilidade diária neste artigo segue a mesma notação de Yang e
Zhang (2000), onde:
V = variância
C0 = preço de fechamento do período anterior
O1 = preço de abertura do período corrente
H1 = preço máximo durante o intervalo corrente de negociação
L1= preço mínimo durante o intervalo corrente de negociação
C1 = preço de fechamento do intervalo corrente de negociação

Jun/2016 Jun/2016 39
artigo técnico

o = lnO1 - lnC0, preço de abertura normalizado


u = lnH1 - lnO1, preço máximo normalizado
d = lnL1 - lnO1, preço mínimo normalizado
c = lnC1 - lnO1, preço de fechamento normalizado
k = constante, minimiza a variância do estimador V
i = intervalo de tempo
n = número de intervalos de tempo da amostra

A fórmula apresentada a seguir é o estimador da volatilidade intradiária e é composta por três


diferentes estimadores e a constante k:

V = VO + kVC + Q1 - kVVRS (3)


onde VO, VC, VRS e a constante k são definidas como a seguir:


n

VO = - / Qoi - orV2  

1 (4)
n 1 i=1
n

VC = - / Qci - crV2 
1
(5)
n 1 i=1
n

VRS = n / !ui Qui - ciV + di Qdi - ciV$   



1 (6)
i=1

0, 34
k=  (7)
n+1
1, 34 + -
n  1

Metodologia
A fim de analisar a efetividade da contratação de formadores de mercado para o incremento
da liquidez e melhoria da formação de preço nos derivativos de commodities, este trabalho faz uso
de uma série de importantes dados de mercado. Para captar a influência do agente em questão – o
formador de mercado – foi realizada uma análise do comportamento dos produtos antes da en-
trada de formadores de mercado, durante a presença dessas instituições e, em alguns casos, após
a saída delas dos programas. A amostra de dados para a análise de desempenho antes e depois do
advento do formador de mercado foi colhida de acordo com a disponibilidade de informações de
cada produto e teve como padrão (na maioria dos casos analisados) o período de seis meses.
Para a avaliação do mercado de futuros, foram utilizados cinco parâmetros observáveis, quais
sejam: média diária da quantidade de contratos negociada, posição em aberto, spread em tela, vola-
tilidade de fechamento e volatilidade intradiária. No caso do mercado de opções, que possui algumas
diferenças práticas importantes em relação aos futuros, foram analisados os seguintes quatro parâ-
metros: média diária da quantidade de contratos negociada, posição em aberto, razão prêmio médio

40 Jun/2016 Jun/2016
negociado (considerando todas as séries e vencimentos disponíveis para negociação) por valor
do ativo subjacente da opção e volatilidade da razão prêmio médio negociado por valor do ativo
subjacente da opção. Os dois últimos parâmetros foram calculados para obtenção de uma proxy
do nível de preços das opções. Essa inferência foi escolhida devido às características das opções,
que possuem diversas séries com diferentes preços de exercício. Com isso, buscou-se entender de
forma simplificada os efeitos causados nos preços negociados das opções.
O levantamento dos dados foi feito por meio de consulta de séries históricas no terminal
Bloomberg e no site da BM&FBOVESPA.

Resultados e discussão
Primeiro Programa de Formador de Mercado do Futuro de WTI na
BM&FBOVESPA
O programa teve início em 21 de junho de 2013, mesmo dia em que o produto foi lançado na
BM&FBOVESPA. Pelos resultados observados na Figura 1, nota-se que o contrato teve negocia-
ção desde o seu lançamento. Por outro lado, em aproximadamente um mês após a saída do forma-
dor de mercado, a negociação do produto cessou, indicando que o produto não estava maduro o
suficiente para ter liquidez própria sem a presença de formadores de mercado.

Figura 1 – Média diária da quantidade de contratos negociada do Futuro de WTI durante o


primeiro programa de formador de mercado na BM&FBOVESPA
47

38
30 31
27 26 28
25 24
23 24

9 11
2

jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14


Fonte: elaboração própria a partir de dados do site da BM&FBOVESPA

Na Figura 2, percebe-se pouca influência dos formadores de mercado no preço e na volatilida-


de de fechamento do produto, já que não aconteceu mudança drástica nos valores logo após o fim
do programa. Este resultado já era esperado, já que o produto é uma listagem cruzada com o CME
Group, ou seja, contratos praticamente iguais negociados nas duas bolsas, sendo que a formação
do preço acontece na bolsa norte americana.
Na análise da volatilidade intradiária presente na Figura 3, fica evidente um salto no nível do
parâmetro logo após o término do programa, o que significa que as poucas negociações que ocor-
reram neste último período foram executadas em valores bastante diferentes ao longo do dia, que
é uma indicação de spreads largos e preços variados ao longo da sessão de negociação.

Jun/2016 Jun/2016 41
artigo técnico

Figura 2 – Preço e volatilidade de fechamento do primeiro vencimento do Futuro de WTI


durante o primeiro programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
120,00 60,00%
100,00 50,00%
80,00 40,00%
60,00 30,00%
40,00 20,00%
20,00 10,00%
0,00 0,00%
jun-13 set-13 dez-13 mar-14 jun-14 set-14 dez-14

Preço de fechamento Volatilidade de fechamento


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Figura 3 – Volatilidade intradiária do primeiro vencimento do Futuro de WTI durante o


primeiro programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
jun-13 ago-13 out-13 nov-13 jan-14 mar-14 abr-14 jun-14 jul-14 set-14
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Segundo programa de Formador de Mercado do Futuro de WTI na


BM&FBOVESPA
Após o término do primeiro programa devido à pouca adesão de usuários finais do mercado,
a BM&FBOVESPA lançou um segundo programa no dia 6 de julho de 2015. A Figura 4 mostra o
crescimento de 1.183% no volume negociado ao se compararem os períodos de seis meses antes e
seis meses depois da entrada do formador de mercado.
Além do maior volume observado nas negociações diárias, também se observou importante
incremento das posições em aberto, conforme mostrado na Figura 5.
Outra variável observada e que apresentou desenvolvimento positivo foi o spread. Conforme a
Figura 6, os spreads apresentaram estreitamento, chegando a aproximadamente US$ 0,20 por barril.

42 Jun/2016 Jun/2016
Figura 4 – Média diária da quantidade de contratos negociada do Futuro de WTI no
segundo programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
83 85
73 1.183%
61,06
62
52
44

21
19

6
2 1 1 0 4,76

jan/15 mar/15 mai/15 jul/15 set/15 nov/15 jan/16 Antes FM Depois FM


Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Figura 5 – Média dos contratos em aberto do Futuro de WTI no segundo programa de


Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
1.667%
250,29

14,17

Antes FM Depois FM
Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Figura 6 – Spread do primeiro vencimento do Futuro de WTI no segundo programa de


Formador de Mercado na BM&FBOVESPA (US$/barril)
0,50

0,40

0,30

0,20

0,10

-
jun-15 jul-15 ago-15 set-15 out-15 nov-15 dez-15 jan-16
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Jun/2016 Jun/2016 43
artigo técnico

Interessante notar que, para este programa, o formador de mercado tem a obrigação de atuar
com o spread máximo de 0,8% (aproximadamente US$0,30/barril), sendo que o valor observado na
prática está mais estreito. Esta característica é bastante benéfica para o desenvolvimento do produto.
Na Figura 7, assim como já observado no primeiro programa de Formador de Mercado do
Futuro de WTI, nota-se pouca influência dos formadores de mercado no preço e na volatilidade de
fechamento do produto, já que o produto é uma listagem cruzada com o CME Group.
Assim como observado na primeira edição do programa, a volatilidade intradiária, presente
na Figura 8, sofre uma evidente influência positiva no nível do parâmetro quando os Formadores
de Mercado estão presentes. Anteriormente, notou-se que, com o término do programa, a volati-
lidade aumentou. Desta vez, com o restabelecimento da atividade, o valor do parâmetro caiu de
maneira contínua e se restabeleceu num patamar bem mais baixo do que no início do programa.

Figura 7 – Preço (US$/barril) e volatilidade de fechamento do primeiro vencimento do


Futuro de WTI no segundo programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
70,00 0,8

60,00 0,7
0,6
50,00
0,5
40,00
0,4
30,00
0,3
20,00 0,2
10,00 0,1

0,00 0
jan-15 mar-15 mai-15 jul-15 set-15 nov-15 jan-16

Preço de fechamento Volatilidade de fechamento


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Figura 8 – Volatilidade intradiária do primeiro vencimento do Futuro de WTI no segundo


programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2

0
nov-14 dez-14 fev-15 abr-15 mai-15 jul-15 set-15 out-15 dez-15 jan-16
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

44 Jun/2016 Jun/2016
Programa de Formador de Mercado do Futuro de Soja Chicago
na BM&FBOVESPA
Iniciado em 6 de julho de 2015, o produto também teve aumento de volume negociado com
a entrada do formador de mercado. Este fato está indicado na Figura 9, que mostra os períodos seis
meses antes e seis meses depois do começo da atuação.
Vale ressaltar que este produto já possuía uma certa liquidez mesmo sem formadores de mercado.
A Figura 10 mostra que, no mesmo período, o efeito na posição em aberto do produto tam-
bém foi positivo, com um aumento de 38%.
A análise do spread, evidenciada na Figura 11 também mostra um estreitamento contínuo do
parâmetro ao longo do período. Neste caso, o formador de mercado tem a obrigação de manter o
spread no valor máximo de US$ 0,20 por saca, mas a Figura 11 indica que este parâmetro foi redu-
zido até aproximadamente US$ 0,04 por saca.

Figura 9 – Média diária da quantidade de contratos negociada do Futuro de Soja Chicago


no programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA

249
232 239 19%
225 194,10
198 202 200
181
150
134 138

95 163,40
77

jan/15 mar/15 mai/15 jul/15 set/15 nov/15 jan/16 Antes FM Depois FM


Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Figura 10 – Média dos contratos em aberto do Futuro de Soja Chicago no programa de


Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
38%

1.984,86

1.437,33

Antes FM Depois FM
Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Jun/2016 Jun/2016 45
artigo técnico

Figura 11 – Spread do primeiro vencimento do Futuro de Soja Chicago no programa de


Formador de Mercado na BM&FBOVESPA (US$/saca)
0,15

0,10

0,05

-
abr-15 mai-15 jun-15 jul-15 ago-15 set-15 out-15 nov-15 dez-15 jan-16
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Aqui, novamente aparece um efeito bastante positivo. Apesar de a obrigação do formador de


mercado com o spread ser um valor máximo de US$0,20/saca, o parâmetro observado significati-
vamente se mostra mais estreito.
Nas Figuras 12 e 13, os resultados capturados são bem parecidos com aqueles do Futuro de
WTI, já que o Futuro de Soja Chicago também é uma listagem cruzada com o CME Group. Não
é possível evidenciar impacto do formador de mercado no preço e na volatilidade de fechamento,
enquanto a volatilidade intradiária é afetada de maneira mais clara, sofrendo queda contínua após
o início do programa.

Figura 12 – Preço (US$/saca) e volatilidade de fechamento do primeiro vencimento do


Futuro de Soja Chicago no programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
25,00 0,4
0,35
20,00
0,3

15,00 0,25
0,2
10,00 0,15
0,1
5,00
0,05
0,00 0
jan-15 mar-15 mai-15 jul-15 set-15 nov-15 jan-16

Preço de fechamento Volatilidade de fechamento


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

46 Jun/2016 Jun/2016
Figura 13 – Volatilidade intradiária do primeiro vencimento do Futuro de Soja Chicago no
programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
dez-14 fev-15 abr-15 mai-15 jul-15 set-15 out-15 dez-15 jan-16
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Programa de Formador de Mercado das Opções da Ação do Itaú


Unibanco S.A. (ITUB4)
Utilizou-se este produto que não é do mercado de commodities, já que o programa de Formador de
Mercado para Opções de Commodities na BM&FBOVESPA está previsto para começar em meados de 2016.
Iniciado em 12 de dezembro de 2011, juntamente com outras Opções de Ações, foi o primei-
ro programa da BM&FBOVESPA para derivativos. Os efeitos gerados foram tão positivos para
o mercado que a BM&FBOVESPA vem expandindo a quantidade de programas continuamente
desde então. Na Figura 14, pode-se ver o aumento da negociação, considerando os períodos de seis
meses antes e seis meses após a presença dos formadores de mercado.

Figura 14 – Média diária da quantidade de contratos negociada das Opções de ITUB4 no


programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA (milhões)

7,1 160%
4,7

5,3
4,8 4,7 4,5

3,6
3,4
2,9 1,8
2,6

1,8

0,9 0,9
0,5

mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 jan/12 mar/12 Antes FM Depois FM


Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Jun/2016 Jun/2016 47
artigo técnico

No mesmo período, o impacto na posição em aberto do produto também foi bastante forte,
com aumento de 61%, conforme evidenciado na Figura 15.
Na Figura 16, buscou-se analisar de forma indireta o spread e a volatilidade do preço das op-
ções. Para isto, usaram-se o valor e a volatilidade da razão do prêmio médio de todas as séries de
opções abertas pelo preço do ativo subjacente. A queda no valor da razão, apesar de não tão eviden-
te, indica spreads menores após a entrada dos formadores de mercado. Já a queda na volatilidade da
razão sugere maior igualdade nos preços praticados pelos diversos players do mercado. Este último
fato é importante evidência de aumento de transparência na negociação do produto.

Figura 15 – Média dos contratos em aberto das Opções de ITUB4 no programa de


Formador de Mercado na BM&FBOVESPA (milhões)
61%
60,8

37,8

Antes FM Depois FM
Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Figura 16 – Razão prêmio médio negociado por valor do ativo subjacente das Opções de
ITUB4 no programa de Formador de Mercado na BM&FBOVESPA
40,00% 3000,00%
35,00%
2500,00%
30,00%
2000,00%
25,00%
20,00% 1500,00%
15,00%
1000,00%
10,00%
500,00%
5,00%
0,00% 0,00%
fev-11 abr-11 jun-11 ago-11 out-11 dez-11 fev-12 abr-12

Razão Volatilidade
Fonte: elaboração própria a partir de dados da BM&FBOVESPA

Programas de Formador de Mercado de derivativos de commodities nos


Estados Unidos e na Europa
A prática das bolsas americanas e europeias é lançar os produtos já com a presença de forma-
dores de mercado. Este fato, apesar de bastante positivo para o mercado, dificulta a análise do efeito
que essas instituições causam ao iniciarem a operar em determinado produto.

48 Jun/2016 Jun/2016
Nas Figuras 17 a 20, é analisado o programa de Formador de Mercado de Futuro de Cacau na
CME Europa, que teve início juntamente com o lançamento do produto em abril de 2015. Nota-se
que desde o primeiro mês já teve negociação no contrato, o spread se manteve bastante estável e as
volatilidades intradiária e de fechamento não apresentam comportamentos claros.

Figura 17 – Média diária da quantidade de contratos negociada do Futuro de Cacau no


programa de Formador de Mercado na CME Europa
56

36
32

23

10 9

abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 set/15


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Figura 18 – Spread do primeiro vencimento do Futuro de Cacau no programa de


Formador de Mercado na CME Europa (€/mt)
300

250

200

150

100

50

abr-15 mai-15 jun-15 jul-15 ago-15 set-15


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Jun/2016 Jun/2016 49
artigo técnico

Figura 19 – Preço (€/mt) e volatilidade de fechamento do primeiro vencimento do Futuro


de Cacau no programa de Formador de Mercado na CME Europa
3.200,00 25%

3.000,00 20%

2.800,00 15%

2.600,00 10%

2.400,00 5%

2.200,00 0%
mar-15 abr-15 mai-15 jun-15 jul-15 ago-15 set-15

Preço de fechamento Volatilidade de fechamento


Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Figura 20 – Volatilidade intradiária do primeiro vencimento do Futuro de Cacau no


programa de Formador de Mercado na CME Europa
25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
abr-15 mai-15 jun-15 jul-15 ago-15 ago-15 set-15
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

O programa de Formador de Mercado do Futuro de Etanol da CME Estados Unidos teve seu
início em 2005, também na mesma data em que o produto foi lançado. Na Figura 21, observa-se
a negociação deste contrato, que, apesar de levar um pouco mais de tempo, passou a acontecer e
aumentar de maneira contínua.

50 Jun/2016 Jun/2016
Figura 21 – Média diária da quantidade de contratos negociada do Futuro de Etanol no
programa de Formador de Mercado na CME Estados Unidos
225 230
219

175
160

102

45
23
10

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: elaboração própria a partir de dados da Bloomberg

Conclusões
As evidências capturadas no presente trabalho mostraram que a presença de formadores de merca-
do nos derivativos de commodities causou diversos benefícios, entre eles: aumento do volume negociado,
estreitamento de spread, aumento da posição em aberto e aparente diminuição da volatilidade intradi-
ária. Além disso, não se observaram efeitos significativos na volatilidade de fechamento dos produtos.
Os derivativos de commodities brasileiros possuem um potencial elevado a ser desenvolvido. Este fato
é evidenciado pela considerável produção e exportação de commodities do país. Entre outros fatores, a bai-
xa liquidez dos contratos é uma das razões para o cenário atual de pouca utilização dos derivativos. Com a
sofisticação dos participantes do mercado de commodities, o aumento da liquidez de maneira natural pode
acontecer, mas não é algo a ser dado como certo, principalmente com os mercados globais de bolsa cada
vez mais integrados e acessíveis. Os formadores de mercado podem gerar a liquidez inicial e transparência
necessárias para atrair alguns players do mercado. De maneira sucessiva, novos investidores atraem outros
investidores, até que o potencial máximo de liquidez e transparência dos produtos seja atingido.

Bibliografia
BM&FBOVESPA. Disponível em <http://www.bmfbovespa.com.br>. Acesso em: 22 set. 2015
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM. Instrução nº 384, de 17 de março de 2003. Disponível em < http://www.cvm.
gov.br>. Acesso em: 22 set. 2015
CME GROUP. Disponível em < http://www.cmegroup.com>. Acesso em: 22 set. 2015
U.S. COMMODITY FUTURES TRADING COMISSION. Disponível em: <http://www.cftc.gov>. Acesso em: 22 set.2015
HULL, John. Fundamentos dos mercados futuros e de opções. 4ª edição. São Paulo. Bolsa de Mercadorias & Futuros, 2005.
MICELI, Wilson Motta. Derivativos de agronegócio: gestão de riscos de mercado. São Paulo. Saint Paul Editora, 2008.
O’HARA, M. Market Microstructure Theory. Malden/MA: ATLIS Publishing Services, 1995.
U.S. SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION- SEC. Disponível em: http://www.sec.gov>. Acesso em: 22 set. 2015.

Jun/2016 Jun/2016 51
artigo técnico

Novo Serviço para o


Registro de Ônus e
ANDRE GRUNSPUN PITTA
Superintendente Jurídico de Regulação da
BM&FBOVESPA e mestre e doutorando em Gravames sobre Ativos:
Quebrando Barreiras
Direito Comercial pela USP

para Desburocratizar e
Ampliar as Operações
BRUNO BATISTA DA COSTA
DE OLIVEIRA dos Mercados
de Financeiros e
Advogado Especialista da
Superintendência de Contencioso da
BM&FBOVESPA, mestre e doutor pela
Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo e professor universitário

de Capitais
Introdução
É inegável que o desenvolvimento de uma economia de mercado próspera está inti-
mamente associado a sua capacidade de viabilizar, de maneira eficiente, a mobilização e
EMILIO MEANTE circulação de capital, que ocorre por meio dos instrumentos e das instituições que com-
DOS SANTO põem os mercados financeiros e de capitais. Para tanto, é fundamental, dentre outros fa-
Superintendente de Custódia na BM&FBOVESPA,
graduado em Ciências Econômicas pela Unesp e tores, a existência de condições favoráveis à concessão de crédito pelas instituições que se
MBA em Mercados de Capitais e Derivativos pelo
IE BM&FBOVESPA
prestam ao exercício das atividades de intermediação financeira em uma dada economia,
as quais dependem, em grande medida, do ambiente institucional e legal em que essas
operações são realizadas.
No contexto brasileiro, inclusive, Persio Arida, Edmar Lisboa Bacha e André Lara
Resende, em importante trabalho denominado Credit, Interest, and Jurisdictional Uncer-
tainty: Conjectures on the Case of Brazil, correlacionam a ausência de crédito de longo
prazo à chamada “incerteza jurisdicional”, entendida como o risco de haver alterações
substancias no valor dos contratos antes ou no momento de sua execução por fatores
exógenos à vontade das partes, ou o risco de uma interpretação judicial desfavorável 1.
MARCELO WILK
Diretor da Central Depositária de Ativos e de
Registro de Operações do Mercado de Balcão da
BM&FBOVESPA. Bacharel em Ciências Econômicas
1
Cf. ARIDA, Persio; BACHA, Edmar Lisboa; RESENDE, André Lara. Credit, Interest, and Jurisdictional Uncertainty: Conjectures on
na Unicamp e pós-graduação em Derivativos e the Case of Brazil, Instituto de Estudos de Política Econômica, Casa das Garças, 2004. Disponível em http://iepecdg.com.br/
Gestão de Risco na USP e BM&FBOVESPA. wp-content/uploads/2016/03/TPD2IEPE.pdf.

52 Jun/2016 Jun/2016
Evidente, também, que os custos das operações de onerado ou gravado com uma marca ou sinal que servirá para
crédito estão diretamente associados aos riscos assumidos advertir a todos da circunstância de que aquele bem está
pelas instituições credoras ao concederem determinado fi- vinculado ao cumprimento de uma obrigação específica, o
nanciamento, que evidentemente o fazem na expectativa do que tradicionalmente é feito por meio do registro de instru-
retorno do principal, acrescido da sua remuneração, defini- mentos contratuais perante determinadas entidades legal-
da inclusive em função da variância desse risco. Sabe-se que mente autorizadas a fazê-lo3.
não se trata, aqui, apenas do risco de crédito da contraparte Neste contexto, e de modo a conferir maior eficiência
da operação, mas também do risco legal associado à execu- e segurança jurídica, o ordenamento jurídico brasileiro tem
ção das obrigações previstas contratualmente. passado, nos últimos anos, por uma profunda modificação
E se, por um lado, o risco de crédito pode ser mitigado a em relação à forma de constituição desses ônus ou gravames,
partir da prestação de determinadas garantias pelo devedor, especialmente quando eles recaem sobre ativos financeiros
é essencial que haja, sob uma perspectiva legal, um regime e valores mobiliários objetos de depósito centralizado.
eficiente e juridicamente seguro de constituição e execução Com efeito, a partir da introdução do artigo 63-A na
dessas garantias. Trata-se, inclusive, de um dos elementos Lei nº 10.931/04, realizada pela Lei nº 12.543/11, a consti-
que compõem a análise realizada pelo World Bank sobre a tuição dessas garantias, nessa hipótese, passou a ser realiza-
favorabilidade do ambiente legal e regulatório à realização da exclusivamente perante os depositários centrais, alteran-
de negócios em diversas jurisdições, no âmbito de seu con- do significativamente o regime jurídico da constituição dos
sagrado projeto Doing Business2. gravames e ônus.
De sua parte, o ordenamento jurídico brasileiro admite Assim é que, na qualidade de prestadora de serviços de
garantias de variadas naturezas (pessoais ou reais) e espécies depósito centralizado, por meio da sua Central Depositária de
(fiança, aval, caução, alienação fiduciária, cessão fiduciária, Ativos, com a mudança no arcabouço legal, a BM&FBOVESPA
penhor e usufruto), recaindo sobre uma gama de bens e direi- viu-se diante do desafio de estruturar, regulamentar e im-
tos igualmente distinta (bens imóveis, bens móveis, ativos fi- plantar este serviço, o que foi feito por meio da criação do
nanceiros, valores mobiliários e direitos creditórios), as quais Serviço de Ônus e Gravames (SOG), cujas principais carac-
se sujeitam a regimes próprios de constituição e execução. terísticas serão aqui apresentadas.
No âmbito das operações de financiamento, papel Para tanto, propomos inicialmente ilustrar o contexto
fundamental é exercido pelas chamadas garantias reais (do regulatório e seus motivadores, os quais permitiram que
latim res, que significa “coisa”); garantia que recai sobre o a prestação do serviço de constituição e manutenção do
bem (e não sobre pessoas), assegurando-lhe a oponibilida- registro de ônus e/ou gravames sobre ativos financeiros e
de contra terceiros e, por isso, preferência na sua execução, valores mobiliários fosse realizada por depositários cen-
de modo a satisfazer o crédito por ela garantido. Em função trais autorizados a funcionar pelas respectivas autoridades
das particularidades desse tipo de garantia, tem-se que a sua competentes. Em seguida, será apresentado um quadro
constituição é revestida de um grau maior de formalidades, descritivo das funcionalidades da nova plataforma eletrô-
destinadas a proteger o interesse do credor, do devedor e nica, criada para viabilizar a prestação desse serviço. Por
também daqueles terceiros que eventualmente vierem a se fim, serão apresentadas as considerações finais, abrangen-
relacionar com aquele bem dado em garantia. Dentre outras do as expectativas de uso do novo serviço e alguns de seus
tantas características, exige-se, por exemplo, que o bem seja possíveis cenários de evolução.

2
“Doing Business measures the legal rights of borrowers and lenders with respect to secured transactions through one set of indicators and the reporting of credit information through ano-
ther. The first set of indicators measures whether certain features that facilitate lending exist within the applicable collateral and bankruptcy laws. The second set measures the coverage,
scope and accessibility of credit information available through credit reporting service providers such as credit bureaus or credit registries (figure 1). The ranking of economies on the ease
of getting credit is determined by sorting their distance to frontier scores for getting credit. These scores are the distance to frontier score for the sum of the strength of legal rights index and
the depth of credit information index (figure 2)” (Disponível em http://www.doingbusiness.org/methodology/getting-credit).

3
Caso dos Registros de Imóveis, Registros de Títulos e Documentos ou outras entidades ou autoridades administrativas incumbidas dessa função (como é o caso, por exemplo, dos
DETRANs, com relação às garantias que recaem sobre veículos automotores).

Jun/2016 Jun/2016 53
artigo técnico

Contexto da criação do SOG do registro do instrumento da garantia a essa prévia análise


Determinadas operações tipicamente realizadas no por parte da entidade registradora constituía um fator de
âmbito dos mercados financeiros (como, por exemplo, a insegurança jurídica aos agentes envolvidos na operação.
contratação de uma operação de financiamento ou de um Ademais, o aperfeiçoamento da garantia, em alguns casos,
derivativo de balcão) podem exigir a constituição de garan- dependeria ainda do registro nos livros do emissor. E todo
tias destinadas a colateralizar a exposição ao risco de crédito esse procedimento burocrático deveria ser adotado também
que uma das partes, pela própria natureza da operação, im- no caso de qualquer alteração no instrumento contratual,
puta à sua contraparte. inclusive para alteração do ativo objeto, bem como na hipó-
De acordo com a legislação brasileira atualmente em vigor, tese de reforço ou liberação da garantia.
o rol de garantias que podem ser concedidas nessas operações Por fim, na hipótese em que fosse necessária a execução
é extenso, incluindo bens móveis, imóveis ou até mesmo ativos do ativo financeiro ou valor mobiliário dado em garantia, a
financeiros, valores mobiliários e eventuais direitos creditórios legislação também demandava a adoção de medidas one-
que deles decorram, sujeitas, inclusive, a regimes legais distin- rosas, morosas e muitas vezes ineficientes (principalmente
tos (e.g. alienação fiduciária, penhor, cessão fiduciária, etc.). diante de um litígio entre credores e devedores), que even-
A eficácia dessas garantias, especialmente aquelas que tualmente levavam à desvalorização do bem dado em garan-
constituem direito real (sobre determinado bem) depende de tia, quando não à própria inviabilização de sua monetização.
sua correta formalização (seja sob a perspectiva do devedor, Portanto, os custos dispendiosos, ritos, formalidades e
do credor ou mesmo de terceiros que de qualquer forma po- até mesmo riscos envolvidos no regime notarial de registro
dem ser afetados pela garantia), exigindo a constituição de de gravames sobre ativos financeiros e valores mobiliários
um ônus ou gravame sobre os bens dados em garantia. mostravam-se inadequados aos interesses de um mercado
Tradicionalmente, antes da entrada em funcionamento que se pauta, essencialmente, pela eficiência (operacional
do SOG, a efetiva formalização dos ônus e gravames sobre e de custos), agilidade e, sobretudo, segurança jurídica na
quaisquer ativos financeiros e valores mobiliários ocorria colaterização de suas operações.
necessariamente mediante o registro do instrumento con- A propósito, vale ressaltar que a formalização de um
tratual de constituição da garantia perante os registros de ônus ou gravame sobre um ativo financeiro ou valor mobili-
títulos e documentos4 e, complementarmente, quando apli- ário não é útil apenas à colaterização de operações financei-
cável, perante livros de registro do emissor, mantidos por ras, pois, no caso de uma sucessão hereditária, os herdeiros
ele ou por escriturador eventualmente contratado (como que desejarem assegurar que um determinado membro de
no caso de ônus e gravames sobre ações)5. sua família continue recebendo dividendos de uma compa-
Esta exigência legal, de um modo geral, expunha as nhia da qual o de cujus era acionista, sem prejudicar o seu
partes a um procedimento moroso, burocrático e custoso. O direito de propriedade, poderão constituir um usufruto a fa-
instrumento deveria ser submetido ao cartório de registro vor deste. Em sentido semelhante, os pais podem doar ações
de títulos e documentos, que tem o dever legal de avaliar o aos seus filhos e manter o direito de gozar dos dividendos
preenchimento dos requisitos e formalidades legais. Assim, na qualidade de usufrutuários, até que eles completem uma
não bastassem os custos operacionais envolvidos, e ainda determinada idade, por exemplo.
que a legislação atribuísse efeitos ao mero protocolo do do- Diante deste cenário, impulsionado por uma demanda
cumento (denominado “prenotação”), o condicionamento dos agentes atuantes no mercado e por tendências mundiais

4
Neste sentido, destacamos a regra geral constante do §1º do artigo 1.361 do Código Civil: “Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instru-
mento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para
o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.”

5
Conforme dispõe o artigo 40 da Lei das S.A.: “Art. 40. O usufruto, o fideicomisso, a alienação fiduciária em garantia e quaisquer cláusulas ou ônus que gravarem a ação deverão
ser averbados: I - se nominativa, no livro de “Registro de Ações Nominativas”; II - se escritural, nos livros da instituição financeira, que os anotará no extrato da conta de depósito
fornecida ao acionista.”

54 Jun/2016 Jun/2016
– que a seguir serão mais bem exploradas –, o legislador brasi- financeiro e de valores mobiliários que se chegou à con-
leiro se demonstrou inclinado a contribuir para a desburocra- clusão de que os eventos que resultaram na crise financei-
tização e o incremento da eficiência do regime de constitui- ra de 2008 estavam relacionados, entre outras razões, aos
ção e execução de ônus e gravames sobre ativos financeiros e mecanismos utilizados para classificação, monitoramento e
valores mobiliários. supervisão de determinados valores mobiliários e ativos fi-
Esta nova estrutura legal, que viabilizou a criação do nanceiros, bem como das operações com eles realizadas, in-
SOG, é resultado de uma evolução normativa, inserida no clusive aquelas relativas à constituição de ônus e gravames.
contexto da consolidação da atuação dos depositários cen- A segurança jurídica e a confiabilidade inerentes a esses
trais como importantes gatekeepers no âmbito dos mercados valores mobiliários e ativos se demonstraram falhas em vá-
financeiro e de capitais, que contribuiu de maneira determi- rios aspectos, sendo necessário um árduo, longo e contínuo
nante na modelagem da forma de prestação do serviço de exercício de revisão de toda a regulação internacional dos
constituição de gravames e ônus nesses ambientes. mercados financeiro e de valores mobiliários, bem como das
Antes mesmo de abordar os diferentes diplomas legais práticas de supervisão e monitoramento desempenhadas
e atos normativos que viabilizaram a criação do SOG, é im- pelos reguladores nacionais, sobretudo quanto aos proces-
portante detalhar as motivações do legislador para alterar o sos de emissão, guarda e movimentação de valores mobiliá-
tradicional regime de constituição de gravames e ônus sobre rios e ativos financeiros.
valores mobiliários e ativos financeiros, que até então esta- Um dos mais visíveis resultados desse exercício foi a
vam sujeitos às formalidades acima apesentadas. edição dos Principles for Financial Market Infrastructures
Muito além da antiga e importante demanda do merca- (PFMI) elaborados pelo Committee on Payment and Settle-
do pela desburocratização dos procedimentos de registros ment Systems (CPSS) e pelo Technical Committee of the
de ônus e gravames de valores mobiliários e ativos financei- International Organization of Securities Commissions (IOS-
ros, tradicionalmente inseridos no contexto das já referidas CO) em abril de 20126, que reúne um conjunto de princípios
operações de financiamentos concedidos por instituições e recomendações a serem observados pelas chamadas “infraes-
financeiras garantidas por esses ativos, ou ainda de opera- truturas de mercado financeiro” (sistemas de pagamentos con-
ções bilaterais envolvendo derivativos, realizadas no merca- siderados sistemicamente importantes, depositários centrais,
do de balcão e garantidas por valores mobiliários ou ativos sistemas de liquidação, contrapartes centrais e repositório de
financeiros, essa mudança bastante significativa se deve, em transações) e fiscalizados por seus respectivos reguladores lo-
grande medida, à evolução dos debates travados internacio- cais, com o intuito de conferir maior higidez e robustez, glo-
nalmente, no âmbito do pós-crise de 2008. balmente, aos mercados financeiro e de capitais7.
De fato, foi no bojo das discussões realizadas pelos or- Os chamados depositários centrais, neste contexto, adqui-
ganismos internacionais ligados à regulação dos mercados rem relevância cada vez maior, uma vez que garantem a imo-

6
Documento público disponível em http://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf (último acesso em 28/03/2016), que explica o papel das infraestruturas de mercado financeiro para
os mercados financeiro e de valores mobiliários: “Financial market infrastructures (FMIs) that facilitate the clearing, settlement, and recording of monetary and other financial transac-
tions can strengthen the markets they serve and play a critical role in fostering financial stability. However, if not properly managed, they can pose significant risks to the financial system
and be a potential source of contagion, particularly in periods of market stress.”

7
Por parte dos reguladores brasileiros, a saber, o Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é marcante perceber a internalização da obrigação de aderên-
cia e cumprimento, conforme o caso, dos princípios e recomendações internacionais editadas pelo BIS-IOSCO em 2012, pelas infraestruturas de mercado financeiro atuantes no
Brasil e entidades administradoras de mercados organizados que exerçam atividades sujeitas a referidos princípios e recomendações. Neste sentido, a CVM publicou a Instrução
CVM nº. 544/13, que alterou a Instrução CVM nº 461/2007 para incluir o parágrafo 4º em seu artigo 110, o qual traz expressamente que nos casos em que a atividade for sujeita
a essas recomendações e princípios, a entidade administradora deve apresentar, ainda, quando do pedido de autorização para seu funcionamento, documento que comprove
a observância daquelas recomendações e princípios. O Banco Central do Brasil, por sua vez, publicou o Comunicado nº 25.097, em 10 de janeiro de 2014, no qual “comunica a
utilização, pelo Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos, dos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro no monitoramento e na avaliação
do Sistema de Pagamentos Brasileiro”, comunicou “a utilização, pelo Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos, dos Princípios para Infraestruturas do
Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures – PFMI), publicados pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Interna-
cionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO), no monitoramento e na avaliação da segurança, eficiência, integridade
e confiabilidade dos sistemas de compensação e de liquidação integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro, bem como dos registros e depósitos centralizados de ativos
financeiros e de valores mobiliários.”

Jun/2016 Jun/2016 55
artigo técnico

bilização e a integridade dos ativos que são transacionados no ou por terceiros por ela contratados para tanto. Posterior-
âmbito dos mercado financeiro e de valores mobiliários e ope- mente, com o advento da reforma provida na Lei das Socie-
racionalizam, de maneira eficiente, a transferência de sua pro- dades por Ações pela Lei nº 10.303/01, a legislação passou
priedade, conferindo, também, importante suporte ao proces- a conter dispositivo expresso neste sentido, aplicável não
so de liquidação das operações pelas contrapartes centrais8. Isso mais apenas às ações, mas também, quando cabível, aos de-
é possível, essencialmente, em função da titularidade fiduciária mais valores mobiliários de emissão de companhias abertas.
que o depositário central passa a deter a partir do momento em No contexto do pós-crise de 2008, em que os depo-
que um ativo financeiro ou valor mobiliário é levado a depósito. sitários centrais passam à posição de protagonismo acima
Influenciados pelos diagnósticos dos organismos in- mencionada, optou-se por ampliar esse regime para todos
ternacionais voltados para a regulação dos mercados finan- os valores mobiliários (não mais apenas ações e outros títu-
ceiro e de valores mobiliários, os legisladores e reguladores los corporativos) e também para os ativos financeiros, por
brasileiros também buscaram aprimorar as condições de meio da edição da Lei nº 12.810/13. E não foi só isso. Uma
segurança dos mercados financeiro e de valores mobiliários, vez que a titularidade fiduciária por parte do depositário
inclusive por meio da revisão e ampliação do regime legal central, conforme consagrado na nova legislação, confere a
aplicável aos depositários centrais, bem como da forma de essas entidades de modo cristalino o controle da titularida-
sua fiscalização e monitoramento. de dos ativos financeiros e valores mobiliários depositados,
No Brasil, a prática do depósito centralizado, a partir da é intuitivo assumir que o regime passasse, também, a prever
constituição da titularidade fiduciária de um determinado o controle dos ônus e gravames que eventualmente recaiam
ativo em favor de determinada entidade que exerce a função sobre eles10, estabelecendo, a partir de então, que a sua cons-
de depositário central não é nova. Esta alternativa foi aven- tituição deverá necessariamente ocorrer no ambiente do
tada, com relação às ações negociadas em bolsa, logo após a depositário central.
edição da Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações, A sequência de normativos constantes do Quadro 1
que neste ano completará 40 anos de vigência), que inovou mostra bem as etapas que foram percorridas para a edifica-
ao criar institutos como as ações escriturais e a custódia fun- ção do regime jurídico aplicável à constituição de gravames
gível de ações. Assim, em 1981, a partir de consulta formula- e ônus sob ativos financeiros e valores mobiliários perante
da à recém-criada Comissão de Valores Mobiliários (CVM) os depositários centrais.
pela então Bolsa de Valores de São Paulo, consagrou-se a A propósito, o modo como essa normatização se de-
sistemática por meio da qual9 as bolsas de valores passariam senvolveu ao longo do tempo e também a ausência do de-
a figurar como titulares das ações nelas depositadas, a partir talhamento de determinados aspectos bastante relevantes
de um negócio fiduciário celebrado com o respectivo acio- ao desenvolvimento do serviço de constituição de ônus
nista (e daí surge a noção de titularidade fiduciária nesse e gravames nos textos legais e infralegais foram desafios
contexto), nos respectivos livros mantidos pela companhia adicionais impostos à elaboração do SOG, principalmente

8
A este respeito, manifestou-se a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no âmbito do Edital de Audiência Pública 06/2013, que submeteu à apreciação do mercado a minuta
da norma que, posteriormente, se converteu na Instrução CVM nº 541/13: “É com a certificação da existência e da titularidade dos ativos financeiros pelo depositário central que
os agentes de mercado passam a ter a segurança necessária para a sua negociação em mercados organizados. Nesse sentido, a atuação dos depositários centrais pode ser vista
também como precondição para o desenvolvimento de mercados mais líquidos. A partir dessa mesma explicação se pode verificar como o depósito centralizado de ativos é um suporte
essencial para o adequado processo de liquidação de operações por contrapartes centrais e um mitigador para os riscos eventuais dos processos de inovação (e, nesse sentido, um impor-
tante instrumento para a garantia da estabilidade financeira)”.

9
Nos termos do Parecer/CVM/SJU/Nº 054 – 24.07.81

10
A propósito, o Senador Romero Jucá, no bojo da análise do projeto de conversão em lei da Medida Provisória nº 589/2012, que viria a se tornar a Lei nº 12.810/13, justificou a
inclusão dos artigos que tratavam do serviço de depósito centralizado com os seguintes dizeres: “Tendo em vista que, especialmente em decorrência da crise financeira de 2008, vem
se fortalecendo o entendimento de que os sistemas de depósito centralizado de ativos de financeiros são determinantes para a solidez do sistema financeiro, oferecemos também proposta
para introduzir importante mudança relacionada ao depósito centralizado. Uma das características essenciais desses sistemas deve ser sua capacidade de isolar os ativos registrados nas
instituições responsáveis pela custódia de ativos de terceiros de seu patrimônio geral, de modo que eventuais dificuldades financeiras dessas instituições não terem repercussões sistêmi-
cas sobre os agentes financeiras e demais depositantes. Além disso, a normatização legal dessa atividade como sugerida neste Projeto de Lei de Conversão é necessária para aumentar
a segurança jurídica nos ambientes de negociação, impedindo a possibilidade de múltiplas vendas do mesmo ativo. A centralização das operações tem como efeito positivo adicional a
facilitação da monitoração e do controle do risco agregado das instituições do sistema financeiro, reduzindo a probabilidade de crises sistêmicas.”

56 Jun/2016 Jun/2016
porque minúcias do até então inédito desse serviço pelos normativos que previam a prestação do serviço de registro
depositários centrais tiveram de ser discutidas interna- de ônus e gravames pelos depositários centrais, mas que
mente e com os participantes do mercado e, posterior- não detalhavam exatamente o escopo e as responsabilida-
mente, tratadas pela BM&FBOVESPA, no âmbito de seus des dos diferentes agentes envolvidos nesta atividade. Além
regulamentos e manuais. disso, o início da prestação desse serviço foi condicionado
Neste sentido, desde a edição da primeira norma rele- à regulamentação da matéria, e bem assim à aprovação dos
vante – a inclusão do artigo 63-A na Lei nº 10.931/04 pela regulamentos dos depositários centrais pelos órgãos com-
Lei nº 12.543/11 – até a aprovação dos Regulamentos da petentes (CVM e BCB), o que explica, em certa medida o
Central Depositária da BM&FBOVESPA pela CVM, em lapso temporal transcorrido até o lançamento do SOG, no
dezembro de 2015, o que se viu foi uma sucessão de atos início de 2016.

Quadro 1 – Relação de normativos que regulamentam a constituição de gravames sobre ativos financeiros e valores mobiliários.
Data da
Ato normativo Objeto
publicação

Inclui o artigo 63-A à Lei nº 10.931/04, para determinar que a constituição de gravames
e ônus sobre ativos financeiros e valores mobiliários será realizada “exclusivamente
Lei nº 12.543/11 8/12/2011
mediante o registro do respectivo instrumento nas entidades expressamente autorizadas
para esse fim pelo Banco Central do Brasil e pela Comissão de Valores Mobiliários.”

Regulamenta a constituição de ônus e gravames de que trata o artigo 63-A da Lei nº


Decreto nº 7.897/13 1/2/2013
10.931/04.
Dispõe que o artigo 63-A da Lei nº 10.931/04 se aplica “à constituição de quaisquer
gravames e ônus sobre ativos financeiros e valores mobiliários objeto de depósito
Lei nº 12.810/13 15/5/2013
centralizado, independentemente da natureza do negócio jurídico a que digam
respeito.”
Dispõe sobre a prestação de serviços de depósito centralizado de valores mobiliários
Instrução CVM nº 541/13 20/12/2013 e trata, notadamente no artigo 35, do registro de gravames e ônus sobre valores
mobiliários depositados.
Aprova o regulamento que disciplina as atividades de registro e de depósito
Circular BCB nº 3.743/15 8/1/2015 centralizado de ativos financeiros e a constituição de gravames e de ônus sobre ativos
financeiros depositados.

Disciplina a atividade de depósito centralizado pela BM&FBOVESPA, e regulamenta, a


Regulamento da Central partir do artigo 25, a constituição de ônus e gravames e de garantias perante a Central
28/12/2015
Depositária da BM&FBOVESPA Depositária da BM&FBOVESPA. Este regulamento é complementado pelo Manual de
Procedimentos Operacionais da BM&FBOVESPA, publicado na mesma data.

A primeira mudança bastante significativa no regime Acontece que essa alteração, em razão da complexida-
de constituição de ônus e gravames que recaiam sobre va- de das relações jurídicas envolvidas, não se consumou com
lores mobiliários e ativos financeiros implementou-se por a mera edição de um novo artigo de lei, de forma que foi
meio da Lei nº 12.543/11, que passou a determinar que necessária a edição de uma série de textos normativos des-
eles passariam a ser constituídos exclusivamente mediante o tinados a regulamentar o tema, os quais também serão mais
registro dos respectivos instrumentos perante “as entidades bem detalhados a seguir.
expressamente autorizadas para este fim pelo Banco Central Se, por um lado, a Lei nº 10.931/04 passou a atribuir
do Brasil e pela Comissão de Valores Mobiliários, nos seus “exclusividade” às entidades expressamente autorizadas
respectivos campos de competência” (por meio da inclusão para este fim pelo Banco Central do Brasil e pela Comissão
do art. 63-A da Lei nº 10.931/04). de Valores Mobiliários, para constituir os gravames sobre

Jun/2016 Jun/2016 57
artigo técnico

ativos financeiros e valores mobiliários objetos de depósito A despeito da normatização da CVM e do Banco Cen-
centralizado, por outro, restringiu essa possibilidade a “ope- tral do Brasil ter possibilitado à BM&FBOVESPA estabelecer
rações realizadas no âmbito do mercado de valores mobili- de forma mais concreta os moldes a serem dados ao SOG,
ários ou do sistema de pagamentos brasileiro”, e remeteu a muitas dúvidas permaneceram: o que seria “registrar o ins-
um futuro regulamento a tarefa de definir “as formas e con- trumento”? Bastaria a inclusão das informações em sistema
dições do registro”. próprio do depositário central por meio de um comando do
Este “regulamento” viria a ser o Decreto nº 7.897/13, custodiante do valor mobiliário ou ativo financeiro ou seria
que, entretanto, não trouxe todos os detalhes necessários ao necessário o upload do instrumento celebrado entre as par-
desenvolvimento do serviço11, tendo delegado essa tarefa tes do negócio jurídico em questão? Como operacionalizar
aos “regulamentos e sistemas das entidades”, a serem apro- a constituição de um gravame ou ônus de modo a permitir
vados pelos órgãos reguladores competentes. o correto exercício de direitos econômicos ou políticos ine-
Pouco depois, a Lei nº 12.810/13 corrigiu a limitação rentes ao valor mobiliário ou ativo financeiro, da forma como
de escopo indevidamente imposta pelo artigo 63-A da Lei avençado entre as partes do negócio jurídico e respeitadas as
nº 10.931/04, para expressamente permitir a constituição limitações legais? Como conciliar o direito de sigilo que re-
de gravames e ônus no ambiente dos depositários centrais cai sobre os ativos depositados no depositário central com o
“independentemente da natureza do negócio jurídico a que imperativo de publicidade com relação aos gravames e ônus
digam respeito”, mas não esmiuçou a forma de prestação do constituídos, conforme exigido pela legislação em vigor?
serviço. A bem dizer, foi somente com a edição da Instru- Muitas eram as questões em aberto, e foi um significa-
ção CVM nº 541/13, e também da subsequente Circular tivo desafio dar uma resposta que estabelecesse a prestação
BCB nº 3.743/15, que se obteve uma noção mais clara do de serviço de constituição de ônus e gravames de forma ágil,
modus operandi da constituição de um ônus ou gravame no prática e adequada aos anseios dos agentes do mercado, ao
ambiente de um depositário central, para, respectivamente, mesmo tempo que lhes assegurasse aquele que sempre pare-
valores mobiliários e ativos financeiros. ceu o ponto central desse serviço, a segurança jurídica. Segu-
A BM&FBOVESPA, na qualidade de prestadora de rança de que a constituição do gravame se daria de acordo
serviços de depósito centralizado e sensível às demandas do com a vontade das partes envolvidas; segurança de que os
mercado, desde quando as primeiras mudanças no arcabou- ativos gravados estariam protegidos contra ordens de blo-
ço jurídico se fizeram notar, começou um intenso trabalho queio judicial, ou de arrecadação em caso de procedimen-
de estruturação de seus regulamentos e de adequação de tos falimentares ou de liquidação extrajudicial; segurança
seus sistemas à disponibilização de mais essa funcionalida- de que a execução de ativos dados em garantia se daria de
de: a constituição de ônus e gravames. A tarefa, evidente- forma eficiente; segurança, enfim, de que os gravames regis-
mente, também (e, talvez, principalmente) incluía ouvir os trados no SOG teriam, pelo menos, o mesmo tratamento e
anseios do mercado e de seus agentes que eventualmente tutela conferidos pela legislação em vigor àqueles registra-
poderiam se servir deste novo serviço, uma vez estrutura- dos até então no regime cartorial.
da. Desta feita, e imbuída do espírito de autorregulação que Foi com este objetivo em mente, e após ampla intera-
sempre caracterizou a sua atuação, a BM&FBOVESPA dis- ção com os agentes de mercado, que a BM&FBOVESPA es-
cutiu propostas, modelos e mecanismos que, muito além de truturou uma plataforma eletrônica para viabilizar o registro
auxiliar na estruturação de um serviço que até então era pra- e o aperfeiçoamento de ônus e gravames que recaem sobre
ticamente inédito, serviriam para implementar um sistema os valores mobiliários mantidos em sua central depositária,
adequado às necessidades de seus parceiros. regulamentada nos termos do Regulamento e do Manual

11
A bem dizer, o §3º do artigo 3º deste decreto laconicamente afirmou que os regulamentos a serem editados pelos depositários centrais deveriam prever procedimentos desti-
nados a: “I - assegurar a unicidade e a continuidade dos registros sobre os ativos financeiros e valores mobiliários objeto de gravames e ônus; II - gerar as informações necessárias
para o exercício do direito de sequela pelos credores garantidos; e III - definir o regime de acesso às informações contidas nos registros de gravames e ônus constituídos no âmbito
da entidade, observado o disposto na legislação aplicável.”

58 Jun/2016 Jun/2016
de Procedimentos Operacionais da Central Depositária da Essa perfeita simbiose entre o SOG e os sistemas da
BM&FBOVESPA, em seções especificamente destinadas a Central Depositária da BM&FBOVESPA, não observada no
tratar da constituição de gravames e ônus no ambiente do regime jurídico anterior, em que a constituição do gravame
depositário central, conforme aprovados pela Comissão de era feita no ambiente notarial e a efetiva oneração do ativo
Valores Mobiliários (CVM) e divulgados ao mercado em 28 ocorria em um momento posterior, permite que o aperfei-
de dezembro de 2015. çoamento do ônus ou gravame sobre um determinado ativo
Finalmente, pouco mais de cinco anos após a publicação ocorra imediatamente após o seu registro, por meio da imo-
da Lei nº 12.543/11, a CVM emitia o Ofício-Circular/CVM/ bilização dos respectivos ativos envolvidos na operação em
SMI/Nº 07/2015, pelo qual informava que “a partir de 04 de um estrutura de contas segregadas e específicas para aquele
janeiro de 2016” entraria em vigor o novo regime jurídico de gravame, onde serão mantidos ao longo de toda a vigência da
constituição de gravames e ônus sobre valores mobiliários de- operação, onerados ou gravados, até que as partes envolvidas
positados perante a Central Depositária da BM&FBOVESPA. decidam por sua liberação, quer seja por um comando de alte-
ração, pela extinção do contrato ou pela execução da garantia.
Serviço de ônus e gravames da De maneira similar ao processo de constituição de um
BM&FBOVESPA novo ônus ou gravame, as partes envolvidas em uma ope-
ração podem decidir sobre a necessidade de diminuir ou
Em sua construção, após análise das principais deman- incrementar a quantidade de ativos objeto da garantia pres-
das de mercado, o SOG foi modelado de modo a permitir a tada. Neste caso, havendo a concordância entre as partes,
constituição e o gerenciamento do ciclo de vida dos princi- o registro de alteração da quantidade de ativos é efetuado
pais gravames utilizados no mercado, fornecendo aos par- no SOG e a movimentação dos ativos ocorre automatica-
ticipantes um importante conjunto de funcionalidades e mente, com a liberação de determinada parcela dos ativos
serviços que permitem um eficiente e completo controle da ou a movimentação de novos ativos para a constituição de
operação durante toda a sua vigência. garantia, sendo que neste caso os ativos são imediatamente
Neste contexto, foram desenvolvidos os gravames de alie- transferidos para a estrutura de contas e mantidos onerados
nação fiduciária, penhor e usufruto, que passaram a ser passí- ou gravados em conjunto com os demais ativos do contrato.
veis de registro de uma forma mais eficiente, flexível e segura, Adicionalmente, no caso em que as partes determinem a
eliminando, de uma forma definitiva, toda a burocracia exis- extinção de uma garantia previamente constituída, os ativos são
tente no regime jurídico anterior. Com este conjunto de ope- liberados e retornam para utilização imediata pelo devedor.
rações, os participantes de mercado passaram a ter a oportu- O SOG, em função de sua integração com os sistemas
nidade de expandir os seus produtos e oferecer a seus clientes da Central Depositária da BM&FBOVESPA, além de facili-
uma nova gama de serviços, ou até mesmo expandir os atuais, tar o processo de constituição, alteração e extinção de ônus
usufruindo da segurança de que os atos jurídicos da constitui- e gravames, também permite a rápida e eficiente execução
ção e aperfeiçoamento de uma garantia podem ser formaliza- dos ativos dados em garantia, nos casos de alienação fiduci-
dos em absoluta conformidade com a legislação em vigor. ária ou penhor.
Desta forma, além da constituição de um ônus ou gra- Em caso de inadimplemento da obrigação garantida, o
vames, é importante destacar que qualquer ato instruído no credor poderá, a qualquer momento, instruir unilateralmen-
SOG, seja com o intuito de registrar a constituição, a altera- te12, e de acordo com a legislação vigente, a operacionalização
ção, a extinção ou a execução de uma determinada garantia, da execução das garantias. Uma vez solicitada a execução, os
é imediatamente refletida nos ativos mantidos em depósito ativos gravados ou onerados são imediatamente movimenta-
nos serviços de depósito centralizado da BM&FBOVESPA. dos para uma estrutura de contas sob a titularidade da parte
12
Nos casos em que esteja expressamente definido no respectivo instrumento e devidamente registrado no SOG, a previsão de uma terceira instituição, distinta das partes credora
e devedora, a qual atuará no papel de árbitro de uma eventual execução solicitada pela parte credora, com base nas condições estabelecidas no próprio contrato, a operacionaliza-
ção da execução no serviço de ônus e gravames da BM&FBOVESPA somente será concluída após o encaminhamento de um parecer formal, por escrito e devidamente identificado,
pela referida instituição, indicada em contrato e no SOG, à Central Depositária da BM&FBOVESPA.

Jun/2016 Jun/2016 59
artigo técnico

credora, desenhada especificamente para o processo de exe- pital próprio, rendimentos, direitos de subscrição, etc.) sejam
cução. O participante, responsável pela ponta credora, pode tratados de forma flexível e de acordo com as características da
alienar os ativos de forma tempestiva, podendo utilizar tanto operação desenhada pelas partes.
os mercados organizados de bolsa quanto realizar operações Assim, as partes podem definir, no momento do registro
privadas de venda. Em ambos os casos, o credor experimenta do ônus ou gravame no SOG, que um provento em dinheiro
rapidez e facilidade para proceder com a execução dos ativos. (e.g. dividendo), uma vez deliberado pelo emissor do ativo,
Essta facilidade na execução de um ativo, provendo maior seja creditado em favor da parte devedora, da parte credora ou
segurança, agilidade e transparência para esse processo, pode até mesmo de uma terceira instituição, responsável, por exem-
ser apontada como um grande diferencial dessa nova estrutu- plo, pelo recebimento e administração de recursos financeiros,
ra, que permite que tanto o registro como a execução de uma decorrentes do pagamento de proventos, ao longo da vigência
garantia sejam realizados no ambiente do depositário central. do contrato.
Outra importante característica do novo serviço é o tra- Em vista do regime legal de publicidade a que se sujeitam
tamento de direitos econômicos incidentes sobre os ativos de- os gravames de alienação fiduciária, penhor e usufruto regis-
positados e que sejam objeto de ônus ou gravame. O SOG foi trados no SOG, a Central Depositária da BM&FBOVESPA
construído de modo a permitir que os eventos corporativos também pode emitir certidões em favor das partes envolvidas
incidentes sobre esses ativos (e.g. dividendos, juros sobre ca- nas operações registradas no SOG, informando inclusive so-

Detalhamento operacional do SOG

Quem pode acessar?


Considerando que o registro do
ônus e/ou gravame sobre os ativos
aceitos em depósito pela Central
Depositária da BM&FBOVESPA
implica, necessariamente, a
movimentação de saldo de ativos na
estrutura de sua Central Depositária,
os participantes autorizados a
acessar o SOG necessitam de
autorização na categoria de Agentes
de Custódia, os quais, por sua vez,
precisam ser autorizados nos termos
da ICVM 542.

60 Jun/2016 Jun/2016
bre a situação de ativos onerados ou gravados a terceiros que, todas as alterações ocorridas ao longo da vida útil dos referidos
identificando-se previamente, o solicitarem formalmente, ob- contratos, além do detalhe de todo tratamento realizado com
servada a legislação aplicável. A publicidade e transparência relação aos eventos corporativos incidentes sobre os ativos ob-
dos ônus ou gravames registrados no SOG trazem mais segu- jeto do contrato de ônus ou gravame. As mesmas informações
rança ao processo e permitem que todas as partes interessadas são comunicadas pela BM&FBOVESPA ao emissor dos ativos
possam receber informações dos ativos onerados ou gravados, ou ao escriturador por ele contratado.
tudo isso em atenção ao regime jurídico próprio aplicável aos Por fim, uma das peculiaridades mais importantes do
direitos reais, que tem a publicidade como um de seus requisi- SOG é a segurança jurídica de que estão revestidos os seus
tos fundamentais. sistemas e procedimentos: a atenta análise do arcabouço legal
Neste sentido, além da possibilidade de solicitar a emis- aplicável, bem como a minuciosa regulamentação colocada
são de uma certidão, a qual formaliza e provê publicidade ao em prática pela CVM, BCB e também pelos normativos edi-
gravame registrado sobre os ativos gravados ou onerados, as tados pela BM&FBOVESPA, estabelece um procedimento de
partes envolvidas, por meio de seus intermediários, recebem constituição de ônus e gravames prático, eficiente e, sobretu-
toda a informação necessária para acompanhar suas operações do, seguro, notadamente do ponto de vista jurídico. Assim, por
de ônus ou gravame registradas no SOG. São disponibilizadas exemplo, caso a BM&FBOVESPA receba alguma ordem de
as informações sobre os contratos de ônus e gravames vigentes, bloqueio judicial sobre um ativo porventura gravado com al-

Constituição autorizado por ambos representantes das partes referido movimento pela central depositária
O registro da constituição de um ônus ou gra- envolvidas no contrato, caso sejam distintos, o da BM&FBOVESPA.
vame é realizado diretamente no SOG pelos gravame é aperfeiçoado mediante a movimenta-
participantes representantes das partes envol- ção do saldo nos sistemas da central depositária,
vidas no contrato. em que os ativos permanecerão onerados ou Extinção
gravados ao longo da vigência do contrato. A extinção de um gravame registrado no SOG
O SOG permite o registro dos seguintes tipos pode ser solicitada por ambas as partes envol-
de ônus ou gravame: alienação fiduciária, pe- vidas no respectivo contrato. A extinção pode
nhor e usufruto. O tipo de gravame que será Alteração ser instruída unilateralmente pela parte credo-
registrado deve ser informado no momento da ra de um contrato de alienação fiduciária ou
solicitação de constituição. Adicionalmente, é As alterações de contratos de ônus ou grava- penhor, sendo concluída mediante a liberação
necessário informar dados mínimos, tais como mes podem envolver ou não a movimentação dos ativos objeto do contrato na estrutura de
os dados referentes à identificação das partes, do saldo de ativos sobre os quais foi constituí- contas da central depositária, sem a necessida-
vencimento do instrumento, cláusula penal, do o gravame nos termos originais. Podem ser de da confirmação do representante da parte
comissões e encargos, a relação de ativos obje- alteradas as seguintes informações: vencimen- devedora. Nas demais situações, inclusive para
to do contrato, entre outros. Nesse momento, to do instrumento, taxa de juro, valor da dívida, os gravames de usufruto, se faz necessária a
também é exigida a inclusão do instrumento correção monetária, cláusula penal, comissões confirmação de ambas as partes envolvidas no
constitutivo do referido gravame, devidamen- e encargos, dados bancários (específico para o contrato registrado no SOG antes que ocorram
te assinado pelas partes envolvidas, por meio tratamento de eventos) e os dados referentes a liberação dos ativos e a consequente extin-
de carga de arquivos eletrônicos (upload). aos valores mobiliários envolvidos no contrato. ção do gravame.
Adicionalmente, no momento da solicitação
Exclusivamente para o gravame de alienação de alteração é possível que sejam incluídos ter-
fiduciária, deve ser informado no momento da mos aditivos. Execução
solicitação da constituição se os ativos garanti- As solicitações de execução são realizadas ex-
dores serão mantidos sob titularidade da parte Qualquer solicitação de alteração somente é clusivamente mediante instrução do represen-
devedora ou da parte credora ao longo da vi- efetivada após instrução e concordância dos tante da parte credora e se aplicam somente
gência do contrato. respectivos representantes das partes envol- aos gravames de alienação fiduciária e penhor.
vidas no contrato. As alterações que impli-
Uma vez concluída a instrução do registro de quem na movimentação de saldo serão con- O SOG não realiza a execução, mas facilita a
constituição de gravame no SOG, devidamente cluídas somente após efetiva confirmação do liberação dos ativos inicialmente segregados

Jun/2016 Jun/2016 61
artigo técnico

gum direito real, terá ela – desde que atendidas regras e proce- um ciclo virtuoso e uma expansão do mercado.
dimentos constantes em seus regulamentos – o conforto para A BM&FBOVESPA estima que há um grande potencial
assegurar os direitos do credor garantido, nos termos e limites de ativos depositados na sua Central Depositária que não eram
do que determina a legislação em vigor. – por conta da lacuna legal suprida pela evolução legislativa
iniciada com o artigo 63-A da Lei nº 10.931/04 – utilizados
em operações de financiamento. Basta lembrar que a Central
Considerações finais Depositária da BM&FBOVESPA possui atualmente cerca de
R$ 1 trilhão em ativos depositados que, doravante e conside-
A desburocratização do processo de registro de ônus rando os benefícios de custo, praticidade, eficiência, liquidez
e gravames sobre os valores mobiliários e ativos financei- na execução e, sobretudo, segurança jurídica, passam a poder
ros, com a introdução da figura do depositário central, ser objeto de algum gravame, no bojo das múltiplas operações
inegavelmente traz ao mercado um significativo ganho de financeiras possíveis. Adicionalmente, não se pode ignorar a
eficiência operacional aliado à segurança jurídica do novo possibilidade de ativos que atualmente se encontram fora da
regime, permitindo que os agentes de mercado experi- Central Depositária da BM&FBOVESPA serem depositados
mentem um incremento em suas atividades de concessão com o intuito de viabilizar o registro de ônus e gravames por
de crédito, o que, por sua vez, tem um potencial de criar meio do SOG, haja vista os ganhos de eficiência e segurança

como garantias dos contratos nele registrados ária e penhor e o nu-proprietário, no caso do dos ao credor na data de seu pagamento.
para a posição da parte credora, mediante a usufruto para realizar o tratamento de eventos
• Repasse para instituição terceira – os even-
movimentação desses ativos garantidores na corporativos. Desta forma, mesmo que os ati-
tos são repassados para a instituição terceira
estrutura de contas da Central Depositária da vos garantidores sejam mantidos na posição da
indicada, no momento da constituição do
BM&FBOVESPA. Os ativos garantidores são movi- parte credora ao longo da vigência do contrato
contrato no SOG. Neste caso, a referida insti-
mentados para uma subconta específica de exe- de gravame (como pode ocorrer em situações
tuição é responsável por administrar os refe-
cução, para a qual não se aplica qualquer tipo de específicas para o gravame de alienação fiduci-
ridos recursos financeiros ao longo da vigên-
ônus, gravame, bloqueio ou restrição, estando ária), os eventos corporativos incidentes sobre
cia do contrato de gravame, de acordo com
estes livres para que o credor instrua sua efetiva os referidos ativos são sempre provisionados
as regras estabelecidas diretamente entre as
execução. A execução é de responsabilidade da considerando como titulares a parte devedora
partes integrantes do contrato.
parte credora e dos intermediários por este utili- ou nu-proprietária.
zado para efetivar a operação. Para o gravame de usufruto, considerando sua
A despeito do processo de provisionamento, as
natureza, o tratamento de eventos em dinheiro
No fluxo de execução existe a possibilidade que partes envolvidas nos contratos podem definir
é necessariamente repassado ao usufrutuário.
as partes indiquem uma terceira instituição, a o tratamento a ser dado aos eventos, quando
qual não figura como parte do contrato, mas sim de seu efetivo crédito ou atualização, a depen-
como um árbitro no processo de execução. Para der da natureza do mesmo: (ii) Eventos involuntários em ativos
esses casos, as solicitações de operacionalização
de execução somente são concluídas após auto- Eventos de custódia em ativos que impliquem
rização expressa do árbitro indicado no registro (i) Eventos em dinheiro alteração da quantidade ou substituição do
do contrato no SOG à BM&FBOVESPA. Para eventos em dinheiro (e.g. dividendos, juros saldo original de ativos mantidos nas carteiras
sobre capital próprio, etc.), as partes podem de- vinculadas ao ônus ou gravame de alienação
finir os seguintes critérios para o tratamento do fiduciária, penhor ou usufruto, resultarão na
Tratamento de eventos crédito desses valores: alteração compulsória do contrato de grava-
corporativos • Repasse ao devedor – os eventos financeiros
me registrado originalmente no SOG. Para este
Para efeitos de identificação do efetivo titular tipo de alteração não é necessário o upload de
são liberados para a parte devedora na data
do ativo objeto dos contratos de ônus ou gra- termos aditivos ao instrumento originalmente
de seu pagamento.
vame registrados, o SOG considera sempre a registrado. O resultado da atualização do sal-
parte devedora, nos casos de alienação fiduci- • Repasse ao credor – os eventos são repassa- do de ativos é refletido na titularidade do co-

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decorrentes. Trata-se, a nosso ver, de uma demanda reprimida Com efeito, assim como no começo da estruturação do
que certamente será utilizada conforme os operadores forem SOG, a BM&FBOVESPA continua aberta para receber do
se habituando ao novo serviço. mercado (e já tem recebido) demandas para ampliar, apri-
Não se trata, ademais, apenas da criação de mais um servi- morar e expandir o serviço. Conquanto a implementação dos
ço pela BM&FBOVESPA. Como dito, a constituição de ônus pedidos seja sempre realizada na medida da capacidade ope-
e gravames perante os depositários centrais foi o resultado de racional, é de se ter em mente que um valor muito importante
uma evolução legislativa e regulatória inovadora e ao mesmo para a BM&FBOVESPA é a preservação da segurança jurídica
tempo desafiadora, na medida em que, muito além de desbu- dos participantes e investidores.
rocratizar o procedimento de formalização dos direitos reais Neste sentido, a BM&FBOVESPA está desenvolvendo
sobre os valores mobiliários e ativos financeiros, o principal atualmente a sua estrutura operacional para constituir grava-
objetivo perseguido foi fazê-lo com base em sólidos e seguros mes em “caráter de universalidade” (conforme admitido nos
alicerces jurídicos, que ao mesmo tempo não representassem termos do art. 63-A da Lei nº 10.931/04), além de permitir
entraves aos usuários da ferramenta, a ponto de fazê-los lamen- o registro de outros tipos de ônus ou gravames, como o bem
tar a alteração do regime. Para tanto, a participação dos agentes de família (arts. 1.712 e 1.713 do Código Civil), restrições à
atuantes nos mercados administrados pela BM&FBOVESPA negociação oriundas de acordos de acionistas (art. 118 da Lei
foi e continua sendo fundamental. das Sociedades por Ações), entre outros.

mitente em que o saldo for mantido ao longo (iV) Eventos voluntários contrato. O emissor ou escriturador deve
do contrato de gravame, conforme definido considerar essa informação, mesmo que nas
pelas partes no momento da solicitação do re- O exercício dos eventos corporativos voluntá- informações de disposição de saldo conste
gistro de sua constituição. rios incidentes sobre os ativos envolvidos em o credor.
contratos de gravame fica a cargo da parte
onde o saldo for mantido ao longo da vigência
do contrato. Nos casos em que se fizer necessá-
(iii) Subscrição
ria a desoneração desses ativos, as partes envol- Emissão de certidões
O tratamento dos direitos de subscrição é re- vidas no contrato de gravame devem solicitar a As certidões emitidas no contexto do serviço
alizado conforme definido entre as partes, no extinção do respectivo ônus ou gravame e pro- de ônus e gravames possuem a finalidade de
momento da solicitação do registro de sua videnciar o exercício dos eventos corporativos, apresentar os dados dos contratos de gravame
constituição: conforme o tratamento acordado diretamente e atestar a sua existência. As solicitações para
entre as partes. emissão de certidões devem ser encaminhadas
• Repasse dos direitos para o devedor – os di- para a central depositária, que avaliará o pedi-
reitos são transferidos para a parte devedora do antes de prosseguir com a efetiva emissão
no momento imediatamente posterior a sua (v) Direitos políticos
das certidões.
atualização nos sistemas da central deposi- Os direitos de voto em assembleia são man-
tária da BM&FBOVESPA. Poderão solicitar a emissão de certidões: ór-
tidos com o comitente titular dos ativos. Para gãos reguladores e autoridades administrativas
• Repasse dos direitos para o credor / usu- o gravame de alienação fiduciária em que o competentes; partes envolvidas nos contratos
frutuário – os direitos são transferidos saldo de ativos permaneça sob a titularidade de gravame; e partes que não estejam envolvi-
para o credor / usufrutuário no momento do credor, o emissor dos respectivos ativos, das nos contratos de gravame.
imediatamente posterior a sua atualiza- ou o escriturador por ele contratado, deve
atribuir os direitos de voto em assembleia As certidões poderão ser emitidas consideran-
ção nos sistemas da central depositária da
ou demais direitos políticos ao devedor. do os seguintes critérios de consulta:
BM&FBOVESPA.
A central depositária fornece ao emissor ou • Código de Agente de Custódia / Investidor;
O exercício dos direitos de subscrição segue os escriturador por ele contratado as informa-
atuais procedimentos estabelecidos pela cen- • CPF/CNPJ; ou
ções referentes ao ônus ou gravame, indi-
tral depositária da BM&FBOVESPA. cando, inclusive, as partes envolvidas no • Código de Contrato.

Jun/2016 Jun/2016 63
artigo técnico

Exposição ao Risco
JULYERME MATHEUS TONIN Brasileiro Cambial
e Estratégia de
Doutorando em Economia Aplicada na Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ)
da Universidade de São Paulo. Professor de
Economia na Universidade Estadual de Maringá 

Hedge Simultâneo
de Preços e Taxa
FABIANA SALGUEIRO
PEROBELLI URSO
Superintendente de Desenvolvimento
de Câmbio nos
Contratos Futuros
de Clientes e Mercados – AGRO da
BM&FBOVESPA e doutora em economia
pela FGV/SP

de Soja e Café
Introdução
O Brasil conquistou ao longo das últimas décadas uma posição de destaque na pro-
JOÃO GOMES MARTINES FILHO dução de grãos, sendo que o caminho promissor trilhado pelo agronegócio brasileiro só
Doutorado em Agricultural Economics pela The
Ohio State University. Professor de Economia foi possível devido a uma conjugação de fatores, dentre os quais podem-se destacar as
Aplicada na Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ) da Universidade de São Paulo 
condições edafoclimáticas favoráveis, a incorporação de tecnologia protagonizada pela
Revolução Verde, a elevação dos investimentos decorrente da expansão do crédito rural e
a pujança do agricultor brasileiro.
Ademais, em virtude das novas exigências de um mercado cada vez mais competiti-
vo e da constante modernização que permeia os setores agropecuários e agroindustriais,
a gestão de risco torna-se primordial para o sucesso de qualquer atividade produtiva. O
produtor rural, de modo geral, está suscetível a uma série de riscos que afetam a pre-
visibilidade de preços e de produção, sendo que a busca pela mitigação de risco é uma
preocupação constante do produtor rural e de todos os demais agentes envolvidos com
a produção agropecuária. Neste cenário, a redução de riscos tornou-se imperativa, am-
JÚLIO CESAR KAIRALLA
Mestre em Economia Aplicada na Escola Superior pliando assim a importância de instrumentos privados de gestão de risco, especialmente
de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) da
Universidade de São Paulo os derivativos agropecuários.

64 Jun/2016 Jun/2016
Desta forma, para mitigar o risco de preços, realiza-se uma operação de hedge, que, para
Gastineau e Kritzman (1999), pode ser definida como o ato de assumir uma posição de segu-
rança no mercado futuro como forma de proteção contra variações indesejadas de preço dos
participantes do mercado físico. Entretanto, como alguns dos contratos futuros agropecuários
transacionados na BM&FBOVESPA são referenciados em dólar, é necessário utilizar instru-
mentos para gerir o risco decorrente das oscilações na taxa de câmbio.
Ao assumir posições no mercado futuro da commodity de interesse, o mecanismo de
ajustes diários permite ao hedger obter compensações diárias, positivas ou negativas, em de-
corrência de flutuações adversas do preço do ativo negociado, reduzindo, ao menos em parte,
o risco de preço. Para os contratos futuros referenciados em dólar ou em qualquer outra mo-
eda estrangeira, em uma estratégia de hedge, a variação cambial pode produzir efeitos sobre os
fluxos de recursos necessários para cumprir as necessidades de ajustes diários.
Neste contexto, há duas situações distintas em que a oscilação cambial afeta a apuração
dos ajustes diários dos contratos futuros: i) o agente tem ajustes diários em moeda estrangeira
a receber e, ao converter em moeda doméstica, uma possível apreciação da moeda nacional
faz com que o valor do ajuste seja menor do que o desejado; ii) o agente tem ajustes diários
em moeda estrangeira a pagar, mas, ao converter em moeda nacional, em um possível cenário
de depreciação cambial, o valor do ajuste em real será maior do que o desejado. Devido aos
distintos cenários de oscilação da taxa de câmbio e seu impacto sobre a eficiência da estra-
tégia de hedge, é salutar que, além do mecanismo de gestão de risco de preço, se utilize um
mecanismo de gestão de risco cambial.
Em face da presença desses dois riscos distintos (de preço e de câmbio) nas estra-
tégias de gestão de risco com derivativos referenciados em moedas estrangeiras, o presente
estudo objetiva analisar qual é o patamar de mitigação de risco, em termos de redução de
variância da receita do hedger, proporcionado pela estratégia simultânea de hedge de riscos
de preço e risco cambial. Especificamente, busca-se comparar a eficiência das estratégias de
hedge de preço, de hedge de câmbio e de hedge simultâneo, em termos de redução da variância
em comparação com um cenário base, no qual não há utilização de hedge.
Desta forma, no presente estudo optou-se por analisar o café e a soja, dada a relevância
destes produtos para a balança comercial brasileira e a posição de destaque do Brasil na ex-
portação global destes produtos. Para a International Coffee Organization (ICO), historica-
mente, o Brasil é o principal produtor e exportador de café arábica (ICO, 2016), enquanto
para a soja as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na
sigla em inglês) apontam que o Brasil deve assumir em breve a liderança nas exportações do
complexo soja (USDA, 2016).
As praças de comercialização analisadas foram selecionadas de acordo com sua relevân-
cia na produção nacional, sendo que para o café as regiões analisadas perfazem mais de 75%
da produção nacional no período recente (CONAB, 2016), enquanto para a soja, dada a
produção mais pulverizada, a representatividade das regiões é menor, mas essas praças são
referência de duas grandes regiões produtoras, a região Sul e a região Centro-Oeste.

Jun/2016 Jun/2016 65
artigo técnico

Revisão de literatura
Hedge é um tema amplamente analisado na literatura financeira, creditando-se a abordagem
seminal a Keynes (1930)1, que em seu estudo deduziu o conceito de “normal backwardation”, tra-
tando de temas como risco de preço, relação de preços à vista e futuro e, de forma indireta, do
conceito de hedge ( JOHNSON, 1960). A definição clássica de hedge também foi empregada por
Samuelson (1973)2, definindo o hedge como uma espécie de seguro contra variações adversas no
preço de determinada mercadoria. Sendo assim, o hedger deveria assumir posições opostas e de
igual magnitude nos mercados à vista e futuro. Além da vertente clássica de hedge, na qual o agente
é avesso ao risco, Working (1953) engloba na análise a possibilidade de especulação, por meio do
hedging seletivo ou oscilações na base (GOMES, 1987).
Por sua vez, Working (1953) destaca que o hedge com contratos futuros consiste na elabo-
ração de um contrato de compra ou de venda de uma determinada mercadoria conforme a pa-
dronização e com a supervisão de uma bolsa de mercadorias, como um substituto temporário de
um contrato de compra ou de venda a ser realizado em outros termos. Ederigton (1979) destaca
que, na visão de Working, hedgers e especuladores não teriam fundamentações distintas entre si,
sendo que a principal diferença decorre de o hedger se envolver na produção, armazenamento ou
processamento da commodity, enquanto o especulador não. Para Working (1953), a redução de
risco não se configura como um objetivo per se, mas derivado de outras razões, como a facilitação
das decisões de compra e venda, maior liberdade da ação empresarial3 e como base fiável para a
realização do armazenamento dos excedentes.
Com o advento da teoria do portfólio, a abordagem do hedge ganha uma nova ênfase. Para
Markowitz (1952), com a combinação de diferentes ativos, tem-se um portfólio com lucratividade
dada pela média ponderada dos retornos de cada ativo, obtendo assim uma melhor combinação
entre risco e retorno. Assim, a variância dos retornos passa a ser definida como medida de risco e o
binômio risco-retorno torna-se presente no problema de hedging. Neste ínterim, Johnson (1960)
inaugurou uma corrente de análise em que a estratégia de hedge passou a ser avaliada por meio da
determinação de um portfólio de mínima variância composto por dois ativos: uma mercadoria
sem hedge e um ativo “hedgeado”. Para o autor:

VQRV = xi v i + x j v j + 2xi xj cov ij


2 2 2 2
(1)
em que
xi e xj representam as posições no mercado físico (i) e futuro (j), respectivamente;
v i2 e v j são a variância da mudança de preço no mercado físico e futuro, respectivamente.
2

Como solução analítica, Johnson (1960) destaca que a razão ótima (h*) depende direta-
mente da covariância entre as mudanças nos preços futuro e à vista e, inversamente, da
variância do preço futuro, e a efetividade de hedge corresponde ao quadrado da correlação
linear entre as mudanças de preços à vista e futuro.

1
KEYNES, J. M. Treatise on money. 1930. The collected writings of John Maynard Keynes, vols. 5 e 6. Organizado por D. E. Moggridge, D. E.
Londres: Macmillan, 1971
2
SAMUELSON, P.A. Economics. New York, McGraw-Hill, 1973.
3
Esse aspecto está relacionado com a possibilidade de realizar uma compra ou venda em momentos que não seriam possíveis sem o
instrumento de hedge. Working (1953, p.561) cita o exemplo de um produtor de algodão ou uma fábrica têxtil que, em ocasiões de preços
favoráveis, negociam contratos futuros antes do período da colheita.

66 Jun/2016 Jun/2016
x *j =- xi cov ij /v 2j ou h* = xj /xi =- cov ij /v 2j (2.1)

e = Qcovij / vi vjV2 (2.2)



Por sua vez, Stein (1961) busca, de certa forma, integrar a teoria tradicional ao postulado de
Working. À luz da noção de média-variância de Markowitz, Stein (1961) destaca que a decisão da
parcela com e sem hedge é uma decisão derivada da decisão de alocação da produção em armaze-
nagem, associando assim conceitos abordados pelas duas vertentes anteriores de análise. O autor
também avança na análise da determinação simultânea de preços físicos e futuros.
Ademais, Lintner (1965) evolui na análise da tomada de decisão racional entre diferen-
tes portfólios, com o teorema da separação, o qual centra o foco da análise na relação entre
risco e preferência pela liquidez do agente, demonstrando que há um único ponto na fronteira
eficiente de Markowitz capaz de satisfazer as preferências entre risco e retorno dos agentes.
Neste contexto, Lintner (1965) agrega à análise do hedge uma série de contribuições à teoria
das finanças, como são o caso do teorema Modigliani-Miller (1958)4 e do modelo CAPM de
Sharpe (1964)5.
Após a consolidação da vertente de análise de hedge apoiada na teoria do portfólio, muitos
foram os trabalhos desenvolvidos com a finalidade de tratar de aspectos específicos do hedge. Cec-
chetti, Cumby e Figlewski (1988) em sua revisão de literatura nominam as contribuições de Telser
(1955), Ward e Fletcher (1971), Anderson e Danthine (1981) e Stulz (1984). Gomes (1987)
acrescenta, como trabalhos importantes nessa área, Rutledge (1972), Peck (1975), Ederington
(1979), Holthausen (1979), Chambers e Just (1979), Myers e Thompson (1989), entre outros.
Para Rodrigues e Alves (2010), esses trabalhos compõem o arcabouço de análise de hedge estático,
sendo que esses estudos foram incorporando ao longo do tempo as evoluções metodológicas da
análise de séries temporais.
Na década de 1990, incorporou-se na análise a abordagem dinâmica do hedge, sendo que,
após o trabalho de Bollerslev (1986), evidências empíricas de presença de volatilidade condicio-
nal passaram a ganhar maior atenção na literatura de hedging, sendo que Baillie e Myers (1991)
foram os pioneiros na aplicação do modelo Generalized Autoregressive Conditional Heteroske-
dasticity (GARCH) multivariado em commodities agropecuárias. Neste contexto, Ai (2012) acres-
centa como contribuições na estimação dinâmica de hedge, por meio da distribuição condicional
associada aos modelos ARCH e GARCH, os trabalhos de Kroner e Sultan (1993) e de Engle e
Kroner (1995).
Neste ínterim, ao mesmo tempo que se estabelecia na literatura a dicotomia entre hedge es-
tático e dinâmico, emergia a preocupação com o trader offshore, ou seja, agentes que buscavam
proteção de preço em bolsas de valores externas a seu país, sendo que em muitos casos, a exposição
ao risco cambial passa a ser uma preocupação presente na gestão de risco desses agentes. Neste
contexto, Thompson e Bond (1987), por meio da utilização do modelo de vetor autorregressivo
(VAR), demonstram que a presença de risco cambial afeta a operação de hedging.

4
MODIGLIANI, F.; MILLER. M.H. The Cost of Capital, Corporation Finance, and the Theory of Investment. American Economic Re-
view, n. 48, p. 261-97, 1958.
5
SHARPE, W. F. Capital asset prices: a theory of market equilibrium under conditions of risk. Journal of Finance, Berkeley, v. 19: 425-42,
1964

Jun/2016 Jun/2016 67
artigo técnico

Entretanto, com o estudo de Nayak e Turvey (2000), sobre produtores de milho de Ontário,
no Canadá, no período de 1975 a 1996, desenvolveu-se a metodologia própria de avaliação do
hedge simultâneo. A preocupação dos autores era que o hedger offshore, como é o caso de hedgers
canadenses que buscam proteção contra o risco de preço com a utilização de contratos em bolsas
de mercadorias dos Estados Unidos, também estaria exposto ao risco cambial.
É importante salientar que a temática hedge simultâneo avaliada no presente estudo refere-se
à elaboração de estratégias de hedge que incluam diferentes tipos de risco. No caso do trabalho de
Nayak e Turvey (2000), a estratégia sugerida é um hedge de renda, que engloba a gestão do risco
de preço e do risco cambial, como também utiliza crop yield future contracts, que eram contratos ne-
gociados nas bolsas norte-americanas que permitiam algo similar a um seguro de produção. Porém
cabe destacar que outros autores utilizaram o termo hedge simultâneo para avaliar um determinado
risco (risco de preços, por exemplo) em diferentes tipos de commodity (soja e milho, por exemplo),
como é o caso do estudo de Norvell e Leuthold (1992). Esta última vertente de determinação
simultânea das estratégias ótimas de hedge conjuntas de diferentes commodities não faz parte do
escopo do presente estudo.
Na literatura recente sobre o tema, Yun e Kim (2010) analisaram a combinação de estratégias
de hedge para o óleo cru na Coreia do Sul, com contratos das bolsas NYMEX e ICE e o hedge cam-
bial na Korea Exchange (KRX). No mercado agropecuário, tanto Frank, Brewn e Patiño (2011),
quanto Ai (2012) analisaram o mercado canadense de carne bovina, comparando os períodos pré
e pós-surto da bovine spongiform syndrome (BSE), ou doença da “vaca louca” em 2003.
No Brasil, Souza (2010) e Souza, Martines-Filho e Marques (2011) aplicaram o conceito de
hedge simultâneo para a soja no Mato Grosso. Para tal utilizaram séries contínuas de preços físi-
cos e futuros (primeiro vencimento em aberto) e posteriormente convertidas em médias mensais,
perfazendo o período de março de 2004 a março de 2009. Por sua vez, Weeks e Bellinghini (2011)
efetuaram estudo para o mercado da soja em Paranaguá, utilizando dados diários para vencimen-
tos específicos dos contratos futuros analisados, delimitando períodos distintos de análise, de 120,
150 e 180 dias. Por fim, Kairalla et al. (2013) avaliaram o impacto do hedge simultâneo para o
exportador de café no Brasil.

Referencial metodológico
A modelagem teórica de hedge simultâneo para commodities agropecuárias baseia-se no mo-
delo de Nayak e Turvey (2000). Por hipótese, os contratos futuros utilizados na análise satisfazem
as características apontadas por Pennings e Leuthold (1999), sendo instrumentos adequados para
a gestão de risco. Por simplificação, o hedger mantém sua posição até o fim do período analisado,
ou seja, não há rolagem de hedge, e variáveis como área, custo de produção e produtividade são
variáveis exógenas. Assim, centra-se a análise nos instrumentos financeiros utilizados para opera-
cionalizar a estratégia de hedge.
A estratégia de hedge ótimo, em que a receita do produtor inclui as possibilidades de realiza-
ção de hedge de preços e de taxa de câmbio, é dada por:

HR = R + hQF1 - f2Ver + gMQQ1 - q2Ver + cQE1 - e2V (3)

68 Jun/2016 Jun/2016
em que
HR ou hedge revenue é o hedge da receita;
R=A*P*z é a receita à vista no fim do período, com A representando o volume de produção, P
o preço à vista no local analisado e z a produtividade, no fim do período;
h e c são as posições no mercado futuro da commodity e no mercado futuro de taxa de
câmbio, respectivamente;
F1 e f2 são o preço futuro da commodity, no início e no fim do período, respectivamente;
E1 e e2 são as posições futuras de taxa de câmbio, nos períodos inicial e final, respecti-
vamente;
Q1 e q2 representam as posições no ativo para proteger a produtividade, no início e no
fim do período analisado, respectivamente, e M é o multiplicador6 de contratos.
A modelagem de Nayak e Turvey (2000) possibilita um hedge para o risco de renda do pro-
dutor rural. Para tal conjuga a utilização de contratos futuros da commodity, contratos futuros de
câmbio e um instrumento financeiro similar ao seguro agrícola para proteção de um determinado
nível de produção.
Em consonância com os objetivos do presente estudo, não se considera que o hedger
assuma a posição g, ou seja, assume-se que ele não utilize mecanismos de proteção da
produtividade física da cultura analisada. Com isso, o foco da análise centra-se no hedge
simultâneo entre contrato futuro da commodity e da taxa de câmbio, e as variáveis associa-
das à produtividade da cultura passam a ser exógenas. Deste modo, a análise abrangente de
Nayak e Tuvey (2000), que considera hedge da receita (HR), passa a ser avaliada de forma
parcial, considerando apenas o hedge simultâneo de preço e câmbio (HS):

HS = R + hQF1 - f2Ver + cQE1 - e2V (4.1)


Por simplificação, assume-se que f=F1–f2 e e=E1– e2, assim a equação pode ser reescrita como:

HS=R+hfer+ce (4.2)

Para minimizar o risco, verifica-se o quão longe os valores das variáveis se encontram do valor
esperado, aplicando o conceito de variância na estratégia de hedge simultâneo:
v 2HS = v 2R + h2 v 2fe + c2 v e2 + 2hv R,fe + 2cv R,e + 2hcv fe ,e (5)
r r r

Em que as variâncias são dadas por v R = VarQRV;v fe = VarQ ferV v e = VarQ e V


2 2 2
r

as covariâncias são:v R,fe = CovQR, ferV; v R,e = CovQR, eV v fe ,e = CovQ fer, eV e v fe ,e = CovQ fer, eV
r r r

A estratégia ótima de hedge é obtida por meio da minimização da receita do hedge simultâneo
em relação às posições no mercado futuro da commodity (h) e taxa de câmbio (c). Por meio de
ferramental matemático7, as soluções ótimas para esses parâmetros são:

6
Informações adicionais podem ser obtidas em Nayak e Turvey (2000, p.125).
7
Informações sobre os procedimentos matemáticos adotados disponíveis no Apêndice A.

Jun/2016 Jun/2016 69
artigo técnico

1 T - v R,fe + v R,e v fe ,e  Y


v 2fe v e2 (6.1)
hRM =
r r

-
1 t 2fe ,e v 2fe
r r r


1 T - v R,e + v R,fe v fe ,e  Y
cRM =
v 2fe v e2 (6.2)
r r

1 -  t 2fe ,e v e
2
r r


Em que, t fe ,e = S v fe v e X representa o quadrado do coeficiente de correlação entre os preços
2 v fe ,e 2 r
r
r

futuros expressos em moeda local e os preços futuros de taxa de câmbio, expressos pela razão entre
a covariância dessas duas variáveis, dividida pelo produto de seu desvio-padrão.

v R,fe CovQR, ferV 


VarQ ferV corresponde à posição dos contratos futuros necessária para minimizar
= r

v 2fe r

a variabilidade da receita associada às flutuações de preço local, expresso em moeda nacional;

v R,e v fe ,e  CovQR, eVCovQ fer, eV 


VarQ ferVVarQ e V capta a presença de risco cambial na utilização de contra-
2 2 = r

v fe v e r

tos futuros agropecuários;

v R,e CovQR, eV
VarQ e V dimensiona a posição em contratos futuros de taxa de câmbio necessário
=
v e2
para minimizar a variabilidade da moeda nacional;

v R,fe v fe ,e  CovQR, ferVCovQ fer, eV


VarQ ferVVarQ e V capta a presença de risco de preços da commodity na utili-
r
= r

v 2fe v e2 r

zação de contratos futuros de taxa de câmbio.

A partir das equações propostas por Nayak e Turvey (2000), é possível implementar uma ges-
tão de risco avaliando a estratégia ótima derivada da utilização de hedge simultâneo, considerando
apenas a utilização de hedge de preços futuros ou avaliar apenas o resultado do hedge cambial.
Para tal, utiliza-se o conceito de efetividade de hedge, o qual mensura a proporção da variância da
receita que pode ser eliminado por meio da adoção de um portfólio com razão ótima de hedge, o
qual pode ser definido como:

Qv RM
HS V = v R + Qh
2 2
V v fe + Qc V2 v e + 2h v R,fe + 2c v R,e + 2h cv fe ,e
RM 2 2 RM 2
r
RM RM RM
r r
(7)

Substituindo as soluções ótimas para as posições no mercado futuro da commodity (hRM) e


no mercado futuro de taxa de câmbio (cRM), a redução do risco corresponde à variação da receita
sem hedge e à variação da cobertura proporcionada pela estratégia de hedge simultâneo, calculada
por Nayak e Turvey (2000, p. 130)8:
8
A solução analítica de Nayak e Turvey (2000) é:

1 T v R,fe v qe ,e -
v R,qe Y +
1 T v R,fe v fe ,e -
v Y - S 2 2 2 XQv R,qe v fe ,e - v R,e v fe ,qe V + 2
2 2
1 v R,fe
RRpze =
r r r r r
2
iv qer v 2fe r iv e2
r
v 2fe D e m Ro,e
r v fe v qe v e
r r
r r r r
v fe r

70 Jun/2016 Jun/2016
1 T v R,fe v fe ,e  - Y
RRHS = v 2R - Qv RM
HS V =
2
v
2
2
r
v
r
R, e + R2,fe r
(8.1)

2
iv e v fe r v fe r

Em que, i = 1 - p 2fe ,e, as demais variáveis já foram especificadas.


r

Para avaliar apenas a utilização de hedge de preços futuros, assume-se que i = 1 - t fe ,e e


2
r

v R,e = 0. Assim:

& 0 v R - Qv HS V =- v 2fe
v R,fe RM 2 v R,fe
RRh =
r 2 r

v 2fe
h

r ou (8.2) r

Em abordagens tradicionais, como Johnson (1960), Ederington (1979) e Myers e Thomp-


son (1989), a razão de hedge que permite minimizar a variância da receita do hedger é dada por

h* = v R,f /v 2f . Na abordagem de Nayak e Turvey (2000, p. 127), para efeito de comparação, con-
siderando somente o hedge de preços futuros, o resultado é h = v R,fe /v fe . Como inovação me-
* 2
r r

todológica, tem-se que a relação entre preços futuros e à vista é realizada em termos dos preços
esperados em moeda estrangeira, sendo ponderada tanto pelos preços futuros esperados quanto
pela taxa de câmbio esperada.
Por fim, para avaliar a estratégia com hedge somente com contratos futuros de taxa de câmbio,

assume-se que v R,fe = 0  e v fe ,e  = 0. Assim:


r r

v 2R - Qv RM
HS V =-
v R,e 2 v R,e
RRc = 2 $ 0  
v e2 (8.3)
ve
c

ou
Com isso é possível realizar a análise comparativa entre as estratégias de hedge com contratos
futuros da commodity, hedge com contratos futuros de taxa de câmbio e hedge simultâneo.

Dados utilizados
Os dados básicos no presente estudo referem-se às séries diárias de preços em R$/saca do
mercado físico do café e da soja elaborados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea/Esalq), coletados no terminal Bloomberg®, referente às praças de comercialização
do café: Mogiana (SP); Cerrado de Minas (MG), Sul de Minas (MG) e Zona da Mata (MG); e da
soja: Norte do Paraná (PR), Passo Fundo (RS), Rio Verde (GO) e Sorriso (MT).
Por sua vez, os contratos futuros de café, com vencimento em setembro, foram coletados no
segmento mercados futuros da Bolsa de Mercadorias, Valores e Futuros (BM&FBOVESPA) e
os contratos futuros de soja, com vencimento em maio, foram obtidos junto à Chicago Board of
Trade (CBOT), bolsa integrante do CME Group. Por fim, a taxa de câmbio doméstica refere-se
ao dólar de venda PTAX800 e foi obtida junto ao Banco Central do Brasil (BCB), enquanto os
contratos futuros de dólar foram obtidos na BM&FBOVESPA, utilizando-se os vencimentos cor-
respondentes aos contratos futuros utilizados na estratégia de hedge para o café e a soja.

Jun/2016 Jun/2016 71
artigo técnico

Resultados
Operacionalização das variáveis
As análises de hedge simultâneo foram efetuadas com base em dados históricos, compreen-
dendo o período de 1º de outubro de 2008 a 30 de setembro de 2015. Após a coleta dos dados
para o período de interesse, procedeu-se a compatibilização das séries históricas, eliminando feria-
dos nacionais, feriados nas bolsas de mercadorias e feriados locais das praças de comercialização
analisadas, resultando em 1.734 observações para cada variável analisada.
Posteriormente, procedeu-se à delimitação dos recortes temporais de análise, com base no
calendário agrícola disponibilizado pela Companhia Nacional e Abastecimento (Conab), nos le-
vantamentos de safra de grãos e de café. Isto posto, delimitou-se uma janela de 150 dias corridos
para acompanhamento da estratégia de hedge, que compreende o período do plantio até a colheita
da soja (fim de outubro até março) e da maturação até a colheita do café (abril até início de setem-
bro) para as safras de 2008/09 à 2014/15.
Cabe destacar que, em decorrência da presença de feriados nas séries analisadas, em termos
de dias corridos, as estratégias de hedge compreendem entre 144 e 153 dias. Entretanto, para efeito
de comparação, fixou-se o intervalo de cem dias úteis, ou seja, para cada estratégia utilizam-se cem
observações de cada variável analisada. Neste contexto, as séries de preços futuros de soja e café
são apresentadas na Figura 1.

Figura 1 - Preços futuros de café na BM&FBOVESPA e da soja na CME, no período de


outubro de 2008 a setembro de 2015, em US$/saca
400 100

350
80
300

250 Café 60
Café - US$/sc

Soja - US$/sc

200

40
150

100
20
50 Soja

0 0
ago-11

dez-13
nov-09

out-12
jun-10

mai-13
mar-12
abr-09

jan-11

jul-14

fev-15

set-15
set-08

Fonte: Resultados da pesquisa. Dados baseados em BM&FBOVESPA (2015) e CME (2015)

72 Jun/2016 Jun/2016
Na Figura 1, verifica-se que os recortes temporais centram a análise no período de desenvol-
vimento de ambas culturas analisadas, ou seja, principal período de interesse para o hedger. Com
isso, incorporam-se na análise períodos com maior e com menor volatilidade, bem como ciclos
de expansão ou retração dos preços. Assim, pode-se avaliar o resultado em termos de estratégia
de hedge com uma extensa gama de situações. De forma análoga, a Figura 2 apresenta as séries de
contratos futuros de taxa de câmbio utilizadas na análise.

Figura 2 - Série histórica do contrato futuro de dólar negociado na BM&FBOVESPA e


períodos selecionados para os hedges de café e soja
4,50

4,00

3,50

3,00

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
mar-09

mar-10

mar-11

mar-12

mar-13

mar-14

mar-15
set-08

set-09

set-10

set-11

set-12

set-13

set-14

set-15
US$ SPOT US$ Futuro - Venc. ABR US$ Futuro - Venc. SET
Fonte: Resultados da pesquisa. Dados baseados em BM&FBOVESPA (2015) e CME (2015)

Por hipótese, na análise para o café, a gestão do risco de preço inicia-se em abril por meio da
aquisição de um contrato futuro de café com vencimento em setembro do corrente ano, sendo que
o hedger carrega essa posição até seu vencimento, enquanto a gestão do risco cambial é realizada
no mesmo período com a aquisição de um contrato de dólar futuro com vencimento em setem-
bro. Esse pressuposto permite observar na análise o preceito de convergência entre preços físicos
e futuros e entre dólar físico e futuro na data de encerramento do contrato. Porém não considera a
possibilidade de rolagem de hedge na gestão de risco de preço e risco cambial, bem como não inclui
os custos operacionais na análise.
De forma análoga, para a soja, o período de análise situa-se entre outubro do ano corrente até
março do ano subsequente. Para a gestão do risco de preço utiliza-se o contrato futuro com venci-
mento em maio, motivado pela maior liquidez desse contrato. Entretanto, nesse caso, o hedger não
permanece no contrato até seu vencimento. Para a gestão do risco cambial, mantém-se o contrato
vincendo no fim do período delimitado para a estratégia de hedge. Nesse caso, utiliza-se o venci-
mento de abril do contrato futuro de taxa de câmbio.

Jun/2016 Jun/2016 73
artigo técnico

Comparativo das estratégias de hedge para o café e a soja


Em consonância com a metodologia proposta por Nayak e Turvey (2000), aplicada ao pro-
blema de hedge simultâneo, a magnitude da redução do risco é avaliada em termos de variâncias e
covariâncias das variáveis. Neste contexto, a elaboração da matriz de variância e covariância9 forne-
ce todos os elementos necessários para a aplicação da modelagem de hedge simultâneo.
Com a aplicação do ferramental analítico proposto por Nayak e Turvey (2000), nota-se que
a estratégia de hedge simultâneo para o café apresentou os melhores resultados, em termos de re-
dução da variância, para todos os períodos e praças analisados no presente estudo (Tabela 1). No
comparativo entre os períodos analisados, verifica-se um sensível declínio do patamar de redução
dos riscos de preços e câmbio a partir da safra 2013/14, fato que pode estar associado a movi-

Tabela 1 - Resultados em termos de redução das variâncias em relação ao cenário-base, para todas as estratégias de
hedge para o café, para os recortes de tempo analisados.
Cenário-base Redução da variância % Total
Hedge de Hedge Hedge Hedge de Hedge Hedge
    Sem hedge
preço cambial simultâneo preço cambial simultâneo
2008/09 71,27 31,82 9,16 65,87 44,65% 12,86% 92,42%
Cerrado de Minas

2009/10 159,79 114,13 31,23 128,49 71,43% 19,55% 80,41%


2010/11 1.240,99 673,60 515,40 996,74 54,28% 41,53% 80,32%
2011/12 337,01 246,18 0,73 298,38 73,05% 0,22% 88,54%
2012/13 67,99 48,81 29,63 56,60 71,80% 43,58% 83,25%
2013/14 1.053,69 l226,72 245,70 428,12 21,52% 23,32% 40,63%
2014/15 539,32 199,30 29,26 354,54 36,95% 5,42% 65,74%
2008/09 74,20 31,22 11,18 69,13 42,08% 15,06% 93,17%
2009/10 168,42 123,74 34,49 138,66 73,47% 20,48% 82,33%
2010/11 1.230,99 665,70 516,59 990,90 54,08% 41,97% 80,50%
Mogiana

2011/12 339,33 244,81 0,23 302,99 72,15% 0,07% 89,29%


2012/13 67,49 48,60 29,67 56,13 72,02% 43,96% 83,17%
2013/14 1.057,73 222,45 255,89 432,66 21,03% 24,19% 40,90%
2014/15 355,38 57,22 82,20 238,59 16,10% 23,13% 67,14%
2008/09 76,06 33,41 10,55 71,11 43,93% 13,88% 93,49%
2009/10 167,01 128,63 40,45 139,99 77,02% 24,22% 83,82%
Sul de Minas

2010/11 1.239,35 665,32 521,31 994,40 53,68% 42,06% 80,24%


2011/12 340,87 241,70 0,11 301,75 70,91% 0,03% 88,52%
2012/13 64,50 42,81 27,43 47,82 66,37% 42,53% 74,14%
2013/14 994,14 245,00 251,64 444,75 24,64% 25,31% 44,74%
2014/15 369,52 96,87 77,07 298,52 26,21% 20,86% 80,79%
2008/09 63,25 26,33 9,66 58,77 41,63% 15,27% 92,92%
2009/10 135,87 117,20 45,95 121,76 86,26% 33,82% 89,62%
Zona da Mata

2010/11 1.037,14 582,11 437,05 854,63 56,13% 42,14% 82,40%


2011/12 323,48 216,73 0,03 278,85 67,00% 0,01% 86,20%
2012/13 68,62 52,58 33,95 58,45 76,63% 49,47% 85,18%
2013/14 1.015,59 215,41 237,85 414,92 21,21% 23,42% 40,85%
2014/15 417,86 89,36 88,82 306,38 21,39% 21,25% 73,32%
Fonte: Resultados da Pesquisa

9
A matriz de variância e covariância para a análise das estratégias de hedge de café e de soja estão disponibilizados nos Apêndices B e C, respectivamente.

74 Jun/2016 Jun/2016
mentos opostos das séries de preço do café (ciclo de declínio) e da taxa de câmbio (ciclo de de-
preciação da moeda nacional). No comparativo entre as praças de comercialização, verifica-se que
apenas em três das sete safras analisadas observa-se uma diferença expressiva entre as estratégias
ótimas, fato que pode estar associado ao risco de base (Tabela 1).
Por sua vez, na análise das estratégias de hedge para a soja, também verifica-se uma su-
perioridade da estratégia de hedge simultâneo. No comparativo entre os períodos analisados ve-
rifica-se uma melhoria crescente do patamar de redução da variância entre as safras 2008/09 e
2011/2012, sendo que a partir de então há uma diminuição no potencial de redução conjunta dos
riscos de preço e risco cambial. Por fim, em decorrência da amplitude geográfica das praças anali-
sadas, verificam-se diferentes patamares de redução de risco entre as regiões analisadas (Tabela 2).

Tabela 2 - Resultados em termos de redução das variâncias em relação ao cenário base, para todas as estratégias
de hedge para a soja, para os recortes de tempo analisados.
Cenário-base Redução da Variância % Total
Hedge de Hedge Hedge Hedge de Hedge Hedge
    Sem hedge
preço cambial simultâneo preço cambial simultâneo
2008/09 7,54 3,80 0,62 3,89 50,44% 8,19% 51,56%
Norte do Paraná

2009/10 16,58 9,50 2,94 9,52 57,34% 17,72% 57,46%


2010/11 1,62 0,72 0,01 1,04 44,26% 0,77% 64,14%
2011/12 8,39 7,74 1,36 7,80 92,26% 16,23% 93,03%
2012/13 37,45 0,14 29,75 32,34 0,38% 79,43% 86,36%
2013/14 3,37 1,11 1,08 1,44 32,90% 32,01% 42,68%
2014/15 3,64 0,45 0,54 2,50 12,49% 14,91% 68,64%
2008/09 3,97 1,83 0,07 2,10 45,99% 1,81% 52,97%
Passo Fundo - RS

2009/10 12,47 7,28 1,32 7,60 58,41% 10,57% 60,93%


2010/11 1,10 0,61 0,06 0,72 55,49% 5,53% 65,73%
2011/12 6,64 5,40 0,39 5,78 81,34% 5,89% 87,03%
2012/13 23,72 0,49 18,07 18,76 2,06% 76,21% 79,08%
2013/14 3,68 1,20 1,97 1,99 32,77% 53,64% 54,03%
2014/15 8,63 0,06 3,79 6,96 0,73% 43,91% 80,63%
2008/09 3,70 1,14 0,42 1,15 30,96% 11,46% 31,23%
2009/10 10,54 7,01 2,17 7,03 66,56% 20,57% 66,70%
Rio Verde - GO

2010/11 2,50 1,42 0,03 2,05 56,63% 1,01% 81,92%


2011/12 7,50 6,46 0,90 6,60 86,21% 11,98% 88,01%
2012/13 31,66 0,09 19,83 21,59 0,28% 62,64% 68,19%
2013/14 3,00 1,10 1,05 1,10 36,66% 35,17% 36,82%
2014/15 7,93 1,97 7,03 7,09 24,78% 88,68% 89,42%
2008/09 2,81 1,68 0,10 1,86 59,74% 3,68% 66,28%
2009/10 22,23 14,40 5,45 14,41 64,80% 24,52% 64,85%
Sorriso - MT

2010/11 1,77 0,12 0,28 1,08 6,74% 15,73% 61,08%


2011/12 4,83 3,15 0,00 4,14 65,31% 0,01% 85,83%
2012/13 62,35 2,45 47,80 48,59 3,93% 76,67% 77,93%
2013/14 3,19 1,01 1,22 1,24 31,78% 38,09% 38,98%
2014/15 7,47 0,27 1,77 4,50 3,60% 23,75% 60,26%
Fonte: Resultados da Pesquisa

Jun/2016 Jun/2016 75
artigo técnico

Conclusão
Em face da reconhecida importância do Brasil como produtor e exportador de commodities agro-
pecuárias, selecionaram-se dois produtos em que o País se destaca em termos de exportação mundial,
o café e a soja, e que dispõem de um mercado de derivativos consolidado. Nestes mercados, além do
risco de oscilações de preços, soma-se o risco cambial, que tem se tornado crescente no período recente.
Neste sentido, identificando-se as atuais tendências de queda de preços das commodities agropecu-
árias, ante o fim do que ficou convencionado como “boom das commodities” e a escalada de depreciação
da moeda nacional, o hedge simultâneo torna-se uma poderosa ferramenta para mitigar o risco do hedger
nacional que utiliza em seu portfólio de ativos contratos futuros referenciados em dólar.
Para mitigar os riscos cambial e de preço, o presente estudo propôs a adaptação da metodolo-
gia de Nayak e Turvey (2000) para a análise de hedge simultâneo. Cabe destacar que estes autores
contribuíram com a literatura de hedge ótimo, ampliando os ativos na análise de portfólio de mínima
variância, ao desenvolver uma métrica de avaliação da utilização conjunta de contratos futuros da
commodity e da taxa de câmbio.

Bibliografia
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76 Jun/2016 Jun/2016
Ao aplicar o instrumental analítico de Nayak e Turvey (2000), verifica-se a superioridade do hedge
simultâneo em relação às demais estratégias parciais, tanto para o café quanto para a soja, em todas as pra-
ças e períodos analisados. Entretanto, no período recente, analisando os resultados da estratégia de hedge
simultâneo, verificam-se patamares menores de redução de riscos tanto para a soja quanto para o café.
Como sugestão para futuros estudos, podem-se aplicar as inovações metodológicas oriundas de
diversas vertentes de análise das estratégias de hedge. Dado que para Myers e Thompson (1989) a cova-
riância e a variância da razão ótima são condicionais às informações disponíveis no momento da toma-
da de decisão do hedge, a matriz de variância e covariância pode englobar também a relação das variáveis
contemporâneas com variáveis defasadas, aumentando o conteúdo informacional da análise.
Como limitação no presente estudo, informações como custos operacionais e possibilidade de
rolagem de hedge não foram consideradas, sendo elementos que poderiam ser incorporados em estu-
dos futuros. Como sugestões adicionais de análise, tem-se a aplicação de estudos comparativos para
diferentes vencimentos futuros de uma determinada commodity, incluir outras bolsas de mercadorias e
estender a análise para outras commodities.

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Jun/2016 Jun/2016 77
artigo técnico

Apêndice
A - Minimização da receita do hedge simultâneo em relação às
posições no mercado futuro da commodity (h) e taxa de câmbio (c).
Partindo da equação 5, as condições de primeira ordem podem ser representadas por:
2v 2HS /2h = 2hv 2fe + 2v R,fe + 2cv fe ,e  = 0 r r r

2v 2HS /2c = 2cv e2 + 2v R,e + 2hv fe ,e = 0 r

Rearranjando os termos, obtém-se:

hv 2fe + cv fe ,e  =- v R,fe (1.1)


r r r

hv fe e + cv 2e = –v R,e (1.2)
r

Isolando c na equação 1.1 e substituindo em 1.2:

hv fe ,e + # & v e =- v R,e
- v R,fe - hv 2fe 2 r r
r
v fe ,e  r

Q- v R,fe v e2V + Q- hv 2fe v e2V


r
=- v R,e - hv fe ,e r

v fe ,e  r
r

- v R,fe v e2 - hv 2fe v e2 =- v R,e v fe ,e    - hv fe ,e v fe ,e 


r r r r r

Isolando h, sabendo que v fer, e v fer, e 


= Qv fe ,eV2:
r

- v R,fe v e2 + v R,e v fe ,e  =- hQv fe ,eV2 + hv 2fe v e2


r r r r

- v R,fe v e2 v R,e v fe ,e 


Qv fe ,eV v fe v e Qv fe ,eV2 + v 2fe v e2
h= - + r r
2
+ 2 2
- r r r r

v 2fe r v 2fe v e2 r
2 2 2
Multiplicando o primeiro termo por v fe e o segundo termo por v fe v e , obtém-se:
r r

- v R,fe v e2 v 2fe v R,e v fe ,e  v 2fe v e2


! Qv fe ,eV + v fe v e $v fe !- Qv fe ,eV2 + v 2fe v e2$v 2fe v e2
h= - 2 2 2 2
+ r r r r

r r r r r r

Isolando os termos comuns nas duas equações:

# 2R,fe + R,e2 fe2,e  &


v 2fe v e2 -v v v
Q fe ,eV
h= -
r r r
2 #
v 2
+ v 2
fe v e r v fe v fe v e r r r

# 2R,fe + R,e2 fe2,e  &


v 2fe v e2 -v v v
Q fe ,eV
h= 1-
r r r
2 #
v vrfe v fe v e r r

78 Jun/2016 Jun/2016
Qv fe ,eV2 hRM = - 2 T - 2 + 2 2 Y
1 v R,fe v R,e v fe ,e 
r r

t 2fe ,e =
r

Sabendo-se que
r 2
r
2
v fe v e , logo: 1 t fe , e
r v fe v fe v e
r r

Resolvendo o sistema de equações simultâneas para c, por analogia, obtém-se:

1 T - v R,e + v R,fe v fe ,e  Y


cRM =
r r

1 - t 2fe ,e v e2
r v 2fe v e2 r

B - Matriz de variância e covariância para os recortes temporais de


análise das estratégias de hedge do café
Praça Ano Var (R) Var (fer) Var (e) Cov (R,fer) Cov (R,e) Cov (fer, e)
2009 71,269 174,510 0,020 74,523 0,424 -0,755
2010 159,787 1517,270 0,020 416,138 -0,245 -1,292
Cerrado de Minas

2011 1240,990 850,330 0,001 756,820 0,634 0,159


2012 337,010 665,900 0,003 404,885 -0,470 -0,657
2013 67,988 818,647 0,014 199,900 -0,648 -3,159
2014 1053,686 3987,279 0,001 950,780 0,388 0,689
2015 539,320 916,827 0,024 427,458 0,841 -1,971
2009 74,200 174,510 0,020 73,817 0,468 -0,755
2010 168,420 1517,270 0,020 433,305 -0,258 -1,292
2011 1230,990 850,330 0,001 752,370 0,635 0,159
Mogiana

2012 339,330 665,900 0,003 403,759 -0,026 -0,657


2013 67,486 818,647 0,014 199,472 -0,648 -3,159
2014 1057,730 3987,279 0,001 941,781 0,396 0,689
2015 355,382 916,827 0,024 229,050 1,410 -1,971
2009 76,058 174,510 0,020 76,360 0,455 -0,755
2010 167,013 1517,270 0,020 441,780 -0,279 -1,292
Sul de Minas

2011 1239,345 850,330 0,001 752,159 0,638 0,159


2012 340,870 665,900 0,003 401,180 -0,018 -0,657
2013 64,503 818,647 0,014 187,212 -0,623 -3,159
2014 994,137 3987,279 0,001 988,368 0,393 0,689
2015 369,515 916,827 0,024 298,009 1,650 -1,971
2009 63,245 174,510 0,020 67,780 0,435 -0,755
2010 135,869 1517,270 0,020 421,684 -0,298 -1,292
Zona da Mata

2011 1037,139 850,330 0,001 703,550 0,584 0,159


2012 323,480 665,900 0,003 379,890 0,010 -0,657
2013 68,620 818,647 0,014 204,481 -0,693 -3,159
2014 1015,594 3987,279 0,001 926,769 0,382 0,689
2015 417,858 916,827 0,024 286,235 1,466 -1,971
Fonte: Dados da Pesquisa

Jun/2016 Jun/2016 79
notícias
Patrícia Brighenti é jornalista e tradutora juramentada

Blocos em cadeia está aberto a qualquer participante – que


pode enviar transações ao registro e esperar
Por ocasião de sua assembleia geral no que sejam incluídas, se forem válidas (qual-
início de abril deste ano, a Associação quer pessoa pode participar do processo de
Internacional de Swaps e Derivativos consenso que garante a validade das transa-
(Isda) reuniu líderes de algumas das ções) –, ou privada, sendo restrita a conjun-
principais contrapartes centrais (CCPs) to pré-selecionado de participantes – que
para tratar de blockchain. Os participantes precisam aceitar os registros de transações
concordaram que tecnologias como essas para que sejam válidos.
desempenharão papel importante na tarefa
de tornar a liquidação de derivativos mais E tem mais II: a média de operações rea-
eficiente no futuro, embora apresentassem lizadas pela plataforma Ethereum, uma das
opiniões divergentes acerca dos impactos DLTs que mais crescem no mundo, está em
potenciais. Para os presentes, o blockchain, aproximadamente 0,25 por segundo – de-
ou tecnologia de registros distribuídos E tem mais I: pois de atingir o recorde de 1,25 em feverei-
(DLT), está entre as mais significativas os blockchains, ro deste ano –, ainda muito aquém do nível
inovações surgidas nos últimos anos, ofere- ou cadeias de blo- demandado pelos mercados financeiros.
cendo à indústria a possibilidade de se cos, são registros
E tem mais III: em white paper sobre as apli-
livrar de processos de liquidação rea- c r i p tog raf ad o s ,
cações de DLT às atividades de pós-negocia-
lizados ao longo de vários dias, bem compreendendo
ção, publicado no início deste ano, a clearing
como de fazer a reconciliação ocorrer logs de transações
DTCC concluiu que as DLTs podem melho-
em tempo real, no momento da exe- compartilhados via
rar a infraestrutura disponível em certas áreas
cução do próprio negócio. Ao per- rede digital, sendo
– onde a automação é limitada ou inexistente,
mitir transferências diretas de valores, seu aplicativo mais
por exemplo – ou oferecer benefícios visíveis
a tecnologia pode minar a atuação de ban- conhecido o Bit-
a processos já empregados. Porém, para di-
cos, bolsas e clearings; entretanto, também coin, que emprega
minuir os custos e os riscos de infraestrutu-
pode representar oportunidade para que os sistemas ponto a
ras instaladas, também devem ser avaliadas
players elevem a eficiência e a serialização de ponto (P2P) para
soluções alternativas, por meio de fluxos de
dados. A DLT não vai substituir a relevância efetuar e registrar pa-
trabalho padronizados da indústria e do uso
dos mercados derivativos, mas vai modificar gamentos sem o uso
extensivo de tecnologias em nuvem.
a dinâmica das CCPs, tendo grande efeito de intermediários. A tecno-
sobre os procedimentos de back office. logia pode ser pública, como o Bitcoin, que (International Financing Review, 13/4/2016)

Pelo primeiro lugar


A Bolsa de Energia Europeia (EEX), A CLTX manterá a sede que ocupa atual- Reino Unido, investiga a possibilidade de
que faz parte do Grupo Bolsa Alemã, ad- mente em Cingapura. o negócio incentivar a ICE a elevar preços
quiriu os 48% restantes de ações da Bolsa Enquanto isso, a Bolsa Intercontinen- e/ou a reduzir a qualidade de produtos e
Cleartrade (CLTX), de propriedade da tal (ICE) ainda não conseguiu integrar a serviços oferecidos pela Trayport, dos quais
corretora londrina Freight Investor Hol- seus negócios a plataforma de negociação dependem seus concorrentes, pois a plata-
dings (fundadora e acionista da Cleartrade de energia Trayport, adquirida da BGC forma conecta traders, corretores, serviços
desde 2010), tornando-se sua controlado- Partners por US$650 milhões em ações, públicos e empresas de recursos – e a ICE
ra integral. O objetivo da EEX é fortalecer em dezembro de 2015, que lhe proporcio- já detém posição dominante nos mercados
ainda mais seu compromisso de tornar-se nará supremacia na negociação de ener- futuros sobre energia de Londres.
bolsa global, desenvolvendo novas clas- gia na Europa. Isso porque a Autoridade
(Mondo Visione, 13/4, e FT.com, 27/4/2016)
ses de ativos e outros centros regionais. de Concorrência e Mercados (CMA), do

80 Jun/2016 Jun/2016
Sotaque britânico
Elos
Os negócios com a moeda chinesa têm crescido expressivamente ao redor do mundo,
inclusive no Reino Unido, que, em março deste ano, superou Cingapura como o segun- Depois da interligação entre os
do maior centro internacional de operações cambiais com o renmimbi iuan. O valor de mercados acionários de Xangai e
pagamentos em iuan aumentou 21% entre março de 2014 e março de 2016, consoante Hong Kong (HKEx), ocorrida em no-
informações do sistema de transações financeiras Swift. Com isso, o Reino Unido passou vembro de 2014, as autoridades chi-
a concentrar 6,3% de todas as operações internacionais com a moeda chinesa, enquanto nesas preparam-se para aprovar mais
Cingapura caiu para a terceira colocação, com 4,6%. Mesmo assim, estão muito longe do uma conexão, agora entre a Bolsa de
líder, que é Hong Kong, respondendo por 72,5% de todos os pagamentos feitos em iuan. Shenzhen e a de Hong Kong. O anún-
cio deverá ser feito até julho, com o es-
E tem mais I: colaborou para este resultado a abertura de uma agência do Banco de tabelecimento de data para o início de
Construção da China no Reino Unido, em junho de 2014. funcionamento do sistema que unirá
os dois mercados de ações.
E tem mais II: a participação do iuan no sistema de pagamentos global subiu levemente
em março, para 1,88%, tornando a moeda a quinta mais ativa em transações internacio- E tem mais I: a cidade de Xangai
nais, em comparação com a sétima posição que detinha em janeiro de 2014, quando a poderá ser palco de outra interliga-
Swift começou a acompanhar sua trajetória. ção, agora com Londres, por meio da
emissão de recibos de depósito global
E tem mais III: já entre os maiores centros financeiros mundiais, Cingapura ficou com o
(GDRs) sobre determinadas ações de
terceiro lugar antes ocupado por Hong Kong, posicionando-se atrás de Londres e Nova
ambos os mercados.
York, conforme dados da pesquisa publicada no início de abril pelo Grupo Z/Yen. Em
quinto lugar, está Tóquio. E tem mais II: em outra frente, a
(Reuters, 8/4, e Shanghai Daily, 28/4/2016) HKEx pretende introduzir plataforma
para a negociação de metais e armazém
geral para entregas físicas na zona eco-

Página virada nômica especial de Qianhai (localizada


nas imediações de Shenzhen), o que
Passados 13 anos da fusão entre as câ- LCH.Clearnet foi adquirida pela Bolsa de representará a primeira incursão efe-
maras de compensação inglesa (LCH) Valores de Londres (LSE) em 2012, e está tiva da Bolsa de Hong Kong na China
e francesa (Clearnet), que deu origem à agora no centro do potencial meganegócio continental, com vistas em incremen-
LCH.Clearnet, a palavra Clearnet foi elimi- da LSE com a Bolsa Alemã, que poderá re- tar seu negócio de commodities.
nada da nova marca. De acordo com a clea- sultar na combinação de duas das maiores (Bloomberg, 20/4, International Adviser e
ring, a decisão tem origem em extenso pro- clearings da Europa. South China Morning Post, 26/4/2016)
jeto de consulta, que resultou na criação
de novos logotipo, razão social e slogan. A (Trade News, 14/4/2016)

Jun/2016 Jun/2016 81
notícias

Xenofoclearing
Duas matérias da revista The Economist veiculadas no dia 2 de clientes, obtendo vantagens competitivas sobre suas rivais. Ini-
abril último tratam da possível fusão entre a Bolsa de Valores de cialmente, essa compensação estaria restrita a derivativos que se
Londres (LSE) e a Bolsa Alemã (DB), com destaque para a com- combinassem perfeitamente.
binação entre as respectivas câmaras de compensação, LCH.Clear- As correlações existentes entre classes diferentes de ativos cos-
net e Eurex Clearing – que, juntas, detêm cerca de US$170 bilhões tumam alterar-se em eventos de crise, sugerindo que os modelos
em garantias. Segundo a publicação, quanto mais margens cobram nelas baseados, em busca da diminuição dos níveis de margem,
de seus participantes, mais seguras as clearings, de modo geral, fi- devem ser ultraconservadores. Para reforçar esse ponto, a revista
cam. Contudo, como depositar garantias custa caro para os investi- argumenta que, ao longo dos anos, os reguladores vêm elevando
dores, são incentivadas a evitar chamadas de margem em demasia, sem trégua o montante de capital com o qual os grandes bancos
já que também competem por clientes. Para estabelecer o montan- devem financiar-se, de maneira a protegê-los de perdas. Logo, as
te de garantias que deles exigirão, as clearings levam em conta as câmaras de compensação deveriam ser tratadas com ainda mais
correlações existentes entre os produtos, lançando mão de técnica zelo. Portanto, a real objeção à fusão não deveria ser o medo de
conhecida como margem cruzada ou margem de carteira. que estrangeiros tomem os mercados nacionais, mas, sim, a conso-
Dados do Grupo CME mostram que a redução proporcio- lidação entre LCH.Clearnet e Eurex, que concentraria ainda mais
nada pelo serviço de margem de carteira oferecido por sua câ- o risco, trazendo consequências nefastas em caso de quebra.
mara varia de 54% a 80% do total que, de outra forma, seria re- E conclui que, a menos que LSE e DB se comprometam a
querido em garantias. Alguns clientes usam a LCH.Clearnet e a manter as suas clearings verdadeiramente separadas, com recur-
Eurex Clearing para fazer apostas correlacionadas. Caso as duas sos exclusivos contra eventos de inadimplência e requerimentos
sejam combinadas, poderão usar o sistema de margem cruzada de margem abundantes, a combinação entre ambas deve ser bar-
para cortar o montante de garantias que demandariam de tais rada pelos reguladores.

Resumo da correspondência enviada à The Economist


Em resposta a essas matérias publicadas tático e que não possa assumir outros valores são referenciados no mesmo ativo-objeto. Pos-
pela The Economist, a BM&FBOVESPA en- em momentos de crise financeira. teriormente, coloca duas situações em que as
viou correspondência à editora da revista es- Para mostrar a importância da correlação carteiras são compostas de produtos referen-
clarecendo que considerar a correlação entre nesses cálculos, a Bolsa, primeiramente, ressal- ciados no mesmo ativo-objeto e em ativos dis-
produtos financeiros nos cálculos de margem ta que existem produtos financeiros diferentes tintos, respectivamente, questionando como a
não significa admitir que tal parâmetro seja es- cujos preços se movem de forma alinhada, pois margem destas deveria ser calculada em caso

Para não faltar


O Grupo CME tenciona economizar US$5 milhões anuais com as instalações de que precisa do novo proprietário.
o fechamento total do pregão físico de Nova York, programado
para dezembro deste ano, onde ainda são negociadas opções sobre E tem mais I: a expectativa em torno do fechamento dos postos de
metais e energia, que serão transferidas para o sistema eletrônico. negociação de futuros de Nova York e Chicago, ocorrido em julho
Os resultados começarão a ser sentidos em 2017 e poderão incluir de 2015, é gerar economia anual de US$10 milhões.
outros US$3 milhões, caso o grupo se torne locatário do espaço. E tem mais II: o Grupo CME, cuja clearing é considerada siste-
Duas outras medidas tomadas pelo grupo em prol da contenção de micamente importante desde 2014, está em via de abrir uma conta
gastos foram a sublocação de espaços administrativos desnecessá- com o banco central norte-americano, o Fed, para o recebimento
rios em Chicago e a transferência de posições internacionais para das margens de garantia em dinheiro depositadas pelos membros
locais mais baratos. Adicionalmente, em março, vendeu o centro de de compensação para operações próprias, a qual deverá render ju-
dados que hospeda sua plataforma eletrônica de negociação, locali- ros sobre os saldos.
zado na região de Chicago, por US$130 milhões, passando a alugar (Reuters, 12 e 28/4/2016)

82 Jun/2016 Jun/2016
de aprovação da fusão entre LSE e DB. nicamente defasados continuam a tomá-
A primeira situação exemplifica um cliente -la como um parâmetro estático.
comprado em swap plain vanilla e vendido em Adicionalmente, explica que seu mode-
futuro, sendo que ambos os produtos são re- lo de cálculo de margem, implementado em
ferenciados no mesmo ativo-objeto e possuem 2014, após ter sido devidamente aprovado,
a mesma data de vencimento. Nesse caso, a inclusive, pelos reguladores brasileiros, além de
Bolsa questiona se a câmara de compensação ser conservador, leva em consideração o grau de
e liquidação da companhia combinada deveria diversificação das carteiras e as relações de hed-
exigir desse cliente 100% de margem para cada ge entre os produtos, inclusive entre os de bolsa
produto, elucidando que, em termos matemá- e de balcão. Salienta que, para mitigar o risco de
ticos, essa exigência implicaria admitir que o mudança nas correlações, seu modelo tem três
mesmo ativo-objeto poderia assumir dois va- componentes complementares, a saber:
lores distintos e opostos no mesmo momento A Bolsa finaliza a referida correspondência
e no mesmo mercado. (i) simulações do valor da carteira conside- reiterando que uma câmara deve ser eficaz e efi-
A segunda supõe clientes da companhia rando as variações históricas dos preços ciente, conforme o princípio 21 do documento
combinada que possuam carteiras semelhan- observadas nos últimos 15 anos (cap- Principles for Financial Market Infrastructures,
tes e diversificadas com contratos referen- turando, portanto, diferentes “cenários” publicado pelo Bank for International Settle-
ciados em diversos produtos, as quais serão para as correlações entre os ativos); ments (BIS) e pelo Committee on Payments
liquidadas pela nova câmara. Assim, a Bolsa and Market Infrastructures (CPMI). Portan-
(ii) simulações do valor da carteira geradas
questiona se a margem deveria ser calculada to, adverte que, se tal câmara exigir margem
por meio de modelos estatísticos com
apenas somando-se as margens de cada pro- superior à maior perda possível prevista para
fat-tails (que atribuem maiores probabi-
duto individualmente, ou seja, ignorando-se determinada carteira, além de não observar as
lidades para movimentos extremos dos
a diversificação dessas carteiras. Se isso ocor- diretrizes de eficiência, aumentará desneces-
preços dos ativos, incluindo movimentos
resse, em termos matemáticos, significaria que sariamente o custo das transações financeiras.
extremos para as correlações entre os ati-
poderia haver perdas simultâneas e extremas Nesse sentido, afirma que a pré-condição para
vos); e
em todas as posições compradas e vendidas o funcionamento de uma câmara tem de ser
referenciadas nos diversos ativos-objeto. (iii) cenários prospectivos definidos por seu a adoção de modelos de cálculo de margem
Nesse sentido, a Bolsa destaca que a cor- Comitê de Risco, os quais podem, para tecnicamente robustos, devidamente testados
relação deve ser considerada nos cálculos de os fatores de risco mais relevantes, embu- e aprovados por seus órgãos internos de gover-
margem e que somente modelos de risco tec- tir correlações variando de -1 a +1. nança e também por seus reguladores.

Tudo meu
A Bolsa de Ouro de Xangai (SGE), que é o maior mercado físico global para o metal,
lançou contrato futuro sobre ouro denominado em iuan, com o intuito de torná-lo o
principal referencial de preços mundiais. A China é o maior produtor e consumidor
de ouro. Segundo a bolsa, o novo benchmark será muito útil para refletir adequa-
damente as forças de oferta e procura que envolvem o metal na China, estabele-
cendo a tendência de preços no país.
(China Daily, 19/4/2016)

Jun/2016 Jun/2016 83
notícias

Pelo mundo
Tempos bicudos O Grupo Bolsa de Valores de Londres (LSEG) e a Bolsa de Oslo decidiram ampliar a
No primeiro trimestre deste ano, parceria que os une por mais cinco anos. A tecnologia utilizada pela bolsa norueguesa nos
os hedge funds tiveram um dos piores mercados de ações, renda fixa e derivativos foi implementada pela LSEG em 2009. Tam-
resultados em sete anos, com a saída de bém prorrogaram a cooperação em vigor a Eurex, que faz parte do Grupo Bolsa Alemã, e a
US$15 bilhões de suas contas. O total Bolsa da Coreia (KRX), mediante a listagem do contrato futuro míni sobre o índice Kospi
investido em hedge funds declinou 200 nas sessões de negociação da Eurex. Em contrapartida, a KRX vai introduzir em seus
para US$2,86 trilhões e o setor conta- pregões o futuro sobre o índice Euro Stoxx 50, a ser denominado em won e liquidado na
bilizou fluxos negativos pela primeira Coreia do Sul. A Eurex já negocia opções sobre o índice Kospi 200, mas os futuros de índi-
vez desde 2009, e por dois trimestres ce Euro Stoxx 50 serão os primeiros derivativos baseados em benchmark internacional da
consecutivos, consoante dados da pes- Bolsa coreana.
quisa conduzida pela HFR. As oscila-
(Mondo Visione, 19 e 20/4/2016)
ções acentuadas de mercado pegaram
muitos gestores desprevenidos, levando
a fracos desempenhos no primeiro tri-
mestre e desagradando investidores já
descontentes com taxas de administra- Dedo-duro milionário
ção de 2%, em acréscimo a outros 20%
sobre os rendimentos. Dentre eles, o sis- A Comissão das Operações no
tema previdenciário dos funcionários Mercado Futuro de Commodi-
públicos do estado de Nova York, que ties (CFTC) dos Estados Unidos
eliminou os hedge funds de sua carteira pagou prêmio de US$10 milhões
18 meses depois de o fundo de pensão ao delator de informações fundamen-
do estado da Califórnia fazer o mesmo. tais para que o órgão regulador fosse
À medida que voltam sua atenção para bem-sucedido em uma ação investi-
suas próprias economias vacilantes, os gatória. O valor é o maior já conce-
fundos soberanos também têm retirado dido pela CFTC. Esta é obrigada por
bilhões da mão de gestores de investi- lei a proteger a confidencialidade dos
denunciantes, não divulgando infor- E tem mais II: o último prêmio
mento em nível global.
mações que possam relevar, direta ou anunciado pela CFTC foi em se-
E tem mais: mesmo assim, alguns indiretamente, sua identidade. O pro- tembro do ano passado, de cerca de
fundos de aposentadoria têm esti- pósito de prêmios dessa magnitude é US$290 mil. Os valores são pagos
mulado sua exposição a hedge funds, encorajar outros potenciais delatores pelo Fundo de Proteção ao Consu-
caso do sistema federal de previdên- a se dispor a prestar informações que midor do órgão, criado pelo Con-
cia da Finlândia, que pretende inves- ajudem a xerife a proteger os merca- gresso e financiado integralmente
tir US$500 milhões no segmento em dos locais. Os denunciantes podem pelas sanções recebidas pelo regulador
2016, e do sistema das universidades receber entre 10% e 30% do montan- em decorrência de violações à Lei das
estaduais de Illinois, nos Estados Uni- te de sanções monetárias recolhido Bolsas de Mercadorias.
dos, que planeja aplicar valor seme- pela CTFC. (LeapRate.com, 4/4/2016)
lhante em hedge funds pela primeira
vez. As seguradoras norte-americanas E tem mais I: os informantes
igualmente se voltam para a indústria, também recebem a garantia de
como forma de contribuir para a gera- que não serão demitidos, rebaixa-
ção de retornos. dos, suspensos, ameaçados, mo-
lestados ou indiscriminados por
(FT.com, 20/4/2016) seus empregadores.

84 Jun/2016 Jun/2016
agenda

Cursos do
Instituto Educacional
BM&FBOVESPA
Gestão de Riscos
Profissionais do mercado financeiro interessa-

Carga
171 São Paulo
dos em atuar na área de gestão de riscos como
risco de mercado, liquidez e crédito, gestão de
horas Local
horária Público-alvo recursos/asset.

Programa do curso
Mapeamento dos fatores de risco de mercado. Ferramentas e modelos de gestão de risco de mercado. Estimação, deter-
minantes e métodos de estimação do VAR. Avaliação e comparativo dos modelos de VAR. Backtesting/aderência. Críti-
cas ao VAR. Testes de estresse. ShortFall Risk. Stop-Loss. Valores extremos. Componentes principais e VAR. Ferramentas e
modelos de risco de crédito. Modelos de risco operacional. Ferramentas e modelos de risco de liquidez. Basileia I, II e III.
Implementação de políticas e práticas de gestão de risco. Sistema de risco BM&FBOVESPA – Risco de Contraparte Central.
Riscos socioambientais e de governança corporativa.

Formação no Mercado de Renda Fixa


Profissionais que atuam em áreas relacionadas

Carga
57 São Paulo
ao mercado de renda fixa tais como produtos
financeiros, Middle e Back office de tesouraria,
horas Local estruturação de operações e riscos, além de
horária Público-alvo
investidores pessoas físicas.

Programa do curso
Módulo I: Introdução ao Mercado de Renda Fixa (27 horas): O Sistema Financeiro Nacional e o mercado de renda fixa.
O papel do Banco Central e do Copom e do Tesouro Nacional. Principais indicadores financeiros e fontes de informações.
Características dos títulos de renda fixa. Montagem dos fluxos e contagem dos prazos. Rentabilidade e negociação de
títulos. Características das taxas de juros no Brasil. Estrutura da curva da taxas de juro. Títulos públicos, privados e do
agronegócio. Apreçamento, negociação, liquidação e custódia. Principais normas, regulamentação e tributação.
Módulo II: Mercado de Renda Fixa Intermediário (30 horas): Mercado futuro de DI da BM&FBOVESPA. Estrutura a ter-
mo da taxa de juro e o mercado de renda fixa. Estimação e técnicas de interpolação. Duration, convexidade e imunização
de títulos de renda fixa. Sensitividade da taxas de juro. Estratégias de negociação com títulos de renda fixa. Gestão da
carteira de renda fixa.

Jun/2016 Jun/2016 85
agenda

Formação no Mercado de Ações com Análise Técnica


Investidores e profissionais iniciantes no merca-

Carga
72 São Paulo
do financeiro em áreas como Tesouraria, Back/
Middle Office, Riscos, TI e gestão de recursos com
horas Local interesse em desenvolver o conhecimento no
horária Público-alvo
mercado de ações e análise técnica.

Programa do Curso
Módulo 1 – Mercado de Ações (24h): Visão geral do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e os principais agentes. O Mer-
cado de Ações – conceito, estrutura e principais características. Introdução às operações a Termo, Aluguel de ações e
Exchange Trade Fund (ETF). Clubes de Investimento. Operações de day trade. Tributação no Mercado de Ações.
Módulo 2 - Análise Técnica I (24h): Introdução à finanças comportamentais e à análise técnica no Brasil. Tipos de gráfico: Linha,
Barras, Pizza, Candle. As teorias de análise gráfica: Charles Dow, Joseph Granville e Ralph Elliott. Os indicadores de mercado: Dow
Jones, Ibovespa e Nasdaq. Como se formam as tendências de alta e baixa. Como seguir as tendências: o impacto das notícias e fatos
relevantes. Os pontos de compra e venda, sinalizados nas reversões de tendência. Suporte e Resistência, Canais e Retorno. Figuras da
análise técnica. Áreas de Acumulação (mercado comprando) e Distribuição (mercado vendedor). Índice de Força Relativa (mercado
oversold e overbought). Onde não comprar e onde não vender. Médias Móveis. MACD (Moving Average Convergence & Divergence)
e candlestick. Timing da operação e investimento de curto e longo prazo. Ilustrações práticas: análises das grandes crises do mercado.
Módulo 3 - Análise Técnica II (24h): Características das estratégias operacionais no mercado brasileiro. Estruturação de
operações com Aluguel de Ações – BTC e Exchange Traded Fund – ETF. Características das operações de arbitragem. Plata-
forma eletrônica de decisão – funcionamento do sistema de análise técnica parceiro. A Teoria das Ondas de Elliott - Psico-
logia das massas. Fibonacci - Razão Áurea. Personalidade das Ondas. Construção de uma Carteira. Negociações – Mercado
a Vista e Mercado Futuro. Negociações – Arbitragens com gráficos. Analise Crítica da Carteira. Assuntos e rotina de traders.

Formação no Mercado de Ações com Análise Fundamentalista


Investidores e profissionais iniciantes no merca-

Carga
60 São Paulo
do financeiro em áreas como Tesouraria, Back/
Middle office, Riscos, TI e gestão de recursos com
horas interesse em desenvolver o conhecimento no
horária Local Público-alvo
mercado de ações e análise fundamentalista.

Programa do Curso
Módulo 1 – Mercado de Ações (24h): Visão geral do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e os principais agentes. O mer-
cado de ações – conceito, estrutura e principais características. Introdução às operações a termo, Aluguel de ações e
Exchange Trade Fund (ETF). Clubes de Investimento. Operações de day trade. Tributação no mercado de ações.
Módulo 2 – Análise Fundamentalista I (18h): Análises dos principais indicadores financeiros: Liquidez, Endividamento,
Rentabilidade e Capital de Giro. Risco e precificação de ações: conceito de risco e suas formas de medida. Desconto de
fluxo de caixa para a precificação de ações. Taxa de crescimento da empresa com base na retenção de dividendos e no
ROE. Modelo de Gordon e Dividend Discount Model (DDM).
Módulo 3 – Análise Fundamentalista II (18h): Indicadores de rentabilidade e o valuation das empresas. Estrutura de
capital e geração de Valor. Mitos do valuation e fatores que afetam as empresas. Múltiplos de valor e métodos de preci-
ficação relativa. Precificação de IPOs e o valuation das ofertas. Estudos da estrutura do fluxo de caixa livre das empresas.
Modelo de valuation pelo desconto do fluxo de caixa livre da firma.

86 Jun/2016 Jun/2016
Formação de Profissionais no Mercado Financeiro
Investidores e profissionais iniciantes no merca-

Carga
63 São Paulo
do financeiro em áreas como Tesouraria, Back/
Middle Office, Riscos, TI e gestão de recursos com
horas Local interesse em desenvolver o conhecimento no
horária Público-alvo
mercado financeiro.

Programa do Curso
BM&FBOVESPA e a estrutura do mercado de capitais. Matemática financeira e as taxas de juros. Fundamentos macroe-
conômicos. Produtos de renda fixa. Finanças corporativas e o mercado de ações. Introdução à análise fundamentalista.
Introdução à análise técnica. Introdução aos mercados a termo e futuro. Introdução ao mercado de opção. Derivativos na
BM&FBOVESPA. Estratégias financeiras com derivativos. Introdução à gestão de risco. Diversificação e gestão de riscos de
mercado. Operações e estratégias: aspectos operacionais.

Formação de Profissionais em Mercados Derivativos


Profissionais do mercado financeiro que desejam

Carga
144 São Paulo/
Rio de
operar nos mercados derivativos, definir políticas
de hedge em empresas financeiras e não finan-
horas Local Janeiro
horária Público-alvo ceiras e estratégias de investimentos.

Programa do Curso
Características e dinâmica de negociação dos mercados derivativos. Derivativos de commodities na BM&FBOVESPA e em ou-
tras bolsas. Índice de ações e mercado futuro de Ibovespa e do S&P500. Estrutura da taxa de juros a termo e as técnicas de
interpolação. Mercado futuro e a termo de câmbio. Mercado futuro: DI, DDI e FRA. Mercado de treasuries e Títulos da dívida
externa. Mercado de opções. Estratégias operacionais com opções. Mercado de swaps. Derivativos de crédito. Introdução aos
produtos exóticos. Estratégias operacionais com derivativos. Práticas operacionais de hedge e de investimento. Tributação de
derivativos. O mercado de investimentos responsáveis. Métricas de sustentabilidade para a decisão de investimentos.

Mercado de Renda Fixa Avançado


Profissionais que atuam em áreas relacionadas

Carga
48 São Paulo/
Rio de
ao mercado de renda fixa tais como produtos
financeiros, Middle e Back office de tesouraria,
horas Local Janeiro estruturação de operações, gestão de carteiras e
horária Público-alvo
riscos além de investidores pessoas físicas.

Programa do Curso
Motivação para a gestão de carteira de títulos de RF Nacionais e Internacionais. Conceitos de programação VBA. Traba-
lhando com variáveis e Arrays. Criando funções de precificação de fluxos de caixas diversos. Estrutura a termo da taxa
de juros. Sensitividade da taxa de juros e imunização. Precificação de títulos de RF Internacional. Gestão de risco. Gestão
de carteiras de renda fixa.

Saiba mais sobre os cursos em


bmfbovespa.com.br/educacional
Jun/2016 Jun/2016 87
memória do mercado

Fechado!
O dia em que o pregão da Bolsa teve dois visitantes singulares

88 Jun/2016 Jun/2016
Não é fácil a vida de quem precisa Fazenda incendiado. Na anarquia que
divulgar e vender produtos financeiros tomou conta de Buenos Aires e arredo-
no Brasil. O País possui escassa pou- res, morreram 30 pessoas, 4 mil foram
pança interna, educação financeira detidas e 130 policiais saíram feridos.
sofrível, está entre os piores do mundo O ambiente político carregado
nos rankings de conhecimento de ma- em duas das maiores economias da
temática e tem uma histórica aversão América Latina juntou-se com a cres-
ao risco. Acrescente-se a esta dificulda- cente volatilidade nos mercados glo-
de estrutural um cenário conjuntural bais desde os ataques às torres gêmeas
de montanha-russa. Estamos em 2002 do World Trade Center em setembro
e a BM&F vai lançar um novo Contra- de 2001. Havia um brutal aumento
to Futuro de Bezerro. na demanda de hedge por empresas e
Os fatos envolvendo a corrida bancos, provocando fortes oscilações
eleitoral e suas repercussões no merca- na taxa de câmbio. A aversão ao risco
do e na economia ocuparam a agenda fez também cair drasticamente o ape-
do País em 2002. As eleições no Brasil tite por títulos públicos.
causaram tensão nos mercados devido Para saciar a demanda por hedge
à expectativa de vitória do candidato cambial do mercado e, ao mesmo tem-
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e da po, destravar a venda de títulos públi-
1 Pregão BM&F, 2002.
eventual ruptura que seu governo pu- cos, os técnicos da Bolsa e do Banco
desse gerar na condução da política
econômica, o que não se confirmou.
Logo no começo do ano, em 21 de ja- 1
neiro, apareceu morto após um seques-
tro o prefeito de Santo André, Celso
Daniel, que deveria ser o coordenador
da campanha presidencial de Lula.
Em outros países da América
Latina, houve também momentos de
estresse. O ápice da crise institucional
na região foi a Argentina. Houve cinco
presidentes em 12 dias, dois deles der-
rubados pelo povo nas ruas, decretou-
se estado de sítio duas vezes, mais de
900 estabelecimentos comerciais fo-
ram saqueados. O Congresso Nacional
foi depredado, a Casa Rosada, sede da
Presidência, invadida, e o Ministério da

Jun/2016 Jun/2016 89
memória do mercado

90 Jun/2016 Jun/2016
3

2 e 3 Ras TE de Genebra e Parecis


da CV, dois bezerros
leiloados no evento
de lançamento do novo
contrato futuro de bezerro

Central criaram os swaps cambiais, um ção do público para o lançamento do no dia 24 de outubro, três dias antes
dos produtos mais engenhosos e de novo contrato futuro de bezerro. da eleição de Lula, como mostram as
maior sucesso da BM&FBOVESPA. Dois convidados insólitos ocu- fotos que ilustram este texto.
Apenas em 2002, foram negociados param o então pregão da BM&F, José Carlos Branco, lendário di-
mais de US$ 100 bilhões em swaps. um espaço no subsolo da Bolsa cuja retor do pregão da Bolsa, relembra
A data do primeiro leilão de swap imagem com os operadores agitados o alvoroço desse leilão beneficente
cambial foi 27 de março. Ao longo com seus jalecos coloridos ainda é o que deu início ao novo contrato fu-
do ano, o produto foi sofrendo aper- cartão-postal do mercado para mui- turo de bezerro. Ras e Parecis, devi-
feiçoamentos. ta gente: Ras TE de Genebra, nove damente munidos de fraldas e tão
Entre o primeiro e o segundo meses de idade, 370 quilos, e Parecis indóceis como os mercados àquela
turno das eleições presidenciais, que da CV, um ano, 485 quilos, com os altura dos fatos, tiveram que ser le-
levariam à vitória de Lula em 27 de predicados de ter sido o recordista vados pelos elevadores até o quarto
outubro, com 61,27% dos votos, ou em vendas de sêmen da sua cidade. subsolo, local do pregão. O veterano
52,793 milhões de eleitores, o diretor Os dois bezerros, devidamente jornalista Antonio Reche, do Canal
de imprensa da BM&F na ocasião, identificados com crachás no mesmo Rural, foi testemunha ocular da his-
Noenio Spinola e Ana Lúcia Matos modelo dos operadores de pregão e tória e do sucesso do evento, a des-
Branco, então responsável pela área feitos exclusivamente para eles, e mais peito da forte concorrência da cena
de relações públicas, organizaram um um terceiro que não compareceu, fo- política. “A foto estampou os jornais
evento inusitado para atrair a aten- ram leiloados em pleno pregão lotado no dia seguinte”, atesta.

Jun/2016 Jun/2016 91
especial

Uma mulher
à frente do
seu tempo
Conheça Em abril de 1944, Cybelle Mazzilli de Vassimon tinha 24 anos e prestou
a segunda um concurso para concorrer a uma vaga para começar a organizar a biblio-
teca da então Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, localizada no edifício
funcionária Palácio do Café, no Pátio do Colégio. Passou em primeiro lugar e quebrou
mulher da antiga um paradigma: foi a segunda funcionária mulher da Bolsa na época.
Em entrevista exclusiva para a Resenha da Bolsa, Cybelle compartilhou
Bolsa Oficial de suas memórias mais marcantes dos tempos em que trabalhou na instituição
Valores de São que em 1967 se transformaria na antiga Bovespa, a Bolsa de Valores de São
Paulo na década Paulo. “Além de bibliotecária, eu exercia a função de secretária da presidên-
cia”, relembra, acrescentando que trabalhou com Ernesto Barbosa Toma-
de 1940 nik, presidente da Bolsa de 1947 a 1955 e de 1964 a 1965.

Uma carreira de sucesso


À frente de seu tempo, Cybelle teve uma trajetória profissional fora da
curva. Trabalhou diretamente com o Departamento Jurídico, fazendo as pes-
quisas que embasavam os pareceres do advogado Mozart Emidio Pereira.
“Fui convidada por ele para participar do 1º Congresso das Bolsas de
Valores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Como a maioria dos
participantes eram homens, ele convidou também sua esposa para me fazer
companhia”, conta. Além disso, foi enviada pela Bolsa para estudar inglês na
Universidade de Miami em 1953. “Sempre me interessei em conviver com
culturas diferentes”, afirma.
Depois de 18 anos de dedicação, acabou renunciando ao cargo em
1962. Já casada e com três filhos pequenos, decidiu que era hora de focar
exclusivamente na educação de suas crianças. “Para mim, é indiscutível que
a educação deve ser sempre prioridade. Vemos isso nos países mais desen-
volvidos e o Brasil tem muito a aprender com eles nesse sentido”, afirma.

92 Jun/2016 Jun/2016
1 2

1 e 4: Cybelle em seu apartamento, onde recebeu a equipe da Resenha da Bolsa; 2. Na biblioteca da antiga Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, Cybelle está sentada à esquerda da janela; 3. No 1º Congresso
das Bolsas de Valores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, Cybelle é a primeira mulher sentada do lado esquerdo da mesa

Jun/2016 Jun/2016 93
especial

Cybelle com o Diretor Presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto,


à esquerda e seu filho, Eduardo Mazzili de Vassimon, membro do
Conselho de Administração da Bolsa, à direita..

Boas memórias
Hoje, aos 96 anos, Cybelle se lembra com mui- não abriu mão de seus dois principais hobbies: a lei-
to orgulho e saudade da época em que trabalhava na tura e a escrita. Além de escrever poesias, lê o jornal
Bolsa. Tanto que, no início do ano, pediu que seu filho diariamente e recorta, assim como nos velhos tem-
(Eduardo Mazzilli de Vassimon, membro do Conselho pos, os artigos sobre Economia e Finanças que consi-
de Administração da BM&FBOVESPA) a trouxesse à dera mais relevantes para debater à noite ao telefone
Bolsa para fazer uma visita. Cybelle almoçou com o di- com seu filho Eduardo.
retor-presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto, e Questionada sobre a mensagem que gostaria de
foi homenageada em um vídeo que relembra como era deixar para os leitores da Resenha, Cybelle não hesitou.
a biblioteca na época em trabalhava aqui (Assista em re- “Embora o machismo tenha diminuído, eu sei que ele
senhadabolsa.com.br). ainda existe nas empresas. É um absurdo que ainda
E se engana quem acha que, com a chegada da hoje uma pessoa tenha um salário diferente para fazer o
idade, Cybelle se acomodou. Extremamente ativa, mesmo tipo de trabalho. Espero que as mulheres consi-
está sempre perto da família – hoje tem dois netos – e gam se equiparar aos homens em breve.”

94 Jun/2016 Jun/2016
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